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PT O VALOR DOS OCEANOS INICIATIVA OCEANOS 2013-2017 5 anos INICIATIVA GULBENKIAN OCEANOS

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PT

O VALOR DOS OCEANOS INICIATIVA OCEANOS 2013-2017

5anos

INICIATIVAGULBENKIANOCEANOS

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Fundação Calouste GulbenkianIniciativa Gulbenkian OceanosFrancisca Moura, Catarina Grilo, Filipa Saldanha, Gonçalo [email protected]+ 351 217 823 000

Autoria: Catarina Grilo, Filipa Saldanha, Gonçalo Calado

Esta brochura resume os principais resultados e impactos da Iniciativa Gulbenkian Oceanos (IGO), que decorreu de 2013 a 2017. Durante estes cinco anos, a IGO recolheu informação sobre as suas atividades, incluindo através de relatórios de projeto e questionários respondidos pelos participantes. A IGO também encomendou a uma organização externa, a Logframe, a recolha das perceções que os seus parceiros e beneficiários têm sobre a IGO, através de um questionário online e/ou através de entrevistas presenciais ou telefónicas.

Revisão: Catarina Espírito SantoDesign gráfico: Formas do Possível, Creative StudioImpressão: Jorge Fernandes, Lda.

350 cópiasLisboa, Setembro 2017

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Introdução

Ao longo de cinco anos, uma iniciativa da Fundação Ca-louste Gulbenkian trabalhou para melhorar a compreen-são do valor dos oceanos. A Iniciativa Gulbenkian Oceanos (IGO) trouxe para o debate público e para a agenda política o papel dos oceanos no desenvolvimento econó-mico sustentável e no bem-estar humano, promovendo novas políticas baseadas em conhecimento científico em Portugal, na União Europeia e globalmente.

Tendo em vista uma melhor proteção, conservação e ges-tão dos oceanos, foram definidos três eixos estratégicos que orientaram a atuação da IGO (Fig. 1):

/ Aumentar o conhecimento sobre o valor económico dos oceanos, em particular sobre os benefícios dos oceanos como ativos estratégicos para o desenvolvimento econó-mico sustentável e para o bem-estar humano;

/ Aumentar a consciência ambiental sobre os oceanos em Portugal;

/ Promover a adoção e/ou melhoria de políticas de ges-tão pública e privada do ambiente marinho.

A Iniciativa Gulbenkian Oceanos tem sido determinante para colocar as questões científicas, tecnológicas e de inovação ligadas aos oceanos na agenda científica nacional, bem como para estreitar laços e redes internacionais. Portugal é um país oceânico e este tipo de iniciativas, provenientes de uma instituição de prestígio como a FCG, são determinantes para conduzir e manter Portugal na vanguarda do conhecimento sobre os oceanos. Trata-se, sem dúvida, de uma Iniciativa a acarinhar e a reforçar.

Ângela Lobo, Instituto Nacional de Estatística

Figura 1/Eixos estratégicos da Iniciativa Gulbenkian Oceanos

CONHECIMENTO CONSCIÊNCIAAMBIENTAL

POLÍTICAS DE GESTÃO

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A Iniciativa Gulbenkian Oceanos trabalhou com múltiplos agentes (locais, nacionais e europeus) da economia do mar. De forma a encontrar respostas de elevado impacto, procurou colaborar de perto com as pessoas e organizações, desenhar ações de formação adaptadas às diferentes neces-sidades, criar redes e sinergias e promover oportunidades de partilha e troca de conhecimento.

Para tal, apoiou e/ou desenvolveu um leque alargado de projetos e ações com objetivos distintos e dirigidos a dife-rentes públicos. Estes incluíram: investigadores de diferentes áreas, em particular das ciências sociais e naturais; ONGs

de ambiente com trabalho realizado no meio marinho; associações educativas, empresariais e outras sem fins lucrativos; crianças e jovens; grandes empresas, PMEs e microempresas; administração pública local e nacional e instituições europeias.

Neste documento destacamos sete desses projetos, apresentando um resumo de cada um e dos seus princi-pais impactos, e mostrando como a Iniciativa Gulbenkian Oceanos contribuiu para que, agora e no futuro, se tenha em conta o valor dos oceanos quando se atua em prol da sua proteção e gestão.

das pessoas mais pobres do mundo dependem de

alimentos de origem marinha

1.000Milhões

Portugal é o terceiro maior consumidor de pescado

per capita a nível mundial

Cerca de metade da população mundial vive

a menos de 150 km da costa

150km

3.º

3.ª

do comércio global é feito por via marítima

90%

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3.ª

O Turismo em Portugal beneficia do clima ameno

gerado por uma corrente oceânica quente que passa

ao largo da nossa costa, representando

7%DO PIB NACIONAL

Estima-se que, em 2015, a produção de energia eólica offshore a nível mundial terá

atingido os 38 TWh, ficando 50% acima do valor de 2014

Portugal tem a 3ª maior Zona Económica

Exclusiva (ZEE) da União Europeia

38TWh

O valor de todos estes contributos dos oceanos para o nosso bem-estar e economia é difícil de calcular.

