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Oficina do Lapidário

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O livro Oficina do Lapidário é produto do Plano de Intervenção Pedagógica que consiste na implantação do método da Releitura e Reescrita, haja vista o descaso e a vacância dos alunos com as atividades de leitura e escrita. O método é bastante simples, implica escolher uma temática para leitura e pesquisa, promover a produção textual e, em seguida, refletir sobre o texto redigido com intuito de aprimorá-lo. A princípio, a releitura foca a estrutura ou as características do gênero proposto e o grau de informatividade, assim o aluno já enxerga muitas oportunidades para reescrever, aprimorando sua redação; depois, numa segunda releitura, é feita uma análise em relação à segmentação entre as partes, à coesão e à coerência; e na última releitura, fase da revisão, o aluno reescreve aprimorando as questões gramaticais, como modos e tempos verbais, colocação pronominal, questões ortográficas e pontuação etc.

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A P O I O C U LT U R A L :

Bazar Fitas e Fricotes – Delfi m Moreira/MG

Casa de Couro Cesinha – Delfi m Moreira/MG

Delgás Ltda – Delfi m Moreira/MG

Droga Mais Brasil – Delfi m Moreira/MG

FAI – Faculdade de Administração e Informática – Santa Rita do Sapucaí/MG

Jornal A Voz da Montanha – Delfi m Moreira/MG

Loja Santo Antônio – Materiais para construção – Delfi m Moreira/MG

Magazine Analy 1,99 – Delfi m Moreira/MG

Mercadinho Jones Viana – Delfi m Moreira/MG

Multiopções – Delfi m Moreira/MG

Nery Engenharia e Automação – Delfi m Moreira/MG

Padaria do Eduardo – Delfi m Moreira/MG

Paulo Autopeças – Delfi m Moreira/MG

Pousada Solar da Mantiqueira – Delfi m Moreira/MG

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Ana Maria de Paiva Alves e Silva (org.)

Delfi m Moreira-MG2013

Escola Estadual Marquês de Sapucaí

Plano de Intervenção Pedagógica

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Copyright © 2012 Ana Maria de Paiva Alves e Silva

OrganizaçãoAna Maria de Paiva Alves e Silva

Revisão de textoLúcia Helena Ribeiro Cruz

Fernanda SecchimFlávia Portellada

Projeto gráfi co e CapaJulio Portellada

DiagramaçãoEstúdio Kenosis

FotosMateus Ribeiro

Publicado em 2013

Informações sobre o Projeto Lapidar:www.projetolapidar.com.br

[email protected](35) 9843-4767

Editora Kenosis Ltda METravessa Domingo Dente, 10 – Vila Mazzei

São Paulo – SP • (11) 4063-0380www.kenosis.com.br

[email protected]

É PROIBIDA A REPRODUÇÃONenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo

transmitida por meios eletrônicos ou gravações, sem a permissão, por escrito, do editor. Os infratores serão punidos de acordo com a Lei no 9.610/98.

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D E D I C ATÓ R I A

À minha mãe, Maria do Carmo de Paiva Alves, professora que dedicou cerca de trinta anos de

sua vida à educação, nesta escola, e quem me ensinou o prazer que o conhecimento nos proporciona, além de ser a maior incentivadora de todos os meus proje-tos pedagógicos.

AG R AD E C I M E NTO S

Agradeço a Deus pela inspiração e pela garimpa-gem, que considero uma dádiva; a todos os pro-

fessores e funcionários que colaboraram de alguma forma, em especial às professoras Fernanda Secchim e Lúcia Cruz pelo entusiasmo, acompanhamento e participação neste projeto de releitura e reescrita. Ao amigo Eduardo Soares, pela preciosa colaboração no arremate do projeto.

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“Escrever é transformaro grafi te do lápis

no diamante da alma.”M. M. Soriano

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Prefácio ..........................................................................................................................11Apresentação .................................................................................................................13Introdução .....................................................................................................................17

Parte I – “Eu, minha cidade e os 300 anos do ciclo do ouro em Minas Gerais”

Garimpando a história – Lílian Aparecida Ribeiro ...........................................23A identidade cultural vale ouro – Tainára Aparecida Nunes ...........................25

Parte II – 1° Centenário da Morte do Barão do Rio BrancoUm protagonista no cenário brasileiro – Lílian Aparecida Ribeiro ................29Barão do Rio Branco: o patriota em circulação – Alana P. de Carvalho .........33Nos rastros do Barão – Swantje Cipas Perhs ......................................................36Sessão de história – Jennifer Ingrid Tomé ...........................................................39Conversa no museu – Maristela Cristina Gomes ...............................................43

Parte III – O conhecimento de uma nova ciência: a Logosofi aO dia de hoje – Davi Gaeta de Oliveira ...............................................................49Estações – Lílian Aparecida Ribeiro ....................................................................51Devaneios – Mateus de Carvalho Ribeiro ...........................................................53Roteiro da vida – Mateus Cortez Marcondes ......................................................55A lavoura – Tainára Aparecida Nunes .................................................................57Quase um diálogo – Jaqueline de Cássia Silva ...................................................59Sabedoria de mãe – Carla Adriele Lemes Ribeiro ..............................................61A procura – Gabriel Felix Ramos .........................................................................63Vida em construção – Adriana Maria Peres ......................................................65

Sumário

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Vida e fl ores – Carlos Mateus Rodrigues .............................................................67Vivendo e aprendendo – Alana Priscila de Carvalho .......................................69Página da vida – Ângela Maria Nunes Assis .......................................................71Carta ao professor de Sociologia – Jennifer Ingrid Tomé ..................................73Pausa – Afonso Ribeiro Araújo .............................................................................75Satisfação – Joice Amaral Carvalho .....................................................................77Eu, você e o tempo – Paula Rafaela Ferreira Rabelo .........................................79Coisas que aprendi na viagem – Andreia Liliane Ribeiro .................................81Sentimentos – Gustavo de Carvalho Siqueira ....................................................83Caminhos – Camila Ribeiro Sapucci ...................................................................85

Parte IV – O Lugar onde vivoMemórias

Entre amigas – Alana C. Coura e Rhayane T. Andrade .....................................93Viagem ao passado – Ana Cecília dos Santos Pinto ..........................................95Alegria de viver – Milena Silva Cunha ...............................................................97Simplesmente vida – Ana Paula Ribeiro ............................................................99A Corrida do tempo – Mariana Santos Siqueira ............................................ 101O tempo que não volta – Janaína Nayara Moraes .......................................... 104No último vagão – Wiebke Cipas Perhs ............................................................ 107Pedaços de história – João Valadão de Mello Neto ......................................... 109Alegria de reviver o passado – Jeronimo Silva ................................................ 111Tempos que passaram, lembranças que fi caram – Mayara P.

de Carvalho e Bruna M. de Carvalho ......................................................... 113Eu e a maria-fumaça – Izabel N. Bernardes e Daiane C. Gonçalves ............. 115Só restam saudades – Ana Luísa M. Lorena e Gabriel J. F. Alves................... 117O tempo passa, a saudade aumenta – Sabrina de Souza Gusmão ............... 120

CrônicasO compositor – Mateus Cortez Marcondes ...................................................... 125Crepúsculo – Jaqueline Adriana de Moraes ..................................................... 127Domingo – Lívia Mara Viana Venturelli.......................................................... 129Uma viagem inesquecível – Shelmer Ismael Ferreira Araújo ........................ 131Rotina – Luiz Augusto Fernando Guimarães................................................... 133Marmelo – Francis José Machado..................................................................... 135No ônibus – Jaqueline de Cássia Silva .............................................................. 137Questão cultural – Carla Adriele Lemes Ribeiro ............................................. 139

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Miguel: o visitante – Afonso Ribeiro Araújo .................................................... 140Saudade – Tainára Aparecida Nunes ................................................................ 143Encanto da Mantiqueira – Cláudia Sabrina Fortes ........................................ 145Aula de história – Mariana Oliveira Sapucci .................................................. 147As montanhas guardiãs – Ângela Maria Nunes Assis .................................... 149A entrevista – José Guilherme de Souza Valim ................................................ 151Declínio – Camila Ribeiro Sapucci ................................................................... 153O Curioso e o Orgulhoso – Ricardo Henrique Batista .................................... 155

Artigos de opiniãoEmpreender é preciso – Rosineide Aparecida Fortes Xavier ......................... 161O despertar da cidade – Lílian Aparecida Ribeiro .......................................... 163Alguém aceita o cargo? – Edson José de Souza ............................................... 165Sete de setembro reduzido a quase nada! – Márcia A. de Freitas Carvalho .... 168Preservação × Devastação – Bárbara A. Mendes e Luciana Mª Cortez ....... 171

Parte V – PreciosidadesEscolas literárias multicores – Lilian Aparecida Ribeiro ............................... 175Carta a um atleta – Camila Ribeiro Sapucci .................................................... 177Palavras – Davi Gaeta de Oliveira .................................................................... 180A Vida – Carlos André Pacini A. da Silva ......................................................... 181Acordar para o cotidiano – Carlos André Pacini A. da Silva ......................... 182Sonho de barro – Luiz Augusto Fernando Guimarães ................................... 183Reminiscências – Mariana Oliveira Sapucci .................................................. 185Violência Urbana – Natanael Oliveira Santana .............................................. 187

Parte VI – PérolaNa escuro da noite – Luiz Augusto Fernando Guimarães .............................. 191

Parte VII – Considerações fi naisDescrição da experiência................................................................................... 197Análise de resultados ......................................................................................... 205Os lapidários desta ofi cina ................................................................................. 207

Parte VIII – Projeto LapidarO Projeto Lapidar nas escolas ........................................................................... 213

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Prefácio

A intenção de reunir os textos produzidos pelos alunos no li-vro Ofi cina do Lapidário é comprovar que a metodologia da

releitura, reescrita e revisão textual é um sucesso.Há anos, a Escola Estadual Marquês de Sapucaí, Delfi m Mo-

reira-MG, tem se preocupado com um número considerável de alunos que apresentam desinteresse pela leitura e problemas com a escrita. E, depois de muito deliberarmos, chegamos ao consen-so que a solução está na postura do professor que, ao invés de ensinar uma gramática descontextualizada, visando prova e cor-reção de redações com o único objetivo de lhe atribuir uma nota, deve assumir a função de mediador, conduzindo os redatores à autocorreção dos próprios textos.

Essa preocupação dos docentes de nossa escola a faz se desta-car no cenário educacional com notáveis e exitosas experiências pedagógicas, que elevam a autoestima do grupo diante de pre-miações sucessivas, tanto no âmbito estadual quanto no federal.

É sabido o quão importante é a leitura e a escrita na vida de todo ser humano, e o quanto essas ações favorecem-lhe a inser-ção na vida acadêmica, profi ssional e social. Sendo assim, ler-es-crever-reler-refl etir-reescrever são atos que cristalizam nossos pensamentos, nossos sonhos e perpetuam nossa história.

Emília Estela Cordeiro MotaDiretora da E. E. Marquês de Sapucaí, Delfi m Moreira-MG

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Apresentação

Aprimorando a escritaUma das melhores formas de ensinar redação na escola é levar o aluno a reescrever textos. Se a escrita é um processo, nada me-lhor para cumprir as diferentes etapas de que ele se compõe do que elaborar diferentes versões de um mesmo material até que se chegue a um resultado satisfatório. A reescrita desperta a visão crítica do estudante sobre os problemas linguísticos e, ao mesmo tempo, aprimora-lhe a competência textual. Ao produzir várias versões, o aluno se dá conta dos problemas gramaticais, estrutu-rais e semânticos envolvidos na elaboração do texto.

A refeitura não se limita, contudo, à dimensão da linguagem. Não escreve bem apenas quem não comete erros ortográfi cos e se sai bem em ortografi a, concordância e regência. Um texto pode ser correto nesses aspectos e não cumprir a sua função. O estudo da norma só tem sentido se conduz à produção de escritos que ajudem o indivíduo a atuar na sociedade. Isso porque, conforme observa Daniel Cassany, o ato de escrever “está diretamente liga-do com o eu e com o nós: com minha mente, com minha imagem social, com a comunidade à qual pertenço, com a disciplina ou o grupo no trabalho – eu e meus colegas”.

Ofi cina do lapidário, coletânea organizada pela professora Ana Maria de Paiva Alves e Silva a partir de material produzido em sala de aula por seus alunos, constitui um excelente exemplo

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da integração entre os domínios linguístico e social envolvidos no ato da escrita. O livro associa pesquisa, leitura e redação, mos-trando que a efi cácia no ato de escrever resulta, em sua maior parte, da articulação entre aqueles dois domínios.

Um dos desafi os de quem ensina redação é motivar os alu-nos. Nos textos que ora apresento serviu de gatilho para essa motivação o acoplamento das atividades de escrita à pesquisa historiográfi ca, à refl exão fi losófi ca ou à avaliação do meio em que os autores estão imersos. Além disso, conforme assinala a organizadora na Introdução, os trabalhos ligaram-se em grande parte a projetos de leitura, pesquisa e produção textual sugeridos por instituições conceituadas.

Assim, por exemplo, o centenário do Barão do Rio Branco e o ciclo do ouro em Minas Gerais se constituíram em temas, o que implicou abordar a história e refl etir sobre a evolução do estado. Os alunos pesquisaram sua cidade, Delfi m Moreira, e no confronto do passado com o presente passaram a entender melhor as transformações que nela ocorreram. A cidade emerge pela voz de pessoas idosas, que evocam tipos e costumes soterra-dos pelo progresso. Nesse contexto, o marmelo e a maria-fumaça aparecem como signos de um passado glorioso que hoje vive apenas na lembrança, destruído que foi pelo progresso e também pela inépcia de administradores comprometidos com interesses alheios aos da coletividade.

Em outro plano, os textos produzidos a partir da leitura do livro Bases para sua conduta, escrito por Carlos B. González Pe-cotche, fundador da Ciência Logosófi ca, levaram os autores a exercitar a introspecção num mundo de estímulos díspares como o nosso, em que uma série de fatores tende a alienar o indivíduo de si mesmo.

O grande desafi o era desenvolver esses temas com inventi-vidade e sabor, isto é, sem o ranço ou a abstração de que comu-mente estão impregnados. O meio de realizar isso foi diversifi car os gêneros e adequar o registro de linguagem não apenas a eles,

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mas também ao universo dos autores, que se mostram à vontade na execução das tarefas. Nelas transparece o prazer com que os textos foram escritos.

Os trabalhos aqui presentes confi rmam a verdade segundo a qual “reescrever é tornar o texto adequado a uma certa fi nalida-de, a um certo tipo de leitor, a um certo gênero” (Sírio Possenti). Escolher adequadamente o gênero faz parte da estratégica dis-cursiva; é uma das condições para que a escrita alcance o seu ob-jetivo. A elaboração dos textos que aqui se enfeixam em formato de cartas, memórias, crônicas, depoimentos foi uma maneira in-teligente de mostrar aos alunos a efi ciência dos diferentes gêne-ros e, ao mesmo tempo, tornar a produção aprazível ao leitor.

Por tudo isso, Ofi cina do Lapidário confi rma a efi ciência do método da reescrita e serve de referência para os que pretendem aplicá-lo em sala de aula. Ao testemunhar a integração dos au-tores com o lugar onde vivem, mostra que a escrita é sobretudo uma atividade social. E mostra também que é possível harmoni-zar o registro de pessoas, eventos, lugares com a dimensão afeti-va, essencial para defi nir a personalidade de quem escreve. Isso é fundamental num momento em que parece cada vez mais difícil levar nossos alunos a escrever.

Chico VianaDoutor em Letras pela UFRJ

Professor de português e redação em João Pessoa/PBwww.chicoviana.com

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Introdução

O Projeto Lapidar surgiu a partir do Plano de Intervenção Pe-dagógica e consiste na implantação do método da Releitura

e Reescrita, haja vista o descaso e a vacância de alunos com as atividades de leitura e escrita.

O Projeto Lapidar é bastante simples. Implica em:1. Escolher uma temática para leitura e pesquisa;2. Promover a produção textual e, em seguida,3. Refl etir sobre o texto redigido com intuito de aprimorá-lo.

Se elaborarmos um pouco o sentido do Projeto Lapidar, ve-remos que:A. A princípio, a releitura foca a estrutura ou as características

do gênero proposto e o grau de seletividade da informação. Assim o aluno já enxerga muitas oportunidades para reescre-ver e aprimorar sua redação;

B. Depois, numa segunda leitura, é feita uma análise em relação à segmentação entre as partes, quanto à coesão e à coerência;

C. E na última releitura, fase da revisão, o aluno reescreve apri-morando as questões gramaticais, como modos e tempos ver-bais, colocação pronominal, questões ortográfi cas, pontuação etc.

Quanto à escolha dos temas no Projeto Lapidar, foi tudo muito natural e espontâneo, porque nos últimos doze meses, jun-to com meus alunos do ensino médio participamos de diversos

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projetos de leitura, pesquisa e produção textual sugeridos pela ALMG – Assembleia Legislativa de Minas Gerais, ABL – Acade-mia Brasileira de Letras, ECT – Empresa de Correios e Telégrafos, MEC – Ministério da Educação e Cultura e Fundação Logosófi ca do Rio de Janeiro, os quais são divulgados pelo site da SEE – Se-cretaria de Estado de Educação.

E, hoje, posso dizer que após 24 anos de docência, fi nalmen-te despontou o sabor e o regozijo de ter colhido o mais valioso resultado de garimpagem. São redações que se consumaram pelo entusiasmo no momento da leitura e da pesquisa, pela dedicação no ato da escrita, pelo compromisso e persistência no processo da releitura e da reescrita, e que refl etem efetivo aprendizado no momento da revisão gramatical.

E assim como eu, os alunos que se aventuraram nesta em-preitada sentem o prazer de ler e escrever com um novo olhar sobre a escrita, agora conscientes do verdadeiro caminho para o desenvolvimento da linguagem. Só através do Projeto Lapidar, com o uso da releitura, reescrita e revisão, o aluno torna-se hábil para enxergar no próprio texto a conexão e a segmentação entre suas partes, para assegurar a coesão das unidades linguísticas e para apreender, assimilar muitos conhecimentos gramaticais de forma contextualizada.

Não menos importante durante esse processo, o aluno se fa-miliariza com os diversos gêneros textuais, o que lhe permite o acesso às formas mais complexas da vida cidadã, além de ampliar seu grau de letramento.

O livro Ofi cina do Lapidário é o produto do Projeto Lapidar.O Projeto Lapidar foi implementado em 2011, nasceu com

sucesso, permitiu prêmios literários já no fi nal de 2011 e novos prêmios literários em 2012. Esse êxito se fez espelho e mola pro-pulsora e motivadora para outras ações que muito contribuíram para a consolidação do livro Ofi cina do Lapidário.

O contexto em que o Projeto Lapidar apareceu está descrito a seguir:

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O Ciclo do ouro em Minas Gerais – Textos classifi cados pela SRE/ItajubáNo ano de 2011, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais pro-moveu o Concurso “EU, minha cidade e os 300 anos do ciclo do ouro em Minas Gerais”, o qual impulsionou muitos alunos da Escola Estadual Marquês de Sapucaí (Delfi m Moreira-MG), a investigarem o passado histórico de nosso município. Dentre uma vasta produção, dois textos foram classifi cados pela Supe-rintendência Regional de Ensino (SRE/Itajubá), sendo que um deles foi reconhecido e premiado pela ALMG. A primeira parte do livro Ofi cina do Lapidário apresenta essas duas redações.

Vida e obra do Barão do Rio Branco – Texto reconhecido pela ABL – Academia Brasileira de LetrasA segunda parte é constituída de cinco textos resultantes de uma investigação e produção escrita acerca da vida e obra do Barão do Rio Branco — patrono da diplomacia brasileira. Inclusive, um deles foi reconhecido pela ABL como um dos dez melhores tex-tos do território nacional, premiando a autora.

Logosofi a – Textos de introspecçãoA terceira parte reúne diversos textos produzidos a partir da leitu-ra do livro Bases para sua conduta, de Carlos Bernardo González Pecotche, fundador da Ciência Logosófi ca. São textos belíssimos extraídos de momentos de introspecção de cada um dos autores. Considero-a o coração do livro, pois foi muito gratifi cante apon-tar o caminho do silêncio interior para os alunos, que vivem neste mundo tão barulhento, a fi m de que se conscientizem da neces-sidade de elevar o espírito acima da torpe materialidade reinan-te. Quero justifi car, nesta oportunidade, que o título do livro foi inspirado no texto “Pausa” redigido pelo aluno Afonso Ribeiro Araújo, que se coloca na condição de um escritor refl etindo sobre sua obra, sua vida, quando se compara a um lapidário que revela a forma de um diamante. Mário Quintana já fez isso um dia: num momento de pausa refl etiu sobre sua condição de poeta...

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O Lugar onde vivo – diversidade de gêneros textuaisA quarta parte deste livro contempla os gêneros memórias, crô-nicas e artigos de opinião acerca do tema “O lugar onde vivo”, proposto pela Olimpíada da Língua Portuguesa – MEC. A pa-lavra que resume esse projeto é “Interação”. Interação entre os educadores: eu, professora Ana Paiva, e as professoras Fernanda Secchim e Lúcia Cruz; interação entre os alunos que juntos rea-lizaram pesquisas, entrevistas e vídeos com a comunidade; in-teração entre os alunos e seus respectivos avós, ou mais velhos, quando colhiam matéria-prima para o gênero “memórias”. Cabe salientar que deste projeto participaram também os alunos do Ensino Fundamental e da EJA – Educação para Jovens e Adultos.

Na quinta parte, expusemos algumas preciosidades garim-padas no dia a dia da sala de aula, como propostas avaliativas, após análise e interpretações de textos diversos.

O Projeto Lapidar agora integra a escolaE como selo de garantia da continuidade do Projeto Lapidar, na sexta parte, a professora Fernanda Secchim apresenta o Conto “No escuro da noite”, de autoria do aluno Luiz Augusto Fernando Guimarães – do 9º ano do Ensino Fundamental. Essa participa-ção confi gura-se como um convite para uma futura publicação de um livro de contos...

Considerações FinaisA sétima parte encerra o livro Ofi cina do Lapidário com a descri-ção da experiência e a análise de resultados.

O Projeto Lapidar nas escolasProjeto Lapidar estruturado para divulgação nas escolas.

Profª Ana Maria de Paiva Alves e Silva

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PARTE I

“Eu, minha cidade e os 300 anos do ciclo do ouro em Minas Gerais”

Concurso de Redação promovido pelaAssembleia Legislativa de Minas Gerais (2011)

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Tudo começou com o ouro... sim, foi por volta de 1703 que o bandeirante Miguel Garcia Velho e alguns sertanistas vieram

até aqui à procura desse metal. Atrás dessa cobiça, fundou-se o “Arraial do Descoberto do Itagybá”.

Como o lugar se desenvolveu com a descoberta do ouro! Mas, infelizmente, a atividade aurífera se escasseou e, assim como a Bela Adormecida dos contos de fada, a cidade foi tomada por um sono profundo.

Muito tempo depois, o município de Delfi m Moreira foi des-pertado, não pelo encanto do beijo do príncipe, mas por um fruto amarelo-ouro! Sim, as mudas chegaram aqui pelas mãos do Barão da Bocaina... Assim, deu-se início a uma época próspera e feliz.

Ah! Como seria bom encontrar uma máquina do tempo, para poder voltar no passado e saborear uma deliciosa sopa de marmelo, viajar de maria-fumaça, conhecer as fábricas, o casarão onde se deu a estadia da Princesa Isabel.

Humm... que extraordinária sensação! Ao mesmo tempo paira uma amarga tristeza ao pensar que tudo desapareceu, assim como a carta que vai perdendo seu valor em meio às moderni-dades...

O povo não soube reconhecer nossos aspectos culturais. É a própria realidade, caro leitor. Agora, pense nas gerações futu-ras... elas não terão conhecimento algum sobre a história da nos-sa gente. Você não concorda?

Garimpando a história...Lílian Aparecida Ribeiro – 1º ano EM (2011)

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Será um trabalho árduo resgatar nossa identidade, porque não restou muita coisa concreta para comprovar os fatos. Temos apenas as ruínas das fábricas, alguns casarões e a estação ferroviá-ria, além das memórias, é claro!

Cultura, história e conservação são ingredientes essenciais para a consolidação da identidade de um povo. Ouro Preto, Ma-riana e Sabará souberam aproveitar esses ingredientes, fazendo deles um grande patrimônio histórico-cultural. E, hoje, têm o privilégio de realizar a grande festa dos 300 anos do ciclo do ouro em Minas Gerais.

Redação Premiada pela ALMG – CATEGORIA ENSINO MÉDIOClassifi cada em 1º lugar pela 15ª SRE – Itajubá

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O ciclo do ouro no Brasil marcou a história das Minas Gerais com trabalho, exploração, luta e sangue, além do sonho de

libertação.Você conhece essa história? Pois é, poucos sabem que aqui,

em Minas, o ouro chegou a valer mais que a vida de uma pessoa... Não é muito diferente do que acontece hoje, não é? O governo nem dava atenção ao povo, e ai de quem se atrevesse a rebelar! Queimavam-se casas, matavam e esquartejavam líderes como Tiradentes e Felipe dos Santos, mortos em praça pública para que o povo se intimidasse e não fi zesse oposição à monarquia.

Enquanto isso, Mariana, Sabará e Ouro Preto eram cada vez mais exploradas, o que de certa forma lhes trouxe alguns benefí-cios. Quais são eles? Hoje elas contêm um valoroso patrimônio histórico-cultural, preservado há 300 anos, motivo pelo qual es-tão celebrando. Esse patrimônio se conserva graças à educação das pessoas que lá vivem. Estão vendo? Este é o nosso dever: P-R-E-S-E-R-V-A-R!

Pois bem, algumas bandeiras estiveram no sul de Minas Gerais; chegaram aqui em Delfi m Moreira por volta de 1703, mas como não tínhamos muita riqueza mineral, o bandeirante Miguel Garcia Velho acabou indo embora para o vale do Sapucaí. E depois dele, foi-se o padre Lourenço que tentou levar a imagem de Nossa Senhora da Soledade, o que causou o maior reboliço! – um marco na história da nossa cidade, vocês sabiam?

A identidade cultural vale ouroTainára Aparecida Nunes – 9º ano EF (2011)

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Assim, o que se consagrou como nossa maior riqueza foi o marmelo, o nosso ouro perfumado, cujas mudas foram trazidas para cá pelo Barão da Bocaina. Esse fruto movimentou a ferrovia, desenvolveu a cidade, atraiu turistas...

Mas, infelizmente, ele acabou... E o que aconteceu? Nossa cidade fi cou meio estagnada... O que nos restou? Só memórias. E nós somos responsáveis por elas. Não é à toa que aqui em Delfi m Moreira teremos um museu de memórias, o que resgatará nossa identidade cultural.

Texto classifi cado em 2º lugar pela 15ª SRECATEGORIA ENSINO FUNDAMENTAL

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PARTE II

1° Centenário da Mortedo Barão do Rio Branco

NOSSA HOMENAGEM

Projeto de leitura, pesquisa e produção de texto promovido pela ABL – Academia Brasileira de Letras (nov. 2011 a fev. 2012)

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É com imenso orgulho que lhes apresento agora uma persona-gem na “peça teatral” brasileira. Com vocês, José Maria da

Silva Paranhos Júnior – o Barão do Rio Branco!Ops! Sei que muitos devem estar se perguntando, quem é

esse tal Barão do Rio Branco?É incrível! Como um protagonista na história do Brasil pode

ser desconhecido por tantos? O fato é que são poucos os que se interessam pelo nosso próprio passado e pelas pessoas que por aqui já passaram. Não pensamos na infl uência que os dias de on-tem tiveram sobre os dias de hoje. E esse pensamento nos im-pede de ir além, de adquirir conhecimentos, nos faz indivíduos presos, estagnados, sem cultura. Precisamos reconhecer a gente que prestou sua contribuição para a confi guração de nossa “Pá-tria Amada Brasil”. Não devemos permitir que o passado fi que perdido no tempo, mas que ele ecoe no presente, no futuro...

Então, esqueçam agora tudo, deixem a imaginação ir longe... E mergulhem na vida de um grande brasileiro!

Barão do Rio Branco viveu sempre interagindo com nosso espaço político e social. Mostrou ser um homem plural, que sou-be usufruir de todo seu conhecimento, participando assim da história de nosso país. E como participou! Foi um destaque no cenário histórico brasileiro.

Ao conhecer a vida de José Paranhos pude perceber que sua personalidade era baseada em princípios instintivos, sim! Ele

Um protagonista no cenário brasileiro

Lílian Aparecida Ribeiro – 2º ano EM

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exerceu cargos importantes, foi político, advogado, revelando as características de um leão que está sempre relacionado com po-der, justiça, governo; está também associado à fi gura do mestre, do chefe ou do imperador. Como jornalista e professor mostrou as qualidades de um macaco: inteligente, comunicativo e social. Sendo escritor, historiador e geógrafo herdou a observação, es-perteza, integração, habilidade e astúcia da raposa. E ainda como chanceler viu-se como uma águia simbolizando a força, disposi-ção, determinação, altivez e coragem. Vocês sabiam que a águia é a única ave que enfrenta tempestades? Pois é, o Barão também se identifi ca com uma abelha que presta um trabalho incansável, mas sempre com harmonia...

Rio Branco, como já disse, foi um homem muito sábio. Sua sabedoria atravessou oceanos; por todos os lugares onde passou deixou seus rastros. Construiu a base de uma política externa ba-seada no diálogo e na cooperação, fez negociações internacionais e ainda acordos altamente favoráveis ao nosso país. E não parou por aí! Conquistou territórios importantes — sem disparar um tiro, nem mobilizar um soldado sequer — por meio de estraté-gias, processos ou negociações e, em consequência, consolidou fronteiras. Sendo essa sua maior contribuição para o Brasil...

Agora coloco vocês a pensarem no mapa do Brasil todo colo-rido (...) Conseguimos não é? Tenho certeza que todos nós ima-ginamos o mesmo desenho. Isso porque, digamos assim, que:

“Numa folha qualquer” foram desenhadas pelas mãos do chanceler Rio Branco as fronteiras brasileiras e “pintadas na mais bela tela pelo Criador”, assim se concretizou...

