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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O ENSINO DA GEOGRAFIA E A UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES GÊNEROS DISCURSIVOS: TEXTOS, RECORTES DE FILMES E

HISTÓRIA EM QUADRINHOS

Autora: Cleudir Coitinho Tomazzini1

Orientadora: Najla Mehanna Mormul2

Resumo

Neste trabalho, apresentamos os resultados do projeto de intervenção pedagógica, cuja temática se refere às metodologias de aprendizagem, tendo como problema de aplicação o fato de que, ao longo do tempo, as metodologias de ensino tradicionais como aulas expositivas, com uso do quadro de giz, giz e apagador, não atraem mais a atenção dos alunos. Os objetivos dessa proposta consistem em estimular o uso dos gêneros discursivos nas aulas de Geografia, trabalhando diferentes gêneros com os alunos do 6º ano do Colégio Estadual Barão do Rio Branco na cidade de Flor da Serra do Sul, Paraná, no período de fevereiro a maio de 2014. Estimulando-os a exporem suas opiniões, dialogarem e refletirem criticamente seu espaço de vivência, permitindo a construção do conhecimento geográfico de maneira mais ativa e prazerosa. De modo específico, discutiu-se sobre as diferenças e semelhanças entre metodologias tradicionais e metodologias alternativas, as quais motivaram a aprendizagem dos alunos de 6º ano. Utilizamo-nos dos seguintes gêneros discursivos: textos, filmes e história em quadrinhos (HQs) para trabalhar os conteúdos geográficos. Dos resultados obtidos, verificou-se o atendimento aos objetivos propostos, com o despertar da motivação e participação dos alunos, colhemos opiniões, fomentando o diálogo e a reflexão crítica sobre o espaço de vivência de cada um e no contexto, admitindo a construção de um conhecimento geográfico que trouxe detalhes do entorno no qual vivem e atuam. A conclusão do estudo é de que o projeto de intervenção pedagógica pode ser implementado em diferentes escolas, com a perspectiva de que as respostas esperadas com o uso de gêneros discursivos reflitam o conhecimento por parte do aluno sobre a Geografia e as condições ambientais nas quais se encontram.

Palavras-chave: Geografia; Ensino-aprendizagem; Gêneros discursivos.

1 Introdução

A Geografia enquanto disciplina escolar pode ser um meio de mostrar aos

alunos a importância de aprender noções básicas de orientação espacial e outras

relações que fazem parte do cotidiano.

1Graduada em Geografia; Pós-Graduada em Interdisciplinaridade da Educação Básica; Escola em

que atua: Colégio Estadual Barão do Rio Branco. 2 Doutora em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá, UEM.

O tema escolhido como projeto de intervenção pedagógica na escola3 foram

as metodologias de aprendizagem. Problematizamos o fato de que, nos últimos

anos, as metodologias de ensino tradicionais, ou seja, aulas expositivas somente

com uso do quadro de giz, giz e apagador, não atraem mais a atenção dos alunos.

Os alunos estão em contato com uma diversidade de recursos tecnológicos

que facilita o acesso, há um grande número de informações. Com base nessa

constatação, sabe-se que os professores podem e devem estimular os alunos,

utilizando metodologias criativas e/ou alternativas que contribuam para o

desenvolvimento do ensino-aprendizagem de modo mais atrativo, prazeroso e

criativo. Diante disso, trabalhou-se os gêneros discursivos, utilizando os conteúdos

da Geografia, visando à melhoria do ensino e aprendizagem.

A justificativa da escolha e o interesse por esse tema parte da compreensão

que a Geografia é uma disciplina dinâmica e faz parte do cotidiano das pessoas. É

grande desafio para a maioria dos professores de Geografia fazer com que os

alunos compreendam conceitos e conteúdos a partir da realidade vivida.

Entende-se que no contexto dessa realidade se encontram as diferentes

tecnologias que afetam a rotina diária e fazem com que a escola e os professores,

busquem novos recursos para ensinar em sala de aula.

Percebe-se a necessidade de inovar e incorporar novas metodologias que

apresentem uma dinâmica que desperte o interesse dos alunos motivando-os ao

mesmo tempo em que potencializa o aprendizado e o processo de construção do

conhecimento geográfico.

