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O Sigilo dA fonte Júlio Antonio Lopes 2011 COLEçãO DireitodeExpressão JÚLIO ANTONIO LOPES O Sigilo da Fonte VOL. 1

O sigilo da fonte

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A reputação do advogado Júlio Antonio Lopes está perfeitamentedefinida e consagrada nos auditórios forenses, onde desenvolve,com respeito e ética profissional, uma linear e exemplaratuação.Vem ele, agora, de dar a lume uma obra que, além de tratarde assunto momentoso, aponta caminhos e indica soluções.Ao abordar a matéria, registra ele a sua experência no campodo “habeas corpus”, acabando por orientar, com as cópiasdos seus trabalhs, ao advogado inexperiente como deve ser seuprocedimento. Por outro lado, ao juntar os despachos dos magistradose as decisões dos Tribunais Superiores, fornece aosoperadores do Direito um panorama do desenrolar da matéria.

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  • O SigilodA fonte

    Jlio Antonio Lopes

    2011

    Coleo

    DireitodeExpresso

    JlIo aNToNIo loPeS

    O Sigiloda Fonte

    vOl.

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    a reputao do advogado Jlio antonio lopes est perfeitamente de-finida e consagrada nos auditrios forenses, onde desenvolve, com respeito e tica profissional, uma linear e exemplar atuao.Vem ele, agora, de dar a lume uma obra que, alm de tratar de assunto momentoso, aponta caminhos e indica solues.

    a presente obra adquire maior densidade porque o seu autor se baseia em cases vivenciados ao longo de mais de vinte anos advogando em defesa de veculos de comunicao e de jornalistas..., alm de ser diretor jurdico da Rede Calderaro de Comunicao e editorialista e articulista do Jornal a Crtica. (...).

    Com a experincia de ter sido advogado a minha vida inteira, jornalista profissional (registro 91 na Delegacia Regional do Ministrio do Trabalho, no amazonas) e fundador do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do amazonas, tenho a certeza inabalvel que o Dr. Jlio antonio lopes pagou o tributo da sua responsabilidade, sem temor de multas ou de outras comi-naes legais a serem reclamadas pela sua conscincia.

    Bernardo Cabral

    a srie de publicaes inaugurada com este O sigilo da Fonte cumpre uma funo estratgica para a atividade jornalstica, a de socializar informaes no campo do Direito, ainda de circulao restritas e codificadas. Nesse trabalho, o advogado Jlio antonio lopes, diretor jurdi-co da Rede Calderaro de Comunicao (RCC), articulista e editor da colu-na Direito de expresso, rene e traduz instrumentos de proteo aos/as jornalistas a partir de casos reais vivenciados no estado do amazonas. ao faz-lo revela a sensibilidade de quem acompanha h mais de duas dca-das as batalhas cotidianas do fazer jornalstico e demonstra a importncia do compartilhamento de saberes e conhecimento.

    Ivnia Vieira

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    Foto da capa: prdio da antiga e centenria Faculdade de Direito da Universi-dade Federal do Amazonas (Ufam), chamado carinhosamente de Velha Jaquei-ra. Localizado na Praa da Igreja dos Remdios, prximo ao Porto, centro, na cidade de Manaus.

    Copyright: Jlio Antonio Lopes

    Coordenao editorial: Jlio Antonio Lopes

    Capa e projeto grfico: Lo-Ammi Santos

    Ficha catalogrfica

    Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao de direitos autorais (Lei 9.610/98).

    L864s LOPES, Jlio Antonio, 1964 -

    Sigilo da fonte Coleo Direito de Expresso,

    Vol.I/Jlio Antonio Lopes, Manaus, Editora Cultural

    da Amaznia Ltda, 2011.

    1. Direito Constitucional. 2. Sigilo da fonte. Brasil. Ttulo. Coleo Direito de Expresso, Vol.I.

    CDU -342.732

    Apoio institucionAl

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    Apresentao ..............................................4

    Nota do autor ..............................................9

    Imprensa livre .............................................11

    Sigilo da fonte .............................................14

    Dicas importantes: ......................................16

    O case ........................................................17

    Fala o jornalista ...........................................19

    Modelo do habeas corpus impetrado ................20

    A liminar ....................................................31

    A deciso de mrito .....................................35

    Casos famosos .............................................41

    Legislao relacionada ..................................44

    Sobre o autor ..............................................45

    Anexo ........................................................46

    Notas bibliogrficas ......................................55

    Sumrio

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    ApresentaoBernardo Cabral

    A reputao do advogado Jlio Antonio Lopes est perfei-tamente definida e consagrada nos auditrios forenses, onde de-senvolve, com respeito e tica profissional, uma linear e exem-plar atuao.

    Vem ele, agora, de dar a lume uma obra que, alm de tratar de assunto momentoso, aponta caminhos e indica solues.

    Ao abordar a matria, registra ele a sua experncia no cam-po do habeas corpus, acabando por orientar, com as cpias dos seus trabalhs, ao advogado inexperiente como deve ser seu procedimento. Por outro lado, ao juntar os despachos dos ma-gistrados e as decises dos Tribunais Superiores, fornece aos operadores do Direito um panorama do desenrolar da matria.

    Claro que o objetivo primordial do estudo do Dr. Jlio An-tonio foi a abordagem sistemtica, oportuna e conclusiva do festejado sigilo da fonte, que coloca em relevo como garantia que no pode ser flexibilizada.

    Elevado a nvel constitucional - artigo n 5, inciso XIV, da Constituio Federal - o sigilo da fonte s poder sofrer restri-es na vigncia do estado de stio e, ainda assim, no poder ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior.

    Os constituintes de 1988 atingiram o alvo certo com essa proteo constitucional, qual seja garantir ao jornalista o di-reito de no revelar a sua fonte de informao ou a pessoa de seu informante. Aquela altura, antes da Constituio de 88, era

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    comum algumas autoridades policiais pressionarem os rgos de imprensa para revelarem a fonte das informaes sobre as inves-tigaes de irregularidades administrativas nos municpios ou nos estados. O pretexto era sempre o mesmo: as investigaes corriam sob segredo de justia e a imprensa tinha a obrigao de no revel-las.

    A concluso irretocvel dos Constituintes ficou consagrada nesse artigo 5, XIV, com a afirmao de que a obrigao dos jornalistas com divulgao de informaes, e no com seu ocultamento.

    Nesse passo, vale lembrar que, anualmente, a ONG Freedom House publica um ndice da Liberdade de Imprensa no mundo, situando os EUA, Alemanha e Portugal em 17 posio. O Brasil, Moambique e Panam, em 90. A Argentina em 104, o Mxico em 138, a Venezuela, em 166, a China em 184 e o ltimo lugar, 196, pertence Coreia do Norte.

    No ficou conhecida a posio do Equador, mas sabido que o seu Presidente, Rafael Corra, promove um processo judicial contra o jornalista Emlio Palcio e os donos do jornal El Uni-verso, no qual pede trs anos de priso e 80 milhes de dlares norte-americanos de indenizao.

    Os crescentes conflitos entre o Presidente Corra e a mdia equatoriana levaram a Sociedade Interamericana de Imprensa a enviar uma misso a Quito com o objetivo de alertar a so-ciedade sobre os danos que provocam os ataques aos meios de comunicao, porque prejudicam os direitos do cidado. O caso do jornalista Palacio no tem precedentes na Amrica Latina, afirma o Presidente da SIP, Gonzalo Marroqun.

    O que grave a divulgao que se vem fazendo de que o projeto de poder de Corra inclui, claro, a imprensa. E que ele prepara uma lei para controlar os meios de comunicao

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    em todos os nveis - da propriedade acionria participao no mercado, passando pelo contedo editorial com um comit governamental especfico.

    Mais ainda: Corra est empenhado em vender suas idias para a Amrica do Sul, e, assim, regular o contedo dos meios de comunicao em toda a regio.

    Em funo desses contumazes ataques ao direito de infor-mar, o Autor traz colao o texto do honrado jornalista Julian Flores Lopes, seu pai, sob o ttulo Imprensa Livre, do qual des-taco a frase lapidar: A imprensa no deve servir aos poderosos, mas populao que vive ao lu e desprotegida.

    A presente obra adquire maior densidade porque o seu Au-tor se baseia em cases vivenciados ao longo de mais de vinte anos advogando em defesa de veculos da comunicao e de jornalistas, alm de ser diretor jurdico da Rede Calderaro de Comunicao e editorialista e articulista do Jornal A Crtica.

    Com a experincia de ter sido advogado a minha vida intei-ra, jornalista profissional (registro n 91, na Delegacia Regional do Ministrio do Trabalho, no Amazonas) e fundador do Sindi-cato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, tenho a certeza inabalvel de que a publicao deste livro comprova que o Dr. Jlio Antonio pagou o tributo da sua responsabilidade, sem te-mor de multas ou outras cominaes legais a serem reclamadas pela sua conscincia.