“Giro um simples compasso e num círculo eu faço um mun-do”...

Brinquei com fenômeno de intertextualidade e conjunto de rimas, mas agora é sério: o Brasil é a única nação de dimensões continentais que não possui problemas fronteiriços.

Aplausos! Grande geógrafo Rio Branco!

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Parando para observar uma imagem, percebi que o Barão vivia em meio a uma enorme quantidade de papéis (documentos, livros, mapas...). Com certeza seu interesse pela arte de escrever surgiu a partir do gosto pela leitura. Ganhou prestígio nas letras, escrevendo diversas obras: Memórias Brasileiras, História Mili-tar do Brasil, Efemérides Brasileiras e Episódios da Guerra da Prata. E ainda, ensaios em jornais nacionais e internacionais.

Vejo uma obra como um espelho que se deixa visar o refl exo do autor, por isso, ao ler um de seus livros, podemos perceber que ele centra-se nas questões de limites, demonstra o gigantesco conhecimento que Paranhos possuía sobre os fatos brasileiros, sua preocupação constante com a integração do Brasil no mun-do. E ainda descobrimos a essência de um escritor que se dis-tingue pela correção e limpidez do estilo. Membro da Academia Brasileira de Letras, ocupou o segundo lugar na cadeira 34. Isso exemplifi ca o habilidoso escritor que o carioca Rio Branco foi.

Um livro também é muito mais do que a união de várias pági-nas, onde são registradas histórias, vocês não concordam? É, sim, um tesouro onde encontra-se a memória eternizada do autor...

Sim, minha gente, neste fevereiro de 2012 comemoramos o primeiro centenário da morte do Barão do Rio Branco! Passa-ram-se 100 anos e sua história ainda continua viva e efi caz em cada livro aberto. E, por ter morrido durante o carnaval, devido a problemas renais, o calendário naquele ano foi modifi cado, vo-cês sabiam?

Muitos trazem na memória a fi gura do Barão, prestando-lhe muitas homenagens: o nome da capital acreana, por exemplo, é uma homenagem a ele, já que conseguiu transferir o território do Acre para o Brasil, sendo que antes este era localizado na Bolívia. E ainda teve seu rosto duas vezes cunhado nas cédulas de cinco e mil cruzeiros. O mais curioso é que com isso surgiu uma gíria, onde qualquer nota com valor de mil seria chamada “Barão”. E, nos dias de hoje, continua ele circulando por todos os cantos na moeda de 50 centavos.

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Mas de homenagens não encerramos por aqui. Rio Branco é considerado um dos líderes da diplomacia brasileira, seu nome está registrado como uma das fi guras mais importantes da pátria, no Panteão que fi ca na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Barão do Rio Branco! Fixou suas raízes no Brasil, mostrou a nobreza de um brasileiro que lança a semente à espera de bons frutos. Sem sombra de dúvida é ele um dos maiores e mais no-táveis brasileiros de nossa história-pátria e fi gura de merecido conceito internacional, servindo de exemplo necessário às novas gerações. (...)

E assim, podemos cerrar as cortinas. (Aplausos!)

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Hoje, eu acordei cedo, troquei de roupa e segui em direção à escola. Não fui correndo como nos outros dias. Não sei por

que, resolvi apreciar a magnífi ca e exuberante natureza. A cidade-zinha pacata... a orquestra dos pássaros... um delicioso aroma das plantas e das fl ores... do marmelo, do fi go e dos pessegueiros em fl or. Acho que estava com meu estado de espírito elevado. Quan-do isso acontece, a inspiração afl ora. Compreendo os poetas...

Cheguei à escola. Lá me sinto tão bem. Gosto de aprender. Gosto de saber que a palavra tem o poder de entrar na mente do ser humano, despertando a curiosidade, aguçando a imaginação, manipulando ideias, mudando atitudes, gerando confl itos... Ado-ro Literatura e História, e não é que como um corisco o nome Ba-rão do Rio Branco passou pelos meus olhos? Ops! Quem será que poderia ser? Um historiador? Um cientista? Fiquei absolutamente confusa! Ninguém soube responder, mas eu queria saber mais...

Saí me embrenhando em algumas fontes da história do nos-so país, mas nada encontrei. Então fui até uma biblioteca, com certeza lá haveria de encontrar um livro que pudesse me apresen-tar esse tal Barão. Que nada! Mas gente, um barão é um barão, não pode fi car assim no anonimato!

Sabe onde fui encontrar a biografi a do Barão? Na internet... Isso mesmo, na internet! Fiquei abismada em descobrir que ne-nhum livro falava sobre esse cidadão brasileiro — que pelo seu legado de civismo e patriotismo não sai nunca de circulação da moeda nacional.

Barão do Rio Branco –0 patriota em circulação

Alana Priscila de Carvalho – 2º ano EM

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Imersa em minha inspiração, encontrei “José Maria da Silva Paranhos Júnior, primeiro e único Barão do Rio Branco!”, título que lhe foi atribuído pela princesa Isabel. Que honra! Imagino, pelo seu semblante, o quanto ele se sentiu lisonjeado e orgulhoso, por todos os méritos que recebeu!

Rio Branco era um homem sério, um dos maiores diploma-tas que o Brasil já teve. Um homem íntegro, exemplo de cidadão... Pacifi cador e político nato, um verdadeiro patriota, defensor da nação e dos interesses do povo brasileiro. Ah, e tem mais: além de advogado, teve participação nas letras, produziu um valioso acervo literário, sendo reconhecido pela Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 34. Suas obras? Memórias Brasileiras, História Militar do Brasil, Efemérides Brasileiras e Episódios da Guerra da Prata e, não fi cou só nisso, o Barão publicou vários ensaios em jornais de circulação nacional e internacional.

Também resplandeceu na carreira política: foi o Barão que trabalhou pela consolidação das fronteiras brasileiras em três grandes confl itos, enaltecendo sua diplomacia, já que não preci-sou de arma de fogo para concluir suas negociações.

Foi mesmo um célebre brasileiro, relevante para a história do Brasil. Muita gente pode até desconhecer seus feitos em prol da nação, nem imaginando que esta personalidade histórica já circulou nas cédulas de cinco e mil cruzeiros e circula nas mo-edas de cinquenta centavos, diariamente, nas mãos de milhões de brasileiros. Por esse motivo, a população incorporou o termo “barão” como sinônimo de “mil”.

Você sabia, que este ano completa o primeiro centenário da morte do Barão? Há cem anos, no mês do carnaval, o nosso calen-dário passou por uma modifi cação, em respeito ao luto nacional.

Resta uma pergunta: Se você pudesse fazer alguma coisa pelo seu país, o que faria? Teria a mesma destreza e a mesma coragem de se envolver em situações de conquista pelo coletivo? Sim? Não? Ops! Então, antes de falar que está insatisfeito com a sua pátria, tente ao menos fazer cumprir seu papel de cidadão ético

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e responsável, atuando pelo desenvolvimento e pelo progresso, fazendo jus a tantos idealistas, heróis ou mártires que por aqui já passaram, deixando-nos a certeza de que vale sempre vestir a camisa por causas justas que marcam, inclusive, a nossa história. Mas, infelizmente, a nossa gente anda meio alienada, correndo atrás de seus próprios interesses nesse mundo egoísta e competi-tivo. Parece que o olhar da nossa gente anda cansado ou míope.

É isso: o brasileiro anda meio desligado. Não valoriza a sua história nem garimpa as personalidades que realmente contribuí-ram para a edifi cação de nosso país. É uma pena!

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Hoje, na aula de literatura, minha professora mencionou que a Academia Brasileira de Letras está celebrando o primei-

ro centenário da morte do Barão do Rio Branco. Pensei logo na capital do Acre, e fi quei curiosa... Quando cheguei em casa, tive vontade de caminhar nos rastros dessa personalidade. Peguei al-guns livros e comecei a pesquisar. Estava a me perguntar: o que será que esse Barão tem a ver com a capital do Acre? Quem foi esse homem afi nal? O que ele fez? E por que minha professora de literatura falou dele?

Estive por um tempo imersa na história do Brasil, mas tive que parar, pois minha mãe me chamava para almoçar. Almocei correndo, ansiosa para continuar. Lá estava eu no meu quarto novamente. Isso demorou apenas uns minutos, o sufi ciente para descobrir alguns feitos sobre o Barão do Rio Branco. Fui a uma estante onde meu pai tem uma coleção de livros antigos, que con-tém as biografi as de personagens importantes. A coleção contém seis unidades e se chama: Grande dicionário enciclopédico ilus-trado “Solar”. Ali descobri que o Barão do Rio Branco se chamava José Maria da Silva Paranhos Júnior, fi lho do visconde do Rio Branco, nascido no Rio de Janeiro em 1845. Ao ler um pouco mais, descobri que o Barão do Rio Branco fez seus estudos pre-paratórios no colégio “Pedro II”, ingressando logo depois na fa-culdade de Direito de São Paulo.

Parei a leitura. Fui lavar louças... Lá estava eu. Enquanto fa-zia o serviço, pensava em voltar logo para a pesquisa, mas tinha

Nos rastros do BarãoSwantje Cipas Perhs – 2º ano EM

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outros deveres escolares para fazer e, assim que eu os fi z, fui à biblioteca da cidade.

Curiosa, deliciando-me com a trajetória do Barão, fui co-nhecendo mais o Brasil, assim como os construtores de sua his-tória. Li que ele participou de certa “Guerra da Prata”. Na minha ânsia de saber, fui a um computador da biblioteca procurar in-formações. Descobri que a “Guerra da Prata” foi uma longa dis-puta entre a Argentina, o Brasil e o Uruguai, na região do Rio da Prata e no nordeste argentino. Essa guerra durou de agosto de 1851 a fevereiro de 1852. A Guerra da Prata terminou com a vitória brasileira, estabelecendo assim o domínio brasileiro nessa região. Depois da Guerra, o que será que ele fez? Ah, lembrei. Ele foi para a Europa e, quando regressou, lecionou história e coro-grafi a no Colégio Pedro II. Corografi a... Mas o que é isso? Pedi à bibliotecária um dicionário. Corografi a, corografi a, ah, achei. Corografi a faz parte da geografi a que estuda apenas um determi-nado território ou um país.

Gente, a bibliotecária era professora de história, dá pra ima-ginar!? Ela me contou os feitos desse Barão. Você sabia que o Barão do Rio Branco não precisou disparar um tiro para mar-car 900 mil quilômetros quadrados do mapa brasileiro? E foi ele quem resolveu as questões dos limites entre o Brasil e os países sul-americanos. A principal delas foi a disputa dos limites ter-ritoriais do Acre com a Bolívia em 1903. Os brasileiros do Acre chegaram até a proclamar independência do território, sob as ordens de Plácido de Castro, mas não deu certo. Os bolivianos estavam se preparando para combatê-los, mas eis que surgiu Rio Branco, e o território cuja capital traz seu nome como uma homenagem, foi conquistado. Ah, então é isso! Eis a resposta à pergunta que me aporrinhava.

Ao lado de Rui Barbosa, na Conferência de Haia, o Barão teve uma brilhante atuação, recebeu os títulos de Benemérito da Pátria e Chanceler da Paz por ter sido leal servidor do Império e da República, foi membro da Academia Brasileira de Letras e

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duas vezes presidente do Instituto Histórico e Geográfi co. Tam-bém foi ministro do Brasil na Alemanha, no Governo de Campos Sales e, dois anos mais tarde, foi ministro do exterior no governo de Rodrigues Alves. Olhei no relógio. Nossa, preciso ir, minha mãe deve estar preocupada! Além do mais tenho que voltar para ajudá-la; logo meu pai chegará do trabalho. Agradeci a Sophia e voltei correndo para casa. Quando cheguei, levei uma bronca daquelas da minha mãe e ela prometeu-me um castigo caso isso ocorresse novamente. Pedi desculpas. Depois do jantar, arrumei minhas coisas e fui dormir.

No dia seguinte, na escola, não me contive; conversei com minha professora sobre o Barão do Rio Branco e ela acrescen-tou que ele escreveu várias obras literárias como, por exemplo: História Militar no Brasil, Anotações à História da Guerra da Trí-plice-Aliança, Efemérides Brasileiras, Biografi a do Barão do Serro Largo, Enciclopédia Científi ca, Questões de Limites e Le Brésil em 1889, escrita em francês perfeito.

Em 11 de fevereiro de 1912, morreu Rio Branco. Que seu grande amor à pátria, seu civismo, seu talento, seu espírito in-quebrantável e sua luta titânica em favor dos brasileiros, seja um legado às gerações futuras!

Isso é um exemplo de “Herói” — agora compreendo— e não o que a mídia tem mostrado por aí, em horário nobre. Ser herói é viver pelo coletivo. É ser útil a sua gente. É servir.

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O pai sentado no sofá, atentamente lê o jornal matinal. O fi lho, menino questionador por natureza, detentor de um vasto

repertório de perguntas, aproxima-se do pai portando uma moe-da de cinquenta centavos com aquele jeito curioso de sempre: “Por que sempre estão estampados nas moedas esses ‘hominhos’ sérios? São desenhos inventados?”.

O pai fi cou impressionado com a pergunta do fi lho: “Essas pessoas das moedas existiram realmente?”. Mas o fi lho ainda du-vidoso: “O que elas fazem para serem estampadas nas moedas?”. “Primeiramente, não se diz estampadas e sim cunhadas!” diz o pai, e completa “É que essas pessoas fi zeram algo de importante para o nosso país”. E agora a pergunta que exigiria um pouco mais do pai: “O que esse homem da moeda de 50 centavos fez para ser cunhado na moeda?”. E o pai que já conhecia bem seu fi lho, foi dobrando o jornal: “Ah! Essa é uma longa história! Começou lá em 20 de abril de 1815 quando nascia uma criança cujos pais e os enfermeiros não sabiam que, no futuro, seria um grande Barão brasileiro. Seu nome era José Maria da Silva Paranhos Júnior, nasceu no Rio de Janeiro, exerceu várias profi ssões, foi diplomata, geógrafo, historiador, pro-fessor, deputado, ministro e presidente, além de ser formado pela Faculdade de Direito de Recife”.

O pai percebe os olhos brilhantes do fi lho e não interrompe a história do famoso Barão do Rio Branco. “Aos 18 anos, iniciou-se em letras e publicou um artigo em uma revista sobre a Guerra do

Sessão de HistóriaJennifer Ingrid Tomé – 2º ano EM

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Paraguai, defendendo o ponto de vista brasileiro”. “Mas, pai, nesse curso de letras você aprende a escrever?”. O pai, rindo da pergunta do fi lho, responde que é a formação que os professores de portu-guês e redação têm. Clareando as ideias do fi lho, o pai continua: “Aos 23 anos, foi substituto do professor Joaquim Macedo em um colégio. Já no Império brasileiro, o Barão iniciou sua carreira políti-ca como promotor e deputado”. “Pai! O que é promotor?”, “Promo-tor é aquele que promove ações para a população!”. “Agora entendi! Pode continuar”. “Então, mais tarde, Rio Branco foi ministro do Ministério das Relações Exteriores. Ele ocupou o cargo ao longo do mandato de quatro presidentes da república. Já no fi nal do Impé-rio, recebeu o título de Barão, mas para homenagear seu falecido pai, o Visconde do Rio Branco, continuou a usar o título de Rio Branco.” “Nossa que salto! De professor para promotor e deputado, depois ministro e Barão!”.

O fi lho fi ca impressionado com a história. “Agora tá chegan-do a parte mais interessante, preste bem atenção: além de ser bem sucedido na carreira política foi o Barão que ajudou na consolida-ção das fronteiras brasileiras em três confl itos: um com a França, outro com a Argentina e o último com a Bolívia. A causa desses confl itos foram: fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, par-te do território de Santa Catarina e Paraná e território do Acre de onde os bolivianos queriam expulsar os colonos brasileiros. No último caso citado, foi feito o Tratado de Petrópolis que pôs fi m ao confl ito. Depois de ter sido deputado, ministro e conseguido ganhar nas questões das fronteiras, o Barão foi um nome sugerido para a sucessão presidencial do ano seguinte, 1910, mas ele negou esse pedido.” “Por quê, pai?” “Porque ele preferiu desviar de qualquer candidatura que não fosse de unanimidade nacional”.

O fi lho continua impressionado: “Nossa, a vida desse Barão foi uma metamorfose, do ovo até a saída do casulo. A fase do ovo foi quando ele ainda era um bebezinho na barriga da sua mãe. Fase da lagarta foi quando ele formou-se em direito e em letras. Fase do casulo quando iniciou na carreira política. E fase da bor-

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boleta quando recebeu o título de Barão e quando consolidou os territórios brasileiros!” “Nossa, fi lho, as aulas de Ciências funcio-nam, hein?! Hahahahahahaha” caíram na gargalhada os dois. “Continuando, o Barão foi homenageado tanto nacional quanto internacionalmente. O nome Rio Branco foi dado à capital do Acre e à cidade do Uruguai que antes se chamava Pueblo Artigas. Um município de Mato Grosso do Sul foi batizado, em sua homena-gem, com seu sobrenome, Paranhos. E já foi feito o fi lme ‘A vida do Barão do Rio Branco’. Além de todas essas homenagens, teve sua imagem impressa nas cédulas de 5 mil réis e cunhada nas moe-das de 50 centavos em circulação atualmente no Brasil. Por ter sua imagem impressa nas cédulas de mil cruzeiros, a gíria popular incorporou o termo “barão” como sinônimo de mil, até mesmo a quantia de mil reais é designada como um barão. Por consequência de problemas renais pediu demissão de seu cargo, mas o pedido foi negado pelo presidente”. “Tadinho!!”.

“Nesse mesmo ano, estava acontecendo um bombardeio na ca-pital baiana, Salvador, motivado por uma crise política, fato que o Barão lamentou”. “Mas ele sarou, né?”. “Infelizmente, a nação brasileira, em 1912, perdeu um herói, mas que fi caria para sempre marcado no coração dos brasileiros. Por esse acontecimento o car-naval desse mesmo ano foi alterado. Foi dado o luto ofi cial e houve muitas homenagens a esse grande homem, no Rio de Janeiro”.

O pai, sem querer, olha no rosto do fi lho e vê que seus olhos estão lacrimejando e pergunta: “Por que está chorando fi lho?” “É que eu me emocionei com a história desse grande homem, mas infelizmente ele partiu!” “Pois é! Mas, sabia que ele publicou dois livros?” “Pai, eu quero lê-los!” “Vou ver se providencio para você. Continuando a história: a Gazeta Notícias disse um dia após sua morte: ‘Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recur-sos da ciência.(...) Sua obra foi grandiosa e enorme.(...) Maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela sua alta compreensão da função que exercia’. José Maria da Silva Paranhos Júnior não é reconhecido pelo seu título de nobreza, mas sim pelo

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que fez. É considerado um exemplo para os brasileiros, pois sem-pre buscou a paz para com os vizinhos nos confl itos. Barão do Rio Branco foi, é e sempre será um herói para o Brasil, pois o eterno não é aquele que simplesmente morre, mas aquele que morre e dei-xa marcas”.

O fi lho, agora com os olhos brilhando novamente, começa a bater palmas. “Adorei a história do Barão do Rio Branco. Tive uma aula de história muito legal. Agora sei para quem perguntar quando tiver dúvidas”.

O pai, por sua vez, já acostumado com essas intermináveis sessões de história, voltou sua atenção às notícias do jornal.

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Tranquilamente andava por um antigo museu de cera no Mato Grosso, quando me deparei com uma enorme estátua. E por

ser curiosa fi quei me perguntando: “Quem será este homem?” Então chega um cara todo metido, bem trajado, com pinta de jornalista, fotografando tudo, inclusive as pessoas, alegando-lhes que seria para um documentário sobre o centenário da morte do Barão do Rio Branco. Mas, afi nal, quem é esse tal barão?

— Oi, gostou da estátua? Estava observando você com o olhar tão fi xo no Barão. Então, você também o admira?

— Ah, é bonita a estátua e gostei sim! Estou aqui, há algum tempo, aguardando o horário do ônibus e resolvi entrar para me distrair um pouco. Mas não consigo entender por que tanta ad-miração por essa fi gura. Não é só um barão?

— Moça, esta estátua é um memorial para sempre nos lem-brarmos de personalidades que nos deixaram algum legado, mar-cando nossa história e servindo de exemplo. Mas você não o re-conhece?

— Não. Eu não sei muita coisa sobre história, mas essa está-tua me chamou a atenção.

Guardando sua máquina fotográfi ca, o jornalista se prontifi -cou a falar sobre o Barão do Rio Branco.

— Este é o Barão do Rio Branco, foi um grande homem da história do nosso país.

— Ah é?

Conversa no museuMaristela Cristina Gomes – 2º ano EM

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— Rio Branco foi um diplomata, advogado, geógrafo e his-toriador do Brasil. O Barão nasceu no dia 20 de Abril de 1845 e morreu no dia 10 de Fevereiro de 1912. Filho de José Maria da Silva Paranhos — o Visconde do Rio Branco — recebeu o nome de José Maria da Silva Paranhos Júnior...

— Por acaso ele participou de umas das guerras do Brasil?— Não. Na verdade o Barão não apreciava guerras. Atuou,

sim, com diplomacia nas fronteiras e, em 1894, defendeu os interesses brasileiros entre Santa Catarina e Paraná contra a Argentina. Em 1902, esteve à frente das negociações entre o Acre e a Bolívia, sempre partidário do Brasil e dos brasileiros. Além dessas questões fronteiriças, o Barão obteve vitória sobre a Fran-ça no caso da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa. O Barão do Rio Branco ingressou na faculdade de direito em São Paulo, foi promotor público em Nova Friburgo e deputado pela província de Mato Grosso.

— Nossa, você se interessa mesmo pela história do Brasil, hein!?

— Sou só um admirador, já que atualmente não temos mui-tos exemplos de cidadãos a seguir. Mas nós ainda não nos apre-sentamos.

— Verdade. Eu sou Laisa e você?— Rodrigo. Prazer.— Mas voltando ao assunto, Rodrigo, gostaria de ouvir mais

sobre esse cidadão.— Bem, o Barão do Rio Branco foi ministro das relações ex-

teriores em Berlim, durante os mandatos dos nossos presidentes Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fon-seca, além de ter sido professor substituto no colégio Pedro II em 1868.

— Que versatilidade, hein?!— Realmente, ele teve muitas oportunidades na vida. Além

de tudo, o Barão foi presidente do Instituto Histórico e Geógrafo Brasileiro e escreveu diversas obras também. E uma curiosidade:

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ele não está presente somente em estátuas por aí, parado, imóvel e empoeirado. Na verdade, até hoje ele circula por todo o país cunhado na moeda de cinquenta centavos. E, em anos passados, sua fi gura já esteve impressa nas cédulas de cinco e mil cruzeiros.

— Sabe, Rodrigo, estou com a impressão que o Barão do Rio Branco foi um herói.

— E eu também concordo, Laisa, ele é o orgulho do nosso país e será sempre lembrado por sua honradez, por sua diploma-cia e, principalmente, pelo amor ao Brasil. E você sabia que esse ano, no mês de fevereiro, a Academia Brasileira de Letras está ce-lebrando o primeiro centenário da morte do Barão, promovendo um concurso de redação para os alunos do ensino médio conta-rem a história do Barão de uma forma criativa?

— Que pena que eu já concluí o ensino médio!— Bem, pelo menos você tomou ciência, hoje, que o Brasil

já foi um celeiro de bravura, altivez e idealismo, qualidades de homem extintas em nosso atual contexto social e político.

— E uma última pergunta, qual foi a causa da morte dele?— Problemas renais. Oh, que chato, tenho que ir.— Rodrigo, por favor, não vá embora sem antes tirar uma

foto minha junto do Barão... quero me lembrar dele... Gostei de conhecer essa história.

Texto reconhecido e premiado pela ABL – Academia Brasileira de Letras como um dos 10 melhores do território nacional.

Concurso Barão do Rio Branco – 100 anos.

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PARTE III

O conhecimento de umanova ciência: a Logosofi a

CONCURSO LITERÁRIO JOVEM – 2012

Projeto promovido pela Fundação Logosófi ca do Rio de Janeiro, a partir da leitura do livro Bases para sua Conduta, de Carlos

Bernardo González Pecotche, fundador da Ciência Logosófi ca.

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Um novo mundo nasce todos os dias. Todos o veem. Mas nem todos o conhecem. Ficam só na superfície. Veem uma

pequena parte da realidade. Estão mais imersos na imaginação que na realidade da mente viva. Uma mente que busca superar a si mesma, que vive na realidade do dia.

Quão bela é a realidade da vida! Desde que se viva isso em si. Caso contrário, ela, a vida, vira um riso sem graça. Ou uma roda de azar onde tudo se perde ou se ganha.

Ah! Enquanto a vida seja infi nita.De infi nitas possibilidades, de infi ndáveis alegrias.Tudo isso dentro da sua mente. Em mim. Em você.É inacreditavelmente belo o funcionamento de nossa mente

que une o físico e o espírito em si mesmo. Para não dizer que transforma o físico em espírito. Afi nal, a beleza que nós vemos em um pequeno bosque perto de um lago nos traz sentimen-tos, como o de amor a tudo que existe. ou uma grande alegria. A mente eleva a matéria à altura do espírito. Pois a mente é a união de ambos!

Como eu queria que todos nós sempre compreendêssemos isso! Vivêssemos isso! É tão simples, é só olhar para si, buscar em si a verdade da vida, e parar de ser levado para qualquer lado por qualquer balela. É só olhar a natureza, ver seu harmonioso funcionamento. E ser Natural! Ser o que se é.

A partir daí, tudo cresceria da forma correta. Não haveria mais problemas na sociedade, pois todos conheceriam o funcio-

0 dia de hojeDavi Gaeta de Oliveira – 2º ano EM

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namento de sua profi ssão, estariam cientes do que é correto ou incorreto, afi nal já teriam descoberto isso em si.

Não mais ocorreriam as tolices que vemos hoje em dia. O ódio e o rancor, sumiriam do mapa junto com a cegueira! E sem a maldade no mundo, não existiriam mais problemas, pois o ódio destrói, mas o amor, o amor... ele sim iria construir um novo mundo, onde a verdade seria o escudo e a justiça, a espada!

Imagine só todos buscando fazer o melhor, o correto, bus-cando a sabedoria?

Ah, os erros! É obvio que ocorreriam, mas ninguém iria fi car parado neles sofrendo, pois compreenderiam que fazem parte dos acertos. Só se pode aprender quando se erra, ou então não haveria o que se aprender.

Então essa foi a grande e única lição que aprendi: interiorize-se.Todo o exterior está em você, no seu interior, caso contrário,

como poderia vê-lo, se tudo ocorre dentro de você mesmo?Faça de você um nascedouro de coisas belas e alegres! Que

amenizam a tristeza desse mundo, onde a dor é a melodia mais co-mum. Torne esse mundo mais leve, tire o peso, que é a raiva, dele.

Assim, você terá ânimo para realizar todos os seus projetos. E além do ânimo, maior inteligência, pois sempre estará atento.

Isso é o que eu tento ser a cada dia. Isso é o que eu compreen-do como o grande objetivo da logosofi a. Este deve ser o objetivo do homem: a Verdade.

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Tamanha beleza meus olhos contemplam no outono, a natu-reza vestida de amarelo-avermelhado. As folhas num cair

dolente e o vento... O vento a cirandar...Entre todas as folhas de outono que vão caindo, se entre-

gando ao ciclo das estações, repouso meu olhar sobre uma que insiste em permanecer bailando no ar, como se ainda lhe restasse a esperança de não esmorecer de vez no chão... E mesmo quando cai, não desanima. O seu desejo de retornar a subir é tão grande que, ao tocá-la, a brisa incessante e suave já é sufi ciente para con-duzi-la às alturas. Triunfante, a folhinha prossegue a esvoaçar.

Com a chegada da estação mais fria do ano, tudo se torna tão triste, a coloração acinzentada do céu, as árvores despidas, o verde ressecado...

Às vezes me pego vivendo em pleno inverno, mediante cer-tas difi culdades, decepções e tropeços que surgem pelo cami-nho... A vida parece perder sua cor, seu esplendor... Desanimada e combalida, tenho a sensação de estar caindo...

Entretanto, durante essas intempéries, volto meu pensamen-to àquela folha de outono. Devemos ser como ela... Ter vontade de superar resolutamente os problemas, não desistir de viver e seguir com ânimo e atitude positiva, pois Deus nos ampara e nos levanta à medida da nossa fé.

E é assim que se faz necessário o inverno que congela e abre fendas para a primavera. Encantemo-nos com a fascinante profu-

Estações Lílian Aparecida Ribeiro – 2º ano EM

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são de cores, alegria e perfeição das fl ores se abrindo! Depois dos contratempos é preciso alegrar-se, colorindo e renovando a vida.

Que venham as chuvas anunciando uma nova fase, a fase de ser feliz. Que todas as tristezas sejam levadas pelas águas!

E se minha vida já foi uma brincadeira de pique-esconde com a felicidade, é chegado o momento de brincar de pega-pega. É preciso correr incessantemente atrás dela; somente assim po-derei alcançá-la, mesmo que venha fragmentada, pois quando Deus resplandece em minha alma, faço-me completa. Essa felici-dade intensa e perene é que me guia para o caminho do aprimo-ramento e da perfeição. Utopia? Talvez.

Sinto-me mais forte a cada dia. Compreendo o barulho da tempestade que vem anunciar a bonança e, nas tardes ensolara-das, minha alma se enche de alegria. Ah, o radioso e reluzente verão das pinceladas de azul no céu!

Em êxtase, olho o sol que me desperta um enorme desejo de aquecer e iluminar a terra nas alvoradas de verão. E quando a ne-bulosidade vier a aparecer... Ai das nuvens que tentarem ofuscar meu brilho... Ai das nuvens!

E vem o vento... E vem o vento... E vem o vento varrendo tudo para o infi nito. Para que o astro-rei volte a luzir, irradiando vida.

