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>22 ano XIX, n. 188, dezembro/2006 pulsional > revista de psicanálise > Olivier Douville Cronologia. 1 Situação da psicanálise no mundo, durante a vida de Freud artigos > p. 22-53 1892 Alemanha: Felix Gattel estabelece contato com Freud. Ele fica na história da psicanáli- se como o seu primeiro aluno. Fica em Vie- na para estudar com Freud de maio a outubro de 1897, e publicará “Questiona- mento da hipótese de uma etiologia sexual da neurastenia e da neurose de angústia” (1898) 1893 A biografia de Freud aparece em um “Quem é quem” vienense. Espanha: A Revista de ciencias médicas, de Barcelona, e a Gazeta médica, de Granada, publicam “O mecanismo psíquico de fenôme- nos histéricos”, de Breuer e Freud. É a pri- meira tradução publicada no mundo de uma obra de Freud. 1894 Estados Unidos: William James resume a versão preliminar do trabalho de Freud e Breuer sobre a histeria para o primeiro nú- mero da Psychological Review. 1895 Estados Unidos: Robert Edes, em sua obra The New England Invalid, faz algumas alu- sões ao trabalho de Freud. É assim, e com os textos de W. James, que Stanley Hall toma conhecimento da existência dos primeiros escritos de Freud. 1895-1896 França: Primeira revisão dos artigos neuro- lógicos de Freud: “As neuropsicoses de recu- sa”, por Paul Kéraval ( Archives de neurologie); “Obsessões e fobias, seu meca- 1> Cronologia proposta pelo autor. As fontes são muito diversas. A começar, logicamente, pelas diversas correspondências de Freud, e por sua “Auto-apresentação”. Vem em seguida a indispensável leitura dos dicionários históricos de psicanálise (de Mijolla et al., Plon & Roudinesco), de antropologia (Bonte & Izard), os livros de historiadores (de Mijolla, Freud, fragments d’une histoire; Roudinesco, La bataille de cent ans; Rodrigué, Le siècle de la psychanalyse, e também os textos de D. Anzieu, P. Gay, a clássica biografia de Jones, e ainda o volume 4, publicado em 1991, da Revue internationale d’histoire de la psychanalyse, além das fontes dos correspondentes “internacionais” da revista Psychologie Clinique, fornecendo também muitas informações pouco conhecidas e pouco disponíveis na França. Tradução de Ricardo Corbetta; revisão técnica da tradução de Monica Seincman.

Olivier Douville Cronologia. Situação da psicanálise no ... · no de neurastenia e de neurose de angús-tia. Em Nancy, René Hartmann defende sua tese “Contribuição ao estudo

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Olivier Douville

Cronologia.1

Situação da psicanálise no mundo,durante a vida de Freud

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1892Alemanha: Felix Gattel estabelece contato

com Freud. Ele fica na história da psicanáli-

se como o seu primeiro aluno. Fica em Vie-

na para estudar com Freud de maio a

outubro de 1897, e publicará “Questiona-

mento da hipótese de uma etiologia sexual

da neurastenia e da neurose de angústia”

(1898)

1893A biografia de Freud aparece em um “Quem

é quem” vienense.

Espanha: A Revista de ciencias médicas, de

Barcelona, e a Gazeta médica, de Granada,

publicam “O mecanismo psíquico de fenôme-

nos histéricos”, de Breuer e Freud. É a pri-

meira tradução publicada no mundo de uma

obra de Freud.

1894Estados Unidos: William James resume a

versão preliminar do trabalho de Freud e

Breuer sobre a histeria para o primeiro nú-

mero da Psychological Review.

1895Estados Unidos: Robert Edes, em sua obra

The New England Invalid, faz algumas alu-

sões ao trabalho de Freud. É assim, e com os

textos de W. James, que Stanley Hall toma

conhecimento da existência dos primeiros

escritos de Freud.

1895-1896França: Primeira revisão dos artigos neuro-

lógicos de Freud: “As neuropsicoses de recu-

sa”, por Paul Kéraval (Archives deneurologie); “Obsessões e fobias, seu meca-

1> Cronologia proposta pelo autor. As fontes são muito diversas. A começar, logicamente, pelas diversas

correspondências de Freud, e por sua “Auto-apresentação”. Vem em seguida a indispensável leitura dos

dicionários históricos de psicanálise (de Mijolla et al., Plon & Roudinesco), de antropologia (Bonte & Izard),

os livros de historiadores (de Mijolla, Freud, fragments d’une histoire; Roudinesco, La bataille de cent ans;

Rodrigué, Le siècle de la psychanalyse, e também os textos de D. Anzieu, P. Gay, a clássica biografia de

Jones, e ainda o volume 4, publicado em 1991, da Revue internationale d’histoire de la psychanalyse, além

das fontes dos correspondentes “internacionais” da revista Psychologie Clinique, fornecendo também

muitas informações pouco conhecidas e pouco disponíveis na França.

Tradução de Ricardo Corbetta; revisão técnica da tradução de Monica Seincman.

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nismo físico (sic) e sua etiologia”, “A heredi-

tariedade e a etiologia das neuroses” de um

dos mais diligentes alunos de Charcot,

Edouard Brissaud (Archives de Neurologie).

Na Revue de neurologie, Raichline faz um

relato importante sobre o conceito freudia-

no de neurastenia e de neurose de angús-

tia. Em Nancy, René Hartmann defende sua

tese “Contribuição ao estudo das afecções

espasmo-paralíticas infantis” em que cita o

artigo de Freud (de 1893) relatando o caso de

duas crianças, filhos de consangüíneos, afe-

tados pela rigidez paraplégica.

1897Morte do pai de Freud e início de sua paixão

pelas antigüidades.

1898França: Paul Hartenberg, defensor da tera-

pia por sugestão, na linha de Bernheim, e

adversário da psicologia experimental, publi-

ca em sua Revue de Psychologie Clinique etThérapeutique uma crítica sobre a sexualida-

de na etiologia das neuroses.

1899Estados Unidos: Stanley Hall e o corpo do-

cente da Clark University organizam uma

semana de conferências internacionais pú-

blicas pelos dez anos da Universidade. Dela

participam Santiago Ramón y Casal (profes-

sor de histologia em Madri) e August Forel

(diretor do Hospital do Burghölzli).

1901Estados Unidos: Stanley Hall cita os traba-

lhos de Freud para seus alunos.

19025 de março: Freud é nomeado professor ex-

traordinário (primeiro grau universitário). A

carta é assinada pelo imperador Francisco

José.

Outubro: Criação, em Viena, da Psycho-

logische Mittwoch Gesellschaft (Sociedade

Psicológica da Quarta-feira) por iniciativa de

Stekel. Primeira sociedade psicanalítica do

mundo, ela reúne entre outros: Rudolf

Rietler (1865-1917) que foi, segundo E. Jones,

o primeiro a praticar a psicanálise depois de

Freud, Max Kahane, Ludwig Jekels (1861-

1954); Wilhelm Stekel (1868-1940); Hugo

Heller (1870-1923), editor; Alfred Adler

(1870-1937); Paul Federn (1871-1950); Eduard

Hitschmann (1871-1957); Max Graf (1875-

1958), musicólogo; Hanns Sachs (1881-1947);

Otto Rank (1884-1939), metalúrgico, iniciado

na psicanálise pelo médico de sua família, A.

Adler. W. Stekel, que, segundo Jones, foi um

dos responsáveis por essas reuniões, relata-

va semanalmente suas discussões na edição

de domingo do Neues Wiener Tagblatt.França: Em uma conferência proferida no

Instituto Geral de Psicologia, Bergson faz

referência à Traumdeutung e cita, junto aos

de Robert e Delage, o nome de Freud.

Paul Hartenberg, publica A neurose de an-gústia (coletânea de artigos publicados no

ano anterior na revista de Medicina, obra

na qual ele expõe o conceito freudiano, cri-

ticando sua etiologia puramente sexual.

Suíça: No livro que Jung publica em 1902, so-

bre os fenômenos ocultos, ja se encontra

uma primeira referência a A interpretação

dos sonhos.

1903Federn começa a praticar a psicanálise.

1904Argentina: José Ingenerios, psiquiatra e cri-

minólogo, publica um artigo em que é men-

cionado o nome de Freud.

Estados Unidos: Stanley Hall publica uma

obra em dois volumes (1373 páginas), Adoles-cência, que inventa a noção moderna de

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adolescência. Ele se refere diversas vezes ao

estudo dos traumas segundo Freud.

Rússia: Uma das primeiras traduções de um

texto de Freud, Über den Traum (1901) é pu-

blicada no número cinco do suplemento da

revista Courrier de Psychologie, d’Anthro-pologie Légale et d’Hypnotisme nas Edições

Brokhaus/Efron Enciclopédie.

Suíça: Freud sabe, por meio de Eugen Bleu-

ler, que começa a se corresponder com ele,

que a psicanálise é aplicada na clínica

Burghölzli por C. G. Jung.

1905Primavera: Otto Rank, aos 21 anos, envia a

Freud o manuscrito de um pequeno livro

chamado O artista. Foi uma tentativa auda-

ciosa de aplicar a psicanálise aos fatos de

ordem cultural.

Noruega: R. Vogt (Christiania) faz justiça à

psicanálise em sua obra de psiquiatria

Psykiatriens Grudtraek, considerada por

Freud a primeira obra de psiquiatria a falar

de psicanálise.

1906Ano da ruptura definitiva com Fliess, que

redige um panfleto Em causa própria no

qual ele acusa Freud de roubo de idéias.

Freud tenta criar na jovem editora Deuticke

uma coleção que retoma seus artigos após

sua publicação regional, reagrupando-os e

disponibilizando-os no mercado do livro. Ele

também lhe confia os quatro tomos de suas

traduções das obras de Bernheim e de Char-

cot. Mas convence H. Heller a publicar uma

nova coleção: os Schriften zür angewandenSeelenkunde (Escritos de psicologia aplica-

da). Trata-se de apresentar ao público “a

aplicação das descobertas psicológicas a te-

mas da arte e da literatura, assim como da

história da civilização e da religião”. Freud

se apresenta como diretor dessa publicação,

e inaugura a série com Gradiva (1907). A co-

leção será retomada por Deuticke. Nela en-

contram-se publicados alguns trabalhos de

Freud (números 1 e 7), Rilkin, Jung, Abraham

(números 4 e 11), Sadger, Pfister, M. Graf,

Jones (números 10 e 14), Sorfer, Sadger (nú-

meros 16 e 18), Keilholz (número 17) e von

Hug-Hellmuth.

Nas noites de quarta-feira, Rank apresenta

importantes partes de uma obra volumosa a

ser publicada sobre o tema do incesto na li-

teratura.

Estados Unidos: São formados em Boston e

em Cambridge, grupos de estudos sobre a

psicoterapia. No mesmo ano, Morton Prince

cria o Journal of Abnormal Psychology publi-

cado ao mesmo tempo nos EUA e no Reino

Unido, onde são expostas e discutidas as te-

ses freudianas.

Reino Unido: Nessa mesma revista, James

Jackson Putnam (EUA) publica o primeiro ar-

tigo em língua inglesa exclusivamente dedi-

cada à psicanálise.

1907Janeiro: Encontro entre Freud e M. Eitingon.

Este é “subassistente” na clínica de

Burghölzli.

22 de fevereiro: Freud anuncia ao seu pe-

queno grupo que o doutor Bresler, redator-

chefe da Psychiatrische-NeurologsicheWaschenscrift, pediu-lhe para que se tor-

nasse co-redator de uma nova revista que

ele iria criar chamada Zeitschrift fürReligionpsychologie. Freud aceita e colabo-

ra no primeiro número publicando o primei-

ro de todos os artigos que ele dedicaria à

religião (Zwangshandlungen undReligionsübungen: Ações compulsivas eexercícios religiosos, GW, VII p. 129).

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Março: Jung e Binswanger assistem à reu-

nião semanal do grupo vienense.

Otto Gross de Graz publica um artigo favo-

rável aos trabalhos de Freud, seguido, em

1907, por um “livro original onde ele reco-

nhece a exatidão das teorias freudianas da

libido, do recalcamento, do simbolismo etc.”

Alemanha: Em torno de Binswanger, alguns

psiquiatras se familiarizam com o método

catártico.

Suíça: C. G. Jung criou, em Zurique, a Socie-

dade Freud: Bleuler (presidente), Binswan-

ger, Franz Riklin, Edouard Claparède,

Alphonse Maeder... Os membros se reúnem

no Hospital do Burghölzli; esta sociedade

será dissolvida em 1913. Segundo K. Abraham,

a Associação freudiana de Zurique teve sua

primeira reunião no meio do ano:

Gesellschaft für freudische Forschung.

19082 de fevereiro: Sandor Ferenczi, medico hún-

garo, visita Freud, que logo sente por ele

uma viva simpatia e o convidará a passar,

durante o verão, duas semanas em

Berchtesgaden, onde ele está em férias.

26 de abril: O Congresso Internacional de

Psicanálise em Salzburgo, o primeiro de uma

longa série. Nome da reunião: Encontro dos

psicólogos freudianos. 42 membros de seis

países participam desse encontro: Áustria,

Alemanha, Hungria, Suíça, Inglaterra e Esta-

dos Unidos. Houve nove palestras: 4 austría-

cas, 2 suíças, 1 inglesa, 1 alemã e 1 húngara.

Freud apresenta as suas “Notas sobre um

caso de neurose obsessiva” e fala durante

várias horas. Jung faz uma palestra sobre a

demência precoce. A única palestra no âm-

bito antropológico foi a de F. Riklin, que fala

de “Alguns problemas decorrentes da inter-

pretação do mito”. Um dos resultados foi a

fundação, em 1909, da primeira revista de

psicanálise, a Jahrbuch für psycho-analytische und psychopathologischeForschungen (Anais de pesquisas psicanalí-ticas e psicopatológicas), com Bleuler e

Freud como diretores e Jung como redator

chefe. Freud inaugura essa revista com a pu-

blicação do caso “Hans”. Outras contribui-

ções: A. Maeder (Zurique), “Sexualidade e

epilepsia”; Jung (Zurique), “O significado do

pai para o destino do indivíduo”; e Binswan-

ger (Zurique), “Ensaio de uma análise da his-

teria”. Em 1913, Freud lutará para retomar de

Jung o controle da revista.

