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Odair Afonso Rein A IRONIA NOS TEXTOS DE DIOGO MAINARDI, COLUNISTA DA REVISTA VEJA Trabalho de Conclusao de Curso apresentado ao Curso de Letras da Faculdade de Ciencias Humanas. Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Parana, como requisito parcial para obten~ao do grau de licenciatura Plena em Letras Portugues- EspanhoL Orientador; Sebastiao Louren!fo dos Santos Curitiba 2007

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Odair Afonso Rein

A IRONIA NOS TEXTOS DE DIOGO MAINARDI, COLUNISTA DAREVISTA VEJA

Trabalho de Conclusao de Curso apresentado aoCurso de Letras da Faculdade de CienciasHumanas. Letras e Artes da Universidade Tuiuti doParana, como requisito parcial para obten~ao dograu de licenciatura Plena em Letras Portugues-EspanhoLOrientador; Sebastiao Louren!fo dos Santos

Curitiba2007

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RESUMO

Segundo a teofia da relevancia para S8 entender uma ironia, tem-S8 que passar partres requisitos: 0 pensamento, 0 reconhecimento da fonte do enunclado, et par fim, aidentifica<;fjo pelo ouvinte. 0 objetivo deste trabalho e tentar provar que para seentender a ironia e necessaria, alem de Qutros, urn conhecimento de mundo. Assimeste trabalho tomara como exemplo alguns textos de Diogo Mainardi, colunista darevista Veja. A afirma<;fjocentral da Teona da Relevancia e a de que expectativas derelevancia sao precisas e previsiveis 0 5uficiente para guiar 0 Quvinte na direyao dofalante.

Palavra-chave: pragmatica, comunica~o, teoria da relevancia.

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SUMARIO

1 INTRODU!;AO .. . 09

2 FUNDAMENTA!;AO TEORICA 11

2.1 SOCRATES, CONCEITO DE IRONIA ... .. 11

2.2 TEORIAS PRAGMATICAS .. .. ..14

2.2.1 PRINCiPIO DE COOPERA!;Ao E AS MAxIMAS CONVERSACIONAIS 14

2.2.2 IMPLICATURAS CONVERSACIONAIS ..

2.2.3 MAxIMAS CONVERSACIONAIS ..

2.2.4 A VIOLA!;Ao DAS MAxIMAS ..

2.3 INTENCIONALIDADE .

2.4 STEPHEN LEVINSON .

...15

. 18

.. 19

.. .23

. 25

2.5 A PRAGMATICA COGNITIVISTA DE SPERBER & WILSON - TEO RIA DA

RELEVANCIA. ..

3 A IRONIA NOS TEXTOS JORNALiSTICOS ..

.. 29

.. 36

4 ANALISE DAS COLUNAS DE DIOGO MAINARDI NA REVISTA VEJA 39

4.1 0 GHANDHI DO DORMONID . ..41

4.2 HElL, HOMER! .

4.3 PARA GIL, AQUELE ABRA!;O ...

4.4 E AINDA FAZEM CARNAVAL? ..

4.5 AS RESPOSTAS DA IGREJA ..

5 GENEALOGIA DA PRAGMATICA ..

6 CONCLusAo ..

REFERENCIAS ..

. .45

.. .48

. 50

.. ..54

.. 57

.. 58

. 59

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1. INTRODUi;AO

A motivay2lo para a realizay<3o deste trabalho esta relacionada ao interesse

pela forma como 0 procedimento ir6nico multi plica suas faces e suas funyoes,

configurando diversas estrategias de compreensao e representay<3o do mundo. No

presente estudo pretendemos demonstrar que a interpretatyao da ironia depende,

al8m do conhecimento de mundo, das inferemcias realizadas pelo interlocutor. Nossa

objetivo e retletir sabre a processamento linguistico da ironia, como manifestayao de

linguagem, tomando como vies pragmatico os Postulados do fil6sofo americana

Herbert Paul Grice (1975) e a Teoria da Relevancia de Sperber & Wilson (1986). Para

tanto, dividimos a estudo em duas partes, sendo a primeira uma leitura dos teoricos

da pragmatica como Grice, para quem 0 principia basico que rege a comunicagc31a

humana e 0 Principio de Cooperagc31o ("seja cooperativo"), ou seja, quando duas

pessoas se propoem interagir verbalmente, elas irao cooperar da melhor maneira

para que haja uma interlocugc31o. Tal principio subsume quatro maximas que vieram a

se chamar de Maxirnas Conversacionais e Sperber & Wilson (Teo ria da Relevancia),

cuja teoria abordada e baseada em outra afirmac;ao central de Grice: a de que os

enunciados criarn autornaticarnente expectativas que guiam 0 interlocutor na diregao

do significado do locutor, tendo como objetivo explicar em termos cognitivamente

realisticos a que essas expectativas equivalem e como elas podem contribuir para

urna abordagem empiricamente plausivel de compreensao; e conta tam bern uma

n;pida passagem por Levinson (2000) que faz uma releitura da teo ria de Grice. Na

segunda parte do estudo serao aplicadas as teorias estudadas nos textos de Diogo

Mainardi, colunista da revista Veja.

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Este trabalho tem por objetivo analisar a ironia dentro dos textos de Mainardi

sob a 6tica da pragmatica cognitiva, e nao ser um critico de seus textes.

Tambem optamos por usar os termos locutor (para falante, enunciador, leitor)

e interlocutor (para ouvinte, destinatario), por acharmos que esses termos sao mais

abrangentes e nao tendem a confundir 0 locutor no momento da leitura.

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II

2. FUNDAMENTA~AO TE6RICA

2.1 S6CRATES, CONCEITO DE IRONIA

S6crates, nos dialogos platonicos, diz que seu destino era investigar, ja que

a unica verdade que detinha era a certeza de que nada sabia. Interrogava para

saber e, empenhado nessa tarefa, nao raro surpreendia as pessoas em

contradi90es, resultantes de cren98s aceitas de modo dogmatica, de pretensas

verdades admitidas sem critica.

o termo ironia e criado par Socrates quando interrogava as homens em uma

pra98 publica, ou seja, e nesse momento que S8 cria urn metodo de reflexao que fo;

denominado como ironia.

A ironia criada par Socrates au ironia socrl3tica tinha que ser acompanhada

da maieutica, isto e, 0 metoda socratico constitui-se de duas partes: a primeira

mostrava as Iimites, as falhas, as preconceitos do pensamento comum; a segunda

iniciava-se no processo de busca da verdadeira sabedoria. Para S6crates, as

pessoas traziam dentro de si verdades, as quais os ironistas, ao reduzirem

exercicios de desconstru~o e da negatividade deveriam ajudar as pessoas a

trazerem essas verdades. Com a ironia, ao trazer a tona os limites dos argumentos

comuns, ao mostrar as contradi¢es ocultas na ordem comumente aceita, ao revelar,

ao abalar as certezas que fundavam 0 cotidiano, S6crates convida ao fiJosofar como

um processo met6dico de elabora~o de novas saberes.

S6crates proclama que ele nao sabe nada, e esta e sua maneira de trazera luz 0 que ele sabe e 0 que ja sabiam as pessoas honestas a sua volta,{hora, pessoas honestas, acreditam saber tudo e €I preciso ironizar urnpouco delas para confronta-Ias entre si e ensinar-Ihes que elas 56 tinhamopini6es contradit6lias, cuja verdade devia extrair-se do que tivesseverdade!. (LEFEBVRE. 1969, P.14).

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Sendo assim, poder-se-a dizer que a ironia de Socrates e uma rela~o

distante, mas verdadeira, que exprime este dado fundamental de que cada urn,

sendo inelutavelmente ele pr6prio, no entanto S8 reconhece no Dutro, e procura

desligar um do outro pela liberdade.

E essencial ao ir6nico jamais enunciar a ideia como tal, mas apenas sugeri-

la fugazmente, e tamar com uma das maDS 0 que e dado com a Dutra, e possuir a

ideia como propriedade pessoal, a rela9ao naturalmente se torna ainda mais

excitante.

o irOnico e aquele vampiro que 5uga 0 sangue do amante. e dando-Iheurna sensacao de frescor com 0 abandonar de suas asas, acalanta·Q ate 0sono chegar e 0 atonnenta com sonhos inquietos (Kierkegaard.2005. p.51).

Oesde a apoea socratica, a ironia tern aD alcance da logica que, como

recurso met6dico, tenta par uma parte, como a critica kantiana, estabelecer os

Iimites da pr6pria razao e por outro lado, reconhece nesta uma tendencia excess iva

ao estilo nobre, 0 que deve ser corrigido antes de comeyar a filosofar. A razao

ir6nica tenta estabelecer as condi90es de possibilidade que determinam a fronteira

do conhecimento alcanc;aveJ e termina normalmente na desconstruc;ao e

fragmentayiio do pensar.

A ironia, alem de revelar uma debilidade atraves da constitui98,o de um

discurso, detem um processo que poderia conduzir a uma circula~o infinita, como

ocorre normalmente no interlocutor de Socrates. Porem, a ironia significa, todavia

algo mais, sup6e a renuncia de todo poder exercido desde a palavra, porque mostra

a palavra em sua precariedade, neste sentido, como se pode ver claramente em

Socrates, e um antidoto radical contra toda a sofistica. No entanto, a ironia nao e

pouco poderosa, 0 que ocorre e que com seu poder ela coloca em evidencia uma

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forma de dominic que mascara embaixo da apanancia como uma arte de ilusionista.

A armadilha fundamental que tem as palavras apoia-se em sua pretensao de

substituir 0 real a ponto de constitui-Ia. (Ochoa, 2003).

A ironia tenta romper desde dentro a rede que as palavras teeem, de modo a

traze-Ias transparentes.

Como sustenta Schlegel (1997, apud, Ochoa, 2003), "a ironia socratica e a

unica dissimulac;ao inteiramente involuntaria e, ademais, inteiramente lucida. Fingi-Ia

e tao impassivel quanta reve-Ia. Para quem nao a passui, permanece urn enigma.

Nao S8 deve enganar nada, a nao ser aqueles que a tomam par mentira au alegram-

se pela grandeza de divertir-se com todo mundo, ou aqueles que se encontram

loucos quando pressentem que estao tambem sendo apontados, nela tudo deve ser

enrolac;ao e tudo deve ser serio: toda a sinceridade aberta e tudo profundamente

dissimulado".(apud, Ochoa, 2003).

Seja a ironia posta QU descoberta nao significa, porem sua desarticula~o

nem a anulac;ao de seus efeitos, porque de igual modo obriga sua vitima a iludi-Ia

fazendo-se involuntariamente cumplice da logica, particularmente se a ironia tern,

como e 0 caso publico. Porem Socrates tambem usa a ironia como parte da mesma

argumentac;ao.(Ochoa, 2003).

As palavras, porem, escondem a ironia porque sempre e necessaria mente

escondem urn equlvoco, dizem mais do que dizem. ou seja. a ironia mostra a

palavra em uma fung80 contra ria do que seria a sua propria. Socrates, em sua

taxonomia da sofistica, sustenta que esta seria uma arte criativa de imagens

aparentes. Iniciativa. sem saber, que ironiza em particular Ue com breves perguntas,

obrigando ao seu interlocutor que se contradiga consigo·. (Platon, Sofista, apud,

Ochoa, 2003).

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2.2 TEORIAS PRAGMATICAS

2.2.1 PRINCiPIO DE COOPERACAO E AS MAxIMAS CONVERSACIONAIS

Os primeiros textos importantes do lilosolo Herbert Paul Grice surgiram em

1956 e 1957. "Meaning" (1957) tomou conhecida a sua teoria da comunicayao

atraves dos conceitos de significac;aonatural e nao natural tao decisivDS na origem

dos trabalhos sobre pragmatica. FOi, entretanto, com seu artigo "Logic and

conversation", apresentado nas confen3ncias realizadas pela Universidade de

Harvard em 1967, em homenagem a Willian James, que Grice provocou um dos

grandes impactos teoricos na historia das pesquisas sobre pragmatica. Publicado

em 1975, esse texto, de menos de vinte paginas, apresenta um sistema conceitual

extremamente eficaz para a tratamento das complexas quest6es que envolvem 0

problema da significayao nilo natural.