    Ao concluir esta Apresentao, honrado pelo convite a mim feito pelo Dr. Jlio Antonio Lopes, rendo a ele as minhas ho-menagens enfatizando que uma imprensa controlada pelo Esta-do ou pelas elites dominantes pode permitir a ecloso de no apenas uma, mas duas ou vrias ditaduras numa mesma regio. que nenhum pas ser grande, nenhuma nao conseguir se desenvolver ou viver em harmonia com seus cidados se no for

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    protegida e estimulada por uma imprensa livre. Na existncia da completa manifestao de pensamento reside a verdadeira gran-deza dos povos. Com uma imprensa amordaada, maculada pela censura, no subsiste a Democracia e o mundo moderno de hoje nos ensina claramente que sem ela as naes no sobrevivem. E o que preocupante: uma nao onde o medo prevalece sobre as esperana, o dio subjuga o amor, a vida no merece ser vivida.

    Rio de Janeiro, 20/07/2011

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    ApresentaoIvnia Vieira

    JORNALISMO DE DIREITO

    A srie de publicaes, inaugurada com este O SIGILO DA FONTE cumpre uma funo estratgica para a atividade jornals-tica, a de socializar informaes do campo do Direito ainda de circulao restritas e codificadas. Nesse trabalho, o advogado Jlio Antonio Lopes, diretor jurdico da Rede Calderaro de Co-municao (RCC), articulista e editor da coluna semanal Direito de Expresso, rene e traduz instrumentos de proteo aos/as jornalistas a partir de casos reais vivenciados no Estado do Ama-zonas. Ao faz-lo revela a sensibilidade de quem acompanha h mais de duas dcadas as batalhas cotidianas do fazer jornalstico e demonstra a importncia do compartilhamento de saberes e conhecimento.

    No apenas jornalistas ganham um mecanismo de fcil con-sulta que vai ajud-los na defesa de seus direitos e da sua in-tegridade no exerccio da profisso, mas, a sociedade tambm vitimada cada vez que se tenta evocando o abuso e a arbitra-riedade silenciar e encurralar jornalistas.

    O SIGILO DA FONTE abre novas possibilidades na constru-o de um melhor jornalismo e isso significa o aperfeioamento das instituies brasileiras e da democracia do Pas. Boa leitura. Bom uso dela!

    Jornalista, Professora do Curso de Comunicao Social da Universidade Federal do Amazo-nas (Ufam) e Editora do Caderno de Poltica do jornal A Crtica, de Manaus.

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    Nota do autor

    A coleo Direito de Expresso compe-se de dez volumes: vol. I - O Sigilo da Fonte; vol. II - STF e Imprensa - Temas Atuais; vol. III - Cdigos de Conduta do Jornalismo; vol. IV - Crnica Policial; vol. V - Jornalismo e Censura; vol. VI - Direito de Crtica e Servidor Pblico; vol. VII - Direito e Resposta e Eleies; vol. VIII - Direito de Imagem; vol. IX - Ao Penal; vol. X - Propa-ganda Eleitoral Antecipada.

    Cuida-se de uma obra temtica, resumida, prtica e a fa-vor da liberdade de expresso do pensamento, de informao e de comunicao, princpios que considero preferenciais no apenas na ordem jurdica brasileira, mas tambm fundamentais para a democracia em todos os quadrantes do planeta, e que precisam ser preservados contra as foras do osbcurantismo, as quais interessam o silncio, e no a voz; as trevas; e no a luz; o retrocesso, e no o avano.

    Ela se baseia em cases vivenciados ao longo de mais de vin-te anos advogando em defesa de veculos de comunicao e de jornalistas, bem como militando na imprensa atravs de artigos assinados, de editoriais e de colunas, como a que d nome a esta coleo, publicada todas as teras-feiras no jornal A Crtica.

    Sempre que possvel os livretos contero as decises refe-rentes aos processos em que atuei ao lado do meu colega de profisso e querido amigo, Dr. Olivar Dures Filho com quem compartilho as muitas vitrias que tivemos e, graas a Deus, as poucas derrotas que sofremos no curso de nossa trajetria de

    lutas em defesa da liberdade de imprensa.

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    Espero que seja til a voc, leitor. E que sirva de ponto de partida para outras reflexes e novos estudos.

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    Imprensa livreJulian Flores Lopes

    Jornalista

    A liberdade de expresso, neste pas, nunca foi to necess-ria. a democracia e o Estado de Direito que, por meio dela, se consolidam, para desmantelar o crime organizado, que corrompe os costumes e assalta os cofres pblicos.

    Eles, quando denunciados pela imprensa livre e corajosa que, felizmente, ainda existe, usam a capangagem oficial e de aluguel para agredir e silenciar. Nesta cidade cheguei a ver ar-ticulistas serem processados, espancados e jornais incendiados e empastelados. O Jornal A CRTICA mesmo teve uma bomba jogada em suas instalaes.

    Mas lutando pelo direito de informar e opinar que estamos passando o Brasil a limpo, mandando para a cadeia marginais fardados e engravatados, at ento intocveis.

    O destino do jornalista, do homem de bem, enfim, o de lu-tar contra a mordaa, contra o desrespeito aos direitos humanos e contra a corrupo.

    Esse o jornalismo que conheo e que abracei quando, tam-bm, j faz mais de meio sculo, ingressei na Associao Amazo-nense de Imprensa (AAI), quando lancei, bem jovem ainda, um jornal aqui em Manaus para advogar as causas justas e nobres e quando, depois, em Porto Velho (RO), poca Territrio Federal, onde jornalistas igualmente eram presos e edies de jornais confiscados pela polcia, ajudei a fundar a Associao Guaporen-se de Imprensa (AGI).

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    s vezes distante do batente, por contingncias da vida, nunca deixei de alimentar, no fundo da alma, o esprito libert-rio, preocupado com o interesse pblico e com as necessidades dos humildes, que devem motivar todos aqueles que lidam com as notcias. A imprensa no deve servir aos poderosos, mas populao, que vive ao lu e desprotegida.

    O jornalista deve ter compromissos inafastveis com a ver-dade, com a pluralidade de verses, com a coragem e com a tica. O seu papel, para a construo de uma sociedade mais justa, atravs do tempo, tem sido fundamental. O jornalismo, a imprensa como disse Rui, a indispensvel janela indiscreta por onde entra o esprito das mudanas.

    Mas hoje vivemos um novo Brasil, que cumpre a Constitui-o Federal, garantindo a livre manifestao do pensamento. Barbosa Lima Sobrinho, saudoso presidente da Associao Bra-sileira de Imprensa (ABI), ntegro e bravo, costumava afirmar: A liberdade de expresso no deve se submeter a censuras. A liberdade de informao um dever da imprensa e um direito pblico.

    verdade. Onde no existe liberdade de expresso, no exis-te democracia. Existe ditadura, terror, subservincia, corrupo.

    PS. Julian Flores Lopes meu pai, nascido em 17.05.1929 e falecido em 19.12.2010. Ele foi jornalista e fez circular em Manaus, entre os anos de 1949 a 1952, o jornal O Tempo. Depois foi funcionrio do Banco da Amaznia S/A por trinta anos, onde se aposentou. O jornalista viveu nele, porm, at o fim de seus dias. Cresci ouvindo suas histrias e sabendo de suas lutas em favor da liberdade de imprensa. Ele me inspirou e inspira. O artigo acima foi publica-do na coluna Direito de Expresso, que ainda hoje edito no jornal A CRTICA, de Manaus. No momento em que lano esta coletnea, presto-lhe esta justa homenagem pelos valores que ele me passou e por todos os ensinamentos que me deu para o desfrute de uma vida digna.

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    CONSTITUIO FEDERAL

    Art. 5(...). XIV- assegurado a todos o aces-so informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional.

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    Sigilo da fonte

    Autoridades policiais (civis e militares), vez por outra, tm intimado jornalistas para depor em inquritos ou sindicncias sobre o objeto de suas reportagens, com ameaa, em caso de recusa, de conduo coercitiva pelo crime de desobedincia (art. 330 do Cdigo Penal).

    A conduta das autoridades configura, porm, uma flagrante ilegalidade.

    que o homem de imprensa possui a garantia de resguardar a fonte de suas informaes (art.5, XIV, da Constituio Federal (CF), estando ainda proibido de depor, na qualidade de teste-munha, a respeito de fatos aos quais teve cincia no exerccio profissional, salvo se assim o desejar e for desobrigado por quem lhas deu (art.207 do Cdigo de Processo Penal - CPP).

    a mesma prerrogativa, guardadas as devidas propores, que possuem os ministros de confisso religiosa, os mdicos e os advogados. O jornalista, ademais, est no exerccio regular de um direito, que excludente de ilicitude (art. 23, III, do Cdigo Penal- CP).

    de se por em relevo, ainda, que o sigilo da fonte, embora tenha como destinatrio o profissional do jornalismo, constitui, em verdade, mais uma garantia de acesso ampla informao a toda a sociedade. Da porque no pode ser flexibilizado.