6 de maio: K. Abraham, A. Brill e E. Jones vi-

sitam Freud. Brill, antes de partir para Nova

York, obtém a autorização para traduzir para

o inglês as obras do mestre; seus dotes como

tradutor são limitados pelo seu fraco domínio

do alemão e do inglês, o que inquieta Jones.

Setembro: A Sociedade de psicologia das

quartas-feiras reúne 32 membros e se trans-

forma em Wiener Psychoanalytische

Vereinigung (WPW); Freud passa quatro dias

no Burghölzli em Zurique e aborda os proble-

mas da psicose.

Alemanha – agosto: K. Abraham funda a So-

ciedade Psicanalítica de Berlim. A primeira

reunião acontece no dia 27 com a presença

de Magnus Hirschfeld, sexólogo, Ivan Bloch,

Heinrich Körber, Otto Juliusburger, psiquia-

tra; este último tinha feito, alguns anos an-

tes, uma comunicação considerada favorável

às idéias psicanalíticas: Beitrag zu der Lehrevon der Psychoanalyse (Sitzungsbericht des

Psychiatrischen Vereins [Berlim] 14 de de-

zembro de 1907).

Canadá: Ernest Jones entra no Toronto

Lunatic Asylum como neuropatologista, aí

permanecendo até 1913.

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França: A. Binet contata C. G. Jung para um

artigo de apresentação sobre A análise dossonhos. Jung escreve a Freud: “eu já prepa-

rei uma coisinha para Binet, que, natural-

mente, não é senão orientação superficial,

mas escrita de tal forma que um francês

possa também compreender, desde que

queira. Infelizmente, só os psicólogos terão

acesso ao texto; ou seja, ele estará em más

mãos...”.

Rússia: O psiquiatra Ossipov, assistente na

clínica psiquiátrica da Universidade de Mos-

cou, publica no Jornal de neuropatologia ede psiquiatria uma revisão sobre os concei-

tos freudianos através da literatura alemã

de 1907. Em 1908, é inaugurado, sob a dire-

ção do mesmo Ossipov, um dispensário de

psicoterapia na clínica psiquiátrica da Uni-

versidade de Moscou. Com dois outros psi-

quiatras, Dovbnja e Asiatini, ele recebe duas

vezes por semana pacientes em consulta

externa. Em 1909 chegam três jovens psi-

quiatras, Rosenstein, Derjabine e

Podjpolski. Esse primeiro centro de trata-

mentos “psicanalíticos” funcionaria até 1911.

Suíça: Charles Ladame publica na Encéphale“A associação das idéias e sua utilização

como método de exame nas doenças men-

tais”.

1909Abril: Visita de Pfister a Freud.

Setembro: Freud vai aos EUA em companhia

de Jung e de Ferenczi. O grande anfitrião é

Granville Stanley Hall (1846-1924), professor

de psicologia e presidente da Clark

University de Worcester (Massachusetts),

que marca, assim, o vigésimo aniversário

dessa universidade. G. Stanley Hall obteve

o primeiro doutorado em psicologia da

Harvard (dir. W. James) e criou em 1887 o

American Journal of Psychology. O antropó-

logo Boas, formado na Clark, participa do ci-

clo de conferências expondo um trabalho

sobre alguns problemas psicológicos na an-

tropologia. Jung e Freud fazem palestras e

recebem os títulos de doutores honoris cau-sa. Freud pronuncia aí as Cinco aulas sobrea psicanálise. As conferências de Jung têm

por objeto de estudo as associações diag-

nósticas e os “Conflitos da alma infantil”.

Freud visita Nova York com Ernest Jones e

Abraham Arden Brill, que os acolhe em sua

chegada no dia 27, e os ciceroneia em Nova

York. Ele se torna amigo de James Jackson

Putnam (1846-1918), professor de neurologia

na Universidade Harvard. Putnam escreveu

a Freud: “Sua visita teve sobre mim um pro-

fundo impacto; trabalho e leio os seus escri-

tos com um interesse cada dia mais forte”.

1910O segundo Congresso Internacional de Psi-

canálise se dá nos dias 30 e 31 de março em

Nuremberg, organizado por C. G. Jung que

estará ausente (nova viagem aos EUA).

Freud, que aí faz uma comunicação “Sobre as

perspectivas do futuro da terapêutica analí-

tica”, fica inquieto por causa da viagem de

Jung aos EUA. No dia 3 de abril, ele pode, no

entanto, escrever a Ferenczi: “Não há dúvi-

das de que ele teve um extraordinário êxi-

to (...). Penso que a infância do nosso

movimento se deu com o Reichstag de Nu-

remberg. Resta esperar que a juventude seja

frutífera e bela”. Sua carta para Jones do dia

15 do mesmo mês confirma: “Nuremberg foi

um sucesso”. Em 21 de abril, em uma carta

para L. Binswanger, Freud fala desse con-

gresso de forma “irônica” como sendo o

“Reichstag de Nuremberg”. O congresso teve

uma conseqüência importante: a fundação

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da Associação Internacional de Psicanálise

(International Psychoanalitic Association,

IPA), reunindo os Ostgruppen de Zurique, Vie-

na e Berlim, com Jung como presidente (de-

signado por Freud), Riklin como secretário,

e Zurique, cidade-domicílio do presidente,

como sede. As sociedades de psicanálise

existentes se transformaram em seções lo-

cais da Associação Internacional, os estatu-

tos são aceitos. Jung e Riklin são nomeados

redatores do órgão oficial da Associação, o

Korrespondenzblatt, que deveria ser publica-

do mensalmente. O primeiro número sai em

julho. Freud deve agora ser diplomático com

os membros da Sociedade Psicanalítica de

Viena. Ele quer fazer de Zurique o centro do

movimento psicanalítico e confiar a um

não-judeu (ou seja, C. G. Jung) a direção

dessa nova associação. Divergências, ten-

sões, inquietudes nos vienenses fiéis

(Hitschman). Freud acalma a Sociedade vie-

nense. Ele nomeia Adler para substituí-lo

como presidente e propõe, em parte para

concorrer com o Jahrbuch de Jung, a publi-

cação de uma revista mensal, o Zentralblattfür Psychoanalyse, Medizinische Mo-natsschrift für Seelenkunde (Folha central

de psicanálise, mensário médico de psicolo-

gia), do qual Adler e Stekel são redatores-

chefes, Freud, diretor de redação, e J. F.

Bergmann, editor, em Wiesbaden. Deuticke,

que até então tinha editado Freud, recusou

garantir a publicação do Zentralblatt sob o

pretexto de que a contribuição de Stekel

ameaçava tirar da revista o seu caráter cien-

tífico.

Verão: Freud toma conhecimento das “me-

mórias” do Presidente Schreber; agosto: pu-

blicação do primeiro meio-tomo do Jahrbuch(Tomo 2, primeiro caderno; artigos de

Abraham, Jung [2 artigos], Maeder, Pfister,

Assagioli, Neïditch, Freud) 21 de outubro, So-

ciedade vienense. Na assembléia adminis-

trativa, Adler é eleito presidente e Stekel

vice, Steiner tesoureiro, Hitschman bibliote-

cário, e Rank, secretário.

Férias na Holanda onde, apesar do seu cos-

tume de não aceitar encontros profissionais,

Freud responde a um pedido do compositor

Gustav Mahler que ele “psicanalisa” duran-

te uma caminhada pela cidade à tarde. De-

pois ele viaja para a Sicília, passando por

Paris, Roma e Nápoles, em companhia de

Ferenczi, que será, por longos anos, seu

amigo mais próximo e seu fiel companheiro

de viagem.

Inglaterra: Publicação do livro de Frazer, To-

temismo e exogamia, lido atentamente por

Freud.

Hungria: Publicação da primeira obra em lín-

gua húngara sobre a psicanálise.

EUA: Putnam publica (Journal of AbnormalPsychology) uma série de artigos sobre a vi-

sita de S. Freud a Worcester. Granville

Stanley Hall dedica à visita de Freud e à psi-

canálise o número inteiro de abril do

American Journal of Psychology, que contém

as conferências. Freud escreveu para

Putnam “pedindo para que ele assuma a di-

reção da seção americana” (Freud a Jones,

3.7.1910).

Jones é eleito membro da American

Neurologic Association

17 de maio: Freud para Jung: “Hoje eu encon-

trei aqui uma longa carta enviada de Wa-

shington em 2 de maio, por Jones, falando

sobre os interessantes eventos, no conjun-

to pleno de sucesso da American

Psychopathological Association. Putnam pa-

rece ter ido, de novo, muito bem, e o próprio

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Jones corrige suas ambigüidades dos anos

anteriores com um zelo infatigável, destre-

za e, diria até, humildade; isto é muito gra-

tificante. Ele acredita que a fundação de um

grupo local americano é algo muito difícil

neste momento, ou como possível apenas

formalmente, mas são preocupações da di-

reção que lhe compete”.

Em maio, Freud se torna membro da Asso-

ciação Americana de Psicologia, fundada na

segunda-feira, dia 2 de maio, com 40 mem-

bros. Em A história do movimento psicana-lítico (1914), Freud observará que “o fato

característico, lá, foi que, desde o começo,

professores e diretores de asilo de alienados

tomaram o partido da psicanálise na mesma

medida que os clínicos independentes...”.

América Latina: Brill introduz a psicanálise

em Cuba. Freud recebe da Havana a tradu-

ção feita pelo Dr. Fernandez de um ensaio

dele (Freud para Jung, no dia 5 de julho). No

congresso internacional de medicina em

Buenos Aires, um médico de origem chilena

(G. Greve Schlegel) se declara a favor da

existência da sexualidade infantil, ele ex-

põe, igualmente, as idéias de Freud sobre a

livre associação.

Rússia: Ossipov, fundador da terminologia

psicanalítica russa, visita Freud. Na Rússia,

ele funda a Biblioteca Psicoterapêutica.

Suíça: Em Zurique, Bleuler publica sua defe-

sa da psicanálise, A psicanálise de Freud,

que não agrada a Freud. A Associação Psi-

canalítica de Zurique é fundada em 1910; sua

origem está na Gesellschaft... fundada em

1907. Aparentemente, os membros fundado-

res dessa associação não desejavam entrar

para as fileiras da Associação Psicanalítica

International. Segundo um relato de Jung a

Freud (17 de junho), Binswanger declarava

“não aceitar a presidência a não ser que to-

das as sessões fossem conjuntas com os

não-membros”. Freud julgou esta situação

“totalmente inaceitável” (carta para Jung de

19 de junho). Jung escreve para Freud, em 10

de maio: “Eu não podia efetivamente fazer

nada contra esta decisão. Minha autoridade

não foi suficiente. À exceção de Rilkin, to-

dos os outros, Bleuler e mais ou menos nove

membros, queriam aprovar a seguinte deci-

são: durante o período de transição, condi-

ções especiais deveriam ser criadas. Ao

mesmo tempo expressava-se o desejo de

que estes senhores pensassem e aceitas-

sem...”. A nova associação tem 19 membros

no seu começo.

1911Fevereiro: Começo do afastamento de Adler.

As opiniões deste foram discutidas pela As-

sociação Vienense nos dias 8 e 22 de feve-

reiro, após ele ter pronunciado discursos em

4 de janeiro e 1o de fevereiro. Depois da ses-

são do dia 2, tem-se uma reunião do Comitê

durante a qual Adler pede demissão do seu

cargo de árbitro por “incompatibilidade de

sua posição científica com a sua posição na

Associação”. Stekel, representante do me-

diador, assim como outros, sairão em solida-

riedade a Adler.

Março a junho: Freud se livra de Adler. Freud

é presidente do grupo de Viena. Ele escreve

a Jung que “por trás do rigor aparente de

Adler apareceu, na realidade, uma grande

confusão. Que um psicanalista pudesse in-

sistir tanto sobre o eu, eu não podia espe-

rar. Não desempenharia o eu o papel do

estúpido Augusto no circo, que põe seu dedo

em tudo para que os espectadores acreditem

que é ele quem dirige tudo que acontece?”

Quando Adler deixa a associação, saem tam-

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bém D. Bach, S. von Maday e o barão F. von

Hye. O nome de Adler não aparece mais no

número seguinte do Zentralblatt (V. 1, no 10-

11, julho-agosto de 1911). O número é intro-

duzido pela seguinte “declaração”: “Pela

presente, trago ao conhecimento dos leito-

res que eu saio hoje da redação desta revis-

ta. O diretor desta publicação, o sr. Prof.

Freud foi da opinião de que há entre mim e

ele oposições científicas tais, que tornam

sem efeito uma redação comum desta revis-

ta. Eu também tomei a decisão de sair da re-

dação desta revista por minha escolha”. A

partir deste momento o dr. Stekel fica como

único redator-chefe da publicação.

Fusão do Korrespondenzblatt e do

Zentralblatt (o segundo absorve o primeiro

e é alçado ao lugar de órgão oficial da inter-

nacional psicanalítica).

Suicídio de Honnenger: Freud escreve para

Jung, em 2 de março: “Estou impressionado

de quantas pessoas, na verdade, consumi-

mos”.

21-22 de setembro: III Congresso da IPA em

Weimar (presidente: C. J. Jung). A IPA tem

106 membros. J. Putnam assiste a esse en-

contro.

Novembro: Começa a nova revista psicana-

lítica não-médica que, em 1912, se intitulará

Imago (correspondência Freud-Jung: “Este

ano”, escreve Freud a Jung em 31 de dezem-

bro, “quando penso nele, não foi excelente

nem como um todo nem pela nossa causa.

O congresso de Weimar foi bonito, e tam-

bém os dias anteriores em Zurique; eu tive,

em Klobenstein, um curto período de produ-

tividade muito rico em conteúdo. O resto foi

mediano. Mas tais períodos acontecem.”

EUA: 9 de maio, E. Jones e J. J. Putnam fun-

dam a American Psychoanalytic Association

(APA) que reúne membros vindos do Cana-

dá e de todos os EUA (Presidente: Putnam;

Secretário: Jones). Pouco tempo antes, no

dia 12 de fevereiro, Brill forma o primeiro

grupo local americano sob o nome de The

New York Psychoanalytic Association. Ele

recusou que essa associação pudesse admi-

tir membros não-médicos contra a opinião

de Freud.

