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Saída de ministro é a primeira grande derrota do governo Dilma [pág 17] Opinião Socialista completa 15 anos Leia encarte especial sobre a história de um jornal que sempre esteve ao lado dos trabalhadores AMANDA GURGEL PERCORRE O PAÍS EM APOIO ÀS GREVES DOS PROFESSORES A SEGUNDA QUEDA DE PALOCCI Amanda visita Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis e Belo Horizonte para debater a educação, fortalecer as greves e impulsionar a campanha dos 10% do PIB Já [pág 4] GREVE Grevistas enfrentam repressão do governo Cabral [pág 17] Somos todos bombeiros www.pstu.org.br R$ 2 número 425 > de 9 a 29 de junho de 2011 > Ano 15 PLEBISCITO NO PARÁ: Divisão do estado não acaba com pobreza

Opinião Socialista 425

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Opinião Socialista 425

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Page 1: Opinião Socialista 425

IDEOLOGIA? Saída de ministro é a

primeira grande derrota do governo Dilma [pág 17]

Opinião Socialista completa 15 anos

Leia encarte especial sobre a história de um jornal que sempre esteve ao lado dos trabalhadores

AMANDA GURGEL PERCORRE O PAÍS EM APOIO ÀS GREVES DOS PROFESSORES

A SEGUNDA QUEDA DE PALOCCI

Amanda visita Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis e Belo Horizonte para debater a educação, fortalecer as greves e impulsionar a campanha dos 10% do PIB Já [pág 4]

GREVE

Grevistas enfrentam repressão do governo Cabral [pág 17]

GREVESomos todos bombeiros

www.pstu.org.br r$ 2número 425 > de 9 a 29 de junho de 2011 > ano 15

educação, fortalecer as greves e impulsionar a campanha dos 10% do PIB Já [pág 4]

PLEBISCITO NO PARÁ: Divisão do estado não acaba com pobreza

Page 2: Opinião Socialista 425

EDITOR Eduardo Almeida Neto JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Gustavo Sixel, Jeferson Choma, Wilson H. da Silva

DIAGRAMAÇÃO Victor “Bud” IMPRESSÃO Gráfica Lance (11) 3856-1356 ASSINATURAS (11) 5581-5776 [email protected] www.pstu.org.br/assinaturas

OPINIÃO SOCIALISTApublicação quinzenal do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado CNPJ 73.282.907/0001-64 - Atividade principal 91.92-8-00

CORRESPONDÊNCIA Avenida Nove de Julho, 925 Bela Vista - São Paulo - SP CEP 01313-000Fax: (11) 5581.5776 e-mail: [email protected]

NACIONAL Bombeiros do Rio

O país vive um novo mo-mento. No começo do manda-to de Dilma Roussef, o horizon-te parecia antever uma relativa tranquilidade para o governo: popularidade em alta, continui-dade do crescimento econômico e ampla maioria no Congresso.

Por baixo, porém, em meio ao cotidiano dos trabalhadores, algo acontecia. A inflação comia o poder de compra. O crescimen-to da economia, por sua vez, não amenizava a desigualdade so-cial nem os graves problemas do serviço público. Um descon-tentamento crescente explodiu na forma de greves e rebeliões, como entre os operários em Jirau e nas greves dos professores da educação país afora.

O discurso de protesto de Amanda Gurgel deu voz a essa nova situação. Assim como a mobilização dos bombeiros no Rio de Janeiro, que provocou uma repressão brutal por par-te do governo de Sérgio Cabral (PMDB). Em meio a tudo isso, um novo escândalo de corrup-ção derruba Antonio Palocci, o homem mais poderoso do go-verno Dilma. Em pouco mais de seis meses de existência, nem tudo são flores para o governo.

Isso tudo você encontra nes-sa edição do Opinião, que está fazendo 15 anos e traz um en-carte especial sobre nossa his-tória. São 15 anos que fazem parte de uma tradição de qua-se quatro décadas de imprensa operária, expressão de um par-tido que não abandonou a luta pela revolução e o socialismo.

Nas páginas que ilustram nossa trajetória ou nas maté-rias que mostram uma perspec-tiva dos trabalhadores sobre os principais fatos da luta de clas-ses, revela-se a importância de um jornal como o Opinião So-cialista.

pstu Rio de JAneiRo

Os bombeiros do estado do Rio de Janeiro vivem hoje uma situação absurda. Apesar de serem trabalhadores muito

respeitados pela população, recebem um dos menores salários do país, R$ 986. Há meses eles vêm tentando nego-ciar com o governo, reivindicando um piso salarial de R$ 2 mil, vale-trans-porte, fim da política de gratificações e melhores condições de trabalho, mas só vinham recebendo negativas. Por isso, desde abril, decidiram dar visibilidade à sua luta, realizando manifestações pela cidade com a participação de milhares de bombeiros. Num desses atos, no dia 17 de maio, em que os oficiais médios começaram a aderir ao movimento, seis líderes foram presos, inclusive um dos principais, o cabo Benevenuto Dacciolo.

negociAções e pAsseAtAVendo o crescimento da mobilização

da categoria, o governo soltou os presos e marcou uma reunião de negociação. No encontro, ocorrido em 25 de maio, foi elaborado um cronograma de nego-ciação, que tinha como prazo limite o dia 2 de junho. No dia 1º, uma repre-sentação dos bombeiros, juntamente com Cyro Garcia, da CSP-Conlutas e presidente do PSTU no estado, compa-receu a uma audiência com a Secretaria Geral da Presidência da República, em que foram colocadas as reivindicações desses profissionais.