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Sinto uma grande difi culdade em viver bem espiritual e men-talmente, nos dias de hoje. É claro que isso ainda pode piorar,

pois tudo é resultado do nosso passado. Que tal plantarmos bons frutos para que amanhã possamos viver dias melhores? Eu já te-nho consciência que não adianta só plantar; é necessário também cultivar. Nossa vida sendo bem cuidada, lavada das impurezas e tratada com primor por nós mesmos, terá os momentos mais incríveis e felizes...

Mas não podemos é ter medo dos erros. Sei que muita gente não vive com medo de errar. Quem tem Deus no coração com-preenderá que os erros não passam de oportunidades de nos re-velarmos e nos fortalecermos; de nos tornarmos pessoas melho-res...Pena que são raras as pessoas que pensam grande assim.

Quanto ao meu futuro? Terei que pensar muito bem a cada passo que eu der, para que eu não seja como areia, vulnerável ao sopro dos ventos e à visita das enxurradas... Quero ser como a rocha, fi rme, segura, resistente aos ventos mais fortes e às tem-pestades; resistente ao calor do sol e às geadas. Quero estar ali sempre presente e ileso, protegido de todo o mal que possa asso-lar a humanidade.

Quanto ao mundo? Que a Fé se espalhe sobre ele; que o Amor prevaleça e a Felicidade se eternize com o desejo de que-rermos conquistá-la, todos os dias, com garra, determinação, ati-tude positiva e Deus no coração. Que as pessoas possam querer evoluir mais e mais...

Devaneios Mateus de Carvalho Ribeiro – 1º ano EM

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Enfi m, a vida levada de qualquer jeito não é vida e, sim, um peso. Mas a vida bem planejada e bem vivida é mais que uma simples vida, é uma eternidade!

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A vida é como uma peça de teatro, onde cada um tem o seu papel. Com o tempo tudo vai passando e se desenrolando,

as cenas tomam forma e, quando menos se espera, você faz parte do roteiro de muita gente.

Muitas pessoas não seguem um roteiro e não se saem bem, pois não têm preparação sufi ciente. Outras, não tendo fala na apresentação, surpreendem-se com suas próprias atitudes e se saem muito bem. Há pessoas que são desmotivadas, não têm co-ragem de participar da peça e, na maioria das vezes, não conse-guem nem fi car na plateia para aplaudir o que as outras fazem de melhor. O que mais me surpreende e o que faz a diferença são as pessoas que fi cam por detrás de cada apresentação e que fazem de cada cena uma grande obra de arte. Existem pessoas que são encarregadas de abrir a cortina; são elas que dão o pontapé ini-cial para o começo da vida de alguém. Há aquelas que acendem as luzes para iluminar as atitudes da vida das outras. Temos que lembrar também das pessoas que cuidam da trilha sonora, e que deixam cada momento, cada cena, com um clima mais propício. Mas o mais importante, sobre quem temos que refl etir, é o Dire-tor que produz suas falas, suas cenas e seu jeito de atuar sem apa-recer no espetáculo: Deus, aquele que nos ajuda, que nos chama para o serviço e que abençoa cada fase da peça teatral da vida.

Meu modo de agir e interpretar cada ato está impregnado de simplicidade e humildade, o que me consagra como um verda-

Roteiro da vidaMateus Cortez Marcondes – 1º ano EM

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deiro ator reconhecido pelo Diretor, como um bom atuante, não somente nos palcos, mas tornando a vida das pessoas e a minha cada vez melhor.

Ainda anseio por fazer a trilha sonora para os atores, tocan-do cada nota musical, cada uma com seus timbres e vibrações positivas que fazem as pessoas sentirem a verdadeira melodia que vem do coração.

Quero ainda que cada pessoa do teatro de minha vida seja uma nota musical, e que no meio das linhas da partitura forme uma linda canção cheia de simplicidade e de amor para que pos-samos viver um mundo de paz. Quando a peça acabar, não quero me arrepender de nada que fi z nos palcos e, quando tudo já esti-ver acabado, quero agradecer a Deus pelo dom que me deu para poder fazer da vida um verdadeiro espetáculo.

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Transformações, intempéries, vulnerabilidade... Pena que não conhecemos as ferramentas mais adequadas para cultivar a

lavoura da vida! A nebulosidade do mundo mostrado pela mí-dia nos afasta de nosso interior! Precisamos de adubo... Pedimos tudo para Deus, mas nos esquecemos do que é essencial. Quere-mos felicidade, mas já temos pessoas ao nosso lado para nos fazer felizes. O segredo para ter abundância em uma plantação é saber dividir o que se tem.

É... Se plantarmos todas as sementes em uma única cova, os brotos acabarão atrapalhando o crescimento um do outro. O mesmo acontece conosco: não podemos fi car com algo bom so-mente para nós, temos que espalhar essa semente do bem a todos aqueles que se achegarem a nós. É isso! Realmente, é difícil reali-zar o plantio de sementes boas nos corações de outras pessoas... Também sei que, muitas vezes, os espinhos sufocam as mudas, mas sempre há a terra fértil! Ninguém vive sem ao menos ter um espaço em seu coração para a bondade e o amor, não é verdade? E, sendo assim, sempre há como cultivá-los...

Viver? Que signifi cado estamos atribuindo à vida, afi nal? Imagino que a maioria das pessoas ainda não descobriu a rea-lidade a que somos submetidos. Queremos colher sem plan-tar. É isso mesmo que você está pensando... Deixamos de lado a boa conduta que nos leva à felicidade... a sociedade estancou a semente. E o ter passou a ser mais valorizado que a própria dignidade. Simplesmente vivemos sem nos importar com o mo-nitoramento da nossa lavoura — cuidar dos nutrientes do solo,

A Lavoura Tainára Aparecida Nunes – 1º ano EM

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da irrigação e da pulverização — como se não precisássemos de cuidados, de carinho. Isso é viver? Não. Só compreenderemos o sentido da vida quando realizarmos o manejo ideal para cada fase nos projetando para a colheita. O que você quer colher? Já está pensando? Então, plante tudo isso agora!

A cada estação da vida, eu percebo que necessito de mais insumos. E a todo instante preciso conhecer algo novo, e me transformar. É... Realmente o que dignifi ca o ser humano é sua capacidade de escolher a semente para plantar e cultivar. Todos nós somos responsáveis pelos frutos que colheremos. E há tan-tas mudas novas sendo plantadas... Infelizmente, o que mais me entristece é que a lavoura da vida está sendo tomada por ervas daninhas que embaraçam e sufocam as plantas mais belas. Se o lavrador não cuida com primor de sua plantação, o que acontece? Morre sufocada por essas pragas e pela falta de minerais, mas se é adubada cresce, fl oresce e produz muito fruto. Em nossa vida, quando tomamos consciência que só o bem produz a felicidade almejada, temos o privilégio de modifi car o mundo!

Que complexidade existe em viver? Nenhuma! Somos nós quem atrasamos nosso processo de humanização! Creio que nos afastamos de Deus e por isso é tão difícil continuar a caminhada e manejar a nossa lavoura! É... Infelizmente somos tomados por sentimentos que fazem de nossa vida algo penoso, que destroem sonhos e conquistas. Mas eles são realmente necessários? Tenho certeza que, quando nos empenharmos em conquistar tudo o que traz benefícios a todos, seremos os mais benefi ciados. Sei que durante o processo de polinização, a planta não retém a semente só para si, ela é solidária, e ainda conta com a ajuda do vento e dos insetos... Que bom seria se fôssemos como as abelhas, tería-mos uma sociedade organizada e feliz...

A natureza revela a infi nidade do amor... o riacho corre para saciar a sede das plantas que, por sua vez, saciam a fome dos vi-ventes com os frutos, e ainda enfeitam a vida com as fl ores e as fragrâncias. Que perfeição!

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— Então, Mãe, é sempre isso! Nada acontece como eu que-ro... Eu sei que tenho que acordar para o mundo, que tenho que me dedicar ao conhecimento, pois existe sempre um novo ama-nhecer. E sei também que preciso buscar as palavras que toquem a alma. Isso é muito importante, sabia? Preciso ter um ponto de partida para o futuro...

— (...)— Sabe Mãe, na minha vida já coloco Deus em primeiro lu-

gar. Ele é o maior, é o combustível para eu seguir minha trajetória rumo ao meu aprimoramento espiritual... E também acredito no poder do conhecimento que é a base para que eu alcance o suces-so na vida, assim como a minha boa conduta.

— (...)— Percebo que nada na vida pode desmoronar o conheci-

mento que adquirimos ao longo de nossa existência já que ele se faz como um escudo para nos proteger de pessoas ou ideias insignifi cantes. Mãe, a senhora já se deparou com esse tipo de obstáculo? Creio que sim! Eu quero sempre ter a cabeça erguida para poder enxergar as situações e amadurecer cada dia mais, pensando mais em minha vida, colocando as coisas mais impor-tantes na frente de tudo e, é claro, principalmente eu, “né”, mãe...

— (...)— Sou jovem, um pouco egoísta, talvez... vivo meus amo-

res, sem repartir o que há de essencial na vida. Sou como todos

Quase um diálogoJaqueline de Cássia Silva – 1º ano EM

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os outros: reservada. Prefi ro guardar tudo que acontece comigo. Isso não é nada bom, não é? Mas ao mesmo tempo sinto-me dife-rente, não sou onipotente nem anseio poder. Quero viver “inten-samente” sem ferir as outras pessoas, isso é a liberdade. Às vezes tenho medo de que as coisas inferiores ou ruins tomem conta do meu lado mais fraco, mãe, e fi co desesperada! Quero tomar a decisão correta! Não quero perder o caminho dos valores que me levarão ao sucesso pessoal e profi ssional.

— Fico muito feliz por saber que você está tão amadurecida, Filha, que já tem esse olhar para dentro de si mesma, num tempo em que os jovens andam tão obcecados pelos prazeres do sexo, do consumismo e da droga. Que bom que já sente a presença especial de Deus em sua vida. Dessa forma, com certeza que seus caminhos serão mais fáceis e você será uma pessoa melhor a cada dia. Amo muito você.

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Minha fi lha, com grande desempenho e esforço você con-seguirá desenvolver atividades do dia a dia e treinar seu

desempenho mental.Mas para isso, é importante também crer em Deus, em to-

dos os momentos, porque Ele é o alicerce que sustenta a base da nossa vida, e nos proporciona momentos de alegria e de conforto espiritual.

Deverá também, fi lha, dedicar o tempo de sua vida ao estudo que é o bem mais precioso que a arremessará para um futuro bri-lhante. Mas lembre que é Deus quem nos mostra o caminho da felicidade e do respeito que devemos ter aos nossos semelhantes, isso é fraternidade! E quando surgirem os desafi os e os obstácu-los em sua caminhada, sempre iremos dar um apoio, mas nunca permita que o entusiasmo e o interesse faltem na sua vida! Eles são ingredientes essenciais da motivação para que você faça sem-pre o melhor de si para alcançar resultados positivos. Assim você obterá a capacidade de entender o mundo.

Sabe, fi lha, a própria vida com os seus altos e baixos ajudará você a descobrir o signifi cado da existência. As bases para sua conduta...

— “Bases? Que bases mãe?’’A vida vai lhe mostrar com o tempo...A vida sempre nos dá uma rasteira, mas nos mostra também

como levantar. Alguém estará ao seu lado, nos momentos difíceis

Sabedoria de Mãe Carla Adriele Lemes Ribeiro – 1º ano EM

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e lhe dará um ombro amigo para que você consiga seguir sua caminhada sem desistir dos desafi os.

E quando se vir embolada em confl itos, você deverá agir sempre com ética e justiça. O bom senso lhe permitirá isso. Posi-cione-se diante da vida e planeje seu futuro, acreditando sempre que seus sonhos é que a levarão ao futuro próspero — é como se-guir uma luz que, há muito tempo, encontra-se no fi m do túnel...

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Ah... não sei o que faço da minha vida, ela está tão chata e monótona, todos os dias as mesmas coisas são feitas, nada

mais me interessa. Estou triste e deprimido... Fiz o que você me aconselhou, estou começando a procurar as respostas dentro de mim, como uma luz em uma imensa escuridão, aquele pequeno brilho de luz no fi m do túnel.

Procurei, procurei, porém de nada adiantou, tudo em vão...Encontrei dentro de mim muito ódio, rancor, solidão, e isso

me fez afastar de pessoas amadas, e me fez aproximar de pesso-as errôneas.

Porém, resolvi não desistir dessa procura, afi nal um pirata nunca desiste de seu tesouro. Resolvi ir mais fundo, mergulhei em águas profundas até encontrar as respostas que eu procurava.

Percebi que a vida não é constituída apenas por pontos ne-gativos, estou aprendendo a viver buscando sempre a minha ri-queza, procurando meu mapa que me leva à felicidade. Aprendi aos poucos que a felicidade é feita de pequenos momentos e para ser feliz tenho que ter ao meu lado pessoas sinceras e amigas, ter fé e acreditar que, a cada dia que nasce, Deus estará ao meu lado disposto a me ajudar diante das várias difi culdades.

Mas ainda assim estou confuso... por isso, vim vê-la nova-mente, para me ajudar a decifrar os códigos do meu mapa, tentar entender as respostas que tanto procuro.

Não vejo mais nada dentro de mim, está uma bagunça, uma desordem... Talvez seja preciso vir  vê-la com mais frequência.

A ProcuraGabriel Felix Ramos – 2º ano EM

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Suas consultas me fazem esquecer todo o externo... só então con-sigo olhar para dentro de mim, para o que tenho feito...

Talvez eu esteja subestimando o conteúdo do baú, mas apa-rentemente, o único jeito de saber, como um bom pirata, é tentar e nunca desistir; é seguir sempre tentando melhorar não só a mi-nha, mas a vida de todos que estão ao meu redor.

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Sinto-me imensamente feliz, porque agora, jovem que sou, en-xergo minha vida como uma construção, cuja base se constrói

na infância quando, aos poucos, vão se assentando os tijolos, a ferragem e o cimento, então minha edifi cação vai se tornando sólida e altiva até chegar ao telhado. E também tenho consciên-cia que minha obra só fi ca pronta quando ela é preenchida com amor, humildade e fé.

É interessante que, durante a empreitada, quando se mistura a massa com suor e cimento, é que compreendo que não dá para caminhar na vida sozinho. É preciso ter ao meu lado pessoas com quem compartilhar, assim como o pai, a mãe, os irmãos e os ami-gos, o engenheiro, o pedreiro, o mestre de obras, o servente... só assim a obra se completa e se torna perfeita.

Assim, ao carregar o fardo do dia a dia, sentir a aspereza nas mãos e o peso nas costas é que se abre a fenda para o positivis-mo e a fé. Deus entra em mim e me fortalece. É bom sentir essa energia que não me permite vacilar, nem cair. É minha fortaleza, é minha câmera de segurança, que está sempre me vigiando, sem se importar se estou fazendo a coisa certa. É Ele quem faz das grandes rochas pequenos obstáculos. Sem Ele não sou ninguém!

Ah, como é gratifi cante ver as paredes subindo! Minha alma fi ca em festa... É tempo de sonhar, de conquistar, é tempo de olhar para trás e acreditar que chegamos onde queremos. Mesmo que seja através de tijolo por tijolo, telha por telha, haja paciência!

Vida em construçãoAdriana Maria Peres – 2º ano EM

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Não posso me esquecer das janelas! Os olhos para o mundo. É preciso fi car atenta às pessoas que vão entrar em minha morada; se nas paredes me preocupei com material de qualidade, no interior hei de querer pessoas do bem e, dessa forma, com a chegada dos amigos, poderei compartilhar o que tenho de melhor: a minha Fé.

E, fi nalmente, ao pôr o telhado, termino o meu templo, a mi-nha vida percorrida com alegrias e tristezas, luz e sombra, vitórias e derrotas. Minha vida que, com Deus, não desmoronará nunca.

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No jardim, observava as fl ores... Nossa! Não imaginava que elas ilustrassem com tanta perfeição a minha vida.

Assim como as fl ores, nasci de uma semente que, lançada no ventre materno, foi cultivada com amor e sonho. Quando crian-ça, na fase do broto, ia experimentando novas sensações, desco-brindo que precisava ter coragem e força para crescer e enfeitar o jardim...

Mas só existir, exibir cores e exalar perfume não bastam: no processo de crescimento, é preciso melhorar a cada instante, seja como fl or, seja como um homem, sofrendo em alguns momentos, pois não haveria graça a vida se tudo fosse bonança não é, meu caro leitor? Como nos dias frios quando parece que perdemos as forças para viver, ou nos dias tórridos em que quase perdemos a esperança de desabrochar, surge uma energia divina que anuncia a primavera e nos deixa mais confi antes.

Florescer: esse é o grande desafi o! Haja vista, a dor de cres-cer é bem semelhante ao que as fl ores passam quando algum mal-avisado retira suas pétalas ou arranca-as da haste pelo sim-ples prazer da destruição. Quantas vezes me senti assim...

Mas agora, que já tenho consciência das minhas fragilidades, tento melhorar cada vez mais, e já não me sinto mais sozinho, te-nho Deus em meu coração, assim como a família em meu canteiro.

É, caro leitor, a vida não é brincadeira... Para manter esse jardim fl orido, temos que ter muita garra e força de vontade, fé e

Vida e floresCarlos Mateus Rodrigues – 2º ano EM

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amor para que, quando esbarrarmos nas fl ores murchas ou resse-cadas, possamos reanimá-las, a fi m de que voltem a ter esperança de uma nova fase e fi quem cada vez mais coloridas, mais perfu-madas e mais vivas.

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Sabe, eu queria tanto viver a vida do meu jeito... Mas são tantas as regras que me sinto sufocada... Sinto-me confusa, quando

estou em pleno amadurecimento.Assim como eu, você também já deve ter passado por algu-

ma difi culdade, não é? Quantas vezes tive vontade de jogar tudo para o ar... e Deus toca em mim.

Uma energia divina que reacende um sonho e uma vontade de vencer, de chegar, de viver... Sonhar é tão bom que reaviva a fé e a perseverança; faz-nos acreditar. Essa é a essência da vida. Olhar para a frente e seguir, buscando o nosso aprimoramento em cada fase, em cada contexto. Recuar? Jamais. Só se for para pegar mais impulso, afi nal, desistir é para os fracos, os fortes continuam...

Assim, as difi culdades fazem parte do repertório da minha vida, senão que graça teria? Até as primeiras notas musicais Dó, Ré, Mi são difíceis de aprender, necessitam de tempo e paciência, ou experiência para se chegar a um resultado satisfatório.

Quando um artista sobe num palco pela primeira vez, ele espera que tudo dê certo, e quando se dá conta que os fãs cantam suas músicas, sente uma energia tão boa por ver que o seu tra-balho está conquistando milhares de pessoas. Nossa! Isso é uma dádiva... e, ao fi nal, os aplausos são sua maior alegria.

E sabe por que um cantor é aplaudido, meu caro leitor? Bem, acho que nem preciso dizer... é resultado de muito esforço, com-petência, dedicação... Você também pode ser bem-sucedido, vai

Vivendo e aprendendo...Alana Priscila de Carvalho – 2º ano

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depender muito das suas atitudes e de três palavras: AMOR, FÉ e PERSISTÊNCIA!

Nós temos que nos reeducar para essa boa conduta. Pensar positivo e acreditar que tudo vai dar certo são questões funda-mentais para conquistar o sucesso.

Eu sou assim, quando já não tenho mais forças para persistir com a minha caminhada, procuro uma inspiração para prosse-guir... E quando a encontro, o mundo se abre para um novo re-começo.

Enquanto olho para o horizonte e vejo que o sol ainda brilha, resta-me uma esperança! Mas se eu olhar e vir que o sol já se pôs, eu irei me conformar, porque sei que, ao amanhecer, terei a chan-ce de um novo começo. E quando o entardecer chegar, eu poderei dizer que tive a chance de recriar um novo fi nal...

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16 de maio de 2012

Querido diário,Às vezes, eu penso que é preciso esquecer a pressa e pres-

tar mais atenção em todas as direções ao longo do caminho... A pressa cega os olhos. E deixamos de observar tantas coisas boas e belas que acontecem ao nosso redor.

O que precisamos está tão próximo... No entanto, passamos, olhamos, mas não enxergamos!

Não basta apenas olhar!É preciso olhar, sim, com os olhos, enxergar com a alma e

apreciar com o coração. Só essa sensibilidade nos auxiliará em nossa caminhada, em busca de resultados, de objetivos, de reali-zação de sonhos.

Sabe amigo, eu já começo a enfrentar, pouco a pouco, alguns desafi os e barreiras, mas também já consigo mostrar minha força de vontade e perceber que meus rendimentos e meu êxito de-pendem, em boa parte, de outras pessoas. Compreendo a impor-tância do trabalho coletivo e do espírito de equipe. É fácil, basta saber compreender o outro e aceitá-lo do jeito que é... isso é ser inteligente.

Aprendi que a inteligência é a capacidade de fazer escolhas, e eu escolhi ser feliz. Sim, feliz por saber ouvir, por entender, por dividir e, principalmente, por amar!

Página da vidaÂngela Maria Nunes Assis – 1º ano EM

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E hoje, pelo prazer de saborear o conhecimento, através do qual descubro o mundo, vou fi cando hábil para tomar decisões e vou me conhecendo melhor a cada dia. Tenho sido infl uenciada pelo meu autoconhecimento, pois só se sente nos ouvidos o pró-prio coração…

Ah! meu leal amigo diário, sinto uma grande paixão pelos livros cujas palavras me despertam e me auxiliam nessa incrível viagem para dentro de mim, quando guio-me pelo refl exo do co-nhecimento produzido pela humanidade. Gosto dessa sensação de aprender e sentir que não sei nada. É isso que me puxa para frente, sabe!? Isso é motivação. Agora entendo: estou amadure-cendo e me tornando uma pessoa melhor a cada dia.

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Delfi m Moreira, 25 de maio de 2012

Caro professor,Recordo-me que, na primeira aula de Sociologia, você per-

guntou à sala: “Como vocês defi nem maldade e bondade?”. Houve várias respostas do tipo “São antônimos!”, “São atitudes huma-nas”... E quando chegou a minha vez lhe respondi: “Bondade é um ato de ajuda e maldade é um ato de matar”. Ao que você retorquiu “Não está errado, mas aposto que daqui a alguns anos você muda-rá de ideia”. Confesso-lhe que duvidei disso. Mas como você nos propôs que lhe escrevêssemos dez anos depois, refl etindo acerca do bem e do mal, aqui estou eu...

Hoje, escrevendo essa carta, estou convicta de que, à medida que crescemos, nossos pensamentos e atitudes mudam e amadu-recem. Há duas coisas boas que são interligadas: AMOR e BON-DADE. Sem o amor a bondade não reina, pois o bem e o amor andam juntos. Mas hoje só vemos ÓDIO e MALDADE, coisas completamente contrárias ao que buscamos. Assim como o amor, a maldade “está dentro de nós”, já disse Rubem Alves. E falar algo do próprio ser humano é difícil, pois o homem é complexo. Mas depois de muita refl exão concluí que a maldade é resultado da fal-ta de caráter, um indivíduo mau é aquele que não tem o “conjunto de qualidades que lhe determinam a conduta moral”. Um ato sem proposta do bem e do amor, se torna um mau ato. Onde não há amor, o mal se manifesta. O ser humano vacila entre o bem e o

Car ta ao professor de SociologiaJennifer Ingrid Tomé – 2º ano EM

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mal, basta um deslize que o mal aparece. O egoísmo é uma das causas principais da maldade. Ao fazer algo, a pessoa não pensa no bem comum, nem nos prejuízos que trará para o próximo, só pensa no bem de si mesmo. Por exemplo, quando alguém diz “Vou roubar e conseguir dinheiro pra droga” só pensou na sua necessida-de e não na outra pessoa. Nos dias de hoje, é mais fácil ver um ato maldoso, do que ver alguém ajudando uma pessoa idosa a subir no ônibus ou até mesmo a atravessar a rua. Nada de alegria ao pensarmos que a ética está sendo deixada para trás. Diante disso, sinto que as pessoas não mais aplaudem o espetáculo da vida, pois em todo lugar só vemos tristeza e morte. Para ter bom caráter, boa conduta, basta pôr amor nas atitudes, nas ações. Também precisa ter bons pensamentos, pois são eles que alimentam os bons atos. Se penso coisas boas vou agir de maneira benéfi ca, aos poucos adormecendo a maldade dentro de mim. Já os pensamentos ruins adormecem a bondade, tornando as atitudes cada vez piores.

O meu ideal é o bem, mas não basta a prática, devemos aconselhar outras pessoas a não fazerem o mal. Fazendo o bem estaremos contribuindo com a sociedade e com nós mesmos. Os bons atos geram um brilho especial em nossos olhos.

Ah, se as pessoas não tomarem consciência das consequên-cias da maldade, daqui a algum tempo elas baterão em nossa por-ta e não poderemos fazer mais nada...

Então é isso, professor, o tempo passa, as coisas mudam, a mente muda e as ações permanecem. Mas tenho certeza que a bondade ainda pode reinar no mundo. E como diz Milan Kundera “A verdadeira bondade do homem só pode manifestar-se em toda a sua pureza e em toda a sua liberdade com aqueles que não represen-tam força nenhuma”.

Abraços,

Jennifer

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Numa breve pausa, fi xo o olhar indagando apenas a capa. Sur-preendo-me com a feitura de minhas próprias histórias... À

minha frente, o meu refl exo sabe que parte de mim, minha alma e meu espírito, estão trancafi ados sob sete chaves, somente abertos ao próprio leitor.

E você que quer saber do meu pensamento, ah o meu pensa-mento... já não está mais aqui, está longe, distante, afastando-se cada vez mais... Deixando a calma que em meu corpo se espalha, até dar o último suspiro suavemente.

É dessa minha serenidade que faço uso em minhas obras. Mesmo estando prontas, releio-as e reescrevo-as quantas vezes precisar. Assim como o lapidário trabalha a forma do mais pre-cioso e mais resistente diamante.

Quero simplesmente agradar meus leitores...No meu passado, no meu futuro ou no presente, escolhas e

escolhas... o que seria da vida se não pudéssemos escolher nossos caminhos?

Você gostaria de ser uma marionete?  Pois é, somos livres! Mas nem sempre ser livre signifi ca fazer tudo o que queremos.

Pense bem antes de tomar qualquer atitude, é preciso cautela para não se decepcionar. Quanto ao destino? Não creio muito nele... um e outro podem ter o que se chama de sorte. Acredito numa vida de esforço, competência e saber fazer das opções um futuro do qual se orgulhar. Podemos escolher o que semear... mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos.

PausaAfonso Ribeiro Araújo – 1º ano EM

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Agora tenho que partir. Nossa, nem precisei abrir a primeira página do meu livro!

Ó, pobre leitor, um dia você saberá o que há nele...O jeito é guardá-lo na prateleira junto aos demais.

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Ah, a vida... Por que é tão confusa? Ao mesmo tempo que chego à conclusão que a vida é bela, já penso que ela é com-

plicada demais...Eu desisto... Eu desisto de compreendê-la, agora eu quero

mais é vivê-la...Quantas vezes me vi em um abismo, me vi desnorteada... É

claro que só poderia me sentir assim depois de ter perdido tantas coisas boas em minha vida!!! Deixei muitos momentos divinos passarem despercebidos... Deixei não, ainda deixo.

Mas agora enxergo as coisas boas com mais facilidade do que antes... Tento ser feliz com o que eu tenho. Não fi co mais me aba-lando com coisas que poderiam me deixar feliz se eu as possuísse.

Aliás, nem posso dizer “o que eu tenho”, procuro valorizar QUEM eu tenho. Eu tenho uma família maravilhosa: meu pai que, apesar dos nossos desentendimentos me ama, assim como eu o amo. Meus irmãos que, apesar das brigas... ah, como eles me fazem bem... Minha mãe, essa nem se fala... Não tenho palavras para defi ni-la. Eu a amo mais que tudo nessa vida. Ela é tudo pra mim, ela é perfeita, maravilhosa. Tomara que por um erro do papai do céu ela seja eterna...

Meus amigos... eles sim, são o motivo do meu viver! Não te-nho milhares de amigos, mas tenho os MELHORES amigos. Não posso esquecer da pessoa que tenho ao meu lado e que também me faz muito feliz...  Do meu trabalho, que é muito duro e, ao mesmo tempo uma bela distração...

SatisfaçãoJoice Amaral Carvalho – 2º ano EM

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Tenho também um prato de comida todos os dias, a oportu-nidade de uma boa educação e um cobertor que me aquece em noites frias...

Tenho tudo isso... Sou muito feliz!!! Achou que eu fosse es-quecer do principal né? rsss...

É, não esqueci não... Eu tenho DEUS: Lembra que eu disse que eu não tinha palavras para descrever minha mãe? É, eu me enganei, porque ainda assim consegui dizer palavras bonitas a respeito dela...

Eu não sei mesmo é descrever DEUS... só sei que não dá para viver sem Ele, e sinto muita pena de quem não sabe disso.

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Ando pensando muito sobre minha vida, sobre o meu coti-diano... é preciso pensar antes de agir; já perdi anos e anos

pensando em coisas já vividas, em minhas atitudes que, algumas vezes, não foram muito acertadas.

De hoje em diante vou pensar mais no que fazer amanhã e me interessar mais pelas coisas que farei... sei da minha capaci-dade e sei que, tendo vontade, qualquer ser humano pode mudar. Penso que minha escola é meu escudo e se eu me empenhar mais, tirar boas notas, serei uma vitoriosa! Não basta pensar, temos que fazer, pôr em prática. Você já pensou quanto tempo você gasta só pensando e não agindo? Na vida, todo ser humano pode ser uma pessoa boa e capaz, basta querer.

Pois não há como construirmos um futuro melhor para nós e para nossa família se não nos dedicarmos no nosso presente, se não dermos o melhor de nós para buscarmos nossos objetivos!”

Algumas vezes nos arrependemos tanto de coisas que fi ze-mos no passado, que acabamos parando com o nosso presente, sem ao menos pensar no que faremos no futuro. É muito compli-cado, pois fi car preso em algo que passou não é bom, isso nos faz ter medo, insegurança; acabamos deixando de fazer coisas que gostaríamos, por medo de cometer alguma atitude que nos trará arrependimento novamente... Mas isso é um absurdo, todos nós erramos um dia, e os erros só nos fazem crescer (de alguma for-ma), perdemos tanto tempo com medo de arriscar, com medo de

Eu, você e o tempoPaula Rafaela Ferreira Rabelo – 2º ano EM

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errar, com medo de magoar alguém... são tantos os medos, e o tempo só passando... Cada vez mais rápido.