Conlorme ja havia demonstrado em "Meaning", a preocupayao central de

Grice era encontrar urna forma de descrever e explicar as efeitos de sentido que VaG

alem do que e dito. Em ultima analise, como e possivel que um enunciado signifique

mais do que literalmente expresso. Deve haver algum tipo de regra que permita a

um locutor (A) transmitir alga alem da Irase a um interlocutor (8) e este entender

esta informac;aoextra.

A caminhada de Grice consiste em caracterizar a etica da comunicac;ao que

esta par tn:llsda dinamica das tracas verbais. Ela define 0 primeiro esquema de urna

critica da razao comunicacional. Grice nos leva a observar que, ao lado daquilo que

urn conjunto de enunciados permite significar em virtude de conven90es IingOfsticas,

e necessario prestar atenyao a um outro plano de significayao obtido por

mecanismos semanticos ligados ao contexto. Nos dois casos, entretanto, 0

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destinatario desenvolve um calculo semantico ligado a realizagao de uma infer€lncia:

no primeiro case sle efetua imp!icay6es convencionais, no segundo, implicac;6es

conversacionais.

Assim sendo, para Grice a comunica~o 56 e passivel porque seus

protagonistas aderem tacitamente a urn principia de cooperayao, ou seja, porque

esses interlocutores cooperam urn com 0 Dutro. De urn lado uma troca verbal naD S8

reduz a "uma seqOencia de marcas desconexasn, pDr Dutro, cada participante

reconhece "um objetivo comum". A definigao desse principio diz que uma

contribuir;ao conversacional tern que corresponder aquila que e exigido de voce,

aquilo que e esperado, pelo objetivo ou a diregao aceita da troca verbal na qual voce

esta engajado.

Grice entaD propoe, inicialmente, urn exemplo que S8 tornou classico: Pedro

e Joao estao conversando sobre Alberto. Pedro pergunta a Joao sobre a situagao de

Alberto no seu emprego. Joao responde: "Oh! Muito bem, eu acho; ele gosta de

seus colegas e ainda nao foi preso". Um dialogo desse tipo, observa Grice,

possibilita perceber claramente que ha duas formas de significa9ao distintas. A

resposta de Joao diz que Alberto esta bem e ainda nao foi preso, porem implica ou

sugere que isso pudesse ter acontecido, tendo em vista que Alberto e 0 tipo de

pessoa que pode ceder as pressoes do seu trabalho e fazer algo que 0 leve a

prisao.

2.2,2IMPLICATURAS CONVERSACIONAIS

E a partir do contexto vista anteriormente que Grice introduz os termos

tecnicos implicitar (implicate), implicatura (implicature) e implicado (implicatum). Seu

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abjetivo e organizar ao redor deles urn sistema explicativo dessa significar;ao que

Pedro e Joao podem entender, mas que, efetivamente, naD foi dita. E importante

ressaltar, aqui, que Grice usa "dito" como significado expresso pelo enunciado em

termos literais, au em outras palavras, como a proposic;aoem seu valor semantico.

Para interpretarmos uma ironia ou metafora, par exemplo, e necessario

recorrer a processos mentais (Santos, 2007). Tanto Grice (1975), como Levinson

(2000) e Sperber & Wilson (1986) ja previam que a interpreta9iio de um enunciado

passa pelas implicaturas conversacionais, ou seja, para entendermos 0 significado

de urnenunciado WX" temas que fazer inferencias.

As infer~ncias sao processos mentais de decodificac;:ao (reconhecimento.analise indutiva e dedutiva, pressuposic;:ao, processamento, validaCiio econclusAo) de uma palavra e/ou enullciado, em um contexto. Para asaulares, as inferlmcias seriam processos mentais respons3veis peloreconhecimenlo e validayao do significado das coisas do mundo. ( Santos,2007).

Implicatura convencional eo que esta preso ao significado convencional das

palavras e a Implicatura Conversacional e a que nao depende da significa9iio usual,

sendo determinada por alguns principios basicos do ato comunicativo.

inicialmente vamos examinar a implicatura convencional tal como foi

estabelecida, considerando os enunciados abaixo:

(1) "Roberto e trabalhador, contudo, e pobre."

(2) "Fernando e carioca, portanto, nao e um homem serio."

No enunciado (1), esta dito que Roberto e trabalhador e que e pobre, mas

nao esta dito que, sendo trabalhador, neo devesse ser pobre. Isso esta implicado

atraves do significado convencional das palavras e, no caso, indicado atraves da

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conjunyao "contudo". No exemplo (2) ocorre a mesma coisa, "Femando e carioca" e

MFemando nao e urn homem serion e a dito. Ha, entretanto, uma implicatura

convencional a partir da indicayao feita pelo conectivD "portanto" de que 0 carioca

nao e serio e isso nao foi realmente dito. Como S9 pode concluir dos exemplos

dados (1) e (2), a implicalura convencional decorre da propria for"" significativa das

palavras, sendo, par isse, intufda pelos interlocutores sem maiores dificuldades. 0

conceito de implicatura conversacional, porem, e a centro das atenc;oes de Grice no

seu artigo classico e mesmo em trabalhos posteriores.

Antes, porem, de S9 analisar 0 conceito de implicatura conversacional, epreciso que se fa"" urn breve comenlario sobre a Teoria da comunicayao de Grice.

Para ele, quando dois individuos estao dialogando, existem leis implicitas que

governam 0 ato comunicativD. IS50 significa que, mesma inconscientemente, os

interlocutores trabalham a mensagem lingOistica de acordo com certas normas

comuns que caracterizam um sistema cooperativo entre eles, para que as

informag6es possam ser trocadas 0 mais univocamente possive!. Grice chama a

esse conjunlo de regras de "Principio de Cooperayao" (PC). Nao e possivel, nem

imaginavel, segundo ele, que um ato comunicativo pudesse ser total mente livre, a

ponto de locutor e interlocutor perderem 0 controle do proprio jogo. Ao contra rio, as

regras do ate comunicativo talvez tenham sido aprendidas concomitantemente aaquisiyao da lingua, de lal forma que urn locutor na ayao das regras do jogo

comunicacional a que esta submetido. Nao e por oulra razao, que se fala muito hoje,

numa teoria de competencia comunicativa. As implicaturas conversacionais podem

ser previstas por urn principio de cooperat;:aD entre os interlocutores. Este principio

possui regras que tomam claro 0 acordo mutuo existente entre os participanles de

uma conversat;:ao.

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Esse principia deve ser aplicado em situa¢es de comunicat;ao bern

especificas, naa devendo ser tornado de uma mane ira muito ampla e nem associ ado

a uma linguagem ideal, ut6pica etc. E nesse acordo de comunicayao linguistica que

naD S9 manifesta claramente que Grice identifica como sendo a cooperac;ao entre

locutor e interlocutor. Para Grice dois locutores sempre serao cooperativos no

sentido de que a contribuiyao sera adequada a conversayao e a seus objetivos. Eo

comum que haja urn principia de economia, au seja, urn ato de comunicac;ao sem

esforyo.

Grice afirma que S9 houver conftito de uma ma.xima sabre a outra pode

entao haver predominimcia de uma delas. Tambem segundo ele, pode ocorrer que 0

locutor infrinja intencionalmente uma das maximas, entaD fica para 0 interlocutor

fazer urn calculo para descobrir a motivo da desobedi€mcia: tem-S9 af uma

implicatura conversacional.

Nesse sentido, Grice, retomando uma formulayao Kantiana, sistematiza 0

seu "principiode cooperayaonatraves de quatro categorias fundamentais articuladas

as maximas conversacionais, como expostas abaixo:

2.2.3 MAxIMAS CONVERSACIONAIS

Maxima da Qualidade: (sinceridade)

Nao afirme aquilo que voce nao acredita que seja verdadeiro, tente

fazer da sua contribuiyao uma verdade.

Nao afirme aquilo que voce nao pode provar.

Maxima da Quantidade

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Sua contribuic;ao deve conter a quantidade de informac;ao necessaria

(informatividade), ou seja, nao diga nem mais nem menos do que 0

necessaria.

Maxima da Relac;ao(Relevancia ou Pertinimcia)

Diga somente 0 que e relevante.

Maxima da Modalidade (Modo)

Nao S8 expresse de maneira obscura;

Nao S8 expresse de maneira ambigua;

Seja breve e seja ordenado.

Embora possa haver regras, ainda, como a da polidez, por exemplo no

circuito da comunicayao, Grice deixa enlender que as quatros maximas citadas sao

suficientes para explicar 0 fen6meno da implicatura conversacional. Hi! tres

situa¢es diversas em que as implicaturas podem ser produzidas, tendo em vista a

relayao entre 0$ interlocutores mediante 0 principia da cooperayao.

2.2.4 A VIOLAyAO DAS MAxIMAS

I- Nenhuma maxima e violada

1.a (JOBO) - Eslou com dor-de-<;abe~.

1.b (Pedro) - Hi! uma farmi!cia nesta rua.

Mesma que aparentemente 0 exemplo apresente a quebra de uma maxima

como a da relevancia au de uma supermaxima como a da clareza, ainda assim, nao

ha motivos para se afirmar que (pedro) violou 0 principio da cooperac;ao. Ao

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contrario, (Joao) podera deduzir a implicatura conversacional exatamente por

compreender que (Pedro) esta respeitando as regras do dialogo.

No exemplo acima (Joao) deduz que (Pedro) diz haver uma farmacia na rua

porque quer implicar que ela deve estar aberta e tenha remedios que possam ser

adquiridos por (Joao) para que seu problema seja resolvido.

Outro exemplo em que ocorre 0 mesma, par exemplo e:

2.a (Jose) - Estou com fome

2.b (Maria) - Tern uma lanchonete aqui perto.

Note que 0 exemplo dado tern as mesmas caracteristicas que 0 primeiro, au

seja, sao situa90es que acontecem em nosso dia-a-dia e nem percebemos au nos

dames conta de todo 0 processo mental que envolve urn simples dialogo.

" - Uma maxima e vialada para que Dutra naD 0 seja

Este casa, supoe-se que a ma.xima preservada seja mais relevante que a

abandonada.

3.a (Pedro) - Que horas sao?

3.b (Maria) - Ja e tarde.

Neste exemplo e bastante comum e os interlocutores de urn dialogo como

esse sabem perfeitamente 0 que (Maria) est'; dizendo e implicando. A pergunta de

(Pedro) requer uma resposta exata, a hora certa. Sabe-se, entretanto, que e muito

freqOente que (Maria), nao tendo condi,.oes de dar a informa9iio exigida, ofereya

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alguma satisfayao a pergunta, embora de forma vaga. (Pedro) entende

perfeitamente que (Maria) esta dizendo que e tarde e implicando que nao pode,

honestamente, dar uma resposta certa e exata para (Pedro), mas assim mesmo,

esta atento a mensagem e posicionando-se diante dela.

III - Violagao de uma maxima para obler implicalura conversacional.

4.a (Mario) - 0 que voce acha do govemo militar?

4.b (Carlos) - Democnltico demais.

Este exemplo evidencia 0 que costumeiramente S8 entende par ironia.

(MariO) e (Carlos) sabem que a grande acusayao feita aos governos militares e 0

fata de naD serem eleitos pelo pav~, na maioria dos casas, e tambem impedirem as

elei90es diretas. Nesse sentido, a resposta de (Carlos) e francamente ironica,

afirmando algo em que ele nao acredita, para implicar que, ao contrario do que se

diz, acusa 0 governo de antidemocratico.

