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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O TERCEIRO NO CONTRATO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NO AMBITO PROCESSUAL JEISON DOS SANTOS Itajaí, Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O TERCEIRO NO CONTRATO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NO

AMBITO PROCESSUAL

JEISON DOS SANTOS

Itajaí, Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O TERCEIRO NO CONTRATO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NO

AMBITO PROCESSUAL

JEISON DOS SANTOS

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. VANESSA CARLA BUENO

Itajaí, Novembro de 2008

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AGRADECIMENTO

A orientadora MSc. Vanessa Carla Bueno pela ajuda na elaboração da presente Monografia.

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DEDICATÓRIA

À Deus, por tudo;

À minha família, pelo apoio sem precedentes;

À minha namorada pela compreensão durante este período de dedicação exclusiva.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, Novembro de 2008

Jeison Dos Santos Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Jeison Dos Santos, sob o título O

Terceiro no Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil e suas conseqüências

no âmbito processual, foi submetida em novembro de 2008 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: MSC. Vanessa Carla Bueno (Presidente e

Orientadora), MSc. Arno Melo (Examinador) aprovada com a nota ______.

Itajaí, Novembro de 2008

Professor a MSc. Vanessa Carla Bueno Orientador e Presidente da Banca

Prof. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ac. Acórdão

a. C. Antes de Cristo

Ac. Un. Acórdão Unânime

ADCT Ato das Disposições Transitórias

Ampl. Ampliada

Art. Artigo

Atual. Atualizada

Cam. Câmara

Cap. Capítulo

CEJURPS Centro de Ciências Sociais e Jurídicas

CC Código Civil

CCB Comentário ao Código Civil Brasileiro

CDC Código de Defesa do Consumidor

CEE Comunidade Européia

CF Constituição Federal

CPC Código Penal Civil

Des. Desembargador

D.J.U. Diário de Justiça da União

Ed. Edição

FENASEG Fundação Escola Nacional de Seguros

IRB Instituto de Resseguros do Brasil

Min. Ministro

nº, n. Número

NCC Novo Código Civil

p. Página

Rev. Revisada

Rel. Relator

RESP Recurso Especial

RJ Rio de Janeiro

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RS Rio Grande do Sul

R.O. Recurso Ordinário

RT Revista dos Tribunais

SESEP Superintendência de Seguros Privados

STJ Supremo Tribunal de Justiça

Tir. Tiragem

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

T Turma

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Ver. Versão, verificada

Vol. Volume

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ROL DE CATEGORIAS

Rol das categorias1 que o autor considera estratégicas à

compreensão deste trabalho, com seus respectivos conceitos2 operacionais:

Contrato de Seguros

O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se

obriga para com outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a

garantir-lhe interesse legitimo relativo a pessoa ou a coisa e a indeniza-la de

prejuízo decorrente de riscos futuros, previstos no contrato (CC, art. 757). 3

Decadência

É de decadência o prazo estabelecido pela lei, ou pela vontade unilateral ou

bilateral, quando prefixado no exercício do direito pelo seu titular. E é de

prescrição, quando fixado, não para o exercício do direito, mas para o exercício

da ação que o protege. Quando, porém, o direito deve ser por meio de ação,

originando-se ambos do mesmo fato, de modo que o exercício do direito, o prazo

estabelecido para a ação deve ser tido como prefixado ao exercício do direito,

sendo, portanto, de decadência, embora aparentemente se afigure de prescrição. 4

1 "Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia".

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 6. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40.

2 “Quando nós estabelecemos ou propomos uma definição para uma palavra ou expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expomos, estamos fixando um Conceito Operacional”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 108.

3 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade civil. 7º vol. 19ª ed. De acordo com Novo Código Civil (Lei nº 10.403, de 10/01/2002) e o Projeto de Lei nº 6.960/2002. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 380. 4 LEAL, Antônio Luís da Câmara. Da prescrição e da decadência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959. p. 133/134.

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Prêmio

É o preço do risco que o segurador toma a seu cargo: prêmio de seguro. Pode ser

chamado também de ” A contraprestação pecuniária”. 5

Prescrição

É o modo pelo qual um direito se extingue em virtude da inércia, durante certo

lapso de tempo, do seu titular, que, em conseqüência, fica sem ação para

assegurá-lo. 6

Risco

É a potencialidade de ocorrência de evento futuro e incerto que enseja a

contratação do seguro. 7

Segurado

É o que tem direito interesse na conservação da coisa ou da pessoa. 8

Segurador

É o que segura. O que recebe o prêmio e se responsabiliza pelo pagamento do

risco num contrato de seguro. 9

Seguro de Responsabilidade Civil

É o contrato em virtude do qual, mediante o prêmio ou prêmios estipulados,

o segurador garante ao segurado o pagamento da indenização que porventura lhe

seja imposta com base em fato que acarrete sua obrigação de reparar dano. 10

5 GOMES, Luiz Souza. Dicionário econômico, comercial e financeiro. 5. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Tupã, 1968. p. 278. 6 GOMES, Orlando. Introdução do Direito Civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 496. 7 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis, 2ª ed., São Paulo: Atlas, 1981,p. 592. 8 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações: comentários didáticos. São Paulo: Atlas, 1981. p. 179. 9 GOMES, Luiz Souza. Dicionário econômico, comercial e financeiro.p. 281.

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SUMÁRIO

RESUMO .......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ........................................ ............................................ 04

CONTRATO DE SEGURO ............................................................... 04 1.1 SURGIMENTO ................................................................................................ 04 1.2 CONCEITO ..................................................................................................... 08 1.3 ELEMENTOS .................................................................................................. 13 1.3.1 As partes do Contrato ...................... ......................................................... 13 1.3.2 Objeto do Contrato........................... .......................................................... 14 1.3.3 Contraprestação Pecuniária ................. .................................................... 15 1.4 CONTRATOS DE SEGURO NO BRASIL ................ ..................................... 16 1.5 DISCIPLINA LEGAL .............................. ......................................................... 20 1.6 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO SEGURADO ............. ................................. 21 1.7 DIREITOS E DEVERES DO SEGURADOR ................................................... 22 1.8 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DOS CONTRATOS DE SEGURO ............ 23 1.9 DISTINÇÃO ENTRE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO ....... ........................... 28

CAPÍTULO 2 ........................................ ............................................ 30

SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL .................. ................... 30 2.1 CONCEITO ..................................................................................................... 30 2.2 EXISTÊNCIA DE DOLO E OBRIGAÇÃO SECURITÁRIA ... ......................... 36 2.3 ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO .............. ................................... 38 2.4 A PRESCRIÇÃO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVI L ................ 40

10 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 6ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1979, v. 2. p. 552.

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CAPÍTULO 3 ........................................ ............................................ 43

O TERCEIRO NO CONTRATO DE SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................ ............................... 43 3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................................. 43 3.2 DA AÇÃO DIRETA EM FACE DA SEGURADORA .......... ............................. 44 3.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDÊNCIAL................... ...................................... 63 3.4 DA DIVERGÊNCIA DE VOTOS NO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ... 65 3.5 CONSEQÜÊNCIAS NA ESFERA PROCESSUAL – DA PRESCRI ÇÃO ....... 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................ 69

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ..................... 73

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RESUMO

A presente monografia trata do Terceiro no Contrato de

Seguro de Responsabilidade Civil e suas conseqüências na esfera Processual. O

Contrato de Seguro surgiu por volta do ano de 1293 através do Rei Diniz de

Portugal. Era, a princípio, um seguro voltado a área marítima. Com o passar dos

anos foi evoluindo e acompanhando o desenvolvimento mundial. Assim, o seguro

nada mais é que uma forma da pessoa resguardar seu bem, pessoal ou material.

É aquele em que uma das partes paga um prêmio a outra e esta, por sua vez,

paga a primeira uma indenização. Depende do acontecimento de fatos, ou de

riscos previstos no contrato. Quando um dano acontece a terceiro o seguro

garante a reparação dos danos causados, de acordo com a apólice de seguros.

Assim é o Seguro de Responsabilidade Civil que tem características de um

contrato aleatório e condicional sendo o seu objeto uma responsabilidade civil.

Não é um contrato celebrado em favor de terceiro; aquele que paga o prêmio e

recebe o seguro repassa ao terceiro. Com isso, o terceiro não tem contato direito

com o segurador. Apesar de se prever a existência de um terceiro, as partes do

contrato de seguro são apenas o segurado e o segurador.

Assim, para o completo entendimento do tema proposto

nesta monografia, trouxe-se à tona vários conceitos e concepções do que seja o

contrato de seguro de responsabilidade civil, chegando a um ponto razoável e

comum que servirá de base para a explanação do tema do presente Trabalho de

Conclusão de Curso.

Para a realização da pesquisa utilizou-se o método indutivo.

Palavras chave: Contratos de Seguro. Seguro de

Responsabilidade Civil. Terceiro.

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto abordar sobre o

Terceiro no Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil e suas conseqüências

na esfera Processual.

Seus objetivos são: institucional - produzir uma Monografia

para obtenção do Título de Bacharel em Direito Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI; geral - estudar (pesquisar) sobre o Terceiro no Contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil e suas conseqüências na esfera Processual; e específicos

- Investigar sobre o Terceiro no Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil,

verificar o que acerca sobre Terceiro no Contrato de Seguro de Responsabilidade

Civil; analisar e pesquisar sobre Terceiro no Contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil.

A priori, o tema para a presente monografia é o de

aprofundar os conhecimentos sobre o Terceiro no Contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil e suas conseqüências na esfera Processual, visando um

aprendizado mais abrangente sobre o terceiro no Contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil e suas conseqüências na esfera Processual.

O terceiro no Contrato de Seguro, apesar de não fazer parte

dos elementos que o compõem, é parte importante quando se fala em Contrato

de Responsabilidade Civil.

O tema é atual e relevante, pois o terceiro faz parte do

sinistro em relação ao dano ocorrido e, por isso, tem que ter seus direitos

respeitados pelo segurado. .

Desta forma, cabe destacar os problemas para a pesquisa,

que são os seguintes:

a) No Contrato de Seguro há existência de dolo e obrigação

securitária?

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b) No Contrato de Seguro há estipulação em favor de

terceiro?

c) Qual a ação direta em face da seguradora?

Para as perguntas levantadas, apresentaram-se as

seguintes hipóteses:

a) O Seguro de Responsabilidade Civil somente terá

cobertura para eventos onde haja a comprovação de que o segurado e ou terceiro

portaram-se com certa culpa na produção do dano?

b) O segurador poder ser responsabilizado perante terceiros

em soma superior aquela que fora pactuado com o segurado?

c) O terceiro pode pedir indenização e/ou ressarcimento dos

danos direto na companhia seguradora, caso sentir-se prejudicado?

O trabalho está dividido em Três capítulos.

No primeiro capítulo faz-se uma assertiva geral do Contrato

de Seguro, seu surgimento no cenário mundial, conceito, elementos que o

compõem. Trata-se também dos Contratos de Seguro no Brasil. Faz-se uma

abordagem geral sobre o tema, a disciplina legal, os direitos e obrigações/deveres

do segurado e do segurador, a prescrição e decadência do Contrato de Seguro e

a distinção destes. O Contrato de Seguro surgiu com a finalidade de assegurar

que um bem estivesse salvo de possíveis danos de ordem natural ou não.

No segundo capítulo explana-se sobre o Contrato de

Responsabilidade Civil. Seu conceito, existência de dolo e obrigação Securitária,

bem como a estipulação em favor de terceiro e a prescrição do Seguro de

Responsabilidade Civil. O Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil o

segurado garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado à

terceiro.

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No capítulo terceiro explana-se sobre o Terceiro no contrato

de Seguro de Responsabilidade Civil, onde são vistas as disposições gerais sobre

o tema, a ação direta em face da seguradora, o entendimento jurisprudencial

sobre o assunto, juntamente com as divergências de votos no STJ e as

conseqüências na esfera processual – da prescrição.

O presente Relatório de Pesquisa tem por finalizar com as

Considerações Finais, nas quais são mostrados os pontos principais, seguidos da

estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o terceiro no

Contrato de Seguro.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação11 foi utilizado o Método Indutivo12, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano13, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente14, da Categoria15, do Conceito Operacional16 e da

Pesquisa Bibliográfica17.

11 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

12 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

13 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

14 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

15 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

16 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

17 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

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CAPÍTULO 1

CONTRATO DE SEGURO

1.1 SURGIMENTO

Muito embora os juristas tenham se empenhado na tarefa,

inicia Loureiro18, não se sabe ao certo qual o momento exato do surgimento do

seguro propriamente dito. As primeiras notícias que se tem de se proteger contra

riscos inerentes a atividade comercial surgiram na China Antiga, no período de

5.000 a 2.300 a.C. Esta civilização que utilizava o transporte fluvial, tinha o

costume de fazer a distribuição das mercadorias em várias embarcações, a fim de

minorar os prejuízos advindos de qualquer acidente.

E complementa Loureiro19

Na Crescente Fértil, em 3.000 a.C. os pastores caldeus já se coletivizavam de maneira a reporem cabeças de gado perdidas por algum deles. Na mesma região, mais especificamente na Mesopotâmia, as informações gravadas em tábuas de argila, em escrita cuneiforme, relatam que em 2.300 a.C. os mercadores babilônios já tinham suas formas de se proteger dos eventos que poderiam ocorrer às caravanas nas travessias dos desertos. Os mercadores uniam-se (através de uma convenção) nessas travessias de maneira a garantir o pagamento de camelos perdidos ao longo da viagem .

Contudo, é com o desenvolvimento do comércio marítimo

que as convenções, visando à proteção contra riscos futuros, vão se

aperfeiçoando, salienta Loureiro20. Assim

18 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Elaborado em 09.2002. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777&p=1. Acesso em set 2008. p. 01. 19 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Acesso em set 2008. p. 01. 20 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Acesso em set 2008. p. 01

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Em 1.600 a.C., os fenícios tinham convenções que garantiam a construção de novos barcos para os armadores em substituição aos que fossem perdidos. A construção seria paga pelos outros que participassem da viagem. Também se tem notícia de que na Fenícia foi criado um fundo de reserva formado de parte dos lucros de maneira a fazer frente a eventuais prejuízos de viagens futuras. Também se oneravam as mercadorias que chegavam a salvo a seu destino de forma a fazer face ao valor das que eram perdidas.

Nessa assertiva, observa-se que o seguro recebeu outras

contribuições para o seu desenvolvimento:

A talassocracia grega também foi responsável por avanços nas formas embrionárias de seguro. Data de 900 a.C., na ilha de Rodes, o surgimento da Lex Rhodia de Jactu de proteção contra os perigos do mar, chamadas de Leis de Rodes. Estas leis formavam o Código Navale Rhodorium que se espalhou entre várias outras potências marítimas e perdurou por vários séculos. Adotavam-se regras como a de que no caso de ser indispensável atirar mercadorias no mar para o bem de todos, o prejuízo resultante deveria ser reparado pela contribuição de todos os envolvidos na empreitada. Em 600 a.C., as Leis de Atenas criavam caixas de auxílio mútuo, corporativas ou religiosas, visando à prevenção de gastos inesperados, configurando assim associações de caráter mutualista. No entanto, o Mutualismo teve seus fundamentos de fato lançados por volta de 500 a.C., quando gregos e fenícios passam a agrupar diversas pessoas de maneira a juntos formarem uma reserva de recursos, de maneira que, no caso de infortúnios (naufrágios, ataques de piratas, incêndios), ninguém arcaria sozinho com as despesas21.

