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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA _________________________________________________________________________________ Página 1 de 118 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DOUTOR PEDRO VALLS FEU ROSA RELATOR DO PROCESSO Nº 100.11.001947-6 EM TRÂMITE NO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por seus Procuradores de Justiça infrafirmados, no uso das atribuições constitucionais que lhes são conferidas, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 129, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; artigo 120, § 1º, inciso I, da Constituição do Estado do Espírito Santo de 1989; artigo 24, caput, do Código de Processo Penal; artigo 29, inciso V, da Lei Federal nº. 8.625/93; e artigo 30, inciso XV, da Lei Complementar Estadual nº. 95/97 c/c artigo 50, alínea “b” do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo - RITJES, oferecer ADITAMENTO À DENÚNCIA em desfavor dos nacionais abaixo qualificados: 1. REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, inscrito no C.P.F sob o nº 579.481.277-04, filho de MANOEL VENÂNCIO DA QUINTA E SANTILHA DOS SANTOS QUINTA residente na rua Rua José Costalonga, S/N, Centro, Presidente Kennedy/ES;

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DOUTOR PEDRO VALLS FEU ROSA

RELATOR DO PROCESSO Nº 100.11.001947-6 EM TRÂMITE NO EGRÉGIO TRIBUNAL

DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por seus Procuradores

de Justiça infrafirmados, no uso das atribuições constitucionais que lhes são

conferidas, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no

artigo 129, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988;

artigo 120, § 1º, inciso I, da Constituição do Estado do Espírito Santo de 1989;

artigo 24, caput, do Código de Processo Penal; artigo 29, inciso V, da Lei

Federal nº. 8.625/93; e artigo 30, inciso XV, da Lei Complementar Estadual nº.

95/97 c/c artigo 50, alínea “b” do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do

Estado do Espírito Santo - RITJES, oferecer

ADITAMENTO À DENÚNCIA

em desfavor dos nacionais abaixo qualificados:

1. REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, inscrito no C.P.F sob o nº 579.481.277-04,

filho de MANOEL VENÂNCIO DA QUINTA E SANTILHA DOS SANTOS QUINTA

residente na rua Rua José Costalonga, S/N, Centro, Presidente

Kennedy/ES;

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2. CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, inscrito no C.P.F sob o nº 353.629.107-44;

filho de THELMO DALLA BRANDÃO E EDITH MARIA BORGES BRANDÃO,

residente na Rua Rua Amélia Tartuce Nasser, 301, ap. 401, Jardim da

Penha, Vitória/ES;

3. GEOVANA QUINTA COSTALONGA, inscrita no C.P.F. sob o nº 101.960.387-90,

filha de LILIAN QUINTA, residente na Rua José Costalonga, S/N, Centro,

Presidente Kennedy/ES;

4. JULIANA BAHIENSE FONTÃO CRUZ, inscrita no C.P.F. sob o nº 100.727.687-89,

filha de GILMARO MARTINS e MARIELA BAHIENSE MARTINS, residente na Rua

Olegário Fricks S/N, Centro, Presidente Kennedy/ES;

5. FLÁVIO JORDÃO DA SILVA, inscrito no C.P.F sob o nº 080.824.417-55, filho de

LUIZ CARLOS BAHIENSE DA SILVA e HELENA M. JORDÃO SILVA, residente na

Rua Alcina Carneiro Martins, 05, Paraíso, Cachoeiro de Itapemirim/ES;

6. MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, inscrito no C.P.F. sob o nº 031.498.257-

41, filho de LAURITO ALVES DA SILVA e ZÉLIA PAULA ALVES, residente na Rua

Jaques Soares, 99, Centro, Presidente Kennedy/ES;

7. JOVANE CABRAL DA COSTA, inscrito no C.P.F. sob o nº 052.820.567-63, filho

de GENILDO COSTA e ALDA CABRAL DA COSTA, residente na Rua Manoel

Lúcio Gomes, S/N, Centro, Presidente Kennedy/ES;

8. ELI ÂNGELO JORDÃO GOMES, inscrito no C.P.F. sob o nº 078.117.967-08, filho

de ELY MONTEIRO GOMES e SILEIA JORDÃO GOMES, residente na Rua José

Costalonga, S/N, 1º andar, Centro, Presidente Kennedy/ES;

9. JOSÉ CARLOS JORDÃO GOMES, inscrito no C.P.F. sob o nº 007.995.757-98,

filho de ELY MONTEIRO GOMES e SILEIA JORDÃO GOMES, residente na Rua

José Costalonga, 214, Centro, Presidente Kennedy/ES;

10. JOSÉ ROBERTO DA ROCHA MONTEIRO, inscrito no C.P.F. sob o nº

016.953.597-55, filho de JOSÉ MONTEIRO e MARILENE DA ROCHA

MONTEIRO, residente na Rua Professor Elpídio Pimentel, 425, ap. 101, Jardim

da Penha, Vitória/ES;

11. CLÁUDIO RIBEIRO BARROS, inscrito no C.P.F. sob o nº 875.001.247-91, filho de

CARLOS PANDOLPHO BARROS e AURELÍDIA RIBEIRO BARROS, residente na

Rua Alice Bumachar Neffa, 510, ap. 502, Jardim Camburi, Vitória/ES;

12. JURANDY NOGUEIRA JUNIOR, inscrito no C.P.F. sob o nº 843.970.127-68, filho

de JURANDY NOGUEIRA E MARIA BATISTA NOGUEIRA, residente na Rua

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Samuel Levi, nº 82, aptº 201, Ed. Caravelle, Aquidaban, Cachoeiro de

Itapemirim/ES;

13. ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, inscrito no C.P.F. sob o nº 055.877.297-88,

filho de GUILHERME CHARLES PINHEIRO e MARIANA BASTOS PINHEIRO,

residente na Rua Avenida Simão Soares, 1195, Marataízes/ES;

14. MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA, inscrita no C.P.F. sob o nº 102.123.927-

51, filha de AYRES SILVA e ARILDA FONSECA SILVA, residente na Rodovia ES-

162, S/N, São Paulinho, Presidente Kennedy/ES;

15. SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, inscrita no C.P.F. sob o nº 122.550.347-78, filha

de EMILZA FRANÇA DE ALMEIDA, residente na Rua Projetada, S/N, Bairro

São Salvador, Presidente Kennedy/ES;

16. CHARLENE CARVALHO SECHIN, inscrita no C.P.F. sob o nº 099.182.267-65,

filha de DEUMI SECCHIN ZIONE CARVALHO SECCHIN, residente na Rodovia

ESW-162, km 22, imóvel de cor amarela, Bairro Desejo, Presidente

Kennedy/ES;

17. FABRÍCIO DA SILVA MARTINS, inscrito no C.P.F. sob o nº 068.485.437-64 filho

de NATAL MOURY MARTINS e CELIA MARIA DA SILVA MARTINS, residente na

Avenida Antônio Penedo, 19, Centro, Cachoeiro de Itapemirim/ES;

18. WALLAS BUENO DA SILVA, inscrito no C.P.F. sob o nº 971.826.216-49, filho de

SOAMIRAMELIO DA SILVA e NOBERTA LAURA DA SILVA, residente na

Avenida Central, 200, Bairro Belo Horizonte, Marataízes/ES;

19. SAMUEL DA SILVA MORAES JUNIOR, inscrito no C.P.F. sob o nº 110.643.467-

66, filho de SAMUEL DA SILVA MORAES e SIRLEIA AMARAL LESSA, residente

na Rua Atílio Vivácqua Vieira, 395, 1º andar, Centro, Presidente

Kennedy/ES;

20. PAULO CÉSAR SANTANA ANDRADE, inscrito no C.P.F. sob o nº 406.601.505-

06, filho de ARNALDO SANTOS ANDRADE e EPAMINONDAS SANTANA

ANDRADE, residente na Rua Mimoso do Sul, 101, Praia de Itaparica, Vila

Velha/ES;

21. CARLOS FERNANDO ZACHÉ, inscrito no C.P.F. sob o nº 378.296.537-04, filho

de JORGE ANTÔNIO ZACHÉ e JANY SANTANA, residente Rua Comissário

Octávio de Queiroz, 1087, Ed. Luciana, ap. 401 (cobertura), Jardim da

Penha/Vitória/ES;

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22. RODRIGO DA SILVA ZACHÉ, inscrito no C.P.F. sob o nº 086.759.237-08, filho

de CARLOS FERNANDO ZACHÉ e MARIA DA CONCEIÇÃO S. ZACHÉ,

residente na Rua Maranhão, 140, ap. 103, Praia da Costa, Vila Velha/ES;

23. JULIANA DE PAULA, inscrita no C.P.F. sob o nº 117.526.547-06, filha de

NELSON PINTO DE PAULA r LOURACI NOGUEIRA DE PAULA, residente na Rua

Walcir Tápias Oliveira, 207, bloco B, AP. 201, Antônio Honório, Vitória/ES;

24. ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES, inscrita no C.P.F. sob o nº 100.495.647-

90, filha de COSMO RODRUGUES e IRENE SALOMÃO RODRIGUES, residente

na Rua Atum, 6, Quadra 34, Setor América, Cidade Continental, Serra/ES;

25. SABRINA DA SILVA TESCH, inscrita no C.P.F. sob o nº 054.411.747-65, filha de

JOÃO BATISTA TESCH e ELSA DA SILVA TESCH, residente na Rua Piúma, 12,

Morada de Laranjeiras, Serra/ES;

26. FÁBIO SAAD JUNGER, inscrito no C.P.F. sob o nº 024.606.247-94, filho de

FRANCISCO ALFREDO LOBO JUGER e KAFA MARIA D S JUNGER, residente

na Avenida Antônio Borges, 80, Mata da Praia, Vitória/ES e

27. JOEL ALMEIDA FILHO, inscrito no C.P.F. sob o nº 342.505.227-68, filho de JOEL

ALMEIDA e PASCOA RIBEIRO, residente na Rua Maria dos Santos Cunha, 85,

bl. F, apto. 204, Jardim Camburi, Vitória/ES;

pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos.

1 – ELEMENTOS PRÉ-DENUNCIAIS: JUSTIFICATIVA DO ADITAMENTO

No Direito Processual Penal existe uma máxima estabelecendo que sua

função precípua seja assegurar à sociedade que fatos puníveis pelo direito

penal (praticado por um indivíduo, de cuja violação desafia o Estado), se

subsume ou não a determinado modelo descrito na lei. Uma vez confirmado

que seu comportamento viola bem jurídico penalmente tutelado, o processo

penal surge para o restabelecimento da paz juridicamente perturbada.

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Por influência do atual estágio vivido pela sociedade, face ao Estado

Democrático de Direito Moderno onde o Processo Penal (diga-se o poder do

Estado) se encontra mais enraizado em bases constitucionais, limitado em sua

própria norma e legitimado pelo respeito aos direitos fundamentais, o

ordenamento jurídico punitivo não poderá deixar de lado sua finalidade

principal, qual seja, a proteção dos direitos humanos e dos bens jurídicos

imprescindíveis a sua coexistência. Esse consectário é o que a doutrina vem

chamando de “Função Garantista do Processo Penal”.

Do fracasso da sociedade em impedir a agressão aos seus integrantes ou,

defrontando-se com a impossibilidade de autoexecutar suas normas de

conduta e/ou o exercício do poder de polícia, vis a vis a lesão de bens

jurídicos penalmente protegidos, exsurge a pretensão processual punitiva

estatal com vistas à aplicação das sanções previamente descritas no

ordenamento jurídico penal violado.

Isso somente é possível através do uso legal dos instrumentos colocados à

disposição do Estado e, nessa via, aparece a principal ferramenta: o Processo

Penal – meio necessário e suficiente à realização da jurisdição penal. Cabe

ao Processo Penal, por exemplo, a responsabilidade pela análise das provas

levantadas pelas partes, de modo que o Estado-Juiz possa apresentar

livremente o seu convencimento e o veredicto sobre a conduta do réu, de

acordo com o fato investigado e a partir das provas trazidas ao processo

pelos interessados no estabelecimento da verdade.

A esse respeito, o ilustre Desembargador e professor, Paulo Rangel, ensina que

“Descobrir a verdade real (ou material) é colher elementos

probatórios necessários e lícitos para se comprovar, com certeza

absoluta (dentro dos autos), quem realmente enfrentou o

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comando normativo penal e a maneira pela qual o fez. O desejo

de se descobrir a verdade é o desejo de se realizar a justiça. Por

isso, a verdade e a justiça são realidades e valores

complementares.”1

Essa “verdade”, portanto, refere-se sempre a um mesmo fato ocorrido no

mundo jurídico, e, qualquer situação fática oriunda de evento idêntico ao já

apreciado pelo Estado-Juiz, passa a ser ilícita uma nova condenação do

acusado.

Desta forma, havendo comprovação de que há diversidade fática da que

consta na denúncia, contudo, oriunda de “um único evento, indivisível,

concreto e real, ou seja, se o fato naturalístico (aquele ocorrido no mundo dos

homens) for um só, com imputação diversa pelo Ministério Público, só poderá

haver condenação se houver aditamento a denúncia.”2

Nesse contexto, portanto, o aditamento à peça de ingresso da Ação Penal

deve ser observado com vistas à perfeita adequação jurídica do (“novo”)

fato, medida que dever ser encarada como “imperiosa de realização da

justiça tanto para com o acusado como para com a sociedade,

estabelecendo plena igualdade de condições.”3

O artigo 384 do Código de Processo Penal estabelece que:

“Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do

fato, em consequência de prova existente nos autos de

circunstância elementar , não contida, explícita ou implicitamente,

na denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a

defesa, no prazo de 8 (oito) dias, fale e, se quiser, produza prova,

podendo ser ouvidas até três testemunhas.

1Paulo Rangel, Direito Processual Penal. 3 edição, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2000. 2 RANGEL, 2000. 3 RANGEL, 2000.

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Parágrafo único - Se houver possibilidade de nova definição

jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz baixará

o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a

denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado

o processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o

prazo de 3 (três) dias à defesa, que poderá oferecer prova,

arrolando até três testemunhas.”

Independentemente do posicionamento doutrinário acerca do dispositivo

supramencionado4, a questão a se observar é a possibilidade de se aditar a

denúncia face à prova nova surgida no curso da instrução processual. Tem-

se, portanto, três caminhos a percorre dentro da análise jurídica: i) se se tratar

de um pedaço do fato e houver prova nova de sua ocorrência, a

necessidade do aditamento é medida de extrema importância; ii) em se

tratando de fato em relação ao original, oriundo de novas provas, há que se

aditar a denúncia dando-se a oportunidade ao réu de ser interrogado sobre

esse novo fato conexo e praticar todos os demais atos processuais inerentes à

sua defesa; iii) entretanto, se for fato novo, porém, sem conexão, instaura-se

outra ação penal.

Do exposto acima, uma vez diante da possibilidade de alteração contextual,

face à presença de elementos que integram o fato, mas que não constam da

denúncia, deverá a peça de ingresso ser aditada pelo órgão acusador. Desta

forma, não importará que fique a pena menor, igual ou maior, na verdade,

o(s) réu(s) terá(ão) o direito de se defender dos fatos descritos na denúncia e

não da capitulação jurídico-penal dada aos fatos.

É o que ocorre no caso vertente, conforme se narrará nas linhas seguintes,

razão que move o Ministério Público, nessa ótica, a apresentar o presente

aditamento face aos elementos contextuais que o justificam.

4 Aqui a doutrina diverge quanto à possibilidade de aditamento da denúncia quando se

tratar de aplicação de pena mais ou menos grave.

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2 - A OPERAÇÃO “LEE OSWALD” – ESCORÇO HISTÓRICO

Noticia a documentação que faz parte da presente peça inaugural de

processo criminal, notadamente o Inquérito Policial Federal nº 502/2011, que

tramita no Departamento de Polícia Federal, através da Superintendência

Regional no Espírito Santo – investigação policial iniciada com o objetivo de

desaparelhar organização criminosa que vinha atuando de forma ordenada

e contumaz em fraudes em licitações públicas no município de Presidente

Kennedy, cidade localizada no litoral sul do Espírito Santo.

A operação, batizada de “Lee Oswald”5, teve, inicialmente, o objetivo de

apurar supostos desvios de verbas públicas de âmbito federal, bem como

também outras oriundas de royaties de petróleo.

O ponto de partida da Operação foi o envio do vasto material encaminhado

à Delegacia da Polícia Federal no Espírito Santo pelo ilustre Desembargador

Pedro Valls Feu Rosa, que vislumbrou conexão entre o que restou apurado das

operações “Moeda de Troca” (ocorrida em Santa Leopoldina-ES) e “Tsnunami”

(deflagrada no município de Fundão-ES), que, em sua gênese, narravam o

envolvimento de parlamentares, chefes de executivo municipal, de servidores

públicos, militares e de empresários em diversas fraudes em processos

licitatórios, em prejuízo direto da Administração Pública.

Restaram patentes durante as investigações, indícios robustos da ramificação

da organização criminosa para além das fronteiras dos municípios objeto das

5 Lee Harvey Oswald, nasceu em Nova Orleans, em 18 de outubro de 1939 e morreu em

Dallas, no dia 24 de novembro de 1963. Oswald, de acordo com três investigações do

governo dos Estados Unidos, foi o assassino do presidente John F. Kennedy, baleado em

Dallas, Texas, em 22 de novembro de 1963. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lee_Harvey_Oswald)

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investigações. De forma bem especial, aparecia nesse contexto a cidade de

Presidente Kennedy, seguramente atraída por verbas colossais provenientes

dos royalties do petróleo, conforme destacou o Eminente Desembargador

Pedro Valls Feu Rosa na sua decisão, verbis:

“... quanto ao lixo, as denúncias demonstram claramente uma

ramificação nos vários municípios do Estado, assim como, um

possível mau uso de recursos oriundos dos royalties do petróleo e

até mesmo de recursos federais.”

Todo o vasto conteúdo extraído das Operações “Tsunami”, “Moeda de Troca”

e “Lee Oswald”, vem confirmar que a inquietude do magistrado fazia sentido,

não apenas pelo modus operandi da quadrilha, mas da própria atuação do

grupo em diversos municípios capixabas e até mesmo em municípios de

outros Estados da Federação.

Em primeiro plano, vamos nos ater à Operação “Lee Oswald”, com possíveis

inserções das outras operações, como forma de contextualização situacional.

O ilustre Delegado que presidiu o Inquérito Policial Federal nº 502/2011 teve,

então, como início dos trabalhos, a documentação enviada pelo conspícuo

Desembargador Pedro Valls Feu Rosa, extraindo-se dela pontualmente o que

interessa ao caso em voga: i) a denúncia encaminhada pelo Vereador de

Presidente Kennedy Tércio Jordão Gomes; e ii) Os depoimentos de Ronaldo

Nunes de Souza prestados ao GETI, ao Delegado de Polícia Civil de Presidente

Kennedy e, posteriormente, ao Delegado de Polícia Federal que conduziu as

investigações.

Em denúncia formulada pelo Vereador do município de Presidente Kennedy,

Senhor Tércio Jordão Gomes, alertava o parlamentar acerca de várias

irregularidades, apontadas pelo então juízo processante da Denúncia,

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oriunda da Operação “Tsunami”, razão da necessidade do devido

encaminhamento legal da documentação à autoridade investigativa.

O material enviado, encorpado pelo farto conjunto de provas obtidos na

própria Operação “Lee Oswald”, é capaz de comprovar a descomunal forma

de atuação do grupo instalado no Município de Presidente Kennedy, além de

corroborar a existência de verdadeira organização criminosa instalada no

Estado do Espírito Santo, que tem como principais características o alto poder

de corrupção e intimidação de seus integrantes, conexões locais e divisão de

territórios para atuação e, ainda, estrutura piramidal com divisão de tarefas

entre seus membros, além é claro, de ramificações/conexão em outros

municípios, como Cachoeiro de Itapemirim, Santa Leopoldina, Viana, Serra,

Apiacá, Fundão, Vitória, Vila Velha, dentre outros.

Desta forma, a estrutura montada e já visualizada por este honrado Juízo e

pelo Delegado Federal que presidiu os trabalhos, Dr. Alvaro Rogério Duboc

Fajardo, proporcionou a instrumentalização da investigação policial,

materializada nos autos do Inquérito Policial nº 502/2011 – SR/DPF/ES, para o

fim de esquadrinhar a continuidade delitiva da organização criminosa.

A partir do belo e inteligente trabalho investigativo dos agentes federais,

constatou-se, em definitivo, que o grupo é composto, dentre outros, por

agentes públicos municipais de alto escalão, parlamentares estaduais,

membro do legislativo local, militares, empresários, bem como outros

servidores municipais, que vêm praticando crimes tipificados no Código Penal

Brasileiro, na Lei 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro), na Lei 8.666/93 (Lei de

Licitações), dentre outras.

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Com o avanço das atividades policiais, a autoridade que presidiu o Inquérito

nº 502/2011 foi apresentando representação por medidas de caráter cautelar,

necessárias à instrução e condução dos trabalhos investigativos, tendo como

pano de fundo o aprofundamento dos fatos e a concretização do

envolvimento dos integrantes do grupo criminoso nas delinquências objeto de

apuração.

Para instruir o citado Inquérito Policial Federal (nº 502/2011), ante a

clandestinidade da ação dos suspeitos e do nível de organização do grupo

no cometimento dos delitos investigados, eis que quedaram inevitáveis os

requerimentos de medidas cautelares, “instrumentos excepcionais de

produção prova, tendo em vista a complexidade que envolve investigações

desta natureza e, sobretudo, em razão da dificuldade de perscrutar as ações

da organização criminosa praticadas, em grande medida, no município de

Presidente Kennedy”, conforme exposto na Representação Final apresentada

pelo delegado. 6 Entre as medidas incluem-se:

i) a quebra de sigilo telefônico e de dados com interceptação e

monitoramento de voz e número, de comunicações e torpedos, caixa

postal, pager, chat, fax, referentes a short menssages, de terminais

específicos;

ii) a quebra de sigilo pessoal, com possibilidade de instalação de

equipamento para monitoramento ambiental ou emprego de

dispositivo portátil para captação de áudio, vídeo e/ou áudio e vídeo,

no escritório de um dos alvos principais da investigação;

6 Conforme se observará mais à frente, a cidade de Presidente Kennedy possui pouco mais de

dez mil habitantes. Porém, “70% da população reside na zona rural e a sede do município se

assemelha a um pequeno povoado onde todos se conhecem. Com isso, a teor do afirmado

pelo delegado Álvaro Fajardo, “é praticamente impossível incursionar sem ser notado. Some-

se a isto, a estrutura de proteção ao esquema criminosos instalada pelo Poder Público com

participação ativa de Policiais Militares e da Guarda Civil Municipal.”

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iii) acompanhamento e ação controlada, das ações flagranciais

praticadas por alguns dos investigados e registradas a partir dos

procedimentos de formação de provas;

iv) como material necessário para a formação da composição do acervo

probatório, foi solicitada, ainda, de forma complementar,

representação por medida cautelar de afastamento de sigilo fiscal e

bancário, que teve como pressuposto auferir a impressionante forma de

atuação da quadrilha na prática de crimes que visam o ganho de

capital e poder econômico.

A alta periculosidade e voracidade arrecadatória, além do enorme poder de

influência dos seus membros, comprovaram que as atividades delitivas da

organização criminosa ultrapassaram as fronteiras da cidade alvo (Presidente

Kennedy) e do nosso estado, sendo certo que seus negócios escusos

direcionam-se também para outras unidades da federação, inclusive com o

apadrinhamento de Políticos de peso no país como Roberto Jeferson7, além

da ajuda de Delúbio Soares8, conforme demonstraram as investigações.

Na medida em que as investigações ganhavam terreno foram sendo

confirmadas as informações precedentes: tratava-se de verdadeira quadrilha

de criminosos que se utilizavam de suporte político, administrativo e

empresarial para ingressar fraudulentamente em procedimentos licitatórios

em vários municípios do Estado do Espírito Santo, dentre eles, Presidente

Kennedy, foco principal da operação.

Registros de diálogos promovidos com autorização judicial durante a

operação “Lee Oswald”, evidenciam ajustes direcionados em processos

7 Roberto Jefferson ficou conhecido nacionalmente por denunciar o mensalão. Teve o

mandato de Deputado Estadual cassado em razão do escândalo. 8 Delúbio Soares é o ex-tesoureiro do PT e ficou conhecido nacionalmente como um dos

gerentes do mensalão.

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licitatórios, divisão de licitação, afastamento de eventuais concorrentes dos

certames, verificando claramente um “jogo de cartas marcadas”.

Como principais cabeças dessa organização, aparecem as figuras do Prefeito

do Município de Presidente Kennedy, Reginaldo dos Santos Quinta, do

Procurador-Geral do Município, Constâncio Borges Brandão, além de

Secretários Municipais e empresários.

Evidentemente que surgem também outros integrantes dessa organização

criminosa e facilitadores/colaboradores diretos das (nas) operações ilícitas

que aconteciam no município de Presidente Kennedy, conforme será

narrado, pausadamente, no decurso da presente denúncia, até mesmo para

individualização da condutas/crimes.

Não obstante atuarem com união de desígnios, os envolvidos, com a

organização e comando de Reginaldo dos Santos Quinta e Constâncio

Borges Brandão, estabeleciam, na maior parte das vezes, ramos distintos de

atuação dentro do grupo criminoso, conforme se observará em seguida.

2.1 – PRESIDENTE KENNEDY: O MUNICÍPIO “PROMISSOR”

O município de Presidente Kennedy, que possui uma população estimada de

10.315 habitantes e uma área de 586,52 km². É considerada uma das cidades

menos populosas do Espírito Santo, porém com o segundo maior PIB per

capita do estado, com aproximadamente R$ 100.000,00 (cem mil reais)9, e

grande parte desse número se deve às explorações de petróleo e gás, em

9 Dados obtidos no site Wikipedia, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Presidente_Kennedy.

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alto mar, da chamada camada pré-sal, no Oceano Atlântico, razão do

interesse de empresas como a Petrobras, Chevron(Texaco), Shell, Ferrous10,

Samarco e a Vale.

Apenas a título de ilustração, permita-nos aportar os dados apresentados pelo

nobre delegado Álvaro Fajardo, acerda da atual situação que passa o

Município de Presidente Kennedy, no que diz respeito à sua inserção no

cenário estadual, nacional e, porque não dizer, internacional.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, “o município de Presidente

Kennedy recebeu no ano de 2011 quase 100 milhões de reais em créditos de

royalties provenientes da exploração de petróleo, mais do que receberam os

municípios de Marataizes, Serra, Vitória e Vila Velha juntos, figurando esses

hoje na 7ª, 8ª, 9ª e 10ª colocação no ranking dos municípios capixabas que

mais se beneficiaram com a indústria do petróleo.”

Na distribuição de royalties, atendendo à política de compensação

financeira devida à União, Estados e Municípios pelas empresas produtoras de

petróleo e gás natural no Brasil, o município de Presidente Kennedy mais uma

vez se encontra em situação privilegiada em relação a outros Estados.

No quadro comparativo entre o total de recursos repassados ao município

capixaba em destaque em relação aos demais Estados da Federação e/ou

municípios brasileiros, agrupados por estados, no ano de 2011, Presidente

Kennedy ocupa a 7ª colocação, ficando somente atrás de Rio de Janeiro,

10 A mineradora FERROUS, que atua na pesquisa, prospecção, exploração, beneficiamento e

comercialização de minério de ferro, anunciou um investimento em Presidente Kennedy de

US$ 2,7 bilhões (dois bilhões e setecentos milhões de doláres ) podendo chegar a 11 bilhões

de reais, construindo o complexo industrial e um porto com usinas de pelotização na área de

12 milhões de metros quadrados.

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Espírito Santo (todas as cidades juntas), São Paulo, Rio Grande do Norte, Bahia

e Sergipe.

Essa, seguramente, seria a maior motivação da instalação dessa organização

criminosa no município de Presidente Kennedy.

Mas a realidade maior não se encontra nas milionárias cifras provenientes dos

royalties do petróleo recebidos pelo município de Presidente Kennedy. A teor

da Representação Final do ilustre Delegado de Polícia Federal:

“Com PIB per capita de fazer inveja a países desenvolvidos, para

citar apenas Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França (EUA:

U$ 41,199; Alemanha: U$ 40,152; Reino Unido: U$ 36,144; França: U$

39,460; Brasil: U$ 10,710)11, a população de Presidente Kennedy vive

uma realidade social típica de um município pobre. A maior parte

das ruas não são calçadas, os serviços, tanto públicos como

privados, deixam a desejar, a renda de boa parte dos moradores

vem ou gravita em torno da prefeitura e a pobreza ainda impera

na cidade que registra índice de analfabetismo de 18% da

população adulta.12”

Pelo que se pode observar através desses dados, há uma outra realidade

social mais à margem da “nobreza”, fruto do “ouro negro”, mas que é

necessário apontar.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PUND, possui

dados alarmantes e preocupantes acerca do município de Presidente

Kennedy. O município ocupa a 74ª colocação (as ultimas colocações) no

índice de desenvolvimento humano, em comparação com os demais

municípios capixabas13. Ademais, conforme avaliação da Federação das

11 Fonte: BANCO MUNDIAL – http://datos.bancomundial.org/indicador/NY.GDP.PCAP.CD 12 Fonte: IBGE – Censo 2010. 13 Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD www.pnud.org.br

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Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – FIRJAN, o município de Presidente

Kennedy apresenta um dos piores índices de desenvolvimento propriamente

dito, quando comparado aos demais municípios capixabas.

Aproveitando os dados levantados em razão da Representação Final pelo

delegado responsável pela operação “Lee Oswald”, é possível mensurar que

o município de Presidente Kennedy, no ranking geral do nosso Estado, “ocupa

a 67ª posição dentre os 78 municípios, mas a situação se agrava quando a

avaliação toma por base as condições educacionais do município”,

ocupando nada mais, nada menos, do que a ULTIMA COLOCAÇÃO.