Enfi m, poderia fi car aqui escrevendo por horas e horas, mas o que eu quero mesmo é dizer que devemos aproveitar ao má-ximo o presente, porque o passado já se foi, o futuro virá e o presente está aqui! Então, espero que nem eu nem você percamos mais tempo relembrando o que nos fez mal — se isso for quase impossível para você, releve! Façamos o que nos der vontade, não percamos tempo com paranoias. Temos pouco tempo. Precisa-mos refl etir. Não sabemos quando nossa vida irá acabar... Então, que tal curtirmos o momento, não nos abalarmos demais com discussões, insultos... Vamos passar por cima de tudo e sermos felizes, do jeito que Deus quer!

E amanhã, quando chegar o fi nal do dia e formos nos deitar, será muito bom se fi zermos planos para o dia seguinte, porque além de ganharmos tempo, teremos a certeza de que a vida será melhor.

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Há alguns dias, me peguei pensando nas pessoas que dian-te dos fracassos desanimam-se... Eu nunca me deixei levar

pelas emoções tristes, sejam elas quais forem... Costumo levan-tar a cabeça, encarar todos os obstáculos e seguir em frente e, se não agir assim, minhas atitudes pessimistas poderão trazer consequên cias drásticas para mim mesma, para meus familiares, amigos e todos que, de alguma maneira, estão envolvidos com a minha vida. E isso mudará também meus pensamentos, e me desmotivará a encarar a vida realmente como ela é.

Procuro fazer o oposto, pois tenho sempre pensamentos oti-mistas como “tudo vai melhorar”. Para todos os problemas pro-curo ver o lado bom, e sempre tem. Por pior que seja a situação, adquiro uma nova experiência e aprendo com os meus erros. Essas lições vêm de dentro de mim, fazendo instantaneamente desse erro um aprendizado e sempre procuro refl etir. Há outras pessoas com problemas bem piores que o meu, evidentemente, isso não é o fi m do mundo.

Através dessa viagem dentro de mim, pelo que eu já tenho vivido, sou capaz de afi rmar que nada é fácil; lutei muito e esta-rei sempre lutando; perdas de amor, entes queridos, trabalhos e muitas oportunidades já se foram, mas nunca me deixei abalar por isso. Talvez algum tempo de insatisfação com o que a vida me ofereceu... Mas tudo não passou de pequenos momentos de angústia... Esses não voltarão mais. Problemas e difi culdades são normais, o que não é bom é eu me isolar no meu mundo.

Coisas que aprendi na viagemAndreia Liliane Ribeiro – 2º ano EM

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Para quase tudo existe um jeito: para o erro existe uma nova chance, novas oportunidades, novos caminhos a se seguir; para o pecado existe o perdão e, logo depois, o prazer da reconcilia-ção; para a tristeza existem os amigos, os familiares e Deus, que sempre me ajuda e me guia; para o medo existe o amor e logo a confi ança, a segurança; para a ferida existe o tempo, que até deixa cicatrizes, mas sem dor.

E, no fi m, aprendi muito, aprendi que ninguém é perfeito, e eu não seria diferente; que lutar e acreditar que eu sou capaz de melhorar, me ajudará a vencer; que a vida é muito dura, mas aci-ma de tudo, eu tenho que ser mais que ela. Afi nal, quem não quer chegar no topo da montanha? Só que poucos sabem que a felici-dade encontra-se durante toda essa caminhada; que para todos os momentos, tanto fáceis como difíceis, Deus ajuda, dá força. Enfi m, sempre poderei levantar e correr atrás do prejuízo e fazer um novo fi nal para minha própria história. Basta um sorriso...

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Grandes e intensas emoções gritam dentro de mim insisten-temente pela libertação, mas as pessoas costumam compli-

car as coisas... Elas deixam tudo mais difícil e, assim, perdem a chance de sentir um grande sentimento queimando em seu peito. Não enxergam nos pequenos detalhes, o verdadeiro brilho que a vida esconde atrás de um grande amor! E esse amor arde em meu peito, rasgando o meu coração... Atrás de uma lágrima que escorre levemente por meu rosto há um vazio enorme den-tro de mim — “a saudade”.

Em meu âmago, há uma constante briga entre três sentimen-tos: o ódio, a tristeza e o amor. Quando estou mal por qualquer motivo, seja sentimental ou por um fato ocorrido, sinto ódio de mim mesmo, não gosto de me sentir culpado pela tristeza do ou-tro, que se afasta de mim... e longe, sinto falta do meu coração acelerando, da minha mão suando e do brilho que simplesmente dá cor ao meu mundo, deixando-o colorido.

O ódio é minha parte racional. Essa parte corresponde à ca-beça, que enxerga o certo e o errado, o bem e o mal... E é a que sempre sabe o melhor caminho a ser seguido. O ódio resulta da tristeza que é a ausência daquela pessoa que me faz feliz, e que com um simples sorriso coloca um brilho diferente em meus olhos e dá sentido ao meu mundo. A tristeza é uma junção da cabeça ao coração, que mesmo sabendo qual é o certo e o errado, termina voltando para o aconchego de um abraço apertado e a doçura de um beijo molhado.

SentimentosGustavo de Carvalho Siqueira – 2º ano EM

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Mas acima de todos os sentimentos impera o amor, o mais belo e intenso dos sentimentos. O início de tudo, pois eu e você somos fruto do amor de nossos pais. Tenho certeza que quem tem amor dentro de si, vive feliz apesar das dores que ele traz. Hoje posso dizer que existe uma pessoa em minha vida, que plantou uma sementinha em meu peito, e que vem fl orescendo e fazendo um sentimento lindo e intenso queimar dentro de mim. Posso dizer que, quando estou com ódio de mim, ou triste, aque-la pessoa surge esbanjando alegria, com um brilho nos olhos que comparo ao de uma estrela, uma voz suave que sussurra em meus ouvidos como a de um anjo, e que tem o dom de me arrepiar, e aquele sorriso... Que reluz as águas do mar e que sabe me encan-tar como nenhum outro.

Apesar dos confl itos e decepções, o coração irracional sem-pre fala mais alto que a cabeça e nos arremessa ao amor...

Enfi m, sentimento é vida. É ter Deus no coração. Quer um milagre em sua vida?

Simplesmente seja ele!

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(...)Enfi m, meus amigos, ou a vida é um oásis repleto de fl ores,

onde para se chegar devemos enfrentar um caminho tortuoso, cheio de obstáculos que desafi a a sobrevivência; ou é um jardim de espinhos, cujo caminho é mais ameno, sem curvas, sem pe-dras, sem folhas secas ao chão...

Em qual deles devemos caminhar?Essa resposta depende de cada um de nós... Há quem prefi ra

enfrentar as difi culdades, sentir o sabor da coragem, da força e da perseverança para, no fi nal, se deparar com um lugar encantado, onde a vida passa a abranger apenas a positividade e o sucesso. E há aqueles que preferem um caminho mais fácil e acessível, onde não há nenhuma distração até o jardim de espinhos e cac-tos. Aparentemente tudo é simples, no começo, até que fi camos presos a pensamentos ruins e não conseguimos mais nos libertar, pois a muralha de negatividade e de ilusões que construímos ao nosso redor não nos deixa ultrapassá-la e não permite a entrada de ninguém. Somos apenas nós sem nós mesmos, não consegui-mos acreditar no que somos e as esperanças já se tornaram ruí-nas, entendem?

Eu estou determinada a seguir no caminho das fl ores, mas estou tão acostumada com coisas fáceis e a ter tudo aquilo que desejo que, às vezes, nem percebo que estou no caminho do jardim de espinhos: fácil no começo, impossível no fi m. Isso já aconteceu com vocês? Talvez. Mas, hoje, posso lhes afi rmar que

CaminhosCamila Ribeiro Sapucci – 1º ano EM

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para atingir o desejado, devo ser insistente e abraçar inteiramente os meus objetivos, mesmo que para isso tenha que passar por momentos de tristeza, de frustração, ódio e solidão, pois são es-ses sentimentos que me colocarão nos eixos e nas coordenadas exatas do caminho das fl ores. É a fase do amadurecimento...

O que eu lamento é o fato de eu não me conhecer por com-pleto. Sei que sou uma pessoa com sentimentos que oscilam mui-to; adquirir coisas, por exemplo, me deixam feliz até que, quando não consigo algo, a raiva e o ódio ardam em minha alma, quei-mando todos os pensamentos bons. Mas estou aprendendo, aos poucos, a controlar isso e, às vezes, até sinto uma melodia harmo-niosa e suave dançando e espalhando calma por todo o meu espí-rito. O que me faz sentir como se estivesse vivendo um de meus sonhos, onde entro num mundo inteiramente meu e mergulho no mais profundo oceano, ou fl utuo na mais densa nuvem...

Sabem de uma coisa? Cheguei à conclusão que na vida somos simples cozinheiros e que, em cada prato que cozemos, um novo ingrediente é adicionado para nossa sopa do futuro. Ainda sou uma simples aprendiz da vida e quando refl ito sobre meus atos e pensamentos mais profundos, controlo minhas emoções, esta-beleço e ultrapasso metas. Sinto que estou plantando e colhendo ingredientes essenciais que tornarão minha sopa mais completa e apetitosa e que, no futuro, quando estiver me deliciando com ela, saberei que toda luta valeu a pena.

E também já sei que a vida é muito traiçoeira, por isso devo planejá-la com cuidado, não para evitar as turbulências pelas quais passarei, mas para aproveitar cada momento com mais in-tensidade e aliviar as tensões do dia a dia. A única certeza que tenho é que, quando encontrar o meu eu, tudo será mais simples e minha vida tomará um rumo diferente. Não tenho pena daqueles que morreram sem se conhecer, tenho pena daqueles que mal o tentaram e viveram uma vida inteira sem amor.

Mas, como mudar isso? Sei que todos nós somos diferentes e não pensamos da mesma forma, mas nossos corações batem

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como um só e sinto-me na obrigação de ajudá-los nessa busca de si mesmos, semeando em seus pensamentos grãos que fl oresçam e frutifi quem o bem.

Para tanto, devemos nos empenhar em educar nossos pen-samentos, para que sempre estejam lúcidos no ato das nossas escolhas, porque afi nal, vivendo intrinsecamente ou não uma si-tuação de confl ito, são nossas escolhas que fazem o que somos. O destino está em nossas mãos, entendem? Então, se podemos escolher aquilo que é correto, aquilo que é bom, certamente que trilharemos no caminho das fl ores. Só temos é que ter fé em Deus e acreditar em nós mesmos para que todo obstáculo se torne um alicerce nesta nossa jornada para a eternidade.

Obrigada.(aplausos)

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PARTE IV

O lugar onde vivoMemórias, crônicas e artigos de opinião

TEMA DA OLIMPÍADA DA LÍNGUA PORTUGUESA – 2012

Projeto promovido peloMEC – Ministério da Educação e Cultura

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Memórias

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— Bom dia, Carmem, quanto tempo. Que bom que você veio para conversarmos com nossas netas!

— Bom dia, Nelsa. Então, as meninas querem saber dos nossos tempos de outrora. E nesses dias, estava me lembrando daquele nosso tempo de menina... Lembra que não podíamos namorar como agora? Não podíamos nem pegar na mão... tínha-mos que namorar pelo “buraquinho” da porta, hahaha...

— É, me lembro sim, haha... Os pais só nos davam “liberda-de” para namorar depois dos 16 anos e, logo após alguns meses, já nos casávamos. Nossa, também me lembro que para ir à escola tínhamos que andar no mínimo uns 40 minutos, pois não havia ônibus. Que preguiça que nos dava, né?!

— É, Nelsa, tinha dia que nem me dava vontade de ir à esco-la; ia porque a escola era boa, e adorávamos jogar bola, brincar de pique, cobra-cega e pular carniça na hora do recreio! Ahh... a vida era muito difícil... As mães eram muito exigentes, tínhamos que ajudar na roça todos os dias. E comprávamos tudo do mais barato, só o necessário.

— Ah, Carmem, é verdade. Nós nem tínhamos essa varieda-de de caneta como agora, muito menos computador. Lembro-me que antes escrevíamos com pena e tinteiro. Ah, como eu gostava...

— Então né... Os tempos mudaram e a nossa cidade cresceu muito. Havia muitas fábricas de polpa de marmelo, alguns laticí-nios... Eu me lembro dos apitos das fábricas, da movimentação dos operários... Ah, era tudo muito bom!

Entre amigasAlana Carolina Coura – 8º ano EF

Rhayane Th amires Andrade – 8º ano EF

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— Bom, minhas netas, acho que já falamos muito, né? Se pudéssemos, fi caríamos aqui o dia inteiro relembrando os ve-lhos tempos, que foram e não voltam mais. Mas o tempo passa, e apesar de ter sido muito difícil, fomos e somos muito felizes Hummmm... E que tal irmos agora fazer um bolão de fubá?

Entrevistadas:Maria do Carmo Rodrigues da Silva – 70 anos

Nelsa Aparecida Nunes Ribeiro – 74 anos

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Nasci em Piquete-SP, mas desde muito pequeno vivo aqui em Delfi m Moreira, uma bela cidade, pequena no tama-

nho, mas ampla o sufi ciente para guardar muitas recordações. Ahhh… e que recordações! Tão boas que decidi compartilhá-las com vocês. Vamos embarcar neste vagão?

Bem… lembro-me dos marmeleiros carregados, que perfu-me... que frutos deliciosos... deixavam a gente com água na boca. Quanta fartura! Hum…

Também tenho muitas lembranças da escola… era muito di-ferente das escolas de hoje e muito, muito mais difícil, pois os castigos eram bem mais rigorosos: os alunos tinham que fi car ajoelhados nos grãos de milho, enquanto os educadores soltavam bombinhas em volta. Mas, mesmo assim, eu gostava, era muito bom! Infelizmente todo esse gosto durou pouco... estudei ape-nas até o 2º ano. Minha vontade era seguir em frente nos estu-dos, junto com meus companheiros, mas tive que aprender com a vida… Não pude frequentar por mais tempo a escola, porque minha mãe trabalhava na colheita de marmelo, já meu pai era peão e amansava burros, cavalos e bois, foi aí que surgiu meu apelido “João Peão”. Tinha 11 irmãos e, como era o mais velho, fi cava encarregado de educá–los, era praticamente o pai deles… Minha vida nunca foi fácil, mas me diverti muito no passado!

Ah… Já estava me esquecendo, não posso deixar de falar da maria-fumaça que, sem dúvida, trilhou o coração de todo delfi nen-se e que, infelizmente, um dia foi embora, e nunca mais voltou…

Viagem ao passadoAna Cecília dos Santos Pinto – 8º ano EF

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Éééé… eu disse que minha vida nunca foi fácil, mas pensan-do bem… difícil é ver tudo isso se acabando assim… Ainda bem que as memórias não morrem.

Voltemos à estação, sempre que quiser fazer uma viagem ao passado,me chamem!

Entrevistado: João de Oliveira Santos – 64 anos

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Vivi um bom tempo no Caquende, em uma bela fazenda com muitas árvores cheias de frutas que perfumavam o ar; as fl o-

res alegrando o dia… Morava com meu pai, minha mãe e meus irmãos, ah tempo bom! Brincava de pique montanhas afora, e gostava muito de caçar rã. De manhã, ao acordar, adorava ir ver tirar leite da vaca, aquele leite branquinho, cheio de espuma,uma delicia! E minhas professoras... Dona Genilda, Dona Marina, Dona Elisa… que saudade! Meus colegas Russo e Carcinha... O sinal tocava e eu e eles já estávamos brincando de bolinha de gude, peteca… Às vezes, brigávamos, mas todos amigos brigam, faz parte. Saudades dos meus colegas, das brincadeiras... mo-mentos que fi caram marcados na minha vida.

Ah, como eu gostava de ir a Itajubá com meu pai de maria-fu-maça. Quando ela ia chegando, escutava o barulho e meu coração se enchia de alegria! Depois, na volta, antes de chegar na estação, eu e meu pai pulávamos do trem em movimento... Isso para mim era uma farra. Eu não aconselho ninguém a fazer isso.

E os campeonatos de futebol, então! Como eu gostava... Jo-guei desde os meus 10 anos,e quando fazia um gol era uma festa! Os jogadores vinham me abraçar e comemorar. Lembro-me como se fosse hoje. Bem, o povo delfi nense sempre gostou de assistir um jogo de futebol. Iam de manhã e voltavam só de tardezinha para casa. Nos fi nais de campeonato contra cidades da região, todos fi -cavam apreensivos para saber quem seria o campeão. Nesses dias,

Alegria de ViverMilena Silva Cunha – 8º ano EF

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os “picolezeiros” ganhavam muito dinheiro... E olha que as condi-ções do campo não eram grande coisa, a grama era seca, não tinha grade para separar os torcedores dos que estavam jogando… mas no fundo, todo mundo gostava, pois era a única forma de diver-são… Ah, saudades desses bons tempos…!

Meu pai, o tio Carmelo, como todos conheceram, foi um grande incentivador do futebol. Como ele fez história no grama-do... e quantos apelidos ele deixou como herança desses tempos... Marcou a história da cidade. Também era um homem muito ca-ridoso, muito religioso, participava da missa todos os domingos. Não me esqueço de quando juntos puxávamos tropas de batata, um trabalho difícil; acordávamos cedo, com aquele frio, um ven-to forte e gelado, mas eu gostava. Depois, no depósito, trabalhá-vamos na ensaca.

Ahhh, e a pescaria... lembro-me como se fosse hoje: eu, meu pai e meus amigos saíamos de madrugada naquele friozinho, mas como valia a pena! Passávamos o dia todo em Olegário Ma-ciel e, na volta, já era tradição uma paradinha no meio do cami-nho para jogar sinuca, e quem ganhava do meu pai? Ninguém. Ele sempre foi o campeão e ainda era o maior contador de papo. Quantas saudades... momentos incríveis e marcantes na minha vida. É, o nosso “tio Carmelo” se foi, mas ele estará sempre em nossas lembranças e em nossos corações.

Agora tenho que ir, pois a vida é curta e tenho que aprovei-tá-la um pouco mais.

Entrevistado: Nilton Silva – 68 anos

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No dia três de agosto, a Dona Ana, avó de uma de nossas co-legas, veio nos visitar. Nós a entrevistamos e ela foi falando

mais ou menos assim:“Me lembro como se fosse hoje de quando morava em Ma-

ria da Fé e adorava brincar com uma espiga de milho como se ela fosse minha boneca. Pegava um sapinho novinho e colocava roupinha nele. Quando meu pai achava aquelas ninhadas de ra-tos, eu pegava-os e os amarrava com barbante, fazendo daqueles pequenos animais a minha boiada. Fazia também cavalinhos de chuchu e de batata.

Tive onze irmãos, mas hoje só restam três. Desde muito pe-quena trabalhei na roça com meus pais. Tudo que sei hoje apren-di com eles. A gente se vestia de maneira muito simples. Nossas roupas eram feitas de saco branco — daqueles que vinham com açúcar — tingido de várias cores. Calçados não usávamos de ma-neira nenhuma. Era ‘pé no chão, pé na geada, pé rachado’. Che-gava até a sair sangue.

Minha casa era coberta de sapé. Chão, parede e fogão eram feitos de barro misturado com cocô de vaca para fi car mais re-sistente.

Nossa diversão era ir à missa aos domingos e voltar direto pra casa. Participávamos também das festas da Semana Santa e de Fim de Ano. Do carnaval, só ouvíamos falar. Meu pai proibia a gente até de olhar.

Simplesmente vidaAna Paula Ribeiro – 8º ano EF

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O meio de transporte mais usado por nós naquela época era a maria-fumaça. Porém, viajávamos para Aparecida do Norte, nas romarias, num caminhão coberto com lona e com tábuas atravessadas na carroceria, que serviam de banco. Levava umas quatro horas para chegar até lá. Estrada de terra, com muita poei-ra. Íamos e voltávamos rezando e cantando. Era só alegria!

Quando conheci meu marido, estava morando em Guaratin-guetá. Ele foi trabalhar com o meu pai, numa olaria. Já estava de olho em mim há muito tempo. Passava na porta da minha casa e pedia para o meu pai um copo d’água, um foguinho para acender o cigarro... até que criou coragem e pediu a minha mão. Meu pai permitiu que namorássemos, mas só dentro de casa, sob os olha-res dele e de minha mãe. Aliás, não podíamos nem pegar na mão e, beijo... só depois de casados.

Namoramos durante oito meses e nos casamos só com a rou-pa do corpo. Nossa cama era feita com quatro estacas fi ncadas no chão que sustentavam um jirau e um colchão de pano cheio de palha seca, feito por mim mesma. As panelas eram latas de óleo vazias cuja tinta era removida depois de as deixarmos de molho em água com cinza. Ficavam brilhando que era uma beleza! Ape-sar da nossa pobreza, éramos muito felizes porque já nos amáva-mos tanto quanto agora e olha que estamos casados há 53 anos!

Atualmente, o que me faz muito feliz é quando meus fi lhos, netos e bisnetos vêm para minha casa. Isso sim é muito impor-tante para mim: ter a família reunida.”

Dona Ana despediu-se de nós com um sorriso alegre e con-fi ante, ciente de ter passado para mim e para meus colegas um pouco da felicidade que traz consigo.

Entrevistada: Ana do Espírito Santo Carlos – 73 anos

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Que saudade dos meus tempos de infância... tanta pureza... tantos sonhos...um tempo que marcou minha vida.

Lembro-me quando ainda era tão pequena e gostava de ajudar minha mãe. Ela que era tão meiga de pele e olhos claros. Como era bom!

Adorava viver na roça, com minha mãe e meus seis irmãos; meu pai havia morrido quando eu completei 10 anos. Olha que a vida corre, hoje só me restaram dois irmãos, e que falta os outros me fazem... Sinto muita saudade.

Lembro-me de quando acordava cedo com o galo cantando, o bom cheiro do café e rosca feitos em casa. Quando saía pra aula, o ar frio tocava meu rosto, o sol surgindo... Tudo branco por causa da geada, era até bonito de se ver!!!

Na escola, o tempo passava rápido e, logo, acabava a aula... O sinal tocava e nós, como pássaros esperando a liberdade dentro de uma gaiola, saíamos correndo para festejar!

Então, íamos pra cachoeira nadar, como era gostoso tomar banho de cachoeira, sentir a água fria beijar minha pele, estreme-cer de alegria e gritar saudando a liberdade e a natureza que, em festa, exibia montes de espuma... minha infância foi ótima, nunca me esquecerei... e que lembranças maravilhosas!

Minha escola, ahh...minha escola era ampla e bonita, parecia um grande salão, localizava-se onde hoje é o hotel São João. Eu adorava estudar junto com minha irmã Belmira e nossas pro-fessoras Santinha, Geralda, Filomena, Colária e a mais brava, a

A corrida do tempoMariana Santos Siqueira – 8º ano EF

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Dona Bezinha, que até nos deixava de castigo no grão de milho. Minha neta, não pense que é mentira não, na minha época havia o castigo mesmo!!! Ahhh... Mesmo assim, sinto saudades da es-cola e dos meus amigos.

Terminada a aula, vinha pra casa e tomava café com farinha, que delícia que era!!! Depois, eu saía pra rua a brincar. Era tão bom... me jogava na grama, olhava pro céu, contava as estrelas e, então, via que já estava noite e entrava em casa; rezávamos e íamos jantar todos juntos. Mais tarde, contávamos histórias.

Não posso deixar de lembrar da “maria-fumaça” que partiu faz 55 anos... deixando muita saudade! Foi sem se despedir...

Lembro-me das fábricas Cica, Colombo, Mantiqueira, Peixe e Fruticultores, todas faziam doce, principalmente o de marmelo. Era lindo de se ver, era uma fartura... um cheiro que nos per-seguia de longe. E o amarelo predominava na paisagem... tanta beleza que encantava os olhos.

Eu... eu desfrutava disso tudo. Fazia questão de ajudar co-lher; até cheguei a trabalhar na Colombo. Era bom demais... eu adorava banhar os marmelos, aquela água gelada que batia e vol-tava com seu frescor!!!

Preparávamos as embalagens bem coloridas e diversifi cadas, eram lindas! Então, colocávamos os doces e levávamos para as vitrines que brilhavam, era uma fábrica arrumada, cheirosa; dava gosto de trabalhar lá!!! Como esse tempo corre, hein!?

As festas? As festas de Delfi m eram ótimas, não são como as de hoje... Antes havia vários bailes com sanfoneiros e violeiros. Hoje, há poucas festas e não são tão animadas. Em meu tempo, era o padre Martinho, um padre muito animado, que dava apoio à comunidade, ele recebia todos de braços abertos. Ah, uma curio-sidade, as festas natalinas eram comemoradas em novembro.

Eu nunca me esquecerei do circo “POKAROUPA”, o melhor circo que já veio aqui em Delfi m Moreira... Eu tinha apenas 17 anos... Era o ano de 1951...

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Nossa, como o tempo passa rápido! E eu já estou atrasada, tenho que ir minha neta. Depois lhe contarei das nossas brinca-deiras, uma delas era pular barrancos, você vai rir muito! Mas agora seu avô está me esperando. Precisa que eu assine a entre-vista? De qualquer forma é melhor assinar

Francisca Siqueira de Castro – 1934

Vou indo porque o tempo não espera.

Entrevistada: Francisca Siqueira de Castro – 78 anos

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— Vó, você poderia me contar um conto de fadas?— Mas, minha neta, você se esqueceu que eu não sei ler? E

depois, já se passaram tantos anos... Você já deve ter esquecido que eu estudei só até a 4ª série... Mas na mente sempre fi cam al-gumas lembranças, e tenho uma que você vai amar!

“Oh, tempinho bom aquele que eu brincava de boneca com minha irmã! Bem, você vai rir, mas não era exatamente uma bo-neca, nós pegávamos os gatos e fazíamos roupas pra eles.E além disso, fazíamos bonecos de verduras!

Saudade? Saudade tenho é da escola... quando chovia fazia aquele barro que você nem imagina; e o pior é que todos che-gavam sujos na sala de aula! Naquele tempo, não tinha ônibus não, e a estrada era de barro vermelho! Lembro-me como se fosse hoje quando arrumei um namorado: era eu e ele de um lado e papai do outro, imagina que cena engraçada!

Eu e papai vivíamos brigando, mas ele era um pai bom que vivia nos aconselhando. Às vezes, passávamos madrugadas a conversar.

O porquê da saia abaixo do joelho? Nem sei direito... Lem-bro-me que um dia, há muito tempo, ganhei uma saia curta aci-ma do joelho e meu pai a rasgou em meu corpo e disse que eu só poderia usar saias abaixo do joelho; e nossos sapatos eram de couro, que papai mesmo fazia, e que eram também usados para nos bater.

0 tempo que não voltaJanaina Nayara Moraes – 8º ano EF

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Viajar? Ahn... eu nunca viajei porque sem dinheiro ninguém viajava. É, a vida naquele tempo não era nada fácil. Nós, mulhe-res, trabalhávamos igual aos homens na roça; eu carpia, plantava e colhia todos os dias. E, graças a Deus, nunca passamos fome.

Agora a saudade me bate, e a única coisa que me resta são as lembranças...ahh, e que saudade das festas! Aconteciam de mês em mês na igreja... Parando pra pensar, hoje em dia não há mais festas na igreja, mas deixe-me continuar! Natal, Festa Junina, Carnaval e Exposições nosso pai não deixava ir de jeito nenhum. Em celebrações religiosas íamos com nossos pais e, após a missa, tinha comida e bebida de graça, além de uma banda que tocava músicas antigas e bonitas!

Oh tempinho bom, que não tem mais volta... Lembro-me muito bem, quando apanhei porque fui no carnaval escondida, mas apesar das chicotadas foi muito bom, porque me diverti à beça. Comi balas até... Naquele tempo era uma por dia para cada irmão, imagine só! Mamãe não deixava a gente chupar muitas balas, porque dentista “grátis” naquele tempo não tinha.

Hoje em dia, acho tão estranho eu ganhar presentes em meu aniversário, porque antes até um simples parabéns era difícil re-ceber. Viu só minha netinha? Você ainda reclama por ganhar poucos presentes...

Às vezes, paro a pensar por que será que as casas são tão chi-ques, hoje? Antes as casas eram de pau a pique, o chão de barro; já a dos mais ricos tinha até assoalho. Essa desigualdade social, cada vez mais, separa as pessoas...

Ah, era tão bom quando meu irmão ia bem cedinho pegar o leite na porteira que o próprio leiteiro deixava; comíamos bolo de fubá com um copo de café com leite bem quentinho.

E as costureiras daqueles tempos iam apenas nas casas de gente mais abastada, e se nós quiséssemos encomendar roupas, tínhamos que correr atrás delas...

Mas a melhor parte disso tudo eram as fábricas. Minha mãe trabalhou numa delas, pena que nós não recordamos muito bem,

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mas com razão, já se passaram tantos anos! Até parece, que foi num piscar de olhos.

Bom minha querida netinha, vou fi cando por aqui. Tenho que ir dormir, já é muito tarde. Que pena que você dormiu! Foi tão bom recordar o passado e espero que você possa viver muitas aventuras para contar a seus netos algum dia!”.

Entrevistada: Leonor Francisca Nunes Silva – 60 anos

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“Nasci em Itajubá e nossa família mudou-se para Delfi m Moreira quando eu tinha doze anos. Na minha infância,

gostava de brincar de maré, de casinha, de fazer comidinha, de roda e de bicicleta. Éramos dez irmãos, mas dois deles morre-ram ainda novinhos. Tomávamos banho de bacia porque naquele tempo não havia chuveiro em nossa casa. Primeiro lavávamos os cabelos e depois o resto do corpo.

Andei muito de maria-fumaça. Gostava de fi car no último vagão para acenar para as pessoas que passavam na rua. Também andei de charrete e de carro de boi.