Se não soubermos o valor dos oceanos, também não saberemos o valor das oportunidades que nos poderão dar no futuro se os conservarmos, nem tão-pouco o valor que arriscamos perder com a sua degradação e destruição.

O mar – com toda a sua beleza, força, e diversidade – é fundamental na história,

cultura e tradições de muitos países.

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Atividades e impactos

Ao longo da Iniciativa Gulbenkian Oceanos, foi recolhida informação diversificada junto dos parceiros e beneficiários de cada atividade. É possível assim estabelecer relações de causalidade entre as ativi-dades desenvolvidas e o impacto alcançado junto dos seus públicos-alvo (Fig. 3).

As atividades aqui apresentadas destacaram-se tanto pelo seu carácter inovador como pelo seu im-pacto, potencial de transformação e contributo para alcançar os objetivos da IGO. As atividades foram planeadas e desenvolvidas procurando, tanto quanto possível, que contribuíssem para mais de um dos três eixos estratégicos da Iniciativa Gulbenkian Oceanos (Fig. 2) e que o seu impacto perdurasse para além dos cinco anos de execução da IGO.

PROGRAMA DE FORMAÇÃO | ONGs de ambiente marinhas

GOVERNANÇA E GESTÃO | Co-Pesca: co-gestão das pescas no eixo Peniche-Nazaré

PROJETO | O Capital Natural e as Empresas

ANÁLISE PROSPETIVA | O Futuro da Economia do Mar até 2030

PROGRAMA DE FORMAÇÃO | Policy Development & Engagement Program

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA | Valoração Económica e Governança dos Serviços dos Ecossistemas Marinhos e Costeiros

JOGO | Banco Mundial dos Oceanos

CONsciência ambiental

POLÍTICASDE GESTÃO

CONHECIMENTO

Figura 2/Atividades de elevado impacto da IGO e eixos estratégicos a que estão associadas

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Figura 3/Atividades desenvolvidas pela IGO com elevado impacto na proteção, conservação e boa gestão dos oceanos.

Atividades outputs IMPACTOS

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA Valoração Económica e Governança dos Serviços

dos Ecossistemas Marinhos e Costeiros

8 artigos científicos 25 investigadores envolvidos

4 policy briefs

Aumento do conhecimento científico e informação sobre a valoração

económica dos oceanos

PROGRAMA DE FORMAÇÃO Policy Development and Engagement Program

2 workshops | 14 participantes 5 policy briefs (1 sobre Capital Natural e 4 sobre resultados da Investigação)

Investigadores mais aptos a influenciar políticas públicas com base em resultados científicos, nomeadamente nos temas das

energias renováveis marinhas, onda gigante da Nazaré, pesca do arrasto e investigação

interdisciplinar

ANÁLISE PROSPETIVAO Futuro da Economia do Mar:

Explorando as perspetivas para as indústrias marítimas emergentes até 2030

10 workshops técnicos 1 workshop sobre Ordenamento do Espaço

Marítimo co-organizado em Lisboa Dados e projeções da evolução futura

da Economia do Mar

Trabalho pioneiro na OCDE na área dos oceanos que tem agora continuidade

no domínio dos oceanos e inovação

GOVERNANÇA E GESTÃOCo-Pesca: Cenários para um processo de

co-gestão das pescas no Eixo Peniche-Nazaré

11 pescarias identificadas 6 pescarias com potencial médio/elevado

>40 entidades envolvidas 2 pescarias selecionadas

Processos de co-gestão em preparação nas 2 pescarias selecionadas

| co-gestão das pescas na agenda política

JOGOBanco Mundial dos Oceanos

>1600 crianças40 escolas

Aumento da consciencialização das crianças e jovens sobre a importância da gestão

sustentável do meio marinho para o desenvolvimento económico e para

o bem-estar das gerações atuais e futuras

PROGRAMA DE FORMAÇÃOONGs de Ambiente marinhas

48 participantes de 8 ONGAs marinhas 4 ações de formação

ONGs de ambiente com mais capacidade para usar argumentos económicos em defesa dos

oceanos e para influenciar as políticas do mar de forma sustentada

PROJETO “O CAPITAL NATURAL E AS EMPRESAS”

Questionário “Capital Natural Azul”

>201 empresas respondentes 93 empresas que não conheciam o conceito

de capital natural ficaram a conhecê-lo com o questionário

Destas, 76% acabaram por considerar “urgente” ou “muito urgente” tomar medidas para proteger

e manter o capital natural azul1 publicação “Capital Natural Azul e uma

gestão empresarial sustentável”

Aumento da consciencialização das empresas do mar sobre a importância da gestão

sustentável do capital natural azul para a sustentabilidade económica e ambiental

das suas atividades

PROJETO “O CAPITAL NATURAL E AS EMPRESAS”

