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O tempo e o espaço do projeto Iluminista In: HARVEY, D. A condição pós- moderna. Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1983 [1989].

O Tempo e o Espaco Do Projeto Iluminista

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O tempo e o espao do projeto Iluminista

O tempo e o espao do projeto IluministaIn: HARVEY, D. A condio ps-moderna. Uma pesquisa sobre as origens da mudana cultural. So Paulo: Loyola, 1983 [1989].

O tempo e o espao do projeto Iluminista (p. 219-235)A compresso tempo-espao como questo central e suas evidncias contemporneas:A acelerao do tempo e da vida social...O encurtamento das distncias e aldeia globalA espaonave Terra e a integrao do mundo interdependncias acentuadas

Transies...Longa transio histrica referenciada na Europa para compreender prticas e concepes modernas de tempo/espao (T/E)As prticas e as representaes espaciais dos mundos relativamente isolados do feudalismo fronteiras territoriais e espao exterior desconhecidoO impacto da monetizao e das trocas para a ruptura da estabilidade da concepo feudal de E/T

Virada renascentistaReconstituio renascentista do E/T com as descobertas e navegaes: ampliao dos conhecimentos geogrficos e das possibilidades de explorao do mundoA perspectiva e a geometrizao das representaes do espao: artes, arquitetura e cartografia (a adoo de um ponto de vista infinito subverte a apreenso sensvel) representao do globo terrestre como espao finito e delimitado;Proposta subversiva do E/T infinitos de Giordano Bruno ameaava cosmologia da Igreja baseada na representao do mundo centrado em Roma (lugar = autoridade);

Virada renascentistaA perspectiva e os princpios cartesianos da racionalidade aplicao cartografia objetividade, praticidade e funcionalidade para:

Navegao e comrcioDemarcao de terras, cadastros fundirios e direitos de propriedadeDemarcao precisa de fronteiras polticas entre EstadosOrganizao sistemas de transporte

Os portulanos e a grade ptolemaica: diferentes perspectivas de representao.Contribuio de Ptolomeu para nova cartografia: viso do globo como um todo apreensvel a partir da aplicao de princpios matemticos e da geometria representao do globo numa superfcie plana prioridade viso de conjunto (do todo) em sua justa proporo como tarefa da geografia (p. 224)

Fonte: http://pelasbarbasdeneptuno.blogspot.com.br/2011_05_01_archive.htmlIlustrao p. 229

T/E infinitosDesdobramentos da adoo da perspectiva e das noes de T/E infinitos na cincia, na cartografia, na arquitetura, no urbanismo e no paisagismo e na literatura se traduzem, em sntese, numa viso do globo terrestre como espao apreensvel e que estava ao alcance do engenho humano para fins de ocupao, conquista e explorao; uma viso do mundo como palco da ao humana (p. 225);Experincia do E/T como veculos de codificao e reproduo de relaes sociais: associao dos mapas ingleses renascentista com individualismo burgus, nacionalismo e democracia parlamentar contra privilgios dinsticos (ver ilustrao, p. 226).

A dinastia versus o mapa enquanto representao do territrio, da nao, do espao de exerccio dos direitos do indivduo (proprietrio) na Inglaterra

O mapa como instrumento de racionalizao (do espao) para fins instrumentais: comrcio e administrao do Estado centralizado absolutista (s. XVII-XVIII)Revoluo renascentista nos conceitos E/T projeto iluminista pensamento modernista domnio da N e emancipao humana (contra o mito e a religio) Sendo o espao um fato da natureza, a conquista e a organizao do espao se tornou parte integrante do projeto modernista visando a afirmao do indivduo livre e consciente... (p. 227)Planejamento das cidades, sistemas de transportes e comunicaes, cincia aplicada institucionalizao de sistemas racionais de regulao e controle social... Na viso iluminista de como o mundo deveria ser organizado, mapas e cronmetros precisos constituram instrumentos essenciais (p. 227)Progressiva aplicao da matemtica e de tcnicas racionais cartografia como instrumento de localizao, descrio e organizao dos fatos, recursos e populao do planeta num nico sistema ou estrutura espacial. Isso possibilitou:

Viso totalizante do globoPercepo e comparao sistemtica da diversidade de povos e lugaresFortalecimento de sentido de identidade territorialAfirmao de viso etnocntrica e justificativa da dominao do outro pela civilizaoAplicaes e sentidos de T derivados do desenvolvimento tcnico do cronmetro como instrumento de medio do tempo linear (flecha do tempo) formando uma escala nica de representao dos fenmenos onde tudo se encaixa, no passado ou no futuro pensamento evolucionista impregnado desse modo de registro do T (p. 228-9);

Viso mecanicista do T (universal e homogneo), desenvolvida por Newton, foi apropriada/reprocessada como escala de referncia para concepes aplicadas economia poltica clssica (Adam Smith)

Continuidade e rupturas das concepes modernista de T/E (p.229-31)Crtica do mapa como artefato totalizante (De Certeau, 1984) que tende a homogeneizar e produzir uma sistemtica abstrao que empobrece a diversidade das prticas sociais e da experincia histrica contida nos lugares afirmao do espao contnuo e homogneo da geometria em detrimento do espao descontinuo e concreto da experincia humana porque impregnado de modos distintos de concepo e valorizao, bem como de conflitos na definio das qualidades dos lugares (p. 230);Idealizao iluminista do espao da liberdade e sua converso no contrrio, o espao da vigilncia e do controle (Foucault), atravs da adoo de sistemas totalizadores e homogeneizantes de ordenamento do T e do E da vida social (relgios de ponto, fbricas e linhas de montagem, calendrio nico, padronizao de pesos e medidas, imperativo da sincronizao dos sistemas de transporte e comunicao, fronteiras polticas, barreiras alfandegrias e restries migrao etc.);O espao como coisa usvel, malevel, controlvel:representaes euclidianas do espao objetivo aplicadas configurao fsica da paisagem via engenharia, arquitetura, ou;atribuio de usos funcionais e esquemas de controle via planejamento urbano, ordenamento territorial, cobrana de taxas e impostos; propriedade privada da terra e mercantilizao do espaoTotalizao/homogeneizao do espao e fragmentao de parcelas (do espao) livremente alienveis com propriedade privada alguns precedentes histricos movimentos de demarcao de terras na Inglaterra (s. XVIII-XIX);Lefebvre (1974) e a tenso entre apropriao do E para fins individuais e coletivos e domnio do E por meio da propriedade privada, do Estado e de outras formas de poder de classeCinco Dilemas (a partir da proposio de Lefebvre):

Controle e organizao do E por meio da pulverizao da propriedade privada; Espao como continente do poder social (Foucault) implica que sua reorganizao sempre uma reorganizao da estrutura mediante a qual o poder social expresso (p. 231) (debate entre doutrinas da economia poltica mercantilismo x liberalismo sobre os distintos princpios de organizao do espao de acordo com a prioridade ao Estado ou propriedade privada)A produo do espao como fenmeno econmico e poltico investimentos e intervenes no ordenamento espacial dos sistemas de transportes e comunicaes afetam substancialmente a distribuio (desigual) da riqueza e do poder. Exemplos da diviso racional do territrio francs em departamentos e a poltica norte-americana de distribuio de terras, segundo uma ideologia de democratizao liberal da propriedade privada (tese de Thomas Jefferson).Poltica do Espao no pode ser independente de relaes sociais (e vice-versa) Poltica de norte-americana de distribuio de terras abriu caminho para avano de relaes capitalistas, sem entraves de tradies fundirias como as da Europa.Antagonismo entre a homogeneizao do espao (E absoluto) e a afirmao do lugar (sede do Ser = diferenciao; E relativo). Organizao do espao racionalizao, homogeneizao transposio de barreiras e proibies para democratizao do direito de ir e vir... Projeto democrtico revolucionrio francs foi subvertido pelo poder do dinheiro e mercantilizao do espao...Conquista do E pressupe produo do E espaos funcionais especficos pressupe sistemas legais de legitimao de direitos de acesso e ocupao, formam um quadro fixo no qual a dinmica de um processo social deve desenrolar-se (p. 234) contradio entre a fixidez da ordem espacial (cristalizada na paisagem) e o impulso da destruio criativa da acumulao de capital [que demanda a renovao peridica das estruturas para reposio das condies de acumulao futura];