Na quarta série primária, fi z de tudo para levar bomba e po-der estudar na escola nova que seria inaugurada no ano seguinte: o Grupo Escolar Marquês de Sapucaí. Para grande surpresa da professora, consegui o que queria.

Meu pai era dentista e minha mãe doméstica. Meu único emprego foi na fábrica de marmelo. Que saudades eu sinto do cheirinho delicioso dessa fruta que era tão comum naquele tem-po e, hoje, quase não se vê mais por aqui.

Eu gostava de participar da missa com as Filhas de Maria — espécie de congregação da igreja católica. Depois da missa, meu pai permitia que eu fi casse passeando na praça até às 21h. Se che-gasse cinco minutos atrasada, ele estaria me esperando atrás da porta... e eu fi cava uma semana de castigo, sem sair nem na janela!

No último vagãoWiebke Cipas Perhs – 8º ano EF

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Ah, quanto ao namoro, conheci meu marido numa brinca-deira de baralho, na casa de dona Juquita, nossa vizinha, minha futura sogra. Eu e minha irmã mais nova, Isaura, que tinha ape-nas seis anos, íamos para lá e o Tião, fi lho da Dona Juquita, dizia que era namorado da Isaura. E assim foi por algum tempo até que chegou um primo do Tião e disse que ele é que era o namorado da minha irmã. O Tião disse que ia fi car sozinho e eu falei que ele só fi caria sozinho se quisesse, porque eu estava ali... Desse dia em diante, começamos a namorar. Namoramos por um ano e de-pois marcamos o casamento. Apesar de ele estar desempregado, nos casamos porque o meu pai disse que não admitia enrolação. Casamos com a cara e a coragem, durante uma das missas das Filhas de Maria, como era costume naquela época. E não era que nem hoje, que os noivos fazem listas de presentes. Eu e o Tião ganhamos meia dúzia de xícaras de café de um dos padrinhos e outras coisinhas simples.

Nesses anos todos, muitas coisas aconteceram, alegres e tris-tes. Hoje sou feliz com meus fi lhos, netos e bisnetos e mais feliz ainda porque estou casada há mais de cinquenta anos com a pes-soa mais maravilhosa que já conheci...”

Então, é essa a história que Dona Anele nos contou com muita alegria, na ocasião em que nos visitou em sala de aula.

Entrevistada: Anele Tribst da Costa Soares – 74 anos

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Eu nasci no bairro Caquende, como lá era gostoso... Só de pen-sar, sinto o vento trazendo o aroma das deliciosas frutas... Na-

quele pedaço de chão, fui criada com meus oito irmãos: Adilson, Nilton, Carmelo, João Batista, Vera, Tereza, Rosa e Paulo Renato, todos muito queridos. Meu pai era Carmelo Conti, o Tio Carme-lo; difícil quem não o conheceu, famoso por suas histórias e os inesquecíveis apelidos; ele sempre participou do futebol delfi nen-se. Já minha mãe, Aurora Duarte, era querida e conhecida por sua bondade e infi nita vontade de ajudar os outros. Também mora-vam conosco meus avós, Vó Branquinha e Vô Zeca, que saudade!

Recordo-me daqueles bons tempos: Papai pedia todas as noites para pentearmos seus cabelos...

Sempre que podíamos eu e meu irmão Melo íamos pescar na Água Limpa. Naquela época, a água ainda era limpa e cristalina da qual tirávamos os pequenos peixes com apenas uma peneira. A imagem das brincadeiras e artes que eu aprontava com meus irmãos nunca saiu da minha memória — todos brincavam de pular-corda, pique, peteca... e a gente adorava andar a cavalo. E os piqueniques então, eram deliciosos... bolachas, doces, balas e refrigerantes de diversos sabores, uma fartura!

Já em outra parte da minha história, também muito animada e divertida, aconteciam os bailes que eram muito animados nos quais tocavam tango, valsa e o famoso baião. Ali dançávamos e passávamos bons momentos...

Pedaços de históriaJoão Valadão de Mello Neto – 8º ano EF

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Ah, e o passeio de maria-fumaça, que embalava nossas con-versas e nossos sonhos. Lembro— me um dia em que eu e mi-nhas amigas Cida e Regina íamos para Itajubá e o trem tombou. Foi um grande desespero... Felizmente, que todos nós consegui-mos sair do vagão e tudo fi cou bem.

Aos quatorze anos, fui para Piquete-SP morar com a minha avó. Lá também era muito bom, mas sempre preferi minha ado-rada Delfi m Moreira-MG. Voltei, quando o Ginásio se iniciou por aqui...

E, neste lugar, fi z minha história, tive cinco fi lhos Denis, De-nize, Deise, Deivid e Daniele, que me deram dez maravilhosos netos.

Minha família é minha vida, e com eles sou feliz, graças a Deus.

Entrevistada: Dalva Maria da Silva Rodrigues – 63 anos

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Ah, que alegria me recordar dos meus tempos de criança! Eu brincava de pular corda, pique-esconde... eram tantas as

travessuras... Interessante que hoje as crianças não sabem nem brincar!

E minha escola... Era tão bonita! Meus amigos... Tão legais. Pena que eu estudei pouco, nem me recordo até que série, pois tive de sair da escola para ajudar meu pai. Antigamente, não ti-nha moleza, não! Tínhamos que trabalhar para garantir o susten-to da família.

Lembro-me e me emociono de quando ganhei de meu pai meu primeiro chinelo... Era tão macio, e eu adorava ir à escola com ele, pois naquele tempo tudo era muito difícil.

Nossa! É tão bom estar aqui com você revivendo o passa-do que já ia me esquecendo de Delfi m Moreira, é o foco, né? Deixe-me ver, eu me lembro das fábricas Colombo e Cica... quantas pessoas trabalhavam lá preparando polpa de frutas para fazer doces. Creio que a marmelada tenha sido o doce mais im-portante, afi nal era até exportado.

Ah, tempos bons eram aqueles... muita gente vinha visitar nossa querida Delfi m Moreira. Uhm, só de lembrar dos doces da Colombo já dá água na boca! Tinha uma bananada numa lata amarela que era muito especial. Hoje em dia, não há nada igual.

Mas divertimento mesmo era passear de maria-fumaça. Todo mundo gostava. No trem tinha uma inscrição RMV –

Alegria de reviver o passadoJeronimo Silva – 8° ano EF

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Rede Mineira de Viação, mas as moças normalistas, que estuda-vam fora iam cantando “Ruim mais vai...” era uma farra! É, mas o mais incrível, é que a maria-fumaça se foi e ninguém sabe para onde... Isso deixou muitos delfi nenses aborrecidos.

Naqueles tempos, Delfi m Moreira tinha poucas casas e algu-mas “vendas”. Hoje, vejo como a cidade cresceu, vários comér-cios, casas, ruas calçadas, transporte escolar... E que bom que ainda temos o pontilhão, o casarão da praça, a estação, que hoje são patrimônios de Delfi m Moreira, para não nos esquecermos das histórias do passado.

Cada fato da memória é como o universo... Infi nito de várias formas, mas que podem se resumir em poucas palavras: Alegria de Reviver o Passado. Espero que você tenha gostado de me ouvir.

Um abraço, Antônio.

Entrevistado: Antônio Miranda Neto – 74 anos

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Oh, que saudades tenho daqueles tempos, quando eu acor-dava com o canto do galo e dos passarinhos. Eu gostava de

acordar bem cedinho para ver a geada... Mais tarde, já era pos-sível ver melhor o verde radiante das montanhas e o sol quente, veemente.

Depois, eu ia me arrumar pra ir à escola, que naquela época só tinha a primeira e a segunda série. As crianças tinham que ir a pé pra escola, até mesmo nos dias chuvosos. Antigamente, nosso material escolar era levado em saco de arroz! Vou lhe fazer uma pergunta, a qual acho que você não saberá responder: você sabe o que era a minha borracha? Bem, minha borracha era um peda-ço de chinelo do tipo havaianas. Depois da escola, eu gostava de ajudar meu pai na colheita e plantação da família. Nossa família plantava batata e frutas. A gente comia o que plantava; a sobra vendíamos para as fábricas Cica, Colombo e Mantiqueira. Interes-sante, eu nunca trabalhei nessas fábricas...

Minha relação com meus pais? Tudo bem, eu lhe conto: mi-nha relação com meus pais era muito boa, de muito respeito. Um pouco diferente de hoje em dia, pois tem alguns fi lhos que não respeitam mais seus pais... Agora vou lhe contar como era mi-nha casa, ela era assim: não era de pau a pique, ela era de tijolo e seu piso era de madeira. Era linda! E era nesse lugar gostoso que minha mãe fazia as roupas da família. Você sabe o que eu gosta-va de fazer em casa? Ficar rodeando minha mãe na cozinha. Eu amava comer a “comidinha” que ela fazia, no fogão à lenha. Um

Tempos que passaram, lembranças que ficaram

Mayara Patrícia de Carvalho – 8º ano EFBruna Mikaelle de Carvalho – 8º ano EF

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dia descobri que não era só isso, ela usava também uns temperos especiais, mas que poucos conheciam: amor, carinho e afeto. É, esses temperos fazem mesmo muita diferença.

Hoje em dia as crianças são tão desligadas, têm tudo tão fá-cil, nem dão tanta importância para o Dia das Mães... Viajar en-tão... agora as crianças vão a todos os lugares. Em outros tempos nós só viajávamos para Aparecida do Norte e era de caminhão. Como era bom... Lá eu fazia questão de comprar um presente bom para minha mãe.

Nossa cidade até que se desenvolveu bastante e a popula-ção cresceu... Delfi m Moreira era visitada por gente de todo lu-gar, você não sabe o porquê, né? Era por causa do marmelo e do queijo, que era e sempre será uma deliciosa combinação, e nossa cidade também se enchia nas festas de fi m de ano, porque Delfi m Moreira também era conhecida pelo famoso vai e vem, que era muito legal.

Que saudades tenho da minha juventude, quando eu namo-rava, trabalhava e me divertia muito. Nos fi ns de semana, eu ado-rava pegar a maria-fumaça e ir pra Itajubá com meus amigos. A gente curtia muito; eu chegava em casa por volta de meia-noite. E quando arrumei minha primeira namorada tive que fazer o pe-dido pro pai da menina. Naquela época, tínhamos que ter muito juízo e, principalmente, nós tínhamos que namorar perto do pai da moça. Era até engraçado, porque a gente não podia nem pegar na mão dela, era um namoro com muito respeito.

Ah, que tempinho bom esse, pena que já passou e nem vol-ta mais... Sabe, eu guardo dentro de mim poucas, mas as mais importantes fases da minha vida, posso lhe contar um segredo? Às vezes, eu mesmo me pego relembrando esse tempo e tento revivê-lo novamente, mas por mais que eu queira, ele não voltará. Felizmente que essas lembranças vão estar sempre em meu cora-ção e em minhas memórias.

Entrevistado: Otávio de Paula Xavier – 66 anos

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Vou tentar lembrar, mas já passou um tempão, né? Não sei se vou me lembrar de tudo...

O que você quer saber primeiro? Ah já sei, você que é adoles-cente deve querer saber como a gente namorava, né? Tá bom... Era assim: os meninos tinham que pedir a mão da menina em namo-ro ou em casamento, antes de começar a namorar... Isso mesmo, pedir a mão da menina em casamento antes de começar a namo-rar, você deve estar achando isso um absurdo, mas era assim...

Para ir à escola, a gente ia a cavalo ou a pé, aliás, íamos pra todo lado desse jeito. Voltando pra escola, que mais eu posso falar sobre ela... Ah... Talvez você ache estranho, mas antigamente nos-so material não era levado em mochilinhas bonitas e sim em sacos de arroz. Você talvez ache horrível ir pra escola com o seu mate-rial dentro de saquinho de arroz, mas naquela época era normal.

As brincadeiras... Ah, as brincadeiras... Eu adorava pular cor-da. Também tínhamos uma imaginação, até inventávamos algu-mas delas. E que legais que eram... E quando nós voltávamos da rua, minha mãe sempre estava nos esperando com uma sopa de legumes deliciosa feita em um enorme caldeirão de ferro. Quando era menino não sabia o valor que isso tinha...

Bem... O modo de se vestir era simples, os meninos com suas calças e camisas às vezes remendadas, e as meninas usavam ves-tidos bem longos, coloridos. E agora você vai se assustar mesmo, todo mundo andava descalço, até para ir à roça, capinar e roçar era descalço. Não tinha nem chinelo naquela época.

Eu e a maria-fumaçaIzabel Nigro Bernardes – 8º ano EF

Daiane Cristina Gonçalves – 8º ano EF

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Agora falando de roçar e tal, eu me lembrei que a terra era ótima para o cultivo, as sementes eram boas. Tanto eram boas que até sobrava, e aí o que sobrava nós vendíamos em Delfi m, e comprávamos coisas muito gostosas e saborosas. Ah, como era bom o comércio antigamente...

Lembro-me bem que, para compras, íamos com carrinhos um pouco improvisados, amarrados com cordas, linhas e bar-bantes, ou até cipó, mas era isso que os deixava tão especiais.

A cidade cresceu muito... Apareceram novos comércios que antes não existiam, mas em compensação antes havia as fábricas, inclusive fábricas de doce, pois era uma fartura de frutas, que só vendo. Na safra do marmelo, eu gostava muito de sopa com queijo; era deliciosa e rica em vitaminas, assim minha mãe dizia.

Ah, e não posso me esquecer da “maria-fumaça” que, quan-do acendia o fogo para sair, eu ia lá esquentar minhas mãos! Hoje vejo o tempo como uma “maria-fumaça”: é sempre o mesmo, ele vai e volta, é como um ciclo... Mas, às vezes, quando ele volta, você já não é mais o mesmo que um dia fi cou feliz pelo simples fato de suas mãos estarem quentinhas...

Entrevistado: Antônio Sebastião de Sousa – 65 anos

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— Ah... Uma entrevista? Nem sei por onde começar...Tem tantas histórias...

— Comece pelo lugar onde a senhora morava, aí continua...— “Tá”! Quando criança, eu morei nos Pintos dos Negreiros.

Nós morávamos em uma chácara, com meus pais e onze irmãos. Que saudades que sinto deles... Cultivávamos ervilha, fumo e todo tipo de lavoura.

Lembro-me que para frequentar a escola era difícil, tínha-mos de andar muito a pé, quando não era no barro, era sob as geadas. Os meninos iam na frente pra empurrar o gelo que estava na ponte, a qual fi cava muito escorregadia.

Nessa época, eu gostava de brincar de pega–pega, pular cor-da, peteca, esconde–esconde, queimada... mas tive que aprender o serviço de casa. Logo, aos nove anos, já sabia lidar com o fogão à lenha e o ferro à brasa — tinha que assoprar para funcionar.

— Vó, que lembranças a senhora guarda da cidade Delfi m Moreira?

— Ah, eu vim morar aqui depois que me casei com seu avô, no ano de 1968. Sabe, nosso namoro começou numa festa lá nos Pintos dos Negreiros, e você nem imagina como era diferente namorar naqueles tempos... A gente não tinha liberdade alguma.

No começo, enfrentamos muitas difi culdades, tínhamos uma sapataria de fabricação e consertos em geral. Apesar da luta, tenho tanta saudade daquele tempo... Depois da fabricação, o Ildeu saía

Só restam saudadesAna Luísa Macahiba Lorena – 8º ano EF

Gabriel José Fortes Alves – 8º ano

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para vender e entregar nos bairros em uma ‘vespa’, porque não tinha outra meio de transporte. Com o tempo, compramos uma Kombi velha que facilitou as vendas e as entregas.Depois, com a nossa situação um pouco melhor, adquirimos um caminhão pe-queno para vender frutas que comprávamos dos produtores.

Ainda com os fi lhos pequenos: Nilson, Nilsilene, Vaner e Vanderson, abrimos o armazém e com o caminhão levávamos frutas para São Paulo e Taubaté, e de lá trazíamos mercadoria para vender. Mais tarde, construímos outro ponto que é o Super-mercado Lorena, onde estamos trabalhando hoje. Só que, agora, Ildeu passou a trabalhar somente como caminhoneiro e deixou os fi lhos tomando conta dos negócios.

Como é bom poder lembrar desses momentos... E não é só nossa vida que mudou, não. Delfi m também é outra cidade. An-tigamente, na época das grandes plantações de marmeleiros, as tropas e pequenos caminhões passavam jogando marmelo na rua para as pessoas, era uma fartura! As fábricas apitavam às 7 h quando os empregados entravam; às 11h, quando os empregados paravam para almoçar e na hora dos empregados irem embora, até não me lembro bem se era 17 ou 18 h. Tempos depois, as fá-bricas foram desativadas, e Delfi m acabou...

Até os desfi les de 7 de setembro, eram mais bonitos, com carros alegóricos, com todas as escolas desfi lando, cada turma representando uma história. Os alunos do “prezinho” vestidos de insetos... uma belezinha! Recordo-me que uma vez uma alu-na do colegial desfi lou vestida de Princesa Isabel, estava tão bem produzida!

E, neste ano de 2012, o 7 de Setembro que é uma data tão especial para o Brasil, parece que não teve tanta importância para Delfi m. O que teve foi uma simples caminhada; boa para a saúde pode até ser,mas nada a ver com esta data. Penso que as pessoas estão sabendo muito pouco sobre este fato histórico e o evento não teve nenhum sentido.

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Ah! Hoje o que me resta é só saudade de tudo o que passa-mos e vivemos.

Entrevistada: Aparecida Freitas de Lorena – 67 anos

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Antigamente, Delfi m Moreira era uma cidade muito boa para se viver e bem diferente. Lembro-me que tinha uma maria-

-fumaça que era nosso transporte para Itajubá, era muito gostosa essa viagem... e era tanta gente na estação, uns chegando, outros partindo...

As ruas não eram calçadas, era tudo de terra, os postes fi ca-vam no meio da rua e quase não havia automóveis, eram mais ca-valos, burros e bagageiras. Sinto muitas saudades... todo mundo aqui se conhecia, se falava, se ajudava...

Eu estudava na Escola Marquês de Sapucaí, nossas professo-ras eram muito boas: era a Dona Marina, a Teresinha do Chico Coletor... No recreio, eu me reunia com as amigas e fi cávamos conversando... Éramos todos colegas e companheiros. Mas ti-nha uma coisa: os meninos de um lado e meninas de outro. Veja como os tempos mudaram!

Sinto muitas saudades... Embora nessa época já tivesse que dar duro para ajudar nas despesas da casa. É isso mesmo, aos oito anos eu já trabalhava de babá. A nossa vida antigamente não era nada fácil... até para namorar precisava do consentimento dos pais, pois eram muito rígidos. O namoro era praticamente só pa-quera e ainda tinha horário para chegar em casa. E ai de nós se andássemos fora da linha!

Antes de me casar, namorei durante dois anos por carta... Quando assumi o namoro pra minha família, achei que iria até

0 tempo passae a saudade aumenta...

Sabrina de Souza Gusmão – 8ºano EF

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apanhar, mas não, foi pior que isso. Meu irmão Dito impôs que eu namorasse, noivasse e me casasse em apenas cinco meses... Embora amasse muito meu namorado era muito nova pra me casar, tinha apenas 19 anos. Mas a gente não tinha escolha...

Depois de casada, uma vez ao ano, para ser mais precisa, no dia 15 de agosto, a família de meu marido viajava a Aparecida do Norte para cumprir promessa, e essa era a única viagem que fazí-amos. Era um dia muito esperado. Era maravilhoso! Era também a única vez no ano que comprávamos roupas e calçados para nos-sos fi lhos... Assim que chegava de viagem, eu lavava as roupas, limpava os sapados e guardava numa mala pra que eles tivessem roupas boas para o Natal.

Sabe, boa parte de minha vida eu trabalhei na Colombo, uma fábrica de compotas que tinha aqui em Delfi m Moreira, mas infelizmente ela foi desativada... Lá a gente trabalhava bas-tante com marmelo. Na época da safra, fazíamos muito serão. Os caminhões chegavam carregados e nós tínhamos que selecionar os frutos que eram depositados em uma esteira... depois de lava-dos, eram preparados para o cozimento em grandes tachos. Em seguida, a massa era colocada em latas e, assim, preparávamos a carga para ir pra outra cidade que transformava a polpa em marmelada. Quando terminava a safra de marmelo aqui na re-gião — Marmelópolis, Virgínia e Delfi m — chegavam caminhões de marmelo do Uruguai e da Argentina. Também trabalhávamos com fi go e pêssego que vinham de Valinhos.

Já, nos meses de junho e julho era época de laranjas. Nós as cortávamos pra tirar os gomos, ralávamos as cascas num grande ralador e, assim, as cascas iam pro tanque onde fi cavam de molho uns três dias — período em que se trocava a água para eliminar o amargo da casca e realizava uma fervura. Só depois desse pro-cesso, colocava-se o açúcar para fazer a compota de casca de la-ranja. Era uma delícia! Depois da laranja, vinham os caminhões de ervilha: as bainhas iam para a esteira, onde debulhávamos e

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preparávamos os grãos para a fervura num tacho de salmoura. Depois iam para as latas para colagem dos rótulos.

E o serviço não tinha fi m. Logo, chegavam os morangos nas caixas e nós, as mulheres, tirávamos os cabinhos de um em um e separávamos os bons que iam pro tacho pra fazer a tão famosa geleia de morango. De sábado pra domingo, tínhamos que atra-vessar a noite na fábrica para que, na segunda-feira, pudéssemos trabalhar com outros carregamentos de frutas.

Com tanto serviço eu só voltava para casa de madrugada, lavava as roupas, descansava um pouco e já era hora de levantar pra preparar o café, arrumar as crianças que estudavam de ma-nhã e ir pra mais um dia de luta, era muito cansativo... Na hora do almoço, comia correndo pra dar tempo de dar uma arrumada na casa, e olhar o dever das crianças. É, Sabrina, a vida antiga-mente não era nada fácil...

Nos dias de hoje melhorou bastante o salário, as pessoas têm mais conforto. A cidade também melhorou muito, agora tem mais habitantes, “tá” mais movimentada... Delfi m cresceu e junto com ela a minha saudade...

Entrevistada: Georgina Rosa de Souza – 63 anos

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Crônicas

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Com o violão na mão sentei-me em um banco simples de madeira e comecei a tocar. Era uma manhã fria, montanhas

cobertas pela névoa e a grama do terreiro toda branca de geada. Meus dedos estavam gelados, mas logo se esquentaram. A cada música que entoava, o sol aparecia timidamente através das mon-tanhas que formavam o vale.

Já com o sol radiando sobre as árvores, cantei Delfi m Mo-reira com seus belos pássaros sobrevoando as copas centenárias em busca das frutas como alimento; cantei a marcha das galinhas ciscando o orvalho da manhã. Subi até o alto da montanha e de lá compreendi toda a natureza ao redor; compus lindas melodias, e cantava... Cantava a água caindo rio abaixo; a cachoeira fazen-do sua dança contagiante; os cavalos correndo ao vento. E cantei também os trabalhadores no campo, na cidade e nas constru-ções; a movimentação dos operários da usina hidrelétrica, cantei o progresso... Cantei o gado na curva da estrada; os pecuaristas e as vacas leiteiras; os agricultores manejando lavouras e uma bela orquestra da mata — macacos guinchando, sabiás chilreando e os tucanos chalrando — que se misturavam ao som das modas de viola cantadas em Minas Gerais. [...]

Cantei as belezas da região e até cantei alguns problemas da cidade, só que em um tom abaixo pra que não se sobrepusessem à exuberância dos ipês e das araucárias que compõem a melodia da pequena cidade, que sempre será um belo lugar para se desli-

0 CompositorMateus Cortez Marcondes – 1º ano EM

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gar da correria do mundo e relaxar os pensamentos mais profun-dos dos grandes compositores mineiros...

Ao retornar do passeio pelas montanhas, sentei sobre o fo-gão à lenha e cantei Delfi m Moreira... Cantei o gostinho do café com bolão de fubá; cantei o calor gostoso do fogo que aquecia minhas mãos e meu coração; cantei o refrão de mais uma manhã de inverno nas montanhas geladas do sul de Minas Gerais...

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A gente acha que é fácil escrever uma crônica, mas nem tanto assim... Às vezes precisamos de inspiração, aliás, o essencial

é a inspiração. E isso não me faltou, pois com esta cidade mara-vilhosa e cheia de belezas naturais, é impossível não se inspirar.

Depois de um dia com a casa cheia, à tarde eu não estava me sentindo bem. O motivo nem eu mesma sei, mas deve ser nor-mal. Foi então que por acaso sentei em um banquinho do lado de fora da minha casa e dei uma “viajada”, por alguns instantes, até que me deparei com uma perfeita paisagem. Era o sol, bem longe, se despedindo e indo iluminar outras vidas, aquecer outros co-rações... Lá estava ele, piscando pra mim e a cada piscada, se dis-tanciava e, assim, o céu azul claro, cheio de nuvens, se escurecia...

De lá também pude enxergar uma parte de Delfi m Moreira, as casas com seus olhos tristes pelo abandono do sol, tudo co-berto pelo verde e agora também por uma brisa leve, a brisa do entardecer... As luzes se acendendo e as pessoas voltando de seus trabalhos, das fazendas, das plantações de batata, dos retiros, das casas de outras famílias, alguns professores indo e outros vin-do... Todos chegam cansados em seus lares, mas felizes por Deus ter lhes concedido mais um dia de vida e de trabalho. Em casa, aquele cheiro do tempero da canjiquinha e do caldo de feijão. No fogão, um bule cheio de café quentinho...

O barulho da mata e dos bichinhos...

CrepúsculoJaqueline Adriana de Moraes – 9º ano EF

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Então percebi que já era tarde. Fui para dentro e comecei a refl etir: quantas vezes o sol nasce e some dando lindos espetácu-los para nossas vidas e muitos de nós morremos sem perceber... Mas mesmo assim, ele nunca desiste de brilhar!

Agradeci a Deus por tudo que vi e fui dormir...

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É domingo, e a cidade desperta ao som das canções religiosas. As janelas preguiçosas vão se abrindo, permitindo a entrada

do sol em cada canto das casas que amanheceram tão frias... O escoar da água no banheiro... O cheirinho do café... E a caminha-da dos fi éis em direção à casa do Pai. A fé une os moradores de Delfi m, ou reúne...

Os passos apressados sobem e descem morros para não se atrasarem. A celebração se inicia. Há sempre um preocupado ou curioso que persegue os ruídos. Uma mosca zunindo. Um cão com semblante de criminoso chega de mansinho... ele sabe que não é bem-vindo.

Um bêbado quase sempre é retirado pelas portas do fundo e, claro, os olhares acompanham a movimentação com sorrisi-nhos de superioridade. Pura hipocrisia nossa de cada dia! Que pena. Essa é a oportunidade vinda dos céus para nos mostrar o quanto nós, “os sóbrios”, somos “bêbados”. Uma tentativa de nos fazer aceitar as diferenças, de mostrar que Deus não ama apenas “os mansos”, os moralmente perfeitos — muitos acreditam que fazem parte desse grupo. Mas não, afastar o bêbado que invoca Deus em voz alta é uma atitude indispensável para que a missa continue verdadeira. E continuamos na necessidade de ritualizar a nossa fé, de atingir o perdão, porque no fundo todos sabemos que somos pecadores.

Mas nem todos gostam de rituais, isso é fato. Há aqueles que quase nunca vão à igreja... na hora da “paz de cristo”, muitas mãos

DomingoLívia Mara Viana Venturelli – 1º ano EM

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vêm de todas as direções... não apertá-las seria falta de educação? Qual a intenção de arremessá-las tão longe? A quem pertencem? Não conhecemos... mas tudo bem, o momento é tão festivo!

Quantas orações que não sabemos rezar, gestos que não aprendemos. E a missa continua, formal e respeitosa.

Uma escritora disse uma grande verdade sobre a não neces-sidade de entender as coisas. Por isso, gosto dela. Entender para quê?

Fim da missa. Encomendar um almoço bem gostoso no ho-tel, gastar com “bobeirinhas” no bar e naquela padaria para o desespero ou a alegria dos dentistas...

E o domingo continua com a preguiça que qualquer início sempre causa.

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Estava em casa pesquisando em meu computador aonde iria neste fi nal de semana, foi então que descobri uma cidade-

zinha de Minas, Delfi m Moreira, e decidi que aquela seria meu destino.

No outro dia, de manhã, peguei meu carro e fui para Delfi m. Cheguei lá por volta das dez horas e me hospedei em uma pou-sada de estilo alemão, e logo quis provar a famosa marmelada delfi nense.

— Moço, me sirva marmelada, por favor! Ah, quero com queijo da fazenda!

— Não tem!— Nesse caso, vou querer sopa de marmelo. Insisti.— Se nem marmelo tem por aqui, como lhe servirei sopa de

marmelo!? Sorriu ironicamente.— Então, me sirva o doce mais pedido. Para minha surpresa,

escutei-o dizendo para cozinheira:— O moço vai querer gelatina!Saí da pousada desapontado, mas entusiasmado para conhe-

cer a Cachoeira do Itagyba.Dirigi por pouco tempo por uma estrada de terra; depois,

segui a pé por um caminho cheio de mato. No meu primeiro pas-so, escorreguei em uma folha e caí. Levantei rapidamente. Tudo o que passei valeu a pena, pois aquela cachoeira era a coisa mais bonita que já tinha visto. Empolgado, logo dei uma ponta na ca-

Uma viagem inesquecívelShelmer Ismael Ferreira de Araújo – 1º ano EM

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choeira, queria me esbaldar nas águas geladas da Mantiqueira, mas nessa brincadeira fi quei atolado no lixo. Nada abalava meu bom humor...

Assim que saí da cachoeira, resolvi me sentar, mas não en-contrei um banco nem um quiosque. Sentei-me na grama. Pés-sima ideia. Logo que sentei, fui atacado por formigas. Saí cor-rendo e, na correria, acabei tropeçando em uma pedra e perdi minha unha. Então, fui para o posto de saúde da cidade. Contei o acontecido...

— Coitado! Não tem médico. Vamos ter que levar você para Itajubá. Disse-me a gentil enfermeira.

— Mas não é só fazer um curativo? De nada adiantou eu falar, fui parar no hospital-escola...