O projeto de intervenção pedagógica, portanto, teve como objetivo principal

estimular o uso dos gêneros discursivos nas aulas de Geografia, trabalhando

diferentes gêneros com os alunos do 6º ano do Colégio Estadual Barão do Rio

Branco na cidade de Flor da Serra do Sul, Paraná, no período de fevereiro a maio de

2014. Assim, estimulando-os a exporem suas opiniões, dialogando e refletindo

criticamente seu espaço de vivência, permitindo a construção do conhecimento

geográfico de maneira mais ativa e prazerosa.

3 O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola faz parte do Eixo 1: atividades de integração

teórico-práticas do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Em seu desenvolvimento, o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola deve partir da delimitação clara da situação problema, seguida da justificativa, dos objetivos, da fundamentação teórica, das estratégias de ação, do cronograma e das referências.

De modo específico objetivou discutir sobre as diferenças e semelhanças

entre metodologias tradicionais e metodologias alternativas, e motivar a

aprendizagem dos alunos de 6º ano utilizando os seguintes gêneros discursivos:

textos, filmes e história em quadrinhos (HQs) para trabalhar os conteúdos

geográficos.

Desse modo, buscou-se por meio desse artigo relatar sobre a proposta

implementada do projeto de intervenção pedagógica evidenciando os resultados da

aplicação do projeto.

O artigo segue uma estrutura assim delimitada: no primeiro momento

discute-se o que são gêneros discursivos com ênfase nos materiais selecionados.

No segundo momento apresenta-se os resultados obtidos junto aos alunos

participantes do projeto de intervenção pedagógica. Ao final, elaboram-se as

considerações finais sobre o trabalho.

2 Geografia: Ciência e Ensino

De acordo com Andrade (1989, p.30), “o conhecimento geográfico era

eminentemente prático, empírico, limitava-se a catalogar e cartografar nomes de

lugares”.

No início do século XIX um período de grandes transformações, como a

união de informações sobre o globo terrestre, o avanço significativo da Cartografia e

essencialmente o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento do estado-nação,

foram condições essenciais para o início do processo de sistematização da

Geografia.

“A sistematização da Geografia, sua colocação como uma ciência particular

e autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida social,

pela emergência do modo de produção capitalista” (MORAES, 1995, p. 14).

A sistematização da Geografia propiciou a divulgação de uma imagem do

interior da nação com o uso do patriotismo nacionalismo, com a finalidade de formar

um “cidadão soldado” que defendesse sua pátria acima de tudo. Como didática de

ensino, pregava-se em sala de aula a memorização dos conteúdos, não se

procurava a construção do conhecimento, e sim uma verticalização dos

conhecimentos.

Essa sistematização ocorre na Alemanha, seus principais formuladores

foram os alemães Alexandre Vom Humbolt (1769) e Karll Ritter (1859). Humbolt,

botânico e viajante, percorreu vários lugares, descreveu paisagens que via, formulou

o primeiro conceito de clima, estudou as correntes marítimas, a flora e a fauna.

Mais tarde, surge o autor alemão Ratzel, que em suas obras sobre

Antropogeografia e Geografia política, revigora a sistematização geográfica ao

afirmar que a Geografia: “[...] foi um instrumento poderoso de legitimação dos

desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído” (MORAES, 1995,

p.52).

A linha de pensamento de Ratzel ganhou vários adeptos no mundo.

Contudo, suas teorias foram assimiladas erroneamente ou reproduzidas

inadequadamente, quando se tentou generalizá-la em expressões do tipo “as

condições naturais determinam a história e o homem é produto do meio,

empobrecendo bastante as formulações de Ratzel, que falava de influências”

(MORAES,1995, p. 58).

Na primeira metade do século XX, surgiu a escola francesa em que seu

expoente máximo foi o historiador Paul Vidal de La Blache, precursor da Geografia.