Como 0 proprio Grice observa, e passlvel, muitas vezes. misturar a

metafora com a ironia, atendendo-se duplamente contra a maxima da qualidade.

Como e 0 caso de urn enunciado do tipo "0 nordeste e 0 paraiso dos que

trabalham".

Pareee evidente que a quebra de maximas que caracterizam a ironia,

provoca quase sempre implicaturas conversacionais particularizadas, tendo em vista

a dependencia do contexte que a ironia possui. Se Pedro diz que Joao e urn genio,

isso s6 pode ser ironico para Jose, num contexto onde Joao seja urn idiota, por

exemplo.

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Neste casa, Grice observa que as maximas, pelo menes aparentemente,

naD estao violadas. 0 que sle quer dizer e que naD ficou claro no texlo original e que

Pedro e Jose em dialogo, nao estao considerando nenhuma implicatura por

viola,ao. Antes, e 0 respeito ao Principio de Coopera,ao que esta gerando

significa¢es extralingOisticas.

Mais do que em seus limites, 0 modele de Grice deve ser avaliado em seus

aspectos descritivo e explicativo.Grice insiste sobre 0 fato de que, em situa,ao de

comunica~o, nenhum sujeito S8 comporta estritamente as regras. A dinamica

comunicacional repousa, de alguma maneira, sabre 0 acaso, islo at sabre sua

explora,ao maisou menosadequada.E ao carater somenteprovavel da imporlancia

que cada um Ihe atribui que se reconhece seu valor regulador. Sua latitude de

emprego e consideravel: a metafora, a ironia, sao alguns efeitos discursivos que

resultam da transgressao parcial, inconsciente au deliberada, dessas categorias.

o que Grice pretendeu, alias, foi demonstrar que as passiveis divergencias

entre a linguagem natural e a formal devern-se a fen6menos que sua teoria poderia

perfeitamenteexplicar.

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2.3 INTENCIONALIDADE

Segundo Oliveira (1999). em uma perspectiva pragmatica. 0 Sujeito pode

ser descrito como uma rede de crenyas e desejos e as termos subjetivos podem ser

descritos em termos de inten~ao.0 locutor e concebido como detentor de urn

Usaber" em relayao a lingua e as circunstancias de usa dessa ferramenta. Para

Possenti (1996. p. 76), "0 locutor sabe 0 que esta acontecendo quando participa de

urn evento discursivo e tern, ao participar dele, intem;oes que busca tarnar

conhecidas e objetivos que busca coneretizar". Ac;:oes individuais exprimem inten~o,

assim como as desejos, sao sempre aeerca de alguma coisa (visam sempre alterar

estados mentais do proprio sujeito). Freire-Costa (1994, p. 24) chama a aten.,ao

para as fen6menos intencionais, que naD dependem de uma rela~o causa-efeito,

mas possuem "motivos" que fazem entende-Ios. leis motivos estao interligados na

rede de crenc;ase desejos, porem nem sempre sao identificaveis. (apud. Oliveira,

1999).

Uma no,ao de trabalho para 0 termo "ironia" envolve a ado.,ao de tres

constantes, segundo Oliveira (1995):

a) lodas as ironias sao intencionais, ou seja, propositalmente elaboradas

para serem captadas pelo interlocutor; tal hip6tese para 0 lato das

ironias serem intencionais repousa no planejamento, que nao ealeatoria Oliveira (1995, p. 100);

b) todas as ironias sao disfan;adas, ou seja, nao sao explicitas;

c) todas as ironias constituem julgamento, avalia,oes, ou seja, 0 que n6s

chamarnos de uso ironico e urn juizo de valor acerca do interlocutor.

Grice (1975) afirma: nao podemos dizer alguma coisa ironicamente a

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menos que isto refiita em uma hostilidade, um julgamento depreciativo

au urn sentimento como a indignayao au 0 desprezo. Porem convem

observar que ha casas em que 0 locutor, intencionalmente, usa 0

discurso ir6nico para elogiar a interlocutor, alguem, ou uma

determinada situagao.

Nos casos usuais de ironia, 0 locutor diz:" X" para significar "-X" (nao X).

Segundo Oliveira (1995), 0 controle da intencionalidade comunicativa

envolve situa90es que devem ser compartilhadas entre os participantes da interagao,

tais como:

a) elementos linguisticos: 0 sujeito ir6nico e sua audif!ncia (interlocutores)

devem compartilhar 0 mesma c6digo, sendo este formal au informal.

Podendo haver 0 emprego de termos regionais tipicos, deve existir a

preocupac;ao quanta ao lexica, S8 este e compativel com 0 usa des

referidos termos;

b) conhecimento de mundo, pais S8 nao existir correspondencia entre as

conhecimentos ativados e 0 conhecimento de mundo do interlocutor,

as inferencias levantadas serao dispares (conflitantes). Lembrando que

inferE!nciassao processos mentais de decodificayao e sao necessarias

para suprir lacunas que representam descontinuidade de sentido.

c~ fatores pragmaticos: como a situacionalidade, a qual se refere ao

conjunto de fatores que tornam uma mensagem relevante para dada

situat;ao de comunicat;ao; pois em uma traca comunicativa as pessoas

envalvidas iraQ focalizar a sua atent;ao naquilo que conhecem au

pensam conhecer.

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2S

2.4 STEPHEN LEVINSON

Levinson destaca algumas propriedades ao introduzir seu conceito a noc;:ao

de implicatura conversacional, sistematizando seu alcance te6neD. Ele as destaca da

seguinte maneira:

a) Capacidade de explana~iio pragmalica para fenomenos lingilislicos:

Aqui ele S8 refere, ao fata de que 0 conceito de implicatura conversacional

permite explicar a rela~o entre fen6menos lingOisticose regras de convers898o.

Como por exemplo:

1.a (Pedro) - Voce gosta de lutebol?

1.b (Carlos) - No domingo, nao tiro 0 radio do ouvido.

E atraves do conceito de implicatura conversacional que entendemos como

(Pedro) compreende (Carlos), embora 0 enunciado de (Carlos) pare~ lugir da

pergunta de (Pedro).

b) Capacidade de explicar como urn enunciado significa mais do que aquilo

que efetivamente diz:

A no~o de implicatura conversacional e capaz de lomecer uma explica~o

para 0 lato de que 0 locutor transmite algo para 0 interlocutor alem do que

contem 0 sentido convencional das palavras de seu enunciado. Como par

exemplo:

2.a (Mario) - Voce gosta de sorvete?

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2.b (Ana) - Eu tomo todos as dias.

(Ana) "responde" que toma todos as dias a (Carlos), e sua resposta, em

relac;aoa pergunta de (Carlos), implica que seu "sim" e 6bvio. Ja que (Carlos) deve

saber que todos que gostam de sorvete a tomam.

c) Capacidade de simplificar a estrutura e 0 conteudo das descri~oes

semanticas:

Aqui 0 conceito de implicatura pade ser utilizado para evitar que a

semantica tenha que admitir a proliferac;ao de sentidos para itens lexicais cuja

significac;ao muda com 0 contexto. 0 conetivQ "e" serve como born exemplo. Nas

frases:

3.8 Jose sacou do revolver e atirou em Maria.

3.b Jose e brasileiro e trabalha nurn banco.

o conectivo "eOapresenta urn comportamento diferente:

o primeiro "eHdo exemplo e iguaJau correspondente a "e entaD"

Ja 0 segundo "e" equivale a urna soma.

Na primeira frase, 0 conectivD "e" significa "e entaD", au seja, determina a

sequencia na ordem dada. Nao seria possivel Jose atirou em Maria e sacou a

revolver. Na segunda, a "e" tern significado do conectivo 16gico.

Considerando-se 0 conceito de implicatura, naD hit necessidade de S8

enumerar em todos as sentidos de urn item, nem mesma de S8 admitir que a lingua

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e urn jogo em que cada enunciado determina uma situac;ao semantica. Poder-se-ia

tratar 0 problema em termos de um sentido basieo e um eonjunto de implicaturas.

a) Capacidade de explicar os mecanismos pragmaticos que surgem pelo uso

de particulas com "bern", "mesma", "ate"...

a) Ate a polieia fugiu.

Aqui a partieula "ate" implica que "outros fugiram" e que "a polieia seria a

ultima a fugir".

b) Capacidade de explicar contradi~oes e tautologias.

a) Pedro trabalhou toda tarde mas eu nao sei se ele trabalhou.

b) Animais sao animais.

A frase (a) pareee ser contradit6ria a medida que, se eu afirmo que Pedro

trabalhou toda a tarde e porque eu sei que ele trabalhou toda a tarde e, portanto, eu

naD posso afirmar, ao mesma tempo, que naD seL Ocerre, porem que eu posso estar

implicando que eonsta que ele trabalhou, mas eu ainda estou em duvida, tendo em

vista a raridade do fato. Em (b) eu afirmo uma tautologia para implicar que os

animals 113mpropriedades tipicas que devem ser vistas como surpreendentes.

o texto de Levinson naD apresenta propostas te6ricas novas sobre

implicaturas. Seu merito consiste em ser bastante detalhado nao s6 na explica9ao

da teoria original bern como na referencia feita a lodos as outros textos sabre a

teoria de Grice que podem ter maior signifiea9iio. Sua eontribui9iio mais original e a

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aplicac;ao do modele griceano na analise da metafora como urn casa de extrema

explora~o au quebra de maxima.

Levinson atribui as implicaturas 0 poder de explicar a que e significado a

mais do que e real mente dito, isto e:umais do que e literalmente expresso pelo sentido conversacional da

expressao linguistica enunciada", (LEVINSON p.97).

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2.5 A PRAGMATICA COGNITIVISTA DE SPERBER & WILSON - TEO RIA DA

RELEVANCIA

A partir de uma releitura de Grice (1967 11975), Sperber & Wilson (1986)

propoe uma teoria da interpreta,ao dos enunciados, e tentam explicar a ironia dentro

da teoria da pertinencia.

A aplica9iio do principia diz respeito, de fato, tanto ao locutor que produz um

enunciado, quanta ao interlocutor que e for9Bdo a produzir uma interpreta9iio desse

mesmo enunciado (verbal au nao), E apreciada sob dais pianos distintos mas

complementares: ponto de vista do locutor (sao as probabilidades de ser

reconhecido, tendo em conta as elementos pragmaticos), e do ponto de vista do

interlocutor do enunciado, que 0 vai interpretar par meio de esforr;os cognitivos

(esfon;os mentais) mais ou menes rigorosos.

Entao podemos resumir assim: temas urn interlocutor cuja missao erecuperar 0 pensamento do locutor, suas inferencias e descobrir as intent;oes

comunicativas e informativas, au seja, recuperar a que 0 locutor quis comunicar a

partir do que sle realmente comunicou.

Entre 0 que e dito com palavras (significado do enunciado) e 0 que

real mente se quer dizer (significado do locutor) existe uma diferen9B de significado

que 0 interlocutor tern que recuperar. Grice foi 0 primeiro a propor como se

produziria esta recuperac;ao, atravss do Princfpio de Coopera~ao e de suas maximas

conversacionais, ja citados acima.

Com 0 Princfpio de Cooperac;ao de Grice 0 interlocutor interpreta

literal mente os enunciados, porsm infere novas informay6es de acordo com seu

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conhecimento de mundo, cren~s, cultura, etc, ao ver par exemplo enunciados

falsos. Entao temos:

Enunciado sdo. Literal sdo.ironico

Podemos perceber no quadro acima que de acordo com os Principios de

Grice 0 interlocutor primeiro interpreta literal mente, e 56 depois ira fazer a inferencia;

trata-se de uma explica<;ilotradicional.

Sob 0 vies do Principio de Relevancia, a ironia nao esta na linguagem,

porque a ela interessa apenas 0 interlocutor, portanto ela reside na interpreta<;ilo.