Índia e Austrália: Em 12 de março, Freud es-

creve para Ferenczi: “Domingo passado, re-

cebi nosso companheiro em posto avançado

Sutherland, de Sagar, na Índia, que é um ho-

mem magnífico; ele traduziu a A interpreta-ção dos sonhos... Ele é apoiado por alguém

mais jovem, Berkeley-Hill, que faz psicaná-

lise com os hindus e encontra confirmação

de tudo junto a eles e ele quer escrever so-

bre isso. Há dois dias, um outro continente

se pronunciou: a Austrália. O secretário do

departamento de neurologia do Congresso

Áustralo-asiático assina o Jahrbuch e me

pede um breve relato sobre as minhas teo-

rias, que sairia nas publicações do Congres-

so, pois elas ainda são completamente

desconhecidas na Austrália. Da África, ain-

da nenhum sinal de vida!” A apresentação

de Freud é publicada em Transactions of theNinth Session, Australian Medical Congress,

em Sidney sob o título “On Psycho-analysis”.

Berkeley-Hill (1879-1944) é médico major em

Bengala, depois em Bombai; assim como

Sutherland, ele adere antes à Associação

Americana, para, depois, se tornar um mem-

bro fundador daquela de Londres. W. D.

Sutherland (1866-1920) é médico do estado

maior em uma academia de cavalaria em

Sanghor.

Andrew Davidson (1869-1938), nascido na

Escócia, é psiquiatra em Sydney; ele é secre-

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tário da sessão de medicina psicológica e de

neurologia do Congresso Médico Áustralo-

asiático.

Alemanha: Dois congressos psicanalíticos

acontecem: um em Munique, dia 7 de setem-

bro, o outro em Weimar, quatro dias mais

tarde.

Espanha: José Ortega y Gasset publica um

longo texto, “A psicanálise, uma ciência pro-

blemática”. O autor é um filósofo importan-

te, para alguns um dos precursores do

Existencialismo, que também se formou na

Alemanha. Ele será o autor de A revolta dasmassas (1929). Por meio da revista Revisitada Occidente, tenta expor e defender as

principais correntes do pensamento cientí-

fico e filosófico da língua alemã.

França: Em maio, S. Freud procura maneiras

de fazer a psicanálise mais conhecida. Des-

de 1900, trabalhos de autores da Suíça fran-

cesa ou da França discutem textos de Freud,

mas muito freqüentemente com o objetivo

de adaptá-los ao “espírito francófono” (sic)

ou fazê-los “mais claros” (sic), afetando sua

originalidade com restos do vocabulário da

hipnose (cf. P. Ladame, 1900; Morichau-

Beauchant, 1911: “A relação afetiva no trata-

mento das psiconeuroses”, em La Gazettedês Hôpitaux Civils et Militaires que Freud

qualifica de “admirável artigo”, que foi igual-

mente muito apreciado por E. Jones; N.

Kostyteff, 1911-1912; A. Hesnard, 1912; Y.

Delage, 1915).

Inglaterra: Freud é convidado a ser membro

correspondente da London Society for

Psychical Research.

Holanda: O Dr. Stärcke, de perto de Utrecht,

pede sua admissão à Associação. O Dr. van

Emden, de Leyde, aprendeu sobre a psica-

nálise por si só e escreve a Freud que ele

tem a intenção de utilizá-la em seus doen-

tes.

Rússia: Na virada entre 1911 e 1912, criação

do Círculo Psicanalítico de Moscou.

1912Janeiro: Rank funda, com Hans Sachs, Ima-go (Zeitschrift für Andwendung derPsychoanalyse auf die Geisteswissen-schafen: Revista para a aplicação da psica-nálise às ciências do espírito). Publicação do

primeiro número em 28 de março no editor

vienense Hugo Heller. Rank é redator-che-

fe de Imago.

“Hans Sachs criou em 1912 a revista Imago,

que ele dirige com Rank; Ao esclarecerem,

por meio da psicanálise, sistemas e persona-

lidades filosóficas, Hitschmann e von

Witerstein lançaram, nessa mesma revista,

trabalhos que fazem esperar que sejam con-

tinuados e aprofundados” (A história do mo-vimento psicanalítico, p. 70).

A Imago se propunha a se especializar, como

proclamava seu título, na aplicação da psi-

canálise nas ciências humanas. Na origem,

“esta nova revista, de modo algum médica”

devia se chamar Eros e Psique. O nome que

adotaram os seus fundadores em homena-

gem à literatura remete explicitamente ao

romance recente do poeta suíço Carl Spitteler

que tinha celebrado o poder do inconscien-

te em uma obscura história de amor. Freud

fica inicialmente preocupado com a Imago,que, apesar dos dois redatores (Rank e

Sachs, todos os dois não-médicos, “bons me-

ninos e brilhantes sujeitos”), corria o risco de

passar por maiores dificuldades que os ou-

tros dois periódicos. Mas os temores foram

logo dissipados. A Imago, relata Freud, no

fim do ano 1912, “vai extraordinariamente

bem”; o volume de assinaturas (230), ale-

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mães majoritariamente, é satisfatório e

Freud se impressiona com a recepção mais

reservada que os vienenses dão à Imago(carta inédita para K. Abraham).

Maio: Freud apresenta à Sociedade de Vie-

na a primeira parte de “Totem e tabu” e, em

outubro, um trabalho intitulado “O destino e

duas mulheres” que fala sobre a psicose.

Junho: Jones estava em Viena, sob o efeito

da secessão de Adler e de Stekel, ele temia

uma ruptura com Jung. No dia 30, com o aval

e em torno de Freud, Jones funda um Comi-

tê secreto composto pelos mais próximos dis-

cípulos e encarregado de cuidar da difusão

da causa analítica. A idéia veio de Rank.

Dele faziam parte S. Ferenczi, O. Rank, K.

Abraham, H. Sachs, E. Jones e S. Freud. E.

Jones se analisou com Freud e, depois, com

S. Ferenczi. Em 1919, Eitingon foi admitido

como sexto membro, por indicação de Freud.

(1o de agosto, carta de S. Freud para E. Jo-

nes): “Eu ouso dizer que para mim seria mais

fácil viver e morrer se eu soubesse que exis-

te uma associação para tomar conta da mi-

nha criação... o que quer que o amanhã

possa nos reservar, o futuro lider do movi-

mento psicanalítico poderia sair deste pe-

queno círculo de homens cuidadosamente

escolhidos, em quem ainda estou disposto a

confiar apesar de minhas recentes decep-

ções”.

Verão: Freud lê A religião dos semitas, de

Roberton Smith, e nele acha a confirmação

dessas idéias que ele pensava serem muito

ousadas. “O livro dá a impressão de circular

sobre a água em uma gôndola.”

Publicações: No início de 1912, Freud e Stekel

tiveram uma idéia. Para se defenderem con-

tra as teses de Jung, Freud queria instaurar

no Zentralblatt um “Comitê de referência”

(Reitler, Hitschmann, Tausk, Ferenczi). Eles

deveriam, em particular, discutir trabalhos

do Jahrbuch no espírito de Freud. Mas Stekel

declarou que ele jamais admitiria que V.

Tausk escrevesse no seu jornal (carta de 27

de outubro para Ferenczi). Como o editor

Bergman não aceitou o afastamento de

Stekel como redator, Freud, durante o con-

gresso dos dirigentes das Associações psica-

nalíticas locais, em Munique, prefere deixar

o Zentralblatt para Stekel e fundar o

International Zeitschrift für arztlichePsychoanalyse. Offizialles Organ desInternationalen PsychoanalytischeVerneinug (ed. H. Heller). Ele escreve para

Jones para pedir que tire o seu nome do co-

mitê do periódico de Stekel. O. Rank e S.

Ferenczi são redatores do InternationaleZeitschrift. A partir de 1939, a revista se uni-

ria com a Imago. O no 1 está previsto para

meados de janeiro de 1913.

Stekel manifesta fortes propensões a fazer

do Zentralblatt seu território. Ruptura viru-

lenta e intempestiva com Freud (cf. abaixo).

Novembro: “O congresso fez oficialmente do

Zentralblatt seu órgão” (carta de Jones a

Freud, 6 de novembro)

Dezembro: No dia 2, um acordo provisório se

dá entre o editor J. F. Bergmann e C. G. Jung

relativo à separação entre o Korrespon-

denzblatt e o Zentralblatt.França: 2 de janeiro de 1912, em uma carta

de K. Abraham para S. Freud: “Os últimos

bons augúrios vêm, o que é impressionante,

da França. Com Morichau-Beauchant, de

Poitiers, nós ganhamos um apoio sólido, e

hoje recebi uma carta de um aluno de Régis,

em Bordeaux, que da parte deste último, e

em nome da psiquiatria francesa, apresen-

ta desculpas pelo desdém com que a psica-

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nálise foi tratada até o presente na França

e se declara pronto a publicar em

L’Encéphale um longo artigo sobre ela.”

Inglaterra: Publicação de um manual, “A psi-

cologia da loucura”, de Bernard Hart, lison-

jeiro à psicanálise.

1913Janeiro: Freud apresenta à Sociedade de

Viena, a segunda parte de ”Totem e tabu”.

25 de maio: Primeira reunião do Comitê se-

creto. Nesta ocasião, Freud oferece aos seus

discípulos membros do Comitê um anel de

entalhe grego da sua coleção.

Publicações: K. Abraham constata que Stekel

tinha dificuldades para manter o

Zentralblatt, que estava a beira da falência.

Setembro: IV Congresso da IPA em Munique

(presidente: C. G. Jung). Os partidários de

Freud obrigaram Jung a se demitir de suas

funções de redator-chefe do Jahrbuch (de-

missão efetiva em 27 de outubro) que será

nomeado Jahrbuch der Psychoanalyse. Este

novo Jahrbuch, V. 2, (1913), traz à página 757

os seguintes comunicados:

Declaração do Prof. Bleuler: “Este volume

acabado, eu me desligo da minha função de

redator da redação, mas continuarei, obvia-

mente, a manter todo o meu interesse na

revista”.

Declaração da Redação: “Vi-me obrigado a

me demitir da posição de redator do

Jahrbuch. As razões da minha demissão são

de natureza pessoal, por isso, eu dispenso

uma discussão pública” (C.G. Jung).

Comunicado do editor: “Depois da demissão

do Prof. Bleuler e de Dr. Jung, o Prof. Dr.

Freud continuará a publicação do Jahrbuch.

O próximo volume sairá no meio de 1914

sob o título de Jahrbuch der Psychoanalyse.

Redigido pelo Dr. K. Abraham (Berlim) e

pelo Dr. Hitschman (Viena).

“A publicação não visa mais, como no pas-

sado, servir de arquivo aos trabalhos relati-

vos a este domínio, mas sim cumprir sua

missão por meio de uma atividade redacio-

nal que pretende discutir todos os métodos

e todas as aquisições relativas à psicanáli-

se” Freud (A história..., p. 87).

EUA: No inverno, criação por Whithe e

Jelliffe, em Nova York, de uma nova revis-

ta exclusivamente dedicada à psicanálise.

The Psychoanalytic Review. An Educa-tionnal American Journal of Psychoanalysis.

França: Publicação, em L’Encéphale de 10 de

abril de “A doutrina de Freud e sua escola”,

importante artigo de A. Hesnard, médico da

marinha nacional e do Prof. Emmanuel

Régis. Angelo Louis Marie Hesnard, assisten-

te do professor E. Régis na Clínica das

Doenças Mentais de Bordeaux, traduz e co-

menta as posições freudianas.

Inglaterra: Fundação da London Psycho-

Analytical Society. A associação conta com

treze membros, dos quais quatro exercem a

psicanálise.

Em Londres, no XVII Congresso de Medicina,

Pierre Janet apresenta um comunicado so-

bre a “psicanálise”, ou, contra Freud, ele

avança a hipótese de uma depressão men-

tal na origem do estreitamento do campo da

consciência. Ele sublinha que, a seu var, o

método de Freud não é experimentável e

refuta a importância da sexualidade na gê-

nese dos problemas psicológicos. Durante a

discussão, ele é criticado por Jung e Jones.

É neste contexto de críticas e de polêmicas

que, a pedido de E. Rignano, Freud publica

seu artigo sobre “O interesse da psicanálise”

na revista Scienta (revista italiana fundada

por E. Rignano e F. Enriquez, importante

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foro internacional da metodologia científica)

Hungria: em maio, criação da Sociedade Psi-

canalítica de Budapeste por S. Ferenczi. Em

torno dele, Sándor Rado (estudante de me-

dicina), István Hollos (psiquiatra), Hugo

Ignotius (jornalista e redator-chefe da revis-

ta Nyugat, “Occidente”). Esta sociedade re-

velar-se-ia, com aquela de Viena, o centro

intelectual mais importante para a psicaná-

lise. A partir de 1919, juntar-se-ão a eles:

Imre Hermann, Melanie Klein, Geza Rohein,

René Spitz, Eugénie Sokolnicka.

Suíça: Para concluir a ruptura com Jung que

se uniu a Riklin, Freud quer romper toda li-

gação com o grupo de Zurique. Ele pensa na

seguinte manobra: dissolver a Associação

Internacional de Psicanálise colocando um

pedido de dissolução na Central, pedido as-

sinado pelos três grupos: o de Viena, o de

Berlim e o de Budapeste. Se Jung não der

seqüência, os três grupos podem se retirar e

fundar imediatamente uma nova associa-

ção.

A partir desta ruptura se coloca a questão

dos mecanismos específicos da psicose e

das vias de seu tratamento pela psicaná-

lise.

1914Publicação, em Viena, do livro de L. Kaplan,

Grundzüge der Psychoanalyse (Fundamen-

tos da psicanálise), um dos primeiros resu-

mos sistemáticos da teoria de Freud. O Dr.

Léo Kaplan (1876-1956), nascido na Rússia,

muda-se para Zurique em 1897 e aí perma-

nece até a sua morte. A partir de 1910, ele

se volta para a psicanálise, mas não se liga

a qualquer associação científica.

Brasil: Genserico Aragão de Souza Pinto pu-

blica “Da psicanálise, a sexualidade nas

neuroses”.

França: Publicação de A psicanálise das neu-roses e das psicoses, de A. Hesnard e do

Professor Emmanuel Régis. A obra será re-

editada em 1922 e 1929. Seu prefácio é elo-

qüente: “Talvez nos impressionemos ao ver

esta vulgarização de uma teoria alemã, ao

mesmo tempo, tão exaltada e tão contesta-

da e, sob certos aspectos tão estranha, pra-

ticada por psiquiatras franceses que não

chegam a sacrificar além da medida à moda

atual do germanismo científico (...). A impar-

cialidade independente em relação ao es-

trangeiro não poderia ser confundida com a

xenofobia (...). Apesar de seus exageros, de

seus excessos, de seus aspectos místicos, e

mesmo de suas estranhezas, esta doutrina

está longe de não ser grandiosa”.