Programa de Formação e Desafio Empresarial sobre o Protocolo do Capital Natural

1 Sessão de informação (70 participantes) 4 workshops técnicos (55 participantes de

36 grandes empresas e PMEs) 3 casos de estudo empresariais

1 policy brief

Aumento da consciencialização do setor empresarial português sobre os benefícios económicos e ambientais de aplicar práticas

de gestão sustentável do capital natural Aumento do conhecimento técnico do setor empresarial português sobre contabilidade

do capital natural Aceleração da transição para modelos

de negócio e práticas de gestão empresarial mais sustentáveis

Impulso para seguidores de mercado

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VALORAÇÃO ECONÓMICA E GOVERNANÇA DOS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS MARINHOS E COSTEIROSExecução / NOVA School of Business and Economics e Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de AveiroDuração / 30 meses

INVESTIGAÇÃO

O quê e para quê?Este projeto procurou estudar o valor económico dos benefícios dos oceanos numa zona-piloto de Portugal continental (o eixo Peniche-Nazaré) que, pela sua diversidade, pudesse servir de exemplo extrapolável para outras áreas. Procurou-se assim produzir um exemplo marcante de valoração económica dos benefícios dos oceanos e de como o conhecimento do seu valor contribui para melhorar os processos de tomada de decisão, ao mesmo tempo que aprofunda a consciência ambiental sobre os oceanos.O estudo dos benefícios que podemos obter dos vários ecossistemas marinhos tem sido de difícil concretização, em grande medida por necessitar de uma abordagem verdadeiramente interdiscipli-nar, neste caso nas áreas das ciências naturais e sociais. Este projeto foi executado por dois centros de investigação, resultando na integração das ciências naturais e das ciências económicas. A abor-dagem interdisciplinar envolveu trabalho conjunto de investigadores destas duas áreas, permitindo combinar o conhecimento sobre como funcionam os ecossistemas marinhos e costeiros com o conhecimento sobre como a sociedade usa e explora esses mesmos ecossistemas. Em particular, o projeto dedicou-se às seguintes linhas de trabalho: (i) o impacto económico das ondas gigantes da Nazaré; (ii) a viabilidade económica das energias renováveis marinhas (eólica offshore e nearshore e energia das ondas); (iii) a pesca da sardinha; (iv) a pesca de arrasto; (v) a relação entre a vulnerabili-dade dos habitats costeiros e marinhos e os benefícios que estes oferecem; e (vi) as perceções de diferentes stakeholders sobre os benefícios dos oceanos.

Principais outputs8 artigos científicos / 25 investigadores envolvidos / 4 policy briefs

ImpactoEste projeto demonstrou a necessidade de uma abordagem interdisciplinar no estudo dos bene-fícios económicos dos oceanos. Além de contribuir para aumentar o conhecimento em Portugal sobre o valor dos oceanos, as metodologias desenvolvidas e os resultados alcançados pelo projeto de investigação têm potencial para serem adaptados a outras realidades, quer em Portugal, quer no estrangeiro. A comunicação de alguns resultados sob a forma de policy brief (ver página 8) constitui ainda um exemplo de mudança para um maior impacto na sociedade dos estudos sobre os benefí-cios económicos dos oceanos.

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“A Onda de Nazaré foi interpretada como um Ecossistema Marinho em toda a sua extensão, sendo que a sua valora-ção económica é agora mais bem com-preendida; a produção de conhecimento referente ao nível de impacto da pesca do arrasto a nível nacional aumentou e poderá ser utilizada em futuros projetos de investigação como referência; a gestão dos ecossistemas marinhos poderá agora ser melhorada tendo em atenção os trabalhos sobre a economia do mar, bem como a delimitação de áreas de produção de energia eólica offshore que evitam conflitos com artes de pesca.”

Juan Bueno Pardo, Investigador, CESAM/Univ. Aveiro

“Tratou-se de uma iniciativa pioneira no contexto nacional ao desafiar uma equipa composta por economistas, biólogos, oceanógrafos, entre outros, a debruçar-se sobre uma região escolhida da costa portuguesa. Foi um enorme desafio a partir do qual ficou clara a re-levância da interdisciplinaridade. Este aspeto consubstanciou-se também nas parcerias que entretanto foram sendo criadas e que demonstram a necessida-de cada vez maior de integrar as várias áreas do conhecimento para poder em conjunto responder melhor aos desafios que são colocados por uma realidade cada vez mais complexa, nomeadamen-te no que respeita à contribuição para a definição de políticas que requerem a colaboração dos diferentes stakeholders no contexto de um desenvolvimento sustentável.”

Antonieta Cunha-e-Sá, Coordenadora do projeto de investigação, NOVA SBE

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POLICY DEVELOPMENT & ENGAGEMENT PROGRAMExecução / International Centre for Policy AdvocacyDuração / 8 meses

PROGRAMA DE FORMAÇÃO

O quê e para quê?A Iniciativa Oceanos promoveu uma formação sobre policy advocacy1 para que o conhecimento científico produzido no âmbito do projeto de investi-gação interdisciplinar tenha impacto ao nível da mudança de políticas. Este programa de formação foi dirigido simultaneamente aos investigado-res do projeto e à equipa da IGO, para que todos pudessem apoiar a IGO neste seu objetivo. O Policy Development and Engagement Program (PDEP) centrou-se em melhorar a capacidade dos participantes para prepararem recomendações com base em estudos científicos, comunicando-as sob a forma de policy briefs2 que apoiem os seus esforços de promoção de novas políticas públicas junto dos decisores.Em resultado desta formação, foram preparados cinco policy briefs. Os po-licy briefs sobre a onda gigante da Nazaré, energias renováveis marinhas, e pesca de arrasto resultaram diretamente do projeto de investigação. O policy brief sobre investigação interdisciplinar foi inspirado no projeto de investigação, nomeadamente no contraste entre o potencial de impacto da investigação interdisciplinar na sociedade e o fraco apoio dado a vários níveis à investigação interdisciplinar em Portugal. O quinto policy brief, so-bre o capital natural, resulta diretamente do projeto “O Capital Natural e as Empresas” e é dirigido ao setor empresarial, ao contrário dos restantes que são dirigidos aos decisores políticos na Administração Pública local e nacional.

