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P r e f á c i o 7 SAÚDE 6 A primeira edição deste manual - O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde - foi elaborada em 1991, como instrumento orientador das ações a serem desen- volvidas no primeiro nível de atenção à saúde, com um grau de responsabilidade compatível com a função que vocês, Agentes Comunitários de Saúde, exerciam naquela época: acompanhamento do grupo materno-infantil. A segunda edição, de 1994, foi revisada por todos os Coordenadores Estaduais e Assessores do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com base na observação dos resultados da sua prática cotidiana junto à comunidade e dos enfermeiros instrutores-supervisores. Ao preparar esta terceira edição, conservamos a estrutura da edição anterior, mas introduzimos alterações de conteúdo que expressam a evolução do trabalho que vocês, agentes, vêm desenvolvendo nos municípios brasileiros nos últimos cinco anos, incluindo aqueles que contam com as equipes de Saúde da Família. Assim, esta terceira edição apresenta três novos textos de apoio e substitui as fichas do SIPACS pelas do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), um sistema mais abrangente, que reúne as informações produzidas por vocês e pelas equipes de Saúde da Família. Por sua comprovada eficiência como guia para capacitação, esperamos que esta versão de O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde, revisada por técnicas espe- cializadas deste Departamento, possa ajudá-los a desenvolver, com competência cada vez maior, as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. Departamento de Atenção Básica Junho de 2000 O trabalho do Agente Comunitário de Saúde AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 1

O trabalho do agente comunitário de saúde

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P r e f á c i o

7

SAÚDE

6

A primeira edição deste manual - O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde -

foi elaborada em 1991, como instrumento orientador das ações a serem desen-

volvidas no primeiro nível de atenção à saúde, com um grau de responsabilidade

compatível com a função que vocês, Agentes Comunitários de Saúde, exerciam

naquela época: acompanhamento do grupo materno-infantil. A segunda edição,

de 1994, foi revisada por todos os Coordenadores Estaduais e Assessores do

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com base na observação

dos resultados da sua prática cotidiana junto à comunidade e dos enfermeiros

i n s t r u t o r e s - s u p e r v i s o r e s .

Ao preparar esta terceira edição, conservamos a estrutura da edição anterior, mas

introduzimos alterações de conteúdo que expressam a evolução do trabalho que

vocês, agentes, vêm desenvolvendo nos municípios brasileiros nos últimos cinco

anos, incluindo aqueles que contam com as equipes de Saúde da Família. Assim,

esta terceira edição apresenta três novos textos de apoio e substitui as fichas do

SIPACS pelas do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), um sistema

mais abrangente, que reúne as informações produzidas por vocês e pelas equipes

de Saúde da Família.

Por sua comprovada eficiência como guia para capacitação, esperamos que esta

versão de O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde, revisada por técnicas espe-

cializadas deste Departamento, possa ajudá-los a desenvolver, com competência

cada vez maior, as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Departamento de Atenção Básica

Junho de 2000

O trabalho

do Agente

Comunitário

de Saúde

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Às vezes você ri com as mães, às vezesvocê chora. Mas este é o trabalho doagente de saúde: tem que rir com os queriem e chorar com os que choram. Mastambém o agente de saúde tem que teruma ética profissional. Quando eu con-verso com uma dona de casa e ela temaquela confiança e conta a vida delapra mim, não posso ir contar o que ouvipra outra vizinha; tenho que ter éticap r o f i s s i o n a l . ”

Valderina Xavier de Souza,

Agente Comunitária de Saúde em Padre

Bernardo, Entorno do DF

Quando comecei, na minha área havia três

ou quatro casos de desnutridos, casos de

diarréia, vacina atrasada, gestante mal orien-

t a d a. Às vezes eu pegava uma gestante de

sete, oito meses e perguntava: “Tu tá fazendo

o pré-natal?”. Ela respondia: “Não, porque

estou me sentindo bem.” Eu dizia: “Tu tá se

sentindo bem, mas será que o teu neném está

se sentindo bem?”. Uma dessas eu encaminhei

com oito meses para o médico do posto de

saúde e o neném dela estava com baixo peso,

já ia nascer desnutrido. Quando voltei na

casa dela, ela me disse assim: “Tu estava certa.

Por que esse programa não começou antes?

Ivânia Maria Sotta,

Agente Comunitária de Saúde, Rodeio Bonito, RS

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 3

A educação é um ato de amor, por isso um ato de

coragem. Não pode temer o debate.

A análise da realidade, não pode fugir à dis-

cussão criadora, sob pena de ser uma farsa.”

Paulo Freire, em E d u c a ç ã o como Prática da Liberdade

Eu trabalhava na roça, até que um dia passou

um agente de saúde que se chama Pedro, veio aqui

fazer a inscrição do pessoal para o PACS e perguntou

se eu tinha interesse. Eu falei assim: “Rapaz, não

tenho interesse, porque não tenho estudo”. Ele disse:

“Não carece de ter um estudo tão grande. Se você estiver

interessado é só fazer uma inscrição, talvez você

passe.” Fui fazer a inscrição e depois a instrutora, que

se chama Maria Helena, veio até aqui na aldeia para

ver se tinha mais alguém que quisesse fazer a

inscrição. Ninguém mais quis, eu acho que é falta de

estudo mesmo... Depois do treinamento, fui logo nos

caciques e avisei pras comunidades o que a instrutora

passou pra mim. Aí fui visitar, pesar as crianças,

acompanhar as gestantes, fazer o cartão das crianças,

ver a vacina. Foi duro demais, porque muita gente se

estranhou do meu serviço. O pessoal perguntava: “Por

que você pesa as crianças? Por que fala daquilo?”

Muita gente disse que não carecia, mas muitos também

acreditaram nas minhas palavras. Até hoje, já estou

com dois anos de trabalho, muitos dizem não na

minha vista.”

Teodoro Pasiku, Agente Comunitário de Saúde

na Aldeia Rio do Sono, Tribo Xerente, TO, 1997.

1 0

Saúde e comunidadeEste capítulo destaca o conceito de saúde

e a importância do seu trabalho, agente

comunitário de saúde, como agente de

promoção da saúde em sua comunidade

C A P Í T U L O I

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 5

1 3

SAÚDE E COMUNIDADE

1 2

Pra começo de conversa... Saúde é o

que interessa!

Até algum tempo atrás, quando a

gente falava em saúde, pensava

logo em “não estar doente”. Hoje, a

gente já entende que ter saúde não

é só não estar doente.

A saúde está ligada a muitas outras

coisas da nossa vida.

Se a gente quer construir uma casa,

precisa “assentar os alicerces”, pre-

cisa de areia, cimento, madeiras,

telhas e outros materiais para a

casa ficar pronta.

Com saúde também é assim.

na moradia;

nas condições de trabalho;

na educação;

no modo como a gente se diverte;

na alimentação;

na organização dos serviços de saúde;

na preservação dos recursos naturais,

do meio ambiente (mares, rios, lagos, matas, florestas...);

na participação popular;

no jeito que a gente trata as pessoas e é tratado por elas;

na valorização das culturas locais;

no dever do governo em melhorar as condições de vida do povo.

Pra gente falar em saúde, tem que pensar:

Estas são as ferramentas

da nossa luta para ter saúde.

Vamos saber maissobre saúde?

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 7

1 5

SAÚDE E COMUNIDADE

1 4

balho, você, agente, faz o cadastramento das famílias e registra o número de crianças

em relação ao acesso e permanência na escola. Para que os objetivos da campanha

fossem alcançados, era preciso sensibilizar os pais para a importância de ter seus

filhos nas escolas, identificar crianças em trabalhos braçais, fazer a busca ativa de

crianças nas zonas rurais, onde a dispersão geográfica e a conseqüente dificuldade

de acesso vinham afastando essas crianças da escola. A participação dos ACS foi

de grande importância para que o compromisso fosse atingido com resultados

excelentes. A campanha veio dar mais força ao trabalho de cadastramento das

famílias, e os esforços dos agentes para encaminhar as crianças e vê-las matriculadas

no ensino de 1º grau foram reconhecidos pelas autoridades federais, estaduais e

m u n i c i p a i s .

Em alguns Estados, agentes se envolveram tanto na campanha que mobilizaram

toda a comunidade, com resultados que levaram à ampliação de salas de alfa-

betização para adultos. O reconhecimento de todo esse trabalho na campanha

ajudou a fortalecer o papel do ACS, trazendo mais credibilidade para todos em

suas comunidades. Possibilitou também aos que participaram da campanha a

oportunidade de vivenciar uma importante atribuição, a de ser agente de cidada-

nia, contribuindo para resgatar o direito das crianças brasileiras de ter acesso à

educação básica.

Outros exemplos de participação de ACS em campanhas, onde sua atuação foi de

grande importância para a mobilização da comunidade: Natal com Paz – sem

morte, sem fome (uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Secretaria de

Direitos Humanos do Ministério da Justiça) e em parcerias do Ministério da

Saúde com Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, para mobilização da

comunidade em torno das famílias nas áreas de seca; na prevenção do câncer de

colo do útero; na prevenção e controle da anemia ferropriva e na vacinação de pessoas

i d o s a s . Isto sem falar nas muitas outras parcerias que acontecem no dia-a-dia de

suas comunidades.

Essas campanhas são importantes, porque representam uma união de esforços em

torno de uma situação de maior risco, em uma determinada época do ano. Ao lado

delas está, também, seu trabalho diário com as famílias, em busca de melhor

qualidade de vida para todas as pessoas que estão em sua área de atuação.

Mas você deve estar se perguntando como juntar tudo isso e produzir ações com

resultados positivos para todos. É através da intersetorialidade, ou seja, da

relação propositiva entre os setores responsáveis pelas ações que se referem à

qualidade de vida do homem, como saúde, educação, habitação, trabalho, cultura,

entre outras. A intersetorialidade acontece, quando esses setores trabalham em

conjunto, construindo parcerias, unindo esforços e somando recursos financeiros e

humanos para alcançar um objetivo comum.

Um dos exemplos de sucesso foi a participação de milhares de agentes comunitários

de saúde, como você, no Projeto “Toda Criança na Escola”, realizado em 1998, uma

parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação que se multiplicou pelas

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação de todo o país.

Havia a necessidade de identificar as crianças entre 7 e 14 anos que se encon-

travam fora da escola e encaminhá-las para a matrícula. E no dia-a-dia de seu tra-

Então, se para construiruma casa, a gente precisa de todos aquelesmateriais, para “construir a saúde”, a gente também tem que juntar :

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1. A saúde é um direito fundamental do homem, e a meta de todos

os povos deve ser atingir um alto nível de saúde.

2. A desigualdade no estado de saúde dos povos é inaceitável e é

motivo de preocupação para todos os países.

3. A promoção da saúde dos povos é essencial para o desenvolvi-

mento econômico e social e contribui para melhorar a qualidade de

vida e para alcançar a paz mundial.

4. A população tem o direito e o dever de participar como indivíduo

e como grupo no planejamento e na execução dos cuidados

de saúde.

5. Os governos têm responsabilidade pela saúde dos povos.

A atenção primária à saúde é a chave para atingir essa meta com

justiça social.

6. Atenção primária significa cuidados essenciais de saúde, baseados

em técnicas apropriadas, cientificamente comprovadas e social-

mente aceitas. Deve fazer parte do sistema de saúde. Deve estar ao

alcance de todas as pessoas da comunidade e deve contar com a

participação da população. Precisa ter um custo que a comunidade

e o país possam suportar.

7. O compromisso com a atenção primária à saúde define a influência

das condições econômicas e das características sociais, culturais e

Te x t o d e A p o i o n º 1

1 7

De Alma-Ata até você, Agente

Comunitário de Saúde*

Vamos juntos percorrer o caminho dos avanços na saúde nos

últimos 20 anos?

Primei ro, quero que você pense bem na expressão

Saúde para Todos no Ano 2000.

Esta expressão surgiu na Assembléia Mundial da Saúde, em

1977, que lançou o movimento de Saúde para Todos no Ano 2000,

movimento que desencadeou no mundo as expectativas por uma

nova saúde pública. A expressão se afirmou como compromisso

dos países que fazem parte das Nações Unidas, durante a

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reali-

zada na cidade de Alma-Ata, em 1978, na antiga União Soviética,

pela Organização Mundial da Saúde - OMS - e pelo Fundo das

Nações Unidas para a Infância - UNICEF.

Alma-Ata passou a ser uma referência mundial para as pessoas

que se preocupam com a saúde e, quando alguém se refere a Alma-

Ata, está se referindo ao compromisso de Saúde para Todos - uma

meta a ser alcançada por meio da atenção primária à saúde e da

participação comunitária.

Promoção, prevenção, tratamento e reabilitação são quatro

tipos de serviço que atendem aos problemas da comunidade, e

você é o agente que trabalha com promoção e prevenção da saúde

na atenção básica, o trabalhador de saúde que é o elo entre a

comunidade e a unidade de saúde. Isto não significa que você não

tem nada a ver com tratamento e reabilitação. Você pode orientar

e acompanhar o tratamento e a reabilitação das pessoas da sua

comunidade, sob a supervisão da equipe de saúde, pois são ações

de promoção da saúde.

Principais pontos de compromisso da Conferência de Alma-A t a :

SAÚDE PARA TODOS NO ANO 2000

1 6

Você deve estar se perguntando o que significa este título e oque isto tem a ver comvocê. Tem e muito!Afinal, você é um agentede prevenção e promoção da saúde.

*Texto elaborado pela equipe técnica do Departamento de Atenção Básica

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Declaração de Alma-Ata. O resultado da Conferência foi uma

Carta de Intenções - denominada Carta de Ottawa - que tinha

como objetivo contribuir para a meta de Saúde para Todos no Ano

2000 e Anos Subseqüentes.

A Carta de Ottawa define a Promoção da Saúde como

“o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria

da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação

no controle deste processo”. E afirma que as pessoas devem se

envolver neste processo como indivíduos, famílias e comunidades e

que homens e mulheres devem participar como parceiros iguais.

Observe o que a Carta de Ottawa afirma sobre a saúde:

• a saúde é um recurso para a vida.

• a saúde é construída e vivida pelas pessoas dentro do que fazem no

seu dia-a-dia: onde elas aprendem, trabalham, divertem-se e amam.

• a saúde é construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e

com os outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle

sobre as circunstâncias da própria vida, e pela luta para que a

sociedade ofereça condições que permitam a obtenção da saúde

por todos os seus membros.

• a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social,

econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da

qualidade de vida.

• a saúde tanto pode ser favorecida como prejudicada por fatores

políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais

e biológicos. E as pessoas só poderão realizar completamente o seu

potencial de saúde, se forem capazes de controlar os fatores que

determinam a sua saúde.

1 9

políticas de cada país sobre a saúde da sua população. Destaca a

necessidade de parcerias entre todos os setores ligados ao desen-

volvimento da comunidade, como agricultura, pecuária, produção

de alimentos, indústria, habitação, obras públicas, comunicações.

Afirma que a capacitação da comunidade pela educação é funda-

mental para que ela possa participar do planejamento, organização,

funcionamento e controle da atenção primária.

Na Declaração de Alma-Ata, a atenção primária baseia-se em

médicos, enfermeiras, parteiras, auxiliares de enfermagem e

agentes comunitários. Desta forma, cada país deve formular um

plano de ação para iniciar e manter a atenção primária como

parte de um sistema nacional de saúde, compreendendo, pelo

menos, as seguintes atividades:

• a educação a respeito dos problemas de saúde existentes e dos

métodos de prevenção e cura;

• a promoção de alimentação adequada;

• o abastecimento de água potável e saneamento básico;

• a assistência materno-infantil, incluindo o planejamento familiar;

• a imunização contra as principais doenças infecciosas;

• a prevenção e controle de doenças endêmicas;

• o tratamento em caso de doenças e acidentes comuns

e o fornecimento de medicamentos essenciais.

Caminhando para a Promoção da SaúdeVocê está percebendo como seu trabalho é fundamental na equipe

de saúde e como as ações de promoção e prevenção são impor-

tantes para a saúde de todos os povos?

E é tão importante para os povos que não parou por aí o compro-

misso firmado em Alma-Ata. Era preciso discutir e entender o que

significava Promoção da Saúde. Para conseguir que todos os países

chegassem a uma idéia comum sobre o significado destas palavras,

foi organizada a Primeira Conferência Internacional sobre

Promoção da Saúde, r e a l i z a d a na cidade de Ottawa, Canadá, em

novembro de 1986. Na Conferência, foram discutidos os progressos

alcançados com os Cuidados Primários em Saúde, a partir da

1 8

SAÚDE PARA TODOS NO ANO 2000 Te x t o d e A p o i o n º 1

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 13

Vamos ver um exemplo com o fumo?

Todos nós sabemos que o fumo é prejudicial à saúde. Quem

nos diz isso é o Ministério da Saúde e os profissionais da saúde preo-

cupados com a promoção da saúde e a prevenção de doenças.

Assim, o Ministério da Saúde determina que os fabricantes de cigarros

e outros produtos com tabaco coloquem, nas suas propagandas o

alerta de que o fumo prejudica a saúde. Por outro lado, o plantio do

tabaco gera lucro também para os agricultores, assim como trabalho

e renda para os empregados.

Como enfrentar essa realidade e planejar sozinho ações de

promoção da saúde?

É preciso unir esforços, fazer parcerias e contar com medidas

seguras e positivas dos governos federal, estadual e municipal, para

que se obtenha bons resultados.

Compromissos com a Promoção da Saúde

Os compromissos assumidos na Carta de Ottawa foram

muitos, e convidamos você a refletir sobre alguns deles, buscando

descobrir o que cada um deles tem a ver com o seu trabalho.

• lutar contra as desigualdades em saúde, produzidas pelas

regras e práticas das sociedades;

• agir contra a produção de produtos prejudiciais à saúde,

contra a depredação dos recursos naturais, contra as condições

ambientais e de vida não saudáveis e a má nutrição;

• ficar atento aos novos temas de saúde pública: poluição,

trabalho perigoso, questões de habitação e dos assentamentos

rurais.

• reconhecer as pessoas como o principal recurso para a

saúde, apoiá-las e capacitá-las.

• aceitar a comunidade como porta-voz essencial na saúde,

condições de vida e bem-estar.

A Carta de Ottawa considera a ação comunitária como um

ponto central na promoção de políticas públicas saudáveis e reforça

que é preciso que as pessoas recebam informação de acordo com

sua educação e nível de alfabetização. Essa Carta passou a ser

o documento orientador da política de Promoção da Saúde no

Te x t o d e A p o i o n º 1

2 1

Você pode refletir sobreeste, e muitos outros exemplos, e discutir coma sua equipe de saúde ecom a comunidade quaisas ações de promoção quepoderiam ser planejadas,para que as pessoas possam entender os riscosdo fumo e decidir como promover a sua própriasaúde.A responsabilidade pelaPromoção da Saúde nosserviços de saúde deveser compartilhada entre indivíduos, comunidade,grupos, profissionais dasaúde, políticos,dirigentes de instituiçõesque prestam serviços desaúde e governo.

Como você pode perceber, a saúde depende muito das

pessoas, assim como de condições e recursos fundamentais. Mas

quais são as condições e os recursos que são considerados, na Carta

de Ottawa, como fundamentais para a saúde? Eles são:

A Carta de Ottawa afirma que as ações de promoção da

saúde procuram reduzir as diferenças nas condições de saúde da

população e dar oportunidades e recursos iguais para que todas as

pessoas possam cuidar de sua própria saúde. A Carta defende,

assim, o princípio da eqüidade em saúde como fundamental e

necessário (ver glossário no final do texto).

A Promoção da Saúde exige uma ação coordenada entre o

setor saúde (governo) e outros setores sociais e econômicos, orga-

nizações voluntárias e ONGs, autoridades locais, indústria e mídia.

Assim, as parcerias são importantes para que se possa somar

esforços e recursos, para se obter mais e melhores resultados.

Paz Habitação Educação

Alimentação Renda Ecossistema estável

Justiça social Eqüidade

2 0

SAÚDE PARA TODOS NO ANO 2000

Recursos

sustentáveis

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Como você pode observar, para eliminar a fome e a má

nutrição, existem medidas que as prefeituras podem adotar. Elas

podem valorizar os alimentos regionais, ajudar os pequenos pro-

dutores, incentivar hortas comunitárias, patrocinar projetos de plan-

tio individual e familiar, criar sistema local de distribuição de alimen-

tos, organizar feiras do pequeno produtor, preservar ou sanear rios

ou riachos para permitir a atividade da pesca, e muitas outras possi-

bilidades.

Tabaco e álcoolO uso do fumo e o abuso do álcool são dois grandes riscos

à saúde. O fumo não só faz um imenso mal diretamente ao

fumante, como também aos chamados fumantes passivos, especial-

mente crianças. O álcool contribui para distúrbios sociais e traumas

físicos e mentais.

Todos os governos devem estar alertas para o elevado poten-

cial humano perdido por doenças e mortes causadas pelo uso do

fumo e abuso do álcool e devem definir metas significativas para o

Ano 2000 e anos subseqüentes, que reduzam a produção de tabac o

e álcool, assim como o “marketing” das indústrias e o consumo.

Criando ambientes saudáveisPara criar ambientes favoráveis à saúde, é preciso que se

leve em conta que todos os seres vivos dependem uns dos outros

e que se deve preservar os recursos naturais para as necessidades

das gerações futuras. O grande desafio atual e para as novas

gerações é encontrar os meios de continuar produzindo e se

desenvolvendo, sem destruir os recursos naturais do planeta.