Ao retornar, ainda na rodovia, tentei ligar para um amigo e não havia sinal para celular.

Assim que cheguei, de noite, tomei um banho, e resolvi sair para me distrair. Não tinha pizzaria. Puxa, comer o quê? Resolvi ir à balada. O Clube estava fechado. Ninguém na rua. Fui dormir pensando em como seria meu domingo... Queria acordar com o canto do galo, mas fui acordado com música do Sérgio Reis, que anunciava o horário da missa. Diferente, né!? Quis visitar o Mu-seu de Memórias, que foi inaugurado há alguns meses, mas ele nunca abriu para visitação. Jogar futebol com meu pé machucado não dava. Então, resolvi voltar para casa. Nossa! Estava sem gaso-lina e não tinha posto em Delfi m Moreira. Felizmente, encontrei um litro de combustível em um bar. Vim embora pensando que realmente quem conhece Delfi m Moreira não esquece jamais.

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Acordo despertado pelo cantar do galo, pelo velho cachorro da Dona Maria e pelo irritante som do despertador do ce-

lular de minha irmã. Consigo a todo custo me levantar, trocar de roupa e organizar meu material. De repente, ouço a buzina do ônibus que desce pela rodovia, e que logo depois voltará para nos apanhar. Confi ro tudo de novo, apago as luzes e fecho a casa. Escondo a chave no “lugarzinho de sempre”.

Indo para a escola, passo pela mangueira onde meu tio, ale-gremente, tira o branco leite da manhã. Às vezes, quando me atraso, corto caminho pelo pasto do seu Wilson, deixando as cristalinas esferas do orvalho molharem meu sapato. No ponto, espero o “escolar” com minhas irmãs e minha prima e lá jogamos conversa fora até ele, fi nalmente, chegar.

Sentado no banco, preencho (às vezes) meu tempo lendo um livro. Quando chego à escola, trocamos umas ideias sobre as au-las e, em alguns casos, até contamos alguma piada. O sinal bate. Entro, tomo o café servido pelas simpáticas merendeiras. O sinal bate novamente. É hora de estudar.

Hoje na escola, nas aulas de história, aprendi que o nome Delfi m Moreira é uma homenagem ao presidente da república e também que a cidade fi cou marcada pela produção de marmelo e de outras frutas europeias, cujas sementes foram trazidas por um barão. Bem aclimatado, o marmelo enriqueceu muita gente, estendeu a ferrovia e fez a história da cidade.

RotinaLuis Augusto Fernando Guimarães – 9º ano EF

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Da ferrovia restou o apito do trem, a estação e os pontilhões ferroviários. Nem as tropas de burro fi caram para ilustrar o pas-sado próspero da cidade.

Bate o sinal novamente. Outra aula. Mas as histórias conti-nuaram reticentes...

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— E aí, fi lho! Como foi a aula?— Pai, a professora falou que Delfi m Moreira foi uma das

principais produtoras de marmelo.— Sim! É verdade fi lho.— Como é o marmelo?— O marmelo é uma fruta azeda, amarelo-dourada, formato

igual ao de uma pera, é bastante aromático e, quando cortado, fi ca escuro rapidamente. Ah, uma curiosidade ele também era chamando de “pomo-dourado”.

— E o marmeleiro é uma árvore grande, pai?— Não, fi lho, o marmeleiro é uma árvore de tamanho médio,

com vários galhos e poucas folhas. Ainda há alguns pés por aí. Qualquer dia desses eu mostro pra você.

— Tá bom, pai.— Sabe fi lho, as primeiras mudas de marmeleiro quem trou-

xe foi o Barão da Bocaina, lá de Portugual, e essas mudas foram plantadas no bairro São Francisco dos Campos e também no Córrego Alegre. Mas foi só em meados do século XX que a pro-dução se expandiu e trouxe progresso para cidade.

— Nossa pai, era tanto marmelo assim?— Sim, meu fi lho, o clima aqui era muito mais frio do que

hoje, e o marmelo adora frio. Houve um tempo em que se co-lhiam 12 milhões de quilos de marmelo. E as fábricas de polpa

MarmeloFrancis José Machado – 1º ano EM

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daqui, como a Cica, a Colombo, a Mantiqueira e a Fruticultores deram emprego para muita gente...

— E por que acabou a produção de marmelo tão rapidamen-te, pai? Eu não entendo...

— Ah, meu fi lho, é que o clima mudou, está mais quente, agora; e outra coisa, o preço caiu e os produtores pararam de cul-tivar porque a manutenção era cara. Daí a economia entrou em declínio.

— Entendi!! Mas é uma pena, não é pai?— Nossa, e como, viu fi lho!! O pior é que ninguém fez nada,

só fi caram assistindo a tudo isso calados... Agora vai brincar lá fora vai!

— Tô indo...— Não entra muito tarde!— Pai?— O quê, fi lho?— Planta um marmeleiro aqui no quintal!?

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Lá vou eu, num ônibus, pensando nas minhas coisas... O co-brador gritando, que chateação... “Vamos lá para frente! Tem

lugar na frente! Não acumula aqui atrás não”! Como estou sen-tada, observo como as pessoas acatam o seu pedido, avançando para os espaços vazios no corredor do veículo.

Entre eles há um jovem bonito, que esconde o rosto embaixo de um capuz. Ele vai à frente, muito perto do meu lugar e do mo-torista. Acho estranho, parece que eu o conheço... Mas de onde? Estou pensando nisso quando ele olha para mim e dá um sorriso. Respondo com um simples: “Oi tudo bem?”

— Tudo bem- diz ele achando graça- mas eu acho que você não está me reconhecendo!

Ai que constrangimento! Sorri amarelo, não disse mais nada e lhe dei as costas. Fiquei olhando na janelinha e imaginando de onde o conhecia!

Ah, me lembrei! Acho que ele foi um colega de classe, se chama... hum... deixa eu ver... Afonso! Isso. Afonso. Nossa, há quanto tempo não o vejo! O ônibus para num ponto de rotina. A pessoa que estava sentada ao meu lado se levanta e desce. O jovem bonito que acho ser o Afonso senta-se do meu lado e diz:

— E aí, agora se lembra? — Sorri.Fiquei sem saída.— Sim. Como posso esquecer-me de um velho amigo...Olhando fi xamente para mim:

No ônibusJaqueline de Cássia Silva – 1º ano EM

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— Você é a Jaqueline. Ou estou me confundindo?— Sou eu mesma. E você é o Afonso, né? Ele olhou e sorriu.— Eu sabia que você não estava me reconhecendo! Sou sim.— Ah, é claro que sabia, só não lembrava seu nome. Recordei

de você por causa do livro que escrevemos quando estávamos no 1° ano do ensino médio. A professora fez tanta festa quando a sua crônica inspirou o título do livro... Ofi cina do Lapidário. Você ainda tem esse livro?

— Ah, sim. Guardo esse livro como uma relíquia. Ler, es-crever, reler, reescrever, revisar, ufa! Deu trabalho para nós, né!? Tenho saudades daquela época.

— E eu sinto saudades também de Delfi m Moreira e das pes-soas de lá. Só gente boa; pessoas simples... Faz tempo que não vou para Minas, e você?

— Não tenho ido.— Um dia desses, vamos dar um pulo lá para matarmos a

saudade!— Tudo bem! Quero mesmo ir a Delfi m Moreira. Leio o meu

livro, ou melhor, o nosso livro e fi co pensando nas histórias da cidade. Ah, que saudade...

— Que pena, Afonso, vou descer no próximo ponto. Me pas-sa seu número... O meu é 8866-5544, tá! Assim que fi zermos con-tato, marcaremos o dia para tomarmos um chopp na Cervejaria Kraemerfass, e por que não um passeio pelas lindas cachoeiras? Isso também é cultura, é Delfi m.

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Vinte anos depois, cheguei em Delfi m Moreira. Dirigi-me ao restaurante, olhei para todos os lados; vi a antiga fábrica

Colombo. Como a cidade mudou! Está mais bonita agora... senti uma saudade imensa de minha avó e lembrei-me da comidinha caseira que ela fazia: toucinho com farofa, canjiquinha com cos-telinha, e um pastelzinho de milho... e os doces que gostosura!

Como eu gostava de vê-la preparando aquelas receitas. Era doce de gila, de cidra, de marmelo, doce de leite, fi go... ah... eu não resistia, e fi cava por lá só para comer a sobra que fi cava na panela. Como era bom!

Para preparar o doce que eu mais gostava tinha que ralar a cidra, deixá-la de molho, depois escorria-se a água e apurava a polpa com açúcar; para dar mais gostinho: um pouquinho de canela e servia-se com queijo. Era uma delícia!

Já minha mãe gostava muito da marmelada e da sopa de marmelo.E como era trabalhoso preparar o doce de fi go, mas era tudo de bom. Hum... aquele cheiro... não tinha nada igual.

Tudo que eu queria agora mesmo era degustar todos esses doces, essas “mineirices”, depois de tanto tempo. Já sentia a água na boca...

Depois do almoço, louca para me deliciar com os doces que só existiam em Delfi m Moreira, chamei o garçom e perguntei-lhe o que tinha para sobremesa, ao que ele respondeu:

— Gelatina.

Questão culturalCarla Adriele Lemes Ribeiro – 1º ano EM

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Ai ai... Aqui de cima a cidade que já era pequena fi ca ainda menor. Por mais que venha neste lugar todos os dias, meu

olhar não se cansa. Quando jovem só pensava em ir para Rio de Janeiro, New York, ou até mesmo para o Texas nos EUA... Mas hoje só queria uma nova reencarnação e renascer nesta cidade-zinha, Delfi m... Ou melhor, na grandiosa Delfi m Moreira, pois é farta de belezas naturais...

Ah, aquela cachoeira em que íamos todos os fi nais de sema-na, aquela água cristalina... Tudo bem, que ela não era tão, tão, tão cristalina assim, mas dava pro gasto... Aquela cruz “miúda”, que quase não dá pra ver daqui, é uma cruz simples, mas que tem muita história pra contar. Naquele lugar sempre me sentava para apreciar o pôr do sol. O esforço ao subir o morro valia a pena; para mim era só alegria. O lusco-fusco irradiava as montanhas, feixes de luz e de cores como se o amor se fundisse com a nature-za, numa só harmonia, e ela calma e serena...

Agora que desci e estou aqui, tão perto da cruz, já não é mais a mesma coisa, depois de morto não consigo tocar, não consigo sentir, não consigo usufruir dos bons ares e nem dos preciosos sentimentos...

Para mim, tudo mudou e nada está mudado... Vejo tudo como era antes, mas ainda vejo algo mais: novos prédios, um casarão verde ao chão — nossa, eu gostava tanto de me sentar nos degraus dessa casa centenária para apreciar o movimento da cidade — que

Miguel: o visitanteAfonso Ribeiro Araújo – 1º ano EM

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quase sempre não tinha! Algumas fábricas... opa! será que o mar-melo está de volta?! Acho que não, mas quem sabe, né?... Mas a “minha cruz” continua a mesma de sempre, simples, caindo aos pedaços, mas é tão valiosa...

Algumas coisas não mudaram... ouça... é no alto falante da igreja ♪♫♪♫♫♪ Estou pensando em Deus, estou pensando no amor... ♪♫♪♫♫♪, nota de falecimento: comunicamos o faleci-mento de…

— Quem morreu?— Nossa! É lá do bairro...— Era casado? Era rico? Morava mais pra cá ou mais pra lá?

Tinha Filhos?— Calma compadre... Coitado! Trabalhou tanto e vai deixar

seu patrimônio para outro.— Que outro?— Uai, viúvo é quem morre...— “Tadinho”, morreu igual um passarinho...— De pedrada?(...)Que estranho, agora há pouco eu ouvi um estrondo:

“BROOOWWW!!!!”, acho que vai chover... Isso me lembrou o dia da minha passagem. Não era um dia qualquer, era um dia chuvoso, eu estava voltando com minha família para Delfi m, eram umas 23h... Uma lágrima esquenta meu rosto, e a triste-za toma conta do meu ser — algo inédito — e a partida... Saiu até no jornal A Voz da Montanha: “(...) às 23h46min, a cida-de já estava a descansar, cada um em sua humilde residência... Um acidente: um ônibus ao ultrapassar uma carreta, bate num carro de passeio que capota e cai barranco abaixo. Alguns feri-dos, outros ilesos, mas apenas um morto...” Tentei ser forte até o fi m, mas perdi muito sangue... Até que fecharam meus olhos...Uma mão suave acomoda-se em meu ombro, e uma voz calma, e com leve tom de seriedade fala comigo:

— Miguel, estás de volta a este lugar?

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— Arcanjo, a saudade falou mais alto...— Tudo bem, mas não podes fi car tão longe do Paraíso...

Agora vamos, pois sabes o que acontece se o “Poderoso” te des-cobres, né?

— Sei sim, já estava de partida mesmo...Sem Arcanjo perceber, eu sequei minhas lágrimas, e com ele

voltei para o Jardim Celestial...Ó pobre leitor, um dia eu voltarei para lhe falar como é o

Paraíso ou, quem sabe, para acompanhá-lo na travessia...

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Adentrei a mata da Cruz das Almas. E o medo gritava em mim, mas prossegui minha caminhada maravilhada com

a exuberância das árvores e animais. Não dá para imaginar que esse santuário da Mata Atlântica na Serra da Mantiqueira, já foi, na década de 1930, o local escolhido para abrigar os corpos da-queles que morreram na batalha de São Paulo e Minas Gerais. É, essa batalha foi bem pertinho daqui, na Barreira, a poucos quilô-metros do centro da cidade.

Cheguei ao ponto mais esperado, avistei a Cachoeira do Ita-gyba, e que espetáculo a natureza reservou ao projetar uma visão magnífi ca como essa! Quantas quedas... Realmente a Serra da Mantiqueira chora! Tudo isso me fez refl etir sobre o que estava fazendo para preservar essas belezas...

Fico imaginando como seria Delfi m Moreira antigamente... Os avós nos contam coisas tão boas do passado! Havia as fábricas e o trem e as densas fl orestas e as plantações de marmelo... Ahh! O marmelo, fruto abençoado que fez nossa economia crescer, atraiu turistas e tornou nossa cidade a maior produtora de mar-melo do mundo. Pena que não soubemos preservar os vestígios dessa época que deixaram saudades... Vejam que até as matas estão sendo dizimadas! Os delfi nenses ainda não aprenderam a resguardar seu patrimônio, que vai se acabando, assim como os casarões e as fábricas que foram escoando pelo trilho do trem e desapareceram, deixando apenas um rastro de memórias.

SaudadeTainara Aparecida Nunes – 1º ano EM

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Ouvi um barulho na mata que me deixou apreensiva. Quem estaria ali num local quase deserto? Lembrei-me que havia con-vidado minhas amigas para um piquenique. Ouçam só o que elas diziam:

— Afi nal, quem foi o primeiro morador desta cidade?— Bem, já ouvi dizer que há divergência a respeito de qual

sertanista teria chegado aqui primeiro. Até porque no início do século XVIII, tanto Borba Gato quanto Miguel Garcia Velho des-bravaram essa região do Sul de Minas, em busca do ouro... e am-bos se estabeleceram por aqui.

— Que pena que não temos registro algum dessa época. Te-mos o péssimo hábito de não saber conservar o que pode ser im-portante para a história da cidade...

— É, realmente parece que o delfi nense ainda não valoriza os aspectos culturais...

Quando elas chegaram comentamos um pouco mais sobre Delfi m Moreira e saboreamos uma deliciosa marmelada caseira que minha avó havia feito — uma raridade.

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— Olá, mãe.— Oi, fi lha, como foi a aula?— Foi muito boa mãe. A professora estava falando do poten-

cial turístico de Delfi m Moreira... acredita que eu nunca pensei que a cidade tivesse condições para desenvolver o turismo?

— Ah, tem sim, fi lha. Delfi m Moreira, apesar de aparentar um município pequeno, possui uma área muito grande coberta por fl orestas virgens da Mata Atlântica, e por isso reserva lugares belíssimos para se conhecer: são diversas cachoeiras, picos, fa-zendas, bosques e, claro, muita história. Uhmm... falando de his-tória, não podemos esquecer do Marmelo... Delfi m já foi a maior produtora de marmelo do mundo, e isso é motivo de orgulho para nós.

— Do mundo, mãe?— Sim, fi lha, era uma época de muita riqueza, pena que teve

um fi m... mas agora a economia da cidade está tomando outros rumos.

— Como assim, mãe?— Bom fi lha, como você mesmo chegou dizendo, Delfi m

Moreira está apostando no turismo, já que não temos mais as fábricas de doce. O nosso município é lindo, sim, temos vários parques para visitação como Cruz das Almas, Mirante Cruzeiro do São Bernardo, Pedra Malhada, mas o que falta ainda é investi-mento na infraestrutura.

Encanto da MantiqueiraCláudia Sabrina Fortes – 1º ano EM

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— Mãe, você conhece esses lugares?— Conheço o Casarão da Barra, sede da fazenda mais antiga

do município, construída por escravos, em estilo Português. Na frente da casa existe um porão bem alto, com três portas voltadas para uma plataforma de pedras com escadas, possivelmente para o embarque e desembarque de mercadorias (pertence à família Ribeiro). Também já estive na Fazenda Boa Esperança que se lo-caliza na divisa do vale do Paraíba, inserida na área de proteção ambiental da Serra da Mantiqueira, seu grande patrimônio natu-ral é a água. Sabe, na época do frio, as baixas temperaturas tomam conta do cenário, as geadas chegam a deixar as montanhas bran-cas como neve. Alguns moradores da região detectam nos termô-metros que é uma das cidades mais frias do estado... não é à toa que nossa cidade é conhecida como “Encanto da Mantiqueira”.

— Nossa, mãe que legal! Eu não imaginava que Delfi m Mo-reira tinha toda essa riqueza. Vou comentar com a professora so-bre a possibilidade de divulgarmos, através de cartazes e panfl e-tos, os pontos turísticos de Delfi m Moreira. De repente, podemos até criar um site de divulgação...

— Então fi lha, não deixe toda esta beleza natural e valor his-tórico de Delfi m Moreira passarem despercebidos, pois esta cida-de abençoada por Deus precisa de incentivo para se desenvolver cada dia mais.

— Valeu mãe, vou dar um “rolê” e já volto para jantar.— Não demore, fi lha. Estou preparando canjiquinha, feijão,

torresmo, quibebe e couve. Também fi z o doce de gila que você adora.

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— Bom dia, meus alunos! Que tal, hoje em nossa aula, vol-tarmos no tempo para conhecermos melhor a história de Delfi m Moreira?

— Professora, gostaria de saber por que Delfi m é conhecida como cidade do marmelo. Eu nunca comi marmelo, nem doce, nem sopa, nem nada!

— É, Júlio, essas e outras histórias estão no fundo do baú. Há quase cem anos, uma mudinha frágil de marmelo chegou aqui e, em algumas décadas, desabrochou mais de 600.000 pés. Logo, Delfi m Moreira estava enfeitada de um amarelo tão vivo que che-gava ao tom de dourado e brilhava por todo o vale. O marmelo foi o nosso pomo de ouro, que quando capturado pela 1º vez, abriu portas para uma “nova era” de muita prosperidade.

  A fruta que estimulou o desenvolvimento da cidade era transportada pelos burros de carga até as fábricas, onde um novo e delicioso processo se iniciava, a fabricação da marmelada. Os fi nais de tarde eram sempre de muita agitação, principalmente com a circulação dos turistas que vinham à procura de uma sen-sação única: o doce aroma do marmelo que exalavam as fábricas, ao fi m de mais um dia de trabalho.

— Professora Mariana, mas quem foi a brilhante pessoa que trouxe a mudinha do marmelo?? E onde é que o trem entra na história??

Aula de HistóriaMariana Oliveira Sapucci – 1º ano EM

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— Então Gabi, foi graças ao Barão de Bocaina que a mu-dinha chegou aqui. A produção da polpa de marmelo foi tão grande que estimulou a construção da ferrovia e a chegada da maria-fumaça. Quando o trem passava no corte, fumegando e fazendo QUICK QUICK, o anúncio de sua chegada fazia com que rapidamente pessoas de todas as idades se juntassem, em especial os jovens, para vê-lo na estação, quando parava para descarregar lenha ou outra mercadoria qualquer e logo ia embo-ra... E, assim, tudo isso se repetia dia após dia.

Aos poucos, tudo foi se acabando e o marmelo já não era mais tão importante... A maria-fumaça foi descartada, com a abertura das estradas... Tempinho esse, que fi cou marcado na história e na lembrança de quem viveu e conheceu essa época de ouro.

— Mas professora, o que nós como delfi nenses podemos fa-zer para que essa história não se perca no tempo??

— A primeira coisa que devemos fazer é sentir orgulho de sermos delfi nenses, por termos o privilégio de morar em um lu-gar encantador e, principalmente, por fazermos parte da cons-trução do seu presente e futuro.

Galerinha, e para encerrar a nossa aula de hoje, nunca se es-queçam que “o marmelo foi o combustível para nossa cidade”. Espero que, agora que vocês já tenham essa visão da nossa histó-ria, não deixem de compartilhar com as futuras gerações. Afi nal, isso é questão de identidade cultural. Lembrem-se de que não podemos voltar ao passado, mas que tudo se eterniza em nos-sas lembranças. Até a próxima aula!

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Neste vasto território mineiro de montanhas vivas e multico-res, há as montanhas-fortaleza que protegem nossa cidade,

aconchegante abrigo para os que aqui nasceram e os que chegam encantados com as belezas das terras alterosas. São tantas nas-centes e cachoeiras de águas cristalinas... Singelas e graciosas. As montanhas serenas e inquietas observam tudo, sabem de tudo, sentem o que nem podemos imaginar... Guardam os maiores e mais antigos segredos.

As montanhas guardiãs são as únicas testemunhas dos tre-zentos anos da história da nossa gente, da chegada dos portu-gueses e da imagem de Nossa Senhora da Soledade; do pequeno povoado formado às margens do rio Taboão; da cachoeira do Itagyba; da capela de devoção. Um padre morto, uma imagem desaparecida. E as montanhas ali, quietas: Uma igreja, outra igre-ja e a migração das abelhas...

E o Padre Lourenço querendo levar a santa para o vale do Sapucaí! Só as montanhas fi caram para contar como foi a mo-vimentação das facas, dos chicotes, das foices e das garruchas. E também a Ponte do Encontro...

E os olhos das montanhas não dormiam, acompanhavam tudo isso silenciosos. E só elas, as montanhas guardiãs, sabem de cada capítulo dessa saga.

As montanhas guardiãs Ângela Maria Nunes Assis – 1º ano EM

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Não há nada melhor do que subir em suas encostas e ouvir o seu silêncio que nos acomoda e nos acalma. Seja sob o sol dourado ou sob as estrelas. Como é bom sentir a magia de tantos mistérios.

Só elas e mais ninguém sabem de todos os amores, labutas e saudades que foram levados pela maria-fumaça. Só elas, as mon-tanhas guardiãs, sentiram o cansaço e o suor dos operários das fábricas e compadeceram deles.

As montanhas, guardiãs dos delfi nenses, que impedem os furacões e tornados, que fazem sombra na medida certa e hospe-dam as mais lindas árvores e nascentes...

Mas elas também choram cachoeiras que correm para feste-jar a fertilidade do solo e fazem afl orar, de suas entranhas, precio-sidades que alimentam os sonhos desta gente.

Águas cristalinas que descem de mansinho... Águas geladi-nhas que aliviam o cansaço. E com esse suave silêncio podemos deixar que as montanhas guardem nosso sono, assim como nos-sos humildes segredos.

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Na tarde de domingo, resolvi ir à casa de meu avô perguntar como era Delfi m Moreira nos tempos de outrora, afi nal pre-

cisava de matéria para meu trabalho de escola. Não tinha como escrever uma crônica sem ter conhecimento dos fatos do passado.

Encontrei meu avô sentado na velha poltrona:— A benção, Vô! Hoje vim bater um papo sobre aquela épo-

ca que o senhor sempre lembra, quando plantava marmeleiros aqui em sua propriedade. O senhor não se importa de me contar novamente?

— Claro, aqueles tempos nunca saem da minha memória... Sabe, naquele pedaço de montanha ali, tinha centenas de mar-meleiros, e eu, seus tios, inclusive sua mãe, trabalhamos mui-to na manutenção e na colheita do marmelo para vendermos à Colombo.

— Vô, essa plantação dava lucro?— Confesso que no início dava lucro sim, mas a manutenção

do marmelal foi fi cando muito cara e, além do mais, uma praga atingiu os marmeleiros aqui da região. E o pior é que o remé-dio que matava essa praga, além de caro, só se comprava em São Paulo. Para você ter ideia, seu bisavô tinha que vender muitos e muitos quilos de marmelo para comprar um “galão” de 20 litros desse produto... Aí, quem não desanima!

— Puxa! Nunca pensei nisso, sempre acreditei que a causa do declínio tivesse sido o clima, que esquentou muito aqui em Delfi m Moreira...

A entrevistaJosé Guilherme de Souza Valim – 1° ano EM

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— Seu Bisavô era o maior fazendeiro da região e depois des-sa crise do marmelo, ele começou a criar gado holandês e vender leite, porque o clima era favorável e o leite estava com bom preço.

— Ahh, mas não foi só ele que optou pelo gado de leite, né?— Não, muitos proprietários de terra investiram na pecuária

leiteira, que hoje também não está grande coisa...— E quanto às fábricas, só restaram as ruínas... Puxa, vô,

o senhor não sabe o quanto essa conversa foi importante para mim. Agora já sei como começar o meu texto.

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Dizem que a felicidade está onde o nosso coração e a nossa alma se encontram. Bem, a minha se encontra em Delfi m

Moreira e posso dizer que vivo em um paraíso desconhecido, imerso sob os templos dos ipês e araucárias; escondido pelas cortinas e véus cristalinos das cachoeiras selvagens sedentas por apreciação e júbilo.

O fato é que enquanto pesquisava sobre minha cidade, tive de recorrer ao seu ilustre passado e não entendo como as coisas mudaram tão rapidamente ao longo do tempo. De um singelo arraial no sul de Minas descoberto por um bandeirante a procu-ra de ouro, Delfi m Moreira se tornou a grande preciosidade e a maior produtora mundial de marmelo. Uma joia que vivenciou confl itos internos por causa da padroeira Nossa Senhora da So-ledade e se fez cenário da tal Revolução decorrida da “Política do Café com Leite”. Um lugar que foi movimentado pelos trilhos da maria-fumaça que trouxe alegria em seus vagões, espalhou felicidade e semeou paixão nos corações joviais que, na onda dos vaivéns e dos tradicionais bailes com a Lira Delfi nense, guarda-ram essas lembranças que, hoje, já estão escassas em suas almas congeladas pelas geadas, assim como a cidade.

E o marmelo se acabou, a maria-fumaça se foi e Delfi m Mo-reira foi esquecida. Poucos se importam em unir forças para ul-trapassar a gruta da escuridão e do silêncio quase sepulcral. O passado histórico de Delfi m Moreira ainda lateja clamando por

DeclínioCamila Ribeiro Sapucci – 1º ano EM

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oportunidades de desenvolvimento. Atividades turísticas? Talvez. Só espero que Delfi m Moreira possa reinar novamente e, assim, exibir ao mundo todo o seu triunfo e beleza e, até quem sabe um dia, possa voltar a ser o que era antes. Mas isso depende da mo-tivação de cada um de nós em reavivar e fortalecer nossas raízes para que nossa cidade se desenvolva como uma árvore frondosa.

Para Delfi m Moreira, a única esperança é que o delfi nense se comprometa em cultivar o progresso que resista aos venda-vais. Caso contrário, em nosso amanhã tudo nos será tomado e nada nos restará além de meras lembranças. Mas se a nossa força de vontade for maior e mais forte que o próprio destino, Delfi m Moreira ainda viverá o resplandecer de uma era de luz e de pros-peridade.

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— Delfi m Moreira?— Sim!— Onde fi ca?— Entre as montanhas... As mais belas e esplendorosas do

sul de Minas Gerais. O Portal da Mantiqueira cujas cachoeiras encantam os olhos. Não há nada mais bonito de ser ver: a varie-dade de fl ores e árvores, o contraste das cores, a agitação da fauna silvestre...

— Ah sei, mas nunca tinha ouvido falar dessa cidade...— Não sabe o que está perdendo; ela é tudo de bom, além de

ser uma cidade histórica e muito aconchegante.— Histórica? — pergunta o Curioso, um tanto desconfi ado.— Sim, é histórica! É tão antiga quanto Mariana — responde

o Orgulhoso com tom de arrogância, até franzindo as sobrance-lhas — Delfi m já foi aconchego para os desbravadores e também já foi palco da revolução de 32 e fonte de inspiração para muitos livros de memórias.

— Mas as cidades históricas de Minas não são Ouro Preto, Sabará, Mariana, Diamantina e Tiradentes!?

Contradizendo as palavras do Curioso, o Orgulhoso retruca meio irritado:

— Sim, essas são as cidades mais conhecidas, mas Delfi m também não deixa de ser histórica com seus grandes casarões de séculos que já serviram de hospedaria para a Princesa Isabel, ten-

0 Curioso e o 0rgulhosoRicardo Henrique Batista – 1º ano EM

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do também um povo que, com grande honra, recita a cidade em grandes ou pequenos versos como se fosse um pedacinho de céu.

— Então a cidade deve ter um rico patrimônio histórico?— Bem, você ainda vai encontrar alguns casarões antigos e a

estação ferroviária que, inclusive, foram tombados. Você já ouviu falar que Delfi m Moreira foi a maior produtora de marmelo do mundo?

— Não.— Pois é, a cidade chegou a produzir 12 milhões de quilos de

marmelo por ano. E isso trouxe grande desenvolvimento para a cidade, principalmente entre os anos 1940 a 1960.

— E o marmelo acabou?— Sim e não. Porque atualmente há alguns produtores inves-

tindo nos marmeleiros...— Nossa, que interessante! Quer dizer que indo visitar sua

cidade a gente pode resgatar um pouco da história do Brasil colo-nial e imperial como também das fábricas de doce do século XX?