Hungria: Ferenczi, que estava em Viena, é

chamado para Hungria a fim de servir como

médico de um corpo de hussardos baseado

em Papa, a uns 120km de Budapeste.

Itália: Marco Levi-Bianchini, mestre de con-

ferências em Nápoles, redator-chefe do

Manicomio (coleção de obras psiquiátricas,

publicadas pelo Archivio di Psichiatria eScienci Affini, Nocera Superiore-Nápoles) faz

a tradução das nove conferências america-

nas (de Freud e Jung. Ele traduzirá as cinco

conferências de Freud). Oferece também

uma troca de revistas. Propostas que Freud

aceita (carta para Ferenczi de 30 de outu-

bro). Marco Levi-Bianchini (1875-1961) inte-

ressa-se desde 1900 pela psicanálise, mesmo

que expressando reservas sobre a teoria da

sexualidade. Membro fundador em 1925 da

Sociedade Italiana de Psicanálise, será o seu

presidente de honra até a sua morte. Mem-

bro, igualmente, da Associação vienense

(1922-1936), a Sociedade Italiana não faz par-

te da IPA. Mesmo sendo membro do partido

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fascista, Marco Levi-Bianchini foi suspenso

das suas funções em 1938, em razão de sua

origem judia. Ele será um dos raros membros

da Sociedade Italiana a não emigrar e publi-

ca um livro sobre Freud em 1940. Sua tradu-

ção das Cinco Psicanálises é publicada em

1915 e constitui o primeiro volume da Biblio-

teca Scientifica, fundada por ele mesmo e

que se tornará a Bibliot. Pychoan. Int.

Suíça: 20 de abril, demissão de Jung da Pre-

sidência da Associação Internacional. Em

julho, a seção de Zurique sai da Associação

Internacional (por 15 votos contra um).

Pfister, no dia 13 de julho, depois, no dia 28,

Binswanger, que não pôde participar da vo-

tação, mas que tinha anunciado sua inten-

ção a Maeder de votar contra uma cisão,

pedem para fazer parte do grupo vienense.

Nova Guiné: B. Malinowski está entre os

Mailu, na Nova Guiné, depois vai às Ilhas

Trobiand. Ele criticará e avaliará as teses

propostas por Freud em “Totem e tabu”.

1915As revistas de psicanálise vão sofrer com a

guerra. Arrebatado pela máquina militar,

Rank é nomeado redator-chefe de um jornal

de propaganda em Cracóvia. Estas funções

entediantes parecem para Freud um mal

negócio quase criminoso. Há pouco tempo e

quase nada de dinheiro disponível para os

vários periódicos psicanalíticos. O Jahrbuch(editor: Deuticke) deixa de ser impresso, e a

Imago e o Internationale Zeitschrift fürPsychoanalyse (fundado em 1913) suportam

a situação reduzindo-se consideravelmente.

Freud delega a Ferenczi o cuidado de man-

ter viva a Zeitschrift für Psychoanalyse lan-

çada em 1915, a dos anos 1916-1917 será

impressa somente em 1918. A Imago não

é publicada em 1915, e deverá, mais uma

vez, sofrer interrupção em 1917 e 1918.

Dois livros falam de psicanálise e são lidos

cuidadosamente por Freud. São os livros Onhuman motives, de Putnam, em Boston e DeBahandeling von Zenuwizieken door

Psycho-Analyse (O tratamento dos doentesdos nervos pela psicanálise), de Adolf

Fredrik Meijer, em Amsterdã. “O livro de

Putnam é intencionalmente vulgarizador,

caso contrário eu diria que é ruim. Gentil e

fiel também (Jung não é citado, Ferenczi

está presente) (...). A psicanálise holandesa

vem de A. Meijer (...) correta, razoável. Um

homem novo. Ele foi analisado por um alu-

no de Jung, mas constrói um julgamento se-

gundo o qual as afirmações de Jung teriam

sido antecipadas por mim, que ele não teria

dito nada de novo” (Freud para Ferenczi, dia

10 de julho).

Inverno 1915/1916: Freud profere o seu pri-

meiro ciclo das 28 conferências na Univer-

sidade de Viena.

Argentina: Honorio Delgado que foi um dos

grande precursores do desenvolvimento da

psicanálise na Argentina, trabalhou desde

1915 para disseminar os trabalhos de Freud

entre seus colegas, ainda que houvesse uma

profunda ambivalência que o levava, fre-

qüentemente, a deformar o pensamento de

Freud. Sua primeira divulgação, em 1915, pu-

blicada em El Commercio, comenta o artigo

de Freud, “O interesse pela psicanálise”.

Prússia Oriental: Abraham é enviado como

voluntário para dirigir o hospital de

Allenstein, onde fica até o fim das hosti-

lidades.

1916Com a guerra, Rank se alista na artilharia

pesada a partir de julho de 1915, e vai para

a Cracóvia, para desgosto de Freud. Sachs o

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substitui nas atividades da Associação vie-

nense. Durante os três anos de guerra, Rank

publicará Krakaue Zeitung.

Inverno de 1916/1917: Freud profere o segun-

do ciclo das 28 conferências na Universida-

de de Viena.

Outra publicação de Kaplan, Problemas psi-canalíticos, que Freud julga politicamente

digna de elogios, mas “fora isso, nem profun-

da, nem ambiciosa”.

Março: G. Roheim (1891-1953) com 35 anos,

começa seu tratamento psicanalítico com S.

Ferenczi. Roheim fará uma segunda análise

com Vilma Kovacks, depois ele se torna psi-

canalista na Associação húngara.

Freud será indicado para o prêmio Nobel de

Literatura, por Barany.

Japão: Kiyoyasu Marui forma-se em psicopa-

tologia e em psicanálise na John Hopkins

Univesity (EUA) sob a direção de Adolph

Meyer. Ele ficará em Baltimore até 1919. Seus

alunos no Japão, sobretudo Kosawa, cons-

truirão as bases da psicanálise no Japão.

Holanda: Perto do final do ano, criação da

Nederlandse Vereniging voor Psychoanalyse

(NVP, Holanda) por J. Van Ophuijsen, que

pareceu, antes, ser mais junguiano.

1917S. Freud resolve escrever um ensaio sobre as

repercussões das teorias de J. B. Lamarck

sobre a psicanálise (cf. seu texto sobre a

metapsicologia de 1915: “Neurose de transfe-

rência: uma síntese”).

Morre, na Holanda, J. Stärcke – “provavel-

mente uma verdadeira perda” (Freud para

Ferenczi, dia 29 de maio).

Adesões de Anton von Freund ,que Freud

havia conhecido no ano anterior ao tratá-lo

de uma neurose que se desenvolveu após a

retirada de um sarcoma de testículo),

Groddeck (que mandou para Freud seus tra-

balhos) e de Pötzl. Este último proferiu, na

Universidade de Viena, conferências descre-

vendo experiências relativas aos sonhos

que devem confirmar as teorias freudianas;

Freud assiste a seus cursos e o convida para

freqüentar as reuniões da Sociedade Vie-

nense.

Verão: Morte, no front, de H. Graff, filho úni-

co de Rosa, irmã preferida de S. Freud.

Hungria: Em janeiro, S. Ferenczi propõe

como tema de conferência para o público de

Budapeste, “A neurose como instituição so-

cial” (ele acrescenta para Freud: “Tema que

vocês tinham prometido a M. Bubber”).

1918Estados Unidos: Em novembro, morte de J.J.

Putnam (anunciada a Freud por Jones em

dezembro).

Inglaterra: Publicação em The Lancet do ar-

tigo de Williams H. Rivers, “O recalcamento

da experiência de guerra”, que revoluciona

a teoria do traumatismo inclusive em di-

mensão transferencial.

Hungria: 23 de março, reconstituição da As-

sociação Psicanalítica húngara. Com o retor-

no dos médicos militares, o número de

clínicos da psicanálise passou para cinco:

Hollos, Harnik, Pfeifer, Rado e Ferenczi.

O ministro da guerra contatou Ferenczi para

fundar um tipo de clínica para os ex-comba-

tentes em Budapeste. Ferenczi sugere que

Eitingon trabalhe como seu assistente, mas

o Estado negou o pedido, porque Eitingon

não era húngaro.

Em outubro, circula uma petição que recolhe

180 assinaturas, para que Ferenczi seja au-

torizado pelo Reitor da Universidade a le-

cionar psicanálise.

Dias 28 e 29 de setembro, Ferenczi e von

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Freund organizam o V Congresso da IPA em

Budapeste (presidente K. Abraham). O con-

gresso acontece na Academia de Ciências

com a presença de representantes dos go-

vernos alemão, austríaco e húngaro. No con-

gresso, a importância das neuroses de guerra

sobre as quais Ferenczi trabalhou é eviden-

ciada por Freud (intervenção sobre DieKriegsneurosen und ihre Psychoanalyse),Ferenczi, Simmel e Abraham. Roheim inter-

vém sobre Das Selbst. Eine Volkspsycho-logie-Studie. Os trabalhos são saudados com

um entusiasmo que tem como conseqüência

projetar a criação de clínicas e de hospitais

psiquiátricos sobre a base dos princípios psi-

canalíticos, pela Alemanha, Áustria e Hun-

gria. Aparece, então, um novo papel para a

psicanálise, com implicações políticas: a

vontade de remediar problemas sociais. Du-

rante o congresso, H. Nünberg propõe pela

primeira vez que uma das condições neces-

sárias para ser psicanalista seja ter passado

por uma psicanálise. S. Ferenczi e O. Rank

se opõem ao voto de uma moção neste sen-

tido. S. Freud considera que o centro da psi-

canálise se encontra na Hungria, país

onde Ferenczi e a psicanálise gozam de um

breve período de apoio liberal sob o minis-

tério de Mihaly Karoly.

Ferenczi é eleito presidente da Associação

Internacional.

Polônia: Ernst Simmel, médico-chefe do

hospital de Posen (Silésia), intro d u z o s

princípios da cura psicanalítica e da cura

catártica no tratamento dos pacientes.

Ele escreve uma obra Neuroses de guerrae traumatismo ps íqu ico . Es ta obra é

saudada por Freud: “Aqui temos, pela

primeira vez, um médico alemão que se

s i t u a i n t e i r a m ente, sem condescen-

dência, sobre o terreno da psicanálise”.

Anna Freud começa a se analisar com o seu

pai. Sigmund Freud declara a E. Weiss que é

fácil analisar sua filha e, a Ferenczi, que o

tratamento será “elegante”.

17 de novembro: Carta circular de Freud para

Ferenczi, von Freund e Rank para empregar

os interesses da fundação na criação de

dois prêmios anuais, um para um trabalho

médico, o outro para um trabalho que usa

com sucesso a análise a um tema não-mé-

dico (“do tipo Seitschrift ou Imago”)

1919Janeiro: criação da Internationale

Psychoanalytsche Verlag (diretores: Freud,

Ferenczi, Rank, von Freund). Uma doação

generosa de Anton von Freund (Antal von

Freund von Töszeghi, 1880-1920), paciente

de Freud e próximo do grupo de Budapeste,

permite financiar uma editora dedicada à

análise: a Verlag. Rank, um dos membros

fundadores, torna-se o diretor. A Verlag se-

ria destruída em março de 1938 em Viena

pelos nazistas, depois da Anschluss. Anton

von Freund, filho de um rico produtor de cer-

veja húngaro, produtor ele mesmo e doutor

em filosofia, é membro do “Comitê secreto”.

A análise de von Freund por Freud é parti-

cularmente interessante, inclusive a do “fan-

tasma neurótico” de “tornar o pai rico”. A

International Psychoanalytischer Verlag

passa para a gestão de Rank.

Março: K. Abraham pede a Freud que retome

a experiência do Jahrbuch. “Eu continuo a

pensar que a extinção do Jahrbuch foi um

erro. Agora que temos justamente uma edi-

tora nossa, deveria existir, além da

Zeitschrift à qual nós assinamos, um

Jahrbuch que compramos para ficar a par do

estado da ciência. Os relatos de obra atu-

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lham inutilmente a Zeitschrift” (cf. carta de

Freud para Abraham, 1919. “Seu convite para

recolocar o Jarhbuch em marcha apela igual-

mente para um exame minucioso e poderá

intervir em seus encontros com Rank. As di-

ficuldades parecem-me hoje maiores que a

necessidade. Dada a enormidade de taxas

para a impressão, a editora já arca com o

compromisso pesado de duas revistas. Além

disso, a terceira estaria limitada a um públi-

co puramente psicanalítico cujo poder de

compra não é grande. Talvez possamos in-

citar Deiticke a retomar o Jarhbuch; mas

temo que o material que produzimos duran-

te um ano não basta para alimentá-lo”).

Abril: Em Leipzig, sob a iniciativa do estudan-

te em medicina Karl H. Voitel, é fundada uma

Sociedade para a pesquisa psicanalítica.

Maio: “Sachs dá cursos para um bom público

pagante” (S. Freud para S. Ferenczi).

Julho: Carta de Freud para O. Pfister: “O Dr.

Tausk pôs fim à sua vida. Um grande dom,

mas um ser perseguido pelo destino, uma ví-

tima posterior da guerra; você o conheceu?”.

Alemanha: Max Eitingon e Ernest Simmel

apresentam à Sociedade Psicanalítica de

Berlim, então presidida por K. Abraham, o

projeto de uma policlínica onde tratamentos

psicanalíticos podiam ser feitos gratuita-

mente, segundo um desejo expresso por

Freud de que as classes baixas sejam bene-

ficiadas pelo cuidado psicanalítico. O Insti-

tuto será fundado no ano seguinte; seu

estatuto, elaborado em 1923.

França: Jean Piaget, morando em Paris, pro-

fere uma conferência sobre a psicanálise e

psicologia da criança na Sociedade Binet.

Esse texto fez dele um dos primeiros apre-

sentadores de teses freudianas na França.

Inglaterra: Em fevereiro, dez membros da

London Psycho-Analytical Society ligados à

obra freudiana desfazem o grupo e recome-

çam sob o nome British Psycho-Analytical

Society, que será a sétima componente da

IPA. Eles têm Jones como presidente.

