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OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF Relatório de Estágio apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto. Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva Diogo André Gomes da Costa Porto, 2019

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I

OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL

Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF

Relatório de Estágio apresentado com vista à

obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização

em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº

74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei

nº 65/2018 de 16 de agosto.

Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva

Diogo André Gomes da Costa

Porto, 2019

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II

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III

OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL

Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF

Relatório de Estágio Profissionalizante realizado na equipa

profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo

Autónomo de Futebol, na época desportiva 2017/2018

Relatório de Estágio apresentado com vista à

obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização

em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº

74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei

nº 65/2018 de 16 de agosto.

Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva

Diogo André Gomes da Costa

Porto, 2019

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II

Ficha de Catalogação

Costa, D.G. (2019). A importância da observação e análise de adversário

em contexto profissional. Função e missão do analista – Estágio

Profissionalizante realizado na primeira equipa da Associação Académica de

Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol. Porto: Costa, D.G. Relatório de

estágio profissionalizante para obtenção de grau de Mestre em Treino

Desportivo com especialização em Alto Rendimento Desportivo, apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE,

ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS

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III

Agradecimentos

Agradeço a todos os que me envolvem e que me acompanham ao longo

da minha vida pessoal e profissional.

Agradeço com muita consideração:

Ao Prof. Doutor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva, que me acompanhou

e orientou ao longo da realização deste trabalho. Uma palavra de agradecimento

pela sua disponibilidade, mas fundamentalmente pela paciência, mostrando-se

tolerante e compreensivo pelo facto da minha atividade profissional me consumir

muito tempo e nem sempre ser fácil organizar o meu trabalho. Agradecer-lhe

ainda a oportunidade de trabalhar com alguém com tamanha sabedoria.

À Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde tive

oportunidade de realizar o 2º Ciclo de Estudos correspondente ao grau de Mestre

em Treino de Alto Rendimento Desportivo, possibilitando-me continuar o meu

percurso académico e alcançar este objetivo.

Aos meus pais e irmão por todo o apoio, suporte, confiança e palavras de

força e incentivo, não me deixando desistir.

Ao meu colega e Amigo Cláudio Costa com quem partilhei muitas viagens

(Coimbra-Porto, Porto-Coimbra) para podermos presenciar as aulas. Sem a sua

colaboração teria sido tudo mais dificil.

A toda a direção, estrutura, funcionários, equipas técnicas e jogadores da

Associação Académica de Coimbra/OAF por se dedicarem a esta causa e por

ajudarem a elevar o nome da instituição e da cidade de Coimbra, onde nasci,

cresi e que aprendi a amar.

Aos Professores do mestrado que deixaram um pouco de si,

Aos diretores e dirigentes com quem trabalhei ao longo destes anos e que

acreditaram nas minhas capacidades, possibilitando-me ainda todas as

condições para cumprir com as minhas funções.

Aos atletas pelos desafios que me colocaram e que me fizeram evoluir.

Muito obrigado a todos.

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IV

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V

Índice

Agradecimentos ...................................................................................... III

Resumo ................................................................................................ XIII

Abstract ................................................................................................. XV

Lista de Abreviaturas ........................................................................... XVI

1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 1

1.1. Apresentação ........................................................................... 1

1.2. Contextualização da Prática..................................................... 3

2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ............... 10

2.1. Contexto legal ........................................................................ 10

2.2. Contexto institucional – história, valores e missão ................. 10

2.3. Recursos Espaciais ................................................................ 15

2.4. Recursos Humanos ................................................................ 15

2.5. Caraterização do plantel ........................................................ 16

2.6. Objetivos desportivos ............................................................. 22

2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino ................................... 22

2.8. Contexto de natureza funcional .............................................. 27

2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais ....... 29

3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL ............. 31

3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa .......... 31

3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol .............................. 34

3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo ........................... 43

3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis

para a caraterização do jogo e das equipas ................................................. 52

3.5. Conceptualização ................................................................... 55

Scouting .............................................................................. 55

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VI

Scouter e Analista ............................................................... 56

Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores.......... 59

Observação e Análise da equipa adversária e da própria

equipa 60

Estratégia e Tática .............................................................. 64

Modelo de jogo ................................................................... 68

Equipa, Sistema de Jogo .................................................... 71

Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo

72

Racionalização do espaço de jogo...................................... 77

Métodos de Jogo............................................................... 79

Métodos de Jogo Ofensivo ............................................... 80

Métodos de Jogo Defensivo .............................................. 82

Processo de treino - meio para atingir o jogo idealizado ... 84

4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA ........................................ 88

5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ................................. 128

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... 141

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 146

ANEXOS .............................................................................................. 151

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VII

Índice de figuras

Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita,

2011). ............................................................................................................... 12

Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação

Académica de Coimbra. ................................................................................... 14

Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra. ............ 15

Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015). ...... 35

Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da

história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até

Alemanha 2006 (Castellano, 2009). ................................................................. 37

Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos

mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005). ....................................... 38

Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar

o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994

(Hughes & Franks, 2005). ................................................................................ 39

Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola

parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015). ............ 41

Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013). ................. 46

Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura

(2013), adaptado por Pereira (2017). ............................................................... 56

Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura,

2013). ............................................................................................................... 90

Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre

SC Braga B e Gil Vicente FC. .......................................................................... 93

Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B. ................... 93

Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s)

adversários a observar. .................................................................................... 96

Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC Portugal B. ................ 100

Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da

forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos

fracos. ............................................................................................................ 100

Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101

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VIII

Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101

Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 102

Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição

defensiva. ....................................................................................................... 102

Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição

defensiva. ....................................................................................................... 103

Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição

defensiva. ....................................................................................................... 103

Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC

Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área. .................. 104

Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua

baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco,

com mais dois médios à frente. ...................................................................... 104

Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam

agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona

pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e

poderem ocorrer espaços em profundidade. .................................................. 105

Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem a bola,

optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário. ............... 105

Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e

procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento

atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à entrada da área. ......... 106

Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre

como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de

seguida havia vários jogadores a procurarem apoiar e outros a procurarem

desmarcar-se em rutura. ................................................................................ 106

Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber

quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos

que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna). Porém há um jogador

próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa

perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois

jogadores à entrada da área que podem oferecer outra solução. .................. 107

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IX

Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que

se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do

canto tem um braço levantado. ...................................................................... 107

Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à

bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou

“fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava cinco jogadores na área e

dois jogadores à entrada da área. .................................................................. 107

Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a

equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste

e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa segunda zona temos dois

jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas

de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda

um jogador preparado para a transição ofensiva. .......................................... 108

Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD

Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E

uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois tinham dois jogadores a

realizar marcação homem a homem. ............................................................. 108

Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada

na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um

jogador à frente deles. E um jogador marcando individualmente. Colocaram

apenas um jogador na barreira. ..................................................................... 109

Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas

estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes

e pontos fracos. .............................................................................................. 115

Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos

relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116

Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos

relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116

Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos

relatórios acerca das equipas do SC Covilhã. ................................................ 116

Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos

relatórios acerca das equipas SL Benfica B. .................................................. 117

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X

Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos

relatórios acerca das equipas do SL Benfica B. ............................................. 117

Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual.

Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã. ................................................ 117

Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade

de Coimbra e jogo fora. .................................................................................. 125

Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras. .................................... 126

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XI

Índice de quadros

Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias

(adaptado de Vales, 2015). .............................................................................. 36

Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos

anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015). ...................................... 37

Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo

de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença

máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015). .............................................. 40

Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado

de Vales, 2015). ............................................................................................... 49

Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T -

tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015). ......... 81

Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos

de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009). .................................................. 83

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XII

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XIII

Resumo

O presente relatório resultou do estágio profissionalizante realizado na

equipa profissional da Associação Académica de Coimbra / OAF.

Este relatório pretende mostrar a importância do trabalho realizado por um

departamento de observação e análise de jogo, pertencente a uma equipa

profissional, durante a época desportiva 2017/2018.

Ao longo deste estudo é abordada a temática da observação e análise de

jogo, com maior enfoque na análise da equipa adversária.

Aqui estão relatadas as dinâmicas e rotinas de trabalho e também quais

as informações acerca da equipa adversária valorizadas pelos treinadores,

aquando da preparação dos seus planos de treino e de jogo.

O estágio foi realizado num contexto marcado por alguma instabilidade,

visto que na mesma temporada houve duas mudanças na equipa técnica, ou

seja, uma temporada em que houve três treinadores principais diferentes e por

este motivo, temos a oportunidade de relatar três formas de organização distintas

e de relatar a experiência vivenciada na dinâmica de trabalho com cada um

deles.

Tentamos ainda ajudar a melhorar a compreensão de alguns conceitos e

ideias, tais como esclarecer o conceito de scouting e eliminar algumas confusões

entre as funções do scouter e analista. Procuramos ainda apresentar as

diferentes áreas abrangidas pelo scouting, nos quais se incorpora a observação

e análise de adversários.

Queremos acreditar que este trabalho possa ser uma contribuição para

os profissionais do treino desportivo, mas também para os profissionais que se

dedicam à interpretação do jogo.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE,

ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS

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XIV

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XV

Abstract

This report resulted from the professional stage conducted by the

Associação Académica de Coimbra / OAF professional team, which competed in

Ledman Liga Pro (Second Portuguese League).

This work aims to show the importance of the tasks developed out by a

match analysis department during the 2017/2018 season.

Throughout this study is described the subject of observation and game

analysis, focusing more on the opponents performance analysis.

Dynamics and work routines are presented, as well as information about

the opponent team that coaches value when preparing their training sessions and

game plan.

The professional stage was realized in instability environment marked by

two changes in the coaching staff, so there were three different head coaches in

the same season and for this reason, we had the opportunity to explain three

different ways to organize and show the experience of working with each one of

them.

We also tried to improve understanding of some concepts and ideas, such

as clarifying the concept of scouting and clear up some confusion between scout

and analyst mission. We also seek to present the different areas covered by

scouting, which includes the observation and opponents analysis.

This work can be a contribution for sports training professionals, and we

believe that this will help professionals who are dedicated to the game

understanding.

KEYWORDS: FOOTBALL, MATCH ANALYSIS, GAME ANALYSIS,

OPPONENT, PERFORMANCE ANALYST, SCOUTING, VIDEO ANALYSIS

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XVI

Lista de Abreviaturas

AAC/OAF – Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo

de Futebol

AJ – Análise de jogo

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

“Eu não tenho talentos especiais. Eu só sou apaixonadamente curioso.”

(Einstein)

Antes de avançar com aquilo a que me proponho, começo por me

apresentar. Chamo-me Diogo André Gomes da Costa, nascido em 1987, natural

e residente em Coimbra. Fui praticante de futebol e o futebol contribuiu imenso

para a minha formação humana e desportiva. Depois de ter praticado durante

alguns anos (iniciados, juvenis e juniores), tive apenas uma experiência

enquanto sénior. O desinteresse devido aos métodos aplicados e orientação

técnica naquela época (2008/2009), a incompatibilidade de horários, a pouca

prontidão (com várias lesões consecutivas) e o início do meu percurso

académico, fizeram com que abandonasse a prática desportiva e me iniciasse

enquanto formador.

Entrei na licenciatura em ciências do desporto (Faculdade de Ciências do

Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra – FCDEF, UC) no ano

letivo de 2007/2008. Conclui a licenciatura e seguidamente realizei o mestrado

em ensino da educação física, também na FCDEF-UC. Depois de um ano de

reflexão realizei o 1º e 2º semestre do mestrado em treino desportivo para

crianças e jovens, também na FCDEF-UC. Ao longo do percurso académico foi

crescendo o desejo e a vontade de aprender e de estar no futebol. No início do

meu percurso, procurei o conhecimento e quis aprender muito acerca de áreas

como a pedagogia, psicologia e de treino. Tinha como objetivo aprender para

poder ensinar. Quais os conteúdos, o que ensinar, como ensinar e quando

ensinar, era isso que pretendia conhecer.

A entrada na faculdade despoletou o interesse na área do treino e cresceu

em mim o desejo de aprender. A curiosidade fez com que observasse bastante

a postura e tudo o que está relacionado com a figura do treinador. E em

2009/2010, no âmbito da unidade curricular de Desporto Opção Futebol,

comecei a estar inserido num clube e no treino. Portanto, posso afirmar que a

verdadeira ignição e paixão pelo treino iniciou-se nessa altura e desde então

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2

tenho somado algumas experiências, que me ajudaram a tornar-me numa

pessoa mais íntegra e respeitadora mas também num profissional dedicado e

com brio no cumprimento da sua função.

Desde 2009/2010 (ano em que iniciei funções de formador e treinador),

tenho passado por várias experiências, em todos os escalões (seniores –

2015/2016; sub19 2014/2015; sub17 2009/2010, 2016/2017; sub14 2013/2014)

embora, tenha dedicado mais tempo ao futebol de iniciação, desde sub6 aos

sub13, durante sete épocas desportivas. Tive oportunidade de trabalhar em

vários clubes ou instituições: Associação Académica de Coimbra / OAF

(2009/2010, 2014/2015, 2017/2018 e 2018/2019), Associação Desportiva e

Cultural da Adémia (2009/2010), Escola Academia Sporting – Coimbra

(2010/2011, 2011/2012, 2012/2013, 2013/2014), Clube Desportivo Pedrulhense

(2013/2014), Associação Recreativa e Cultural de Oleiros (2015/2016) e Clube

Condeixa (2016/2017).

Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me

permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a

creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ, optei

por me candidatar ao mestrado em treino de alto rendimento desportivo da

Universidade do Porto. Iniciei o mestrado no ano letivo 2016/2017, mas não

consegui conclui-lo no ano letivo 2017/2018. Chegados ao ano letivo 2018/2019,

o mestrado sofreu algumas alterações no seu plano de estudos e atualmente

denomina-se, Mestrado em Treino Desportivo. No âmbito deste Mestrado e

deste novo desafio, realizei um estágio na Associação Académica de Coimbra-

OAF, onde desempenhei funções de Analista da equipa profissional, tendo como

missão observar e analisar as equipas adversárias. Para além da função de

Analista, sou também Coordenador Técnico para os escalões de sub6 – sub13.

Sou portanto um funcionário do clube e irei realizar o meu estágio

curricular no âmbito da função de Analista de jogo, para a qual fui convidado pela

direção e estrutura da Associação Académica de Coimbra / OAF.

Esta época 2017/2018 foi certamente mais uma ótima experiência, uma

excelente aprendizagem e um grande desafio onde me coloquei à prova, saindo

da minha zona de conforto.

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3

Quem quer se seja, que analise o meu percurso poderá ficar com algumas

dúvidas relativamente às minhas pretensões, objetivos e até mesmo aspirações.

Iniciar a carreira de treinador é tudo menos fácil. Como todos sabemos, ser

treinador nos escalões de formação, em Portugal, é reconhecido por todos, como

um agente social importante na vida de muitas crianças e jovens, mas ainda não

é entendida como uma profissão. Isto leva-nos, jovens treinadores, a procurar o

equilíbrio entre aquilo que nos motiva e aquilo que nos faz sobreviver, mantendo

a nossa independência financeira.

Apesar de por vários anos, ter procurado a minha independência

financeira em outras áreas, tais como, o ensino da educação física e também no

fitness, o futebol e o treino sempre foram a minha paixão. E por isso, vou

tentando conciliar as minhas motivações com a minha independência financeira,

todavia, tento não me desviar daquilo que pretendo para o meu futuro.

Apesar de ter trabalhado vários anos com crianças e jovens, onde aprendi

imenso acerca de treino e da sua contextualização, acerca da interação do

treinador com os atletas e do valor da sua comunicação e feedback, tenho como

objetivo ser um dia treinador de alto rendimento.

Neste momento sinto que ainda não desenvolvi um perfil nem a ambição

que me fazem querer ser treinador principal, ou “head coach”. Identifico-me

completamente com a ideia de equipa técnica, equipa de trabalho, onde existe

complementaridade entre as diferentes funções e ambiciono desempenhar

funções de treinador adjunto, ou “assistant coach”.

Gosto imenso do treino, do seu planeamento, periodização e

operacionalização, bem como, da área da análise de jogo e observação. Sinto-

me realizado nesse papel e é nesse papel, que desejo atingir a excelência.

1.2. Contextualização da Prática

O presente relatório foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Treino

Desportivo da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), com

vista à aprovação na unidade curricular de “Estágio – opção futebol”.

Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me

permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a

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creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ

(Instituto Português do Desporto e da Juventude), que concede reconhecimento

às entidades universitárias e por isso confere equivalência ao grau de treinador

pela via académica, optei por me candidatar ao mestrado em treino desportivo

da Universidade do Porto.

Já são muitos os casos de treinadores de sucesso que buscaram

conhecimento e competências no ensino universitário. A aproximação entre

entidades desportivas (Federação, Associações, Clubes) e as universidades

(pela via académica) tem sido um excelente contributo para o levantar de

problemas e para constantes reflexões dos treinadores no contexto prático da

modalidade.

E esta ideia fez-me acreditar que a entrada no mestrado e

consequentemente o estágio profissionalizante numa equipa de futebol, com

uma orientação académica de reconhecida qualidade como a FADEUP, podia

ser um ótimo veículo para o meu crescimento pessoal e profissional.

1.2.1. Objetivos do estágio

Antes de começar o estágio profissionalizante, realizado no âmbito da

unidade curricular de “Estágio” na opção de Futebol, pensei num conjunto de

objetivos, tais como:

Estudar, ler e conhecer mais acerca da literatura sobre observação e

análise de jogo, suportando e enriquecendo a minha visão e

conhecimento acerca da temática onde desenvolvi a minha atividade

profissional.

Realização e aprovação do relatório de estágio, com vista à obtenção do

grau de mestre em Treino Desportivo

Melhorar, com a prática e com a devida orientação dos elementos da

equipa técnica e do gabinete de análise, o meu entendimento e

compreensão do jogo

Ser reconhecido como um profissional dedicado e que trabalha de forma

correta, contribuindo para o sucesso da equipa que representa.

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1.2.2. Expetativas iniciais vs Realidade

Na antevisão daquilo que seria esta experiência, tinha noção que ia

percorrer uma estrada, um caminho novo. E como qualquer pessoa que percorre

um novo trilho, sabia que devia caminhar de forma prudente, um passo de cada

vez e mesmo assim devia levar comigo os pensos, compressas e desinfetantes

necessários para tratar das feridas abertas pelo caminho.

Inicialmente trazia comigo o brilho no olhar de quem está prestes a iniciar

uma nova e importante experiência, mas também o medo e o receio de quem

está claramente fora da sua zona de conforto. Estava muito motivado e

pretendia: perceber a organização, estrutura e contexto de um clube profissional;

perceber qual ou quais as rotinas de organização da equipa técnica; conhecer

as ideias de jogo e o modelo de jogo implementado, bem como a metodologia

utilizada; entender a organização e funcionamento de um Departamento de

Observação e AJ.

Iniciei com a vontade de mostrar trabalho, com o intuito de demonstrar o

quanto posso ser muito útil, fornecendo informações extremamente importantes

para a definição de um plano, de uma estratégia por parte dos treinadores, que

ajudasse a Académica a alcançar os seus objetivos.

Passadas 11 semanas de trabalho árduo, após 74 sessões de treino, nos

quais 6 jogos de preparação e após 7 jogos oficiais (Primeira Fase da Taça CTT

e 6 jornadas Liga Ledman), momento em que fiz a minha primeira grande

reflexão, senti que não tinha perdido o brilho no olhar, muito pelo contrário. Senti-

me totalmente integrado, com uma boa dinâmica de trabalho juntamente com a

equipa técnica. Senti que o meu trabalho era útil, sentia-me valorizado pela

equipa técnica, mas não pela estrutura. Para a estrutura, o analista é o “rapaz

dos cortes” e o rapaz que filma o treino e o jogo. Não lhe é reconhecida uma

importância fulcral naquilo que é o entendimento do jogo e uma peça

fundamental que dota o corpo técnico da melhor e mais sintética informação, que

podem fazer a diferença entre o ter mais ou menos uma vitória, mais ou menos

3 pontos.

Mas o maior choque nesta experiência foi mesmo na integração no

gabinete de observação e AJ. Tinha como expetativa, vir a integrar uma equipa

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de trabalho e por ser uma primeira experiência neste campo de observação e

análise também eu precisava de ajuda, na orientação, planeamento,

organização e até mesmo na compreensão e entendimento do jogo. A realidade

foi bem diferente. O gabinete de scouting era constituído por 2 pessoas, ficando

o trabalho de prospeção entregue a um colega e ficando o trabalho de análise

da equipa adversário à minha responsabilidade. Considerando que necessitava

de ajuda e orientação, contava com uma pequena ajuda do treinador adjunto que

me atribuía tarefas e definia os prazos para conclusão das mesmas e também

do responsável pela prospeção relativamente à caraterização dos jogadores da

equipa adversária.

Esta foi uma verdadeira dificuldade, pois a partir daquele momento o

trabalho que devia ser para duas, três ou mais pessoas ficou concentrado em

mim. Mas continuei firme nos meus objetivos, desejando ganhar a confiança dos

treinadores e mostrar que podiam sempre contar comigo. Estava disposto a fazer

o possível e o impossível para conseguir cumprir com tudo o que me era

proposto.

Dentro das tarefas que me foram propostas (descritas em cima), procurei

focar-me no possível e esquecer muitas vezes o ideal: a) fiz um pedido à direção

da AAC/OAF para que encontrassem outra pessoa para filmar as sessões de

treino, pois eram cerca de 3 horas de treino (por vezes dois treinos por dia), em

que podia estar a adiantar outras tarefas; b) observei e analisei as equipas

adversárias (através de vídeo e “in loco”). Realizava os cortes de vídeo,

categorizava o jogo, pelos vários momentos de jogo e enviava a informação para

o treinador adjunto; c) enviava um relatório onde descrevia (com texto e imagens)

os princípios, ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários

momentos do jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório

era enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos, treinador

de guarda-redes); d) filmava os jogos em casa e fora e acompanhava a equipa

profissional em todos os jogos, sempre que os jogos eram em horários diferentes

das partidas (dos próximos adversários), que me pediam para observar.

Para além das tarefas propostas passaram a pedir-me mais algumas

tarefas, que passei a realizar: e) realizava um relatório esquematizado e

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pormenorizado das bolas paradas das equipas adversárias; f) realizava vídeos

acerca de algumas individualidades das equipas adversárias, relatando alguns

movimentos padrão.

O volume de trabalho e as tarefas variaram ao longo da época, devido às

alterações verificadas no corpo técnico. Isto fez com que desenvolvesse a minha

capacidade de adaptação e ajustamento.

Enquanto profissional da AAC/OAF e com dupla função (Observador e

Analista para a equipa profissional e também Coordenador Técnico entre os

sub6 e os sub13) tive sempre muitas dificuldades para gerir e organizar o meu

horário, pois se é verdade que me eram solicitadas muitas missões com a equipa

profissional, não é menos verdade que a função de coordenação técnica, para a

qual fui contratado, também requer imenso tempo, na organização e

acompanhamento das equipas e no contributo para a formação de jogadores e

treinadores.

Estava perante uma enorme dificuldade. Conseguir conciliar duas

missões, completamente incompatíveis, considerando que estava sozinho no

gabinete de observação e AJ e considerando também que era o único

coordenador com responsabilidades nos escalões entre sub6 e sub13. Não

desisti, acreditei nas minhas capacidades e dei o melhor de mim, todos os dias.

1.2.3. Estrutura do Relatório

O relatório foi organizado em 7 capítulos, descritos nos parágrafos

seguintes.

No primeiro capítulo denominado “Introdução” é realizada uma

apresentação do aluno e do seu percurso académico e profissional. Para além

da sua apresentação, é onde se contextualiza toda a prática profissional no

âmbito do estágio, onde se definem os objetivos delimitados antes da realização

do estágio e onde são apresentadas as diferenças entre as expetativas iniciais

e aquilo que se enfrentou na realidade. Posteriormente, foi descrita a estrutura e

organização do relatório de estágio.

No segundo capítulo denominado “Enquadramento da prática

profissional” é realizado uma apresentação do contexto legal em que o estágio

se realizou. Depois, é caraterizado o contexto institucional, com toda a sua

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história, missão e valores. De seguida, são apresentados os recursos espaciais,

humanos, materiais. Para além disso são descritos os objetivos desportivos, é

realizada uma caraterização do plantel, é ainda explicado o contexto de natureza

funcional com todas as tarefas e funções desempenhadas pelo aluno/estagiário

e por fim é apresentado o modelo de jogo da equipa e onde se aborda o processo

de treino.

Ao longo do terceiro capítulo, denominado “Macro contexto de natureza

conceptual” foi apresentado o estado da arte no âmbito desta temática, isto é,

para entendermos aquilo que foi desenvolvido ao longo deste estágio é

necessário compreender alguns conceitos. No primeiro subcapítulo “Futebol, da

aparência simples a uma lógica complexa” são apresentadas, de forma geral,

algumas caraterísticas do jogo de futebol. Depois, no segundo subcapítulo

“Tendências evolutivas do jogo de futebol”, descrevemos a evolução do jogo com

o passar dos anos. No subcapítulo seguinte (terceiro) fala-se acerca dos

“Métodos de observação e Análise de Jogo”. No quarto subcapítulo apresenta-

se a importância da “observação e análise do jogo, enquanto ferramentas

indispensáveis para a caraterização do jogo e das equipas”. O quinto subcapítulo

diz respeito à “conceptualização” propriamente dita onde se abordam os

conceitos de: “scouting”, “scouter” e “analista”, “estratégia” e “tática”, “modelo de

jogo”, “equipa”, “sistema de jogo”, “processo ofensivo”, processo defensivo” e

“momentos de jogo”, “método de jogo ofensivo” e “método de jogo defensivo”.

Ao longo do subcapítulo da “conceptualização” são ainda explicados os domínios

do scouting que dizem respeito ao “recrutamento” e à “observação e análise da

equipa adversária e da própria equipa”. É ainda explicada a necessária

“racionalização do espaço de jogo” e tenta-se explicar algo mais sobre “modelo

de jogo e sobre o processo de treino”.

No quarto capítulo é onde aproveitamos para demonstrar e evidenciar

aquilo que foi realizado no âmbito do estágio. É neste capítulo “Desenvolvimento

da Prática” que abordamos como recolhemos a informação, como a tratamos,

como a analisamos e como a transmitimos à equipa técnica e ao plantel.

No quinto capítulo “Desenvolvimento Profissional” fazemos uma reflexão

acerca daquilo que foi vivenciado ao longo do estágio e em que medida nos

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tornámos mais ricos enquanto pessoas e também como profissionais do Treino

e da AJ.

No sexto capítulo “Considerações Finais” é onde deixamos algumas

ideias que pretendemos reforçar e que foram deixadas ao longo do trabalho.

Por último, o capítulo sete que corresponde às “Referências

Bibliográficas”, que representam as fontes a que recorremos para moldar o

nosso pensamento e também para compreendermos mais acerca da temática

da observação e AJ.

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2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

2.1. Contexto legal

O estágio profissionalizante, realizado no âmbito da conclusão da unidade

curricular de “Estágio”, do 2º ciclo de Treino Desportivo com especialização em

Treino de Alto Rendimento, foi realizado durante a época 2017/2018 na equipa

profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de

Futebol, na função de analista.

2.2. Contexto institucional – história, valores e missão

A Académica é de Coimbra. Associação Académica de Coimbra. E

“Coimbra é de Portugal” (A Académica, 1995).

A história do futebol da Briosa, julgamos nós, dificilmente será entendida

se desligada da história da Associação Académica de Coimbra. Não apenas

porque foi no seio desta que nasceu a prática da modalidade entre os

universitários coimbrãos, mas porque de outro modo não se compreenderia

porque é que, em 1969, por uma única vez, o Presidente da República não

esteve presente na final da Taça de Portugal, como não se perceberia porque é

que, em Junho de 1974, a seção de futebol da Associação Académica foi

temporariamente extinta por decisão de uma Assembleia Magna estudantil.

Portanto, se a história do futebol da Briosa é, desde sempre, inseparável das

lutas estudantis, ela confunde-se igualmente, em larga medida, com a própria

história da cidade e do País nos últimos séculos (Santana & Mesquita, 2011).

O alvará fundador da Associação Académica de Coimbra data de 3 de

Novembro de 1887. Mais que centenária! É um motivo de reflexão. As

perspetivas de futuro têm importância, o contar-se com um passado também (A

Académica, 1995).

A Associação Académica de Coimbra, ao longo dos seus 131 anos,

marcou profundamente as várias gerações de estudantes que passaram pela

Universidade de Coimbra, através das lutas, da defesa de valores como a

democracia e a liberdade, e da sua cultura e do desporto (adaptado A

Académica, 1995).

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A “Briosa”, com as suas camisolas negras, da cor das capas, e o emblema

losangular, com a torre da Universidade, é indiscutivelmente um dos mais fortes

elos de ligação entre a malta da Académica (A Académica, 1995).

Relativamente aos feitos e conquistas mais significativas, a Associação

Académica de Coimbra conquistou a taça na época de 1938-1939, a primeira

Taça de Portugal, competição que, nesse mesmo ano, substituíra o Campeonato

de Portugal (Santana & Mesquita, 2011).

Na época 1950-1951, a Académica atinge a final da taça, mas desta vez

viria a ser derrotada pelo SL Benfica, que foi também campeão nacional

(Santana & Mesquita, 2011).

Até à época de 1953-1954, a Académica já contava com 3 títulos de

campeão de juniores, o que começava a indicar a tradição na formação

desportiva (Santana & Mesquita, 2011).

Na época 1966-1967 a Académica consegue a sua melhor classificação

de sempre no principal campeonato português. Acaba em segundo lugar, a 3

pontos do SL Benfica, tornando-se vice-campeã nacional. O jogo do título

disputou-se em Coimbra, na 19ª jornada, perante cerca de 43 mil espetadores.

Nessa mesma época, a Académica atinge a final da Taça de Portugal mas acaba

derrotada pelo Vitória FC (Santana & Mesquita, 2011).

A Académica faz a sua estreia europeia na época 1968-1969, jogando

com o Olympique de Lyon. Saiu derrotada em Lyon por 1-0 e em casa venceu

por 1-0. Contudo, vinha a ser eliminada pelo velho sistema de desempate,

moeda ao ar (Santana & Mesquita, 2011).

Em 1969 a Académica atinge pela 4ª vez a final da Taça de Portugal e

esta, foi seguramente a mais politizada de todas quantas se realizaram até hoje.

A chamada crise estudantil desse ano está ao rubro e os jogadores da

Académica estão com a luta dos universitários de Coimbra. Luta que poderia ter

ganho um novo ânimo, caso a Briosa tivesse vencido. Mas, depois de ter estado

em vantagem, a Académica deixa-se bater pelo Benfica. “Um dos maiores

comícios de sempre contra o regime”, assim classificou o jornalista Carlos

Pinhão, anos mais tarde. No topo sul do Jamor, as bandeiras da Briosa e os

cartazes de incentivo a esta alternam com dísticos onde se pode ler: “Ensino

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para todos”; “Melhor ensino, menos polícias”, “Universidade livre” (Santana &

Mesquita, 2011).

Havia rumores que podiam ocorrer protestos e durante o jogo que não foi

transmitido pela RTP e ao qual o Presidente da República não compareceu,

milhares de comunicados voaram saídos de pontos estratégicos do estádio.

Dezenas de dísticos, cartazes e faixas passearam, intervaladamente, nas

bancadas. Palavras de ordem foram gritadas em coro e o hino cantado,

solenemente, a plenos pulmões (Coimbra, 1969). Cartazes com várias legendas

deste estilo “A Académica está de luto”, “Universidade livre”, “Viva a liberdade”,

etc (A Académica, 1995).

Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita, 2011).

Contudo, chega a época de 1969-1970, e a Académica consegue a

melhor prestação europeia de sempre, atingindo os quartos de final da antiga

Taça das Taças, onde é eliminada pelo Manchester City (Santana & Mesquita,

2011).

Depois surge o 25 Abril de 1974, data marcante da história de Portugal,

influenciou a vida da Académica como a de nenhum outro clube português.

Demonstrando, mais uma vez, a sua ligação umbilical ao corpo donde provém,

a Briosa nunca conseguiu passar incólume aos novos ventos que sopravam na

Universidade e na sociedade portuguesa.

Quando o antigo regime cai, e pese embora uma efémera passagem pelo

escalão secundário, a Briosa não terá a pujança futebolística da década de 60,

mas está solidamente implantada na primeira divisão. Contudo, instala-se uma

nova polémica na Universidade e a direção na altura coloca o lugar à disposição.

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Foi então eleita uma comissão de gestão, constituída por estudantes

universitários, que tinham como objetivo garantir a continuidade da seção de

futebol, em diálogo com a direção geral e as restantes seções desportivas da

Associação Académica. Esse diálogo viria a revelar-se difícil e na cidade já

constava a extinção pura e simples da seção de futebol. E é nessa altura que a

nova assembleia geral, presidida por António Arnaut propõe: “transforme-se a

seção de futebol da Associação Académica de Coimbra em Clube Académico

de Coimbra” (Académica, 1995). Começava, então uma dura batalha jurídica,

destinada a garantir a transferência para o Clube Académico de Coimbra dos

direitos desportivos que eram pertença da Académica (Académica, 1995).

Enquanto Clube Académico de Coimbra não se assinalaram títulos ou grandes

feitos nas principais competições nacionais, entenda-se Primeira Divisão, Taça

de Portugal e provas europeias.

Só em 1984, haviam já passado os excessos (que aliás, caraterizam as

revoluções), sendo outra a atmosfera do País, resolveu-se que a Académica

voltasse ao seu nome verdadeiro: Associação Académica de Coimbra, por

competente decisão de Assembleia Magna. A resolução foi recebida com grande

contentamento pelos adeptos da Académica espalhados por todo o País e fora

do País (Académica, 1995).

A Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol

(AAC/OAF) foi criado, em boa hora, por protocolo entre a direção geral da

Associação Académica de Coimbra e o Clube Académico de Coimbra no ano de

1984. Este organismo “sui generis” da Académica, que tem como atividades “o

fomento do futebol federado e o desenvolvimento desportivo e sociocultural dos

seus associados”, dá corpo a uma Associação Académica para todos,

movimentando não só os estudantes, pessoas de Coimbra e muitos que

“chegam a ter saudades de Coimbra sem nunca nela terem vivido” (A

Académica, 1995).

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Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação Académica de Coimbra.

O atual organismo autónomo de futebol, em si mesmo e nos seus

antecedentes institucionais, ultrapassa largamente o quadro da Universidade de

Coimbra. Mas sempre teve uma ligação privilegiada com a Universidade (Rui

Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995).