    O Supremo Tribunal Federal (STF), no Inqurito 8702-RJ, relator Celso de Mello, considerou que a proteo constitucional que confere ao jornalista o direito de no proceder a disclosure da fonte de informao ou de no revelar a pessoa de seu informante,

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    desautoriza qualquer medida tendente a pressionar ou constranger o profissional de imprensa a indicar a origem das informaes a que teve acesso, eis que no custa repetir os jornalistas, em tema de sigilo de fonte, no se expem ao poder de indagao do Estado ou de seus agentes e no podem sofrer, por isso mesmo, em funo dessa legtima prerrogativa constitucional, imposio de qualquer sano penal, civil ou administrativa.

    Declinar a fonte, alm disso, em tais circunstncias, consti-tui infrao ao Cdigo de tica da profisso.

    Se houver insistncia por parte do inquisidor, recomenda-se ao ofendido: a) impetrar um habeas corpus, para no compare-cer ou, em comparecendo, no ser obrigado a falar; b) se no der tempo do habeas corpus ser deferido, comparecer, mas invocar o sigilo constitucional de fonte; c) representar por abuso de au-toridade contra quem lhe intimou; d) deferido o habeas corpus, ingressar com ao de indenizao por danos morais contra o Estado.

    HABEAS CORPUS: trata-se de uma ao de n-dole constitucional, cujo objetivo fazer cessar ilegalidade ou abuso de poder contra a liberda-de de locomoo da pessoa humana, seu direito de ir, vir e ficar.

    Deriva do latim habeas: exibir, livrar, tomar ou trazer; e corpus: corpo. uma ao gratuita, ou seja, no se paga nada por ela (art.5, LXXVII, CF).

    O habeas corpus remonta Magna Carta Liber-tatum, de 1215, a qual foi imposta pelos nobres ao rei da Inglaterra. Ele se destinava a controlar a priso ilegal dos sditos do reino

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    Dicas Importantes: No preciso o concurso de advogado para impetrar habe-

    as corpus. Qualquer pessoa, at o preso, de prprio punho, pode redigi-lo e endere-lo Justia. Mas recomendvel que se tenha acompanhamento tcnico, porquanto a buro-cracia prpria dos tribunais pode retardar a apreciao do pedido ou, mesmo, inviabiliz-lo

    Se o jornalista estiver sendo intimado na condio de acu-sado e no quiser falar deve invocar outro dispositivo constitucional (art.5, LXIII), que lhe garante o direito ao silncio.

    A Constituio Federal assegura o sigilo da fonte, jamais o anonimato. J vi matrias onde se dizia que a fonte pediu o anonimato. O jornalista deve registrar que a fonte pediu o sigilo constitucional.

    Deve-se evitar, sempre que possvel, o off. E documentar o processo de captao da notcia ou, em outra hiptese, checar a informao em fontes diversas, pois nem todas elas so confiveis. Houve casos em que, depois de contar a his-tria para o reprter, a fonte, em juzo, afirmou que tudo tinha sido fruto da mente frtil do jornalista.

    S em uma situao o sigilo da fonte e as demais garantias da imprensa podem ser suspensas: no Estado de Stio (art. 139, CF).

    O habeas corpus tem precedncia absoluta sobre qualquer outra ao e no necessrio de procurao para impetr--lo.

    O habeas corpus pode ser liberatrio (para soltar algum) ou preventivo (para evitar iminente priso).

    Segundo o Cdigo de Processo Penal, art. 648, o habeas cor-

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    pus cabvel nas seguintes situaes: I- quando no houver justa causa; II- quando algum estiver preso por mais tempo do que determina a lei; III- quando quem ordenar a coao no tiver competncia para faz-lo; IV- quando cessado o motivo que autorizou a coao; V- quando no for algum admitido a prestar fiana; VI- quando o processo for mani-festamente nulo; VII- quando extinta a punibilidade

    O caseEm 24.11.2008, na pgina A13 do Caderno de Cidades, do

    jornal A Crtica, de Manaus, o jornalista Jlio Pedrosa assinou a matria nibus vo s ruas sem diesel, onde relatava a exis-tncia de um possvel boicote dos empresrios do transporte coletivo, denunciado pelos usurios, segundo os quais para forar o aumento da tarifa pela prefeitura, aqueles estariam ordenando a sada dos veculos das garagens com pouco com-bustvel, provocando a paralisao do sistema, com prejuzos para a sociedade.

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    O profissional ouviu os usurios, que se no quiseram iden-tificar; ouviu os representantes das empresas, que negaram o ocorrido; ouviu o presidente do Instituto Municipal de Transpor-tes Urbanos (IMTU); e tentou, ainda, falar com o presidente do Sindicato dos Rodovirios.

    Tudo o que havia e o que podia ser dito, foi reproduzido na reportagem.

    No obstante, passados quase quatro meses daquele evento e da publicao, o jornalista Jlio Pedrosa recebeu uma intima-o do delegado titular da Delegacia Especializada em Crimes contra o Consumidor (DECON), para o fim de comparecer no citado distrito policial, em dia e hora especificados, sob pena de conduo coercitiva, sem prejuzo da responsabilidade por crime de desobedincia, na forma do art. 330 do Cdigo Penal Brasileiro.

    O objetivo da intimao vinha explicitado naquele docu-mento: para que seja ouvido, com vista a elucidarmos os fatos apresentados, objeto de matria jornalstica de sua autoria.

    Procurados pelo jornalista numa sexta-feira a audincia estava marcada para segunda eu e o meu colega, Dr. Olivar Du-res Filho, impetramos habeas corpus junto a juza plantonista criminal que, porm, apoiada em parecer do Ministrio Pblico, negou a liminar requerida, havendo sido o processo ento dis-tribudo.

    Isto inviabilizaria o remdio herico utilizado e o profissio-nal, ento, teria de comparecer delegacia.

    Resolvemos no esperar e entramos com habeas corpus substitutivo dirigido ao planto do Tribunal de Justia do Ama-zonas (TJAM), o qual, naquele dia, estava sob a responsabilidade desembargador DJALMA MARTINS DA COSTA, que, reconhecendo o constrangimento ilegal, deferiu a liminar mencionando, para nossa alegria, uma outra deciso, do juiz (posteriormente tor-

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    nou-se desembargador) AFFIMAR CABO VERDE, da 2 Vara Crimi-nal da Comarca de Manaus/AM, em processo semelhante em que atuamos, na defesa do jornalista Elves Chaves, em 2004, onde desenvolvemos a mesma tese abraada pelos julgadores do caso em questo no presente trabalho.

    Depois, o habeas corpus foi distribudo para o desembar-gador RUI MENDES DE QUEIROZ, que o confirmou em seu voto, aprovado por unanimidade pela Primeira Cmara Criminal do TJAM.

    Fala o jornalista

    Ao Jornal do Jornalista, rgo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas, edio de junho/julho de

    O jornalista Jlio Pedrosa, de A CRTICA.

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    2099, Jlio Pedrosa disse ter ficado constrangido e surpreso com a ameaa de conduo coercitiva para prestar depoimento na delegacia. Procurei o Dr. Jlio Antonio Lopes e ele me disse para ficar tranqilo, que a lei assegura o sigilo da fonte. Hoje eu ando com uma cpia do salvo-conduto do habeas corpus em minha pasta para qualquer eventualidade..

    Modelo do habeas corpus impetrado

    EXCELENTSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PLANTONISTA DO EGRGIO TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO AMAZONAS.

    JLIO ANTONIO DE JORGE LOPES, brasileiro, casado, advogado regularmente inscrito na OAB-AM sob o n 2023 e OLIVAR DU-RES FILHO, brasileiro, casado, advogado regularmente inscrito na OAB-AM sob o n 2273, ambos com escritrio profissional na Avenida Andr Arajo, 1924-A, bairro de Aleixo, vm respeito-samente perante V. Ex , com fundamento no art. 5, SVIII, da Constituio Federal c/c o art. 647 e seguintes do Cdigo de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

    HABEAS CORPUS PREVENTIVO COM PEDIDO DE LIMINAR

    em favor de JLIO PEDROSA DE OLIVEIRA, brasileiro, soltei-ro, jornalista, portador da cdula de identidade de n 2671223 SESP/PE e do CPF de n 477.424.104-00, podendo ser intimado na Avenida Andr Arajo, 1924-A, bairro de Aleixo, pelas razes de fato e de direito a seguir delineadas.