De acordo com Glitz22, porém, o contrato de seguro marítimo

somente estabeleceu plenamente seus contornos no século XV

[...] quando surgiram as Ordenanças: Barcelona (1435), Borgonha, (1458), Veneza (1468), Gênova (1498), Rouen (1556), de la Marine (1681 – promulgada por Luís XIV por iniciativa de

21 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Acesso em set 2008. p. 01 22 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil. In TEIXEIRA, Antônio Carlos (coord.). Em Debate: Responsabilidade Civil, Garantia. Rio de Janeiro: FUNENSEG, 2001, p.08.

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Colbert), Código Comercial Francês (1808) e Código Comercial Brasileiro (1850)23.

Ensina Loureiro24 que foi o rei D. Diniz de Portugal, em

1.293, que instituiu a primeira forma de seguro: voltada à atividade marítima. Diz

que:

[...] através de acordo entre mercadores, pagava-se certa quantia sobre as embarcações, ‘prêmio’, que era calculada de acordo com o porte da embarcação, bem como seu tráfego. O resultado da arrecadação servia para fazer face aos "sinistros" que ocasionassem a perda de mercadorias e navios.

Desta maneira, foi em Portugal onde o seguro obteve seu

mais desenvolvimento mais significativo por ser considerada uma “potência

marítima”.

Já o seguro contra incêndio surge em Londres, em 1660,

ensina Loureiro25:

Edward Lloyd abre um café, ponto de encontro de navegadores e de pessoas interessadas em negócios de seguros. Em 1.678, a partir deste café, surge a LLOYD’S UNDERWRITERS (tomadores de riscos), corporação que se tornou uma bolsa de seguros existente até hoje. Em 1.666, antes de converter-se em corporação, houve o grande incêndio de Londres, que poupou o, então ainda café, Lloyd’s, que logo em seguida passou a negociar também os primeiros seguros contra incêndios. Este fato marca o surgimento de um novo e vultoso filão para os seguros ao lado dos de comércio marítimo.

Na mesma linha de entendimento prossegue Glitz26:

O seguro contra incêndio surge na Inglaterra após o grande incêndio de Londres (1667) e o de vida, também na Inglaterra, em 1600. Já o de acidentes somente no século XIX. Com a criação da Colônia de Resseguros na Alemanha em 1.846,

23 O Código Comercial Brasileiro só regulava o seguro marítimo sobre a vida de pessoa livre (art. 686, II). 24 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de Seguro. Acesso em set 2008. p. 1 25 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de Seguro. Acesso em set 2008. p. 1 26 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil, p. 08.

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passa-se a poder segurar os mais variados interesses, como por exemplo, colheitas, o gado e acidentes do trabalho. No século XX o seguro se desenvolve, ampliando a sua função e abrangendo, entre outros, o seguro de vida, o de responsabilidade civil, etc.

Para outros, como Waldirio Bulgarelli e Arnoldo Wald,

porém, o contrato de seguro, na forma atualmente concebida, tem origens mais

recentes.

Na visão de Bulgarelli27:

De origem medieval, o seguro afirmou-se, na época moderna, tanto por causa das riquezas acumuladas como pela intensificação dos riscos a que estão sujeitas. Em contrapartida, as técnicas das companhias seguradoras foram apuradas a ponte de se poder dizer hoje, como alguns, que não há mais caráter aleatório, para elas, no contrato de seguro, dada a técnica do cálculo das probabilidades, com base na lei dos grandes números, e a mutualidade, que enseja a formação de bolo para ocorrer a indenização dos sinistros.

Já na explanação de Wald28:

Do mesmo modo que o mercado segurador, o contrato de seguro evoluiu muito rapidamente nos últimos anos. Concebido no passado, exclusivamente, como garantia dos riscos corridos pelas pessoas ou pelas coisas, passou a abranger numerosos outros campos, desde a responsabilidade civil até o seguro de crédito. De contrato comercial realizado eventualmente, ou até excepcionalmente, transformou-se em contrato polivalente, que encontramos nos vários outros ramos de direito (civil, administrativo). Enquanto no passado era facultativo, tornou-se, em determinados casos, obrigatório, como acontece em relação aos acidentes de trabalho e de automóvel. Ao mesmo tempo, virou um acessório necessário de determinados outros contratos, como por exemplo, o financiamento de imóveis a longo prazo. Surgiram, por outro lado, formas mais sofisticadas de contratos mistos, vinculando a determinadas obrigações a necessidade de contratação de seguro de vida ou de crédito, sendo a morte

27 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis, 2ª ed., São Paulo: Atlas, 1981, p. 591. 28 WALD, Arnoldo. Novos aspectos do contrato de seguro. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Malheiros, jan/mar., 1999, p. 55.

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considerada como causa para o pagamento da indenização, mas cobrindo esta o valor de determinado crédito feito ao ‘de cujus’, como ocorre no setor habitacional.

Nesse sentido, graças ao seu processo evolutivo, os

Contratos de Seguro são hoje importantes instrumentos ao alcance das pessoas,

empresas, entre outras, tendo seu papel desenhado na sociedade de forma clara

e ampla.

1.2 CONCEITO

O Contrato de Seguro possui, na visão dos doutrinadores,

conceitos distintos, mas que tem na sua essencialidade a mesma finalidade.

Na conceituação de Diniz29

O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legitimo relativo a pessoa ou a coisa e a indeniza-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previstos no contrato (CC, art. 757).

Na visão de Gomes30

O ‘contrato’ de seguro, tal como se pratica na atualidade, pertence ao campo do Direito Comercial, pois somente ‘empresas’ organizadas sob a forma de ‘sociedade anônima’ podem celebrá-lo na qualidade de ‘segurador’. Essa imposição legal decorre da própria função econômico-social do contrato. Para cobrir os inúmeros riscos que podem ser objeto de ‘seguro’, mister se faz uma organização econômica que, utilizando técnica especial, possa atender ao pagamento das indenizações prováveis com o produto da arrecadação das contribuições pagas por grande número de seguradores. A natural exigência de que o segurador seja uma sociedade por ações desloca o contrato do Direito Civil para o Direito Comercial, tornando-o um ‘contrato mercantil’.

29 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade civil. 7º vol. 19ª ed. De acordo com Novo Código Civil (Lei nº 10.403, de 10/01/2002) e o Projeto de Lei nº 6.960/2002. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 380. 30 GOMES, Orlando. Contratos. p. 410 .

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Luz31 define como um “contrato mercantil”, onde salienta que

“com exclusão dos seguros mútuos que permanecem como instituto do Direito

Civil, os demais seguros são mercantis em decorrência de exigência legal que o

segurador seja sociedade comercial, constituída por ações (§ 1º, art. 27 da Lei

4.595/64).”

Já Rodrigues32 defende um posicionamento de que “o

contrato de seguro é um contrato solene, em virtude da necessidade da forma

escrita prevista no Código Civil.”

O CC de 200233, então Código Civil vigente, trás no Título

VI, Capítulo XV o amparo jurídico necessário para o Contrato de Seguro:

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Já o Código Civil de 191634, no Título V, Capítulo XIV, art.

1.432, trazia a seguinte definição para o contrato de seguro:

Art. 1.432. Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um prêmio, a indenizá-la do prejuízo resultante de riscos

futuros, previstos no contrato.

Neste mesmo sentido, Levenhagen35 define o seguro como

um “contrato, por meio do qual uma pessoa assume para com outra a obrigação

de indenizá-la das perdas e danos resultantes de um acontecimento determinado,

futuro e incerto.”

31 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 238. 32 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, vol. 3. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 373-374 33 BRASIL. Novo Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 34 BRASIL, Código Civil. Lei n. 3.071, de 01 de janeiro de 1916. Regula os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações. 35 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações: comentários didáticos. p. 179.

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Miranda36 sustenta que é “o contrato pelo qual o segurador

se vincula, mediante pagamento de prêmio, a ressarcir o segurado, dentro do

limite que se convencionou, os danos produzidos por sinistro, ou a prestar capital

ou renda quando ocorra determinado fato, concernente a vida humana, ou ao

patrimônio”.

Tanto o CC de 1916 quanto o CC de 2002 apresentam os

mesmos elementos: partes e objetos. Contudo, a redação do novo Código utiliza

uma técnica mais apurada, evitando o emprego do verbo indenizar, que no

entendimento de Venosa37, é imprópria, pois envolve a idéia de inadimplemento

de obrigação e culpa, quando no contrato em questão, é a contraprestação

contratual.

Não obstante, na opinião de Glitz38, a doutrina também

elaborou a sua conceituação, criando divergências acerca de sua caracterização

ou possibilidade de um conceito único para os diversos tipos de seguros.

As definições apresentadas tanto pelo Código Civil de 1916,

quanto pelo de 2002, apresentam contornos genéricos do Contrato de Seguro.

Desta maneira, com o passar do tempo, a doutrina pátria foi incumbida de melhor

conceituar o contrato de seguro, dando ênfase aos aspectos da imensa

abrangência adaptados à realidade que o legislador considerou secundários.

Segundo Bulgarelli39, a conceituação feita pelo Código Civil

de 1916 é insatisfatória. “Criticas merecem tal conceituação, sobretudo de duas

ordens: uma em relação à falta de precisão sobre o objeto de seguro, e a outra

sobre o seu caráter inegavelmente indenizatório”.

Atualmente, com a nova redação dada pelo Código Civil de

2002, algumas destas divergências doutrinárias foram dirimidas.

36 MIRANDA, Francisco Pontes de. Tratado de direito privado. 2ª ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1958. Tomo XLV, p. 273. 37 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil Volume III, Contratos em Espécie. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.367. 38 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil. p. 11 39 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis, p. 592.

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Stoco40 define o Contrato de Seguro como

... uma garantia de recomposição de um dano ou perda futura e incerta. É uma convenção entre partes que permite, mediante pagamento de certa quantia (prêmio), a reparação futura de um dano apenas possível e hipotético, devidamente estipulado com antecedência na respectiva apólice.

E complementa afirmando que o seguro é

... a maneira mais eficaz de assegurar uma indenização que não resulte na ruína do agente causador do dano, minimizando o seu desembolso e, ao mesmo tempo, atendendo e satisfazendo a vítima, compondo o seu prejuízo, ainda que não tenha imediata condição econômica para fazê-lo.41

Destarte, Dias42 assim definiu:

Contrato de seguro é aquele em que uma das partes, o chamado segurador, obriga-se, mediante o pagamento de uma ou várias somas fixas ou prêmios, a indenizar a outra, chamada segurado, do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato (art. 1.432 do Código Civil [atual art. 757]).

Na lição de Monteiro43, trata-se o Contrato de Seguro de

“contrato bilateral, porque gera entre os contratantes recíprocas obrigações. É

também aleatório, porque o ganho ou a perda das partes está na dependência de

circunstâncias futuras e incertas, previstas no contrato e que constituem risco”.

“É oneroso, porque o intuito especulativo impera em ambos

os contratantes, visto como nenhum deles é movido pelo propósito de fazer

liberalidade”, asserva Levenhagem44.

40 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. – 6ª ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 671. 41 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil, p. 671. 42 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade civil. 6ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1979, v. 2, p. 552. 43 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 28ª ed. 5º v. – São Paulo: Saraiva, 1989, p. 333. 44 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 179.

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O atual direito dos contratos visa evitar o desequilíbrio de

forças entre as partes do contrato procurando, da melhor maneira possível,

manter a igualdade.

Nesse sentido, ensina Marques45:

Os contratos de seguro foram responsáveis por uma grande evolução jurisprudencial no sentido de conscientizar-se da necessidade de um direito dos contratos mais social, mais comprometido com a eqüidade e menos influenciado pelo dogma da autonomia da vontade. As linhas de interpretação asseguradas pela jurisprudência brasileira aos consumidores matéria de seguros são um bom exemplo da implementação de uma tutela especial para aquele contratante em posição mais vulnerável na relação contratual.

Comporta anotar os dizeres de Levenhagen46 sobre a

finalidade dos Contratos de Seguro:

Os seguros têm por finalidade cobrir o risco e, conforme a sua natureza, compreendem dois grupos: a) seguros dos ramos elementares que abrangem os seguros que têm por fim a cobertura dos riscos de fogo, transporte, acidentes e outros acontecimentos que podem causar danos a coisas ou pessoas; b) seguros de vida, que compreendem todos os que garantem a pessoa do segurado contra os riscos a que estão expostas sua existência, sua integridade física e sua saúde.

A priori, tenta-se desfazer este desequilíbrio entre os

contratantes com um direito dos contratos mais responsável e voltado para o bom

entendimento de todos.

45 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1.995. p. 133. 46 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 179.

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1.3 ELEMENTOS

De acordo com Beviláqua47 podem-se inferir como

elementos essenciais ao Contrato de Seguro, nos aspectos subjetivo e objetivo:

a) as partes: segurador e segurado; b) objeto do contrato: o risco; e, c) a

contraprestação pecuniária: o prêmio.

1.3.1 As partes do Contrato de Seguro

São essenciais para a celebração de um Contrato de Seguro

e correspondem ao segurado e segurador.

O Segurado “é o que tem direito interesse na conservação

da coisa ou da pessoa”, conceitua Levenhagen48.

Para Gomes49 “é o que se segurou. O que paga o prêmio ao

segurador num contrato de seguro”.

Já o Segurador recebe conceitos que o diferenciam do

Segurado.

O Segurador “obriga-se a assumir o pagamento da

indenização pactuada na ocorrência do risco”, diz Bevilaqua50.

“É aquele que suporta o risco mediante recebimento do

prêmio”, conceitua ainda Levenhagen51.

Ou ainda, “é o que segura. O que recebe o prêmio e se

responsabiliza pelo pagamento do risco num contrato de seguro”, como bem

define Gomes52.

47 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1947. v. 5.p. 192 48 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 179. 49 GOMES, Luiz Souza. Dicionário econômico, comercial e financeiro. p. 281. 50 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil. p. 192 51 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 179.

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Tem ainda o beneficiário que, apesar de não fazer parte do

pacto, da celebração do Contrato de Seguro, sempre aparecerá na condição de

usufrutuário da indenização.

Bevilaqua53 finaliza.

Citem-se, ao final, as figuras do corretor e do estipulante que, conquanto sejam terceiros em relação ao contrato, atuam como intervenientes em sua concretização. De fato, o primeiro exerce papel preponderante, mormente na fase pré-contratual, participando como mediador na aproximação entre segurado e segurador.

Nessa premissa vale dizer que o segurado e o segurador

são as “peças principais” do Contrato de Seguro, enquanto que o beneficiário é

como um “coadjuvante”: aquele que tem o direito à indenização do seguro.

1.3.2 Objeto do Contrato

Tem-se como objeto do Contrato do Seguro o risco. Contra o

risco que é feito o Contrato. É incerto, mas sem ele não pode haver Contrato de

Seguro.

Para Bugarelli54 Risco “é a pontencialidade de ocorrência de

evento futuro e incerto que enseja a contratação do seguro”.

Diz Bevilaqua55 que o Risco “trata-se do próprio objeto da

contratação. É essencial à existência do seguro, pois esse não poderá vir a ser

celebrado sem a presença daquele.”

Sobre o risco disciplina o CC56:

52 GOMES, Luiz Souza. Dicionário econômico, comercial e financeiro. p. 281. 53 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil. p. 192 54 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis, p. 592. 55 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil. p. 192 56 BRASIL. Novo código civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

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Art. 779. O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.

Alvim57 analisa o risco “como um acontecimento possível,

futuro e incerto ou de data incerta, que não depende da vontade das partes”.