Março: E. Jones encontra O. Rank na Suíça

com o objetivo de criar uma filial da

Internationale Psychoanalytische Verlag em

Londres.

Hungria: Em março/abril, quando o regime

liberal de Karolyi cai e é substituído pelo go-

verno comunista de Béla Kun, Ferenczi é

nomeado para a “República dos Conselhos”

no posto de professor de psicanálise (o pri-

meiro no mundo) na Universidade de Buda-

peste. Roheim estará entre os professores

nomeados.

Em agosto, depois do “terror vermelho”, o

“terror branco”; um grupo de comandos an-

ticomunistas e ferozmente anti-semitas in-

fluenciam o poder que exerce o

contra-almirante Miklos Horty de Nagybana

depois que ele depôs B. Kun. O professora-

do de Ferenczi lhe é retirado. Em 1920, ele

será excluído da Associação dos médicos

húngaros. Melanie Klein apresenta para a

Sociedade Húngara de Psicanálise seu pri-

meiro caso de análise de criança, “Der

Familienroman in statu nascendi”, que lhe

vale a admissão como membro e sem super-

visão. Ela expõe, sob o nome de Fritz, a aná-

lise do seu filho Erich que é observado desde

os três anos de idade.

Nestas circunstâncias, o Comitê Secreto

(criado em 1912) considera mais prudente

confiar a presidência da IPA a Jones, resi-

dente na Inglaterra. Ferenczi pede demis-

são de seu cargo.

Suíça: Criação do Grupo Psicanalítico de Ge-

nebra presidido por E. Claparède. Entre os

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membros: Pierre Bovet, Henri Flournoy,

Charles Odier, Raymond de Saussure.

192020 de janeiro: Morte de Anton von Freund,

em conseqüência do câncer de próstata, no

Cottage-Sanatorium de Viena, onde Freud o

visitou diariamente em seus últimos dias.

Freud é nomeado professor titular da Facul-

dade de Medicina da Universidade de Viena.

Cinco dias mais tarde morre uma de suas fi-

lhas, Sophia.

A partir do vol. 6 da Zeitschrift, desaparece

do seu título a menção ärztliche (médico).

De 8 a 11 de setembro, o V Congresso da IPA

em Haia (presidente: E. Jones). Primeiro

congresso internacional depois da Primeira

Guerra Mundial que devia, segundo Jones,

acontecer em um país neutro. Binswanger

faz uma conferência sobre “Psicanálise e

psiquiatria clínica”. Começo dos grandes de-

bates sobre a terapia, sua técnica e os seus

métodos. Geza Roheim está presente. Freud

intervém lendo “Suplementos à teoria dos

sonhos”.

Após esse congresso, Jones é nomeado pre-

sidente do comitê secreto. Freud propõe que

os membros deste Comitê troquem

Rundbriefe, ou cartas circulares. Essas car-

tas seriam semanais. Elas vão de duas a sete

páginas datilografadas.

Alemanha: Max Eitingon e Ernst Simmel

criam, em Berlim, uma policlínica psicanalí-

tica. A capital alemã se une à cidade de

Viena na vanguarda da psicologia médica.

Bélgica: Fernand Lechat, sua esposa Camille

e Maurice Dugautiez, intitula-se psiquistas,

estabelecendo em 1920 um Círculo de estu-

dos psíquicos onde são praticados, além da

psicanálise, o espiritismo e a hipnose.

França: Eugénie Sokolnicka muda-se para a

Franca, com a permissão de Freud. Introdu-

zida por Georges Heuyer no hospital Sainte-

Anne, ela analisa médicos psiquiatras do

serviço do Prof. H. Claude.

China: Zhang Dongsu, filósofo e reformador

social, inquieto com a eventual propagação

do comunismo na China depois da revolução

bolchevique, vê em algumas teses freudia-

nas um corpo teórico apto a apoiá-lo em sua

crítica ao marxismo. Ele publica na revista

Minfeng (O sino do povo) um artigo, “A psi-

canálise”, mencionando a colaboração de

Freud com Breuer, a cura pela palavra, a

teoria do recalcamento e da censura.

Inglaterra e EUA: E. Jones publica TheInternational Journal of Psychoanalysis na

Inglaterra e nos EUA (cf. carta de Freud para

Abraham, 1919); essa revista tornar-se-á, em

1941, o órgão oficial da IPA. Na Inglaterra, tra-

dução de Além do princípio de prazer publi-

cado pela editora Hogarth Press.

Inauguração, na Tavistock Square, 51,

Bloomsbury, Londres, por Hugh Crichton-

Miller, da Tavistock Clinic, primeiro centro

psicodinâmico de consulta externa conven-

cionada na Inglaterra. As psicanalistas Su-

san Isaacs e Karin Stephen fazem parte do

programa de formação dessa clínica.

Rank e Jones são nomeados membros hono-

rários da Sociedade britânica.

República Tcheca: Chegada a Praga de

Roman Jakobson, fundador do Círculo lin-

güístico de Praga, cujas pesquisas sobre o

método estrutural vão inspirar, bem mais

tarde, Claude Lévi-Strauss e J. Lacan.

1921G. Roheim ganha o prêmio Freud dedicado a

trabalhos de psicanálise aplicada.

França: Primeira tradução de um texto de

Freud em francês, Introdução à psicanálise

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(tradução na Payot, por S. Jankélévitch).

André Breton viaja para Viena para encon-

trar Freud.

Itália: A revista fundada por M. Levi-Bian-

chini, Archivio Generale di Neurologia e

Psychiatria acrescenta a menção ePsicoanalisi.Tchecoslováquia: N. J. Ossipov, psiquiatra e

fundador da Associação Psicanalítica de

Moscou se refugia em Praga. Ele é rapida-

mente nomeado para a Faculdade de Medi-

cina da Universidade Charles como

responsável pelos seminários de psicanáli-

se clínica. Assim Praga torna-se uma das

primeiras cidades européias com ensino uni-

versitário de psicanálise, depois de Budapes-

te onde ensina Ferenczi. Ossipov reúne em

torno de si um grupo de emigrantes russos

entre os quais Th. Dosuzkov. Ele mantém

contato também com o psiquiatra tcheco

Stuchlik, que trabalhou em Munique com

Kraepelin, depois com Bleuer no Burghölzli,

e freqüentou, em 1917, os seminários da So-

ciedade Psicanalítica de Viena. O primeiro

psicanalista tcheco formado de acordo com

as regras da psicanálise didática é E.

Windholz, formado no Instituto de Berlim.

China: Bertrand Russel, em uma turnê de

conferências em Pequim, sobre o seu livro Aanálise do espírito, publicado nesse ano,

evoca o inconsciente em uma conferência.

Ele é convidado por Zhang Dongsu.

1922Ferenczi e Abraham vêm dar conferências

em Viena (janeiro).

Abertura, em Viena, de uma clínica psicana-

lítica – “O ambulatório” – sob a direção de

alunos de Freud, H. Deutsch, Federn e

Hitschmann. Freud não participará dos tra-

balhos da clínica que focariam mais especi-

ficamente as psicoses, tornando-se também

o lugar principal para as supervisões dos es-

tudantes. O ambulatório funcionava com

fundos privados; cada analista podia parti-

cipar recebendo um paciente em cada cinco,

gratuitamente. Eles podiam recebê-los ou

nos seus consultórios privados, ou no Ambu-

latório, ou dar ao centro o dinheiro corres-

pondente a uma cura. Freud dava ao

Ambulatório uma grande parte dos fundos

oferecidos para o seu 70o aniversário. Cada

analista em formação era obrigado a formar

gratuitamente dois estudantes. Foi este o

caso do primeiro analista assalariado do

Ambulatório, Richard Sterba. Riech foi o pri-

meiro assistente de Hitschmann no ambula-

tório. Houve, por parte do meio psiquiátrico,

hostilidade significativa a esta iniciativa.

Alemanha: No dia 20 de fevereiro, nomea-

ção do centro aberto em Berlim desde 1920

por Simmel e Eitingon; será o Berliner

Psychoanalytisches Institut.

23-27 de setembro, o VII Congresso da IPA em

Berlim (presidente: E. Jones). Começo das

controvérsias sobre a sexualidade feminina.

Freud fará uma comunicação, não publicada,

Algo inconsciente, e Abraham uma comuni-

cação sobre a melancolia. A partir desse

congresso, Binswanger marca sua distância

em relação à psicanálise (cf. Diário de

Binswanger – 23 de setembro de 1922). Jean

Piaget participa desse congresso.

Na Rundbrief de Viena, de 1o de novembro,

foi proposto levar as atividades do Verlag

para Berlim, devido à situação econômica na

Áustria.

Argentina: Eugène Mouchet, professor de

psicologia experimental e de fisiologia intro-

duz em seus cursos uma referência crítica à

psicanálise.

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Espanha: Um editor madrilenho, José Ruiz

Castillo se propõe, aconselhado por José Or-

tega y Gasset a traduzir as obras de Freud.

O tradutor é D. Luis Lopez-Ballesteros y de

Torres. A publicação desta tradução, a pri-

meira das obras completas no mundo, fica-

rá pronta em dez anos.

França: Em janeiro, início em Paris da “tem-

porada Freud”. Os meios literários colocam

na moda a psicanálise.

Inglaterra: Tradução do “Leonardo” de Freud

é reservada aos médicos.

Rússia: Em março criação, em Kazan, de uma

Sociedade psicanalítica colocada sob a dire-

ção de Alexandre Luria, reunindo majorita-

riamente médicos.

Maio: Criação de uma associação psicanalí-

tica russa que reuniu o grupo de Moscou e

aquele de Kazan.

S. Freud defende a adesão da Sociedade Psi-

canalítica de Moscou à IPA, Jones nega. Ela

será aceita em 1924.

Suíça: Henri Flournoy (filho de Th. Flournoy)

muda-se para Genebra como psiquiatra e

psicanalista.

1923Freud apresenta os primeiros sinais de um

tumor no maxilar direito.

Projeto de apresentar a obra de Freud em

uma edição completa: Gesammelte Schriften

(Escritos reunidos).

Rank devolve a Abraham a direção e a total

responsabilidade sobre a Korrespondezblatt(boletins locais).

Freud confidencia a Ferenczi, em 25 de ja-

neiro, que ele e Rank “mexeram os pauzi-

nhos” para obter a separação da Press(britânica) e da Verlag.

Ferenczi e Rank criticam os esforços de

Eitingon para implantar a psicanálise em

Paris e em Moscou. Ferenczi condena os elo-

gios com que Eitingon cobre R. Laforgue, que

parecia assim minimizar as contribuições de

sua própria analisanda, E. Sokolnicka.

França: 28 de outubro, primeiro encontro

entre M. Eitingon e R. Laforgue para criar

uma sociedade psicanalítica em Paris. S.

Jankélévitch traduz Totem e tabu (Payot).

Argentina: O médico espanhol Gonzalez La-

fora dá conferências sobre a psicanálise na

Faculdade de Medicina.

Austrália: G. Roheim vai para a Austrália

central e para a ilha Normanby.

Romênia: Um aluno de Charcot, George Ma-

rinescu, publica dois artigos que informarão

os intelectuais romenos sobre a psicanálise,

“Introdução ao estudo da psicanálise” e “Crí-

tica da teoria freudiana”.

Rússia: Criação de um Instituto de Psicaná-

lise de Estado. Tradução de Totem e tabu que

seria publicada pelas Edições de Estado, di-

rigidas pelo matemático Otto Schmidt. Al-

guns anos mais tarde, Trotski falará de seu

interesse pelo freudismo que considera subs-

tituir e confirmar a corrente pavloviana.

Esse interesse será reforçado pela publica-

ção de O mal-estar na civilização.

1924Congresso de Salzburgo, sem Freud.

Depois do retorno de Eitingon, Freud, ape-

lando para Rado, provoca um encontro com

Abraham e Sachs para resolver a situação de

Rank. Sua partida é obtida. “Nós perdemos

um dos nossos melhores quadros, mas ele

era apenas um entre nós” (Freud, 12 de no-

vembro de 1924, para K. Abraham). A. J. Stor-

fer, psicanalista vienense de origem

romena, substitui Rank no posto de diretor

geral da Internationale Psychoanalytsche

Verlag e assumirá essa função até 1932.

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Bélgica: Publicação de um número especial

da revista Le Disque vert (dir.: F. Hellens),

integralmente dedicada a controvérsias e

homenagens à psicanálise. Psicanalistas,

sumidades médicas e literárias, alguns pró-

ximos do surrealismo são publicados: G.

Dwelshauwers (posteriormente diretor do

Laboratório de Psicologia experimental da

Catalunha, mostra-se muito reservado frente

à psicanálise), V. Larbaud, A. Ombredane, H.

Michaux, R. Crevel, F. Hellens (diretor da

publicação, ele se aproximou posteriormen-

te das teses de Jung). Podemos citar Crevel:

“A psicanálise nos permite nos encontrar; é

muito, quando pensamos no caos da civili-

zação; na verdade, ela deu a noção de uma

disciplina mais do que uma nova ciência. Aos

mais audaciosos, ela permite encontrar uma

moral e, mais uma vez, esta moral é indivi-

dual, e é mais uma moral do que uma higie-

ne da alma”; e de Larbaud: “O desejo, ou a

mania, de atribuir à sexualidade um papel

preponderante, se não exclusivo, nos fenô-

menos da emoção dá a todos os desenvol-

vimentos da doutrina de Freud um caráter

preconcebido que nos torna desconfiados.

E, de resto, se há muitas coisas interessan-

tes nos trabalhos de Freud, existem também

muitos pontos que nos parecem arbitrários

ou grosseiramente deduzidos”; de H.

Michaux, enfim: “Se eu examino a loucura,

eu encontro o orgulho. Muito mais loucos

falam sobre o orgulho do que sobre a libi-

do. Mesmo no sonho, o instinto de conser-

vação, o instinto de dominação, o instinto

de cupidez se encontram. Freud vê nos so-

nhos varas simbólicas. Eu vejo punhos, pra-

tos da fome, casas de avareza. O amor

próprio é o instinto intrínseco do homem.”

Julien Varendonck (1879-1924), que foi alu-

no de Freud e autor de The Psychology ofDay-dreams (Psicologia dos sonhos de vigí-lia, Londres: Allen Unwin, 1921, prefácio de

S. Freud e tradução de A. Freud), passa uma

temporada em Viena em 1923 para aprofun-

dar sua formação, abre um consultório em

Gand. Ele morreu muito rapidamente para

encontrar analisandos e alunos aptos a se-

guir seu caminho.