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    DO HC SUBSTITUTIVOA audincia na delegacia, contra a qual o paciente se insur-ge, ser realizada na prxima segunda-feira (30.03.2009), as 10h45m da manh.

    A juza que permanece em planto at domingo a mesma que indeferiu a ordem, sendo de pouca serventia, por isso, a reitera-o do HC ou o pedido de reconsiderao.

    Da o presente habeas corpus substitutivo, para sanar a coao ilegal de que est sendo vtima o paciente, razo pela qual re-quer, de incio, em face da dimenso constitucional do direito envolvido e do remdio herico invocado, que V. Ex, culto de-sembargador, aprecie o habeas corpus e o defira ainda no seu planto, para evitar a perpetrao de ato abusivo e ilegal.

    DOS FATOS.

    O paciente jornalista, conforme pode fazer prova pela cpia de sua carteira profissional em anexo, prestando servios para o peridico A CRTICA, de Manaus.

    No desempenho de seu mister, produziu e assinou a matria NIBUS VO S RUAS SEM DIESEL, veiculada no caderno de Cidades do referido matutino, em 24.11.2008, na pgina A13, matria em anexo, motivado pelo interesse pblico e com o nimo apenas, de narrar o acontecido, acerca de um suposto boicote denunciado por usurios do sistema de transporte co-letivo de Manaus, os quais aduziam que, para forar o aumen-to da tarifa pela prefeitura reivindicado pelos empresrios, os veculos estariam saindo das garagens com pouco combustvel. Para isso ouviu usurios do sistema, que se no quiseram

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    identificar, valendo-se o paciente do sigilo da fonte; os repre-sentantes das empresas, que negaram o fato; o presidente do IMTU; e tentou, ainda, falar com o presidente do Sindicato dos Rodovirios.

    Tudo o que havia e o que podia ser dito, foi reproduzido na reportagem. O que ali no consta, encontrava-se sob o sigilo constitucional de fonte.

    No obstante, passados quase quatro meses daquele evento e da publicao, o paciente recebeu uma notificao emitida pelo digno delegado de polcia, Dr. (...), titular da Delegacia Especializada em Crimes contra o Consumidor (DECON), ora tido como AUTORIDADE COATORA, cpia em anexo, para comparecer na Delegacia Especializada em Crimes contra o Consumidor, no gabinete do delegado titular, situada na Av. Pedro Tei-xeira, s/n, (em frente ao Sambdromo)/ Planalto, no dia 30.03.2009, s 10h45min, para prestar esclarecimentos, quanto ao proc. 003-08-DECON, sob a advertncia de que o no comparecimento no dia e horrio acima anotados, resul-tar na imediata CONDUO COERCITIVA do notificado, pela autoridade policial e/ou seus agentes, sem prejuzo de res-ponsabilidade por crime de desobedincia, na forma do art. 330 do Cdigo Penal Brasileiro, observando-se que a finali-dade de tal para que seja ouvido, com vistas a elucidarmos os fatos apresentados, objeto de matria jornalstica de sua autoria, veiculadas no jornal A Crtica, de 24.11.2008, Ca-derno Cidades, pgina A13.

    Pediu o paciente, ento, habeas corpus ao juiz plantonista das Varas Criminais de Manaus, Dra. (...), a qual, aps ouvir o Ministrio Pblico, entretanto, indeferiu o pedido aos se-

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    guintes argumentos, cpia em anexo: DECISO(...). Pela anlise detida dos autos no vislumbro qualquer ameaa a liberdade de locomoo do pa-ciente, apurando a autoridade, apontada como coa-tora, fatos pretritos, que pelo decurso de tempo, j seria suficiente para que, em sendo o caso, represen-tasse pela custdia preventiva do paciente, situao que at a presente data no sobreveio. De mais a mais, o que pretende o paciente evitar seu comparecimento para audincia em que dever depor, remdio que no encontra guarida por meio do presente HC preventivo, posto que este serve para assegurar o direito de locomoo, no sendo, como se abstrai dos autos, o temor do paciente. De modo que, diante das razes acima declinadas, NEGO A ORDEM IMPETRADA em favor do paciente J-LIO PEDROSA, no restando demonstrada a justa ra-zo de que o paciente se ache na iminncia de sofrer coao ilegal na sua liberdade de ir e vir, diante dos fatos contidos em sua petio de ingresso. Considerando que o feito foi distribudo para a 5 Vara Criminal da capital, determino a remessa dos autos imediatamente ao juzo competente. Manaus, 26 de maro de 2009.

    Como se v, nobre desembargador, as razes para a denegao da ordem so frgeis e no merecem prosperar como ltima ra-zo da justia.

    A digna magistrada acha que no h ameaa na liberdade de ir e vir do paciente. Mas, como no h coao ilegal, se ele est

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    sendo chamado para depor, basta ler a intimao, sob pena de conduo coercitiva e responsabilidade por crime de desobe-dincia (art.330 do CP), tratamento dispensado a acusados ou criminosos?.

    E nada, basta tambm ler a matria jornalstica, justifica o seu comparecimento quela delegacia, pois tudo o que foi dito, o que podia ser dito, foi dito na aludida reportagem pelo paciente.

    Observe-se que, por fora do sistema jurdico ptrio, o jorna-lista tem a garantia do sigilo da fonte de suas informaes e est proibido de depor sobre fatos de que teve conhecimento no exerccio da profisso.

    Se o paciente no pode depor como testemunha, sob pena de quebrar o sigilo da fonte e sigilo profissional; e se pode ficar calado, se acusado (o paciente at gora no sabe em que condi-o est sendo chamado a depor), QUAL O SENTIDO DE SUA IDA DELEGACIA?. QUAL O OBJETIVO?. QUAL A PRATICIDADE DA AUDINCIA?. NENHUMA, A NO SER O INTUITO DE CONSTRANG--LO E DE FAZ-LO IR CONTRA A SUA VONTADE, para demonstrar poder, para intimid-lo, violando, ainda por cima, no apenas a Constituio, mas o Cdigo de Processo Penal e a Lei 5.250/67.

    DO DIREITO.

    A respeito do sigilo da fonte, diz o comando constitucional:

    Art. 5 (...).XIV. assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo de fonte, quando necessrio ao exerccio profissional.

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    De igual sorte, dispe a Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa):

    Art. 7 (...). Ser, no entanto, assegurado e res-peitado o sigilo quanto s fontes de origem de informaes recebidas ou recolhidas por jornalis-tas, rdio-reprteres ou comentaristas.

    O Cdigo de Processo Penal, no que diz respeito a testemunhas, taxativo, em face do sigilo profissional:

    Art. 207. So proibidas de depor as pessoas que, em razo de funo, ministrio, ofcio ou profis-so, devam guardar segredo, salvo se, desobriga-das pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

    Ademais, declinar a fonte da informao, sem estar desobrigado por ela, constitui grave infrao ao Cdigo de tica Profissional, podendo valer ao paciente a respectiva penalidade administra-tiva.

    Outro, a propsito, no o entendimento do E. Supremo Tribu-nal Federal (STF):

    IMPRENSA E SIGILO DE FONTE. A proteo cons-titucional que confere ao jornalista o direito de no proceder disclosure da fonte de informao ou de no revelar a pessoa de seu informante de-sautoriza qualquer medida tendente a pressionar ou a constranger o profissional de imprensa a in-dicar a origem das informaes a que teve aces-so, eis que no custa insistir os jornalistas,

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    em tema de sigilo de fonte, no se expem ao poder de indagao do Estado ou de seus agentes e no podem sofrer, por isso mesmo, em funo do exerccio dessa legtima prerrogativa consti-tucional, a imposio de qualquer sano penal, civil ou administrativa. (STF, Inq. 870-2/RJ, rela-tor ministro CELSO DE MELLO, DJ, seo I, p. 11462, 15.04.1996).

    O prprio Tribunal de Justia do Estado do Amazonas (TJAM), em caso anlogo, por deciso do ento juiz de direito da 2 Vara Criminal de Manaus e, depois, desembargador AFFIMAR CABO VERDE, concedeu a ordem, ao seguinte fundamento, nos autos do processo de n 001.04.101334-5, cpia em anexo:

    (...). o relatrio. Passo a decidir. Da anlise dos autos, verifico que a liberdade de locomoo do Paciente, de fato, est sendo vili-pendiada. Isto, uma vez que sendo as reportagens de cunho jornalstico embasadas em informaes forneci-das por pessoas que, muitas vezes temendo re-preslias, solicitam que a origem dos relatos se-jam mantidos em sigilo. Com efeito, a atitude do Paciente em negar-se a prestar informaes Autoridade Policial da Ge-rncia de Ilcitos Penais e Administrativos, en-contra pleno respaldo, no s constitucional, mas tambm na legislao especfica, a mencionada Lei 5.250/1967.