Na sexta-feira, 3 de junho, sem qual-quer resposta do governo em relação às reivindicações, os bombeiros e seus fa-miliares realizaram uma manifestação em frente à Alerj (Assembleia Legislati-va do Rio) com cerca de seis mil pessoas e seguiram em passeata até o quartel central, onde fizeram uma assembleia. Decidiram então ocupar o quartel para forçar uma negociação com o coman-dante da corporação.

RepRessão O que se seguiu foi um show de

covardia. O comandante do Corpo de Bombeiros se negou a negociar. Os bom-beiros, por sua vez, disseram que não negociariam com a PM, e sim com o comando de sua corporação. O gover-no, na figura do comandante da PM, Mário Sérgio Duarte, ordenou a invasão no quartel pelo Bope (já que um setor da polícia tinha se recusado a fazê-lo), que entrou atirando com arma de fogo, jogando bombas de gás lacrimogêneo

e usando spray de pimenta, sem se im-portar com os civis e crianças que lá estavam. Após longa negociação, os bombeiros aprovaram a rendição como tropa (ou seja, uma rendição coletiva), e então 439 deles foram presos. Uma esposa perdeu o filho (aborto indese-jado), e os policiais que comandavam a operação se negaram a providenciar uma ambulância. Os presos foram para o quartel central da PM, depois para a Corregedoria, onde ficaram por mais de 16 horas sem alimentação, sem roupa de frio e sem a menor condição de higiene.

Até o fechamento desta edição, os profissionais do Corpo de Bombeiros estavam em greve, acampados na porta da Alerj, exigindo, além de reivindica-ções salariais e melhores condições de trabalho, a libertação imediata dos 439 companheiros, sem nenhuma punição.

solidARiedAde entRe os tRAbAlhAdoRes

Desde o início do movimento, a CSP-Conlutas tem apoiado a luta dos bombei-ros, fazendo cartas à população, convo-catórias nos quartéis, adesivos, cartas de apoio, além de assistência jurídica aos presos, até a visita de Cyro Garcia ao quartel do Humaitá. Entendendo que a luta dos trabalhadores é a mesma, os bombeiros levaram sua solidariedade aos 13 perseguidos políticos presos no ato contra Obama, com a ida do cabo Fausto de Paula no ato na Associação Brasileira de Imprensa, em 19 de maio.

Não é a primeira vez que Sérgio Ca-bral trata como criminosos aqueles que lutam pelos seus direitos. Foi assim com os profissionais de educação em 2009, que receberam bombas em sua mani-festação; foi assim com as vítimas do Morro do Bumba, onde até crianças fo-ram alvo do spray de pimenta; foi assim com os manifestantes contra a visita de Obama, em que a polícia prendeu 13 pessoas, em sua maioria militantes do PSTU, e as manteve em presídios.

A luta dos bombeiros continua, com cada vez mais apoio da população. Bas-ta ver a pesquisa do jornal Folha de S. Paulo que afirma que 85% da população apoia essa luta. Por isso, hoje a popula-ção carioca foi chamada a demonstrar seu apoio, usando roupas vermelhas e colocando bandeiras vermelhas em suas janelas como sinal de protesto.

Somos todos bombeiros! Libertação imediata dos 439 presos!Negociação já, com atendimento de

todas as reivindicações!Nenhuma punição aos bombeiros!

Nem tudo são flores

Editorial2

Somos todosSaMUEL toSta

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pstu do Rio de JAneiRo

coMo está A situAção dos pResos?Quando eles foram para a Correge-

doria, todos ficaram sem acomodação em salas vazias, com alimentação limi-tada ao que os familiares passavam pelo portão. Comeram pão e guaraná, em vez de almoço e jantar. Depois, oito deles foram para o GEP [Grupamento Prisio-nal dos Bombeiros], e os outros foram para quartéis normais. Hoje eu visitei meu marido no GEP, ele está bem. Lá é como se fosse uma prisão comum, com celas, e não temos acesso a eles. As visitas são duas vezes por semana, com tempo restrito, e não tem como ficar sozinho com o familiar.

QuAl e o sentiMento dos fAMiliARes?Primeiro, é um sentimento de orgu-

lho por ter esses heróis como parentes. Em segundo lugar, um sentimento de não poder reagir. Não temos informa-ções e não podemos levar o que eles precisam. Nos sentimos perdidos.

o Que As fAMÍliAs estão fAzendo?Estamos criando uma comissão para

dar suporte aos familiares e dar orienta-ções jurídicas. O Comando Geral da PM não deu nenhuma informação de onde eles estão. Por isso estamos organizan-do também um levantamento com os parentes para saber a localização dos detentos que estão sendo tratados como bandidos. A ideia é colocar todas essas informações no nosso site.

