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Olaria- O barro de Bisalhães Docente: Maria Teresa Soeiro Aluno: Paulo Matos FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO, 06 DE FEVEREIRO DE 2015 Arqueologia Moderna e Contemporânea I

olaria de bisalhães

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trabalho sobre a olaria de Bisalhães

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  • Olaria- O barro

    de Bisalhes Docente: Maria Teresa Soeiro

    Aluno: Paulo Matos FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO, 06 DE FEVEREIRO DE 2015

    Arqueologia Moderna e Contempornea I

  • Introduo

    Bisalhes, aldeia vizinha de Vila Real, foi um dos mais importantes centros

    oleiros do norte do pas. Os alguidares, potes e panelas que ali se faziam eram levados

    pelas mulheres, cabea, em grandes cestos e vendidos distrito fora. Ainda hoje os

    mais velhos contam como era duro calcorrear caminhos sinuosos, Maro acima,

    distncias enormes percorridas pelos oleiros descalos, com os panelos s costas. (...)

    Centro Cultural Regional de Vila Real 2000

    Com o passar dos anos a necessidades de peas em barro diminuiu, sendo

    na nossa poca apenas um mero objeto artesanal para o turismo da cidade.

    Apesar de ter perdido o seu papel como um bem de 1 necessidade no nosso

    quotidiano no deixa de ser um smbolo da cidade de Vila Real.

    Para melhor compreender este assunto desloquei-me a uma oficina na

    cidade de Vila Real, onde tive a oportunidade de falar com um arteso que me

    explicou como funcionava uma oficina de olaria antigamente.

  • Desde os primrdios das civilizaes que o barro e a cermica faziam parte das populaes, e o barro preto no era exceo, escavaes arqueolgicas levadas

    a cabo na cidade de Vila Real vieram mostrar isso mesmo. Dezenas de milhares de

    fragmentos de cermica foram descobertos naquela regio, datados da idade do

    Bronze at atualidade, tendo o barro preto predominncia na poca medieval,

    moderna e contempornea. A localizao onde estes fragmentos se encontravam

    podiam pertencer ao centro de produo, ou seja, onde as peas eram fabricadas.

    O barro preto de Bisalhes tambm referido nas cartas de foral Vila Real

    de D. Manuel I, no ano de 1515, o que mostra a importncia que este ofcio tinha na

    poca.

    Apesar da sua origem remota, o barro preto s seria mais apreciado a partir

    do sc. XV at ao sc. XVIII, o que iria levar ao aparecimento de muitos artesos,

    que foram passando o seu conhecimento ao longo das geraes.

    Nos finais do sc. XIX a olaria de Bisalhes recebeu uma meno honrosa

    numa exposio de cermica. Esta que seria a poca urea desta arte.

    A olaria [de Trs-os-Montes], arte incomparvel, dotada de memria admirvel, que mantm sem estampas, sem guia, vivendo ao desamparo, com uma simples iniciao patriarcal na famlia, as mais puras tradies de uma arte ancestral que enfeitia e seduz o crtico mais exigente.

    Joaquim de Vasconcelos, 1908

  • Os oleiros

    Os artesos da olaria so por norma os aprendizes dos seus pais, o que

    torna esta profisso um ofcio de geraes, passando de pais para filhos. O arteso

    com quem falei diz que a sua famlia j est no ramo da olaria h mais de 200 anos,

    e deseja, em tom de brincadeira, que continue por mais 200.

    Exemplo de roda baixa,

    localizada dentro da oficina

  • A oficina

    Na oficina possvel encontrarmos os vrios materiais necessrios para a

    construo das peas de barro, bem como as peas j terminadas ou ainda aquelas

    que ainda vo ser cozidas.

    Peas prontas para a cozedura

    Peas j terminadas e prontas para a

    venda ao pblico

    Arteso na roda moldando um jarro

  • Por norma um arteso realizava cerca de 10 peas grandes e 150 das

    pequenas por dia, peas que depois ficariam a secar para puderem ir ao forno, forno

    este que levava cerca de 3000 peas por fornada.