Segundo Torres Sanchez (1999), para entendermos a ironia sao necessarios tres

requisitos: reconhecer que urn enunciado retlete Dutro enunciado, par exempla, 0

pensamento; reconhecer qual e a fonte do enunciado; e par fim que 0 interlocutor

deve identificar que 0 locutor S8 distancia da formularyao inicial, ou seja, manifesta

uma atitude dissociativa. Nesse sentido nao e necessaria passar pelo significado

literal, pois para os relevanticistas a ironia e uma questao de interpreta<;ilo. Sendo

assim temas:

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Enunciado sdo.ironico

A t80ria da pertinencia desenvolve uma concepyao da inferencia pragmatica

que nao depende nem do principio de cooperayao (PC), nem de nenhuma das

eategorias de comunieayao definidas por Grice.

Por exemplo, se temos a seguinte troea verbal entre dois falantes que

partilham de uma mesma situayao, conhecida par ambos.

1.a (A) - Diga, papai, 0 que faremos esta tarde?

1.b (8) - Escuta, eu preciso consertar a bicicleta..

1.c (C) - Ah, que born!

Tal inferencia realizada pela crian"" constitui uma impJiea9ao

conversacional, no sentido de Grice, mas ela e, antes de tudo, resultado da busca

de pertinencia que a crianya faz no enunciado de seu paL Nessa perspectiva, trata-

se rnais especifieamente de uma impJieayaocontextual. A regra de pertinencia pode

ser formulada da seguinte maneira: quanta mais efeito cognitiv~ de urn enunciado eimportante, tanto mais 0 enunciado e pertinente, e inversamente, quanta maior 0

esfor90 cognitiv~ dispensado pelo interlocutor para interpretar 0 enunciado, tanto

menos 0 enunciado produzido pelo locutor pode ser tido como pertinente,

Na ironia naD ha limites para enunciados ir6nicos au naD ir6nicos.

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Graciela Reyes (1992: 31) afirma que a ironia se da quando em uma dada

situa~o repeta-s8 uma frasa que serve para Dutra situayao, comec;ando assim duas

eaisas par vez: a mesma situac;ao e a linguagem com que falamos da realidade.

Isto pode ter como conseqO{mcia que em algumas situayoes nao se

compreenda urn enunciado como ironico. Per exemplo, suponhamos que em

uma festa de aniversario urn jovem diga ironicamente: Este bolo esta uma delicia,

e passivel que alguem nao perceba a ironia, porque pense que 0 jovem naD pode

ser tao grosseiro ou que ele mesmo considere 0 bolo delicioso.

Poderiamos fazer a seguinte pergunta: par que as falantes utilizam a ironia,

e teriamos como uma das passiveis respostas, que a ironia serve para eximir 0

falante de fazer afirmayoes categoricas que 0 comprometam. Em qualquer caso,

a ironia, como mantem Graciela Reyes (2002 2 a: 99).

~esun recul'Somuy rentable, y no un procedimiento engorroso·,

Na teoria da relevancia de Sperber & Wilson a interayiio ocorre porque 0

locutor vai orientando 0 interlocutor ate uma finalizayiio da historia ou do fato.

Esta orientayao mais as inferencias feitas pelo interlocutor sao chamadas pel a

leoria da Relevancia, de "comunicayiio ostensivo-inferencial", a qual e regida

pelo Principio da Relevancia. (apud, Santos, 2007).

Esta abordagem ilumina alguns casos onde um comunicador retem

informayiio relevante, e que parece apresentar problemas para Grice. Por

exemplo, vamos supor que eu fac;:auma questao a voce e voce permanec;a em

sil€mcio. Tal silencio, nessas circunstancias, pode au nao ser um estimulo

ostensivo. Quando ele nao 0 e, nos naturalmente 0 tornamos como indicado que

o interlocutor nao foi capaz de ou nao esta disposto a responder. Se voce esta

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disposto a responder, eu devo concluir que nao esta disposto; se voce e capaz

de responder, eu devo concluir que voce nao esta disposto. Quando 0 sill~ncio e

ostensivD, n6s seriamos capazes de analisa-Io como envolvendo meramente urn

nivel extra de intenIYBo, e com issa, como comunicando au implicando que 0

interlocutor e incapaz de au esta indisposto a responder. Na abordagem de

Grice, a violayilo da primeira maxima de Quantidade (Faga sua contribuiyilo tao

informativa como requerida) e invariavelmente atribuida a inabilidade do

comunicadof, antes que disposiyao, em fornecer a informaryao requerida.

Indisposigao para fazer uma contribuigao tal como requerida, e a violayilo do

Principio de Cooperayilo, e a suspensiio do Principio de Cooperagao torna

impassivel transmitir qualquer implicatura conversacional.

Esta perspectiva teorica da relevancia para a cogniyao e a comunicayao

tem implicagoes praticas para a Pragmatica. A compreensao "verbal" comega

com a recuperayilo de um significado da sentenga codificado lingOisticamente,

que pode ser enriquecido contextualmente em uma variedade de formas para

gerar a significado pleno do locutor. Pode haver ambigOidades referenciais para

resolver, elipses para interpretar, implicaturas para identificar, metaforas, ironias

para interpretar. Tudo issa requer urn conjunto apropriado de suposiy6es

contextuais, que 0 interlocutor tambem deve suprir.

No quadro te6rico de Grice (e mesmo em todas as discuss5es retoricas e

pragmaticas da ironia como uma figura de linguagem antes de Sperber & Wilson,

1981) a tratamento da ironia verbal emparelha-se de perto com a tratamento da

metafora. Para Grice, a ironia, como a metafora, e uma clara violac;:ao da maxima

da qualidade, diferindo da metafora somente no tipo de implicatura que ela

transmite (metafora implica uma simile baseada no que foi dito e ironia implica a

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oposto do que tal dito). Te6ricos da Relevfmcia tern argumentado naD somente

contra a analise da ironia de Grice, mas contra a suposiyao mais geral de que a

melafora e a ironia deveriam ter tralamenlos paralelos.

A perspectiva de Grice sabre a ironia como urna violac;ao aberta da maxima

da qualidade e uma variante da perspectiva retorica classica, na qual urn

enunciado ir6nico e vista como dizendo literalmente alguma coisa e,

figuradamente, significando 0 oposto. Porem encontram-se argumentos bern

conhecidos contra essa perspectiva. Ela e descritivamente inadequada porque

interpreta~6es ironicas, cita~es e ou alus6es niio comunicam 0 oposto do que edito literalmente. E teoricamente inadequada porque dizer 0 oposto do que algo

significa e patentemente irracional; e nessa perspectiva e dificil de explicar por

que a ironia e universal e aparece espontaneamente, sem ser pensada au

aprendida (Sperber & Wilson 1981, 1992).

De acordo com a explica~o proposta pela Teoria da Relevancia, a ironia

verbal nao envolve nenhuma maquinaria especial ou procedimento que naD as ja

necessarios para abordar urn usa basico da linguagem, 0 usc interpretativD, 0

uso ec6ico. 0 tipo de uso interpretativo mais conhecido e a fala ou pensamento

reportado. Urn enunciado e ecoico quando ele alcan~ a maior parte de sua

relevancia ao expressar a atitude do locutor para pontos de vista que ele

tacitamente atribui a outro. Por exemplo, Joiio e Maria estiio saindo de uma festa

de casamento e 0 seguinte dialogo ocorre:

1.a Joao: foi um casamento fantastico.

1.b Maria: a. Fantastica. (alegremente)

b. Fantastica? (de forma incerta)

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c. fantastical (desdenhosamente)

Vamos as analises: em (1 a), Maria ecca 0 enunciado de Joao a tim de

indicar que ela concorda com ele; em (1 b), ela indica que esta questionando a

opiniao dele; e , em (1 c) ela indica que discorda dele.

Na aborctagem te6rica da relevancia, a ironia verbal envolve a expresseo de

uma atitude tacitamente dissociativa, enviesada, em relayeo a urn enunciado au

pensamento atribuido. Vamos considerar 0 enunciado (1 c) de Maria, ele eclaramente ir6nico e ec6ico. A afirmac;ao de que ele e ir6nico e porque e ecaieD,

ironia verbal consiste em eeoar urn pensamento ou urn enunciado tacitamente

atribuido com uma atitucte tambem tacitamente dissociativa.

Esta abordagem nos abre caminhos sobre alguns cases de ironia naD

trabalhados pelas perspectivas de Grice.

Uma implicagao dessa analise e que a ironia envolve uma ordem maior de

habilidade meta- representacional do que a metafora.

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3 A IRONIA NOS TEXTOS JORNALisTICOS

A ironia no jornalismo assim como em colunas de revistas vai al9m do

cinismo do poder, pois 0 que jil se esgotou nos proprios fatos pode muito bem sa

esgotar na crise dos conceitos jornallsticos empregados como sendo premissas

correlas.

Fazer da noticia algo significativo e a pretensa tarela do jornalismo,

mesma quando naD pode mais atingir urn patamar de transparencia antes

sonhado, ainda recarre as verdades ditas determinantes. Os modelos estao ai,

nos editoriais de jornais e revistas. Eles prefiguram 0 que se encontra no

cotidiano, nas decisoes politi cas de uma naC;8o au na vontade de urn pais

quando decide ir a guerra. 0 jornalismo imagina fazer da foto sua unica materia-

prima, visto que, na lalta da possibilidade de teeer um quadro teorico acerca da

realidade, resta, hOje, no Brasil, mergulhar em considera90es vazias sobre tudo a

nada, aD mesmo tempo.

A ironia entra nesse contexto para fazer 0 contra ponto do que restou das

verdades absolutas'. Como diz Henri- Pierre Jeudy, em sua interpreta"ao desse

fenomeno, e melhor rir dos acontecimentos:

A ironia nao pade nascer de urna ultrapassagem das contradh;:Oespela conhecimento epeJa acao, pais ela excede a 16gica do raciocinio pDr urna ret6rica existencial dainsignifiGancia. Busca toda sua forca na pr6pria colisao dos contrllrios. E toda suasoberania lhe vern do desafio inexorllvel que lanca ao poder do sentido. Essa sabedoriacornunitana e frequenternente apaziguadora porque se vale de crencas, como se arealidade pelas representacOes nao fosse mais que uma miragem tida como necessaria(Jeudy, Henri - Pierre, 2001, os. 12-13)

I Verdadcs absolutas: aquilo que rul0 pode scr contcstado. Ex: um quadrado (quatro Jados iguais).

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o texto ir6nico deforma a realidade porque 0 que esta no nivel da

representa~o e a imagem universal de urn Bern futuro para a humanidade. A ironia

s6 servira caso possa levar a rir dos fatos, sem fazer mal a ideia comum de Bern.

Para Kant, a comunica~o com urn Dutro e sempre um tim e naD um simples

meio, sera atraves da comunicayao que a ironia enfrentara a 16gicadeterminante da

modemidade, que busca uma forma de, eticamente, encontrar a verdade das

verdades: 0 universal entre as vozes. Entre 0 sEkulo de Kant e a alual, existe a ironia

como remedio contra a absolutizayao da razao. As certezas na ironia, para Jeudy,

naD passam de ironias na relayao complexa entre a conviC9Bo induzida par uma

impressao, pois 0 fato de S9 convencer de alga naD S8 funda a priori no

reconhecimento indubitavel de uma certeza .(Jeudy, 2001, p.106).

o olhar sobre a realidade do mundo e urn olhar tambem sobre 0 processo

como se ve a comunica~o. 0 conceito de manipula~o sofre uma reelabora~o,

pois, antes, 0 que S8 tinha era uma especie de combate entre dais positivismos, a

saber; a verdade absoluta da midia (acusada de manipula~o) contra a verdade

absoluta dos aspectos da teoria Critica (capaz de demonstrar a manipula~o e de

anunciar a verdadeira verdade). Na p6s- modemidade, 0 que se tern e nenhuma

dessas hipoteses, porque a verdade definitiva esta apenas na transpan§ncia de uma

pretensa verdade.