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    (...). Em assim sendo, muito embora as informaes no haja sido prestadas pela Autoridade Coatora, verifico estarem presentes os requisitos autori-zadores da concesso das liminares, quais sejam: a) fumus boni iuris consubstanciado na facul-

    dade do Paciente em deixar de revelar a fonte de suas informaes, por imperativo legal;

    b) periculum in mora presente na advertncia constante da notificao, cuja cpia encon-tra-se na folha 10 destes autos, de conduo coercitiva do Paciente, caso este deixasse de comparecer perante a Gerncia de Ilcitos Pe-nais e Administrativos, no dia 04.11.2004, sendo que, a qualquer momento, poder so-frer a limitao em seu direito constitucio-nalmente garantido, de ir, vir e permanecer.

    Por todo o exposto, defiro em favor do Paciente a Ordem de Habeas Corpus preventivo e determi-no a imediata expedio de seu salvo-conduto. (...). Cumpra-se. Manaus, 10 de novembro de 2004. AFFIMAR CABO VERDE, juiz de direito.

    evidente o constrangimento ilegal, praticado pelo delegado e referendado pela juza plantonista, que no viu ile-galidade na conduta do delegado.

    As leis da Repblica protegem o cidado em tais cir-cunstncias. Estabelece, neste sentido, a Constituio Federal:

    Art. 5 (...).

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    LXVIII. Conceder-se- habeas corpus sempre que algum sofrer ou se achar na iminncia de sofrer violncia ou coao ilegal na sua liberdade de ir e vir por ilegalidade ou abuso de poder.

    O CPP afina-se quele dispositivo:

    Art. 647. Dar-se- habeas corpus sempre que algum sofrer ou se achar na iminncia de sofrer violncia ou coao ilegal em sua liberdade de ir e vir, salvo nos caos de punio disciplinar.

    Caracterizado est, portanto, o constrangimento ilegal que vi-tima o jornalista JLIO PEDROSA, ora paciente, que no pode ser obrigado a depor, na qualidade de testemunha, quaisquer procedimentos (civil, penal ou administrativo), acerca de fatos que teve conhecimento no exerccio regular e legtimo de sua profisso.

    Muito menos ser coagido a faz-lo sob pena de conduo coerci-tiva ou responsabilidade por crime de desobedincia.

    O prprio Cdigo Penal abriga a conduta do paciente ao registr--la entre as excludentes de ilicitude:

    Art. 23. No h crime quando o agente pratica o fato: I- em estado de necessidade;II- em legtima defesa;III- em cumprimento de dever legal ou NO

    EXERCCIO REGULAR DE DIREITO.

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    DA LIMINAR.

    A fumaa do bom direito foi amplamente demonstrada no tpi-co anterior. J o perigo na demora do provimento jurisdicio-nal verifica-se pela marcao do depoimento do paciente para o prximo dia 30.03.2009, estando iminente o risco de perpetrar--se a ilegalidade.

    A liminar evitar, inclusive, que a autoridade coatora mande conduzir coercitivamente, como promete na notificao, o jor-nalista, caso esta no seja atendida. E mais, poder o jornalista, diante de uma eventual negativa de falar, ser indiciado ou fla-granteado sob a tipificao da desobedincia (art. 330 do CP).

    a liminar em habeas corpus, sobretudo em hipteses anlogas, questo pacificada tanto na doutrina quanto na jurisprudncia:

    Embora desconhecida na legislao referente ao habeas corpus, foi introduzida nesse remdio herico, pela jurisprudncia, a figura da liminar, que visa atender casos em que a cassao da coa-o ilegal exige pronta interveno do Judicirio. Passou, assim, a ser mencionada nos regimentos internos dos tribunais, a possibilidade de conces-so de liminar pelo relator, ou seja, a expedio de salvo-conduto ou a ordem liberatria provis-ria antes do processamento do pedido, em caso de urgncia. (arts. 21, IV e V; e 191, IV, do RISTF; e arts. 34, V e VI e 201, IV, RISTJ). Jlio Fabbrini Mirabete. CPP Anotado, ed. Atlas, p. 764, 2 ed. 1994.

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    DO PEDIDO.

    Em razo do exposto e do que ficou comprovado, vm os impe-trantes requerer de V. Ex, em favor do paciente JLIO PEDROSA DE OLIVEIRA A CONCESSO LIMINAR DA PRESENTE ORDEM DE HABEAS CORPUS PREVENTIVO, a fim de que o senhor delegado de polcia, titular da DECON, Dr. (...), comunicando-se tudo ao juiz criminal respectivo, a fim de que se abstenham de praticar qualquer ato atentatrio liberdade individual do paciente, para que este possa ir, vir e permanecer livremente, assim como no seja obrigado a comparecer quela delegacia para a sobredita audincia para depor, nem nada tenha de falar, se no for de seu desejo, com testemunha ou como parte, em procedimento policial instaurado em razo da matria jornalstica produzida e assinada pelo paciente, e levada divulgao no jornal A Crtica de 24.11.2008, sob o ttulo NIBUS VO S RUAS EM DIESEL, por estar protegido pelos arts. 5, XIV, da CF; art. 207 do CPP; e art. 7 da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa), EXPEDINDO-SE O COMPETENTE SALVO-CONDUTO. Ao final, requer seja oficiado autoridade coatora, para que preste as informaes que tiver, confirmando-se a liminar quando da anlise do mrito. Nestes termos,Pede deferimento.Manaus, 25 de maro de 2009.

    Jlio Antnio de Jorge LopesOAB-AM 2023

    Olivar Dures FilhoOAB-AM 2273

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    Cpia da identidade do paciente (jornalista).

    Cpia da intimao da DECON.

    Cpia da pgina do jornal A Crtica de 24.11.2008, p-gina A13.

    Cpia da deciso em caso anlogo (2 Vara Criminal de Manaus Dr. AFFIMAR CABO VERDE).

    Uma cpia a mais da inicial.

    A liminar

    HABEAS CORPUS. Planto Judicial (perodo de 23 a 29/03/2009). Impetrantes: Drs. Jlio Antonio de Jorge Lopes e Olivar Dures Filho. Paciente: JLIO PEDROSA DE OLIVEIRA. Impetrados: Exma. Sra. Juza de Direito Plantonista da 5 Vara Criminal e Autoridade Policial da Delegacia Especializada em Crimes contra o Consumidor (DECON).

    DECISO

    Vistos etc.

    Os Drs. Jlio Antonio de Jorge Lopes e Olivar Dures Filho im-petraram habeas corpus preventivo em favor de JLIO PEDRO-SA DE OLIVEIRA, contra ato da Exma. Sra. Juza de Direito Plantonista da 5 Vara Criminal da Capital e da Autoridade Policial da Delegacia Especializada em Crimes contra o Con-sumidor (DECON).

    (...).

    Passo a decidir.

    Ab initio, cabe observar que a Magna Carta estabelece como direito fundamental o acesso informao, resguardado o sigilo da fonte, quando necessria ao exerccio da atividade profissional, como no caso do Paciente, em seu mister jorna-lstico, consoante dispe o art. 5, XIV, verbis: XIV- asse-

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    gurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo de fonte, quando necessrio ao exerccio profissional. (g.n).

    Sobre a questo preleciona Jos Afonso da Silva: nesta que se centra a liberdade da informao, que assume carac-tersticas modernas, superadoras da velha liberdade de im-prensa. Nela se concentra a liberdade de informar e nela ou atravs dela que se realiza o direito coletivo informao, isto , a liberdade de ser informado. Por isso que a ordem jurdica lhe confere um regime especfico, que lhe garanta a atuao e lhe coba os abusos (in Curso de Direito Constitu-cional Positivo, 9 Ed, Malheiros, p.223).

    Convm anotar a doutrina de Celso Ribeiro Bastos, verbis: O acesso informao ganha conotao particular quando levado a efeito por profissionais, os jornalistas. Neste caso, a constituio assegura o sigilo de fonte. Isto significa que nem a lei nem a administrao nem os particulares podem compelir um jornalista a denunciar a pessoa ou o rgo de quem obteve a informao. Trata-se de medida conveniente para o bom desempenho da atividade de informar. Com o sigilo da fonte ampliam-se as possibilidades de recolhimento de material informativo. (In Comentrios Constituio do Brasil, vol. 2/81-82, Saraiva). (g.n).

    Registro, ainda, que o sigilo da fonte, alm de constituir um direito, um dever do jornalista, cuja inobservncia importa-r em violao do segrego profissional e, portanto, na prtica do crime tipificado no art. 154 do Cdigo Penal.