A Geografia desenvolvida por La Blache (1908) traz novas concepções de objeto da

Geografia; Mamigonian (2003, p. 16) afirma que “a Geografia de La Blache […] foi a

que expandiu com maior força, porque […] atendia melhor às necessidades da

burguesia francesa.” A mesma é antes de tudo uma crítica severa a formulação no

que diz respeito à politização explícita do discurso ratzeliano.

A proposta de Vidal de La Blache e dos autores que seguiram sua ótica

ignoraram os processos sociais que envolveram a Geografia da época, na verdade,

seguiram a mesma linha tradicional, dedicando-se ao estudo da humanização do

meio.

É importante salientar que existiram várias escolas e cada qual com seu

objetivo. A escola alemã serviu para justificar e tentar legitimar a luta pelo espaço

dos povos pobres que permaneciam sob a sua orientação e domínio, percebe-se

assim que todos tinham um profundo nacionalismo e eram comprometidos com os

governos a que serviam e de quem dependiam.

A Geografia e as correntes que dela se desdobravam foram chamadas de

Geografia Tradicional. Moraes (1995, p.9) afirma que a “Geografia Tradicional

deixou uma ciência elaborada, um corpo de conhecimentos sistematizados, com

relativa unidade interna e indiscutível continuidade nas discussões”.

A Geografia Tradicional era ligada à formação cultural, com a Segunda

Guerra Mundial ela passou por várias transformações e o geógrafo passa a dar

maior importância ao papel da indústria e das cidades na produção e reorganização

do espaço, pois era necessário fazer a reconstrução das cidades.

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma grande expansão do

capitalismo e os espaços urbanos e agrários sofreram grandes modificações,

passaram a articular-se de tal modo que a Geografia Tradicional já não era mais

suficiente para explicar tal complexidade. Precisava-se organizar estudos voltados

para a análise das relações mundiais, principalmente de ordem econômica, social,

política e ideológica. Este período é marcado pelo surgimento da nova Geografia,

revisando as ideias positivistas vigentes e marcando um novo momento no qual a

Geografia física revitaliza-se devido aos pressupostos do neopositivismo. Tais

pressupostos caracterizavam esta nova etapa do pensamento geográfico.

Assim, com a planificação da economia de um lado e o capitalismo de outro,

surge uma Geografia aplicada aos números a Geografia Quantitativa, apoiado por

sistemas políticos que necessitavam de dados para a construção das estáticas. Com

isso, a Geografia deixa de lado as questões sociais, alegando que tinha de ser uma

ciência neutra. Com desequilíbrio do sistema político a Geografia passa a ser

questionada e surge a Geografia Crítica ou Radical.

Andrade (1992, p. 14) diz que a Geografia crítica surgiu, “reunindo em um só

bloco todos aqueles que, almejando uma reforma da sociedade e melhor distribuição

de renda, batalharam para sensibilizar a Geografia e os geógrafos para os

problemas sociais, políticos e econômicos”. Essa corrente procura agir de maneira

diferente de todas as anteriores, justamente por não atender às conveniências

governamentais.

A Geografia crítica procura formar o cidadão crítico, incentivando o aluno a

pesquisar, a questionar o porquê dos acontecimentos e qual o fator propulsor das

mudanças ocorridas no espaço como um todo. O “slogan” da Geografia Crítica

segundo Andrade (1992, p. 30) é “aprender a aprender” que resume como é

trabalhada a Geografia em sala de aula. Um aspecto importante dessa Geografia e a

velocidade com que ela acompanha as transformações sociais, culturais,

econômicas e políticas, o pensamento geográfico passa então a questionar as

mudanças ocorridas no mundo como um todo.

A Geografia Crítica rompe com a visão tradicional e com a visão

quantitativista. O espaço agora é visto como o lócus da reprodução das relações

sociais de produção. Para Santos (1985, p. 52) o espaço é “a natureza do

significado de espaço que aparecem como fator social e não apenas como reflexo”.