Após viajar por alguns documentos fundamentais para a

saúde desses últimos anos, você vai poder ver os reflexos dos com-

promissos assumidos pelo Brasil, a partir de Alma-Ata, no Sistema

Unificado de Saúde - SUS, no texto de apoio nº 2. O SUS que está

contido na Constituição da República de 1988 e é o resultado de

uma luta dos profissionais de saúde, da sociedade civil e do poder

público em defesa da saúde da população brasileira para atingir a

meta de Saúde para Todos.

Te x t o d e A p o i o n º 1

2 3

G L O S S Á R I O

Ambiente favorável – É um

ambiente social e físico onde

as pessoas podem viver vidas

saudáveis: a comunidade,

suas casas, seu trabalho e

lazer. É o contrário de ambi-

ente degradado. É ter, por

exemplo, água potável, ali-

mentação adequada, abrigo,

saneamento, rios preserva-

dos, trabalho seguro...

Ecossistema estável – é o con-

junto de relacionamentos

recíprocos entre um determi-

nado meio ambiente e a flora,

a fauna e os microorganis-

mos que nele habitam, e que

incluem os fatores de equi-

líbrio geológico, atmosférico,

metereológico e biológico.

Eqüidade – É dar condições

para que todas as pessoas

tenham acesso a todos os direi -

tos que lhe são garantidos.

E para que se possa exercer a

eqüidade, é preciso que exis-

tam ambientes favoráveis,

acesso à informação, acesso a

experiências e habilidades na

vida, assim como oportu-

nidades que permitam fazer

escolhas por uma vida mais

sadia. O contrário de eqüi-

dade é ineqüidade, e as

ineqüidades no campo da

saúde têm raízes nas desi-

gualdades existentes na

sociedade.

Parceria – É a aliança de pes-

soas que decidem trabalhar

ou realizar algo por um obje-

tivo comum.

mundo e várias conferências se seguiram para definir as principais

questões levantadas, como Adelaide -1988 (Austrália), Sundsvall -

1991 (Suécia), Bogotá - 1992 (Colômbia) e Jacarta - 1997

(Indonésia). Dentre elas, destacamos a II Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada na cidade

de Adelaide, da qual saiu a Declaração de Adelaide, que identifica

quatro áreas prioritárias para promover ações imediatas em políticas

públicas saudáveis.

Saúde da mulherEstudos internacionais afirmam que as mulheres são as principais

promotoras da saúde em todo o mundo, e grupos e organizações

de mulheres têm sido excelentes organizando,

planejando e pondo em prática as ações de pro-

moção da saúde. A Declaração de Adelaide

defende que todas as mulheres, especialmente as

de grupos étnicos, indígenas ou outras minorias,

têm o direito de decidir sobre sua saúde e devem

ser parceiras no processo de planejamento das

ações destinadas à sua saúde, assegurando sua

identidade cultural.

Como você pode perceber, é preciso que

as mulheres sejam ouvidas, que se procure saber o

que elas pensam sobre a sua saúde e como elas

querem se envolver na promoção de sua própria saúde, de sua

família e de sua comunidade.

Alimentação e nutriçãoAs políticas públicas devem garantir que todas as pessoas

tenham acesso a quantidades suficientes de alimentos de boa quali-

dade e que se respeitem as diferenças de uma região para outra.

Isso significa eliminar a fome e a má nutrição. Para obter resultados

positivos, as políticas de alimentação e nutrição têm que andar j u n t o

com as políticas de agricultura, de economia e com a preservação do

meio ambiente.

2 2

SAÚDE PARA TODOS NO ANO 2000

1 - Apoio à saúde damulher

2 - Alimentação e nutrição3 - Tabaco e álcool4 - Criação de ambientes

saudáveis.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 17

Comissão Nacional da Reforma Sanitária, com a tarefa de formular

as bases para um sistema de saúde brasileiro. Alguns dos integrantes

dessa Comissão fizeram parte da Assembléia Nacional C o n s t i t u i n t e

- conjunto de parlamentares que escreveu a Constituição Federal de

1988. Dessa forma, essa nova maneira de entender saúde está

incluída na Constituição Federal, no artigo 196:

Para promover esse acesso universal e igualitário, foi criado o

Sistema Único de Saúde - SUS, conforme indicado no artigo 198 da

Constituição Federal:

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionali-

zada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de

acordo com as seguintes diretrizes:

I. descentralização, com direção única em cada

esfera de governo;

II. atendimento integral, com prioridade para as

atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços

a s s i s t e n c i a i s ;

III. participação da comunidade.

Descentralização, atendimento integral e participação da

comunidade. Esses três princípios formam a base do Sistema

Único de Saúde. Todas as políticas e ações que tratem de saúde

devem incluir esses três princípios, que foram detalhados nas leis

8.080 e 8.142, publicadas em 1990.

A lei 8.080 detalha a organização do SUS, que se baseia na

descentralização das ações e políticas de saúde, e trata das

condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, que

devem promover o atendimento integral à população.

A lei 8.142 fala sobre a participação da comunidade no

acompanhamento das políticas e ações de saúde, criando os

conselhos de saúde e as conferências de saúde. Os conselhos de

saúde são grupos formados por representantes de diversos setores

da sociedade, os segmentos:

governo - Secretarias de Saúde, Ministério da Saúde;

prestadores de serviços de saúde - hospitais e clínicas particu-

Te x t o d e A p o i o n º 1 - A

2 5

“A saúde é direito detodos e dever do Estado,garantido mediantepolíticas sociais eeconômicas que visem àredução do risco dedoença e de outrosagravos e ao acesso uni-versal e igualitário àsações e serviços para suapromoção, proteção erecuperação”

Até uns trinta anos atrás, a idéia de saúde estava associada a

ausência de doenças. Depois começou-se a perceber que as

doenças estavam associadas aos hábitos de vida, aos ambientes em

que as pessoas viviam e a comportamentos e respostas dos indiví-

duos a situações do dia-a-dia. A idéia de saúde passou a ser, por-

tanto, entendida como resultado de um conjunto de fatores que

têm a ver com o saneamento básico, que têm a ver com a

condição social das pessoas, que têm a ver com seu trabalho,

que têm a ver com sua renda, que têm a ver com

seu nível de educação, e assim por diante.

Por outro lado, a assistência à saúde

da população estava limitada à condição de

trabalho. Quem tinha emprego registrado na

carteira profissional possuía assistência médica

através das Caixas de Previdência, ou então pagava

médicos particulares e, em casos de internação,

também pagava pelo serviço. Para quem não

tinha emprego registrado ou não podia pagar um

médico, o jeito era recorrer às Santas Casas de

Misericórdia ou aos postos de saúde municipais, que

viviam sempre lotados. Para equilibrar essas

desigualdades, começou a surgir um movimento de

Reforma Sanitária no Brasil, inspirado em experiên-

cias de outros países e nas discussões que aconte-

ceram na Conferência de Alma-Ata (veja Texto de

Apoio nº 1-A). Esse movimento defendia que todos

deveriam ter amplo acesso aos serviços de saúde,

independentemente de sua condição social, e que a

saúde deveria fazer parte da política nacional de

desenvolvimento e não ser vista apenas pelo lado da

previdência social.

A partir de 1985, começaram os preparativos para

a elaboração da Constituição Federal. Em 1986, foi reali-

zada a 8ª Conferência Nacional de Saúde e criada a

O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

2 4*Texto elaborado pelo Departamento de Atenção Básica e revisto pelaSecretaria Executiva do Conselho Nacional de Saúde.

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Te x t o d e A p o i o n º 1 - A

2 7

lares, empresas de planos de saúde;

profissionais de saúde - associações de médicos, enfermeiros,

psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de nível superior,

trabalhadores de saúde de nível médio; e

usuários - associações de moradores, de portadores de doenças

crônicas, de deficiências físicas e mentais, instituições de pesquisa,

entidades religiosas, etc.

Os conselhos de saúde atuam na “formulação de estraté-

gias e no controle da execução da política de saúde,” de acordo com

o nível de governo que cada um representa. Assim, o Conselho

Nacional de Saúde realiza esse trabalho em nível federal, com o

Ministério da Saúde; o Conselho Estadual de Saúde atua com a

Secretaria Estadual de Saúde; e o Conselho Municipal de Saúde atua

com a Secretaria Municipal de Saúde. Os conselhos se reúnem, em

média, uma vez por mês, e as decisões e ações definidas durante as

reuniões devem ser homologadas pelos gestores, nos seus respectivos

níveis de governo.

Assim como os conselhos, as conferências de saúde

reúnem também os representantes dos diversos setores da

sociedade. Esses representantes são escolhidos por voto ou por

indicação. As conferências propõem ou indicam ações e políticas e

devem acontecer a cada quatro anos, sendo convocadas pelo diri-

gente da saúde, de acordo com o nível de governo. A Conferência

Nacional de Saúde é convocada pelo Ministro da Saúde; a

Conferência Estadual pelo Secretário Estadual de Saúde; e a

Conferência Municipal, pelo Secretário Municipal de Saúde.

De 1990 para cá, pouco a pouco o Sistema Único de Saúde

foi deixando de ser um conjunto de leis e princípios detalhados no

papel para começar a se transformar em realidade. Esse processo

leva tempo: às vezes vai avançando bem, às vezes pára um pouco,

ou anda mais devagar. Isso porque, com a descentralização das

ações, começou também a municipalização, ou seja, o dinheiro federal

começou a ser repassado diretamente aos municípios que passaram

a decidir onde utilizá-lo, de acordo com suas realidades e os respectivos

Planos de Saúde.

A sociedade, através dos representantes reunidos no

2 6

O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:55 Page 21

Te x t o d e A p o i o n º 1 - A

2 9

Conselho Municipal de Saúde, passou a poder participar da

definição das ações e das políticas, com o Secretário Municipal de

Saúde. Para que essa participação começasse a acontecer, foi pre-

ciso que as comunidades começassem a se organizar. Imagine só o

trabalho que dá, até que cada um passe a compreender os novos

papéis e responsabilidades das Secretarias de Saúde, dos Técnicos,

dos Conselheiros e tantos outros!

Hoje, a participação da comunidade nos conselhos de saúde

está mais forte, mais organizada, e isso vai se refletir na atuação

desses conselhos, pois as instituições do segmento usuários (associa-

ç õ e s de moradores, grupos de portadores de doenças crônicas,

deficientes físicos e/ou mentais, instituições de pesquisa, entre outros)

possuem a metade do número de lugares existentes nos conselhos.

A outra metade é dividida entre os representantes do governo,

profissionais de saúde e prestadores de serviços.

Ao exercer esse direito de cidadania, passa a perceber a sua

responsabilidade na construção de uma sociedade com maior eqüi-

dade, ou seja, onde as desigualdades sociais sejam menores, onde

todos os indivíduos possam exercer seu direito de cidadania.

Mas a participação da comunidade não acontece somente no

conselho de saúde ou na conferência de saúde. Ela acontece tam-

bém no dia-a-dia de seu trabalho como agente de saúde em sua

comunidade, fazendo com que mais e mais pessoas possam ter

acesso a informações e orientações sobre como cuidar de sua saúde

e da saúde de sua família, acompanhando essas pessoas durante seu

tratamento na unidade de saúde, discutindo com elas sobre os

problemas de saúde da comunidade e as soluções possíveis.

E assim, você vai escrevendo uma parte – a sua parte – da história da

implementação do Sistema Único de Saúde no Brasil!

2 8

G L O S S Á R I O

Caixa de Previdência

– Cooperativas de trabalhadores

que tinham como objetivo garan-

tir uma pequena aposentadoria a

trabalhadores acidentados ou

pensões a suas famílias. As p r i -

meiras cooperativas foram cria-

das, pela Lei Eloy Chaves, em

1923. Em 1930, foram criados os

Institutos de Aposentadorias e

Pensões, que eram organizados

de acordo com as categorias de

profissões. Por exemplo, o pessoal

que trabalhava na indústria con-

tribuía com uma parte de seu

salário para o IAPI (Instituto de

Aposentadorias e Pensões da

Indústria), o pessoal do comércio

com o IAPC, e assim por diante.

Reforma Sanitária – Movimento

que tinha uma proposta de

mudança do sistema de saúde no

Brasil, surgido a partir de 1960 e

que aos poucos foi ganhando força

como movimento social. Formado

por estudantes de Medicina, pro-

fessores universitários, sociólogos

e antropólogos, o movimento pela

reforma sanitária defendia que

todas as pessoas, independente-

mente da classe social, deveriam

receber assistência médica sem-

pre que necessitassem e que o

governo precisava garantir ações

para a prevenção de doenças,

assim como proporcionar a melho-

r i a das condições de saúde da

população.

M u n i c i p a l i z a ç ã o – Tr a n s f e r ê n c i a

para os municípios do direito e da

responsabilidade de controlar os

recursos financeiros, as ações de

saúde e a prestação de serviços

em seu território. Com a muni-

cipalização da saúde, o município

passa a ser o responsável pelo

dinheiro depositado pelo Minis-

tério da Saúde e pelos Estados

em sua conta, como também do

dinheiro que arrecada com os

impostos municipais.

Controle social – É o controle que a

sociedade tem com o poder público,

quando participa do estabeleci-

mento das políticas de saúde e con-

trola a execução dessas políticas,

discutindo as prioridades e fiscali-

zando a utilização do dinheiro

público destinado para a saúde. Os

conselhos e as conferências de

saúde são instrumentos de con-

trole social.

D e s c e n t r a l i z a ç ã o – É um dos

princípios básicos do Sistema

Único de Saúde: é o prefeito e o

secretário de saúde quem vão

decidir sobre a política local de

saúde: onde e como usar os recur-

sos que existem, quais as áreas de

risco para a saúde das comu-

nidades, etc.

Atendimento integral – É outro

princípio básico do SUS.

Qualquer pessoa tem o direito de

ser atendido de maneira integral

nas unidades de saúde: desde

receber informações sobre como

cuidar de sua saúde e como se

prevenir de doenças, até receber

assistência para problemas de

saúde, dos mais simples até aque-

les que necessitam de tratamen-

tos mais complexos.

Acesso universal e igualitário –

Significa dizer que todos os

cidadãos brasileiros têm o direito

de receber assistência, em con-

dições iguais, nas unidades públi-

cas de saúde. O atendimento é gra-

tuito e o tipo de assistência a ser

recebida vai depender da gravi-

dade da doença que a pessoa tiver.

O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 23

A Conferência de Alma-Ata aponta que a atenção primária à saúde é a chave

para que a meta de Saúde para Todos seja atingida com justiça social. Isso porque

essas ações correspondem, em média, a 80-85% das necessidades de saúde de uma

comunidade, ou seja, a cada 100 pessoas que procuram uma unidade de saúde (posto

ou centro de saúde), entre 80 e 85 dessas pessoas vão precisar de cuidados que

podem ser prestados naquela unidade.

Um dos objetivos do Sistema Único

de Saúde é fazer com que as pessoas possam

contar com:

• amplo acesso aos serviços de saúde, sem-

pre que haja necessidade de atendimento;

• atendimento a todas as suas necessidades

de saúde, desde uma orientação sobre

como prevenir uma doença até o exame

mais complexo;

• assistência de acordo com a gravidade da

doença que essas pessoas apresentem.

A criação do PACS, pelo Ministério da

Saúde, foi uma das primeiras estratégias para

se começar a mudar o modelo de assistência

à saúde, ou seja, a forma como os serviços

de saúde estão organizados e como a popu-

lação tem acesso a esses serviços. Ao per-

correr as casas para cadastrar as famílias e

identificar os seus principais problemas de

saúde, o trabalho dos primeiros agentes contribuiu para que os serviços de saúde

pudessem oferecer uma assistência mais voltada para a família, de acordo com a reali-

dade e os problemas de cada comunidade. Por exemplo, numa comunidade, a

incidência de diarréia acontecia por conta da água do poço que estava contaminada,

em outra era por conta do hábito de não proteger adequadamente as caixas d’água.

As pessoas procuravam o posto de saúde ou iam direto ao hospital para se tratar,

recebiam remédio, mas daí a pouco estavam doentes de novo. A partir do trabalho

de agentes comunitários de saúde como você, visitando as casas, observando os

hábitos de vida e identificando os fatores de risco, as diferentes causas para o mesmo

problema de saúde puderam ser identificadas e o problema foi resolvido.

Te x t o d e A p o i o n º 1 - B

3 1

No capítulo a seguir, você vai ficar sabendo de que forma pode agir para ser um

agente de mudanças na comunidade.

Mas antes de prosseguirmos, vamos falar um pouco sobre atenção básica em

saúde. Se você leu o prefácio, lá no início deste manual, vai perceber que está assina-

do Departamento de Atenção Básica. Pois esse é o novo nome da Coordenação de

Saúde da Comunidade, aquele setor do Ministério da Saúde responsável pela gerência

do PACS e do Programa de Saúde da

Família (PSF) em todo o país.

Você deve estar se perguntando por que

mudou o nome? É sobre isso que vamos falar.

Em seu trabalho, você leva infor-

mações sobre como prevenir doenças, e

acompanha a saúde das pessoas e famílias,

pesando crianças, verificando se estão com

as vacinas em dia, se as gestantes estão

comparecendo ao pré-natal, se apresen-

tam algum sintoma fora do habitual. Por

outro lado, na unidade de saúde, as pes-

soas que você encaminha são examinadas,

e dependendo do caso, recebem medica-

mentos, fazem exames como o preventivo

de câncer de colo do útero, sofrem

pequenas cirurgias como retirada de sinais

da pele, unhas encravadas, etc. Estas ações

são exemplos do que chamamos de primeiro nível de assistência, ou assistência

primária, ou atenção primária, ou atenção básica. As ações mais complexas são chamadas

de segundo nível de assistência, ou atenção secundária ou média complexidade, e

aquelas cirurgias para transplantes de coração, rins, ou de outros órgãos, exames em

equipamentos caros e de alta precisão constituem os grupo de ações de atenção

terciária ou de alta complexidade.

3 0

ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE*

*Texto elaborado pela Equipe do Departamento de Atenção Básica

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Te x t o d e A p o i o n º 1 - B

3 33 2

Um outro aspecto importante para a mudança do modelo de assistência à

saúde é o envolvimento da equipe de saúde com o dia-a-dia da comunidade. Essa

equipe tem o compromisso de organizar o serviço de saúde, de um jeito onde você,

Agente Comunitário de Saúde, tenha um papel fundamental na orientação das famílias,

no encaminhamento de problemas que não pode resolver e na sua atuação em situações

que sinta segurança e capacidade para intervir. Essa equipe da qual você faz parte também

é responsável pelo seu treinamento e pela divisão do trabalho. Por exemplo, o médico

tem atribuições na equipe que só ele pode fazer, o mesmo acontece em relação ao

trabalho do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e de outros profissionais. Você é o

elemento da equipe que realiza a vigilância à saúde, melhor dizendo, é a ponte entre

as famílias, a comunidade e a unidade de saúde.

O PACS e o Programa de Saúde da Família (PSF) já vêm mostrando isso no

Brasil e por essa razão são considerados estratégias para organização da atenção básica

nos municípios. A proposta do Ministério da Saúde é ampliar para 20 mil o número de

equipes do PSF e, 150 mil, o número de agentes comunitários de saúde, até o ano

2.002. Levando-se em conta que cada agente atende, em média, 575 pessoas, serão

86.250.000 de pessoas acompanhadas. Já pensou?

Em muitos municípios, as pessoas já não falam mais PACS ou PSF, mas Saúde

da Família. Isto porque Saúde da Família vem demonstrando ser o modelo

de assistência à saúde que mais se aproxima dos princípios indicados na Constituição

Federal (Volte lá no Capítulo 1 e releia o texto O Sistema Único de Saúde): todas

as pessoas cadastradas são atendidas na unidade de Saúde da Família (universalidade),

com igualdade de direitos para todos (eqüidade), recebendo assistência naquilo em

que necessita (integralidade), de forma permanente e pela mesma equipe (criação de

vínculos). Dessa forma, recebem orientações sobre cuidados de saúde e são mobi-

lizados (incentivo à participação popular) sobre como manter a sua saúde, de suas

famílias e de sua comunidade, compreendendo a relação entre as doenças e estilos

e hábitos de vida.

Para promover a organização da atenção básica no País, municípios, Estados e

governo federal vêm definindo suas responsabilidades, firmando um grande pacto para

acompanhar os resultados alcançados. Um importante instrumento para este acom-

panhamento é o Manual para a Organização de Atenção Básica, elaborado em

conjunto pelo Ministério da Saúde e por Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.

Como você pode perceber, isso tudo representa um movimento novo, que vem

unindo os três níveis de governo em torno de um compromisso voltado para a qualidade

de saúde e de vida da população. E você, agente, está envolvido neste amplo movimento

de mudança, pois faz parte do sistema municipal de saúde, uma vez que com seu tra-

balho, pode contribuir e muito nesse processo. Vamos para o próximo capítulo?

ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 27

Ser Agente Comunitário de Saúde é, antes de

tudo, ser alguém que se identifica em todos os

sentidos com a sua própria comunidade, principal-

mente na cultura, linguagem, costumes; precisa

gostar do trabalho. Gostar principalmente de

aprender e repassar as informações, entender que

ninguém nasce com o destino de morrer ainda

c r i a n ç a ou de ser burro. Nós vivemos conforme o

a m b i e nt e. É preciso ver que saúde não é só coisa de

doutor e que favelado tem que cuidar de saúde, sim.

É obrigação dos Agentes Comunitários de

Saúde lutar e aglomerar forças em sua comu-

nidade, município, Estado e país, em defesa dos

serviços públicos de saúde, pensar na recuperação

e democratização desses serviços, entendendo que

é o serviço público que atende à população pobre e

é preciso torná-lo de boa qualidade.