No seu passado recente, enquanto Associação Académica de Coimbra –

Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) conseguiu, na época 2011/2012, a

conquista da 2ª Taça de Portugal, vencendo o Sporting Clube de Portugal na

final.

Depois de vários anos a competir na Primeira Liga, a Académica foi

despromovida na época 2015/2016 e espera-se e deseja-se ansiosamente o

regresso ao escalão máximo do futebol português.

Resumidamente, A Associação Académica de Coimbra é a casa mãe e

existe uma relação umbilical que, apesar de alguns desencontros históricos,

efetiva a singularidade da Académica. É verdade que essa ligação teve as suas

crises e complexidades, e julgo que no momento atual se impõe aos dirigentes

e associados do organismo, como aos responsáveis académicos, estudantes ou

não, refletir sobre os caminhos a seguir, em face dos novos tempos e realidades

(Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995).

Com efeito, o compromisso de lealdade e solidariedade entre todos os

que compõem a AAC/OAF marca o funcionamento da Instituição, devendo esta

dar expressão e desenvolvimento à formação humana, ética, cultural e social

dos seus atletas (2018, Modelo Formativo, AAC/OAF).

Citando palavras de Vítor Santos, numa crónica no jornal “A Bola”, “a

Académica é isto – a equipa dos escândalos, a equipa dos impossíveis, a equipa

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de que tudo se espera: o melhor e o pior, o lógico e o ilógico, o natural e… o

mágico. Há realmente qualquer coisa naquelas camisolas negras, tecidas com a

magia, a tradição, a irreverência, a ladinice, o azougue do ambiente de Coimbra

e da sua eterna Academia”.

2.3. Recursos Espaciais

Dotada de boas infra-estruturas (com uma Academia com 2 campos de

futebol em relva sintética, 1 campo em relva natural, 1 campo de futebol 7 em

relva sintética e também com um Estádio modernizado, com 13 anos de

existência, tendo sido reconstruído aquando da organização do Europeu de 2004

em Portugal).

Possui uma Academia com 30 quartos, refeitório, sala de estudo, ginásio, que

conta atualmente com 22 atletas residentes (desde sub15 aos sub23).

Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra.

2.4. Recursos Humanos

A atual direção é presidida pelo Dr. Pedro Roxo. O diretor desportivo

Américo Branco, o delegado Miguel Umbelino, o secretário Sérgio Abrunheiro, o

departamento médico composto pelo Dr. Roxo e Dr. Paulo Queirós, pelo

enfermeiro Nuno Simões, pela nutricionista Maria João Campos. Os técnicos de

equipamentos José Guerra e Pedro Bastos. O motorista Saúl. O responsável

pelo scouting (prospeção de jogadores) Pedro Evangelista.

A equipa era composta por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações

com a abertura do mercado, em Janeiro. Na posição de guarda-redes

constavam: Ricardo Ribeiro, Guilherme Oliveira e João Gomes. Na posição de

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defesas centrais: João Real, Brendon Lucas, Yuri Matias, Zé Castro, Hugo

Ribeiro (que depois foi emprestado), Tiago Duque (que saiu no mercado de

inverno). Na posição de defesas laterais: Pedro Empis, Nélson Pedroso, João

Simões, Mike Moura e Pedro Coronas (que chegou no mercado de inverno). Na

posição de médios centro: Ki, Chiquinho, David Teles, Ricardo Dias, Zé Tiago,

Ricardo Guima, Pedro Lagoa e Fernando Alexandre. Na posição de médios ala

e extremos: Marinho, Femi Balogun, Harramiz (que saiu no mercado de inverno),

Luisinho, João Traquina e Piqueti (que chegou no mercado de inverno). Os

avançados: Diogo Ribeiro, Alan Junior (que chegou em Janeiro), Donald Djoussé

e Tozé Marreco.

Com o intuito de respeitar a privacidade e os dados dos treinadores,

iremos atribuir a cada líder, uma respetiva codificação. Esta codificação não é

feita de forma aleatória, não respeitando uma ordem lógica.

A equipa técnica sofreu alterações ao longo da época. Entre o início de

época (26 junho de 2017) e o dia 8 de novembro de 2017, o treinador foi “T3”. A

sua equipa técnica era composta por dois treinadores adjuntos, um preparador

físico/treinador adjunto e ainda um treinador de guarda-redes. Depois deu-se a

chegada do treinador “T1” assumindo a equipa a partir do dia 19 de novembro

de 2017. A equipa técnica passou a ser composta por dois treinadores adjuntos

que chegaram com ele, mais um treinador adjunto e o treinador de guarda-redes

que já pertenciam à equipa técnica anterior. A liderança de “T1” terminou após o

jogo com a Oliveirense, a 31 de março de 2018. Depois chegou o treinador “T2”,

que trouxe com ele um treinador adjunto. Ficaram na equipa técnica o treinador

adjunto e o treinador de guarda-redes que já se encontravam na equipa técnica

desde o início da época.

Apesar de todas as alterações na equipa técnica, continuei a

desempenhar as minhas funções no gabinete de AJ, continuando a desenvolver

o trabalho de análise da performance das equipas adversárias.

2.5. Caraterização do plantel

O plantel era composto por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações

com a abertura do mercado, em Janeiro.

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Do plantel faziam parte três guarda-redes. O guarda-redes “G1” que era

um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos, que apesar de estar na

Académica há algumas temporadas e ser proveniente dos escalões de

formação, era um atleta que ainda não tinha sido aposta e que tinha somado

poucos minutos de jogo nas épocas anteriores. O guarda-redes “G2” que era

também um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos e que tinha chegado à

AAC/OAF a partir de um empréstimo. Foi um jogador que também não teve

muitas oportunidades ao longo da época. O guarda-redes “G3” era um guarda-

redes mais experiente já com alguns jogos na primeira e segunda Liga

Profissional de Futebol. Sem dúvida, um guarda-redes com presença e que

manifestava algumas caraterísticas de liderança, em que os restantes jogadores

lhe reconheciam talento e competência. Em treino, recebemos várias vezes mais

um guarda-redes da equipa de juniores (sub19), sendo que por uma vez, um dos

guarda-redes de juniores chegou a ser convocado para um jogo oficial.

No plantel possuíamos vários defesas centrais onde se encontrava um

misto entre experiência e juventude. Quase todos eles apresentavam

competência no jogo aéreo. Mas eram poucos aqueles que apresentavam

caraterísticas que nos permitiam construir e jogar curto e apoiado a partir de trás.

Portanto, o nosso jogo mudava significativamente em função dos defesas

centrais que jogavam de início. Por outro lado, também havia muitas diferenças

quanto às capacidades físicas já que no plantel constavam defesas centrais

rápidos e outros muito lentos. Por esse motivo, a nossa forma de defender

também tinha de ser repensada em função dos defesas que se apresentavam

em jogo. Assim o defesa central “D1” era um jovem jogador, também oriundo dos

escalões de formação do clube. Por infelicidade tem estado constantemente

lesionado e esse foi um motivo que não ajudou à sua integração acabando por

ser emprestado. O defesa central “D2” foi um jogador que jogou pouquíssimo

tempo e também acabou por ser emprestado no mercado de Janeiro. O defesa

central “D3” era um jogador que apresentava um bom jogo aéreo, mas era um

jogador que teve sempre muita dificuldade na leitura e antecipação das

situações. Para além disso, era um jogador que falhava imensos passes se

tentasse ligar jogo nos jogadores do sector intermédio. Por esse motivo optava

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quase sempre por um jogo mais longo. O defesa central “D4” era um defesa

experiente, um jogador que permitia que a equipa construísse e jogasse a partir

de trás. Apresentava muita facilidade no passe interior, quebrando algumas

linhas de pressão da equipa adversária. Para além desse motivo apresentava

ainda um bom passe longo, o que nos permitia oferecer alguma variabilidade ao

jogo. Contudo, revela já muita dificuldade a nível físico, contraindo algumas

lesões e apresentando pouca velocidade, sendo várias vezes surpreendido com

bolas em profundidade. O defesa central “D5” era um defesa competente na

leitura e antecipação, manifestando boa capacidade física, sendo também

competente no jogo aéreo. Apesar de não ser a sua principal caraterística

tratava-se de um jogador que também nos podia trazer alguma qualidade na

construção de jogo. Por último, o defesa central “D6” que era um jogador

experiente, já há muitos anos no plantel. Tratava-se de um jogador muito capaz

no jogo aéreo, sendo essa a sua principal caraterística. Contudo, era um jogador

que tinha algumas dificuldades em construção e por esse motivo insistia também

em realizar passe mais longo para os homens da frente. A nível físico era um

jogador com pouca velocidade e que foi muitas vezes surpreendido quando a

bola era colocada em profundidade.

Na posição de defesas laterais tínhamos dois laterais direitos, sendo que

em Janeiro chegou outro lateral, visto que um dos laterais que estavam no plantel

foi alvo de processo disciplinar. Tínhamos ainda dois laterais esquerdos.

O defesa lateral “L1” foi um jogador que chegou no mercado de inverno

mas que não realizou qualquer jogo oficial. O defesa lateral “L2” era um jogador

oriundo da formação do clube, que estava a aparecer e a ganhar o seu espaço

no plantel. Caraterísticas mais ofensivas, projetando-se bastante ofensivamente.

Contudo, ficou afastado com um processo disciplinar e não deu mais o seu

contributo à equipa, ficando relegado para a equipa satélite: Associação

Académica de Coimbra / Seção de Futebol. O defesa lateral “L3” era um jogador

experiente, já com muitos jogos realizados na Segunda Liga Portuguesa. Foi

quase totalista na presente época desportiva. Tratou-se de um lateral com

excelente posicionamento defensivo, muito competente nas missões defensivas.

Foi um jogador que não se envolvia muito nas missões ofensivas preferindo

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guardar posição. Com o passar do tempo, foi sentindo maior confiança e já vai

subindo, procurando criar maiores desequilíbrios pela direita. O defesa lateral

“L4” é um jogador mais experiente, com muitos jogos somados na Primeira e

Segunda Liga Portuguesa. Jogador muito competente ao nível do passe e do

cruzamento. Contudo é um jogador que já revela alguma dificuldade a nível

físico, principalmente com pouca velocidade. Para além disso, por se envolver

ofensivamente, tinha sempre alguma dificuldade em recuperar a posição,

controlando dessa forma a profundidade. Era um jogador referência nos lances

de bola parada ofensiva, sendo um bom marcador de livres laterais e livres

diretos (frontais). Por último, o defesa lateral “L5” que se tratava de um jovem

jogador, que havia chegado por empréstimo. Não foi um jogador muito utilizado.

Era um jogador tecnicamente evoluído, que se envolvia ofensivamente.

No meio-campo tínhamos vários jogadores, todavia havia dos médios que

desempenhavam de forma mais concreta a função de construção e também de

médio mais defensivo, que ficava mais próximo da linha defensiva. O jogador

“M1” tratava-se de um jogador já com muitos anos de Académica. Um jogador

muito experiente, competente na sua missão específica mas em quem se notava

já muitas dificuldades físicas, derivado das muitas lesões a que foi sujeito nas

últimas temporadas. Tratava-se de um jogador forte no jogo aéreo, mas que já

revelava menor capacidade de tração e de “choque” comparativamente com

épocas realizadas no passado em que teve a “agressividade”, combatividade,

capacidade de trabalho e entrega ao jogo como principais caraterísticas. O

jogador “M2” tratava-se de um jogador que tinha chegado por empréstimo. Foi

sem dúvida dos jogadores mais regulares durante a presente época desportiva.

Jogador com boa capacidade física, bom jogo aéreo, boa capacidade de trabalho

e de entrega ao jogo. Penso que é um jogador que tenta fazer também a ligação

com o sector ofensivo, mas aqui ele revela algumas dificuldades.

Outros médios da equipa mas que podiam desempenhar mais algumas

missões ofensivas: o médio “M3” era um jogador oriundo da formação que não

somou qualquer minuto ao longo da época. O médio “M4” foi outro jogador da

formação que somou poucos minutos ao longo da época desportiva”. O médio

“M5” era um jogador cuja caraterística principal era a sua capacidade física.

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Muito forte e com muita resistência. Era um médio “de área a área”. Contudo,

era um jogador que falhava sempre muitos passes, um jogador que pecava

bastante na sua tomada de decisão. O médio “M6” era um médio muito evoluído

a nível técnico, com um controlo fantástico da bola, um médio bom ao nível do

passe, que tanto podia jogar como um médio mais ofensivo e a pisar zonas entre

a linha defensiva e a linha média adversária como podia jogar também junto ao

corredor lateral, com tendência para procurar espaços interiores. Para além

destas caraterísticas era um jogador com um bom passe de rutura. Era um

jogador frágil fisicamente. O médio “M7” era um médio desequilibrador, um

jogador que chegou por empréstimo, mas em quem se identificava um talento

fantástico e um potencial enorme. Era um médio muito competente, que apesar

de se sentir mais confortável a procurar espaços entre linhas, também baixava

muitas vezes a procurar bola um pouco mais atrás, transportando jogo para a

frente. É um jogador muito competente, com um bom passe de rutura, muito bom

no passe e com clara tendência para jogar curto e apoiado. Por último “M8” um

médio que também passou pelos juniores do clube e que já está no plantel

profissional há alguns anos. É um médio que gosta muito de ter a bola, que

procura fazer a ligação (médios – avançados) mas que falha bastante na

decisão, perdendo muitas bolas. Apesar de ser caraterístico de um bom passe e

também de bom remate, é um jogador que é frágil do ponto de vista físico, não

conseguindo aguentar a carga.

Na posição de médios ala e extremos tínhamos vários jogadores: “E1” era

um jogador que tinha acabado de chegar no mercado de inverno e que

praticamente não foi utilizado. Contudo pareceu ser um jogador rápido e com

boas mudanças de velocidade. “E2” era um jogador formado no clube, que conta

já com bastante experiência, com muitos jogos realizados na Segunda Liga. Bom

driblador, jogador que joga mais encostado ao corredor lateral. Com o passar

dos anos e com a perda de alguma velocidade tem sido experimentado também

a lateral direito. Jogava preferencialmente sobre a direita. “E3” era um extremo

muito rápido, que gosta da bola no espaço. Bom driblador, boa mudança de

velocidade mas que pecava imenso no cruzamento. Era um jogador que podia

ser solicitado nos instantes de transição ofensiva. Jogava preferencialmente

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sobre a direita. “E4” era um extremo que saiu no mercado de Inverno. Jogador

que podia fazer de extremo mas também de avançado. Tinha algumas

caraterísticas de finalizador. Contudo, foi um jogador que nunca se adaptou e

nunca conseguiu soltar-se da pressão. Foi um jogador muito perdulário e que

falhou sempre bastante na tomada de decisão. “E5” é um jogador muito

experiente, com muitos anos de primeira e segunda liga, que já se encontra na

Académica há muitos anos. Jogador com quem os adeptos nutrem um carinho

muito grande, pois há uns anos foi ele que marcou o golo que deu a vitória da

Taça de Portugal em pleno estádio Nacional, vulgarmente conhecido “Estádio do

Jamor”. É um jogador desconcertante, com boa capacidade técnica, bom drible,

mas que já não tem a velocidade de outrora. Contudo é um jogador combativo e

voluntarioso. A sua presença em campo é importante para os colegas devido à

sua liderança. Por último “E6” foi um jogador que chegou por empréstimo. Um

jogador muito desequilibrador, muitíssimo rápido. Foi talvez o jogador mais

desequilibrador que jogava nos corredores laterais. Era um jogador que gostava

de procurar espaços interiores, no entanto, tinha mais caraterísticas de jogador

de corredor lateral. Foi um jogador que teve uma lesão grave no decorrer da

segunda metade da época, o que foi uma enorme contrariedade para a equipa.

Na frente, os avançados: “A1” que era um jogador oriundo da formação

do clube, já com alguns jogos realizados em clubes de Segunda Liga. Avançado

que gosta de sair bastante das zonas dele, caindo muitas vezes em apoio mas

também tombando para os corredores laterais. É um jogador muito combativo,

voluntarioso e natural de Coimbra. “A2” é um ponta de lança forte fisicamente e

também de elevada estatura. É muitas vezes servido como apoio frontal. É um

jogador muito solicitado nos momentos de transição ofensiva seja como apoio

frontal, seja em corredor lateral, transportando ele o jogo para a frente a partir de

condução rápida. “A3” é um ponta de lança, finalizador, que conta com várias

passagens em clubes de Segunda Liga e também clubes no estrangeiro. É um

finalizador, um homem de área. “A4” foi um avançado que chegou no mercado

de Janeiro. Trouxe alguma mobilidade à equipa, mas não foi o finalizador que

precisávamos.

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2.6. Objetivos desportivos

A AAC-OAF, por se tratar de uma instituição histórica em Portugal (pela

sua mística, pela sua ligação à Academia, pela sua filosofia) com um grande

historial na Primeira Liga, terá obrigatoriamente que ter ambição de voltar aos

palcos principais do futebol português. Portanto, de forma assumida, os objetivos

da Académica passam sempre por procurar alcançar a promoção à Primeira

Liga, agora intitulada Liga NOS. Nas restantes competições o objetivo passaria

sempre por ir o mais longe possível, quer na Taça da Liga intitulada Taça CTT,

quer na Taça de Portugal. Na Ledman Liga Pro (Segunda Liga), falhámos o

nosso objetivo, não alcançando a promoção, terminando o campeonato em

quarto classificado, a três pontos do nosso objetivo. Na Taça CTT fomos

eliminados na primeira fase pelo Arouca Futebol Clube. Na Taça de Portugal,

fomos eliminados nos oitavos de final, pelo Caldas Sport Clube.

2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino

Apesar do jogo de futebol ser conhecido por ser surpreendente,

imprevisível, não sendo possível prever com certeza o resultado final de um jogo,

é possível minimizar a imprevisibilidade procurando criar contextos e situações-

problema em treino que possam assemelhar-se às situações que vão surgir em

competição. Assim, apesar de entendermos o jogo como caótico, entendemos

também que tem de haver algo que ligue o jogo e que o enquadre num cenário

de possibilidades e previsões, dando sentido à preparação dos jogadores e das

equipas. Caso contrário, o jogo seria completamente aleatório e estaria puro e

simplesmente entregue ao acaso.

Seguindo este pensamento, será possível modelar o jogo, minimizando a

imprevisibilidade, reduzir o desconhecido, mas colocando sempre na balança a

ordem e a desordem, não esquecendo em momento algum que a possibilidade

de modelar não elimina o cenário caótico do jogo.

Longos são os anos a acompanhar as equipas da AAC/OAF, assistindo

aos jogos na posição de adepto. Recordo-me desde sempre que na AAC/OAF

sempre houve interesse, ideia e tentativa de se implementar um jogo que desse

primazia à iniciativa e ao querer ter a posse de bola. Assim, no processo ofensivo

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e mais propriamente em momento ofensivo, notei desde sempre que houve uma

preocupação em construir o jogo a partir de trás. Mas recordo-me também que

sempre houve alguma dificuldade, ano após ano, em conseguir criar muitas

situações de finalização. Havia sempre claras dificuldades em ligar o sector

intermédio com o sector ofensivo. Para além desta caraterística, observava

também nas equipas da AAC/OAF, a presença de jogadores rápidos nas alas e

até na frente, o que possibilitava também que a AAC/OAF fosse uma equipa

perigosa, nos instantes após a recuperação de bola, procurando rapidamente a

verticalidade e atacar a profundidade. Sem bola, e quando em organização

defensiva, tenho memórias de ver os “estudantes” como uma equipa organizada,

defendendo de forma coesa e competente.

Atualmente está a ser desenvolvido um trabalho competente e organizado

na formação do clube, havendo a definição clara de ideias para as equipas da

formação, com um “jogar” devidamente caraterizado e escrito num “manual

técnico – modelo formativo”. Contudo, entendo que na maior parte das vezes

ainda não existe uma ligação muito forte com o que é desenvolvido na equipa

profissional.

Nos dias de hoje, em alguns clubes profissionais, como é o exemplo da

AAC/OAF, vive-se uma enorme instabilidade com trocas de treinador

constantemente. E quando há a troca de treinador e consequentemente da

equipa técnica, é muito provável que exista alteração das ideias, do modelo de

jogo e até de alguns jogadores. Assim, uniformizar um modelo de jogo, uma

cultura de clube torna-se cada vez mais utópico.

Durante a época desportiva 2017/2018 foram três os treinadores que

passaram pelo comando da equipa. Foram três equipas técnicas que deram o

seu contributo à AAC/OAF. Por questões éticas vou dirigir-me aos treinadores

com a seguinte designação “T1”, “T2”, “T3”, sendo que esta designação não se

encontra ordenada.

O “T1” era um treinador conservador. Gostava de dominar e controlar o

jogo mas não gostava de ver a sua equipa exposta a grandes riscos.

A nível ofensivo era um treinador que trabalhava a primeira fase de

construção sempre em paralelo com uma transição defensiva, com uma

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mudança rápida de atitude, onde pedia que os jogadores fossem rápidos a

“fechar a bola”, “fechar o campo” e a voltarem às suas posições. Ainda em fase

de construção, incutia que os seus jogadores construíssem muitas vezes com

três jogadores, baixando muitas vezes um médio entre centrais ou em corredor

lateral, permitindo que o lateral se projetasse. Ofensivamente, era suposto que

a equipa fosse rápida a circular a bola e entendesse o momento certo para variar

centro de jogo e acelerar em corredor contrário ou então para realizar passe em

profundidade à procura dos homens da frente. O “T1” pretendia que os seus

jogadores conseguissem ligar o jogo, procurando especialmente os espaços

entre linhas cedidos pela equipa adversária. Para além disso, “T1” incutia que os

seus jogadores atraíssem também o adversário dentro, procurando depois jogar

e acelerar por fora, em corredor lateral. Portanto era um treinador que procurava

alguma variabilidade entre a variação de centro de jogo e o passe para a

profundidade.

“T1” foi um treinador que dedicou sempre muito tempo à organização

defensiva da sua equipa. Na maior parte das vezes gostava que a equipa

pressionasse na saída de bola da equipa adversária, evitando que o oponente

conseguisse construir jogo a partir de trás. Definia zonas de pressão e tentava

dessa forma neutralizar o adversário nas suas fases de construção. “T1” mostrou

sempre muita preocupação em trabalhar a sua linha defensiva, preparando-a

para subir e descer em função do posicionamento da bola e em função da

interpretação de situações de “bola coberta” e “bola descoberta”. Para além disso

preparou a sua defesa para quando fosse surpreendida com algumas bolas em

profundidade, poder conseguir defender bem, fechando baliza e acertando

marcações.

Foi um treinador que se preocupou bastante em preparar a sua equipa

para sair bem em situações de contra-ataque e ataque rápido. Principalmente no

início, aquando da sua chegada a Coimbra. Inicialmente preparou a equipa para

corrigir algumas situações defensivamente. Preparou a equipa para sair melhor

em transição defesa-ataque. Com o passar do tempo, foi começando a trabalhar

a sua equipa no momento ofensivo. Assim, inicialmente, em situações de defesa

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ataque, incutiu o hábito para que a sua equipa procurasse o ponta de lança mas

também os extremos.

Relativamente às bolas paradas, foi um treinador que se focou sempre

mais nas situações de bola parada ofensiva e não tanto nas situações de bola

parada defensiva. Assim que chegou começou a trabalhar as bolas paradas

ofensivamente. Só mais tarde começou a trabalhar a equipa nas bolas paradas

defensivas.

O “T2” chegou em situação adversas e circunstâncias muito particulares.

Por esse motivo, é difícil explicar qual a sua ideia de jogo e consequentemente

qual o modelo de jogo adotado. Com a sua chegada, o seu verdadeiro objetivo

foi recuperar a equipa mentalmente, motivando os jogadores para os jogos que

faltava disputar. O treino serviu muitas vezes para manter os índices físicos mas

não foi um treino muito elaborado e aquisitivo. A equipa técnica pretendia ter os

atletas focados para o que faltava mas, ao mesmo tempo, libertá-los do ambiente

de tensão existente.

Ainda assim, houve sempre preocupação em trabalhar e treinar a

organização defensiva, especialmente, a pressão de bola na saída de bola da

equipa adversária. O “T2” seguia a ideia adotada até então, em não permitir a

fase de construção da equipa adversária.

Ofensivamente, com a ideia existente em soltar um pouco os jogadores e

dar-lhes maior liberdade, passamos a depender um pouco mais de jogadas

individuais e do talento individual dos jogadores mais adiantados.

Houve ainda um cuidado na preparação da equipa para os lances de bola

parada defensiva e ofensiva.

Portanto, fica a dúvida acerca das ideias de jogo de “T2” bem como o

modelo de jogo que adotaria, caso estivesse na liderança a partir do inicio da

época.

Por fim, o “T3” era defensor de um jogo “positivo”, identificando-se com

um estilo ofensivo, com um futebol de ataque, tomando iniciativa do jogo,

tentando criar várias situações de golo, procurando a vitória. Gosta de dominar

e controlar o jogo. No processo ofensivo identificava-se com um jogo que dava

primazia à posse de bola, vendo nesta um meio para atingir o fim: golo. Joga

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muitas vezes em ataque posicional, jogo apoiado, tentando várias dinâmicas

para ligar os sectores. Procura dedicar muito tempo de treino às fases de

construção e ligação de sectores, com uma boa dinâmica dos médios, para que

sejam capazes de encontrar espaços e assim possibilitarem a ligação do jogo.

Procura ainda uma equipa que consiga circular a bola rapidamente, variando

centro de jogo, levando a bola aos 3 corredores. Para além disso, procura ainda

colocar muitos jogadores em zonas de finalização.

Defensivamente, “T3” identificava-se com uma equipa pressionante, logo

a partir da saída de bola da equipa adversária, identificando-se zonas

pressionantes. O treinador pretende evitar que as adversárias consigam ter

sucesso nas fases de construção. “T3” adequava a forma de pressionar

considerando o adversário, definindo indicadores de pressão diferentes em

função das caraterísticas do adversário. Para além disso, o treinador identifica-

se com uma defesa organizada que se posicione corretamente em função da

bola, espaço e adversário. Sempre que não seja possível realizar pressão alta,

opta por fazer baixar a equipa, juntando linhas, evitando dessa forma que o

adversário consiga aproveitar os espaços entre linhas. Para além disso, trabalha

a sua linha defensiva para que consigam controlar bem a profundidade, de

maneira a não sermos surpreendidos com uma bola nas costas da defesa. Para

além do controlo da profundidade há ainda a preocupação no acertar das

marcações dentro de área.

No instante de transição ofensiva, o treinador pretendia que a equipa

fosse capaz de tirar a bola rapidamente da zona de pressão. O idealizado era

que a equipa e os respetivos jogadores fossem capazes de identificar situações

e espaços tomando a decisão de avançar rapidamente para o ataque (contra-

ataque e ataque rápido), procurando servir os jogadores mais adiantados da

equipa (avançado e extremos), ou procurando manter a bola, reorganizando-se

ofensivamente.

No instante de transição defensiva, o treinador pretendia uma equipa que

fosse rápida a mudar de atitude. O objetivo era que houvesse uma pressão

rápida sobre o portador da bola, evitando que a equipa adversária conseguisse

tirar a bola da zona de maior pressão. Portanto, antes de perder a bola pretendia

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a equipa próxima, para que depois fosse possível ter uma resposta e pressão

pronta, após a perda de bola.

Por fim, nas situações de bola parada, “T3” o treinador atribuía muita

importância à observação e análise das situações de bola parada do adversário,

nomeadamente dos cantos e livres laterais, ajustando e “simulando” em treino a

ação da equipa adversária nestas situações.

2.8. Contexto de natureza funcional

Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante

da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei

e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Mais tarde, como disse

anteriormente, tive oportunidade de participar ativamente, treinando crianças e

jovens, e eis que durante a época 2017-2018 e no âmbito do estágio curricular,

desempenhei a função de Analista para a equipa profissional. Tive a

oportunidade de vivenciar, de perto, o trabalho desenvolvido junto de uma equipa

profissional. No final do mês de junho de 2017 recebi um convite por parte da

AAC/OAF para desempenhar a função de Analista para a equipa profissional e

também Coordenador Técnico para o Futebol de iniciação. Aproveitei o facto de

já estar dentro da estrutura para realizar o meu estágio curricular. No âmbito do

estágio, centrei o meu trabalho nas minhas funções junto da equipa profissional,

com principal enfoque naquilo que era a minha missão no gabinete de

observação e AJ.

Por já pertencer à instituição enquanto profissional, sempre houve

recetividade e nunca houve qualquer situação problemática.

Iniciei o estágio no dia 3 de julho de 2017, uma semana após o início dos

trabalhos (26 de Junho de 2017).

O trabalho desempenhado considerava uma lista enorme de tarefas:

Observar e filmar algumas sessões de treino da nossa equipa e passar os

ficheiros de vídeo para o treinador adjunto

Filmar os jogos em casa e acompanhar a equipa profissional em todos os

jogos (por vezes não foi possível, pois foi-me solicitado que fosse

observar um jogo “in loco” do próximo adversário).

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Observar e analisar as equipas adversárias (através de vídeo e “in loco”):

a) Pretendia-se que fizesse cortes de vídeo, categorizando o jogo, pelos

vários momentos de jogo. Esta informação era igualmente enviada para

o treinador adjunto;

b) Realizar um vídeo (mostrando como a equipa adversária se organizava

nos vários momentos do jogo), com duração máxima de vinte minutos.

Enviava o mesmo para a equipa técnica;

c) Realizar um vídeo mais curto, com duração máxima de nove minutos.

Pretendia-se que trabalhasse as imagens, colocando algumas animações

por forma a enfatizar algumas situações. O objetivo era enviar este

segundo vídeo para a equipa técnica. Este mesmo vídeo seria mostrado

e apresentado aos jogadores, pelo treinador e um dos treinadores

adjuntos;

d) Elaborar um relatório onde descrevia (com texto e imagens) os princípios,

ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários momentos do

jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório era

enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos e

treinador de guarda-redes);

e) Elaborar um relatório detalhado das Bolas paradas ofensivas e defensivas

do nosso adversário. O mesmo seria enviado para todos os elementos da

equipa técnica.

f) Elaborar vídeos, com alguns comportamentos e ações padronizadas de

alguns atletas ou individualidades da equipa adversária.

Ao longo da época foram surgindo várias alterações, motivadas

principalmente pelas alterações ocorridas na composição das equipas técnicas,

com 2 alterações de treinador e consequentemente mudança de quase todos os

elementos que constituíam a equipa técnica.

Com todas estas alterações, continuei sempre a desempenhar a função

de analista e trabalhar no gabinete de observação e AJ, mas considerando as

diferentes alterações na composição das equipas técnicas e a diferente

organização, visão e até modelo de jogo e modelo de treino, houve alterações

nas tarefas solicitadas e realizadas.

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Para além da equipa técnica, o staff também se manteve de início até ao

final de época, salvo uma ou outra exceção.

2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais

Segundo Vales (2015), a plena instauração e integração de um

departamento de AJ dentro do organigrama técnico de uma equipa de futebol

profissional requer, para além da participação de recursos humanos qualificados

e de uma correta estratégia de trabalho que os oriente, a posse de um material

mínimo imprescindível que possibilite o desenvolvimento de um alto ritmo de

trabalho e de uma máxima qualidade do mesmo. Material como: computadores

- fixo e portátil com grande capacidade de armazenamento e processador de

informação especialmente de vídeo; discos externos de alta capacidade para

armazenamento de informação; projetor de imagem portátil, de alta definição

para efetuar as diversas apresentações; Tela portátil para a projeção de imagens

e televisor de alta definição e grande tamanho para visualização dos jogos e para

as diversas apresentações; câmara de vídeo de alta gama com tripé para

gravação dos jogos e de treinos em direto ou desde ângulos especiais;

impressoras digitais com função de scanner para a apresentação e envio de

diferentes documentos.

Na AAC/OAF, dispúnhamos de um gabinete que ficava ao lado do

gabinete da equipa técnica. Utilizei sempre o meu computador pessoal. A

AAC/OAF disponibilizava um disco externo mas de capacidade reduzida. Acabei

por utilizar um disco externo pessoal para poder armazenar todos os documentos

e informação. No gabinete de scouting tínhamos uma TV à nossa disposição,

contudo era mais vezes utilizada pelo meu colega que ficava responsável pela

prospeção e recrutamento de jogadores.

Servíamo-nos da sala de imprensa da Academia Briosa XXI para fazer as

apresentações de vídeo aos jogadores. A sala já está equipada com projetor de

imagem e também com tela preparada para projeção de imagem. Em alguns

momentos, também utilizámos a sala de imprensa do Estádio Cidade de Coimbra

para os momentos de apresentação. Também a sala de imprensa do Estádio

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está devidamente equipada com projetor de imagem e com tela preparada para

projeção de imagem.

Possuíamos apenas uma única câmara de vídeo e um tripé, para

gravação dos jogos e treinos.

Tínhamos uma impressora partilhada com a equipa técnica, o que nos

possibilitava entregar o relatório técnico de forma rápida.

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3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL

3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa

“na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um

fenómeno que assenta numa lógica complexa”

(Garganta & Gréhaigne, 1999).

Com a entrada no século XXI, o futebol afirma-se como a modalidade

desportiva de maior expressão mundial, alcançando uma popularidade sem

precedentes na história da humanidade. Este jogo, cuja beleza parece decorrer

da sua aparência simples e dos comportamentos matizados e pouco previsíveis,

tem suscitado a adesão de um elevado número de afiliados (Garganta, 2006).

Porém, na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um fenómeno

que assenta numa lógica complexa (Garganta & Gréhaigne, 1999).

Numa análise mais profunda e detalhada, apesar do facto dos desportos

de equipa terem uma série de caraterísticas estruturais e funcionais que lhes

trazem um sentido único, o futebol, como desporto específico condicionado por

um regulamento e cultura particular, apresenta uma série de traços próprios que

o distinguem do resto das modalidades pertencentes à família dos desportos

coletivos. (…) Entre os principais aspetos que particularizam esta modalidade

desportiva podemos destacar: a) a proibição de usar as mãos para manipular a

bola, o que leva a um potencial aumento do grau de discordância entre o projeto

de ação e a execução, motivada pela elevada dificuldade coordenativa das

ações de jogo; b) o desenvolvimento do jogo num espaço amplo, o que leva a

uma importante exigência percetiva e que exige uma amplitude visual. Exige

ainda um domínio de jogo, tanto num espaço próximo (situações 1x1, etc), como

num espaço mais distante (mudanças de orientação, remates de longa distância,

etc). Requer ainda uma certa especialização posicional e funcional, para que os

jogadores racionalizassem o espaço (guarda-redes, sector defensivo, sector

intermédio e sector ofensivo); c) a participação de um importante número de

jogadores e a limitação das possibilidades de substituição entre os mesmos, o

que leva a redes complexas de interação, a uma solicitação física em termos

bioenergéticos e neuromusculares, pois são no mínimo oito os atletas que têm

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que disputar a totalidade do tempo; d) a presença de um elevado tempo de jogo

e a obtenção de um escasso número de golos durante os jogos, o que evidencia

uma elevada dificuldade para desenvolver e manter o ritmo de jogo intenso

durante todo o jogo, a importância de dispor jogadores especialistas para as

fases de finalização para fases de finalização e de bola parada (Vales, 2015).