Pois bem. Como contextualizar e/ou individualizar o comportamento da

organização criminosa instalada naquela municipalidade e subsumi-lo ao

caso concreto?

2.2 – A SOCIEDADE CRIMINOSA INSTALADA EM PRESIDENTE KENNEDY

É fato que as vicissitudes do mundo moderno vêm modificando o

pensamento humano, mexendo na sua essência, mormente quando usado

pelo ou para o fruto de sua criação: o Estado – criatura que surge para

“controlar” as ações do seu criador. Se por um lado a modernidade fez o ser

humano passar a pensar racionalmente, por outro o fez entrar em crise de

valores. Há autores mais modernos e mais próximos aos campos filosóficos,

sociológico, antropológico, teológico e também da área jurídica, se

posicionando no sentido de que uma dessas causas foi o desencantamento

causado pelo “mundo secular” ou “sociedade pós-moderna secularizada”.

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A sociedade pós-moderna tem como marca característica a fragmentação e

a indeterminância. Estudiosos mais modernos da área, como Gilles

Lipovetsky14, entendem que a partir dos anos cinquenta do século passado, o

mundo vivencia uma aceleração nos meios que movimentavam a

modernidade – as pessoas, o mercado, o acúmulo de capital, a escalada

técnico-científica. Com o avanço da globalização e os meios tecnológicos

de comunicação, principalmente após os anos oitenta, essa nova realidade

social passa a interferir diretamente em comportamentos e modos de vida.15

Nesse contexto histórico-social é interessante observar que a ciência e a

tecnologia transformaram sensivelmente a natureza do agir humano. Os

padrões morais do passado também foram se alterando. A mudança

proporcionou a dependência do modo de ação do ser humano e não só nos

aspectos físicos; tudo passou a ser implicado na esfera do agir humano e,

portanto, de sua responsabilidade. Nessa sociedade hipermoderna,

“aumenta cada vez mais a desproporção entre o poder de dominação

técnica e os critérios morais capazes de reger a nova civilização daí

decorrente.”16

A impressão que fica é a de que fazer parte desse ambiente requer do

indivíduo ações repetitivas diretas de inclusão no meio, tendo em vista que,

aparentemente, todos agem da mesma forma ou, mesmo sem agir, na

omissão, culminam por atestar o resultado daquele proceder. Com isso,

impotente ou fruto do meio, parece que as pessoas vivem envoltas em

problemas sociais (roubalheira, injustiça social e econômica, etc), sem se

14 Lipovetsky é um filósofo francês, professor de filosofia da Universidade de Grenoble, teórico

da Hipermodernidade. 15 LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os Tempos Hipermodernos. Tradução Mario Vivela.

São Paulo: Barcarolla, 2004. 16 OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética, Direito e Democracia. São Paulo: Paulus, 2010. p. 10.

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abalar ou sublevar-se, em profundo descompasso com a cultura social

natural, situação que vai se avolumando sem condições de resolução.

Trazendo a problemática para debaixo de nossos “lençóis”, é perceptível esse

quadro instalado não apenas no município de Presidente Kennedy, mas em

todo o Estado do Espírito Santo, e, porque não dizer, no Brasil. Por essa razão, é

fundamental para uma vivência democrática que a moralidade política seja

exigida pelos cidadãos, ainda que por parcela ínfima da sociedade, como

podemos ver no caso em exame. E num tempo em que assistimos o

sepultamento da ética e da moral, cabe aos poderes públicos o dever

jurídico do agir pro societate.

Pois bem. Devidamente diagnosticada e contextualizada a situação

emergente, sobretudo, na sociedade capixaba como um todo, e, buscando

com isso traçar um paralelo com o caso sub examine, analisaremos em

seguida a problemática sob a ótica da estrutura criminosa instalada no

município de Presidente Kennedy.

Conforme já abordado acima, a operação “Lee Oswald” teve como ponto

de partida três fontes distintas, mas complementares entre si:

i) O encaminhamento de farto material ligado à Operação Tsunami,

desenvolvida no município de Fundão, pelo Desembargador Dr. Pedro Valls

Feu Rosa;

ii) a documentação extraída da Operação Moeda de Troca, desenvolvida no

ano de 2010 no município de Santa Leopoldina;

iii) Os depoimentos de Ronaldo Nunes de Souza, ex-funcionário de um dos

investigados, até então, prestados ao GETI e ao Delegado de Polícia Civil de

Presidente Kennedy.

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O conjunto até então encaminhado para o Departamento da Polícia Federal

pelo conspícuo Desembargador Pedro Valls Feu Rosa, como dito, era apenas

o “prato principal” de um banquete de ilicitudes perpetradas pela estrutura

organizacional aparelhada e instalada em Presidente Kennedy para prática

de crimes e usurpação dos cofres públicos desse rico município.

Como toda organização criminosa voltada para o crime, essa não é

diferente, visto que possui todas as características que a identifica, ou seja: i)

previsão de lucros; ii) hierarquia entre seus membros; iii) planejamento

empresarial; iv) divisão de trabalhos; v) ingerência no poder estatal; vi)mescla

de atividades lícitas e ilícitas para dificultar a atuação dos órgãos públicos

encarregados da persecução penal.

Conforme exposto na Representação Final, a estrutura organizada no

executivo de Presidente Kennedy para o fim de desviar recursos públicos em

benefício próprio ou de terceiros, possui a seguinte estrutura hierárquica:

Prefeito

Decisão

Procurador

Legalização

Secretários

Ação

Comissão de Licitação

Execução

Câmara de Vereadores

Omissão

Policiais

Intimidação

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Veja que é efetivamente a conclusão da investigação levada a efeito na

Operação “Lee Oswald”. Portanto, um “grupo de pessoas, em uma

sociedade piramidal, a partir do Prefeito, de forma permanente, atuando

com cristalina divisão de funções, paralelamente a uma presumível rede de

corrupção destes agentes, objetivando a perpetuação de Poder Político, no

município de Presidente Kennedy.”17

Para que não percamos nenhum detalhe acerca da estrutura montada pelo

grupo e devidamente apurada pela equipe da Polícia Federal (presidida pelo

ilustre delegado Álvaro Fajardo), pedimos vênias para transcrever, na

sequência, ipisis literis, os dados levantados no Relatório Incidental:

- O CHEFE DO EXECUTIVO: PREFEITO REGINALDO DOS SANTOS QUINTA

“O Prefeito Reginaldo dos Santos Quinta tem a decisão, a palavra

final, o controle total da situação, trata-se da pessoa que manda.

Ao contrário do que tenta passar, não é um pequeno peixe

inocente entre tubarões, mas um homem inteligente, forjado no

mundo da política partidária, que tem comando pleno de sua

administração e, ao fim de tudo, conduz toda a situação ilícita que

ocorre sob sua égide. Não há espaço para desconhecimento dos

desmandos, pois Presidente Kennedy é um pequeno município,

basicamente rural, com uma pequena sede urbana de pouco mais

de três mil habitantes, onde todos se conhecem e se falam. Lá,

fatalmente, qualquer situação fora do lugar comum chama

imediata para quem a comete. Reginaldo sequer pode culpar seu

secretariado, pois, não bastasse que duas de suas sobrinhas,

17 Dados levantados no Relatório Incidental apresentado pelo Agende da Polícia Federal,

Rafael Rodrigo Pacheco Salaroli.

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Amanda e Geovana, ocupem posição de destaque, a relação com

os demais Secretários beira o familiar. No corpo deste relatório ficará

a participação de Reginaldo nos crimes investigados, em especial,

mas não somente, em dois deles. São os processos licitatórios e

contratos firmados entre as empresas EXCELÊNCIA e PULIZIE ITÁLIA e

a municipalidade.”

Veja que o prefeito Reginaldo Quinta não é apenas chefe do Executivo de

Presidente Kennedy, é a pessoa que comanda efetivamente o crime

organizado instalado naquele município. Os diálogos de índices 5535243,

5535545, 5535552, 5535721, 5536895, 5537291, 5544197, captados durante as

investigações, dão mostras de como o Prefeito age e comanda a

organização.

- O PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO–CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO

“O Procurador Geral Constâncio Borges Brandão legaliza os

procedimentos licitatórios com a emissão de seus pareceres,

destinados a dar adequação pro forma, ou seja, apenas para

conceder um ar de respeito à Lei para os desmandos praticados

nestes processos. Mas não é só, em contraposição a Geovana, que

organiza as licitações com o empresariado local, Constâncio é o

homem forte do Prefeito para articular toda a evolução das grandes

obras, buscando o sucesso das fraudes, inclusive, como se verá,

com a utilização de um interlocutor para tal, o senhor Miguel Jorge

Freire Neto. Somado a isso Constâncio, utilizando seus pareceres,

lida com o empresariado sempre que se mostra necessário facilitar

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ou destravar algo, concentrando, desta maneira, o domínio sobre as

negociatas previamente realizadas.”

Na estrutura organizacional do grupo, o Procurador-Geral, portanto,

desempenha papel de grande destaque, acima de tudo, na própria

legalização dos procedimentos licitatórios fraudados, apondo suas digitais,

veladas por ilicitudes, em pareceres montados para o fim de assaltar os cofres

públicos municipais; agindo assim, contribui na coordenação direta junto aos

grupos econômicos envolvidos.

A atuação do Procurador-Geral do município está muito bem evidenciada, e

apenas a título de ilustração e confirmação do trabalho executado por esse

indivíduo na estrutura criminosa, reportamo-nos ao conteúdo do depoimento

prestado ao GETI e ao Delegado Álvaro Fajardo, por seu ex-funcionário e

então homem de sua extrema confiança, Ronaldo Nunes Souza (vide

Representação Final), bem como ao evento esportivo ocorrido em Presidente

Kennedy no dia 14/02/2012 (MOTOCROSS) conforme demonstram os índices

5446889, 5447031,5458361, 5458364, 5471605.

- OS SECRETÁRIOS DO MUNICÍPIO

“Os Secretários, estrutura criminosa, são os responsáveis por gerar as

demandas de interesse do grupo, dar causa aos processos

licitatórios. Aqui são gestados os desejos que irão se concretizar em

grandes contratos relativos à aquisição de bens, serviços e obras. A

participação deles ficará clara na descrição dos eventos criminosos

que se estenderão por todo o relatório, citemos aqueles que

definitivamente estão envolvidos:

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Geovana Quinta Costalonga – REGISTRE-SE DE IMEDIATO – não se

confunde com os demais secretários. Conhecida como a

supersecretária e como dito, ela é o contraponto de Constâncio.

Está em mesmo nível de mando e influência na organização

criminosa, sendo a responsável pela condução dos contratos que

envolvem as empresas locais. A descrição de suas funções aqui só

se mantém em razão de compor o secretariado, mas nem de longe

está em nível de igualdade de poder ou influência, ao contrário. Seu

apelido, “Abelha Rainha”, sintetiza esta afirmação. Geovana é a

Secretária que concentra mais poder em razão de ser titular das

Secretarias de Assistência Social, Educação e Habitação. Ambiciosa

ela ainda se articula para acumular a pasta da Saúde, se vale da

condição de sobrinha do Prefeito para fazer valer seus desejos e

está se preparando para substituir o tio e, assim, herdar seu espólio

político. Todas as contratações que envolvem a aquisição de bens e

serviços, com empresas locais e regionais, passam pelo crivo de

Geovana. Exemplos são os contratos da MATRIX, das empresas

ligadas aos irmãos GOMES, além de também interferir nos contratos

de seu interesse ainda que não ligados a sua pasta, caso dos

contratos da EXCELÊNCIA e da PULIZIE ITÁLIA.

Juliana Baiense Fontão da Cruz é Secretária de Administração,

Chefe de Gabinete do Prefeito e aliada de Geovana de todas as

horas. Juliana é nora do Presidente da Câmara, vereador Dorlei

Fontão, parceira cotidiana de Flávio Jordão em suas ações e esteio

do Prefeito na Administração. Todos os processos passam por suas

mãos, propiciando total conhecimento do que está acontecendo. É

responsável dentre outras coisas, pelo contrato da PULIZIE ITÁLIA,

absolutamente fraudado com seu conhecimento e participação.

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Flávio Jordão da Silva é Secretário de Transportes, mas atua em

diversos segmentos. Homem de confiança de Reginaldo Quinta,

partidário político e uma espécie de conselheiro, já que o Prefeito a

ele recorre para tratar de qualquer assunto que julgue importante,

indiferentemente da pasta que ocupa. Interferiu diretamente no

contrato da empresa GLOBO e PULIZIE ITÁLIA. A ele também é dada

a função de coordenar os shows e eventos da cidade e proteger o

Prefeito de qualquer ameaça. Flávio é par de Juliana e está sempre

a auxiliando em suas demandas. De mesma forma, atua na

blindagem do Prefeito em paralelo ao empresário Cláudio Ribeiro

Barros, dono da empresa MASTER PETRO e, de fato, da empresa

PULIZIE ITÁLIA.

Márcio Roberto Alves da Silva é Secretário de Meio Ambiente,

homem de personalidade fraca, mas de posição importantíssima

em uma cidade onde a questão ambiental é chamada de primeira

hora para as grandes contratações. Atua sob o controle absoluto de

Geovana, é responsável por dois contratos vultosos, o da EMEC e o

da EXCELÊNCIA, além de ter sido de mesma forma responsável pelo

contrato da METAVIX.

Alexandre Pinheiro Bastos é Secretário de Desenvolvimento e por ele

passam todos os grandes projetos e grandes obras. Braço direito de

Constâncio possui vinculação direta com o contrato da M2.”

Ainda fazendo parte da estrutura organizacional desse grupo, aparece a

Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal de Presidente

Kennedy. Sob a coordenação do pregoeiro Jovane Cabral da Costa, tem o

papel de dar aparente legalidade aos processos licitatórios realizados pelo

município. Vejamos o que restou apurado:

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“A Comissão Permanente de Licitação composta pelo Pregoeiro

Jovane Cabral da Costa e suas assistentes Charlene Carvalho

Sechin, Maria Andressa Fonseca da Silva e Silvia França de Almeida,

constituem o centro nervoso que viabiliza toda esta estrutura

criminal, pois pela comissão temos desde a confecção pré-

arranjada dos editais até a condução viciada das licitações com

toda sorte de empenho irregular para que vençam as empresas

previamente determinadas. A relação de Jovane com os

empresários beneficiados pelas fraudes é intensa, em especial com

os irmãos Ely e José Carlos Jordão Gomes. Para ilustrar, entre os dias

03/03/2012 a 29/03/2012, Jovane recebeu/efetuou 132 chamadas

para o telefone de Ely (2899922670) e outras 36 chamadas para o

celular de José Carlos.”

- OS PALARMENTARES MUNICIPAIS

“A Câmara de Vereadores é omissiva por comissão e, por conta

desta inércia, gera ambiência de absoluta tranquilidade por parte

do executivo para continuar com suas ações. Nenhum tipo de

questionamento é levantado, a ação fiscalizadora não se impõe,

pois toda a mesa diretora, composta pelo Presidente Dorlei Fontão

da Cruz, pelo Vice-Presidente Manoel José Abreu Alves (Brejeiro),

pelo Secretário Clarindo de Oliveira Fernandes. Somada à mesa

diretora temos a Presidente da Comissão de Justiça, Vera Lúcia de

Almeida Terra e o vereador Jacimar Marvila Batista, o Timar, que em

razão de benefícios eleitoreiros, no mínimo, comportam-se como

cúmplices do Prefeito, anulando, desta forma qualquer tipo de

reação por parte do Poder Legislativo local.”

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Decerto que somente foi possível executar as manobras ilícitas oriundas do

Poder Executivo local – com a liderança do Prefeito Reginaldo Quinta – a teor

do que restou apurado na Operação “Lee Oswald”, em virtude da

participação direta de alguns vereadores e a conivência de outros.

- A ESTRUTURA MILITAR À DISPOSIÇÃO DO GRUPO

“A Força Policial composta pelo Major PM Fabrício da Silva Martins,

pelo Sd. PM Cristiano e pelo Sd. PM Wallas Bueno da Silva é

fundamental neste contexto. Não só exacerbam e utilizam da

condição de policiais em prol da administração local, num excesso

claro das relações institucionais, como se prestam a utilizar da força

para constranger e intimidar aqueles que desagradam ou que

incomodam o bom andamento do arranjo criminoso. A conduta

destes profissionais é um problema em si, mas ainda mais grave por

se tratarem de homens armados e exercerem por derivação de

profissão um temor reverencial nas pessoas. Fabrício é chefe da

Guarda Municipal e a utiliza como uma pequena força de

segurança para o Prefeito. Cristiano e seu ajudante e foi quem

manejou uma arma na cabeça de uma testemunha de nossa

investigação. Walas é segurança do prefeito Reginaldo e, além de

sua função oficial age a mando do Pregoeiro Jovane e dos irmãos

Gomes de forma a intimidar e coagir possíveis participantes das

licitações em Presidente Kennedy, com intuito de dissuadi-los a não

participar dos certames.”

Sobre a atuação ignominiosa desses criminosos travestidos pela farda militar

destaca-se, em relevo, o episódio em que um colaborador da Polícia Federal

foi abordado pelo Sd. PM WALLAS BUENO DA SILVA, a mando do Pregoeiro

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Jovane Cabral, após deixar a sede da Prefeitura Municipal onde participara

do Pregão Presencial 07/2012.

Importante dizer também que a cúpula do executivo municipal, liderada pelo

prefeito, ora denunciado, orquestrou uma estrutura bem aparelhada para o

fim de dar cobertura às ilicitudes da organização. Para tanto, necessitava do

apoio incondicional da própria autoridade militar encarregada da proteção

à sociedade, encontrado escora na pessoa do Secretário Municipal de

Segurança Pública, Major PM FABRÍCIO DA SILVA MARTINS.

Estava, portanto, sob os auspícios do Major PM Fabrício Martins a

responsabilidade de afastar dos processos licitatórios fraudados, os eventuais

concorrentes que possivelmente quisessem questionar jurídica ou

administrativamente os editais. Como bem salientado pelo delegado Álvaro

Farjardo, ”a conduta destes profissionais é um problema em si, mas ainda mais

grave por se tratarem de homens armados e exercerem por derivação de

profissão um temor reverencial nas pessoas.”

- AS EMPRESAS COLABORADORAS DOS ESQUEMAS CRIMINOSOS

Para dar certo o arcabouço criminoso montado na Prefeitura de Presidente

Kennedy, havia a necessidade da participação direta de empresas a fim de

dar vasão, sobretudo, ao dinheiro arrecadado nas operações ilícitas. Para

tanto, o grupo contava com o apoio de empresas ligadas aos integrantes,

sobretudo: a METAVIX, a MATRIX, a EMEC, a M2, as ligadas aos Irmãos Gomes,

a Excelência, a Master Petro e a Pulizie Itália.

Fazendo parte desse rol de pessoas que integram essa organização criminosa,

está MIGUEL JORGE FREIRE NETO, pessoa que transita no meio empresarial

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agenciando negociatas para empresários, junto ao Poder Público. Dentre as

várias empresas ligadas a Miguel, podemos destacar as empresas do

SINDICOPES: Construtora União, Pelicano, Roma, PHD, Connect Construções e

Incorporações, além de outras que não estão ligadas a nenhum sindicato,

com é o caso da LL, SAMON, ATA ENGENHARIA, PELICANO, ALPES, ROMA, etc.

Miguel Freire é considerado o “organizador da fila” das grandes empreiteiras

responsáveis pela execução de obras da construção civil no Estado do Espírito

Santo. Portanto, estamos falando da pessoa que coordena os arranjos das

grandes licitações, atuando como “pacificador” dos empreiteiros.

Nesse ramo de atuação, Miguel Freire tem a “responsabilidade” de organizar

as fraudes envolvendo as grandes obras públicas de engenharia civil no

Estado do Espírito Santo, de forma a beneficiar todas as “empreiteiras” e,

assim, praticar altos preços nos contratos.

Evidentemente que não há como desassociar as ilicitudes advindas de

processos licitatórios, sem a presença marcante de uma estrutura econômica

empresarial disposta a associar-se às atividades criminosas, para o fim de se

beneficiar financeiramente do esquema.

Para bem delimitar a participação e/ou individualização dos membros do

grupo, a seguir, apresentaremos a participação de cada seguimento

empresarial, bem como a implicação dos seus sócios/colaboradores, com o

devido apoio, é claro, de servidores públicos.

Antes mesmo de adentrar na questão que se abordará nesse tópico, é

necessário fazer uma pequena digressão acerca da temática em tela, para o

fim apenas situacional. Para tanto, a fim de não ficar demasiadamente

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pesado e repetitivo, permita-nos transcrever o trecho do Relatório Incidental

apresentado pelo agente Rafeal Pacheco, no qual expôs:

“Assim, temos empresas que firmaram seus contratos de forma

direta com a organização. São os casos dos sócios e ex-sócios das

empresas METAVIX18, M2, EMEC e MATRIX.

E, em oposição, também há no polo privado desta relação, ao

menos quatro grupos, que em si mesmos, constituem grupos

criminosos autônomos.

É o caso de Robson Colombo, da empresa ROBSON RODEIOS,

quando associado às pessoas de Paulo Cesar Santana Andrade,

Patrícia Pereira Ornelas Andrade, Antônio Carlos Sena Filho (Badí) e

Adailton Pereira dos Santos (Dái), respectivamente, ligados à VIP

PRODUÇÔES, TOP SOM, TOP SERVIÇOS, ANTÔNIO CARLOS SENA

FILHO, STYLLU‟S e QUALITY.

Também é o caso das pessoas por trás da empresa EXCELÊNCIA

(José Roberto Monteiro Fraga, Rodrigo Zaché, Carlos Fernando

Zaché e novamente Paulo Cesar Santana Andrade).

De mesma forma, temos o caso das empresas controladas ou

capitaneadas pelos irmãos Ely Ângelo e José Carlos Jordão Gomes

(E.AJ. GOMES, J.C.J GOMES, PETROMAX, E.M. GOMES – ME, S DA

MORAES, CR BICALHO, PC PESSOA, DIOGO NICOLI, JA-GALITO).

Igualmente, temos a estrutura montada por Cláudio Ribeiro Barros

que, com a permissão e consciência de seus funcionários na

empresa MASTER PETRO, os aquadrilhou quando da criação da

PULIZIE ITÁLIA, bem como no funcionamento de ambas.”

1. A METAVIX

A METAVIX SERVIÇOS LTDA- ME, empresa que, inicialmente, concentrava sua

atuação no segmento de venda de carteiras escolares, conforme contrato

social, possui como sócios os já conhecidos Dennys Dazzi Gualandi e Paulo

César Santana de Oliveira, empresários conhecidos da Operação Moeda de

Troca, deflagrada no município de Santa Leopoldina.

18 A empresa METAVIX, de propriedade de Dennys Dazzi Gualandi, está ligada à empresa

IMPACTO. Esta, de propriedade de Aldo Martins Prudêncio.

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A fim de lograr êxito em Licitação para Coleta de Lixo, onde embolsaria algo

em torno de R$ 11.000.000,00 (onze milhões de reais), a METAVIX diversificou

sua área de atuação.

Em certame de “cartas marcadas”, a METAVIX firmou contrato de coleta de

resíduos sólidos domiciliares e comerciais, coleta, transporte e destinação de

resíduos sólidos oriundos dos serviços de saúde, varrição manual de vias e

logradouros públicos, serviço de transporte de lixo urbano, destinação final

dos resíduos sólidos em aterro sanitário, lavagem de ruas e logradouros

públicos e equipe de limpeza mecanizada, no município de Presidente

Kennedy.

Importante registrar que a vitória da METAVIX no referido certame teve a

ajuda apadrinhada, do Prefeito Reginaldo Quinta, do Procurador-Geral,

Constâncio Brandão e, à época, a parlamentar estatual Aparecida

Denadai.19

Muito embora no início da Operação “Lee Oswald” verificar-se que o

contrato da METAVIX havia sido encerrado, os fatos e a documentação

juntada se tornaram de grande relevo à investigação, razão pela foi

requerido o afastamento de sigilo bancário dos responsáveis/sócios pela

empresa, a fim de observar movimentações financeiras suspeitas ou

incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação

19 Segundo o ilustre Delegado Álvaro Fajardo, é importante registrar “que na vigência do

contrato em tela foi desencadeada a Operação Moeda de Troca no município de Santa

Leopoldina em que os nacionais Aldo Martins Prudêncio e Dennys Dazzi Gualandi, foram

presos e responsabilizados criminalmente pela prática de crimes contra a administração

pública relacionados à fraudes em processos licitatórios. Além disso, a referida investigação

também imputou responsabilidade criminal à Rodrigo Zaché e Paulo César Santana de

Oliveira, vulgo PAULO 10, pela prática dos mesmos crimes. Por fim, salienta que Rodrigo Zaché

e Paulo César, integram ativamente o grupo econômico que herdou o contrato de coleta de

lixo da METAVIX, embora de forma dissimulada.”

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profissional e a capacidade financeira presumida dos alvos, além de detectar

atuação de forma contumaz, em nome de terceiros ou sem a revelação da

verdadeira identidade do beneficiário (Banco Central do Brasil - Carta-

Circular nº 2826).20

É importante ressaltar que a documentação acostada aponta

movimentação financeira na ordem de R$ 7.329.745,00 (sete milhões trezentos

e vinte e nove mil, setecentos e quarenta e cinco reais), na conta do

empresário Aldo Martins Prudêncio, ligado ao grupo, entre 01/08/2009 e

12/01/2010 (período em que a METAVIX operava em Presidente Kennedy).

Além da extraordinária quantia movimentada, há, ainda, indícios claros de

corrupção envolvendo Aldo Martins Prudêncio e o Procurador-Geral do

Município de Presidente Kennedy, Constâncio Brandão21 e irregularidades na

contratação da empresa METAVIX.

Ronaldo Nunes, ex-funcionário de Constâncio Brandão, declara ao delegado

Álvaro Fajardo, que teria presenciado o empresário Aldo Martins Prudêncio

entregar ao Procurador-Geral a quantia de R$ 100.000,00, em razão da

articulação criminosa envolvendo o contrato de lixo; além disso, há prova

documental informando a compra de um veículo COROLLA FLEX SE-G 1.8,

Placa MSX 4254, no valor de R$ 78.000,00, pagos através de depósito no valor

de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e financiamento do restante, feito em nome de

Aldo Martins Prudêncio e sua empresa IMPACTO, junto ao BANCO TOYOTA DO

BRASIL, transação registrada no dia 18/092009.

20 A documentação apresentada apontava movimentação financeira atípica em nome do

sócio da METAVIX, Dennys Dazzi Gualandi, no período em que sua empresa operava em

Presidente Kennedy. Entre a conta da METAVIX e do Sócio Dennys Gualandi, houve

movimentação atípica de mais de R$ 500.000,00.

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Quanto às irregularidades na contratação da empresa METAVIX, o Relatório

da Controladoria Geral da União – CGU, aponta graves irregularidades desde

a confecção do certame, passando pela capacidade técnica da empresa

vencedora e desaguando na subcontratação da empresa CTRVV – Central

de Tratamento de Resíduos Vila Velha Ltda, quando, na verdade, os Editais de

Concorrência nº 04/2009 e nº 175/2009, não previam tal possibilidade.

2. A EMPRESA MATRIX

A MATRIX Sistemas e Tecnologia Ltda-ME, foi constituída em 22 de julho de

1998 por ELZA BUNK RIBEIRO e ARACI LÚCIA DA SILVA, cuja atividade

econômica inicial seria voltada para o comércio varejista de calçados e

vestuário a empresa.

Em 28 de janeiro de 2009 a sociedade comercial é encerrada e a empresa

transferida para JURANDY NOGUEIRA JUNIOR e seu filho RÔMULO PEGORETTI

NOGUEIRA, quando, então, houve a alteração do objeto, razão social e do

seu endereço comercial, passando a denominar-se MATRIX Sistemas e

Tecnologia Ltda ME e com sede declarada à Av. João Pereira dos Santos

Filho, nº 19, Bairro Amarelo, Cachoeiro de Itapemirim/ES.

Sua nova atividade econômica se voltaria para o desenvolvimento de

programas de computador, sob encomenda, além de reprodução de

software em qualquer suporte, edição de estatísticas de outras informações

para divulgação via internet e tratamento de dados, provedores de serviços

de aplicação e serviços de hospedagem na internet.

Conforme identificou o setor de inteligência da Polícia Federal, a empresa

MATRIX foi montada de forma fraudulenta. Primeiramente há constatação de

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que sua instalação e funcionamento não estavam no endereço indicado no

contrato social. Em diligência no endereço aposto no termo de constituição

da sociedade e indicado no contrato firmado com a Prefeitura de Presidente

Kennedy, foi constatado pela equipe de policiais que no local indicado havia

penas um terreno baldio, onde supostamente seria a sede da empresa.

Conforme exposto pelo Delegado Álvaro Fajardo:

“Neste sentido as informações fornecidas pela Receita Federal do

Brasil22 reforçam a tese de que a empresa MATRIX Sistemas e

Tecnologia Ltda-ME fora constituída com o propósito se integrar ao

esquema montado por REGINALDO DOS SANTOS QUINTA para

desviar recursos públicos do município de Presidente Kennedy.

Constituída formalmente em nome de JURANDY NOGUEIRA JÚNIOR

em 28 de janeiro de 2009, a empresa permaneceu inativa até

março de 2010 quando firmou contrato com o referido município

para prestação de serviço especializado de capacitação de

servidores da rede municipal de ensino e locação de

equipamentos no valor de R$ 1.168.307,40 (um milhão, cento e

sessenta e oito mil, trezentos e sete reais e quarenta centavos).”

Além da falsidade ideológica na montagem da empresa, há outro dado

importante que envolve a contratação da empresa MATRIX: a ausência de

capacidade técnica para execução dos serviços contratados pela prefeitura

de Presidente Kennedy.