Precisamos lutar também por outros

fatores que são determinantes para a saúde, como :

trabalho, salário justo, moradia, saneamento

básico, terra para trabalhar e participação nas

esferas de decisão dos serviços públicos.”

Tereza Ramos de Souza -

Agente Comunitária de Saúde – Guarabira, Casa

Amarela, Recife-PE.

3 4

O ACS - Um Agente de MudançasNeste capítulo, você vai conhecer a missão dos

Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS)

e Saúde da Família (PSF), e como você e seu t r a b a l h o

estão inseridos na tarefa maior de organização da

atenção básica no sistema municipal de saúde

C A P Í T U L O I I

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 29

3 7

uma estratégia transitória para o PSF. À medida que os municípios vão instalando asunidades de Saúde da Família, vão incorporando os agentes comunitários já exis-tentes às suas equipes.

Vou dar um exemplo. Imaginem um município que já tenha o PACS há unsquatro anos e tenha uns 150 Agentes Comunitários de Saúde. O Prefeito, o seusecretário e o conselho municipal de saúde decidem então que é possível implantar oPSF. Mas que ainda não é possível transformar todos os seus centros de saúde emUnidades de Saúde da Família, por não ter médicos e enfermeiros suficientes paraisso. O que fazer, então?

A Secretaria Municipal de Saúde começa a estruturar os centros de saúde quepodem se transformar em Unidades de Saúde da Família e para isso incorporam de 6a 10 Agentes Comunitários de Saúde a cada equipe de Saúde da Família. E o municípiovai continuar com os dois programas até que todas as equipes do município sejamequipes de Saúde da Família.

No caso do nosso município vai ser parecido, pois ainda não temos agentescomunitários nem equipes de Saúde da Família. Então vamos começar com duasequipes de Saúde da Família para transformar os dois centros de saúde dos bairrosde Novo Horizonte e Barreiras em Unidades de Saúde da Família, contratandoAgentes Comunitários de Saúde e depois os outros profissionais das equipes do PSF.Nos outros bairros, neste primeiro momento, vamos começar só com o trabalho dosAgentes.

Moacir: Que negócio é esse de estratégia?

Secretário de Saúde: Estratégia é a maneira, o instrumento que você utilizaquando quer alcançar alguma coisa. Por exemplo, num jogo de futebol: de acordo como estilo de jogar do adversário, o técnico utiliza estratégias para ganhar o jogo, comojogar mais avançado, mais recuado ou fazer o ataque sempre pela direita, se este foro lado mais fraco da defesa do outro time.

O PACS é uma estratégia transitória para o PSF, porque o que nós estamosquerendo fazer aqui na saúde do município é melhorar a qualidade da assistência quevocês recebem e reduzir a quantidade de doenças que podem ser facilmente evitadas.Para isso, escolhemos trabalhar com equipes de Saúde da Família, pois andei visi-tando e conversando com os secretários aqui das redondezas e vi como a situação desaúde nos municípios que estão trabalhando com Saúde da Família mudou: as pessoasestão mais alegres, sentem confiança no trabalho dos médicos e da equipe e já nãoadoecem tanto como há uns dois anos.

M a r l e n e: “Seu” secretário, e o agente de saúde nessa história? Quem é ele,o que ele faz?

Secretário de Saúde: Minha jovem, o Agente Comunitário de Saúde é umtrabalhador, mulher ou homem, que integra a equipe local de saúde ou a equipe de

O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS

3 6

Numa reunião da comunidade que acontece todo mês, Francisco, um lídercomunitário, trouxe o secretário de saúde do município para explicar aos moradoressobre as duas estratégias para organização do sistema de saúde no município que aprefeitura estava trazendo para a cidade: o Programa de Agentes Comunitários deSaúde (PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF).

Todos ficaram curiosos com a notícia, mas queriam saber mais sobre os pro-gramas, principalmente sobre os Agentes Comunitários de Saúde, pois já tinham ouvi-do pelo rádio e visto na televisão notícias sobre eles. Tinham muitas perguntas a fazerao secretário que se mostrou simpático e pronto a responder.

“Seu” João: Secretário, o que éPA C S ?

Secretário de Saúde: PACS éum programa criado peloMinistério da Saúde, e vemsendo desenvolvido em parceriacom as Secretarias Estaduais eas Secretarias Municipais deSaúde. O objetivo é fazer com queas pessoas da comunidade seprevinam de doenças, a partir de

informações sobre cuidados de saúde, e tenham sua saúde acompanhada, de formapermanente, pelos Agentes Comunitários de Saúde.

“Dona” Maria: E o outro programa é o quê?

Secretário de Saúde: O PSF é também desenvolvido em parceria com os Esta-dos e os municípios brasileiros. Cada equipe de Saúde da Família possui, no mínimo,um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 5 a 6 agentes comunitáriosde saúde. É preciso que o Prefeito, juntamente com o seu secretário de saúde, trans-forme os centros de saúde do município em unidades de Saúde da Família. Cadaequipe é responsável pelas famílias da sua área, que pode ser um bairro ou uma partedo bairro. Seus profissionais devem trabalhar 8 horas por dia e morar na cidade ondetrabalham.

Os moradores estavam querendo saber mais sobre os Agentes Comunitários deSaúde, e várias perguntas foram feitas:

Fátima: Tem agentes comunitários nos dois programas? Por quê?

Moacir: O município pode ter os dois programas?

O secretário decidiu responder logo as duas primeiras perguntas: Secretário de Saúde: Tem, sim. Por conta disso é que o PACS é considerado

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 31

atividades comuns a todas as comunidades, mas há cidades e outros locais que pre-cisam de atividades especiais para as suas comunidades.

EXEMPLOS DE ATIVIDADES REALIZADAS PELO A C S

• Faz o cadastramento das famílias da sua área de trabalho;

• faz o mapeamento da sua área de trabalho;

• analisa com a equipe de saúde as necessidades da sua comunidade, participan-do do diagnóstico de saúde da comunidade;

• atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de controle das doençasendêmicas (cólera, dengue, doença de chagas, esquistossomose, febre amarela e outras);

• atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de promoção e proteção dasaúde da criança, da mulher, do adolescente, do idoso e dos portadores de deficiênciafísica e de deficiência mental;

• atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de promoção da saúde e pre-venção do câncer de mama e câncer do colo do útero, da hipertensão e do diabetes, datuberculose e da hanseníase;

• participa das ações de saneamento básico e melhoria do meio ambiente;

• estimula a educação e a participação comunitária.

A instrutora-supervisora disse que tinha mais alguns cartazes que mostravamoutras atividades do ACS e perguntou se eles queriam que ela continuasse a falarsobre isso. Francisco achou que seria interessante conhecer um pouco mais sobre otrabalho do ACS, pois parecia um trabalho muito importante. Inês então continuou afalar, agora sobre algumas atividades com gestantes e crianças.

ATIVIDADES QUE O ACS FAZ COM GESTANTES E CRIANÇAS

• Identifica e cadastra todas as gestantes da sua área de trabalho,preenchendo a Ficha B do cadastramento.

• encaminha todas as gestantes da sua área de trabalho à Unidadede Saúde para fazer o pré-natal;

• orienta todas as gestantes sobre a importância de fazeremo pré-natal;

• acompanha todas as gestantes, através do Cartão daGestante;

3 9

Saúde da Família. Ele deve conhecer bem sua comunidade para poder fazer o cadas-tramento de todas as famílias da microárea onde trabalha. Com este cadastro que eleleva para a unidade de saúde, é possível levantar todas as partes da comunidade ondehá riscos para a saúde das pessoas e famílias. Por conta deste levantamento, o agenteorganiza sua agenda de trabalho, pois ele tem que visitar, pelo menos uma vez pormês, umas 500, ou melhor, 575 pessoas, prestando cuidados primários e auxiliando-as a cuidar da própria saúde através de ações individuais e coletivas.

E tem mais. Para ser ACS é preciso morar na comunidade há pelo menos doisanos, saber ler e escrever. A seleção é feita através de prova escrita e entrevistas indi-vidual e coletiva. O ACS é treinado e orientado em seu trabalho por um enfermeiro,chamado de instrutor-supervisor. Esse enfermeiro fica na unidade de saúde. Ah, parafalar do que ele faz, eu trouxe aqui comigo a Inês, que é uma instrutora-supervisorado PACS no município vizinho do nosso. Ela trouxe uns cartazes e vai falar com maisdetalhes e mostrar para vocês o que o ACS faz.

Inês: O ACS é um elo entre a comunidade e os serviços de saúde, mas que émuito mais que isso. Ele ajuda as pessoas a encontrar soluções mais eficazes para osseus problemas. Assim, o Agente Comunitário de Saúde ajuda as pessoas e os serviçosde saúde:

• identificando áreas e situações de risco individual e coletivo;

• encaminhando as pessoas doentes às unidades de saúde;

• orientando a promoção e a proteção da saúde;

• acompanhando o tratamento e reabilitação das pessoas doentes, orientadas pelas Unidades de Saúde;

• mobilizando a comunidade para a conquista de ambientes e condiçõesfavoráveis à saúde;

• notificando aos serviços de saúde as doenças que necessitam de vigilância.

Vocês podem ver que o ACS exerce muitas funções, como a de promotore defensor da saúde, de mobilizador da comunidade e de vigilante da saúde,a depender das ações que realiza. Alguma pergunta?

Marlene: Eu tenho. Para fazer tudo isso ele é treinado? Inês: É claro que ele é treinado e quem dá o treinamento é um

enfermeiro ou uma enfermeira que é chamada de instrutora-supervisora,como eu. Vocês podem se candidatar a ser um ACS. Mais adiante eu vouexplicar para vocês o que é preciso para ser um ACS.

Vamos ver agora este cartaz? Este é sobre alguns exemplos deatividades realizadas pelo ACS. São exemplos, porque há algumas

3 8

O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS

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• os bebês que não são amamentados no peito;

• os bebês que nascem com menos de 2 quilos e meio;• os filhos de mães que fumam, bebem bebidas

alcoólicas e usam drogas na gravidez;

• as crianças que estão desnutridas;

• as gestantes desnutridas;

• as gestantes que têm pressão alta e não fazempré-natal;

• as gestantes menores de 20 anos e, também,mulheres que engravidam depois dos 36 anos.

Inês (continuando a falar): Nesses casos, essas pes-soas têm mais chance de ficar doentes e até morrer, senão forem tomadas as providências necessárias.

Francisco: Se “dona” Inês me permite um aparte,já vi gente ficar doente por conta de:

• falta de água tratada;

• lixo jogado em qualquer lugar;

• mau uso de venenos na lavoura;

• desmatamento das florestas;

• poluição dos rios.

Inês: O que “seu” Francisco falou é verdade. Existem situações que aumentamo risco de as pessoas ficarem doentes, mas também existem situações que impedemas pessoas de irem até os serviços de saúde, quando estão em risco de vida ou até parase prevenirem contra as doenças. Nesses casos, as barreiras que impedem as pessoasde se locomoverem até as Unidades de Saúde podem aumentar o risco e até levá-lasà morte. Existem barreiras geográficas, como o mar, rios, lagoas, morros, serras,locais sem acesso, assim como barreiras temporais, como o engarrafamento no trân-sito, transportes bastante lentos, e outros. E até barreiras culturais que impedem aspessoas de cuidarem adequadamente da sua própria saúde.

I n ê s: Vamos falar um pouco sobre as Microáreas de Risco. São áreas pequenas,

4 1

• cadastra todas as crianças de 0 a 5 anos. No cadastramento que faz dafamília, o ACS registra o número de crianças, por idade;

• acompanha o desenvolvimento físico e psicológico das crianças de 0 a 5 anosde idade, através do Cartão da Criança;

• incentiva a vacinação e acompanha o esquema de vacina das crianças,através do Cartão da Criança;

• estimula o aleitamento materno;

• identifica as crianças com diarréia e promove o uso do SRO - sais de rei-dratação oral;

• identifica, logo no início, as crianças com infecções respiratórias agudas, asIRAs. Encaminha as crianças aos serviços de saúde, quando necessário. Orienta asmães e familiares sobre a prevenção e o tratamento. Acompanha as crianças para quefiquem logo curadas.

A instrutora/ supervisora falou que o ACS é treinado também para orientar aspessoas:

• nos cuidados de higiene com o corpo, com a água de beber, com a casa, nopreparo dos alimentos;

• na construção de privadas ou “casinhas”;

• nos cuidados com o lixo.Inês destacou quatro ações importantes que o agente comunitário faz:

• identifica áreas e situações de risco individual e coletivo;

• encaminha as pessoas que vivem essas situações e nessas situações aosserviços que podem ajudar a resolvê-los;

• orienta as pessoas, de acordo com as instruções da equipe de saúde;

• acompanha as pessoas, para ajudá-las a conseguir bons resultados.

D. Josefa: Dona Inês, o que são situações de risco?Inês: São aquelas situações em que uma pessoa ou grupo de pessoas “corre

perigo”, isto é, tem maior chance de adoecer ou mesmo morrer. O local onde essassituações de risco ocorrem são chamadas de Microáreas de Risco. Vamos ver unsexemplos de situações de risco? Estão em situação de risco:

4 0

O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS

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• saber ler e escrever;

• dispor de oito horas diárias para trabalhar.

Moacir: É, “dona” Inês, mas ele precisa também:• conhecer os problemas da comunidade;• gostar de aprender coisas novas;• gostar de conversar com as pessoas: falar e ouvir;• gostar de observar as pessoas, as coisas, os ambientes;• ser ativo e ter iniciativa.

Inês (olhando para o Secretário de Saúde): É, pelo visto, secretário, vamos terum monte de candidatos a ACS na próxima seleção!

A instrutora-supervisora elogiou o comentário de Moacir e acrescentou que,como já tinha falado antes, o ACS para fazer o seu trabalho vai receber vários treina-mentos e ser acompanhado por um profissional enfermeiro, o instrutor-supervisormunicipal, que tem a responsabilidade de treinar e supervisionar o trabalho de até 30agentes.

Antes de encerrar a reunião, Francisco agradeceu as presenças do secretáriode saúde, da instrutora-supervisora e pediu para que ela dissesse como era a ligaçãodo ACS com o PACS e quando é que o ACS é um agente de mudanças. Ela mostrouum cartaz que dizia:

O ACS trabalha com acoordenação municipal do PACS que trabalha com a

coordenação regional do PACS que trabalha com a

coordenação estadual do PACS que trabalha com o

Departamento de Atenção Básica

Inês: O Agente Comunitário de Saúde é um agente de mudanças, quandoprocura aprender com as experiências das pessoas, com os profissionais de saúde,compartilhando o que foi aprendido com a própria comunidade. Agindo assim, estarásempre num processo de aprendizagem e transformação, crescendo junto com as pes-soas da sua comunidade no entender, no saber e no fazer, não somente na área dasaúde, mas também no despertar do potencial humano e da consciência coletiva.

4 34 2

O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS

daí o nome micro, onde existe perigo, ameaça, risco. Para o Agente Comunitário deSaúde, Microárea de Risco é todo aquele lugar, setor ou situação, no território dacomunidade, onde existe algum tipo de perigo para a saúde das pessoas que moramali. Os exemplos que o “seu” Francisco nos deu há pouco foram de Microáreas deRisco. Vamos ver outros exemplos?

Esgoto a céu aberto é uma das Microáreas de Risco que o Agente Comunitáriode Saúde mais costuma encontrar. Tanto na periferia das cidades como na zona rural,há muitos esgotos a céu aberto.

Água de poço também pode ser uma ameaça à saúde das pessoas. Sempreque a comunidade usa água que não é encanada, sem o devido tratamento, o AgenteComunitário de Saúde deve ficar atento e orientar como tratar a água em casa, alémde mobilizar as pessoas para que elas possam tomar providências para sanear o poçoou buscar ajuda para isto.

Riacho é igualmente uma ameaça à saúde das pessoas. A água está contami-nada e as pessoas não podem usar a água para tomar banho, lavar roupa, e até ospeixes não servem para ser consumidos.

Isolamento - a distância às vezes isola as pessoas e elas acabam não queren-do levar os filhos às unidades de saúde para vacinar; as gestantes não vão fazer o pré-natal; os idosos acham difícil ir tão longe.

Inês: Existem algumas situações de risco que podem ser resolvidas indivi-dualmente, como uma gestante em situação de risco que, fazendo o pré-natal comple-to e sendo acompanhada de acordo com as orientações da unidade de saúde, pode tero seu filho e não ter complicações no parto. Mas há situações que só poderão serresolvidas coletivamente, através da participação das pessoas da comunidade nabusca de soluções, dentro da própria comunidade, ou procurando parcerias ou pres-sionando as autoridades e serviços públicos a fazer a sua parte.

Inês: Meu tempo está acabando, mas ainda falta eu dizer o que é preciso paraser um ACS, já que eu percebi quetem aqui interessados.... O A C Sdeve ser:

• uma pessoa que mora nacomunidade onde vai trabalhar, hápelo menos dois anos;

• ter no mínimo 18 anos;

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 37

saúde (por médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem), procu-

rando refletir com a pessoa sobre todas as dificuldades que ela

enfrenta ou vai enfrentar durante o período em que se encontra

em tratamento.

Acompanhar - esta é uma ação que significa dar assistên-

cia às pessoas da sua comunidade que estão em situação de risco.

Exemplos: mulheres gestantes, puérperas, recém-nascidos, crianças,

adolescentes, idosos, hipertensos, diabéticos, outros.

Esta é uma ação muito gratificante para você como agente

de saúde, pois é quando pode ver resultados satisfatórios, tais

como acompanhar um pré-natal com o Cartão da Gestante, ver a

criança n a s c e r, acompanhar a mãe durante o resguardo, acompanhar

a criança com o Cartão da Criança, e ver a família crescendo saudável.

Todas as ações são importantes e a soma de todas elas vai

qualificar o seu trabalho. Assim, você precisa pensar nas quatro

ações, todas as vezes que tiver que lidar com um problema de

saúde na sua microárea.

É preciso que você compreenda que cada pessoa da sua

microárea precisa participar das discussões sobre a saúde e o meio

ambiente em que vive, a fim de que possa tomar decisões sobre o

que fazer, como preservar, como evitar, como reivindicar e muitas

outras ações.

Não se pode pensar em tratar a comunidade como se ela não

precisasse aprender nada, só obedecer. Precisamos de uma comu-

nidade educada, atuante e que tenha voz, a fim de que possa exerci-

tar a autoconfiança e construir alianças com outras comunidades ou

com pessoas que possam ajudar a promover a saúde e ambientes

favoráveis para viver.

Agindo assim, você pode ajudar, e muito, as pessoas a

aumentarem o seu poder de decisão, e entenderem que também

são responsáveis por sua saúde e de sua comunidade.

Um dos frutos desse trabalho é a valorização dos autocuidados

que significa que cada pessoa pode e deve cuidar da sua própria saúde.

Te x t o d e A p o i o n º 2

4 5

Após sete anos de implantação do PACS, já se pode constatar

uma expansão considerável dos Agentes Comunitários de Saúde,

assim como expansão das ações de promoção da saúde e prevenção

de doenças. Das ações que priorizam as crianças e as mulheres às

mais abrangentes, que já envolvem os demais membros da família da

sua área, você precisa estar atento a quatro verbos importantes no

seu trabalho e que refletem a maioria das suas ações:

Identificar - esta é uma ação que precisa de muita atenção.

É preciso que você esteja treinado (a) para ouvir e para reconhecer

fatores de risco e sinais de alerta de determinadas doenças, a fim de

poder encaminhar as pessoas corretamente à unidade de saúde.

Você deve estar sempre atento aos problemas de saúde das

famílias de sua microárea, identificando com eles os fatores sócio-

econômicos, culturais e ambientais que estão afetando a saúde da

comunidade.

Ao identificar qualquer problema de saúde, você precisa con-

versar com a pessoa e ou seus familiares e depois encaminhá-la à

unidade de saúde para um diagnóstico seguro.

Encaminhar - esta é uma ação que precisa de muito jeito e

muito cuidado. É um momento muito delicado, porque é o

momento em que você faz a ligação entre a comunidade e a

unidade de saúde e precisa estar bastante entrosado com a sua

equipe, a fim de que as pessoas encaminhadas possam ser atendi-

das com atenção e eficiência e possam ter sua saúde de volta. Muitas

vezes, você vai precisar levar a pessoa até a unidade, quando ela

não tiver condições de ir sozinha. Nestes casos, encaminhar não sig-

nifica apenas enviar, mas significa conduzir, ir com a pessoa.

Orientar - esta é uma ação que você realiza diariamente.

É a ação de examinar cuidadosamente os diferentes aspectos de um

problema com as pessoas, para encontrar com elas as melhores

soluções. Assim, após o diagnóstico, v o c ê precisa orientar a pessoa

e ou familiares em relação às recomendações feitas pela unidade de

4 4

O ACS EM AÇÃO*

IdentificarEncaminhar

OrientarAcompanhar

*Texto elaborado pela equipe técnica do Departamento de Atenção Básica, a partir da prática cotidiana dos Agentes Comunitários de Saúde.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 39

i n t e r r o m p i d o .

• muitas vezes a pessoa que tem tuberculose tem uma história de

alcoolismo e fumo.

• na maioria das vezes são pessoas com condições de vida pre-

cárias, desnutrição e vivendo em ambientes não favoráveis.

Com essas dificuldades, você precisa orientar a pessoa, e orientar

não significa dizer como fazer e sim examinar com ela cada uma das

dificuldades e como enfrentá-las, a fim de ficarem curadas, em seis

meses. Na maioria das vezes, você vai precisar ver a pessoa tomar

os medicamentos, como forma de evitar que ela abandone o trata-

mento. Aí começa o seu trabalho de acompanhamento.