Principais outputs2 workshops / 14 participantes / cinco policy briefs (4 sobre os resulta-dos do projeto de investigação e 1 sobre o projeto “O Capital Natural e as Empresas”)

ImpactoO PDEP permitiu produzir 5 policy briefs sobre temas distintos, para os quais o conhecimento recolhido e/ou produzido pelo projeto de investigação e pela IGO foi fundamental. Esta formação permitiu ainda confirmar que há investigadores interessados em melhorar o impacto da sua investigação na sociedade, através do seu envolvimento em policy advocacy. Esta formação, pioneira em Portugal, tem assim um potencial substancial para alavancar o conhecimento científico produzido em Portugal, em benefício de melhores políticas públicas.

Eu estava a par da teoria, mas não dos instrumentos, da lógica, do processo de análise, e a aprendizagem foi útil para começar a pensar sobre o potencial que a minha organização tem para influen-ciar os processos de decisão.

[Aprendi] o quão difícil é fazer análi-se de políticas. E quão interessante é também. E que os académicos pouco (ou nada) pensam sobre as implicações da sua investigação para as políticas, e é tempo de começarmos a fazê-lo.

Participantes no 1.º workshop do PDEP

[Aprendi] sobre diferentes papéis em termos de influência, e [a definir] objeti-vos viáveis. É agora muito claro o papel que posso desempenhar em termos de advocacy.

[Aprendi] sobre o perfil do público-alvo, adaptar a mensagem e criar e aprovei-tar oportunidades.

Participantes no 2.º workshop do PDEP

Vocês tornaram este cientista de cabeça quadrada num crente na necessidade de escrever policy briefs e na necessi-dade de contextualizar o trabalho de acordo com o ciclo de elaboração de políticas.

Juan Bueno Pardo, Investigador do projeto de investiga-ção, CESAM/Univ. Aveiro

1 Processo deliberado de influenciar quem toma decisões e define orientações políticas.2 Policy briefs são documentos curtos, concisos e sem linguagem técnica, que utilizam conhecimento empírico e/ou científico para recomendar alternativas de atuação a decisores.

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O FUTURO DA ECONOMIA DO MAR ATÉ 2030Execução / OCDEDuração / 24 meses

ANÁLISE PROSPETIVA

O quê e para quê?A OCDE realizou uma análise prospetiva da economia do mar até 2030, dando ênfase ao potencial de crescimento de indústrias emer-gentes. Este estudo, apoiado por vários estados-membros da OCDE, incluindo Portugal, e por organizações como a Fundação Calouste Gulbenkian, também através da sua delegação no Reino Unido, foi motivado pelas perspetivas otimistas relativamente ao crescimento global da Economia do Mar, mas também pela consciência de que este crescimento enfrenta alguns riscos. O estudo concluiu que muitas indústrias marítimas (aquacultura marinha, eólica offshore, processamento de pescado, e construção e reparação naval) vão ter melhor desempenho que a economia mun-dial em 2030, e que a degradação dos oceanos será um dos fatores limitativos do crescimento da Economia do Mar a nível mundial.

Principais outputs10 workshops técnicos / 1 workshop sobre ordenamento do espaço marítimo co-organizado em Lisboa / dados e projeções sobre a evolução futura da Economia do Mar.

ImpactoO trabalho realizado no decurso deste projeto, pioneiro no seio da OCDE, tem agora continuidade num novo projeto sobre Economia do Mar e Inovação, cujo objetivo é disponibilizar informação aos decisores para estes melhorarem o leque de políticas promotoras de inovação para uma gestão sustentável dos oceanos.

Após a contribuição da Fundação Gulbenkian para o Projeto “O Futuro da Economia do Mar até 2030”, a OCDE começou a trabalhar de forma mais consistente nos oceanos, o que poderá levar a recomendações de orientações políticas em áreas diferentes como a inovação, as áreas marinhas protegidas, o ordenamento do espaço marítimo, os indicadores marinhos, etc.

Laura Recuerdo Vitro, Ministério dos Negócios Estrangeiros Francês

Vários países basearam-se nos resultados do nosso trabalho para desenvolverem estratégias de longo prazo de gestão dos sistemas marinhos; na OCDE, onde o trabalho foi realizado, o Projeto deu aos assuntos do mar uma grande visibilidade quer dentro do secretariado quer entre os estados-membros – adicionalmente, levou ao estabelecimento de importante traba-lho novo sobre o papel da ciência e da ino-vação tecnológica no reforço das aborda-gens sustentáveis à gestão dos oceanos.