A performance nos jogos desportivos é difícil de analisar e avaliar, muito

particularmente nos jogos desportivos coletivos, pois trata-se não apenas de

quantificar comportamentos, mas sobretudo de os qualificar. O comportamento

dos jogadores não é tão previsível como as trajetórias dos planetas, mas também

não é tão imponderável quanto os lançamentos de dados (Garganta, 2008). Por

exemplo, as equipas de futebol, como referem Garganta (2000), operam como

sistemas dinâmicos que se confrontam simultaneamente com o previsível e o

imprevisível, com o estabelecido e a inovação. O decorrer do jogo dá-se na

interação e através da interação, das regras constitutivas do jogo, o acaso e a

contingência de acontecimentos específicos com as escolhas específicas e as

estratégias dos jogadores, viradas para a utilização das regras e do acaso para

criarem novos cenários e possibilidades.

Garganta (2000) referem que, decorrente da relação de oposição, existe

uma lógica interna que, em cada sequência de jogo, gera uma dinâmica de

movimento global, de um alvo ao outro, que a cada instante pode inverter-se.

Castelo (2009) reforça dizendo que o futebol é um fenómeno que se projeta

numa cadeia de estados, os quais têm caráter de ordem e desordem,

estabilidade e instabilidade, equilíbrio e desequilíbrio, uniformidade e

variabilidade, previsibilidade e imprevisibilidade, etc. Os contextos sempre em

mudança, radicam porventura o seu verdadeiro fascínio e espetacularidade, na

incerteza que envolve o resultado das ações realizadas.

Garganta (1997) considera ainda que o jogo de futebol apresenta uma

estrutura formal e uma estrutura funcional. A estrutura funcional decorre das

ações de jogo, enquanto resultado da interação recorrente entre os

companheiros de equipa e, da interação concorrente entre adversários, em torno

da bola, a fim de conseguirem vencer a oposição dos adversários e atingir os

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objetivos propostos. A estrutura formal refere-se ao terreno de jogo, à bola, ao

regulamento, aos companheiros e adversários.

No futebol, a ideia básica é perceber que há um esforço da equipa para

marcar golo e para impedir que o adversário o faça. É claro que o adversário terá

o mesmo objetivo. Assim, ambas as equipas perseguem o mesmo objetivo,

simultaneamente. Importante, porque esses objetivos que são mútuos, são

perseguidos ao mesmo tempo, resultando interações entre ambas as partes.

Essas interações são dinâmicas, mudando no tempo ao longo do jogo (Lames &

McGarry, 2007).

No concurso das equipas para um objetivo comum e no permanente

antagonismo destas, de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo

de futebol apresenta-se como um fenómeno de contornos variáveis no qual as

ocorrências se intrincam umas nas outras. As competências dos jogadores e das

equipas não se confinam, portanto, a aspetos pontuais, mas reportam-se a

grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber o jogo

na sua complexidade (Garganta & Gréhaigne, 1999).

Não devemos esquecer que o futebol é jogado por pessoas. Os jogadores

estão em constante formação, em contínua incorporação de conhecimentos e

experiências próprias, em mútua interação consigo e com o envolvimento,

enriquecendo-se eles mesmos e enriquecendo o jogo. O jogador e o jogo são os

dois lados da mesma moeda. Um não existe sem o outro (…) A relação entre o

jogo e o jogador é bidirecional. Há influência do primeiro sobre o segundo e vice-

versa (Castellano, 2009).

Assim, numa partida, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o

seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto e aleatório. Não é

possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não

existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de

combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino. Todavia,

não obstante essas caraterísticas, as situações podem ser “categorizáveis”, isto

é, reconvertíveis num número restrito de categorias ou tipos de situações

(Garganta & Gréhaigne, 1999).

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Tal entendimento repousa na convicção de que os comportamentos dos

jogadores e das equipas, quando observados várias vezes e no confronto com

diferentes oponentes, são suscetíveis de exibir traços que permitem identificar

padrões de jogo (McGarry et al., 2002).

3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol

Assistimos a mudanças na nossa sociedade com o passar do tempo.

Essas mudanças influenciam a nossa cultura e consequentemente o jogo de

futebol. Assim, é de extrema importância perceber e compreender as tendências

evolutivas do jogo de futebol.

Se tivermos presente alguns dados, de caráter quantitativo, da análise do

jogo de futebol, observamos que o número de acontecimentos aumentou na

unidade de tempo. Com efeito, no quadro da dinâmica dos esforços, produzidos

pelos jogadores ao longo do jogo, triplicou nos últimos 30 anos. Daqui se infere,

que no plano tático os jogadores cobrem uma maior área de terreno de jogo

(tanto na fase ofensiva, como defensiva). Esta “pequena” constatação veio a

implicar, por sua vez, uma diminuição do tempo e do espaço para a resolução

tático-técnica de uma dada situação, tendo-se ou não a posse da bola. Na

atualidade, cada jogador executa em média 360 a 400 intervenções (de curta até

dois segundos, média até cinco segundos ou longa duração até oito segundos)

por jogo. Este facto determina quatro esforços por minuto. Mas se utilizarmos o

tempo real de jogo (excluindo as paragens que representam cerca de 30% do

seu tempo total) este valor sobe para seis, isto é, observa-se um comportamento

visível de dez em dez segundos, com ou sem a posse da bola, com uma

determinada intenção, finalidade e duração. A tendência destes valores no futuro

é de aumentarem, não tão rapidamente como no passado, mas a melhorarem

no domínio da qualidade do complexo decisão / ação e, em especial, na maior

duração de cada esforço produzido (Castelo, 2009).

Vales (2015) resume aquelas que são as principais peculiaridades

estruturais e coletivas do futebol, tratando-se de ser:

a) Uma atividade desportiva com um formato de fase alternada,

determinado basicamente por o facto de ter ou não ter a posse de bola;

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b) Atividade desportiva com alto conteúdo tático-estratégico, em que os

jogadores devem manifestar, desde um plano coletivo, uma intensa atividade

colaborativa para superar em conjunto a oposição ativa e inteligente que

representa a equipa adversária (organização e coerência global);

c) Atividade desportiva onde predominam as tarefas relacionadas com a

construção ofensiva e construção defensiva, sobre as de finalização ofensiva e

aquelas em que se evita o golo adversário;

Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015).

d) Atividade desportiva com uma dinâmica de situações de jogo de tipo

descontínuo, observando-se de forma intercalada sequências de jogo ativas e

passivas durante os jogos;

e) Atividade desportiva em que as equipas manifestam claramente uma

maior capacidade defensiva do que ofensiva, tanto nas subfases do jogo

pertencentes ao jogo dinâmico, como nas ações distintas que caraterizam o jogo

com bola parada;

f) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente

formatos defensivos estruturados a partir da adoção de posicionamentos

conservadores, com a participação de todos jogadores e a manifestação de

atitudes defensivas agressivas (pressing);

g) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente

formatos ofensivos caraterizados pela participação direta de grupos reduzidos

de jogadores sobre a bola e pelo predomínio do jogo interior sobre o jogo

exterior;

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h) Atividade desportiva com uma baixa frequência de golos por jogo (2.63

golos/jogo), circunstância que determina que o aproveitamento das situações de

finalização ocorridas no decorrer do jogo seja um feito decisivo no resultado final

dos jogos;

Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias (adaptado de Vales, 2015).

País/Época França Inglaterra Espanha Itália Alemanha Média

75/76 3.01 2.66 2.50 2.27 3.29 2.74

80/81 2.80 2.70 2.70 1.91 3.39 2.70

85/86 2.45 2.78 2.63 2.05 3.24 2.63

90/91 2.16 2.65 2.23 2.22 2.74 2.40

95/96 2.32 2.60 2.69 2.66 2.71 2.59

00/01 2.48 2.61 2.88 2.75 2.98 2.74

05/06 2.13 2.48 2.46 2.61 2.80 2.49

10/11 2.92 2.79 2.74 2.51 2.92 2.77

i) Atividade desportiva em que 64% dos golos obtidos por uma equipa

resultam do jogo dinâmico, estando precedidos de ações coletivas cuja estrutura

espacial, temporal e modal são de complexidade intermédia. Por outro lado, 36%

dos golos resultam de ações de bola parada que apresentam um nível de

complexidade estrutural reduzida.

Vales (1998), em jeito de resumo, apresenta uma tabela onde esboça as

principais mudanças ocorridas no jogo, do ponto de vista tático estratégico,

assim como as principais repercussões dos mesmos nas exigências funcionais

solicitadas, tanto em termos condicionais como em termos técnico táticos.

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Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015).

Se atendermos ao número médio de golos marcados por jogo em

campeonatos do Mundo, verifica-se que desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006

este vem descrescendo, atingindo o limite inferior em Itália 1990, rodando desde

então esse nível (Castellano, 2009). Barreira et al. (2013) acrescentam que no

Mundial 2010 se verificou um acréscimo de 0,04 na média de golos por jogo,

situando-se em 2,27.

Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006 (Castellano, 2009).

Caraterísticas do Jogo Consequências

condicionais

Consequências técnico –

táticas

Elevação do ritmo de jogo

Maior número dos

deslocamentos de

grande intensidade

Maior velocidade na atuação (cognitiva – operativa)

Limitação da iniciativa ofensiva /

defensiva do adversário

Maior número de duelos

com contacto

Mais recursos ofensivos e

defensivos

Relevância do jogo com bola

parada

Aumento do número das

disputas em jogo aéreo

Especialização técnico –

tática

Polivalência funcional dos

jogadores

Aumento do número de

intervenções

Repertório técnico – tático

mais amplo

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Por sua vez, Hughes e Franks (2005) analisaram a média de golos por

cada 1000 posses de bola nos campeonatos do Mundo de 1990 e 1994,

revelando uma ligação forte entre a quantidade de uma variável de processo com

a de produto final (golo).

Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005).

Os mesmos autores (Hughes & Franks, 2005) sugerem que equipas bem-

sucedidas (Liga dos Campeões, Campeonatos do Mundo, Campeonatos

Europeus), não recorrem ao jogo direto, há padrões de jogo para as equipas

bem-sucedidas e mal sucedidas. Jones (2004), Lago & Martin (2007)

encontraram que as equipas de topo têm mais posse de bola que os seus

adversários, sugerindo que preferem controlar o jogo. Bloomfield (2005) mostrou

que as três melhores equipas na Primeira Liga Inglesa, na temporada 2003-2004

(Chelsea, Manchester e Arsenal) dominaram a posse de bola contra os seus

adversários ganhando, perdendo ou empatando. Isto indica-nos, segundo Lago

(2009) que a posse é afetada pelo resultado, mas existem equipas que seguem

diferentes estratégias (ter mais ou menos posse de bola), o que reflete o estilo

individual, as ideias do treinador, as caraterísticas dos jogadores, o orçamento

da equipa, a filosofia de jogo e a tradição e cultura dos clubes.

Num artigo recente publicado pelo jornal espanhol “Marca”, analisou-se a

posse de bola das equipas que competiram na “La Liga” Santander 2018-2019.

Apesar de existirem equipas bem-sucedidas com mais posse de bola mas

também com menos posse de bola, verificámos que entre os dez primeiros

classificados houve sete equipas com mais posse de bola e três com menos

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posse de bola (como é o exemplo do Atlético de Madrid que foi a 11ª equipa com

mais posse de bola mas que acabou em terceiro classificado; ou do Valência

que foi a 13ª equipa com mais posse de bola mas que acabou em quarto

classificado; ou do Getafe que foi a equipa que teve menos posse de bola mas

que acabou num honroso quinto lugar. Estes dados mostram-nos que há

padrões de jogo para as equipas bem sucedidas e mal sucedidas, contudo,

também é possível ter sucesso apresentando outro tipo de estratégia que não

seja a de posse de bola.

Antes disso, Hughes & Franks (2005) verificaram que entre 1990 e 1994,

o jogo direto era mais “usual”. E no campeonato do Mundo de 1990, 84% dos

golos surgiram após a realização de quatro ou menos de quatro passes. Já em

1994, foram 80% dos golos a surgirem após quatro ou menos passes.

Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005).

Na perspetiva de Vales (2015), as principais mudanças observadas, em

relação aos aspetos coletivos do jogo podem apresentar-se nos seguintes

pontos:

a) O futebol contemporâneo carateriza-se pela presença de uma elevada

igualdade no rendimento manifestado pelas equipas, sendo difícil

encontrar atualmente, no alto rendimento, jogos de futebol em que as

diferenças entre uma e a outra equipa sejam muito elevadas;

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Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015).

Época Campeonatos do Mundo % Jogos equilibrados

(resultado final – empate ou diferença de um golo)

1930 - 1940

Uruguai 30, Itália 34, França 38 45,3%

1950 - 1960

Brasil 50, Suiça 54, Suécia 58 42,1%

1960 - 1970

Chile 62, Inglaterra 66 53,1%

1970 - 1980

México 70, Alemanha 74, Argentina 78

60,2%

1980 - 1990

Espanha 82, México 86 62,5%

1990 - 2000 Itália 90, EUA 94, França 98 70,2%

2000 - 2010 Coreia-Japão 02, Alemanha 06,

África do Sul 10 66,1%

Segundo os dados apresentados, verificamos que quase 70% dos jogos

terminaram com resultados muito ajustados, em que a diferença de golos entre

as equipas é nula ou no máximo de um golo. Em sintonia com o apresentado, no

Mundial da Coreia e Japão em 2002, as estatísticas publicadas pela FIFA no

final do campeonato, mostravam que em 82,8% dos casos, a equipa que

marcava o primeiro golo, ganhou ou empatou o jogo. No campeonato mundial

de África do Sul, em 2010 observou-se que a distribuição média da posse de

bola também esteve muito igualada, com valores médios entre os 55% / 45%.

(Vales, 2015);

b) O “efeito globalização”, caraterístico das ordens políticas e

económicas, também já chegou ao futebol. Verifica-se uma grande mescla

de culturas futebolísticas, provocado pelo mercado de transferências de

jogadores. No campeonato do Mundo de futebol de 2010, jogado em África

do Sul, quase 60% dos jogadores participantes jogavam em ligas

estrangeiras.

c) Encontramo-nos num estado evolutivo do jogo em que, como existe

uma diminuição dos espaços disponíveis para a construção do jogo ofensivo

e um notável incremento da pressão sobre o portador da bola, as defesas

impõem-se aos ataques, produzindo um tipo de jogo “bloqueado”.

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d) De forma paralela à progressiva instauração de formatos

posicionais cada vez mais conservadores, também destaque para a presença

de estruturas de jogo de maior intensidade e exigência tática, baseadas na

imposição de ritmos de jogo cada vez mais elevados. Assim, de um ponto de

vista defensivo, as equipas de futebol, com o intuito de dificultar ao máximo

a manobra ofensiva do adversário, centram os seus objetivos na busca de

uma rápida recuperação da bola, a partir da aplicação predominante de

métodos defensivos de caráter pressionante. Por outro lado, de um ponto de

vista ofensivo, esta progressiva aceleração do jogo caraterística do futebol

contemporâneo, manifesta-se também na intenção por parte das equipas de

quererem surpreender a organização defensiva do adversário logo após a

recuperação da posse de bola, buscando e aproveitando os espaços livres

através de um passe rápido da defesa para o ataque.

e) Por último, e tal como está apresentado na figura seguinte, parece

claro que as equipas de futebol obtêm cada vez mais golos e um maior

rendimento nos lances de bola parada ofensiva. A maior dedicação ao treino

deste tipo de ações e o aparecimento de jogadores especialistas na execução

das mesmas justifica que, na atualidade, mais de 30% dos golos ocorridos

em jogos de futebol de alto nível sejam obtidos a partir de cantos, livres

diretos e indiretos, penaltis.

Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015).

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Salinas & Salinas (2010) cit. por Pedreño (2018) estudaram o Mundial

realizado em África do Sul e verificaram que 31% dos golos obtidos por cada

equipa resultaram de lances de bola parada.

Uma vez expostas as caraterísticas mais importantes relativas à

evolução do jogo desde um plano coletivo, Vales (2015) expôs os traços mais

representativos da evolução do jogo a nível individual, focando a análise tanto

em aspetos de natureza energético funcional como em aspetos técnico

táticos:

Em primeiro lugar, em relação à evolução dos aspetos de natureza

condicional, o jogador de futebol, com o objetivo de adaptar-se

adequadamente ao processo de intensidade crescente que o jogo

experimentou ao longo do tempo, teve de melhorar progressivamente os

seus índices físicos, mostrando maior disponibilidade para suportar a fadiga

e manter um alto nível de eficiência técnico tática (Vales, 2015).

Em segundo lugar, e analisando a evolução dos aspetos individuais do

jogo, têm-se assistido: a) ao desaparecimento do jogador especialista de

forma restritiva, passando a aparecer um tipo de jogador que responde a um

modelo funcional e que apresenta um claro equilíbrio entre a universalidade

e a especificidade, isto é, aquele jogador que tem capacidade para participar

com eficácia em diferentes subfases do jogo e em diferentes zonas do campo

mas que também domina uma faceta concreta do jogo, relacionada com a

posição específica que ocupa dentro do sistema de jogo da equipa. Segundo

Vales (2015), observamos que o jogador de futebol tende a jogar de forma

mais dinâmica e flexível, no qual o seu raio de ação não se encontra limitado

unicamente em torno da posição base que lhe foi atribuída; b) Finalmente e

em relação à posição específica do guarda-redes, também se observa uma

maior implicação deste no desenvolvimento do processo ofensivo da equipa,

como resultado do seu maior repertório técnico tático. O guarda-redes

assume agora um maior protagonismo quer em situações de contra-ataque,

com rápida execução do passe, na tentativa de aproveitar o desequilíbrio

momentâneo do adversário, quer em situações de ataque posicional, que se

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traduzem no desenvolvimento da função de apoio, para minimizar os efeitos

de uma pressão avançada por parte da equipa adversária.

3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo

Sendo considerada a forma mais primitiva para aquisição de

conhecimentos, a observação foi, e continua a ser, um meio privilegiado a que o

ser humano tem recorrido para aceder ao conhecimento, bem como um

importante guia para a ação (Garganta, 2006).

A metodologia observacional consiste numa metodologia que reúne

condições particulares para o estudo do comportamento humano, que a coloca

também válida para a aplicação no âmbito dos jogos desportivos coletivos em

geral e do futebol em particular (Lago & Anguera, 2002 cit. por Barreira, 2013).

A metodologia observacional envolve o seguimento de todas as fases de

metodologia empíricas utilizadas nas ciências do comportamento,

nomeadamente: delimitação do problema, recolha de dados e a sua otimização,

análise dos dados e a interpretação dos resultados, caraterizando-se por um

escasso ou nulo controlo interno das variáveis, um grau máximo de naturalidade

e uma participação essencialmente passiva do investigador (Hernández-Mendo,

Anguera, & Bermúdez, 2000 cit. por Barreira, 2013). Desde logo, no papel de

ciência do comportamento, permite o registo das condutas lúdicas em contextos

naturais (terreno de jogo), respeita a espontaneidade dos comportamentos dos

jogadores em competição / treino, tornando desnecessária a preparação de

cenários (Barreira, 2013).

Nos últimos anos, no âmbito do desporto, registou-se um incremento

notório do volume de estudos realizados mediante a utilização da metodologia

observacional (Prudente, 2006). Muitos desses estudos baseiam-se na análise

do jogo com recurso à utilização de sistemas observacionais, o que tem

contribuído para a compreensão das exigências das exigências fisiológicas e

psicológicas até às exigências técnicas e táticas de vários desportos (Hughes &

Bartlett, 2002).

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Todavia, a observação não se esgota na visão. E o olhar está sempre

influenciado pelo indivíduo. Pelas experiências prévias, pelo seu conhecimento,

por aquilo que procura, pelas suas motivações.

Popper (1991) cit. por Garganta (2001) explica que para que os nossos

sentidos nos digam alguma coisa, temos que possuir conhecimento prévio: para

podermos ver uma “coisa”, temos que saber o que são “coisas”.

Neste sentido, a situação do sujeito, enquanto observador, representa um

ponto de vista bifronte, porquanto viabiliza e limita, simultaneamente, as suas

possibilidades de conhecimento (Garganta, 2006). Contreras (2000) reforça

explicando que, na recolha de informação através dos sentidos (visão) a

experiência do observador é a chave, mas não deixa de converter-se numa

interpretação demasiado subjetiva (Contreras & Pino, 2000).

Por isso a pesquisa observacional carateriza-se por requerer um treino

especializado dos observadores, no que respeita a “o quê”, “como” e “quando”

observar (Baker, 2006).

Todavia, para que a mesma se desenvolva e consolide importa passar de

uma observação passiva, sem problema definido, com baixo controlo externo e

carente de sistematização, para uma observação ativa, sistematizada, balizada

por um problema e obedecendo a um controlo externo (Anguera et al., 2000 cit.

por Garganta, 2008).

Segundo Sánchez (2015), antes de realizar uma observação, devemos

ter em conta: “o que”, “quem”, “como” e “quando” observar. Sem perder a

perspetiva de “porquê?” e “para que” se faz, e a objetividade de tudo o que se

observa.

Segundo Anguera & Hernández-Mendo (2013), a metodologia

observacional trata-se da única metodologia científica que permite a recolha de

dados dos participantes (desportistas, treinadores, preparadores físicos, etc.) no

treino e em competição, a partir da captação direta (essencialmente visual, mas

também pode ser auditiva) da informação percetível que se pode obter através

dos nossos órgãos sensoriais e ajudando-nos com recurso à gravação que na

atualidade, e devido ao rápido avanço dos recursos tecnológicos, é o meio

habitual de acesso à informação (Anguera & Hernández-Mendo., 2013).

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No âmbito desportivo em geral, é interessante destacar que as formas

mais utilizadas para observar os eventos competitivos são aquelas que

possibilitam uma visualização global dos mesmos, sejam elas de forma

instantânea, pela presença física do analista em competição, ou de forma

retardada, uma vez decorrido um certo tempo desde a ocorrência do evento,

para o qual se recorre à ajuda de uma gravação em vídeo. No caso concreto do

treinador – analista do rendimento, ambas as formas deverão ser interpretadas

como complementárias para desenvolver o seu trabalho, sendo utilizadas

convenientemente em função dos interesses do observador (Vales, 2015).

Mas, primeiro é necessário perceber que o jogo de futebol tem uma lógica

e uma ordem que precisamos de entender para compreender a sua dinâmica.

O estudo do jogo de futebol tem progressivamente requisitado a utilização

da metodologia observacional uma vez que esta permite a deteção de

sequências comportamentais e, por conseguinte, consubstancia um maior grau

de coerência e de significado com o jogo, induzindo uma utilização mais efetiva

por treinadores e preparadores (Castellano & Hernández-Mendo, 1999 cit. por

Barreira, 2013).

Passando para o processo operacional, Ventura (2013) partilha a sua

visão relativamente às fases em que o processo se divide: a) Preparação (onde

se define o que se quer observar; como e onde se vai observar; quem vai

observar); b) recolha da informação / observação (reporta à observação

propriamente dita); c) análise da informação / planeamento (depois de recolhida

a informação, é analisada e usada para planear o microciclo semanal e para

analisar a performance dos jogadores).

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Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013).

Sánchez (2015) divide o processo de trabalho do analista em 5 fases: a)

captação da informação necessária; b) classificação da informação obtida; c)

análise da informação; d) aplicação e desenvolvimento da metodologia de

análise; e) entrega do relatório técnico ou vídeo informativo.

Segundo Garganta (2001), o processo de recolha, coleção, tratamento e

análise dos dados obtidos a partir da observação do jogo, assume-se como um

aspeto cada vez mais importante na procura da otimização do rendimento dos

jogadores e das equipas. Neste sentido, através dos denominados sistemas de

observação, os especialistas procuram desenvolver instrumentos e métodos que

lhes permitam reunir informação substantiva sobre as partidas.

Nos primórdios as observações realizavam-se ao vivo, os registos dos

comportamentos dos atletas e das equipas eram realizados a partir da técnica

denominada “papel e lápis”, com recurso à notação manual. Embora esta fase

inicial se tivesse pautado por um forte pendor acumulacionista, à vontade de

coligir uma enorme quantidade de dados parciais, sucedeu a de elaborar

instrumentos de observação (Garganta, 2001). Mais recentemente, com a maior

profissionalização e com mais meios financeiros disponíveis e com a aplicação

da tecnologia ao serviço do desporto realizaram-se novas investigações, tendo

a informática substituído as técnicas manuais, sendo possível recolher mais

informação e de forma mais rápida.

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Não obstante o recurso a meios sofisticados, a proliferação de bases de

dados não garante, por si só, o acesso a informação pertinente para treinadores

e investigadores. Para contornar este problema torna-se imprescindível dar um

sentido aos dados recolhidos, explorando-os de forma a garantirem o acesso à

informação considerada importante (Garganta, 1997).

Sampaio (1997) cit. por Ventura (2013) indica-nos que a observação é

sistematizada em três vertentes predominantes, sendo que cada uma destas

apresenta caraterísticas distintas, com vantagens evidentes para quem observa.

Essas vertentes dividem-se em: a) observação direta; b) observação indireta; c)

observação mista.

Segundo Contreras & Pino (2000), a observação direta possibilita uma

análise in loco do jogo, ou seja, o observador desloca-se ao local onde se realiza

a competição, onde os dados são recolhidos em direto. De acordo com Sampaio

(1997) cit. por Ventura (2013), este tipo de observação revela-se fundamental

sempre que o treinador pretenda não só ter o conhecimento da forma como a

equipa adversária atua, como também possuir um conhecimento mais detalhado

sobre alguns dos fatores inerentes ao ambiente onde se desenrola a competição,

por exemplo, as condições de iluminação, o tipo de piso ou as atitudes do

público.

Segundo Contreras & Pino (2000), a observação indireta diferencia-se da

anterior, na medida em que o observador não se encontra fisicamente no lugar

onde se está a desenvolver o jogo. Segundo Ventura (2013), na observação de

tipo indireta, o observador não se desloca ao local da competição, tendo

possibilidade de realizar a análise dos registos dos vídeos das competições. É

efetuada uma análise mais sistematizada dos sistemas táticos, quer ofensivos

quer defensivos, das equipas a observar e ao mesmo tempo das caraterísticas

individuais dos jogadores. Neste tipo de observação são utilizados meios

tecnológicos, como por exemplo o vídeo, o DVD, o computador e softwares

informáticos. A observação indireta possibilita ao treinador / observador

complementar a informação recolhida através da observação direta. Com a

análise do vídeo do jogo, podem ser recolhidos alguns dados que escaparam

durante a observação direta. O recurso ao vídeo possibilita também que seja

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48

realizada uma montagem / edição de vídeo com partes selecionadas do jogo

para posteriormente mostrar aos jogadores.

Outro tipo de observação é a observação mista, que recorre ao uso dos

dois tipos de observação anteriormente citados. Utilizando as duas observações,

pode complementar-se a observação em si, tornando-a mais completa e fiável.

É o tipo de observação mais rigoroso e o que permite uma melhor identificação

das caraterísticas do adversário (Ventura, 2013).

Na atualidade, as crescentes necessidades informativas, que são exigidas

pelas equipas técnicas, junto com os importantes avanços no âmbito científico

impulsionaram o aparecimento de um renovado conceito de análise do jogo,

caraterizado por uma maior concretização e especificidade uma marcada

orientação prática e utilitária (Vales, 2015). Segundo o mesmo autor e de acordo

com esta perspetiva, a AJ podia ser definida como um processo consistente na

recolha e avaliação das condutas coletivas e individuais desenvolvidas pelas

equipas e jogadores durante os jogos, em que tratam de identificar certas

regularidades das mesmas, com o objetivo de reconhecer a estrutura

organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a eficácia

operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de relatórios

técnicos.

De um modo mais concreto, na literatura especializada sobre a AJ

(Carling, Williams & Reilly, 2005; Nevill, Atkinson & Hughes, 2008; etc), é

relativamente frequente encontrar interessantes classificações cujo objetivo é

apresentar de uma maneira resumida as principais transformações operadas no

processo metodológico da AJ em futebol, identificando-se quatro formas

fundamentais de análise: análise visual, análise notacional, análise baseada em

vídeo e análise baseada em tecnologia informática (Vales, 2015). Podemos

observar as quatro formas fundamentais de análise acima descritas, no quadro

4.

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49

Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado de Vales, 2015).

Na literatura especializada sobre análise do rendimento em desportos

coletivos, observa-se claramente uma preocupação crescente entre os

especialistas para que se estude, a partir de diferentes perspetivas de análise

Formas Caraterísticas Limitações

Análise Visual

Supõe a forma mais antiga e básica de análise

de jogo em futebol.

Baseia-se unicamente na habilidade e

experiência observacional e memorística do

analista, investigador ou treinador

Representa um modo de

análise subjetivo, influenciado

pelos preconceitos e

perceções pessoais do

observador.

A fiabilidade das análises é

reduzida, devido à não

utilização dos meios e

métodos específicos para o

registo dos acontecimentos do

jogo.

Análise

Notacional

Supõe uma evolução sobre o procedimento

anterior, ao ser menos dependente da

capacidade memorística do observador.

Baseia-se na anotação em tempo real (“papel e

lápis”), dos acontecimentos básicos que se

sucedem durante os jogos para a sua revisão e

análise posterior

Igual ao que se verifica na

análise visual. O facto de, se

analisar o jogo em tempo real,

pode comprometer a

fiabilidade e a precisão da

informação registada

Análise

baseada em

vídeo

Baseia-se em uma análise de jogo a partir de

uma gravação prévia do jogo, em que há a

possibilidade de ver várias vezes os principais

eventos do jogo permitindo levar a cabo uma

análise mais objetiva, precisa e fiável por parte

do treinador e/ou investigador.

A gravação dos eventos do jogo, uma vez

categorizados e avaliados, supõe uma fonte

interessante de feedback para os jogadores.

Se o vídeo do jogo não estiver

previamente editado e

estruturado em diferentes

categorias de sequências-

eventos, supõe um meio pouco

flexível e linear, obrigando o

observador a ver partes do

jogo pouco interessantes e

irrelevantes.

Análise

baseada em

tecnologia

informática

Supõe uma forma mais avançada, precisa e

objetiva de analisar o jogo, permitindo obter

informação do mesmo, tanto de natureza

qualitativa como quantitativa.

Permite o armazenamento de grandes

quantidades de informação, assim como uma

fácil e ágil organização e recuperação da

mesma, por parte do treinador e/ou

investigador.

Baseia-se numa gravação digital do jogo e

numa posterior transmissão do mesmo para um

programa informático especificamente

configurado para analisar os principais fatores

que influenciam o rendimento manifestado por

uma equipa ou jogador.

Requer um processo, às vezes

árduo, de aprendizagem e

familiarização com o software

por parte do analista.

A máxima exploração dos

recursos que oferecem este

tipo de tecnologias dependerá

da capacidade e do “talento”

do treinador e/ou investigador

para analisar aspetos

realmente relevantes do jogo,

assim como para interpretar a

informação obtida de um modo

correto.

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50

relativamente à natureza e conteúdo do jogo, com o fim de incrementar o

rendimento competitivo das equipas e de melhorar a pertinência dos modelos de

treino aplicados na atualidade (Vales, 2015).

Entende-se que a informação recolhida por técnicas de anotação manual

ou mais sofisticadas, como as que se baseiam em tecnologia de vídeo ou

programas informáticos especializados para a recolha e para o tratamento dos

dados, permite aos treinadores e investigadores terem um conhecimento mais

profundo daquilo que sucede durante os jogos, assim como dispor de uma base

sólida de informação quantitativa e qualitativa para identificar áreas de melhoria

no rendimento (Carling, Williams & Reilly, 2005).

Garganta (2008) entende que se justifica abrir espaço à “abordagem de

índole qualitativa” em que a observação dos comportamentos pressupõe um

movimento de aproximação para descortinar o que se apresenta para lá da

aparência do “apenas visto” ou do “já conhecido”. Tal implica passar da perceção

espontânea à perceção especializada, discriminando informação relevante, para

passar do “ver” ao “conhecer”. Como alguém disse, podemos enganar-nos a

procurar algo, mas não devemos enganar-nos em relação àquilo que

procuramos (Garganta, 2008).

No âmbito do rendimento desportivo em geral, o estudo do jogo a partir

da observação do comportamento dos jogadores e das equipas não é algo

recente, havendo aparecido como produto da necessidade de incrementar o

grau de conhecimento sobre o jogo e nível de especificidade na hora de

implementar metodologias de treino cada vez mais congruentes com a realidade

analisada (Vales, 2015).

Com o objetivo de potenciar o rendimento dos jogadores e das equipas,

os clubes e treinadores podem atualmente contar com uma área, denominada

de observação e AJ, no âmbito do conhecimento da própria equipa, e do

conhecimento da equipa adversária, contemplando para isso, nas equipas

técnicas, intervenientes especializados denominados de analistas de jogo. A

necessidade de obter informação qualificada sobre o jogo, aumentando a

assertividade na intervenção do mesmo, provocou o aparecimento de um

departamento especializado numa análise multidimensional, na avaliação do

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51

comportamento competitivo manifestado pelas equipas e pelos jogadores

durante os jogos (Vales, 2015).

Carling (2005) cit. por Vales (2015), indicou que as primeiras tentativas

sérias para a análise dos eventos e acontecimentos que ocorrem durante os

jogos, realizam-se nos finais da década de 50, usando sistemas de anotação

manual para registar informação geralmente relacionada com a codificação da

atividade desenvolvida pelos jogadores em torno da bola, a partir da anotação

do tipo de ação executada (o quê?), do protagonista da mesma (quem?), do lugar

e momento em que ocorreu (onde? e quando?), e finalmente, da efetividade da

mesma (positiva? ou negativa?).

A análise do jogo deve permitir descrever a performance realizada em

contexto de jogo, codificando ações individuais, grupais ou coletivas, de modo a

sintetizar informação relevante para transformar, positivamente, o processo de

aprendizagem/treino (Carling et al., 2005). A performance nos jogos desportivos

é difícil de analisar e avaliar, muito particularmente nos jogos desportivos

coletivo, pois trata-se não apenas de quantificar comportamentos, mas

sobretudo de os qualificar (Garganta, 2008).