Isso quer dizer, que o espaço constitui-se em uma instância da sociedade

organizada e é subordinada por ela. A Geografia humanística e cultural que se

desenvolveu concomitantemente com a Geografia crítica e se preocupou em

relacionar à noção de espaço com a subjetividade humana. O espaço adquire a

ideia de espaço vivido. Assim, apresentam-se vários tipos de espaços pessoais e

grupais que são vivenciados por meio de construções materiais e simbólicas. As

temáticas referentes ao espaço vivido são inicialmente desenvolvidas nas escolas

francesas e debatidas em diferentes lugares.

Por isso, o espaço geográfico firma-se como o resultado da ação concreta

do trabalho humano. De acordo com cada civilização deu-se a evolução das formas

de produzir a sobrevivência. Da coleta à agricultura, da indústria à biotecnologia,

foram mais de 5 milhões de anos de evolução humana que imprimiram na

superfície terrestre o rastro da humanidade. O espaço geográfico revela as causas e

efeitos de cada sociedade que o produz.

Em relação ao ensino da Geografia no Brasil no decorrer de quase todo o

século XX foi abordada de maneira tradicional, com dicotomia entre a Geografia

Física que estudava o quadro natural e a Geografia Humana que estudava a

distribuição dos aspectos originados pelas atividades humanas. Outra dicotomia

que também apareceu foi o estudo da distribuição dos fenômenos na superfície da

terra (Geografia Geral) e o estudo das unidades que compõe a diversidade de

determinada área na superfície terrestre.

Na década de 1950-1960 aparece uma nova estrutura teórica com ênfase no

uso de técnicas estatística e matemática para a análise de dados com aparecimento

de obras de teorização e quantificação da Geografia. Para superar a tendência

tradicional nas últimas décadas surge a Nova Geografia, ou seja, as tendências

alternativas tendo destaque três: Geografia Humana, Geografia Idealista, Geografia

Radical ou Crítica. A Geografia Humana tem como tarefa mostrar como são o

espaço e lugar, por meio de uma estrutura coerente, valorizando a percepção.

A Geografia Idealista valoriza a compreensão das ações envolvidas nos

fenômenos, focalizando seu aspecto interior, com maior ênfase na tendência

histórica do que espacial. A Geografia Crítica, baseada na análise dos modos de

produção e das formações socioeconômicas e dos aspectos da natureza e da

sociedade.

Essas concepções ao longo do tempo influenciaram as metodologias para o

ensino da Geografia. Atualmente a concepção que prevalece é a Geografia Crítica,

tendência contemplada nas novas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, em

que “[...] ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens

críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradições sociais,

econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço” (SEED,

2008, p. 53-54).

2.1 O ensino da Geografia na escola

No Ensino Fundamental os conteúdos estão divididos em estruturantes que

são de “dimensão geográficas, dimensão da realidade econômica, dimensão

política, dimensão socioambiental e dimensão cultural demográfica” (SEED, 2008,

p. 76).

Para o Ensino Médio são divididos em: “[...] dimensão econômica do espaço

geográfico, dimensão política do espaço geográfico, dimensão cultural e

demográfica do espaço geográfico, dimensão socioambiental do espaço geográfico”

(SEED, 2008, p. 30).

Neste sentido, a análise desse breve histórico da disciplina de Geografia, é

fundamental para que o professor ofereça aos alunos um conjunto de situações de

aprendizagem que suscitem problemas, sempre considerando diferentes escalas de

tempo e espaço. Essa dimensão da problematização favorece o trabalho com temas

que podem ser abordados em Geografia.

Segundo Callai (2001, p. 139),

São aspectos naturais e humanos do espaço geográfico, traduzidos em aulas sobre relevo, vegetação, clima, população, êxodo rural e migrações, estrutura urbana e vida nas cidades, industrialização e agricultura, estudados como conceitos abstratos, neutros, sem ligação com a realidade

concreta da vida dos alunos.

Afinal o mais importante é que os alunos aprendam a relacionar o que

acontece em seu dia a dia e que percebam o modo de ser e viver do seu grupo

social, comparando com acontecimentos ocorridos em outros lugares e em outros

tempos, que caracterizam (ou caracterizarão) o modo de ser e viver de outros

grupos sociais.

Dessa forma, é importante utilizar diferentes recursos de apoio pedagógico

para o trabalho com os conteúdos de Geografia. O uso adequado dessas

ferramentas pedagógicas favorece uma melhor compreensão dos conteúdos

geográficos.