Isso porque o atestado de capacidade técnica23, fornecido pela empresa

FIGUEIRA & RIBEIRO SERVIÇOS, nome fantasia SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA

EDUCACIONAL, com sede no município de Niterói/RJ e apresentado pela

MATRIX em dois contratos firmados com a Prefeitura de Presidente Kennedy, é

falso, conforme apurado pela equipe de investigação da Polícia Federal.

22 Sigilo fiscal afastado por decisão da lavra do Exmo. Des. Pedro Valls Feu Rosa. 23 O atestado de capacidade técnica foi firmado pelo sócio de direito: Fernando Ramos

Passoni.

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A investigação foi ainda mais além. Restou configurada a ligação entre o

sócio oculto da SKILL BLOCKS – Tecnologia Educacional, empresa que

forneceu o certificado de capacitação técnica, e o próprio sócio da MATRIX,

ambos na pessoa de JURANDY NOGUEIRA JUNIOR.

Interceptações telefônicas e de e-mails autorizadas judicialmente (vide índice

5296380), confirmaram essa assertiva, oportunidade em que atesta que

Fernando Ramos Passoni é, na verdade, parceiro comercial de Jurandy

Nogueira Junior, com atuação direta em todos os negócios da empresa

relacionados aos projetos das lousas digitais, conforme reiteradamente

destacado nos Relatórios Policiais 02, 03, 04 e 05 encaminhados ao Juízo pelo

ilustre delegado que preside o Inquérito Policial Federal nº 502/2011.

Além do município de Presidente Kennedy, a MATRIX mantém negócios

escusos (ramificações), através do mesmo modus operandi, junto a vários

outros executivos municipais, dentro e fora do Estado do Espírito Santo24

(Estado de Goiás25). Importante destacar que com o município de Anchieta a

MATRIX firmou contrato nos mesmos moldes do celebrado com o de

Presidente Kennedy.

A investigação revelou que seu sócio, Jurandy Nogueira Junior, movimentou

um grandioso esquema para que a MATRIX saísse vencedora do contrato nº

24 Jurandy Nogueira Junior, conforme apresentado pelo Delegado Álvaro Fajardo, “manteve

contato com autoridades de diversos municípios capixabas, dentre os quais destacamos

Marataizes, Guarapari e Vitória, além de Anchieta onde firmou contrato nos mesmos moldes

do celebrado com o município de Presidente Kennedy.” 25 Em Goiás, Jurandi Nogueira Junior usa do mesmo modus operandi. Com o apoio de seu

filho, Thiago Pegoretti Nogueira (que mantém relacionamento amoroso com LARISSA, filha do

Vice-Prefeito Minaçu/GO, SIVALDO PEREIRA NUNES, que por sua vez o apresenta ao Deputado

Estadual MIZAEL OLIVEIRA), usa de seus mecanismos para introduzir a MATRIX nos municípios

goianos – O apoio político, vide índices 5328508, 5281028, 5281892, 5281959, 5281988, 5283165,

5283620, 5384043 – Ajustes prévios, vide índices 5325549, 5410631 – Tráfico de Influência, vide

índices 5372361, 5384805 - Ajuda de Delúbio Soares, vide índices 5392678, 5405288, 5406312.

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141/2011, firmado com o município de Anchieta/ES. O referido contrato tinha

como objeto a prestação de serviço de software educativo e lousa digital.

Valor do contrato: R$ 1.260.000,00 (um milhão, duzentos e sessenta mil reais).

O esquema montado demonstra ajuste fraudulento entre agentes públicos e

o empresário Jurandy Nogueira Junior. A documentação acostada é

bastante esclarecedora ao revelar: 1º) direcionamento de licitações de

cotação em favor de SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA EDUCACIONAL26; 2º) após

ter participado do processo de composição de preços é exatamente a

empresa SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA EDUCACIONAL que oferta o Atestado

de Capacidade Técnica à MATRIX Sistemas e Tecnologia LTDA-ME, sem,

contudo, ter despertado qualquer suspeita de conluio entre elas perante a

Comissão de Licitação.

Além disso, como a licitação estava direcionada, sabendo que venceria o

certame, Jurandy, antecipadamente, deu início ao processo de importação

dos equipamentos, ou seja, antes mesmo da abertura do Pregão Eletrônico.

Ocorre que a MATRIX, empresa de Jurandy, sequer tinha lastro financeiro para

efetivar a operação comercial. E para a execução antecipada do seu

propósito Jurandy usa/beneficia-se de todos os mecanismos de que dispunha,

principalmente o tráfico de influência, conforme restou configurado no

diálogo mantido no dia 27/12/2011 com o servidor identificado por

Claudinei27, que informa a Jurandy que não será possível a implantação do

contrato antes de março (vide índices 5275582, 5296310, 5296380).

26 Conforme revelado anteriormente essa empresa é administrada por Fernando Ramos

Passoni. 27 Claudinei é o principal interlocutor de Jurandy junto à Secretária de Educação de

Anchieta, Paula Louzada Martins.

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3. A EMPRESA EMEC

A EMEC OBRAS E SERVIÇOS LTDA é empresa do ramo da construção civil. Tem

como gerente Fábio Saadi Junger, pessoa responsável pelas tratativas com o

poder público.

A EMEC participou de certame para implantação e reparos de engenharia

civil e paisagística de praças, parques e jardins, de forma contínua em todo o

município de Presidente Kennedy. Sagrando-se vencedora em Pregão

Presencial, foi contemplada com o contrato de nº 039/2010, publicado no

DIOE em 23/04/2010, no valor de R$ 4.590.598,96 (quatro milhões, quinhentos e

noventa mil, quinhentos e noventa e oito reais e noventa e seis centavos).

No dia 20/04/2011, foi publicado no DIOES o aditivo 001 no valor de R$

4.590.598,96 (quatro milhões, quinhentos e noventa mil, quinhentos e noventa

e oito reais e noventa e seis centavos). Quase dois meses depois (dia

21/06/2011), o Executivo de Presidente Kennedy faz publicar novo aditivo

relacionado ao contrato nº 039/10, porém, para o fim de acrescer ao termo

contratual, o valor de R$ 265.795,68 (duzentos e sessenta e cinco, setecentos e

noventa e cinco reais e sessenta e oito centavos). Observa-se, com isso, que a

EMEC recebe por mês, nada mais, nada menos do que a cifra aproximada de

R$ 383.000,00 (trezentos e oitenta e três mil reais).

Os atos ilícitos que serão apresentados na sequência começaram a ser

apurados pela inteligência da Polícia Federal nas imediações da própria sede

da empresa. Lá o agentes federais puderam constatar, a partir de entrevistas

com funcionários contratados pela EMEC, que o emprego é agenciado pelo

Prefeito de Presidente Kennedy, Reginaldo Quinta. Isso, portanto, é a forma de

interferência que a administração pública local faz na iniciativa privada.

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Além disso, o ordenador de despesas daquela municipalidade também influi

nos direcionamentos das empresas. Tal como faz com a MATRIX, a

interlocução com EMEC se dá somente a partir do comando do prefeito

Reginaldo Quinta. Isso fica bem claro a partir do diálogo ocorrido no dia

05/01/2012, às 08hrs31min, quando a vereadora Vera Lucia de Almeida Terra

liga para o Prefeito para dizer EMEC lhe chamou para conversar. A vereadora

indaga ao Prefeito se deveria ir e obtém como resposta contundente “que

não, que ninguém irá lá.” (índice 5308035).

(Transcrição)

REGINALDO: Fala VERINHA...

VERA: EU FUI CHAMADA PARA IR LÁ NA EMEC, VOCÊ ACHA QUE

EU DEVO IR OU NÃO?

REGINALDO: NÃO!

VERA: Então ta bom!

REGINALDO: NINGUEM VAI ...

VERA: NÃO ... EU TO TE FALANDO QUE ME CHAMARAM ... VOCÊ

ESTÁ ENTENDENDO ...

REGINALDO:NÃO, NÃO ... NINGUÉM VAI ...

VERA:AÍ EU FALEI ASSIM ... NÃO EU VOU CONVERSAR COM O MEU

PREFEIRO PRIMEIRO ... PORQUE HOJE LÁ O NEGÓCIO É A

CHAMADA DE QUEM .... NÉ VERDADE?

REGINALDO: ..... ininteligível.

VERA: Não, não então ta bom .... eu to dizendo porque ....

ininteligível....me tomar na cara... né que é desfeita....então eu

to te avisando que eu não vou né?

REGINALDO: Não ... não ..

Aí está, portanto, um exemplo claro de que nada ocorre sem que haja

conhecimento e permissão do Chefe do Executivo de Presidente Kennedy,

Reginaldo Quinta. Observe bem que a Vereadora, chamada a comparecer à

EMEC, tem sua ação negada de forma veemente pelo Prefeito. O diálogo

demonstra, também, o vínculo entre o poder público e o privado. Percebe-se

claramente que a vereadora VERA, serve não apenas para manter a base de

apoio ao Prefeito junto a Câmara Municipal local; sua relação com o

ordenador de despesas local vai muito mais além das questões políticas.

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Outro exemplo que demonstra a ingerência do poder público no privado está

no diálogo do dia 25/01/12, às 17hrs57min, mantido entre a Secretária

Municipal Juliana Fontão e sua mãe, que vale a pena conferir a degravação:

MÃE: Você vem aqui hoje?

JULIANA: Não, pois estou na prefeitura ainda.

MÃE: Eu posso mandar a chave do carro da EMEC pela JAQUELINE

JULIANA: Pode. Se ela estiver vindo, pode mandar. Não tem

problema nenhum.

MÃE: Vou pedir para entregar a Márcio ou Flor. Flor mora perto da

casa dela (JAQUELINE).

JULIANA: Não. Pode mandar para mim.

MÃE: Então é para te entregar?

JULIANA: Sim. Eu mando para lá.

MÃE: Então vou mandar pela JAQUELINE. Se você viesse aqui, eu

ia te pedir para levar.

JULIANA: Não, eu não vou não.

MÃE: Então mando pela Jaqueline e ela te entrega aí.

JULIANA: Está ótimo (índice 5379245).

Fábio Junger, gerente da EMEC, é pessoa de grande trânsito entre o Prefeito,

o Procurador-Geral do município, entre determinados servidores municipais e,

como visto, entre Vereadores locais. Da mesma forma que tem passe livre nas

Secretarias do Município de Presidente Kennedy, recebe, corriqueiramente

em sua empresa, servidores daquela municipalidade. Com isso, todos se

empenham na força tarefa de perpetuar a contratação da empresa EMEC.

Os diálogos a seguir transcritos, dão mostras dessa prática rotineira:

Diálogo ocorrido no dia 17/02/2012 entre FÁBIO JUNGER e

FERNANDO (seu contador) sobre questões relacionadas ao

Condomínio MAR AZUL e no meio da conversa passam a falar

sobre a renovação do contrato com o Município de Presidente

Kennedy e a montagem do processo em nome da Secretaria de

Meio Ambiente. (índice 5474783)

(Transcrição)

FERNANDO: Gostaria de perguntar uma coisa. A planilha que eles

estão fazendo em Presidente Kennedy, você sabe que teve um

reajuste de 5,79%?

FÁBIO: Sim.

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FERNANDO: Isso foi sobre o valor do contrato passado. Na sua

visão, o contrato novo prorrogado.....

FÁBIO: EU QUERIA EQUILIBRAR O CONTRATO E APLICAR ESSE

REAJUSTE DE 5,79% EM CIMA DO PROJETO REEQUILIBRADO. Então

tem uma diferença que tem que me pagar em cima do reajuste

também.

FERNANDO: Era isso que eu queria saber. ENTÃO ERAM OS MESMOS

265 E ENXERTAR NO VALOR, depois reajustei e apliquei o 5,79%. Isso

aqui está quase terminado. AGORA, ALÉM DA MONTAGEM DA

PLANILHA, NÓS VAMOS FAZER O PROCESSO PARA PRESIDENTE

KENNEDY?

FÁBIO: Não. Nós vamos fazer um processo com o resumo,

mostrando qual a diferença que eles me devem, QUAL O VALOR

QUE TEM QUE FICAR O CONTRATO, PARA DEPOIS DISSO TUDO,

PODER SAIR NO ADITIVO TUDO JUNTO.

FERNANDO: Então nós vamos pedir repactuação disso tudo, aí?

FÁBIO: É isso aí.

FERNANDO: Então beleza.

FÁBIO: Eu não vou pedir repactuação, por que é o mesmo

processo que já tinha lá, que a PROCURADORIA AUTORIZOU.

FERNANDO: Eu não li o final não. Então está autorizado a gente .....?

FÁBIO: NÃO. ESTÁ AUTORIZADO PARA A SECRETARIA DE MEIO

AMBIENTE ...que o reequilíbrio é condizente para eles fazerem a

planilha para poder chegar no valor. COMO ELES (Prefeitura de

Kennedy) NÃO SABEM FAZER LÁ, ESTOU FAZENDO PARA ELES AQUI.

FERNANDO: Entendi. Então não vou fazer nenhum processo

pedindo a segunda repactuação?

FÁBIO: Não.

FERNANDO: ENTÃO VOU FAZER UM PROCESSO COMO SE A

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE ESTIVESSE FAZENDO? É COM SE ELES

TIVESSEM FEITO?

FÁBIO: É, EXATAMENTE.

FERNANDO: Beleza.

No dia 24/02/2012, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, Secretário

Municipal do Meio Ambiente, liga para o empresário FÁBIO

JUNGER e marcam encontro no fim de semana para tratar de

assunto relacionado à renovação do contrato. (índice 5495764)

(Transcrição)

MARCIO: Você está na empresa?

FÁBIO: Estou embarcando para o Rio de Janeiro.

MARCIO: Estava pensando em passar lá para conversar com você

e FRANCISCO para falar sobre o negócio da renovação.

FÁBIO: Poxa cara, não dá não. Mas volto hoje do Rio

MARCIO: Você volta em horário comercial?

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FÁBIO: Não. só chego a noite.

MARCIO: E domingo? No domingo estou sempre de bobeira.

FÁBIO: Podemos conversar no domingo.

MARCIO: Vamos marcar no domingo, AÍ A GENTE SE ORGANIZA E

CONVERSA ... EU, VOCÊ E SEU PAI ...

FÁBIO: A hora que você puder, pode me dá uma ligadinha.

MARCIO: Eu queria dá entrada nisso logo, mas não adianta fazer o

pedido, por que a gente vai ter que antes fazer algumas mexidas,

colocar o segurança do trabalho, e aqueles negócios.

FÁBIO: Tranqüilo.

MARCIO: Então a gente tenta se encontrar no domingo ou segunda

pela manhã, para que possa dá entrada na segunda a tarde.

FÁBIO: Olha só. TIÃO ficou de ver...... Você não vai embora hoje

não, não é?

MARCIO: Não, porque estive ontem com ele (TIÃO). Falei que

estava a disposição dele, que se precisasse era só ligar.

FABIO: Beleza.

MARCIO: Vou dá uma ligada para ver se ele (TIÃO) está

precisando de alguma coisa.

FABIO: Então está bom. Obrigado MARCIO

MARCIO: Estou à disposição.

No dia 27/02 MÁRCIO marca reunião com FÁBIO, na própria EMEC,

às 09 horas do dia seguinte. (índice 5510718). Ao final da reunião o

Secretário do Meio Ambiente liga para o Procurador-Geral para

tratar da questão da renovação do contrato. (índice 5518557)

(Transcrição)

CONSTÂNCIO: Oi MÁRCIO, estou aqui na prefeitura.

MARCIO: E amanhã, o senhor vai está aí?

CONSTÂNCIO: Não. Amanhã estou em Vitória.

MARCIO: Então vou aí procurar o senhor.

CONSTÂNCIO: Você vem hoje?

MARCIO: Eu vim hoje para ver a renovação do contrato, mas não

sei se chego a tempo de ver o senhor aí.

CONSTÂNCIO: Eu vou ficar até de tarde.

MARCIO: É sobre a prorrogação do contrato das áreas verde.

Preciso do senhor para me ajudar a agilizar.

CONSTÂNCIO: Perfeito.

MARCIO: Não tem problema não. Qualquer coisa, procuro o

senhor amanhã.

CONSTÂNCIO: Está bom.

No dia 29/02 FÁBIO liga e marca reunião com Procurador-Geral do

Município CONSTÂNCIO BORGES. (índice 5524126)

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(Transcrição)

FABIO: Podemos marcar para amanhã pela manhã para falar

sobre um processo nosso de renovação?

CONSTÂNCIO: Sim.

FABIO: Que horas?

CONSTÂNCIO: Eu acordo muito cedo, qualquer hora esta bom.

FABIO: Marcamos 8 horas.

CONSTÂNCIO: Pode ser.

FABIO: Combinado.

No dia 01/03/2012, FÁBIO conversa com MÁRCIO diz que esteve

com CONSTÂNCIO e que ele está aguardando MÁRCIO pegar o

processo. O Secretário diz que irá correr atrás. (índice 5529148)

Transcrição:

FABIO: Estive com DR CONSTÂNCIO, E ELE SÓ ESTÁ TE ESPERANDO

PARA PODER PEGAR O PROCESSO.

MARCIO: Então ta bom. Vou adiantar meu lado para poder passar

ai, depois do almoço.

FABIO: Outra coisa, aquele documento que pedi para passar aqui

para pegar para mim, ........ o ZÉ levou.

MARCIO: Então ta bom.

FABIO: Veja esse negócio para mim (pegar processo), pois estou

viajando hoje a noite. E eu precisava está tranqüilo sabendo que

este negócio vai rodar.

MARCIO: Te dou um ok depois que passar ai no jurídico.

FABIO: Vê esse e o reequilíbrio.

MARCIO: Estou passando agora na prefeitura. Te dou um sinal

depois.

FABIO: Tranqüilo.

No mesmo dia CONSTÂNCIO trata com KAREM (funcionária da

Procuradoria Municipal) sobre o parecer de renovação da EMEC.

KAREM diz que JOSÉ AUGUSTO (funcionário da Prefeitura) acha que

teria sido ELISA (Procuradora) a parecerista, porém não achou

nada no processo. CONSTÂNCIO diz que está com o Diário Oficial

de 21/06/2011 e fala do aditivo nº 02 do contrato 039/10, referente

ao pregão 019/2010. KAREM fala sobre o projeto que está indo

para a Câmara que trata sobre cargos efetivos e

reenquadramento das carreiras com reposição salarial

envolvendo a Procuradora ELISA e o funcionário JOSÉ AUGUSTO.

CONSTÂNCIO volta ao assunto e pede a KAREM que dê uma

olhada no parecer da EMEC e que o pessoal da EMEC levou o

processo para ele, porém depende do parecer dado. (índice

5529321)

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Ainda no dia 1º de março, KAREM avisa a CONSTÂNCIO que o

parecer foi dado pelo Procurador DEVEIDE. (índice 5529743)

(Transcrição)

KAREN: DR CONSTÂNCIO está?

SECRETÁRIA: Está. Você achou alguma coisa daquela empresa

EMEC?

KAREN: Mais ou menos, porque?

SECRETÁRIA: Por que eu também estou procurando.

KAREN: Não foi ele que deu o parecer. Parece que foi DR DEVEITE.

SECRETÁRIA: Você tem o número do processo?

KAREN: 3144 de 2011

SECRETÁRIA: Eu achava que era de 2009.

KAREN: Todos processos da EMEC que achei era de 2009, mas esse

aqui que eles falaram era 2011.

SECRETÁRIA: Eu também achei um de 2009, por isso estava

procurando de 2009. Espera aí que vou passar para CONSTÂNCIO.

....................................

KAREN: Pelo que consta quem deu o parecer foi DR DEVEITE, por

que não tenho nada no meu caderno e ..............

CONSTÂNCIO: Não se preocupa. Já sabendo que tudo que tem

AUGUSTO metido no meio dá problema,.......... para eles terem feito

isso até sem........., sem parecer não custa nada.

KAREN: Só que pelas datas, no dia 15, no caderno de VAL, deu

saída para o gabinete. Só que ela não arquiva parecer dele (DR

DEVEITE).

CONSTÂNCIO: MAS JÁ ESTOU FAZENDO AQUI. JÁ ESTOU NA METADE

DO PARECER. DAQUI A POUQUINHO VOU PASSAR POR E-MAIL PARA

VOCE. AÍ VOCÊ COLOCA O PAPEL TIMBRADO, IMPIRME E NA

SEGUNDA-FEIRA EU ASSINO.

KAREN: Está certo. Inclusive no dia 30 de março esse processo

3144/2001 foi para o contrato.

CONSTÂNCIO: O aditamento dele está aqui. Por isso estou fazendo.

Prorrogou num prazo de 12 meses. Quem deu o parecer............., e

que não se sabe, né?

KAREN: Mas ele passou na procuradoria de DR DEVEITE. Pelo menos

a gente não sabe se passou é foi negativo, né?

CONSTÂNCIO: É.

KAREN: A gente não sabe porque não tem o processo.

CONSTÂNCIO: Vou pedir para você antes de imprimir, conferir os

números de contrato, de pregão e de aditivo, porque está, tudo

misturado. Estou tendo um trabalho danado.

KAREN: Eu deixo aqui comigo, né?

CONSTÂNCIO: Não. Pode entregar para JULIANA.

KAREN: Então voltaria para o gabinete?

CONSTÂNCIO: Sim. E o MÁRCIO ficô de passar aqui para pegar o

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processo.

KAREN: Está bom.

CONSTÂNCIO: Você deixa pronto e avisa a ele (MARCIO) que já

está aí, prontinho. Eles deixaram para última hora. É 29/02 e o

prazo é amanhã.

KAREN: Está bom

CONSTÂNCIO: Já estou terminando.

KAREN: Valeu.

Mais tarde CONSTÂNCIO liga novamente para KAREM e diz que já

enviou o parecer. Pede que entregue a BRUNO e informa que o

processo será levado por MÁRCIO para Presidente

Kennedy.(índice 5529909)

Em seguida CONSTÂNCIO diz a MÁRCIO que já encaminhou o

parecer. (índice 5530093)

(Transcrição)

CONSTÂNCIO: Já encaminhei o parecer para KAREN, mas o

processo está aqui.

MARCIO: Estou com JÚLIO fechando licenciamento. acho que

meio dia consigo sair daqui.

CONSTÂNCIO: O IMPORTANTE É QUE ESSE NEGÓCIO TEM QUE SER

FEITO HOJE, PORQUE O PRAZO É ATÉ AMANHÃ.

MARCIO: Eu sei. Vou aí hoje pegar, se o senhor não estiver pego

com LENA (secretária do escritório).

CONSTÂNCIO: O parecer já está prontinho com a KAREN.

Encaminhei para ela colocar no papel timbrado.

MARCIO: O escritório fica aberto até as 5, né?

CONSTÂNCIO: Fica.

MARCIO: Vou passar antes deste horário.

CONSTÂNCIO: Está bom então.

MARCIO: Eu passo na KAREN antes de viajar.

CONSTÂNCIO: Está bom.

Como antes exposto, os processos são sempre direcionados/viciados para

que empresas ligadas ao grupo criminoso possam ganhar licitações. Com a

EMEC não podia ser diferente. Os diálogos abaixo transcritos é a sequência

dos diálogos acima, e dão mostras de como são montados os processos bem

como as justificativas em nome das Secretarias. Note que os interlocutores

estão adequando valores para que a planilha fique com o valor de R$

5.000.000,00 (cinco milhões de reais):

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No dia 29/02/2012, FÁBIO conversa com FERNANDO sobre a

planilha (índice 5523836)

(Transcrição)

FERNANDO: Você já chegou aí?

FÁBIO: Já.

FERNANDO: Abriu aí para ver? (provavelmente a caixa de e-mail)

FÁBIO: Não. Você mandou para mim?

FERNANDO: Mandei a composição para você.

FÁBIO: Vou dá uma olhada agora.

FERNANDO: De todo jeito, nessa composição, ele esta com as

colunas ocultas. Se você abrir as colunas, as medições já estão

lançadas até a .......

FÁBIO: Você está falando o que? E edital dos contratos?

FERNANDO: É, mas ao mesmo tempo que é salvo em contrato, é

aquela composição que dá aquele resumo que gera aquela

composição que nós falamos ontem.

FÁBIO: Então beleza.

FERNANDO: Depois você ver aí.

Em seguida FÁBIO conversa com FRANCIS (seu irmão) sobre a

composição dos preços dentro da planilha. (índice 5524172)

(Transcrição)

FABIO: Você está em Presidente Kennedy? Ou você vai a

Campos?

FRANCIS: Estou querendo, mas vai depender do que vai desenrolar

hoje aqui.

FABIO: Eu pedir para você dá uma resposta naquele ofício lá, mas

você deu uma olhada nas considerações que MÁRCIO colocou?

FRANCIS: Coloquei, mas não tem mas jeito. Eu já entrei. Agora é

fazer para dar certo. Não tem mais o que fazer. Não posso mais

desistir.

FABIO: Mas nós temos como argumentar com ele.... mudança de

prazo......?

FRANCIS: Temos sim.

FABIO: E aquele ofício. Você quer que eu responda como?

FRANCIS: Passando aí: CONFORME SOLICITADO ATRAVÉS DE OFÍCIO

NÚMERO TAL SEGUE A PLANILHA COM REDUÇÃO DE BDI DE 20%.

FABIO: Aí e só mandar a planilha com redução de 20%

FRANCIS: Então está bom.

FABIO: Eu marquei com Dr. CONSTÂNCIO amanhã no escritório

dele para conversar do negócio da renovação contrato daqui. Aí,

aquele ofício que nós fizemos, leva lá para casa, pois vou chegar

a noite.

FRANCIS: Levo sim.

FABIO: Não esqueci não.

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No mesmo dia FÁBIO volta a tratar do assunto da planilha com

FERNANDO e falam sobre os valores dos reajustes dos contratos

gerados pelo reequilíbrio econômico-financeiro do contrato com

Presidente Kennedy, num total de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões).

(índice 5525143)

(Transcrição)

FERNANDO: A gente vai comparar as medições faturadas com as

medições que estão lançadas. Inclusive neste arquivo aí já estão

lançadas. É até a décima segunda?

FABIO: É até janeiro. Até a vigésima segunda. Não abrir ainda não.

O valor total deu 5.054 e alguma coisa?

FERNANDO: O que é isso?

FABIO: O valor total do contrato atual.

FERNANDO: Tudo dá 9 milhões .....

FABIO: A é, por que retira 4.590....

FERNANDO: Então vou somar 4590 + 103 + 265.

FABIO: Soma + 94

FERNANDO: Não, 94 é do período passado.

FABIO: Sim, mas o reajuste foi do ano passado, mas vai sair este

ano.

FERNANDO: Tudo bem, então entraria como aditivo do contrato do

ano. OK, se colocar ele vai para cinco milhões, cinqüenta e quatro

mil, duzentos e oitenta e sete reais. É isso?

FABIO: Sim.

FERNANDO: Veja bem, nós temos as medições faturadas até a

décima......vigésima primeira. Mas acontece que se eu fizer as

diferenças de medições, nós poderíamos cobrar só até a décima

segunda, porque da décima terceira em diante, quando você

pediu o reequilíbrio, a gente pede junto.

FABIO: Não entendi.

FERNANDO: Pois é. Até abril de 2011 foi reajustado pelo dissídio de

2010.

FABIO: Foi reequilibrado.

FERNANDO: Mas daí para frente......

FABIO: Eu não vou pedir outro reequilíbrio não. Vou deixar o

contrato renovar, para depois pedir o reajuste financeiro do

contrato, e coloco tudo junto. É mais fácil de entender.

FERNANDO: Então posso fazer as medições dentro das datas

normais?

FABIO: Sim.

FERNANDO: Valeu.

Entretanto, a movimentação entre os integrantes da organização criminosa

em exame não para por aí. A Operação “Lee Oswald” constatou que são

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muito comuns encontros secretos entre os principais integrantes do grupo

para o fim de negociatas e recebimento de propina. Foi o que ocorreu no dia

26/01/2012 quando a equipe de vigilância da Polícia Federal acompanhou

encontro secreto entre o Procurador-Geral, Constâncio Brandão e o gerente

da EMEC, Fábio Saad, ocorrido no Bairro Mata da Praia, no entorno da Praça

Antônio Jacob Saad, por volta das 11h20m.28

Paralelo às investigações desenvolvidas pela equipe da Polícia Federal, sob a

presidência do Delegado Álvaro Fajardo, trabalhava a Controladoria Geral

da União – CGU, auxiliando a equipe de campo na análise de procedimentos

licitatórios e contratos, objetos de investigação do Departamento de Polícia

Federal no Estado do Espírito Santo – Inquérito Policial nº 502/2011 - SR/DPF/ES.

Foi o que ocorreu também com o contrato que a EMEC firmou com a

Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy. A partir da documentação

enviada, a CGU pode constatar, de plano:

i) uso indevido de índices econômicos. “A taxa de 36% de BDI, expressa

na proposta de preços da licitante vencedora (fls. 106 a 135), incidiu

indiscriminadamente tanto sobre itens que correspondem apenas ao

fornecimento de materiais, quanto sobre os itens de serviço”;

ii) sobrepreço de 26% do valor do contratado, superfaturando o contrato

em, aproximadamente, R$ 670.029,05;

iii) pagamentos indevidos, gerando antieconomicidade contratual. Ficou

“patente que as medições e pagamentos são feitos de modo a

alcançar o valor total do contrato, o que é corroborado pela

transcrição de índice 5526072, de 29/02/2012”;

28 Para maiores detalhes acerca do evento, vide item 6.4.2.4 da Representação

Final promovida pelo Delegado Álvaro Fajardo.

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Desta forma, quanto à EMEC, é possível perceber claramente os ajustes ilícitos

com o objetivo de buscar, por vias oblíquas, “reequilíbrio econômico

contratual”. Destaca-se nesse momento, as pessoas de FÁBIO SAAD JUNGLER,

gerente da EMEC, CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, Procurador-Geral do

Município de Presidente Kennedy e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA,

Secretário Municipal do Meio Ambiente daquele município.