Segundo Garganta (2008), nos últimos anos tem-se assistido a uma

profusão de alternativas para analisar a prestação desportiva dos jogadores e

das equipas nos jogos desportivos, constatando-se que os autores vêm

recorrendo a estratégias diferenciadas, tais como a análise das denominadas

unidades de competição, a análise sequencial (Castellano, 2000; Prudente,

2006), a análise de unidades táticas/sequências de jogo (Garganta, 1997), a

análise de coordenadas polares (Prudente, 2006) e a análise de padrões

temporais (Borrie et al., 2002).

Mais recentemente, Perl (2004) cit. por Garganta (2008), apresentou

propostas e estudos baseados em redes neurais, partindo do pressuposto que a

performance desportiva pode ser descrita a partir da identificação de séries de

padrões espaciais e temporais que caraterizam situações (posições no terreno

de jogo), bem como de atividades (movimentos e tarefas dos jogadores).

Segundo Garganta (2001), os investigadores, com o intuito de proceder à

caraterização da atividade desenvolvida pelos jogadores e as equipas durante

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as partidas, focalizaram, inicialmente, os seus estudos na atividade física

imposta aos jogadores, nomeadamente no que respeita às distâncias

percorridas.

O direcionamento das linhas de investigação foi ampliando o seu campo

de análise, evoluindo para a denominada análise do tempo-movimento, através

da qual se procura identificar detalhadamente, o número, tipo e frequências das

tarefas motoras realizadas pelos jogadores ao longo do jogo (Garganta, 2001).

A análise das habilidades técnicas tem sido outro dos campos explorados

na análise do jogo, contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos

resultados provenientes de estudos quantitativos, centrados nas ações técnicas

individuais levaram os analistas a questionar a pouca relevância contextual dos

dados recolhidos e a duvidar da sua pertinência e utilidade. Esta questão fez

sobressair a necessidade de se considerar a dimensão técnica em relação com

os condicionalismos táticos (Garganta, 2001).

A consciência de que a expressão tática assume uma importância capital

nos jogos desportivos (Garganta, 2001), fez com que a partir da segunda metade

da década de oitenta, a identificação de regularidades reveladas pelos jogadores

e pelas equipas, no quadro das ações coletivas, tivesse despontado enquanto

nova tendência de investigação (Garganta, 1997). Uma das tendências que se

perfilam prende-se com a deteção de padrões de jogo, a partir das ações de jogo

mais representativas, ou críticas, com o intuito de perceber os fatores que

induzem perturbação ou desequilíbrio no balanço ataque/defesa (Garganta,

2001).

3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis

para a caraterização do jogo e das equipas

A natureza dinâmica do jogo de Futebol é suscetível de acarretar uma

incompleta e imprecisa recolha e análise de diversos indicadores inerentes ao

jogo, dado que os observadores se encontram impossibilitados de ver e assimilar

a totalidade das ações que ocorrem no terreno de jogo (Carling & Court, 2013

cit. por Barreira, 2013). No sentido de ultrapassar esta limitação, a observação

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sistemática e a AJ permitem descrever a performance evidenciada nas partidas

e propiciar o acesso à informação relevante acerca do confronto desportivo, em

vários âmbitos da performance como o físico, o técnico e o tático (Carling &

Court, 2013 cit. por Barreira, 2013).

Através da observação sistemática e da AJ procura-se uma aproximação

ao objeto que se pretende conhecer (Contreras & Pino, 2000 cit. por Barreira,

2013), o que requer lentes potentes e refinadas que possam, também, auxiliar

na modelação ou no prognóstico de tendências (Garganta, 2008).

A verdade é que o estudo do futebol é influenciado pelas várias áreas do

conhecimento. Suportado pelas palavras de Bangsbo cit. por Strudwick (2016)

refere que o futebol não é ciência, mas que a ciência pode melhorar o nível do

futebol. Também o filósofo Manuel Sérgio, no seu livro “Filosofia do Futebol”,

escreve que “quem só percebe de futebol, nada sabe de futebol”. Assim,

constatamos o contributo das várias áreas do saber para ajudar a explicar o jogo

de futebol.

Porém, estas perspetivas teóricas têm dado maior ênfase aos

comportamentos avulsos e ao produto do desempenho, em detrimento de uma

focagem nos processos que conduzem a determinados desfechos e que podem

levar à compreensão holística do jogo (Garganta, 2001 cit. por Barreira, 2013).

Torna-se assim imprescindível que, antecipadamente, os agentes do jogo

estejam identificados com padrões ou configurações típicos, resultantes das

interações dos jogadores e das equipas (Garganta, 2005 cit. por Barreira, 2013).

Assim, na ótica de Garganta (2013) cit. por Barreira (2013), o maior

desafio para observadores e investigadores em desporto passa por descortinar

o modo como as equipas geram e gerem os respetivos comportamentos, isto é,

qual a gramática da ação que cada equipa ou conjunto de equipas, numa ou em

várias competições, tende a operacionalizar, configurando padrões que, com

probabilidade superior ao acaso, induzem performances desportivas de sucesso.

Daí a importância que os eventos táticos que ocorrem durante as partidas de

futebol sejam apreendidos na sua globalidade, embora sem que se perca de

vista o impacto que as ações realizadas individual e localmente têm na

expressão da totalidade que o jogo representa.

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54

Recorrendo à metodologia observacional, descrita no capítulo anterior,

pode observar-se os comportamentos das equipas e dos jogadores em treino e

em competição. O objetivo será identificar padrões de conduta, considerando os

objetivos perseguidos.

Centrámo-nos naqueles aspetos mais relevantes e que o analista tem que

ter em conta, para que o seu trabalho se aproxime da realidade. Portanto, é

importante que o analista tenha capacidade de perceção, isto é, ver através do

seu sentido da visão. É importante que consiga interpretar, traduzindo para o

pensamento aquilo que está a ver e por último, precisa de um conhecimento

prévio sobre aquilo que vê, já que o analista tem de conhecer o desporto que

analisa, caso contrário não será capaz de interpretar os diferentes conceitos,

assim como apresentá-los de uma forma compreensível à equipa técnica

(Pedreño, 2018).

De acordo com a impressão popular a ação do jogo no futebol é caótica,

contudo uma atenção mais cuidada permite considerar que cada equipa constitui

um sistema social numa escala pequena cujos componentes se relacionam

através de interações motoras ordenadas e estáveis (Lago & Anguera, 2003).

Ventura (2013) considera que o principal objetivo da observação e AJ é

obter informação pormenorizada e de qualidade, do funcionamento competitivo

da sua equipa, dos seus jogadores e dos adversários, com a finalidade de

controlar e operacionalizar o processo de treino, permitindo uma avaliação

acerca do processo desenvolvido em conjunto com os jogadores a nível

individual e coletivo.

De acordo com Garganta (1997), a análise da performance em futebol, a

partir da AJ, permite: a) interpretar a organização e as ações que concorrem para

a qualidade do jogo; b) planificar e organizar o treino, tornando os seus

conteúdos mais específicos; c) estabelecer planos táticos adequados face ao

adversário a defrontar; d) regular a aprendizagem e o treino.

Caixinha, entrevistado por (Ventura, 2013), defende que “os treinadores e

respetivas equipas técnicas esforçam-se por desenvolver um trabalho exaustivo

de caraterização das suas equipas e respetivos adversários, tendo como objetivo

controlar e conhecer o maior número possível de variáveis que possam

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55

influenciar o rendimento desportivo”. Também no livro “Observar para ganhar”

de Ventura (2013) está um testemunho do treinador Sérgio Conceição: “Desde

sempre, e hoje em dia cada vez com maior insistência, as situações que

acontecem durante um jogo de futebol e os pormenores que podem levar ao

desequilíbrio de alguma equipa, parecem influenciar a vitória ou a derrota nesse

mesmo jogo. Neste sentido, o treinador procura cada vez mais, ter um

conhecimento profundo sobre a própria equipa e sobre a equipa adversária, de

forma a durante a semana trabalhar a equipa da melhor maneira para que no dia

do jogo esteja mais preparada para alcançar o nosso objetivo, ou seja, a vitória.

Parece então de extrema importância, o treinador rodear-se de uma boa equipa

de scouting, que lhe forneça informações pertinentes nessas vertentes, para que

este possa potenciar todo o seu trabalho.”

3.5. Conceptualização

Scouting

Antes de se abordar o scouting como uma prática e um processo, parece

pertinente deixar claro o significado objetivo da expressão. Entendido de um

modo generalista, pode dizer-se que se trata do “ato ou efeito de observar;

consideração atenta de um facto para o conhecer melhor”. Salta à vista a ideia

de que se trata de um processo que envolve uma observação de algo, tendo

como objetivo conhecer mais pormenores sobre esse facto (Ventura, 2013).

Para Pedreño (2018) o Scouting é um processo desempenhado pelos

analistas que permite recolher informações e manipular os dados de diferentes

parâmetros, obtidos durante os jogos e durante os treinos da própria equipa, da

equipa adversária ou de jogadores, mediante utilização de ferramentas

específicas para posterior elaboração de um plano de atuação.

Para Sanchez (2015), a figura de scouting está mais orientada para a

deteção de jogadores e posterior captação. A análise está mais desenvolvida e

é mais uma função dos analistas táticos e pessoal destes departamentos que

centram o seu trabalho no acompanhamento e posterior análise de adversários

e das próprias equipas. Segundo o mesmo autor, o scouting realiza-se sobre

uma perspetiva de análise individual dos jogadores e realiza-se pelos

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denominados scouters. Para este autor, generalizar, considerando o scouting

tudo e todos os que têm relação com a análise é um erro, pois o scouting realiza-

se sobre os jogadores a nível individual e pelos scouters que não são outras

pessoas que os antigos olheiros.

Ventura (2013) refere que o scouting não serve só para observar e

analisar as equipas adversárias. Também existe o trabalho de scouting no que

respeita à análise individual de jogadores e na análise comportamental dos

árbitros. Silva (2006), reforça isto mesmo, afirmando que os treinadores

consideram o scouting importante para selecionar e recrutar jogadores para as

suas equipas.

Desta forma podemos ficar a entender a complementaridade das

diferentes missões e as diferenças entre funções. Para uns o scouting representa

tudo e é depois subdividido. Para outros scouting e análise moram em lados

distintos.

Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura (2013), adaptado por Pereira (2017).

Scouter e Analista

O analista do jogo, o “scouter” ou ainda o gabinete de scouting possuem

no futebol dos dias de hoje, uma presença indispensável nas equipas técnicas

cujos objetivos passam pela necessidade de render ao alto nível (Ventura, 2013).

O mesmo autor, após entrevistar um conjunto de treinadores portugueses,

escreve dizendo que a observação e análise do jogo é um dado importante e

que deve ser utilizado pelo treinador no seu trabalho de preparação da equipa.

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Garganta entrevistado por Pedreño (2018) explica que o scouting, “numa

primeira fase era utilizado como um processo de ir espiar, observar e explorar

dados sobre o adversário. Mas scouting, se formos à raiz da palavra, tem a ver

com ir buscar pistas, pistas que vão permitir tomar as decisões mais adequadas

para treinar e jogar. Depois, como vamos operacionalizar o nosso modelo ou

conceção de jogo, mas também tendo em conta quem vamos enfrentar. Assim,

quando se restringe o termo de análise do adversário, é uma forma de

reducionismo também, porque para mim Scouting é tudo o que tenha que ver

com aquilo que podes buscar, para melhorar o teu processo de treino, a tua

tomada de decisões e o teu rendimento nos jogos”.

Segundo Pedreño (2018) o analista é o profissional responsável por

funções relacionadas com a análise da própria equipa e também da equipa

adversária e trabalha com uma metodologia de trabalho definida. Já, o scouter é

a pessoa responsável pela análise individual de jogadores, pelo conhecimento

do mercado e edição de relatórios para o diretor desportivo e para o treinador.

Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), explica que as pessoas que

se dedicam à análise utilizam três termos: “Game analysis”, para referir-se à

análise de jogo em geral, “Match analysis”, que se trata da análise da competição

e, “notational analysis”, que é algo mais ligado ao registo de dados. Para

Garganta, entende mais o analista enquanto um interpretador, o observador do

jogo e dos treinos e deve ser muito competente no registo não só de dados mas

também saber interpretar essa informação ao longo da temporada para

encontrar padrões, sejam eles positivos ou negativos, quer da nossa equipa

como das equipas adversárias.

Segundo o mesmo autor, o analista deve:

Possuir conhecimento de Futebol em todos os seus níveis: tática, técnica,

psicológica, metodologia, preparação física e sociologia;

Deve ser conhecedor da categoria em que compete a equipa e dos

jogadores adversários;

Possuir conhecimento do plantel, características técnico-táticas e

psicológicas dos futebolistas;

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58

Ser consciente do modelo de jogo pretendido pelo treinador principal. O

trabalho de analista deve estar sujeito ao treinador e à aquisição e

regeneração do modelo de jogo da equipa;

Ter a capacidade para utilizar corretamente os meios tecnológicos:

câmara de vídeo, software informático especifico de AJ, aplicações de

edição de vídeo, etc.;

Ser um bom comunicador, o que permitirá que as suas informações

cheguem com clareza ao corpo técnico;

Ter capacidade e conhecimentos suficientes para participar na criação da

estratégia operativa propondo tarefas e soluções à equipa técnica para

contrariar e superar os pontos fortes e débeis do adversário;

Ter capacidade para quantificar estatísticas, contextualizando sempre

com o modelo de jogo, ou seja, contrastar informação quantitativa com a

informação qualitativa;

Ser uma pessoa regular no trabalho, renovar conhecimentos e estar

sempre aberto a novas mudanças à sua volta;

Ser consciente de que o seu trabalho surge em função do treinador e da

equipa. Ou seja, está intrínseco ao treinador;

Ter consciência de que analisar não supõe apenas criticar, mas também

reforçar comportamentos desejados junto dos jogadores.

Sanchez (2015) considera que o analista é um profissional capaz de

identificar padrões que estruturam os modelos de jogo, pontos fracos e pontos

fortes de cada equipa. Já Vales (2015) refere que o observador deve ter um perfil

semelhante ao de um treinador, com importantes conhecimentos e experiência

no treino de equipa e análise tática do jogo, assim como uma elevada

capacidade para manusear softwares informáticos. Acrescenta ainda que de

uma forma resumida o observador pode ser definido por “uma pessoa

especialista em futebol, com conhecimento e experiência no manuseamento de

certos recursos tecnológicos”.

O treinador Marcelino García Toral entrevistado por Pedreño (2018)

explica: “não tenho dúvidas que o analista tático deve ser uma pessoa com

conhecimentos do desporto que analisa. Mas mais que isso, deve ser consciente

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de qual o seu papel e ter a capacidade de adaptar-se às exigências do treinador

e ao modelo de jogo que impera na sua equipa, saber em que aspetos deve focar

a sua atenção e saber utilizar os programas informáticos que normalmente o

clube disponibiliza para fazer o seu trabalho, no menor tempo e com a maior

eficácia possíveis”.

No entanto, é preciso salientar que a observação não é um dom natural.

Como foi escrito nos capítulos anteriores, para ver é preciso ter um

conhecimento prévio, uma compreensão acerca daquilo que vamos observar.

Por isso, o observador terá de ser uma pessoa altamente qualificada, com um

grande conhecimento, para poder identificar acontecimentos relevantes.

No seguimento, Pedreño (2018), afirma que o trabalho desenvolvido pelo

scouter traz as seguintes vantagens: a) conhecimento do mercado de jogadores;

b) análise e avaliação de jogadores para possível incorporação; c) edição de

relatórios para apresentar ao treinador, diretor desportivo e coordenador da

formação do clube;

Segundo Pereira (2017), existem ainda outros dois intervenientes com

preponderância na observação e na AJ sendo eles o investigador que procura

analisar o jogo com a finalidade de construir modelos gerais explicativos do

rendimento competitivo tendo como base a identificação, hierarquização e

caracterização dos distintos fatores que o determinam e o treinador que procura

construir um modelo que permita caraterizar a própria equipa, a equipa

adversária e os jogadores identificando padrões, aspetos fortes e fracos quanto

ao jogo das equipas.

Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores

Relativamente ao domínio do recrutamento e à prospeção de jogadores,

tem se como objetivo a prospeção de mercado no que respeita à seleção e

deteção de talentos. Hoje em dia, é habitual os clubes terem nos seus quadros

técnicos, pessoas qualificadas que têm por missão observar e identificar talentos

que possam vir a interessar ao clube. Esta tarefa de prospeção é feita para a

equipa principal, e aos poucos, os clubes começaram a alargar também às suas

equipas dos escalões de formação (Ventura, 2013). O mesmo autor refere que,

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60

atualmente, os clubes procuram, cada vez mais cedo, detetar os potenciais

talentos e anteciparem-se à concorrência. Este processo de recrutamento não

se resume apenas ao país em que o clube se encontra, uma vez que é alargada

ao resto do Mundo.

Os clubes definem criteriosamente todos os aspetos em que os atletas

observados se devem enquadrar, quer a nível físico, técnico, tático, psicológico

e social (Ventura, 2013). O mesmo autor escreve-nos o testemunho de

Adriaanse (2006), quando este refere que a prospeção deve ser realizada de

acordo com o modelo de jogo adotado pelo treinador, para que os jogadores que

possam vir a ser contratados pelo clube apresentem caraterísticas que se

enquadrem nesse modelo de jogo. Também Paulo Bento, quando entrevistado

por Ventura (2013), explica: “na prospeção, eu vou à procura de jogadores para

a minha forma de jogar. Tenho definido os elementos que acho necessário para

ir à procura desses jogadores, ou seja, em termos técnicos, táticos, físicos e

psicológicos”.

Para Pedreño (2018), o scouting de jogadores individuais é muito

importante, tanto ao nível dos escalões de formação como no alto rendimento.

No alto rendimento, é necessário prever que necessidades pode ter a equipa

para encarar o futuro, e ir moldando os plantéis com base nas necessidades do

clube e do treinador. Para o treinador é necessário ter uma boa base de dados

de jogadores, para que em qualquer momento se busque um jogador com

determinadas caraterísticas.

Observação e Análise da equipa adversária e da própria

equipa

Face à necessidade de melhor se perceber os constrangimentos que

promovem o sucesso desportivo, a observação e análise da performance, e

particularmente a análise do jogo, é reconhecidamente, uma valência com

aplicações fecundas no quadro dos jogos desportivos (Garganta, 2008).

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Nos últimos anos, com a aplicação de diversos recursos tecnológicos no

âmbito do desporto de alto rendimento, o trabalho de AJ ganhou popularidade e

reconhecimento entre os treinadores de elite (Vales, 2015).

O scouting como observação das equipas adversárias serve para analisar

as caraterísticas dessas equipas, tentando identificar padrões de conduta

coletivos, que possam ajudar o treinador a preparar da melhor forma o jogo.

Quanto maior for o conhecimento do adversário, mais fácil e mais eficaz se torna

o trabalho para o treinador (Ventura, 2013).

Neste âmbito, o scouting, segundo Vales (2015), entende-se como a

função desenvolvida por uma parte do organigrama técnico do clube, com a

responsabilidade de estabelecer um reconhecimento prévio das caraterísticas

do jogo de determinadas equipas ou jogadores adversários. O scouting centra a

sua atenção nas equipas adversárias contra as quais se terá que competir no

futuro, com a ideia de se tentar encontrar possíveis regularidades nos seus

comportamentos desportivos, que nos permitam antecipar planos tático-

estratégicos com o fim de competir com o máximo de garantias de êxito

desportivo. Assim, para que os relatórios técnicos relativos à AJ da equipa

adversária surtam os efeitos desejados, será necessário considerar que a

informação que conste nos mesmos seja a mais detalhada possível,

descrevendo as caraterísticas principais do seu jogo, tanto a nível coletivo como

individual, assim como as situações do jogo em que estas se manifestam com

uma maior claridade.

Segundo Pedreño (2018), o trabalho que o analista pode desenvolver

sobre a equipa adversária abrange os seguintes items:

Análise da dinâmica de jogo da equipa adversária (quatro momentos de

jogo e ações de bola parada);

Avaliação e recolha de informação do plantel;

Análise do sistema de jogo mais utilizado, suas variantes e as

caraterísticas que o definem;

Organização por linhas (comportamentos padrão intersectorial e

intrassectorial);

Detetar pontos débeis e pontos fortes;

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Criação de um plano estratégico semanal, estratégia operativa;

Analisar possíveis condicionantes externas na disputa do jogo (terreno de

jogo, público, meteorologia);

Edição de vídeos, animações e apresentação de um vídeo sobre o

adversário a todo o plantel.

Contudo, Lago (2009) refere que o alvo principal da AJ é identificar as

forças da sua equipa, forças essas que podem ser desenvolvidas. Ao mesmo

tempo, as suas fraquezas devem ser trabalhadas e colmatadas.

O ex selecionador nacional e também treinador do Sporting Clube de

Portugal, Paulo Bento, entrevistado por Ventura (2013), refere que a AJ deve ser

algo que se faz, seja em relação à própria equipa, seja em relação ao próprio

adversário, de uma forma permanente.

Pedreño (2018) explica que “se queres jogar como treinas, tens de

conhecer como jogas e como jogam as equipas adversárias, para treinar com

base nisso e estar melhor preparado para a competição”.

Segundo Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), a mudança

produzida na forma de ver e perspetivar o treino, e que depois teve repercussões

no jogo, contribuiu de alguma forma para que a figura do analista ganhasse

importância. Quando começamos a entender que o treino do futebol deve ser,

treinar ideias para jogar futebol, a necessidade de ver se as ideias com que

treinamos e jogamos são coerentes e congruentes com as que definimos no

início do processo, é cada vez maior, e então ganha importância a figura do

analista como interpretador. O mesmo autor, entrevistado por Pedreño (2018)

explica que fez análise das equipas adversárias, mas o mais importante era

perceber como queríamos jogar. A preocupação é tentar mapear o jogo,

tentando definir as caraterísticas em organização ofensiva, defensiva, transições

e bolas paradas. Isto é feito por toda a gente. Mas, o que consideramos

importante é ir buscar subindicadores específicos da nossa forma de jogar e da

forma de jogar do adversário, que nos permita tomar decisões para que

possamos jogar como queremos.

Nós entendemos que estar bem informado acerca das forças e fraquezas

adversárias é extremamente importante. Mas antes de olhar para fora, devemos

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olhar para dentro e perceber o que estamos a fazer corretamente e

incorretamente. Depois de identificadas as nossas potencialidades e as nossas

debilidades então entendemos que devemos começar a procurar saber o que se

passa no nosso oponente, no sentido de prepararmos um plano para conseguir

neutralizá-los e em simultâneo para conseguir explorar os seus pontos fracos.

Emery cit. por Pedreño (2018) sugere: “Há que ter sempre em conta o

nosso adversário, já que esse rival pode condicionar em um dado momento o

teu estilo e a tua personalidade. Em 70% queremos ser nós e em 30% temos

que adaptar-nos aquilo que a equipa adversária nos pode oferecer. Mas entendo

e entendemos o futebol como um todo”.

Já Toral, entrevistado por Pedreño (2018) afirma: “Bem, uma coisa é

conhecer o adversário e outra muito distinta é adaptar-se a ele. Eu acredito que

a equipa deve ter o seu estilo próprio, seus próprios conceitos tanto a nível

ofensivo como defensivo e deve ter muito em conta qual o adversário que

enfrenta. Nesse sentido, nós consideramos importantíssimo a análise do

adversário e saber como defende e como ataque, onde vemos que é vulnerável

e onde acreditamos que é potente, para que nós, desde os nossos próprios

conceitos apliquemos os detalhes que nos permitam contrariar o adversário. Não

mudamos a nossa ideia geral de jogo, não mudamos o nosso sistema, mas

incidimos mais em aqueles aspetos do jogo que acreditamos que nos podem

ajudar a fazer dano no rival, por exemplo, se jogamos contra uma equipa que

defende mal as situações longe da baliza decidimos incidir mais em transições,

se o adversário nos cria muitos problemas pelas alas, buscamos soluções para

contrariar isso, não mudamos marcações, nem fazemos grandes mudanças

sobre a nossa organização”.

Segundo Pedreño (2018), o trabalho desenvolvido junto da própria equipa

traz as seguintes vantagens:

Analisar comportamentos táticos da equipa e análise da competição. O

objetivo é a busca de possíveis pontos fortes e débeis, para potenciar tudo

aquilo que fizemos bem construindo e reconstruindo o nosso modelo de

jogo e minimizar aqueles aspetos que fazem a equipa vulnerável;

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Avaliação e análise do rendimento físico, técnico e tático da equipa ou de

jogadores em concreto;

Analisar atitudes psicológicas, tanto individuais como coletivas, para

colocá-las à disposição da equipa técnica e até, em algumas situações,

editar vídeos com a ajuda de um especialista para motivar ou trabalhar

diferentes aspetos psicológicos do futebolista;

Análise dos treinos para avaliar o rendimento e atitudes da equipa, e

autoavaliar as tarefas da equipa técnica.

Depois de recolhidas informações sobre o adversário e feitas as análises

da própria equipa e da equipa adversária, passamos a um plano operativo. De

acordo com Pedreño (2018), a estratégia operativa ou plano estratégico deve

ter: a) informação sobre o modelo de jogo predominante; b) pontos fortes e

pontos débeis do adversário; c) análise da própria equipa; d) ações de bola

parada do adversário, tanto ofensivas como defensivas; e) plano estratégico a

desenvolver; f) desenho da semana de treino.

Estratégia e Tática

No futebol, os pressupostos organizativos da competição determinam

que, os jogadores estejam agrupados em duas equipas numa relação de

adversidade, denominada de rivalidade desportiva. O objetivo central das duas

equipas é de lutarem pela conquista da posse da bola, com o intuito de a

introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e, evitá-los na sua

própria baliza, com vista à obtenção da vitória. Durante o confronto, os jogadores

defrontam-se de forma direta e deliberada, procurando que as suas ações e

inter-ações prejudiquem, a todo o instante os adversários e, concomitantemente

evitando serem prejudicados por estes. Nesta perspetiva, a aproximação mais

importante para se desvendar e compreender a lógica do jogo, deriva da análise

dos aspetos inerentes às diferentes contextualidades situacionais que a cada

momento do jogo emergem. A constante variação situacional observada é

proporcionada por decisões e ações motoras desenvolvidas numa dinâmica de

ordem estratégica e tática. (Castelo, 2009).

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Segundo Castelo (2009), partindo desta perspetiva, o primeiro problema

que se coloca no jogo de futebol é, de natureza percetiva (informação) com

caráter: a) estratégico, na medida que refere os propósitos e os objetivos gerais

da equipa, como corpo coletivo numa dada competição; b) tático, solicitando

intervenções imediatas e prementes para cada instante do jogo, a partir das

quais, se influencia a emergência de novas configurações dinâmicas.

Garganta (1997) já havia dito que, no caso do futebol, apesar da

dificuldade em determinar quais são os fatores de rendimento que têm um maior

protagonismo na prestação individual e coletiva na competição, observa-se um

maior consenso entre os especialistas, destacando a dimensão tático

estratégica, ocupando esta o núcleo central do rendimento.

Vales (2015) explica que este protagonismo dado à dimensão tático

estratégica justifica-se se atendermos, por um lado, ao caráter situacional e

aberto dos distintos episódios do jogo, em que os jogadores implicados deverão

desenvolver uma importante atividade cognitiva e estratégica orientada

fundamentalmente para facilitar uma correta e inteligente adaptação às

situações mutáveis do mesmo. Por outro lado, a importância da faceta tático

estratégica do jogo também se justifica se contemplarmos este fator de

rendimento como um elemento que coordena e aglutina os esforços e

capacidades individuais dos jogadores que formam uma equipa, orientadas a

tentar combater e neutralizar as ações desenvolvidas pela equipa adversária na

busca do êxito.

O futebol, enquanto jogo desportivo coletivo em que existe cooperação e

oposição exige uma permanente interação entre os jogadores. As equipas, a

partir desta interação entre jogadores, comportam-se de forma dinâmica, sendo

possível identificar alguns padrões de ação quer individuais, quer coletivos. Para

além de tudo isto, no jogo verifica-se ainda a predominância de julgamentos e

decisões, efetuadas em função de um contexto instável e incerto. Assim, importa

desenvolver competências que valorizam as capacidades cognitivas que

orientam a tomada de decisão, julgando que o sucesso ou insucesso em cada

ação individual ou coletiva são determinados em grande parte pela adequação

ou não às circunstâncias do momento.

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Tal como refere Garganta (2006), “o que faz o jogo é a transformação da

causalidade em casualidade, ou seja, aproveitar o momento; e quem ensina a

aproveitar o momento são a estratégia e a tática”.

Os conceitos de estratégia e de tática, não pertencendo exclusivamente

ao universo do desporto, têm a sua origem em fenómenos sociais que se

caraterizam pela conflitualidade de interesses e objetivos. Vemos muitas vezes

estes termos referidos em áreas de atividade humana como a política, a

economia e o meio empresarial, tendo sido, na arte e na ciência militar que mais

profusamente se desenvolveram (Garganta, 1997).

Na relação entre estratégia e tática existe uma distinção enquadrada

temporalmente, sendo que a estratégia se encontra associada com processos

cognitivos mais elaborados, uma vez que a mesma sofre um processo reflexivo

sem constrangimento de tempo, enquanto por outro lado a tática é distinguida

pela sua operacionalização sob constrangimentos temporais (Gréhaigne, 1999).

Também Riera (1995) cit. por Garganta (1997) afirma que a estratégia

representa o que está previsto antecipadamente, enquanto a tática é a

adaptação instantânea da estratégia às configurações do jogo e à circulação da

bola, logo à oposição. A tática constrói-se no decurso da ação modificando,

segundo os determinismos e as variações do contexto, a perceção da

informação ou a conduta.

Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) concluiu que existem três

características principais que são outorgadas à estratégia: a) a intenção de

conquistar o objetivo principal – é variável em função das características da

competição (obtenção de uma medalha, não descer de divisão, etc.); b) a

planificação prévia da atuação a curto, médio e longo prazo – o treinador ou o

atleta planeiam as suas atividades tendo em conta a sua carreira, a época

desportiva ou a competição seguinte, por exemplo; c) a abordagem da totalidade

dos aspetos que exercem influência – a planificação estratégica deve incluir

todos os elementos relevantes que influenciam o rendimento desportivo (e.g.,

seleção de jogadores, tipo de treino, alimentação).

Por sua vez, Garganta (1997), considera que, no conceito de tática

vincam-se três aspetos característicos: a sua ligação ao jogo, isto é, ao contacto

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direto entre os opositores e os companheiros; o seu carácter de execução para

tornar operativa a estratégia, à qual cabe a conceção e direção; e a sua estreita

dependência da estratégia. Castelo (1994) cit. por Sarmento (2012) acrescenta

ainda que a tática consubstancia a base de resolução dos problemas

metodológicos que surgem no terreno do jogo, constituindo-se por todos os

conhecimentos suscetíveis de darem uma determinada orientação às diferentes

ações (individuais/coletivas, ofensivas/defensivas) da equipa relativamente à

realização dos objetivos pré-definidos.

Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) afirma que nos desportos de

oposição, a tática representa o fator que estabelece o elo entre a estratégia e a

técnica desportiva. O autor apresenta três expressões que contribuem para a

definição do conceito de tática: a) objetivo parcial – na tática caraterizam-se por

serem objetivos imediatos e limitados, mas balizados pelo objetivo principal e

estratégico (e.g., driblar o adversário, ganhar a posse da bola); b) combate - a

essência da tática é a luta, o combate. As decisões são imediatas, uma vez que

dependem das situações e intenções constantemente alteráveis do(s)

oponente(s) e do(s) companheiro(s). A rapidez é essencial para vencer o

combate, pelo que a previsão, a antecipação e a intuição acerca do

comportamento do adversário assumem uma importância vital neste contexto; c)

oponente – a atuação tática é determinada, em grande parte, pela atuação do

adversário, de modo que se devem ter em conta os fatores vincados à atuação

do adversário e sua situação temporal no espaço, numa perspetiva antagonista

(e.g., tempo que falta, número de cartões, resultado atual, zona do terreno de

jogo).

Garganta (1997) e depois mais tarde Sarmento (2012) destacam alguns

aspetos essenciais que consideram passíveis de delimitar a noção de tática: a)

o conceito de tática expressa os níveis de relação intra equipa segundo os quais

se pode desenvolver – a tática individual e a tática coletiva; b) o conceito de tática

é referido como possuindo uma dimensão espácio-temporal de realização,

traduzida pela sua subordinação à estratégia e pelos constrangimentos espácio-

temporais das ações de jogo; c) a tática não traduz, apenas, uma organização

das variáveis físicas (tempo e espaço) do jogo mas implica também, e sobretudo,

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uma organização informacional, pelo que nos jogos desportivos coletivos não

devem ser consideradas, somente, as distâncias métricas, mas também o

espaço de interação e a componente decisional; d) o conceito de tática

transcende as missões e tarefas específicas de cada jogador e pressupõe a

existência de uma conceção unitária da equipa para tornar o jogo mais eficaz; e)

A cultura tática constitui um guia de escolhas na ação, referenciado ao conjunto

de valores e perceções que decorrem do corpo de significações criado

(princípios, regras e modelos de jogo).

No contexto desportivo, a estratégia e a tática são conceitos que

caminham lado a lado, e de tal modo que podemos constatar uma utilização,

cada vez mais frequente, destes dois termos em justaposição, falando-se da

componente estratégico-tática (Garganta, 1997)

De acordo com o mesmo autor, estas duas dimensões não dependem do

livre arbítrio. Sendo a tática a aplicação da estratégia às condições específicas

do confronto, no decurso do jogo aquela dimensão exprime-se através de

comportamentos observáveis, que decorrem de um processo decisional

metódico regulado por normas, que pressupõem conhecimento, informação e

decisão (Garganta, 1997).

O nosso entendimento é suportado também na ideia de Gréhaigne (1992)

cit. por Sarmento (2012), que considera que a estratégia representa o que está

previsto antecipadamente enquanto a tática é a adaptação instantânea da

estratégia às configurações do jogo.

Garganta (1997) destaca que a essencialidade estratégico-tática do

futebol decorre a partir de um quadro de referências que contempla: a) o tipo de

relação de forças (conflitualidade) entre os efetivos que se confrontam, ou seja,

entre as equipas; b) a variabilidade, a imprevisibilidade e aleatoriedade do

contexto em que as ações de jogo decorrem; c) as caraterísticas das habilidades

motoras, que os futebolistas utilizam, para agir num contexto específico.