Como você pode ver, chamamos a sua atenção apenas para

os quatro verbos que constituem a base do seu trabalho, mas

inúmeros outros verbos compõem este texto e fazem parte do seu

dia-a-dia: ouvir, conversar, observar, atender, agir, defender, estimular,

c o n v e n c e r, mobilizar, reagir, refletir, recusar, ajudar, cuidar, notificar,

convocar, convidar, reunir, e tantos outros... Afinal, a vida se constrói

com ações e para vivê-la é preciso que as ações aconteçam. Para

finalizar, convidamos você a pensar nas ações que acontecem na

vida das famílias da sua área e nas ações que ocorrem no dia-a-dia

da sua Unidade de Saúde. Tenha a certeza de que é um exercício

interessante e que vai lhe ajudar a descobrir muitas, muitas coisas.

Sucesso pra você!

Te x t o d e A p o i o n º 2

4 7

E você, como agente comunitário de saúde, vai poder fortalecer

os autocuidados, orientando-as para isto.

Volte a ler o sentido do verbo orientar e reflita sobre o que significa.

Vamos a um exemplo: você identificou um caso suspeito de tuber-

culose em uma família. Encaminhou a pessoa para a unidade de

saúde. Na unidade, foi feito o diagnóstico e comprovado ser tuber-

culose. Na unidade, o médico prescreveu os medicamentos e ori-

entou a pessoa sobre como tomá-los. Você, na comunidade, passa

então a orientar e acompanhar o tratamento da pessoa, a fim de

que ela não desista e possa ficar curada. Mas isto não é tão fácil

assim. Vamos ver os motivos:

• os medicamentos são agressivos, em grande quantidade, e as

pessoas rejeitam tomar.

• o tratamento tem a duração de seis meses e não pode ser

4 6

O ACS EM AÇÃO

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 41

Tinha muita diarréia na comunidade. Eu chegava

numa casa e tinha três, quatro crianças com diarréia;

dava em adultos também . Então a gente começou a

despertar: “Espera, tem alguma coisa”. Aí a gente sen-

tou junto com a comunidade e discutiu.

A conclusão foi que aquilo vinha da água, porque tínha-

mos um poço só na comunidade, de boca aberta, e

durante o tempo de inverno aquela água da chuva caía

toda ali e depois era consumida pela comunidade.

Vinha dali a contaminação do cogumelo, uma bactéria

que dá na água. Então, conversamos com o padre e ele

abriu um poço artesiano. Depois, viemos conversar com

o prefeito e ele mandou fazer mais dois poços. Hoje, a

gente não tem mais esse problema. Diminuiu a diarréia

depois desse trabalho preventivo. Ela vinha da água e

a gente não sabia...

Aroldo Vieira Ferreira,

Agente Comunitário de Saúde na comunidade de

Tartarugueiro, Ponta de Pedras, PA

“O ACS - Incentivando a participação da comunidade

“Um dos primeiros casos que surgiram na minha

comunidade, quando comecei a trabalhar, foi a questão

de uma carvoaria que estava próxima às casas

e soltava muita fumaça. Isso começou a irritar os olhos

das crianças, elas começaram a apresentar doenças, a

vizinhança inteira estava com problemas. Dez horas da

noite, eles passavam levando crianças para o hospital.

Então eu disse: “A gente vai lutar”. Na primeira reunião

que teve do Conselho Municipal de Saúde eu participei o

problema; passei no Secretário de Saúde e também colo-

quei o problema, até que fizeram uma visita lá na car-

voaria e pediram que se retirassem do meio da comuni-

dade. Graças a Deus, resolveu o problema.”

Deusenir Pereira da Silva,

Agente Comunitária de Saúde, Aliança do Tocantins, TO

4 8

Este capítulo fala sobre vida comunitária e a

necessidade da participação de todos na busca

e solução de problemas, destacando o seu papel,

Agente, como facilitador da expressão de

lideranças na comunidade

C A P Í T U L O I I I

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 43

Vida Comunitária é isto: • viver com os outros;

• trabalhar juntos pelas mesmas coisas;

• dividir alegrias e tristezas;

• dividir, também, os problemas;

• procurar, juntos, as soluções;

• lutar pela organização e participação de todos, para garantir seus direitos

de cidadãos.

Vamos saber mais sobre vida comunitária?Vila Nova é uma pequena comunidade.

Com sua igrejinha, sua escola, a venda do seu Joaquim, o Posto de Saúde,

suas casas espalhadas, é um lugar gostoso de se viver.

Vila Nova faz parte do município de Santa Maria.

Em Vila Nova, as pessoas se encontram, por exemplo: no trabalho, nas

festas, no Posto de Saúde, na feira, na igreja, nas escolas e nas associações

c o m u n i t á r i a s .

Em Vila Nova, as famílias, os amigos, a vizinhança, todos já descobriram que,

para melhorar suas condições de vida, a organização comunitária é muito impor-

tante. Eles então se juntam para:

• conhecer e discutir seus problemas e necessidades;

• tentar resolver seus problemas;

• discutir seus direitos e deveres.

Quando muitas pessoas estão no mesmo barco a remo, elas têm de remar juntas.

Quando muitas pessoas passam pelas mesmas dificuldades, esse negócio de cada

um por si ou de salve-se quem puder não funciona mesmo.

Na comunidade nem tudo é harmonia, nem os interesses são sempre os mesmos.

Como em todas as sociedades, há a disputa pelo poder, as diferenças entre as pes-

soas, as ambições de cada um e muitas coisas mais. O trabalho com a comunidade

não é uma tarefa simples. E para ter vida comunitária, é preciso que cada um de

nós faça a força de todos.

A gente se junta, para ficar forte!

A gente fica forte, porque se junta!

Só de viver um pouco essa experiência, a gente já descobre que as pessoas,

quando se juntam uma com as outras, conseguem resolver muitos problemas.

Um assunto puxa o outro...

Uma andorinha só não faz verão!

A união faz a força!

A corda de três nós é mais difícil de romper!

Esses três ditados lembram a importância de vivermos com os outros, de dis-

cutirmos nossos problemas, de trocarmos experiências, de aprendermos com as

pessoas, de compartilharmos com elas nossos conhecimentos e esperanças. Tudo

isso pode ser feito na vida comunitária.

5 15 0

INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 45

nidade. A comunidade funciona quando existe uma troca

entre os conhecimentos de todos. Cada um tem um jeito

de contribuir, e toda contribuição tem valor. O ACS tem

de estar muito atento a tudo isso.

A troca de conhecimentos entre as pessoas de uma

comunidade faz parte de um processo de educação para

a participação em saúde.

Assim, participando, cada um ajuda muito a todos.

Ajudando, cada um aprende muito com todos.

Mas como em uma comunidade os problemas são

muitos, é preciso que o ACS ajude as pessoas a definir os

problemas mais urgentes, as prioridades. O agente de

saúde tem um papel essencial nessa hora, ao lado da

equipe de saúde e da comunidade.

Depois de ter definido as prioridades, em conjunto

com a comunidade, a equipe de saúde, os profissionais de

saúde da prefeitura, o agente de saúde deve se preocupar

com o planejamento das ações que vai ajudar a resolver.

E não dá para planejar nada, sem a participação de todos: a comunidade, a

equipe de saúde e os profissionais de saúde da secretaria de saúde do município.

É preciso que todos participem, dêem opiniões, apresentem idéias, discutam, para

planejar as ações necessárias.

Participando do planejamento de cada ação de saúde, a comunidade tem

condições de ir realizando uma de cada vez, etapa por etapa, usando pessoas e

recursos da própria comunidade ou, quando for o caso, buscando pessoas e recursos

fora da comunidade.

O ACS, com o apoio da equipe de saúde, deve estimular ações conjuntas em

parceria com a Prefeitura, outros órgãos públicos e instituições, sempre de acordo

com as prioridades decididas pela comunidade. Num lugar pode ser a implantação

de uma infra-estrutura básica (água, luz, esgoto, destino do lixo, rampas para

cadeiras de rodas, sinais sonoros em semáforos para os portadores de deficiência

visual); em outro pode ser a construção de uma unidade de saúde, de uma creche

5 3

E descobrem nesta união que:

Mobilização lembra Organização!

Organização lembra Movimento!

Movimento lembra Mudança!

Quem fica parado, esperando que as coisas aconteçam, que os problemas

sejam resolvidos, não muda a situação em que vive, não está mobilizado! Não está

organizado!

Para se comunicar com a comunidade, a equipe de saúde usa alto-falante,

rádio, jornal, cartazes, e o ACS, além de ajudar a mobilizar todos esses meios, tem

a visita domiciliar, onde conversa com as famílias, e os bate-papos informais.

O ACS é uma pessoa que está sempre em ação pela saúde da sua comunidade.

Para mobilizá-la, ele promove reuniões e encontros com diferentes grupos – com

gestantes, mães, pais, adolescentes, idosos, com grupos em situação de risco ou

com comportamentos de risco e com pessoas portadoras da mesma doença.

Nessas reuniões é fundamental que o ACS observe as diferenças culturais,

religiosas, e até o jeito de falar, para que se crie um clima de respeito às opiniões

de cada participante.

Mas não basta fazer reuniões isoladas. É preciso que o ACS, os grupos e a comu-

nidade se organizem, para que possam obter resultados.

Há várias maneiras de o ACS contribuir para a organização da comunidade

e de grupos em situação de risco. Por exemplo:

• informando, convocando as pessoas para reuniões, palestras,encontros, campanhas, para dar oportunidade às pessoas de colocaremos seus problemas, refletirem e discutirem sobre eles.

E como o Agente Comunitário de Saúde participa dessas atividades?Ele participa estimulando as discussões, pois ele também vive na comunidade

e vivencia a maioria dos problemas, e junto com ela decide a forma de:

• encontrar o melhor jeito de fazer as coisas;

• descobrir o que podem e o que mais sabem fazer;

• dividir as tarefas entre todos;

• escolher as pessoas certas para cada situação.

Cada pessoa da comunidade sabe alguma coisa, sabe fazer alguma coisa e

sabe dizer alguma coisa diferente. São os saberes, os fazeres e os dizeres da comu-

5 2

INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 47

Usando de criatividade e contando com o

empenho da comunidade, é possível organizar

atividades tradicionais, como jogos, brin-

cadeiras, arte popular, ou utilizar técnicas

mais modernas, como oficinas, videotecas,

seminários, etc.

Vamos ver alguns exemplos de como incenti-

var a participação da comunidade em ativi-

dades de saúde?

Semanas de saúdeA semana de saúde é um momento forte

para a comunidade, onde muitos assuntos são

discutidos e as pessoas vão trocando seus

conhecimentos e ficando mais informadas

sobre as maneiras de melhorar suas condições

de vida e saúde.

É importante que as pessoas da comu-

nidade sejam informadas de todas as ativi-

dades, dos temas, dos dias, do horário e do

local. É sempre bom convidar a u t o r i d a d e s ,

médicos, enfermeiros, parteiras e benzedeiras

para participarem, contando suas experiências.

Em cada dia, pode ser feita uma atividade

diferente. Em cada atividade pode ser tratado

um tema diferente. Por exemplo, podem ser feitas palestras, teatro, exposição de

plantas medicinais e muitas outras coisas.

A gente pode envolver a escola, a igreja, a associação de moradores na orga-

nização da semana da saúde. Também é interessante montar barracas com plan-

tas medicinais, alimentação alternativa, cartazes sobre saúde, etc.

Campanhas de vacinaçãoNas campanhas de vacinação, o ACS precisa incentivar as famílias a levarem

as crianças para vacinar.

5 5

comunitária, de uma escola, de uma lavanderia pública; em outro ainda, pode ser

a recuperação de poços, pequenas estradas e muitas outras necessidades.

O direito de participarO direito de participar na saúde é um direito da comunidade, previsto na

Constituição da República. Lá está escrito:

Título VII, Da Ordem Social

Capítulo II, Da Seguridade Social

Seção II, Da Saúde

Artigo 198: As ações e serviços de saúde integram uma rede organizada e

hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as

seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II - atendimento integral, com prioridade para as atividades

preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III - participação da comunidade.

Participação quer dizer tomar parte, partilhar, trocar, ter influência direta

nas decisões e ações. Isto significa que o ACS não trabalha sozinho, nem a equipe

de saúde é a única responsável pelas ações da saúde. Toda a comunidade tem que

participar.

Na maioria das cidades brasileiras já existe o Conselho Municipal de Saúde,

que reúne gestores, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários dos

serviços de saúde, que tomam parte nas decisões.

O ACS pode estimular as pessoas da comunidade a participarem do Conselho

Municipal de Saúde, através de associações, instituições e conselhos locais de

saúde. O ACS pode criar um canal de comunicação entre a equipe de saúde e o

Conselho Municipal de Saúde, estimulando representantes da comunidade a con-

versarem com os conselheiros sobre os seus problemas de saúde e as ações de pro-

moção da saúde e prevenção de doenças que já estão acontecendo na comunidade.

Em seu trabalho diário, o ACS pode e deve contactar e estimular as pessoas

da comunidade a discutir e buscar, em conjunto, soluções para os problemas que

anotou nas visitas domiciliares.

É essencial que a comunidade seja estimulada a participar, pois só assim ele

pode exercer o direito de discutir as ações que interferem na sua própria saúde e

na saúde da comunidade. Só reclamar não vai levar a nada. É preciso ter consciência

do que se quer exigir e do direito que se tem de fazer isso.

5 4

INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 49

E aí?

A história acabou?

Que nada!

Tem muito caminho pela frente!

Tem muita história para ser feita!

Estar mobilizado é caminhar, é não estar parado,

é continuar.

Sabe por quê?Porque um problema puxa outro, porque há sem-

pre um jeito de melhorar um pouco mais a nossa

saúde, a nossa qualidade de vida!

Vamos ver a experiência de uma comunidade em

uma favela da cidade de São Paulo?

Conhecendo a história de seu Júlio, você vai ver que

a gente nunca pode parar. . .

Seu Júlio, a mulher e os filhos foram morar numa

das grandes favelas de São Paulo: a Favela

Funerária. No tempo em que foram morar lá, não

tinha água, luz, esgoto, nem transporte, nem escola,

nem creche... Era só o terreno para fazer o barraco.

A vida lá era muito difícil e a solução dos problemas parecia longe demais. Seu Júlio

falou: - “Precisava de água e luz para minha família poder ter uma vida melhor”.

Seu Júlio, então, começou a discutir com outros moradores da favela sobre

seus problemas, sobre o que faltava e o que dava para fazer. Foi aí que ele começou

a entender que sozinho não ia conseguir fazer nada, e falou:

“Uma mão de um, uma mão de outro, nós fomos em frente”.

Reuniu as pessoas da comunidade para conseguir a doação do terreno pela

Prefeitura e ajeitar os documentos. Feito isso, as pessoas se organizaram para colocar

água na favela.

Foi uma história muito grande de luta. Depois de muita reunião com o pes-

soal da Prefeitura, conseguiram a ligação da água. A maior precisão dentro da

favela era a água.

Depois da água, foi a luta pela luz. Foram muitas reuniões, muitas idas e

vindas, altos e baixos. Tinha hora que dava vontade de desistir, de parar. Mas um

animava o outro. E a luz chegou! Hoje, os moradores da Favela Funerária vivem

na Cidade Nova Parque Novo Mundo. Conseguiram muitas melhorias.

5 7

Para isso, o agente pode, antes do dia marcado, fazer visitas casa a casa, veri-

ficando os Cartões da Criança. Pode também:

• orientar, informar e preparar reuniões e palestras que expliquem a importância

da vacinação;

• preparar junto com algumas crianças teatrinho, músicas, gincanas e brin-

cadeiras que, ao mesmo tempo que animam a meninada, estão ensinando noções

importantes sobre a vacinação.

• aproveitar as experiências de outros agentes comunitários de saúde de várias

cidades do Brasil, que trabalham com teatro de rua e mamulengos nas ações de

saúde, para estimular a sua comunidade ou os agentes da sua comunidade a

desenvolverem experiências com o tema vacinação e muitos outros temas que

interessem a população.

MutirãoFazer mutirão é juntar muita gente para trabalhar em proveito de uma ou de

várias pessoas da comunidade.

No mutirão, um apóia o outro. As pessoas se unem para resolver os proble-

mas mais importantes, ajudando a comunidade a crescer em sua luta.

Alguns municípios têm tido sucesso com mutirões para organização do lixo,

para construção de fossas, para limpeza de riachos e canais e muitas outras moti-

vações.

Festas da comunidadeO ACS pode aproveitar a oportunidade das festas da cidade, como o dia do

padroeiro ou padroeira, novenas e quermesses, aniversário da cidade e outras

ocasiões importantes, para juntar a comunidade e apresentar peças de teatro de

rua, repentes, cantadores, que através da sua arte questionem e façam as pessoas

refletirem sobre alguns temas de importância para a proteção da saúde.

Na próxima reunião com a comunidade, o ACS pode procurar saber o que as

pessoas acharam dos espetáculos e verificar até que ponto eles atingiram as pes-

soas e até que ponto elas aprenderam sobre os temas. É claro que, para fazer isso,

o ACS precisa contar com o apoio da equipe de saúde e o apoio da sua comunidade.

E buscar parcerias dentro e fora da comunidade para realizar qualquer atividade.

Mas ainda existem muitos outros jeitos para mobilizar a comunidade. É pre-

ciso estar muito envolvido com as pessoas e incentivar cada uma delas a pensar,

cada uma a trabalhar uma com a outra, na certeza de que, para a situação mudar,

todos temos que participar, fazendo a nossa história.

5 6

INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 51

Tudo isso, porque as pessoas se juntaram, se organizaram, discutiram e descobriram,

juntas, as soluções para seus problemas. Mas todos eles sabem que muita coisa

precisa ser ainda melhorada e que só com o esforço de todos, isso será possível.

A história da Favela Funerária nos mostra que quase todo o aprendizado e

mudanças ocorrem, quando uma comunidade não está satisfeita com algum aspecto

da sua vida.

O trabalho do ACS pode criar uma situação que faz o grupo ou grupos

pararem para refletir, para pensar sobre o que estão fazendo, como estão vivendo,

identificar o que precisam e, então, planejar a ação.

Muitas vezes, o primeiro plano de ação resolve alguma parte do problema,

mas não chega às suas causas em profundidade. Mas um ciclo regular de reflexão

e ação, em que o grupo vibra com seus sucessos e analisa criticamente as causas

dos erros e fracassos, torna esse grupo cada vez mais capaz de transformar efi-

cazmente seu dia-a-dia, assim:

Esse esquema foi proposto por Anne Hope e Sally Timmel2

e nos lembra que

fazer uma atividade, depois parar e refletir sobre ela, descobrindo pontos positivos

e negativos e a partir daí planejar novas atividades, reforçando as conquistas e

eliminando os erros, isto é que nos faz crescer, transformar a nossa realidade.

Assim, Ação-Reflexão-Ação pode nos ajudar a engajar a comunidade na

transformação da qualidade de vida de cada pessoa, do meio ambiente e de toda

a comunidade.

Sugestão para condução de debatesDurante os debates, o ACS pode guiar o grupo através de uma série de pas-

sos. Ele pode perguntar:

• Qual é a situação?

• Por que acontece isso?

• Quais os problemas que isso traz?

Observe o jogo de perguntas que David We r n e r2 idealizou para ajudar o grupo

a descobrir as causas mais profundas dos problemas - Mas por quê?

“A criança está com o pé inflamado.”

“Mas por quê?”

“Porque pisou no espinho.”

“Mas por quê?”

“Porque estava descalço.”

“Mas por quê?”

“Porque não tinha sandália.”

“Mas por que não tinha?”

“Porque arrebentou e o pai não tinha dinheiro

para comprar outra.”

“Mas por quê?” e assim por diante...

Essa técnica ajuda as pessoas a aprenderem, pois estudos comprovam que as pes-

soas se lembram aproximadamente de 80% do que descobrem por si mesmas; de

40% do que ouvem e vêem e 20% daquilo que só ouvem.

5 9

INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

5 8

REFLETIR

REFLETIR

PLANEJAR PLANEJAR

OLHAR

OLHAR

AGIR

AGIR

2 Treinar para Tr a n s f o r m a r, in: Contact, 1989,

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 53

Outros têm que pedir emprestado ou mendigar. Alguns têm poder,

influência e autoconfiança, outros têm pouco ou nada disso.

Numa comunidade também os pobres e humildes estão divididos

entre si. Alguns defendem os interesses dos poderosos, em troca de

favores. Outros sobrevivem mentindo e roubando. Uns aceitam o

destino em silêncio. Outros, quando ameaçados, unem-se para

defender seus direitos. Algumas famílias brigam, lutam ou não se

falam – às vezes durante anos. Outros se ajudam mutuamente, tra-

balhando juntos e, nos tempos difíceis, repartem o que têm. Muitas

famílias fazem tudo isso ao mesmo tempo.

Existem elementos de harmonia e interesses comuns em todas as

comunidades, mas também existem elementos de conflito. Ambos

têm efeito profundo sobre a saúde e o bem-estar das pessoas.

Ambos precisam ser enfrentados pelo agente de saúde que quer

ajudar os fracos a se tornarem mais fortes.

O que é participação?

Há dois pontos de vista sobre a participação das pessoas na saúde.

O primeiro ponto de vista, mais convencional, vê a participação

como um meio de melhorar o atendimento. Fazendo a popu-

lação exercer certas atividades predefinidas, os cuidados de saúde

podem ser ampliados e serão melhor aceitos.