    Colhe-se da jurisprudncia do C. STF, deciso monocrtica da lavra do Exmo. Sr. Min. Celso de Mello, nos autos do Inqurito n 870, publicado no Dirio de Justia de 15/04/1996, p. 11461, o seguinte: (...). 2. Impe-se observar, por neces-srio, uma vez identificado o jornalista que reportou o epi-sdio concernente Lista do Bicho e que manteve contato com a deputado Cidinha Campos que esse profissional da imprensa , sendo o caso, dispe da prerrogativa concernente

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    ao sigilo de fonte. Trata-se, na realidade, de expressiva garan-tia da ordem jurdica, que, outorgada a qualquer jornalista em decorrncia de sua atividade profissional, destina-se, em ltima anlise, a viabilizar, em favor da prpria coletividade, a ampla pesquisa de fatos ou eventos cuja revelao se im-pe como conseqncia ditada por razes de estrito interesse pblico.

    O ordenamento jurdico brasileiro, na disciplina especfica desse tema (Lei 5.250/67, art. 71), prescreve que nenhum jornalista poder ser compelido a indicar o nome de seu infor-mante ou a fonte de suas informaes. Mais do que isso, esse profissional, ao exercer a prerrogativa em questo, no po-der sofrer qualquer sano direta ou indireta, motivada por seu silncio ou por sua legtima escusa em responder s inda-gaes que lhe sejam eventualmente dirigidas com o objetivo de romper o sigilo de fonte. (Deciso monocrtica proferida pelo Exmo. Sr. Min. Celso de Mello). (g.n).

    Portanto, conforme se depreende dos ensinamentos jurdicos supracitados, se a norma constitucional garante o sigilo da fonte (art. 5, XIV, CF 88), no pode a autoridade policial pretender a conduo coercitiva do paciente, cuja conduta foi ratificada pela MM. Juza de Direito Plantonista da 5 Vara Criminal, para que seja ouvido, com vista a elucidarmos os fatos apresentados, objeto da matria jornalstica de sua au-toria NIBUS VO S RUAS SEM DIESEL, veiculada no JORNAL A CRTICA, de 24/11/2008, Caderno Cidades, pgina A13, notificao expedida pela DECON, fls. 22.

    Afinal, como bem dispem os impetrantes: Qual a serventia, assim, que teria a ida do jornalista presena do delegado, porque, se for, no pode falar, abrigado pelo sigilo de fonte do art. 5, XIV, da CF?.

    Ao trmino, imprescindvel salientar o entendimento exegti-co desta Corte de Justia: (...). Da anlise dos autos, veri-fico que a liberdade de locomoo do Paciente, de fato, est

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    sendo vilipendiada.

    Isto, uma vez que sendo as reportagens de cunho jornalstico embasadas em informaes fornecidas por pessoas que, mui-tas vezes, temendo represlias, solicitam que a origem dos relatos sejam mantidas em sigilo.

    Com efeito, a atitude do paciente em negar-se a prestar in-formaes Autoridade Policial da Gerncia de Ilcitos Penais e Administrativos, encontra pleno respaldo, no s constitu-cional, mas tambm na legislao especfica, a mencionada Lei 5.250/67. (...).

    Assim sendo, muito embora as informaes no haja sido prestadas pela Autoridade Coatora, verifico estarem presentes os requisitos autorizadores da concesso das liminares, quais sejam:

    fumus boni iuris consubstanciado na faculdade do Paciente em deixar de revelar a fonte de suas informaes, por impe-rativo legal;

    b) periculum in mora presente na advertncia constante da notificao, cuja cpia encontra-se na folha 10 destes autos, da conduo coercitiva do Paciente, caso este deixe de com-parecer a Gerncia de Ilcitos Penais e Administrativos, no dia 04.11.2004, sendo que, a qualquer momento, poder sofrer a iminncia de limitao em seu direito constitucionalmente garantido de ir, vir e permanecer.

    Por todo o exposto, defiro em favor do Paciente a ordem de habeas corpus preventivo e determino a imediata expedio de salvo conduto (TJAM, 2 Vara Criminal, HC n 001.101334-5, juiz de direito Affimar Cabo Verde, deciso exarada em 10/11/2004.

    Ante o exposto, concedo a liminar da presente ordem de ha-beas corpus preventivo, nos termos da inicial, para que os impetrados se abstenham de praticar qualquer ato atentat-rio liberdade individual do Paciente JLIO PEDROSA DE OLI-

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    VEIRA, para que este possa ir, vir e permanecer livremente, assim como no seja obrigado a comparecer DECON para a sobredita audincia para depor, nem que tenha de falar, se no for de seu desejo, na condio de testemunha ou como parte, em procedimento policial instaurado em razo da matria jornalstica produzida e assinada pelo Paciente, e levada divulgao no jornal A CRTICA de 24/11/2008, sob o ttulo NIBUS VO S RUAS SEM DIESEL, ex vi dos arts. 5, XIV, da CF/88; art. 207 do CPP; e art. 7 da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa), expedindo-se o competente salvo conduto. Intime-se. Cumpra-se. Secretaria, para distribuio por sor-teio, findo o planto judicial. Manaus, 28 de maro de 2009. Desembargador DJALMA MARTINS DA COSTA.

    A deciso de mrito

    HABEAS CORPUS n 2009.001377-4. Primeira Cmara Crimi-nal do Tribunal de Justia do Amaoznas. Impetrado: Juzo de Direito da 5 Vara Criminal. Paciente: JLIO PEDROSA. Ad-vogados: Jlio Antonio de Jorge Lopes e Olivar Dures Filho. Relator: desembargador Ruy Mendes de Queiroz.

    EMENTA HABEAS CORPUS. JORNALISTA. NOTCIA VEICULADA EM JORNAL. EXERCCIO DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO DEVER DE INFORMAO. DIREITO DE CALAR-SE SOBRE AQUILO QUE SIGILOSO EM DECORRNCIA DE SEU EXERCCIO PROFIS-SIONAL. ORDEM CONCEDIDA. A impetrao busca o resguardo do direito de no declarar informaes sigilosas. Sigilo de fonte que possui amparo constitucional e deve ser garantido e preservado. O exerccio da liberdade de imprensa, muito an-tes de um direito um dever do jornalista, a quem incumbe manter bem informados os cidados. Ordem concedida.

    ACRDO. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Senhores Desembargadores que compem esta

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    Egrgia Primeira Cmara Criminal, por unanimidade de vo-tos em concordncia com o parecer ministerial, reconhecer a presente ordem de Habeas Corpus, na forma do voto do relator. Sala de Sesses da Primeira Cmara Criminal do Egr-gio Tribunal de Justia do Estado do Amazonas, em Manaus, 12.05.2009.

    Relatrio (...).

    Voto. O impetrante pretende, essencialmente, que se admita pela estreita via do remdio herico, o direito de no declarar fatos considerados sigilosos de que tenha conhecimento, em decorrncia de exerccio de atividade jornalstica.

    Tema palpitante e trabalhoso, essa a verdade.

    Mas tem razo a postulao.

    De fato, no se nega, assegurada em texto constitucional a garantia do resguardo do sigilo de fonte.

    Confira-se: art. 5, inciso XIV, CF: assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional.

    Ora, a garantia est expressa com todas as letras na Carta Constitucional, de sorte que, sobre sua existncia no pode pairar uma dvida sequer, sendo que neg-la negar a ordem constitucional e sua vigncia, o que seria um contrasensso inimaginvel na esfera judiciria, que, antes de mais nada guardi da Carta Maior.

    O jornalista, com efeito, possui como garantia fundamental a preservao do sigilo da fonte de suas realizaes profis-sionais, justamente para que possa exercer livremente sua atividade, garantindo sociedade o acesso permanente in-formao.

    Isto tributo no s liberdade de expresso, como demo-cracia, em confronto ao perodo ditatorial e de represso que se viveu, lamentavelmente, tempos atrs.

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    O que no magistrio de Fernando da Costa Tourinho Filho, traduzido como ferramenta indispensvel liberdade de im-prensa, o segredo profissional dos jornalistas, definido como direito de abster-se de declarar sobre a origem das informa-es que cheguem ao seu conhecimento, qualquer que seja a sua natureza, em razo da profisso que exercem (Curso de Processo Penal, V, III, Ed. Saraiva, 25 edio, 2003, f. 307).

    Assim, se a Constituio Federal prev o sigilo da fonte neces-srio ao exerccio profissional porque ele indispensvel ao acesso informao e mais, tambm liberdade de imprensa.

    Ademais, relembre-se que a sociedade imprescinde de infor-maes, estas devendo chegar-lhe sempre e necessariamente.

    Discorrendo sobre a importncia da liberdade de imprensa, Rui Barbosa escreveu: A imprensa a vista da Nao. Por ela que a Nao acompanha o que lhe passa ao perto e ao lon-ge, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que sonegam ou roubam, percebe onde alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaa (A Imprensa e o dever da verdade, apud juiz Walter Guilher-me, ao relatar acrdo do TACrsp, publicado na RT 729/581.

