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O Trauma facial entre mulheres
vítimas de violência
2011
Profa Dra Liliane Silva do Nascimento
Presente em nosso cotidiano – GLOBALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA.
Histórica social- relaciona-se com a proteção e sobrevivência.
Pesquisa- 1 milhão e 650 mil pessoas morreram porviolência interpessoal (49,1% foram suicídios,31,3% homicídios, 18,6% resultado de guerras).
Variação por sexo e idade: 77% dos homicídios ocorrem entre oshomens e sua taxa é mais que três vezes a das mulheres, sendomaior nas faixas etárias de 15-29 anos (19,4 por 100 mil) e 30-44anos (18,7 por 100 mil); 60% dos suicídios também ocorrem entrehomens, taxa que aumenta com a idade.
(OMS,2002)
A violência ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade, ou
como possibilidade próxima.Nascimento, 2007
Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (2008) revelao caráter endêmico e se converteu num problema desaúde pública em vários países.
Violências domésticas e intrafamiliares, com agressõesfísicas, sexuais e psicológicas, além da privação enegligência acometem, sobretudo, mulheres, crianças eidosos.
A violência contra as mulheres é diferente da violência interpessoal em geral.
As taxas de violência contra a mulher mostram-se variáveis em diferentes países e regiões a depender das distintas culturas. Se revela em taxas subestimadas de sua ocorrência.
Atrelado as desigualdades sociais e econômicas, outras iniqüidades devem ser consideradas, tais como a desigualdade de gênero.
Estima-se que no mínimo 2,1 milhões de mulheres são
espancadas por ano no país, o que significa: 175
mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto – uma a
cada 15 segundos (Fundação Perseu Abramo, 2001).
Estudo em serviço de atenção primária em São Paulo,
em que 57% das mulheres atendidas relataram violência
física alguma vez na vida, porém apenas 10%
apresentavam registros em seus prontuários.
(SCHRAIBER e D’OLIVEIRA, 1999).
SOCIAL
JÚRIDICO
SAÚDEFUNDAÇÕES,
ONGs,outros
EDUCAÇÃO
POLÍTICA
ECONOMIA
VIOLÊNCIA
“... O setor da saúde constitui uma
encruzilhada para onde confluem todos os
corolários da violência, pela pressão que
exercem suas vítimas sobre os serviços de
urgência, de atenção especializada, de
reabilitação física, psicológica e de
assistência social (OPAS, 1996)”
“Violência contra a mulher”
é qualquer ato de violência que tem
por base o gênero e que resulta ou pode
resultar em dano ou sofrimento de natureza
física, sexual ou psicológica, inclusive ameaças,
a coerção ou a privação da liberdade, quer se
produzam na vida pública ou privada.”
(ONU,2006)
Mulheres vítimas de violência apresentam diversos sinais e sintomas patológicos
Traumatismos neurológicos;
Fraturas ósseas;
Dores de cabeça;
Insônia;
Depressão;
Infecções do trato urinário;
Deformidades;
Tendências ao suicídio;
Queixas diversas (poliqueixosas);
Outros.
(Heise et al., 1999; Portela, 2000; Scharaiber et al., 2002;
Marinheiro, 2004; Sanguim, 2003; Scholle et al., 2005;
Campbell et al., 2007)
“A cabeça e a face são as regiões mais comprometidas pelos traumas!”
(Fávero, 1973; Abreu, 1996; Gutman, 1995; Sobreira, 2002; Santi, 2003; Santi & Nakano, 2004)
Internacionalmente: países diversos e em 1996 ADA - CDs precisam identificar os sinais de violência e ser agentes de prevenção;
No Brasil, a questão violência e odontologia se reflete em questões fundamentadas no ECA, técnicas e epidemiologia bucomaxilofacial –ESTRITAMENTE LIGADAS AO TRAUMA FÍSICO.
É preciso ver a violência contra a
mulher na sua polissemia causal,
dentro dela a atuação da odontologia
tanto no reparo de danos estéticos
quanto a prevenção de violência
precisa ser estimulada e articulada na
área da saúde e áreas afins.
Buscar a resolutividade dentro da integralidade da saúde enquanto direito das
mulheres!!!!
Violência física: é perpetrada por meio de socos,empurrões, beliscões, mordidas e chutes. Ou pormeio de atos ainda mais graves, como queimaduras,cortes e perfurações feitas com armas brancas ou defogo.
Contempladas nos artigos 121 a 129 do Cógico Penal Brasileiro.
Art. 129 do CPB
Das Lesões Corporais
Formas de manifestação da violência:
Violência psicológica, moral, patrimonial e sexual.
Gráfico 01: Distribuição das mulheres vítimas de lesão corporal dolosa com
lesões no complexomaxilomandibular e estruturas anexas atendidas no Núcleo
de Odontologia Legal do IML/RP de maio de 2005 a outubro de 2006 segundo
local de ocorrência da lesão.
Nascimento, 2007
27
12231
16
2 5
orbitária, labial, nasal
orbitária, labial
orbitária, labial, nasal, malar, zigomática, ATM
orbitária, labial, nasal, malar e zigomática
labial
labial, nasal
orbitária, nasal, labial, mentoniana
labial, nasal e ATM
Os tecidos moles sãoafetados, como um pára-choque e não rarocomprometem ascondições da estéticafacial.