Além do risco é certo arrematar que faz parte do objeto

também a indenização.

Leciona Bugarelli58:

Corresponde à prestação devida pelo segurador em decorrência da assunção da obrigação de transferir ao beneficiário certa soma pela ocorrência de fato incerto e futuro sobre pessoa ou coisa. Uma vez ocorrida a condição cabe ao segurado ou beneficiário o direito de exigi-la e a seguradora a obrigação de pagá-la.

Salienta-se que os riscos assumidos pelo segurador devem

estar expressos no Contrato de Seguro para que sejam conhecidos pelo

Segurado.

1.3.3 Contraprestação Pecuniária

A contraprestação pecuniária nada mais é que o prêmio.

Para Levenhagen59 “trata-se da obrigação pecuniária

assumida pelo segurado – e que deve ser cumprida de uma só vez, ou em

parcelas periódicas -, como compensação pelo risco assumido pelo segurador.”

Bugarelli60 esclarece que o Prêmio é chamado também de

custo ou ágio. E conceitua:

57 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.p. 215 58 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis, p. 593. 59 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 182.

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É a importância que o instituidor do seguro, ou seja, a parte contratante que não a seguradora, não essencialmente o beneficiário, se compromete a pagar em dinheiro ou in natura, como contra prestação do seguro a ser pago à seguradora, não sendo elemento de aperfeiçoamento ou formalização, mas de execução do contrato. Não corresponde ao que o segurador haverá de prestar, mas sim ao valor técnico da dívida, podendo ser único ou periódico e sujeito ao princípio da indivisibilidade.

Prêmio, na adução de Gomes61, “é o preço do risco que o

segurador toma a seu cargo: prêmio de seguro.” E complementa:

Os prêmios de seguro devem ser sempre calculados na base de ano ou de menor tempo, conforme a duração dos contratos, tendo em vista a natureza e as condições do objeto do seguro, segundo o que determinem as respectivas tarifas, não sendo permitido às sociedades estabelecer vantagens que importem dispensa de pagamento de prêmios a um limitado número de segurados em desacordo com as condições estabelecidas para os demais.

O Prêmio é pago ao segurador em troca de se transferir o

risco em que está exposto o segurado.

1.4 CONTRATOS DE SEGURO NO BRASIL

O surgimento da primeira companhia de seguros no Brasil

se deu em 24 de fevereiro de 1828, através do ato de D. João, como bem

descreve Loureiro62:

[...] o Príncipe regente D. João assinou o decreto que autorizava o funcionamento da primeira companhia de seguros do país, a Companhia de Seguros Boa Fé, na capital da Bahia, seguida ainda no mesmo ano e capitania, pela Companhia de Seguros Conceito Público.

60 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis. p. 593. 61 GOMES, Luiz Souza. Dicionário econômico, comercial e financeiro. p. 278. 62 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. p. 1

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Após as primeiras Companhias entrarem em operação,

surgiram novas formas de seguro.

No ano seguinte surgem seguros de cartas e maços de papéis para o caso de extravio. Após a promulgação, em 1.850, do Código Comercial Brasileiro, que regulou os seguros marítimos, surgem onze seguradoras nacionais atuando neste ramo. Na mesma época, começam a atuar no ramo de incêndios e de vida. No caso destas últimas, havia duas especializadas em atuar contra a mortalidade de escravos, que eram segurados como mercadorias ou bens63.

A partir de 1860, entraram no Brasil companhias de seguro

estrangeiras para competir com as nacionais.

No ano de 1.860, antes do início de autorizações para o funcionamento de companhias estrangeiras no país, o governo imperial, através de dois decretos começou a exercer certo controle no ramo de seguros, o que não destoa do resto do mundo

e mantém-se até hoje. Com a autorização, 54 empresas estrangeiras de seguros se instalaram no país (sendo a prevalência das inglesas as quais perfaziam o total de 28) e que foram importantes para o incentivo do pouco desenvolvido mercado de seguros nacional. Contudo, com o início da República, crescia a preocupação em aumentar o controle do mercado de seguros, assim como evitar a evasão de divisas do país para o exterior. Em 1.901, através do Regulamento Murtinho (homenagem ao Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho, do governo Campos Salles), cria-se o primeiro órgão fiscalizador da atividade de seguros, a Superintendência Geral de Seguros. O mercado de seguros desenvolve-se bastante nas primeiras décadas do século XX, o que é acompanhado pelo maior intervencionismo do Estado. Em 1.919 torna-se obrigatório o seguro de acidentes de trabalho em todas as empresas industriais. Já na década de 30, é fundada a Atlântica Companhia Nacional de Seguros, hoje a Bradesco Seguros, que viria a se tornar a maior companhia do setor na América Latina64.

63 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. p. 1 64 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. p. 1

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No ano de 1.939, é criado o Instituto de Resseguros do

Brasil (IRB)

que existe até hoje e foi grande responsável pelo desenvolvimento da atividade securitária no mercado nacional, que a partir de então passou por um período de nacionalização e expansão. Em 1.966, tem início a reforma do setor de seguros sendo criado o Sistema Nacional de Seguros Privados (Decreto-lei nº 73), composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), pelo IRB e pelas seguradoras e corretores65.

Notadamente, em conseqüência da evolução e das

transformações sociais, o Contrato de Seguro, juntamente com o instituto da

responsabilidade civil, sofreram inúmeras alterações ao longo dos anos.

Nessa linha, observa Glitz66 ao afirmar que:

Essas mudanças sociais influíram não só na nova concepção da responsabilidade civil, mas também na evolução do contrato de seguro. Assim, sempre acompanhando os ensinamentos de Arnoldo Wald, pode-se dizer que a evolução do contrato de seguro seguiu as seguintes tendências:

a) Manutenção do equilíbrio econômico-financeiro: a jurisprudência acena com a necessidade de manutenção das prestações dos contratantes. De um lado deve a indenização, por exemplo, ser corrigida monetariamente (o que não prejudicaria a aleatoriedade do contrato, já que esta é a ocorrência ou não do sinistro), de outro a indenização não pode servir como meio de enriquecimento para qualquer das partes, devendo ser fixada em certas bases;

b) Internacionalização do Mercado: a Constituição Federal de 1988 estabeleceu (art. 192 e 52 do ADCT) que somente seria possível o funcionamento das empresas seguradoras estrangeiras no Brasil ou de participação em sociedades nacionais desde que houvesse reciprocidade e interesse nacional (vinculado, portanto, a autorização do Presidente da República).

65 LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. p. 1 66 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil, p. 10.

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No processo de discussão da Carta Magna de 1988, explica

Cavaleiro Neto67, o mercado securitário brasileiro, em especial algumas empresas

do ramo conseguiram discretos avanços.

E complementa:

Discretos por terem atuado politicamente desorganizadas, inclusive divididas em alguns pontos essenciais, contudo conseguiram adquirir novos status. De acordo com o artigo 21, item VIII da Constituição Federal, o seguro deixava de ser apenas uma modalidade de contrato a mais e entrava no hall de investidores institucionais, integrando o sistema financeiro nacional, que aguarda ainda hoje a sua regulamentação, tal qual prevista no artigo 192 da nossa Lex Major. Em 1992, a Fenaseg (Fundação Escola Nacional de Seguros Privados) lança a Carta de Brasília, que vem a ser a primeira manifestação conjunta e consensual das empresas de seguro atuantes em solo verde amarelo, e que enfatizava a necessidade de ampliação da imagem pública do contrato de seguro, junto a uma maior desregulamentação do setor, como forma de ampliar ainda mais a gama de produtos e riscos seguráveis. Solicitava também a desestatização do Seguro de Acidentes de Trabalho, dentre outros.

Apenas dois meses depois da publicação da Carta de

Brasília, observa Cavaleiro Neto68

[...] num esforço conjunto do IRB, Susep e Secretaria de Política Econômica é lançado o Plano Diretor do Sistema de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar, que dentre as solicitações já antigas, trouxe uma novidade: a redução gradual do monopólio do IRB em relação ao resseguro, até sua extinção, o que veio a ocorrer em 1996, possibilitando que fossem injetados mais recursos no mercado segurador nacional, como forma de dar maior garantia aos riscos assumidos pelas empresas que atuam

67 CAVALEIRO NETO, Hermínio Mendes. A ilegalidade da negativa de atendimento do sinistro baseada no questionário de avaliação de riscos, no contrato de seguro de automóvel. Elaborado em 12/2003. Disponível em http/www.doutrinajusnavigandi.com.br/texto. Acesso em set/2008. p. 1 67 CAVALEIRO NETO, Hermínio Mendes. A ilegalidade da negativa de atendimento do sinistro baseada no questionário de avaliação de riscos, no contrato de seguro de automóvel. p. 1. 68 CAVALEIRO NETO, Hermínio Mendes. A ilegalidade da negativa de atendimento do sinistro baseada no questionário de avaliação de riscos, no contrato de seguro de automóvel. p. 1.

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no ramo, refletindo diretamente no ponto final do contrato, que é o segurado.

Um ano antes, em 1995, houve a promulgação da Emenda

Constitucional n.º 13, quando foi reconhecido o interesse social na participação do

capital estrangeiro no mercado nacional de seguros. Com a internacionalização

do mercado de seguros brasileiro, houve um aquecimento na competição entre as

seguradoras e uma revolução técnica significativa69.

1.5 DISCIPLINA LEGAL

O Contrato de Seguro no Brasil está disciplinado em vários

diplomas legais.

O CC de 191670 trouxe um Capítulo próprio que trata do

Seguro compreendendo os arts. 1432 a 1467.

De acordo com Souza71 seguiram outros diplomas que

tratavam do seguro no Brasil.

Em substituição ao Decreto n. 24.782, de 14.07.34, foi editado, no ano de 1966, o Decreto-lei n. 73, pelo qual se criou a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), órgão federal incumbido, desde então, da regulamentação técnica da matéria. Cite-se, ainda, seu respectivo Regulamento, aprovado pelo Decreto n. 60.459, de 13.03.67.

Além dos Decretos supracitados destacam-se: Decreto nº

22.456/33 (Sociedades de Capitalização), Decreto-Lei 1.186/39 (Instituto de

Resseguros do Brasil), Decreto nº 20.631/40 (Sistemas de Seguros Privados),

69 CAVALEIRO NETO, Hermínio Mendes. A ilegalidade da negativa de atendimento do sinistro baseada no questionário de avaliação de riscos, no contrato de seguro de automóvel. p. 1. 70 BRASIL, Código Civil. Lei n. 3.071, de 01 de janeiro de 1916. Regula os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações. 71 SOUZA, Will Duel Fonseca de. Brevíssimas considerações acerca do contrato de seguro facultativo no Brasil: aspectos de direito material, com ênfase quanto à sujeição do pacto às disposições do Código de Defesa do Consumidor. Divnópolis: Revista da FADOM, n. 13, p. 79-90, 1º semestre de 2003. p. 85.

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Decreto 3.908/41 (Sociedades Mútuas de Seguros), Decreto-lei 9.735/46

(Consolidação da Legislação de Seguros) Lei 2.168/54 (Seguro Agrário), Decreto-

lei 168/67, Decreto-lei 296/67, Decreto-lei 6.859/67, Decreto-lei 63.670/68,

Decreto-lei 826/69, Decreto-lei 65.268/69, Lei 5627/70 dentre outras72.

O CC de 2002 trás em seu Capítulo XV – do Seguro –

Seção 1 – Disposições Gerais – as diretrizes do Contrato de Seguro, que

compreendem os arts. 757 a 802.

1.6 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO SEGURADO

Diniz73 destaca de forma simplificada os direitos e

obrigações do segurado.

São direitos do Segurado:

• Receber o valor estipulado em caso de ocorrência do sinistro ou transcurso do prazo;

• Não ser aumentado o prêmio em virtude de aumento do risco (CC. 1453);

• Receber reembolso de despesas feitas a benefício da seguradora na diminuição dos riscos;

• Abandonar a coisa segurada;

• Utilizar-se do prazo de aceite e recusa-lo se assim entender.

São obrigações do segurado:

72 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil: direito das obrigações. p. 186. 73 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. v. 7. 19 ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. - São Paulo: Saraiva. 2005. p. 385.

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• Pagar o prêmio no prazo e modo convencionado;

• Responder pelos juros moratórios (art 1.450 do CC);

• Abster-se de aumentar os riscos;

• Comunicar o aumento de risco sob as penas do art 1455 do CC;

• Comunicar o sinistro em tempo ao segurador;

• Agir com boa fé, nas declarações.

O segurado deve ter conhecimento destes direitos e

obrigações para evitar assim que o Contrato de Seguro traga problemas futuros

ou más interpretações.

1.7 DIREITOS E DEVERES DO SEGURADOR

Levando em consideração os ensinamentos de Diniz74, São

direitos do segurador:

• Receber o prêmio ajustado;

• Eximir-se do pagamento diante da contratação de dolo do segurado, pluralidade de seguros vedada em lei, excesso de valor;

• Responder na medida do contrato e do dano;

• Subrogar-se no valor pago em relação ao causador;

• Reajustar o prêmio para adequá-lo ao risco (CC. 1438);

74 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p. 385.

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• Investigar as causas do sinistro.

São deveres do segurador:

• Para a quantia estipulada nos termos e prazos

contratados;

• Não interferir na vinculação das apólices pagando a

quem de direito

• Pulverizar o risco mediante co-seguro e resseguro;

• Cumprir as determinações referentes à reservas

técnicas e fundos especiais (Dec. Lei 73/66, art 84);

• Cumprir as obrigações provenientes de mora ou

desvalorização da moeda (Lei 5488/68);

• Restituir o prêmio em dobro nos seguros ciente da

ausência de risco (v. art 1446 do CC) .

Da mesma forma, o Segurador deve ter em mente seus

direitos e obrigações para com o Contrato de Seguro e o segurado.

1.8 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DOS CONTRATOS DE SEGURO

A prescrição acontece quando termina o Contrato de

Seguro. Nas palavras de Gomes75 “a prescrição é o modo pelo qual um direito se

extingue em virtude da inércia, durante certo lapso de tempo, do seu titular, que,

em conseqüência, fica sem ação para assegurá-lo”.

75 GOMES, Orlando. Introdução do Direito Civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 496.

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Já no entendimento de Nader76

Prescrição extintiva: é a perda do direito de ação em decorrência da inércia do seu titular, durante lapso temporal superior ao estabelecido em lei Ex: a perda de um direito real: o usucapião (prescrição aquisitiva, arts. 102, 1.238 a 1.244, NCC, e art. 191, parágrafo único, da CF).

Para Diniz77 “o que caracteriza a prescrição é que ela visa a

extinguir uma pretensão alegável em juízo por meio de uma ação, mas não o

direito propriamente dito”.

Desta forma, preconiza Nader78 que “com a prescrição, que

é resultada da falta de exercício de um direito durante determinado lapso

temporal, pode ocorrer tanto a perda de um direito real quanto a de um direito de

ação”.

Diz o CC 2002, Seção IV – Dos Prazos da Prescrição – arts.

205 e 206:

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206. Prescreve:

§ 1o Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

76 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil - Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 565 77 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 1º vol,18. ed., São Paulo: Saraiva, 2002. p. 336 78 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil - Parte Geral. p. 565.

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a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;

V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.

§ 3o Em três anos:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

V - a pretensão de reparação civil;

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VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

§ 5o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

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Já a decadência diz respeito ao prazo do Contrato.