A utilização de textos informativos para o ensino é necessário para a

sistematização dos saberes. Segundo os PCN’S, todo educador, independente de

sua formação, deve ter nos textos um instrumento de trabalho, pois assim o aluno irá

aprender determinados conceitos científicos, argumentar, observar, interpretar e

atuar de forma crítica utilizando a linguagem como forma de conhecimento.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 30), consta que:

Cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade.

O objetivo principal do ensino de Geografia é promover a aprendizagem e

nesta perspectiva percebe-se que os textos devem ser utilizados como instrumentos

pedagógicos, tornando-os presentes no cotidiano da escola. Os textos devem ser

utilizados de tal forma que estimulem a leitura, a reflexão e a contextualização com a

realidade em que o aluno está inserido, pois são pilares que norteiam a

aprendizagem escolar.

O significado de um texto escrito varia de acordo com o suporte utilizado

(livro impresso, imprensa periódica, documentos públicos ou particulares e outros),

do público a que se destina e das maneiras como é feita a leitura.

Na questão dos textos que serão disponibilizados para o trabalho com os

alunos, o papel do professor é fundamental, primeiro, porque é ele que possui a

formação e experiência para indicar os conteúdos e fontes seguras para consulta.

Cabe ao professor a tarefa de oferecer textos que contenham informações

confiáveis, para que os alunos possam discutir de maneira crítica e criativa os

conteúdos, auxiliando a aprendizagem e a compreensão do espaço geográfico,

a leiturização de paisagens, de lugar, os aspectos sociais, a questão

ambiental bem como a organização e a produção espacial.

Segundo Albuquerque (2002, p. 343),

A televisão vem sendo analisada por teóricos de diferentes áreas, ao longo de muitos anos, como o bode expiatório de algumas mazelas da modernidade. Então, é lugar comum falar mal da televisão. [...] Acreditamos que é possível encontrar alternativas que não sejam necessariamente determinadas por essa dicotomia. É nessa perspectiva que nos apoiamos nas teorias que analisam a televisão, do ponto de vista do receptor. Acreditamos que tal abordagem possa trazer, para a escola, outro olhar para a televisão, a partir de um ângulo diverso do que encontramos hoje, em que ela é vista como concorrente do trabalho pedagógico. A relação televisão/sala de aula vem ao longo dos anos sendo arrastada para o futuro. Cremos que é chegado o futuro. É esse o momento para aproveitarmos o que se imagina ser concorrência e torná-la cumplicidade.

Vivemos em uma sociedade onde se estabelece uma relação profunda com

as imagens e a arte cinematográfica, ou seja, a televisão e o cinema. Uma excelente

alternativa metodológica é o trabalho com recortes de filmes, sejam eles históricos

documentários ou de ficção, pois surgem como recurso que ajudam a dinamizar as

aulas e torná-las mais atraentes. Porém, os filmes escolhidos precisam ser bem

planejados e ter objetivos claros para que o professor possa contar com a

participação ativa dos alunos.

É necessário que o professor tenha objetivos pedagógicos bem definidos

quando resolve usar o vídeo. É importante que a relação vídeo conteúdo seja

debatida pela sala, em conjunto com o professor e que este escolha um vídeo

adequado à matéria estudada (LEITE, 1997, p. 74).

O filme deve contribuir com o processo de aprendizagem e a construção do

conhecimento. Para isso se faz necessário um planejamento na sua utilização,

assegurando que o mesmo esteja de acordo com o conteúdo a ser trabalhado.

O filme é uma visão particular do roteirista e do diretor, que se baseiam em

fatos históricos. Para isso, selecionaram e interpretaram as informações que

quiseram. O mesmo se dá na escolha e edição das cenas. Os sons e as imagens

têm exatamente essa finalidade – criar a sensação de que estamos assistindo algo

verdadeiro (BENCINI, 2005, p. 49).

Cabe ao professor orientar o aluno no entendimento do filme, indicando

caminhos, fazendo apontamentos com relação aos aspectos da história

representada, pois estes nem sempre correspondem a fatos reais retratando muitas

vezes a versão de quem o produziu.