Reiner, 1994; Deslandes & Gomes, 2000;
Cavalcanti, 2004;
61
2 4
0
10
20
30
40
50
60
70
1
socos e pontapés
socos e tijolada
objetos diversos
Gráfico 02: Distribuição das mulheres com lesões no complexo maxilo-mandibular e estruturas anexas atendidas no Núcleo de Odontologia Legal do IML/RP de maio de 2005 a outubro de 2006 segundo agente agressor.
91%
Os principais responsáveis pelas lesões do complexo maxilomandibular são socos e pontapés, gerando fraturas e perdas dentárias, as lesões mais comuns.
(Ramos, 1998;Frugoli, 2000; Fugate 2005).
Segundo a classificação forense das lesões encontradas, as lesões
de defesa são comumente observadas pós agressão física.
Escoriação nas costas
provocada por chute.Lesões cortantes leves (arranhões) na
região posterior do braço esquerdo.
Artigo 129 do CPB: lesão corporal consiste
em ferir a integridade física ou psíquica de
alguém.
Escoriação do ombro de
aproximadamente 3 cm no
braço direito provocado por
queda junto a superfície dura
(parede chapiscada).
Cicatrizes de instrumento
punctório há mais de um ano na
mão direita.
74,6%
17,9%7,5%
Gráfico 03: Distribuição das mulheres com lesões no complexo maxilo-mandibular eestruturas anexas atendidas no Núcleo de Odontologia Legal do IML/RP de maio de2005 a outubro de 2006 segundo gravidade da lesão (leve, grave, gravíssima).
Classificação Silva(1997)
Das lesões leves: escoriações lábios, pescoço, hematomas, luxação de
ATM, luxações dentárias = lesões que ofendem à integridade corporal ou à saúde
de outrem”. Esse tipo de lesão está disposto no caput do art. 129 do Código
Penal, cuja pena é a de detenção - 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Das lesões graves: incapacidades para ocupações habituais por mais de
trinta dias; perigo de vida.; debilidade permanente de membro, sentido ou
função. Esse tipo de lesão está disposto no caput do art. 129 do Código Penal,
cuja pena é a de RECLUSÃO - 1 (um) mês a 5 (cinco) anos.
“As perdas dentárias sempre decorrem prejuízo às vítimas, não sendo admissível a pretensão de que dentes artificiais tenham o mesmo valor funcional e durabilidade dos dentes naturais.”
(Ramos, 1998; Frugoli, 2000)
Das lesões gravíssimas: incapacidade permanente para o trabalho;
enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
deformidade permanente. Esse tipo de lesão está disposto no caput do art. 129
do Código Penal, cuja pena é a de RECLUSÃO - 2 (dois) anos a 8 (oito) anos.
A face abriga o maior número de órgãos dos sentidos, bem como as funções fonéticas, mastigatórias; portanto estas lesões impedem ou dificultam a abertura bucal e a total função do sistema estomatognático.
(Cardozo, 1997; Mori, 2003)
Membro ou função?
Implicações para a equipe de atendimento as mulheres
vítimas de violência
Trabalhar em equipes interdisciplinares aumenta a taxa
de resolutividade das demandas de saúde.
A inclusão do cirurgião dentista no cenário das discussões
amplia o olhar na área específica e afins de modo a
possibilitar reflexões à elaboração de políticas de saúde
bucal considerando a perspectiva de gênero.
Acolher a mulher vítima
de violência é dar voz a
sua história!
É indicar caminhos
para o exercício da
plena cidadania,
para que consiga
resgatar a condição
de ser mulher inteira
novamente.
Bibliografia
1. BOURDIEU, P. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999
2. BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001 3. GARBIN, C.A.S.; GARBIN, A.J.I; DOSSI, A.P.; DOSSI, M. O. Violência
doméstica: análise das lesões em mulheres. Cad. Saúde Pública, v. 22, n.12, p. 2567-2573. Dez, 2006.
4. JESUS, D. E. Temas de Direito Criminal – 1.ª série, Saraiva, 1998.5. LEATHERS, R.; LEE, A. D.; BLACK, E. D.; McQUIRTER, J. L. Orofacial injury
in underserved minority populations. Dental Clinics of North America,v. 47, n. 1, p. 127-139, Jan. 2003.
6. MORI, A T. Expectativas com relação aos resultados estéticos dostratamentos odontológicos. Dissertação de mestrado apresentada aFaculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, 2003.
7. SANTI, L. N.; NAKANO, A. M.. A mulher vítima de violência e a saúdebucal. Annais do ICOWHI, 2004. CD-ROOM.
8. SANTI, L. N.; CHIAPERINI, A. T.;PEREIRA, J. M.; BÉRGAMO, A. L.;WATANABE, M. G. C.; BREGAGNOLO, J. C. Avaliação de danosbucomaxilofaciais resultantes das lesões corporais em mulheresregistradas no ano de 1998 em Ribeirão Preto/São Paulo. Anais daFaculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade deSão Paulo, ago-dez, p.133, 2003.