Observe bem que “a participação de MÁRCIO neste evento é essencial para

a ocorrência do mesmo, lembrando que MÁRCIO também é o Secretário

responsável pelo contrato de recolhimento do lixo. Veja que ele faz uma

movimentação absurda para que a renovação do contrato ocorra no dia

exato. Além de interceder junto à Procuradoria Municipal MÁRCIO transfere

ao beneficiário do contrato a preparação da justificativa que será

apresentada por sua pasta”, conforme relatado pelo Delegado Álvaro

Fajardo.

Ademais, existe ainda outro aspecto pertinente a se observar nesse quadro: a

situação da emissão de pareceres elaborados com o propósito de dar

aparente legalidade aos contratos da EMEC. Nos diálogos acima transcritos,

denota-se que a servidora municipal de nome KAREM informa que o

Procurador DEVEITE havia dado um parecer desfavorável, mas logo em

seguida, em contato com CONSTÂNCIO, este apresenta outro parecer, desta

feita favorável à EMEC.

Nas condutas acima representadas observe a responsabilidade criminal direta

dos integrantes da Comissão Permanente de Licitação CPL, nas pessoas de

JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA

FRANÇA DE ALMEIDA, sem falar, é claro, do Chefe do Poder Executivo

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REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador-Geral do Município

CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais

ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, e do

empresário FÁBIO SAAD JUNGER, em verdadeira formação de quadrilha, pois

atuam de forma articulada e em comunhão de desígnios, na prática dos

crimes sob investigação.

4. A EMPRESA M2

A empresa M2 CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA, já velha conhecida, não

apenas no Município de Presidente Kennedy, mas no próprio Judiciário

Capixaba.

Isso porque o contrato nº 066/2010, firmado entre a empresa e o Município de

Presidente Kennedy, foi objeto de ajuizamento de Ação Civil Pública

(Processo nº 041.11.001134-7), promovida pelo Ministério Público do Estado do

Espírito Santo, com vistas à sua anulação e ressarcimento aos cofres públicos.

A teor dos argumentos do ilustre membro do Ministério Público firmatário da

referida demanda:

“O pedido de natureza condenatória, por sua vez, assenta-se na

comprovação da lesividade do ato, melhor dizendo, na

comprovação do dano experimentado pelos cofres públicos em

decorrência da ilegalidade praticada. No presente caso consiste

o dano no pagamento das seguintes quantias: R$ 2.292.287,71

(dois milhões, duzentos e noventa e dois mil, duzentos e oitenta e

sete reais e setenta e um centavos) e R$ 105.325,45 (cento e cinco

mil, trezentos e vinte cinco reais e quarenta e cinco centavos),

pelos aditivos contratuais ilegalmente entabulados.”

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Não obstante a extemporaneidade da presente demanda em relação ao

procedimento licitatório supramencionado e já objeto de Ação Judicial,

denúncia apresentada por Carlos Rodrigues Garcês, no MPES, no dia

23/02/2010, véspera da abertura da concorrência nº 002/2010, já apontava o

resultado antecipado em favor da empresa M2.

Os rastros de ilicitudes estão evidenciados por toda a parte, desde a

constituição da própria sociedade. Segundo consta do contrato social, a M2

tem como sede na Rua Camboriú, nº. 11, lado B, Morada de Laranjeiras,

Serra/ES, endereço que, segundo denúncia, é falso.

O mesmo mecanismo de direcionamento de licitações é usado para a

contratação da M2. Os diálogos abaixo transcritos, travado, entre o Secretário

Municipal de Obras ÉDINO LUIZ RAINHA e o empresário JOSÉ CARLOS “falam

por si só” e expressam detalhadamente como a Comissão Permanente de

Licitações de Presidente Kennedy age em favor dos empresários (Vide índice

5240636):

(Transcrição – diálogo registrado dia 16/12/2011)

ZÉ CARLOS: Oi EDINO, você passou por aqui, ficou de ligar e não

retornou. Como estão as coisas?

EDINO: O que eu queria pedir e que você participasse mais

aqui.

ZÉ CARLOS:E...., mas não. Eu não vou participar porque esta tudo

truncado.

EDINO: Ontem foi brecado pelo Tribunal de Contas.

ZÉ CARLOS: O que foi brecado? Qual edital? O de

gerenciamento de obra?

EDINO: E, o de gerenciamento.

ZÉ CARLOS:E aquele outro do meio ambiente também!! Inclusive

eu peguei o CD,...ME DEREM O CD, E DEVEM TER DADO PARA

OUTRAS EMPRESAS COM A LOGOMARCA DA EMPESA M2.

EDINO: NEM ISSO ELES TIVERAM O CUIDADO DE TIRAR ...

ZÉ CARLOS:EXATAMENTE ... O EDITAL FOI A M2 QUE FEZ. É MUITO

GRAVE ISSO ... E TODAS AS EMPESAS ....

EDINO: E O EDITAL DO MEIO AMBIENTE TAMBÉM ESTAVA COM A

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LOGOMARCA?

ZÉ CARLOS:TAMBÉM. INCLUSIVE NO CD QUE EU MANDEI PEGAR

VEIO UM TERMO DE REFERÊNCIA E UM OUTRO DOCUMENTO DA

M2, QUE NO EDITAL NÃO VEIO. AÍ EU PASSEI UM E-MAIL PARA A

MENINA, ACHO QUE O NOME DELA É SILVIA ... DA COMISSÃO ...

EDINO: É, SILVIA .

ZÉ CARLOS: Explicando que o CD não tinha o edital. Ai ela

mandou o edital com a logomarca (da empresa M2).

EDINO: ENTÃO VOCÊ NÃO VAI PARTICIPAR?

ZÉ CARLOS: Não vou participara. Depois ela mandou outro e-

mail pedindo para deletar tudo, porque eu acho que eles

viram. Mas isso foi para todas as empresas. Estou lendo o jornal

ES que peguei na Prefeitura de Vitória, por que estive lá na

Secretaria de Obra, pois estou participando de duas licitações,

ai na primeira página esta escrito o seguinte: "POLÍCIA FEDERAL

PREPARA PARA OS PRÓXIMOS DIAS UMA OPERAÇÃO NO

MUNICÍPIO DE PRESIDENTE KENNEDY . EM TEMPO, A CIDADE É

ALVO DE INVESTIGAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS, MINISTÉRIO

PÚBLICO E JUSTIÇA FEDERAL".

EDINO: O jornal saiu hoje?

ZÉ CARLOS: A matéria é de ontem, e o jornal é ES HOJE.

EDINO: Vou ver se dou uma olhadinha.

ZÉ CARLOS: Tem um site www.eshoje.com.br. Ai ele fala mais

aqui: "O TRIBUNAL DE CONTAS INICIOU A APURAÇÃO SOBRE O

AUMENTO DE 3 MIL SEISCENTOS ...(INAUDÍVEL)... DO VALOR DE

CONTRATO DA PREFEITURA DE MONTAGEM DE PALCOS E

TENDAS. TRIBUNAL DE CONTAS TAMBÉM ACOLHEU DENÚNCIA

SOBRE CONCORRÊNCIA PÚBLICA PARA CONTRATAR UMA

EMPRESA PARA CONSTRUÇÃO DE 600 CASAS POPULARES.

INFORMAÇÕES DÃO CONTAS DE QUE A POLÍCIA FEDERAL TERIA

RELAÇÃO INCLUSIVE COM A COMPRA DE HELICÓPTERO". Esta no

jornal hoje que a Polícia Federal vai entrar aí.

EDINO: Jornal ES HOJE?

ZÉ CARLOS: Sim. É um jornal grande, esta lá na Prefeitura de

Vitória, em todas secretarias.

EDINO: Vou dá uma olhadinha

ZÉ CARLOS:Estou com receio de entrar num licitação aí por isso.

Você ganha a licitação, daqui a pouco paralisa tudo.

EDINO: Trabalhão danado, né?

ZÉ CARLOS:Mas isso. Eu comprei os editais, nós analisamos e

chegamos a conclusão ....., é por que nós estamos com muito

serviço. Tem outras concorrências.......

EDINO: Ahaa, tá.

ZÉ CARLOS: Estamos fazendo trabalho para outras prefeituras,

muitos órgãos. Ganhamos licitação grande na CODEBA.

EDINO: Ahã..

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ZÉ CARLOS: A gente fica meio receoso, por que trabalhar em

um clima do jeito que está aí fica muito ruim. Então ta. Será que

o Tribunal de Contas já brecou esse edital? Alguém que me

falou, alguma empresa...

EDINO: Ta.

ZÉ CARLOS: Qualquer coisa você me liga. Se mudarem, se eu

ver que a coisa vai caminhar de uma outra forma a gente vai.

Mas do jeito que está......

EDINO: O jornal é que? ES........

ZÉ CARLOS: ES HOJE, www.eshoje.com.br. É um jornal grande,

tipo Tribuna e Gazeta.

EDINO: Está bom então ZÉ CARLOS.

Mas a voracidade do grupo criminoso em definhar o erário de Presidente

Kennedy não tem fim. Ademais, o sentimento de impunidade faz com que os

integrantes da organização passarem por cima dos poderes públicos,

sobretudo o Judiciário. Observe que mesmo diante do ajuizamento da Ação

Civil Pública (antes mencionada), o Procurador-Geral CONSTÂNCIO BRANDÃO

e os Secretários Municipais ALEXANDRE PINHEIRO e JULIANA FONTÃO,

articulam com o ex-sócio e atual administrador da empresa M2, JOEL

ALMEIDA FILHO, novo contrato ou a prorrogação do anterior, conforme se

observa nos diálogos a seguir:

No dia 12/01/2010, ANDRESSA FONSECA DA SILVA (Comissão de

Licitação) pergunta ao Secretário de Desenvolvimento Econômico

ALEXANDRE PINHEIRO se está na M2 ou se esteve com alguém de

lá. Em seguida ANDRESSA diz que precisa falar com alguém da

empresa para decidir se irá publicar ou suspender a publicação

anterior. ALEXANDRE passa o telefone de JOEL. (5340686)

(Transcrição)

ALEXANDRE:Alô.

ANDRESSA: Oi ALEXANDRE?

ALEXANDRE: Ele.

ANDRESSA: É ANDRESSA, tudo bom?

ALEXANDRE: Tudo jóia ANDRESSA ..

ANDRESSA: Deixa eu te falar ... por acaso você está na M2 ou

esteve com alguém da M2?

ALEXANDRE: Não, não ...

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ANDRESSA: ..(ininteligível) ... as nove e pouca ... então daqui a

pouquinho estou te dando uma resposta ... estou aguardando até

agora ... estou precisando falar com ele e o celular dele está

desligado ... e nada ... não recebi nada no meu e-mail ... não

recebi decisão nenhuma ... tem que publicar ...

ALEXANDRE: Não e o cara falou até dez horas .. eu acho ...

ANDRESSA: ... (ininteligível) ... Puta que pariu! ...

ALEXANDRE: Mas é .. é ... NÓS VAMOS ESTAR FAZENDO UMA

REUNIÃO COM ELES E ...

ANDRESSA: Ta, mas me passa o telefone de alguém lá com quem

eu consiga falar ... pra poder ...

ALEXANDRE: 99811120, do JOEL ..

ANDRESSA: Ta ok ... vou tentar falar

ALEXANDRE: Qualquer coisa você me liga de novo ..

ANDRESSA: Ta obrigado ... tem que publicar hoje né? ... Ou

publicar ou suspender ....

ALEXANDRE: É eu acho que ... por via das dúvidas suspende ...

entendeu?

ANDRESSA: Não .. se não consegui falar com eles ..

(se despedem)

No mesmo dia ANDRESSA volta a falar com ALEXANDREe informa

que recebeu as informações da M2. Seguem falando sobre a

publicação e republicação dos novos editais referente às

licitações de obras públicas. (índice 5340949)

Em seguida ALEXANDRE liga para CONSTÂNCIO para posicioná-lo

sobre o assunto. (índice 5341155)

(Transcrição)

CONSTÂNCIO: Vai ter reunião?

ALEXANDRE: Não vai ter não.

CONSTÂNCIO: Está tudo certinho aí?

ALEXANDRE: Sim. Andressa foi falar com você mas eu já resolvi.

Falei que era para republicar, pois era isso que você tinha pedido

para fazer.

CONSTÂNCIO: Estou numa reunião aqui.

ALEXANDRE: Deu diferença nas planilhas e não tinha jeito. Tinha

que fazer novamente

CONSTÂNCIO: Eu tive ... (inaudível)... boas daqui.

ALEXANDRE: Eu talvez vá esta aí amanhã.

CONSTÂNCIO: Está bom.

Aí está, portanto, a forma de agir usada pelo grupo, além de fazer pouco

caso do Judiciário, acreditando na impunidade.

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Registra-se, por fim, que os encontros ocultos não se limitam apenas ao caso

isolado da EMEC. As empresas M2 e MASTERPETRO29 também receberam as

visitas do Procurador-Geral do Município de Presidente Kennedy,

CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO e do Secretário de Desenvolvimento

Econômico desse mesmo município, ALEXANDRE PINHEIRO, no dia 24/01/2012,

encontro esse devidamente acompanhado e registrado pelo setor de

inteligência da Polícia Federal (vide item 6.5.6 da Representação Final).

A participação dos integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA

ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe

do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal

CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do Secretário Municipal ALEXANDRE

PINHEIRO BASTOS, e do empresário JOEL DE ALMEIDA FILHO, são claras e

constitui-se formação de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em

comunhão de desígnios, na prática dos crimes sob investigação.

5. AS EMPRESAS RELACIONADAS AOS IRMÃOS GOMES

José Carlos Jordão Gomes e Ely Ângelo Jordão Gomes, são proprietários,

respectivamente, das empresas JCJ Gomes Ltda. (08.762.927/0001-70) e EAJ

Gomes Ltda. (08.0828.342/0001-06). São conhecidos em Presidente Kennedy

como os “Irmãos Metralha”.

Para dar amplo apoio e lograr êxito nos procedimentos licitatórios promovidos

pelo Poder Público local, os irmãos Gomes contam com a ajuda de várias

29 Pode parecer, aparentemente, que a MASTERPETRO não tenha vínculo algum com o grupo,

mas sim, visto que seu proprietário, CLÁUDIO RIBEIRO BARROS, tem atuação direta na

condução do contrato de outra empresa que legalmente não lhe pertence, a PULIZIE ITÁLIA.

Sobre essas empresas, abordaremos com maior vagar no decurso desta peça.

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empresas “parceiras”, dentre elas a E.M. Gomes Atacadista – ME, que tem

como proprietário o próprio pai, Ely Monteiro Gomes. Além disso, tem o apoio

direto de funcionários públicos locais, sobretudo de alto escalão, que os

fomentam com informações privilegiadas, conforme facilmente demonstrado

através das interceptações de e-mails, feitas com autorização judicial,

conforme destaque abaixo:

No dia 09/11/2009, às 16hrs52min, José Carlos recebe mensagem

proveniente da conta [email protected] lhe

encaminhando o edital 33/2009. Interessante registrar que ele

pede nominalmente para que Charlene lhe envie o referido edital.

No dia 13/11/2009, às 16hrs28min, José Carlos recebe mensagem

da mesma conta [email protected] lhe encaminhando o

edital 22/2009 e 062/2009, entretanto, quem responde agora não é

Charlene e sim Andressa, muito embora a mensagem tenha sido

endereçada à primeira anteriormente.

A mensagem anexa foi enviada a partir da caixa do próprio

Jovane para José Carlos, no dia 07/06/2010, às 19hrs54min,

contendo os editais 067/10 e seus anexos (clicar para mensagem,

clique para edital/anexo). Este edital não foi adiantado, já que a

publicação no Diário Oficial foi realizada no mesmo dia,

entretanto, no dia seguinte, dia 08/06/2010, às 11hrs17min, Jovane

envia nova mensagem avisando José Carlos que a casa de carnes

retirou o mesmo edital, ou seja, o de número 67. Como se vê,

Jovane atua provendo informações aos irmãos Gomes.

Isso também fica claro quando se lê a mensagem anexa, enviada

por Jovane para Ely e José Carlos, no dia 17/08/2010, às

10hrs20min. Note que a publicação do edital é no mesmo dia, ou

seja, mesmo que não haja aqui o adiantamento do edital, existe

sem dúvida um empenho em colocar os Gomes em posição de

vantagem na licitação.

Mesma situação nesta outra mensagem anexa, enviada por

Jovane para Ely e José Carlos, no dia 17/08/2010, às 10hrs21min,

quando do envio do edital 096/2012. A publicação do edital deu-

se na mesma página do edital 101/2010.

A mensagem abaixo é diferente, foi enviada a partir da caixa

Licitação PMPK para José Carlos, no dia 22/02/2011, às 16hrs41min,

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contendo o edital 018/11 e seu anexo. A publicação do edital se

deu no Diário Oficial somente dia 04/03/2011.

Outra mensagem também foi enviada a partir da caixa Licitação

PMPK para José Carlos, no dia 18/04/2011, às 14hrs19min,

contendo os editais 038 e 039/11 e seus anexos. A publicação no

Diário Oficial do edital 38/11 foi na data de 20/04/2011 e do edital

39/11 ainda mais tarde, na data de 16/05/2011. 30

Os irmãos Gomes, através das “suas” empresas colaboradoras, possuem vários

contratos com a Prefeitura de Presidente Kennedly. Na verdade, os “irmãos

metralha” são conhecidos como grandes empresários na cidade de

Presidente Kennedy/ES. Além das empresas acima citadas, são responsáveis

também pelas sociedades empresariais PETROMAX SERVIÇOS LTDA e E.M.

GOMES, sem falar que usam também outras empresas para compor

“concorrência” nas licitações.

Ecléticos na arte de “comercializar” (e mais ainda de fraudar), os irmãos

gomes “atuam no ramo de combustíveis, alimentos e eletrodomésticos,

porém diversificam suas atividades conforme as necessidades da Prefeitura.

Segundo as palavras do José Carlos no dia 09/03/2012, às 16hrs16min, “Meu

amigo, eu não vendo atacado pra ninguém EU SÓ VENDO PRA PREFEITURA”

(índice 5578781).”31

Não conseguiriam tal façanha não fosse o apoio marcante da

supersecretária, sobrinha do Prefeito, Geovana Quinta e do Pregoeiro Jovane

Cabral. Para afastar concorrentes indevidos usam do poder, constituído por

vias ocultas, para ameaçar e impedir que empresas fora do grupo participem

de certames, ou, conseguindo entrar, ameaçam de ficar sem receber.

30 As cópias dos e-mails estão acostadas ao Relatório Final do Delegado Álvaro Fajardo. 31 Trecho extraído do Relatório Final da lavra do ilustre Delegado Álvaro Fajardo.

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Todo esse modo peculiar de agir foi investigado e constatado através do

acompanhamento de algumas licitações por parte da inteligência da Polícia

Federal. Observe, a seguir, como age a organização criminosa.

Com a ajuda de um colaborador, a Polícia Federal acompanhou duas

Licitações: os Pregões de nsº 03/2012 e 07/2012, respectivamente. Para que

não percamos detalhes importantes segue o cronograma descrito pelo ilustre

Delegado Álvaro Fajardo:

A opção inicial foi Pregão Presencial nº 03/2012 se deu em razão

de seu objeto. De posse do edital no dia 20/01/2012, analisamos os

requisitos para participar do certame. Dentre eles está à

apresentação no dia 24/01/2012 de uma amostra para cada uma

das 103 variedades de produtos de vestuário que o vencedor do

certame deverá fornecer. Todos com algum tipo de logomarca do

município.

A fim de verificar a possibilidade de cumprimento dessa exigência

por qualquer empresa que não tenha informação privilegiada

sobre esse item, estivemos na empresa Strancioli Uniformes

(http://www.stancioli.com.br/empresa.htm), empresa de

grande porte do setor, sediada no pólo de confecções da Glória.

Lá questionamos quanto tempo e a que custo seria possível

encomendar a produção das amostras, ao que nos disseram que

algo entre R$ 3.000,00 e R$ 5.000,00 em aproximadamente 20 dias.

Diante da impossibilidade de se apresentar as amostras no dia

24/01/2011, entramos em contato com SILVIA, uma das integrantes

da Comissão de Licitação, informando do exíguo prazo para tal.

SILVIA informou que tentaria permitir a entrega de cinco ou seis

amostras e, desta forma, viabilizar a participação na licitação,

porém não deu retorno.

As exigências do edital forçaram a nossa desistência em participar

do certame, do qual figuraram empresas ligadas aos irmãos ELY

ÂNGELO e JOSÉ CARLOS, ao final adjudicado em favor da micro

empresa J.A. Galito - ME, do empresário local JOSÉ AUGUSTO

GALITO.

Permanecendo no propósito de compreender como se dão as

licitações em Presidente Kennedy compramos novo edital

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referente ao Pregão Presencial nº 07/2012, cujo objeto é a

aquisição de material de ensino para atender a Secretaria

Municipal de Educação. A data prevista no edital para entrega

das amostras era 14/02/2012 e das propostas dia 15/02/2012.

Edital com idêntico conteúdo fora lançado ano passado (pregão

07/2011), publicado em 20/01/2011 e foi celebrado num total de

R$ 245.000,00. Os quantitativos que conseguimos por meio de

entrevistas veladas foram de:

Kit pré-escola: 700 unidades;

Kit 1ª a 4ª série: 1200 unidades;

Kit 5ª a 8ª série: 1000 unidades;

Kit Professor: 350 unidades;

Para esse ano temos:

Kit pré-escola: 1000 unidades; Aumento 40%.

Kit 1ª a 4ª série: 1500 unidades; Aumento de 25%.

Kit 5ª a 8ª série: 1300 unidades; Aumento de 30%.

Kit Professor: 400 unidades; Aumento de 15%.

Criação do Kit EJA (Educação de Jovens e Adultos): 800

unidades.

A simples análise dessas informações percebemos um acréscimo

de mais de 100% de um ano para outro, fato que nos deu ainda

mais certeza de que participaríamos de uma licitação com cartas

marcadas.

BOLSA NO FORMATO MALETA COM ALÇA MATERIAL DURATRAN

SILKADA COM LOGOMARCA (BRASÃO) PREFEITURA MUNICIPAL DE

PRESIDENTE KENNEDY DO (sic) ÓTIMA QUALIDADE NA COR AZUL

ROYAL COM ALÇAS AZUL NAS MEDIDAS LARGURA 0,42CM ALTURA

0,30CM,PROFUNDIDADE 0,08CM ALÇA DE 0,68CM DE CADA LADO.

Tentando cumprir com as exigências impostas, sobretudo no que

se refere à estampa, despendemos todo o dia 03/02/2012

tentando obter o referido brasão junto à Prefeitura. Ligamos para a

Secretaria de Educação (ELAINE), para a Comissão de Licitação

(SÍLVIA) e, por fim, para a Secretaria de Comunicação (MAISSON).

Este último contato nos disse que só possuía o arquivo em

extensões txt e jpg, ambas inúteis para a produção da matriz de

silk screen exigida.

No dia 06/02/2012 estivemos em Cachoeiro de Itapemirim/ES na

esperança de conseguir o arquivo em extensão compatível com

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Corel Draw que permite a produção da referida matriz.

Conseguimos o arquivo na Sclan Malhas (2821018400) e no dia

07/02/2012 encomendamos a matriz com o senhor Marcos

(2793166539), indicado pela Silk Press (2730892450), por R$ 800,00

com prazo de fabricação de 05 dias úteis.

Seguindo a ordem cronológica, seguem abaixo diálogos, com foto, que

confirmar o conluio entre os empresários de Presidente Kennedy, bem como

demonstrar de forma clara como se dá a dinâmica criminosa para fraudar

licitações.

Na manhã do dia 10/02/2012, às 09hrs06min, ELY liga para JOSÉ

CARLOS e diz que o pessoal o procurou e perguntou sobre a

medida da alça do kit. Continua e diz que no ano passado a alça

foi de 68 centímetros e pede confirmação. JOSÉ CARLOS diz que

ficou menor, pois fizeram pela outra (índice5446550).

No dia 13/02/2012, às 10hrs03min, JOVANE liga para JOSÉ CARLOS

e pede para que ele vá ao seu encontro (índice 5455957).

No dia seguinte (14/02), ELY MANDA SAMUEL (Vulgo Neném e

“concorrente”) NÃO COLOCAR NAQUELAS CAIXAS PORQUE SENÃO

FICA MUITO IGUAL (índice 5459815).

Ato contínuo ELY LIGA PARA O OUTRO CONCORRENTE, GUTINHO

(JOSÉ GALITO) E PEDE PARA QUE ELE TROQUE AQUELE NEGÓCIO DE

ONTEM PARA NÃO FICAR IGUAL. CONTINUA E PEDE PARA QUE AVISE

A PAULO (PC PESSOA) PARA FAZER O MESMO (índice 5459820).

Ainda no dia 14/02, ELY diz a SAMUEL QUE ELE TEM QUE PASSAR LÁ

PARA PEGAR OS ENVELOPES. Neném diz que passará em pouco

tempo (índice 5461617).

No dia 15/02/2012, às 06hrs46min, ELY liga para CÍNTIA BICALHO e

confirma que o horário é às 09 horas (índice 5464063).

No dia 15/02/2012, às 07hrs29min, ELY liga para NENÉM e diz que o

espera na loja (índice 5464087).

No dia 15/02/2012, às 07hrs39min, ELY PERGUNTA AO PREGOEIRO

JOVANE SE ESTE CONSEGUIU FALAR COM O HOMEM, JOVANE

RESPONDE QUE NÃO (índice 5464133).

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Ato contínuo, JOVANE liga para o Policial Militar WALAS e pede

que vá ao seu encontro. Walas diz que está no DPM (índice

5464188).

Em seguida (15/02/2012, às 08hrs27min)ELY diz a JOVANE QUE

ENTREGOU O NEGÓCIO LÁ AS 07 E Pouco (índice 5464366).

No mesmo dia por volta das 9 horas, JOSÉ CARLOS liga para ELE

PEDE PARA CONFIRMAR SE O CARECA É O “CATINBOSO”, POIS ELE

SUBIU E NÃO FALOU NADA E QUANDO O OUTRO SUBIU ELE FICOU

FALANDO (índice 5464527). Registre-se, que falam do nosso

colaborador.

O PREGÃO

NO DIA 15/02/2012, ÀS 08 (OITO) HORAS E 57 (CINQUENTA E SETE)

MINUTOS, CONFORME A FUNCIONARIA ORIENTOU, O

COLABORADOR SUBIU ATÉ O 3o (TERCEIRO) ANDAR PARA

PROTOCOLAR OS ENVELOPES. AO CHEGAR, O COLABORADOR SE

DEPAROU COM: HNI 12 (CAMISA DE MALAHA AZUL, ÓCULOS DE

GRAU E BONÉ), REPRESENTANTE DA EMPRESA “J. A. GALITO ME”;

NENÉM (SAMUEL), REPRESENTANTE DA EMPRESA “S. DA S. MORAES

JÚNIOR ME”; ELY, REPRESENTANTE DA EMPRESA “P. C. PESSOA ME”;

HNI 04, REPRESENTANTE DA EMPRESA “J. C. J. GOMES ME”; E HNI 15

(CAMISA POLO LISTRADA DE AZUL, VERMELHO E BRANCO). HAVIA

AINDA UM HNI 14(CAMISA SOCIAL AZUL E ÓCULOS DE GRAU)

SENTADO, FALANDO AO CELULAR. O COLABORADOR PROTOCOLA

OS ENVELOPES DA PROPOSTA NO BALCÃO DE ATENDIMENTO COM

A MNI 01 (LOIRA, BLUSA SOCIAL BRANCA E ÓCULOS DE GRAU).

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a) NO DIA 15/02/2012, ÀS 10 (DEZ) HORAS E 07 (SETE) MINUTOS,

COMEÇA O PREGÃO E O PREGOEIRO JOVANE SOLICITA OS

ENVELOPES DO CREDENCIAMENTO. O COLABORADOR É

DESCLASSIFICADO. AS EMPRESAS PARTICIPANTES COMEÇAM A DAR

OS LANCES.

b) ÀS 10 (DEZ) HORAS E 40 (QUARENTA) MINUTOS, O

PREGOEIRO JOVANE ENCERRA O PREGÃO. A EMPRESA

VENCEDORA DO CERTAME É A “S. DA S. MORAES JÚNIOR ME.”

REPRESENTADA POR NENÉM (SAMUEL).

Dado a “publicidade” do ato, o certame ocorreu na sede da Prefeitura

Municipal de Presidente Kennedy, no dia 15/02/2012, encerrando-se às

10h40m.

Porém, a situação não ficaria por aí! Logo após o encerramento do certame

o pregoeiro Jovane Cabral liga pra o Soldado PM Walas informando que o

indesejado concorrente (colaborador da Polícia Federal) estaria saindo da

Prefeitura. Passa em seguida a descrever suas características físicas e

vestimenta (vide índice 5465026).

(Transcrição)

WALAS: Fala pra nós.

JOVANE: Você está aí?

WALAS: Tô, tô aqui em baixo.

JOVANE: ELE TAVA AQUI ... TÁ SAÍNDO DAQUI AGORA ... ENTENDE?

WALAS: Tá, eu já sei o carro, eu vou esperar, vou procurar o carro.

Aquele carro que você me deu, ele ta atrasado, eu tentei achar o

carro aqui e não achei. Como que ele é?

JOVANE: Rapaz, ele ta de camisa verde

WALAS: Camisa verde, né? To aqui em baixo da Prefeitura, beleza,

to aqui por baixo vou ver

JOVANE: Beleza

WALAS: Ta, valeu

As fotos abaixo demonstram de forma clara que a ordem do pregoeiro

Jovane Cabral foi efetivamente cumprida. Observe como o colaborador é

ostensivamente abordado, às 10:45, na Rodovia ES-162, na saída do município

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de Presidente Kennedy, sem qualquer motivo aparente ou mesmo ação

promovida pela Polícia Militar naquele dia.

