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“SER AMIGOS DE URGESES” Marco Faria editado por Fábio Pereira

Oh Captain, My Captain

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Ser Amigos de Urgeses, por Marco Faria

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Page 1: Oh Captain, My Captain

“SER AMIGOS DE URGESES”

Marco Faria

editado por

Fábio Pereira

Page 2: Oh Captain, My Captain

O texto que se segue foi elaborado pelo jogador dos Amigos

de Urgeses Marco Faria, em Maio de 2012. O atleta em

questão representa o clube desde 1994, contando com al-

guns anos de intervalo na sua ligação aos Amigos.

Capitão dos Amigos e voz de um balneário unido, o Marco

soube reunir as emoções de um grupo de homens e ajudá-

los a alcançar o sucesso. Com uma equipa técnica e directi-

va que confiava plenamente no capitão, o Marco foi, sem

dúvida, um dos pilares da época 2011/2012.

Neste pequeno “Livro”, ou “Publicação” pretendemos deixar

uma homenagem ao Marco. Pelo tempo e dedicação que

ofereceu aos Amigos e pelo que vai, certamente, continuar

a oferecer.

No fim do campeonato, pedi-lhe um texto que ilustrasse o

que foi para ele o triunfo do Campeonato passado e a subi-

da de Divisão.

Agora, a horas do regresso à I Divisão, deixamos esta pe-

quena recordação ao Marco e a todos os que o acompanha-

ram.

Se é jogador dos Amigos, ou já foi, se é dirigente ou já foi

— se está ligado de qualquer forma a este clube, leia; Cer-

tamente que não ficará indiferente.

Pelos Amigos de Urgeses,

Nota de introdução

Page 3: Oh Captain, My Captain

OH CAPITÃO,

MEU CAPITÃO!

Oh capitão! Meu capitão!

terminou a nossa terrível viagem,

O navio resistiu a todas as tormentas,

o prémio que buscávamos está ganho,

O porto está próximo, oiço os sinos, toda a gente está exultante.

(…)

Oh capitão! meu capitão! ergue-te e ouve os sinos;

Ergue-te, a bandeira agita-se por ti, o cornetim vibra por ti;

Para ti ramos de flores e grinaldas guarnecidas com fitas, para ti as

multidões nas praias.

Walt Whitman, in Folhas de Erva, (tradução de Maria de Lurdes Guimarães)

Page 4: Oh Captain, My Captain

SER AMIGOS

DE URGESES

Foi em Julho de 1994 que, a pedido de um gran-

de amigo de infância, me foi dado a conhecer a

existência de um clube de futebol, que estava a

fazer captações para a sua equipa de juvenis, que

iria competir na época 1994/1995 na Associação

de Futebol de Braga.

Na altura eu jogava futebol em Pinheiro, fregue-

sia vizinha, que participava no campeonato popu-

lar de Guimarães, mas por curiosidade fui treinar

aos Amigos de Urgeses, que à data utilizava para

as observações o campo de jogos de Matamá.

Recordo-me de chegar ao campo, num sábado de

manhã, e seríamos seguramente mais de 100 mi-

údos a ocupar todo o espaço disponível naquele

recinto desportivo.

Page 5: Oh Captain, My Captain

Fui abordado por aquele que seria mais tarde o

1º primeiro treinador e aquele a quem devo mui-

to do que sou hoje como jogador de futebol, o

Sr. Carlos Sampaio, que me “moldou”, que me

“trabalhou”, que me ensinou a jogar o futebol,

através dos seus vastos conhecimentos e experi-

ência futebolística.

Pelos vistos, parecia que eu reunia algumas ca-

racterísticas que lhe agradavam enquanto joga-

dor e homenzinho e fui então “captado” para a 1ª

equipa de juvenis.

O tempo foi passando e aproximava-se o 1º jogo.

Lembro-me perfeitamente de não dormir pratica-

mente nada na noite que antecedeu o 1º jogo,

tamanho era o nervosismo.