“Governo vem dialogando com bombas e gás lacrimogêneo”

pstu do Rio de JAneiRo

QuAis são As ReivindicAções dos boMbeiRos?

Cleber - Queremos piso salarial de R$ 2 mil, hoje nosso salário é de R$ 950. Queremos vale-transporte e fim da po-lítica de gratificação, que escamoteia a necessidade de aumento salarial.

QuAis foRAM As Atitudes do goveRno do estAdo eM RelAção Às ReivindicAções dA cAtegoRiA?

Cleber - Desde o início do movimento, tentamos cumprir a ordem hierárquica, mas o ex-comandante geral se negou a receber nossos representantes. E o gover-nador manteve essa postura, tratando o movimento como desnecessário e ilegal.

Vem dialogando com bombas, gás lacrimogêneo, spray de pimenta e ar-mamento letal. Está dialogando com o Bope contra os bombeiros.

expliQue o Que ocoRReu entRe sextA-feiRA e A MAnhã de sábAdo, diA 3

Cleber - A afirmação do governo de que o movimento é de uma minoria e com motivação política se mostrou falsa. Havia milhares de bombeiros na sexta-feira. E hoje estamos na Alerj, num do-mingo, com uma grande mobilização

de bombeiros, mesmo com a baixa de 439 presos políticos. Todos os problemas são única e exclusivamente resultado da falta de abertura de diálogo pelo coman-do geral da corporação e do governo do estado. A nossa movimentação já vinha há muito tempo, e as únicas respostas verbais que tínhamos do governador eram ironias e coisas sem importância. Isso fez com que nós, manifestantes, tivéssemos que nos esforçar cada vez mais para chamar a atenção da socie-dade. Na sexta optamos por entrar no nosso quartel central para nos manter organizados, ter os ânimos e emoções sob controle e buscar abrigo. O governo do estado, vendo a ampla repercussão e o apoio do conjunto dos bombeiros e da sociedade, mandou o Bope e a tropa de choque, com todo o seu aparato, para tentar dispersar a mobilização. Diante da invasão no quartel, utilizando princi-palmente bombas de gás lacrimogêneo, muitos tiveram que sair para fugir do gás e não puderam regressar. Os que ficaram foram presos. Toda a violência dessa ação foi feita tendo mulheres e crianças no local.

QuAl é A situAção dos pResos?Cleber - Ontem advogados da OAB

tiveram muita dificuldade para ter

acesso aos presos políticos. Os celu-lares foram tomados. A falta de acesso que a PM impôs aos presos permitiu que eles ficassem sem as mínimas condições de permanência no local. Faltaram direitos básicos, como rou-pas, comida, banho, cama e acesso a banheiros.

Leia abaixo entrevista com o cabo Cleber de Araujo Rosa, uma das lideranças do movimento

“Repressão tem que acabar”

pstu do Rio de JAneiRo

coM os ÚltiMos AconteciMentos, coMo está A MobilizAção dos boMbeiRos e ApoiAdoRes?

Cyro - O governo agiu com toda tru-culência contra uma movimentação le-gítima dos bombeiros. Hoje vários seto-res do movimento social vieram trazer solidariedade, todos os quartéis estão mobilizados. São 17 mil bombeiros mo-bilizados, respeitados pela população, que o governador trata como se fossem bandidos.

coMo o goveRno está tRAtAndo essA MAnifestAção?

Cyro - A polícia de Sérgio Cabral já jogou spray de pimenta até em uma criança de quatro anos, no meio de uma mobilização dos moradores do Mor-ro do Bumba. Agora mandou o Bope reprimir os bombeiros com bombas e tiros de fuzil. Ele faz isso contra todas as mobilizações de trabalhadores. Isso tem que acabar. Sérgio Cabral, com sua atitude fascista, está tratando os bom-beiros com a violência que tem marcado seu governo.

Cyro Garcia, presidente do PSTU-RJ, fala sobre a greve dos bombeiros

“Temos orgulho desses heróis”Leia a entrevista com a esposa de um dos líderes do movimento. Seu nome foi omitido para preservá-la

bombeiros!> número 425 > de 9 a 29 de junho de 2011 3

com bombas e gás lacrimogêneo”

bombeiros!

SaMUEL toSta

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Ailson MAtiAs, de nata (Rn)

A visibilidade que o tema da educação ganhou após a massiva exibição da fala da professora Amanda Gurgel,

durante uma audiência pública na As-sembléia Legislativa no Rio Grande do Norte, rendeu convites para entrevistas e debates com a professora.