Não apenas o Pregoeiro Jovane Cabral sabia da abordagem feita pelo

Policial Militar Walas ao colaborador. Evidentemente que os irmãos Gomes

não ficariam de fora dessa empreitada. Sabendo da “missão”, Ely Gomes liga

para Jovane Cabral pedindo para que ele pergunte a Walas o que ocorreu

na ação, conforme constata o índice 5465335. Segue abaixo, então, o

desfecho sob a ótica do Delegado Álvaro Fajardo:

“Ato contínuo, JOVANE LIGA PARA WALAS E PERGUNTA SE DEU

CERTO. WALAS DIZ QUE DESENROLOU E QUE CONVERSAM

PESSOALMENTE (índice 5465341). Por volta das 12 horas, SAMUEL

LIGA PARA ELY E COMENTA QUE VALDEIS O CHAMOU DE

CACHORRO E QUE ELY É MUITO RUIM, PORQUE O CARA TÁ AQUI

ZANGADO, POIS DEPOIS DA DESCLASSIFICAÇÃO NA LICITAÇÃO, NA

HORA DE SAIR, A POLÍCIA O PRENDEU. (índice 5465520).”

Diante de tamanha evidência, não há como negar o esquema montado

(bem aparelhado e com divisão de tarefas) na Prefeitura de Presidente

Kennedy para usurpar o erário.

Há, ainda, dois eventos que merecem destaque especial: o Pregão Presencial

nº 140/2011 (Combustíveis) e o Pregão Presencial nº 005/2011 (Ar

Condicionado). Vamos a eles.

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5.1 – PREGÃO PRESENCIAL Nº 140/2011 – AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL

O Pregão Presencial nº 140/2011, promovido pelo Executivo Municipal de

Presidente Kennedy, devidamente publicado no Diário Oficial do Estado - ES

em 29/12/2011, teve por objeto Registro de Preços para contratação de

empresa para o fornecimento de combustíveis para atender a diversas

secretarias no exercício de 2012, na quantidade de 1.370.000 litros de Óleo

Diesel B Comum e 560.000 litros de Gasolina Comum “C”.

O Edital estabelecia o valor máximo de R$ 4.435.925,00 (quatro milhões,

quatrocentos e trinta e cinco mil, novecentos e vinte e cinco reais) e data de

abertura de propostas em 11/01/2012.

Não obstante terem sido abertas cotações de preço com as distribuidoras

Ipiranga Produtos de Petróleo e Petrobras Distribuidora S.A, em 29/11/2011, de

forma “surpreendente”, a vencedora do certame, conforme ata de

julgamento do dia 11/01/2012, foi a única empresa participante: PETROMAX

Comércio de Combustível Ltda – ME, CNPJ 08.157.130/0001-44, curiosamente

de propriedade dos irmãos Gomes, que, ainda mais “curioso”, assumiram o

controle societário dos sócios anteriores, Aluízio Carlos Correa (ex-prefeito) e

Tania Mara Fontana Correa, em 23/05/2011.

A PETROMAX venceu o Pregão com proposta no valor de R$ 4.426.900,00

(quatro milhões, quatrocentos e vinte e seis mil e novecentos reais), que

corresponde a R$ 2,89 (dois reais e oitenta e nove) o litro de Gasolina e R$ 2,05

(dois reais e cinco centavos) o litro de Óleo Diesel, respectivamente.

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Dentre as irregularidades no certame em tela (eivado de vícios), a equipe

técnica da CGU pode constatar as seguintes irregularidades:

i) restrição ao princípio da publicidade e à divulgação do aviso de

edital, ferindo a regra dos artigos 21 da Lei nº 8.666/93 e art. 37 da

CF/88;

ii) afastamento de empresas interessadas em participar do certame em

razão da proibição contida em item que impossibilitava a

impetração de recursos por meio de fax ou sedex;

iii) definição imprecisa e insuficiente do objeto - quantidade excessiva de

combustível;

iv) cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital;

v) informações privilegiadas (acesso ao Edital antecipado) por parte do

representante legal da empresa PETROMAX;

vi) ausência de parcelamento do objeto constituindo restrição à

competitividade;

vii) exigências de qualificação técnica extrapolam a permissão legal;

viii) prazo de pagamento superior ao limite legal;

ix) ata de julgamento não registra a participação de licitante;

Pois bem. Dentre as evidentes irregularidades apontadas pela CGU no

certame em apreço, uma, em especial, é acintosa e consolida a voracidade

arrecadatória da organização criminosa liderada pelo Prefeito denunciado: a

quantidade excessiva de combustível licitado, bem como a forma de

contratação do produto.

O procedimento licitatório em apreço – Pregão nº 140/2011 – iniciou a partir

de solicitação formalizada pelo Secretário Municipal de Transporte e Frota Sr.

Flávio Jordão da Silva, no dia 17/10/2011. Nela o Secretário requer ao Prefeito

o seguinte:

“autorização para aquisição de combustíveis sendo estes: 1.300.000

litros de óleo diesel comum e 500.000 litros de gasolina comum, para

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atender o ano de 2012, com a finalidade de atender a frota municipal

abaixa (sic) relacionada: 05 Motoniveladora (Patrol), 02 Pá

Carregadeira, 02 Escavadeira Hidráulica, 05 Retroescavadeira, 02 Rolo

Compactador, 17 Tratores Agrícola, 05 Utilitário Van, 05 Caminhonete,

01 Pajero Sport, 24 Caminhões, 08 Ônibus, 37 automóveis leves e 03

motocicletas”.

Veja que o requerimento se inicia com uma descrição precária, contendo

apenas o “Tipo”, sem, contudo, mencionar quaisquer outras especificações

necessárias, tais como Marca, Modelo, Ano, Placa, Tipo de Combustível,

Consumo, Quilometragem Anual Percorrida.

No dia 18/11/2011, foi anexado ao processo requerimento formulado pela

Secretária Municipal de Educação, Sra. Geovana Quinta Costalonga, que, na

oportunidade, solicita ao Ordenador de Despesas do Município:

“autorização para aquisição de 70.000 litros de óleo diesel e 60.000

litros de gasolina, para o ano de 2012, com a finalidade de

atender a frota desta Secretaria.”

Pela Secretaria Municipal de Educação foi anexada a frota composta de 08

veículos, porém, sem qualquer menção a Tipo de Combustível, Consumo e

Quilometragem Anual Percorrida, assim especificado:

Tipo Marca Modelo Ano Placa

Utilitário Van Volkswagen Kombi 2008 MRW-9958

Micro ônibus Agrale Marcopolo Volare 2001 MRN-8728

Micro ônibus Volkswagen Masca grammini 2001 MQA-9422

Onibus Mercedes Benz Comil Svelto U 2002 MRD-3019

Onibus Mercedes Benz Comil Svelto U 2006 MRD-5009

Utilitario Van Kia Besta 2005 MQK-3622

Micro ônibus Renault Master 2010 MTE-1366

Caminhão Carroceria Aberta Mercedes Benz 912 1990 MRH-2009 Fonte: Processo nº 017583/2011, referente ao Pregão Presencial nº 140/2011

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Segundo consta do termo referência (Vide Anexo I do referido processo da

CGU), a quantidade de combustível a ser licitada, segundo tabela, contém a

especificação de 1.370.000 Litros de Óleo Diesel “B” Comum e 560.000 Litros

de Gasolina Comum “C”. Veja que a quantidade de combustível a ser

fornecida é a soma dos dois requerimentos.

Por se tratar de licitação fraudulenta, obviamente que não foi contemplada

no processo qualquer referência a informações necessárias para o cálculo da

quantidade de combustível, tais como: Tipo de Combustível para cada

veículo; Consumo, para cada veículo; Quilometragem Anual Percorrida, para

cada veículo.

Em análise da equipe técnica da CGU, foi constatado que a quantidade de

combustível é extremamente excessiva, valendo a pena retratar, fielmente, a

conclusão dos técnicos, conforme abaixo colacionado:

“Com base nos dados do primeiro requerimento, por exemplo,

verifica-se que a frota de veículos movidos a Gasolina são os 37

automóveis leves citados. Assumindo que o consumo destes

veículos é de 10 km/litro, a frota de automóveis leves

percorreria 500.000 litros x 10 km/litro = 5 milhões de km em 2012.

Cada automóvel percorreria, em média, 135.135 km/ano, ou seja,

daria mais de três voltas no planeta em um ano (circunferência da

Terra calculada em 40.075 km na linha do Equador).”

Para que a PETROMAX lograsse êxito no referido Pregão, o conluio se deu da

seguinte forma, segundo relato do Delegado que preside o Inquérito Policial

Federal nº 502/2011:

No dia 30/12/2011, às 09hrs43min, JOSÉ CARLOS liga para SÍLVIA e

pede para que lhe mande um conjunto de editais por email.

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Momentos depois, às 11hrs56min, JOSÉ CARLOS liga para um de seus

funcionários e pede que leia itens do edital de número 140 e do

edital de número 48. Após a leitura dos itens ambos concordam que

o item 8.8 foi retirado.

Já no dia 05/01/2012, às 13hrs55min, JOSÉ CARLOS fala com CARLOS,

da PETROBRAS, e pergunta se ele participa das licitações ou se

alguém vem de fora. O interlocutor pergunta se é de Prefeitura e

pergunta se é de Kennedy. JOSÉ CARLOS diz que alguém esteve por

lá e pegaram. CARLOS diz que, então eles têm que dar uma

combinada e pergunta o que seria mais interessante para JOSÉ

CARLOS, gasolina ou o lubrificante? JOSÉ CARLOS diz que só tem

gasolina e diesel ao que CARLOS então diz que JOSÉ CARLOS pode

pegar a gasolina, e que o diesel fica pra eles. JOSÉ CARLOS então diz

que não, para que eles nem participem, para nem ir, pois vai

comprar tudo (combustíveis) dele mesmo. CARLOS diz que vai

conversar com o responsável e José Carlos o lembra que isso está só

entre eles.

No dia 06/01/2012 às 14:48, SANDRO, assessor comercial da Petrobrás

Distribuidora, entra em contato com FLÁVIO JORDÃO, Secretário de

Transportes de Presidente Kennedy, diz ter tentado contatar JOVANE

e não conseguiu. Relata então à FLÁVIO JORDÃO que o edital 140,

referente a fornecimento de combustíveis, prevê que o

abastecimento fosse através de posto revendedor, impedindo que a

Petrobrás como Distribuidora participe do certame, Flávio agradece

o alerta, diz que não sabia disso e que irá cancelar a licitação (indice

5315274)

Ainda no dia 06/01/2012, FLÁVIO JORDÃO entra em contato com a

Comissão de Licitação e fala com CHARLENE. FLÁVIO JORDÃO

comenta que o pessoal da Petrobrás ligou reclamando do

direcionamento do Edital 140 para que somente postos de

combustível possam participar do certame, CHARLENE confirma que

é isso mesmo, FLÁVIO JORDÃO diz que na segunda-feira vai cancelar

isso, porém nada fez pois o pregão foi realizado dia 11/01/2012 como

previsto (índice 5315426).

Ato contínuo, no dia 09/01/2012, JOSÉ CARLOS fala com CARLOS da

PETROBRAS. CARLOS diz que conversou com o cara hoje de manhã e

a resposta foi negativa, que o cara não quis nem saber e ainda o

xingou. CARLOS continua e diz que o cara disse que não, que vai

entrar pra rachar, pra ganhar, que a Prefeitura tem tanque, tem toda

estrutura, que não é fornecimento de posto, é dele, não está nem aí e

não tem jeito. CARLOS continua e diz que é como se fosse outra

empresa, que aí não tem solução, que apesar de PETROBRAS são

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concorrentes, que a Prefeitura vai comprar com distribuidor e que se

não for com ele será com outro distribuidor. JOSÉ CARLOS pergunta o

nome do funcionário e CARLOS responde: SANDRO. JOSÉ CARLOS

pergunta se é ele quem virá e CARLOS confirma que é ele quem vai

para a abertura. CARLOS registra: é SANDRO da Gerência de

Consumidores e então isso aí não tem como infelizmente, mas que

isso não impede JOSÉ CARLOS de participar, mas não tem como

costurar uma coisa pra não ganhar, mesmo porque outros podem

participar e talvez nem ele ganhe. JOSÉ CARLOS então pergunta: e se

der só nós dois? CARLOS responde: Aí é hora de conversar na hora lá,

você e ele, me dá um toque e eu vejo o que dá pra eu fazer.

Continua: na hora lá você pode me ligar que eu converso com ele.

JOSÉ CARLOS diz que está bom assim e CARLOS finaliza: valeu: aí vê

contigo a gasolina e ele fica com o diesel.

No mesmo dia 09/01, 10 minutos após o diálogo anterior, às

10hrs41min, JOSÉ CARLOS fala novamente com CARLOS pergunta o

que precisa a Prefeitura para comprar da PETROBRAS. Carlos fala um

pouco sobre normas, mas irá checar melhor e JOSÉ CARLOS diz para

não comentar nada com ele (SANDRO), pois vai tentar pegar no pulo.

CARLOS diz pode deixar, entendi, vai contestar na hora, isso aí.

Às 15hras13min, do mesmo dia JOSÉ CARLOS liga para GUSTAVO e

pergunta o telefone de SANDRO (outro que não o da PETROBRAS) e

GUSTAVO responde: 98859251.

Na sequência (09/01, 15hrs25min), JOSÉ CARLOS conversa com

SANDRO, fala sobre o andamento de uma licença e SANDRO diz que

tem que mandar uns documentos pra GUSTAVO. Falam sobre

assuntos derivados deste. JOSÉ CARLOS então pergunta a SANDRO

sobre exigências que a Prefeitura teria que cumprir para ter tanque

aéreo para gasolina e diesel. SANDRO diz que tem que licenciar os

tanques, mas que não tem muita certeza e comenta. JOSÉ CARLOS

diz que quer dificultar o negócio, não quer solução pro negócio.

SANDRO pergunta se JOSÉ CARLOS quer regularizar a situação e JOSÉ

CARLOS diz que não quer regularizar não, está querendo que eles

parem com o negócio, que não quer facilidade, quer dificuldade.

Sandro diz que entendeu o lado de JOSÉ CARLOS e que vai mandar

a lista de exigências.

Ainda no 09/01, JOSÉ CARLOS e CARLOS voltam a conversar e JOSÉ

CARLOS faz considerações sobre a necessidade de licença para

armazenar combustível. CARLOS diz que verificou e que a licença é

acima de 15 mil litros.

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Ato contínuo, CARLOS retorna a ligação para JOSÉ CARLOS, falam

sobre a licença da ligação anterior e voltam a falar sobre a

possibilidade de combinação de preços na licitação. CARLOS diz

que conversou novamente com SANDRO, mas não tem jeito e repete

os termos da negativa. CARLOS, no entanto, diz que falou com

SANDRO e avisou que se só houver ele e JOSÉ CARLOS na

concorrência JOSÉ CARLOS iria conversar com ele. Completa e diz

que SANDRO falou que tudo bem e que lá eles conversam. JOSÉ

CARLOS diz que tudo bem.

Já no dia 11/01/2012, CARLOS liga para JOSÉ CARLOS e informar que

para a companhia é necessário registro da ANP, alvará do Corpo de

Bombeiros e para armazenagem acima de 15 metros cúbicos é

necessária licença operacional da parte ambiental. JOSÉ CARLOS

pergunta qual é o carro que SANDRO utiliza e CARLOS diz que é um

golzinho como o dele, prata, sem nada, faltando uma calota

dianteira. CARLOS encerra dizendo que SANDRO é gente boa,

tranquilão para conversar.

Horas depois, às 12hrs50min, JOSÉ CARLOS liga para ELY, seu irmão, e

diz que acha que o cara tá aqui, pelo carro e pelo modo. ELY diz que

está descendo.

Às 13hrs31min, JOSÉ CARLOS pergunta a ELY se ele está aí em cima e

ELY diz que não. JOSÉ CARLOS então pergunta se ELY está e ele diz

que está na porta do Jovane.

Às 17hrs57min, CARLOS liga para JOSÉ CARLOS PARA DAR OS

PARABÉNS PELA VITÓRIA NA LICITAÇÃO. JOSÉ CARLOS DIZ QUE PEGOU

SANDRO NA PROCURAÇÃO E NA PROPOSTA. JOSÉ CARLOS diz que

conseguiu colocar o preço em R$ 2,89 num volume de 70.000 litros.

Às 18hrs03min, JOSÉ CARLOS liga para ELY e narra o telefonema com

CARLOS.

Com efeito, observa-se nos diálogos acima que os interlocutores fazem

referência ao Edital nº 140/2011. Ademais, o comportamento dos

interlocutores, os irmãos Gomes (José Carlos e Ely) e Carlos (representante da

PETROBRAS), bem como o fato de a PETROMAX ser a única participante de

um pregão referente a um contrato de mais de quatro milhões de reais, não

deixa qualquer dúvida quanto ao propósito de viciar o Pregão.

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5.2 – PREGÃO PRESENCIAL nº 005/2011 (AR CONDICIONADO)

No dia 27/07/2011, a Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy realizou o

Pregão Presencial nº 05/2011, processo nº 1988/2011, com objetivo de adquirir

equipamentos industriais, mais especificamente, aparelhos de Ar

Condicionado. Conforme ata de julgamento lavrada no mesmo dia

27/07/2001, participaram da licitação as seguintes empresas: S. DA S. MORAES

JUNIOR, E.M.GOMES COMÉRCIO ATACADISTA –ME e J.A. GALITO ME.

Como em todos os procedimentos relacionados na presente denúncia, e não

haveria de ser diferente nesse, todas as três empresas participantes do Pregão

nº 005/2011, são ligadas aos irmãos Gomes. Sagrou-se vencedora, portanto, a

empresa S.da S. Moraes Junior ME com o valor total de R$ 540.560,10

(quinhentos e quarenta mil, quinhentos e sessenta reais e dez centavos),

referente aos lotes 1 e 3; e para os lotes 2 e 4, sagrou-se vencedora a empresa

E.M. Gomes Comércio Atacadista-ME, com o valor total de R$ 75.005,03

(setenta e cinco mil, cinco reais e cinco centavos).

Dentre as irregularidades observadas no Pregão em tela (eivado de vícios), a

equipe técnica da CGU pode constatar as seguintes irregularidades:

i) Custo do edital superior ao custo efetivo de reprodução gráfica: o Edital

exigia (item 2.7) o pagamento de taxa de R$ 50,00 para sua retirada,

constituindo-se restrição à competitividade, ferindo o §5º do art. 32

da Lei 8.666/93. Veja que o custo normal gira em torno de R$ 5,20;

ii) Exigências de qualificação técnica que extrapolam a permissão legal:

Tais exigências não se incluem entre permitidas pelos artigos 30 e 31

da Lei nº 8.666/93 e, além de constituir limite à competitividade,

contrariam o princípio da legalidade insculpido no art. 5 da CF/88;

iii) Prazo de pagamento ao fornecedor superior ao estabelecido na lei

8.666/93: O prazo de 90 dias é superior ao limite legal estabelecido

pelo art. 40, inciso XIV, alínea „a‟ da Lei nº 8.666/93, que determina

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prazo de pagamento não superior a trinta dias, contado a partir da

data final do período de adimplemento de cada parcela. Esta

cláusula do edital, além de contrariar o princípio da legalidade

insculpido no art. 5 da CF/88, constitui limite à competição ao

dificultar o fluxo de caixa do fornecedor, a critério exclusivo da

Prefeitura;

iv) Publicação restrita do edital de pregão presencial: O aviso do Edital em

tela foi publicado no DIO, em 15/07/2011, porém não foi publicado

em outros meios. Devido ao vulto da licitação, tal publicação é

necessária, nos termos do art. 4° da Lei n° 10.520/02. Restou

inobservada a legislação citada e o princípio de publicidade

expresso no art. 37 da CF/88;

v) Superfaturamento no montante de R$ 291.556,26, na aquisição de ar

condicionado: O custo dos equipamentos de ar condicionados

adquiridos pela Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy foi de R$

538.900,10. Entretanto, o custo médio praticado pelas empresas

pesquisadas pela equipe técnica da CGU para a aquisição dos

aparelhos de ar condicionados, é de R$ 247.343,84, constata-se,

assim, o sobrepreço no montante de R$ 291.556,26.

Não bastassem as irregularidades acima apontadas, foi constatado que

empresa S. DA S. MORAES JÚNIOR, que venceu o Pregão em epígrafe, não foi

cobrada para promover a instalação dos aparelhos de ar condicionado. Na

verdade, como é ligada aos irmãos Gomes, a esses foi transferida tal

responsabilidade, que, por sua vez, passaram a obrigação da execução do

contrato para a empresa LIDER ASSISTENCIA TECNICA EM AR CONDICIONADO

LTDA ME.32

Denota-se, pois, que os episódio sintetizados nesse tópico demonstram,

sobremaneira, todo o modus operandi das fraudes em processos licitatórios,

envolvendo os irmãos Gomes e suas empresas colaboradores; além de

demarcarem a participação direta de agentes públicos que, aproveitando-se

32 A Lider Assistência Técnica em Ar Condicionado participou da instrução do processo

licitatório fornecendo orçamento para a composição de preço. Contudo, como restou

comprovado o sobrepreço, a mesma foi desclassificada.

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de sua condição pública, direcionam licitações para o grupo econômico

escolhido (no caso os irmãos Gomes), que, por sua vez, se associam a outros

empresários para compor com ele o processo licitatório, simulando

concorrência com o propósito de conferir aparente legalidade aos certames.

Quanto aos servidores públicos municipais, observe bem que a Secretária e

sobrinha do Prefeito, Geovana Quinta Costalonga e o Pregoeiro Jovane

Cabral, são consideradas figuras centrais na coordenação das licitações

relacionadas aos empresários locais. Além disso, como visto, o pregoeiro

municipal, Jovane Cabral, extrapola os limites de suas atribuições, ingerindo,

inclusive, na forma de afastar concorrentes indesejados.

Desta forma, a participação do Pregoeiro municipal JOVANE CABRAL DA

COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, do

Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, da Secretária

Municipal GEOVANA QUINTA COSTALONGA, dos Policiais Militares FABRÍCIO DA

SILVA MARTINS e WALLAS BUENO DA SILVA, e dos empresários ELY ÂNGELO

JORDÃO GOMES, JOSÉ CARLOS JORÃO GOMES e SAMUEL DA SILVA MORAES,

está clara, demonstrando verdadeira formação de quadrilha, pois atuam de

forma articulada e em comunhão de desígnios, na prática dos crimes sob

investigação.

6. A EMPRESA EXCELÊNCIA

A empresa EXCELÊNCIA REPRESENTAÇÕES E PRESTADORA DE SERVIÇOS LTDA-

EPP, segundo constatado pela Operação “Lee Oswald”, foi constituída no dia

09/12/2009, por JOSÉ ROBERTO MONTEIRO, em sociedade com seu filho,

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RODRIGO KLEIN FORZANELLI MONTEIRO. Com capital social declarado de R$

10.000,00 (dez mil reais) a empresa foi constituída para atuar como prestadora

de serviços de seguro e apoio à atividades administrativas.

Não obstante os sócios de direito componentes da sociedade

supramencionada, a EXCELÊNCIA é comandada, além de José Roberto

Monteiro Fraga, vulgo Roque, pelos sócios ocultos, Rodrigo Zaché, Carlos

Fernando Zaché e o já conhecido Paulo Cesar Santana Andrade, o Paulo 10.

A EXCELÊNCIA entrou no esquema de fraudes em licitações da Prefeitura de

Presidente Kennedy, herdando da METAVIX, o contrato de prestação de

serviço contínuo de coleta de resíduos sólidos domiciliares do município,

encerrado em novembro de 2011.

Como alhures mencionado, com o encerramento do contrato que a METAVIX

possuía com o Município de Presidente Kennedy, o empresário e sócio, Dennys

Dazzi Gualandi, anunciou que não renovaria o contrato, muito menos

participaria de nova licitação, como de fato não participou. A razão estava

ligada à sua prisão em 2010, face à deflagração da Operação Moeda de

Troca no município de Santa Leopoldina.

O afastamento da METAVIX provocou a publicação, no dia 11/11/2011, de

Aviso do Pregão Presencial nº 125/2011, para contratação de EMPRESA

ESPECIALIZADA para prestação de serviço contínuo de coleta de resíduos

sólidos domiciliares e comercial no município de Presidente Kennedy.

Aparece em cena, portanto, a nova empresa que entraria no esquema

armado para vencer o Pregão Presencial em epígrafe: a EXCELÊNCIA. É

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importante esclarecer que toda a montagem dessa sociedade foi

devidamente constatada durante a Operação “Lee Oswald”, portanto,

desde a constituição dos sócios (legais e ocultos), passando pela montagem

do escritório, pela aquisição de material para o início do contrato, que

venceria, pela locação de veículos e, desaguando na subcontratação de

uma velha parceira, a conhecida CTRVV – Central de Tratamento de Resíduos

Vila Velha Ltda, que tinha à frente Marivaldo Ganzela. 33

Dias antes da publicação do Aviso do Pregão nº 125/2011, o Vereador Tércio

Jordão Gomes, recebeu carta anônima34 que denunciava esquema

montado para direcionar referida licitação em favor de José Roberto da

Rocha Monteiro (Vulgo Roque), Rodrigo Zaché e Fernando Zaché (vide teor

da Carta no item 6.7 da Representação Final do Delegado Álvaro Fajardo).

Não obstante a apocrifia do documento, o esquema denunciado se

confirmou, tal como a denúncia apresentava, ou seja, a carta afirmava que o

procedimento licitatório em comento seria direcionado para o grupo

empresarial composto por José Roberto da Rocha Monteiro, Rodrigo Zaché,

Carlos Fernando Zaché e Paulo César Santana de Oliveira, o Paulo 1035,

inclusive, com os mesmos vícios do procedimento anterior adjudicado em

favor da empresa METAVIX, sobretudo, em relação à contratação de aterro

sanitário.

33 Para constatação vide itens 6.7.6, 6.7.6.1, 6.7.6.2, 6.7.6.3, 6.7.7, da Representação Final da

lavra do Delegado Álvaro Fajardo, bem como os índices que acompanham. 34 Documento encartado às fls. 177 do Inquérito Policial nº 502/2011. 35 Rodrigo Zaché e Paulo César Santana de Oliveira foram investigados, indiciados e

denunciados em 2010 por participação nas fraudes evidenciadas pela Operação “Moeda

de Troca”, deflagrada na cidade de Santa Leopoldina/ES, mesmo município em que José

Roberto da Rocha Monteiro, o Roque de Santa Leopoldina, exerceu mandato de vereador e

posteriormente prefeito por 8 (oito) meses em 2004. Carlos Zaché é sócio de Paulo César na

empresa AZX. Paulo César responde processo de improbidade administrativa juntamente

com o Prefeito Reginaldo Quinta, por fraude em procedimento licitatório no município de

Presidente Kennedy.

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6.1 – O PREGÃO PRESENCIAL N° 141/2011

Como acima mencionado, com o término do contrato com a METAVIX, a

Prefeitura de Presidente Kennedy-ES publicou no Diário Oficial do Estado

(DIO/ES), em 20/12/2011, novo Edital, republicado em 21/12/2011. O Edital

marcava a abertura da licitação para o dia 30/12/2012.

Como se observa, o objeto do contrato era a “contratação de empresa

especializada para prestação de serviços contínuo de coleta de resíduos

sólidos domiciliares, para atender a este município.”

Inicialmente o orçamento elaborado pelo Executivo Municipal apresentou o

valor de R$ 7.130.714,22 (sete milhões, cento e trinta mil, setecentos e quatorze

reais e vinte e dois centavos), tendo como ponto de partida a média dos

orçamentos apresentados pelas empresas Marca Construtora e Serviços e

CTRVV – Central de Tratamento de Resíduos Vila Velha, que foram convidadas

pela prefeitura para cotação prévia de preços para determinação do

orçamento de referência.

Além das empresas convidadas a cotar preços previamente, participaram

ainda do Pregão Presencial nº 141/2011 as seguintes sociedades empresariais:

A.Z Empreendimentos Urbanos Ltda ME, ACO Indústria e Comércio Ltda. EPP e,

é claro, a vencedora, Excelência Representações e Prestadora de Serviços

Ltda. EPP.

Ganhadora do certame, a empresa Excelência Representações e Prestadora

de Serviços Ltda EPP, foi “contemplada” com o Contrato nº. 01/2012,

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celebrado em 05/01/2012, no valor de R$ 5.990.000,00 (cinco milhões,

novecentos e noventa mil reais).

Como a licitação se tratou de “jogo de cartas marcadas”, a equipe técnica

da CGU que analisou o processo licitatório sub examine, “identificou várias

ilegalidades ocorridas na condução do certame que contribuíram para

obstar a sua competitividade e direcionar o certame em favor da empresa

Excelência Representações e Prestadora de Serviços Ltda. EPP”, podendo

destacar, entre elas:

i) Restrições à competitividade e evidências explícitas de

direcionamento do processo licitatório;

ii) Edital do pregão n° 141/2011 contendo cláusula questionada na

justiça, como restritiva ao caráter competitivo do certame;

iii) Demonstrações financeiras indicando que o patrimônio líquido da

empresa vencedora é inferior a 10% do valor estimado para

licitação;

iv) A empresa vencedora do Pregão Presencial n° 141/2011, não possuía

qualificação técnica-operacional para execução dos serviços

licitados;

v) O valor do serviço de coleta, transporte e destinação de resíduos de

serviços de saúde aumentou cerca de 750%, sem justificativa.