O jogo realizou-se num sábado, no campo de jo-

gos de Matamá, e o adversário era o Amares, clu-

be muito experimentado na AF Braga.

Page 6: Oh Captain, My Captain

O campo estava cheio de gente de Urgezes, curio-

sos em ver como jogavam os catraios da freguesia.

Tive a honra e o privilégio de ser o

1º capitão de uma equipa federada

dos Amigos de Urgeses, senti-me

um verdadeiro homem e líder aos

15 anos de idade, e foi a partir

desse momento, o simples gesto de

cumprimentar a equipa de arbitra-

gem, a escolha de campo, que co-

mecei a sentir o que é ser “Amigos

de Urgeses”.

Fiz um grande jogo, lembro-me de ouvir as pesso-

as comentarem que o capitão “limpava” tudo, pa-

recia o “115”, tem muita força etc, estava muito

motivado.

Marco Faria, capitão da equipa júnior

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Vencemos o jogo por um esclarecedor 3-1 e a bola

veio comigo embora.

Na época seguinte, já na equipa de juniores, tam-

bém treinado pelo Sr. Carlos Sampaio, fruto de

uma boa época que estava a realizar, fui chamado

aos seniores, que entretanto também já estavam

federados, por outro grande treinador que tive, o

Sr. Domingos Sousa e comecei então a perceber o

que é jogar nos seniores dos Amigos de Urgeses.

Habitualmente no banco, o mister colocava-me a

jogar sempre os últimos 15/20m, para facilitar o

meu entrosamento com os restantes colegas.

Lembro-me de ser muito acarinhado pelos jogado-

res, fui muito bem recebido, especialmente por

aquele que considero um dos melhores atletas que

passou pelos Amigos, o falecido Zé Carlos, capitão

de equipa e mítico nº 2 que durante anos repre-

sentou os Amigos de Urgeses.

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Estavam os seniores a disputar a liguilha de apura-

mento de campeão da 3ª Divisão da AFBraga,

quando soube, numa quinta-feira, que havia sido

convocado pelo Sr. Domingos Sousa para o jogo

decisivo que iria apurar o campeão da 3ª.

No domingo seguinte, compareci à hora marcada e

apercebi-me da ansiedade, da euforia “abafada”,

da expectativa com que todos estavam em relação

a este jogo.

Chegados ao campo de Matamá e recolhidos ao

balneário, o mister como sempre deu a palestra

para o jogo, e de seguida iria dizer o 11 para aque-

le jogo.

Como sempre, aproximei-me da porta do balneário,

a fim de facilitar e dar espaço a que os meus cole-

gas mais velhos se esquipassem à vontade, como

fazia nos outros jogos em que era chamado aos

seniores.

Nisto, o treinador diz-me: “Marco, tu hoje vais jo-

gar, vais mostrar o teu valor, não tenho receio nem

problemas nenhuns em colocar um júnior a jo-

gar”…

Não queria acreditar, ia jogar a

titular naquele que seria o jogo

da época, as “borboletas” toma-

ram conta do meu estômago, as

mãos ficaram gélidas, estava an-

sioso que começasse o jogo,

queria provar a mim mesmo que

apesar dos meus 16/17 anos ti-

nha valor para representar os

seniores.

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Durante o aquecimento, não consegui

desviar o olhar da equipa adversária,

composta por homens feitos, muito fortes

fisicamente mas não permiti que isso

afectasse a convicção, a garra, a vontade

que tinha de jogar e de ajudar os Amigos

a serem campeões.

Lembro-me perfeitamente de ver o Sr.

Carlos Sampaio a chegar, meu treinador

nos juniores, a piscar-me o olho e a le-

vantar o polegar como que a dizer-me já

sabia que ias jogar rapaz.

O campo estava cheio de gente, tanto de

Urgezes como de Roriz, a música tocava

bem alto, via o Carlos Miguel, pequenito

na altura, a preparar os sacos para o sor-

teio da bola, a azáfama era grande e an-

siedade pelo inicio do jogo também,

aquela era o jogo da minha vida.