Barrie Stevens, Assessor Sénior, Grupo da Economia do Mar, OCDE

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CO-PESCA: CENÁRIOS PARA UM PROCESSO DE CO-GESTÃO DAS PESCAS NO EIXO PENICHE-NAZARÉExecução / WWF-Portugal (co-financiado pelo PROMAR)Duração / 24 meses

GOVERNANÇA E GESTÃO

O quê e para quê?Este projeto, do qual a Iniciativa Oceanos foi parceira, teve como objetivo identificar pescarias no eixo Peniche-Nazaré que pudessem beneficiar de um processo de co-gestão (i.e., em que os pescadores decidem as medidas de gestão da pescaria conjuntamente com a Administração Central), para assegurar a sua sustentabilidade económica, social e ambiental. Das onze pescarias inicialmente iden-tificadas pela WWF-Portugal, seis tinham potencial médio/elevado para serem geridas em sistema de co-gestão. Estas foram discutidas de forma participativa com mais de 40 entidades, e duas pescarias foram selecionadas como tendo maior potencial para implementar a co-gestão: a apanha do percebe das Berlengas, e a apanha de bivalves na Lagoa de Óbidos.

Principais outputs11 pescarias identificadas / 6 pescarias com potencial médio/eleva-do / >40 entidades envolvidas / 2 pescarias selecionadas

ImpactoApós o término do projeto, a WWF-Portugal tem continuado a trabalhar neste tema, procurando agora implementar processos de co-gestão para estas duas pescarias, em colaboração com as asso-ciações de mariscadores e pescadores e as autoridades de gestão das pescas. O projeto Co-Pesca teve ainda o mérito de colocar na agenda política a co-gestão aplicada às pescas.

[Este projeto foi muito importante para] gerir o stock de forma a que nunca se acabe.

Emanuel Henriques, Associação dos Mariscadores das Berlengas

Os intervenientes aceitaram a co-gestão como uma nova forma de gestão dos recursos, o que implica uma nova perspetiva em termos de políticas.Rita Sá, WWF-Portugal

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BANCO MUNDIAL DOS OCEANOSExecução / Iniciativa Gulbenkian Oceanos e Oceanário de LisboaDuração / desde 2014

JOGO

O quê e para quê?O Banco Mundial dos Oceanos é um jogo para escolas do 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário que visitam o Oceanário de Lisboa. Cada turma é divida em quatro equipas, as quais têm a responsabilidade de garantir a gestão sustentável de uma heran-ça, composta por dinheiro e um ecossistema marinho ou costeiro, durante 25 anos. No início de cada ronda, cada grupo é convidado a investir uma parte do seu dinheiro no seu ecossistema tendo em conta os impactos ambientais e financeiros das suas decisões. No final do jogo, a turma será avaliada pelo dinheiro que tem em caixa e pelo valor económico de cada ecossistema. Espera-se que, no final desta atividade, os jovens compreendam a importância de colocar na balança os benefícios económicos e ambientais prestados pelos oceanos assim como o impacto (positivo e negativo) que a atividade humana pode ter sobre os mesmos.

Principais outputs>1600 crianças e adolescentes / > 40 escolas

ImpactoAo consciencializar os jovens de hoje da importância da gestão sustentável do ambiente, a Iniciativa Oceanos espera contribuir para a criação de adultos mais responsáveis do ponto de vista ambiental.

A partilha de conhecimento e ideias por parte da equipa da IGO para o desenvol-vimento do programa educativo Banco Mundial dos Oceanos foi uma mais-valia para o projeto, para o Oceanário e para todos os participantes. Para o Oceaná-rio, esta parceria revelou-se de extrema importância pois pudemos contribuir para tornar um tema pouco explorado, de elevado interesse e de extrema comple-xidade, acessível aos jovens do 3.º ciclo e ensino secundário. A educação destes jo-vens é prioritária para a instituição e, por isso, estaremos sempre disponíveis para colaborar com entidades como a IGO que se dedicam a temas que têm pertinência no âmbito da literacia do oceano e da sua conservação.

Teresa Pina, Oceanário de Lisboa

Os alunos obtiveram uma perspetiva muito mais ampla e globalizante da interligação dos processos naturais e do papel decisivo dos oceanos no equilíbrio do ecossistema. Todos concordaram que este programa foi excelente e muito enri-quecedor.