Ao analisar a documentação relativa ao Pregão Presencial em comento, no

que diz respeito às “restrições à competitividade e evidências explícitas de

direcionamento do processo licitatório” (item “i”, supra), a equipe da CGU

constatou, dentre tantas irregularidades:

a) o aviso do Edital nº 141/2011, publicado no DIO, em 20/12/2011, foi

republicado, em 21/12/2011 sem publicar em outros meios. Devido ao valor

que envolvia a contratação, a publicação deveria atender aos termos do

inciso I do art. 4° da Lei n° 10.520/02 e art. 37 da CF/88;

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b) que houve “cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital superior

ao custo de sua reprodução gráfica”, houve a constatação por parte da

CGU de que a cobrança de R$ 55,29 (cinquenta e cinco reais e vinte e nove

centavos), referente a taxa de edital e protocolo se mostrou absurda, tendo

em vista que, com no caso, não houve “custo de utilização de tecnologia da

informação (mídia ou CD) e o número de páginas do Edital é de 31 páginas,

considerando-se todos os anexos e o custo de uma cópia reprográfica não

ultrapassa R$ 0,20/pg, automaticamente, o custo total da reprodução

gráfica, seria de: 31pág. x R$ 0,20/pág = R$ 6,20 (seis reais e vinte centavos);

c) que o Edital do Pregão Presencial nº 141/2011), elaborado pela Prefeitura

Municipal de Presidente Kennedy, exigiu como qualificação técnica, critério

ambiental que não possui permissão legal, sendo que tal exigência não se

inclui entre as permitidas pelo art. 30 da Lei nº 8.666/93. Além de constituir

limite à competitividade, contraria o princípio da legalidade insculpido no

art. 5 da CF/88; 36

d) Como o Pregão Presencial em tela direcionava-se à contratação de nove

itens, devidamente especificados e, em se tratando de licitação envolvendo

quase seis milhões de reais, uma vez não possibilitando a distribuição, em

lotes, do objeto constituindo, houve clara restrição à competitividade, ferindo

o art. 23, § 1º da Lei nº 8.666/93;

Constata-se também que a Administração Pública local publicou “edital do

pregão n° 141/2011 contendo cláusula questionada na justiça, como restritiva

ao caráter competitivo do certame” – Vide item “ii” supra:

Conforme apresentado pelos técnicos da CGU, o requerimento judicial

buscando a declaração de nulidade do Edital do Pregão nº 125/2011, teve

como mote a violação direta ao princípio da competitividade, na medida

em que as exigências contidas nas letras “a” e “b” do subitem 9.1.4.1 do

36 A cláusula em exame foi um dos motivos para que a empresa Vital Engenharia Ambiental

Ltda ajuizasse, ação cautelar com pedido liminar em razão de irregularidade na licitação.

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edital, exigindo a Licença de Operação de Aterro Sanitário Classe II, é de

responsabilidade de expedição pelo IEMA, exigência que configura restrição

à competitividade.

No que diz respeito ao item “iii”, supracitado, a análise da CGU constatou

que as “demonstrações financeiras indicam que o patrimônio líquido da

empresa era inferior a 10% do valor estimado para licitação”, senão

vejamos:

Analisando o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado, referentes

ao exercício de 2010, apresentados pela empresa como documentos de

habilitação no Pregão Presencial nº 141/2011, a equipe técnica da CGU

verificou que o aumento de capital, supostamente realizado pela

EXCELÊNCIA em 22/03/2010, não ocorreu de fato como estabelecido na

alteração do contrato social.

Ademais, “o valor do capital social, em 31/12/2010, apresentado no Balanço

Patrimonial da empresa, era de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e não de R$

510.000,00 (quinhentos e dez mil reais) conforme consta da Primeira

Alteração Contratual, datada de 22/03/2010, e registrada na JUCEES em

28/08/2011. As demonstrações contábeis citadas foram assinadas pelo Sr.

José Roberto da Rocha Monteiro (CPF 016.953.597-55), sócio-administrador, e

pelo Sr. Maurílio Correia Santana (CPF 005.138.927-45), contador. Outro fato

que chama atenção, é que dos R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) de

aumento de capital social, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil) seriam

integralizados com 02 (dois) caminhões compactadores de lixo. No entanto,

de acordo com informações do Sistema REDE INFOSEG da Secretaria

Nacional de Segurança Pública - SENASP, obtidas em 08/03/2012, verificou-se

que a empresa possui em seu nome apenas um veículo tipo ônibus. Portanto,

diante do exposto, existem evidências de que o capital social da empresa

não era de R$ 730.000,00 (setecentos e trinta mil reais) na data de 21/12/2011,

o que inabilitaria a empresa no certame. Interessante observar que, no

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período entre 25/08 a 09/11 (cerca de 74 dias), o capital social da empresa

cresceu 7.200% (sete mil e trezentos por cento), passando de R$10.000,00 (dez

mil reais) para R$730.000,00 (setecentos e trinta mil reais) conforme

documentos registrados na JUCEES. O valor de R$ 730.000,00 (capital social

da empresa) corresponde quase que, exatamente, a 10% (dez por cento) do

valor estimado para a licitação, que foi de R$ 7.130.714,22 (sete milhões,

cento e trinta mil, setecentos e quatorze reais e vinte e dois centavos).”

Quanto ao item “iv”, indicado acima, é possível perceber que a “empresa

Excelência Representações e Serviços Ltda., vencedora do Pregão Presencial

n° 141/2011, não possuía qualificação técnica-operacional para execução

dos serviços licitados.” Vejamos:

O Relatório da CGU demonstra que a “empresa Excelência Representações

e Serviços Ltda., vencedora do Pregão Presencial n° 141/2011, “não

conseguiria comprovar aptidão para o desempenho de atividade

relacionada ao objeto do certame, visto que, de acordo com as

informações do Sistema GFIP WEB, não há registro de funcionários vinculados

à empresa no período entre dezembro/2009 (abertura da empresa) e

dezembro/2011 (mês imediatamente anterior à assinatura do Contrato n°

01/2012, firmado entre a empresa e o Município de Presidente Kennedy/ES).

Cabe salientar que grande parte dos serviços previstos no objeto do

certame, necessariamente, requer pessoal. Por ultimo, outra evidência da

falta de aptidão seria o fato de que, conforme registros na JUCEES, somente

em 28/08/2011, passou a constar do rol de atividades da empresa os serviços

objeto do Pregão Presencial n° 141/2011, de 20/12/2011.”

Por fim, constata-se também que o “valor do serviço de coleta, transporte e

destinação de resíduos de serviços de saúde aumentou cerca de 750%

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(setecentos e cinquenta por cento) sem justificativa.” Os técnicos da CGU

constata, portanto:

Que “a quantidade estimada de coleta de resíduos sólidos de saúde, entre

um contrato e outro, aumentou de 200 kg para 1.560 kg, praticamente, na

mesma proporção do aumento de valores. No entanto, no processo,

também não consta justificativa para esse aumento de estimativa. Cabe

salientar que, de acordo como informações constantes da base de dados

do DATASUS, o quantitativo de estabelecimentos de saúde no município de

Presidente Kennedy/ES diminuiu no período entre agosto de 2009 (data do

Contrato n° 175/09) e dezembro de 2011, passando de 09 (nove) para 08

(oito).”

Como se observa, a empresa EXCELÊNCIA foi devidamente preparada para

herdar o contrato de “coleta de lixo” da sua sucessora METAVIX. Veja que

referida sociedade empresarial não possuía, ao tempo da licitação, capital

social; capacidade técnica para execução do serviço contratado, conforme

exigência do edital; não há registro fiscal compatível com uma empresa

efetivamente em atividade. Sem falar que em conversa com a gerente do

BANESTES (Agência Presidente Kennedy), o sócio da empresa, José Roberto

Monteiro, faz a seguinte revelação:

Transcrição (índice 5356721):

RAQUEL: RODRIGO?

ROQUE: ROQUE!

RAQUEL: ROQUE, é RAQUEL do BANESTES, tudo bem?

ROQUE: Tudo bem RAQUEL, tudo bem querida?

RAQUEL: Vocês já estão em Vitória?

ROQUE: É, eu to em Vitória

RAQUEL: A folha de pagamento a gente faz a custo zero, pode

ser?

(...Falam sobre as vantagens e taxar que o Banestes vai cobrar e

assuntos diversos, a partir de 1:55 Roque começa a explicar)

ROQUE - O que está acontecendo na verdade, eu tinha uma

outra, eu tinha outra atividade no poder público, então a

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MINHA EMPRESA, EU TRABALHAVA ELA EM PRESTACAO DE

SERVIÇOS ... MAIS .... ASSIM .... EM REPRESENTAÇÃO DE

CONSÓRCIO, ERA BEM DEVAGAR, e eu recebia pela assembléia

era.. da assembléia até e tal,QUANDO DE NOVEMBRO PRA CÁ

QUE EU DEIXEI A ASSEMBÉIA E COMECEI A MOVIMENTAR ....

VAMOS DIZER ASSIM ... QUE EU COMECEI A ADEQUAR A EMPRESA

PRA PODER PARTICIPAR DE LICITAÇÕES, então, a partir dali, por

isso que essa empresa tem uma movimentação baixa, então a

pessoa física tinha de acordo com meu cargo na assembléia,

entendeu?

RAQUEL - Entendi

ROQUE - Eu não consegui detalhar muito naquele dia mas é em

resumo isso aí que eu to te passando

(Falam sobre a operacionalização da conta, limites de crédito e

facilitação para pagamento de funcionários)

Com efeito, denota-se do diálogo acima que ao tempo do processo

licitatório em apreço, a empresa EXCELÊNCIA não possuía a menor

capacidade (técnica, administrativa, econômica, etc.) para executar o

serviço para o qual foi contratada ao custo de quase seis milhões de reais

ano.

Sabendo que sairiam vencedores da licitação, os sócios beneficiados pela

fraude, ainda, no dia 31/01/2012, às 16hrs01min, já comemoram e tripudiam

da vitória, conforme diálogo interceptado com autorização judicial, conforme

demonstra o índice 5404756:

“Carlos comenta com Rodrigo que Paulo já quer passar na Toyota

e sair de Hillux. Carlos pergunta se vai dar 350. Rodrigo confirma e

diz que mais tarde passa melhor. Carlos diz que se der 360, 370 já

ajuda. Rodrigo diz que está indo pegar o secretário que quer lhe

entregar um ofício. Rodrigo diz que Carlos podia pegar com o

rapaz da CTRVV pra ele fechar o que tem e mandar ou, ainda,

entregar ao Roque para que ele traga amanhã. Continua e diz

que só falta isso, que depende dele, que está precisando da

tonelada da saúde, da tonelada do resíduo normal e do

transporte. Carlos pede que ele ligue direto e Rodrigo pergunta se

o celular é 98312795 ao que Carlos diz para que ligue no fixo.

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Carlos pergunta ao fundo, para Emanuela, qual é o telefone fixo

da CTRVV, lá do aterro do Marivaldo.”

A relação do Prefeito Reginaldo Quinta com o grupo econômico em

destaque é direta. Na verdade, o chefe do Executivo de Presidente Kennedy

e ora denunciado, possui domínio literal de todas as questões que envolvem

a empresa de seus amigos e os contratos com o município que administra.

Restou demonstrado no curso da investigação o livre acesso que o

empresário Roque tem junto ao Prefeito. Os diálogos abaixo transcritos

demonstram claramente essa relação:

(Transcrição - índice 5352789)

ROQUE: Oi tudo bom?

REGINALDO - Tudo bem, graças a Deus

ROQUE: O senhor tá na luta? Tá na prefeitura?

REGINALDO - Eu tô em casa

ROQUE:Ah, tá em casa. NA VERDADE EU TÔ DESCENCO, E QUERIA

SÓ TIRAR UMA DÚVIDA. SOBRE A PROGRAMAÇÃO DE HOJE, É UMA

PROGRAMAÇÃO DE HOJE DO ... QUE EU CONVERSEI COM O

SENHOR NA SEMANA PASSADA ... TÁ TUDO CERTO? TÁ TUDO OK?

REGINALDO: Oi?

ROQUE:Tá tudo ok a, a, o senhor que eu dê uma passada, eu

poderia dar uma passadinha rápida aí?

REGINALDO:Você tá aqui?

ROQUE:Tô, tô aqui, eu tô descendo e só queria tirar uma dúvida

contigo.

REGINALDO:Vem cá, passa aqui

ROQUE:É rapidinho, tá, eu vou passar aí, é rapidinho

REGINALDO:Na minha casa

ROQUE:Tá bom, tudo bem

José Roberto Monteiro, o Roque, utiliza sua influência junto ao Prefeito para

seus interesses na Prefeitura de Presidente Kennedy. O diálogo de índice

5572041, abaixo transcrito,demonstra bem essa relação. Veja que para liberar

o pagamento de sua empresa, Roque, no dia 08/03, conversa com a

servidora Suelen, que, por sua vez, informa que provavelmente não sairá a

tempo. Diante disso, Roque diz que irá ligar para o Prefeito. Veja:

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(Transcrição)

SUELEN: Oi

ROQUE: E aí SUELEN

SUELEN:Eu ia ligar pra você agora. Eu liguei lá pra dona NEUZA e

ela falou que o processo ainda está em fase de conferência, ela tá

conferindo ainda ...

ROQUE:É?

SUELEN:Provavelmente é capaz de não dar tempo de pagar pro

banco ainda hoje

ROQUE:É, DEIXA EU TENTAR ... INFELIZMENTE ... EU NÃO QUERIA FAZER

ISSO NÃO, MAS VOU TER QUE LIGAR PARA O PREFEITO ... então tá

bom ....

SUELEN:Tá bom, tá jóia

ROQUE:Obrigado, valeu

SUELEN:Por nada

Veja que posteriormente Roque liga para o Prefeito.

(Transcrição - índice 5573386)

REGINALDO: Oi

ROQUE: Oi, boa noite, tudo bom?

REGINALDO:Tudo bem e você?

ROQUE:Graças a Deus tudo em paz. Eu tô te ligando, você vai

estar aí no município amanhã de manhã?

REGINALDO - Vou

ROQUE:A, pra eu dar um pulo aí

REGINALDO:Você vai chegar que horas?

ROQUE:Ah eu devo chegar aí umas oito e meia nove horas no

máximo

REGINALDO:Ahã, É ALGUMA COISA, ALGUMA COISA?

ROQUE:NÃO ...NÃO ... TRANQUILO, SÓ EU VOU AÍ FAZER A FOLHA

AMANHÃ E SÓ QUERIA FALAR COM O SENHOR ...

REGINALDO:MAS AÍ FICA TUDO CERTINHO ..

ROQUE:TUDO CERTINHO ...

REGINALDO:Mas eu posso encontrar com o senhor as dez e meia

aqui?

ROQUE:Pode ser, dez e meia então

REGINALDO:Tá

ROQUE:Aí no, na, o senhor acha na prefeitura?

REGINALDO:Não, eu te ligo

ROQUE:Então tá, beleza

REGINALDO:Eu já marquei um horário aqui oito e meia

ROQUE:Certo

REGINALDO:Aí eu vou te atender, eu tento marcar mais cedo um

bucadinho porque daí quando você chegar aqui eu tô aqui

ROQUE:Ah beleza então, tá ótimo, dez e meia, dez horas, dez e

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meia eu tô chegando aí

REGINALDO:Então tá bom

ROQUE:Tá, obrigado, um abraço, boa noite

A inteligência da Polícia Federal constatou, a partir de conversas

interceptadas com autorização judicial, que no dia seguinte, 09/03, após um

encontro com o Prefeito (provavelmente ocorrido na casa da Secretária

Geovana Quinta), Roque liga para a sede da EXCELÊNCIA para confirmar a

liberação do pagamento. Nesta ligação ROQUE fala com CARLOS ZACHÉ

sobre “separar algo para uma menina que merece um prêmio”:

Transcrição índice 5577635:

MANUELA: Oi Roque

ROQUE: Oi Manu

MANUELA:Oi

ROQUE:Com cinco minutos aí, mais ou menos, eu já tô aqui na fila

do banco, pode fazer a questão dos tickets tá?

MANUELA:A tá, então fazer o cheque logo

ROQUE:É, outra coisa, vê pra mim aí aquela conta de vila velha

que nós abrimos agora a pouco tempo do Banestes pra mim ir

fazendo a transferência praí

MANUELA:Ah tá, o número da conta

ROQUE:Eu anotei ontem, só que tá com seu Carlinhos o talão de

cheque, eu anotei ontem mas acabei que, tá lá no carro

MANUELA:A sim, espera um bucadinho que eu vou pegar logo

ROQUE:Uhum

(Carlos pega o telefone)

CARLOS:Alô

ROQUE:Oi

CARLOS:Fala bichão

ROQUE:Você pega AQUELAS DUAS QUE VOCÊS SEPARAM AÍ e

deixam em cima da minha viu?

CARLOS:A, quais é?

ROQUE:A, a, a, a, a menida da...

CARLOS:Ah tá

ROQUE:Meu Deus do céu

CARLOS:Entendi

ROQUE:Ela merece um prêmio

CARLOS:Ela merece mesmo, pode ficar tranquilo, agora que eu

entendi...

(Em seguida ROQUE passa o número da conta bancária da

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EXCELÊNCIA. Carlos diz que já está na fila do Banco. Em seguida se

despedem)

Está aí, portanto, como se dá a rotina de ilicitudes desse grupo econômico,

formado pelos empresários JOSÉ ROBERTO DA ROCHA MONTEIRO, CARLOS

FERNANDO ZACHÉ, RODRIGO ZACHÉ e PAULO CESÁR SANTANA DE OLIVEIRA,

que, diga-se de passagem, se encontra muito bem estruturado, aparelhado e

dividido para o fim de usurpar verba pública. Por outro lado, veja tabém que

não há como negar a responsabilidade criminal dos integrantes da Comissão

de Licitação JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e

SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo

REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO

BORGES BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA

COSTALONGA e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, em verdadeira formação

de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em comunhão de desígnios,

na prática dos crimes sob investigação.

7. AS EMPRESAS MASTER PETRO E PULIZIE ITÁLIA

A empresa MASTER PETRO SERVIÇOS INDUSTRIAIS LTDA, inscrita no CNPJ nº

01.718.331/0001-24, possui sede localizada na Avenida Nossa Senhora da

Penha nº 699, salas 805, 808 a 815, no Bairro Santa Lúcia, Vitória – ES. Consta

como um dos sócios a pessoa de CLÁUDIO RIBEIRO BARROS37.

37 Importante registrar que a MASTER PETRO, através do inteligente, mas ardiloso sócio, Cláudio

Ribeiro Barros, já firmou vários outros contratos com setores do poder público como o Instituto

Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), a Secretaria de Estado

de Segurança e Defesa Social (SESP), a Secretaria de Estado da Saúde (SESA), bem como

Superintendência de Polícia Federal.

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Cláudio Ribeiro Barros, por sua vez, é o sócio oculto e responsável de fato por

outra empresa: a PULIZIE ITÁLIA SERVIÇOS GERAIS LTDA, inscrita no CNPJ

07.437.034/0001-88, empresa que tem como sócias suas funcionárias

ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e SABRINA DA SILVA TESCH.

Andressa Salomão e Sabrina Tesch possuem plena consciência não apenas

das ações ilícitas que decorrem da simulação do quadro societário da PULIZIE

ITÁLIA, mas também compõem o pool da deliquência organizada, não

apenas no Município de Presidente Kennedy, mas em outras cidades de nosso

Estado.

Durante as investigações da Operação “Lee Oswald” ficou caracterizado que

Alessandra Salomão e Sabrina Tesch, não obstante a condição de sócias da

PULIZIE ITÁLIA, são também funcionárias assalariadas da MASTER PETRO38,

situação que é notória não apenas para os integrantes da organização, mas

nos poderes públicos de uma forma geral. Á guisa de confirmação dessa

situação, acompanhemos o diálogo a seguir, registrado entre Cláudio Barros

e a sua funcionária Juliana de Paula, demonstrando que todos possuem pleno

domínio do fato.

(Dia 12/03. Índice 5592378)

(Transcrição: JULIANA DE PAULA comenta que SABRINA e

ALESSANDRA na PULIZIE e seus salários)

CLÁUDIO: Alô.

JULIANA DE PAULA: Você tá podendo falar?

CLÁUDIO: Eu tô pegando o meu carro, mas pode falar.

JULIANA DE PAULA: Nossa CLÁUDIO, que aperto que eu passei.

CLÁUDIO: Então péra ai, deixa eu só... Pode falar, pode falar.

JULIANA DE PAULA: Olha só. Do nada, do nada, eu tava aqui

sentada na frente do computador cadastrando os negócios aqui,

38 A título de maiores detalhes acerca da situação aqui apresentada, vide item 6.8.4 – O

Vínculo de Alessandra e Sabrina com a MASTER PETRO, contida na Representação Final

apresentada pelo Delegado Álvaro Fajardo.

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chegou SABRINA e ALESSANDRA. Entraram, abriram a porta...

Entraram né, normal, sentaram na minha frente, pediram pra eu

abrir a conta que elas queriam ver quanto tinha. Que a empresa

CLÁUDIO: Fizeram isso?!

JULIANA DE PAULA: Que a empresa está no nome delas.

CLÁUDIO: Então a partir de hoje vai sair.

JULIANA DE PAULA:E outra coisa, (ininteligível) falou que já

conversou com você, você fez um acordo com elas... Eu tô te

falando para você me dar a pinóia deste gravador e você não

me dá essa pôrra, pra você ouvir o que que elas falaram. Falaram

assim que pediram pra você, que você tem um acordo com elas

que todo o dinheiro que você passar para sua conta elas vão, elas

querem saber. Me perguntaram quanto que entrou da nota...

ALESSANDRA falou que ia puxar a nota no sistema pra ver qual é o

valor da nota, que ela tem a senha, sei lá o que... Enfim (áudio fica

mudo) ...da empresa. Aí eu fiquei desesperada, eu falei que só tem

duzentos mil na conta que é para pagar os funcionários. Elas

perguntaram "cadê o restante?". Eu falei: "SABRINA, ó, duzentos...

é, duzentos mil foi pra pagar o ônibus, que teve que comprar dois

ônibus para atender os funcionários lá. Tá tendo que pagar o

aluguel da filial.

CLÁUDIO: Não tinha que ter fala do nada! Tinha que ter falado vê

com o CLÁUDIO, a orientação que eu tenho é isso.

JULIANA DE PAULA: CLÁUDIO, você não tem noção! Elas queriam

que eu abrisse a conta, e eu não abri. Eu consegui contornar e

não abri a conta. A ALESSANDRA falou que ia descer na Caixa e ia

perguntar porque ela tem total poder, porque ela é dona da

empresa. E realmente se ela descer na Caixa, eles falam tudo pra

ela. Ai, disse que você falou que tava com problema na conta do

Banestes, mas sabia da Caixa, e blá, blá, blá... E querem o salário

delas por aqui e que a partir de hoje tudo que sair daqui, é para eu

ligar para elas na hora e falar quanto que tá saindo para a sua

conta.

CLÁUDIO: Então vamos fazer o seguinte. TERIA PROBLEMA BOTAR

NO SEU NOME?

JULIANA DE PAULA :Que que elas tem haver?

CLÁUDIO: Então botar no nome do... Você não porque você entrou

na outra. Botar em nome da TICIANA e no nome da mãe dela.

JULIANA DE PAULA: É, eu vou ver aqui com eles e te falo. Aí

perguntaram se as coisas estão sendo pagas, seu FGTS tava sendo

pago, se o INSS tá sendo pago, PORQUE VOCÊ (CLÁUDIO) TÁ

POUCO SE IMPORTANDO ... PORQUE NÃO TÁ NO SEU NOME, você tá

pouco se lixando, elas falaram. Eu falei: "Ó, tá tudo sendo pago,

inclusive este mês esse mês foi descontado trinta mil de ISS, o FGTS

agora que vai cair, porque a documentação dos funcionário

algumas estão pendentes e (ininteligível) pagou o INSS, tudo. Falei.

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Aí elas ficaram. E perguntaram quem é o advogado daqui

(PULIZIE), falei (ininteligível) CÉLIO. "Ah tá, porque arruma outro. Vê

com o seu contador tem outro para indicar. Porque tá lá,

MARIANA que é uma bosta. A gente pergunta quantos processos

tem ela fala que não sabe.".

CLÁUDIO: Quer dizer que elas chegaram com essa moral toda aí?

JULIANA DE PAULA: CLÁUDIO, entraram e sentaram na minha frente

que eu tranquei o meu cu de uma forma, que eu pensei assim:

Carácoles, se ela quiser olhar, ela não tem a senha da conta, mas

eu pensei, carácoles, se ela quiser ela pode ir lá e olhar. E diz que

tenta falar com você e você não atende. Aí elas ficaram

brincando, a ALESSANDRA falou bem assim: "É, porque tem horas

que, ou ele atende, naquela semana ele tá pra atender SABRINA,

uma semana ele tá pra me atender. Ele faz um joguinho de cão e

gato. Uma hora ele atende uma, uma hora ele atende outra". As

duas amicíssimas. Se você vem com aquela historinha, elas fazem

simulação na sua frente, seu besta quadrada. Simulam muito bem

na sua frente e você acredita que elas inimigazinhas. São amigas,

imortais. Aí eu peguei e falei o mínimo que eu podia falar. Falei que

eu estou cheia de trabalho, tô cheia de serviço, tô cheia de coisa

pra fazer. Ah tá. O ZEDILSON contou pra elas que o ônibus tá

caindo pedaço, que aquele ônibus não vale nem cem mil reais.

CLÁUDIO: ZEDILSON falar isso, deixa ele comprar então.

JULIANA DE PAULA: Aí eu falei bem assim: "SABRINA, eu não sei. Eu

penso que se uma Hilux é cento e vinte mil, um ônibus é muito

maior, não pode custar cem mil. Mas o CLÁUDIO teve todo o

trabalho de trocar o estofado do ônibus todo.". Porque o ZEDILSON

falou pra elas que o ônibus é velho, caindo aos pedaços, é um

desse tipo Transcol.

CLÁUDIO: É tipo Transcol mesmo, 2008.

JULIANA DE PAULA: Então, ele falou.

CLÁUDIO: Entra aí depois, você puxa aí pra mim. Ônibus LD.

JULIANA DE PAULA: E o ZEDILSON conta tudo pra SABRINA. Não, pra

SABRINA não. Pra ALESSANDRA ele conta. São muito amigos.

CLÁUDIO: Vou ligar para ZEDILSON.

JULIANA DE PAULA: Ah, você vai ligar e vai falar o que CLÁUDIO?

CLÁUDIO: Faz o seguinte. Se não for, sabe o que eu vou fazer? Vou

botar no meu nome, a partir de hoje.

JULIANA DE PAULA: Olha só, faz o seguinte. Não, nem comenta

nada com ZEDILSON, nem fala nada. E elas falaram que você vai

falar comigo que é pra fazer o pagamento delas hoje.

CLÁUDIO: Sim, mas deixa eu te falar. O seu, do ZEDILSON...

JULIANA DE PAULA: Tá, mas aí tá. O pagamento delas você tinha

fala do comigo que ia ser igual o do ZEDILSON.

CLÁUDIO: Sim, e vai ser.

JULIANA DE PAULA: Elas não vão ganhar mais CLÁUDIO?

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CLÁUDIO: Sim, mas vão cair. Não quero nem saber. O máximo que

eu posso botar é duzentos reais a mais, alguma coisa assim, mas

nada mais. Cabô, se quiser vai embora.

É importante informa também que no quadro societário das empresas de

Cláudio Barros já passaram sua atual companheira Ahija Manso Correa, a

pessoa de Romadson Pinheiro Brasil, mais um de seus funcionários, e sua

própria funcionária, JULIANA DE PAULA que compôs o quadro societário da

MASTER PETRO até o ano passado (vide item 6.8.4 da Representação Final).

Segundo apurado na Operação “Lee Oswald”, Cláudio Ribeiro Barros

gerencia concomitantemente as duas empresas: MASTER PETRO e PULIZIE

ITÁLIA. Com isso, transfere recursos de uma empresa para outra, simula

concorrência entre elas, registra empregado de uma em outra, sem qualquer

pejar, ou mesmo controle fiscal e administrativo.

Cumpre esclarecer que toda essa movimentação tem cunho estratégico,

visto que tem como escopo ajustar seus compromissos e frustrar indesejosos

bloqueios judiciais impostos à MASTER PETRO, empresa da qual figura como

sócio, face às reclamações trabalhistas contra ela ajuizadas. O diálogo

abaixo transcrito refle bem essa assertiva:

(Transcrição - índice 5373599) :CLÁUDIO trata sobre depósito de

69mil na conta da empresa e dá orientação sobre questões

salariais para MNI.)

MNI: Oi

CLÁUDIO: (ininteligível)

MNI: Entrou 69 mil na conta.

CLÁUDIO: Qual conta?

MNI: Do BANESTE. Tanto que o EURICO tem... O EURICO tá mais

atendo que vocês, hein?

CLÁUDIO: Não, porque

MNI: (ininteligível) nunca entrou. Eu olhei de manhã e não tinha

nada.

CLÁUDIO: Vê se entrou?

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MNI: É realmente. Deve...

CLÁUDIO: 69

MNI: Crédito de outro banco.

CLÁUDIO: Crédito de outro banco?

MNI: 69, 621.

CLÁUDIO: O dinheiro é da Polícia Federal.

MNI: Da Polícia Federal?

CLÁUDIO: Eu acho que é. tem (ininteligível)?

MNI: Não. Não é (ininteligível), tá crédito de outro banco.

CLÁUDIO: Ah, é Polícia Federal. Olha só. Pagar o FGTS da Polícia

Federal...

MNI: Um hum.

CLÁUDIO: (ininteligível) de pessoal, pagar o salário de EURICO...

MNI: Um hum. Tem outros salários do HSBC CLÁUDIO, você vai

pagar?

CLÁUDIO: Quantos, dá quanto? A gente paga tudo e fica

coisando ainda?

MNI: Oi? Não, especial é que tá sem folha de ponto, que a PAULA

foi passando...