Diz Leal79:

É de decadência o prazo estabelecido pela lei, ou pela vontade unilateral ou bilateral, quando prefixado no exercício do direito pelo seu titular. E é de prescrição, quando fixado, não para o exercício do direito, mas para o exercício da ação que o protege. Quando, porém, o direito deve ser por meio de ação, originando-se ambos do mesmo fato, de modo que o exercício do direito, o prazo estabelecido para a ação deve ser tido como prefixado ao exercício do direito, sendo, portanto, de decadência, embora aparentemente se afigure de prescrição.

No CC de 2002, o Capítulo II trata sobre a decadência da

seguinte maneira:

Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à

decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198,

inciso I.

Art. 209 . É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando

estabelecida por lei.

Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem

aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

Assim, a decadência é quando o prazo de vigência do

Contrato acaba, decai.

1.9 DISTINÇÃO ENTRE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

79 LEAL, Antônio Luís da Câmara. Da prescrição e da decadência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959. p. 133/134.

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A decadência e a prescrição, num primeiro instante, podem

parecer a mesma coisa, mas são distintas entre si.

De acordo com os ensinamentos de Diniz80, distingue-se

decadência de prescrição:

1) A decadência extingue o direito e indiretamente a ação; a prescrição extingue a ação e por via oblíqua o direito.

2) O prazo decadencial é estabelecido por lei ou por vontade unilateral ou bilateral; o prazo prescricional somente por lei.

3) A prescrição supõe uma ação cuja origem seria diversa da do direito; a decadência requer uma ação cuja origem é idêntica à do direito.

4) A decadência corre contra todos; a prescrição não corre contra aqueles que estiverem sob a égide das causas de interrupção ou suspensão previstas em lei.

5) A decadência decorrente de prazo legal pode ser julgada, de ofício, pelo juiz, independentemente de argüição do interessado; a prescrição das ações patrimoniais não pode ser, ex officio, decretada pelo magistrado.

6) A decadência resultante de prazo legal não pode ser renunciada; a prescrição, após sua consumação, pode sê-lo pelo prescribente.

Assim, a decadência atinge somente os direitos sem

prestação que tendem à modificar o estado jurídico existente; a prescrição afeta

somente as ações condenatórias.

No Capítulo 2 abordaremos o Seguro de Responsabilidade

Civil. Seu conceito, existência de dolo e obrigação securitária, estipulação em

favor de terceiro, a prescrição de seguro de responsabilidade civil.

80 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 17. ed., v. 1. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 271

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CAPÍTULO 2

SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 CONCEITO

O denominado Seguro de Responsabilidade Civil é uma

subespécie do seguro de danos, onde o segurador, mediante pagamento do

prêmio pelo segurado, garante a reparação de danos causados a terceiros,

limitando-se ao contido na apólice de seguros.

Para Dias81,

Seguro de Responsabilidade Civil é o contrato em virtude do qual, mediante o prêmio ou prêmios estipulados, o segurador garante ao segurado o pagamento da indenização que porventura lhe seja imposta com base em fato que acarrete sua obrigação de reparar dano.

Diniz82, por sua vez, assim conceitua o Seguro de

Responsabilidade Civil.

O contrato de seguro de responsabilidade civil é o contrato pelo qual se transfere, mediante prêmio estipulado, ao segurador as conseqüências de danos causados a terceiros pelos quais o segurado possa responder civilmente. O seguro de responsabilidade contratual ou delitual resulta do ressarcimento de uma dívida de indenizar dano a cargo de segurado.

Marensi83, utilizando-se das palavras de Camilo Viterbo,

define o Seguro da Responsabilidade Civil como sendo “aquela espécie de

seguro no qual o segurador se obriga a indenizar o segurado do dano patrimonial

81 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade civil. p. 552. 82 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. V. 7, Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 156. 83 MARENSI, Voltaire Giavarina. O seguro no direito brasileiro. 7ª ed. Porto Alegre: Síntese, 2003, p. 235, apud Camilo Viterbo.

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para que este sofra como conseqüência legal de uma responsabilidade civil, não

penal, em que haja incorrido.”

O instrumento do contrato de Responsabilidade Civil tem

características de um contrato condicional e aleatório e, essencialmente, de

contrato de garantia, mas distinto de outras convenções, seja no seu objeto, seja

no que pertine à contraprestação estipulada já que na realidade o objeto da

garantia deste contrato será invariavelmente uma responsabilidade, bem

definindo assim por Dias84 como sendo “[...] convenções que se garante a outra

parte contra um dano decorrente da responsabilidade civil”.

O seguro de responsabilidade civil transfere para a

seguradora a obrigação de pagar as perdas e danos decorrentes de ato lesivo de

segurado, observa Diniz85, liberando-o, assim, do risco de ser responsável pelo

ressarcimento dos prejuízos que causou, mantendo a integridade de seu

patrimônio.

A "falta de fôlego" da teoria da Responsabilidade Civil fica

explícita, na visão de Tzirulnik86:

[...] o seguro é pensado, em toda sua estruturação, como técnica apta a garantir indenização necessária e devida, ao passo que a responsabilidade civil só conseguirá "indenizar" à medida do patrimônio do responsabilizado, o que na maioria das vezes não permite seja alcançado o objetivo final. As execuções civis frustradas, em parte ou no todo, são infinitas vezes mais numerosas do que as que atingem a satisfação do crédito.

Então, além de condicional e aleatório, o contrato de Seguro

de Responsabilidade Civil é, de acordo com Dias87

84 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade civil. p. 552. 85 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Responsabilidade Civil. 7ºv. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.203. 86 TZIRULNIK, Ernesto. Em torno do interesse segurado e da responsabilidade civil; in Seguros: uma questão atual. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 365/366. 87 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 4a. ed., vol. II, Rio de Janeiro: Forense, 1960. p. 904.

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[...] essencialmente, um contrato de garantia, que se distingue,

porém de outras convenções e garantia, tanto no que respeita ao seu objeto, como em relação à contraprestação estipulada: o objeto da garantia é sempre uma responsabilidade, o que o diferencia de qualquer outra espécie de seguro, assim como das convenções em que se garante a outra parte contra um dano diverso do resultante da responsabilidade civil .

Poder-se-ia, ad argumentandum, suscitar por quais motivos

celebram-se o Contrato de Seguro, como esclarece Branco88:

O seguro de responsabilidade civil situa-se entre a classe dos seguros de dano, ou seja, os que têm por objeto garantir a pessoa contra perdas sofridas em seu patrimônio. Desta maneira, o que se objetiva no contrato não é o ato ilícito, mas o seu efeito, com a obrigação dele nascida. As apólices asseguram as reparações a que se submete o responsável. (...) Não está em causa o ato em si, mas seus efeitos sobre o patrimônio do responsável. O que se colima é o desembolso da indenização devida ao ofendido, que provenha de ação própria ou de alguém relacionado com o contraente.

Evidentemente que ao se falar em responsabilidade, já

estamos presumindo a existência do prejuízo, ou do dano propriamente dito.

Sobre a Responsabilidade Civil em si, Gandini89 faz um

breve histórico:

Nos primórdios da civilização humana, a responsabilidade civil fundava-se na vingança coletiva, que se caracterizava pela reação conjunta do grupo contra o agressor, pela ofensa a um de seus componentes. O instituto evoluiu para uma reação individual, ou seja, passou da vingança coletiva para a privada, em que os homens faziam justiça pelas próprias mãos, fundamentados na Lei de Talião, que é conhecida hoje pela expressão ‘olho por olho, dente por dente’. O poder público, neste caso, intervinha apenas para ditar como e quando a vítima poderia ter o direito de

88 BRANCO, Elcir Castello. Do seguro obrigatório de responsabilidade civil. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Jurídica e Universitária, 1971. p.37/38. 89 GANDINI. Agnaldo Lorenzetti. A Responsabilidade Civil do Estado por Conduta Omissiva, Jus Navigandi, Teresina, a.7, n. 106.

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retaliação, ensejando no lesante dano idêntico ao que foi produzido.

A conceituação do instituto Responsabilidade Civil está

sempre ligada à idéia de violação do direito de outrem. Neste sentido,

Gonçalves90 diz que “Responsabilidade Civil é, assim, um dever jurídico sucessivo

que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico

originário”.

Responsabilidade Civil nas lições de Silva91 “designa a

obrigação de reparar o dano ou de ressarcir o dano, quando injustamente

causado a outrem. Revela-se, assim, ou melhor, resulta da ofensa ou da violação

de direito, que redundam em dano ou prejuízo a outrem”.

Stoco92 complementa ainda que

O campo de abrangência do seguro de responsabilidade civil é dilagrado. Não se limita à reparação de danos decorrentes de acidentes com veículos automotores, mas serve, ainda, para cobrir os riscos inerentes a algumas atividades ou profissões, como a dos médicos, dentistas, engenheiros, construtores, exercentes de atividades perigosas ou insalubres e outras.

Dias93 afirma que a responsabilidade civil nasceu do

“interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico alterado pelo dano”.

Glitz94 acrescenta que: “Seu objeto, pois, não é o ato ilícito

culposo pelo qual responda o segurado, mas o reflexo patrimonial que

representará a indenização por este ato”.

Esta modalidade de seguro, não se confunde com o

chamado seguro de veículos contra furto, danos materiais ou incêndio, porém,

pode estar inserido neste contrato.

90 GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 07. 91 SILVA, Plácido e. Vocabulário Jurídico. 12ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 125. 92 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 672. 93 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil, p 42. 94 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Revista Cadernos de Seguro, O terceiro no contrato de seguro de responsabilidade civil: a açõa direta em face da seguradora, p. 04.

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Segundo Stoco95, a noção de responsabilidade pode ser

extraída da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a

alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por

seus atos danosos.

E complementa dizendo que “A responsabilização é meio e

modo de exteriorização da própria Justiça, e a responsabilidade é a tradução para

o sistema jurídico do dever moral de não prejudicar a outro, ou seja, o neminem

laedere” 96.

Da prática do ato ilícito decorre a responsabilidade do

agente, portanto, a responsabilidade decorre do resultado da ação pelo qual o

homem expressa o seu comportamento, em face desse dever ou obrigação.

O CC de 2002 apresenta a Responsabilidade Civil no Título

IX – Responsabilidade Civil do Livro I – Do Direito das Obrigações. Veja o art. 927

e parágrafo único:

Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano

a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único – Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.

Rodrigues97 enfatiza a afirmação segundo a qual o princípio

informador de toda a teoria da responsabilidade é aquele que impõe a quem

causa dano o dever de reparar.

No mesmo sentido, Lopes98 aponta que a responsabilidade

civil significa “o dever de reparar o prejuízo”.

95 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 118. 96 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 118. 97 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, v. 5, n.º 7 São Paulo: Saraiva, 2001. p. 68. 98 LOPES, Serpa. Curso de Direito Civil , v. 5, n. 144, p. 188.

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O Seguro de Responsabilidade Civil, somente terá cobertura

para eventos onde haja a comprovação de que o segurado e ou terceiro

portaram-se com certa culpa na produção do dano. Tal constatação de culpa é

que levará a imputabilidade do resultado nocivo ao agente apontado como

causador do mesmo, do que deriva o dever de recompor a situação.

Descreve o CC 2002, art, 787:

Art. 787 . No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro.

§ 1o Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador.

§ 2o É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

§ 3o Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.

§ 4o Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente.

Pode-se dizer que a Responsabilidade Civil traduz a

obrigação da pessoa física ou jurídica causadora ou responsável pelo dano, de

reparar o dano causado por conduta que viola um dever jurídico preexistente de

não lesionar, implícito ou expresso em lei.

Diz o art. 126, Decreto-lei nº 73/66 que "O corretor de

seguros responderá civilmente perante os segurados e as Sociedades

Seguradoras pelos prejuízos que causar, por omissão, imperícia ou negligência

no exercício da profissão".

Desta forma, conclui-se que o Seguro de Responsabilidade

Civil tem indubitavelmente o caráter ressarcitório, onde, o segurado, mediante

pagamento de um prêmio pré-definido, está garantindo o ressarcimento pelo

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segurador, em caso de perda patrimonial ocasionada por sua responsabilidade,

até os limites definidos em contrato próprio.

2.2 EXISTÊNCIA DE DOLO E OBRIGAÇÃO SECURITÁRIA

Necessariamente - como adiante veremos - a existência de

dolo por parte do segurado no evento danoso por ele causado influirá em muito

na possibilidade ou não do terceiro mover ação diretamente contra a seguradora,

onde o terceiro-vítima jamais poderá ingressar em juízo diretamente contra a

seguradora do causador do evento danoso, caso este tenha agido com dolo em

sua conduta.

Glitz99 ensina que:

Os sinistros provocados por dolo do segurado não são cobertos pelo seguro de responsabilidade civil. E isso se dá, principalmente, por dois fatores. O primeiro é de que o referido sinistro é tido como ofensivo a moral à ordem pública, e por isso não podem receber a proteção do sistema jurídico. Em segundo lugar, a conduta dolosa do segurado afasta um dos pressupostos do seguro, que é a incerteza, já que o ato doloso pressupõe a vontade dirigida de seu autor.

Para Dias100, “impõe-se, necessariamente, a abstração da

idéia da culpa, de forma que em matéria de seguro de responsabilidade civil nem

teria propósito recordar o art. 1.436 (atual 762)” e acrescenta que: “Temos,

porém, como certo que o seguro da responsabilidade civil não encontra

coordenação no art. 1.436 do Código Civil (atual 762)”.

No artigo 186 do Código Civil, encontra-se o que mais se

aproxima de uma referência conceitual acerca da culpa, descrevendo esta como a

ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, causar prejuízo a

outrem. Nisso, se percebe facilmente que o compromisso assumido pela

99 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Revista Cadernos de Seguro. p. 55. 100 DIAS, Aguiar. Da responsabilidade civil. p. 554.

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seguradora diante do segurado decorrerá tão unicamente de responsabilidade

civil na sua forma culposa.

Assim, se o contrato de Seguro de Responsabilidade Civil

traduz um contrato aleatório, ou seja, resguarda o beneficiário da ocorrência de

um evento futuro e, como tal, incerto e não querido por ambas as partes, o ato

ilícito que o ensejar não pode envolver o dolo do segurado contratante ou dos

beneficiários, cabendo apenas a culpa a ser admitida.

Sobre a questão assim se manifestou Stoco101, apud Munir

Karam:

O dolo é o conhecimento como possibilidade ou como certeza das conseqüências do ato ilícito; a culpa é imprevisão de um resultado previsível. No dolo, temos um da previsto e não evitado. Na culpa, o dano é desconhecido para o segurado, até o momento em que se produz. Por tais razões, o seguro de responsabilidade civil não abrange a conduta dolosa. O segurado que age com dolo pretende a o resultado danoso, e exclui da álea, ou seja, o evento incerto, inesperado, surpreendente, que é elemento essencial do contrato de seguro. O seguro de responsabilidade civil, portanto, só não será possível, em face do art. 1.436, do Código Civil (atual 762), se tiver por objeto o dolo do segurado. Neste sentido é que deve ser entendida a expressão atos ilícitos ali empregada.

Desta forma, o dolo não pode ser passível de sofrer a

presunção como atualmente querem muitas companhias de seguro, já a culpa,

pode ser presumida, desde que com fundamentos concretos.

Tanto é viável tal situação que o Código Civil de 2002

preocupou-se em trazer esta disposição tacitamente em seu texto, senão vejamos

o artigo 762 que diz: “Nulo será o contrato para a garantia de risco proveniente de

ato doloso do segurado, do beneficiário, ou do representante de um ou de outro”.