Modelo de jogo

Apesar de entendermos que a análise de jogo dos adversários seja

importante e nos dê um contributo importante para reduzirmos a

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imprevisibilidade e para evitarmos ser surpreendidos, entendemos que se deve

atribuir maior importância à análise de jogo da própria equipa. Assim, faz sentido

haver uma maior preocupação com o nosso modelo de jogo, com o nosso “jogar”.

Segundo Queiroz (1986) cit. por Pimenta (2017), o modelo de jogo deve

conter, de forma metódica e sistemática, um conjunto de ideias, de como se

pretende que o jogo seja “jogado”, definindo de modo claro as tarefas e os

comportamentos técnico-táticos a exigir e definir junto dos jogadores.

Segundo Garganta & Pinto (1989) cit. por Pimenta (2017), o modelo de

jogo é a forma de jogar concebida pelo treinador, na qual os aspetos que

condicionam a estratégia da equipa devem estar inseridos, com vista a

concretizar o objetivo final – a vitória. Esta forma de jogar é constituída por

princípios que guiam o comportamento dos elementos que constituem a equipa,

podendo ser organizados em diferentes fases do jogo e que se relacionam e

influenciam entre si para criar uma identidade coletiva.

Assim, entendemos que o modelo de jogo deve cumprir com um conjunto

de orientações para os jogadores, para que estes consigam resolver os

problemas encontrados em jogo. O modelo de jogo não deve ser fechado nem

estanque, estando constantemente a ser renovado, a partir da reflexão do

treinador, da equipa técnica e jogadores.

Segundo Pimenta (2017), a definição de um modelo de jogo tem muito

que ver com a capacidade do treinador e da equipa técnica através de uma

conjugação lógica entre as suas diferentes fases do jogo associados aos seus

princípios respetivos, que são determinantes para a operacionalização de um

modelo de treino lógico e integrado.

Segundo Oliveira (2004), na criação de um modelo de jogo, isto é, na

criação de um modelo de jogo adotado para uma equipa deve-se ter em

consideração alguns aspetos que interagem:

a) A conceção de jogo do treinador é formada pela organização das

respetivas ideias de jogo, as quais vão permitir criar um modelo de

jogo, promover uma operacionalização e gerir essa operacionalização;

b) As capacidades e caraterísticas dos jogadores que constituem a

equipa devem ser aspetos importantes na criação de um modelo de

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jogo. O treinador tem que ter consciência que treinar jogadores

seniores não é a mesma coisa do que treinar jogadores em formação,

nem treinar jogadores de seleção é a mesma coisa do que treinar

jogadores de divisões secundárias. E também que treinar jogadores

cuja conceção de jogo se identifica com o treinador não é a mesma

coisa que treinar jogadores cuja conceção de entendimento do jogo

seja diferente;

c) Os princípios de jogo podem ser considerados como as caraterísticas

que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de jogo, isto é,

são padrões de comportamento tático-técnico que podem assumir

várias escalas mas são representativos do modelo de jogo adotado,

independentemente da escala de manifestação;

d) As organizações estruturais (próximo capítulo) são as disposições

iniciais dos jogadores em campo;

e) A organização funcional é a forma de manifestação do modelo de jogo,

ou seja, é o produto da criação que a interação entre a conceção de

jogo do treinador, os princípios e os subprincípios que o constituem, a

intervenção ativa dos jogadores no modelo e as diferentes estruturas

que esse modelo pode assumir.

No futebol diz-se, frequentemente que conforme se quer jogar assim se

deve treinar, o que sugere uma relação de interdependência e reciprocidade

entre a preparação e a competição. Esta relação é consubstanciada por um dos

princípios do treino, o princípio da especificidade, que preconiza que sejam

treinados os aspetos que se prendem diretamente com o jogo (estrutura do

movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, etc), no sentido de viabilizar

a maior transferência possível das aquisições operadas no treino para o contexto

específico das partidas (Garganta & Gréhaigne, 1999).

Apesar de muito se especular a propósito dos múltiplos fatores que

concorrem para o êxito em futebol, continua a ser verdade que o treino constitui

a forma mais importante e influente de preparação dos atores para a competição.

Por tal motivo, o processo de construção das equipas e de preparação dos

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jogadores de futebol mobiliza uma significativa concentração de esforços, por

parte de todos quantos procuram, insistentemente, apurar meios e métodos de

treino, de modo a induzir o êxito desportivo e a torna-lo cada vez mais

consistente (Garganta, 2015).

Neste sentido, o treino será sempre, por definição, a recusa do destino,

da sorte e do azar (Garganta, 2015).

Equipa, Sistema de Jogo

Compreendidos os conceitos de estratégia e tática, passamos a outros

conceitos, tal como o conceito de equipa e a sua funcionalidade competitiva.

Vales (2015) resume então os traços essenciais de natureza coletiva nos

seguintes pontos: a) caráter unitário, no sentido em que uma equipa,

representada por um conjunto de jogadores que a constituem, se comporta

durante os jogos como um superindivíduo que atua de forma solidária tanto

desde o ponto de vista ideológico como factual; b) caráter complexo, no sentido

de que uma equipa exteriorizará, durante o jogo, um conjunto de relações

internas cuja expressão global não poderá ser representada pelo somatório das

suas expressões individuais, mas sim por uma nova dimensão que emerge das

interações que se produz entre os seus elementos constituintes; c) tipologia

mista, no sentido em que uma equipa expressa, durante os jogos,

comportamentos que têm como base métodos de raciocínio que se

complementam.

Compreendido o conceito de equipa é necessário entendermos o conceito

de sistema de jogo. A construção dos sistemas de jogo, no futebol, surge pela

necessidade de coordenar as ações dos jogadores que formam uma equipa, com

o objetivo de proporcionar-lhes um sentido unitário, em que os interesses

individuais se subordinam aos coletivos para alcançarem o sucesso (Vales,

2015).

A existência de uma organização interna, no seio de si mesmo (sistema

de jogo), estimulará e facilitará o aparecimento de novas propriedades

significativas dentro do grupo. No entanto, no nosso ponto de vista entendemos

que para estudar e conhecer adequadamente os sistemas de jogo será

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necessário evitar cair em interpretações excessivamente formalistas e

reducionistas do jogo, fundamentadas numa visão estática do mesmo, a partir

do qual os sistemas são conceptualizados como simples dispositivos posicionais

adotados pelos jogadores de uma equipa no decorrer da competição, deixando

para segundo plano outros aspetos de caráter mais funcional e dinâmico

relacionados com a organização interna do mesmo (Vales, 2015).

Sánchez (2015) explica-nos que o sistema de jogo nunca foi considerado

o fim em si mesmo, mostrando-se como a única opção, rígido e imutável,

devendo ser e mostrar-se como algo flexível e que está ao serviço da equipa e

não, por contrário, escravizando o coletivo e limitando o excesso de jogo de

muitos jogadores que têm necessidades diferentes dos restantes.

Castelo (2009) explica que a ênfase dada aos sistemas de jogo é

exagerada quando por si só, se procura explicar a lógica e a racionalidade do

próprio jogo. Este facto espelha o desinteresse ou a incapacidade em atender a

outros aspetos como são o caso dos métodos de jogo, dos princípios de jogo,

dos fatores coletivos de jogo, do plano estratégico – tático da equipa para um

certo confronto, etc.

Com o passar dos anos entendeu-se isto mesmo, que o formato tático ou

distribuição espacial, adotado por uma equipa durante o jogo, tem um poder

explicativo limitado e que será portanto a análise dos aspetos de natureza mais

funcional e procedimental, como os métodos de jogo ofensivos e defensivos,

utilizados preferencialmente por uma equipa e a distribuição das tarefas entre os

jogadores, que deverá atrair a atenção do treinador – analista para efetuar uma

correta avaliação do comportamento coletivo manifestado pelos jogadores

durante os jogos (Vales, 2015).

Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo

A primeira pergunta que se coloca antes de abordarmos o que é realmente

o processo ofensivo e defensivo ou segundo outros autores a fase ofensiva e

defensiva, é importante que consigamos responder à seguinte questão:

“Podemos separar o jogo em fases?”

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A resposta é claramente “não”. Segundo Sánchez (2015) o jogo é um todo

que compreende fases, subfases, etc. Mas os analistas têm que separá-lo e

analisá-lo segundo as fases em que estão desenvolvidos os modelos de jogo

das equipas em geral. Segundo o autor, o motivo pelo qual os analistas

fragmentam o jogo prende-se com o facto de entenderem que assim podem

aprofundar mais e dessa maneira conseguem identificar os padrões de jogo e o

modelo de jogo em si.

Garganta, quando entrevistado por Pedreño (2018) explica que o termo

”interpretação” se afigura mais ajustado do que “análise”. Para Garganta, análise

é algo muito analítico, parece que há que dividir para entender, e na perspetiva

dele é justamente ao contrário, há que juntar, o jogo deve ser entendido cada

vez mais como um todo e quando vamos dividir devemos encontrar estratégias

para que o jogo não se empobreça.

Castelo (2003) cit. por Sarmento (2012) considera que, nesta relação

adversa, o jogo se desenvolve segundo um quadro de luta permanente pela

posse de bola, que consubstancia duas fases fundamentais do jogo: o ataque

(processo ofensivo), que é determinado pela posse de bola, e a defesa (processo

defensivo), que corresponde à procura da sua posse.

Castelo (2009) afirma que só o processo ofensivo contém em si uma ação

positiva, ou por outras palavras, um fim positivo, pois só através deste o jogo

pode ter uma conclusão lógica em direção do seu objetivo – o golo. É para este

objetivo que os jogadores das duas equipas, aquando de posse de bola,

direcionam as suas intenções e o significado das suas ações. Segundo o autor,

quando determinada equipa está de posse de bola, para além de poder

concretizar o objetivo do jogo – o golo, terá as condições básicas para: a)

controlar o ritmo específico do jogo; b) criar condições para surpreender os

adversários; c) privar os adversários da posse da bola e, d) concretizar a

recuperação física de companheiros.

O mesmo autor refere ainda que cada equipa funciona como um sistema,

procurando aplicar o seu modelo de jogo, impondo-o ao adversário, assumindo

uma forma de iniciativa, controlo e gestão do jogo, às quais a equipa adversária

contrapõe o seu modelo (estrutura, métodos e princípios).

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Castelo (2009) refere que após a recuperação da posse da bola, o objetivo

fundamental da equipa é o de progredir em direção à baliza adversária. A

maximização destes objetivos pressupõe: a) instabilizar a organização da equipa

adversária, procurando desta forma desequilibrar a organização defensiva; b)

orientar as ações de jogo numa direção definida, ou seja, que a maioria das

decisões e ações tático – técnicas individuais e coletivas, realizadas pelos

jogadores em processo ofensivo, sejam direcionadas para a baliza adversária;

c) criar condições para a obtenção do golo, ou seja condições propícias à

culminação positiva do ataque.

Por outro lado, o processo defensivo, que contém em si uma ação

negativa, pois, a equipa nestas circunstâncias, não poderá, em condições

normais, concretizar o objetivo do jogo. Assim, este processo deverá ser

encarado como uma forma organizacional, sendo logo abandonado quando se

recupera a posse da bola (Castelo, 2009).

Para o mesmo autor, a fase defensiva consubstancia-se na base de ações

denominadas de marcação, com caráter individual e coletiva, as quais em última

análise, traduzem quatro aspetos fundamentais: a) anular as ações individuais e

coletivas dos atacantes, independentemente destes terem ou não a posse da

bola; b) vigiar e ocupar espaços vitais de jogo, em especial, aqueles que

favorecem o desenvolvimento do processo ofensivo, a criação de situações de

finalização e, mais importante de todas, a possibilidade de finalização com

elevadas probabilidades de êxito; c) retirar parte da iniciativa do ataque do

adversário, ripostando constantemente às suas investidas; d) objetivar uma

visão construtiva das ações de marcação, com o intuito de potenciar as

condições de eficácia do processo ofensivo subsequente.

Ainda Castelo (2009) resume que os objetivos principais do processo

defensivo são: a recuperação da posse da bola e a defesa da baliza. A efetivação

destes objetivos é suportada pela restrição do tempo e do espaço disponível dos

atacantes, mantendo-os sob pressão e negando-lhes a possibilidade de

poderem progredir no terreno de jogo.

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Após estarem devidamente esclarecidos os conceitos de processo

ofensivo e defensivo, estamos agora em condições de procurar entender cada

um dos momentos de jogo.

Oliveira (2004) mencionou que o momento de organização ofensiva é

caraterizado pelos comportamentos que a equipa assume aquando da posse de

bola com o objetivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar

golo.

Já o momento de organização defensiva, segundo Oliveira (2004),

carateriza-se pelos comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a

posse da bola com o objetivo de se organizar de forma a impedir a equipa

adversária de preparar, de criar situações de golo e de marcar golo.

Não obstante, e tendo em conta o jogo de dinâmicas interaccionais e de

relações de comunicação constantes, cremos, com Sarmento (2012), que o fluxo

do jogo não se esgota nestas duas grandes fases. Garganta (2005) cit. por

Sarmento (2012) considera, a este propósito, ser nas articulações do sistema,

ou seja, nas interações constantes entre os seus elementos, que se cria a sua

identidade, e é também nelas e através delas que se criam condições para a

manter ou alterar em função das circunstâncias e das respetivas debilidades e

mais-valias dos intervenientes. Podemos apurar a importância das fases ou

momentos que mediam as duas já apontadas, e das dinâmicas que se possam

estabelecer aquando da passagem de uma para a outra.

Neste sentido, as ações dos jogadores, entendidas de forma coletiva, só

adquirem significado em função de três momentos fundamentais do jogo: a

posse de bola (ataque), a posse da bola por parte da equipa adversária (defesa)

e a mudança da posse de bola (transição) (Cerezo, 2000).

As transições são momentos em que se procura a alteração rápida e

eficaz de comportamentos e atitudes com o intuito de surpreender o adversário,

aproveitando a sua desorganização ou retardando ao máximo a sua

organização. Surgem no momento em que se conquista a posse de bola (defesa-

ataque) e no momento em que se perde a posse de bola (ataque-defesa), em

que é necessário mudar o sentido do fluxo de jogo tão depressa quanto possível

(Garganta, 2006 cit. por Sarmento, 2012).

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O momento de transição ataque-defesa é caraterizado pelos

comportamentos que se devem assumir durante os segundos após se perder a

posse de bola. Estes segundos revelam-se de particular importância uma vez

que ambas as equipas se encontram momentaneamente desorganizadas para

as novas funções que têm que assumir, como tal ambas tentam aproveitar as

desorganizações adversárias (Oliveira, 2004). Por sua vez, o momento de

transição defesa-ataque é caraterizado pelos comportamentos que se devem ter

durante os segundos imediatos ao ganhar-se a posse da bola. Estes segundos

são importantes porque, tal como na transição ataque-defesa, as equipas

encontram-se desorganizadas para as novas funções e o objetivo é aproveitar

as desorganizações adversárias para proveito próprio.

Apesar da recuperação da posse da bola ser uma condição indispensável

para o desenvolvimento do processo ofensivo, este começa antes da

recuperação da mesma, uma vez que os jogadores da equipa que não

intervierem diretamente na fase defensiva, ou seja, que não participam nas

ações cujo intuito é a recuperação da posse da bola, devem preparar

mentalmente a ação ofensiva, na procura de espaços vazios que possam ser

utilizados para a realização do ataque, o que implicará um aumento da

preocupação dos seus adversários diretos com a defesa da sua própria baliza

em detrimento da sua preocupação relativamente ao ataque da baliza adversária

(Castelo, 1996 cit. por Sarmento, 2012). Castelo (2009) explica-nos também, que

por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda de posse de

bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo ofensivo,

devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e vigiando: a)

espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para o

empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar

continuidade ao processo ofensivo da sua equipa.

Assim, e seguindo a mesma lógica, Pedreño (2018) afirma que é

impossível entender o comportamento de uma equipa em transição defensiva

sem analisar a fase ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário

seria cair num reducionismo em um desporto complexo como é o futebol.

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Tendo em conta a fluidez e continuidade inerentes a este jogo, não parece

viável que uma equipa se encontre, apenas e de forma separada, num destes

processos (ofensivo / defensivo), pois, nesse caso, estaria, tão-só, na posição

de reagir e nunca na de agir ou pré-agir (Barreira, 2006 cit. por Sarmento, 2012).

Racionalização do espaço de jogo

No ambiente futebolístico, a racionalização do espaço de jogo representa

um dos aspetos de natureza tático – estratégica que mais interesse desperta

entre os estudiosos, adeptos e meios de comunicação especializados. Em

função do marco situacional em que se desenvolve o jogo, o das próprias

preferências táticas dos treinadores, pode observar-se uma certa variabilidade

nas configurações posicionais utilizadas pelas equipas para ocuparem de forma

equilibrada e racional o terreno de jogo. Será o facto de estar ou não em posse

de bola, o principal fator a ter em conta por parte das equipas para a adoção de

um ou outro formato posicional. Assim, quando uma equipa se encontra com a

posse da bola, buscará distribuições espaciais orientadas para a criação e

exploração de espaços livres que incrementam as possibilidades de eficácia das

suas ações individuais e coletivas. Por contrário, quando se encontra sem a

posse da bola, esta tenderá a restringir, ocupar e controlar os espaços desejados

pelo adversário para desenvolver o seu jogo ofensivo (Vales, 2015).

Castelo (2009) explica que as equipas quando em processo ofensivo

procuram expandirem-se, sempre que possível e, em simultâneo, em torno de

dois eixos fundamentais: largura e profundidade. Ao utilizar ajustadamente o

espaço de jogo disponível, estas ligações têm como objetivo fundamental,

desenvolver e gerir espaços efetivo de jogo, que aumentem as dificuldades

inerentes às ações de marcação, por parte dos defesas relativamente aos

atacantes. Pelo contrário, as equipas quando em processo defensivo procuram,

essencialmente, assegurar a concentração de caráter posicional da equipa nas

zonas próximas da bola, de forma a concretizar uma recuperação rápida dessa,

e sempre que possível o mais longe da própria baliza.

Fundamentalmente, toda a distribuição espacial dos jogadores sobre o

terreno de jogo deverá responder a dois critérios táticos básicos: racionalidade

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e equilíbrio, que estarão determinados essencialmente pela amplitude

ocupacional ou grau de ocupação transversal do terreno de jogo e pela

profundidade ocupacional ou grau de ocupação longitudinal do mesmo (Vales,

2015).

Sánchez (2015) reforça isso mesmo que há que observar estes dois

conceitos mas junta um terceiro: “Tendo em conta o fator da ocupação espacial

e racional do terreno de jogo, há que observar três conceitos que são

determinantes para os analistas táticos, que são: a disposição em função do eixo

transversal, que gera amplitude ao bloco; a sua disposição em função do eixo

longitudinal que dota a equipa de profundidade e por último a sua dinâmica

posicional em função da zona ativa da bola, que nos determinará se se

manifestam posicionamentos com maior concentração em torno da bola. Todas

elas em ambas as fases do jogo.”

Considerando o grau de flexibilidade e variabilidade que apresentam os

posicionamentos de uma equipa em relação às fases do jogo, podemos

identificar dois tipos: a) dinâmicas posicionais fixas, que são aquelas em que a

distribuição dos jogadores aparece inalterável durante as fases ofensiva e

defensiva do jogo. Os jogadores têm raios de ação limitados no momento de

desempenhar as suas missões técnico-táticas, assim como uma maior

preocupação para manter o próprio equilíbrio; b) dinâmicas posicionais variáveis,

que se produzem quando se observam diferenças significativas no formato

posicional da equipa nas diferentes fases ofensiva e defensiva. Contempla-se

dinamismo e mobilidade dos jogadores em função das exigências relativas a

cada uma das fases (Vales, 2015).

Para o autor, o modo como cada equipa gere a sua relação com o espaço

de jogo supõe um dos principais indicadores que revelará a identidade da sua

filosofia de jogo e as suas verdadeiras intenções tático – estratégicas na

competição. Também Vales (2015), numa aproximação à análise da

componente funcional, sugere que as equipas de futebol, desde uma perspetiva

funcional, podem ser classificados como: a) funcionalmente ativos, quando estas

desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos orientados para

tomarem iniciativa e o controlo do jogo, impondo um ritmo alto e continuo tanto

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na fase ofensiva como defensiva do jogo; b) funcionalmente reativos, quando

desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos baseados na

cedência da iniciativa e controlo do jogo à equipa adversária, impondo um ritmo

descontínuo e em função do adversário.

Métodos de Jogo

Os métodos de jogo representam um dos aspetos centrais que

caraterizam a componente funcional dos sistemas de jogo e fazem referência a

uma forma geral de organização das ações coletivas de uma equipa, em que se

estabelecem princípios orientadores do ataque e da defesa (Vales, 2015).

Para Castelo (1994) cit. por Vales (2015), os objetivos que se perseguem

com a implementação dos métodos de jogo podiam resumir-se nos seguintes

pontos: a) estabelecer os princípios orientadores de organização do ataque e da

defesa dentro do sistema de jogo preconizado pela equipa, procurando a

racionalização dos comportamentos técnico – táticos individuais e coletivos em

função das situações momentâneas de jogo e dos seus objetivos táticos; b)

estabelecer um ritmo de jogo definido, ou seja, variar a sequência e a velocidade

de execução dos procedimentos individuais e coletivos, tanto ofensivos como

defensivos; c) ajustar constantemente a organização dinâmica da equipa na

criação de condições mais favoráveis em relação ao número, espaço e tempo,

para que se alcancem os objetivos do ataque e da defesa.

Para Sánchez (2015) todas as equipas apresentam um método na hora

de desenvolver o seu jogo com ou sem bola. Este método tem princípios pelos

quais se regem em cada uma das fases do jogo. (…) O método de jogo também

dota a equipa de capacidade para ajustar a organização coletiva e criar e

desenvolver situações benéficas quanto ao espaço, número de jogadores e

tempos dentro do jogo, com o objetivo de conseguir o resultado desejado na fase

ofensiva e defensiva. Também lhes dá a capacidade de desenvolver um ritmo

de jogo, alterando a intensidade e o ritmo de jogo, aumentando a velocidade de

execução nas ações coletivas e individuais em cada uma das fases do jogo.

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Métodos de Jogo Ofensivo

Ao analisarmos os métodos ofensivos desenvolvidos e afinados durante

o processo evolutivo do jogo de futebol, observa-se que estes passaram de um

jogo mais individualizado com caráter vertical e direto em direção da baliza

adversária, na qual a profundidade do jogo é o seu elemento estrutural mais

importante, para um processo ofensivo mais equilibrado no sentido de um

aproveitamento mais racional dos dois vetores do jogo: a largura e a

profundidade. Assim, podemos estabelecer três formas base, através das quais,

se expressam os diferentes métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque

rápido e o ataque posicional (Castelo, 2009).

Segundo o mesmo autor, os métodos ofensivos visam uma coordenação

eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma a criar as

condições mais favoráveis para concretizar os objetivos do ataque, em

consonância com os objetivos do jogo – o golo. Para atingir este objetivo, os

métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspetos,

concretizar os seguintes: a) desequilibrar a defesa adversária; b) elevar o ritmo

ofensivo; c) utilizar o espaço de jogo em largura e profundidade; d) verticalizar

as ações de jogo; e) aplicar formas superiores de organização ofensiva; f)

simplificar o processo ofensivo; g) utilizar o ataque de segunda vaga; h)

aproveitar as fases de transição defesa – ataque; i) fomentar elevados níveis de

prontidão.

Vales (2015) menciona que no conjunto dos princípios orientadores

relativamente às movimentações que se observam ao longo do processo

ofensivo, e que dão corpo aos ditos métodos de jogo, podiam concretizar-se nos

seguintes fatores: a) orientação predominante dos deslocamentos da bola e dos

jogadores até à baliza adversária ou espaços onde há menor concentração por

parte do adversário; b) criar instabilidade na organização defensiva adversária

em qualquer das fases do processo ofensivo (construção – finalização); c)

facilitação de maior número de opções de finalização para as ações ofensivas;

d) manter o equilíbrio defensivo, no caso de uma perda de bola inesperada.

Ofensivamente, o modo como se produzem as movimentações

manifestadas por uma equipa, desde o momento em que recupera a posse de

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bola até ao momento em que finaliza ou tenta finalizar a ação ofensiva,

determinará uma estruturação do seu jogo ofensivo que se ajustará em maior ou

menor medida a algum dos diferentes tipos de métodos de jogo ofensivos (Vales,

2015). Podemos observar isto no quadro 5.

Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T - tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015).

Segundo Sánchez (2015) os métodos de jogo ofensivo estruturam-se da

seguinte forma: a) ataque posicional / ataque combinativo, em que as equipas

desenvolvem o seu jogo através da progressão da bola a partir da posse da bola,

com o controlo da mesma. Obter amplitude propiciando uma distribuição

espacial grande no ataque. Sempre com linhas avançadas e com contínuos

apoios que lhes permitam receber nas costas das linhas de pressão adversária.

Neste tipo de ataque a participação dos jogadores envolvidos é massiva e de

alta concentração já que necessitam de um jogo muito elaborado; b) ataque

CONTRA – ATAQUE

T Ritmo elevado: passagem rápida entre a fase ofensiva inicial e a final (elevada

velocidade de circulação e progressão)

E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e dos jogadores

(jogo sobre o eixo longitudinal)

M Simplicidade construtiva: Reduzido número de passes – Progressão do jogo,

enviando ou transportando a bola até aos sectores de finalização

N Participação baixa: Participação de um número reduzido de jogadores no seu

desenvolvimento

ATAQUE RÁPIDO

T Ritmo elevado: Passagem rápida da ofensiva inicial até à final (velocidade de

circulação moderada e elevada velocidade na progressão)

E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo

sobre o eixo longitudinal)

M Simplicidade construtiva: Jogo largo, mais remates – Progressão do jogo, enviando

a bola até aos sectores de finalização

N Alta participação: Participação de um elevado número de jogadores no seu

desenvolvimento (quem lança a bola para a frente + quem finaliza)

ATAQUE POSICIONAL

T Ritmo moderado: Passagem gradual da fase ofensiva inicial até à final (velocidade

de circulação elevada e velocidade moderada na progressão

E Lateralidade: Orientação divergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo

sobre o eixo longitudinal e transversal)

M Complexidade construtiva: Grande preparação e elevado número de passes -

Progressão no jogo, com trocas de bola entre jogadores

N Participação massiva dos jogadores: Participação de um elevado número de

jogadores no seu desenvolvimento.

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direto, em que as equipas apresentam um ritmo de jogo muito alto.

Relativamente à ocupação racional do espaço do terreno de jogo, a verticalidade

está no seu expoente máximo e a orientação do jogo passa por passes longos,

em função do eixo longitudinal, apresentando grande profundidade. A dificuldade

na elaboração do jogo é mínima e considera-se simples e a participação é alta,

embora nas zonas ativas da bola não seja necessário; c) contra – ataque em que

há um ritmo de jogo ofensivo muito alto, com predomínio da orientação através

de passes longos e distribuição dos jogadores sobre o eixo transversal, o que

leva a uma equipa muito profunda e vertical. A caraterística do seu jogo, em

função da complexidade do seu modo de jogar é simples, com um escasso

número de passes entre o início e a finalização das jogadas. A participação de

jogadores no seu desenvolvimento também é reduzida.

Métodos de Jogo Defensivo

Ao analisarmos a evolução dos métodos defensivos ao longo dos tempos,

observamos a alteração dos elementos estruturais, a partir dos quais o processo

defensivo se ancorou e, naturalmente, se organizou. Com efeito, numa primeira

fase, o elemento mais importante seria o adversário direto, através do qual se

desenvolveu os métodos defensivos individuais (o um contra um). Mais tarde,

com o intuito de racionalizar, de forma eficaz o espaço de jogo, estabeleceu-se

que este seria o elemento estrutural mais importante. Assim, desenvolveram-se

os métodos defensivos à zona, bem como os de caráter misto (o todos contra

um). Por último, ao assumir-se que a bola, incluindo o seu possuidor, bem como

os colegas com quem este poderá relacionar-se tática e preferencialmente,

desenvolveram-se os métodos zona pressionantes. Resumidamente, passou-se

da marcação individual, para o espaço, terminando na bola, como elementos

centrais de organização defensiva na atualidade (Castelo, 2009).

Segundo Castelo, neste âmbito, podemos estabelecer três formas base,

através das quais se expressam os diferentes métodos de jogo defensivo: o

método individual, o método à zona, o método misto e a zona pressionante que

decorre da evolução do método à zona.

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O mesmo autor explica-nos que os métodos defensivos visam uma

coordenação eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma

a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objetivos da defesa, isto

é, a recuperação da posse da bola e proteção da baliza. Para atingir estes

objetivos, os métodos de jogo defensivo procuram dentro de um largo número

de aspetos, concretizar os seguintes: a) estabilidade defensiva; b) desenvolver

uma iniciativa constante; c) elevar o ritmo defensivo; d) direcionar os atacantes

para espaços menos perigosos; e) recuperação defensiva marcando jogadores

e espaços vitais de jogo; f) manter uma elevada concentração defensiva; g)

modelar as condições de recuperação da posse da bola; h) redimensionar

constantemente o nível de organização defensiva; i) ter sentido construtivo.

Defensivamente, tal como ocorria durante a fase ofensiva, desde o

momento em que uma equipa perde a posse da bola no decorrer do jogo, até ao

instante em que consegue recuperá-la novamente, deverá adotar uma forma

geral de organização ou método de jogo defensivo que direcione

convenientemente as ações dos jogadores com o objetivo de dificultar ou impedir

que o adversário alcance os objetivos do jogo relativamente ao processo

ofensivo (Vales, 2015). Os diferentes métodos de jogo defensivos estão

apresentados no quadro.

Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009).

DEFESA

INDIVIDUAL

DEFESA - ZONA DEFESA MISTA ZONA

PRESSIONANTE Potencia o “um contra

um” – igualdade numérica

Fomenta o princípio da contenção

Grande responsabilidade individual

Elevado nível de resposta física

Elevado nível de atenção seletiva

Potencia o “todos contra um”

Cada defesa é responsável por uma zona

Estabelece-se uma organização por linhas defensivas

Ações de entreajuda e solidariedade

Introduz a “defesa em linha”

Sintetiza o método individual e zona

Marca o atacante de uma para outra zona

Reforça as ações de cobertura defensiva

Marcação rigorosa ao atacante com bola

Reduz o espaço efetivo de jogo

Potencia a marcação a atacantes e espaços de jogo

Modela as condições de recuperação da bola

Aumento da concentração defensiva

Comunicação verbal entre jogadores

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Outros autores como, Vales (2015) e também Sánchez (2015) classificam

a fase defensiva em quatro grupos: defesa posicional ou organizada em

contenção, defesa posicional ou pressionante, defesa posicional ou organizada

de forma mista, defesa circunstancial.

Segundo Sánchez (2015) na defesa organizada em contenção, o ritmo de

jogo é baixo, sem pressão; a equipa distribui-se pelo espaço de forma baixa, com

um bloco mais recuado, mostrando um posicionamento de expetativa face ao

adversário, correndo poucos riscos, havendo a participação de todos os

jogadores. Na defesa organizada de forma pressionante o ritmo de jogo e

intensidade aumentam, defendendo num bloco mais alto, com pressão alta após

a perda de bola e também na saída de bola, reduzindo os espaços, com grande

concentração de jogadores nas zonas próximas da bola, havendo a participação

de todo o bloco. Na defesa organizada de forma mista o ritmo de jogo é

moderado, as equipas organizam-se num bloco médio cedendo o meio-campo

ofensivo para o adversário, mantendo-se em contenção até à linha de criação do

adversário, zona onde iniciam a pressão intensa, havendo a participação de todo

o bloco. Por último, na defesa circunstancial, temporizam após a perda de bola,

havendo apoios defensivos e maior densidade na zona onde perderam a bola,

reorganizando-se assim defensivamente, havendo a participação parcial

principalmente pelos jogadores que estão perto da bola.

Processo de treino - meio para atingir o jogo idealizado

Atualmente confunde-se muitas vezes o “jogar bem”, expressão muitas

vezes utilizada por comentadores na TV, na rádio e em outros meios de

comunicação e inclusivamente por alguns treinadores, com aquelas equipas

que, em organização ofensiva, jogam com alguns conceitos como: passes

curtos, apoios permanentes, circulação rápida da bola, etc. Isto é o que se chama

de jogo combinativo ou posicional. Mas como é possível que se diga que uma

equipa joga bem ou mal analisando somente uma fase do jogo? Isto, segundo

Pedreño (2018) também é cair no reducionismo analítico em que se baseia a

análise de um todo em só uma das partes, deixando de lado as relações e

interações entre as partes.

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Também se diz frequentemente que uma equipa dominou a outra ou

controlou o jogo, em função da posse de bola que essa equipa tem. Cai-se no

erro de analisar essa posse de bola quantitativamente, sem analisar a qualidade

dessa posse de bola. Assim, uma equipa que tem a posse de bola no seu meio-

campo, que não tenta superar linhas adversárias, não desorganiza

defensivamente o adversário e que se sujeita a perder a bola em zonas onde

pode ficar exposto, domina o jogo? (Pedreño, 2018). Para o autor, o domínio do

jogo, é uma questão de domínio de espaços, que se pode ter através da posse

de bola ou sem ela. Através da posse de bola, posso submeter a equipa

adversária, criando situações de superioridade posicional nas zonas que me

interessam em função das forças da própria equipa e das debilidades do

adversário. Se conseguir este domínio de espaços com bola e se progredir

estarei dominando o jogo, porque serei capaz de criar situações de finalização

que me permitam obter vantagem no marcador. Por outro lado, o domínio do

jogo, sem posse de bola, deve ser entendido como a execução da organização

defensiva com eficácia, impedindo em primeiro lugar, a progressão da equipa

adversária, obrigando o adversário a progredir por onde nos interessa e

defendendo a baliza corretamente com o objetivo de explorar os espaços

deixados nas costas.

Portanto, existem várias formas de jogar futebol e de conseguir

resultados, do mesmo modo que existem várias maneiras de treinar. Não

obstante, no treino do futebol trata-se de gerar uma harmonia ou sintonia entre

todos, uma equipa, e um projeto. Uma equipa é um concerto de cumplicidades,

expressas na vinculação a uma visão, a um modelo, a um ideal. Desta feita, o

treino não é algo para consumir, mas para assumir, o que implica cultivar

comportamentos e, sobretudo, atitudes (Garganta, 2015).

O que faz um método afigurar-se mais pertinente pode ser a sua

adequação à personalidade do treinador e dos jogadores, bem como à sua

cultura específica do clube onde o trabalho se desenvolve. O treinador deve

tomar partido, elegendo a sua visão, o seu método, o seu caminho, tomando

consciência de que os métodos são bons quando os seus utilizadores

reconhecem o respetivo alcance e limites e não a sua omnipotência. Todos os

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métodos encerram prós e contras e, portanto, a opção por uns ou por outros

deve obedecer a razões pensadas e ponderadas. Neste contexto, o treinador

assume-se como figura nuclear, pois a ele compete gerar e gerir todo o processo

de preparação desportiva (Garganta, 2015).