CLÁUDIO: É muito?

MNI: Deve ser um 6, mais ou menos.

CLÁUDIO: Tá, manda 50 mil pra PULIZIE, fica com 19.

MNI: Tá.

CLÁUDIO: Destes 19, o que sobrar depois de você pagar FGTS, se

sobrar as coisas você passa pra mim. Ou pro Banestes ou..

transfere pra mim ou pro Banestes ou pro HSBC da minha conta

pessoal.

MNI: Tá, mais vai pagar o salário do HSBC ou não?

(seguem falando sobre pagamento de funcionários e FGTS, depois

voltam a tratar das transferências)

CLÁUDIO: Que amanhã deve entrar dinheiro eu vou pagar a

alimentação da Polícia Federal e do SESP.

MNI: Tá bom. Qualquer coisa eu te ligo.

CLÁUDIO: E vê se entra mais dinheiro hoje, que é capaz de entrar

mais.

MNI: Tá bom.

CLÁUDIO: E manda também dinheiro pra lá.

MNI: Oi?

CLÁUDIO: E manda o dinheiro pra, pra PULIZIE.

MNI: Tá, então tá bom.

Não bastasse isso, Cláudio Ribeiro Barros é velhaco quando o quesito é

engendrar mecanismos para captar recursos financeiros, sobretudo os

advindos da administração pública. Para tanto, valendo-se da estrutura de

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suas empresas e funcionários, usa toda sua solércia para enquadrá-las nas

simulações de concorrência pública, como quando ocorreu no Pregão

Presencial nº 144/2011, promovido pela Prefeitura de Presidente Kennedy e

adjudicado em favor da empresa PULIZIE ITÁLIA.

A fim de melhor ilustrar esse quadro veja o diálogo abaixo, interceptado no

dia 23/01, em que Cláudio Barros orienta Alessandra Salomão a auxiliar o

amigo “MARCELO”, interessado em contar com a participação de suas

empresas no certame citado acima (Pregão Presencial nº 144/2011).

(índice 5379809 - Transcrição a partir de 1min10seg.)

ALESSANDRA: É... O tal do chato lá do MARCELO, do chato. Aquele

que veio aqui aquela vez, lá dá "CLARÉ".

CLÁUDIO: Ah sei.

ALESSANDRA: Que queria que você fizesse a planilha pra ele,

aquele negócio todo.

CLÁUDIO: Hum.

ALESSANDRA: Ele tá analisando o edital da SERRA, aí me ligou pra

encher o raio da minha paciência, enchendo o saco porque no

edital não tem quantitativo de material, tem quantitativo de

(ininteligível)

CLÁUDIO: Ué, tem que fazer a visita pra fazer ora. Ele quer que eu...

(seguem falando sobre questões relacionadas à licitação e a

impertinência de MARCELO, que quer que ALESSANDRA faça tudo

por ele, em seguida CLÁUDIO retoma o assunto)

CLÁUDIO: Eu vou acabar montando minha consultoria de vez

mesmo, metê a mão no bolso destes caras.

ALESSANDRA: Ah, já que eles quê que faz isso tudo.

CLÁUDIO: Fico quebrando ganho, fico quebrando galho, de

(ininteligível), fazer amizade, pra na hora que a gente precisa ter

as coisas...

ALESSANDRA: Te pagaram?

CLÁUDIO: Não. Eu quero que pague, porque o serviço é meu.

ALESSANDRA: Ah, eu fico tentando ajudar, mas toda hora o cara

liga e pergunta alguma coisa. Eu vou responder pra ele

(ininteligível), meu filho faz visita, quer saber faz visita. Porque a

gente aqui já sabe o tamanho dos locais. Só que a gente tem que

bolar, tem que ver aqui. Eu posso perguntar o ZEDILSON aqui:

"ZEDILSON , quantidade de material que cabe em cada, cada

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um?".

CLÁUDIO: tô entrando no site da LGV, olha só, que coisa fácil de

você fazer. Fala pra ele entrar no site do governo do estado do

Espírito Santo, pegar uma pessoa com material e uma pessoa sem

material. A diferença é o material cotado.

ALESSANDRA: É ué. Naquela folhinha que eu tenho aqui.

CLÁUDIO: Tá mais (ininteligível) que inteligente aquilo ali.

ALESSANDRA: Eu falei com ele, falei: "Meu filho, olha só, é pela

metragem, não é? Então você calcula a quantidade.". "Ah, mas e

a (ininteligível) das pessoas, e quantidade... quantas pessoas vão

(ininteligível)?" Gente, é questão de dedução! Nem todo edital dá

uma, dá a quantidade...

CLÁUDIO: Tava bem claro pra ele. Quando coloca uma coisa

assim cada um utiliza a sua... Se você tem um tipo de máquina

que vai utilizar a mão-de-obra, você vai ter que colocar. Agora,

ele quer que até isso eu faça?

ALESSANDRA: É.

CLÁUDIO: Já vou fazer a licitação pra ele e ainda fazer isso?

ALESSANDRA: Mas ai tá, que é que vai ganhar isso?

CLÁUDIO: Ué, eu que vou saber?

ALESSANDRA: Não....

CLÁUDIO: EU VOU PARTICIPAR

ALESSANDRA: Não, entendi...

CLÁUDIO: EU VOU PARTICIPAR ...

ALESSANDRA: A questão é da gente tentar e da gente tentar fazer

força pra alguém ganhar?

CLÁUDIO: Eu vou participar se a PULIZIE tiver atestado. Porque se

eles não pedirem atestado pelo menos eu estou ali. Entendeu?

ALESSANDRA: Entendi.

CLÁUDIO: A MASTER PETRO eu vou também. Eu cedi minha vez pra

ele.

ALESSANDRA: Um hum.

CLÁUDIO: Na MASTER PETRO. Ensinei todos os segredos pra ele. Faz

assim, assim, assim. Porque a probabilidade de é alta de você

ganhar. Isso que eu falei com ele.

ALESSANDRA: Ué, então ele vai vir pra cá na segunda-feira pra ver.

CLÁUDIO: Agora, querer preço alto ele não vai conseguir de jeito

nenhum. Ele tem que ter um preço justo, pra ficar em quarto,

quinto lugar, tentar desclassificar a micro empresas...

ALESSANDRA: É, ele tá com medo das empresas entrarem. As

empresas menores entrarem com quantitativo de material errado,

com preço menor. Mas isso vai acontecer...

CLÁUDIO: Pra isso tem o artigo 44 dizendo de preço inexeqüível,

desde que ele demonstre...

ALESSANDRA: Ele ficou bravo comigo, porque ele começou a

reclamar, mas eu falei: " Na página 41 e 42 tem a (ininteligível) de

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material.". "Mas não tem quantidade filha!" Eu falei: "Então você

impugna o edital!".

CLÁUDIO: Não pode mais ter quantidade. A IN 3 não permite mais

ter quantidade.

ALESSANDRA: Eu falei. É metragem quadrada.

CLÁUDIO: Muito folgado.

ALESSANDRA: Ele tá achando que... "Ah, mas você sabe do que

você tá falando?". Eu sei MARCELO, do que eu estou falando. O

que eu estou falando é questão de dedução no bom sentido!

Você sabe a quantidade de funcionário que tem, não sabe.

Porque ai também nã tem. É metragem quadrada, não pode

colocar mais. A empresa que tem que ver no qual, no que que ela

vai arcar. "Ah mais..." Eu falei: "Então tá, depois te ligo.".

CLÁUDIO: Nem, nem perde tempo. Quer fazer certo, a gente vai

fazer. Agora, quer cheio de picuinhazinha, aí não da pra fazer

não, porque depois vai ficar enchendo o saco ainda por causa de

2 mil reais, 3 mil reais, vai ficar enchendo o saco da gente. "Ah, não

sei o que. Vocês orientaram errado." Orientaram errado...

ALESSANDRA: Aqui, quem foi que... como que... O PC tá me

ligando. as vezes ele vai me pergunta alguma coisa sobre aquele

negócio. Falar que a gente não conseguiu inserir não?

CLÁUDIO: Não! Fala com ele que a coisa não é tão fácil assim não.

ALESSANDRA: Porque a gente tava pra fazer (ininteligível), era hoje

de manhã.

CLÁUDIO: Não. Não adianta. Fala que não conseguimos. Vai ficar

melhor.

ALESSANDRA: Um hum.

(Se despedem)

Antes de passarmos à análise do Pregão Presencial nº 144/2011, é importante

frisar que Cláudio Ribeiro Barros está ligado aos grandes contratos firmados

pela Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy. Evidentemente que isso não

ocorreu apenas no Certame em destaque.

Além disso, a ralação entre Cláudio Barros e o Prefeito Reginaldo Quinta, teve

início quando da participação das empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA

nos processos licitatórios promovidos pela Prefeitura de Presidente Kennedy.

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Segundo a investigação, Cláudio Barros foi introduzido em Presidente Kennedy

por Constâncio Borges Brandão e somente conheceu o Prefeito no dia 17/01,

portanto, no dia da assinatura do contrato vencido pela PULIZIE ITÁLIA, fato

que evidencia, ainda mais, que Reginaldo Quinta proporcionou à Cláudio

Barros a vitória no contrato de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais),

vencido por sua empresa.

Contudo, como moeda de troca, todo esse esquema teria a contrapartida: a

atuação de Cláudio Barros junto ao Tribunal de Contas, Ministério Público,

Poder Judiciário e/ou em qualquer lugar onde mais o Prefeito viesse a ter

problemas a resolver.

Por fim, apenas a título de informação, a equipe de inteligência da Polícia

Federal verificou no site do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB que Cláudio

Ribeiro Barros é membro de sua Comissão Provisória Estadual. Ocorre que o

PTB é, coincidentemente, o partido político ao qual está filiado o Prefeito

Reginaldo dos Santos Quinta.

7.1 – O PREGÃO PRESENCIAL Nº 144/2011

A Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy, em novembro de 2011, através

do processo nº 019929/2011, publicou Aviso de Pregão Presencial nº 144/2011,

no Diário Oficial do Estado - ES em 30/12/2011, para o fim de “contratação de

empresa especializada para execução dos serviços de apoio administrativo

às atividades rurais e operacionais e conservação e limpeza predial, para

atuação em campo e nas secretarias componentes da prefeitura municipal

de Presidente Kennedy-ES.”

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O valor do contrato, por 12 (doze) meses, foi anunciado no valor de R$

19.093.088,00,00 (dezenove milhões, noventa e três mil e oitenta e oito reais),

com data de abertura de propostas para o dia 13/01/2012.

Para tanto, o Executivo local promoveu cotações de preço com as empresas

Globo Prestação de Serviços de Limpeza Ltda, Pulizie Itália Serviços Gerais

Ltda e Master Petro Serviços Industriais Ltda.

Conforme ata de julgamento, do dia 13/01/2012, participaram do pregão

apenas as empresas Master Petro Serviços Industriais Ltda e Pulizie Italia

Serviços Gerais Ltda-ME, que sagrou-se vencedora com a proposta no valor

de R$ 18.239.999,76 (dezoito milhões, duzentos e trinta e nove mil, novecentos

e noventa e nove reais e setenta e seis centavos).

Mais uma vez trata-se de licitação devidamente preparada e direcionada

para que uma das empresas de Cláudio Barros lograsse êxito, como de fato

ocorreu. Analisada a documentação pela equipe técnica da CGU, foram

constatadas as seguintes irregularidades:

i) Restrição ao princípio da publicidade e à divulgação do aviso de

edital: o aviso do Edital foi publicado somente no Diário Oficial do

Estado (DIO/ES). Devido ao valor apresentado na licitação, a

publicação em outros veículos é necessária, nos termos do art. 4° da

Lei n° 10.520/02. O edital deveria ter sido publicado, no mínimo, em

jornal de circulação local;

ii) Cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital: para a

retirada do Edital o Executivo local cobrava um taxa no valor de R$

55,29 (cinquenta e cinco reais e vinte e nove centavos) – Item 1.6. A

par de restringir a competitividade, tal cobrança se mostrou excessiva

levando-se em conta que: não há custo de utilização de tecnologia

da informação (mídia ou CD) e o número de páginas do Edital é de

cerca de 42. Considerando-se todos os anexos e o custo de uma

cópia reprográfica não ultrapassar R$ 0,20/pág, podemos notar que

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o custo total da reprodução gráfica, portanto, seria na ordem de 42

pág. x R$ 0,20/pág = R$ 8,40 (oito reais e quarenta centavos);

iii) Restrição à apresentação de recursos: ao arrepio da lei, o Edital

estabelece restrição para apresentação de recursos, além de não

empreender a devida publicidade na divulgação do aviso do edital;

iv) Sobrepreço de 81%: O Edital em exame estabelece no Anexo I -

Termo de Referência, as características dos serviços a serem

prestados, dividindo-os, de forma geral, em: serviço de limpeza,

serviço de apoio rural e serviço operacional, administrativo ou

operativo. Já o anexo II do Termo de Referência: Projeto Básico –

Quantitativo dos Postos, define a descrição do posto, o salário base,

as horas semanais e os postos. Veja que não há uma definição

precisa sobre qual posto fará cada tipo de serviço, assim como não

há referências para a definição do escalonamento de salários

denominado Apoio Operc./Adm/Rural Níveis I a IV. Da análise das

tabelas acostadas ao Edital, verificou-se que o salário-base,

registrado na convenção coletiva, de funções similares às contidas

no edital varia de R$ 585,00, no mínimo, a R$ 1.134,90, no máximo.

Considerando-se o quadro apresentado pela empresa vencedora,

observa-se claramente que houve sobrepreço na ordem de,

aproximadamente, R$ 8.157.424,64. Segundo a análise dos técnicos

da CGU, o valor real do contrato deveria R$ 10.082.575,12. O

sobrepreço é de 81%;

v) Fraude, apropriação indébita e pagamentos indevidos: examinando

as GFIP´S únicas da empresa vencedora, os técnicos da CGU

constataram que “em dezembro/2011, a empresa possuía 17

empregados regularmente registrados; em Janeiro/2012, 18; e em

Fevereiro/2012, 316. Portanto, pode-se supor que a empresa

contratou empregados em número suficiente para atender a

Prefeitura de Presidente Kennedy após a assinatura do contrato em

tela. Todavia, o número de contratados estipulado no edital é de

351.” Com isso, a PULIZIE ITÁLIA vem recebendo, de forma indevida,

por 35 (trinta e cinco) empregados que não constam em seu quadro.

Denota-se, por fim, que analisando a “GFIP Única de Fevereiro/2012,

observa-se que os salários-base pagos aos empregados variam de R$

536,67, no mínimo, a R$ 2.300,00, no máximo. Estes valores estão

aquém dos salários-base estipulados em edital, declarados em sua

proposta e firmados com a Prefeitura, que variam de R$ 700,00 a R$

3.000,00. Além de se constituírem em pagamentos indevidos por parte

da Prefeitura, geram também apropriação indébita por parte da

empresa, uma vez que os valores pagos contratualmente pela

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Prefeitura à empresa englobam todos os recolhimentos devidos de

encargos sociais, trabalhistas e previdenciários, calculados sobre os

salários-base que variam de R$ 700,00 a R$ 3.000,00.”;

vi) Vínculos entre empresas participantes do certame: como já visto

acima, as empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA caminham juntas

nas ilicitudes perpetradas a partir do seu sócio Cláudio Barros. Esse e

as pessoas de Alessandra Salomão, Sabrina Tesch e Juliana de Paula,

transitam ou já transitaram nos quadros sociais das referidas

empresas, conforme apontado pele equipe técnica da CGU. Todo

esse vínculo existente entre as empresas e as pessoas físicas,

contribuem, sobremaneira, para frustrar caráter competitivo de

certames. Porém, segundo constatado pela CGU, as “sócias” da

PULIZIE ITALIA, em 13/12/2011, alteraram o capital social para R$

1.250.000,00, integralizado em moeda corrente. Ocorre que o valor

mínimo de capital social integralizado para habilitação no Pregão em

tela, estipulado no edital, era de R$ 1.200.000,00. O curioso foi que a

sócia Alessandra Salomão integralizou, sozinha, em moeda corrente,

o capital de R$ 1.000.000,00, sendo certo que, sua condição

econômico-financeira não permite tal façanha;

vii) Ausência de exigência de comprovação de aptidão: conforme

estabelece o artigo 30, da Lei 8.666/93, para serviços como o

requisitado no Edital, é exigida a comprovação de aptidão para

desempenho de atividade pertinente e compatível, por meio de

atestados, o que não se vislumbra no Edital. Conforme apurado, a

empresa PULIZIE ITALIA apresentou atestado, fornecido pela empresa

Insepa – Indústria Serrana de Papel, sem data, assinado por Eduardo

Dias Martins, onde atesta que foi “prestado contrato em 10 Março de

2009, com duração de 12 meses”, oportunidade em que foram

disponibilizados 43 Trabalhadores Rurais, 01 Engenheiro Agrônomo e

02 Auxiliar de Serviços Gerais. Ocorre que em consulta às GFIP‟s

Únicas, os técnicos da CGU constataram que “não existe registro de

empregados formalmente contratados pela mesma, no período de

vigência do contrato citado. Este fato indica que, caso os serviços

tenham sido de fato prestados, não o foram por pessoas com vínculo

empregatício com a empresa Pulizie Italia”;

7.1.2 – A fraude no Pregão Nº 144/2011

A situação das licitações na Prefeitura de Presidente Kennedy é tão

achincalhada que chega a causar revolta, não apenas na sociedade, mas

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nas autoridades públicas. Permita-nos transcrever, na íntegra, toda a

indignação demonstrada pelo o ilustre Delegado Álvaro Fajardo na

Representação Final, sobre a fraude no Pregão nº 144/2011:

“Pois bem, o Pregão Presencial foi realizado no dia 13/01, com a

presença apenas das empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA,

representadas, respectivamente, por CLÁUDIO RIBEIRO BARROS e

JULIANA DE PAULA. No referido evento CLÁUDIO, JULIANA DE

PAULA e o Pregoeiro JOVANE CABRAL, simulam um leilão entre as

duas empresas e após 79 rodadas realizadas a empresa PULIZIE

ITÁLIA é declarada vencedora do certame com o lance de R$

18.239.999,76 (dezoito milhões, duzentos e trina e nove mil,

novecentos e noventa e nove reais e setenta e seis centavos).

Registre-se, a MASTER PETRO ficou em segundo lugar com a incrível

diferença de R$ 0,12 (doze centavos). ISTO É UM ESCÁRNIO!”

“Importa destacar o nome e a assinatura ALESSANDRA SALOMÃO

RODRIGUES, formalmente proprietária da empresa vencedora,

como testemunha no Contrato Social da “concorrente” MASTER

PETRO, sem que isso tenha causado qualquer questionamento por

parte dos integrantes do Poder Público local. (fl. 0169 do processo

019929/2011). Outro aspecto que merece ser destacado e que

sinaliza para a Comissão de Licitação a possibilidade de conluio

entre as empresas concorrentes e que deve ser objeto de

questionamentos pela comissão é a coincidência a presença de

um único contador para as duas empresas. No vertente caso,

conforme demonstram os documentos encartados no referido

processo licitatório, o responsável pela contabilidade de ambas as

empresas é o nacional EURICO CORRÊA DE MORAES, CRC 16027-

ES.”

Na oportunidade da assinatura do contrato com a empresa vencedora, as

investigações constataram que Cláudio Barros e Juliana de Paula vão juntos

para assinar o contrato da PULIZIE ITÁLIA, o que se vislumbra claramente a

condição de Cláudio Barros como proprietário das duas empresas. As

conversas abaixo descritas, compõem o quadro de ilicitudes que a todos era

plenamente conhecido.

No dia 16/01/2012, após o resultado do pregão e a homologação

pelo Prefeito, Cláudio liga para Juliana de Paula e combinam de

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seguirem juntos para Presidente Kennedy no dia seguinte com o

propósito de assinarem o contrato, situação que de fato ocorreu.

(Transcrição - índice 5350091)

CLÁUDIO: Oi JULIANA

JULIANA DE PAULA: Ei. Alô?

CLÁUDIO: Oi, pode falar

JULIANA DE PAULA: Deixa eu te fa... Tem algum problema, é... se eu

for de uniforme amanhã, fica muito feio?

CLÁUDIO: Não fica não.

JULIANA DE PAULA: Ou preferível ir de roupa para não chamar

muita atenção.

CLÁUDIO: Vai de uniforme mesmo.

JULIANA DE PAULA: Ué, você que sabe.

CLÁUDIO: Deixa eu te falar.. Foi você que... O nome que tá lá é

você mesmo né?

JULIANA DE PAULA: O nome que tá lá é. Porque, você não quer

que seja?

CLÁUDIO: Não. Já pensou chegar lá e não for?

JULIANA DE PAULA: Eu vou confirma na empresa que eu vou voltar

lá daqui a pouco. Eu vou confirmar... Eu vou confirmar e amanhã

cedo eu te falo, mas...

CLÁUDIO: Tem que ir um pouquinho mais cedo.

JULIANA DE PAULA: Tudo que eu fiz, e tudo que eu faço eu ponho

no meu nome. Todos os contratos eu coloco pra eu assinar, porque

a ALESSANDRA tem uma má vontade do cão! Ai...

CLÁUDIO: (ininteligível) que foi você que colocou. Por isso que eu

tô perguntando

JULIANA DE PAULA: Sim, porque tudo que eu posso tirar dela, de

não colocar o nome dela, porque ela tem uma má vontade do

caramba! Tudo que eu posso evitar de ter que pedir favor a ela eu

faço e coloco no meu nome.

CLÁUDIO: Entendi.

JULIANA DE PAULA: Todos os contratos sou eu que assino. Então por

isso que eu tô achando que eu coloquei os meus dados. Eu

coloquei lá os meus dados sendo autorizado a assinar. Tem quase

certeza que é eu.

CLÁUDIO: Então tá beleza.

JULIANA DE PAULA: Tem meu nome e meu cpf, (ininteligível) que

ela que autorizou, eu mesmo que me autorizei assinar... Sei lá!

CLÁUDIO: Acho que foi ela que autorizou primeiro, porque ela que

tem que autorizar.

JULIANA DE PAULA: É se não foi ela, foi eu que autorizei, porque eu

posso... eu autorizo pra até eu assinar. Ou não tinha autorização

não. Não tinha que autorizar. Você tinha que colocar o, incluir os

dados de quem ia assinar o contrato e acabou! Ai eu mesmo que

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assinava, não tinha que autorizar não. Só que a pessoa que iria

assinar tem que tem poderes pra isso. Entendeu? Mas eu confiro

direitinho e te falo.

CLÁUDIO: Ah, gozado. Pensei agora, ia te ligar pra perguntar isso.

Ai você me ligou.

JULIANA DE PAULA: Pois é, eu vou olhar. Eu vou voltar lá na

empresa, eu só vou olhar um negócio agora.

CLÁUDIO: Não pode ser amanhã, olha amanhã.

JULIANA DE PAULA: Pois é, ai eu falo então. Pensei que você não

tava querendo que eu fosse. Preferia viajar com a ALESSANDRA.

CLÁUDIO: Você tem cada uma hein?

JULIANA DE PAULA: Eu prometo ir calada daqui lá.

...

Um dia após, (17/01) Cláudio Barros combina de apanhar Juliana

de Paula e juntos seguirem para Presidente Kennedy, alertando

sobre o horário que deveriam chegar ao município para assinatura

do contrato.

(Transcrição - índice 5351216)

CLÁUDIO: Oi JULIANA.

JULIANA DE PAULA: Ei. Deixa eu te perguntar. Você pretende sair

daqui que horas?

CLÁUDIO: Agora!

JULIANA DE PAULA: É, agora não. Tô no ministério do trabalho

ainda.

CLÁUDIO: Ainda?

JULIANA DE PAULA: Tô.

CLÁUDIO: Eu vou ficar te esperando ai na porta então. Vou

abastecer o carro (ininteligível) porque eu tô com medo. Primeiro

que eu não viajo a noite. Segundo porque tem horário lá.

JULIANA DE PAULA: Que horas que tem que tá lá?

CLÁUDIO: Tem que tá antes das 4 lá!

JULIANA DE PAULA: Meu Deus do Céu.

CLÁUDIO: Por que? O pessoal não te atendeu ainda?

JULIANA DE PAULA: Tá atendendo, só que tá liberando a certidão.

CLÁUDIO: Ah é, tá liberando já?

JULIANA DE PAULA: (ininteligível) só que eu não sei quanto tempo

mais vai demorar. Ela pediu pra aguardar.

CLÁUDIO: Então vai aguardando ai. O carro de CADU tá ai ou tá

(ininteligível)

JULIANA DE PAULA: Tá aqui, só que eu queria deixar o carro em

casa e eu tenho que ir em casa também.

CLÁUDIO: Pra quê?

JULIANA DE PAULA: Ai, ai. Porque eu tenho que ir né CLÁUDIO.

CLÁUDIO: Que é rápido lá. A gente sai daqui num pé e chega no

outro.

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JULIANA DE PAULA: Gente do céu. O problema é viajar a noite? Eu

tomo alguma coisa, eu vim chorando de lá até aqui, que é muito

pior. Que horas tem que tá lá.

CLÁUDIO: Antes de 4, por causa da certificação.

JULIANA DE PAULA: Não mas (ininteligível), são 10 horas da manhã

agora. Vou fazer o seguinte, eu saindo daqui eu te ligo, eu já saio

daqui vou direto em casa e de casa você passa lá e me pega. Eu

pensei que você ia ficar na sua casa, ai ele ia passar lá na

empresa e ia me pegar, ai eu ia pedir pra invés de você passar na

empresa, me pegar em casa, porque o carro de CADU

(ininteligível) é ali do lado.

CLÁUDIO: Tá. ....

(Tratam sobre outros assuntos)

Conforme retratado não apenas nesse diálogo, mas no decorres das

investigações, Juliana de Paula é pessoa de extrema confiança de Cláudio

Barros. Braço direito do “patrão”, Juliana de Paula, Cláudio Barros deposita

plena confiança na condução, porém não na administração da empresa

PULIZIE ITÁLIA. Assim, é de Juliana de Paula a responsabilidade da

contratação de mão de obra humana para ocupar as vagas abertas a partir

do Contrato oriundo do Pregão nº 144/2011.

Evidenciou-se também que a contratação da PULIZIE ITÁLIA veio em boa hora

para burlar o TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – TAC, firmado entre a

Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy e o Ministério Público do Estado

do Espírito Santo, que previa a exoneração dos ocupantes de cargos

comissionados da estrutura administrativa do Executivo local. Evidentemente

que o objetivo pricipal seria de o Prefeito, Reginaldo Quinta, manter o seu

curral eleitoral com distribuição de empregos ao seu eleitorado.

Como se daria isso então? Através da PULIZIE ITÁLIA.

Na verdade o Prefeito, Reginaldo Quinta, através de ajuste com empresários

e após exonerar os funcionários da Prefeitura de Presidente Kennedy,

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atendendo ao TAC firmado com o MPES, realocou os demissionados nas

empresas contratadas, e uma delas foi a PULIZIE ITÁLIA.

Não foi possível, até por questões estratégicas, obter a lista de todos os

funcionários exonerados, mas as interceptações telefônicas apontam

algumas delas que, uma vez exoneradas da Prefeitura, foram recontratadas

pela PULIZIE ITÁLIA, dentre elas: BRUNA MENGAL GALVAO, ADGARD JOSE DA

SILVA ARRUDA, GUSTAVO FERNANDES FELIX. ISABELA NOGUEIRA ARAGON, LUIZ

CLÁUDIO PIANES COELHO, CLEITON DE CASTRO RODRIGUES, SARA MARVILA

PEREIRA, DARCY RODRIGUES TEIXEIRA NETO e BRUNO CICILIOTI JORDÃO.

Mas a fraude não fica por aí. A Secretária de Administração daquela

municipalidade, Juliana Fontão, gestora do contrato em apreço, pessoa

indicada pelo Prefeito Reginaldo Quinta para coordenar as indicações dos

nomes à PULIZIE ITÁLIA, ficou responsável por “centralizar os pedidos e

preparar as listas com os nomes das pessoas para preenchimento de 339 das

351 vagas, sempre, sob o controle e avaliação de REGINALDO. As 22 vagas

restantes foram destinadas às indicações e CONSTÂNCIO, com 10 vagas, e

CLÁUDIO, com 12. A forma de ocupação dos postos estaria limitada ao valor

de 10 mil reais, como veremos nos diálogos a seguir.”39

Através de inteceptação de diálogo telefônico mantido entre Juliana de

Paula e Cláudio Barros (dia 19/01), ou seja, apenas dois dias após a

adjudicação do contrato, Juliana de Paula aguarda a lista a ser fornecida

pela Secretária Municipal de Administração Juliana Fontão para dar início às

contratações. Acompanhemos o diálogo abaixo transcrito.

(índice 535947 - Transcrição a partir de 2min28seg)

39 Dados retirados da Representação Final do Delegado Álvaro Fajardo.

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JULIANA DE PAULA: Pois é. E voltando ao assunto, como que eu vou

pegar essa listagem com a menina CLÁUDIO? Eu queria que ele

me passasse, por exemplo, eu queria entrar em contato com ela

hoje pra ela pegar isso até amanhã e me passar pra segunda-feira

já...

CLÁUDIO: Pode ligar pra ela e falar com ela: "JULIANA..."

JULIANA DE PAULA: É isso que eu não sei.

CLÁUDIO: Eu queria que você pegasse já as carteiras do pessoal

que já vão.. Terça-feira eu tô ai.