Quanto entrei em campo e vi toda aquela

gente a gritar por nós, fiquei todo arrepi-

ado, a lágrima “envergonhada” lá apare-

ceu no canto do olho, só queria que o

jogo começasse para poder retribuir o

carinho de todos.

O jogo não começou da melhor forma, o

nosso defesa esquerdo falhou um corte

que permitiu ao avançado do Roriz fazer

o 0-1, resultado com que fomos para o

intervalo.

Viemos para a 2ª parte decididos a não

desperdiçar a oportunidade de sermos

campeões e entrámos como leões, a

equipa adversária não saía do meio-

campo, fizemos o golo do empate e de-

pois mais um e mais um e mais um…

Vencemos o jogo por 4-1, fiz um jogo

fantástico, e participei no jogo que consa-

grou os seniores como campeão no ano

de estreia na AFBraga, corria a época

1995/1996.

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Chegado à época 2011/2012, e depois de ouvirmos do nosso Presidente que

era pretensão da Direcção subir a equipa sénior de divisão, reunimos o gru-

po e, numa espécie de “segredo”, elevamos a fasquia e propusemo-nos a

lutar pelo título de campeões.

Nunca passamos isso para fora do balneário, apenas que queríamos subir de

divisão.

A aposta não se afigurava fácil, a série era composta por boas equipas, que

até pagam prémios por vitória aos seus atletas, o nosso grupo é muito jo-

vem, tem pouca experiência em futebol sénior, iríamos fazer a época a jogar

sempre em casa emprestada, mas a nossa união, o espírito de sacrifício e

solidariedade eram suficientemente fortes para superar todos os obstáculos.

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Fizemos uma 1ª volta excelente, a classificação

na tabela dizia-nos isso mesmo, tínhamos de

continuar a lutar, afinal o nosso segredo poderia

tornar-se num objectivo concretizável, só tínha-

mos de lutar e lutar cada vez mais.

Para mim, o jogo mais importante foi o jogo de

Tabuadelo. Se realmente queríamos ser cam-

peões, tínhamos de vencer este jogo, tínhamos

de mostrar a toda a gente que somos uma equi-

pa de amigos, na verdadeira acepção da palavra.

Lancei um apelo, toda a gente devia ir apoiar os

seniores naquele jogo.

De facto, já não me lembrava de ver tanta gente

a puxar por nós, a bancada estava repleta de

adeptos e simpatizantes dos Amigos, voltei a

sentir aqueles arrepios que senti em 1996.

Quando o Pires faz o golo, a emoção foi demais,

as palmas da bancada eram ensurdecedoras, o

nosso objectivo estava ali tão perto.

Soubemos sofrer até ao fim, o adversário directo

perdia por 4-0 em Selho, quando o árbitro api-

tasse para o final do jogo seriamos campeões.

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E assim foi. O árbitro apita, corremos todos em direcção

aos nossos adeptos e fizemos a festa, lembro-me de pro-

curar na bancada a minha esposa, que sempre nos

acompanhou para todo o lado. Este título também era

dela, pela paciência, pela tolerância, pela cedência e pelo

apoio que me deu nesta época que, por força das cir-

cunstâncias, me “obrigou” a dedicar muito tempo ao

meu clube… e a lágrima disfarçada de pó, lá voltou a

aparecer, 16 anos depois… que o diga o guarda redes

Pedro Ribeiro…

Encarámos todos os jogos com determinação, lutámos

em todos eles pela vitória, não conseguimos vencer 4,

mas fomos a equipa mais regular, a equipa mais objecti-

va, mais lúcida, a melhor equipa.

Pelos sacrifícios que todos fizemos durante esta época,

merecemos inteiramente este título de campeões

2011/2012.

Tentei e tento passar a mística do que é “ser” Amigos de

Urgeses a todos os atletas que chegam aos seniores,

penso ter conseguido com a maioria deles, honrámos o

emblema que ostentamos ao peito.

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Agora, só quero desfrutar… ”

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