12
OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA PROCESSOS HISTÓRICOS: CIANOTIPIA E MARROM DE VAN DYKE Adalberto Porto Alegre e Antonio Carlos Paim 1 - Cianotipia: Foi um dos primeiros processos de impressão fotográfica em papel. Foi descoberta por Sir John Herschel, notável cientista, cuja atividade principal era a astronomia. A cianotipia tem este nome porque as imagens assim produzidas apresentam-se em azul (cian). Isto acontece pelo fato de se basear em sais de ferro e não prata. Também é conhecida como ferroprussiato ou "Blueprint". Não é um processo para produzir negativos, mas cópias em papel. A emulsão é muito lenta e por causa disso é impraticável ampliar negativos sobre papel. A cópia é obtida por contato, numa prensa especialmente construída (veja abaixo como se faz), exposta em luz rica em UV, podendo ser a própria luz do sol. Nesse caso, a impressão pode demorar de 5 a 30 minutos, dependendo da densidade do negativo e da intensidade do sol. Após o tempo de exposição, a folha de papel é lavada em água corrente por 10 minutos e, ao secar, a imagem adquire tons azuis bem saturados. Emulsão Fórmula: SOLUÇÃO A:

OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Este artigo descreve dois métodos para produzir imagens: cianotipia e marrom de vandyke, bem como suas fórmulas e resultados. This paper describes two methods to produce images called cianotype and Vandyke´s Brown, its formulations and results.

Citation preview

Page 1: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA PROCESSOS HISTÓRICOS:

CIANOTIPIA E MARROM DE VAN DYKE

Adalberto Porto Alegre e Antonio Carlos Paim

1 - Cianotipia:

Foi um dos primeiros processos de impressão fotográfica em papel.

Foi descoberta por Sir John Herschel, notável cientista, cuja atividade principal

era a astronomia.

A cianotipia tem este nome porque as imagens assim produzidas

apresentam-se em azul (cian). Isto acontece pelo fato de se basear em sais de

ferro e não prata. Também é conhecida como ferroprussiato ou "Blueprint".

Não é um processo para produzir negativos, mas cópias em papel. A

emulsão é muito lenta e por causa disso é impraticável ampliar negativos sobre

papel. A cópia é obtida por contato, numa prensa especialmente construída

(veja abaixo como se faz), exposta em luz rica em UV, podendo ser a própria

luz do sol. Nesse caso, a impressão pode demorar de 5 a 30 minutos,

dependendo da densidade do negativo e da intensidade do sol. Após o tempo

de exposição, a folha de papel é lavada em água corrente por 10 minutos e, ao

secar, a imagem adquire tons azuis bem saturados.

Emulsão

Fórmula:

SOLUÇÃO A:

Page 2: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

Ferricianeto de Potássio – 10 gramas diluídos em 100 ml de água.

SOLUÇÃO B:

Citrato Férrico amoniacal (verde) – 25 gramas para 100 ml de água.

As duas soluções são guardadas separadamente em frascos escuros,

protegidas da luz, devendo ser misturadas somente na hora de pincelar as

folhas de papel, sempre em partes iguais e em pequenas quantidades. Os sais

que compõem a emulsão sensível devem ser dissolvidos de preferência em

água destilada.

Não são produtos perigosos, mas em caso de contato com a pele,

recomenda-se lavar bem a área afetada e assim evitar quaisquer reações

alérgicas.

As soluções devem ser preparadas sob luz de proteção, bem como a

aplicação nos suportes. Guardadas separadamente, conservam suas

propriedades por um ano.

Dica importante:

Para escurecer mais o azul, caso queira-se aumentar

ainda mais o contraste, pulveriza-se água oxigenada 10 volumes (destas que se

usa em curativos). Esta aplicação causa uma reação imediata e deve ser feita

logo após a revelação em água, com o papel ainda bem molhado. Em seguida,

um rápido enxágüe e está pronto.

Page 3: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

Provavelmente o primeiro livro de fotografia

registrado foi feito com cianotipia. Em 1843, na

Inglaterra, por Anna Atkins, botânica inglesa. foi ela a

primeira pessoa a perceber potencial da fotografia em

trabalhos científicos.

Anna Atkins em seus estudos editou o livro

"Photographs of British Algae: Cyanotype

Impressions", depositando seus espécimes sobre folhas de papel sensibilizadas

com cianotipia e fazendo cópias de contato.

Page 4: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP
Page 5: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

Há, ainda a possibilidade de viragens ou tonalizações de cianótipos, conforme Luiz Monforte:

Violeta-escuro – Mergulhe a imagem numa solução de amoníaco (50%) e água. Esse procedimento apagará a imagem temporariamente, até que a mesma seja lavada em água corrente durante 5 minutos e tonalizada numa solução de ácido gálico diluído em água na proporção de 1:100. Após a tonalização, a imagem deverá ser lavada em água corrente durante 30 minutos.

Azul-marinho – Mergulhe a imagem numa solução de 5% de acetato de chumbo a 30º C de temperatura. Após a tonalização aimagem deve ser lavada em água corrente por 30 minutos.