JULIANA DE PAULA: Na verdade eu não peço só da carteira né. Eu

preciso de toda a relação de documentos. Ai por isso, eu ir pegar

a relação de documentos, com o nome da firma (ininteligível)

falando aonde eles vão fazer exame admissional, mandar pro e-

mail dela, pra ela passar pra cada um. Só que aí ela vai ter que

imprimir vai ficar ruim, entendeu? Seria bom que ela me mandasse

a listagem com o nome do pessoal e marcasse com cada um na

Terça-feira lá. Terça-feira eu chegava, entrega pra eles, o que

tava faltando, por exemplo, pelos menos marcar com um pouco,

eu ia entregava na mão dela e eles iam indo lá de acordo com sei

lá o que e entregava esses documentos.

CLÁUDIO: Pode ser também

JULIANA DE PAULA: Pois é. Só que eu tenho medo que ela não

atende... É, ela não fala no telefone né? COMO QUE EU VOU FALAR

NO TELEFONE?

CLÁUDIO: NÃO ... ISSO AÍ PODE FALAR. ACHO QUE NÃO A TEM

NADA A VER NÃO ...

JULIANA DE PAULA: Hã. Pode falar o que? Que eu tenho até medo.

CLÁUDIO: Não, fala: "Ó JULIANA, é... Você tem a listagem das

pessoas que vão tá no contrato?". E eu tenho que passar ai ainda

pra fazer a adequação da planilha né?

JULIANA DE PAULA: Fala isso com ela?

CLÁUDIO: Não eu que vou fazer.

JULIANA DE PAULA: Ah tá, pensei que tava gozando

CLÁUDIO: Só que eu tô com reunião em cima de reunião.

JULIANA DE PAULA: Ah, tá. Eu tô

CLÁUDIO: Reunião.. Em algum momento eu faço. Eu passei ai

agora!

JULIANA DE PAULA: Pedir a listagem pra ela então, no caso é 351

menos 12 seu né?

CLÁUDIO: MENOS 12 MEU E 10 DE OUTRA PESSOA.

JULIANA DE PAULA: Que outra pessoa? Oi?

CLÁUDIO: Oi!

JULIANA DE PAULA: 10 de quem?

CLÁUDIO: Oi?

JULIANA DE PAULA: 10 de quem?

CLÁUDIO: Não entendi nada.

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JULIANA DE PAULA: 10 de... 10 de quem?

CLÁUDIO: EU TE FALO PESSOALMENTE ...

JULIANA DE PAULA: 12 CLÁUDIO...

CLÁUDIO: 10 de alguém.

JULIANA DE PAULA: Ah tá, mas é daqui, de lá...

CLÁUDIO: Eu falo com você pessoalmente curiosa!

JULIANA DE PAULA: Deus, então vou colocar aqui 10 de outra

pessoa. Mas isso elas... Eles estão sabendo?

CLÁUDIO: Não.

JULIANA DE PAULA: Depois você me fala o nome da outra pessoa.

E parece que a coisa não tem fim. Outros diálogos demonstram uma nova

cara da corrupção no cenário capixaba: o chamado rachid municipal. De

plano é possível observar nas interceptações que os interlocutores tratam os

cargos (postos de trabalho) negociados, não pelo serviço ou especificidade

profissional, mas pelo salário, numa clara demonstração do que realmente é

valorizado. Vide índice 5424073, abaixo colacionado:

(Transcrição)

JULIANA DE PAULA: JULIANA pediu pra te perguntar quantas vagas

que é pra separar pra CONSTÂNCIO?

CLÁUDIO: As de CONSTÂNCIO são as 10 deles.

JULIANA DE PAULA: 10. Mas 10...

CLÁUDIO: Só que foi trocado porque ele... É um do assessor dele,

um da THAIS... ELE PEDIU 3 MIL ... MAS O PREFEITO FALOU QUE VAI

DAR 2.500!

JULIANA DE PAULA: Tá, então vamos lá que eu vou anotar aqui no

papelzinho. Ele tem 10 vagas...

CLÁUDIO: É, só que (ininteligível) AS 10 POR 5 ... 5 DE 2 ... EU TENHO

QUE DÁ 10, É 10 MIL REAIS ...

JULIANA DE PAULA: Tá então ele trocou as 10 vagas dele lá por 5

vagas...

CLÁUDIO: Que dá num total de 2 mil que dá 10 mil reais.

JULIANA DE PAULA: Tá mas 5 vagas no valor de quanto? de 2 e

500?

CLÁUDIO: Não, aí você vai tirar... DO VALOR QUE ELE TEM VOCÊ

VVAI TIRAR 6 MIL REAIS ... QUE É A DO ASSESSOR DELE ...

JULIANA DE PAULA: O assessor dele vai ficar com 2 e 500.

CLÁUDIO: NÃO O PREFEITO FALOU, MAS ELE FALOU QUE É 3 ... ELE

VAI CONVERSAR COM O PREFEITO ...

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JULIANA DE PAULA: Ele queria 3 mil, mas o PREFEITO falou que vai

dar 2 e 500...

CLÁUDIO: É, mas aí ele falou que vai conversar com o PREFEITO.

JULIANA DE PAULA: Eu acho que é 2 mil o assessor dele.

CLÁUDIO: Então. Ai se for 2 mil, a soma dos valores dele tem que

dá 10 mil.

JULIANA DE PAULA: A soma do valor das vagas dele tem que dá

10mil.

CLÁUDIO: É.

JULIANA DE PAULA: Não importa o se a gente der 1 vaga de 10 mil

né? É um exemplo. A soma da vagas dele tem que dá 10 mil.

CLÁUDIO: É, mas aí você tem que debitar o valor da THAIS mais o

valor do... De alguém ai.

JULIANA DE PAULA: Tá o valor da THAIS mais o valor de mais

alguém. Só a THAIS comeu 3! Então ele tem direito a vagas até de

7...

CLÁUDIO: Do assessor dele.

JULIANA DE PAULA: O assessor dele acho que vai ganhar 2, de

acordo com o que a JULIANA colocou...

CLÁUDIO: 5.

JULIANA DE PAULA: Então 5 mil. Aí esse 5 mil pode dar por

exemplo...

CLÁUDIO: Falta mais 5 agora.

JULIANA DE PAULA: Falta mais 5, então divide esse 5 mil em 2 vagas

de... Põe 2 de... Ai vai ficar mais, 2 de 2 mil... A mais não. Pera aí

então, perá ai.

(... JULIANA e CLÁUDIO continuam conversando sobre maneiras

de preencher o restante das vagas de CONSTÂNCIO e demais

dúvidas levantadas pela Secretária de Administração. A partir de

2min43seg)

CLÁUDIO: Bota duas de 2 mil e pronto. Vou falar com ele

JULIANA DE PAULA: Duas de 2 mil e pronto!

CLÁUDIO: É, tá pegando o boi.

JULIANA DE PAULA: Então tá fechadíssimo. Duas de 2 mil falta pra

ele só.

CLÁUDIO: (ininteligível) CONSTÂNCIO.

JULIANA DE PAULA: CONSTÂNCIO...

CLÁUDIO: 2 de dois mil.

JULIANA DE PAULA: THAIS de 3...

CLÁUDIO: E o nome do assessor que eu não sei.

JULIANA DE PAULA: E assessor... O assessor dele eu esqueci o nome

agora. Mas eu escrevo "assessor de 2".

Para que não percamos a essência da investigação (dos investigadores e

investigados), permita-nos aportar mais um trecho, na íntegra, das conclusões

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oriundas da Representação Final do Delegado que preside o Inquérito Policial

nº 502/2011:

“No dia 03/02/2012 CLÁUDIO explica à JULIANA DE PAULA como se

dará a distribuição das vagas entre ele e CONSTÂNCIO. Curioso

notar que, como neste, a maioria dos diálogos os interlocutores

referenciam os postos de trabalho pelo valor do salário que ele

representam e não pela especificidade profissional, numa clara

demonstração do que realmente é valorizado. (...) O Chefe do

Executivo distribui os empregos decorrentes dos contratos firmados

pelo município aos seus parceiros. O Procurador-Geral

CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO recebe mensalmente sua parte

no contrato fraudado através do preenchimento de postos de

trabalho, sem que haja necessidade de efetivo exercício

profissional. É A MATERIALIZAÇÃO DA CORRUPCÃO.”

A farra na contratação de funcionários para trabalhar na PULIZIE ITÁLIA é

grande e parece que não tem fim. O apadrinhamento e alocação de posto

de trabalho é moeda de troca entre o Prefeito, funcionários públicos

municipais de alto escalão e os empresários envolvidos nas fraudes licitatórias,

como ocorreu com Erick Falcão Reis, que recebeu salário sem haver a

contraprestação laboral; Thais Silva Duarte, contratada para ser gerente da filial da

PULIZIE em Presidente Kennedy; dentre tantos outros apontados durante a

investigação.

Há, portanto, fortes indícios de práticas reiteradas de crimes decorrentes de

fraudes em licitações, bem como prática evidente de improbidade

administrativa por parte do Prefeito Reginaldo Quinta e demais investigados

em razão do flagrante interesse privado na condução do processo de

preenchimento das vagas de empregos, tudo para atender ao grupo

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criminoso que tem no Chefe do Executivo o principal articulador, que,

buscando o apadrinhamento político, loteia o Poder Público local.

7.2 – A Conivência e Omissão do Legislativo Municipal

Evidentemente que o ordenador de despesa do Município de Presidente

Kennedy não se beneficiaria do esquema sem o apoio de parlamentares

municipais. Essa grande organização criminosa ali instalada não teria êxito

sem a participação direta de alguns vereadores e a omissão e conivência de

outros. Sem a fiscalização do Poder Legislativo, o Executivo tem portas abertas

para adentrar nos cofres públicos do município e usurpá-lo.

No caso sub examine, observa-se que o próprio Poder Legislativo que deveria

fiscalizar as contas públicas municipais, ao contrário, não exerce sua função

constitucional precípua, na forma do artigo 31. Ao contrário, a Mesa Diretora

da Câmara Municipal de Presidente Kennedy, composta pelos Vereadores

DORLEI FONTÃO DA CRUZ (Presidente), MANOEL JOSÉ DE ABREU ALVES,

conhecido como Brejeiro (Vice-Presidente) e CLARINDO DE OLIVEIRA

FERNANDES (Secretário), exercem o papel fundamental de não apenas

promover a blindagem do Prefeito Reginaldo Quinta, mas também

participam ou se omitem nas fraudes licitatórias; na distribuição de cargos

públicos e privados, etc., conforme restou apurado nas investigações da

Operação “Lee Oswald”. Os diálogos abaixo transcritos refletem bem esse

quadro:

DORLEI FONTÃO DA CRUZ – PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL

(Diálogo entre DORLEI e JULIA no dia 28/12. índice 5379170)

JÚLIA: DORLEI?

DORLEI: Sim.

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JÚLIA: É JÚLIA.

DORLEI: Fala.

JÚLIA: Escuta, queria saber o negócio de DAYANA. Porque eu

conversei com JULIANA. Eu fui lá, mas fui lá mais DAYANA, tá o

nome de DAYAYNA todinho, mas..

DORLEI: Eu entreguei na mão dela, é, ela que vai saber o dia que

for chamar, alguma coisa assim é com ela.

JÚLIA: Mas, não, mas eu tô ligando porque? Disseram que dia

primeiro não chamam ninguém mais.

DORLEI: Não, não tem isso não. Vai licitar. Vai licitar a empresa

ainda. Vai licitar pra poder... Vai ser a partir depois do dia primeiro

ainda!

(continuam ... 1min05seg..)

JÚLIA: Amanhã ela tá ai?

DORLEI: Deve tá, mas você vem aqui conversar com ela

pessoalmente, porque por telefone ela não vai te informar nada

não.

(Transcrição: Na seqüência registramos o diálogo interceptado no

dia 30/01. Neste DORLEI pergunta como está situação de DAYANA

DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA relativa a emprego. JULIANA

manda procurar pré-seleção no Serviços Públicos no dia seguinte.

índice 5398681)

DORLEI: Ô JU.

JULIANA: Oi querido.

DORLEI: JÚLIA tá aqui comigo e ela tá doida pra ver o emprego de

DAYANE. Vê como tá a situação de DAYANE ai.

JULIANA: Pera ai, deixa eu ver. Que DAYANE?

DORLEI: DAYANE de que?

MNI: DAYANA DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA.

JÚLIA: DAYANE DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA. É daqui de

Kennedy mesmo.

JULIANA: Pede pra procurar amanhã nos serviços públicos pra

fazer a pré-seleção. Levar cópia do RG.

DORLEI: Pra mandar ela ai?

JULIANA: É. Fazer a pré-seleção. Lá nos serviços públicos.

DORLEI: A pré-seleção... Mas esse... (ininteligível)

JULIANA: AÍ DEPOIS EM CONVERSO COM VOCÊ PESSOALMENTE...

MANOEL JOSÉ DE ABREU ALVES (Brejeiro) – VICE-PRESIDENTE

(Transcrição: No dia 05/01 GEOVANA conversa com o Secretário

de Obras EDINO RAINHA. Índice 5308236)

GEOVANA: Oi querido.

EDINO: Quem tá falando.

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GEOVANA: Oi querido.

EDINO: Bom dia.

GEOVANA: Bom dia.

EDINO: Tô com pessoal da (ininteligível) na creche de Jaqueira...

GEOVANA: Ahã.

EDINO: Só que as plantas que a M2 fez não define o local. Você já

definiu o local ali? Que aí eu preciso apresentar o local pra eles.

GEOVANA: Ei tinha definido com o ELIEZER.

EDINO: Ficou definido com ele?

GEOVANA: Ficou

EDINO: Ah, então tá, eu vou dar uma ligadinha pra ele então e vê.

GEOVANA: Tá bom.

EDINO: Deixa eu te falar uma coisa.

GEOVANA: Qualquer coisa se der um problema você me fala.

EDINO: Tá. Precisava que você visse lá quem é, se é BREJEIRO ou

DORLEI, os vereadores lá, porque esse rapaz que tá aqui que vai

contratar o pessoal. Ele tá falando comigo.

GEOVANA: Prefeito.

EDINO: (risadas) Prefeito?

GEOVANA: Prefeito... SÓ QUEM DECIDE VAGA É O PREFEITO ...

EDINO: Então deixa comigo.

GEOVANA: Tá bom?

EDINO: Eu vou ver com ele quantas pessoas e ai eu vou falar pra

você e você vê com REGINALDO quem é que ele vai mandar

procurar e a quem.

GEOVANA: Isso. Tá certo.

CLARINDO DE OLIVEIRA FERNANDES – SECRETÁRIO DA MESA

DIRETORA

(Transcrição. Diálogo registrado no dia 27/12 entre o Vereador

CLARINDO e interlocutor identificado pelo prenome LEANDRO.

LEANDRO questiona o vereador sobre a permanência do emprego

- índice 5275186. A partir de 33seg)

LEANDRO: Tão tá bom. Já que eu tô gente boa vou te pedir um

conselho.

CLARINDO: Na?

LEANDRO: Rapaz, eu tô querendo comprar um carro financiado,

mas eu tô meio com medo. Que, eu tô com medo dessa firma

nossa ir embora.

CLARINDO: É, que (ininteligível) mesmo?

LEANDRO: É LEANDRO esposo de MARCIELE. LEANDRO! Esposos de

MARCIELE.

CLARINDO: Não, eu sei rapaz!

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LEANDRO: Aí, eu tô te pedindo esse conselho. Eu tô com medo

dessa firma nossa ir embora e depois ficar devendo o banco, não

ter como pagar né? Ai que que você acha, que que você me dá

um conselho?

CLARINDO: Rapaz essa firma se Deus quiser... A gente mantendo

nós no poder...

LEANDRO: Ahã.

CLARINDO: ENTENDEU?

LEANDRO: Ahã.

CLARINDO: Mesmo que vá, a gente tenta trazer uma outra e que

permaneça as pessoas que estão trabalhando.

LEANDRO: Ah tá!

CLARINDO: É nesse sentido.

LEANDRO: Porque eu tô precisando de um carrinho, entendeu? Por

que moto...

CLARINDO: O que que você tem que fazer. Não com certeza, MAS

VOCÊ TEM QUE FAZER O QUE? ... FAZER O NOSSO TRABALHO ... A

NOSSA CAMPANHA PRA GENTE PERMANECER ...

LEANDRO: Não, com certeza ué. Com certeza, isso aí é o de

menos.

CLARINDO: ENTENDEU? ... É ISSO AÍ.É isso que nós vamos pesquisa.

por que, mesmo que for essa embora a outra que vier a tem que

(ininteligível) e coloca que tá trabalhando, neste sentido!

LEANDRO: Ah tá.

CLARINDO: Tá?

LEANDRO: Porque

CLARINDO: Tá?

LEANDRO: Não, porque você pode tá tranqüilo. O que a gente

puder fazer por você a gente vai fazer rapaz.

CLARINDO: AJUDA EU ... O PREFEITO NÉ! ...Porque se não é.. Porque

se não é o casal.

LEANDRO: Se não, não tem como mesmo não.

CLARINDO: É casado, é. É só isso. Não tem outra coisa.

VERA LÚCIA ALMEIDA TERRA – PRESIDENTE DA COMISSÃO DE

JUSTIÇA

(Transcrição: Diálogo registrado no dia 06/02. A Vereadora

VERINHA pergunta sobre inscrições para empregos. JULIANA

FONTÃO diz para conversarem pessoalmente. Índice 5429019)

JULIANA FONTÃO: Oi?

VERINHA: JULIANA querida, desculpa te ligando essa hora. Escuta,

tá pegando inscrição hoje?

JULIANA FONTÃO: Não sei VERINHA. Qualquer coisa você vem aqui

pessoalmente.

VERINHA: An! Tá bom meu amor. Tá bom mais tarde.

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JULIANA FONTÃO: Tá bom?

VERINHA: Tá bom legal. Muito obrigada minha filha.

(Despedem-se)

(Transcrição: No dia 14/02 a Vereadora Vera volta a ligar para o

celular utilizado pro JULIANA DE PAULA, mas quem atende é

EDUARDO. Índice 5461075)

VERINHA: Alô?

EDUARDO: Ei.

VERINHA: Oi, com que eu tô falando?

EDUARDO: EDUARDO.

VERINHA: EDUARDO eu acho que você me conheceu aquele dia.

Vereadora VERINHA, cê tá lembrado.

EDUARDO: Sei VERINHA. Eu tô lembrado.

VERINHA: Aqui querido, será que você podia.. EU SEI QUE É

ANTIÉTICO, mas é um sobrinho meu, que FOI O PRÓPRIO CHEFE

GERAL (REGINALDO). Você entendeu, que deu é JORGE

FRANCISCO RAMOS GONÇALVES. Ele tá preocupado, porque até

agora não ligaram pra ele...

EDUARDO: Deixa eu só olhar na minha lista aqui. Que eu tô com

uma lista aqui VERINHA.

VERINHA: Tá bom meu amor.

EDUARDO: Deixa eu olhar aqui. Pera ai, rapidinho.

VERINHA: Tá bom.

EDUARDO: Como ele chama? JORGE FRANCISCO...

VERINHA: JORGE FRANCISCO RAMOS GONÇALVES. Inclusive, na

hora do almoço o CHEFE GERAL TEVE NA MINHA CASA E EU FALEI

COM ELE. Ele falou assim: “Não, aguarde porque vai chamar.”

Porque esse, esse é um pedido específico dele, e ele é meu

sobrinho. ENTENDEU?

EDUARDO: Deixa eu só confirmar aqui,.

VERINHA: Tá bom.

EDUARDO: (ininteligível) a gente vai chamar amanhã. Nós iremos

pra Kennedy amanhã.

VERINHA: Ah, eu se. Tá bom querido.

EDUARDO: Então, deixa eu só olhar aqui.... Tem um JORGE aqui, as

ele é.. O JORGE que tá aqui é JORGE... Cadê, cadê... JORGE

ELIMÁRIO GONÇALVES.

VERINHA: JORGE ELIMÁRIO GONÇALVES é o pai dele. Já trabalha.

Ele trabalha já na.. Ele trabalha. Ele já trabalha. Esse é o pai, já

trabalha.

EDUARDO: Ahã.

VERINHA: Já trabalha.

EDUARDO: Mas era pra chamar ele. Será que é porque que ele...

VERINHA: Não, mas... Mas chama porque as vezes o salário é

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melhor.

EDUARDO: Não. Vou chamar ele.

VERINHA: Chama ele também, pelo amor de Deus!

EDUARDO: Agora o JORGE, o outro “JORGE FILHO”...

VERINHA: É o JORGE FRANCISO RAMOS GONÇALVES. QUE ESSE AÍ

FOI O PRÓPRIO PREFEITO QUE DEU ...

Veja, portanto, o uso desenfreado da Máquina Pública com vistas à

perpetuação do grupo político da situação em Presidente Kennedy. E não só

isso.

É nítido o comando da organização criminosa exercido pelo Prefeito

Reginaldo Quinta, pois, tem o controle das ações políticas no município. Por

outro viés, está comprovado também o envolvimento e submissão do Poder

Legislativo Municipal aos interesses do Chefe do Executivo.

Ademais, os membros da mesa diretora e da Comissão de Justiça se

beneficiam, particular e/ou politicamente, desse grande esquema de

corrupção.

De todo o apresentado nesse tópico, verifica-se práticas contumazes de fraude em

licitações no Município de Presidente Kennedy, para o fim de desviar recursos

públicos. Estão evidentes também, a responsabilidade criminal dos integrantes da

Comissão de Licitação JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA

e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA CHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO

DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e

do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA, JULIANA BAHIENSE

FONTÃO CRUZ, FLÁVIO JORDÃO DA SILVA, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, EDINO

RAINHA, ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, dos empresários e colaboradores CLÁUDIO

RIBEIRO BARROS, JULIANA DE PAULA, ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e SABRINA

TESCH, em verdadeira formação de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em

comunhão de desígnios.

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8 - CONCLUSÃO

A teor do que restou claramente comprovado, denota-se que os

denunciados, qualificados no preâmbulo desta peça, na forma devidamente

relatada, ponto a ponto (tempo, lugar e maneira de execução), agindo em

comunhão de desígnios, de forma dolosa, tudo com o propósito de desviar

recursos públicos municipais, para o favorecimento pessoal e de grupos

econômicos, feriram normas legais, razão pela qual merece reprimenda por

parte do Estado-Juiz, além de outras medidas específicas para garantir a

instrução do inquérito policial ainda em trâmite, que busca identificar outros

integrantes da organização, protegendo, com isso a instrução persecução

penal.

Autoria e materialidade devidamente comprovadas através da farta

documentação acostadas aos autos do Inquérito Policial Federal nº 502/2011,

conhecido como Operação “Lee Oswald” e demais documentos

mencionados nessa peça, sobretudo o Relatório Incidental e o Relatório da

Controladoria Geral da União.

Assim agindo, estão os denunciados abaixo especificados, incursos nos crimes

previstos nos seguintes tipos penais:

a) Quanto ao evento MATRIX, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA

COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA,

do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do

Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s

Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA, do empresário

JURANDY NOGUEIRA JUNIOR incorreram nos crimes dos artigos 288, 299 e

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304, do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e

III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;

b) Quanto ao evento EMEC, os integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA

COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA,

do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do

Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s

Secretário(a)s Municipais ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS e MÁRCIO

ROBERTO ALVES DA SILVA, e do empresário FÁBIO SAAD JUNGER, nos

artigos 288, do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º,

incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do Estatuto

Repressivo;

c) Quanto ao evento M2, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA COSTA,

MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE,

do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do

Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do Secretário

Municipal ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, e do empresário JOEL DE ALMEIDA

FILHO, como incursos nos artigos 288 do Código penal; artigos 90 e 97 da

Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do

artigo 69 do Estatuto Repressivo;

d) Quanto ao evento EMPRESAS RELACIONADAS AOS IRMÃOS GOMES, os

integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA

FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, do Chefe do Poder

Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, da Secretária Municipal

GEOVANA QUINTA COSTALONGA, dos Policiais Militares FABRÍCIO DA SILVA

MARTINS e WALLAS BUENO DA SILVA, e dos empresários ELY ÂNGELO

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JORDÃO GOMES, JOSÉ CARLOS JORÃO GOMES e SAMUEL DA SILVA

MORAES, estão incursos nos delitos dos artigos 288, 317, 332 e 333 do

Código penal; artigos 90, 95 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do

Decreto nº 201/67, tudo na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;

e) Quanto ao evento EXCELÊNCIA, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA

COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE

ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS

QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e

do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA e

MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, dos empresários JOSÉ ROBERTO DA

ROCHA MONTEIRO, CARLOS FERNANDO ZACHÉ, RODRIGO ZACHÉ e PAULO

CESÁR SANTANA DE OLIVEIRA estão incursos nos artigos 288, 299 e 304 do

Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do

Decreto nº 201/67, tudo na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;

f) Quanto ao evento MASTER PETRO E PULIZIE ITÁLIA, os integrantes da CPL

JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA

FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO

DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES

BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA

COSTALONGA, JULIANA BAHIENSE FONTÃO CRUZ, FLÁVIO JORDÃO DA

SILVA, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, EDINO RAINHA, ALEXANDRE

PINHEIRO BASTOS, dos empresários e colaboradores CLÁUDIO RIBEIRO

BARROS, JULIANA DE PAULA, ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e

SABRINA TESCH, estão devidamente incursos nas condutas descritas nos

artigos 288, 299, 304, e 332 do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93;

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e artigo 1º, incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do

Estatuto Repressivo.

Por todas as razões acima apresentadas, pugna o Parquet pelo recebimento

da presente, seguindo-se a regular instrução processual, na qual deverão ser

ouvidas as testemunhas constantes do rol abaixo, para, ao final, ser julgado

procedente o pedido com a condenação do denunciado nas sanções

previstas para as condutas ilícitas que praticaram os denunciados.

Para tanto, requer a Vossa Excelência:

a) Seja recebido o presente ADITAMENTO À DENÚNCIA na forma da lei;

b) Seja requisitada à Secretaria do Estado da Fazenda a Lista de benefícios

fiscais concedidos, nos últimos 10 (dez) anos, a empresas instaladas no

Estado do Espírito Santo;

c) Seja requisitado à Secretaria do Estado da Fazenda para que a mesma

informe o quantitativo de dívida do Estado em decorrência de possíveis

benefícios fiscais concedidos a empresas instaladas no Estado do Espírito

Santo;

d) Seja requisitado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras –

COAF, para o fim de enviar relatório das transações financeiras efetivadas

pelos denunciados e pelas pessoas jurídicas envolvidas nas fraudes

pontuadas no presente feito, a partir da posse da atual gestão

administrativa do Município de Presidente Kennedy, inclusive a da própria

Administração Pública Municipal;

e) Seja requisitada ao Egrégio Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo,

a disponibilização de equipe técnica, através de auditoria extraordinária,

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para auxiliar na análise da documentação acostada aos autos do

Inquérito Policial Federal nº 502/2011;

f) Seja procedido o sequestro e\ou bloqueio de bens automotores e/ou

imóveis que porventura estiver em nome dos denunciados e/ou envolvidos

(pessoas físicas e jurídicas) direta ou indiretamente com o caso em tela,

oficiando-se aos órgãos pertinentes (DETRAN, Cartórios de Registro Geral

de Imóveis e a Capitania dos Portos do Espírito Santo);

g) O sequestro e\ou bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros dos

denunciados e/ou de todos (pessoas físicas e jurídicas)os envolvidos direta

ou indiretamente com o caso em tela, oficiando-se aos órgãos

pertinentes;

h) Seja oficiado por Vossa Excelência no sentido de certificar a existência ou

não de outras ações penais, procedimentos especiais criminais e inquéritos

policiais a que os denunciados respondam ou responderam;

i) Sejam os denunciados notificados para apresentarem resposta preliminar,

na forma do artigo 4º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º da Lei nº. 8.658/93 e

do artigo 298, caput, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do

Estado do Espírito Santo, face á prerrogativa funcional;

j) Seja a presente denúncia recebida pelo Órgão Pleno deste Egrégio

Tribunal de Justiça, na forma do artigo 6º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º

da Lei nº. 8.658/93;

k) Uma vez recebida a presente denúncia, sejam atendidas as

determinações estabelecidas no artigo 7º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º

da Lei nº. 8.658/93;

l) Instruído o feito, seja o denunciado condenado nas sanções previstas nos

tipos penais mencionados alhures, observando-se o procedimento contido

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no artigo 303 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do

Espírito Santo;

m) Seja oficiado ao Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo para,

auditar os contratos mencionados na presente denúncia;

n) Seja encaminhada cópia da presente denúncia à Câmara Municipal de

Vereadores de Presidente Kennedy, para conhecimento e adoção das

medidas que entender cabíveis;

o) Seja requisitada a Folha de Antecedentes Criminais dos denunciados;

p) Que se proceda a oitiva das pessoas abaixo arroladas;

q) Por fim, em razão do tamanho da operação e as pessoas (físicas e

jurídicas) envolvidas, seja viabilizada equipe de policiais suficiente para

auxiliar na apuração das denúncias contidas nestes autos.

E. deferimento.

Vitória – ES, 17 de abril de 2012.

FERNANDO ZARDINI ANTONIO

Procurador Geral de Justiça

FÁBIO VELLO CORRÊA

2º Procurador de Justiça Especial

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ROL DE TESTEMUNHAS:

RAFAEL RODRIGO PACHECO SALAROLI, Agente da Polícia Federal, lotado junto

à Superintendência de Polícia Federal no Espírito Santo;

VERA LÚCIA DE ALMEIDA TERRA, vereadora do Município de Presidente

Kennedy, podendo ser encontrada na Câmara Municipal daquela cidade;

MIGUEL JORGE FREIRE NETO, empresário, podendo ser encontrado na Av.

Francisco Generoso da Fonseca, nº 991, Ed. Piatã, Aptº 201, Jardim da Penha,

Vitória/ES;

MARIA MADALENA SIQUEIRA DE SOUZA, Rua Sargento José Homero, 115,

Estrelinha, Vitória/ES;

ROLAND LEÃO CASTELLO RIBEIRO, assessor jurídico, lotado na Procuradoria de

Justiça do Ministério Público do Estado do Espírito Santo.