Diogo Mainardi e 0 tipo de jornalista que olha os acontecimentos sem a

pretensao definitiva de buscar a verdade dos fatos.

Para se entender profundamente Diogo Mainardi, e preciso uma enorme

digressao. Diogo Mainardi e a passagem da critica a ironia. 0 critico deve fazer a

elabora~o de urn pensamento capaz de explicar 0 que ve para 0 futuro. 0 p6s-

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maderno implica a compreensao de urn todo que S8 fragmenta e serve de alicerce

para a subversao expressa pela ironia.

Em Diogo Mainardi, a realidade deixa de fazer parte de urn sistema fechado,

para se abrir aos ventos do processo da comunica980 complexa.

o estilo de Diogo Mainardi como jil citado, e marcado por uma linguagem

centrada na ironia. Essa forma de escrever e 0 artefato do escritor e jornalista que

procura 0 ponto de fuga das ideologias, discutindo uma vasta 9ama de assuntos e

fazendo as suas leituras sem 0 prop6sito de mostrar urn unico caminho aos leitores.

Mas isso nao significa que Diogo Mainardi seja uma especie de cronista da

subjetividade ou do intimismo, ao contn3rio, 0 que S8 vi; e uma voracidade objetiva

diante de temas sociais e culturais perpassar 0 texto do jornalista, que S8 vale da

par6dia para chegar ao cerne do seu modo de ver 0 mundo.

A ironia e 0 procedimento pelo qual se demonstram os cliches e se tenta

mostrar 0 engano da percep~o escondido em verdades bern assentadas.

o que se ve em Diogo Mainardi sao preocupayoes relativas a natureza dos

aconteclmentos.

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4 ANALISE DAS COLUNAS DE DIOGO MAINARDI NA REVISTA VEJA.

Antes de iniciar a analise dos textos de Diogo Mainardi, gostariamos de

salientar que tomaremos par base as teorias de Grice (Principia de Cooperaryao) e

de Sperber & Wilson (Teoria da Relevimcia), embora neste trabalho tenhamos

colocado a visao de te6ricos como Levinson e Qutros estudiosos do assunto. 0

objetivo e mostrar que a teoria de Grice apresenta lacunas e em certos casas nao

con segue explicar a ironia presente nos textos.

Antes de iniciar a analise S8 faz necessario compreendermos como S8

processa em nossa mente uma frase au texto ironico baseado na teoria da

Relevancia. Comecemos com a definic;ao de Grice. Para 0 estudioso, a ironia edelinida como sendo 0 oposto daquilo de que se deseja comunicar, ou seja, 0

locutor usa uma nao verdade para dizer uma verdade.

Ja para Sperber & Wilson, toda ironia consiste em ecoar urn pensamento ou

urn enunciado subtendido atribuido com uma atitude implicitamente dissociativa.

No conceito de Grice, a ironia esta mais wvisivel~ na frase, au seja, e mais

facil de ser identificada, porem seu conceito nao se aplica a todas as situa~6es como

veremos mais adiante nas analises.

No conceito da teoria da relevancia, a ironia nao esta uvisiver na ora~ao, ou

seja, e mais dificil de ser identificada e ela acontece da seguinte maneira: sao

deixadas lacunas em branco (vazias) para que 0 interlocutor as preencha de acordo

com seu conhecimento de mundo, suas cren~s, seu nivel cultural, etc. Tais lacunas

muitas vezes passam despercebidas Irente aos olhos de alguns interlocutores,

porem se nao sao preenchidas 0 texto ganha urn novo sentido que nao 0 ir6nico.

Muitas vezes as implicaturas leitas em urn texto ir6nico sob 0 vies da teoria da

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relevancia 56 ganhara sentido atraves do contexto do texte, pois as inferencias feitas

nas lacunas em branco, algumas vezes ocorrem pelo contexto.

A ironia neste sentido sera dividida em duas partes: Ironia uexplicita" au

seja, aquela ironia que esta mais clara no texto (teori8 de Grice), e a ironia uimplicita"

au seja, a que nao e tao visivel (teoria da relevancia).

Para tanto, tambem como ja citado na introdu<;2o,tomaremos a ironia neste

trabalho como sendo:

Um pensamento subtendido atribuidocom uma atitudeimplicitamente

dissociativa.(Sperber& Wilson).

Ha que se ter em mente que, de acordo com 0 Principio de Coopera<;2o,0

interlocutor pressupoe que 0 locutor va cooperar com ele no processo

conversacional. E no texto do autor. nas entre linhas, que esta nOS50 objeto de

pesquisa, au seja, sao as verdades ocultas, as inferencias que 0 interlocutor fara e

cujo resultado estara em nosso foco de analise.

Todavia, salientamos que nosso objetivo e analisar a ironia sob a 6tica da

pragmatica cognitiva, e nao ser urn critieD da coluna de Diogo Mainardi.

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DIOGO MAINARDI

o Gandhi do Dormonidansiolftico ..,.0 qUt!

impona e 0 resul-wdo. 0 que illl-

porta c conscguirdormir pclo maiorJ1tilllCrode horus.sejadurante 0 dia. sejadurante a noitc,a despeim da zoeira luliMa. da bril'adei-ra lulista. da sanfona Julisla.

Gmndcs figuras do passado rcsisti-ram as nrbitrariedndes dos governoscom urn comporlamento passivo. Es-colhenun enfrcnlara violencia com anao-violenciu. A agr<!ssuo com a naa-ae:ressuo. ]'V[cllnovo modcJo c esse.~ Durmo. Dunnn 0

HA partirde agora, tempo imeiro. Dunno

nzeu lema e oposi~iio ~~~c~~';~~l~ji~~~lS~REM. Os petistas Mahatma Gandhi doroubaram? Sononeles!Os petistas

compraram 0 Ceara?Apague a luz!

Os petistasqueremcalara imprensa?Cortina black-out!

~ 0 Dio(!o esu'i. donllindo.Quem Ill; teiefonou nas ultimus

semanas ollvjuessa frase. Tenho dor-tmdo muite. Durmo antes do alnloc,:o.Dllrmo dcpois do almo(j;o. Cochilomeia hora no rim da tarde:. Dunnoprofundamente a noile (Oda.

A idt!iae mmscorrer os quatro anosdo segundo mandato lulistana call1a .. A.lOgic; t! simples: uma hora a mais desono si!!nilica LIma hora a menos deLula. .vlinha resposta particular ao pe-tismo e a narcoiepsia. No primeiromund:lto. antagonizei 0 regime cornum monic de palavras. um Illonte dearti2os. um monte dedentincias. No segun-do rnandnt:o. pretcndotrocar 0 lcdado do

! computador pelo pi-jama. 0 discurso in-namado pelo zunidodo aparelho de ar rc-frigcr..1do. os perdigo-tos colcricos pclo flo-zinho de baba escor-rendo dclicadamentepelo canto da boca.

A panir de ago-ra. meu lcmu e opo-si~ao REM. Os pc-tiSU1Sroubanun'? So-no neles! Os petisrascompraram 0 Ceara?Apaguc a luz!Os pc-tistas que rem calar aimprensa'! Corrinablack-out!Os petistascntraram con1 maisurn proces~o comrumim? Zza.I.D:! Ninguem me lirada ca-mao Ningllem me faz abrir os 011105.Quero hibcmar ale0 lim do invemo pc-tista. SOli 0 ZC Colmcia do amilulismo.

o sono natural e 0 melhor de todo:..o mais nobre. 0 mnis elc\·ado. POI'maior que seja meu cmpenho. no cn-tanto. nem scmprc e passive! obte~lo.No ataquc rnOlfctico conu-a 0 pclismo.todas as amlas dcvem SCI"ndmitidas.Vale 0 sana natural, mas vale tambemo SODO induzido. 0 maior aliado dooposicionismo comatoso e um criudo~mudo ubarrotado tie hipnotkos c de

Ningw!m me tiradacama. Quero

hibernar ate 0 jimdo inverno petista.Sou 0 Ze Colmeiado antiluiismo"

Dormoniti.Nus (tltimas se-

m.mas. 0 Brasil re-\"eloutoda .1 sua de-:.uvergonhada vaga-bundice. Um dcpoisdo autro. O~ fatosmOStTar::lIn como 50-

mos ordin:irios. co-mo somas barntos.como somos atrasa-dos. Os mensaleirosreelcitos. 0 ucidente<.1...1Gol. Os pcrigosdo tr..ifego acreo. Aparalisia dos nero-porras. 0 aumcntodo sal:.irio mini mo.o aumcnto tio Judi-ciario. 0 aumcnto

dos deputados e dos senadores. A bar~ganha por cargos. Arlinda Chinaglia.Aldo Rebelo. Os atentaclos no Rio deJaneiro. A inc<lpm.:idadc dc rctlgircomra as eliminosos. Os mOI1O~emenchcntes. Os desaslres ambientais.

15so{udn dlisono. 0 terceiro-mun-dismo d•.i sono. 0 bananisrno dti sono.Quando sinto sono. ell durmo. Podetelefonar para minha cusa n qualquerhom do diu. Quem :llender dini.:

- 0 Diogo estd donnindo. E pe-diu para ser acordado so daqui aquatro anos.

veja 17 de janeiro, 2007

41

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4.10 GANDHI DO DORMONID

Mahatma Gandhi: lider pacifista que fazia revolu980 sem violencia.

Dormonid: estimulante do sono, sonifero.

Come9'lremos analisando sob 0 vies de Grice (Principio de Coopera9ao),

onde as maximas de cooperayao sao viol ad as.

No texto acima notamos ja no segundo paragrafo que Diogo Mainardi

enfatiza que nas ultimas semanas tem dormido 0 tempo todo:

"Tenho dormido muito. Durmo antes do alm090. Durmo depois do alm090.

Cochilo meia hora no fim da tarde. Durmo profundamente a noite toda.

A ideia e transcorrer as quatro anos do segundo mandata lulista na caman•

Este fato ja chama a aten980 do interlocutor, se ele esta enfatizando que

esta dormindo tanto, ele quer transmitir alguma informayao, e S8 ele esta querendo

transmitir alga e 0 interlocutor faz infen3nciase porque esta estabelecido 0 Principie

de coopera980, mas antes de transmitir qualquer informa980 ele nao esta dizendo a

verdade, ou seja, segundo Grice, ele acabou de violar a maxima da qualidade, pois

ele nao passara todo 0 mandato do Presidente Lula, dormindo. Veja que 0

interlocutor e fon;ado a fazer inferencias mesmo que naD tenha conhecimento sabre

politica, pois ninguem dorma durante 4 anos, ou pelo menes nac e caracteristica dos

seres humanos passarem par urn 10ngo perfodo dormindo au hibernarem, salvo

exce¢es em que uma pessoa esteja em coma. Entretanto, nessa situac;ao,

conseguimos perceber a ironia mesmo fora do contexto, assim como a violayao das

maximas.

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No terceiro paragrafo continua:

"No segundo mandato, pretendo trocar 0 teclado do computador pelo

pijama, 0 discurso inflamado pelo zunido do aparelho de ar refrigerado, os

perdigotos colericos pelo fiozinho de baba escorrendo delicadamente pelo canto da

boca"

Se 0 interlocutor estiver mais atento logo percebera as violac;oes e tara as

inferencias, percebendo assim que 0 colunista esta querendo informar algo que nao

e 0 que esta dizendo, nao e 0 dito, mas sim 0 que esta implicito nesta frase. E claro

que temes que levar em conta 0 contexte em que a frase esta inserida, pois ela

descontextualizada nao causara urn steita com 85sa intensidade.

No quarto paragrafo enos Qutros ele prossegue com Qutros exemplos

como: ~o que importa e conseguirdormir pelo maior numero de haras [... r,~Durmo0

tempo inteiro", "tornei-me 0 Mahatma Gandhi do Dormonid", " 1550tudo da sono", " 0

terceiro mundo da sana [.. ]","0 Diogo esta dormindo. E pediu para ser acordado 56

[... J".