    E quanto ao papel do jornalista, aduziu Rui Barbosa: Cada jornalista , para o comum do povo, ao mesmo tempo, um mestre de primeiras letras e um catedrtico de democracia em ao, um advogado e um censor, um familiar e um ma-gistrado. Bebidas com o primeiro po do dia, as suas lies penetram at o fundo das conscincias inespertas, onde vo elaborar a moral usual, os sentimentos e os impulsos, de que depende a sorte dos governos e das naes (apud Guido Fidelis, Crimes de Imprensa, So Paulo, Sugestes Literrias, 1977, p. 9).

    H freios e limites, entretanto, e por vezes como aqui, tudo para que a sociedade possa exercer plenamente sua cidada-

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    nia, cobrando de agentes pblicos e privados o comportamen-to em conformidade com a lei.

    E, evidentemente, essas informaes so buscadas a duras penas muitas vezes por competentes e dedicados jornalis-tas, valorosos sempre na atuao democrtica e o no dever de informar, e trazer cidadania o espelho daquilo que acontece em sociedade.

    Importante, imprescindvel e dignificante o trabalhado da-queles.

    Da que pode e deve, antes de mais nada, em nome sem-pre da importncia social que ele representa na evoluo da democracia. E nesse trabalho dirio de coleta de informa-es teis que no se pode jamais permitir que os jornalistas saiam prejudicados, tolhidos, ameaados pela revelao de fatos e dados e que, eventualmente, possam prejudicar-lhes.

    Para o bem deles prprios, importante e digna classe profis-sional, e nosso, como sociedade, sempre e necessariamente como imprescindvel necessidade de acesso informao. Da o sigilo que plenamente se justifica.

    exatamente o que expe brilhantemente o ministro Celso de Mello, em despacho em inqurito que tramitava na C. Corte Suprema brasileira: A liberdade de imprensa, na medida em que no sofre interferncias governamentais ou restries de carter censrio, constitui expresso positiva do elevado coe-ficiente democrtico que deve qualificar as formaes sociais genuinamente livres. E a prerrogativa do sigilo da fonte, nesse contexto, constitui instrumento de preservao da prpria li-berdade de informao. Isso claramente significa que a prer-rogativa concernente ao sigilo da fonte, longe de qualificar--se como mero privilgio de ordem pessoal ou estamental, configura na realidade meio essencial de concretizao do direito constitucional de informar, revelando-se oponvel em conseqncia, a quaisquer rgos ou autoridades do Poder

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    Pblico, no importando a esfera em que se situe a atuao institucional dos agentes estatais interessados (STF, Inqu-rito 870-RJ, DJU 15.04.1996).

    A Lei de Imprensa especifica o sigilo da fonte, ao dispor, em seu art. 7 que: No exerccio da liberdade de manifestao do pensamento e de informao no permitido o anonima-to. Ser, no entanto, assegurado e respeitado o sigilo quanto s fontes ou origem de informaes recebidas ou recolhidas por jornalistas, rdio-reprteres ou comentaristas e, em seu art. 71, que Nenhum jornalista ou radialista ou, em geral, as pessoas referidas no artigo 28, podero ser compelidos ou coagidos a indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas informaes, no podendo seu silencia, a respeito, sofrer qualquer sano, direta ou indireta, nem qualquer espcie de penalidade.

    Cumpre aqui registrar que a liberdade de imprensa no transi-ta em mo nica, militando, to somente, em favor de quem informa. Muito antes pelo contrrio, uma liberdade que atende tambm aqueles que, titulares do direito de informa-o, so repositrios do compromisso dos rgos jornalsticos de divulgar os fatos que transitam nos mais diversos meios.

    Jos Afonso da Silva captou, com a sua sempre prodigiosa percucincia, aquilo que constitui a essncia da liberdade de imprensa: Os jornalistas e empresas jornalsticas reclamam mais seu direito do que cumprem seus deveres. Exatamente porque a imprensa escrita, falada e televisada (como impro-priamente se diz) constitui poderoso instrumento de forma-o de opinio pblica (mormente com o desenvolvimento de mquinas interplanetrias destinadas a propiciar a ampla transmisso de informaes, notcias, doutrinas e at sensa-cionalismos) que se adote hoje a ideia que ela desempenha uma funo social consistente, em primeiro lugar, em expri-mir s autoridades

    Constitudas o pensamento e a vontade popular, colocando-

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    -se quase como um quarto poder, ao lado do Legislativo, do Executivo e do jurisdicional, no dizer de Foderaro. que ela constitui uma defesa contra todo excesso de poder e um forte controle sobre a atividade poltico-administrativa e sobre no poucas manifestaes ou abusos de relevante importncia para a coletividade (in Curso de Direito Constitucional Posi-tivo, 12 Ed, Malheiros, p. 240).

    Diante disso, entendo, com o conforto de estar abalizado por festejada doutrina e jurisprudncia, que a conduta do Pacien-te no se reveste de ilegalidade e, bem por isso, CONCEDO a ordem para que seja confirmada a liminar. Desembargador Ruy Mendes de Queiroz.

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    Casos famosos

    Watergate e o Garganta profunda: a fonte que derrubou um presidente.

    Foi uma fonte oculta que possibilitou a queda do ex-pre-sidente americano Richard Nixon, no conhecido episdio de Watergate. Ela passava informaes confidenciais para os jor-nalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, que as divulgavam no Washington Post, cujo editor era Ben Bradelee. Garganta pro-funda, referncia a um filme pornogrfico da poca, estrelado por Linda Lovelace, foi o apelido dado pelos reprteres sua fonte, que, anos depois revelou-se como sendo o nmero dois do FBI, o funcionrio Mark Felt. O caso Watergate virou filme: Todos os homens do presidente.

    Bob Woodward e Carl Bernstein

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    Judith Miller, a reprter que foi presa por no revelar a fonte de suas infor-maes.

    Nos EUA, a ptria da liberdade, a jornalista Judith Miller, do New York Times, e o jornalista Matt Cooper, da revista Time, tiveram srios problemas para preservar a fonte de suas informa-es, a qual havia revelado a identidade da agente secreta Vale-rie Plame. A histria tambm virou filme em Hollywood, com o ttulo - em traduo livre - de Nothing but the truth (Nada alm da verdade). O caso teve repercusso mundial. Judith negou-se a revelar a fonte e ficou presa por quase trs meses. S foi libe-rada quando recebeu permisso da fonte, Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, para identific-lo. Matt no chegou a ser preso, pois a sua fonte permitiu a identificao

    logo de incio.

    Judith Miller, do New York Times

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    Em So Paulo jornalistas de Veja fo-ram convocados para depor como testemunhas e, segundo eles, acaba-ram intimidados por delegado.

    Aqui mesmo no Brasil, em outubro de 2006, trs jornalistas da revista Veja Marcelo Carneiro, Jlia Duailibi e Camila Pereira que escreveram sobre um suposto esquema montado pela c-pula da Polcia Federal para abafar o caso do Dossi dos Alopra-dos, foram intimados, tiveram de comparecer a PF paulista e, segundo eles, foram intimidados, pressionados e constrangidos pelo delegado que os ouviu, o qual chegou-lhes a perguntar so-bre posicionamento poltico da revista e filiaes partidrias.

    Wikileaks

    Julian Assange, do site Wikileaks, tem sofrido perseguies e prises por divulgar documentos confidenciais da diplomacia americana, em especial as que se relacionam s guerras do Ira-que e do Afeganisto, embora queiram prend-lo por suposto crime de natureza sexual. Atualmente o Wikileaks o maior va-zadouro de informaes oficiais que se utiliza de fontes que que-rem ser preservadas. E alvo de muita polmica por causa disto.

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    Legislao relacionada

    Declarao Universal dos Direitos Humanos.

    Declarao de Chatulpetec.

    Constituio Federal (art. 5, incisos XIV e LXVIII).

    Cdigo Penal, arts. 23, III; e 154.

    Cdigo de Processo Penal (art. 207 e 647).

    A revogada Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa) previa tam-bm o instituto do sigilo da fonte (art. 7 e art.71).

    Julian Assange, capa da Time

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    Sobre o autor

    Jlio Antonio Lopes natural de Manaus e advogado graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). diretor jurdico da Rede Calderaro de Comunicao (RCC). editorialista e articulista do jornal A Crtica, onde as-sina coluna todos os domingos. Edita, tambm, h seis anos, no mesmo veculo, a coluna Direito de Expresso, voltada para os mundos jornalstico e jurdico. autor do livro A Critica de Umberto Calderaro Filho.