Brasil: Em Porto Alegre, João Cesar de Cas-

tro publica Concepção freudiana das psico-neuroses.

EUA: A American Psichoanalytic Association

vota uma resolução excluindo todos os psi-

canalistas não-médicos.

Rank dá conferências em Nova York fre-

qüentado por um público numeroso.

França: Publicação do livro de R. Laforgue e

R. Allendy, prefaciado por H. Claude e pelo

Dr. Lorge, A psicanálise das neuroses.

Eugénie Sokolnicka redige o primeiro artigo

sobre a psicanálise no Tratado de patologiamédica, de Emile Sergent.

Publicação do artigo de G. Politzer, “O mito

da antipsicanálise”, que defende a obra de

Freud e mesmo reprovando-lhe continuar o

viés da psicologia clássica: formalismo, abs-

tração e idealismo.

Inglaterra: Os membros da Sociedade britâ-

nica de Psicanálise, fundada em 1919, criam

o Institute of Psychoanalysis. Os primeiros

objetivos eram tratar de questões de tesou-

raria e das publicações. Em seguida, o insti-

tuto assumirá tarefas mais amplas:

administração da clínica e formação.

192520 de junho: Morte de Joseph Breuer aos 84

anos.

Entre 2 e 5 de setembro: IX Congresso da IPA

em Bad-Homburg, na Alemanha (presiden-

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te: K. Abraham). Anna Freud lê um texto

que seu pai havia escrito especialmente para

a ocasião: “Algumas conseqüências psíquicas

da diferença anatômica dos sexos”. O esta-

do de saúde de Freud o impede de participar

do congresso, e, a partir desse momento, ele

não irá mais aos congressos de psicanálise.

M. Eitingon instaura as regras da psicanáli-

se didática aplicáveis a todas as sociedades

da IPA mediante uma International Training

Commission (ITC).

25 de dezembro: Morte de K. Abraham.

21 de maio de 1926: Freud para Binswanger:

“Você adivinhou exatamente aquilo que a

morte de Abraham significou para mim. Mas,

quando vivemos muito, nem sempre pode-

mos evitar a condição de sobrevivente. Afi-

nal, a psicanálise não é um assunto pessoal,

e ela continuará a existir, mesmo que eu já

não possa mais controlá-la.”

No Int. Journ. Psychoanal., E. Jones respon-

de às críticas de B. Malinowski iniciando

uma controvérsia em que brilharia G.

Roheim.

França: Georges Heuyer, professor de psi-

quiatria infantil na Faculdade de Medicina

de Paris, criou em sua clínica anexa um la-

boratório de psicanálise dirigido por Sophie

Morgenstern.

Em seu retorno de Nova York, em meados de

fevereiro, Rank faz escala em Paris, onde dá

uma conferência na Sorbonne e encontra

por algumas vezes membros do núcleo fran-

cês: Laforgue, Sokolnicka e Bonaparte)

Inglaterra, janeiro: Em Londres, em dezem-

bro, seguindo o exemplo de Berlim e Viena,

inaugura-se um Instituto de Psicanálise fun-

dado com uma doação de uma antiga pa-

ciente de Jones, Pryns Hopkins. Os

Strachey convidam Melanie Klein para vir a

Londres para uma série de conferências du-

rante três semanas.

Brasil: Arthur Ramos, médico psiquiatra que

se interessa por criminologia, psiquiatria e

etnologia, publica sua tese Primitivo e lou-

cura, que provocará muitos comentários.

Posteriormente, importante professor de

antropologia, ele escreveu algumas obras

psicanalíticas, ainda que não tenha tido

qualquer formação psicanalítica nem feito

análise pessoal. Manteve uma correspon-

dência com Freud, Jellife e Bleuler. Foi o pri-

meiro a publicar, em 1934, um estudo

psicanalítico do nazismo. Em 11 de feverei-

ro de 1928, Freud escreverá para Ramos:

“Acabo de tomar conhecimento dos seus re-

sultados a partir dos seus relatos, e eu os

acho muito interessantes e plenamente de

acordo com aquilo que é esperado dos traba-

lhos psicanalíticos desenvolvidos até agora.”

Durval Marcondes (1899-1981) conhece a

obra de Freud por meio de seu professor

Franco da Rocha (ele mesmo psiquiatra de

grande renome que publicou algumas obras

sobre a psicanálise freudiana). Ele abre um

consultório onde trata de neuróticos com o

método psicanalítico.

Chile: Fernando Allende Navarro (1890-

1981), o primeiro psicanalista chileno, faz os

seus estudos médicos na Bélgica, depois na

Suíça, onde trabalha com Rorschach. Ele va-

lida o seu título na Universidade do Chile

defendendo sua tese, El valor de la psico-análisis en la policlínica. Membro da Socie-

dade Suíça de Psicanálise, depois da

Sociedade Psicanalítica de Paris.

Haiti: Semmering, Villa Schüller, Freud, em 9

de julho de 1925 para K. Abraham: “Para a

sua diversão, eu lhe conto que hoje saiu um

número do Matin, com um editorial sobre a

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psicanálise. Parece não ter nada de especial,

mas o Matin em questão é publicado em

Port-au-Prince, no Haiti, e não é sempre que

temos correspondência com aquela região.”

Itália: 7 de junho, com a iniciativa de Marco

Levi Bianchini, diretor do Hospital psiquiátri-

co de Nocera Inferiore (Salerno), é criada a

Società Psicoanalitica Italiana. Apenas E.

Weiss tinha sido analisado.

192625 de outubro: Freud visita, em Viena,

Rabindranath Tagore.

Inglaterra: Em fevereiro, Freud é nomeado

Membro honorário da Sociedade Britânica

de Psicologia.

Criação da London Clinic of Psychoanalysis.

Cada um dos membros deveria garantir uma

sessão diária, gratuita, durante 30 anos.

Alemanha: Os psiquiatras Robert Sommer e

Wladimir Eliasberg fundam a Sociedade Ge-

ral de Medicina Psicoterapêutica. Entre seus

membros: A. Adler, C. G. Jung, K. Horney, E.

Kretschmer, G. Groddeck, K. Lewin, E.

Simmel. A Sociedade Alemã de Psicanálise

recusou reconhecer a Sociedade Geral de

Medicina Psicoterapêutica na qual se en-

contravam “psicanalistas selvagens” desau-

torizados por Freud (a Sociedade Geral de

Medicina Psicoterapêutica queria reunir to-

dos os praticantes das diversas formas de

psicoterapia). Em 1928, criação do jornal

dessa sociedade que recebeu, em 1930, o

nome de Zentralblatt für Psychotherapie.Criação, em Frankfurt, do “Instituto Psicana-

lítico da Comunidade trabalhadora psicana-

lítica da Alemanha do Sudeste” criado, após

sua análise com Freud, em 1919, por Karl

Landaeur, com Calra Happel e Erich Fromm,

entre outros.

G. W. Pabst dirige W. Kraus (ator do Gabi-

nete do Dr. Caligari) em Geheimnisse einerSeele (Os mistérios de uma alma), em cola-

boração com K. Abraham e H. Sachs.

Suíça: A partir da proposta de Binswanger,

Freud é eleito membro honorário da Socieda-

de Suíça de Psiquiatria. Primeira reunião em

torno de Laforgue, de Robin e de Pichon no

que será, futuramente, o Congresso dos psi-

canalistas de língua francesa dos países de

língua latina.

França: Criação da Société Psychanalytique

de Paris (SPP), em 4 de novembro. Allendy

elabora seus estatutos com Pichon. Ela con-

ta, inicialmente, com nove membros: René

Allendy, Marie Bonaparte, Adrien Borel, An-

gelo Hesnard, René Laforgue (que assegura-

rá a presidência até 1930), Rudolf

Loewenstein, Georges Parcheminey,

Edouard Pichon, Eugénie Sokolnicka (vice-

presidente), aos quais virão se reunir Henri

Codet, Charles Odier, Raymond de Saussure.

EUA: Entre 1926-1927, Ferenczi passa seis

meses nos EUA dando conferências com um

sucesso declinante. Ele forma igualmente

candidatos, médicos ou não. Rank também

está em Nova York e dá cursos.

Peru: Delgado publica, com a colaboração de

intelectuais peruanos, um número especial

da revista Mercurio Peruano, dedicada a

Freud. A revista, fundada em 1791, era no

início o órgão dos intelectuais crioulos escla-

recidos. Nesse mesmo ano, Delgado publica

uma biografia de Freud que ganhará impor-

tantes retoques do próprio mestre.

1927Janeiro: Freud passa uma temporada em Ber-

lim, na casa do seu filho Ernst. Dia 2, A.

Einstein, acompanhado de sua esposa, vem

visitá-lo. Freud escreve para Ferenczi: “Ele é

alegre, seguro de si e agradável. Ele sabe

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tanto sobre psicologia quanto eu de física,

também tivemos uma conversa muito agra-

dável.” Encontramos, no fim do Epílogo

(1927) algumas linhas onde Freud fala nova-

mente sobre a “demarcação” feita nas publi-

cações entre “análise médica e aplicação da

análise. Isso não está correto. Na verdade,

a linha de demarcação situa-se entre a psi-

canálise científica e suas aplicações nos do-

mínios médicos e não-médicos.”

Setembro: Congresso de Innsbruck. Dissolu-

ção do Comitê, que se transforma em uma

estrutura administrativa composta pelos ca-

beças da Associação Internacional.

Alemanha: Inauguração pelo presidente da

Sociedade Psicanalítica Alemã, Ernst Simmel

(de 1926 a 1930), do Schloss-Tegel em Berlim-

Tegel. Ernst Simmel passará a ser o diretor

do primeiro estabelecimento mundial a fazer

tratamentos psicanalíticos institucional-

mente. Simmel foi o primeiro a crer possível

o tratamento psicanalítico de doenças orgâ-

nicas.

Brasil: Durval Marcondes funda em São Pau-

lo a primeira Sociedade Brasileira de Psica-

nálise (Julio Pires Porto-Carrero e Franco da

Rocha participam dessa fundação).

EUA: A APA, infringindo o regulamento da

IPA, limita o exercício da psicanálise aos mé-

dicos.

França: Em 25 de junho, publicação do núme-

ro 1 da Revue française de psychanalyse,

órgão oficial da Sociedade Psicanalítica de

Paris, “revista publicada sob a alta patrona-

gem de Freud”. Nela está “Moisés e Miche-

langelo”. Essa revista permanece fiel à

demarcação analise médica por um lado, e

aplicação da análise por outro. Encontramos

nela um artigo de Allendy: “Os elementos

afetivos relativos à dentição”.

Sacha Nacht, convidado para uma conferên-

cia sobre a esquizofrenia, é eleito membro

da Sociedade Psicanalítica de Paris.

Sophie Morgenstern (que se suicidará em

1940 no momento da entrada do exército

alemão em Paris) publica um artigo decisivo

para os tratamentos das crianças: “Um caso

de mutismo psicogênico tratado no serviço

do Dr. Heuyer”. Primeira publicação em fran-

cês de um trabalho sobre a aplicação da psi-

canálise na criança (por meio de desenhos).

Índia: Afiliação da Sociedade Indiana de Psi-

canálise criada por Girindrashokkar Bose em

Calcutá.

1928G. Roheim parte, com a ajuda financeira de

M. Bonaparte, em uma expedição científica

que o leva a Aden (1928), na Austrália Cen-

tral (1929) e na Melanésia (1930) a fim de

recolher dados para desmentir as objeções

de B. Malinowski à teoria da universalidade

do Édipo (sobretudo nas sociedades matrili-

neares). Roheim planeja se mudar para Bu-

dapeste após o seu retorno – o que acaba,

de fato, fazendo.

Espanha: Ferenczi fala sobre a “Aprendiza-

gem da psicanálise e transformação psica-

nalítica do caráter”.

Noruega: A psicanálise começa a ser pratica-

da sob a autoridade de Harald Schjelderup,

professor na Universidade de Oslo.

1929Marie Bonaparte salva a Verlag da falência.

Encontro entre Freud e Max Schur.

Congresso de Oxford, momento de tensão

quanto à questão de análise profana (o caso

Reik data de julho de 1926). Ocasião também

para Ferenczi promover sua reabilitação da

neurotica.

Alemanha: Em fevereiro, criação do Institu-

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to Psicanalítico de Frankfurt (sob a direção

de K. Landauer, H. Meing e Frieda From-

Reichmann), que trabalha em estreita cola-

boração com o Instituto de Pesquisas Sociais

(M. Horkeimer, Theodor Adorno). Segue-se a

criação de vários estabelecimentos psicana-

lítico-clínicos que duram pouco tempo, por

causa das suas dificuldades financeiras.

Brasil: a Sociedade Brasileira de Psicanálise,

reconhecida pela IPA em 1929, já tinha, nes-

te momento, filiais em São Paulo, Rio de Ja-

neiro e Bahia.

China: Tradução de Psicologia das massas eanálise do eu por Hsia Fu-Hsin, tida como a

primeira tradução de Freud para o chinês. De

sua parte, Zhang Dongsu redige PsicanáliseABC onde revisa conceitos básicos das teo-

rias de Freud, de Jung e de Adler. Os atos-

falhos e os esquecimentos de palavras

constituíam, para o autor, avanços que “ul-

trapassavam o poder explicativo da psicolo-

gia geral”.

1930Alemanha: Em 28 de agosto, dia da celebra-

ção do aniversário de nascimento de

Goethe, Freud recebe o prêmio Goethe da

cidade de Frankfurt, em Frankfurt-sur-le-

Main. Anna Freud lerá o discurso do seu pai.

“Eu não discuto o prêmio Goethe que me dei-

xa muito contente. A fantasia de ter com

Goethe relações mais próximas é por demais

sedutora e o prêmio em si é mais uma home-

nagem à pessoa do beneficiário que um jul-

gamento sobre a sua obra.”

Esse prêmio foi criado em 1927. Carta de

Freud para S. Zweig: “O prêmio Goethe foi

uma surpresa para mim, já fazia bastante

tempo que eu não esperava mais reconhe-

cimento público” (14 de agosto).

12 de setembro: Morte da mãe de S. Freud.