O segundo ponto de vista vê a participação como um processo

em que a população trabalha para superar os problemas e

adquirir maior controle sobre a saúde e suas próprias vidas.

O primeiro ponto de vista focaliza os valores comuns e a coopera-

ção entre as pessoas, em todos os níveis sociais. Presume que os

interesses comuns constituem a base da dinâmica comunitária – que

a saúde do povo vai melhorar se todos trabalharem juntos e coope-

rarem com as autoridades de saúde.

Te x t o d e A p o i o n º 3

6 1

Para ser eficiente, o agente de saúde precisa conhecer muitos aspec-

tos da vida comunitária: os costumes da população, suas crenças,

seus problemas de saúde e suas aptidões especiais. Mas, acima de

tudo, ele precisa compreender a estrutura de poder na

comunidade: como as pessoas se relacionam, como se ajudam ou

prejudicam umas às outras. Vamos agora analisar esses aspectos da

dinâmica comunitária e o que significa participação da comunidade.

“Comunidade” e “participação” têm significados bem diferentes para

pessoas diferentes. O modo como vemos a “comunidade” afeta

nossa visão de como dever ser a “participação”.

É essencial que monitores e agentes de saúde analisem juntos as idéias

conflitantes e cheguem a conclusões com base em suas experiências.

O que é uma comunidade?

Muitos planejadores da área de saúde consideram comunidade “um

grupo de pessoas que vive em determinado lugar (por exemplo, um

povoado), tem interesses comuns e um modo de vida semelhante”.

Segundo este ponto de vista, o mais importante é o que as pessoas

têm em comum. O relacionamento entre os membros da comu-

nidade é considerado basicamente harmonioso.

Na vida real, as pessoas que moram no mesmo povoado ou

vizinhança nem sempre têm os mesmos interesses ou se

dão bem. Algumas crianças vão à escola. Outras crianças têm que

trabalhar ou ficar em casa tomando conta de irmãos menores

enquanto as mães trabalham. Alguns comem muito. Outros passam

fome. Uns falam alto nas reuniões do povoado. Outros têm medo

de abrir a boca. Uns dão as ordens. Outros obedecem.

Alguns emprestam dinheiro ou sementes em condições injustas.

DINÂMICA E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

6 0

A maioria das comunidadesnão é homogênea (todosiguais). A comunidade é umpequeno reflexo local dasociedade ou do país em queestá situada. Apresenta asmesmas relações entre ofraco e o forte, a mesmasituação de justiça einjustiça, os mesmos proble-mas de luta pelo poder.A idéia de que as pessoas sedão bem, simplesmenteporque vivem e trabalhamjuntas, é um mito!

David Werner e Bill Bower

*Texto extraído de: Aprendendo e Ensinando a Cuidar da Saúde, pp. 133-139.Edições Paulinas, 1984.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 55

Te x t o d e A p o i o n º 3

6 3

O segundo ponto de vista reconhece conflitos de interesses, dentro

e fora da comunidade. Considera que esses conflitos exercem forte

influência sobre a saúde da população. Não nega o valor da organi-

zação e cooperação entre pessoas para resolver problemas

comuns. Mas percebe que as pessoas e grupos sociais diferentes

ocupam posições econômicas e políticas diferentes.

Ao dar muita ênfase aos interesses comuns, as pessoas deixam de

enfrentar os interesses conflitantes que estão por trás das causas

sociais da saúde precária. Esse segundo ponto de vista sugere:

O programa comunitário deve começar por identificar os

principais conflitos de interesses dentro da comunidade.

É importante, também, identificar os conflitos como forças fora da

comunidade e observar como eles se relacionam com os conflitos

dentro da comunidade.

A maneira como o líder do programa vê a participação dependerá

daquilo que ele acredita ser a causa da pobreza e das más condições

de saúde.

Alguns acreditam que a pobreza é resultado de deficiência e defeitos

pessoais do pobre. O objetivo de seu programa é, portanto, mudar

as pessoas para que funcionem melhor dentro da sociedade.

Acreditam que, dando ao pobre mais serviços, maiores benefícios e

melhores hábitos, seu padrão de vida se tornará mais saudável.

Quanto mais as pessoas aceitarem e participarem desse processo,

melhor.

Outros acreditam que a pobreza é resultado de um sistema social e

econômico que favorece o forte às custas do fraco. Somente

adquirindo força política é que o pobre consegue mudar as regras

que determinam seu bem-estar. Os programas que partem desse

ponto de vista procuram transformar a sociedade, para que atenda

melhor às necessidades das pessoas. Para essa transformação, a par-

ticipação popular é essencial.

Observando diferentes projetos de saúde e desenvolvimento, veri-

ficamos que a visão da participação comunitária varia entre dois

o p o s t o s :

DINÂMICA E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

6 2

• A participação como meio de controlar as pessoas.

• A participação como meio de as pessoas adquirirem maior

controle.

Entre esses dois extremos há muitos estágios intermediários.

Eles variam de acordo com...

1. quem realmente participa,

2. a função da participação,

3. centro de poder.

Podemos saber até que ponto a participação é controlada pela

cúpula ou pela base, verificando quais pessoas da comunidade par-

ticipam do programa – pessoas de saúde, membros de comissões e

outros. Podemos perguntar:

• Como foram escolhidos os membros da comunidade?

• Qual o seu nível social? Quais as suas posses em comparação com

a maioria da comunidade?

• Qual a ligação deles com as pessoas em posições elevadas dentro

e fora da comunidade?

• Qual é sua aparência em comparação com a maioria no povoado?

Em geral é fácil observar se a participação comunitária é controlada

pela cúpula ou pela base.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 57

Meu dia-a-dia de trabalho é assim: saio na parte

da manhã, às 8h15, e ali pela 1 hora volto, almoço,

tomo um banho e retorno de novo para terminar as

oito visitas do dia, lá pelas 5 horas, mas sempre chego

em casa mais tarde. Vou de bicicleta, sempre com o

uniforme. Boné uso pouco, porque é muito quente. Mas

do jaleco eu gosto muito, não saio sem ele. É bom

porque a gente é logo identificado. Na mochila eu levo

as Fichas de Cadastro, os Cartões da Criança, a ba-

lança e a redinha para pesar as crianças menores; o

lápis, a borracha, um caderno para a gente anotar

alguma coisa que precisa. Quando não tinha bicicleta,

eu ia a pé e fazia três, quatro quilômetros andando.

Lúcia Ribeiro Alves, Agente Comunitária de Saúde em

Padre Bernardo, Entorno do Distrito Federal

A gente trabalha por rua. Quem faz a minha rua

é a Edja, é ela quem tem que me visitar, porque eu sou

gestante. Antes de eu ficar gestante, ela sempre passa-

va para fazer a visita. Mas agora ela passou a vir

mais, para acompanhar a minha gravidez. Estou com

sete meses. Ela chega aqui, pergunta como é que estou

nas questões da gravidez, se está mexendo muito, se

não está, se eu estou me alimentando direito, se eu fui

ao médico para fazer o pré-natal, porque a gente tem

que fazer, se a gente não for a agente de saúde obriga.

Ela procura saber da pressão, se está bem.

Se a gente tem algum problema de inchaço, que é

o edema”.

Edvânia Tereza de Souza Silva, gestante - usuária

do PACS e Agente Comunitária de Saúde,

Camaragibe, PE

“O ACS - Trabalhando e aprendendo com a comunidade

6 4

Este capítulo fala sobre as características necessárias ao trabalho

comunitário: conhecer e respeitar as crenças e tradições, saber como

ajudar as pessoas a reconhecerem os pontos positivos de suas tradições,

e aqueles costumes que podem ser prejudiciais à saúde, introduzir novas

idéias e aproveitar as antigas..., comentando sobre cada um dos

instrumentos mais utilizados para iniciar o diagnóstico comunitário

C A P Í T U L O I V

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 59

6 7

O trabalho do Agente Comunitário de Saúde é um trabalho de construção.Para se construir uma casa, além de todo o material necessário, é preciso

alguém que saiba construir e que tenha as ferramentas necessárias.

O agente comunitário de saúde também precisa de algumas ferramentas, que

chamamos de instrumentos de trabalho. Os instrumentos mais utilizados são:

• a entrevista, a visita domiciliar, o cadastramento das famílias,o mapeamento da comunidade, as reuniões comunitárias.

Esses instrumentos ajudam o agente comunitário de saúde a conhecer melhor

as necessidades das pessoas da sua c o m u n i d a d e . E também a encontrar

maneiras de resolver os problemas. Para conhecer a comunidade, o ACS vai precisar:

• reunir informações sobre a comunidade;

• identificar os principais problemas de saúde.

Com as informações, o ACS, juntamente com a equipe de saúde e a comu-

nidade, vai participar da elaboração do diagnóstico de saúde da comunidade.

E que instrumentos ele utiliza para coletar as informações?

São vários os instrumentos e cada um deles tem um objetivo. A soma de todos eles

ajuda a fazer o diagnóstico:

1 - a entrevista/visita domiciliar;

2 - o cadastramento das famílias;

3 - o mapa da comunidade;

4 - as reuniões comunitárias.

1. FALANDO DA VISITA DOMICILIARA visita domiciliar é uma das atividades mais importantes do agente comu-

nitário de saúde. É através dela que ele vai poder fazer o cadastramento e o acom-

panhamento das famílias e, principalmente, o trabalho educativo, orientando as

pessoas como evitar as doenças e cuidar melhor da sua saúde.

As visitas domiciliares devem ser feitas sempre. Elas fazem parte da rotina

do trabalho do agente comunitário de saúde.

Quando visitamos uma família, utilizamos a entrevista, que é uma conversa

direcionada com as pessoas. Fazendo o acompanhamento das famílias através da

visita domiciliar, é possível:

• identificar as pessoas que estão bem de saúde e as que não estão;

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

6 6

• conhecer os principais problemas de saúde das pessoas;

• conhecer as condições de moradia, de trabalho, os hábitos, as crenças, os

costumes, os valores;

• descobrir o que as pessoas precisam saber para cuidar melhor de sua saúde;

• ajudar as pessoas a refletirem sobre os seus problemas de saúde e ajudá-las

a organizar suas ações para tentar resolvê-los;

• identificar as famílias que precisam de um acompanhamento mais

próximo e mais freqüente;

• ensinar às pessoas medidas simples de prevenção e orientá-las a usar

corretamente os medicamentos.

Uma visita, para ser bem-feita, precisa ser planejada.

Planejar é ver os detalhes da visita antes de fazê-la. Planejando, o Agente

Comunitário de Saúde aproveita melhor o seu tempo e respeita o tempo das pessoas

que vai visitar.

Assim, antes de fazer uma visita,

Dá licença! Posso entrar?

E é preciso:

1 - Ter claro o motivo da visita: se é para fazer o cadas-

tramento da família, para o acompanhamento das

crianças, ou gestantes ou de alguma pessoa doente.

É importante informar às pessoas o motivo da visita,

sua utilidade e importância.

2- Quando você for visitar pela primeira vez a casa

de uma família, antes de qualquer coisa, é impor-

tante que você se apresente: diga seu nome, qual o

seu trabalho, a importância que ele tem, o motivo da sua visita e se você pode ser

recebido naquele momento.

3 - É importante saber o nome de alguém da família que você vai visitar. É uma

demonstração de interesse e respeito pelas pessoas.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 61

• gestantes com problemas de saúde;

• outras pessoas com problemas de saúde.;

• famílias isoladas por barreiras geográficas, culturais.

Além disso, na primeira semana de vida do bebê, é muito importante que ele

seja visitado, assim como a mãe de resguardo (a puérpera). Sempre que existirem

situações de risco, você deve apresentar o problema para o seu instrutor/supervi-

sor e procurar com ele um jeito de dar prioridade a esses casos e planejar ações

para resolvê-los.

2. CADASTRANDO AS FAMÍLIAS

Uma das primeiras informações que o Agente Comunitário de Saúde precisa

ter e saber é quantas e quais são as pessoas que ele vai acompanhar. De acordo

com as Normas e Diretrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, cada

agente acompanha em média 575 pessoas da sua comunidade.

Para conhecer as condições de vida das famílias que vai acompanhar, o Agente

Comunitário de Saúde precisa cadastrar todas as famílias.

O cadastramento é colocar no papel todas as informações a respeitoda comunidade e para isso o ACS tem fichas para preencher, e você vaiaprender a preenchê-las no Capítulo V deste manual.

O cadastramento vai mostrar quem são, quantos são, quais são suas idades,

quais seus problemas de saúde e as condições de moradia e saneamento.

O cadastramento ajuda o Agente Comunitário de Saúde a saber por onde

começar o seu trabalho, e priorizar suas atividades.

As informações coletadas pelo agente têm um objetivo muito importante.

É com elas que o pessoal da Unidade de Saúde vai saber exatamente o que é pre-

ciso fazer, para evitar as doenças que mais ameaçam a comunidade.

Após cadastrar as famílias, as fichas vão para a Unidade de Saúde formar o

cadastro daquela comunidade. As informações vão ser analisadas e discutidas pelo

ACS com a equipe de saúde.

Essas informações são fundamentais para fazer o diagnóstico da comunidade,

que você vai saber como é feito no Capítulo V.

6 9

4 - É recomendável escolher um bom horário e definir o tempo de duração da visita.

Isso não quer dizer que você não possa mudar o horário ou ficar mais um tempinho,

se for necessário. Na hora da visita, é preciso ter sensibilidade para saber se as

pessoas querem ou não conversar mais um pouquinho.

5 - Para conquistar a confiança e o respeito das pessoas, é preciso valorizar os

seus costumes, as suas crenças, o seu modo de ser, seus problemas e seus senti-

mentos. E é preciso saber que todas as informações que lhe são repassadas pela

família são confidenciais e você deve guardar sigilo, por questões éticas.

6 - Antes de começar a fazer perguntas, é bom conversar um pouco com as pessoas

sobre assuntos que elas gostam de falar, sobre o trabalho, a casa, as crianças, as

notícias de rádio, as novelas de televisão, etc.

7 - Só se deve pedir informações que têm sentido.

É necessário explicar o porquê das perguntas, a importância das respostas e para

que elas vão servir.

8 - A entrevista é uma oportunidade para ensinar e

aprender. É bom fazer perguntas não só para conseguir

informações, mas também para levar as pessoas a pen-

sarem de novas maneiras.

Depois de fazer uma visita...O Agente Comunitário de Saúde deve verificar se con-

seguiu as informações necessárias, vendo o que deu certo

na visita, para poder corrigir as falhas. Isso é importante

para planejar as próximas visitas.

Toda família deve ser visitada uma vez por mês, mas

ela deve receber mais de uma visita, se existir alguma

situação de risco, como:

• recém-nascido com menos de dois quilos e meio;

• criança desnutrida;

• recém-nascido que não está sendo amamentado

no peito;

• criança com doenças graves;

6 8

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 63

7 1

Algumas coisas que você não pode esquecer.Quando você for fazer o cadastramento das famílias, é importante ler nova-

mente as instruções da visita domiciliar. Cada família deve ter um só formulário

preenchido. Não importa o número de pessoas na casa.

As informações que você conseguir serão úteis para planejar o seu trabalho,

na organização das visitas domiciliares, das reuniões comunitárias e de outras

atividades. A ficha de cadastramento deve ficar com você, que a levará, a cada

mês, à unidade de saúde, para, junto com o seu instrutor/supervisor, organizar as

informações e planejar o seu trabalho.

Anote em seu caderno qualquer outra informação sobre a família que você

considerar importante, para discutir com o seu instrutor/supervisor.

Orientações para preenchimento da ficha de cadastramento - Ficha AAs anotações na ficha devem ser feitas a lápis. Se você errar, é só apagar.

Agora, repare bem na parte de cima da ficha de cadastro. No alto, à esquerda,

está identificada a Ficha A 1 . Depois vem a referência à Secretaria Municipal

de Saúde e ao Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB 2 - que é um sis-

tema de informação, montado pelo Departamento de Atenção Básica/Ministério da

Saúde responsável pelo PACS e PSF, para juntar todas as informações de saúde

das microáreas dos municípios brasileiros, onde você, agente, atua, assim como

as Equipes de Saúde da Família. As informações registradas na Ficha A vão para

a Secretaria de Saúde do Município, e parte delas vai para a Secretaria de Saúde

do Estado e, finalmente para o Ministério da Saúde. É um instrumento que per-

mite aos gestores municipais, estaduais e federal conhecerem a realidade da saúde

das pessoas nos municípios brasileiros. E tudo isso começa com o seu trabalho!

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

7 0

FICHA A SECRETARIAMUNICIPALDE SAÚDE UF | _ _ | _ _ |SISTEMADE INFORMAÇÃO DE ATENÇÃO BÁSICA

E N D E R E Ç O NÚMERO BAIRRO CEP

| _ _ | _ _ | _ _ | _ _ | |__|__|__|__|__| - |__|__|__|

MUNICÍPIO S E G M E N T O ÁREA MICROÁREA FAMÍLIA DATA

| _ _ | _ _ | _ _ | _ _ | _ _ | _ _ | _ _ | | _ _ | _ _ | |__|__|__| |__|__| |__|__|__| | _ _ | _ _ | - | _ _ | _ _ | - | _ _ | | _ _ |

5 621

8 9 10 11 12

73

13

4

Vamos continuar?

No canto direito da ficha, ao lado das letras UF (Unidade da Federação) 3 , há

dois quadrinhos que devem ser preenchidos com as duas letras referentes à sigla

do Estado. Por exemplo: PB para Paraíba; MG para Minas Gerais; PA para Pará;

GO para Goiás; RS para Rio Grande do Sul; BA para Bahia - e assim por diante.

Logo abaixo, você encontra espaço para escrever o endereço da família 4 ,

com o nome da rua (ou avenida, ou praça, ou beco, ou estrada, ou fazenda, ou

qualquer que seja a denominação), o número da casa 5 ,o bairro 6 e o CEP 7 ,

que é a sigla para Código de Endereçamento Postal.

Na linha de baixo, vêm os espaços que devem ser preenchidos, com números

fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (o código do

município) 8 , pela Secretaria Municipal de Saúde (segmento e área) 9 e 10 ,

ou pela equipe de saúde (microárea) 11 . A equipe de saúde vai lhe ajudar a encon-

trar esses números e explicar o que eles significam.

Depois estão os três quadrinhos para o próprio agente de saúde registrar o

número da família na ficha 12 . A primeira família será a número 001, a 10ª

família será 010, a 13ª será 013, a centésima será 100, e assim por diante. Por fim,

o espaço para a data 13 , onde o ACS deve colocar o dia, o mês e o ano em que está

sendo feito o cadastramento daquela família.

Vamos agora continuar a orientação para preencher o cadastro da família.

Observe a ficha a seguir:

Abaixo da palavra Nome 1 , tem uma linha reservada para cada pessoa da

casa (inclusive os empregados que moram ali) que tenha 15 anos ou mais. À direita,

na continuidade de cada linha, estão os espaços (campos) para dizer o dia, mês e

ano do nascimento 2 , a idade 3 e o sexo 4 de cada pessoa (M para masculino,

F para feminino).

CADASTRO DA FA M Í L I A

P E S S OAS COM 15 ANOS OU MAIS DATA NASC. I DA D E S E XO A L FABETIZADO OCUPAÇÃO

NOME sim não

2 3 4 5 67

1

DOENÇA OUCONDIÇÃO

REFERIDA (Sigla)

Nelson de Jesus Souza 4/05/60

2/12/75

5/11/80 F

F

F

M X

X

X

X

agricultor TB, ALC

GES

DIA, HA

comerciária

dona de casa

empregada

doméstica

40

24

63

19

Maria de Fátima Souza

Umbelina Lima Souza

Ana Rosa Oliveira

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 65

A segunda parte do cadastro é para a identificação de pessoas de 0 a 14 anos,

11 meses e 29 dias, isto é, pessoas com menos de 15 anos.

Os campos para nome, data de nascimento, idade e sexo devem ser preenchidos

como no primeiro quadro de pessoas com 15 anos e mais. No campo destinado a

informar se freqüenta a escola, marcar com um X se ela está indo ou não à escola.

Se ela estiver de férias, mas for continuar os estudos no período seguinte, marcar

o X para SIM.

Anotar a ocupação de crianças e adolescentes é importante no cadastramento,

pois irá ajudar a equipe de saúde a procurar as autoridades competentes sobre os

direitos da criança e do adolescente, para medidas que possam protegê-las contra

violência e exploração.

Veja a situação descrita que serve de exemplo:

A família cadastrada na ficha A é a família do Sr. Nelson de Jesus Souza, que

é composta de sete pessoas: ele, a esposa, três filhos, D. Umbelina (sua mãe) e

Ana Rosa Oliveira (empregada doméstica que mora com eles).

O ACS registrou na ficha os dados de idade, sexo, escolaridade, ocupação e

ocorrência de doenças ou condições referidas de todas as pessoas da família.

A data de nascimento de D. Umbelina não foi anotada, porque ela não sabia

i n f o r m a r. Mas sabia que tinha mais ou menos 63 anos. Então o ACS anotou,

no campo idade, o número 63.

Cristina tem de 3 meses, menos de 1 ano de idade. Assim, o ACS regis-

trou 0 (zero).

Agora que você já sabe como preencher a frente da ficha, vamos aprender a

parte de trás, o verso da ficha.

7 3

Caso não tenha informação sobre a data do nascimento, anotar a idade que a pes-

soa diz ter.

O quadro alfabetizado 5 é para informar se a pessoa sabe ler ou não. Não é

alfabetizada a pessoa que só sabe escrever o nome. Se é alfabetizada, marque com

um X na coluna sim. Se não é alfabetizada, marque com um X na coluna não.