“Tamanha exposição na mídia local e nacional, para mim, não faria sentido se não fosse o objetivo fortalecer a luta em defesa da classe trabalhadora”, afir-ma a professora. Amanda avalia que a importância da repercussão está na pos-sibilidade concreta de contribuir junto com a CSP-Conlutas na articulação de um movimento unificado em defesa da educação pública e em da campanha dos 10% do PIB já para educação. “Te-nho recebido convites de sindicatos e outras organizações do país inteiro e atenderei aos que puder desde que es-teja clara a possibilidade de uma inter-venção na mobilização e organização dos trabalhadores”, diz.

JoRnAdA eM defesA dA educAçãoA professora iniciou a sua agenda no

dia 25 de maio em Fortaleza, apoian-do a greve dos professores municipais que ainda não iniciaram o ano letivo de 2011, devido ao não cumprimento do estatuto do magistério e da lei do piso. A professora Amanda ocupou, junto com os professores grevistas, a Câmara Municipal para barrar os ata-ques da prefeita Luizianne Linz (PT). A professora foi recebida com entusiasmo pelos professores, e chegou a discursar do alto da tribuna da Câmara.

Depois, no dia 28, Amanda Gurgel fez uma participação no Congresso do Sepe, o sindicato dos educadores do estado. Na sua fala, além de reforçar a campanha em defesa do investimen-to de 10% do PIB já para a educação, ressaltou a importância dos ativistas

estarem atentos ao potencial de mobi-lização das redes sociais e, sobretudo a possibilidade de conciliação entre o modelo moderno – via web – e o mo-delo clássico – nas ruas – de mobilizar as massas.

Já no dia 30 de maio, Amanda foi a Florianópolis prestar solidariedade aos trabalhadores em greve. Ela parti-cipou de ato público que reuniu 2 mil professores e a sua intervenção acabou virando um debate em praça pública, no qual os cerca de mil professores compartilharam com a professora suas angústias, frustrações e questionamen-tos. “O custo de vida aqui é muito alto e eu nunca imaginaria que muitos deles ganham ainda menos do que ganhamos no Rio Grande do Norte. Mas me sinto muito orgulhosa por ver a mobilização que está sendo feita aqui. O governa-dor deveria respeitar isso”, disse em entrevista a uma rádio. Amanda foi carregada pelos professores, que exibi-ram ainda cartazes escritos “obrigado Amanda”, em agradecimento ao apoio à mobilização no estado.

No dia seguinte, Amanda esteve em Belo Horizonte, onde iniciou seu dia na UFMG, em uma atividade organizada pela ANEL. O tema: o caos em que se encontra a educação em Minas Gerais e no Brasil. Foi mais uma ocasião em que os participantes compartilharam suas experiências e uma série de de-poimentos como o de uma estudante de Letras, estagiária em escola da rede básica e filha de professora que disse que sua mãe “não consegue trabalhar só um turno para sobreviver, sempre trabalhou em casa nos finais de sema-na, ainda mais depois da implementa-

ção do boletim que a prefeitura utiliza como carro chefe de propaganda, e há 5 anos toma remédio para dormir”.

À tarde Amanda participou de as-sembléia do Sind-UTE que deflagrou estado de greve com previsão para dia 8 de junho. À noite, ainda realizou pa-lestra na sede do Sind-REDE, em que mais uma vez se manifestou o senti-mento de identidade das pessoas com os elementos levantados pela professora.

Nesses dias agitados, Amanda Gur-gel pôde constatar que, de norte a sul do Brasil, se repete a situação de caos sofrida pela professora no Rio Grande do Norte. Fato que, provavelmente, im-pulsionou a repercussão do vídeo.

Amanda Gurgel percorre o país em apoio às greves dos professores

Em vários estados, os professo-res se mobilizam e partem para a greve em busca de melhores con-dições. Professores de Santa Cata-rina, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Amapá estão parados. Quando fechávamos essa edição, os professores do Rio de Janeiro iniciavam sua greve por tempo in-determinado. Espírito Santo, Mato Grosso e Pernambuco estavam em estado de greve. Além disso, pro-fessores de diversos municípios como Fortaleza, também estavam parados.

A professora Amanda Gurgel agora tem blog. Além de acompa-nhar a agenda e notícias da pro-fessora do Rio Grande do Norte, professores de todo o país pode-rão também gravar e enviar seus próprios vídeos, falando sobre a situação da educação em sua ci-dade e estado.

http://blogdaamanda.com.br/A Coordenação Nacional da CSP-Conlutas se reuniu nos dias 3 e 5 de junho em São Paulo e aprovou o pró-ximo dia 16 como um dia nacional de luta. Os trabalhadores em educação poderão realizar atividades ao longo desse dia que expresse a mobiliza-ção do setor. Vale desde greve, as-sembleia, ocupações ou mesmo aulas públicas.

Realizar um expressivo dia 16 vai animar bastante as inúmeras lutas que ocorrem todo o país, seja na educação ou em diversas outras categorias.