Note-se que em todos os exemplos, (se analisados no contexto), ocorre a

viola<;iioda maxima da qualidade, ou seja, (niio diga 0 que voce acredita ser falso),

nestes cases percebe-se uma certa 16gica no conceito de ironia de Grice, porem

veremos mais adiante que sua teoria nao da conta de analisar todas as passagens

ir6nicas encontradas no texto de Mainardi. Nesse pr6prio texto temos alguns

exemplos onde a ironia esta presente, porem nao viola a maxima da qualidade,

como p~r exemplo:

"Os petistas roubaram?

Sono neles!"

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Mainardi usa de argumentos internos na frase para transmitir a informay8o

ao interlocutor, ele diz "sono neles!", logo, 0 interlocutor ira inferir algo que nao

"sono", pOis nao podemos atingir alguem com 0 sono, ou seja, a principio ate

podemos dizer que a primeira orayao naD S9 relaciona com a segunda.

Semanticamente nao, porem pragmaticamente sim, e na palavra 50no que esta,

digamos, 0 "espayo em branco" para fazermos as inferencias, as quais serao feitas

de acordo com 0 conhecimento de cada um. Por exemplo, podemos inferir no lugar

de sono, cadeia, ou "pau" no sentido de bater, e assim por diante.

Outro exemplo esta no proprio titulo, onde aparece a ironia sem a violac;ao

da maxima da qualidade, e neste exemplo fica claro que 0 interlocutor tera que ter

um conhecimento de mundo, e um conhecimento cultural para fazer tais inferencias.

Nesta analise e nas proximas, nao temas a intenyao de analisar e dar

significados as ironias de Mainardi, nem de questionar seu ponto de vista, mas sim

mostrar cnde estao as ironias. Como Diogo Mainardi e urn jornalista que passa da

critica para a ironia, seus textes trazem uma sutileza e em muitas veZ8S nos

confundem, po is 0 limiar entre a ironia e a critica e sutil e par vezes nos leva aduvida.

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DIOGO MAINARDI

Heil, Homer!Homer Simp~on eSl:1 e~goelando s<!u t'i~tho Buo.A troco de n<Jdu. ele pcrgunln:

_ Pode h:.l\"cr pafs piar do que 0

Bra~il?B:.Jrf responde imediatamente:_ ","",nhum pais e pior do que 0

Brasil.Homer Simpson st'! salisfnz com a

respos!!} e solta a gargunta de Barr.A cell>! aeon-ell num uus ultimo:>

episodio:> de 0.•SimpsolI.'>. q s..:riauQeShi em .<;uo.I 8~ !emporadu. E rndhordo que (od:1 a cinematogratia america-na do perfodo. Starlin Scol'sese? TimBurton? Joel t: Ethan Cohen? Nin1!u';mip;irc::o para Os Silllpso1/.~.Quc::m- alil"-illar 0 comn-'irin merece ser esgoelado.