Argentina: Freud recebe a visita de dois psi-

quiatras argentinos famosos: G. Bermann e

N. Rojas.

China: Zhang Shizhao, traduz a Apresenta-ção de Freud por ele mesmo (1925). Zhang

Shizhao ocupou posições importantes no go-

verno chinês antes e depois da revolução de

1949. Ele foi o único chinês a se correspon-

der com Freud, como testemunha uma car-

ta de Freud datada de 27 de maio de 1929:

“Sua intenção me dá o maior prazer qualquer

que seja a forma pela qual você queira

realizá-la, seja abrindo o caminho para o co-

nhecimento da psicanálise em seu país – a

China – seja propondo contribuições à nos-

sa revista Imago na qual você avaliaria nos-

sas hipóteses relativas às formas de

expressão arcaicas no material da sua pró-

pria língua.”

EUA: Freud escreve o prefácio de um núme-

ro especial de uma revista médica america-

na dedicada à psicanálise (Medical Reviewof Reviews), pensando, erroneamente, que

se tratava do primeiro número de uma nova

publicação psicanalítica.

França: Tradução do livro de Freud sobre o

chiste: pouco depois, Max Ernst emprega a

palavra humor negro pela primeira vez.

Em torno da revista Evolution psychiatrique,

um grupo se reúne, reforçando a sociedade

científica da revista. Apesar dessa socieda-

de não ser de psicanálise, sete membros

fundadores da Sociedade Psicanalítica de

Paris ali se encontram. O objetivo dessa so-

ciedade era promover uma renovação da psi-

quiatria, ainda fortemente ligada ao

alienismo do século XIX. A psicanálise e a fi-

losofia estavam entre as disciplinas cujo co-

mitê científico da revista esperava que

auxiliassem na evolução da psiquiatria. A

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Evolution psychiatrique vai apresentar a cor-

rente de psicopatologia fenomenológica re-

presentada por E. Minkowski, que, em 1934,

publica sua obra, O tempo vivido. A revista

ajuda muito na difusão dos trabalhos de

Jaspers e Binswanger. A partir de 1936, um

número comemorativo apresenta os traba-

lhos de Freud e, no mesmo ano, J. Lacan pu-

blica um dos seus artigos mais importantes,

“Além do princípio de realidade”. H. Ey apre-

sentará, posteriormente, os conceitos de

Bleuler.

Holanda: Depois de graves tensões e divi-

sões entre partidários e adversários da aná-

lise profana, J. Van Ophuijsen funda,

seguindo o modelo do Instituto de Berlim, um

Instituto de Psicanálise.

Peru: Delgado torna-se titular da única ca-

deira de psiquiatria. Ele se desliga do freu-

dismo a ponto de se tornar um adversário

ferrenho das idéias psicanalíticas.

1931Dificuldades com Storfer, diretor da Verlag,

que ameaça se demitir.

H.G. Wells conhece Freud. Mais tarde, ele

será um dos raros visitantes londrinos.

Alemanha: Max Eitingon é presidente da

Deutsche Psychoanalytishce Gesellschaft.

Sob o título Cura pelo espírito, Stefan Zweig

reúne três ensaios dedicados a Mary Baker-

Eddy, Mesmer e Freud. Este escreve para

Zweig: “Eu poderia contestar o fato de que

você enfatiza exclusivamente o elemento de

correção pequeno burguês da minha pessoa;

o homem é, apesar de tudo, um pouco mais

complicado. Sua descrição não está de acor-

do com o fato de que eu, também, tive mi-

nhas cefaléias, meus estados de fatiga, como

todos, que eu fui um tumor apaixonado (gos-

taria ainda de sê-lo) que atribuía ao charu-

to o papel mais importante no controle de

mim mesmo e na tenacidade ao trabalho,

que apesar da modéstia tão louvada no meu

modo de vida, enfrentei muitos sacrifícios

pela minha coleção de antigüidades gregas,

romanas e egípcias, que li na verdade mais

obras sobre arqueologia do que sobre psico-

logia, que até a guerra eu precisei passar, ao

menos uma vez por ano, alguns dias ou se-

manas em Roma (e uma vez ainda depois da

guerra)” (para Stefan Zweig, 7 de fevereiro

de 1931, C. 440).

Espanha: Angel Garma muda-se para Ma-

drid. Ele é membro da Associação Psicana-

lítica de Berlim depois da apresentação do

seu trabalho, “A realidade do id na esquizo-

frenia”, no qual discute as teses de Freud

sobre a esquizofrenia.

EUA: Início do êxodo dos psicanalistas em di-

reção ao Novo Mundo. Alexander (Chicago)

e Rado aceitam o convite de Brill em Nova

York. Criação do Instituto de formação psi-

canalítica em Nova York.

França: No Hospital Sainte-Anne, Allendy

preside a VI Conferência dos Psicanalistas

de Língua Francesa. Ele apresenta um dis-

curso de abertura que fala sobre as ligações

entre psiquismo e orgânico e sobre a in-

fluência da terapia psicanalítica sobre doen-

ças orgânicas.

Hungria: Ferenczi funda uma policlínica psi-

canalítica (rua Mészàros, em Budapeste) da

qual será diretor e, Michael Balint, vice-di-

retor. É apenas com esta policlínica que o

Instituto de formação se torna um estabele-

cimento de ensino; o nome desta policlíni-

ca seria, segundo Ferenczi “Consulta e

Associação húngara de psicanálise para os

doentes neurológicos e doentes que sofrem

de distúrbios do humor.” Alguns nomes: Imre

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Herman, Michael Balint, Sigmund Pfeiffer,

Geza Roheim etc.

Itália: A obra de Edoardo Weiss, Elementi dipsicoanalisi, prefaciado por Freud, é o pri-

meiro tratado correto sobre a psicanálise

publicado na Itália. O autor, discípulo de Fe-

dern, que foi seu psicanalista, mantém uma

longa correspondência com Freud. O livro é

composto de cinco partes: 1) O que é a psi-

canálise? O conceito de id e de inibição in-

consciente. 2) Simbolismo. 3) Origem do

superego e dos sentimentos sociais e reli-

giosos. 4) A teoria das pulsões. 5) Os siste-

mas psíquicos.

Morávia (atual Eslováquia): O município de

Freiberg, hoje Pribor, homenageia Freud (e a

si mesma) ao colocar uma placa de bronze

em sua casa natal.

1932Eitingon sucede Storfer na direção da Verlag.

Freud queria muito manter Rado como reda-

tor-chefe da Zeitschrift, mas o seu retorno

de Nova York se tornava cada vez menos

provável. Assim, após longas consultas,

Freud escolheu Federn e Hitschmann como

redatores da Zeitschrift, e Kris e Wälder

para Imago. Eles se mostraram, segundo Jo-

nes, todos os quatro, escolhas excelentes.

Em virtude das dificuldades financeiras da

sua editora, Freud decide pela redação de

uma nova série de lições sobre a psicanáli-

se: Novas conferências sobre a psicanálise.

Março: T. Mann e depois L. Binswanger vi-

sitam S. Freud.

Abril: S. Freud manda uma carta a M. Bona-

parte sobre a necessidade da interdição do

incesto.

Alemanha: Em setembro, XII Congresso da

IPA em Wiesbaden (presidente: Max

Eitingon). Organizado por Karl Landauer, é o

último congresso na Alemanha. Um Comitê

Internacional é fundado com o fim de su-

pervisionar a gestão futura da Verlag. Nele

estão: M. Bonaparte, A.A. Brill, E. Jones, C.

Obendorf, I. von Opjuijsen, R. A. Spitz, e P.

Sarasin (sub-comitê de trabalho: Sarasin,

Spitz e Jones).

Dinamarca: Reich faz uma intervenção em

Copenhague. Os dinamarqueses pedem para

a IPA que ele venha para a Dinamarca como

didata, mas a IPA prefere mandar Jenö

Harnik do Instituto Psicanalítico de Berlim.

EUA: Reorganização da American Psycho-

analytic Association em uma federação de

diversas sociedades-membro. Um Council onProfessional Training é então estabelecido

e se dá como tarefa definir critérios de for-

mação. Franz Alexander convida Karen

Horney para ser diretora associada do re-

cém-formado Chicago Psychoanalytic Insti-

tute. Criação em Nova York, sem dúvida

como reação à decepção e ao desprezo de

Freud em 1930 (Medical Review of Reviews),

da revista The Psychoanalytical Quarterly,

revista “estritamente psicanalítica” nos EUA

(redatores – Dorian Feigenbaum e

Frankwook Williams).

Itália: Em janeiro, refundação, por E. Weiss,

em Roma, da Societa Psicoanalitica Italiana

(SPI), com Nicola Perroti e Emilio Servadio.

Fundação da Rivista di Psicoanalisi, que será

interditada pelo regime fascista a partir do

final do ano seguinte.

Japão: Filiação do Instituto Psicanalítico de

Tóquio. É também em 1932 que Heisaku

Kosawa, que descobriu as teorias freudianas

graças ao ensino do psiquiatra Kiyoyasu

Marui, apresenta a S. Freud sua teoria do

complexo de Asaje. É um trabalho que inter-

preta os clássicos da mitologia grega com as

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velhas lendas budistas. Este complexo, cuja

teorização continuará até os anos 1950 com

Keigo Okonogi valoriza as noções de reen-

carnação e da salvação da mãe.

Romênia: Ion Popescu-Sibiu, que manteve

correspondência com Freud, recebe um prê-

mio da Academia romena por um livro mui-

to completo sobre a psicanálise.

1933Alemanha: 30 janeiro, Adolf Hitler é eleito

chanceler do Reich.

Fevereiro: Incêndio do Reichstag em Berlim.

M. Eitingon e S. Freud mantêm a existência

do Instituto Psicanalítico de Berlim. Edith

Jackson, membro da DPG, entra na resistên-

cia.

7 de abril de 1933: Promulgação da lei sobre

a disposição de arianização dos comitês de

organização nacionais. No dia 22, os médi-

cos não-arianos são excluídos dos seguros

de saúde, a psicanálise é atacada como

“ciência judia”.

Maio: Morte de S. Ferenczi. Dia 6 de maio,

durante as ordens de arianização, F. Boehm

e C. Müller-Braunschweig propõem uma aria-

nização da presidência da DPG. A maioria

dos membros se opõe a esta mudança (oito

contra, cinco abstenções, dois a favor). Em

10 de maio, os livros de S. Freud são queima-

dos pelos nazistas, com aqueles de muitos

outros autores, como S. Zweig. Entende-se

proferir: “Para a superestimação degradan-

te da vida pulsional! Para a nobreza da alma

humana, eu ofereço às flamas os escritos de

um Sigmund Freud!” Em 18 de novembro,

Boehm e Müller-Braunschweig assumem a

presidência da DPG.

Junho: E. Kretschmer pede demissão da

Allgemeine Ärztliche Gesellschaft fürPsychotherapie (Alemanha, 1926), que

caiu sob o controle nazista.

Setembro de 1933: Constituição da Sociedade

Alemã de Medicina Psicoterapêutica, ramo

nacional da AAGP. Os psicoterapeutas colo-

cam no poder M. H. Göring, neuropsiquiatra

de Wuppertal. O Reichsführer Goring expli-

ca que um estudo aprofundado de MeinKampf é esperado de todos os membros,

esse texto deve constituir a base dos seus

trabalhos. Kretschmer é substituído por C. G.

Jung que declara em dezembro que “o in-

consciente da raça judia não pode ser com-

parado ao inconsciente ariano”. C. G. Jung

pedirá demissão da AAGP em 1940. Vários

psicanalistas de origem judia do Instituto de

Berlim se mudam para Praga. Entre eles: F.

Deri, S. Bornstein, A. Reich (a primeira espo-

sa de W. Reich). Mais tarde, O. Fenichel jun-

tar-se-á a eles.

Início da emigração massiva dos psicanalis-

tas alemães para a Argentina, Inglaterra e

EUA.

Bélgica: Ernst Hoffman, discípulo de Freud e

aluno de Ferenczi muda-se para Anvers. Os

dois grandes pioneiros da psicanálise na

Bélgica, M. Dugautiez e F. Lechat, começam

com ele uma formação.

China: O psicólogo Gao Juefu (que será,

mesmo que muito velho, decano do primei-

ro centro universitário de pesquisa da psico-

logia de Nanjing, 1982) é o tradutor de

Introdução à psicanálise e de Novas confe-rências de introdução à psicanálise, assim

como das conferências na Clark University.

Ele redigiu uma revista crítica sobre Freud e

escreveu, em 1931, um artigo sobre Freud.

Gao adere à teoria de uma casualidade psí-

quica, mas, como Zhang Dongsun, critica

fortemente a teoria freudiana da sexuali-

dade.

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França: Pierre-Jean Jouve e Blanche

Reverchon publicam, na Nouvelle RevueFrançaise, o artigo “Momentos de uma psi-

canálise”. Também de Pierre-Jean Jouve é

publicada a coletânea Suor de sangue, na

qual o artigo “Inconsciente, espiritualidade

e catástrofe” coloca a questão da relação da

escritura com a psicanálise e a fé.

Noruega: Criação do grupo Psykoanalytisk

Samfund (Irgens Johannes Stromme, Poul

Bjerre e Sigurd Nassergard).

Palestina: M. Eitingon verá Freud no dia 5 de

agosto. Ele se desliga de todas as suas fun-

ções (inclusive a de diretor da policlínica de

Berlim) e em 8 de setembro vai à Palestina

para uma visita preliminar. Durante os dois

meses que lá fica, estabelece as bases para

uma sociedade psicanalítica palestina com a

ajuda de outros psicanalistas de Berlim no

exílio. Eles voltam para a Alemanha e dei-

xam definitivamente Berlim, indo para a

Palestina no último dia do ano. Moshe Wulf

se une a ele. Os dois fundarão a primeira

Sociedade Psicanalítica da Palestina, que se

transformaria em Hasheva Hapsycho-

analytic Be-Israel.

Tchecoslováquia: Frances Deri, psicanalista

alemã, cria e dirige o grupo psicanalítico de

estudos de Praga. Otto Fenichel a sucedeu de

1935 a 1938.

193411 de junho: Morte de Groddeck.

Agosto: XIII Congresso da IPA em Lucerna,

em 26 de agosto, o primeiro a acontecer sem

Ferenczi (presidente: Jones). Nessa data, 24

dos 36 membros dos Institutos Psicanalíti-

cos deixaram a Alemanha.