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    Declarao Universal dos Direitos Humanos

    Considerando que o reconhecimento da dignidade ineren-te a todos os membros da famlia humana e de seus direi-tos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo,

    Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direi-tos humanos resultam em atos brbaros que ultrajaram a conscincia da Humanidade e que o advento de um mun-do em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crena e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspirao do homem comum,

    Considerando essencial que os direitos humanos sejam

    Anexo

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    protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem no seja compelido, como ltimo recurso, rebelio contra a tirania e a opresso,

    Considerando essencial promover o desenvolvimento de relaes amistosas entre as naes,

    Considerando que os povos das Naes Unidas reafirma-ram, na Carta, sua f nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condies de vida em uma liberdade mais ampla,

    Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperao com as Naes Unidas, o res-peito universal aos direitos humanos e liberdades funda-mentais e a observncia desses direitos e liberdades,

    Considerando que uma compreenso comum desses direi-tos e liberdades da mais alta importncia para o pleno cumprimento desse compromisso,

    A Assemblia Geral proclama:

    A presente Declarao Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naes, com o objetivo de que cada indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em mente esta Declarao, se esforce, atravs do ensino e da educao, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de carter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observncia universais e efetivos, tanto entre os povos dos prprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territrios sob sua jurisdio.

    Artigo 1 Todas as pessoas nascem livres e iguais em

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    dignidade e direitos. So dotadas de razo e consci-ncia e devem agir em relao umas s outras com esprito de fraternidade.

    Artigo 2 Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declara-o, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, lngua, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nasci-mento, ou qualquer outra condio.

    No ser tampouco feita qualquer distino fundada na condio poltica, jurdica ou internacional do pas ou territrio a que pertena uma pessoa, quer se trate de um territrio independente, sob tutela, sem gover-no prprio, quer sujeito a qualquer outra limitao de soberania.

    Artigo 3 Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

    Artigo 4 Ningum ser mantido em escravido ou ser-vido; a escravido e o trfico de escravos sero proi-bidos em todas as suas formas.

    Artigo 5 Ningum ser submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

    Artigo 6 Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

    Artigo 7 Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a igual proteo da lei. Todos tm direito a igual proteo contra qualquer discrimi-nao que viole a presente Declarao e contra qual-quer incitamento a tal discriminao.

    Artigo 8 Toda pessoa tem direito a receber dos tribu-nais nacionais competentes remdio efetivo para os

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    atos que violem os direitos fundamentais que lhe se-jam reconhecidos pela constituio ou pela lei.

    Artigo 9 Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

    Artigo 10 Toda pessoa tem direito, em plena igual-dade, a uma audincia justa e pblica por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusao criminal contra ele.

    Artigo 11

    Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente at que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento pblico no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessrias sua defesa.

    Ningum poder ser culpado por qualquer ao ou omisso que, no momento, no constituam delito perante o direito nacional ou internacional. Tam-pouco ser imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prtica, era aplicvel ao ato delituoso.

    Artigo 12 Ningum ser sujeito a interferncias na sua vida privada, na sua famlia, no seu lar ou na sua correspondncia, nem a ataques sua honra e reputa-o. Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais interferncias ou ataques.

    Artigo 13

    Toda pessoa tem direito liberdade de loco-moo e residncia dentro das fronteiras de cada Estado.

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    Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer pas, inclusive o prprio, e a este regressar.

    Artigo 14

    Toda pessoa, vtima de perseguio, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros pases.

    Este direito no pode ser invocado em caso de perseguio legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrrios aos pro-psitos e princpios das Naes Unidas.

    Artigo 15

    Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

    Ningum ser arbitrariamente privado de sua na-cionalidade, nem do direito de mudar de naciona-lidade.

    Artigo 16 Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrio de raa, nacionalidade ou religio, tm o direito de contrair matrimnio e fundar uma fa-mlia. Gozam de iguais direitos em relao ao casa-mento, sua durao e sua dissoluo.

    O casamento no ser vlido seno como o livre e pleno consentimento dos nubentes.

    A famlia o ncleo natural e fundamental da so-ciedade e tem direito proteo da sociedade e do Estado.

    Artigo 17

    Toda pessoa tem direito propriedade, s ou em sociedade com outros.

    Ningum ser arbitrariamente privado de sua pro-priedade.

    Artigo 18 Toda pessoa tem direito liberdade

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    de pensamento, conscincia e religio; este di-reito inclui a liberdade de mudar de religio ou crena e a liberdade de manifestar essa religio ou crena, pelo ensino, pela prtica, pelo culto e pela observncia, isolada ou coletivamente, em pblico ou em particular.

    Artigo 19 Toda pessoa tem direito liberdade de opinio e expresso; este direito inclui a liberda-de de, sem interferncia, ter opinies e de pro-curar, receber e transmitir informaes e idias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

    Artigo 20

    Toda pessoa tem direito liberdade de reunio e associao pacficas.

    Ningum pode ser obrigado a fazer parte de uma associao.

    Artigo 21

    Toda pessoa tem o direito de tomar parte no go-verno de seu pas, diretamente ou por intermdio de representantes livremente escolhidos.

    Toda pessoa tem igual direito de acesso ao servio pblico do seu pas.

    A vontade do povo ser a base da autoridade do governo; esta vontade ser expressa em eleies peridicas e legtimas, por sufrgio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegu-re a liberdade de voto.

    Artigo 22 Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito segurana social e realizao, pelo es-

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    foro nacional, pela cooperao internacional de acor-do com a organizao e recursos de cada Estado, dos direitos econmicos, sociais e culturais indispensveis sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua per-sonalidade.

    Artigo 23

    Toda pessoa tem direito ao trabalho, livre esco-lha de emprego, a condies justas e favorveis de trabalho e proteo contra o desemprego.

    Toda pessoa, sem qualquer distino, tem direito a igual remunerao por igual trabalho.

    Toda pessoa que trabalha tem direito a uma re-munerao justa e satisfatria, que lhe assegure, assim como sua famlia, uma existncia compa-tvel com a dignidade humana, e a que se acres-centaro, se necessrio, outros meios de proteo social.

    Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteo de seus interesses.

    Artigo 24 Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitao razovel das horas de trabalho e a frias peridicas remuneradas.

    Artigo 25

    Toda pessoa tem direito a um padro de vida capaz de assegurar a si e a sua famlia sade e bem-estar, inclusive alimentao, vesturio, ha-bitao, cuidados mdicos e os servios sociais indispensveis, e direito segurana em caso de desemprego, doena, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistncia em circunstncias fora de seu controle.

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    A maternidade e a infncia tem direito a cuidados e assistncia especiais. Todas as crianas, nas-cidas dentro ou fora de matrimnio, gozaro da mesmo proteo social.

    Artigo 26

    Toda pessoa tem direito instruo. A instruo ser gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instruo elementar ser obrigra-tria. A instruo tcnico-profissional ser acess-vel a todos, bem como a instruo superior, esta baseada no mrito.

    A instruo ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instruo pro-mover a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as naes e grupos raciais ou religio-sos, e coadjuvar as atividades das Naes Unidas em prol da manuteno da paz.

    Os pais tm prioridade de direito na escolha do gnero de instruo que ser ministrada a seus filhos.

    Artigo 27

    Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo cientfico e de seus benefcios.

    Toda pessoa tem direito proteo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer pro-duo cientfica, literria ou artstica da qual seja autor.

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    Artigo 28 Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabe-lecidos na presente Declarao possam ser plenamente realizados.

    Artigo 29

    Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade possvel.

    No exerccio de seus direitos e liberdades, toda pessoa estar sujeita apenas s limitaes deter-minadas por lei, exclusivamente com o fim de as-segurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer s justas exigncias da moral, da ordem pblica e do bem-estar de uma sociedade democrtica.

    Esses direitos e liberdades no podem, em hipte-se alguma, ser exercidos contrariamente aos pro-psitos e princpios das Naes Unidas.

    Artigo 30 Nenhuma disposio da presente Declara-o pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exer-cer qualquer atividade ou praticar qualquer ato desti-nado destruio de quaisquer dos direitos e liberda-des aqui estabelecidos.

    Paris, 10 de dezembro de 1948.

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    Notas bibliogrficas

    BARRETO, Carlos Roberto. Lei de Imprensa interpretada pelos tribunais, Ed. Juarez de Oliveira, 2002, So Paulo.

    BULOS, Uadi Lammego, Curso de Direito Constitucional, Ed. Sa-raiva, 2007, So Paulo.

    MIRANDA, Darcy Arruda. Comentrios Lei de Imprensa, Ed. RT, vol. I e II, 1994, So Paulo.

    MORAES, Alexandre. Constituio do Brasil interpretada, Ed. Atlas, 2003, So Paulo.

    NOBRE, Freitas. Os princpios constitucionais e a nova legisla-o, Ed. Summus Editorial, 1988, So Paulo.

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