Professor do Ensino Secundário, Lisboa

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ONGs DE AMBIENTE MARINHASExecução / new economics foundationDuração / 1.ª ação “Economics for marine conservation” (24 horas), 2.ª ação “Economics for marine conservation” (16 horas), 3.ª ação “Planeamento estratégico e desenvolvimento organizacional” (24 horas), 4.ª ação “Angariação de fundos” (16 horas)

PROGRAMA DE FORMAÇÃO

O quê e para quê?Foi desenvolvido um programa de formação dirigido às ONGs de ambiente que trabalham em conservação marinha, com o objetivo de as dotar de maior capacidade de intervenção, tanto a nível de conhecimentos técnicos na área do mar como em gestão organiza-cional.Numa primeira fase, o programa consistiu em duas ações de for-mação sobre “Economics for marine conservation”, as quais também abrangeram os Grupos de Ação Costeira. Estas ações de formação centraram-se em doze tópicos relacionados com conceitos econó-micos, metodologias de análise económica e técnicas de valoração económica ambiental. Os participantes, maioritariamente biólogos, ficaram mais aptos a utilizar argumentos de base económica quando advogam em prol da conservação dos oceanos, integrando de forma estratégica as noções de sustentabilidade ambiental, económica e social no desenvolvimento da Economia do Mar.Numa segunda fase, o programa de formação centrou-se em temá-ticas relacionadas com a gestão das ONGs de ambiente. Partindo da premissa de que ONGs de ambiente organizacionalmente mais fortes e sustentáveis estarão mais aptas a intervir em defesa dos oceanos, foram desenvolvidas mais duas ações de formação para as ONGs que compõem a Plataforma das ONGs Portuguesas sobre a Pesca (PONG-Pesca), as quais se dedicam também à temática dos oceanos de forma mais alargada. Na terceira ação de formação, dedicada ao tema “Planeamento Estratégico e Desenvolvimento Organizacional”, foram abordadas as fases de desenvolvimento de ONGs de ambiente, assim como metodologias de preparação das suas estratégias de intervenção. Os participantes iniciaram ainda a elaboração de um plano estratégico para a PONG-Pesca. Na se-quência desta formação, ofereceu-se a duas das ONGs a possibilida-de de receberem apoio técnico específico e especializado por parte dos formadores da new economics foundation para desenvolverem a

É uma excelente formação, que permite aos cientistas, no meu caso específico, adquirir uma linguagem mais adequada para alcançar os diferentes stakeholders envolvidos na gestão dos recursos. Fornece ainda conhecimentos que permitem realizar a gestão integrada dos recursos tendo em consideração uma visão mais holística da gestão, para que a exploração dos recursos seja feita de forma sustentável sem pôr em causa o próprio recurso nem as populações envolvidas que dependem dessa mesma exploração para sobreviver.

Colaborador de uma ONG participante na formação “Economics for Marine Conservation”

[A formação em angariação de fundos foi] muito útil em termos de conhecimentos práticos a aplicar no dia-a-dia de uma ONG. E perfeitamente encadeados na sequência das formações anteriores (pla-neamento estratégico). [Foi] motivante também aprender em conjunto e parti-lhar experiências entre ONGs.”

Ana Almeida, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

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É de enorme importância a capacitação das ONGs em termos de angariação de fundos já que este é o principal constrangimento à sua atividade.

Ana Matias, Sciaena – Associação Ciências Marinhas e Cooperação

sua estratégia individual de conservação marinha. A quarta ação de formação foi centrada no tema “Angariação de Fundos”, durante a qual os participantes se familiarizaram com as várias fontes de financiamento a que podem recorrer, e com os elementos que deve conter uma boa proposta de projeto. Tiveram ainda a oportunidade de conversar com representantes de duas organizações filantrópicas, para melhor conhecerem o que estas esperam das ONGs que procu-ram o seu apoio financeiro.Com estas duas últimas ações de formação, a PONG-Pesca alcançou o objetivo de ter uma estratégia de atuação a longo prazo, que permite às organizações que dela fazem parte serem mais eficientes na utilização dos seus recursos humanos e financeiros. A partir desta estratégia, a PONG-Pesca está agora apta a preparar propostas de projeto alinhadas com os seus objetivos de promoção da pesca sustentável e de defesa dos oceanos.Na sequência deste programa de formação, a Iniciativa Oceanos promoveu, em colaboração com a delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Londres, uma visita das ONGs da PONG-Pesca ao Reino Unido, para estabelecimento e reforço de laços entre as ONGs portuguesas e as ONGs britânicas.

Principais outputs21 participantes na 1.ª ação de formação / 27 participantes na 2.ª ação de formação / 20 participantes na 3.ª ação / 13 participantes na 4.ª ação de formação / 1 plano estratégico conjunto para 8 ONGs

ImpactoONGs de ambiente com maior capacidade para usar argumentos económicos em defesa dos oceanos e para influenciar as políticas do mar de forma sustentada.

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O CAPITAL NATURAL E AS EMPRESASExecução / Iniciativa Gulbenkian OceanosDuração / 30 meses