Segundo Mesquita (2000) cit. por Pimenta (2017), o exercício de treino é

uma ferramenta utilizada pelo treinador para comunicar as suas ideias e

intenções, sendo este um momento-chave para a aquisição dessas ideias por

parte dos jogadores. Essa intenção deve ter suporte nos conteúdos de treino e

na ideia de jogo pretendida pelo treinador.

Os exercícios devem ser direcionados em função dos comportamentos

desejados nos diferentes momentos do jogo. O processo de ensino-

aprendizagem/treino pretende criar conhecimentos específicos/imagens

mentais, que permita ao jogador e à equipa agir nos diferentes momentos do

jogo, perante os problemas criados, em função de uma ideia coletiva de jogo, o

modelo de jogo da equipa (Oliveira, 2004).

Para que o treino e as situações nele apresentadas sejam realmente

específicas, é necessário que haja uma permanente interação entre os

exercícios propostos e o modelo de jogo adotado pela equipa e os respetivos

princípios que lhe dão corpo e sentido. A operacionalização do conceito de

especificidade condiciona o formato do processo ensino-aprendizagem/treino,

mas também, obrigatoriamente, a intervenção nesse formato. Isto é, para que o

conceito de especificidade seja atingido durante o treino, não basta que os

exercícios propostos sejam potencialmente específicos, é necessário uma

intervenção interativa do treinador com o exercício e com os jogadores para que

ela aconteça (Oliveira, 2004).

A singularidade do processo prende-se com a relação de que tudo o que

é realizado deve estar em completa sintonia com o modelo de jogo da equipa e

com o conceito de especificidade. Desta forma, em todos os momentos, os

exercícios propostos devem ter estas referências. Um exercício pode ser

completamente adequado para uma equipa, porque requisita sistematicamente

comportamentos que o respetivo modelo pretende, como tal estão a

proporcionar a criação de adaptações e conhecimentos específicos/imagens

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mentais importantes para a equipa e para o jogador. Por outro lado, se um

exercício proporcionar repetidamente comportamentos não adequados ao

modelo pretendido, as adaptações criadas vão ser prejudicadas ao

desenvolvimento dos conhecimentos específicos/imagens mentais desejados

(Oliveira, 2004).

Assim, o processo de ensino-aprendizagem/treino deve promover a

criação de hábitos relativos aos comportamentos desejados para as diferentes

escalas dos momentos de jogo. Para que esses hábitos sejam criados, existe a

necessidade de cumprir um princípio pedagógico que Frade (1989) cit. por

Oliveira (2004) denominou de propensão.

O princípio da propensão salienta a necessidade de criar exercícios cuja

densidade dos comportamentos que se pretende evidenciar ocorram com

elevada frequência. Este princípio vai permitir que determinado comportamento

seja requisitado de uma forma muito superior à do próprio jogo, provocando a

criação de imagens mentais/conhecimentos direcionados para o pretendido

transformando-as em hábitos. Assim, quando se pretende ensinar/treinar

determinadas ações, comportamentos ou relação de comportamentos de forma

a se transformarem em imagens mentais/conhecimentos específicos, é

necessário criar exercícios em que esses comportamentos sejam requisitados

com uma grande densidade, permitindo que, posteriormente, em jogo, a situação

seja reconhecida inconscientemente pelo jogador e este tenha capacidade para

agir rápida e eficazmente. Desta forma, os exercícios são meio pela qual o

processo de ensino-aprendizagem/treino ganha consistência e coerência

(Oliveira, 2004).

Como já foi escrito nos capítulos anteriores, na temporada 2017/2018 a equipa

foi liderada por três equipas técnicas diferentes. Com a mudança de equipa

técnica, normalmente, ocorrem alterações nas ideias de jogo, no modelo de jogo

e também no modelo de treino.

No capítulo referente ao “enquadramento” e no subcapítulo “modelo de jogo e

processo de treino” abordámos o modelo de jogo utilizado por cada equipa

técnica. Todas as equipas técnicas procuravam criar exercícios, na sessão de

treino, que possibilitassem a criação de representações mentais nos atletas

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promovendo a preparação dos mesmos para enfrentarem situações

semelhantes que pudessem ocorrer em competição.

4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA

Do saber ao fazer vai um longo caminho, talvez tão longo como do fazer

ao saber (Caraça, 1997 cit. por Garganta, 2001). Assim, parece claro que todo o

progresso da ação beneficia o conhecimento, tal como todo o progresso do

conhecimento beneficia a ação (Morin, 1990 cit. Garganta, J., 2001).

Do iniciar um estágio cheio de expetativas e ilusão, até ao encontro de um

contexto real, longe do ideal (expectado) foi um instante. É um facto que, desde

início, sempre soube que estava fora da minha zona de conforto. E por isso,

entendi que me encontrava num estágio de aprendizagem em que “sabia que

não sabia”, considerando-me um “consciente incompetente”. Mas a minha

vontade e a minha ambição, conduziu-me num percurso curvilíneo entre o

“consciente incompetente” e o “consciente competente”. Foi traçado um longo

caminho, com muitos horas e dias de trabalho, empenho e dedicação, bem como

algum tempo de reflexão e leitura sobre “o que”, “como” e “quando” observar.

Como foi descrito em capítulos anteriores, no âmbito deste estágio, tive a

oportunidade de integrar o gabinete de scouting da AAC/OAF. Pretendia-se que

observasse e analisasse as equipas adversárias. Importava portanto perceber o

que era um gabinete de AJ, “o que” tinha de fazer, “como”, “quando” e “porquê”.

Para Vales (2015) o processo de observação e análise do jogo é um

processo que consiste em recolher e examinar comportamentos coletivos e

individuais desenvolvidos por equipas e jogadores durante os jogos, tratando de

identificar certas regularidades nas mesmas, com o objetivo de reconhecer a

estrutura organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a

eficácia operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de

relatórios técnicos.

Também Vales (2012) cit. por Pereira (2017), refere que o analista, para

desenvolver as suas tarefas, deve ter bem presente uma estratégia de

intervenção, sabendo o que quer analisar, como vai ser realizado esse processo

e como essa informação recolhida vai ser transcrita, apresentada e aplicada à

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programação e ao ajuste do modelo de jogo e de treino para melhorar o

rendimento competitivo da equipa.

É importante determinar o que se vai analisar e quais os motivos para

fazê-lo. Vale a pena ter em mente o conhecido ditado: “nem tudo o que conta

pode ser contado e nem tudo o que pode ser contado conta” (Carling, Williams

& Reilly, 2005).

Ventura (2013) partilha a sua visão relativamente às fases em que o

processo de scouting se divide: a) Preparação (onde se define o que se quer

observar; como e onde se vai observar; quem vai observar); b) recolha da

informação / observação (reporta à observação propriamente dita); c) análise da

informação / planeamento (depois de recolhida a informação, é analisada e

usada para planear o microciclo semanal e para analisar a performance dos

jogadores).

Estando conscientes do facto de ser a própria estrutura e cultura

organizativa do clube a determinar a metodologia de trabalho a seguir por um

departamento de AJ, começámos por definir uma estratégia de trabalho,

concretizando a estrutura interna e funções de cada elemento. Considerando

que o departamento era constituído apenas por 2 elementos (um analista e um

scouter) a divisão das tarefas tornou-se muito fácil.

Considerando que o único analista era eu, todos os procedimentos de

preparação, recolha de infomação, armazenamento e gestão da informação,

análise da informação e a devida transmissão da informação eram realizados

por mim.

Habitualmente diz-se que para encontrar algo, há que procurá-lo. No

contexto da observação e análise do jogo, a lógica é inversa, ou seja, primeiro

encontra-se (configura-se) as categorias e os indicadores e só depois se procura

e se afere as suas formas de expressão no jogo (Garganta, 2001).

Teodorescu (1984), Castelo (1994, 1996), Pacheco (2005) cit. por Ventura

(2013), referem que o conhecimento das caraterísticas da equipa adversária

passa pela recolha de dados, utilizando as seguintes fontes de informação: a)

observação direta: aprecia-se o método de jogo ofensivo e defensivo,

particularidades da performance (físico-motora, técnico, psicológico), a

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qualidade dos jogadores titulares (equipa-base), a qualidade dos jogadores

suplentes, o comportamento disciplinar e a qualidade do treinador adversário na

orientação da equipa; b) observação indireta: recurso à análise de vídeo e registo

das principais caraterísticas da equipa adversária; c) comentários da imprensa

desportiva; d) registos do próprio treinador, sobre o desempenho das equipas

adversárias em jogos anteriores; e) recolha de informações com treinadores que

já defrontaram a equipa que nos interessa analisar; f) recolha de informações

através de jogadores da própria equipa que já tenham jogado ou que residam na

área geográfica da equipa a observar.

Segundo Luz & Pereira (2011), citados por Ventura (2013), para José

Mourinho e a sua equipa técnica, a recolha de informação sobre o adversário,

não se resume à observação dos jogos deste. É sim complementada através de

outras formas, como por exemplo: notícias veiculadas nos jornais, com a

observação de treinos e até com telefonemas a pessoas próximas do clube

adversário.

Também, para os treinadores entrevistados por Ventura (2013), existem

várias fontes de informação a que eles podem recorrer de forma a conseguir

recolher o máximo de informação sobre a equipa adversária. Entre essas fontes

temos: a) jornais; b) vídeo; c) internet; d) diálogo com os jogadores e, e) diálogo

com colegas treinadores.

Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura, 2013).

Segundo Garganta (2001) cit. por Ventura (2013), para se obter o melhor

conhecimento das particularidades da equipa adversária através da observação

direta deverá ter-se em consideração os seguintes fatores: a) desenvolvimento

da fase ofensiva; b) desenvolvimento da fase defensiva; c) desenvolvimento da

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transição defesa-ataque; d) desenvolvimento da transição ataque-defesa; e)

esquemas táticos (bolas paradas – fragmentos constantes do jogo).

Assim, quando iniciámos a observação dos jogos, definimos bem o que

pretendíamos descobrir, pois durante o jogo, há tanta, mas tanta informação,

relevante e irrelevante e é fundamental que o analista possua a capacidade para

se focar naquilo que é pertinente, para que consiga identificar aquilo que

pretende.

O microciclo de trabalho começava na recolha de informação acerca da

equipa adversária. Realizávamos a recolha em jornais desportivos e também em

jornais locais, na página online da Liga Portuguesa de Futebol, na página online

zerozero e também nas redes sociais.

Para além de analisar informações disponíveis pela imprensa,

observámos os vídeos dos últimos três a quatro jogos realizados pela equipa

adversária. A acrescentar a este trabalho, durante o primeiro terço da época

foram reunidas condições para que realizássemos observação in loco a pelo

menos um dos últimos três jogos do nosso próximo adversário.

Quando realizamos a observação in loco temos de ter presente algumas

situações. Devemos chegar ao campo/estádio com algum tempo de

antecedência, sempre cerca de 45 minutos antes do início do jogo. O scouter e

o observador devem ser discretos, passando despercebidos. Devem possuir

sempre câmara fotográfica. Os telemóveis atuais já contam com boa capacidade

e definição e podem ser uma boa ajuda quer para tirar algumas fotografias quer

para filmar. Contudo, se o clube adversário permitir, podemos levar uma câmara

de filmar, sempre que entendermos que estarão reunidas as condições para

proceder à filmagem. O telemóvel possui ainda a aplicação de gravador de voz,

o que pode tornar-se muito útil para as observações. O relógio com cronómetro

é outro objeto essencial para acompanhar o tempo de jogo. Pedir no balcão de

imprensa ou na bilheteira para esse efeito a ficha de jogo, com informação dos

nomes e número dos jogadores que compõem o onze inicial mas também os

suplentes.

Para além de observarmos pela primeira vez a equipa adversária, a

observação in loco permite-nos perceber o envolvimento, sempre que essa

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equipa jogava em casa. A observação in loco era claramente importante para

percebermos qual o momento da equipa, com a relação da equipa com os

adeptos, como é que os adeptos reagiam na adversidade e com o resultado

favorável. Para além disso, era um momento em que nós percebemos qual o

estado do relvado e quais as dimensões do campo.

Para além da observação in loco, observámos e analisámos os vídeos

dos últimos três a quatro jogos de cada equipa adversária.

O recurso ao vídeo possibilita selecionar as partes mais importantes do

jogo. Numa análise mais profunda são necessárias avaliações mais complexas,

para detetar os comportamentos dos jogadores, reconhecer a estratégia utilizada

pela equipa adversária e, a identificação das situações táticas que produzem

oportunidades de golo (D’Orazio & Leo, 2010).

Luz & Pereira, 2011 cit. por Ventura, 2013 refere que José Mourinho

recorre ao vídeo como um aliado no seu trabalho. Inicialmente, serve-se do vídeo

para conhecer os adversários e preparar os exercícios adequados para usar no

treino. Os mesmos autores autores citam Rui Faria que disse que “os jogadores

realizam os exercícios com informação que resulta desse visionamento e do que

são as estratégias para o jogo. É um processo muito exaustivo e que permite

aos nossos jogadores terem um conhecimento profundo do opositor”.

Para Vales (2015) o recurso ao vídeo no âmbito do treino desportivo,

como recurso modelador de atitudes e comportamentos manifestados pelas

equipas e pelos jogadores durante os jogos e treinos, representa um instrumento

ao serviço dos treinadores. Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) reforça que

a observação de imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente

da realidade (competição e treino), têm uma grande influência na transformação

da mesma, ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o

objetivo de que estes sejam mais eficazes.

Mas, há que ter atenção às filmagens ou gravações que são utilizadas. A

gravação ou o jogo que chega a todos os telespetadores a partir da televisão

não é filmado da mesma forma ou da forma adequada para a realização da AJ.

Enquanto, que o jogo filmado pela TV foca-se muitas vezes no detalhe, isto é,

se a bola ultrapassou ou não a linha de golo, se houve ou não falta, se foi mão

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na bola ou bola na mão e também em todo o ambiente e espetáculo em torno do

jogo, filmando os adeptos nas bancadas e até algumas coreografias, ou

passando ainda algumas repetições de alguns lances da partida, a filmagem

“técnica” que o analista precisa é uma filmagem corrida, sem pausas, em plano

aberto, com uma visão global. Por indicação da equipa técnica, a filmagem era

realizada a partir de uma zona central, o mais alto possível.

Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre SC Braga B e Gil Vicente FC.

Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B.

Como podemos observar, comparando as imagens, reparamos que na

filmagem TV a imagem aparece com mais “zoom”, ficando mais próxima. Desta

forma não conseguimos apanhar no mínimo 21 jogadores, considerando um dos

guarda-redes e todos os outros jogadores que se encontram em jogo.

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Recolhidas as informações e realizadas as filmagens, passamos para a

observação e AJ. No momento de observar um jogo, segundo Pedreño (2018),

devemos distinguir entre aquilo que é analisável por ser um padrão de uma

equipa e aquilo que é próprio da natureza variável e imprevisível do jogo. De

acordo com o mesmo autor, os movimentos padrão de uma equipa são aquelas

ações que caraterizam uma equipa pela operacionalização das suas virtudes ou

defeitos (ações observáveis em vários jogos) e que levam a um comportamento

estável e que traduzem a organização da equipa. Por outro lado, os movimentos

caóticos do jogo são aquelas ações que surgem da própria natureza caótica do

jogo de futebol, entendido este caos como aquelas variações nas condições

inicias que podem supor uma grande mudança, impossibilitando assim uma

previsão a longo prazo.

Pretendíamos observar a organização ofensiva (como é que a equipa

adversária construía e desenvolvia o seu ataque), a transição defensiva (o que

faziam, instantes após ter perdido a posse de bola), a organização defensiva

(como é que se comportavam quando não tinham a bola, como defendiam, que

espaços existiam para que conseguíssemos desequilibrar), a transição ofensiva

(o que faziam, instantes após recuperar a bola) e os esquemas táticos (bolas

paradas ofensivas e defensivas). Esta observação tinha como objetivos

conhecer, para depois relatar os pontos fortes e fracos do próximo adversário.

Definidos “o que” vamos recolher e analisar, chega a altura de pensarmos

em “como” e “quando” vamos realizar as observações e as análises.

É importante referir que os treinadores, muitos deles, incorporam o

trabalho de AJ no seu plano semanal. E por isso, o trabalho realizado pelo(s)

analistas tem que adaptar-se à organização e rotinas definidas pela equipa

técnica.

Por exemplo, quando falamos da caraterização e análise da equipa

adversária, uma das particularidades está relacionada com o número de

observações que se fazem a essa equipa, de forma a ser possível caraterizá-la

a nível tático, técnico, físico e psicológico (Ventura, 2013).

Em relação ao número de jogos, Teodorescu (2003) cit. por Ventura

(2013) considera ser necessário observar o adversário entre duas a três vezes

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para que os dados recolhidos tenham validade. Por sua vez, André Villas Boas

(2005), na altura integrava a equipa técnica de José Mourinho, entrevistado por

Pacheco (2005) e citado por Ventura (2013) afirma que “para a análise de um

adversário, necessitamos de quatro ou cinco jogos de observação, para

percebermos se aquilo que acontece é por acaso ou se se trata de movimento

padrão”.

Em estudos realizados nesta área, Lopes (2005) entrevistou dez

treinadores da Superliga Portuguesa e todos consideram que para obterem uma

ótima informação sobre o adversário é necessário realizar observações a quatro

jogos. Silva (2006) obteve resultados idênticos, embora no seu estudo os

treinadores dividam as observações do adversário em jogos efetuados em casa

e jogos efetuados fora. Assim recorria-se na mesma à análise de quatro jogos

do adversário (dois jogos fora e dois jogos em casa).

Segundo o autor parece haver recomendações no sentido de que a

observação do próximo adversário seja realizada tendo em conta as condições

em que o jogo contra essa equipa se vai disputar. No entanto, este procedimento

nem sempre é possível de concretizar, devido a limitações de tempo e de

recursos (Ventura, 2013).

Ventura (2013) entrevistou vários treinadores, entre os quais Ulisses

Morais, Paulo Bento e Domingos Paciência. Ambos os treinadores referem que

os últimos três jogos podem ser uma boa referência para analisar a equipa

adversária. Segundo Paulo Bento “uma equipa que tem rotinas bem definidas,

três observações podem ser suficientes”. Já Domingos Paciência entende que

se após as três observações ainda restarem dúvidas, então poderão realizar

mais uma observação. Paulo Bento sugere ainda “nessas três observações, que

haja duas que sejam feitas na condição em que vamos jogar com o adversário,

ou seja, se vou jogar em casa vou ver o adversário duas vezes fora”.

Para além dos fatores apontados, os treinadores devem ter atenção a

outras variáveis que podem influenciar o comportamento dos jogadores e das

equipas. Segundo Jones, James & Mellalieu (2004), variáveis como o local onde

o jogo se disputa (casa ou fora), o resultado do jogo (empate, derrota ou vitória),

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a qualidade do adversário (forte ou fraco), a evolução do marcador e as

condições ambientais, são fatores que influenciam a performance no futebol.

De acordo com o estudo de Lago (2009), em função do local do jogo (casa

ou fora) e também em função do resultado as equipas podem mudar o seu estilo

de jogo, tendo por exemplo, maior ou menor posse de bola. Bloomfield (2005)

reforça que as equipas podem mudar o seu estilo de jogo em função do

resultado.

Assim, começámos a planificar os jogos da equipa adversária que

pretendíamos observar. Organizámos um documento, num ficheiro do excel que

facilitava a identificação do próximo adversário e dos jogos que podiam suscitar

mais interesse e relevância para observarmos, pelos motivos acima indicados.

Definimos que íamos observar entre três a quatro jogos de cada adversário.

Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s) adversários a observar.

Na tabela à esquerda, correspondente à 13ª jornada disputou-se o

AAC/OAF x Nacional da Madeira. Assinalado a vermelho temos o adversário

imediatamente a seguir, isto é, o FC Porto B, que defrontámos na 14ª jornada.

Igualmente na tabela correspondente à 13ª jornada, temos assinalado a cor de

laranja o adversário que defrontávamos na 15ª jornada, isto é o FC Famalicão.

Seguindo esta lógica, assinalado a amarelo está o Real FC que defrontámos na

16ª jornada e a verde está o SC Covilhã com quem jogámos na 17ª jornada.

Este documento ajudava-nos a organizar a nossa agenda para mais

facilmente definir que jogos devíamos observar, seja in loco, seja a partir de

vídeo.

Por exemplo, caso jogássemos em casa, pretendíamos observar pelo

menos dois jogos fora da equipa adversária. Tentámos ainda observar os últimos

jogos, tendo como objetivo perceber como é que a equipa adversária se

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apresentou nos jogos mais recentes. Portanto, o objetivo era observar a equipa

adversária em situações semelhantes às que ia encontrar no jogo contra a nossa

equipa. Por isso, sempre que possível procurávamos ver também jogos em que

o nosso adversário teve um oponente com um modelo de jogo semelhante ou

com objetivos parecidos.

Vales (2015) explica-nos que quando se pretende analisar o jogo, é

necessário que o analista ou o investigador assuma que o fenómeno observado

representa uma atividade desportiva complexa, na qual tanto a magnitude como

a tipologia das ações desenvolvidas pelas equipas e jogadores durante os jogos,

estarão condicionadas em maior ou menor medida por uma série de fatores,

como o estilo de jogo assumido pelas equipas (iniciativa – expetativa), pelos

objetivos das equipas durante o jogo (manter, igualar, reduzir ou ampliar

resultado momentâneo), as contingências da própria competição (interioridades-

superioridades numéricas, condições climáticas e estado do terreno de jogo),

etc., que claramente deverão ser considerados para uma correta interpretação

dos dados e conclusões obtidas.

Por isso e não só, devemos considerar ainda que as semanas não são

todas iguais. Houve semanas em que fizemos três jogos (domingo, quarta-feira,

domingo, por exemplo) e houve semanas em que realizámos dois jogos

(domingo e sábado, por exemplo). Também existem diferenças no trabalho de

AJ, em período competitivo e no período não competitivo. Durante o período não

competitivo, vulgarmente chamada de “pré-época” realizámos alguns jogos de

treino. Contudo, o foco não estava nem nos adversários que defrontávamos

nessa altura nem estava apenas concentrado apenas no próximo adversário

(que iriamos defrontar em jogo oficial). Pretendíamos conhecer a nossa equipa,

o objetivo era entregar informação acerca da nossa equipa. Em simultâneo

existia um trabalho de observação com um foco mais geral, em todas as equipas

da Ledman Liga Pro, com especial atenção para os adversários que íamos

encontrar nos primeiros três a quatro jogos.

O treinador Carlos Brito, entrevistado por Ventura (2013) explica que no

início da época, as equipas adversárias merecem atenção e devem ser

observadas, porque podem existir mudanças: “No início da época, quanto maior

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número de jogos conseguir ver, melhor. Tentamos sempre ir ver, até jogos

particulares, porque há jogadores novos, o treinador provavelmente é novo”.

Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que para além da

quantidade de jogos da equipa adversária a visualizar, parece-me muito

importante a qualidade dos jogos que se observam. O mais importante é ter a

preocupação de ir buscar jogos fora, em casa, com resultados favoráveis,

adversos e tendo em conta o nível do oponente.

Ventura (2013), após entrevista a vários treinadores conclui que todos os

clubes são tratados de igual forma e que todos merecem o mesmo cuidado, ou

seja, que tanto merece três observações o primeiro classificado da Liga, como

uma equipa de um escalão inferior. O autor afirma que por vezes podem é

suceder algumas incapacidades por parte do clube para realizar essas

observações, seja por falta de recursos humanos, seja por limitações financeiras,

incompatibilidade de calendário ou por falta de informação sobre o adversário de

menor dimensão. Em função das condições que o clube oferece, o número de

jogos que se observa da equipa adversária pode variar, ou seja, um clube que

tenha um departamento de scouting composto por vários observadores,

consegue mais facilmente observar três ou quatro jogos de cada adversário. Por

outro lado, num clube sem essa estrutura, e só com um observador disponível,

torna-se complicado conseguirem realizar esse número de observações,

acabando por realizar apenas uma ou duas observações sobre o adversário, o

que pode não ser o suficiente.

Em jeito de cooperação, foi criada uma plataforma onde a maior parte dos

clubes da Ledman Liga Pro depositavam os seus jogos. Só 5 equipas

participantes nesta competição é que não aderiram a este intercâmbio. Todos os

clubes participantes comprometiam-se a colocar os jogos, filmados em plano

aberto, até 48 horas pós-jogo. Esta plataforma permitiu-nos ter à nossa

disposição os jogos das equipas adversárias. Para além desta plataforma

disponhamos ainda acesso à base de dados do wyscout e mais tarde também o

instat o que nos possibilitava recolher mais informações acerca dos nossos

adversários, principalmente informação acerca dos lances de bola parada e

também informação acerca da análise individual dos jogadores.

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Depois de realizarmos o download da informação e feita a observação,

realizámos os cortes de vídeo, com recurso ao software Longomatch, versão

1.1.1.19, que se trata de uma versão gratuita. À medida que ia realizando o

trabalho, categorizava os diferentes clips consoante o seu conteúdo

(organização ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva, transição

defensiva, bolas paradas ofensivas, bolas paradas defensivas, ações

individuais) que eram enviados para a equipa técnica sempre que solicitados.

Depois de categorizar os clips, era elaborado um vídeo, com recurso ao

software windows movie maker. O vídeo tinha cerca de vinte minutos com os

“lances” mais relevantes e pertinentes em cada um dos momentos de jogo e era

encaminhado para a equipa técnica.

Vales (2015) explica que, a equipa técnica em conjunto com o observador,

devem definir o que se pretende observar, de que forma se vai efetuar essa

observação, quando e onde se vai observar, a forma como essa informação

chega ao treinador e como este a vai utilizar. Neste sentido define: a) a

informação recolhida deve ser detalhada, precisa e relevante, com capacidade

para influenciar positivamente a tomada de decisão do destinatário (treinador);

b) deve mostrar de maneira objetiva as caraterísticas do jogo da equipa e/ou do

jogador observado; c) deve apresentar uma correta estrutura, para facilitar a

consulta dessa informação.

No vídeo que era enviado para a equipa técnica, cumpria com as

exigências e instruções da equipa técnica. Inicialmente era apresentada uma

informação geral do adversário: classificação, marcadores, resultados em casa

e fora, caraterísticas do público, treinador, estado do terreno de jogo, etc.

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Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC Portugal B.

A figura 15 corresponde à informação com a classificação e últimos

resultados. Esta figura contempla a organização da equipa nos jogos anteriores,

bem como as substituições realizadas.

Depois era apresentado o onze provável, e até jogadores que tínhamos

dúvidas.

Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos fracos.

O exemplo do Sporting CP B não foi em vão. Analisar uma equipa B e

prever o seu 11 inicial foi uma tarefa muito complicada. Alguns dos jogadores

que estavam vinculados às equipas “B” que participaram na Ledman Liga Pro,

para além de jogarem neste campeonato, alguns deles disputavam ainda a

UEFA Youth League e ainda o Campeonato Nacional Sub19. Este jogo coincidiu

com uma participação do Sporting CP numa jornada da UEFA Youth League e

trouxe-nos algumas dúvidas quanto à presença de alguns jogadores,

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principalmente médios e avançados. Algumas das dúvidas foram esclarecidas

mais perto do final da semana, à medida que nos chegavam mais algumas

notícias. Contudo, no momento em que entregávamos o vídeo para a equipa

técnica ainda não estávamos na posse de todas as informações, o que acontecia

no momento de entrega do relatório.

Por fim, nesse trabalho constavam sequências de vídeo acerca de:

a) Organização ofensiva da equipa adversária (saída de bola a partir do

guarda-redes, muitas das vezes em situação de pontapé de baliza; fase de

construção; fase de criação de situações de finalização; finalização propriamente

dita; se optam por desenvolver mais jogo exterior, se optam por um jogo interior,

se colocam jogadores entre linhas, explorando costas da linha dos médios

adversários);

Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.

Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.

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Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.

Na figura 17 está uma dinâmica muitas vezes repetida na fase de

construção do FC Porto B. Na figura 18 podemos observar que na saída de bola,

a equipa do Real SC optou várias vezes por colocar a bola longa para o lateral

direito, aberto no corredor lateral direito. Na figura 19 podemos observar que a

equipa do SC Covilhã colocava 3 jogadores na área, em resposta a situações de

cruzamento.

b) Transição defensiva (como é que a equipa adversária se comportava

quando perdia a bola no sector ofensivo; como é que a equipa adversária se

comportava quando perdia a bola no sector intermédio; como é que se

comportava quando perdia a bola em sector defensivo), isto é, a zona onde se

perde a posse de bola pode ser determinante para que a pressão após a perda

de bola seja ou não eficaz;

Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.

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Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.

Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.

Na Figura 20, depois do FC Porto B ter perdido a bola no sector ofensivo,

vão resultar muitos espaços entre linhas, onde podíamos ligar e acelerar jogo

para corredor contrário. Na figura 21, o Famalicão perdeu uma bola em sector

ofensivo e o adversário ficou com muito espaço para transportar. Por sua vez,

os 3 jogadores da linha defensiva, para tentarem temporizar, esperando ajuda

de mais colegas e também para não serem surpreendidos com uma bola nas

suas costas, decidiram correr para trás. Na figura 22, o Real SC vai perder a bola

no sector intermédio. Depois do SC Braga B explorar a profundidade, verificamos

que não houve o cuidado dos médios protegerem o espaço à entrada da área,

de forma a evitar o remate após cruzamento atrasado.

c) Organização defensiva (como pressionam na saída de bola, muitas das

vezes em situação de pontapé de baliza; se realizam ou não pressão ou definem

zonas pressionantes; se são mais agressivos nos corredores laterais ou no

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corredor central; como se organizam quando se encontram num bloco “médio”;

como se organizam quando defendem mais próximos da sua baliza e como

procuram proteger a sua baliza face às investidas da equipa adversária; ou

ainda, como se organiza a linha defensiva perante bola coberta e bola

descoberta);

Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área.

Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco, com mais dois médios à frente.

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Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e

poderem ocorrer espaços em profundidade.

d) Transição ofensiva (quais os jogadores-alvo, ou seja, quais os

jogadores mais solicitados e quais as caraterísticas desses jogadores; o que

procuram fazer quando recuperam a bola no sector defensivo; o que procuram

fazer quando recuperam a bola em sector intermédio; o que procuram fazer

quando recuperam a bola em sector ofensivo; existe algum comportamento /

ação que se repita, que possamos definir como padrão?), ou seja, a equipa

procura sair logo para o ataque após a recuperação de bola ou prefere jogar em

segurança mantendo a bola e começando a organizar?;

Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem a bola, optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário.

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Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à

entrada da área.

Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de seguida havia vários jogadores a procurarem

apoiar e outros a procurarem desmarcar-se em rutura.

e) Ações de bola parada ofensiva (quer nos cantos, quer nos livres

laterais, tentamos saber quem pode executar?; qual a trajetória da bola?; onde

tentam colocar a bola, ou seja, se colocam ao primeiro poste, ao segundo, etc.;

quantos homens é que atacam a área; se existem mais jogadores próximos da

bola, ou seja, se existe uma forte possibilidade de haver um canto curto ou uma

jogada mais elaborada; quais as movimentações dos jogadores adversários; se

o adversário possui algumas referências ou jogador-alvo neste tipo de lances?;

se existem alguns sinais combinados; no caso do pontapé de baliza, devemos

saber se saem curto ou jogam mais longo e caso saíam curto se têm alguns

jogadores mais limitados para perceber como podemos condicionar ou

pressionar; No caso dos penaltis, tentamos fazer uma pesquisa sobre os

jogadores que batem habitualmente e informamos o treinador de guarda-redes,

entregando uma tabela com o local para onde batem os jogadores observados.

Devemos ter em conta as ações de bola parada ofensiva do adversário e

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adaptar-nos a elas para decidir a nossa atuação para neutralizar o ataque

adversário;

Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna).

Porém há um jogador próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois jogadores à entrada da

área que podem oferecer outra solução.

Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do canto tem um braço levantado.

Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou “fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava

cinco jogadores na área e dois jogadores à entrada da área.

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f) Ações de bola parada defensiva (quer nos cantos, quer nos livres

laterais tentamos saber como se organizam e como procuram fechar os espaços;

procuramos saber qual o tipo de marcação realizada, se defendem homem-

homem, se defendem à zona ou se defendem de forma mista; procuramos saber

quais os jogadores que desempenham funções de marcação e quem se encontra

em vigilância; qual o posicionamento inicial dos jogadores; procuramos saber

quantos jogadores ficam na barreira e à frente, ou seja, preparados para se

tornarem jogadores-alvo após recuperação de bola e com isso se procuram

lançar logo uma transição rápida; se deixam alguém junto ao poste; se os

jogadores saem da zona acompanhando o adversário, quando há a possibilidade

de ocorrer um canto curto; se o guarda-redes é ou não competente no jogo

aéreo; como se comporta a linha defensiva (livres laterais), se está mais recuada

ou mais subida.

Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa

segunda zona temos dois jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda um jogador

preparado para a transição ofensiva.

Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois

tinham dois jogadores a realizar marcação homem a homem.

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Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um jogador à frente deles. E um jogador marcando

individualmente. Colocaram apenas um jogador na barreira.

Refletindo acerca da importância do trabalho de AJ e também acerca da

função do analista, fazia todo o sentido o analista participar numa reunião

técnica, com a equipa técnica, onde para além de partilhar o vídeo, explicaria

aquilo que observou, já que os cortes realizados são retirados de um

determinado contexto espacial e temporal, onde o que acontece antes tem clara

influência no ocorrido nos minutos seguintes. Daí a importância de não

fragmentar o jogo. Ou então, fragmentar após uma primeira observação para

perceber o todo.

Após a montagem do vídeo de vinte minutos e após passar essa

informação para a equipa técnica, procedíamos à montagem do segundo vídeo,

mais curto (cerca de oito a nove minutos), com imagens selecionadas e

trabalhadas (tal como os exemplos colocados anteriormente), de forma a

enfatizar algumas situações interessantes, para captar a atenção seletiva dos

jogadores aquando da visualização. Apesar das instruções e orientações da

equipa técnica serem as mesmas, tornava-se muito difícil conseguirmos

sintetizar a informação, escolhendo os melhores exemplos. Assim, fica claro que

era elaborado e entregue um vídeo à equipa técnica e era elaborado outro vídeo

que seria para mostrar aos jogadores.