— Claro que pode, ainda mais quando você se pegar numa boa prosa com alguém, aí tudo fi ca mais encantador. O delfi nen-se adora contar essas histórias. Vive de lembranças. Guardam histórias das mais comoventes, engraçadas e nostálgicas, princi-palmente da época do trem que por aqui passava...

— Que legal, mas o trem não existe mais?— Não. Assim que foram abertas as rodovias, facilitando o

tráfego dos caminhões, a ferrovia foi desativada. Soube também que uma enchente teria levado parte dos trilhos e o governo não investiu na restauração. Mas, hoje, a estação está toda conserva-da, virou um Museu de Memórias.

— Bem, se o marmelo acabou e as fábricas estão desativadas, hoje Delfi m Moreira vive de quê?

— Atualmente, nossa cidade tem investido nas atividades turísticas.

— Interessante, mas ela tem infraestrutura para atender es-ses novos empreendimentos de turismo?

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— Claro que sim. Já tem propriedades privadas investindo nessas atividades e gerando emprego para a população. Além do mais, o poder público não fala de outra coisa...

— Nossa, então as coisas por lá tendem a caminhar bem. Se continuar assim, o futuro de Delfi m Moreira promete, hein!?

— Sim, também tenho certeza disso, nossos jovens não deixarão a cidade morrer! Você sabe que Delfi m Moreira ainda mantém a tradição das quermesses? O ano inteiro tem festa em quase todos os bairros rurais. Cada capela tem seu santo padro-eiro o qual é homenageado com muita oração, baile-forró, pastel de milho, cartuchos de doces e leitoa assada. É tudo de bom! Ah, mas a melhor de todas é a Exposição Agropecuária que, no mês de julho, atrai muitos turistas para prestigiar shows de primeira qualidade. É só cantor e dupla de sucesso.

— Ah, então vocês delfi nenses são felizes, afi nal, são bem animados pra festas hein?

— Sim.Ao fi m da conversa, o Orgulho apoia as duas mãos em sua

bengala de madeira lavrada, ajeita sua boina, e abaixa um pouco os óculos olhando para o curioso, e dá a ele um conselho:

— Meu fi lho, agora é com você, vá conhecer as belezas de Delfi m Moreira e se encantar com o simples e rico município mineiro. É lá que encontrei minha maior riqueza, minha esposa, com quem já estou casado há 52 anos.

— Quero conhecer sim, pelo que o senhor falou é um lugar encantador realmente. Agora, vou me despedindo porque já es-tou chegando ao meu destino. A viagem passou rapidamente, e eu aprendi um pouco sobre sua majestosa Delfi m Moreira.

E quando sai do ônibus, o jovem curioso, decide ligar para um amigo a fi m de convidá-lo a visitar Delfi m Moreira, no próximo feriado, mas percebe que seu celular estava sem bateria, pois tinha esquecido o fone de ouvido ligado, enquanto se deleitava com as histórias do velho delfi nense orgulhoso, durante toda a viagem.

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Artigos de opinião

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O delfi nense só reclama que Delfi m Moreira não vai para fren-te. Mas o que ele tem feito para a melhoria da cidade? Quase

ninguém se manifesta... Todos criticam, mas se acomodam espe-rando que outros façam alguma coisa.

Na verdade, o delfi nense ainda não desenvolveu autoestima empreendedora para aumentar o desempenho do comércio e da indústria. E, Convenhamos que, hoje há maior possibilidade da cidade se desenvolver, porque as pessoas, principalmente os jo-vens, têm buscado capacitação profi ssional. Até as escolas já tem investido em projetos acerca do empreendedorismo. Isso é muito bom! É uma semente plantada, e espero que dê bons frutos no futuro. Quem não quer!?

É preciso ajudar a cidade prosperar a partir do que temos, que não é pouca coisa não, podemos contar com a tecnologia, acesso à informação e ação social. E olha que, no passado, Delfi m Moreira não tinha todos esses recursos e teve grandes oportu-nidades de desenvolvimento com a movimentação das fábricas Mantiqueira, Fruticultores, Peixe, Frutiminas, Colombo e Cica, e tudo se acabou. Impressionante!!Nem dá para acreditar.

Claro que houve outras tentativas. Muita gente não deve se lembrar, mas o prédio da Cica foi utilizado pela Gessy Lever, em-presa de produtos de higiene pessoal. Teve também indústria de baralho Zap e uma fábrica de bolsa. Esta já é mais recente.

Por que estas indústrias não permaneceram? Será falta de conhecimento ou de pessoas qualifi cadas? Ou de matéria-prima?

Empreender é precisoRosineide Aparecida Fortes Xavier – EJA 3º p EM

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Não. Não pode ser! Os delfi nenses estão mais preparados sim e, quanto à matéria-prima, o Brasil anda exportando de tudo para a China. Não é tão difícil. Creio que o verdadeiro motivo desse declínio seja falta de vontade e de apoio político.

E claro, um pouquinho de motivação, amor à cidade e espe-rança!

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Nas palavras do historiador Jacques Le Goff , “a memória nas-ce onde cresce a história que, por sua vez, a alimenta, pro-

cura salvar o passado para servir o presente e o futuro”. Nada mais que a verdade, preservar a identidade cultural de uma cida-de é uma forma de renovar o passado e entender a continuidade histórica. Podem acreditar!

É, Delfi m Moreira, não consigo compreender o descuido da população quanto a nossa identidade... Olhando para as ruínas que restaram de suas fábricas, me vem à mente a imagem da mo-vimentação da cidade, das tropas e dos operários, dos apitos das fábricas e do barulho da maria-fumaça, que agitava e alegrava a vida! E como tudo isso pode ter acabado? Até nosso trem foi parar sabe Deus onde, e ninguém viu!?

Que pena! É triste saber que as tão produtivas fábricas, res-ponsáveis pelo intenso desenvolvimento da cidade foram desati-vadas... Isso realmente não me agrada! E também os casarões an-tigos do município... Não seriam patrimônios histórico-culturais da cidade? Felizmente que ainda restaram dois deles.

Se querem entender o porquê da importância de preservar as construções antigas, basta tomar como exemplo o vultoso patri-mônio da cidade de Ouro Preto, conservado por três séculos. É aí que se encontra uma história viva, um passado-presente. É assim que se garante a identidade cultural de um povo. De que adianta termos um passado histórico se as próximas gerações não toma-rem conhecimento disso, não é mesmo?

0 desper tar da cidadeLilian Aparecida Ribeiro – 2º ano EM

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Mas o delfi nense já começou a perceber a profunda necessi-dade de resgatar nossa identidade, através de um museu de me-mórias, construído na antiga estação. E por que ele ainda con-tinua fechado para visitação, já que foi inaugurado há meses? Poucos devem conhecer essa resposta...

Olhos curiosos se voltam para lá. Só espero que esse museu tenha registros dos acontecimentos que marcaram nossa história desde o século XVIII, porque afi nal nossa cidade tem 300 anos e só se fala em fatos do século XX. Não é possível dois séculos pas-sarem em branco! E os acontecimentos do séc. XVIII e XIX, os primeiros relatos sobre os desbravadores, Miguel Garcia Velho, por exemplo, passarão despercebidos?

Nossa gente precisa tomar conhecimento sobre esses primei-ros capítulos da história delfi nense. Afi nal, fazemos parte dela, e precisamos continuar a escrevê-la.

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Delfi m Moreira, uma cidade que teve um começo brilhan-te, infelizmente fi cou só com o começo. Graças à iniciati-

va privada, viveu seus tempos áureos, nas décadas de 40 a 60, quando a cultura do marmelo se expandiu atraindo as fábricas de doce para cá. Nossa cidade era movimentada e próspera, muito dinheiro circulava na economia local, tempos de fartura e de-senvolvimento. Mas doenças assolaram nossos marmelais e tudo acabou em carvão; já que foram arrancados e queimados para dar lugar a outra cultura.

E a responsabilidade por essa derrocada é atribuída aos nos-sos governantes municipais que colheram os frutos, os impos-tos, e não incentivaram pesquisas e estudos na tentativa de salvar nossos marmelais. Acreditem, era possível salvá-los... nossos go-vernantes também não planejaram que rumo nossa cidade segui-ria sem os lucros do marmelo.

É, meu amigo, não desanime! A bataticultura invadiu terras onde o marmelo reinava e, mais uma vez, graças à iniciativa pri-vada, a cidade sentiu um assopro de prosperidade. Entretanto, sem incentivo e apoio da administração pública e com o fator preponderante: a criação da APA – Área de Preservação Am-biental — que visa preservar a nossa riqueza natural, a bataticul-tura sofreu um vertiginoso declínio; está na iminência de receber a última pá de cal.

Alguém aceita o cargo?Edson José de Souza – 3ºp EJA/ EM

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Tenho a impressão que a cada quatro anos não temos can-didatos a vereador e prefeito, mas sim candidatos aos salários. A maioria dos vereadores são da zona rural, e nenhum projeto bus-cando melhorias para a agricultura é implementado. Uma cidade que, praticamente não tem indústrias e ainda tenta sobreviver da agropecuária, encontra-se em estado de abandono... e olha que entra e sai prefeito e nada é feito para trazer melhorias para a população como um todo.

Quando nossos políticos vão pulverizar a cidade com ideias empreendedoras e deixar de se vangloriar com serviços de habi-tação, saneamento e pavimentação? Afi nal, isso é obrigação do governo e os funcionários públicos são pagos para administrar essas ações, não é!? Há até projetos do governo federal como o “Luz para todos” que foram ofertados em plano de governo de candidato e já tem outros que se dizem autores do projeto “Creche”, isso é incrível!

É, amigo, às vezes eu mesmo me pergunto: por que não gri-to, esbravejo ou faço um protesto contra nossos políticos e suas atitudes? Já lhe respondo, tanto eu como você podemos ser com-parados a um pessegueiro, que é invadido por erva de passarinho e fi ca esperando que os outros resolvam o problema; até quan-do nós delfi nenses vamos assistir a tudo isso tão passivamente? Como podemos aceitar que indivíduos se candidatem só para completar o quadro dos partidos? Temo que, se eleitos, não terão a menor ideia do que fazer e não acrescentarão nada no cenário político, serão apenas mais um. E os problemas da cidade vão sendo maquiados...

Investir na educação poderia ser a solução, para no futuro termos eleitores e políticos melhores... mas que político vai que-rer instruir seus eleitores? É melhor deixá-los na total ignorância e continuar com essa política de escambo “toma lá, da cá”.

Nossa! Como Delfi m Moreira é carente de pessoas com es-pírito empreendedor, que desejam uma cidade ativa e próspera; pessoas que vejam na vida pública uma forma de trazer progres-

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so para cidade, e gerar uma integração do administrativo com a comunidade urbana e rural.

Talvez eu esteja sendo um pouco injusto... O secretário de Meio Ambiente e Agricultura, já implantou um projeto de agri-cultura orgânica no município, que não teve uma boa aceitação e interesse dos produtores rurais; e como produtor rural, eu nem sabia desse projeto. Houve divulgação!? Talvez. A iniciativa é ex-celente, mas não seria melhor incentivar e melhorar o que já se tem? Conhecer a necessidade de cada produtor e trazer melho-rias e juntos planejar como implantar um novo conceito de agri-cultura no município? Para o produtor rural, as novidades vêm atreladas à insegurança, pois não sabe os resultados que podem ser obtidos na prática. Novas ideias têm que ser implantadas em consórcio com conceitos já utilizados e, assim, paulatinamente, o produtor vai assimilando-as.

Devemos trabalhar juntos, pois se tivemos um passado bri-lhante, no presente o adjetivo é de nossa responsabilidade.

Quer um futuro promissor? Não pense, faça...

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Ainda ontem, estive pensando que o dia 7 de setembro não é simplesmente um feriado para descansar, mas um dia em

que devemos ir às ruas, se não para celebrar, pelo menos para uma manifestação qualquer. Afi nal, o Dia da Independência do Brasil instiga muitos questionamentos, opiniões, protestos, rei-vindicações...

Em muitas cidades do Brasil ainda se mantém a tradição de celebrar o dia da Independência com desfi les, com muito verde e amarelo, e isso ainda me causa uma sensação de civismo, de devo-ção à pátria. Certamente porque, quando criança, todos nós alu-nos de todas as escolas do município participávamos de um gran-de desfi le acompanhado do som de fanfarras, com discurso das autoridades. Para mim, isso foi uma experiência valiosa, sentir desde pequena que podia fazer parte das comemorações da pátria. E a ansiedade e o entusiasmo eram tão grandes... Afi nal, éramos somente alguns brasileirinhos dando os primeiros passos para a cidadania. Essa era uma homenagem bem signifi cativa, não?

E o mais interessante é que cada escola apresentava um tema que fora trabalhado ao longo do semestre, como a História do Brasil Imperial, As Atividades Econômicas de Delfi m Moreira, Meio Ambiente, Incentivo à Leitura e tantos outros assuntos que realmente faziam a comunidade delfi nense pensar. Esse é o papel da Escola, não é?

Mas o que tivemos hoje foi uma simples caminhada, sem as-sunto, sem organização e sem propósito. Não quero que pense

Sete de setembroreduzido a quase nada!

Márcia Aparecida de Freitas Carvalho – EJA 3° p EM

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que esperava uma marcha, não é para tanto, mas se o tema era saúde ou esporte, nem consegui identifi car... E o que exatamente as escolas trabalharam sobre o tema? O que tiveram para com-partilhar com a população delfi nense? Ninguém percebeu.

E depois de tudo que vi, uma pergunta ecoa nos meus pen-samentos: “O que foi que aconteceu?” Por que ao invés de evo-luirmos nós paramos no tempo? Ou melhor, regredimos? Espero que nos próximos anos essas perguntas deixem de existir, não só para mim, mas também para aqueles que não se conformam com essa situação de marasmo. É isso mesmo! Um grande número de pessoas, e não apenas eu, estamos indignadas. Não quero acre-ditar que os delfi nenses queiram viver uma data tão importante como se fosse um dia comum, com tanta preguiça e comodismo, justamente neste tempo atual em que a cidade tem muito mais re-cursos tecnológicos e mais facilidades! Por que não usamos tudo isso a nosso favor? A verdade é que quanto mais fáceis se tornam as coisas, mais acomodados, estagnados e desunidos fi camos.

Desunidos sim. Pude perceber que os professores de cada escola fi cavam conversando só em grupinhos fechados... Isso é um péssimo exemplo para os alunos que também difi cilmente se misturam. Nossos adolescentes e jovens já estão se comportando de maneira tão individualista, e essa situação ainda pode se agra-var no futuro. E o pior é que a participação desse grupo, princi-palmente, a dos alunos da Escola Marquês, foi muito pequena... Está faltando motivação?

Não é hora de, pelo menos, termos vontade de reverter essa situação?

Penso que esta seja a oportunidade para que a Secretaria de Educação “possa repensar seus conceitos” e promover a integra-ção das escolas, dos professores e dos alunos de todo o município para que eles trabalhem juntos pelo bem da comunidade, em vez de estabelecer um clima de competitividade e de segregação. Afi -nal, os fi lhos de Delfi m Moreira precisam de bons exemplos.

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Ao unir forças, as escolas poderão estender suas práticas educativas para além dos muros escolares, não apenas no dia 7 de setembro, mas em todos os dias do ano.

Uma comunidade próspera e com autoestima se faz com pequenas e importantes ações como participação, comprometi-mento e união de todos!

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A questão do desmatamento no alto da Serra da Mantiqueira é uma problemática, que ao longo dos anos, já se tornou

rotina. Por que afi rmamos isso? Desde que nos conhecemos por gente estamos ouvindo falar de proteção ambiental, mas a devas-tação de nossas fl orestas naturais é algo assustador!

Muitos de nossos antepassados já tinham o hábito de ver as matas nativas como uma alternativa de sobrevivência e de certa forma as tornaram produto de utilidade em suas propriedades, assim como fonte de renda. Acreditamos que, se não fosse a guar-da-fl orestal, antiga denominação para um grupo de policiais que cuidava dessa questão com patrulhamentos, certamente hoje não teríamos nem a proteção das nascentes, tamanha a devastação.

Delfi m Moreira é coberta por uma área de 408.181 km² e, pelo nosso posicionamento, já podemos perceber enormes es-paços como o couro cabeludo desnudado pelo corte. Ah, as pas-tagens também foram ocupando espaços vazios, assim como as lavouras. Há aqueles que optaram pelo plantio de eucalipto, para extração da madeira, tipo de investimento que precisa de permis-são ou licença.

Entretanto, no Novo Código Florestal que ainda está em trâ-mite no Congresso Nacional, um dos itens abordados é a proi-bição do corte de eucalipto plantado perto dos rios e nascentes, cuja metragem oscila entre 30 e 500m. Que encruzilhada, puxa! Parece que estamos em xeque...

Preservação x DevastaçãoBárbara Amanda Mendes – 2° ano EM

Luciana Maria Cortez – 2 º ano EM

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Tudo bem, temos que nos preocupar e muito com a preser-vação da fauna e da fl ora, como de todo o ecossistema, mas a garantia de sobrevivência dessas pessoas que sempre depende-ram da venda de madeira tem que ser levada em conta, porque é aí que se estabelece uma grande problemática: o aumento de desempregados.

Diante desse impasse Preservação × Devastação, a política federal deveria estar planejando alternativas de geração de renda para essas famílias. E por que não se preocupar com uma política de trabalho para toda a população? Além do mais, preservar as matas é contribuir para a conservação da vida do planeta. Todos nós sabemos que nossos legisladores trabalham em favor de uma minoria que detém o poder econômico, mas tem que haver uma saída para a maioria dos interessados...

Na tentativa de resolver essa questão, a escola é um caminho usado para conscientizar as pessoas usando meios como: pales-tras sobre preservação e educação ambiental, muita conversa em sala de aula e até mesmo cartilhas já foram entregues para os alu-nos, mas só que não demora muito e as pessoas parecem não ter aprendido nada. É só observar as atitudes das pessoas em geral, para perceber que pouco ou nada entendem. E olha que até a igreja já trabalhou com essa temática com o objetivo de preservar e valorizar o meio ambiente, e nada!

Assim, se nem os religiosos, educadores e profi ssionais da área e, principalmente, os legisladores não conseguem apontar um caminho, até o presente momento, frente à questão da pre-servação, exploração e sobrevivência, o discurso acaba se tornan-do vazio. Mas uma coisa é certa: as iniciativas não podem ser tomadas isoladamente. Se o problema é também global tem que ter a participação de todos para além do congresso...

Por fi m, o que não podemos é viver alienados, correndo o risco de nos tornarmos as próximas vítimas do sistema e da des-truição.

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PARTE V

Preciosidades

Reunião de textos diversos colhidos no dia a dia

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O pensamento, as palavras, as ações humanas, assim como as criações artísticas sempre estiveram em constantes mudan-

ças. Com o transcorrer do tempo, o homem passa por modifi -cações notáveis. Nas palavras de José Ingenieros: “Sem ideias, a evolução humana é inexplicável...”

No início do século XVII, período do Barroco — pérola irre-gular — o Brasil encontrava-se cinza (cor dividida entre o branco e o preto) já que a cabeça do homem estava dividida e confusa entre duas mentalidades: homem carnal × homem espiritual.

Já, no fi nal do século XVIII, o amarelo (cor da luz e do ouro) refl etia o Arcadismo, tempo em que a natureza e o equilíbrio emocional e espiritual expressava-se com extrema simplicidade, o homem interessava-se pelas coisas da terra e alimentava so-nhos de liberdade. O Iluminismo pairava no ar elegendo a “ra-zão” como o grande instrumento de refl exão capaz de melhorar e empreender a justiça no país.

E, em tempos rosa, por volta de 1836, o Romantismo abre a era nacional com profundo sentimentalismo e reverência ao Brasil, que independente e plural, desperta o orgulho da nação e a valorização de sua gente. Assim, a segunda metade do século XIX é marcada pelo desenvolvimento, graças ao início da indus-trialização brasileira.

E como o Romantismo nunca abandonou o estado de es-pírito dos poetas, já no fi nal do século XIX, o azul do Realismo

Escolas literárias multicores Lilian Aparecida Ribeiro – 1º ano EM/2011

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surge para gerar confl itos e polêmicas, já que se pautava na ver-dade e na denúncia social. Os artistas e escritores realistas iam diretamente ao foco da questão, revelando toda miséria, pobreza, exploração e corrupção existentes na época.

Contrariamente a eles, os parnasianos, alienados que eram, surgem pintados de branco, representando o preciosismo vocabu-lar e o rebuscamento dos versos, assim como os simbolistas que, no contexto da Guerra de Canudos e da iminência da 1ª Guer-ra Mundial, entram em cena com o vermelho, mostrando toda a sensualidade, loucura, morte, mistério e angústia do momento.

Na virada do século XX, fase do pré-modernismo, tudo pa-recia estar preto, sombrio – guerras, revoltas, greves, preconceito, insatisfação com a república... até que, fi nalmente, o verde abre possibilidades de prosperidade e modernização. E com a chegada do Modernismo, o Brasil afi rma-se colorido. É a valorização da diversidade cultural. É a festa da liberdade do pensamento, do verso-livre e da criatividade.

Por fi m, nesta pós-modernidade, na cauda dos avanços tec-nológicos, o homem torna-se introspectivo, buscando “seu eu” e dedica-se à compreensão da alma. Sentimos o toque do mundo pós-moderno, de presente ou futuro; um mundo no qual é im-possível achar um centro ou qualquer ponto ou perspectiva de onde seja possível olhá-lo fi rmemente e considerá-lo como um todo; um mundo em que tudo que se apresenta é temporário, mutável ou tem caráter de formas locais de conhecimento e ex-periência. Um mundo de estado incolor.

Texto elaborado como proposta de avaliação após um seminário acerca das escolas literárias.

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Delfi m Moreira, 10 de março de 2012.

Querido César Cielo,

Ainda nenhum de nós estava no mundo durante a Grécia Antiga, por volta de 776 a.C. Seria a glória se pudéssemos voltar no tempo para vivenciar momentos da história, desde os primei-ros Jogos Olímpicos, na cidade de Olímpia até as Olimpíadas de Pequim.

Puxa, Já faz quatro anos! E um dos eventos mais aguarda-dos está chegando. Acredito que neste momento, vocês atletas já devem estar se preparando intensamente para obterem bons resultados nas competições.

Também, a cidade de Londres sede deste evento, pela tercei-ra vez na história, certamente apresentará uma estrutura física à altura para vocês atletas apresentarem o que podem fazer de melhor. Tanto para suas satisfações pessoais quanto para contri-buição no quadro de medalhas para o país.

Acredito César, que as mascotes, Wenlock e Mandeville, também devem estar ansiosas pelo início do evento. Adorei sa-ber que Wenlock é a mascote dos Jogos Olímpicos e Mandeville é a mascote dos Jogos Paralímpicos e seus nomes homenageiam cidades inglesas que, no passado, foram palco das primeiras Olimpíadas da Era Moderna. E mais: as mascotes são feitas de duas gotas de aço de uma viga que se encontra no próprio estádio olímpico. Muito original!

Car ta a um At letaCamila Ribeiro Sapucci – 1º ano EM

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Soube que, neste ano, os Jogos Olímpicos serão constituídos por 39 modalidades de 26 esportes, cada qual com as suas regras e sua importância, aumentando assim a possibilidade para outros atletas e oportunidades para o público desfrutar de novas moda-lidades, até então, ausentes nas Olimpíadas. Particularmente, me identifi co muito com a natação e a ginástica, por isso resolvi lhe escrever, César.

Constatei que a natação esteve presente em todas as edições das Olimpíadas. É uma das modalidades que mais concede me-dalhas. Interessante notar que era uma atividade utilizada pelo homem para sua sobrevivência e hoje tão presente nos Jogos Olímpicos, inclusive oferecendo um dos momentos mais boni-tos, principalmente quando mostrada em câmera lenta pelas tec-nologias midiáticas sempre presentes.

Também, constatei que a ginástica olímpica surgiu na anti-guidade. Era uma prática liberada para soldados e para artistas de circo. Entretanto, como muitas outras modalidades das Olim-píadas foi se tornando mais profi ssional e perdeu a essência ama-dora, a essência dos Jogos Olímpicos em sua origem. Contudo, oferecem para o público amante desse esporte momentos muito bonitos externalizados nos movimentos em seu conjunto com-passado e sincronizado.

As competições durante as Olimpíadas, de certa forma, ser-viram e servem a alguns países para vender a imagem de um povo forte social e politicamente, confi rmado pelo número de medalhas conquistadas. Em muitos casos fazem alto investimen-to em seus atletas levando alguns à fadiga e deformação múscu-lo-esquética. Penso que podem investir em seus atletas propor-cionando esses momentos mágicos para o público, mas deveriam investir simultaneamente em políticas de seus países trazendo maior bem-estar aos seus fi lhos.

Seria de fato a ocasião dos Jogos Olímpicos dar o pontapé inicial para as pessoas derrubarem as barreiras do preconceito em relação às diferenças de cor, etnia, classe religião, etc. Após

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séculos de existência, parece que a possibilidade do convívio pacífi co fi ca restrita somente nesses momentos de beleza que os atletas nos proporcionam. Sabe César, vocês atletas, são os res-ponsáveis pela paz mundial. Percebem, assim, a sua importân-cia? Vocês tornam real o sonho de que pessoas possam respeitar umas as outras pelo seu modo de ser.

Querido César Cielo, se as Olimpíadas representadas por vocês pudessem sedimentar na cabeça das pessoas que a magia, presente nos esportes, possa ser transportada para nossas vidas, o mundo certamente seria muito diferente. Pessoas sorrindo, se abraçando, conversando; divergindo no campo das ideias, sen-do companheiras; unidas frente às diferenças e valores que há muito estão ausentes em nossa sociedade. Pois nós é quem deve-mos tomar o livre arbítrio de semear esses valores. Se quisermos um mundo melhor devemos esquecer nosso lado competitivo e posso garantir que cada um de nós passará a ver o mundo com outros olhos e com orgulho.

Por fi m, César Cielo, esteja certo que acompanharei suas ati-vidades e estarei sempre torcendo por você e pela humanidade.

Camila

Texto encaminhado para o 41º Concurso Internacional de Redação de Cartas, promovido pela Empresa de Correios e Telégrafos. (março de 2012)

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Palavras que vão.Palavras que são.Todas elas são um. São nós mesmos.As palavras não existem. Nós que existimos.Desenhos e sons. Palavra escrita e falada.Disso não passam. Mas nesses desenhos...Está todo o infi nito de nós mesmos.Palavras, pessoas, seres.Unos na sabedoria, no Ser. Em nós.Assim a palavra é como se fosse um... um fantoche,Sim um fantoche igualzinho a gente. Que imita tudo do seu

dono.Se o dono está com raiva, o fantoche se veste de vermelho.E seus gestos ardem. Se o dono está amoroso o fantoche é só

amor.As palavras são como se fossem a nossa boca. Afi nal, boca

não fala.As palavras falam. Elas riem, elas choram...Mas isso é por pouco tempo, pois já já ouviremos o silêncio

que fala através das palavras.Pois apesar de mudo ele fala. Não fi sicamente, ou talvez sim,

como uma onda de rádio.São invisíveis aos olhos, mas visíveis a antenas.As palavras só serão alto-falantes deste silêncio sonoro que

é tudo!

PalavrasDavi Gaeta de Oliveira — 2º ano EM

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A vida é aquilo que temos, aquilo que vivemos, aquilo que Deus nos deu. A vida é aquilo que gostamos, aquilo que des-

gostamos, aquilo que somos. Temos vida, vivemos, reclamamos da vida, mas lá no fundo sabemos que o certo é viver.

Viver a vida, ser a vida. A Vida na vida se faz Vida nela mes-ma, em nós, dentro de nós. A Vida, Vida que me deu a vida, Vida que nobremente de seu ventre me concedeu a Vida.

Oh Vida, nobre Vida!

VIDA

A VidaCarlos André Pacini A. da Silva – 9º ano EF

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Acordei. Acordar é simplesmente acordar, essa é a arte, arte tal que tornou-se tão cotidiana, que sumiu em meio ao roti-

neiro. E eu, prosseguindo com a ignorância, acordei sem perce-ber seu verdadeiro signifi cado. Acordei cansado demais para me dar o direito de me sentir feliz.

Mas fi z uma forcinha e me levantei para o cotidiano, para o rotineiro. Escovar os dentes, tomar café, me aprontar, acordar. Acordar para o dia, acordar para a vida, acordar para o cotidiano. Simplesmente assim eu acordo. Nada de útil, nada de inútil, tudo de singelo. Palpitações simples, e tão fáceis de serem sentidas, mas também tão fáceis de serem ignoradas.

Tudo no universo emana energia, captável e artística. Esse é aquele sentimento de paz e fi nalização das intempéries, que nós de vez em quando temos. Vamos acordar para o cotidiano, exer-cício de paz, prática da arte de ser feliz.

SER A VIDA.

Acordar para o cotidianoCarlos André Pacini A. da Silva – 9º ano EF

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Volto da escola com meu material entre os braços, símbolo de meu aprendizado. Esta cena se desenrola todos os dias.

Saio do ônibus e ando apressado pela estrada de terra batida que, nos dias quentes, é inundada pela poeira que, implacável, invade a janela da azarada mulher que mora à beira da estrada, sujando sua casa.

O nome dela é Nilda. Todos os dias, quando passo pela es-trada, sempre a vejo reclamar do calor, da poeira levantada por algum carro que passa e, acima de tudo, do levado fi lho que volta imundo de suas estripulias. Mas aquele dia foi diferente, não por-que vi a pobre Nilda com uma mangueira molhando a estrada à frente de sua casa, mas porque logo depois da ponte de con-creto — uma substituição da velha de madeira — bem onde a es-trada se bifurca, uma cena me destrancou as portas do passado.

Embaixo do grosso e gigantesco eucalipto, encostado na grande árvore, vi um menino que distraidamente brincava com uma mistura de água e terra vermelha. O modo como ele manu-seava seu lamacento brinquedo me deixou hipnotizado. Eu não sabia por quê, mas aquela cena despertou uma sensação que há muito não sentia.