Assim, está visto que o segurador ficará exonerado de sua

obrigação perante o segurado de reembolsar os danos causados dolosamente,

bem como de indenizar terceiros. 101 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 673, apud Munir Karam.

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2.3 ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO

Relevante lembrar, antes mesmo de abordar a ação de

terceiro diretamente contra a seguradora, que o contrato de responsabilidade civil

não é um acordo celebrado em favor de terceiro, seja este determinado ou

indeterminado.

Glitz102, afirma que o terceiro: “[...] somente participa dos

benefícios daquele. Assim como ressalta Meilij, nunca poderá o segurador ser

condenado, frente ao terceiro, a pagar mais do montante relativo ao seu

compromisso com o segurado”.

Miranda103 segue o mesmo raciocínio: "o terceiro não tem

ação direta contra o segurador para obter o adimplemento do que o contraente –

não o segurador – lhe deve".

Nessa premissa destaca Santos104:

Com efeito, a proposição esbarra no próprio fundamento de que, não sendo o terceiro parte do contrato de seguro, não seria crível poder ele acionar o segurador que, junto com o segurado formam as únicas partes desse negócio jurídico bilateral, fato que, por si só, arreda, desassombradamente, qualquer legitimatio ativa, ad causam ou ad processum, desse terceiro, como também faz da seguradora parte ilegítima para ser demandada pelo terceiro, posto que res inter alios acta.

De outro norte, a doutrina também entende que o contrato

de seguro de responsabilidade civil não estipula cláusulas em favor de terceiros,

mas sim em favor do próprio segurado, não constituindo o terceiro parte no

contrato.

Nesta linha de pensamento Branco105 afirma que:

102 GLITZ. Revista Cadernos de Seguro, O terceiro no contrato de seguro de responsabilidade civil: a ação direta em face da seguradora. p. 51, apud Meilij p. 143,144. 103 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Civil. p. 56. 104 SANTOS, Ricardo Bechara. Seguro de responsabilidade civil. Ação direta do terceiro contra o segurador. Inviabilidade, p. 505

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O seguro de responsabilidade civil situa-se entre a classe dos seguros de danos, ou seja, os que tem por objeto garantir a pessoa contra as perdas sofridas em seu patrimônio. Desta maneira o que se objetiva no contrato não é o ato ilícito, mas seu efeito, com a obrigação dele nascida. As apólices asseguram as reparações a que se submete o responsável. Como estes prejuízos são involuntários, não se acoima de nulidade o contrato de seguro.

No contrato de Seguro de Responsabilidade Civil, apesar de

sempre se prever a existência de um terceiro, este tem como partes apenas o

segurado e o segurador. Portanto, o segurador não poder ser responsabilizado

perante terceiros em soma superior aquela que fora pactuado com o segurado.

Miranda106, ao discorrer sobre o segurado, afirma que seu

interesse

[...] é o ressarcimento do dano que para o seu patrimônio resultou da sua inclusão na relação jurídica de indenização, como sujeito passivo. O que o segurado tem por fito é manter a integridade do seu patrimônio, por estar exposto a riscos de ficar diminuído pela responsabilidade que se irradia.

Diz o CC 2002:

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. (...)

Salienta Tzirulnik 107 que

Nessa perspectiva, o sistema jurídico brasileiro autoriza esse acionamento direto da companhia de seguros pelo terceiro prejudicado. O Superior Tribunal de Justiça vem seguindo essa linha de interpretação desde antes do Código Civil de 2002, com a tese de que o seguro de responsabilidade civil constitui uma estipulação em favor de terceiro (Recurso Especial 257.880/RJ, Recurso Especial 294.057/DF).

105 CASTELLO, Elcir Branco. Do seguro obrigatório de responsabilidade civil. p. 37/39. 106 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Civil. p. 51. 107 TZIRULNIK, Ernesto. Em torno do interesse segurado e da responsabilidade civil. p. 368

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Assim, nos casos em que existe a estipulação em favor de

terceiro, o segurado é apenas ressarcido na forma do contrato. Se verifica que o

terceiro é uma figura inexistente dentro dos contratos de seguro de

responsabilidade civil, não podendo ser confundido com o beneficiário, que é

sujeito pré-determinado, mas não parte legitima.

2.4 A PRESCRIÇÃO NO SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVI L

Apesar do tema ser motivo de discordância entre

doutrinadores e a jurisprudência, diz o CC 2002 sobre a prescrição do seguro de

responsabilidade civil:

Art. 206. Prescreve:

§ 1o Em um ano:

I – (...)

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra

aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilid ade

civil, da data em que é citado para responder à açã o de

indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data

que a este indeniza, com a anuência do segurador ; (sem grifo

no original)

Assim, para os demais seguros permanece o prazo ocorre

do fato gerador da pretensão.

Para Santos108 a prescrição da ação do segurado

contra o segurador corre a partir do momento em que o terceiro exerce seu direito

contra o segurado, onde o segurado deve informar o sinistro à seguradora sob

pena de perder o direito por infração contratual.

108 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano: coletânea de ensaios jurídicos. p. 82.

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Alvim109 entende que o prazo inicia-se a partir da

reclamação do terceiro.

Miranda110, contudo, entende que não se pode permitir ao segurador que este espere a propositura de ação ou o trânsito em julgado da sentença contra o segurado para, então, indenizá-lo, pois este deve nascer com o fato danoso, independentemente de reclamação de terceiro. Desta maneira, não haveria alegação de alta de interesse do segurado no sentido de mover, no prazo de um ano, medida judicial para interromper o prazo prescricional através de citação válida.

Diz Nader111

Embora o prazo seja único, varia o critério de sua contagem. Sendo citado para responder à ação de responsabilidade civil junto a terceiro, a contagem do prazo do segurado começa a fluir no dia em que recebe a citação ou, então, da data em que indeniza o terceiro com a concordância da seguradora. Em relação às demais pretensões, a contagem do prazo tem início do conhecimento do fato gerador da pretensão. O inciso IX, do § 2°, dispões sobre a pretensão relativa ao seguro de responsabilidade civil obrigatório. Se o contrato é de seguro de vida, a pretensão do credor tem por fato gerador o evento morte (art. 206, § 1°, II, CC).

A jurisprudência tem-se manifestado no sentido de admitir

que o prazo da prescrição deve ocorrer na data em que o segurado souber que o

pagamento da indenização fora recusado.

Neste sentido, diz a Súmula 299 do STJ112: “O pedido do

pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que

o segurado tenha ciência da decisão."

No terceiro e último, Capítulo abordaremos sobre o Terceiro

no Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil. Disposições gerais, ação direta

109 ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 1986. p. 57. 110 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Civil. p. 51. 111 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil – Parte Geral. p. 583. 112 Neste sentido Recurso Especial 323416/RO, Recurso Especial 132357 /RJ e Recurso Especial 236034/RJ.

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em face da seguradora, da divergência de votos no Supremo Tribunal de Justiça,

as conseqüências na esfera processual – da prescrição e entendimento

jurisprudencial.

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CAPÍTULO 3

O TERCEIRO NO CONTRATO DE SEGURO DE

RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS

Conforme anteriormente exposto, o contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil gira em torno da garantia que representa, assegurando ao

segurado o pagamento da indenização que lhe seja por ventura imposta em

decorrência de ato ilícito pelo qual responda.

Como bem lembra Glitz113: “seu objeto, pois, não é o ato

ilícito culposo pelo qual responda o segurado, mas o reflexo patrimonial que

representará a indenização por este ato.”

Diante das considerações já expostas, e diante da

necessidade de ressarcimento dos danos causados ao terceiro, passamos a

analisar a possibilidade ou não deste demandar diretamente em face do

segurador do causador do dano.

Recente posicionamento do Superior Tribunal de Justiça

demonstra a atribuição da função social ao contrato de seguro, reconhecendo-se

a legitimidade de terceiros em ação movida pela vítima diretamente contra a

seguradora. Porém, é conveniente lembrarmos que o contrato de seguro de

responsabilidade civil, como anteriormente já afirmado, não é um acordo

celebrado em favor de terceiro.

Nesta esfera, denota-se que se deve distinguir o terceiro-

vítima do beneficiário, este último determinado por força contratual ou legal.

113 GLITZ. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil. p. 04.

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Agora, com uma visão mais completa do que seja o instituto

do contrato de Seguro de Responsabilidade Civil, suas peculiaridades com

relação aos demais seguros, suas modalidades, seus aspectos históricos, sua

natureza jurídica, entre outros, passa-se a adentrar no cerne do tema mais

profundamente a fim de entender a possibilidade de terceiro-vítima postular

indenização decorrente de responsabilidade civil diretamente contra a seguradora

do causador do dano.

3.2 DA AÇÃO DIRETA EM FACE DA SEGURADORA

A intervenção de terceiro abrangida no tema refere-se ao

pedido de indenização e ou ressarcimento dos danos, em sede patrimonial ou

extra patrimonial (danos morais e ou estéticos, por exemplo), estes últimos

fixados em espécie, diretamente perante a seguradora do causador do dano.

Nessa perspectiva, o sistema jurídico brasileiro autoriza esse

acionamento direto da companhia de seguros pelo terceiro prejudicado. O

Superior Tribunal de Justiça vem seguindo essa linha de interpretação desde

antes do Código Civil de 2002, com a tese de que o seguro de responsabilidade

civil constitui uma estipulação em favor de terceiro (Recurso Especial 257.880/RJ,

Recurso Especial 294.057/DF).

Conforme se verá adiante, parte da corrente doutrinária

seguidora de Pontes de Miranda e Bechara Santos, ainda resiste a esta

possibilidade, entendendo imprescindível o requerimento da vítima perante o

causador do dano, para que este, querendo, chame a seguradora à lide. Neste

entendimento, existem duas situações distintas, seja a primeira entre o terceiro-

vítima perante o segurado que causou o dano, regulado pelo Código Civil em

seus arts. 186, 187 e 927, e a segunda entre o segurado e o segurador, esta

regulada pelo contrato de seguro.

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Na lição de Marensi114

a diferença substancial entre o seguro de responsabilidade civil e o de danos é que, neste, se configura uma relação jurídica só entre o segurado e o segurador, ao passo que, no seguro de responsabilidade civil, a indenização é paga tendo em vista a lesão a um terceiro prejudicado pelo segurado.

Porém, alguns doutrinadores de renome nacional, como a

exemplo de Diniz115, tem o seguinte entendimento:

É possível, no direito brasileiro, a ação direta da vítima do dano contra o segurador do responsável civil do dano, pois, apesar de não ser parte no contrato, é o seu beneficiário. Assim sendo, nada obsta que acione a seguradora para obter a quantia devida a título de reparação do dano, desde que prove o prejuízo sofrido.

Assim, nos moldes que quer fazer entender, Diniz tenta

simplificar o assunto, deixando de fazer a importantíssima distinção entre o

terceiro vítima e beneficiário, equiparando um ao outro. Na visão desta renomada

autora, o terceiro vítima, que mesmo não fazendo parte do contrato de seguros, é

parte legítima para postular perante a seguradora uma indenização decorrente de

responsabilidade civil causada por seu segurado.

De acordo com Glitz116, nossa legislação pátria prevê, em

caso análogo, que o terceiro poderá intentar diretamente contra a seguradora em

caso de danos provocados por acidentes aéreos (vide art. 126 do Código

Brasileiro do Ar)

Dias, por exemplo, aceita a ação direta da vítima do dano

independentemente do seguro de responsabilidade civil garantir a indenização ao

responsável e não ao prejudicado.

114 MARENSI, Voltaire. Revista de informação legislativa. O seguro de responsabilidade civil. Brasília, vol. 25, n.º 100, out/dez., 1998, p. 337-346. 115 DINIZ, Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 158. 116 GLITZ, Frederico E. Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil, p. 80.

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Glitz117, citando Dias transcreve o seguinte trecho de sua

célebre obra que versa sobre a responsabilidade civil:

Assim, entendemos que, ainda que não revigorados em preceito especial, são princípios de ordem pública os que fundamentam a ação direta da vítima contra o segurador. Tanto mais razoável é conhecê-lo quanto se tiver em conta que o seguro, em país de fraco índice econômico, é a maneira mais viável de garantir a indenização ao prejudicado. E nos parece, por fim, que o procedimento da vítima encontra apoio nos arts. 76 do Código Civil e 3º do Código de Processo Civil, porque não se pode negar o legítimo interesse da vítima e, de sua parte, o nenhum proveito, para o segurador, de resistir a esse entendimento.

Portanto, a solução prática que aparece, seria de que a

vítima pleiteasse o direito perante o causador do dano e seu segurador, ou o

chamamento do segurador poderá se dar diretamente pelo próprio segurado ao

apresentar sua defesa no processo.

De outro lado, conforme salienta Santos118 e acompanhando

entendimento de alguns Ministros do Superior Tribunal de Justiça, tais como Aldir

Passarinho Junior, Ari Pargendler e Barros Monteiro, Bechara Santos, advogado

especialista em seguros lembra que:

O seguro de responsabilidade tem como finalidade o modo de garantir ao responsável pelo evento os meios de suportar esta obrigação. O encargo em si é o desembolso possível de indenização, não o ato ilícito, repita-se a exaustão. O seguro de responsabilidade civil, enfim, não tem por escopo a garantia da substituição processual (vedada nos melhores códigos processualistas) do segurado pelo segurador na demanda que somente contra aquele cabe ser intentada.

Contudo, Santos119 vai mais adiante:

117 GLITZ, Frederico E. Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil, p. 05. 118 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 509. 119 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 507.

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O seguro de responsabilidade civil, pois no Brasil e em boa parte do mundo, é seguro de reembolso por excelência, em que, primeiro, há de se caracterizar a responsabilidade civil do segurador e o pagamento pelo mesmo dispêndio para, depois, assegurar-lhe o direito de reembolso junto ao segurador, que é chamado à liça. Isto porque o risco de que ocupa tal modalidade de seguro não é, como naqueles outros casos, o dano causado a terceiro, porém, sim, a própria responsabilidade civil do segurador e a proteção do dano que esta responsabilidade civil cause ao seu próprio patrimônio – e não de terceiro, repita-se – pelo desfalque que decorre dessa mesma responsabilidade pelo fato do desembolso.

Assim, extrai-se da visão de Santos120 que o seguro de

responsabilidade civil visa primordialmente, constante já assinalado, a resguardar

o segurado das perdas patrimoniais que poderia vir a sofrer caso provocasse

algum dano a terceiro.

Ainda, segundo o mesmo autor, mais absurdo ainda é a

possibilidade do terceiro postular tão somente contra a seguradora desprezando-

se o litisconsórcio do segurado responsável pelo evento danoso, ultrapassando o

pressuposto natural do caráter ressarcitório do contrato de seguro de

responsabilidade civil, senão vejamos: “E é a ele, o segurado e o autor do dano,

que caberia aduzir a melhor defesa, posto que conhecedor dos fatos sobre os

quais a mesma defesa é deduzida, com os detalhes que o segurador pode

desconhecer”.121

Continuando o raciocínio de Santos, reputa-se imperioso

que, no caso de acionamento da seguradora, promova-se no mínimo

paralelamente a responsabilidade do segurado, este a quem caberia a

denunciação a lide à seguradora, assegurando-lhe o direito de regresso.

Imprescindível também, neste caso, é a denunciação a lide

da seguradora, que por existir interesse no deslinde da causa, não poderia ficar a

margem dos fatos apresentados nos autos. Veja que, conforme entendimento 120 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 507. 121 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 507.

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acima exposto, ao segurado, está aberto à faculdade de escolha para denunciar a

lide ou não sua seguradora.