A possibilidade da utilização de recortes de filmes em sala de aula como

recurso pedagógico para o ensino da geografia poderá ser usado para introduzir ou

concluir um conteúdo, promover a compreensão de determinados conceitos básicos

da Geografia como paisagem, lugar, aspectos sociais, culturais, políticos, as

questões ambientais e as mais variadas formas de configuração do espaço

geográfico. O ideal é logo após ser utilizado, explorá-lo, através de debates,

relatórios escritos ou questionamentos, motivando a participação efetiva, reflexiva e

crítica dos alunos, pois o filme necessita ser analisado, pensado e discutido sempre

com a mediação do professor que conduzirá todo o processo de construção do

conhecimento. Essa metodologia alternativa para o ensino da Geografia, por ser

visual e lúdica possibilitará que as aulas se tornem mais prazerosas e dinâmicas

contribuindo assim para uma melhor aprendizagem.

A utilização das histórias em quadrinhos é uma prática que contribui para o

desenvolvimento pessoal do aluno, pois desperta a curiosidade, imaginação e

criatividade.

A história em quadrinhos tem elementos parecidos com o cinema: ritmo e

movimento.

[...] no roteiro de uma HQ, cada quadrinho atua como se fosse uma frase, cada sequência como um parágrafo e cada página como um capitulo, que, se for finalizada com suspense, faz com que o leitor queira continuar a leitura (CALAZANS, 2005, p.18).

Compreender o Universo das HQs é percebê-las num discurso como prática

social, que não só têm função de entretenimento, mas de meio de comunicação e

transmissão de mensagens dos mais diversos tipos; é uma linguagem com potencial

para desenvolver temáticas das mais diversas e dos mais diferentes objetivos: ex.:

propagandas, campanhas educativas, e outros.

Portanto, consideramos as HQs um gênero muito atrativo, pois se utiliza de

uma linguagem provocadora, cheia de movimentos e cores, por essa razão é uma

forma de encaminhar os alunos para a leitura do universo literário, sendo uma ótima

fonte de motivação e estímulo à leitura.

As histórias em quadrinhos apresentam diferentes temas que contribuem

para que os alunos desenvolvam seu senso crítico, sua imaginação, que segundo

Higuchi (2000, p. 153) por meio dela “podemos superar, ou pelo menos, diminuir

nossos problemas e as pressões que sofremos no cotidiano e encontrar possíveis

soluções”.

Na internet, existem algumas histórias em quadrinhos que podem ser

aplicadas e exploradas em alguns conteúdos específicos nas aulas de Geografia,

como paisagens, lugares e meio ambiente, em que também podem ser utilizadas

temáticas como: “preconceito racial, o mundo está doente, geografia cultural da

Europa e as multinacionais” (TUSSI; MARTINS, 2013, p. 7).

Assim, é preciso que o professor de geografia estimule os alunos para que

aprendam a ler, ouvir, perguntar, consultar, registrar e organizar as informações

obtidas através de textos, imagens ou até mesmo com a exposição do

professor. É, também, importante aprender a reapresentar os conhecimentos

adquiridos através da escrita, da exposição oral, ou ainda de desenhos. Além disso,

aquele que estuda, observa, experimenta, compara, descreve, troca ideias, sintetiza.

Para proceder dessa maneira, os alunos necessitam da ajuda do professor

para ler, escrever, discutir, pesquisar e organizar as informações que obtêm. O

professor tem, então, um papel fundamental, pois cabe a ele promover a

aprendizagem desses procedimentos, através de situações nas quais os alunos

tenham a oportunidade de efetivamente atuarem como estudantes. É importante,

assim, que o professor atue como um mediador, compartilhando com os alunos suas

ideias, dúvidas, explicações e formas de pesquisar.

Promover a ampliação do conhecimento dos alunos a respeito de temas de

inquestionável valor para a sociedade atual é um dos objetivos do ensino de

Geografia. Por isto, sempre que possível, os conteúdos trabalhados em Geografia

devem enfocar explícita ou implicitamente temas relacionados à ética, à saúde, ao

meio ambiente, ao trabalho e consumo, à diversidade cultural e natural que

caracteriza nossa realidade, nosso país e a interpretação de mundo para assim

compreendê-lo e nele atuar.