Tal como refere Hernández (2006) cit. por Vales (2015), uma grande

abundância de informação poderá levar os jogadores e treinadores adjuntos a

um estado de paralisação ou bloqueio de ideias, incompatível com a obtenção

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do melhor rendimento. Assim, é imprescindível que a informação seja o mais

curta e objetiva possível.

Também Rui Faria cit. por Ventura (2013) explicava que “os vídeos

mostrados aos jogadores nunca são longos, dez minutos no máximo, para não

criar fadiga mental. Sabemos por experiência própria que após dez minutos é

difícil manter os jogadores concentrados. Selecionamos ao máximo a informação

para os manter motivados”.

Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) refere que a observação de

imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente da realidade

(competição e treino), têm uma grande influência na transformação da mesma,

ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o objetivo de que

estes sejam mais eficazes.

Para Vales (2015), o desenvolvimento dos diversos meios tecnológicos

relacionados com a edição de vídeo, juntamente com a progressiva

especialização técnico-profissional dos treinadores, levou a que na atualidade a

análise videográfica do jogo se constitua um elemento presente nas sessões

preparatórias das equipas, quer para analisar de forma visual as caraterísticas

coletivas e individuais do próximo adversário, quer para ser utilizado como um

importante recurso de feedback nas suas diferentes versões: valorativo,

corretivo, afetivo, etc., para a própria equipa.

Em termos gerais, entende-se que a aplicação do visionamento deste tipo

de imagens por parte dos jogadores nas sessões preparatórias prévias aos

jogos, para além de ser um facilitador que os ajuda a enfrentar a competição com

maiores garantias, possibilitando-lhes o acesso a uma informação de tipo visual

facilmente assimilável acerca das caraterísticas mais importantes do próximo

adversário ou de aspetos chave a executar pela própria equipa durante o

próximo jogo, permitirá também desenvolver no jogador a capacidade para a

identificação e interpretação pessoal das diversas situações do jogo, fomentando

e estimulando as suas possibilidades de analisar ativamente o jogo de uma

forma mais autónoma (Vales, 2015).

Também ocorreram diferenças na organização e no microciclo de trabalho

referente à análise e mostragem do(s) vídeo(s) para os jogadores. Na função de

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analista, soube sempre qual era a minha missão e adaptei-me sempre à

organização e rotina de cada equipa técnica.

A primeira equipa técnica, com a liderança de Ivo Vieira pretendia realizar

a mostragem do vídeo, numa sessão única, tendo o vídeo a duração máxima 8

a 9 minutos. A sessão seria realizada, normalmente à sexta-feira, ou seja (um a

dois dias antes da competição). Era o treinador principal o responsável pela

apresentação do vídeo. Com a segunda liderança, com Ricardo Soares, o vídeo

era da total responsabilidade do treinador adjunto, contudo a apresentação

muitas vezes era partilhada entre o treinador adjunto e o treinador principal.

Organizavam-se, dividindo em 3 sessões de vídeo: na primeira sessão, que era

realizada 2 dias antes da competição, era apresentada a organização ofensiva

da equipa adversária e a transição defensiva; na segunda sessão, 1 dia antes

da competição, era apresentada a organização defensiva e a transição ofensiva.

Por último, antes da palestra do jogo, no dia da competição, eram apresentados

os lances de bolas paradas ofensivos e defensivos. Após a saída de Ricardo

Soares e com a entrada do terceiro treinador, que foi Quim Machado, a

elaboração e a mostragem do vídeo ficou sob a minha responsabilidade, ou seja,

sob a responsabilidade do analista. No entanto, como é lógico, o treinador

principal interveio sempre que entendeu ser pertinente. Com Quim Machado

voltámos a organizar um vídeo numa sessão única, sendo a sessão de vídeo

realizada mais perto do final da semana.

Segundo Pedreño (2018), as duas propostas têm as suas vantagens e

inconvenientes, o que depende sempre da sua efetividade e capacidade do

treinador para levar os seus atletas a compreenderem como o modelo de jogo e

o seu plano estratégico têm coerência com as caraterísticas tático-estratégicas

do adversário. Na opinião do autor, a estratégia de dividir em vários momentos

de vídeo tem algumas vantagens, comparativamente com o vídeo único, pois

cada vídeo: a) é mais curto, não havendo necessidade de fornecermos toda a

informação naquele instante pois ainda haverá mais momentos de

apresentação; b) há coerência entre o plano visionado e o plano treinado, pois a

seguir à visualização do vídeo poderão passar a informação para a prática, no

treino.

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O autor fala também da atenção necessária a ter com a duração do vídeo.

Como é sabido, o ser humano tem uma capacidade limitada para manter o seu

foco atencional. Assim, as conversas devem ser curtas. O autor recomenda que

o vídeo tenha seis a sete minutos, sendo que depois o treinador pode gastar

mais dois ou três minutos para explicar. Segundo o autor é importante que a

apresentação não vá para lá dos dez minutos.

Jémez (2012) cit. por Pedreño (2018) explica: “Temos que gerir a

informação necessária, nem muita nem pouca, para deixar-lhes no final um vídeo

de doze ou catorze minutos. A partir daí, creio que o jogador acaba perdendo a

atenção. Posso colocar um vídeo de meia hora, mas eu fui jogador e sei que a

partir dos quinze minutos um começa a soprar, o outro começa a tocar no

cotovelo do colega ao lado… e é normal”.

Fazendo uma reflexão acerca da mostragem, apresentação e

periodização deste trabalho, parece-nos fazer sentido ser o analista a ter voz

ativa na apresentação da equipa adversária, pois entendo que deve apresentar

o adversário, a pessoa que mais jogos observou, que mais estudou e que

analisou cada detalhe da equipa adversária. Todavia, é compreensível, que por

vezes, os treinadores pretendam filtrar ainda mais a informação, pois já têm em

mente algumas estratégias para neutralizar e atacar o adversário. Neste caso

devemos considerar que a apresentação – vídeo era primeiramente enviada à

equipa técnica e só era mostrada aos jogadores a posteriori.

Relativamente à periodização do trabalho. Penso que apesar da

informação partilhada ser melhor apresentada, transmitida e talvez por isso

também melhor interiorizada aquando da divisão em três sessões de vídeo,

também senti que a disponibilidade e vontade dos atletas para absorverem a

mensagem era substancialmente menor. Como é evidente, não há fórmulas

mágicas para o sucesso, pois todos estes treinadores já tiveram e continuarão

certamente a ter êxitos nas suas carreiras profissionais, contudo, também aqui

ficam apresentadas diferentes formas de gerir e transmitir a informação acerca

da equipa adversária.

O ideal é que essa estratégia seja partilhada e haja uma reflexão

partilhada entre equipa técnica e o analista. Quando assim é penso que faz

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sentido delegar esta missão no analista. Porém, quando o analista não participa

nas reuniões técnicas e por esse motivo não reúne todas as informações e está

por isso incapaz de selecionar a informação mais importante e determinante,

então penso que faz sentido, a apresentação do vídeo ficar ao cuidado do

treinador principal ou de outro elemento da equipa técnica.

Sánchez (2015) escreve que há treinadores que preferem que a

exposição da análise seja realizada pelo próprio analista, enquanto outros

deixam a mesma para o treinador adjunto e outros preferem ser eles mesmos a

realizar a apresentação. Cada treinador tem a sua própria forma de gerir a

informação e de transmitir ao plantel.

Segundo Pedreño, o analista tático deve trabalhar com base no modelo

de jogo da própria equipa. Para isso deve conhecê-lo e estar sempre ao corrente

de tudo o que acontece no plano tático em torno da equipa e das decisões

tomadas pela equipa técnica.

Contudo, quando na estrutura existe apenas um analista, por vezes o

tempo torna-se escasso para realizar todas as tarefas solicitadas. Talvez por

isso, ou então por outros motivos, os treinadores não me envolveram nas

reuniões de planeamento e de definição, construção e renovação do modelo de

jogo. Contudo, entendo que estas reflexões e reuniões devem ser uma constante

quando existe uma estrutura preparada e com mais recursos humanos. Numa

estrutura com poucos recursos humanos, mesmo que o analista não integre as

reuniões de planeamento, penso que este deve ser abordado no sentido de

explicar aquilo que observou acerca do adversário e deve ser envolvido para que

o mesmo perceba e entenda o plano operativo para neutralizar e superar o

adversário.

Na perspetiva de Vales (2015), entende-se que tal como um treinador

deve ter talento e habilidade suficientes para liderar corretamente um projeto

desportivo orientado para a obtenção do rendimento, um treinador - analista

deverá ter também a capacidade para desenvolver de forma eficaz a tarefa de

interpretar e extrair significado operativo da informação recolhida, com o fim

dessa ser utilizada convenientemente pela equipa técnica. Por isso mesmo, e

com a intenção de fomentar um correto fluxo de informação entre ambas as

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partes e de estabelecer linhas de feedback que possibilitem uma permanente

otimização da dinâmica de trabalho dentro dos departamentos de AJ, entende-

se oportuna a realização de reuniões periódicas entre o corpo técnico e o analista

– chefe.

Após a apresentação videográfica procedia à elaboração do relatório

(formato power point e convertido para pdf.).

Apesar de ainda hoje não existir um número importante de trabalhos

dirigidos especificamente às bases metodológicas para uma correta edição do

relatório técnico, as próprias necessidades informativas das equipas técnicas

das equipas de futebol provocaram, progressivamente e de uma forma

espontânea e intuitiva, que se fossem confecionando distintos modelos de

relatório, com orientações interessantes na forma e no conteúdo (Vales, 2015).

Embora saibamos que cada jogo é único, devido ao contexto competitivo,

aos estilos de jogo e aos jogadores participantes (que variam de jogo para jogo),

é comum aceitarmos que as fases, os objetivos, os princípios e os fundamentos

presentes são invariáveis e independentes da situação concreta em que se

manifestam. O facto de assumirmos que todos os jogos contêm uma estrutura

estável com fases, objetivos, princípios, etc., permitirá supor que será possível

construir um modelo de AJ universal, fundamentado em um conjunto definido de

parâmetros de análise consensual e aceite pela maior parte dos especialistas,

que facilite uma correta interpretação dos jogos e que possibilite ao treinador

conhecer e avaliar o conteúdo dos mesmos com uma maior profundidade (Vales,

2015).

Segundo o mesmo autor, a edição de relatórios técnicos pode ser

realizada em três âmbitos de atuação: a) relatórios técnicos sobre a própria

equipa, cuja estrutura de conteúdos estará orientada principalmente para a

avaliação dos pontos fortes e frágeis que apresenta o modelo de jogo da própria

equipa; b) relatórios técnicos sobre a equipa adversária, cuja estrutura de

conteúdos estará orientada para analisar a situação competitiva que apresenta

o próximo adversário tanto no que toca às circunstâncias (lesões, jogadores

castigados, jogadores novos que entraram, etc.), como informação acerca do

nível de jogo e rendimento manifestado nos últimos jogos disputados (% de

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vitórias, estilo de jogo, principais individualidades, etc.). Este tipo de relatórios

caraterizam-se pela identificação das regularidades, pontos fortes e frágeis

caraterísticos do modelo de jogo das equipas adversárias; c) Relatórios técnicos

sobre jogadores, cuja estrutura de conteúdos estará orientada para a situação

socio-desportiva e caraterísticas funcionais de determinados futebolistas.

Geralmente, este tipo de relatórios realizados especificamente sobre um jogador

concreto têm como objetivo transmitir informação que reforce uma eventual toma

de decisão dirigida a uma futura contratação (Vales, 2015).

Como é sabido, o nosso foco e função prendia-se com uma análise

detalhada acerca do próximo adversário. O relatório realizado era constituído por

três partes:

A primeira parte era uma breve apresentação dos últimos jogos realizados

e de alguns dados estatísticos relevantes, bem como informação acerca

da equipa adversária nos últimos três a quatro jogos, indicando a forma

como se organizaram, e as substituições realizadas. A acrescentar a isso,

apresentava o 11 provável, tendo em consideração toda a informação

disponível até aquele momento;

Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes e pontos fracos.

A segunda parte do relatório consistia numa descrição dos

comportamentos e ações mais repetidas (padrões), nos vários momentos

do jogo e esquemas táticos, nos jogos observados;

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Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

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Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas SL Benfica B.

Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SL Benfica B.

A terceira e última parte consistia numa análise individual, detalhada,

acerca dos destaques da equipa e uma análise mais superficial acerca

das outras individualidades, que tinham sido utilizados. Este trabalho era

feito em conjunto com o scouter da AAC/OAF pois reconhecia que ele

possuía um conhecimento mais amplo dos jogadores, pois acompanhava

a Segunda Liga há alguns anos.

Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual. Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã.

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Em relação à fase de obtenção de informação quantitativa, é importante

reconhecer que o facto de se recolher e apresentar um grande volume de dados

não significará necessariamente que se esteja a facultar uma informação ótima

para o treinador, já que, dispor de uma grande quantidade de informação não

garante que se esteja bem informado.

Em segundo lugar, ainda sobre a informação quantitativa e sobre os

dados estatísticos e a sua interpretação, é imprescindível compreender que

quantidade não é sempre sinónimo de qualidade (por exemplo, a obtenção por

parte do jogador de um jogador de uma maior percentagem de êxito no passe,

comparativamente a outro colega de equipa, deverá ser avaliada, não

considerando apenas o seu valor numérico, mas tendo também em conta as

circunstâncias de direção, distância, espaço, etc., em que foram efetuados).

Assim, para se obter um resultado satisfatório do processo de análise

quantitativo de um jogo, será necessário levar a cabo uma interpretação dos

dados desde um ponto de vista tático, considerando as contingências do próprio

jogo (tipo de competição, dinâmica do marcador, simetria / assimetria do duelo,

etc)., assim como o plano de jogo assumido pelas equipas e as particularidades

de cada posição específica (Vales, 2015). Solé (2010) cit. por Vales (2015)

explica que no futebol, registar estatisticamente a execução de um passe

acertado por parte de um jogador, significa simplesmente que o passe se

realizou, mas não explica muito acerca da sua intencionalidade ou contexto tático

em que foi produzido.

Contudo, nos relatórios técnicos, são recolhidas algumas estatísticas que

segundo Vales (2015) são denominadas de estatísticas de resultado e de

classificação, em que se integram as diferentes hipóteses: a) história dos

resultados obtidos (número e percentagem de jogos ganhos, empatados e

perdidos); b) controlo do resultado do jogo (número e percentagem de jogos com

uma dinâmica de resultado predominante favorável, neutro ou desfavorável;

número e percentagem de jogos em que se consegue manter um resultado

favorável, dar a volta a um resultado desfavorável e não manter o resultado

favorável); c) classificação, jogando em casa ou fora, ou se preferirmos como

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visitado ou visitante (classificação; número e percentagem de pontos

conseguidos; número de golos a favor e contra);

No relatório técnico, há sempre espaço para que o analista realize alguns

comentários técnicos, que consistem em informações qualitativas acerca da

caraterização da forma de jogar das equipas e jogadores adversários, tendo

sempre como objetivo descrever quais são as forças e debilidades da equipa

analisada. Importa salientar que devido à natureza complexa do jogo, é muito

difícil alcançar um grau de objetividade e consenso absoluto nas avaliações

técnicas realizadas pelos especialistas, sendo possível observar em

determinados momentos e situações que uma mesma ação seja valorizada de

forma diferente por diferentes especialistas creditados. Por outro lado, também

se considera importante recordar que a qualidade deste tipo de avaliação

dependerá consideravelmente das particularidades individuais (conhecimentos

futebolísticos, gostos pessoais, estado de saúde, etc), de cada um dos

especialistas no momento de emitir juízos e opiniões sobre o que estão a

observar (Vales, 2015).

Segundo o mesmo autor, na prática, o conjunto de comentários técnicos

que aparecem habitualmente no relatório podem ser classificados em quatro

categorias fundamentais:

a) Comentários técnicos gerais, que são utilizados para contextualizar as

condições em que decorre a partida, assim como a atualidade competitiva

da equipa analisada. De um modo mais concreto, este tipo de comentários

técnicos fazem referência ao contexto da partida (condições climatéricas,

ambientais e ao terreno de jogo; dinâmica de resultado da partida, ou seja,

se é favorável, desfavorável ou neutro; assimetrias nos duelos, ou seja,

se há superioridade ou inferioridade numérica), às contingências da

equipa analisada (classificação no momento; resultados recentes;

jogadores lesionados, castigados ou que tenham chegado de novo à

equipa) e também ao nome dos jogadores e da equipa técnica;

b) Comentários de análise acerca do jogo dinâmico, isto é, acerca da

caraterização de conteúdos do jogo de natureza coletiva, relacionados

com a gestão espacial no terreno de jogo e com a metodologia ofensiva

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e defensiva desenvolvida pela equipa nas fases dinâmicas do mesmo. De

um modo mais específico podiam ser resumidos os seguintes aspetos:

Posicionamento e distribuição espacial; Organização ofensiva (método de

jogo predominante; identificação dos jogadores especialistas na

canalização e finalização do jogo; definição dos pontos fortes e débeis na

estrutura ofensiva, ou seja, na subfase de construção – criação de

situações de finalização e subfase ofensiva da finalização propriamente

dita); Organização defensiva (método de jogo predominante; tipo de

marcação; identificação dos jogadores especialistas na contenção e

recuperação da bola; definição dos pontos fortes e débeis da estrutura

defensiva, ou seja, na subfase defensiva de contenção e recuperação da

bola e subfase defensiva de evitar o golo.

c) Comentários de análise do jogo com bola parada, que fazem referência à

forma como as equipas se organizam nas diferentes ações ofensivas e

defensivas derivadas de incidências regulamentares do jogo: cantos,

pontapé de baliza, livres frontais, livres laterais, etc. Ofensivamente, neste

tipo de lances importa: definir as posições de partida e movimentos dos

jogadores nas diferentes situações de bola parada a favor; descrever as

trajetórias da bola; valorizar o grau de organização geral apresentado

nessas ações de bola parada ofensiva. Defensivamente importa:

determinar o tipo de marcação e posicionamento utilizado nas diferentes

situações de bola parada defensiva; valorizar de forma global o tipo de

atitude e grau de concentração dos jogadores.

d) Comentários de análise individual, relativos à definição das caraterísticas

do jogo mostradas por cada um dos jogadores analisados. Os conteúdos

acerca da análise individual podem resumir-se a: aspetos de tipo

posicional (definição das posições de base e raios de ação dos jogadores

participantes); aspetos de tipo funcional (descrição do perfil funcional do

jogador em termos condicionais, técnico-táticos e psicológicos; definição

de qualidades que devam ser destacadas e enaltecidas; resumo dos

principais pontos fortes e débeis a nível ofensivo e defensivo); aspetos

acerca da performance (definição do nível de regularidade no rendimento

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individual; descrição da resposta competitiva em jogos de alta

dificuldade).

Segundo Vales (2015) e o modelo por ele proposto para a elaboração do

relatório técnico, o relatório técnico estava subdividido em 3 macro – categorias,

sendo a primeira uma categoria relativa ao estudo dos aspetos gerais do jogo,

relacionados com a atitude e aptidão global dos participantes, com referência

aos últimos resultados e golos, bem como ao estilo de jogo e rendimento global.

A segunda macro – categoria seria relativa ao estudo dos aspetos coletivos do

jogo, relacionados com a organização e rendimento manifestado pelas equipas:

gestão espacial e posicionamento, jogo ofensivo coletivo (dinâmico e com bola

parada) e também jogo defensivo coletivo (dinâmico e com bola parada). Por fim,

na terceira e última macro – categoria, relativa ao estudo dos aspetos individuais,

relacionados com a avaliação do rendimento do jogador.

Sobre a análise individual, alguns treinadores entrevistados por Ventura

(2013), entre os quais Carlos Azenha e também José Mota, referem que para

eles é importante conhecerem individualmente os jogadores da equipa

adversária. Carlos Azenha explica que “caraterizamos jogador a jogador (…)

Onde é que é forte, se remata bem, se cabeceia bem, se é agressivo no um

contra um, se dribla forte, se marca bem livres”. Já José Mota adianta que “temos

sempre aquela avaliação que se faz sobre este jogador, que tem uma

predominância maior sobre o próprio jogo, que pode conseguir resolvê-lo. Tem

de haver esse tipo de cuidado. Mesmo ao nível do vídeo, temos essa

preocupação, de focar as caraterísticas desse mesmo adversário”.

Em jeito de balanço e aproveitando as palavras de Castelo (2009), o

conhecimento geral e particularizado, da expressão tática coletiva e individual da

equipa adversária, tem por objetivo, por um lado, minimizar ou anular os seus

mais eficientes e, por outro, evidenciar as suas carências inerentes ao seu

modelo de jogo e de preparação (treino). Quando os jogadores são alertados

(individual e coletivamente) para as condições objetivas da futura competição e,

especialmente, para as particularidades deste ou daquele adversário

(combinações e esquemas táticos executados), a sua perceção encontra-se

favoravelmente influenciada, facilitando e acelerando uma intervenção

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adequada. No entanto, há que ter presente, a possibilidade de variação

sistemática de resolução tático-técnica das situações de jogo realizada pela

equipa adversária. E quanto maior for a variabilidade de resolução tático-técnica

por parte da equipa adversária, mais difíceis e complexas serão os mecanismos

de deteção e identificação, reveladores dos índices pertinentes da situação.

Uma vez realizado todo o nosso trabalho, passando horas com o nosso

computador para analisar, organizar e preparar toda a informação, é o momento

em que todos esses dados chegam ao treinador e a toda a equipa técnica. O

treinador é a cabeça visível de tudo e é quem se aproveitará de toda a

informação recebida para transmitir aos seus jogadores e trabalhar com a equipa

durante a semana. Temos lhe fazer chegar a informação da melhor forma

possível, para que veja que fazemos bem o nosso trabalho e que o mesmo terá

uma grande utilidade. Não é melhor analista aquele que recolhe e transmite mais

dados, mas sim o que é capaz de apresentar a informação que o treinador

precisa de forma ordenada e coerente (Pedreño, 2018).

Entregue o relatório, o treinador ficava, a partir desse momento, com mais

ferramentas para preparar melhor o jogo, pensando nos melhores exercícios

para promover determinadas ações que nos podem colocar mais perto do

sucesso. Todo o trabalho desenvolvido pelo observador e pelo analista

possibilitam ao treinador conhecer profundamente o adversário. Por

consequência, dotado de maior informação, o treinador e a equipa técnica ficam

então responsáveis por pensar, planificar o microciclo ou seja a semana de

treino, sempre com o objetivo de alcançarmos o desempenho e resultado

desejados. Assim, depois de recolhida e transmitida a informação, compete ao

treinador selecionar a parte mais importante e que deve ser transmitida aos seus

jogadores.

Todas as tarefas da responsabilidade do departamento de AJ tinham de

estar resolvidas nos prazos estipulados pela equipa técnica, a fim de servirem

de referência ao treinador para que este preparasse os treinos prévios à

competição e para ajudá-lo a formular o plano de jogo (Valadés, 2002 cit. por

Vales, 2015). Na definição de prazos não houve muitas diferenças entre as

diferentes lideranças ao longo da época. Quase todos os treinadores pretendiam

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ter o vídeo na sua posse até terça ou quarta-feira (sempre que o jogo se realizava

no sábado ou domingo). Já o relatório tinha de ser entregue até quinta-feira,

sempre que o jogo se realizava ao domingo.

Ventura (2013) entrevistou vários treinadores e na sua maioria referiram

que têm definido um microciclo “standard” de trabalho semanal. No entanto, este

em algumas situações da época pode não ser implementado, apontando três

fatores que podem condicionar a sua utilização: a) competição; b) fadiga; c)

adversário.

Segundo o mesmo autor, a competição pode influenciar a organização do

microciclo semanal em vários aspetos: i) devido à existência de mais de um jogo

por semana; ii) devido ao dia, hora e local do jogo poder condicionar o dia do

primeiro treino do microciclo seguinte; iii) devido à duração da semana em função

do calendário competitivo; iv) devido hoje em dia à grande preponderância das

transmissões televisivas na marcação do dia do jogo; v) devido à presença de

alguns clubes em competições europeias.

João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere: “se jogar no

norte domingo à noite, é muito complicado eu ter treino de manhã. Se for fazê-lo

à tarde, já estou a tirar umas horas ao tempo de recuperação que pretendo para

o próximo treino. Portanto nessas circunstâncias, darei a folga na segunda e

depois voltaremos na terça”.

Acerca do fator “fadiga”, que também pode influenciar a utilização do

microciclo padrão, António Conceição, entrevistado por Ventura (2013) afirma

que, se entender que os seus jogadores estão mais cansados e se estão perto

do jogo, poderá realizar ajustamentos a essa programação: “A nível do volume

de treino não. Isso é em função do que vou observando da minha equipa, se

estão cansados, se estamos perto do jogo, e ajusto”.

Acerca do fator “adversário”, o treinador Ulisses Morais, entrevistado por

Ventura (2013) refere que apesar da diferença entre o adversário seguinte e o

anterior, o microciclo semanal não altera, o que altera é o conteúdo do mesmo:

“Independentemente de o adversário ser bastante diferente do adversário

anterior, o nosso microciclo não altera. Alterar, se quiser, é alguns dos conteúdos

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daquilo que podem ser os exercícios em que entendemos serem fundamentais

fazer uma repetição deles perante o adversário”.

Depois de transmitida a informação para o treinador e depois de este

considerar os vários fatores que podem influenciar na organização da sua

semana de trabalho, o treinador define como vai organizar o processo de treino.

Garganta (2000) cit. por Ventura (2013) refere que depois de garantida

coerência no processo de treino, tendo como objetivo o desenvolvimento de uma

determinada forma de jogar, baseada no modelo de jogo do treinador e na sua

conceção de jogo, as informações que o treinador tem sobre o seu oponente

podem vir a revelarem-se oportunas na elaboração de exercícios específicos no

treino, que visem contrariar os pontos fortes ou explorar os pontos fracos do seu

oponente.

João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere que, quando

prepara a semana de trabalho e consequentemente o plano de jogo, já

contempla o tipo de adversário que vai ter pela frente, criando exercícios

específicos para contrariar ou explorar os pontos fortes ou fracos desses

adversários: “Temos sempre em consideração o tipo de adversário que vamos

ter pela frente. Normalmente já temos antecipadamente um relatório

pormenorizado do adversário que temos pela frente. Identificámos aquilo que

nós achamos que numa eventual relação de forças pode ser um problema para

nós ou uma vantagem para nós. Tentamos delinear o trabalho também em

função disso, criamos objetivos, criamos exercícios que nos garantam que

vamos ao encontro desses objetivos”.

Em jeito de balanço e de pura reflexão, apesar de entender que o trabalho

realizado apresentava qualidade, considerei, ao longo do tempo, proceder a

algumas alterações. Isto deveu-se ao facto de ter observado situações que até

então me eram desconhecidas e por ter enriquecido o meu entendimento acerca

do jogo ao longo do tempo. Para além disso, por vezes, é necessário que o

analista se coloque constantemente no lugar do treinador e se questione acerca

da clareza da mensagem descrita no relatório técnico. Por vezes senti que, o

relatório podia não estar a ser totalmente esclarecedor e era necessário traduzir

a informação, coloca-la numa linguagem mais usual dentro da própria equipa

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técnica, para que o leitor (treinador e equipa técnica) o pudessem compreender

de forma clara e objetiva.

Portanto, o grande objetivo é que o treinador fique na posse de um

manancial de informação que lhe permita preparar o jogo da melhor maneira

possível, tentando ao máximo explorar os pontos fracos do adversário e preparar

as melhores soluções para enfraquecer os pontos fortes. Com a informação

recolhida, o treinador tenta antecipar o que se irá passar durante o jogo, tirando

um pouco da imprevisibilidade do mesmo, melhorando e adequando o programa

de treino (Ventura, 2013).

Depois de analisada uma equipa, não há tempos de folga, pois outro

adversário se aproxima. Mas o momento alto e a maior alegria acontece, quando

conseguimos chegar a um golo após uma situação observada, identificada,

trabalhada e colocada em prática. Esse sucesso é a melhor energia e o melhor

combustível para virar a página e partir para o adversário que se segue.

Para além da análise do adversário também estava responsável por filmar

algumas sessões de treino e também os jogos. Para além de filmar, sempre que

possível tentava observar o jogo, sendo que foi extremamente difícil fazer ambas

as tarefas em simultâneo, já que por um lado, tentamos garantir a qualidade da

filmagem e em simultâneo procurava conseguir analisar as situações que

estavam a decorrer no preciso momento.

Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade de Coimbra e jogo fora.

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Por duas vezes, primeiro aquando da saída da equipa técnica de Ivo Viera

e depois mais tarde de Ricardo Soares acabei por realizar tarefas de treinador

adjunto, ajudando os treinadores interinos Vítor Vinha e Vítor Alves. Apesar de

serem circunstâncias difíceis foi mais uma experiência que me enriqueceu do

ponto de vista profissional.

Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras.

Na semana após a saída de Ricardo Soares, para além de ter cooperado

e participado na planificação e na operacionalização do treino, estive ainda

presente no banco auxiliar durante o jogo. Honestamente, depois de estarmos

tão habituados a ver o jogo a partir de um plano superior, na função de analista,

senti imensa dificuldade em conseguir ler e analisar o jogo a partir do banco.

Tal como escreve Garganta cit. por Pedreño (2018) existem uma série de

aspetos a ter em conta que limitam a observação do jogo por parte dos

treinadores, tais como: a) campo visual restringido, já que o treinador, no banco,

tende a seguir a bola não se preocupando com o que está longe dele, não porque

não saiba do jogo, mas porque na competição, em situação de stress, fica

preocupado com os momentos críticos do jogo; b) posicionamento desfavorável,

pois a sua posição para observar o jogo não é a mais adequada, não

conseguindo ver o campo todo e todos os jogadores em todos os momentos; c)

limitação da memória humana; d) efeito das emoções; e) parcialidade, em que

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as pessoas emitem juízos sobre algo, influenciados por uma impressão seja ela

positiva ou negativa.

Esta última nota serve para consciencializar todos acerca da

complexidade do jogo. Para o comum dos adeptos é tudo relativamente fácil. E

avalia normalmente o atleta e a qualidade do jogo pela intensidade ou falta dela.

Contudo, quem estuda o jogo e quem o analisa nem sabe bem o significado do

conceito de intensidade. Como profissional da área prefiro o conceito de

complexidade, e após esta época, depois desta oportunidade fantástica, que foi

acompanhar uma equipa profissional, pretendo deixar claro que o Futebol é um

desporto em que todos os aspetos táticos, técnicos, físicos e psicológicos se

manifestam em simultâneo em cada uma das ações de jogo, e por esse motivo

torna-se fundamental realizar a análise do rendimento, sendo este um meio de

avaliação do treino e da competição.

Por último, pretendemos reforçar o papel dos profissionais do treino e da

observação e AJ, que na sua maioria, acumulam horas e horas de empenho e

dedicação e têm uma vontade e uma ambição imensa, desejando com todas as

forças o êxito e o sucesso. Para nós, profissionais da observação e análise do

jogo, entendemos a nossa missão como um complemento para a tarefa do

treinador, contribuindo com conhecimento mais aprofundado acerca da própria

equipa e da equipa adversária.

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5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Começando por confrontar aquilo que eram as minhas expetativas iniciais

com a realidade encontrada, naturalmente que tenho que começar pela ideia que

tinha, de poder integrar um gabinete de análise, uma equipa de trabalho,

metódica, organizada, competente e que tudo faria para conseguir dotar os

treinadores de informação precisa e determinante para que a Académica

estivesse mais próxima de conquistar os 3 pontos, em cada fim de semana. Mas

estava completamente enganado.

Contava que a esperada integração num gabinete de análise me pudesse

ajudar a melhorar o meu conhecimento profundo do jogo. Afinal, esse tinha sido

um dos principais objetivos que me fez procurar realizar o estágio neste ramo.

Mas foi uma utopia, afinal não existia gabinete, e eu dependia só de mim.

Segundo Ventura (2013), os departamentos de scouting são estruturas

que começam cada vez mais a ganharem o seu espaço nos clubes de futebol

profissional. Contudo, em clubes que vivem dificuldades financeiras não existe o

número de recursos humanos ideal. Ainda assim, segundo o mesmo autor, o

departamento deve ter um coordenador geral, ou seja, uma pessoa identificada

com o clube e que deve conhecer muito bem as normas de funcionamento e a

realidade do clube. Para além disso, o departamento deve estar dividido em duas

vertentes, a vertente da prospeção e a vertente da observação e análise do jogo.

Mas na realidade da AAC/OAF, não existia Coordenador Geral do

departamento de scouting. No entanto, a divisão do trabalho era realizada,

estando eu responsável por realizar as funções de análise e havendo uma

pessoa responsável pelas funções de prospeção para a equipa profissional.

Se é verdade que esta situação não terá ajudado na minha rápida

evolução e aprendizagem, pois não tive ninguém que me apontasse correções,

aspetos e estratégias de melhoria, também não é menos verdade que esta

situação me trouxe uma grande responsabilidade, e também uma experiência de

aprendizagem sustentada a partir do erro na primeira pessoa, que me obrigou a

ser autodidata, procurando informar-me acerca daquilo que devia fazer, como

devia fazê-lo, quando e porquê.

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Outra situação, que me fez dar alguns passos atrás, foi a forma como é

visto o analista. Para a estrutura apesar de sentir que reconhecem importância,

no seio do clube entre outros funcionários, o analista não passa do “rapaz que

filma” e “que faz uns cortes”. Senti que o trabalho não é valorizado por ser um

trabalho que possa fazer a diferença entre empatar ou ganhar. Por contrário,

senti que a equipa técnica valoriza o trabalho do analista e pretendem que as

suas tarefas estejam concluídas o mais rapidamente possível. Porém, penso que

muitos treinadores não têm uma noção concreta do tempo e das horas de

trabalho envolvidas. E por este motivo, muitas vezes os pedidos de tarefas

sucedem-se, sem que muitas vezes os treinadores percebam o porquê das

tarefas não ficarem todas concluídas em um par de horas. Portanto, vive-se aqui

num confronto entre quem acredita muito e quem acredita muito pouco no

trabalho de observação e identificação de pontos fortes e fracos do adversário.

Um dos enormes constrangimentos foi o facto de acumular a função de

analista com a função de coordenador técnico da formação, coordenando os

escalões de iniciação entre sub10 e sub13 (cerca 100 a 120 atletas) da

Associação Académica de Coimbra-OAF. Senti que foi uma loucura ter exercido

estas duas funções, pois são totalmente incompatíveis. Contudo não tive

alternativa, pois enquanto funcionário (profissional), o convite que me

endereçaram para a coordenação antecedeu o convite para pertencer ao

suposto gabinete de AJ e para honrar o meu compromisso e para que

continuasse a ter a oportunidade de desenvolver o meu trabalho no âmbito do

mestrado, não podia de forma alguma deitar tudo a perder. Restava-me

desenvolver um elevado controlo emocional e gerir a minha vida com mestria.