A faculdade de denunciação impede que o segurado, por

exemplo, mediante o uso de sua apólice, acabe perdendo algum bônus ou

desconto que tenha conquistado durante anos sem utilizá-la, in casu, a

indenização devida seja menor que o desconto ou bônus no prêmio.

Evoca Santos122 em sua obra os magistérios de eminentes

juristas brasileiros para demonstrar a inadequação da ação direta do terceiro

contra a seguradora no seguro de responsabilidade civil, in verbis:

Juristas brasileiros, como Martinho Garcez Neto, Mário Moacyr Porto, Andrade Figueira, dentre outros, ancorados na força do entendimento da melhor doutrina estrangeira, como a de Camilo Viterbo e Ascarelli e outros tantos, não deixam rebuços de dúvidas de que a ação direta do terceiro no seguro de responsabilidade civil, onde só intervém como partes segurado e segurador, é desenganadamente imprópria. E alinham algumas razões, como: a) uma coisa é ter um privilégio sobre um crédito – se é que se possa falar em privilégio nesse sentido – e outra é ter direito de reclamar diretamente o pagamento ao devedor; b) o seguro de responsabilidade civil não é um seguro a favor de terceiros; c) é necessário dizer que o direito de pagar o terceiro corresponde para o segurador só dentro dos limites da quantidade máxima; d) entre a vítima e a seguradora não existe qualquer vínculo contratual; e) não se trata de uma estipulação em favor de terceiro, vez que o segurado não contrata em benefício da vítima, e sim para resguardar-se das conseqüências civis, patrimoniais, que possa sofrer por ter, não por dolo, causando dano a outrem; f) o beneficiário da garantia, enfim, é o próprio segurado.

Nesse sentido também a opinião de Nicola Gasperoni, Mazeaud e

Mazeaud, Planioe e Ripert, Godart e Charmentier, Willy Von Eeckout, apud Santos123,

astros do conhecimento jurídico Europeu (RT 139/440, Brasil J.G. de Andrade Figueira),

portanto de países da CEE.

122 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 507. 123 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 509/510

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Outrotanto, não se olvide de que não há, nem pode haver, tampouco por presunção, solidariedade entre o segurado e o segurador perante o terceiro em tal modalidade de seguro, dês que tratem-se de responsabilidades absolutamente distintas: a uma, a do segurado perante o terceiro, quer decorrente do contrato de transporte ou de ato ilícito; a duas, a do segurador e a do segurado, decorrente do contrato de seguro, que visa a repor o patrimônio do causador direto do dano (segurado), diante da obrigação caracterizada de indenizar o terceiro, em face do dano, caracterização essa que, não sendo possível se verificar amigavelmente, se dará mediante apreciação do judiciário em ação que há de ser aduzida contra o causador, este que melhor saberá, repita-se, conduzir a sua defesa, chamando o segurador para, se for o caso, aditá-la, ou contemplá-la como assistente posto que interessada no resultado.

Camilo Viterbo, citado por Marensi124, posiciona-se

radicalmente contra a ação direta em face da seguradora, citando as seguintes

razões:

a) Uma coisa é ter um privilégio sobre um crédito – se é que se pode falar de privilégio nesse sentido – e outra é ter o direito de reclamar diretamente o pagamento ao devedor.

b) O seguro de responsabilidade civil não é um seguro a favor de terceiros.

c) É necessário dizer que o direito de pagar a terceiro corresponde para o segurador só dentro dos limites da quantidade máxima.

Ainda em que pese à doutrina contraditória a aceitação da

legitimidade de terceiro perante a seguradora subsistir de fundamento jurídico, a

predominância no direito brasileiro é de doutrinadores como, José de Aguiar Dias,

Fabrício Zamprogna Matielo, Maria Helena Diniz, que aceitam a denunciação à

lide da seguradora, alguns, porém, com o respaldo de que a substituição do

segurado pela empresa seguradora diretamente é inconstitucional, afrontando-se

diretamente com o art. 5º, inciso, LV da Constituição Federal, que assegura a

ampla defesa. 124 MARENSI, Voltaire Giavarina. O seguro no direito brasileiro. p. 247, apud Camilo Viterbo.

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Este também é o entendimento de Miranda125, ressaltando

que

Direitos do terceiro contra o segurador - Preliminarmente, repila-se a opinião que vê no contrato de seguro de responsabilidade contrato a favor de terceiro, mesmo nos casos de seguros de veículos por danos a terceiros. O que quis o contraente foi cobrir-se quanto à responsabilidade que especificou. O terceiro não tem ação direta contra o segurador para obter o adimplemento do que o contraente - não o segurador - lhe deve. Não se pode, no direito brasileiro, afirmar a existência de regra jurídica que permita ao segurador pagar diretamente, ou ao terceiro pedir tal pagamento, como a do Código Civil Italiano, artigo 1.917, alínea 2a...

Enfatiza ainda o autor retro mencionado que, por tratar-se de

responsabilidade civil, a demanda tem como objeto à reparação de um dano

ocasionado por ato ilícito, e que a seguradora não é a autora deste ato. Além

disto, Pontes de Miranda ressalta que o contrato de seguro de responsabilidade

civil tem por excelência o caráter ressarcitório, o que pressupõe a prévia

responsabilidade do segurado para haver o reembolso.

Entretanto, lentamente os doutrinadores foram revendo a

função social do contrato de seguro de responsabilidade civil e paulatinamente

foi-se alterando o entendimento acerca do tema e, como conseqüência,

apresentando reflexos nas decisões do Poder Judiciário.

A exemplo o Egrégio Tribunal de Justiça Catarinense,

através de seus membros, com o passar dos anos veio pioneiramente

amoldando-se as novas realidades e alterando seu entendimento.

Por acórdão proferido no ano de 1971, o emérito

Desembargador May Filho, in Agravo de Instrumento n.º 450126, decidiu que:

125 MIRANDA, Pontes de. Francisco Pontes de. Tratado de direito privado. p. 56. 126 Jurisprudência Catarinense, 1971, Florianópolis: Tribunal de Justiça de Santa Catarina, p. 130-131.

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A seguradora é terceira em relação ao outro da ação de indenização por danos oriundos de colisão de veículos, inexistindo sub-rogação legal coativa que imponha a substituição processual do réu pela companhia que segura o seu veículo, isto em caso que se pretendia o litisconsórcio passivo de seguradora, denegada a pretensão, porque, a relação contratual do réu com a seguradora não vincula o autor, a ela estranho: e nem obriga a aceitação de outra parte para integrar a lide.

Logo, percebe-se que, além de não se reconhecer à

denunciação na lide da seguradora, o Egrégio Tribunal Catarinense, por

conseqüência, não acatava a legitimidade do terceiro tão somente perante a

seguradora.

Tal decisão acima citada, não era exceção à época,

considerando que os demais tribunais superiores assim também entendiam. Tal

posicionamento manteve-se inabalável até a década de 1990, senão vejamos

algumas ementas de julgados anteriores a este período:

Em acórdão da 4ª Câmara Civil do Tribunal de Alçada do

Estado do Rio de Janeiro, o Relator Juiz Raul Quental, em 08/02/1983 proferiu a

seguinte decisão: “... o que a lei determina é a denunciação da lide àquele que

estiver obrigado, por força de regra legal ou de contrato, a indenizar, em ação

regressiva, o prejuízo de quem perder a demanda. Não é o caso do seguro, pois a

ação do segurado contra o segurador não é regressiva e sim direta...”.

Neste mesmo sentido, no ano de 1985, o Tribunal de Alçada

do Estado do Rio Grande do Sul, sobre o tema aqui abordado, assim se

manifestou127”:

SEGURO – AÇÃO MOVIDA CONTRA O SEGURADO – SEGURADORA CHAMADA A INTEGRAR A LIDE – SEGURO FACULTATIVO. Decisão que indefere pedido de citação da seguradora para intervir, como litisconsorte, na ação promovida contra o segurado. Seguro facultativo de responsabilidade civil por danos causados a terceiros. Falta de legitimidade passiva ad

127 Jurisprudência Brasileira, 1986, Porto Alegre: vol. 03, pág. 267.

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causam da seguradora para figurar como parte na ação promovida contra o segurado.

É bem verdade que existem entendimentos doutrinários e

jurisprudenciais, de que no caso, era devida a denunciação da lide à seguradora

pelo segurado, porém é de se adotar, por mais convincentes, os entendimentos

contrários, pois, se a denunciação da lide é obrigatório àquele que estiver

abrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do

que perder a demanda regressiva, e portanto, não é de se aplicar a

obrigatoriedade da denunciação da lide, em casos desta natureza.

Já a partir de 1990, à luz do enunciado 188 do Supremo

Tribunal Federal, os tribunais estaduais passaram a aceitar com mais freqüência

à denunciação na lide pelo segurado, chamando ao processo a seguradora.

Inicialmente a fundamentação para a aceitação de tal denunciação fundava-se no

interesse no resultado da demanda por parte da seguradora, eis que esta, teria

que ao final reembolsar seu segurado, e, em seguida, dispensando-se o caráter

de reembolso do contrato de seguro de responsabilidade civil, condenando as

seguradoras a efetuarem pagamento diretamente perante o terceiro-vítima.

Para fundamentar tais decisões, os tribunais superiores

buscaram a essência do direito do terceiro, respaldando-se na melhor doutrina

processualista.

Barbi128 é enfático ao afirmar que para existir legitimidade de

exercício de direito de ação, deverá existir relação jurídica de direito material entre

as partes litigantes. Veja

A legitimidade é o segundo requisito exigido pelo art. 3º para que o autor possa propor ação, e para que o réu possa contestá-la. É usualmente denominada legitimação para a causa, ou legitimatio ad causam. Significa ela que só o titular de um direito pode discuti-lo em juízo e que a outra parte na demanda deve ser o outro sujeito do mesmo direito. Ou, na precisa definição de

128 BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao código de processo civil. 10ª ed. 2ª tir. Rio de Janeiro: Forense, 1998, n.º 35, p. 37-38.

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Chiovenda: ‘é a identidade da pessoa do autor com a pessoa favorecida pela lei, e da pessoa do réu com a pessoa obrigada’. [...] A legitimidade passiva, como vimos, significa que o autor só terá ação se a dirigir contra o outro sujeito da relação jurídica, que é objeto da questão.

Acerca do exercício de ação, Tornaghi129 nos ensina que:

Legitimidade é a titularidade do direito de ação. Parte legítima é aquele a quem a lei confere o direito de ir a juízo pedir determinada prestação jurisdicional. O direito de ir a juízo sempre existe, com abstração de qualquer exigência concreta. Mas o exercício do direito, em cada caso, somente é deferido àquele ao qual a lei considera parte legítima. Da lei, e só da lei, é possível inferir quem é parte legítima em determinado caso.

Em geral a lei concede ação ao titular de direito subjetivo ou interesse reflexamente protegido. Nesse caso a parte legítima no processo (parte em sentido formal) é a mesma parte na relação de direito substantivo apreciada em juízo (parte em sentido substancial).

Sobre a legitimidade de titularidade de direito de ação,

Armelin130, em monografia específica afirma que:

A legitimidade é uma qualidade do sujeito aferida em função de ato jurídico, realizado ou a ser praticado. Qualidade outorgada exclusivamente pelo sistema jurídico e exigível, como é óbvio, em se tratando de negócios multilaterais, de todos os seus participantes, qualquer que seja o pólo da relação jurídica em que se encontrem. [...] O Código de Processo Civil não contém, salvo raras exceções, regras fixadoras da legitimidade em casos específicos. Apenas exige a sua presença para que o direito de ação de exerça validamente. Aliás, não poderia ser de outro modo, pois a legitimidade emergente de situação exclusivamente processual, sem qualquer vinculação, ainda que meramente alegada, com o direito material, é excepcional.

129 TORNAGHI, Hélio. Comentários. p. 90-91. 130 ARMELIN, Donaldo. Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro. p. 11 e 150/151.

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Portanto, neste ponto, mesmo pelo terceiro-vítima não fazer

parte do contrato de seguro, pode ostentar o direito de pedir indenização

diretamente contra a seguradora do causador do dano, sem ao menos acioná-lo

na lide.

Na verdade, o que quer fazer-se entender é que as relações

jurídicas oriundas de um contrato de seguro de responsabilidade civil não se

encerram entre as partes contratantes, mas podem atingir terceiros beneficiários,

como bem ocorre com os seguros de vida ou de acidentes pessoais, exemplos

clássicos apontados pela doutrina.

Trata-se da estipulação em favor de terceiro, criação do

direito moderno contemplada nas legislações estrangeiras como, por exemplo, a

Italiana e Portuguesa, em contraponto à sua rejeição pelo direito romano. O

instituto de legitimar o terceiro, estabelece a exceção ao princípio da relatividade

do contrato, uma vez que alarga a possibilidade de que o vínculo contratual possa

atingir quem não seja parte contratante, como leciona Viana131:

Abre-se exceção ao princípio da relatividade dos contratos, que contém a idéia de que os efeitos do contrato não alcançam terceiros. A força vinculante do contrato fica restrita às partes, sendo ele res inter alios acta. Isso significa que os efeitos da avenca não aproveitam nem prejudicam terceiros. Justifica-se o princípio, quando temos em mente que o vínculo contratual nasce da vontade das partes, não sendo plausível que terceiros sejam alcançados por uma relação jurídica que não decorre do querer deles ou da lei. A estipulação em favor de terceiros abre uma brecha nesse princípio.

Assim, a seguradora e o segurado, ao preverem em contrato

a indenização devida por danos a terceiros, nela incluídas as garantias que o

terceiro-vítima pleiteia, está estipulado, a rigor, uma vantagem patrimonial em

favor de terceiro, pessoa indeterminada no momento da celebração do ajuste,

porém determinável quando da ocorrência do sinistro coberto pela apólice de

seguros. 131 VIANA, Marco Aurélio. Curso de direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. cap. X, p. 150.

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No instante em que se identifica o terceiro-vítima, a cláusula

contratual disposta no contrato de seguros passa a ser estipulação em seu favor.

Viana132, ao discorrer sobre os elementos subjetivos para a

esta estipulação esclarece:

Agora ressaltamos que qualquer pessoa pode ser contemplada com a estipulação. O estipulante e o promitente devem ter aptidão para contratar, enquanto o terceiro, que não intervém no contrato, dele não se exige capacidade. É válida, outrossim, a estipulação em favor de pessoa indeterminada e futura. É bastante que o terceiro possa ser determinado, ainda que indeterminado momentaneamente. O que se reclama é que seja determinável, admitindo identificação. Com pertinência à pessoa futura, pode ser contemplada, desde que possível sua caracterização, como a referência aos herdeiros do estipulante ou de pessoa conhecida, ou alusão à prole de certo casal etc.

Deste modo, uma vez assentado que o contrato de seguro,

no caso, contenha estipulação em favor de terceiro beneficiário, ou simplesmente

vítima, é de se admitir a legitimidade deste terceiro, ou de seus herdeiros para

cobrar a indenização diretamente da seguradora.

Hodiernamente a jurisprudência pátria133 tem assente em

seu entendimento, senão vejamos:

A ação indenizatória de acidente de trânsito pode ser intentada, a critério do lesado ou seus sucessores, diretamente contra a empresa seguradora contratada pelo proprietário do veículo causador do dano, apenas contra este, ou ainda contra ambos, atendendo-se assim ao princípio da efetividade do processo.