China: Ye Qing, polemista, ex-dirigente da

juventude comunista em ruptura com o par-

tido, defende as pesquisas de Freud contra

um conjunto de processos abertos por repre-

sentantes da psicologia behaviorista (entre

eles Guo Renuyan e Huang Weirong)

EUA: Ernst Simmel emigra para Los Angeles

passando por Topeka onde funda as socie-

dades de psicanálise de São Francisco e de

Los Angeles do qual será o primeiro presi-

dente).

Índia: Um livro composto de artigos escolhi-

dos publicados por Bekerley-Hill é proibido

em Bengala. Essa decisão das autoridades

britânicas é ditada pelo medo de que as in-

terpretações sexuais da religião hindu pre-

sentes no livro pudessem causar desordens

populares.

Itália: O Vaticano pressiona o Estado italia-

no para obter a proibição da Revista Italia-

na di Psiconalisi, a pedido do padre Schmidt

(um vienense que também se opunha à an-

tropologia).

Japão: Heisaku Kozawa se instala em Viena

de 1932 a 1933. Faz uma análise didática com

R. Sterba e supervisão com P. Federn. Fun-

da, na volta, um centro de cuidados psica-

nalíticos em Tóquio e trabalha como

psicanalista.

Palestina: Instalação de Max Eitingon em

Jerusalém. Fundação da Associação Psicana-

lítica da Palestina. Chegada para uma esta-

da de um ano de Frieda Fromm-Reichmann.

Escandinávia: Afiliação de duas sociedades

escandinavas: uma fino-sueca (fundada por

Yrjö Kuloveski e Alfhid Tamm), a outra dano-

norueguesa. Instalação na Suécia de Ludwig

Jekels.

19356 de fevereiro: Visita de Lévy-Bruhl a Freud

que lhe diz: “C’est un vrai savant (é um ver-

dadeiro sábio) principalmente quando com-

parado a mim”.

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Áustria (Viena): Primeira das duas reuniões

nomeadas como “das quatro nações”. Estas

reuniões (a seguinte acontecerá dois anos

mais tarde) são realizadas pelas Associações

de Viena, de Praga, da Itália e da Hungria.

Elas são dedicadas à formação de psicana-

listas.

China: Richard S. Lyman (1891-1959). Forma-

do na Universidade John Hopkins, passou

um ano trabalhando no laboratório de

Pavlov na Rússia, depois um ano no Hospi-

tal da Cruz Vermelha de Xangai; torna-se

em seguida diretor da Unidade de Neuropsi-

quiatria no Peking Union Medical College de

Beijing, de 1931 a 1937. Em Beijing como na

Duke University, ele assegurou que seus alu-

nos lessem Pavlov e talvez com mais ênfa-

se V. M. Bechterev. Além disso, trouxe para

o Peking Union Medical College o saber neu-

rológico alemão, principalmente os traba-

lhos de Leo Alexander. Com efeito, esse

saber médico alemão, antigamente tão do-

minante no Ocidente, já fora introduzido no

Peking Union Medical College, pois, segun-

do Bullock, em 1920, a biblioteca desse co-

légio “possuía 50.000 teses alemãs”; mas é

possível se perguntar quantos estudantes

de medicina chineses podiam efetivamente

lê-los e utilizá-los. Um colega de Lyman,

Bingham Daí, foi influenciado pela forma-

ção psicanalítica que recebeu nos Estados

Unidos antes de ir para o Peking Union

Medical College em 1935 (mesmo que não se

tornasse um analista reconhecido); no en-

tanto, ele fez seu mestrado e seu doutora-

do em sociologia na escola de Chicago e seu

trabalho tratava da dependência do ópio em

Chicago! Daí se tornou o primeiro psicotera-

peuta chinês formado em psicanálise. Ele

acreditava compreender os problemas de

personalidade, situando-os no contexto so-

ciocultural.

1936Alemanha: Tomada de todos os bens da

Verlag pela Gestapo (28 de março). O Insti-

tuto de Psicanálise de Berlim desaparece

como um organismo independente. No iní-

cio do verão, M. H. Göring abre em Berlim

um Instituto Alemão de Pesquisa Psicológi-

ca e de Psicoterapia (Instituto Göring). O

Instituto e alguns de seus membros manti-

nham relações com a juventude hitlerista,

com a liga das jovens da Alemanha, com o

escritório de polícia criminal do Reich, com

a SS-Lebensborn, assim como com membros

da hierarquia nazista.

Freud é nomeado correspondente da Real

Sociedade.

Tchecolosváquia: Em agosto, XIV Congresso

Internacional em Marienbad. Este lugar foi

escolhido para que A. Freud não se afastas-

se demasiadamente de seu pai em caso de

urgência. Nesse congresso, o grupo tcheco

será oficialmente reconhecido pela IPA. É

também nesse congresso que Lacan apre-

sentará no dia 3, às 15h40, seu Estádio doespelho (interrompido por Jones após uns

dez minutos de exposição).

Argentina: Uma das mais sérias revistas li-

terárias argentinas, Sur, homenageia Freud.

Bélgica: M. Dugatiez e F. Lechat começam a

conduzir tratamentos analíticos sob a super-

visão de Leuba e Marie Bonaparte. F. Leuba

trabalhará com crianças, três anos mais tar-

de.

Brasil: Adelheid L. Koch (analisada por Otto

Fenichel) vem da Alemanha para assumir o

papel de formadora dos primeiros analistas

brasileiros. A partir do ano seguinte, a

maioria dos fundadores da Sociedade que

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não tinham podido até então fazer uma aná-

lise deitam-se em seu divã.

19375 de fevereiro: Morte de Lou Andreas-Salo-

mé.

África do Sul: Publicação, em Johannesburgo,

de Black Hamlet de Wulf Sachs, que vivia aí

desde 1922. Versa sobre a história de um de

seus pacientes, John Chavafambira, tradiclí-

nico zimbábue, encontrado em 1933 em um

slum de Johannesburgo. Este livro constitui

a primeira relação de uma psicanálise con-

duzida com um africano. Afirmando a unici-

dade da neurose e da psicose não importa a

cultura ou “pertença racial” do sujeito, ele

descarta as teses da psiquiatria colonial e

racista relativa ao homem negro. Sachs fun-

da, logo após a publicação deste livro, um

grupo de psicanálise que não sobreviverá à

sua morte, em 1949. A instauração de um

sistema de apartheid impedirá qualquer di-

fusão da psicanálise nesse país.

Dinamarca – outubro: Congresso de Psicote-

rapia para o qual Jung convida Allendy. Em

2 de outubro, Allendy escreve: “... compreen-

di que era um congresso ‘junguiano’ e que

ele manipulou uma política para reintegrar a

psicanálise na Alemanha nazista graças a

Jung, ariano antifreudiano e (creio) anti-

semita. Em suma, sem o saber, marchei com

Hitler”.

França: André Breton pede a Freud um tex-

to para uma obra coletiva que ele projetava

fazer sobre o sonho (Trajetório do sonho).Clara recusa de Freud que objeta que uma

simples compilação que não trata nem das

circunstâncias do sonho nem das associa-

ções de idéias por ele provocadas não tem

interesse algum.

Hungria: Segunda das duas reuniões no-

meadas como “das quatro nações” que será

em boa parte dedicada aos problemas finan-

ceiros da formação analítica.

1938Março: Os nazistas invadem a Áustria. Freud

não quer deixar Viena, mas se decide após

sua filha Anna e ele mesmo terem sido pes-

soalmente ameaçados pelos nazistas. Bullit,

embaixador dos Estados Unidos, negocia

sua saída; Marie Bonaparte paga o resgate

exigido.

G. Roheim se exila nos Estados Unidos e

exerce a psicanálise em Nova York.

4 de junho: Freud, sua esposa e sua filha

Anna deixam Viena, na madrugada de 5 de

junho (3h00 da manhã), pelo Oriente

Express. Ele deixa a cidade em que viveu por

79 anos. Marie Bonaparte o recebe em Pa-

ris. Bullit o espera na estação. Freud, Anna

e Martha passam o dia na casa da princesa,

na rua Adolphe Yvon e prosseguem viagem

na noite seguinte. Em Londres, uma grande

multidão aguarda Freud na Victoria Station.

A revista The Lancet escreve: “Sua doutrina

levantou em seu tempo a mais crítica con-

trovérsia e o antagonismo mais amargo do

que qualquer outra desde a de Darwin. Nes-

te momento, em sua velhice, raros são os

psicólogos, de qualquer escola que seja, que

não reconhecem sua dívida em relação a

ele. Alguns dos conceitos que ele formulou

claramente pela primeira vez foram introdu-

zidos sub-repticiamente na filosofia atual,

opondo-se ao muro de uma tenaz increduli-

dade que, como ele mesmo admite, é apenas

a reação natural do homem a uma verdade

insuportável”.

Os Freud se instalam em Londres na

Maresfield Gardens, 20. Sigmund e Anna

Freud juntam-se, então, à British Society.

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A WPV resolve se dissolver e se transferir

para o lugar “em que Freud mora”.

Freud confia à BBC, uma gravação de sua

voz: é uma breve mensagem em que lê um

texto que começou a redigir em alemão e que

prossegue em inglês: “Aos meus 82 anos,

deixei minha casa em Viena após a invasão

alemã e vim para a Inglaterra onde espero

terminar minha vida em liberdade [frase ale-

mã]. Comecei minha atividade profissional

como neurologista, procurando trazer alívio

a meus pacientes neuróticos, sob a influên-

cia de um amigo mais velho e com meus pró-

prios esforços, descobri fatos novos e

importantes relativos ao inconsciente na

vida psíquica, o papel essencial das moções

pulsionais etc. Destes trabalhos, nasce uma

ciência nova, a psicanálise, ramo da psico-

logia que se define como um novo método

de tratamento da neurose. Paguei por esta

oportunidade um peso muito pesado. As pes-

soas se recusaram a acreditar nos fatos que

eu evidenciava, julgaram minhas teorias ina-

dequadas; a resistência foi das mais fortes.

Enfim, consegui atrair discípulos e criar uma

associação psicanalítica internacional, mas

o combate está longe de terminar [em in-

glês]”.

Após o confisco da Verlag, em março de 1936

(cf. acima), combina-se com um editor de

Amsterdã para editar o Moisés. Hans Sachs,

que deixou Berlim rumo a Boston em 1932,

um ano antes da ascensão de Hitler ao po-

der, escreve para Freud, em maio, sobre seu

desejo de que à finada Imago suceda um jor-

nal de psicanálise aplicada redigido em in-

glês. Freud não aprova esse projeto,

temendo que ele ponha fim a qualquer es-

forço para continuar a publicar em alemão

revistas de psicanálise. Ele não quer “que a

luz seja completamente extinta na Alema-

nha”. Mas sua filha Anna e Ernest Jones o

convencem de que estas precauções não

têm mais fundamento. Freud propõe então

um nome: American Imago que Sachs ime-

diatamente adota.

Argentina: Chegada do psicólogo húngaro

Bela Szekely que reforça a difusão das

idéias de Freud e também a utilização do tes-

te de Rorschach.

Estados Unidos: O Concil on Professional

Training, estabelecido em 1932, publica seus

Standards and Priciples of Psychoanalythic

Association, documento que retoma em

grande parte o modelo do Instituto de Ber-

lim: análise pessoal, exercício da psicanáli-

se sob supervisão e estudo.

França: Em um artigo do jornal Lê Soir, a can-

tora Yvette Guilbert transmite as respostas

à questão que ela lhe colocou a propósito de

seu talento de cantora (14 de janeiro de

1938).

Reunião memorável, em 30 de junho, da So-

ciedade Francesa de Psicanálise, onde se

procedeu ao recenseamento dos psicanalis-

tas nascidos na França, excluindo Laforgue,

nascido alemão na Alsácia, antes de 1914.

Congresso Internacional de Psicanálise, em

Paris. Da delegação francesa constam:

Loewenstein, Pichon, Lagache, Bonaparte,

Allendy e Morgenstern.

Em 4 de outubro acontece a primeira emis-

são radiodifundida da psicanálise com

Ludmilla Pitoeff no papel da paciente.

Itália: Obrigado a se esconder, M. Levi-Bian-

chini vende a revista Archivio Generale deNeurologia, Psichiatria e Psicanalisi, para o

Padre A. Gemelli, que lhe dará continuida-

de à sua moda, substituindo o significante

psicanálise por psicoterapia.

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Holanda: Tentativa de unificação das duas

sociedades de psicanálise (La Haye e Ams-

terdã). A Sociedade Holandesa anunciará

sua própria dissolução, em 1941, em protes-

to contra o banimento de seus membros ju-

deus.

1939Hitler entra na Tchecoslováquia. Os psica-

nalistas que aí estavam estabelecidos imi-

gram maciçamente para os Estados Unidos

(Franck, Kärpe, Löwenfeld, Windholz). Al-

guns dos que ficam morrerão nos campos de

concentração: Ota-Brief, em Buchenwald,

Bondy com toda a sua família, em Auschwitz.

T. Dozuskov, formado por O. Fenichel e A.

Reich, vai entrar na clandestinidade.

França: Congresso Internacional em Paris.

Inglaterra: Freud vê com satisfação a funda-

ção, pelo editor inglês John Rodker, homem

empreendedor, inteligente e amistoso (dixitJones), da Imago Publishing Company, edi-

tora que inicia sua existência com a publica-

ção de periódicos e projeta uma nova edição

das obras de Freud, os Gesammelte Werke,

substituindo os Gesammelte Schriften des-

truídos pelos nazistas. A Imago Publishing

Company assume a sucessão da finada

Verlag. O nome de Freud nela aparece a tí-

tulo de redator-chefe, a edição é em língua

alemã. No início de 1939, uma revista com-

binando a antiga Internationale ärztlicheZeitschrift für Psychoanalyse e a Imago é

editada na Inglaterra, mas não sobrevive-

rá ao desencadeamento da Segunda Guer-

ra Mundial. Uma coletânea de artigos

extraídos da Imago é publicado sob o título

“Psicanálise aplicada à arte”: Psycho-analytische Literaturinterpretationen, edita-

do por Jens Malte Fischer (artigos de Sachs

e Reik entre outros).

23 de setembro: Freud morre em sua casa

de Londres. A seu pedido e com a concor-

dância de Anna Freud, seu médico injetou-

lhe uma dose de três centigramas de

morfina, por três vezes. Ele morre às 3h00

da manhã. O último livro que leu foi La peaude chagrin de Balzac. S. Zweig far-lhe-á uma

homenagem em 26 de setembro. As cinzas

de Freud repousam no crematório de Golden

Green.

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