A reunião da coordenação aprovou

ainda a rejeição do Plano Nacional de Educação (PNE) apresentado pelo go-verno. A central deliberou a rejeição do plano “que materializa políticas privatistas e meritocráticas na educa-ção”. A CSP-Conlutas aprovou ainda a elaboração de uma proposta alterna-tiva, que represente os interesses dos trabalhadores, inclusive dando conta da educação no campo.

A CSP Conlutas aprovou também a participação no “Plebiscito pelos 10% PIB para Educação já, rumos aos 15%”, com data indicativa para o dia 7 de setembro.

Professora do Rio Grande do Norte visita Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis e Belo Horizonte para debater a educação, fortalecer as greves e impulsionar a campanha dos 10% do PIB já para educação

Greves no país

Amanda agora tem blog!

Confira onde a professora vai estar durante o mês de junho:- Paraíba: dia 9- Paraná: dia 11- Brasília: dias 15 e 16 (manifesta-ção dos servidores federais)- Teresina: dia 18

- Rio de Janeiro: dias 23 e 24 (Con-gresso da ANEL)- Recife: dia 28

Agenda

Dia 16 vai ser dia nacional de luta

Movimento Educação

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15ANOS

encarte especial

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Encarte especial6

BERNARDO CERDEIRA, jornalista, da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional e primeiro editor do jornal “Convergência Socialista”

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2008

2009

2010

O jornal e a organização mudam para Alicerce da Juventude Socialista. A diagramação tem referência nos quadri-nhos e fanzines e muitas ilustrações. Além da luta contra o regime, temas como juventude e comportamento.

Militantes da Liga Operária participam da redação do jornal Versus, um dos principais veículos da imprensa alternativa, com forte conteúdo cultural e político. Entre 1978 e 1979, o jornal passa a se chamar Versus-Convergência Socialista, chamando um partido socialista.

Impresso no exterior, em mimeógrafo, o “Independência Operária” é lançado em fevereiro de 1974. À esquerda, capa comemora-tiva dos 4 anos.

O ascenso nas Diretas Já, com onda de greves e luta contra os pelegos nos sindicatos aceleram a volta da “CS”, em maio.

O jornal passa a se chamar Convergên-cia Socialista e narra as greves no ABC.

No segundo turno (Lula X Collor), o CS assume uma versão agitativa, com menos páginas e formato standart, como nos principais jornais. O preço também é reduzido. A experiência dura até meados de 1990, quando começam os ataques do governo Collor. Nasce o Jornal do PSTU

A CS completa 18 anos e o jornal ganha novo projeto e uma campanha de assinaturas.

Em maio de 2004, o Opinião Socialista inaugura uma nova fase, acompanhando a mudan-ça na realidade do país, com o governo Lula. Passa a semanal, todo em cores, e em novo formato.

Em junho, o Opinião Socialista publica uma edição especial sobre os 15 anos do PSTU. A edição tem duração de um mês, e vende cerca de 15 mil exemplares

Em 31 de maio de 1996, é lançado o primeiro número do Opinião Socialista.

1974

Linhado tempoMuitos jornais,uma só tradição

1996

O Opinião é herdeiro de uma tradição de mais de 35 anos de imprensa revolucionária no país

imprensaNossa

Ojornal chega onde os militantes muitas vezes não conseguem chegar, e com ele, o partido. Por

isso, nossa corrente sempre deu muita importância ao jornal. Nosso primeiro jornal foi o “Independência Operária”, com seu primeiro número editado em 1974, na Argentina. Significou o ponto de partida para a construção no Brasil da corrente Liga Operária, que deu origem à Convergência Socialista. Foi publicado até o começo de 1978.

Os nomes dos jornais foram mudan-do, de acordo com o nome que nosso partido foi adotando em cada momento. Mas seu conteúdo e a seriedade com que era feito sempre permaneceu. Por isso, podemos nos orgulhar de ser uma das únicas correntes de esquerda no Brasil a manter por mais de 35 anos uma im-prensa regular e acessível aos trabalha-dores e estudantes.

Independência Operária: quatro anos de lutas!

Em fevereiro de 1974 nasceu o “In-dependência Operária”. Escrito nas ve-lhas e boas máquinas de escrever, ti-nha entre 6 a 8 páginas, saía quando dava, e era impresso em mimeógrafo, em papel sulfite. Os dois primeiros nú-meros foram impressos no exterior. Com

uma apresentação gráfica muito boa, seu conteúdo dedicava-se a conjuntura em geral, refletindo o afastamento da luta de classes.

Mas nem por isso tinham uma visão incorreta da realidade. Em seu segun-do número, de março de 1974, já trazia um chamado aos “trabalhadores, es-tudantes e todos os que estão contra a ditadura a lutar pela recuperação das liberdades democráticas” e pela defesa do nível de vida.

Somente seis meses depois surgiu a terceira edição, com modificações. De um lado, na forma: passou a ser totalmen-te feito no Brasil e, por não contar com infra-estrutura, em mime-ógrafo a álcool. Mas, por outro lado, mos-trou que a partir da-quele momento (outu-bro de 1974) começava a se integrar na luta de classes do país.