Depois vem o espaço 6 para informar a ocupação de cada um. É muito impor-

tante que registre com cuidado essa informação.

Ocupação é o tipo de trabalho que a pessoa faz. Se a pessoa estiver de férias,

ou licença ou afastado temporariamente do trabalho, você deve anotar a ocupação

mesmo assim. O trabalho doméstico é uma ocupação, mesmo que não seja remu-

nerado. Se a pessoa tiver mais de uma ocupação, registre aquela a que ela dedi-

ca mais horas de trabalho.

Será considerada desempregada a pessoa que foi desligada do emprego e não

está fazendo qualquer atividade , como prestação de serviços a terceiros, “bicos”, etc.

Por fim, vem o quadro 7 para registrar o tipo de doença ou condições em que

se encontra a pessoa. O ACS não deve solicitar comprovação de diagnóstico e não

deve registrar os casos que foram tratados e já alcançaram cura.

ATENÇÃO: A família, além de referir doenças, pode e deve referir condições em

que as pessoas se encontram, como gestação, deficiência, dependência de drogas,

etc. Nesses casos, deve ser anotada a condição referida.

É interessante que você saiba o que se considera Deficiência, parasaber melhor como anotar essa condição de que as pessoas são portado-ras: Deficiência é o defeito ou condição física ou mental de duraçãolonga ou permanente que, de alguma forma, dificulta ou impede umapessoa da realização de determinadas atividades cotidianas, escolares,de trabalho ou de lazer. Isso inclui, desde situações em que o indivíduoconsegue realizar sozinho todas as atividades que necessita, porém comdificuldade ou através de adaptações, até aquelas em que o indivíduosempre precisa de ajuda nos cuidados pessoais e outras atividades .3

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

7 2

PESSOAS DE 0 A 14 ANOS DATA NASC. IDADE SEXO FREQÜENTA A ESCOLA OCUPAÇÃO DOENÇA OU

NOME CONDIÇÃO REFERIDA

Siglas para a indicação das doenças e/ou condições referidas

ALC - Alcoolismo EPI - Epilepsia HAN - Hanseníase

CHA - Chagas GES - Gestação MAL - Malária

DEF - Deficiência HA - Hipertensão Arterial

DIA - Diabetes TB - Tuberculose

3Adaptado de David Werner (1994)

Davidson Santos Souza 2/09/86 13

7

0 F

M

M X

X

X

agricultor

– –

EPI

5/08/93

3/07/99

Francisco de Jesus Souza

Cristina de Jesus Souza

(sigla)nãosim

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 67

Na metade de baixo da ficha estão os quadros para outras informações.

Primeiro, o agente tem um espaço 1 para dizer (sim ou não) se alguém da f a m í l i a

possui Plano de Saúde e outro para informar quantas pessoas são cobertas pelo

plano. Logo abaixo, quadradinhos para cada letra do nome do plano.

Depois, você deve anotar que tipo de socorro aquela família está acostumada a

procurar em caso de doença 2 e quais os meios de comunicação 3 mais utiliza-

dos na casa.

À direita, estão os quadros para anotar se aquela família participa de grupos

comunitários 4 e para informar que meios de transporte mais utiliza 5 .

Para completar, vem o espaço para você escrever as observações que considerar

importantes a respeito da saúde daquela família 6 .

Vamos continuar com o exemplo da família do Sr. Nelson de Jesus Souza?

O Sr. Nelson tem um irmão que colocou D. Umbelina, a mãe, como dependente

no seu Plano de Saúde. Dona Umbelina, porém, freqüentemente vai também à

benzedeira. Sempre que as outras pessoas da família adoecem, procuram o Centro

de Saúde.

A família ouve rádio, assiste à televisão e lê jornal. O Sr. Nelson é membro da

cooperativa de agricultores e Maria de Fátima, sua mulher, está filiada ao

Sindicato dos Comerciários.

Quando necessitam, utilizam ônibus e/ou carroça para locomoção. Em julho do

ano passado, faleceu, aos 80 anos, D. Lindinalva, irmã mais velha de Dona

Umbelina, que residia na casa. Segundo sua sobrinha, a causa do óbito foi derrame.

Maria de Fátima apresenta tosse com expectoração há cerca de 20 dias.

7 5

Os campos do verso da Ficha A servem para caracterizar a situação de moradia

e saneamento e outras informações importantes acerca da família.

Repare que há um campo para o tipo de casa, com quadrinhos para assinalar

com X o material usado na construção 1 . Se o material não é nenhum dos referi-

dos, você tem um espaço para explicar o que foi usado na construção da moradia.

É ali onde está escrito Outro - Especificar.

Logo abaixo, você tem onde informar o número de cômodos. Uma casa de quar-

to, sala, banheiro e cozinha tem quatro cômodos 2 . Se é só um quarto e uma cozi-

nha, são dois cômodos. Atenção para o que não é considerado cômodo: corredor,

alpendre, varanda aberta e outros espaços que pertencem à casa, mas não são

usados para morar.

Abaixo, deve ser informado se a casa tem energia elétrica 3 , mesmo que a

instalação não seja regularizada. Em seguida, o destino do lixo 4 .

No lado direito da ficha, estão os quadros para informar sobre o tratamento

da água na casa 5 , a origem do abastecimento da água utilizada 6 , e qual o des-

tino das fezes e urina 7 .

Continuando o exemplo da família do Sr. Nelson:

A casa onde reside a família do Sr. Nelson de Jesus tem 3 quartos, uma sala, um

banheiro e um pátio, na área externa (5 cômodos). Tem paredes de taipa, sendo que

apenas as da sala são rebocadas.

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

7 4

PA R T I C I PA DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

C o o p e r a t i v a

Grupo religiosoA s s o c i a ç õ e s

Outros - Especificar

MEIOS DE TRANSPORTE QUE MAIS UTILIZA

Ô n i b u sC a m i n h ã oC a r r o ç aC a r r o

Outros - Especificar

EM CASO DE DOENÇA PROCURA

H o s p i t a lUnidade de SaúdeB e n z e d e i r aFa r m á c i aOutros - Especificar

MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE MAIS UTILIZA

R á d i oTe l e v i s ã oOutros - EspecificarJ o r n a l

OUTRAS INFORMAÇÕES

Alguém da família possui Plano de Saúde? Número de pessoas cobertas por Plano de Saúde

Nome do Plano de Saúde |__| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __|

TIPO DE CASA

Tijolo/Adobe

Taipa revestida

Taipa não revestida

Madeira

Material aproveitado

Outro - Especificar

Número de cômodos / peças

Energia elétrica

DESTINO DO LIXO

Coletado

Queimado / Enterrado

Céu aberto

TRATAMENTO DA ÁGUA NO DOMICÍLIO

Filtração

Fervura

Cloração

Sem tratamento

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Rede geral

Poço ou nascente

Outros

DESTINO DE FEZES E URINA

Sistema de esgoto (rede geral)

Fossa

Céu aberto

SITUAÇÃO DA MORADIA E SANEAMENTO

2

4

5

1

2

3

4

56

7 O B S E RVA Ç Õ E S

6

X

5

X

X

X

X

X

Lindinalva Lima de Souza, 80 anos, morreu de derrame em julho de 1995.Maria de Fátima, tosse com expectoração há 20 dias.

S A N T A C A S A D E M I S E R I C Ó R D I A

S I M 1 ( u m a )

X

X

X

X

X

X

X

1

3

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 69

Com o mapa ele pode:

• ficar conhecendo os caminhos mais fáceis para chegar

a todos os locais;

• planejar as visitas de cada dia sem perder tempo;

• ficar mais seguro na hora de prestar socorro a alguém;

• marcar todas as Microáreas de Risco;

• identificar com símbolos as casas com famílias

em situação de risco;

• marcar as barreiras geográficas que dificultam o caminho das pessoas até os

serviços de saúde (rios, morros, mata cerrada, etc.).

Vamos ver como é que se faz ummapa? Existem algumas regras impor-

tantes para que o mapa feito pelo

ACS tenha utilidade.

Noção de distância. O agente

deve reproduzir de forma reduzida

no mapa o que existe na comunidade.

Se o Centro de Saúde fica no final da

rua, é ali que ele coloca o símbolo que

representa o Centro. Se a escola fica

de um lado da rua e a padaria do

outro, é assim que o ACS deve desenhar

no seu mapa. Cada símbolo deve ocu-

par, no desenho, o lugar daquilo que

ele representa.

Noção de direção. O que fica ao Norte deve ser desenhado ao Norte. O que

fica a Oeste deve ser desenhado a Oeste. E assim por diante.

Norte, Sul, Leste e Oeste são os pontos cardeais. Para saber onde fica cada um

deles, a maneira mais simples é verificar onde o Sol nasce. Ali fica o Leste.

Vamos ver como é que se marcam os pontos cardeais?Você aponta o seu braço direito para onde o Sol nasce e o braço esquerdo para

onde o Sol se põe, no Oeste. Nessa posição, de braços abertos, a pessoa fica de

frente para o Norte. E de costas para o Sul.

7 7

3. CONHECENDO A COMUNIDADE ATRAVÉS DE MAPAS

Um outro jeito de aumentar seus conhecimentos sobre a sua comunidade é

trabalhar com mapas. O mapa é um desenho que representa, no papel, o que existe

nos lugares: as ruas, as casas, a prefeitura, as escolas, os serviços de saúde, a feira,

o comércio, as igrejas, o correio, o posto policial, os rios, as pontes, os córregos e

outras coisas importantes.

É como se fosse uma foto, um retrato de sua comunidade vista de cima e que,

quando você olha, fica sabendo, por exemplo, que a rua S. José está perto da igreja

e que o Centro de Saúde fica perto do Posto Policial.

Na Prefeitura de sua cidade devem existir alguns mapas para você consultar:

o mapa do Brasil, o do Estado, o da cidade. Você vai perceber que o mapa do Brasil

é dividido em Estados, e cada Estado é formado por vários municípios. O municí-

pio pode ser formado por distritos, vilas, bairros, povoados.

Cada um desses municípios é marcado no mapa com um pontinho cheio ou

uma bolinha. Quando você quiser saber onde fica sua cidade, procure no mapa do

seu Estado qual o pontinho que tem o nome da sua cidade. Vai estar no mapa, tam-

bém, o nome das cidades vizinhas à sua.

O mapa do Agente Comunitário de Saúde é o desenho de toda a área onde ele

trabalha.

O mapa mostra onde ficam as casas, as ruas, as praças, as Microáreas de

Risco, todos os pontos que você considerar importantes.

Como fazer o mapa da comunidade?O ACS não precisa ser bom desenhista para fazer o mapa. Não há necessidade

de mostrar as casas como elas são. Quadradinhos, por exemplo, servem para

indicar que naqueles pontos ficam as famílias que o ACS visita. Da mesma forma,

o ACS pode representar um lixão, um charco, com símbolos bem fáceis de desenhar.

E ele não faz o mapa sozinho. Em todo o seu trabalho, o agente conta sempre

com a ajuda dos seus colegas da Unidade de Saúde. Principalmente a enfermeira

(ou enfermeiro) que exerce a função de instrutor-supervisor.

O agente pode também contar com a comunidade para ajudá-lo na preparação

do mapa. Um ótimo motivo para se conhecerem mais. O agente mostra o mapa que

está fazendo e ouve sugestões para corrigir, acrescentar, de modo que no final o

mapa dê uma boa idéia do como é aquela comunidade. Quando o mapa fica pronto,

o ACS pode organizar melhor o seu trabalho.

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

7 6

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:56 Page 71

Agora que você já sabe como fazer um mapa, vamos conversar sobre outros

mapas que podem ser feitos. O seu mapa vai para a Unidade de Saúde, e o con-

junto de todos os mapas feitos pelos Agentes Comunitários de Saúde vai formar o

grande mapa do município. Se você fizer o seu com todas as informações sobre a

sua área, ele pode dar origem a outros. São os mapas que saem do mapa original.

Eles são denominados mapas específicos. Vamos ver alguns exemplos?

Se é necessário conhecer as ruas, os caminhos e as linhas de ônibus de uma

comunidade, é possível destacar do mapa original só essas informações, desenhando

um mapa específico, só com os símbolos correspondentes.

Se na região chove muito, e você precisa conhecer bem os rios, açudes, lagos e

lagoas da região, é só estudar o mapa original e copiar apenas aqueles símbolos

desejados.

Às vezes, por exemplo, é preciso saber apenas quais são as Microáreas de

Risco de determinada comunidade. Nesse caso, a equipe de saúde copia a locali-

zação das Microáreas de Risco e passa a ter um mapa específico. Assim, quando a

equipe de saúde vê no mapa, por exemplo, os possíveis focos de contaminação por

esgoto, ela pode tomar as providências corretas para aquelas Microáreas de Risco.

Esses mapas são muito importantes, pois eles permitem que se conheça melhor

a realidade das comunidades e que se possa planejar como resolver os seus proble-

mas de saúde com mais eficácia.

No mapa completo, temos uma informação geral sobre o território ocupado pela

comunidade. Copiando só as informações desejadas, obtemos mapas específicos, e

dinâmicos porque as informações estão constantemente mudando. Um local onde

há hoje um grupo de pessoas em situação de risco pode depois de algum tempo

desaparecer, a depender do trabalho da equipe de saúde juntamente com os ACS,

naquela área. Imagine uma comunidade onde há um riacho e sobre ele um tronco

de árvore por onde se passa com muito risco e onde sempre ocorrem acidentes. Isto

pode desaparecer, se o ACS, a comunidade e a equipe de saúde juntarem suas

forças e conseguirem uma passarela ou uma ponte para substituir a situação de

risco. E isto desaparece do mapa de Microárea de Risco, ficando modificado tam-

bém no mapa da comunidade.

Como você sempre vai ter a cópia do seu mapa com você, não será difícil ir

acompanhando as mudanças na sua comunidade.

7 9

Agora, pense na sua comunidade e faça uma lista de coisas que são impor-

tantes para a vida comunitária. Por exemplo:

• Prefeitura

• Postos de Saúde

• Centros de Saúde

• Hospitais

• Escolas

• Igrejas

• Centros Religiosos

• Delegacias

• Postos Policiais

• Quadras de esporte

• Campo de futebol

Escreva também outras coisas que podem ser lembradas com seus nomes:

• Rua principal

• Cartório

• Correio

• Parada de ônibus

• Casa da parteira, da benzedeira, da curandeira.

E outras coisas de que você se lembra.

Agora pegue uma folha de papel, marque os pontos cardeais e tente desenhar

um mapa de sua comunidade com as quadras, as casas, as ruas, as praças, os

c a m i n h o s , os córregos ou rios que passam por ali. Depois, vá marcando onde ficam

esses estabelecimentos de que você se lembrou, com símbolos.

Sugestões de alguns sinais para você usar:

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

7 8

PrefeituraCasa do Agente

de Saúde Casas

Escola

Capelaou Igreja

Rio

Barranco Monte

Unidadede SaúdeMatoRoça

Casa daParteira

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 73

•é bom organizar algumas perguntas sobre o tema proposto, para orientar

a reunião;

•providenciar todo o material: lápis, folhas de papel, giz, cartolina, etc.

Se for necessário, convidar com antecedência alguém para falar sobre algum

assunto específico, de interesse da comunidade.

8 1

O mapa do ACS, embora bastante simples e fácil de fazer, juntamente com as

informações coletadas no cadastramento das famílias, vai ajudar a equipe de

saúde no diagnóstico de saúde da comunidade, o nosso próximo capítulo.

4. PROMOVENDO REUNIÕES COMUNITÁRIAS

A ação educativa é a alma do trabalho do Agente Comunitário de Saúde e

através dela o agente partilha o seu saber e também vai aprendendo com as pessoas.

As atividades em grupo são momentos de troca, onde os interesses coletivos

aparecem e os conhecimentos são discutidos, e também o processo de aprender e

ensinar se torna mais rico.

Por isso as reuniões comunitárias são muito importantes.

Elas são ocasiões que servem para:

•as pessoas que compõem o grupo se conhecerem, trocarem experiências e

informações;

•estimular a participação das pessoas, os relatos de experiências, onde todos

possam discutir questões que, muitas vezes, são comuns a todos: modos de

vida, crenças, valores e desejos;

•trabalhar as informações, com espírito crítico e bom senso, ajudando cada

participante a colocar seu modo de pensar e se fazer respeitado;

•sensibilizar as pessoas, para que reflitam e questionem seus problemas,

buscando apoio para poder resolvê-los.

Mas e agora, como fazer?Não existe uma fórmula pronta, mas existem passos que podem facilitar o seu

caminhar em direção ao trabalho com grupos. Use-os com espírito crítico e bom senso.

O primeiro passo é planejar a reunião:

•definir o objetivo – todos devem saber com antecedência

de que se trata a reunião, qual o objetivo;

•providenciar local que possa acomodar bem todas as pessoas;

•escolher dia e horário que facilitem a presença de todos;

•escolher um assunto de interesse da maioria, sempre que possível;

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

8 0

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 75

•os participantes devem escolher quem vai coordenar, relatar e anotar

o resultado das discussões;

•é muito importante que todos participem, ouvindo, discutindo, dando sua opinião;

•nas primeiras reuniões, algumas pessoas podem ficar muito inibidas, por-

tanto não podemos forçar a participação. É bom incentivar e estabelecer uma

relação de ajuda e respeito a essas pessoas.

O quarto passo é a avaliação:

•a avaliação precisa ser feita com a participação das pessoas, verificando se

as suas expectativas e dúvidas foram todas respondidas e se o objetivo proposto

foi alcançado. A avaliação é importante para o ACS saber o que deu certo e o que

foi ruim e assim procurar corrigir e planejar melhor as próximas reuniões.

8 3

O segundo passo é a divulgação:

•espalhar a notícia para o maior número de pessoas;

•elaborar os cartazes com letras grandes, bem criativas, para chamar a

atenção. O cartaz deve conter a data, o horário, o local e o assunto;

•divulgar a reunião nos lugares mais freqüentados da comunidade: mer-

cearias, bares, mercados, supermercados, escolas, posto de saúde, feiras, etc. Se for

possível, usar jornal, alto-falante, rádio, sem esquecer do papo de rua.

O terceiro passo é o desenvolvimento da reunião:

•é recomendável que o agente

seja o primeiro a chegar, recebendo

e cumprimentando a todos;

•o ACS deve se apresentar e solicitar que cada pessoa se apresente. A seguir,

precisa informar os participantes sobre a pauta da

reunião: objetivos, duração, assunto. A pauta ajuda

a organizar a condução dos trabalhos, porém deve

ser flexível, permitindo mudanças durante a reunião,

podendo ser acrescentado ou retirado algum assunto,

dependendo da necessidade do grupo;

O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE

8 2

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 77

Aprender com a Comunidade *

David Werner e Bill Bower

A função mais importante do agente de saúde, num programa

comunitário, não é dar atendimento. Também não é simplesmente

servir de ligação entre a comunidade e o sistema de saúde externo.

É ajudar as pessoas a encontrar soluções mais eficazes para os

p r o b l e m a s .

Por isso, o agente precisa compreender profundamente os pontos

fortes e os pontos fracos da comunidade e a sua característica

específica. Com as pessoas da comunidade, o agente de saúde vai

conhecer melhor os...

Problemas

• problemas de saúde locais e suas causas

• outros problemas que afetam o bem estar das pessoas

• problemas que as pessoas consideram graves

Fatores Sociais

• crenças, costumes e hábitos que afetam a saúde

• estrutura familiar e social

• formas tradicionais de cura e solução de problemas

• como as pessoas de relacionam umas com as outras

• como as pessoas aprendem (por tradição e na escola)

• quem controla quem e o quê (distribuição de terras, poder e

recursos)

Recursos

• pessoas habilidosas: líder, curandeiro, contador de histórias, artistas,

artesão, professores...

• terras, colheitas, fontes de alimentos, fontes de combustível (lenha,

etc...), água

• fornecimento de roupa e material de construção

• feiras, lojas, transporte, comunicações, ferramentas

Como obter informações sobre a comunidade

Não existem regras ou um jeito “certo” para obter informações

APRENDER COM A COMUNIDADE

8 4*Ensinando e Aprendendo a Cuidar da Saúde, 1984

sobre uma comunidade. Eis algumas idéias:

1. Visite as famílias para conhecê-las. Não comece com um

l e v a n t a m e n t o. A informação obtida em uma visita informal é

mais verdadeira e mais útil. Coloque os problemas e sentimentos

das pessoas em primeiro lugar. Ouça, ofereça ajuda, e só depois de

haver um relacionamento de confiança e amizade obtenha informações.

2. Quando coletar informações, descubra quais problemas as

pessoas acham mais importantes e querem resolver primeiro.

Preste atenção como querem resolver os problemas.

3. Peça somente informações que têm sentido (e não sim-

plesmente porque mandaram perguntar). Verifique se o pessoal

entende por que a informação é necessária. Por exemplo, os pais

devem saber por que você pesa as crianças, antes de você pesá-las.

4. Faça as pessoas participarem da coleta de dados.

O estudo precisa ser feito pelas pessoas, não apenas sobre as pessoas.

5. Quando estiver fazendo um levantamento ou diagnóstico de

comunidade, evite extensos questionários escritos. Não

escreva enquanto a pessoa fala, ouça com atenção e anote

depois. Seja sempre sincero quanto ao objetivo da sua visita.