Homer Simpson entcndo.! de Brasil.Elc sabc que Gregory

"0 pinna de barbanegra c de um OUlO

so cncontra 0 1.:<1-

puz embl"lrracha-do", .-\pedagogiapcti!'w est;] muispara Bcayis c Burthcotd do yue para Ho-mer Simpson. 51! e assim. sugiro n~cor-r~r direwmente no pmfesSl")rEdeisio Ta-

~~~er~ ~~I~ll~,~~r;n~~~::;d~~l~~~e~~I·~~j:n·~~junlo ao bolso esquerdo dos homens:·'.

A I!sC"ob ntineD me ensinou a en-capuzar 0 piral;'!' de barba negra ou acobr..l I.:aolha. Apl-endi fora d"l cseola.P~lhando bern. tudn 0 que eu aprendi~ de ll1-i1ou de il1ulil-. aprendi rewada escola. em gerai sendo esgoelado

pOT .lulSus pais. Qucm

"Charles Murraydizque ninguemdescobriuuma

PCl.:k se r..:fu~iou emBeniogil e e-;'palhouentre nos c6pias gene-ticamcntc perfcitas deHiller. Conhc •.;o ummonte delas. HomerSimpson snbe t.ambemque os brasiieiros \"01-

t3fUm ;.10 passado pelot(meldo tempo. SergioBuasqlle de Holanda"!Paulo Pwdo? Gi IbatoFrc:vre'~) l"in!!ut:!m ~n-tende tanto dt: Brasilquanto Homer Simp-son. Hcil, Homer!

Se lodos os pilis l!S-

goelasst!m SI!U!'> lilhos eos obrignssem a repelirdi;lriamente 4u,::: IlC-nhum pilis .;:! pior doque 0 Brnsil. j•.i eSlil-fiam cumprindo st!upape!.r\pesarde seus modos rudes. upe-sar (It::~ua f'-llt'-lue cultunl. Homer Simp-son (!duca dir.eitinho 0 pequt!no Bart.

. Quero educar meu~ tilhos desse mes-1110 jeilo. 0 tinlcoensin;;\mentoque pos-'>0 Ihc~d;Jr:-;CITI rm.:do dc me arrcpell-der ~ 4lh:~nenhum lugar ipior uo quees(e. 0 que a escnla ensinnra a eles ebem mais incel10. Os pedagogos petis-tilS u.:ddiram distribuir aos alunos umu.:anilha ensinando'l us:~u·l.:amisinh;}. Aprriticn e descril3nos seguinte .••leonos:

argumentou que a gen-Ie perde tempo demaisna escola foi Ch3ries_Vlurray. aqudc daCurn:r. do Sino. Kum:lrti~orecente. ele utir-mou que 509"(" dos alu-nos possu..:m lim Qlmenor do 411C 1 DO. ls-so sigllific:lque. pormais que se empe-nhcm. janHlis conse-guirao aprenuc:::r a lerurn perlod\) mal:; e1n-bomdo. sirupiesmenreporquc Ibcs falta intc-lig2ncia. Em ve7. d..::ensina-Ins :l ~er mausmedicos e maus en2e-nh.:=iros. portanro: cmclbor cnsin.i-Ios a serbons mareeneiros ebons enc~maJores.

Pedos c~ilculosde Chari<!s 'Ylun·av.o l.!t1sinostlperior so faz scntiuo pa;:.tquem lem um QI superior 0. I 15. (ssocorrespondi! a i5~ do total de nlunos.o resto de nos pode se uffillljarperfei-IanlCTHl' so;:m :c;c sacriii!"'ar na ..: ..•cola.Charles :vrurray diJ; que ningll~m dots-cobriu umo. maneira para aum.:ntar 0QJ das pessoas. 0 que I·romer Simp-son c .;:u podcmos garantir c que hauma m;m~ira p<.lradiminuf-Io. 0 Bra-sil e a melhor pron) dis:<;o.

maneira paraaLimentar0 QIdaspessoas.o que HomerSimpson e eu

podemos garantire que hd umamaneira paradiminuf-lo.

o Brasile a me/horprova disso"

veja 14 de feverelro, 2007

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4.2 HElL, HOMER!

Heil: simbolo nazista, usado para saldar Hitler

Homer: personagem de desenho animado semi - analfabeto, cuja caracteristica

principal e ser Uburro".

Come<;aremosa analise pelo titulo. Heil e urn simbolo nazista usado para

saldar Hitler, mesmo que uma grande maioria da popula<;8oalema nao concordasse

com seus prop6sitos aceitava em silencio, au seja, submetia-se a ditadura de Hitler.

No Brasil, mesmo com toda a ladroagem dos politicos, aceitamos quietos enos

submetemos ao governo; Homer, personagem de desenho animado, semi

analfabeto, e contudo uma figura curiosa a quem as pessoas olham e assistem suas

burrices e se divertem. Lula, presidente do Brasil, eleito pelo povo (figura carismatica

para 0 povo), semi - analfabeto. Temos ai uma ironia, mas nao explicita, a qual tem-

se que ter urn conhecimento cultural, ou pesquisar os significados das palavras para

poder fazer as inferencias, para poder ver a ironia com que Mainardi escreve

Analisando 0 dizer ironico de Mainardi: 0 Brasil apesar de ser urn pais democratico

vive urn nazismo. uSalve Lula~.E como dizer: 0 governo roubou; salve Lula; a seca

no nordeste mata pessoas; salve Lula.

Mais uma vez temas que reforyar que estas infen3ncias vaa depender do

ponto de vista de cada urn em rela~ao ao governo.Neste caso, se entendermos que

Mainardi diz algo querendo dizer 0 contrario, entao a teoria de Grice cabe nesta

situar;ao, porem S8 naD conseguimos visualizar ests efeito, naD passara de urn rnero

titulo. Mesmo assim se faz necessario 0 contexto para tais analises.

No oitavo paragrafo, linha 11, ternos:

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UApesar de seus modos rudest apesar da falta de cultura, Homer Simpson

educa direitinho 0 pequeno Bart. Quero educar meus filhosdesse mesmo jeito".

Observe-se que no exemplo acima a maxima da qualidade e viol ada sim,

Mainardi ao dizer que quer educar seus filhos como Homer educa as seus, ele na

verdade esta querendo dizer 0 contrario, ele nao quer educar seus filhos

esgoelando-os, ou seja, esta ironizando, pois no Brasil 56 esgoelando para que se

aprenda. Entretanto, mesmo para fazermos a analise desse trecho, precisamos de

tode 0 contexto para percebermos a ironia.

Ao lermos a coluna p~r inteiro percebemos em varios pontos um tom ir6nico

que nos leva a fazer inferencias; sao lacunas deixadas para que 0 interlocutor faya

suas proprias contribui~6es. Entretanto, se 0 interlocutor nao estiver atento ao texto,

se naD estiver a par dos acontecimentos, nac tara tais inferencias e provavelmente

suas implicaturas naD se com(Jletarao ou darao urn novo significado ao textc.

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DIOGO MAINARDI

Para 0 Gil, aquele abra~opmc",ou aJuda, as lmJpes>oas Esul na ca-ra tJue elc nunc.\ le-VOli \ antagcm dc:s- ~ses emp,esunos f

FreT ChIco usa 0 'codlOome RobertoI.!ITI :S<.!lIS h.:lefone- -.;milS par~ Vnv.i. Vavarub sobre m{iquinas de terra plana gemcom 0 presidente cia R~ptiblicn. E 0 "fi-Iho do hornem-- e uma fili!UfU rccorrClllC

11;J!'> conver;.;ao.;dos bin2~eiros. Trata- ••ednquele filho?Trota-se doquele homem?is"iltonServo fa!grampeado dizendo:

- 0 Dario csta vindo para cu, Cll-

tendeu",) Para Campo Grande. Est:i \"in-do ele e est:\vindo 0 filhodo homem.

Gilbeno Gil me considem 0 Vn,\";.\cia im-prens:l. Ele declarou ;1Playboy que meassiste todo rJomingo no :'v/ollfwtrClIICm/lleclioll.porqu..:: me :leha --bonito(risos). mesmo dizendo essus coisas lO-U::l.s",ParOlGilbeno Gil. sou iniluput<i\·etcomo Vuv<i. !'\ingu~m pode me respon-s;lbilizarpelo qUI! eu digo. SOLI apena<;.Cfllnoj.i cantoll0 ministro. um "rnor~nncorn os olhinhos brilhando·'.urn "hezer-rillho", llITl"hoJUem de :":eanden~Ii" de"porte espeno. dclgado".

- Empresla dais milhiio para mim·.'Se Vava e a .Vlainardi do lobismo lu-

lista. se de e 0 --bocadinho de ~lmor--dos binguciros de Campo Grande. scsua ralla de (.:uill1rae usada como umsalvo-condulo para Ih'r~i-lodu cadei:.l.suspeilo que 0 fino inle-lcl.:lualdo banda scja 0com padre de Lub. Dn-rio Morelli Filho. Eledeu uma nmostra de suusagacidade argumcllla-li\n num Ickfonemagrnmpendo para 0 bin-guciro ~ilton Sen.·o:

- QU:.11ldo comcC;~la morrer juiz. i()doIllunuo fica prcocupado.J'VIasnao rem uns quetem que mOLTer mcsmo'!

Sei perfeitamenteque. com meu "carpoclemo e nobre de um reinago", ellpoder!'" parardc me imporrun:lr comassuntos desse lipo. massemprc me espanto comas estrate!!ias de al.:ober-t;un..,:ntoda imprcn~a lu-!iSla.VEJA noticiotl queVaV:l levou um empre-sario ao Pahkio do Planailo em 19 de(Julunro de :W05. Tn?s semUllO.lSdcpois.a J.I'toE DiniJeirofezlima reponngem decapn sobre "0 drnma da fanu1ia Luhl daSi.lV;J".em que as parentes do prcsiden-Ie ,Hribuiam a parada cardfaca de Va\';:i~I~d~nCinci;'L'"..,:onlraele. :'-Jareportagem.Frei Chico defenctin 0 irmao lohbla daSC2uinte maneira:- - 0 Vad scmprc roi uma c!:.pecic

de assislente social nilo rcmunerado. Elc

"Gilberto Gil meconsidera 0 Vavdda imprensa. Ele

declarou a Playboyque me acha'bonito,mesmodizendo essascoisastodas'.

Para Gilberto,souinimputdvel comoVavd.56 para

terminar:0 que eumais aprecio emGilbertoGiltambem eseuaspectofisico"

E ucresc<!ntou:- Kern 0 Vav.i sa-

be disso,VU\';l e pnra ser usa-

do, Va":! c um hunbari.Vav:i J um ingenuo.Tan\() qu~ 0 IIlho do ho-mem cOllseguiu passar-Lhe a perna. aliando-se010 com padre de Lulapar~1roubtll'-Ihe0 clil!ll-le bin2ueiro. 0 mesmocliel1le bingueiro que.rct'crindo-sc a urn CJll-preslimo miliomirio doBNDES para uma fa-brica de pap~1 higil!ni-co. scrviu-sc de UffiUdcgamc onommopci •.l:

- P •.'l.pn.. pa, Pum~Eu. "n coisa mais

linda que existe--. mepergunlO quem tE0 Iilhodo homl:!:m e se a PFrastreou os relefonemas

de Dario i'Vlorellinos uias que anteccde-ram u ml \'iagem a Cum po Grande. Eu.--motocross das estrada~ da ilus::io--.mepergunlO tambem se 0 homem dn Illalnno caso do dossie. Hamilton Laccrda.cx-!:.ccrcnirio de Zcca do PT em 1\1atoGrosso do SuI. leve akulll cOm<110 comessesbingueiros em selembro de 2006,

56 para terminal': 0 que eu maisaprccio em Gilberto Gil tambcm c scuaspecto fisico.

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4.3 PARA 0 GIL, AQUELE ABRACO

Observe que nesta coluna a ironia se faz no ultimo paragrafo quando

Mainardi diz: •...0 que eu mais aprecio em Gilberto Gil tambem e seu aspecto fisico',

fazendo referencia a ironia de Gilberto Gil declarada a Revista Playboy sobre ele,

Mainardi, que segundo Gil, apesar de falar urn monte de besteira, assiste a seu

programa porque 0 acha bonito. Mainardi respondeu ironizando ao mesmo estilo.

Claro que Diogo Mainardi nao aprecia 0 aspecto fisico do ministro, 0 que ele quis

dizer e que nao aprecia Gilberta nem tampouco suas musicas, as quais Mainardi vai

ironizando nas entrelinhas de seu texto, fazendo urn jogo de palavras com trechos

das musicas de Gil, come9Sndopelo titulo. Percebe-se que nesse caso Mainardi diz

o contrario daquilo que realmente pensa, ou seja, viola uma das maximas de Grice.

Contudo, em todo 0 restante do texto as maximas de Grice nao dao conta de

explicar a ironia, como, par exemplo, a ironia faita com as Istras das musicas de Gil.

Ai entra a teoria da relevancia, 0 texto de Mainardi nao e relevante, e um texto que

deixa varias lacunas para que seus interlocutores as preencham. Novamente temes

o problema do conhecimento de mundo, e nesse casa mais especificamente 0

conhecimento das musicas de Gil para que S8 fa~m as inferencias necessarias,

casa contrario sera 56 mais urn textc. E e justamente a violac;aodas maximas, pelas

lacunas deixadas para que se fac;amas inferencias, que dao um tom ironico au que

deixam a texto ironico.

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50

DIOGO MAINARDI

E ainda fazem Carnaval?Oum. Dum-Dum. Dum Dum-Dum Dum-DUIll. 0 que c isso?Tem genic sarnban-do Ilas nl:.ts do Rio de Janeiro"?As mcs~mas ruas pel<lSquais os nssassinos alTUS·{'arum:lquelemenino de 6 anos·~A pri.meira rnedida a ser tomada pelo poderpublico dcvcria tel' sido cam.:clar 0 Car-naval. decrel::mdo lutoolicia!.

Lula comemou 0 critne:- Jssonao est::ino racional oa hu-

manidadt: <!do mundo animal. ESI.J noin"adonal da humanidad<! e do mundon.nimaL

Lula tem 0 direilO de achar que seuCaCh(lrrO Gulego c milis meional doque quulquer urn de sellS minislros.ACl"cditoque seja me!';mo.0 que nin-guelllpode uceitar <.'Sque cle lransl'ormcem chunchnda um<lInH!edi~1 desse lama-nho. Ete degrada amorte do rucnino cu-rioca com suas ga·Ihofas momescas.

Depois de diseor-rer !'iobrea orl!:!cmdomal IlO munClo ani-Inn!. como uma '-Inn-nah Arendt dos quu-dnlpedes. Lula reeo-Inc!ndou Llu~ os par-I:1menlare~ agi~selncom ·'cautela'·.com"serenidadc·. I~no-rando 0 clamor p"Opu-Inr e ()cHmn "pilssin-nnl" que sc eriou I!I1ltorno do episo-dio. Isso signifiea que dCpUUldosfede-rais e scn;'ldorcspodcm fazer um pOLl-co de jogo de cena agora. propoodomedidl.lscomra a eriminulidadc. mas.assim que a mOl-Iedo menino sair donOlieiario. ludo voit,lI'aa S(;I" ri!!orosa-mente como ames. Desde que LUla foieleito. cerca de 200 000 peSSO.1S forumassussinadus no Brasil. Umn a mals.uma a menos. mnto faz.

Uma das proposlas que Lultl rcjei-tou foi diIllinuir a maioridade penalpara 16 aIlOS.Esr.! certo. Nlclhor di-minut-la para 14 anos. Ou 10. Ou 7.I\1as n faw e outro. Dos cinco ~lCUS;l-

dos pel:lmone do menino carioca. s6

um era menor deidadc. A !:!:cnrcprecisa prcndcr osmenores de idade.A gcnte precis;}prender tambemas majores de idudc. E sobrctudo: im-pedir que eil!Ssejam sohos.

Os criminalistas do perismo argu-mentam que e bobagem aumenwr 0

lempo de cadeia dos bandidos. 0 quen;=almente(;onta. segundo eles. e queum criminoso lenh;)<lceneza de queseni pego. lsso e lima afronta a memo-ria do menino assassinado. 0 chefe daquadrilha que comc:=teu 0 crime foi pre~so seis yezes nos uhilTIosan!)s.e em to-

das elas a sistema ju-dicial 0 soltou. Antese depois que ele at in-2:isse ~ maiorid;}de.Quando ocorreu 0 cri-mc. 0 peusmo imedia-tamente rcsponsabili-zou a polfcia. Ela me-rece ser responsabili-zada porquc lem an-tecedentes de roubo.achaquc e morte. 1\'Im;no caso do 111cninoas-sassinadoa polkia fez.\! refez seu trabalhodireitinho_ oferl!Cendo:l.cel1ezade que 0 cri-minoso seria captura-do. Aplauso para apl)licia.A falhafai do

C6digo Penal. que libertou urn conde-nudo que linha de continuar Oil cadeia.

A unica rcsposla que podcrfamosdar ao menino 3..<:;sassinadoseria pren-der a bandidngcll1par mals tempo. abo-lindo a liberdade condicional e torpe-dcando 0 instituto da progressividadcdo.penn. tanto pam as crimes hediondosqucmto para os crimes comuns. Crimee crime: rodos devem ser punidos como mesmo rigor. Se ()(.;hefedu quadrilhaque roubou 0 carro ti\'esseficado nacadeia ~l\e 0 lim de sua ultima pena. 0menino :linda estariu \"i\·o.1\'lasessu euma (.;ilusaperdida. 0 cilchOlTO Galegoc!,,:oOlnirio.E e ele quem mundu. Dflm