E mais134:

132 VIANA, Marco Aurélio. Curso de direito civil. p. 151-152. 133 TJSC, 2ª Cam. Civil, Rel. Des. Luiz Fernando Freyesleben, Agravo de Instrumento n.º 2002.015458-5, de Itapema – SC, julgado em 06/02/2003. 134 TJSC, Rel. Des. Anselmo Cerello, Agravo de Instrumento n.º 2000.010299-7, de Blumenau, julgado em 12/11/2001.

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Estando o causador do dano acobertado pela apólice de seguro e, sendo ela garantidora do pagamento da futura indenização, resta que a ação pode ser movia apenas contra ela, contra a causadora direta, ou então contra ambos, evitando-se, assim, o retardamento do processo com o chamamento à lide de uma ou de outra.

Em parecer preferido pela Procuradoria de Justiça do Estado

de Santa Catarina e citado pelo Relator Des. Luiz Carlos Freysleben na decisão

do Agravo de Instrumento n.º2002.015458-5, de Itapema SC, temos, dentro deste

parecer uma citação que nos dá uma visão da evolução de entendimento do

Judiciário Catarinense:

E tempos idos, em casos de eventos danosos protagonizados por quem contasse com a cobertura de seguro facultativo, era amplamente vitoriosa a vertente que preconizava a inviabilidade de ajuizamento da ação reparatória de dano diretamente contra a seguradora, à mingua de relação contratual entre esta e a vítima. Atualmente, embora a matéria ainda seja objeto de renhidas discussões, vem-se observando louvável tendência de considerá-la possível, tendo-se presente que, não raras vezes, o sinistrado deixa de ser ressarcido, ante a insolvência do segurado perpetrador do ato lesivo.

À vista dessa realidade, que não pode ser ignorada, é

razoável seja ofertado à vítima, ou a seus sucessores, o direito, de demandar

também a seguradora, que terá, por certo, maiores condições de indenizá-lo. Este

raciocínio é corolário do princípio da efetividade do processo, porquanto de nada

serviria ao prejudicado a obtenção de provimento judicial favorável contra quem

não tenha condições de adimplir a obrigação.

A tutela estatal despida de sentido teleológico, proferida à

revelia de uma visão prospectiva da jurisdição, seria inutiliter data, remetendo-nos

de pronto àquele conto kafkiano em que após longa espera no umbral da Justiça,

um desditoso personagem, vê cerrarem-se as portas do tribunal, prostrando

definitivamente sua esperança em ter seu direito realizado.

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Se o segurado causador do dano, dispõe de direito de

regresso contra a seguradora, será a instituição securitária, em última instância,

quem arcará com a reparação de dano. Desse modo, a instauração da demanda

diretamente contra a seguradora, repita-se, é medida estritamente enlaçada à

celeridade e efetividade do processo, tendo-se em conta a impossibilidade da

litisdenunciação na nova sistemática dos procedimentos sumário e sumaríssimo.

Vendados os olhos a essa realidade, restarão abortados os

escopos da jurisdição, quais sejam: resolução do litígio mediante aplicação da

norma legal ao caso concreto (jurídico), pacificação social (social), realização da

justiça (político). Além disso, importa anotar que, se insolvente o segurado, a

seguradora eximir-se-ia, por via oblíqua, da obrigação de reparar o dano, dando-

se ensanchas a seu enriquecimento sem causa.135

No tema acolhe-se em Monteiro136:

O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação (Cód. Civil, art. 1.098). Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante o não inovar nos termos do art. 1.100 (art. 1.098, parágrafo único). Vê-se, portanto, que a exigibilidade pertence tanto ao estipulante como ao beneficiário; na estipulação em favor de terceiro a ação para reclamar o cumprimento da obrigação se transfere ao beneficiário, sem aliás perde-la o próprio estipulante. Conseguintemente, não é só o estipulante que tem ação para compelir o devedor ao cumprimento da prestação; também pode intenta-la o beneficiário, para constranger o promitente a satisfazer a obrigação.”

Neste mesmo entendimento segue Pereira137:

Relações entre promitente e terceiro. Não aparecem na fase de celebração do contrato. Na de execução, o terceiro assume as vezes do credor, e, por isso, tem a faculdade de exigir a solutio.

135 Jurisprudência Catarinense, 2004, Florianópolis: Tribunal de Justiça de Santa Catarina, p. 80-81. 136 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil., p. 51. 137 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, V. III. p. 68.

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Dúvida não se suscita, em nosso direito, em que o terceiro é titular de ação direta para este efeito. Muito embora não seja parte na sua formação, pode intervir nele com a sua anuência, e, então é sujeito às condições normais do contrato (Código Civil, art. 1.098), enquanto o estipulante o mantiver sem inovações. Os encargos e deveres que lhe resultem têm de ser atendidos, ainda que não haja ele anuído na fase de formação, pela razão simples de que se apresenta como credor condicional, que tem o poder de exigir e a faculdade de receber sub conditione, de realizar determinado fato para com outrem (modus).

No mesmo sentido o entendimento de Bevilaqua138, ao

comentar o art. 1.098 do Código Civil de 1916 afirma que:

O Código Civil Brasileiro considera a estipulação em favor de terceiro uma relação contratual sui generis, na qual a ação para exigir o cumprimento da obrigação se transfere ao beneficiário sem, aliás, perde-la o estipulante. É um caso de despersonalização dupla, tendo por ponto de conjunção o promitente, que contrata com o estipulante realizar uma prestação, que irá cumprir nas mãos do beneficiário.

Sem demonstrar dissídio ao acima citado, Viana139, citado

pelo Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, no Recurso Especial n.º 257.880,

assenta que:

O terceiro goza, contudo do direito de exigir a execução. Ele é titular de ação direta para reclamar o cumprimento da obrigação. Estranho à constituição do contrato, pode, no entanto, dar sua anuência, o que importa em sua sujeição às condições normais do contrato (art. 1.098, parágrafo único do CC). Assim, pelo exposto, podemos afirmar que a exigibilidade da estipulação é assegurada tanto ao estipulante, presente na relação básica ou de cobertura, como ao beneficiário, estranho na fase de celebração da avença.

Após algumas divergências, a matéria restou pacífica em

diversos pronunciamentos do Superior Tribunal de Justiça140:

138 BEVILAQUA, Clóvis. Código civl dos estados unidos do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979, p. 214. 139 VIANA, Marco Aurélio. Curso de direito civil. p. 154.

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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DIRETAMENTE PROPOSTA CONTRA A SEGURADORA. LEGITIMIDADE. 1. pode a vítima em acidente de veículos propor ação de indenização diretamente, também contra a seguradora, sendo irrelevante que o contrato envolva, apenas, o segurado, causador do acidente, que se nega a usar a cobertura do seguro. 2. Recurso especial não conhecido.

Deste julgado, peço licença para trazer inclusive a

fundamentação apresentada no voto pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar:

Os dependentes de vítima falecida em acidente de trânsito promoveram ação de indenização contra o proprietário do veículo e contra a sua seguradora. O r. acórdão deu provimento ao apelo da companhia para reconhecer a carência da ação, por ilegitimidade passiva da seguradora para responder diretamente por ação indenizatória promovida pelos lesados. A egrégia Câmara, ao apreciar os declaratórios, excluiu a consideração das normas sobre estipulação em favor de terceiro, por considerá-las inaplicáveis.Ocorre que o contrato de seguro pode caracterizar uma situação em que a avença celebrada entre duas partes tenha estipulação em favor de um terceiro, não figurante da relação e mesmo ainda não identificado, embora identificável, que seria beneficiário, com direito de recebimento do valor segurado. O mestre Clóvis Bevilaqua acentuou: “A estipulação em favor de terceiro é um poderoso instrumento jurídico. O seu campo de aplicação é mito extenso. Vêmo-la, particularmente, na constituição de renda, quando há um terceiro beneficiado; nos seguros de vida; nas fundações; nas doações modais; e em certos contratos celebrados com a administração pública...” (Comentários ao Código Civil, 4/272). A mesma lição foi depois repetida por: “O campo de ação das estipulações em favor de terceiro é dos mais vastos. Elas se apresentam na constituição da renda, quando há terceiro beneficiado, nos seguros de vida em vantagem de terceiro, no contrato de transporte, sempre que figura um terceiro, destinatário... etc (CCB Interpretado, XV/285)”. Esse ‘poderoso instrumento’ jurídico, relegado pelos romanos, mas que se impôs aos ordenamentos posteriores e terminou sendo contemplado em capítulo próprio no nosso Código Civil, serve também para explicar a situação que se estabelece em

140 REsp. n.º 228.840 – Rio Grande do Sul, julgado em 26 de junho de 2000. Por maioria de votos. Vencido o Senhor Ministro Relator Ary Pargendler.

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contrato de seguro de responsabilidade civil por danos causados em acidentes de trânsito, especialmente quando o responsável direto é insolvente ou de paradeiro desconhecido, persistindo o dano e sendo certa a existência do contrato de seguro, constituído para fim de cobertura dessa indenização. Muito embora o beneficiário não figure na relação contratual, o princípio que fomentou a aceitação da estipulação em favor de terceiro, de modo a permitir que um estranho viesse a pedir o cumprimento de obrigação contratado por outros, é o mesmo que nos auxilia a compreender e encontrar a solução ajustada a dificuldade criada em casos tais. (...). Atento a essa realidade é que o CDC vem dispor, para as relações de consumo, sobre a possibilidade de ser chamada ao processo a seguradora, a permitir seja proferida sentença condenatória diretamente contra ela (art. 101, II, do CDC). [...] A divergência ficou descaracterizada, uma vez que o precedente não versou sobre o tema, nem fez afirmação favorável à recorrente. Posto isso, conheço do recurso, pela alínea a, e lhe dou provimento para afastar a preliminar de ilegitimidade passiva da seguradora, devendo prosseguir o julgamento da apelação. É o voto.

Em abril de 2001, sob a relatoria do Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça proferiu a

seguinte decisão141 por maioria de votos, vencidos os Ministros Barros Monteiro e

Aldir Passarinho Junior, senão vejamos:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. BENEFICIÁRIO. ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO. OCORRÊNCIA. ART. 1.098, CC. DOUTRINA. RECURSO PROVIDO. I – A

legitimidade para exercer o direito de ação decorre da lei e depende, em regra, da titularidade de um direito, do interesse juridicamente protegido, conforme a relação jurídica de direito material existente entre as partes celebrantes. II – As relações jurídicas oriundas de um contrato de seguro não se encerram entre as partes contratantes, podendo atingir terceiro beneficiário, como ocorre com os seguros de vida ou de acidentes pessoais, exemplos clássicos apontados pela doutrina. III – Nas estipulações em favor de terceiro, este pode ser pessoa futura e indeterminada, bastando que seja determinável, como no caso do

141 REsp. n.º 257880 – RJ, julgado em 03 de abril de 2001, in www.stj.gov.br, p. 1.

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seguro, em que se identifica o beneficiário no momento do sinistro. IV – O terceiro beneficiário, ainda que não tenha feito parte do contrato, tem legitimidade para ajuizar ação direta contra a seguradora, para cobrar a indenização contratual prevista em seu favor. V – Tendo falecido no acidente o terceiro beneficiário, legitimados ativos ad causam, no caso, os seus pais, em face da ordem da vocação hereditária.

Recentemente esta mesma casa de justiça tem firmado na

Terceira Turma de Julgamentos diversas decisões unânimes acerca da

legitimidade ativa ad causam perante a seguradora do causador do dano.

Citamos, como exemplo o Recurso Especial n.º444.716, de origem do Estado da

Bahia.

Outro não é o entendimento da atual Terceira Turma do

Superior Tribunal de Justiça142:

CIVIL E PROCESSO CIVIL – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – DENUNCIAÇÃO DA LIDE – CONTESTAÇÃO – CONDENAÇÃO DIRETA DA LITISDENUNCIADA – CPC, ART. 75, I – INTERPRETAÇÃO PRAGMÁTICA. - A seguradora-litisdenunciada ao oferecer contestação, assume posição de litisconsorte passiva do denunciante. Pode assim, ser condenada em conjunto com este, à indenização por acidente de trânsito. Esta é a interpretação correta e pragmática do art. 75, inciso I do CPC.”

Enfim, como se vê, atualmente o terceiro beneficiário goza

de legitimidade para pleitear a indenização prevista no contrato de seguro, desde

que atenda aos requisitos previstos na avença, notadamente ter sofrido o dano,

nos moldes descritos nas cláusulas contratuais pertinentes.

Por fim, o acórdão de lavra do Desembargador Catarinense

Pedro Manoel Abreu, ressalta a importância da efetividade da Justiça, nos termos

a seguir143”:

142 REsp n.º 275453 – RS, julgado em 11 de abril de 2005, in www.stj.gov.br, p.1.

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PROCESSUAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. SEGURO FACULTATIVO. DEMANDA AJUIZADA CONTRA O PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO CAUSADOR DO SINISTRO E IGUALMENTE CONTRA A SEGURADORA. ILEGITIMIDADE PASSIVA DESTA DESCARTADA. RECURSO IMPROVIDO. Em

tempos idos, em casos de eventos danosos protagonizados por quem contasse com a cobertura de seguro facultativo, era amplamente vitoriosa a vertente que preconizava a inviabilidade de ajuizamento da ação reparatória de dano diretamente contra a seguradora, à mingua de relação contratual entre esta e a vítima. Atualmente, embora a matéria ainda seja objeto de renhidas discussões, vem-se observando louvável tendência de considerá-la possível, tendo-se presente que, não raras vezes, o sinistro deixa de ser ressarcido, ante a insolvência do segurado perpetrador do ato lesivo. À vista dessa realidade, que não pode ser ignorada, é razoável seja ofertado a vítima, ou a seus sucessores, o direito de demandar também a seguradora, que terá, por certo, maiores condições de indeniza-lo. Este raciocínio é corolário do princípio da efetividade do processo, porquanto de nada serviria ao prejudicado a obtenção de provimento judicial favorável contra quem não tenha condições de adimplir a obrigação. A tutela estatal despida de sentido teleológico, proferida à revelia de uma visão prospectiva da jurisdição, seria initiliter data, remetendo-nos de pronto àquele conto kafkiano em que após longa espera no umbral da Justiça, um desditoso personagem, vê cerrarem-se as portas do tribunal, prostrando definitivamente sua esperança de ter seu direito realizado (v. Franz Kafka, Diante da Lei, in Um Médico Rural. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991, p.23/5). Se o segurado causador do dano, dispõe de direito de regresso contra a seguradora, será a instituição securitária, em última instância, quem arcará com a reparação do dano. Desse modo, a instauração da demanda diretamente contra a seguradora, repita-se, é medida estritamente entrelaçada à celeridade e efetividade do processo, tendo-se em conta a impossibilidade da litisdenunciação na nova sistemática dos procedimentos sumário e sumaríssimo. Vendados os olhos a essa realidade, restarão abortados os escopos da jurisdição, quais sejam: resolução do litígio mediante a aplicação da norma legal ao caso concreto (jurídico), pacificação social (social), realização da justiça (político). Além disso, importa anotar que, se insolvente o segurado, a seguradora eximir-se-ia, por via oblíqua, da obrigação

143 Jurisprudência Catarinense. Agravo de Instrumento n.º 99.004384-3, de Araranguá, Quarta Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

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de reparar o dano dando-se ensanchas a seu enriquecimento sem causa.