O ano de 1975 se inicia com um violento ataque, contra vários militantes do PCB. O Indepen-dência Operária lançou um número es-pecial e um manifesto, pela liberdade imediata dos presos.

Convergência Socialista na luta de classes

A partir de março de 1979 surge o “Convergência Socialista”, tablóide com 8 páginas, em papel jornal. O número

zero traz o artigo “Estamos aprendendo tudo de uma vez só”, de Arnaldo Schrei-ner e Romildo Raposo, com a cobertura da greve metalúrgica em São Bernar-do do Campo, São José dos Campos e Jundiaí. O número 1 sai em julho, com notícias sobre o Movimento Negro Uni-ficado; e o número 2 na segunda quin-zena, com matéria de capa sobre a Ni-carágua, com o título “Todo Poder aos Sandinistas”. O número 3, em agosto de 1979, traz editorial sobre a construção do Partido dos Trabalhadores.

Em junho de 1980 o jornal lança cam-panha nacional pela devolução do Sindi-cato do ABC. Seria “parte da luta pela independência dos sindicatos do Estado, para que não haja mais intervenções e interferências do go-verno dos patrões sobre os sindicatos”. Noticia também o 1º Encontro Nacional do

PT e defende “um partido classista, sem patrões”.

Na primeira quinzena de julho, o Convergência analisa que o Brasil, a partir de 1977, vivia uma mudança na disposição das massas para lutar. A prin-cípio entre os estudantes, e depois em setores do proletariado e na classe mé-dia. Na edição seguinte, debate o papel dos socialistas nesta conjuntura e exige eleições livres.

Em setembro de 1980, o CS 20 traz reportagem sobre o ato em homenagem a Trotsky, no dia 29 de agosto. O ato em São Paulo reuniu representantes da OSI (Organização Socialista Internaciona-lista), que publicava o jornal “O Traba-lho”, e da CS, além de trotskistas histó-ricos como Hermínio Sachetta, Fúlvio Abramo, José Maria Crispim e Maurício Tragtenberg. O Rio de Janeiro também sediou um ato, com Mário Pedrosa e Edmundo Moniz, Elizabeth Huggins, e os ex-militantes da LCI (Liga Comunista Internacionalista), primeira organização trotskista no Brasil, Norma Muniz, Bar-reto Leite e Cursino Raposo.

Alicerce e as Diretas já! O “Alicerce” 31, em novembro de

1983, traz na capa: “Aqui, como na Argentina, eleições diretas para presi-dente”. A campanha será mantida nos números seguintes. Em dezembro, o Alicerce anuncia a unificação de CS e “Alicerce” no “Alicerce da Juventude Socialista”. “Nos unimos pela necessi-dade de construir um partido socialista e revolucionário, parte do combate pela construção de uma organização revolu-cionária dos trabalhadores do mundo inteiro: a IV Internacional”.

Na edição 49, em abril de 1984, o jornal publica uma resolução política, apontando que a estratégia para derru-bar a ditadura é greve geral pelas Dire-tas e contra a fome. Defende unificar a campanha das Diretas com mobilizações mínimas, as campanhas salariais, e o boicote ao colégio eleitoral. E, como pro-paganda, defende o não pagamento da dívida externa e Lula para presidente, com a palavra de ordem “por um gover-no dos trabalhadores”.

O jornal explica a retomada da “Con-vergência Socialista”: “Quando o ascen-so dos trabalhadores se coloca no centro da situação política, o retorno da Con-vergência Socialista se faz necessário. Não somente uma organização para a juventude, mas a organização política vinculada às tradições da classe operá-ria, uma ala socialista da CUT e do PT

Os nomes dos jornais foram mudando. Mas seu conteúdo e a seriedade com que era feito sempre permaneceu

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O jornal e a organização mudam para Alicerce da Juventude Socialista. A diagramação tem referência nos quadri-nhos e fanzines e muitas ilustrações. Além da luta contra o regime, temas como juventude e comportamento.

Militantes da Liga Operária participam da redação do jornal Versus, um dos principais veículos da imprensa alternativa, com forte conteúdo cultural e político. Entre 1978 e 1979, o jornal passa a se chamar Versus-Convergência Socialista, chamando um partido socialista.

Impresso no exterior, em mimeógrafo, o “Independência Operária” é lançado em fevereiro de 1974. À esquerda, capa comemora-tiva dos 4 anos.

O ascenso nas Diretas Já, com onda de greves e luta contra os pelegos nos sindicatos aceleram a volta da “CS”, em maio.

O jornal passa a se chamar Convergên-cia Socialista e narra as greves no ABC.

No segundo turno (Lula X Collor), o CS assume uma versão agitativa, com menos páginas e formato standart, como nos principais jornais. O preço também é reduzido. A experiência dura até meados de 1990, quando começam os ataques do governo Collor. Nasce o Jornal do PSTU

A CS completa 18 anos e o jornal ganha novo projeto e uma campanha de assinaturas.

Em maio de 2004, o Opinião Socialista inaugura uma nova fase, acompanhando a mudan-ça na realidade do país, com o governo Lula. Passa a semanal, todo em cores, e em novo formato.