Dllm-DfllII Ollm-DlIln.

"0 que ifisso?Temgente sambandona ruas do Rio?As mesmas ruas

pe/as quaisarrastaram aquelemenino de 6 anos?A primeira medidaa ser tomada pelo

poder Pllblicodeveriatersidocancelar 0

Carnaval, decretandolutooficial"

veja 21 de fevereiro, 2007

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4.4 E AINDA FAZEM CARNAVAL?

Neste texto, a ironia S8 encontra no quinto paragrafo que diz:

UDepois de discorrer sabre a origem do mal no mundo animal, como uma

Hannah Arendt dos quadrupedes, Lula recomendou que as parlamentares agissem

com ucautela~,com "serenidaden, ignorando 0 clamor popular e 0 clima upassional"

que S9 criou em cima do epis6dion.

Veja que, no exemplo acima para identificarmos a ironia; primeiro temes que

saber quem e Hannah Arendt equal seu pensamento, do contrario nao

entenderemos a ironia e em segundo 0 que Mainardi esta querendo transmitir. Entao

vamos ao significado:

Arendt escreveu "Eichmann em Jerusalem-, esle livro impressionanterevela que 0 grande extenninador dos judeus naD era urn demonio e urnpoc;:ode maldade (como 0 criam as activistas judeus) mas alqu@m terrivelehorrivelmente nonna/.Urn tipico burocrata que se limitara a cumDrirordenscom zelo sem capacidade de separar 0 bem do mal ou de ter mesmocontriyAo. Esta perspectiva valer-Ihe-ia a crltica virulenta das organizacaesjudaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuacao dacumplicidade dos proprios judeus na pratica dos crimes de exterminio.Arendt apontara apenas para a complexidade da natureza humana parauma certa hBanalidade do Mat' que surge quando se condescede com 0sofrimento, a tortura e a pr6pria pratica do mal. Dai conctui que efundamental manter uma pennanente vigilancia para garantir a defesa epreservacao da liberdade. (Wikipedia)

Primeiro vamos identificar como Mainardi usa a ironia nesse trecho; Bern a

pensamento de Arendt era de que uma pessoa que mata nao e um demonio, mas

alguem normal, a qual s6 e incapaz de separar a bem do mal, de cumprir ordens, au

seja, urn animal, 0 qual nao sabe distinguir 0 bern do mal. Mainardi usa da ironia

para dizer que Lula niio sabe distinguir a bem do mal, mesmo com tanta violencia,

mesma com a que aconteceu com 0 garola no Rio, ele pede para que as

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parlamentares tenham calma, au seja naD cometam nenhuma injusti98 com "alguem

normal".

Percebemos a ironia S8 levamos em conta 0 contexto, a trajedia do menino

que foi arrastado pel as ruas do Rio de Janeiro. Todavia a que temas que chamar

atenyao nessa passagem naD e a tatado menino, mas a tato de que S8 naD

soubermos quem e Hannah Arendt, niio conseguimos identificar a ironia. Dutra

observayao a ser feita e que nesse casa somente a teoria da relevancia podenfl dar

conta de explicar a ironia.

Outro ponto em que observamos ironia e:

U[ ... ] foram assassinadas no Brasil. Uma a mais, uma a menos, tanto faz",

Veja que a segunda ora~o de Mainardi naD e relevante em relayao a

primeira, au seja, vamos colocar as ora90es separadas para analise:

(A) Desde que Lula loi eleito, cerca de 200.000 pessoas Icram

assassinadas no Brasil.

(8) Umaa mais, umaa menos,tanto laz.

Percebe-se claramente que a respasta naa e relevante, parem a que

Mainardi quer dizer e que com tanta gente marrenda ninguern faz nada, urn rnenina

e arrastada nas ruas do Rio de Janeiro e ninguem faz nada, sera 56 mais urn

numera, issa se analisarmos a contexta. As inferencias rnais provaveis seriam: a

Presidente nao investe em seguran9a, no governo de Lula naa ha penas rigarosas

para assassinas.

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Analisemos as sentenc;as fora do contexto para vermes seu comportamento.

(A) faz uma indagagiio e (8) responde, percebe-se que a colocagiio de (8) nao e

relevante para a indagag80 de (A). pois sua resposta nao tern nada a ver com a

colocagiio de (A), percebe-se que nessa situagiio (fora do contexto) fica dificil sua

compreensao. Porem dentro do contexto, a senten"" faz sentido. E nesse sentido

que a teoria de Grice nao e suficiente e nao consegue explicar urn texto como 0 de

Diogo Mainardi, cnde a ironia S8 faz como urn todD, temas que fazer referencias,

inferencias com tode 0 texto para que nossas implicaturas sejam relevantes.

Diogo Mainardi usa Dutra ironia ao S8 referir no paragrafo 40 ultima linha,

que Lula degrada a morte do menino carioca com suas galhofas momescas.

Analisando a frase fora do contexte poueD S8 pode perceber a ironia, para

entendermos, temes que saber primeiro sabre a tragedia e sabre as providencias

tam ad as. S6 assim a ironia "galhofas momescas" tera urn sentido ironico.

Mais uma vez vemos que s6 com a teoria da relevancia para darmos conta

de analisar a ironia neste trecho.

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OJ II OJG:!IJ MI 4\ II rn R{ OJ II

pergunms novasNao tcnho idCiado que isso 51gnj-tlC:l. Claro que aIgreja pade dar

I As resposias da IgrejaDam Claudio Hummes e candldaw apapa. Eu YOlO contnl. No 111CU conc1a-\"C particular. dou-Lhe fumacinha prc-1.:1. Ele diz que a 19rejaCat6lica "estaa ser\'i~odos pobres··.Que seu papele "combater 0 prh"ih:!:gio e a desiguaJ-dade social--.Que a ·'pobre~a. hoje. emais desumana··. Que 0 desempregoe cnusado peln "globalizaqao e peloneoliberaJismo". Que a "refonnaugdria de\'e SCI" :'H.:derada·· Que 0ag-roneg6cio nao gar;:mle a ')ustic;asocial-·.Que 0 Fame Zero e urn "fci-to muito grande em tcrmos de distri-buic;ao de-rendn-". Que 0 home In pre-cisa "en tender que d:1 para seT" felizcom menos", Que e urgenre abnndo-nar as ":mlbi<;6esindividualistas",

A unica mancira que a Igreja tcmpara ajudar as pa-bl'cse dar-lhes sapo.e roupa "elha. Nilo ea opiniiio do cm'dealClaudio Hummes,Ele ncredim que areligiJo pode fazermuita mab. funcio-nando como urn

I contra peso para 0

capitalismo e a so-ciedade de consu-moo A maior pat1edos discipulos deJoao P:.luloII cxibe umesma prcsun\;uo.Eles imaginam queo papa de fata delTU-ballo.comunismo. Eque. a st!guir.derru-bm;a tambem os as-

respostas anti gas.o que nao pode dar sao respostas no-vas. Qualquer tentaliva de encontnu'respasms novas pat'a quesroes canlOcelulus-tToL"Oembriomirias. au abono,uu eutambi.a. uu melodos c.:ontrat:epti-vas sera sempre gratescamente mal-sucedida. A melhor ~aida e fazer 0

contnirio do que diz dam Chiudio. Emvez de enfrenl:lras remas da moderni-dade, 3 19reja deve simplesmeme ig-noni-Ios. Dam Claudio gosra de pes-car e tocar "jolino,E Ulna vantage-rn.Quando lhe pcrguntal"em sobre as ce-

lulas-tronco cmbrio-"Os cat61icos,segundo dom

Cldudio Hummes,precisam oLharpara a frente.E

um erro.Seu Lugare La atras.0

melhor argumentode que a Igreja

dispoe e 0 mesmode sempre: as

profundezas doinferno"

pectos majs dan i-nhos do cnpitalismo. que se manifes-tam sob u fomKI de um degeneradommcrialismo. E um eno de avaliadi.oda hierarquia cat6Hca, Em prim~irolugar, quem denubou 0 c0Il111nislnafoi 0 capitalismo. c n30 0 papa. Emsegundo lugar, 0 grande mriblllo do

I capitalismo e a capacidade de se COT-rigir sozinho. Sem religiilo.Sem p·apa.

I Sem 0 cardeal de Sao Paulo.

~

0 principal pomo da p13laJ"orm3papal de dam Claudio e que "n 19re-~ nao pode dar respqstas antigas a

n:irias. ele pode sairp.J.rapescar ou sc fc-char no Cjll<.ll·tO <.:on1seu "lolino. Se na~tiver para onde esca-par. 0 conselho eabrir a Escritul'u ao:lCD-SO e. cilar 0 pri-meiro ycrsfculo quelbe saItar aos olhos.Uma resposta antigaccnamente sera me-nos impropria doque um arremcdo dercsposta nOYa,

Dam Claudio etido como urn con-sen'ador no campo Imoral. Deveria sel'mais. Um exemplo:mfies solreims. Elas

rcpreselllam um dos maiores proble-mas ..,.ociai:;do pals,porqw: S(l contamcom a renda de um salal;().Sc domCiaudio fizesse uma \."Tuzadaamaldi-r;oando os homcns que abandonam asmulhcrc.s gni..•.ida.s,0 rcsultado ccrta-mente seria nulo. mas pelo menos co-iOC"a1iaa Igrejado ladoda raz50. as ca-tolkos. segundo dom Claudio. preci-sam olllarpara a frenrc. E lim CITO. Seulugare Inatl·~\s.0 melhor argumento deque a 19rejadisp6e e 0 mesmo de se1l1~pre: as profundezas do inferno.

veja 13 de abril, 2005

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4.5 AS RESPOSTAS DA IGREJA

"No meu conclave particular, dou-Ihe fumacinha preta"

Come~aremos analisando 0 primeiro paragrafo. Para entender

semanticamente a expresseo aeirna e necessario primeiro saber 0 que significa

conclave e que referencia estabetece com fumacinha preta. No contexto fica mais

facil, pais 0 interlocutor com certeza tara uma inferencia sem meda, a de que S8 trata

de algo relacionado com a Igreja. tsso e facilmente observavel no contexto. Mas

vamos isolar, um locutor (A) pergunta a um interlocutor (8):

(A) Dom Claudio Hummes e candidato a papa. 0 que voce acha?

(8) No meu conclave, dou-Ihe fumacinha preta.

Aparentemente, a resposta de (8) nada tem a ver com a pergunta de (A),

naD S8 0 interlocutor naD sauber 0 que significa 0 que e conclave e 0 que significa

fuma<;a preta. Veja que a resposta de (8) nao e relevante a pergunta de (A). S6

conseguimos fazer as inferencias e perceber a ironia impHcita S8 inferirmos que

segundo as regras da Igreja Cat61ica para que um papa venha a suceder outro, ou

seja, escolhido para a sucessao, e queimado urn papel com as names de varios

candidatos. 0 nome queimado cuja fuma<;a for cinza e 0 escolhido e se for preta e

porque foi reprovado. E por isso que fica mais uma vez provado que para perceber a

ironia na grande maioria dos cases e necessaria sim ter urn conhecimento de mundo

e depende tambem das inferencias. Fica tambem provado que a teoria de Grice nao

da conta de explicar tais manilesla¢es,de ironia, pois se para Grice a ironia e 0

oposto daquilo que se deseja comunicar, entao nao se aplica ao exemplo acima.

No terceiro paragrafo na.2D" linha:Mainardi coloca:

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"Dom Claudio gosta de pesear e toear violino. E uma vantagem. Quando Ihe

perguntarem sobre as celulas-tronco embrionarias, ele pode sair para pescar au S8

fechar no quarto com seu violino. Se nao tiver para ande escapar, 0 canselha e abrir

a Escritura ao acasa e cit8r 0 primeiro versiculo que Ihe saltar aos alhos. Uma

resposta antiga certamente sera men os do que um arremedo de resposta nova."

Nesta citac;ao, a ironia se com pi eta como um todo, ela toda e ironiea, e tal

ironia e percebida pois ha varios espayos onde temos que preencher com algumas

informa90es , e e ai que fazemos as inferencias. Como dar conta dessa analise com

a teoria de Grice? Claro que Mainardi viola a maxima, nao e relevante, mas 0

conceito de Grice sabre ironia nao consegue se aplicar neste casc.

Mainardi usa a ironia para criticar a Igreja, pois 0 que ele quer dizer e que a

igreja, alem de ser contra a modern ida de cientifiea, os avanyos da modernidade, ela

nao tern resposta, sua unica argumentayao e 0 caminho do inferno, ou seja, ela

sempre esta procurando resposta na Biblia para quest6es novas. E claro que nessa

leitura, alem do conhecimento de mundo, e levada em conta tambem a crenya de

eada um. Se se tratar de alguem que nao acredita na Biblia como resposta para

tudo, pod era fazer essa leitura de que a igreja s6 da resposta antigas e identifiear a

ironia.

Porem, nos casos citados acima, s6 podemos explicar como se da 0

processo da ironia atraves da teoria da relevancia.

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Fonte: A pragmatica, genealogia da pragmcUica, pg. 150.

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CONCLUSAO

o que Grice procurou fazer foi tra9ar uma distin<;:iioentre 0 que e dito e 0

que 8Sta tacitamente implicado, que no case da ironia, sera sempre uma implicatura

que substituira 0 que foi dito pelo locutor. Podemos concluir tambem que para se

interpretar a ironia atraves do ponto de vista pragmatico - cognitivD, depende-s8

alem das cren9as e saberes compartilhados, da quebra de, pelo menos uma maxima

conversacional, al8m dos processos cognitivos inferenciais. Teorias como as de

Grice e de Levinson procuram explicar 0 dito e 0 comunicado, apoiando-se nas

implicaturas conversacionais, generalizadas e particulares como e 0 caso da ironia.

Na tentativa de explicar a comunica<;:iio humana surge a teoria da

relevimcia, uma teoria pSico16gica cognitiva, que trata do enunciado como urn

processo cognitiv~ (mental). 0 principio da relevancia tem como fundamento

transmitir 0 maximo com a minima de esfon;o, e atraves da t80ria da relevancia que

o locutor vai conduzindo 0 interlocutor atraves de infer€mciasa uma relevancia 6lima.

No entanto 0 que niio podemos deixar de conciuir e que a teoria de Grice

(Principia de coopera~o e as maximas conversacionais) naD consegue 8xplicar as

implicaturas conversacionais particulares no seu todo como no caso, a ironia.

Contudo, este estudo apresenta uma primeira constata<;:iiode como se

manifesta, quais os processos pelo qual passa e como passa a ironia. Pretendemos

seguir explorando este caminho, neste universe a ser desvendado que e a

pragmatica.

Percebemos que hi! muito ainda a ser estudado, como outros te6ricos com

novas teorias, outras analises e esperamos que este projeto seja 0 inicio de algo

maior no futuro.

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