PROJETO

O quê e para quê?Este projeto, baseado em quatro fases estratégicas1, procurou sensibilizar e capacitar as empresas para a importância de integrar o capital natural nos seus processos de tomada de decisão, com vis-ta a uma futura implementação de estratégias empresariais mais responsáveis e mais sustentáveis. Numa primeira fase (Fase 1: Conhecer), a Iniciativa Oceanos procurou dar a conhecer o conceito de capital natural às empresas da Economia do Mar. Para tal, desenvolveu um questionário sobre Ca-pital Natural Azul, o qual foi respondido por mais de 200 organizações portuguesas que usufruem do mar e da costa portuguesa. Os resultados do questionário foram apresentados no estudo “Capi-tal Natural Azul e uma gestão empresarial sustentável”, onde são apresentados conceitos-chave, os benefícios económicos de uma gestão sustentável do capital natural e uma estratégia de ação para integrar o capital natural na tomada de decisão empresarial. Subsequentemente, a IGO organizou uma Sessão de informação e um Programa de Formação sobre o Protocolo do Capital Natural (Fase 2: Analisar) de forma a acelerar o conhecimento sobre esta ferramenta de apoio à tomada de decisão. Nesta fase, foi aberta a participação a qualquer em-presa, da Economia do Mar ou não, para que se pudessem identificar potenciais líderes nesta maté-ria. O programa de formação, composto por duas ações de formação, contou com a presença de 55 participantes de 36 empresas de grande dimensão, PMEs e consultoras, que ficaram a conhecer em detalhe como proceder a uma análise do capital natural na sua empresa e quais os benefícios económicos e societais que tal pode trazer. De forma a garantir a aplicabilidade da formação oferecida, as empresas participantes foram con-vidadas a participar no Desafio Protocolo do Capital Natural (Fase 3: Adotar). De forma a garan-tir a qualidade dos resultados obtidos, foram organizadas mais duas ações de formação. Desta iniciativa resultaram três casos de estudo empresariais com elevado potencial de aplicabilidade prática do Protocolo do Capital Natural, que serão divulgados a nível nacional e internacional de forma a impulsionar o aparecimento de seguidores de mercado no contexto de avaliação do capital natural (Fase 4: Liderar).

Principais outputs201 empresas respondentes ao questionário / 93 empresas que não conheciam o conceito de capital natural ficaram a conhecê-lo com o questionário / Destas, 76% acabaram por considerar “urgente” ou “muito urgente” tomar medidas para proteger e manter o capital natural azul / 1 publicação “Capital Natural Azul e uma gestão empresarial sustentável” / 1 Sessão de divulgação (70 participantes) / 4 workshops técnicos (55 participantes de 36 grandes empresas, PMEs e consultoras) / 3 casos de estudo empresariais / 1 policy brief

ImpactoA Iniciativa Oceanos, tendo envolvido um grande número de empresas e demonstrado a aplica-bilidade prática do Protocolo do Capital Natural do ponto de vista económico, espera que mais empresas tenham em conta o capital natural nos seus processos de tomada de decisão, contri-buindo assim para a implementação de soluções de negócio mais sustentáveis e para impulsionar o aparecimento de seguidores de mercado no contexto da avaliação do capital natural.

As sessões de formação e o Desafio do Protocolo do Capital Natural pro-moveram o acesso a um conjunto de conhecimen-tos a que de outra forma seria difícil aceder no curto-médio prazo. A estrutura dos workshops foi muito bem definida. A qualidade dos orado-res foi excelente. Aceder de forma gratuita e local a esta fonte de conheci-mento foi determinante na nossa exploração imediata do tema.Ir ainda mais longe, com o Desafio, permitiu-nos passar da teoria à prá-tica. Este é um exemplo claro de como estas ini-ciativas podem promo-ver a atuação do sector empresarial em temas que de outra forma de-morariam bastante mais tempo a ser introduzidos e implementados.Parabéns!

Participante no Programa de For-mação e no Desafio do Protocolo do Capital Natural.

1 Parceiros: PwC e Fórum Oceano, antigo Oceano XXI (Fase 1) | BCSD Portugal - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e Natural Capital Coaliton (Fases 2, 3 e 4).

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As aprendizagens

Durante os seus cinco anos de intervenção, a Iniciativa Gulbenkian Oceanos lidou com vários desafios ao tentar fomentar a mudança na forma como se dá valor aos oceanos. Cada desafio contém em si aspetos úteis para outros que trabalhem o tema da valoração, o tema dos oceanos, ou os dois em simultâneo. Com esta partilha, queremos passar testemunhos e comunicar práticas que possam ser replicadas pela Fundação ou por outras instituições.

Tema emergente e de difícil comunicação Dada a novidade do tema do valor dos oceanos, foi necessário adaptar a linguagem aos diferentes públicos. Esta temática assenta num conceito técnico ‒ serviços dos ecossistemas marinhos ‒ que é de fácil comunicação apenas junto de investigadores e de outros profissionais e especialistas. Por isso, comunicar este tema junto de outros públicos obrigou a uma estratégia diferente. Assim, a Iniciativa Oceanos passou a usar a expressão “benefícios dos oceanos” ao comunicar para o público em geral, e a expressão “capital natural” ao comunicar para as empresas. Adicionalmen-te, adotou-se, sempre que possível, um discurso otimista referente à conservação e proteção dos oceanos. Esta opção justifica-se pelo facto de as mudanças de comportamentos serem mais facilmente motivadas por um aumento de oportunidades ou pela possibilidade de consequências positivas do que por uma possível redução de riscos ou ocorrência de consequências negativas. Esta adaptação de linguagem foi incorporada nas atividades de sensibilização desenvolvidas para cada um dos públicos-alvo. Destacam-se neste contexto o jogo Banco Mundial dos Oceanos para crianças e jovens, a formação para ONGs de ambiente dirigida aos colaboradores destas organiza-ções, e o questionário sobre capital natural azul dirigido às empresas da Economia do Mar.