Em junho, o Opinião Socialista publica uma edição especial sobre os 15 anos do PSTU. A edição tem duração de um mês, e vende cerca de 15 mil exemplares

Em 31 de maio de 1996, é lançado o primeiro número do Opinião Socialista.

1974

Linhado tempoMuitos jornais,uma só tradição

1996

– enfim, a Convergência Socialista”. A partir daí, o jornal volta a chamar-se Convergência Socialista.

CS e o ascenso sindicalO CS 8, de julho de 1984, aanlisa que

o Brasil vivia uma onda de lutas revo-lucionárias, que decretavam a agonia do regime e poderiam tê-lo derrubado, não fosse a traição das oposições bur-guesas. Eram também lutas contra a fome, com ocupações de fábricas e que também começam a desmantelar a es-trutura sindical pelega.

“Essa revolução começou com os gigantescos atos pelas diretas de antes de 25 de abril e segue agora com a onda grevista. O seu primeiro choque se dá contra o regime militar ditatorial, assu-mindo um caráter imediato de revolução

democrática, para, em seguida, avançar dentro do processo de revolução socia-lista, para a derrubada da burguesia (...). Na verdade, o processo brasileiro faz parte da mesma onda revolucionária que derrubou as ditaduras boliviana e argentina e que hoje golpeia as ditadu-ras no Chile, no Uruguai e até mesmo no Paraguai”.

“As mobilizações salariais que come-çaram em meio à campanha das diretas continuam generalizando os métodos mais revolucionários de luta. Assim, os bóias-frias incendeiam os canaviais, fazem piquetes armados e pequenos le-vantes: os operários tornam comum o

método das ocupações de fábricas”. Por fim sistematiza: Governo do PT, da CUT e da Conclat. Não pagamento da dívida externa. Assembléia Constituinte livre e soberana, já!

O CS 30 sai em março de 1985, logo após o IX Congresso da Convergência Socialista, o primeiro após a queda da ditadura. Prevê que o novo governo ten-tará frear as lutas e greves salariais. E lança a pergunta se a burguesia terá su-cesso em deter as mobilizações, apoiada na expectativa dos trabalhadores com o governo de Tancredo Neves.

O CS 49, em julho de 1985, informa que o argentino Nahuel Moreno, expulso pela ditadura, volta ao Brasil. O princi-pal dirigente da Liga Internacional dos Trabalhadores havia sido preso em 1978, após a convenção do Movimento Con-vergência Socialista. É extraditado para a Colômbia e impedido de retornar ao Brasil. Em 9 de julho de 1985, o decreto de expulsão é revogado pelo então pre-sidente José Sarney, no Diário Oficial.

A partir do número 77, de março de 1986, o CS sai com um subtítulo: “Um jornal operário e socialista a serviço da CUT e do PT”, e traz ampla cobertura das greves da classe trabalhadora e de sua reorganização, com a expulsão de pelegos dos sindicatos. O CS 83 (maio de 1986) inicia série de artigos sobre a Constituinte, debate que tomava conta do país e que resultaria na Constitui-ção de 1988.

Uma opinião socialista Em junho de 1996 nascia o Opinião

Socialista, novo jornal do PSTU. Durante dois anos, desde a fundação do partido, o “Jornal do PSTU” ocupara o honroso posto de um dos mais regulares órgãos de imprensa da esquerda brasileira e fora fundamental para a consolidação desse novo partido e o seu projeto de defesa intransigente das reivindicações dos trabalhadores diante da ofensiva neoliberal e de defesa do socialismo. Mas a historia do Opinião não começa em 1996. Pode-se dizer que o jornal é herdeiro de uma longa tradição da im-prensa revolucionária no país. Algo que muito nos orgulha, nestes seus 15 anos.

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Encarte especial8

J ornal Nacional, 2 de junho. Logo no início, a notícia da greve dos trens da região metropolitana de São Pau-

lo. Na reportagem, o drama de milha-res de pessoas que ficaram a pé, sem ter como ir ao trabalho, ou obrigadas a enfrentar metrôs ou ônibus lotados. A matéria termina com um suspiro e o olhar reprovador de Fátima Bernardes.

Em seguida, cenas da repressão poli-cial (ou “confronto”) a um protesto de es-tudantes contra o au-mento da passagem de ônibus em Vitó-ria (ES). Fechando o bloco, o telejornal mostra sua visão so-bre a greve dos pro-fessores estaduais da Bahia. “Setenta mil estudantes das uni-versidades estaduais estão há dois me-ses sem aula”, afirma com grave tom de voz a âncora global.

Por trás de reportagens suposta-mente isentas, surge uma mensagem bem clara, ainda que não dita de for-

ma explícita por Fátima Bernardes ou William Bonner: greves só trazem preju-ízos ao povo, e mobilização é sinônimo de transtorno público.