6. Torne o levantamento uma oportunidade para ensinar e aprender.

Faça perguntas não apenas para obter informações, mas

também para levar as pessoas a pensarem de novas

maneiras. Por exemplo, em vez de perguntar, “Quantos sabem ler

na sua família?”, pergunte também, “Que vantagem há em saber ler

e escrever?”, “A escola ensina seus filhos o que eles estão precisan-

do saber?”, “Se a escola não ensina, quem ensina?. (Você encontra

perguntas desse tipo em “Onde não há médico”, p. 10 a 12.)

7. Observe atentamente as pessoas. Observando o modo como as

pessoas agem, você descobre tantas coisas quanto fazendo perguntas.

Aprenda a olhar e ouvir.

8. Vá devagar, quando aconselhar as pessoas, principalmente

Te x t o d e A p o i o n º 4

8 5

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 79

Te x t o d e A p o i o n º 4

8 7

quando se trata de atitudes e hábitos. Muitas vezes é melhor contar

uma história onde outros resolveram um problema semelhante,

de outro jeito. Dê bom exe m p l o.

Atenção: Onde os registros de nascimento e óbitos são bas-

tante corretos, podem fornecer informações sem incomodar as

pessoas. Uma boa coisa é comparar o número de óbitos de

menores de cinco anos com o total de óbitos. Por exemplo, numa

região das Filipinas, a mortalidade infantil aumentou de 35% para

70% do total de óbitos entre 1975 a 1980. Isto demonstra que as

condições de saúde estão piorando!

Indicadores de Saúde

Os indicadores de saúde são fatos ou acontecimentos impor-

tantes, que nos dão a idéia do nível de saúde de uma comunidade.

Em geral são escolhidos itens que podem ser medidos (veja a lista ao

lado). Os indicadores que podem ser medidos facilitam comparações

e registros e parecem mais precisos. Mas, quando utilizamos somente

indicadores mensuráveis, corremos o risco de dar pouca importância

aos fatores humanos que são difíceis ou mesmo impossíveis de medir.

É um erro cometido em muitos programas – principalmente

nos grandes. Por exemplo, o sucesso de programas de planejamento

familiar é muitas vezes medido por indicadores como: “Até que

ponto as mulheres são pressionadas para aceitar o planejamento

familiar?” ou “O que o povo acha do programa que coloca mais

ênfase no controle de natalidade do que em outros aspectos da

saúde?” . Como ignoram esses fatores humanos difíceis de medir,

alguns programas foram expulsos do local (país).

Ao avaliar as atividades comunitárias, é importante que o

agente observe os indicadores humanos, mais difíceis de medir,

APRENDER COM A COMUNIDADE

8 6

além dos indicadores padrão mensuráveis.

Apresentamos aqui uma lista de alguns indicadores de saúde, men-

suráveis ou não. Aumente a lista à sua própria experiência.

Indicadores mensuráveis da saúde comunitária,

comumente usados

Número ou percentagem de:

•óbitos infantis

•óbitos de crianças abaixo de 5 anos, de adultos, etc.

•crianças bem-nutridas ou desnutridas

•crianças e gestantes vacinadas

•crianças por família (tamanho das famílias)

•casais que fazem planejamento familiar

•família com água encanada, privadas, etc.

•procura dos programas para menores de 5 anos

•casos de doenças específicas

Indicadores mensuráveis de bem-estar comunitário,

difíceis de medir

•auto-imagem das pessoas

•tendência para a dependência ou autonomia

•exemplos de famílias que ajudam umas às outras (ou brigam)

•como são tomadas as decisões na comunidade

•como o ensino se relaciona com as necessidades da comunidade

•correção ou corrupção dos líderes

•em que medida os líderes, agentes de saúde e professores dão

bom exemplo, compartilham os conhecimentos e tratam os outros

como iguais

•consciência social: capacidade da população de expressar e analisar

seus problemas

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 81

Eu cursava o magistério quando vieram

implantar o PACS no bairro. Foram no colégio e pas-

saram uma fita mostrando a vida do agente comu-

nitário. Fiquei pensando, cheguei em casa e conversei

com o meu esposo: “Sabe, Valmer, a gente vê os proble-

mas dos outros e não se interessa. Eu já fiz tanta coisa

errada quando estava gestante; nem sabia a importân-

cia da vacina. Fui um fracasso, por falta de orien-

tação”. Quando estava gestante, não tinha quem visi-

tasse as famílias para levar uma palavra amiga, falar

da importância do pré-natal, e sofri muito para ganhar

meus meninos, senti na pele. Aí eu falei: “Por que não ?

Posso contribuir com as famílias e ganhar para ajudar

em casa”. Fiz a inscrição, passei e comecei o trabalho.

As pessoas da comunidade já me conheciam e pergun-

tavam para que era aquilo. Eu explicava: “Olha, sou

agente comunitária de saúde e a gente vai trabalhar

junto, vai ser uma troca de experiência. Nós somos um

elo entre as famílias e o Posto de Saúde, o meu trabalho

é prevenir as doenças que podemos evitar. No meu

primeiro dia, não encontrei casos de encaminhamento

para o Posto de Saúde; só cartão de vacina atrasado,

quase todos... Hoje, graças a Deus, isso mudou .

O cadastramento demorou um mês”.

Antonia Carvalho de Freitas,

Agente Comunitária de Saúde,

Aliança do Tocantins, TO

O ACS - Ajudando a fazer odiagnóstico da comunidade

8 8

“Neste capítulo, você, agente, vai conhecer de que

forma as informações sobre a comunidade, que você

aprendeu a coletar no capítulo anterior, vão ajudar

no diagnóstico de saúde da sua comunidade,

possibilitando à Secretaria Municipal de Saúde

definir políticas de saúde que atendam às reais

necessidades epidemiológicas locais

C A P Í T U L O V

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 83

complementados com mais informações, pois além de não se conseguir todos os

dados no primeiro momento, as situações mudam e os dados iniciais vão sendo

modificados e atualizados.

Quando se tem um diagnóstico comunitário como ponto de partida para o

trabalho em saúde, as ações são planejadas, decididas e realizadas em comum,

entre profissionais e comunidade, a partir de uma identificação local de problemas

e recursos, de uma adaptação das prioridades do município às políticas de saúde

estaduais e federais.

Vamos ver, agora, como as informações do cadastramento ajudamno diagnóstico da comunidade?

Na Ficha A de cadastramento, você coleta dados sobre a idade das pessoas,

se são do sexo masculino ou feminino, quantas pessoas moram em cada casa,

qual a condição de saúde de cada uma.

Você cadastra a família que sai da comunidade e a que chega. Se alguém vai

embora, você anota. Se alguém vem de fora para morar na comunidade, você tam-

bém anota.

Esse movimento de entrada e saída de pessoas na comunidade chama-se

migração.

Quando você anota tudo isso, você tem informações que vão permitir à

equipe de saúde e ao grupo de trabalho que vai fazer o diagnóstico de saúde da

comunidade realizar o diagnóstico demográfico.

Vamos ver o que é isso?Diagnóstico demográfico é a conclusão a respeito das características de uma

comunidade, em relação a: número de pessoas que ali nascem, migram, morrem;

o número de habitantes por idade, sexo e sua distribuição por localidade; o número

de pessoas que migram; o número de óbitos.

Quando você anota a idade das pessoas das famílias, fica sabendo quantas

crianças, quantos adolescentes, quantos adultos, quantos idosos há em cada

família. A separação de cada um desses grupos é o que se chama classificaçãopor faixa etária. Se você somar todas as pessoas de cada grupo na sua comu-

9 19 1

Diagnóstico de Saúde da Comunidade

A análise da situação de saúde é a primeira etapa de um programa de saúde

comunitário. Não se concebe hoje um trabalho sério de cuidados primários de

saúde sem esse diagnóstico, que

envolve a participação popular, a abor-

dagem intersetorial e a descentraliza-

ção da política de saúde.

O ideal é que o diagnóstico

comunitário seja feito pela comu-

nidade, com a equipe de saúde, num

trabalho coletivo de identificação e

auto-análise dos problemas, necessi-

dades e recursos desta comunidade, de

sua qualidade de vida.

É dando a palavra à comu-

nidade, escutando-a, favorecendo a expressão de suas necessidades, que a equipe

de saúde fica conhecendo o que essa comunidade sabe sobre seus problemas,

necessidades e recursos em relação à saúde. Nem sempre o que a equipe percebe

e identifica como prioridade é o que a comunidade quer e precisa. Por exemplo, às

vezes uma comunidade quer se organizar por um melhor serviço de água e o

serviço de saúde se organiza em torno de um programa intensivo de planejamento

f a m i l i a r.

Como a saúde está muito relacionada às condições de vida, fazer uma

análise do que se precisa para melhorar a saúde de uma comunidade é um tra-

balho grande e de equipe. O Agente Comunitário de Saúde é um auxiliar valioso

para isto, pois além de fazer o cadastramento das famílias da sua área, faz o

mapeamento e reúne a comunidade para, juntos, discutirem as suas necessidades

e decidirem as prioridades para a área.

O instrutor/supervisor pode ser o coordenador de um grupo de trabalho

montado para fazer o diagnóstico, o que envolve não só profissionais de saúde, mas

trabalhadores de outras profissões, grupos e pessoas da comunidade.

O grupo de trabalho é que vai definir os objetivos do diagnóstico, mobilizar

os meios e recursos e avaliar os resultados. Esses resultados deverão ser sempre

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

9 0

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 85

Até agora o ACS usou sua prancheta e a Ficha A para fazer o cadastramento

que trouxe dados importantes para o diagnóstico demográfico e o d i a g n ó s t i c os ó c i o - e c o n ô m i c o. Mas é preciso ter informações sobre o meio ambiente da

c o m u n i d a d e .

É o momento então de o ACS anotar, no seu

caderno ou em outro tipo de instrumento, o que a equipe

de saúde determinar sobre a água, a terra, a vegetação,

o relevo e o clima do lugar onde ele vive e trabalha.

O meio ambiente tem enorme influência sobre

a saúde das pessoas. Nas grandes cidades, por exem-

plo, o ar cheio de fumaça das fábricas, dos carros, ca-

minhões e ônibus traz prejuízos à respiração. Quem

mora em região com umidade baixa, isto é com clima

muito seco, precisa tomar cuidado com os problemas

respiratórios e de desidratação.

Vamos ver alguns pontos que você pode observar e anotar?

A região onde você atua tem água em abundância ou não? tem mar? tem

lagoa? tem rio? tem mangue? tem riacho? tem charco? tão tem nada disso?

A terra é seca? úmida? fértil? arenosa? boa para plantar? tem períodos l o n-

gos de seca, provocando dificuldades de sobrevivência e até migração das famílias?

A vegetação, como é? mata atlântica? floresta amazônica? pampas? tabuleiros?

caatinga? Você pode descrever a vegetação da sua área.

O relevo é montanhoso? plano? tem muito barranco?

O clima é quente? frio? temperado? seco? chuvoso? em que época do ano

chove mais? tem problema de inundação, gerando perdas para as famílias, inclu-

sive desabrigo? tem problemas de clima que afetam a lavoura?

São tantas as perguntas sobre meio ambiente e tantas as preocupações em

preservá-lo.

Preservar é defender, proteger, resguardar. Está no dicionário e consultar o

dicionário ajuda sempre a tirar dúvidas.

9 3

nidade, vai ficar sabendo quantas crianças existem e de que idades, quantos ado-

lescentes, quantos adultos e quantos idosos há na sua comunidade.

Essa classificação é importante para o diagnóstico, porque o grupo de tra-

balho vai poder planejar as ações de saúde, de acordo com as necessidades de cada

um dos grupos.

Por exemplo:

Em uma comunidade em que existam muitas crianças de menos de 5 anos,

o ACS vai estar muito atento às vacinas, e pronto para o seu trabalho de orien-

tação às mães para a prevenção das doenças, principalmente diarréia e infecções

respiratórias agudas. E vai estar estimulando as mães para amamentarem os

seus filhos, exclusivamente, até os seis meses de idade.

Outro exemplo:

Se as mulheres em idade reprodutiva são em maior número na comunidade,

é preciso planejar ações que estimulem o pré-natal entre as gestantes, exames

preventivos de câncer de mama e de câncer de colo do útero, e outras doenças a

que as mulheres sejam mais vulneráveis.

É importante que a equipe de saúde saiba quem está chegando e saindo da

comunidade, porque quem vai pode precisar levar informações sobre a saúde da

sua família para outra comunidade. E quem chega pode trazer ou não. E a equipe

de saúde tem de estar atenta , pois a pessoa que vem de fora pode estar trazendo

alguma doença contagiosa, como tuberculose, sarampo, etc. E assim por diante.

As informações que você anota sobre condições de moradia, ocupação, per-

mitem saber o que as pessoas fazem para viver e como vivem. Como ganham e gastam

o seu dinheiro. Se têm condições de sustentar sua família ou se estão em situação de

pobreza extrema, em situação de risco.

As anotações sobre o tipo de trabalho das pessoas da família dizem quais

são as suas atividades econômicas. Quando anota se elas são alfabetizadas ou não,

o agente está juntando dados sobre escolaridade.

As anotações sobre os meios de comunicação e de transporte também são

dados que mostram as suas condições de vida.

O conjunto de todos esses dados vai permitir que a equipe de saúde, com a

comunidade e outros profissionais, faça o diagnóstico sócio-econômico, com a par-

ticipação do ACS.

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

9 2

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 87

Assim, todos os dados sobre os aspectos culturais precisam ser anotados,

com muita atenção pelo ACS, e analisados com muito cuidado pela equipe de

saúde.

Essas informações são preciosas no momento de se planejar as ações pre-

ventivas. Em muitos lugares, existem pessoas da comunidade que lidam com a

cura, usando métodos populares tradicionais.

Raizeiros, benzedores e curandeiros conhecem a comunidade, sabem dizer

em que as pessoas mais acreditam, podem mostrar as plantas que usam. O ACS

pode conversar com a equipe de saúde sobre as informações anotadas e, com mais

conhecimento sobre o assunto, pode passar orientações seguras sobre a utilização

ou não dos medicamentos alternativos.

Como você pode ver, é preciso ter muita informação sobre uma comunidade

para que se possa fazer o seu diagnóstico de saúde.

O Agente Comunitário de Saúde faz parte da equipe que

realiza o diagnóstico de saúde da comunidade e, sob a coorde-

nação do instrutor/supervisor, consegue as informações de

muitas maneiras: cadastrando as famílias, mapeando as

Microáreas de Risco, organizando reuniões comunitárias, con-

versando com as pessoas que lidam com o povo: pessoal das

associações comunitárias, padres, pastores, professores, far-

macêuticos, políticos, parteiras, curandeiros e outros mais. Os

cartórios da cidade podem ser fonte de informação sobre

número de registro de crianças nos últimos dois anos, situação

legal das terras onde as pessoas moram, origem de certos bair-

ros, etc.

Assim, você vai “juntando” esses conhecimentos. Uns

completarão os outros. Dessa maneira, você vai conhecendo

sua comunidade e ajudando no diagnóstico de saúde da comu-

nidade.

Você não estará sozinho nesse trabalho!

Você terá a orientação do seu instrutor/supervisor sobre

as maneiras de recolher esses dados. Para facilitar o trabalho,

procure reunir-se com ele uma vez por semana. Vá contando e

registrando os dados da ficha e esclarecendo suas dúvidas

9 5

Você colheu informações sobre condições da água, destino de fezes e urina e

do lixo no cadastramento. Essas informações, somadas às informações sobre o

meio ambiente que você anotou no seu caderno, vão ajudar a compor o diagnós-

tico de saúde da comunidade.

Sanear significa tornar são. Assim, saneamento básico é fazer com que as

pessoas tenham condições de água tratada, esgoto, coleta de lixo, etc. Tomar

providências para que as pessoas possam viver em ambiente limpo e saudável.

O meio ambiente pode ser perturbado por pessoas, por grupos, por indiví-

duos interessados em grandes lucros. Pode também ser prejudicado pelo modo de

agir dos cidadãos e cidadãs de uma comunidade.

Onde existe a preocupação com a limpeza e com a saúde, o resultado é um

lugar limpo e saudável. Onde as pessoas não dão valor à limpeza e à saúde, o

resultado é sujeira por toda parte. E sujeira é uma porta aberta para as doenças.

Toda comunidade tem seus hábitos, valores e

conceitos que formam a sua cultura. De um modo

geral, essa cultura beneficia a saúde, ou não prejudica.

Mas existem costumes e crenças que prejudicam a

saúde das pessoas. As informações do cadastramento

somadas a outras informações registradas em

reuniões, nas visitas domiciliares, nos papos de rua,

ao serem levadas para a equipe de saúde, vão ajudar

a conhecer a cultura da comunidade e fazer parte do

diagnóstico de saúde da comunidade.

Conhecendo a cultura da comunidade, o ACS,

com orientação da unidade de Saúde, vai saber como

proceder, quando as pessoas deixam de cuidar da

saúde por motivos culturais, por certos tabus.

As crenças religiosas também devem ser

respeitadas. Elas têm muito a ver com a saúde. Há,

por exemplo, religiões que não permitem transfusão de

sangue; outras que só aceitam métodos naturais de

planejamento familiar. Há os dias santificados que são

diferentes para cada religião. Há outras religiões que

têm profunda influência na alimentação dos fiéis, etc.

Todos os dados sobre religião são importantes

para a equipe de saúde.

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

9 4

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 89

Vamos, a seguir, orientar o seu preenchimento .

Ficha B - Acompanhamento da gestante

Sempre que você fizer uma visita domiciliar, pergunte se há alguma mulher

grávida na família. É importante descobrir as gestantes, o mais cedo possível,

e encaminhá-las para o pré-natal na Unidade de Saúde. Em cada ficha, você vai

registrar os dados de sete gestantes.

9 7

sobre o preenchimento dessa ficha e a consolidação dos dados. Assim, juntos, vocês

irão descobrindo quais são as situações de risco, as Microáreas de Risco e quais

são as famílias em situação de risco da sua comunidade.

Exemplo: Se a comunidade não tem água tratada, isto é uma situação de

risco e a área onde a pessoas vivem é uma Microárea de Risco. Se uma família tem

uma criança que nasceu com menos de 2.500 gramas, é considerada família em

situação de risco.

Você poderá, então, planejar o seu trabalho, dando prioridade para aque-

las famílias que necessitam ser acompanhadas mais freqüentemente.

Portanto, as famílias em situação de risco e as que pertencem aos grupos

prioritários, precisam ser acompanhadas mais de perto do que as famílias que

necessitam só das visitas regulares. Esse diagnóstico é um ponto de partida para

você e seu instrutor/supervisor organizarem seu calendário de visitas domiciliares.

O diagnóstico vai mostrar ainda a importância e o valor do seu trabalho, porque

ele vai descrever como estava a situação de saúde antes, e como ficou depois de

algum tempo que você iniciou sua valiosa atuação: o que você conseguiu, o que está

difícil de melhorar, etc.

Todas as informações que você conseguir sobre a comunidade ajudam a

organizar o seu trabalho. Algumas dessas informações você vai anotar em fichas

próprias para compor o Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB - de que

já falamos no cadastramento.

Para as informações que você não conseguir num primeiro momento, deixe

o espaço em branco e vá preenchendo à medida em que for visitando as famílias,

descobrindo as gestantes e acompanhando as crianças.

Você vai utilizar quatro fichas. Uma delas você já conhece e sabe como

preencher: é a Ficha A - cadastramento das famílias. As outras são: Ficha B -Acompanhamento de gestante; Documento C - Cartão da Criança; Ficha D -registro das atividades diárias do ACS.

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

9 6

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10/11 17/11 17/12 17/01 17/02 17/03 17/04 17/05 17/06 17/07 17/08última partoregra

Data da Va c i n a 5 - Toda gestante deve tomar 3 doses de vacinacontra o tétano. O agente deve incentivar e encaminhar todas as gestantes paratomarem a vacina, que protege o bebê contra o tétano-neonatal, que a gente chamade Mal de 7 dias.

Antes de começar a anotar, você deve solicitar o comprovante de vacinação,se a gestante já teve outros filhos. Você vai ver se a gestante já tomou a vacina,observando o Cartão da Gestante.

Os espaços 1, 2 e 3 servem para anotar a data em que a gestante tomou a1ª,2ª e 3ª doses de Toxóide Tetânico (TT). Se a gestante tomou o esquema básico (astrês doses) e a 3ª. dose foi tomada há menos de 5 anos da gravidez atual, escrevera palavra “Imunizada”, ocupando os três campos (1, 2 e 3). Se a gestante tivertomado a última dose há mais de 5 anos, deve receber uma dose de reforço. Anotarno campo R a data em que o reforço foi dado.

O estado nutricional da gestante 6 - nutrida ou desnutrida. O estadonutricional pode ser avaliado através da “curva peso x idade gestacional” que constado Cartão da Gestante.

Os campos de 1 a 9 correspondem aos meses de gestação. Em cada visita, nocampo correspondente ao mês de gestação, anotar D, se a gestante estiver desnu-trida e N, se a gestante estiver nutrida.

Data da consulta de pré-natal - os campos de 1 a 9 correspondem aosmeses de gestação 7 . Em cada visita, no campo correspondente ao mês de gestação,anotar a data em que a gestante realizou consulta de pré-natal com médico ouenfermeiro. Quando existe segurança de que a consulta aconteceu, mas por qual-quer motivo não se sabe a data, marcar um X.

AT E N Ç Ã O - considera-se consulta de pré-natal aquela realizada por médico ouenfermeiro, diretamente relacionada com a gestação, em qualquer unidade de saúde.

9 9

Observe a Ficha B.O primeiro quadro é para

ser preenchido como você preen-cheu o da Ficha A.