Investigação científica interdisciplinar pouco estabelecida na área do mar

Quando a Iniciativa Oceanos começou, em 2013, o conhecimento sobre o valor dos oceanos em Por-tugal era ainda muito incipiente. A colaboração interdisciplinar na área do mar, apesar de necessária, era também pouco frequente, nomeadamente entre ciências naturais e ciências sociais.O conhecimento do valor dos oceanos só poderia ser melhorado combinando, por um lado, a com-preensão do funcionamento dos ecossistemas marinhos (através da biologia, ecologia, etc.) com, por outro lado, a compreensão dos modelos económicos e de governança que determinam a forma como os oceanos são utilizados (economia, ordenamento marítimo, etc.) Assim, a Iniciativa Oceanos promoveu a constituição de uma equipa de investigação interdisciplinar para levar a cabo um projeto de investigação sobre o valor dos oceanos. Esta equipa incluiu investigadores especializados em biologia marinha, ecologia, pescas, economia, e ordenamento do espaço marítimo.Adicionalmente, a IGO procurou promover o estabelecimento de redes de colaboração, quer através das ações de formação direcionadas para diferentes profissionais, quer através do estabe-lecimento de parcerias com organizações dos mais diversos setores. Estes eventos intersetoriais constituíram ainda uma oportunidade para reunir stakeholders locais e regionais de diferentes setores, como foi o caso da apresentação do projeto de investigação em Peniche.

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Dimensão reduzida das organizações da Economia do Mar

A reduzida dimensão das organizações da Economia do Mar tornou ainda mais necessário um trabalho direcionado e feito à medida das suas especificidades. Foi para isso necessário não só recolher e analisar informação sobre estas organizações, mas também ter flexibilidade para ajustar os planos iniciais.No caso das 201 empresas da Economia do Mar envolvidas, constatou-se que 55% são microempresas, com pouca disponibilidade para receber formação sobre o tema do capital natural, uma vez que esta não deriva de uma imposição legal. Em alternativa, procurou-se aumentar a sua perceção do capital natural azul através de um questionário, o que constituiu o primeiro passo do projeto do Capital Natural. Posteriormente, a formação de apoio ao Desafio Protocolo do Capital Natural foi anunciada sem uma agenda definida, para que esta fosse construída só após um inquérito e avaliação das necessidades, prioridades e interesses específicos do setor empresarial nacional nesta matéria. No caso das ONGs de ambiente, e após as duas ações de formação sobre conceitos económicos, constatou-se que, para intervirem mais efetivamente em prol dos oceanos, estas organizações precisavam de melhorar o seu planeamento estratégico, antecipar o desenvol-vimento das suas organizações, e angariar os fundos para cumprirem a sua missão. Foram assim desenvolvidas ações de formação sobre estes temas.A IGO conseguiu pois ajustar os seus planos iniciais à realidade organizacional dos seus pú-blicos-alvo. Adicionalmente, dada a multiplicidade de projetos apoiados pela IGO na mesma região (eixo Peniche-Nazaré), foram promovidos encontros entre as diferentes equipas que nela trabalhavam com o apoio da IGO, de forma a coordenarem a sua atuação no terreno.

Produzir conhecimento com impacto na sociedade

O tema do valor dos oceanos era novo no panorama nacional quando a Iniciativa Oceanos teve início. Se por um lado era importante a IGO promover mais conhecimento científico sobre o valor dos oceanos em Portugal, por outro era também fundamental que este conheci-mento tivesse impacto na sociedade. Dos projetos científicos resultam habitualmente artigos científicos destinados a outros investi-gadores. Por utilizarem jargão e apresentarem informação num formato e dimensão adequa-dos a um público especialista, estes tornam-se menos acessíveis para não-especialistas. Além disso, é pouco frequente apresentarem uma discussão das consequências para a sociedade do novo conhecimento produzido, ou de como este conhecimento poderá ser utilizado para promover mudanças nas políticas.De forma a apoiar a produção de conhecimento científico mais orientado para apoiar a definição de políticas, a IGO promoveu uma formação em policy advocacy destinada, entre outros, aos investigadores do projeto de investigação. Esta formação procurou dotar os investigadores das ferramentas necessárias para produzirem policy briefs, isto é, documentos curtos, concisos e sem jargão que “traduzem” os resultados científicos em opções de atuação e recomendações úteis para decisores políticos. A formação centrou-se também na aquisição de competências em policy advocacy, isto é, na divulgação dos policy briefs junto dos deciso-res e outros atores, usando mensagens adequadas, de forma a promover as mudanças neles defendidas.

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A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição privada portuguesa de utilidade pública, criada em 1956 de acordo com a vontade expressa em testamento de Calouste Sarkis Gulbenkian. De acordo com os seus estatutos, desenvolve atividade nas áreas das artes, beneficência, educação e ciência, em Portugal e no estrangeiro, também através das suas delegações no Reino Unido e em França. A Fundação promove um vasto leque de atividades diretas e de apoios a programas e projetos.