Imediatamente, lembranças esquecidas da minha infância desabrocharam dentro de mim. Agora me recordava com clareza de como misturava a terra e a água e como, do barro vermelho, tirava gigantes, castelos e dragões. E minha mãe lembrava como

Sonho de barroLuiz Augusto Fernando Guimarães – 9º ano EF

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ela assistia minhas histórias sem sentido e de como sempre aca-bávamos em uma guerra de barro.

Depois do banho tomado, não demorava muito e eu me em-brenhava na mata que cercava nossa terra. Lá eu era rei, enfren-tava dragões e monstros fi ctícios com minha dourada espada - apenas um graveto aos olhos de um adulto — não importava qual era o tamanho, eu sempre vencia.

Quando não estava mergulhado em minhas fantasias heroi-cas, assistia com animação meu avô tirar o branco leite da ma-nhã. Eu prestava muita atenção, tentando aprender a tirar o leite, e ele sempre deixava que eu tentasse e, então, com muito empe-nho, repetia os movimentos de meu avô, mas não conseguia mais que um jato fi ninho de leite.

Aqueles eram momentos bons. Mas, há tempo, meu inimigo mortal mudou tudo, virou a página da minha infância. Então, saí de meu transe. Quando olhei novamente, não vi mais o menino nem sua “pocinha” de lama.

Não entendi bem, acho que o menino era a minha própria visão de outrora. Aquele momento mágico foi uma maneira que pulou do meu coração para me fazer lembrar que o passado não morre, mas sim adormece esperando o exato momento para des-pertar como um menino.

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Como é bom recordar da adolescência, uma fase da minha vida em que muito briguei, chorei, sorri... quando parecia

que estava fl utuando nas nuvens, mas quando havia algo que me preocupava, vivia uma tempestade com raios e trovões, se não fosse com direito até a furacões... eu vivia intensamente!

Na primavera, minha estação predileta, meus sentimentos se revelavam, me sentia mais leve, não desperdiçava meu tempo com angústias e mágoas... Meu espírito era de pura alegria, de uma pessoa extrovertida, que olhava a vida diferente: com amor, com vontade de viver.

Quando tinha uma pessoa que me interessava, fi cava me sentindo mais bonita, inteligente; havia um garoto, sabe? Ele era muito bonito, não que isso fosse o mais importante, mas ah, como ele era charmoso, bem alinhado... E como isso não bas-tasse, ainda era um tremendo “pé de valsa”... Romântico, não!?Mas um dia ele foi embora, sem ao menos se despedir. Deixou apenas algumas míseras palavras, num pedaço de papel, di-zendo que voltaria em breve, um beijo insignifi cante e uma as-sinatura... Assim segui minha vida guardando-o na memória.E as festas, como eram boas! Lembro-me que todo ano  eu ia, pois como eu morava em cidade pequena, haviam aquelas festas culturais e religiosas sempre muito agitadas. Minha amiga Luci-cleide era minha fi el companheira nos “agitos”, e mesmo que ela arrumasse alguém nunca me deixava para trás, e lá estávamos nós de novo na próxima festa, sorrindo e vivendo alegremente.

ReminiscênciasMariana Oliveira Sapucci – 1º ano EM

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Enfi m, aqui estou eu com setenta anos de idade, ainda vi-vendo a minha primavera, sempre de bem com tudo e todos, e aproveitando o resto da minha vida ao máximo, na medida do possível.

Como os tempos mudaram! Hoje, os jovens nem sabem se divertir... afundam no submundo do álcool e das drogas e, coi-tados, acreditam que isso seja a felicidade. Onde foi parar toda aquela magia do romantismo que nos fazia viver as fantasias e sonhos mais profundos?

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A “violência urbana” é uma das consequências da revolução industrial. Após esse acontecimento que mudou a vida dos

seres humanos, os grandes centros foram atraindo imigrantes e migrantes para regiões industrializadas, e é esse intenso fl uxo de pessoas que acarreta os problemas de convivência.

Desde o século XIX, as cidades cresceram sem planejamen-to. Os governos só pensavam nos lucros e para que eles não pa-rassem de aumentar, incentivaram o êxodo rural sem considerar que, os novos habitantes iriam necessitar de moradias e escolas para seus fi lhos. Mas com o passar do tempo, esses governos am-biciosos, em vez de educarem os cidadãos para uma sociedade digna — considerando que já vivem problemas de base familiar- acabam incentivando-os a migrarem para o mundo da violência. Fato esse que é mostrado com frequência na mídia, como brigas envolvendo menores nas escolas — muitas das vezes incentiva-das pelos próprios pais.

Além desse problema, as metrópoles estão tendo que convi-ver com uma situação agravante, as drogas. Substâncias ilícitas que atraem esses jovens, que por não terem uma orientação ade-quada entram nessa “onda”, literalmente sem retorno, tendo dois caminhos: a prisão ou pior, a morte. Por isso, é importante que se busque resgatar a tradição daquela família modelo — orientado-ra e presente na vida desses futuros cidadãos.

Portanto, para eliminar ou minimizar a violência nos cen-tros urbanos e combater efi cazmente a questão das drogas, o go-

Violência urbanaNatanael Oliveira Santana – 3º ano EM

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verno deveria buscar investir mais na qualidade do ensino do país, em programas antidrogas e dar mais atenção a ONGs que auxiliam as famílias, em vez de gastar uma fortuna com segu-rança pública que já ultrapassa a casa dos milhões. É preciso cortar o mal pela raiz.

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PARTE VI

Pérola

Conto

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Ele despertava os mais terríveis pesadelos nas crianças. Mo-via-se entre as sombras, fundindo-se a elas com seu capuz

negro. Sempre aparecia em noites de sonhos ruins.Só quem podia ouvi-lo era justamente quem mais o temia.

O menino, de trás da terceira porta do corredor, tremia entre as quentes cobertas da cama. Ele o chamava pesadelo. Em seu caderno há incontáveis fi guras medonhas, teorias do menino de como seria a fi sionomia de seu maior medo. Ao anoitecer, ele não dormia, seu sono era sequestrado pelo medo. Passava noites em claro e, quando fi nalmente dormia, era sempre bombardeado por pesadelos ruins.

Seus pais não acreditavam em suas histórias, muito menos a empregada que o chamava de louco. Então, ele se via perdido em seu mundo de sonhos sem conseguir despertar. Um dia resolveu que iria enfrentar seus medos. Era uma decisão.

Meia noite. Juntou toda a coragem que pôde. Escondeu-se no antigo armário do corredor e lá esperou. Quando estava quase cedendo ao sono, ouviu um barulho. Algo subia as escadas rapi-damente e se aproximava cada vez mais de seu esconderijo. Deu uma rápida olhada pela fi na fenda que abrira na pequena porta do armarinho. Então, ele o viu.

Era baixo, corcunda e seus olhos brilhavam como brasa. Dele saía um cheiro estranho, mais parecido com o de uma meia suja. O cheiro parecia deixar o menino fraco, quase sem forças.

No escuro da noiteLuiz Augusto Fernando Guimarães – 9º ano EF

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De repente, ele parou. Parecia petrifi cado, como se tentasse ou-vir algo com suas orelhas longas e pontudas e sentiu o cheiro do medo que vinha do armário. Então, a criatura virou o rosto rapidamente, encarando o menino que, cara a cara com o medo, parecia impossibilitado de enfrentá-lo.

A criatura tirou de dentro da capa uma mão com dedos lon-gos e frios que, lentamente, introduziu na pequena porta. O me-nino viu os dedos frios se aproximando cada vez mais perto. Ten-tou se distanciar, mas era inútil. O espaço era pequeno demais. O longo dedo indicador tocou-lhe a testa. Primeiro ele sentiu o ponto frio em sua testa. Depois esse ponto se expandiu, passando pelo nariz e espalhando pela cabeça. Desceu por sobre o peito tomando conta de seus braços e suas pernas. O menino fi cou pá-lido, seus olhos fi caram pesados e, então, cedeu ao sono que o invadiu. Seus olhos se fecharam e ali mesmo adormeceu. A cria-tura retirou o dedo da testa do menino e colocou-o novamente dentro da capa. E então continuou seu rápido caminhar até a úl-tima porta do corredor que, durante o dia, permanecia fechada mas, à noite, era porta de passagem para segredos inconfessáveis.

No dia seguinte, o menino permaneceu o dia inteiro no quarto, pois fi cara de castigo por ter passado a noite dentro do armarinho. Não adiantou nada ter contado a verdade, porque aquela verdade da criança soava como mentira para seus pais. Durante todo o tempo, o menino planejava seus próximos mo-vimentos para o anoitecer. Então o dia passou chuvoso e a noite chegou nebulosa.

Naquela noite, o menino se ocupou de todas as maneiras para permanecer acordado, fosse lendo um livro, desenhando, atualizando seu diário ou brincando com seus carrinhos de cole-ção. Então, a meia-noite chegou. Ele permaneceu no seu quarto com a luz apagada e com uma grande lanterna nas mãos, mas não ouviu nada. Mais uma hora se passou e escutavam-se apenas os ruídos da antiga fl oresta atrás de sua casa.

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Cansado da espera, o menino segurou fi rme sua lanterna, abriu a porta e, com passos silenciosos, foi ao encontro da miste-riosa porta que fi nalizava o corredor. Foi então que um vulto es-curo passou por ele e se dirigiu à escada. O menino foi atrás. Des-ceu rapidamente os degraus, dando tempo de ver o vulto abrir a porta e fugir para a noite. Levado pela necessidade de enfrentar seu maior pesadelo, o menino foi atrás.

Seguiu o vulto pela fria grama banhada pela noite de outono. Então o vulto, de repente, fi cou paralisado. O menino pôde ver melhor. Estava carregando um enorme saco. Esta era a única di-ferença que podia constatar da noite anterior.

Depois de alguns instantes de silêncio, o vento começou a soprar violento. Moldadas pelo vento, as folhas caídas se ergue-ram e começaram a acompanhar a criatura que, rapidamente, andava infi ltrando-se na escura fl oresta. Mais folhas apareciam e se misturavam às outras, como um enxame de abelhas seguindo sua rainha.

De repente, o vento cessou, e as folhas caíram lentamente uma após a outra na grama. Ele sumiu para sempre. O menino nun-ca conseguiu descobrir para onde ele foi. Mas com sua partida, também se foram os pesadelos que o atormentavam desde criança.

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PARTE VII

Considerações Finais

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Descrição da experiência

Iniciei a proposta de leitura a partir do conhecimento do histó-rico de nossa cidade, já que a ALMG (Assembleia Legislativa

de Minas Gerais) promovia, nessa ocasião, um Concurso de Re-dação com o tema “Eu, minha cidade e os 300 anos do ciclo do ouro em Minas Gerais”, e os meus alunos receberam bem a ideia. Claro que durante essa primeira experiência não foram todos que se aventuraram nas atividades de leitura e pesquisa. Alguns de-sistiram no meio do processo que implica ler-escrever-refl etir-re-escrever, talvez pela cultura do comodismo, mas uma parte con-siderável de alunos demonstrou entusiasmo e, à medida que abs-traíam informações, iam compartilhando com os demais colegas.

Assim, as redações iam sendo tecidas e aprimoradas — eu sentava em frente ao computador com cada aluno ou me comuni-cava virtualmente com os que têm internet — para fazer os apon-tamentos cabíveis. Para cada fase, um foco: primeiro o olhar para o gênero e suas respectivas características, ou seja, para a estrutura do texto e o grau de informatividade; depois, uma análise acer-ca do encadeamento das ideias, da argumentação e dos elemen-tos conectores que garantem a coesão e a coerência e, ainda, uma refl exão sobre os aspectos linguísticos. Dessa forma, os alunos já iam percebendo que quem não lê não escreve. Isso é tudo de bom! Ao fi nal, como já mencionamos, foram selecionados 2 textos pela SRE/Itajubá, sendo que um deles foi reconhecido pela ALMG, pre-miando a autora.

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Pouco tempo depois, a ABL, em comemoração ao 1º cente-nário de morte do Barão do Rio Branco, divulga uma proposta de redação e, mais uma vez, muitos alunos do Ensino Médio se em-brenharam na atividade de leitura e escrita, chegando a reescre-ver até 5 ou 6 vezes o texto, sempre refl etindo sobre os elementos de textualidade e aspectos gramaticais, o que levou, mais uma vez, ao reconhecimento e à premiação de um deles pela ABL.

A escola toda em êxtase, embevecida de orgulho, não parou mais. Neste ínterim, já tínhamos aderido à proposta da Funda-ção Logosófi ca do Rio de Janeiro, que instigava a leitura do livro Bases para sua conduta, de Carlos Bernardo González Pecotche, fundador da Ciência Logosófi ca. A partir dessa leitura, colhi tex-tos belíssimos extraídos de momentos de introspecção de cada um dos autores. Textos que foram muito bem trabalhados, com foco nas características dos gêneros textuais, na coerência e na coesão. E também foi uma experiência muito gratifi cante con-duzir os alunos para dentro de si mesmos, para uma conversa silenciosa e necessária... Confesso que até me emocionei ao ler essas produções... momento que me motivou reunir todos esses textos em um livro, visando compartilhar essa emoção com toda a comunidade escolar. O título? “Ofi cina do Lapidário”, cuja jus-tifi cativa encontra-se na apresentação deste livro.

Assim, com a possibilidade de publicar um livro não foi di-fícil motivá-los às propostas da OLP (Olimpíada da Língua Por-tuguesa) que apresenta o tema “O lugar onde vivo”. Durante essa garimpagem, os momentos de interação entre mim e as profes-soras Lúcia e Fernanda, a quem dirijo meus agradecimentos pelo entusiasmo e parceria, foram de puro encantamento e êxtase, bem como a interação entre os alunos e a comunidade na realização de pesquisas, entrevistas e vídeos, na colheita da matéria-prima para o gênero “memórias” e “crônicas”. Já os alunos da EJA (Educação para Jovens e Adultos) se deleitaram com os artigos de opinião. Entusiasmados, encaminharam alguns deles até para os jornais locais. Isso não é incrível? Já encerrou o prazo da OLP e até hoje

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tenho recebido textos em meu e-mail, os quais leio e faço as de-vidas intervenções para aprimoramento, afi nal os autores ainda querem ver suas produções no livro Ofi cina do Lapidário.

Todo esse percurso contribuiu para o crescimento intelectu-al e a autoestima dos alunos. Momentos em que todos os envol-vidos registramos a elevação da profi ciência do ensino da Língua Portuguesa.

O Projeto Lapidar é um trabalho de laboratório. Exemplifi ca-mos o percurso de elaboração de um texto, através das reescritas de uma das crônicas, “As montanhas guardiãs”, dessa coletânea que é Ofi cina do Lapidário:

As montanhas guardiãs (1ª escrita)

Nesse vasto território mineiro existem colori-das montanhas e montanhas-fortalezas que

protegem nossa cidade mineira, aconchegante abrigo das pessoas que aqui nasceram e das pes-soas que chegam encantadas com as belezas das terras alterosas e com grandes altitudes, onde com nascentes e cachoeiras, com suas águas cristalinas que descem das montanhas, com sua encantadora singeleza e graciosidade, e que permanecem sere-nas e inquietas só observando os momentos fracos e fortes de nosso povo. Nesta terra solitária, dota-da de uma beleza única, capaz de encantar nati-vos e visitantes e onde é protegida por montanhas guardiãs que são vigilantes testemunhas da histó-ria, destes mais de 300 anos de segredos simples e prazerosos de nossa gente.

E para desvendar estes segredos das monta-nhas, e só subir em suas encostas e ouvir o seu ple-no silêncio que acomoda e acalma. Há momentos

Ângela, observe o tamanho e o peso deste

parágrafo. Pense em simplesmente

apresentar o contexto ao leitor. Busque leveza, já

que escreveu uma prosa poética.

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em que o enfoque gira em torno da tranqüilidade rural dos espaços sem fi m do chão natal, sob o sol dourado ou sob o céu estrelado. Passam na admira-ção deliciosa decorrente da magia neles contidos.

Onde cada delfi nense, demonstra na simpli-cidade de vida e humildade de alma, o exemplo de dedicação ao lugar, em que temos o privilégio de viver e reconhecer as riquezas de grandes recorda-ções que tivemos e temos de nossa cidade.

As cachoeiras e nascentes fazem as velhas montanhas chorar, mas também ao ver a espe-rança estampada em cada rosto do povo que ha-bita o solo e a fertilidade que guarda em suas en-tranhas afl orar como pedras preciosas, lágrimas brilhantes que fecundam a terra e alimentam os sonhos desta gente.

Os sons se fundem em melodiosa canção que chega doce e de mansinho ao etéreo sentido das guardiãs das riquezas minerais, a altivez dos cumes traduz-se em constância vigilância, tal como mãe zelosa a defender os passos de seus fi lhos.

E com este suave silêncio podemos deixar que as montanhas guardem nosso sono, e preservem nossos humildes segredos.

Isso fi cou tão vago...aliás, esses dois

parágrafos fi caram bem embolados. Busque clareza –que fato histórico ou do cotidiano você realmente

gostaria de retratar?

Este parágrafo está bem confuso. Afi nal não é a montanha

que chora em forma de cachoeira?

Sabe, Ângela, os excessos carregam

demais o texto. Por que você não

opta por colocar as montanhas como testemunhas de

algum fato histórico ou de alguém que

acompanhou a movimentação

da cidade durante a produção das

fábricas? Você pode se referir, inclusive, às histórias de vida

dos operários...

Gosto deste fi nal. Mas precisa ter conexão com os parágrafos

anteriores que você vai reconstruir, OK?

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As montanhas guardiãs (2ª escrita)

Nesse vasto território mineiro de montanhas vi-vas e multicores, há as montanhas-fortalezas

que protegem nossa cidade, aconchegante abrigo para as pessoas que aqui nasceram e as pessoas que chegam encantadas com as belezas das terras alte-rosas. São tantas nascentes e cachoeiras de águas cristalinas... Singelas e graciosas. As montanhas, serenas e inquietas observam tudo, sabem de tudo, sentem o que nem podemos imaginar... Guardam os maiores e mais antigos segredos.

As montanhas guardiãs são as únicas teste-munhas dos trezentos anos da história da nossa gente. Aqui chegaram os portugueses trazendo a imagem de Nossa senhora da soledade Em 1832, o Padre Lourenço tentou levar Nossa senhora da Soledade. Entretanto, os moradores de nossa cida-de o esperava com foices, garruchas, facas e chico-tes, prontos para resistirem ao que consideravam o furto de nossa protetora. E somente elas sabem de cada capítulo dessa saga.

Não há nada melhor do que subir nas suas en-costas e ouvir o seu silêncio que acomoda e acalma. Seja sob o sol dourado ou sob as estrelas. Como é bom sentir a magia de tantos segredos e tantos mistérios.

Só elas e mais ninguém sabem de todos os amores, labutas e saudades que foram levadas pela maria-fumaça. Só elas sentiram o cansaço e o suor dos operários das fábricas e compadeceram deles. As montanhas guardiãs dos delfi nenses, que im-pedem os furacões e tornados, que fazem sombra na medida certa e hospedam as mais lindas árvo-res e nascentes.

Tente reescrever este episódio

no mesmo tom poético que

predomina em seu texto, para que não

fi que destoante.

Esta parte é mais coerente com o penúltimo

parágrafo.

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Mas elas também choram cachoeiras que cor-rem para festejar a fertilidade do solo que faz afl o-rar de suas entranhas preciosidades que alimen-tam os sonhos desta gente.

E com este suave silêncio podemos deixar que as montanhas guardem nosso sono, assim como nossos humildes segredos.

As montanhas guardiãs (3ª escrita)

Nesse vasto território mineiro de montanhas vi-vas e multicores, há as montanhas-fortalezas

que protegem nossa cidade, aconchegante abrigo para as pessoas que aqui nasceram e as pessoas que chegam encantados com as belezas das terras alte-rosas. São tantas nascentes e cachoeiras de águas cristalinas... Singelas e graciosas. As montanhas serenas e inquietas observam tudo, sabem de tudo, sentem o que nem podemos imaginar... Guardam os maiores e mais antigos segredos.

As montanhas guardiãs são as únicas teste-munhas dos trezentos anos da história da nossa gente, da chegada dos portugueses e da imagem de Nossa Senhora da Soledade; do pequeno povoado formado às margens do rio Taboão; da cachoeira do Itagyba; da capela de devoção. Um padre mor-to, uma imagem desaparecida. E as montanhas ali, quietas. Uma igreja, outra igreja e a migração das abelhas...

E o Padre Lourenço querendo levar a santa para o vale do Sapucaí! Só as montanhas fi caram para contar como foi a movimentação das facas,

Faltou conexão com o parágrafo

anterior.

Averiguar em pronomes

demonstrativos – nesse ou neste?

Verifi car regrado plural dos substantivos compostos.

Substitua “as pessoas” por um

pronome oblíquo. Evite repetições...

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dos chicotes, das foices e das garruchas. E também a Ponte do Encontro...

E os olhos das montanhas não dormiram, acompanhavam tudo isso silenciosos. Mas só elas sabem de cada capítulo dessa saga.

Não há nada melhor do que subir em suas en-costas e ouvir o seu silêncio que acomoda e acalma. Seja sob o sol dourado ou sob as estrelas. Como é bom sentir a magia de tantos mistérios.

Só elas e mais ninguém sabem de todos os amores, labutas e saudades que foram levadas pela maria-fumaça. Só elas sentiram o cansaço e o suor dos operários das fábricas e compadeceram deles.

As montanhas guardiãs dos delfi nenses, que impedem os furacões e tornados, que fazem som-bra na medida certa e hospedam as mais lindas ár-vores e nascentes... Mas elas também choram ca-choeiras que correm para festejar a fertilidade do solo que faz afl orar, de suas entranhas, preciosida-des que alimentam os sonhos desta gente.

Águas cristalinas que descem de mansinho... Águas geladinhas que aliviam o cansaço. E com esse suave silêncio podemos deixar que as monta-nhas guardem nosso sono, assim como nossos hu-mildes segredos.

É importante manter os tempos

verbais neste período: dormiam e acompanhavam

ou dormiram e acompanharam.

Qual é o objeto dos verbos acomodar e

acalmar?

Por que não um tom exclamativo?

Só as saudades foram levadas ou foram levados os

amores, as labutas e as saudades? Atenção com aconcordância

Verbal! A palavra maria-fumaça pode ser escrita com letra

inicial minúscula.Especifi que quem são elas ao menos uma vez, porque

no parágrafo anterior você não

usou a palavra “montanhas”.

Evite repetição do pronome relativo.

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A professora Ana Paiva e a aluna Ângela, autora da crônica “As montanhas guardiãs”.

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Análise de resultados

Tudo que é novo, no início encontra resistência, principal-mente por parte do aluno, que já estava habituado a receber

suas redações com alguns traçados vermelhos embaixo de certas palavras e uma nota, e pronto. Isso bastava. Quando propus a atividade do Projeto Lapidar, da releitura e da reescrita com algu-mas turmas, ainda no ano letivo de 2011, fazendo alguns apon-tamentos, os alunos esbravejaram e me repudiaram, embora uns 50% tenham se proposto a ler mais, pesquisar e reescrever inse-rindo no texto os recursos lógico-expositivos que o enriquecem, como exemplos, fatos históricos, dados estatísticos, comparações entre outros.

E, à medida que os alunos percebiam o quanto o texto me-lhorava e o quanto eles aprendiam nessa jornada, foram fi can-do mais motivados. A prática da leitura e da produção de texto, a partir disso, passou a fl uir de forma muito mais satisfatória, principalmente com os alunos do Ensino Médio, devido ao seu estágio de aprendizagem.

E que satisfação eu mesma sentia, quando os alunos impro-dutivos e desmotivados com a leitura chegavam com o texto para eu ler. Ah, e o tanto que eu valorizei suas atitudes e enalteci suas produções... foi assim que os cativei, e eles não pararam... leram e reescreveram quantas vezes foi necessário. Até estou anun-ciando a presença especial desses textos no livro para que todos acreditem que qualquer um é capaz de escrever bem, desde que

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tenha conhecimento sobre o assunto, e para isso basta ler. Assim, a leitura em nossa escola passou a ter função social. Passou a ter signifi cado.

Interessante ressaltar que ainda em fase de encerramento com as produções da Olimpíada da Língua Portuguesa, com uma quantidade signifi cativa de textos para fazer intervenções, alguns alunos já estão me procurando pelos corredores da escola para orientá-los na escrita de outros textos do concurso sobre a Igual-dade de Gênero, promovido pela CNPq/ONU Mulheres, e eu os tenho atendido com prazer, é claro.

A implantação do método da leitura-escrita-refl exão-rees-crita proporcionou até a interação entre nós, os professores da Língua Portuguesa, pois temos trabalhado juntos, analisando e apreciando os textos, inclusive durante as aulas.

E, para coroar o Projeto Lapidar, percebo que toda a comu-nidade escolar — sim, porque a notícia já se espalhou — está ansiosa para ler essa coletânea de 69 textos que compõem o livro Ofi cina do Lapidário. O que já nos convida a reunir outra cole-tânea daqui para frente para o Ofi cina do Lapidário II, e assim o ciclo da leitura não terá fi m...

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Os lapidários desta ofi cina

Adriana Afonso Alana Carvalho Alana Coura

Ana Cecília Ana Luísa Ana Paula Andreia

Ângela Bárbara Bruna Camila

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Carla Adriele Carlos André Carlos Mateus Cláudia

Daiane Davi Edson Francis

Gabriel Félix Gabriel Fortes Gustavo Izabel

Janaína Jaqueline Silva Jaqueline Moraes Jeniff er

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Jeronimo João Valadão Joice José Guilherme

Lílian Lívia Luciana Luiz Augusto

Márcia Mariana Sapucci Mariana Santos Maristela

Mateus Carvalho Mateus Cortez Mayara Milena

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Natanael Paula Rhayane Ricardo

Rosineide Sabrina Shelmer Swantje

Tainára Wiebke

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PARTE VIII

“Corrigir não é traçar um risco vermelho debaixo da palavra.

Corrigir é reconstruir a palavra na mente do aluno.”

José Saramago

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O Projeto Lapidar nas escolas

O Projeto Lapidar já é um projeto de sucesso, premiado des-de o seu primeiro momento e reconhecido e abraçado pela

comunidade escolar com a colaboração espontânea e interessada de todos os alunos.

O próprio Plano de Intervenção Pedagógica acolhe o Projeto Lapidar através da interação educador-aluno.

Sendo assim, surgiu a ideia de divulgar em todas as esco-las da região a efi cácia da metodologia aplicada nesse trabalho, e aqui apresento o Projeto Lapidar a todos os educadores que cui-dam do aprimoramento da linguagem.

ApresentaçãoO Projeto Lapidar consiste na aplicação do método da releitura e da reescrita como garantia do aprendizado e do aprimoramento da língua portuguesa, em todos os níveis de escolaridade.

A matéria-prima do projeto é o próprio texto produzido pe-los alunos.

Já que a escrita é um processo, ela exige uma atenção espe-cial do escritor, e isso implica ler e organizar o pensamento antes de escrever; reler o que se escreveu e refl etir sobre a estrutura e os mecanismos linguísticos do texto, para fi nalmente reescrever com consciência e competência.

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Justifi cativaO Projeto Lapidar vem na vanguarda apontando mudanças na pos-tura do educador em relação ao ensino da língua portuguesa, haja vista resquícios da metodologia tradicional-mecanicista que acata as atividades de leitura e escrita de forma isolada, e que permite avaliação totalmente desvinculada do contexto social dos alunos.

O Projeto Lapidar tem também o intuito de atribuir sentido e interação da atividade do corpo docente e dos alunos dentro do contexto social no qual estão imersos, para dar sentido às ativi-dades e ao aprendizado.

O Projeto Lapidar surgiu como um instrumento essencial para construir este liame entre o que se lê, o que se escreve e o que se aprende, durante os momentos de refl exão.

Público-alvoTodos os professores de Língua Portuguesa das escolas públicas e privadas, do ciclo da alfabetização ao Ensino Médio.

Objetivos• Apresentar o Projeto Lapidar como garantia da aprendiza-

gem da leitura e da escrita vinculados ao contexto social dos alunos;

• Assegurar que este projeto contribua para a inovação das práticas docentes visando a competência textual dos alunos;

• Divulgar o Projeto Lapidar como instrumento de media-ção, visando a criação de vínculo entre a leitura, a escrita e os conhecimentos linguísticos.

MetodologiaInicialmente deverá ser realizado um workshop com o corpo do-cente da instituição escolar com intuito de sensibilizá-lo para a necessidade de mudança metodológica para o ensino da língua portuguesa.

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Durante o workshop, os educadores compreenderão na prá-tica como se articula a produção escrita vinculada à leitura e ao contexto social dos alunos. E, fi nalmente, entenderão que os tex-tos em sua primeira apresentação têm a forma de diamante bru-to. Daí a necessidade de investir na lapidação de cada um deles, o que pode ser feito individual ou coletivamente (utilizando re-cursos de projeção). Esta releitura visa a familiaridade dos alunos com as características dos tipos e gêneros textuais e sua compe-tência discursiva.

Os educadores compreenderão também que o exercício da função de lapidário nada mais é do que:

• fazer a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimen-to, a partir de apontamentos referentes às características do gênero escolhido pelo aluno-autor dentro do ambiente social a que pertence;

• em seguida, identifi car e aprimorar os elementos de textu-alidade;

• e, para fi nalizar, direcionar o olhar dos redatores para os aspectos gramaticais.

Só dessa forma, os alunos vão desenvolver um olhar mais aguçado para seus próprios textos e, com a prática, aprenderão literalmente ler e escrever.

Produto FinalProduzir um livro, nos moldes do Ofi cina do Lapidário, que é o produto do Projeto Lapidar, e que poderá ser editado anualmen-te, em cada instituição escolar que aderir ao Projeto.

O livro produzido reunirá as produções textuais dos alunos que se submeterão ao processo da releitura e reescrita e, pela nos-sa experiência, torna-se o grande eixo-propulsor do Projeto Lapi-dar e desponta nos alunos o entusiasmo, a euforia e a dedicação no ato de ler e escrever.

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As professoras Lúcia Cruz, Ana Paiva e Fernanda Secchim,

as pioneiras do Projeto Lapidar, em Delfi m Moreira-MG.

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