Em cada espaço paraidentificação da gestante, vocêdeve escrever o nome completo1 e no campo “Endereço” 2deve colocar rua, avenida oupraça, número e bairro.

Data da última regravocê vai perguntar para a mulherquando foi que ela menstruoupela última vez. No espaço dadata da última regra, anote dia,mês e ano correspondente aoprimeiro dia do último períodomenstrual. Se ela não se lem-brar o dia, anote só mês e ano. 3

Para a data provável dop a r t o 4 , o cálculo vai ser feitopelo instrutor/supervisor juntocom você. Vai ser usada a regrade Nagële que consiste em adi-cionar à data da última mens-t r u a ç ã o , 7 dias e mais 9 meses.

Exemplo: se a últimamenstruação foi em 10 de no-vembro, a data provável do partoserá 17 de agosto.

9 8

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

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Te x t o d e A p o i o n º 5

1 0 7

Data da visita doACS 8 - o ACS deveanotar o dia em querealizou a visita domi-c i l i a r, isto é, quando asinformações sobre oacompanhamento men-sal da gestante foramo b t i d a s.

Fatores de Risco9 - quando a gestanteapresenta um dosfatores de risco sele-cionados, marcar um Xao lado da informaçãocorrespondente. Sendodetectado qualquer umdesses fatores de risco,

significa que há risco potencial para todo o período de gestação.São considerados fatores de risco para a gestante e a criança as seguintes

condições:

• 6 ou mais gestações - considerar todas as gestações anteriores, inde-pendentemente de seu resultado (aborto, natimorto ou nascido vivo). Não considerara gestação atual.

• n a t i m o r t o / a b o r t o - ocorrência de, pelo menos, uma gestação anterior queresultou em aborto ou natimorto (ver definições no item “resultado da gestação atual”).

• 36 anos e mais - idade materna igual ou superior a 36 anos, tomando comoreferência a idade da mãe na data da última menstruação.

• menos de 20 anos - idade materna inferior a 20 anos, tomando comoreferência a idade da mãe na data da última menstruação.

1 0 0

Identificação do problema,

necessidades e recursos

Estabelecimento das prioridades

Dos problemas prioritários

Definição dos objetivos da ação

Escolha de uma estratégia de ação

Execução de um plano de ação

• Escolha das atividades

• Mobilização e coordenação de recursos

Execução das atividades

Avaliação

1. O que é o diagnóstico comunitário?

Fazer o diagnóstico comunitário é identificar os problemas, as neces-

sidades, os recursos de uma comunidade. É um processo que

c o n s t i t u i a primeira etapa do planejamento em saúde comunitária

como se vê no esquema seguinte:

Etapas do Planejamento de um Programa de Saúde

Comunitária

O ACS - AJUDANDO A FAZER O DIAGNÓSTICO DA COMUNIDA D E

DiagnósticoComunitário

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 95

Os esquemas seguintes ilustram essa idéia.

Hierarquia dos serviços nas ações de saúde

As ações de saúde são planejadas no nível central e aplicadas no

nível local, em direção à população que assume freqüentemente um

papel passivo.

Com a inversão da pirâmide clássica, vemos que:

As ações de saúde são decididas, planejadas e realizadas em comum

entre profissionais e pessoas da comunidade, a partir de uma iden-

tificação local de problemas, necessidade e recursos.

O nível regional assegura a coordenação e a supervisão das ações

locais.

O nível central decide as grandes orientações de política sanitária e

fornece os apoios complementares necessários (recursos humanos,

materiais e financeiros) aos níveis regionais e locais.

Te x t o d e A p o i o n º 5

1 0 9

Se a primeira etapa não estiver bem-feita, esse esquema pode resultar

em programas de saúde fracassados, porque eles podem representar

as necessidades em saúde da comunidade.

Assim, por exemplo, numa pequena cidade de um país em desen-

volvimento, o povo pedia saneamento básico e o pessoal de saúde

queria implantar um programa de planejamento familiar. O diagnós-

tico foi feito sobre e não com a comunidade.

As necessidades de uma população podem ser percebidas de forma

diferente, se foram identificadas pelos profissionais de saúde com a

participação das pessoas da comunidade.

Essa identificação dos problemas de saúde pode ser feita:

• Utilizando-se medidas do estado de saúde de uma população, por

exemplo: os indicadores de mortalidade e de morbidade.

• Determinando-se a importância dos problemas, a partir da per-

cepção que os indivíduos têm de seus problemas. Na prática, essa

abordagem é raramente utilizada, com os argumentos de que é difícil

obter essa informação ou que as percepções podem não ser precisas, etc.

O diagnóstico comunitário que se propõe aqui sugere combinar

essas duas formas de identificação de necessidade da comunidade.

Além disso, esse trabalho só pode ser feito em equipe – equipe de

saúde, de outros profissionais e de representantes da população – o

que leva a tomar consciência da complementaridade das ações e da

necessidade de uma integração de diferentes atividades de saúde

da família.

Uma outra característica do diagnóstico comunitário é que se trata

de um processo local, onde se vai perceber como as políticas de

saúde dos níveis centrais e regionais são adaptadas às necessidades

reais da população.

O DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO

1 0 8

Abordagem

ClássicaNível

Central

Nível

Regional

Nível Local

Serviços Básicos

de Saúde

População

Comunidade

NÍvel Local

NÍvel

Regional

NÍvel

Central

Cuidados

Primários

de Saúde

Abordagem baseada

nos Cuidados Primários

de Saúde

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 97

2. A Metodologia do Diagnóstico Comunitário

2.1. A fase preparatória

Se a gente quiser que o diagnóstico tenha uma orientação real-

mente comunitária, não se deve colocar a comunidade diante de

um projeto pronto de diagnóstico, mas propor a participação desde

a fase de planejamento do diagnóstico.

Para isto, um grupo de trabalho deve ser constituído para: definir os

objetivos do diagnóstico, determinar os meios e os métodos, mobi-

lizar os recursos necessários, avaliar os resultados e fazer os con-

tatos iniciais necessários. Na prática, às vezes, se começa com um

grupo pequeno e se amplia à medida que se desenvolve o trabalho,

buscando sempre um equilíbrio entre profissionais e representantes

de diferente grupos da comunidade.

O grupo de trabalho precisa ser informado e formado sobre

aspectos como comunicação com a comunidade, analisar e inter-

pretar os dados recolhidos, etc.

2.2. O diagnóstico comunitário propriamente dito

Nesta fase, temos as etapas seguintes:

1. definição dos objetivos do diagnóstico comunitário escolhido;

2. estabelecimento da lista das informações ou dados a coletar;

3. identificação das fontes de dados, escolha dos métodos mais

apropriados para recolher esses dados e, se necessário, elaboração

de instrumentos para questionários, entrevistas, tabelas, etc.

4. coleta de dados;

5. análise e interpretação dos dados coletados, identificação dos

problemas, necessidades, recursos e grupos de risco;

6. estabelecimento das prioridades;

7. documentação dos problemas prioritários.

1. A definição dos objetivos

Trata-se de chegar a um acordo sobre o que a gente procura saber,

por exemplo, uma equipe de saúde pode precisar identificar proble-

mas e necessidades das crianças de uma comunidade para orientar o

seu atendimento. Em outros casos, pode se partir de um problema

já identificado que se deseja conhecer a importância real, ou que se

quer documentar (comprovar em dados), a fim de obter todas as infor-

O DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO

1 1 0

mações para executar um programa comunitário adequado.

Pode-se, igualmente, desejar verificar até que ponto se justifica a

implantação de um novo serviço de saúde na comunidade ou avaliar o

impacto das ações que já são desenvolvidas.

O objetivo principal da equipe de saúde poderá ser também, simples-

mente, desejar conhecer melhor a comunidade na qual ela trabalha.

2. As informações ou dados a coletar

Propomos aqui uma lista de informações, e cada equipe p o d e r á

escolher as que mais lhe convêm e acrescentar ainda outras que julgar

importantes. Elas se referem a:

A. Características da comunidade:

o contexto

• a história da comunidade;

• o clima, as características geográficas (regiões montanhosas, planas,

tipos de solo e vegetação);

• zona urbana e rural;

• a distribuição da população, os tipos de habitação;

• principais vias de comunicação;

• meios de transporte.

a demografia

• número de habitantes e a estrutura por idade;

• a natalidade, a mortalidade, a idade do casamento;

• as migrações (idas e vindas dos habitantes daquela comunidade

para outras).

a situação sócioeconômica

• as atividades da comunidade e os recursos locais;

• a situação de empregos e desemprego;

• as categorias profissionais e as ocupações;

• os salários;

• o custo de vida;

• a organização familiar;

• a identificação dos grupos da comunidade: religiosos, culturais,

profissionais;

• o sistema de proteção social (educação, saúde, bem-estar social).

Te x t o d e A p o i o n º 5

1 1 1

É impossível coletar todos

os dados, porque eles

envolvem muitos aspectos

da vida.

Portanto, a gente tem que

selecionar as informações

mais importantes de acordo

com o objetivo que quer se

a t i n g i r.

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 99

O esquema ao lado mostra essas relações.

Assim, fica-se conhecendo os fatores de risco para se desen-

volver ações preventivas e recursos existentes ou potenciais, para

apoiar ou desenvolver os programas de ação.

Exemplos:

De fatores de risco

• dificuldades de acesso aos serviços de saúde

(fatores do ambiente e sanitários);

• o desemprego, a falta de proteção social

(fatores sócioeconômicos);

• a baixa cobertura de vacina (fator sanitário)

De recursos

• a existência de muitos meios de transporte

(fator ambiental);

• uma taxa elevada de alfabetização das mães ou

existência de uma associação de mulheres dinâmica

(fatores culturais);

• um pessoal de saúde competente em matéria de cuidados

primários de saúde (fator sanitário).

Estes dados a serem coletados podem ser: quantitativos e qualitativos.

Exemplos:

Dados quantitativos

• taxa de mortalidade por idade e de morbidade (incidência de

sarampo, diarréia, infecções respiratórias, etc.);

• a taxa de mortalidade;

• a idade média dos casamentos;

• o espaço de tempo médio entre os nascimentos;

• os números relativos à utilização dos serviços de saúde.

Dados qualitativos

Os dados qualitativos correspondem sobretudo aos fatores culturais

e às opiniões de diferentes grupos da população sobre os problemas

de saúde, sua importância, suas causas e as soluções mais eficazes.

Te x t o d e A p o i o n º 5

1 1 31 1 3

a organização administrativa

• centralização da administração;

• a política governamental em matéria de saúde;

• a legislação sanitária e social;

• a sensibilidade dos representantes da comunidade

(vereadores, prefeitos);

• as prioridades nos planos de saúde e do município.

a vida cultural e religiosa

• as tradições, os costumes, os comportamentos relativos à

alimentação, à saúde e à reprodução humana;

• as religiões;

• o lazer;

• o nível de escolaridade e de alfabetização;

• a existência de associações ou grupos culturais, políticos, militares,

religiosos, etc;

• os modos de relação e de comunicação entre as pessoas da

comunidade e entre eles e as outras comunidades.

sistema sanitário

• estrutura de saúde e equipamento sanitário existente (público e

privado): unidades de saúde, farmácias, etc;

• as atividades de saúde existentes (cuidados preventivos e cura-

tivos, educação em saúde, etc.);

• o acesso e a utilização dos serviços de saúde pela população;

• o pessoal de saúde: número, categorias, formação

e competências;

• a medicina tradicional.

B. Os dados que permitem apreciar o estado de saúde

da população, sobretudo mortalidade e morbidade.

C. As relações características entre a comunidade e seu

estado de saúde.

Isso pode ser feito esforçando-se por identificar os fatores que têm

um papel determinante, positivo (recursos) e negativo (fatores de

risco), sobre o estado de saúde da população e de suas pessoas.

O DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO

1 1 2

Fatores

Sanitários

Estado deSaúde da

Comunidade

Fatores

DemográficosFatores

Sócio

econômicos

Fatores

Culturais

Fatores

Ambientais

Fatores

Administrativos

e políticos

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 101

anteriormente pelo grupo de trabalho que coordena o diagnóstico

e através de visitas aos serviços públicos, fábricas, usinas e comércio

da cidade.

Enfim, o diagnóstico terá sempre que combinar várias técnicas para

recolher o maior número possível de dados e deverá ir se c o m p l e-

tando com dados observados à medida que for sendo realizado.

4. A coleta de dados

Isto dependerá do tempo disponível para atingir os objetivos e da

disponibilidade dos membros do grupo de trabalho. É uma atividade

mais ou menos contínua, com períodos de maior intensidade.

5. Análise e interpretação dos dados

A partir dos dados coletados, o grupo de trabalho responsável pelo

diagnóstico vai poder distinguir, por exemplo:

• as taxas julgadas anormais (de natalidade, de mortalidade, etc.)

• os fatores que desempenham um papel importante na saúde da

comunidade;

• as opiniões das pessoas da comunidade sobre os problemas e

necessidades julgados prioritários, suas opiniões e representações

sobre fatos ligados à saúde, suas expectativas, suas tendências ou

resistências às mudanças, etc.

Esses dados normalmente permitem listar os principais problemas e

necessidades identificados. Nem sempre eles são os mesmos para

o pessoal de saúde e a comunidade. Mas esses dados também

possibilitam identificar os recursos, por exemplo:

• as competências de pessoas ou grupos da comunidade que

poderão ser utilizados para a resolução de problemas;

• os canais, os lugares de comunicação e de encontros utilizados

pela comunidade.

Pode-se, também, identificar, pelos dados coletados, os indivíduos e

grupos de risco que poderão construir o “alvo” prioritário das ativi-

dades e serviço de saúde.

Te x t o d e A p o i o n º 5

1 1 5

3. A identificação das fontes de dados, a escolha dos

métodos e a elaboração de instrumentos de coleta dos

dados.

Nesta fase, é preciso distinguir:

A - As informações existentes

As informações existentes e os materiais a consultar são, entre outros:

• os planos de saúde do país, do Estado, do município;

• os livros de registro de nascimento, casamento e morte dos

cartórios;

• as estatísticas e relatórios dos serviços de saúde, sobretudo, de

serviços de pediatria, de pré-natal, de planejamento familiar;

• os relatórios de pesquisas feitas na comunidade ou na região, por

Universidades ou outras instituições;

• a imprensa local e regional, artigos de jornais, revistas, programa

de rádio e TV.

B - As informações a criar

Diversas técnicas, complementares umas às outras, permitem reco-

lher diariamente essas informações.

1. Observação da comunidade

2. Ouvir o que pensam e sentem as pessoas-chave e os grupos da

comunidade, sobretudo:

• serviços sociais, da educação, etc.;

• dos líderes oficiais da comunidade: autoridades civis e religiosas e

também os militares;

• dos líderes e práticos tradicionais: líderes de associações esportivas,

culturais, políticas, curadores e parteiras;

• dos outros membros da comunidade como:

a. crianças em idade escolar,

b. adolescentes,

c. famílias de diferentes classes sociais,

d. profissionais de várias categorias, etc.

Pode-se conseguir essas informações por reuniões comunitárias,

através de conversas informais, entrevistas e questionários planejados

O DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO

1 1 4

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 103

incidência das diarréias agudas, os grupos de idade mais vulneráveis

e a taxa de mortalidade por diarréia. Em seguida foi preciso buscar

os fatores determinantes da diarréia infantil na comunidade, por

exemplo:

• a representação e o significado de diarréia infantil na comunidade;

• as práticas tradicionais utilizadas pelas mulheres: podem ser nega-

tivas (ex. não dar líquido a crianças com diarréia) ou positivas

(ex. utilizar sopa de legumes com propriedade antidiarréicas);

• o nível de conhecimento e as atividades do ACS no que se refere

ao tratamento de diarréia e da desidratação, etc.

Assim, com todas essas informações, poder-se-á definir os obje-

tivos, as ações para atingir esses objetivos, uma estratégia adequa-

da e efetuar a avaliação das atividades desenvolvidas.

O esquema seguinte resume as etapas de um programa de saúde,

mostrando o papel do diagnóstico comunitário dentro desse

p r o g r a m a .

Te x t o d e A p o i o n º 5

1 1 7

6. O estabelecimento de prioridades

Nesta etapa há o risco de confrontar as diferenças de percepção

entre profissionais de saúde e membros da comunidade quanto à

importância real e a urgência dos problemas e das necessidades.

A escolha final deverá ser o resultado de um diálogo, de uma nego-

ciação onde os diferentes argumentos e pontos de vista deverão ser

considerados.

O importante não é saber quem tem razão, mas chegar às decisões

nas quais a comunidade se reconhecerá, às quais ela aderirá e para

as quais ela se mobilizará.

7. A documentação dos problemas prioritários

Essa etapa consiste em:

• definir com precisão o problema e se necessário reformulá-lo;

• estabelecer as causas determinantes na comunidade e os fatores

de risco;

• identificar os recursos que poderão ser utilizados para sua

r e s o l u ç ã o .

Para exemplificar, falemos de uma comunidade onde um problema

identificado foi a morte de crianças menores de 5 anos, com fre-

qüência, por causa da diarréia.

A identificação das características da comunidade permitiu verificar

que se tratava de uma vila de agricultores, situada numa região mon-

tanhosa, a 50 km da cidade mais próxima e particularmente de difí-

cil acesso na estação das chuvas. As casas ficavam muito longe umas

das outras.

Aliás, a água potável só existia em uma fonte situada a 3 km da vila

(fatores ambientais). O posto de saúde só contava com um agente de

saúde pouco preparado, mas desejoso de cooperar (fator sanitário). E,

existia uma associação feminina muito ativa (fator social).

Foi o instrutor/supervisor que detectou o problema nos registros do

posto de saúde e que tomou a iniciativa da constituição de um grupo de

trabalho. O governo decidiu lançar um programa de luta contra

diarréia que só era aplicado na capital.

A primeira tarefa do grupo constituiu em se informar sobre a diarréia

através de um questionário. Este permitiu as informações sobre

O DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO

1 1 6

Diagnóstico

Comunitário

Definição do problema

com determinação

da população-alvo

Definição de problema

Análise da situação

Avaliação

Execução

do programa

Identificação

dos recursos

Definição de

atividades

Escolha de uma

estratégia

Formulação

dos objetivos

Políticas de saúde

Estabelecimento do

plano operacional

AF-FOLHETO SAUDE 31-10-2001 15:57 Page 105

Ministério da Saúde/Secretaria de Assistência à

Saúde/Coordenação de Atenção Básica. Manual para a Organização

de Atenção Básica. Brasília, DF, 1999.

Ministério da Saúde/Secretaria de Assistência à

Saúde/Coordenação de Saúde da Comunidade. Saúde da Família: uma

estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Brasília, DF, 1997.

Ministério da Saúde/Secretar ia de Pol íticas de

Saúde/Coordenação de Atenção Básica. TRO - Letras que Dão Vida,

Brasília, DF, 1998.

O M S / O PAS. Saúde Infantil - Módulo de Capacitação para

Agentes de Saúde. 1989.

S A L L E N AVE, Rosa Nancy Urribarri R. O que o Agente de

Saúde deve conhecer da Comunidade. Fundação Hospitalar do

Distrito Federal, Brasília, DF.

Saúde da Comunidade - Um desafio. Coletânea. Edições

Paulinas, São Paulo, SP, 1984.

VALLA, Victor e STOTZ, Eduardo N. Participação Popular e

Saúde. Editora Gráfica Serrana Ltda, Petrópolis, RJ, 1989.

U N I C E F. Ações Integradas de Saúde Materno- I n f a n t i l

e Nutrição - Manual do Instrutor e Agentes Comunitários de

Saúde. Brasília, DF.

U N I C E F. Guia para Diagnóstico e Saúde, Croquis e

Censo com Participação Comunitária - material adaptado do

Programa Ateprisa. México, 1989.

WERNER, David, e BOWER, Bill. Aprendendo e

Ensinando a Cuidar da Saúde. Edições Paulinas, São Paulo,

3ª edição, 1984.

1 1 9

Se você quiser aprofundar seus conhecimentos nos assuntos

tratados neste material, poderá pesquisar os livros abaixo relacionados:

AU C É L I O, Patrícia Queiroz. Sem carências... com saúde:

Aprendendo sobre a Vitamina A, Ferro e Iodo. Ministério da Saúde,

Brasília, DF, 1998.

BARROS, Fernando C. e VICTORA, Cesar G. Epidemiologia

da Saúde Infantil - um Manual para Diagnósticos Comunitários.

H U C I T E C- U N I C E F, México, 1991.

Comunidade Solidária. Programa de Agentes Comunitários de

Saúde - PACS. Brasília, DF, 1997.

Mini s tér i o da Saúde/Assessoria de C o m u n i c a ç ã o

Social. As Vantagens da Municipalização da Saúde. Brasília, DF, 1998.

Ministério da Saúde/Assessoria de Comunicação

Social/Coordenação de Saúde da Comunidade. Agentes em Ação.

Série de 25 programas em vídeo para o Curso de Capacitação à

Distância dos Agentes Comunitários de Saúde. Brasília, DF, 1998.

Ministério da Saúde/Assessoria de Comunicação

Social-IEC. Promoção da Saúde. Brasília, DF, 1996.

Ministério da Saúde/Coordenação Nacional de

D S T-AIDS. Prevenção e Controle das DST/HIV na

Comunidade: Manual do Agente Comunitário de

Saúde. Brasília, DF, 1999.

Ministério da Saúde/Coordenação Nacional de

D S T-AIDS. Aprendendo sobre a AIDS e Doenças

Sexualmente Transmissíveis: Livro da Família. Brasília, DF,

1 9 9 9 .

PARA SABER UM POUCO MAIS

1 1 8

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