Marrom-siena – Banhe a imagem durante 5 minutos numa soluçnao de 6g de ácido tânico diluídos em 180 ml de água. Transfira a imagem para um banho de 6g de carbonato de sódio diluídos em 180 ml de água durante 5 minutos. Após esses banhos a imagem deverá ser lavada em água corrente por cerca de 15 minutos.1

1 www.luizmonforte.com/pensante.htm

Page 6: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

2 - Marrom de Van Dyke

Este processo foi muito utilizado nas últimas décadas do século XIX

e nas primeiras do século XX para reproduzir cópias de contato a partir de

negativos de grande formato. Apresenta uma excelente gradação de meios tons

e um belo acabamento em marrom escuro. Com o surgimento de papéis

industrializados, muito mais rápidos e que permitiam cópias através de

ampliadores, esta e outras técnicas que só possibilitam cópias por contato,

acabaram caindo em desuso. Além disso, os negativos industriais foram sendo

fabricados em formatos cada vez menores. Esta emulsão por conter metal

pesado (prata) requer muito mais cuidado em sua manipulação. Os sais de prata

em contato com a pele e com a ação de raios ultravioleta causam manchas

escuras que demoram vários dias para desaparecer. Por isto recomenda-se

cuidado redobrado.

A emulsão é facilmente contaminável. Nunca usar recipientes

metálicos. Ao pincelar esta emulsão sobre o papel, deve-se cuidar para que a

mesma não entre em contato com o metal do pincel. É aconselhável, inclusive,

cobrir a parte metálica do pincel com fita isolante e nunca deixar o pincel

mergulhado na emulsão.

Aplica-se sobre o papel com pinceladas suaves, espalhando o líquido

de forma homogênea, cuidando para que não se forme acúmulos em algumas

regiões da folha. Colocar para secagem ao abrigo da luz, podendo-se acelerar

com o auxílio de um secador de cabelos. Após a exposição à luz, lavar em água

corrente por 10 minutos, levar ao banho fixador por 2 minutos e depois mais

uma lavagem em água corrente por 10 minutos.

Page 7: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

FIXADOR: Usa-se o mesmo fixador do papel fotográfico preto e

branco convencional, porém 20 vezes mais diluído, ou seja, para 100 ml do

fixador já diluído para o papel convencional, adiciona-se 2 litros d’água. Se for

um pouco mais concentrado, ocasiona manchas nas cópias.

Emulsão

Fórmula:

SOLUÇÃO A:

Nitrato de Prata – 04 g diluídos em 33 ml de água destilada.

SOLUÇÃO B:

Citrato de Férrico Amoniacal (cristais verdes) - 10 g para 33ml de

água destilada.

SOLUÇÃO C:

Ácido Tartárico – 1,5 g diluído em 33 ml de água destilada.

Depois de bem diluídas, misturar as soluções B e C e, aos poucos,

acrescenta-se a solução A.

A solução final deve ser acondicionada em frasco bem escuro e pode

ser guardada por um ano.

Preparo do Papel

Aplica-se a emulsão sobre o papel utilizando-se um pincel chato

macio. Deve-se espalhar uma camada homogênea de emulsão, puxando bem o

pincel a fim de evitar o acúmulo de líquido em algumas regiões da folha, pois

isto causa manchas no trabalho final.

Qualquer papel serve, desde que não seja ácido. O CANSON 200g/m2 e o

Montval 300g/m2, usados em nossa oficina apresentam bons resultados. Há

papéis importados e feitos para “técnicas molhadas”: gravura e aquarela, que

também apresentam resultados excelentes como, entre outros o ARCHES e o

FABRIANO. Querendo obter-se uma qualidade ainda maior, conforme alguns

Page 8: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

autores indicam, o papel antes de receber a emulsão deve ser banhado numa

solução de amido ou gelatina e posto a secar. Assim a solução sensível não é

absorvida a fundo pelas fibras do papel, conferindo às cópias uma textura

aveludada e homogênea.

3 - Negativos

Podem-se produzir fotogramas em cianotipia e marrom de van dyck.

Para isso basta se colocar objetos de diferentes formas e tamanhos como folhas

de árvores, penas e plumas, pregos, porcas, arruelas, clips, parafusos, etc. sobre

a folha de papel emulsionada e levá-la para exposição ao sol e em seguida

levar para o banho de revelação e, no caso do van dyke, também de fixação. Os

resultados são surpreendentes! Caso se queira reproduzir fotografias utilizando

o mesmo processo, necessitaremos de um negativo da imagem desejada

impresso sobre uma transparência. Isso, hoje em dia é muito fácil de se

conseguir: basta digitalizar a imagem e utilizando programas de edição de

imagens, transformá-la em tons de cinza, ou seja, preto e branco, melhorar o

brilho e contraste, caso seja necessário e invertê-la, isto é, transformá-la em

uma imagem em negativo. Depois disso, imprimi-la sobre uma transparência,

que é uma folha feita de acetato e preparada para receber impressão. Encontra-

se em qualquer papelaria. Este negativo possibilitará inúmeras cópias, tanto em

cianotipia, quanto em marrom de van dyck. Por isso deve-se cuidar que o

mesmo seja sempre bem acondicionado, evitando-se assim que se arranhe, pois

deve sempre estar pronto para ser utilizado.

Os negativos a serem impressos através destas duas técnicas devem

ter um bom contraste porque ambas as emulsões, embora lentíssimas, têm uma

gradação muito suave.

Page 9: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP
Page 10: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP

4 - Prensinha

A prensa utilizada para produzir as cópias de contato é muito simples

de se confeccionar. Precisamos de uma lâmina de vidro e de uma chapa de

madeira ou compensado com o mesmo tamanho, entre as quais vão

"ensanduichados" a folha de papel emulsionada e o negativo a ser copiado,

bem como uma "cama" feita com algumas folhas de jornal, que serve para

garantir uma boa prensagem (veja na ilustração a disposição de cada

componente da prensa). Tudo bem fixado com o auxílio de prendedores de

papel. Pronto! Agora é só levar para a exposição ao sol ou a outra fonte de

raios UV.

Page 11: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP
Page 12: OFICINA DE FOTOGRAFIA ALTERNATIVA (PORTO ALEGRE) - ALTERNATIVE PHOTOGRAPHY WORKSHOP