    O forno encontrava-se no exterior pois devido s temperaturas que ele atinge

    era impossvel estar dentro da oficina, por norma atingem os 1500c. As peas

    ficavam no forno cerca de 6 horas.

    Colocao das peas no forno

    Cozedura das peas

    Como material de combusto os artesos usavam carqueja, musgo e lenha.

    Tiragem das peas j prontas do forno

  • O processo de cozedura levava cerca de 1 a 2 horas, as restantes 4, 5 horas

    era para atupir as peas, ou seja, o forno era abafado com musgo e terra preta para

    que o barro ganhe a sua cor caracterstica. Se o atupimento no for bem feito, se

    ficar mal tapado e permitir entrar e sair o ar, todas as peas ficam estragadas.

    Depois de tiradas as peas so inspecionadas para ver se no est rachada ou

    partida.

    Ainda na oficina eram realizados os padres e decoraes das peas,

    trabalho realizado maioritariamente pelas mulheres, apesar de muitos artesos

    realizarem, tambm, esta tarefa. Para a realizao das decoraes eram utilizadas

    palhetas e gogos, pedras do rio, o que permitia tambm o alisamento da pea para

    que esta fosse mais uniforme e suave ao toque. Para ser possvel identificar uma

    pea de barro de Bisalhes desenhada uma flor como smbolo de autenticidade.

    Mulher a gogar uma pea com motivos

    decorativos

  • Flor smbolo do barro de Bisalhes

    Festividades

    Em Vila Real a maior festividade que tem mais impacto na olaria sem

    dvida o S. Pedro, esta por definio a festa dos oleiros, tambm conhecida como

    feira dos panelos.

    S. Pedro, feira dos panelos

  • Pormenor das peas

    Os artesos, apesar de antigamente fazerem todas as peas para o

    quotidiano, na atualidade as peas que eles mais vendem so alguidares,

    pingadeiras e tachos.

    Exemplo de uma pingadeira

    De todas as peas as mais caractersticas do barro de Bisalhes so a bilha

    de rosca e a de segredo, sendo a segunda especial devido ao truque que ela possui

    para que se possa beber dela, o segredo como o nome indica, esta bilha possui dois

    furos, um na asa e outro na boca da bilha, e para se puder beber necessrio tapar

    o buraco da asa, para que o liquido da bilha saia pelo outro buraco, caso no se

    tape o buraco da asa, o lquido sair pelo cortes decorativos que este tipo de bilha

    por norma possui.

  • Tradies

    Ao longo dos anos foram-se criando rimas e canes onde era includo o trabalho dos oleiros, e a sua aldeia, este apenas um pequeno exemplo das

    quadras existentes:

    Se fores a Bisalhes terra dos paneleiros D por l uma vista de olhos sombra dos castanheiros

    Pucarinho jogado

    Pelo ar, de mo em mo.

    Traz e leva segredos

    At se quebrar no cho

    Estas quadras foram retiradas do cancioneiro de Vila Real.

    Exemplos de uma bilha de rosca ( esquerda) e de

    segredo ( direita)

  • Concluso

    Apesar de esta ser uma belssima arte, j s existem na zona de Bisalhes

    apenas 4 artesos e um escultor, nmero que vai baixando com o passar dos

    anos.

    Com este trabalho entende-se o esforo e dedicao que estes artesos

    fazem todos os dias para que esta arte no morra.

    Bibliografia

    Tesouros do Artesanato Portugus Vol. 3 , Olaria e Cermica-

    PERDIGO, Teresa e CALVET, Nuno. Edies Verbo

    Olaria de Bisalhes: Rostos de barro preto- FERNANDES, Isabel;

    MOSCOSO, Patrcia e CASTRO, Fernando; Vila Real

    Olaria de Bisalhes : seminrio de histria de arte- SILVA, Maria

    Ceclia; Porto

    Entrevista realizada em Dezembro de 2013 na cidade de Vila Real,

    nas oficinas de olaria da cidade.

    Agradecimentos famlia Ramalho pela ajuda que to prontamente

    prestou para a realizao deste trabalho.