3 Resultado do Projeto de Intervenção Pedagógica

Dentre as atividades aplicadas no Projeto de Intervenção Pedagógica foi

abordada a questão dos problemas do meio ambiente que afetam o planeta,

solicitando aos alunos que registrassem em seus cadernos sua opinião sobre a ação

do homem na natureza, versando sobre a acentuação das questões ambientais e de

como a destruição do meio ambiente poderia ser evitada.

A atividade despertou nos alunos o interesse pela identificação dos

problemas de enfoque, e as mais diversas sugestões foram elaboradas, explicitando

a ação do homem na natureza, sua responsabilidade em preservar e recuperar.

Na atividade seguinte, solicitou-se a realização de uma pesquisa sobre o

meio ambiente, em que os mesmos deveriam responder a 06 (seis) questões, sendo

as primeiras relativas às condições do meio ambiente local, principais problemas

identificados, projetos desenvolvidos para a sua solução e atitudes pessoais por

parte do aluno na preservação do meio ambiente. A penúltima questão se refere aos

problemas ambientais que mais prejudicam o Brasil e, por fim, o assunto principal

são os problemas em evidência no município, incluindo a zona rural e urbana.

Os resultados auferidos nesta atividade confirmam a participação de todos

os alunos, com identificação e registro daquilo que eles conhecem sobre as

questões ambientais, do que sabem sobre os problemas ambientais nacionais e que

atitude poderiam tomar em face dessa situação.

Continuando as atividades foi explicitado sobre o meio ambiente na

atualidade e os impactos provocados pelo homem, que podem comprometer a

sobrevivência humana para o futuro. É mostrada uma notícia, de que:

‘Cidades já consomem 70% dos recursos naturais do planeta’. O homem ocupa hoje 70% dos recursos naturais e a preocupação é que em 2050, com o aumento da população e também com o aumento do uso dos recursos naturais, a destruição da natureza será muito maior

4.

Também foi mostrada uma figura, solicitando que o aluno a observasse com

atenção e respondesse a alguns questionamentos:

4 Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=557. Acesso em:

20 out. 2013.

Fonte: http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=6&evento=1

As questões foram as seguintes: O que mais lhe chamou a atenção nesta

imagem? Por quê? O que está acontecendo com o nosso planeta? No diálogo,

que mensagem os personagens quiseram transmitir? Em sua opinião o que

podemos fazer para evitar a degradação do meio ambiente?

Analisando os resultados desta atividade, constata-se que as metodologias e

as estratégias de ação despertaram o interesse dos alunos. Por serem alunos do 6º

Ano, as imagens, os filmes, as histórias em quadrinhos, a metodologia que foi

aplicada tornou o aprendizado mais interessante.

Utilizando as histórias em quadrinhos, uma das atividades apresentou um

texto de Mauricio de Sousa, com a personagem Magali:

Publicada em 2003 na revista número 366. Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action= &co_obra=149701

Após analisar esta história em quadrinhos, foi solicitado ao aluno que

elaborasse um texto.

Pode-se constatar a participação dos alunos nas aulas, desde o começo até

o final, não ficaram desmotivados; comentavam entre si o tema, não viram a aula

passar: “[...] que pena que a aula estava acabando”, coisas que o professor não

escutava em outras turmas.

Na medida em que iam sendo aplicadas as diversas atividades do projeto de

intervenção pedagógica, igualmente eram sugeridas atividades paralelas como, por

exemplo:

1. Sugestão de leitura: O Lixo (Luís Fernando Veríssimo);

2. Assistir o vídeo: Salve o Planeta: uma campanha inteligente para

crianças de 3 a 103 anos5;

3. Assistir o filme: A turma da Mônica em: Um plano para salvar o planeta6;

4. Assistir o filme: Wall-E7.

Aplicou-se uma atividade na qual os alunos leem a história em quadrinhos

da Mafalda, analisam o seu conteúdo e depois respondem a alguns

questionamentos sobre a mensagem gráfica.