Sabia que ia ser uma época com enorme volume de trabalho e prejudiquei a

minha saúde (poucas horas de sono, poucas refeições e muitas vezes pouco

ricas). A nível profissional, mais horas não significa maior produtividade e

qualidade no trabalho desenvolvido. Devido ao cansaço e fadiga mental, como

é evidente, cometi alguns erros, que outrora não teria cometido. E vários dilemas,

todos os dias pois era fundamental a minha presença a supervisionar os

treinadores que coordenava, a informar diretores de equipa / team manager’s, a

ajudar a desenvolver cerca de uma centena de crianças proporcionando-lhes

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contextos ótimos de aprendizagem. Mas em simultâneo, era também

fundamental a minha presença junto à equipa técnica, no exercer das minhas

tarefas, o mais rapidamente possível. E eis que tenho que tomar decisões e gerir

prioridades. E o trabalho de coordenação ficou por fazer, naquele(s) dia(s).

Antes de decidir a área/ramo do meu estágio, refleti bastante acerca da

minha perspetiva de carreira. Desde 2009/2010, o primeiro ano em que comecei

a olhar e a sentir o futebol de outra perspetiva, no papel de treinador e formador,

que passei por vários projetos de formação, tendo oportunidade de conhecer e

treinar muitas crianças e jovens. Depois de tantos anos a treinar crianças senti

que estava na altura de começar a dar um rumo diferente à minha carreira. E no

âmbito do estágio, tive a oportunidade de trabalhar junto da equipa profissional,

o que me fez desenvolver uma ambição ainda maior.

E agora, não restam dúvidas, este desafio reforçou as minhas aspirações

e a minha identidade. Pretendia continuar no campo da AJ por mais uma época

e depois, gostava imenso de voltar ao treino, enquanto treinador adjunto.

Portanto, o objetivo é claro, continuar a aprofundar, a curto prazo, o meu

conhecimento acerca do jogo, procurar aprender o máximo possível neste

período. Continuar a recolher informação, observar, relatar.

Se pudesse viajar no tempo, e se tivesse mais disponibilidade, enquanto

analista, gostaria de participar nas reuniões técnicas, com a equipa técnica,

tentando perceber como tratam a informação e como a transportam para o treino

e como a filtram delineando uma estratégia. Isto seria uma experiência essencial

para o passo que queria dar em seguida: o voltar ao treino, enquanto treinador

adjunto.

Considerando as funções e qualidades que um observador deve possuir,

parece-nos óbvio que este deve contactar e dialogar diariamente com o

treinador, acerca das caraterísticas táticas do adversário. Apesar de estar no

gabinete imediatamente ao lado da equipa técnica, o facto de acumular funções

na instituição que representei e continuo a representar, fez com que não

estivesse 100% disponível para a equipa profissional. E este constrangimento

fez com que o meu raio de ação fosse menos pelo terreno e mais pelo gabinete.

Devido ao enorme volume de trabalho e ao facto do tempo “fugir”, senti que

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talvez por isso, um ou outro treinador me dispensasse de algumas reuniões

técnicas, para poder finalizar o trabalho.

Tal como nos fala Ventura (2013), num clube que tenha um departamento

de scouting composto por vários observadores, consegue mais facilmente

observar três ou quatro jogos de cada adversário, organizando esses

observadores de acordo com o calendário. Por outro lado, num clube sem essa

estrutura, e só com um observador disponível, torna-se complicado conseguirem

realizar esse número de observações.

Fazendo uma reflexão, é evidente que entendo que a presença do

analista e do observador nas reuniões técnicas é fundamental. Contudo, tive que

organizar o meu dia-a-dia no sentido de completar todas as minhas tarefas, de

forma a garantir que a equipa técnica tinha ao seu dispor o conjunto de

informações (em relatório e em vídeo) suficientes para que pudessem maximizar

a qualidade do treino e o desenvolvimento do plano de jogo.

Também aqui, entendo que se estivesse a desempenhar só a função de

analista, a tempo inteiro, apesar de continuar a ser complicado realizar todas as

tarefas implícitas por ser o único analista na estrutura, estaria certamente ainda

mais disponível e seria mais vezes chamado para partilhar informações com a

equipa técnica, de forma pessoal. Devido ao enorme volume de trabalho e à

agenda sempre preenchida, muitas vezes não havia a transmissão da

informação de forma verbalizada, mas sim apenas através do relatório (escrito)

e a partir dos vídeos, devidamente editados.

Pessoalmente, foi uma experiência que também me fez mudar algo a nível

pessoal. O mundo profissional é um mundo de desconfiança e de incerteza.

Pouco estável, pouco confiável. Hoje colocam-te no topo e amanhã arrasam-te.

Hoje é verdade e amanhã tudo pode ser diferente. E isto traduz-se muitas vezes

numa cultura do “salve-se quem puder” que provoca sempre muita desconfiança

e pouca crença. Um ano a viver esta experiência, torna-me muito mais seguro e

confiante nas minhas capacidades mas também muito mais fechado e um pouco

mais contido nas palavras. Se sempre entendi ser um Homem prudente e

assertivo, hoje penso duas vezes mais antes de proferir algumas palavras. Se é

verdade que o futebol profissional me deixa uma pessoa muito mais ambiciosa,

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determinada e pragmática, também não é menos verdade que o futebol

profissional me envolveu na sua desconfiança e incerteza.

Voltando ao campo da observação e AJ Ventura (2013) entrevistou o

treinador Carlos Azenha que lhe explicou: “Efetivamente a observação é

determinante, de forma a se perceber melhor o jogo, para entender o jogo. Mas,

de pouco vale, se não souber interpretar aquilo que observo”.

Já Vales (2015) escreve que para desenvolver adequadamente o

processo de análise de jogo ou para elaborar especificamente um relatório

técnico sobre uma equipa ou jogador, pressupõe-se estar na disposição de um

conhecimento geral e global da modalidade desportiva em questão. No caso do

futebol, para analisar corretamente o jogo deve considerar-se os seguintes

requisitos:

Em primeiro lugar, é necessário conhecer os traços diferenciadores do

futebol, como modalidade desportiva pertencente à família dos desportos

coletivos, com destaque para as suas particularidades morfofuncionais e

exigências operativas que derivam das mesmas em termos coletivos e

individuais;

Em segundo lugar, e uma vez destacados os elementos diferenciadores,

será necessário especificar com a maior precisão possível como é a

estrutura interna do modelo de rendimento no futebol de alta competição,

a partir da caraterização tanto dos aspetos contextuais como dos

procedimentos do jogo, com o objetivo de determinar quais são as

dimensões e os elementos de avaliação durante os jogos por parte dos

analistas;

Por último, e com o objetivo de descrever como se manifestam os tais

aspetos suscetíveis de análise durante os jogos, será também necessário

traçar as linhas mestras que caraterizam as tendências evolutivas do jogo

e estilos de jogo desenvolvidos pelas melhores equipas.

O treinador Marcelino García Toral cit. por Pedreño (2018) explica que:

“De nada serve que eu peça ao analista, por exemplo, situações incorretas da

defesa adversária e ele, ao não ter os conceitos que eu lhe estou a exigir me

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forneça uma informação pouco clara e portanto inútil para transmitir aos

jogadores”.

Solé (2010) cit. por Vales (2015) entende que para se fazer um bom

scouting é necessário um alto nível de experiência por parte da pessoa que

realiza a tarefa observacional e, sobretudo um grande nível de conhecimento do

desporto em questão, pois sabe-se que perante o mesmo jogo a perceção dos

detalhes fundamentais do jogo variam segundo a qualidade do analista.

Fazendo uma reflexão acerca da minha intervenção, perante este

conjunto de exigências e requisitos eu senti-me perdido e reconhecia que era

tudo um Mundo novo para mim. Se é verdade que conhecia o jogo, percebia a

sua lógica interna e sabia caraterizá-lo. Por outro lado, não tinha um

conhecimento completo acerca dos regulamentos das competições nem possuía

um conhecimento anterior das equipas nem dos jogadores adversários. Para

além disso sentia que não olhava o jogo com os mesmos olhos dos meus

colegas da equipa técnica.

As minhas experiências anteriores, a maior parte delas centraram-se na

criança e no jovem atleta, em etapas de iniciação desportiva. Aquilo que eu

procurava no jogo era um enfoque maior no cumprimento dos princípios

específicos de jogo mas também nas ações tático-técnicas que suportavam

esses princípios. O meu foco não estava tão voltado para os macroprincípios,

para a organização coletiva, mas sim para o individual e para a resolução de

problemas em jogo em que participavam menos jogadores e muitas vezes

espaços de menores dimensões (como por exemplo situações de 1x1, 2x1, 2x2,

3x2, 3x3… 7x7).

Apesar de pensar que compreendia o jogo, de forma dinâmica, onde

existe interação dos diferentes momentos do jogo, em que existe transição entre

as fases ofensiva e defensiva e vice-versa, sentia que não tinha um

conhecimento aprimorado acerca dos aspetos a observar e relatar quando temos

a bola, quando não temos a bola, quando acabámos de perdê-la, quando

acabámos de recuperá-la e também nas ações de bola parada.

A experiência foi-me ensinando, fui absorvendo tudo o que a equipa

técnica pretendia nas conversas formais e informais que tínhamos, o que era ou

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não era relevante, o que devia observar, o que devia relatar e aquilo que devia

ignorar ou omitir para não fornecer informação pouco ou nada pertinente. As

conversas com alguns elementos da equipa técnica foram ajudando no sentido

de perceber realmente o pretendido.

O contexto em que realizei o estágio foi um contexto muito particular.

Tratou-se de um ano difícil, em que houve a troca de equipa técnica por duas

vezes, ou seja, em que houve três líderes diferentes (Ivo Vieira, Ricardo Soares

e Quim Machado). Apesar da dificuldade natural que é trabalhar num contexto

de mudança e de instabilidade, olhando para dentro, é claro que não estávamos

felizes pois os resultados positivos nem sempre apareceram, mas olhando para

dentro, por se tratar de um ano particular, senti que isto também trouxe aspetos

positivos na construção de conhecimentos e competências, pois vivenciei formas

de trabalhar diferentes, ideias também diferentes, pensamentos e filosofias

também diferentes e uma maior ou menor preocupação com o estudo e análise

da equipa adversária atribuída por cada equipa técnica.

Naturalmente, que quando saiu Ivo Vieira e quando se deu a chegada de

Ricardo Soares, eu já tinha um conhecimento mais detalhado sobre “o que” devia

fazer, “como” fazer, “quando” fazer, “porque” fazer. Bem como tinha um

conhecimento acerca da informação pretendida pelos treinadores e equipa

técnica para que pudessem planear o microciclo de trabalho, em que se inserem

unidades de treino e o jogo, definindo a estratégia mais assertiva para podermos

alcançar o resultado desejado. Mas, pegando na situação da máquina do tempo,

e não tendo o propósito de tirar o mérito a nenhuma equipa técnica, gostava

muito de poder voltar para o início de época, ter novamente a oportunidade para

trabalhar com a equipa técnica de Ivo Vieira. Gostei imenso da ideia de jogo e

teria sido interessante ter partilhado funções com aquela equipa técnica noutras

circunstâncias, onde já possuísse maior conhecimento e já reunisse outras

competências. Gostava que os nossos trilhos se tivessem cruzado, estando eu

dotado de outros conhecimentos, capacidades e competências. Como é

evidente, não me arrependo absolutamente de nada pois ninguém nasce

ensinado e eu tive o espaço ideal para aprender. Mas receio não ter deixado

uma imagem tão positiva quanto aquela que possa ter deixado junto das outras

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equipas técnicas, precisamente porque me encontrava numa fase introdutória de

aprendizagem. Talvez se os nossos caminhos se tivessem cruzado em Fevereiro

eu pudesse deixar um contributo ainda maior.

Outro aspeto importante foi o aprender a trabalhar com outros softwares

de edição de vídeo e também com o software que nos permitia categorizar o jogo

pelos seus momentos. Só a prática regular e o conhecimento dos critérios de

observação é que fizeram com que fosse aprimorando. Foi preciso tempo,

repetição e tentar perceber junto dos treinadores adjuntos se os documentos

estavam do agrado deles ou se devia mudar mais alguma situação.

Para a aquisição de qualquer técnica desportiva, o processo de análise

do rendimento competitivo requer o desenvolvimento de um programa exaustivo

de prática e treino por parte do treinador – analista (Carling, Williams & Reilly,

2005). A familiarização com o sistema e procedimento de codificação do jogo

(manual ou informatizado), o conhecimento profundo dos critérios de observação

e catalogação das condutas derivadas do jogo, juntamente com a capacidade

para manter um elevado nível de concentração e objetividade durante o decorrer

da partida, representam questões de grande importância suscetíveis de ser

treinadas para elaborar de forma eficaz e produtiva um relatório técnico (Vales,

2015).

Tal como acontece em outros âmbitos, a qualidade dos relatórios técnicos

melhorou quer na sua forma, quer no seu conteúdo, com o passar dos tempos.

Todavia, hoje é possível identificar alguns aspetos de melhoria que Vales (2015)

entende ser necessário melhorar e neste trabalho reforçamos esta ideia: a)

indefinição quanto aos parâmetros e condutas a analisar, circunstância que

provoca o aparecimento de informação irrelevante para explicar o conteúdo do

mesmo; b) estruturação defeituosa, com uma apresentação desordenada, facto

que dificulta a sua gestão para armazenamento e consulta rápida; c) ausência

de profissionais específicos, formados, para desenvolver este trabalho

informativo (treinadores – analistas); d) desconhecimento e falta de

acessibilidade a diferentes cursos tecnológicos como certos programas

informáticos para a gestão de bases de dados, edição de vídeo, etc., que

facilitam e melhoram a edição dos relatórios técnicos; e) escassa aplicabilidade

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prática e utilidade da informação acumulada durante as análises dos jogos,

derivada de uma deficiente interpretação da mesma, de uma incapacidade para

transformar os dados registados em recomendações operativas.

Senti que melhorei o meu entendimento do jogo e também acerca da

informação que devia constar no relatório. Fui percebendo quais os parâmetros

e condutas que deviam ser analisadas, qual seria a estrutura do relatório que era

pretendida pelos treinadores. Com isto a informação transmitida começou a ser

mais relevante, contribuindo com uma maior aplicabilidade para prática.

Outra reflexão que deixo é acerca da forma como a análise é realizada.

Pedreño (2018) diz-nos que todo aquele que se preste a analisar o jogo, deve

fazê-lo observando o mesmo como um todo, um ciclo em que as ações em uma

fase ou subfase repercutem-se na fase seguinte, em que a ocupação dos

espaços e os comportamentos da equipa e do adversário no ataque determinam

o tipo de transição que realiza a equipa e como se reorganiza defensivamente.

Assim, temos que entender que apesar da recuperação da posse da bola

ser uma condição indispensável para o desenvolvimento do processo ofensivo,

este começa antes da recuperação da mesma. Castelo (2009) explica-nos

também, que por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda

de posse de bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo

ofensivo, devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e

vigiando: a) espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para

o empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar

continuidade ao processo ofensivo da sua equipa.

Também Pedreño (2018) afirma que é impossível entender o

comportamento de uma equipa em transição defensiva sem analisar a fase

ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário seria cair num

reducionismo em um desporto complexo como é o futebol.

Mas a verdade é que todo o procedimento levado a cabo pelos analistas

de jogo é algo analítico, fracionando o jogo em fases. E o jogo está todo ligado.

Não se pode fragmentar. Primeiro é preciso entender o seu todo e só depois

podemos tentar fragmentar, mas primeiro é necessário conhecer o todo. Apesar

de ser mais fácil de entender se há ou não comportamentos – padrão quando

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fracionamos o jogo, observando as situações que se repetem mais vezes, há

que considerar que não há dois lances absolutamente iguais e as situações não

são exatamente iguais.

Com a pesquisa realizada no âmbito do relatório de estágio, percebi isto

mesmo e fiquei com algumas dúvidas acerca de qual a melhor estratégia para

uma correta análise da equipa adversária. Não basta dizer que a equipa

adversária cede espaços nas costas do lateral direito ou entre linha média e linha

defensiva, nos instantes após a perda de bola. É preciso perceber qual o motivo

pela qual resultam esses espaços. Será porque o lateral direito se projetou muito

no momento ofensivo. Será porque os médios aproximaram de zonas de

finalização e a linha defensiva ficou mais atrás? E será que isto é uma situação

padrão no momento ofensivo da equipa? Ou aconteceu apenas uma ou outra

vez, e apenas num jogo. E se aconteceu em apenas num jogo, qual foi a forma

distinta de como atacaram nesse jogo comparativamente com os outros?

É necessário perceber o todo. Ao analisarmos apenas os cortes de vídeo

realizados pelos analistas, podemos cair no erro que é perdermos o contexto

que nos faz entender os motivos pela qual as situações se sucedem.

Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que segundo uma

perspetiva sistémica, não é correto chamar análise. Se falamos de complexidade

estamos a ser incoerentes, estamos a ser demasiado analíticos. Na mesma

entrevista Garganta diz que quando alguém lhe pergunta se faz análise, costuma

responder que faz síntese de jogo, e é isso que tenta procurar, a informação

como um todo. Tem em consideração, por exemplo, quando uma equipa está

em transição defensiva, como é que atacou, onde estavam as linhas e o que

fizeram em função disso para começar a defender. Se quer privilegiar o contra-

ataque e vai fazer pressão alta, então não tem espaço nas costas, e então tem

que baixar o bloco para depois explorar os espaços. Portanto, para estudar a

defesa tem que estudar como atacavam antes, perceber que condições criaram

para que essa defesa ocorresse assim dessa maneira, porque o jogo está

conectado.

Refletindo ainda sobre a melhor maneira para analisar o jogo pergunto-

me ainda se devemos ou não categorizar da forma como habitualmente

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categorizamos. Se existe outro procedimento mais assertivo e menos restritivo.

Se quando mostramos o vídeo devemos mostrar o vídeo aos jogadores, dividido

por momentos de jogo ou se devemos juntar os momentos, por exemplo de

organização ofensiva com transição defensiva e o de organização defensiva com

a transição ofensiva. Penso que faz todo o sentido mostrar o jogo mais ligado e

explicar que as situações acontecem por um determinado motivo.

Outra situação que refleti por várias vezes foi o facto de muitas vezes

analisar o que o adversário realizava, em qualquer uma das fases, sem ter em

consideração como é que o oponente desse jogo se organizava. Imaginem, o

próximo adversário da Académica OAF seria o FC Arouca. Mas eu tinha

realizado o trabalho de observação de 3 jogos, onde categorizei vídeos dos

últimos 3 jogos do FC Arouca. Vamos imaginar que num desses jogos o FC

Arouca jogou contra a equipa do Nacional da Madeira. O FC Arouca que estava

habituado a sair a jogar a partir de trás, nesse jogo não o fez pois esteve

altamente condicionado pelo Nacional. Contudo o padrão era saírem a jogar de

forma curta e apoiada. Agora colocamos mais um cenário hipotético, o FC

Arouca que era uma equipa habituada a pressionar na saída de bola da equipa

adversária, na partida contra o Nacional optou por defender mais atrás, mesmo

jogando em casa. E o seu padrão era pressionar, com uma zona pressionante

bem definida. E alteraram em função deste adversário.

Muitas vezes, quando se analisa o adversário e quando se tem um olhar

apenas e só para os vídeos categorizados, passa-nos ao lado o contexto de cada

situação e erradamente podemos admitir algo como padrão que só aconteceu

devido a um conjunto de circunstâncias. Por esse motivo, considero também que

tem de haver um outro procedimento em que conseguimos olhar o todo, não

fracionando, de forma a não perdermos informação fundamental para entender

a dinâmica do jogo.

Também Garganta, quando entrevistado por Pedreño explica algo

semelhante: “eu sou observador da minha equipa, se me centro única e

exclusivamente na nossa equipa também estarei errado porque há sempre duas

equipas a jogar”. “Por exemplo, uma das nossas intenções era que na primeira

fase de construção, em organização ofensiva, a bola tinha que sair pelas alas,

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primeiro jogo exterior e logo buscamos jogo interior e variamos outra vez para

exterior. Mas eu vou ver o jogo e observo que a nossa equipa está saindo pelo

médio, e muitas vezes não se observou o que estava a acontecer e o porquê. O

adversário bloqueou-nos a saída por fora porque já nos tinha visto, pois também

nos analisa. Então, saímos pelo médio porque não tínhamos a possibilidade de

sair pelas alas”.

Portanto, como analistas táticos devemos entender o jogo como um todo.

Isto supõe ver o jogo várias vezes, se for necessário, prestando atenção ao

comportamento da equipa que analisamos em todas as fases. Uma vez feito

isso, já podemos fazer a análise nas suas fases, distinguindo, mas não dividindo,

separando mas não empobrecendo (Pedreño, 2018).

Segundo Menotti cit. por Sánchez (2015), todos os analistas têm um fim

comum, encontrar as debilidades da equipa adversária e encontrar as

possibilidades de como fazer-lhes dano e por contrário evitar que nos façam

dano. Quando já temos o nome do adversário que vamos analisar, quanto mais

jogos tenhamos para ver, mais real e verdadeiro vai ser o relatório. Devemos

tentar ainda que os jogos que analisamos sejam realizados dentro de um

contexto, o mais parecido possível com a realidade que iremos encontrar.

Apesar de várias caraterísticas já citadas neste trabalho acerca do

analista, há coisas que não se conseguem ensinar nos cursos de scouting e

manipulação de softwares. Para além de todas as caraterísticas já citadas, o

analista deve ser uma pessoa com profundo interesse em adquirir novos

conceitos, conhecer formas de trabalhar de outros analistas em outros clubes e

complementar o seu trabalho no dia-a-dia e melhorá-lo em função das

necessidades do treinador e da equipa, que ao fim ao cabo são os que devem

beneficiar e aproveitar a informação que lhes trazemos.

Terminada a época, foi-me endereçado o convite para continuar a

desempenhar a função de analista na época seguinte. Foi com muito orgulho

que vi o meu vínculo contratual ser renovado.

Já a pensar na próxima época há alguns documentos que pretendemos

melhorar. Um deles é o modelo-tipo que utilizamos nos relatórios. O modelo atual

apenas considera o sistema de jogo utilizado pela equipa nos vários jogos

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anteriores. Apercebi-me que umas vezes colocava o sistema utilizado quando se

encontravam no momento ofensivo e outras vezes colocava o sistema utilizado

quando se encontravam no momento defensivo. Isto não era claro e podia gerar

algumas dúvidas na equipa técnica. Assim, quando apresentávamos o 11 que

tinham iniciado os jogos anteriores, passámos a mostrar o 11 que jogou e a

forma como se dispunham quando atacavam e quando defendiam.

Outra grande mudança foi o modelo passar a ser realizado no formato

“Google docs” utilizando a plataforma colaborativa da “Google – Drive”. Isto

permitia que, havendo o recrutamento de mais analistas, que foi uma

necessidade identificada várias vezes neste relatório, ou seja, se aumentassem

os recursos humanos no Departamento de Análise de jogo, podíamos trabalhar,

em simultâneo, de forma colaborativa no mesmo ficheiro. Isto facilita o trabalho,

não havendo necessidade de estar constantemente a enviar o que já havia sido

feito. Se é verdade que o modelo de relatório perdia bastante do ponto de vista

estético, não é menos verdade que a informação passou a estar mais organizada

e por isso mais percetível para o treinador e equipa técnica.

Estou certo que durante a próxima época também irei identificar um

conjunto de aspetos de melhoria. A experiência, a prática, a partilha de ideias

levam-nos a refletir acerca das nossas ações. E penso que a mudança já

significa isso mesmo, que houve reflexão e há vontade de melhorar.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante

da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei

e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Ter a oportunidade de

trabalhar para a equipa profissional, da instituição/clube da minha cidade é por

isso uma honra e um privilégio.

O futebol é um desporto bastante mediático e é desporto com mais

impacto na nossa sociedade e na nossa cultura, sendo diariamente apresentado

e comentado por diferentes pessoas. Treinadores, investigadores desportivos e

espetadores comuns analisam e/ou emitem juízos na ânsia de explicar o êxito e

o fracasso de jogadores e equipas. E aqui começam a aparecer as primeiras

diferenças, já que enquanto o espetador comum, pouco informado e sem

formação científica e desportiva realiza análises parciais, subjetivas, envolvidas

pelo campo da emoção, os especialistas (treinadores e investigadores), através

de análises objetivas e imparciais analisam o jogo de forma cuidada, tentando

perceber os motivos pela qual se alcançou melhor ou pior desempenho.

Na missão de analista, profissional responsável por relatar a organização,

funcionalidade e dinâmicas do jogador e da equipa, uma das caraterísticas que

fundamentais é a sua capacidade de observar. Importa explicar que ver e

observar são coisas distintas. O comum dos adeptos, quando vai ao estádio, ele

vê o futebol mas não observa o jogo de futebol. Eles observam sobretudo a bola.

E ao observarem a bola perdem grande parte da informação. Portanto, o analista

tem que observar, tem que examinar com atenção, adquirir a informação e fazer

registos.

Numa altura em que todos falam de futebol, e todos parecem ser

detentores de um grande conhecimento sobre o jogo e em que os órgãos de

comunicação social dão imagem e voz a pessoas que nada sabem daquilo que

se realiza num plano mais técnico, é importante que, todos aqueles que estão

envolvidos pelo jogo transmitam mais acerca daquilo que é realizado. Na minha

opinião, os profissionais do futebol, têm o dever de procurar informar e aumentar

a cultura desportiva de todos. Só assim, podemos virar a página e podemos

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passar a credibilizar mais o futebol, os jogadores, treinadores e

consequentemente, valorizar os profissionais da observação e AJ.

O futebol é uma modalidade com regras simples e de fácil entendimento

por todos. Mas é necessário alertar que apesar de ter regras simples, isso não

torna o futebol um jogo simples de ser jogado. Mas, é esta aparência simples

que fez com que houvesse maior resistência à mudança e aceitação de alguns

avanços.

Comparando o futebol com outros desportos da família dos jogos

desportivos coletivos, constatamos que os avanços chegaram tardiamente ao

futebol. Por exemplo, a existência de profissionais do staff técnico tais como o

preparador físico, recuperador de lesões, o médico especialista em medicina

desportiva, o psicólogo, fisioterapeuta, apareceram muitos anos antes em outros

desportos.

Ao compararmos o futebol com outros desportos coletivos, como o

basquetebol e o râguebi, constatamos que os avanços tecnológicos e não só

chegaram a modalidades como o râguebi e basquetebol muitos anos antes. Se

por um lado, podíamos perceber que no caso do basquetebol seria facilmente

explicado por ser um desporto de pavilhão, no caso do râguebi, as tentativas de

observação e análise do jogo também começaram a aparecer muitos anos antes.

A integração de especialistas da observação e análise do jogo também foi

algo que apareceu tardiamente no futebol comparativamente com outros

desportos. Contudo, começa a haver uma preocupação crescente no âmbito da

análise da própria equipa e na análise das equipas adversárias.

Atualmente, alguns clubes possuem departamentos de análise de jogo,

cujo objetivo é, acima de tudo, a otimização do modelo de jogo da própria equipa.

Mas também é importante para estudar e analisar a equipa adversária. Outros

clubes, apesar de não possuírem um departamento de análise de jogo, poderão

ter um ou outro elemento da equipa técnica que desempenhe essa função.

Outros clubes têm ainda uma pessoa “freelancer” que trabalha para o clube no

âmbito da observação e análise de jogo, mas que não integra diretamente a

equipa técnica.

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Na atualidade, no futebol de rendimento, a necessidade de obter e

manter bons resultados num contexto competitivo caraterizado pela presença de

uma igualdade na performance entre as equipas, levou a que os treinadores

contemporâneos se preocupem cada vez mais por tentar ter controlo de cada

um dos fatores que possam influenciar o comportamento competitivo da sua

equipa e dos seus jogadores, e por consequência o resultado final dos jogos.

Devido à complexidade do jogo e ao aumento da velocidade e ritmo de

jogo verificado com o passar dos anos, importa referir que o jogador de futebol

deve entender e compreender o jogo bem como deve possuir uma grande

variabilidade no seu reportório, para que consiga tomar as melhores decisões,

encontrando soluções para os problemas encontrados no jogo.

Com o objetivo de melhorarem e ajudarem o atleta do ponto de vista

individual mas também no sentido de otimizarem os processos da equipa, a AJ

tem atualmente uma grande importância no dia a dia das equipas técnicas.

No nosso entendimento, a observação e AJ é vista como um complemento

para a tarefa do treinador. Na nossa rotina, a preocupação do analista é

transmitir de forma sintetizada, informações acerca da própria equipa e da

equipa adversária. A nossa missão é dotar a equipa técnica de informações de

grande valor, que lhes permitam preparar os planos de jogo e de treino,

explorando as nossas capacidades e as fragilidades do adversário.

Mas numa altura em que o acesso à informação está à distância de dois

ou três cliques, é também necessário perceber se a fonte é fidedigna e se a

informação é mesmo relevante. Também os avanços tecnológicos chegaram ao

futebol e trazem claras vantagens, tais como: a) o acesso mais rápido à

informação; b) utilização de softwares para categorização e edição do vídeo. É

verdade que estes avanços possibilitaram uma maior rentabilidade, isto é,

rentabilizam o tempo de trabalho e melhoram a qualidade do processo. Contudo,

importa alertar que, é fundamental a existência de um analista criativo e com

capacidade para gerir muita informação. Portanto, ter um grande domínio das

tecnologias não garante nada e é o conhecimento do jogo e a sua interpretação

que faz a diferenciação entre os analistas extremamente competentes e os

restantes. Desta forma, os clubes têm que estar preocupados em integrar

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recursos humanos competentes na sua estrutura, capazes de analisarem e

interpretarem o jogo, no sentido de potenciar atletas e de otimizar o modelo de

jogo.

Surgida a oportunidade de desempenhar funções de analista na

AAC/OAF, para além de desempenhar uma missão fascinante tinha ainda uma

oportunidade única para me entregar mais ao jogo, aumentando o meu

conhecimento e entendimento sobre o mesmo. Foi-me entregue uma missão de

enorme responsabilidade e dei o meu melhor, todos os dias. O meu objetivo foi

contribuir da melhor forma possível para o sucesso do clube, não deixando nada

por fazer e tendo muito brio e rigor em todas as tarefas solicitadas

Sinto que alcancei os meus objetivos pessoais. Melhorei o meu

entendimento sobre o jogo e aprendi como trabalha e se organiza uma equipa

técnica. Apesar de não ter a oportunidade de estar presente nas reuniões de

planeamento, tenho total consciência que um treino não é só um treino. Todos

os exercícios são pensados de forma criteriosa, para promoverem contextos,

comportamentos e ações que poderão acontecer em jogo. E um trabalho de

análise será muito mais do que ver um ou mais jogos trata-se de um trabalho

apaixonante, que serve de complemento para o treinador e para a equipa

técnica. Um trabalho apaixonante, mas ao mesmo tempo muito exaustivo em

que há necessidade de investir muito tempo para que o trabalho apresentado

tenha qualidade.

Por reconhecimento e por sentir que valorizaram o meu trabalho, foi-me

renovado o meu vínculo contratual para desempenhar a função de analista na

época 2018/2019. Sinto-me orgulhoso mas sinto-me ainda mais realizado pois

direção da AAC/OAF encontra-se motivada para avançar com a criação de um

departamento de AJ, podendo mesmo avançar para o recrutamento de mais

analistas. É claro um motivo de orgulho pessoal mas é também um voto de

confiança ao qual quero retribuir com ainda mais paixão e com a minha

capacidade de trabalho.

Entendo que nós, os analistas, estamos a conquistar o nosso espaço e

que devemos ser cada vez mais participativos. Não podemos limitar-nos a

analisar e a cumprir com as tarefas solicitadas. Claro que para isto é necessário

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ampliar os recursos humanos nos departamentos de AJ. Mas entendo que,

reunindo essas condições, o analista deve expor o seu ponto de vista,

prescrevendo e ajudando o treinador a implementar as tarefas, com o objetivo

de garantir maior especificidade ao trabalho.

Quero deixar ainda um apelo para que se continue a estudar o jogo,

sempre a partir de uma perspetiva holística. Futebol será sempre futebol, a sua

lógica interna permanecerá, mas constatamos que as suas exigências são

alteradas com o passar dos anos. O jogo tornou-se mais rápido, o jogador de

futebol atualmente defende, ataca e compreende o jogo no seu todo, podendo

desempenhar várias missões táticas específicas.

Enquanto analista mas também formando na área do Treino Desportivo,

reforço a importância da observação e da AJ. Acredito que todos nós temos o

dever de contribuir positivamente para a evolução do jogo e para um aumento

da cultura desportiva daqueles que nos rodeiam, e que também são apaixonados

por este jogo. Na nossa perspetiva é importante conhecermo-nos enquanto

equipa, conhecer o adversário e conhecer a competição.

Se conheces o teu adversário como a ti, não receies uma centena de

batalhas. Se te conheces, mas não conheces o adversário, por cada vitória

sofrerás uma derrota. Se não te conheces a ti nem conheces o adversário,

sucumbirás a cada batalha. (Sun Tsu).

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Relatório de Estágio apresentado na Universidade de Lisboa, Faculdade

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ANEXOS

Calendário de Pré-época dos adversários

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Calendário da Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)

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Calendário Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)

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Grelha de sorteio –Taça CTT (Taça da Liga)

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Calendário de Pré-Época

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Exemplo de Microciclo

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Exemplo de Plano de Treino

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Exemplo de Plano de Treino

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração

caraterísticas dos adversários

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração

caraterísticas dos adversários (continuação)

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração

caraterísticas dos adversários (continuação)

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Organização – Jogo com o União da Madeira

Ida à Ilha da Madeira

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Filmagem do treino

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Exemplo de cortes de vídeo realizados com recurso ao software longomatch

(versão gratuita)

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Preparação da câmara e de todo o material necessário para a filmagem do jogo

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que

era apresentado ao plantel

Primeira imagem sobre a organização ofensiva e possibilidade de jogo interior

Segunda imagem acerca da organização defensiva, quando estavam

organizados num bloco médio – alto

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Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que

era apresentado ao plantel

Imagem ilustrativa da forma como o SL Benfica B realiza a pressão na saída

de bola da equipa adversária.

Contra um outro adversário, na sua organização defensiva, quando a bola

chegava a corredor lateral e quando a outra equipa tentava atacar a

profundidade, resultavam sempre imensos espaços para poderem ligar curto,

com jogo interior.