Em outras palavras, a acelerao do tempo de giro do capital exige a produo de um espao especfico, fixo e imvel (com investimentos de longo prazo, de retorno lento) gera um nexo de contradies que define um dos aspectos centrais da geografia histrica do capitalismo;

A compresso de tempo-espao um sinal da intensidade de foras que agem no nvel desse nexo de contradies, sendo bem possvel que tanto as crises de superacumulao como as das formas culturais e polticas tenham estreitos vnculos com essas foras (Harvey, 1993, p. 234)O Iluminismo e a ordenao racional do T e do E como requisito da construo de sociedade liberal e progressista (liberdade individual e bem estar), o que dependia da disseminao do uso dos relgios e do conhecimento cartogrfico, como tambm da plena consolidao dos princpios poltico-filosficos do indivduos como fonte e continente ltimos do poder social, embora assimilado no interior da nao-Estado como um sistema coletivo de autoridade (p. 235)

As condies econmicas do Iluminismo, a competio entre estados e outras unidades econmicas implicaram a necessidade de racionalizao e coordenao do espao e do tempo da atividade econmica no contexto histrico do mercantilismo (s. XVII-XVIII) ou da transio para os mecanismos de acumulao de capital num sistema industrial emergente (s. XIX).

ComentriosA exposio do autor, na linha argumentativa dos captulos anteriores, ressalta a necessidade de uma sensibilidade histrica aguada e de uma viso integrada das mudanas culturais, filosficas e cientficas, econmicas e polticas, conjuminadas no amplo movimento de constituio da modernidade;As mudanas nas concepes e nas prticas sociais relacionadas experincia do espao e do tempo ressaltam a inseparabilidade destas duas dimenses fundamentais da existncia e, concomitantemente, o sentido histrico de convergncia dos processos em curso para o estabelecimento de novos padres, mais complexos e conflituosos, de significado, apropriao e uso de T/E no mundo contemporneo, em grande medida fundamentados na progressiva afirmao dos princpios renascentistas e iluministas de racionalizao e utilitarismo;Apesar de primar por uma interpretao multidimensional das mudanas relatadas, o autor afirma categoricamente que, por diversos e, talvez, inesperados caminhos, o legado do projeto iluminista acabou convergindo para assentar as bases de um novo modo de produo e de uma nova estrutura de classes, para os quais fora imprescindvel o desenvolvimento dessas novas concepes de E/T, viabilizadas, por sua vez, pelo progresso cientfico e tcnico cada vez mais voltado para o aumento da produtividade e acelerao do tempo de giro do capital, associados igualmente s novas formas de ordenamento e controle no mbito social e poltico.Em sntese, essas seriam os fundamentos da constituio da espacialidade contempornea. AnexosParabolicamarGilberto GilAntes mundo era pequeno, porque Terra era grande,Hoje mundo muito grande, porque Terra pequena,Do tamanho da antena parabolicamar

, volta do mundo, camar..., mundo d volta camar...Antes longe era distante,Perto s quando dava,Quando muito ali defronte,E o horizonte acabavaHoje l trs dos montes dende casa, camar..., volta do mundo, camar..., mundo d volta camar...De jangada leva uma eternidadeDe saveiro leva uma encarnaoPela onda luminosaLeva o tempo de um raioTempo que levava RosaPra aprumar o balaioQuando sentia que o balaio ia escorregar, volta do mundo, camar..., mundo d volta camar...

Esse tempo nunca passaNo de ontem nem de hojeMora no som da cabaaNo t preso nem fogeNo estante que tange o berimbau, volta do mundo, camar..., mundo d volta camar...De jangada leva uma eternidadeDe saveiro leva uma encarnaoDe avio o tempo de uma saudadeEsse tempo no tem rdeasVem nas asas do ventoO momento da tragdiaChico, Ferreira e BentoS souberam na hora do destino apresentar

Mapa Mental do Iluminismo, disponvel em: http://cadorim.wordpress.com/2009/08/22/iluminismo-mapa-mental/ Acesso em dez/2012