3.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDÊNCIAL

SEGURO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE FEITA À SEGURADORA ACOLHIDA. PRÉVIA COMPROVAÇÃO DE DESEMBOLSO FEITO PELA DENUNCIADA AO AUTOR DA AÇÃO. Em princípio, para haver a indenização da denunciada, deve o denunciante comprovar o pagamento feito ao primitivo credor, o autor da ação. Possibilidade de que o denunciante venha aparelhar a execução contra a denunciada. Caso não comprovado o desembolso a que está obrigado o denunciante, cabe ao denunciado, na execução, colocar o numerário à disposição do Juízo, a fim de que este oportunamente proceda ao ressarcimento a que faz jus a vítima. Recurso especial conhecido, em parte, e provido parcialmente. (STJ – 4a T – RESP 115046/RS – ac. un. – Rel. Min. Barros Monteiro – DJU 14.12.1998 – p. 243)

DENUNCIAÇÃO À LIDE. SEGURADORA. EXECUÇÃO DA SENTENÇA. 1. A impossibilidade de ser executada a sentença de

procedência da ação de indenização contra a devedora, porque extinta a empresa, permite a execução diretamente contra a seguradora, que figurara no feito como denunciada à lide, onde assumira a posição de litisconsorte. 2. Não causa ofensa ao art. 75, I, do CPC, o acórdão que assim decide. Recurso não conhecido. (STJ – 4a T – RESP 97590/RS – ac. un. – Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – DJU 18.11.1996 – p. 44901)

SEGURO. ACIDENTE DE VEÍCULO. INSOLVÊNCIA DO CAUSADOR DO DANO. COBRANÇA CONTRA SUA SEGURADORA. LEGITIMIDADE. Insolvente o causador do

danos, o crédito do lesado reconhecido em sentença pode ser cobrado diretamente da sua seguradora, a quem fora denunciada a lide, no limite do contrato. Não é requisito para a execução do contrato de seguros para cobertura de danos resultantes de

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acidente de trânsito o prévio pagamento por parte do segurado, quando ficar demonstrada essa impossibilidade pela insolvência do devedor. Recurso não conhecido. (STJ – 4a T – RESP 397229/MG – ac. un. – Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – DJU 12.8.2002 – p. 220) Recurso especial. Ação de indenização diretamente proposta contra a seguradora. Legitimidade. 1. Pode a vítima em acidente de veículos propor ação de indenização diretamente, também, contra a seguradora, sendo irrelevante que o contrato envolva, apenas, o segurado, causador do acidente, que se nega a usar a cobertura do seguro. 2. Recurso especial não conhecido. (STJ – 3a T – RESP 228840 – m.v. – Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – DJU 04.9.2000 – p. 402)

SEGURO. MORA DE 90 DIAS QUANTO AO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA, SEM JUSTIFICATIVA. PERÍODO DE FÉRIAS, EM QUE A NECESSIDADE DO VEICULO É NATURALMENTE MAIOR. LOCAÇÃO DE AUTOMÓVEL POR DEZ DIAS. DANOS MATERIAIS INDENIZÁVEIS. DANOS MORAIS EXISTENTES, MAS ARBITRADOS COM EXCESSO. REDUÇÃO. A seguradora ré

alega que o motivo para a negativa do pagamento da indenização securitária foi a prestação de informações inverídicas em relação à cláusula perfil. De acordo com o contrato, nesse caso, há isenção de qualquer responsabilidade da seguradora. Todavia, ela se furta em explicar, sequer comentar, a realização do pagamento administrativo da referida indenização, efetuado com atraso superior a 90 dias. Esse pagamento integral, sem nenhum desconto, torna inconsistente o único motivo alegado pela ré. Os danos materiais comprovados, consistentes no aluguel de carro durante 10 dias, são ressarcíveis, pois tiveram como causa unicamente a mora quanto ao pagamento da indenização securitária. Como o atraso ocorreu durante janeiro a março, período sabidamente reservado às férias, em que necessidade do automóvel é maior, os danos morais são presumíveis. Todavia, o montante indenizatório, que se pauta também pela proporcionalidade, deve ser reduzido para evitar o enriquecimento indevido do autor. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA MODIFICADA. (Recurso Cível Nº 71001159888, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Maria José Schmitt Santanna, Julgado em 22/05/2007).

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3.4 DA DIVERGÊNCIA DE VOTOS NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O entendimento acima demonstrado é recente, havendo

dentro do próprio Superior Tribunal de Justiça algumas divergências de

entendimentos, seja fundamentado no cerceamento de defesa da seguradora,

que não dispõe do causador do dano para exaurir sua defesa relacionada à

matéria fática, seja pela inexistência de relação contratual entre a seguradora e o

terceiro-vítima. Ostentam esta posição os Ministros Barros Monteiro, Ministro Aldir

Passarinho Junior e Ministro Ari Pargendler.

O Exmo. Sr. Ministro Barros Monteiro, vem defendendo a

tese de que o objetivo do contrato de seguro de responsabilidade civil, é

destinado a resguardar o segurado das conseqüências patrimoniais que lhe

pudessem advir em razão de eventual dano ocasionado pelo veículo de sua

propriedade a terceiro. Desta maneira, afirma veementemente que não pode

reputar-se a hipótese de que esta modalidade de seguro seja feita como uma

estipulação em favor de terceiro.

Naturalmente, neste ponto de vista, desconsiderando se

inclusive a função social do contrato, encontramos arrimo em diversos pontos, a

iniciar pela eventual culpabilidade do segurado.

Do ponto de vista do Exmo. Senhor Ministro Barros, carece

do pressuposto natural de ressarcimento do contrato de Seguro de

Responsabilidade Civil a ação movida por terceiro prejudicado direta e

unicamente contra a seguradora do causador do dano144.

Já o Exmo. Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior, no mesmo

julgado acima mencionado, denota que evidentemente a seguradora deverá arcar

com a indenização até o valor da apólice, mas antes disso, deverá firmar-se uma

responsabilidade por parte do segurado que causou o dano. Movendo a ação

144 REsp. n.º 257.880 – RJ, julgado em 03 de abril de 2001, in www.stj.gov.br.

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diretamente contra a seguradora, esta ficará sem a possibilidade de defender-se,

porque não participou diretamente do evento danoso.

Diante disso, o eminente Ministro invoca o princípio

constitucional da ampla defesa, situado no art. 5º, incido LV da Constituição

Federal, esclarecendo que o terceiro-vítima poderia acionar, concomitantemente,

a seguradora e o segurado causador do acidente, sem mesmo esperar a

denunciação à lide.

Assim, visto que persistem as divergências acerca do tema,

a relação do terceiro-vítima perante a seguradora do causador do dano, até o

presente momento, e juridicamente viável, cumprindo a função social do contrato

de seguro de responsabilidade civil e trazendo uma série de conseqüências, entre

elas uma maior garantia da efetividade da prestação jurisdicional e a não

ocorrência do locupletamento sem causa das seguradoras que atuam no país.

3.5 CONSEQÜÊNCIAS NA ESFERA PROCESSUAL – DA PRESCRI ÇÃO

Conforme acima visto, o Poder Judiciário tem admitido no

direito brasileiro a possibilidade de terceiro-vítima, que não faça parte do contrato

de seguro, postular diretamente contra a seguradora do causador do dano à

respectiva indenização, limitado ao disposto na apólice de seguros.

Ocorre que deste entendimento surge à baila a questão da

prescrição do direito de cobrança do contrato de seguro, que é matéria

controversa até a presente data nos tribunais pátrios. Além de tal controvérsia,

temos a questão do como se precisaria o início da contagem do prazo

prescricional.

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Bem lembra Glitz145, in Aspectos do Seguro de

Responsabilidade Civil que:

A Dificuldade da demarcação do momento de início do prazo prescricional se deve à existência de um terceiro alheio ao vínculo contratual. Também se deve levar em conta o fato de que, para maior parte da doutrina, não é cabível a ação direta do terceiro contra a seguradora, mas sim contra o segurado (e aí o prazo prescricional pode chegar até a 20 anos). Outro fator de dificuldade é o fato de que deve ser caracterizada em primeiro lugar a responsabilidade do segurado, para aí assegurar-lhe o direito de reembolso.

Com o advento do novo Código Civil, o prazo prescricional

para a reparação civil passou de vinte para três anos, e consequentemente,

alterou o prazo em que a seguradora responderá pelo reembolso acima

mencionado.

A atual legislação Civil, através do Código de 2002, prevê

em seu art. 178, §6º, II, que prescreve em um ano a ação do segurado em face do

segurador, contando-se o prazo do dia em que o interessado tiver conhecimento.

Encontraremos os mais diversos posicionamentos acerca do

prazo anuo, e até quem diga que o prazo prescricional aplicável no caso, seria o

qüinqüenal conforme disposto no Código de Defesa do Consumidor.

No caso de regresso de perda patrimonial, o segurado

poderá postular perante a seguradora após efetivamente sofrer a constrição

patrimonial, ou mesmo, denunciando a lide o seu segurador. Tanto uma, quanto

outra opção suspendem o prazo prescricional.

Já no caso de terceiro postular diretamente contra a

seguradora, a seguradora tem aceito tão somente os mesmos prazos previstos

para o segurado. Convém lembrarmos que o seguro de responsabilidade civil,

sem embargo, garantirá os sinistros ocorridos durante sua vigência. Portanto, é

uma questão do terceiro postular seu direito perante o causador do dano ou

145 GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do Seguro de Responsabilidade Civil. p. 106

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diretamente em face da seguradora, dentro do prazo para reclamar uma

reparação responsabilidade civil.

De outro lado, as condições gerais do seguro de

responsabilidade civil, ora atualmente vigentes e aprovadas pela

Superintendência de Seguros Privados, tratam da prescrição, garantindo

cobertura ao segurado dos sinistros ocorridos durante a vigência do contrato,

desde que conhecidos e reclamados até o prazo máximo de um ano após o

vencimento da apólice.

Vale relembrar ainda que a seguradora somente tomará

conhecimento do evento quando o segurado é procurado para um acordo, ou

quando é ajuizada a ação de reparação de danos ou ressarcimento pelo terceiro

vítima ou seus beneficiários.

Assim, para o completo entendimento do tema proposto

nesta monografia, trouxe-se à tona vários conceitos e concepções do que seja o

contrato de seguro de responsabilidade civil, chegando a um ponto razoável e

comum que servirá de base para a explanação do tema do presente Trabalho de

Conclusão de Curso.

Como o princípio desse trabalho foi fazer uma abordagem

geral sobre o Terceiro no Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil,

procurou-se destacar os principais aspectos do presente instituto e os demais que

lhe são diretamente ligados. Deu-se por encerrada a presente pesquisa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Contrato de Seguro sofreu inúmeras alterações desde a

sua criação. Foram influencias de vários cantos e assim se adaptou a toda essa

evolução mundial. Com isso, percebeu-se que o Contrato de Seguro teria que

seguir regras de bom funcionamento para que continuasse o seu papel na

sociedade. Através do Código Civil conseguiu isso e assim, o Contrato de Seguro

tornou-se o que é nos dias de hoje.

Com esta evolução procurou-se fundamentar a matéria nos

acontecimentos do dia-a-dia e assim adaptar o Contrato de Seguro à

problemática existente.

Neste sentido, surgiu o terceiro como parte não integrante

ao Contrato de Seguro, mas que possui importância quando do Seguro de

Responsabilidade Civil.

Assim, extrai-se da visão de Santos146 que o seguro de

responsabilidade civil visa primordialmente a resguardar o segurado das perdas

patrimoniais que poderia vir a sofrer caso provocasse algum dano a terceiro,

girando em torno da garantia que representa, assegurando ao segurado o

pagamento da indenização que lhe seja por ventura imposta em decorrência de

ato ilícito pelo qual responda.

Nessa premissa defende-se, então, o papel do terceiro no

Contrato de Seguro

146 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no cotidiano. p. 507.

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Quanto as hipóteses levantadas no início da pesquisa,

observa-se:

Quanto a primeira hipótese : a) O Seguro de

Responsabilidade Civil, somente terá cobertura para eventos onde haja a

comprovação de que o segurado e ou terceiro portaram-se com certa culpa na

produção do dano? SIM. O Seguro de Responsabilidade Civil, somente terá

cobertura para eventos onde haja a comprovação de que o segurado e ou terceiro

portaram-se sim com certa culpa na produção do dano. Tal constatação de culpa

é que levará a imputabilidade do resultado nocivo ao agente apontado como

causador do mesmo, do que deriva o dever de recompor a situação.

Pode-se dizer que a Responsabilidade Civil traduz a

obrigação da pessoa física ou jurídica causadora ou responsável pelo dano, de

reparar o dano causado por conduta que viola um dever jurídico preexistente de

não lesionar, implícito ou expresso em lei.

Desta forma, conclui-se que o Seguro de Responsabilidade

Civil tem indubitavelmente o caráter ressarcitório, onde, o segurado, mediante

pagamento de um prêmio pré-definido, está garantindo o ressarcimento pelo

segurador, em caso de perda patrimonial ocasionada por sua responsabilidade,

até os limites definidos em contrato próprio.

Quanto a segunda hipótese : b) O segurador poder ser

responsabilizado perante terceiros em soma superior aquela que fora pactuado

com o segurado? NÃO. O segurador não poder ser responsabilizado perante

terceiros em soma superior aquela que fora pactuado com o segurado. No

contrato de Seguro de Responsabilidade Civil, apesar de sempre se prever a

existência de um terceiro, este tem como partes apenas o segurado e o

segurador.

Assim, nos casos em que existe a estipulação em favor de

terceiro, o segurado é apenas ressarcido na forma do contrato. Se verifica que o

terceiro é uma figura inexistente dentro dos contratos de seguro de

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responsabilidade civil, não podendo ser confundido com o beneficiário, que é

sujeito pré-determinado, mas não parte legitima.

Quanto a terceira hipótese: c) O terceiro pode pedir

indenização e/ou ressarcimento dos danos direto na companhia seguradora, caso

sentir-se prejudicado? SIM. Caso sentir-se prejudicado o terceiro pode sim pedir

indenização e/ou ressarcimento dos danos direto na companhia seguradora.

Nessa perspectiva, o sistema jurídico brasileiro autoriza esse acionamento direto

da companhia de seguros pelo terceiro prejudicado. O Superior Tribunal de

Justiça vem seguindo essa linha de interpretação desde antes do Código Civil de

2002, com a tese de que o seguro de responsabilidade civil constitui uma

estipulação em favor de terceiro (Recurso Especial 257.880/RJ, Recurso Especial

294.057/DF).

A intervenção de terceiro abrangida no tema refere-se ao

pedido de indenização e ou ressarcimento dos danos, em sede patrimonial ou

extra patrimonial (danos morais e ou estéticos, por exemplo), estes últimos

fixados em espécie, diretamente perante a seguradora do causador do dano.

Assim, a seguradora teria que ao final reembolsar seu

segurado, e, em seguida, dispensando-se o caráter de reembolso do contrato de

seguro de responsabilidade civil, condenando as seguradoras a efetuarem

pagamento diretamente perante o terceiro-vítima.

Neste sentido, o CC prescreve em um ano após o

vencimento da apólice o prazo para a ação do segurado em face do segurador,

contando-se o do dia em que o mesmo tiver conhecimento. Este prazo também é

aceito para o terceiro.

Notadamente, Pedro Alvim, afirma que independentemente

do contrato de seguros estar vencido, a seguradora não estará totalmente livre do

dever de indenizar o terceiro e ou reembolsar seu ora anteriormente segurado.

Ao final deste, observa-se a intenção do presente trabalho

de apresentar elementos capazes de trazer novas discussões a respeito da

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estabilidade do Empregado Público, e não com a intenção de se esgotar o

assunto.

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