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co _obra=174682

5 http://www.videosurf.com/video/salve-o-planeta-uma-campanha-inteligente-para-crianças-de-3-a-

103-anos-107379635 6 http://youtu.be/ZcXVDnT40p0

7 http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-wall-e-dublado-online.html

Sobre essas imagens foi solicitado ao aluno que respondesse: por que o

mundo está doente? Quais são as ações mais impactantes do homem sobre o meio

ambiente? Em sua opinião, o que pode ser feito para “curar” o mundo?

Por fim, foi pedido aos alunos que criassem uma tirinha com um final para

essa história.

A atividade final teve como objetivo sistematizar o que foi abordado no

Projeto de Intervenção Pedagógica, dividindo a turma em três grupos, para as

seguintes produções:

A - Elaborando uma HQ

Sugeriu-se aos alunos a criação de uma história em quadrinhos capaz de

representar e transmitir o que foi estudado no decorrer das aulas.

Foram disponibilizadas folhas, réguas e lápis de cor. Usando a criatividade,

cada aluno, de forma individual, deveria elaborar a sua história de forma clara e

objetiva.

O diálogo dos personagens poderia ser digitado e colado nos balões, ficando

a critério de cada aluno. Depois de concluídas, as HQs foram encadernadas e

expostas na sala de aula, na sala dos professores e no saguão da escola.

B - Produção de texto

Propôs-se aos alunos a produção de um texto sobre toda a temática

abordada no decorrer das aulas. Usando a criatividade de cada aluno, de forma

individual, clara e objetiva.

Os textos poderiam ser manuscritos ou digitados no laboratório de

informática ficando a critério de cada aluno. Na sequência foi confeccionado um

mural no qual os textos foram expostos.

C – Produção de um vídeo

Estimulou-se a produção de um vídeo sobre a temática estudada. Com o

auxílio do professor os alunos deveriam elaborar um bom roteiro, estruturado em

dois segmentos: um dedicado às imagens que se deseja fazer e outro com as falas

almejadas.

O vídeo poderia ser em forma de documentário ou entrevista, sendo

decidida em conjunto com os alunos.

Sugestão de roteiro: (Fonte: http://www.panasonic.com.br/kwn/Dicas-de-

Roteiro.aspx)

Para a edição do vídeo pode ser usado o Windows Movie Maker, pois é

simples de usar e um dos mais utilizados.

Após apresentarem os resultados do projeto de intervenção pedagógica,

finaliza-se o estudo.

4 Considerações finais

A presente proposta de intervenção pedagógica teve enfoque nas

metodologias de aprendizagem e como norte a problematização acerca de

mudanças necessárias às metodologias de ensino tradicionais, para motivar o aluno

ao aprendizado da Geografia.

Ao longo da aplicação do projeto de intervenção trabalhou-se em sala de

aula os gêneros discursivos, utilizando os conteúdos da Geografia, visando à

melhoria do ensino e aprendizagem e a compreensão de conceitos e conteúdos com

base na realidade vivida.

Considerando os resultados obtidos quanto à motivação e à participação dos

alunos, entende-se que os objetivos iniciais foram atingidos, pois, ao estimular o uso

dos gêneros discursivos nas aulas de Geografia, nas opiniões colhidas, no diálogo

fomentado e na reflexão crítica sobre o espaço de vivência de cada um e no

contexto, percebeu-se a construção de um conhecimento geográfico que trouxe

detalhes do entorno no qual vivem e atuam.

Resumindo, cumpre destacar que o presente projeto de intervenção

pedagógica pode ser implementado em diferentes escolas, com a perspectiva de

que as respostas esperadas com o uso de gêneros discursivos reflitam o

conhecimento por parte do aluno sobre a Geografia e as condições ambientais nas

quais se encontram.

Como resultado profissional, assegura-se que a experiência foi gratificante,

ao poder praticar uma ideia nova e agradável de ensino, porque a escola deve

inovar-se continuamente e assim, a comunidade escolar, no sentido de crescimento

conjunto e interativo.

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