O Jornal Nacional é tradicional por-ta-voz dos interesses do poder, a ponto de o então ditador Médici ter declarado: “cada vez que ligo a televisão no Jornal Nacional, sinto-me feliz, porque no jor-nal da Globo o mundo está caótico, mas

o Brasil está em paz. É como um tranquili-zante após um dia de trabalho”.

O telejornal da Globo é um símbo-lo, mas o exemplo pode ser generaliza-do para toda a chama-da “grande imprensa”. Todo ativista sabe que não existe imprensa

livre ou imparcial. Ela sempre tem um lado. E a imprensa lida ou assistida pela maior parte da população, contradi-toriamente, não atende aos interesses dessa maioria.

A mídia burguesa e o seu papelA imprensa é um genuíno produto

do capitalismo moderno. Surgiu e se ex-pandiu com a própria burguesia, princi-palmente após a Revolução Industrial. Mas foi apenas no século 19 que o jor-nalismo adquiriu sua forma atual, com jornais de tiragem massiva, tornando-se não só um propagador de ideias, mas também um negócio rentável.

Um dos pioneiros da imprensa nos EUA, o empresário William Hearst, ins-pirador do filme “Cidadão Kane”, tinha um lema: “Ninguém perde dinheiro ao subestimar a inteligência do público”. Expressa dessa forma o início da era dos tablóides sensacionalistas, verdadeiros instrumentos de alienação travestidos de informação.

Numa era em que os regimes despó-ticos das monarquias foram substituí-dos pela democracia liberal, tornou-se necessário criar eficazes ferramentas de propaganda ideológica. Foi preciso es-tender para toda a sociedade o domínio das mentes exercido antes pela velha Igreja Católica entre as comunidades de camponeses. Os meios de comunicação

Apesar de proibido, 21% dos senadores e 10% dos deputados federais detêm concessões de rádio ou TV

versus

Por trás do discurso da imparcialidade, a chamada grande imprensa esconde o seu real caráter de classe

imprensa operáriaImprensa burguesa

“Deveria recorda-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês é um instrumento de luta movido por idéias e inte-resses (...). Tudo o que se publica é constantemente influencia-do por uma idéia: servir a clas-se dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora.

É preciso dizer e repetir que a moeda atirada distraidamen-te para a mão do ardina é um projétil oferecido ao jornal bur-guês que o lançará depois, no momento oportuno, contra a massa operária.”

Antônio Gramisci, O jornal e os Operários

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deram a resposta a isso.Porém, a mídia só iria se tornar um

dos principais sustentáculos ideológicos da burguesia no decorrer do século 20, com o avanço dos meios de comunica-ção de massa. O cinema, o rádio e a tele-visão foram, nas sociedades industriais, fundamentais para o estabelecimento de um “consenso”, que na verdade expres-sava a hegemonia da burguesia.

Assim como todos os setores da eco-nomia na fase imperialista do capita-lismo, as empresas de comunicação também sofreram um violento processo de concentração. Hoje, existem grandes oligopólios com tentáculos em todas as vertentes de mídia. O dono da rede Fox, Rupert Murdoch, um dos homens mais ricos do mundo, é o Hearst moderno. Monopólios tomados agora também pelo capital financeiro, num entrelaçamento de interesses e poder em que já não se pode determinar quando começa um e termina outro.

Atualmente, apenas 20 grandes transnacionais de mídia controlam quase toda a informação produzida no planeta, segundo o professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e estudioso da mídia Denis Moraes.

Monopólio e coronelismo midiático no Brasil

No Brasil, grandes monopólios de mídia dominados por poucas famílias convivem com feudos regionais, verda-deiros coronéis da mídia que se utilizam da imprensa para se perpetuarem no poder. Contam, para isso, com uma das legislações mais permissivas do mun-do, que não coloca qualquer barreira à concentração no setor e à propriedade cruzada de veículos de comunicação. Assim, uma mesma família que con-trola um grande jornal, também pode ter emissoras de rádio e TV e um portal na internet.

Quando a legislação impõe certos limites, por outro lado, é devidamen-te ignorada. Como na propriedade de emissoras de rádio e televisão por parla-mentares. Apesar de proibido, 21% dos senadores e 10% dos deputados federais detêm concessões de rádio ou TV, se-gundo levantamento do Transparência Brasil. Isso sem falar em políticos que passam o nome dessas concessões para parentes ou laranjas.

O mito da imparcialidade

No capitalismo, a mídia sob contro-le dos grandes conglomerados passa a visão de mundo da burguesia. Defende os interesses da classe dominante como os interesses de toda a sociedade. Foi assim, por exemplo, durante as priva-tizações ao longo da década de 90 no

Brasil. A imprensa construiu um grande consenso em torno da necessidade da venda das estatais à iniciativa privada. Tornou-se ideia majoritária que o Estado era incompetente e perdulário e deveria ser “enxugado”.

Campanha parecida pode ser ob-servada hoje sobre a reforma da Pre-vidência Social ou a “necessidade” de uma reforma trabalhista que torne o país mais “competitivo”. A imprensa de forma geral não explica como funciona ou é financiada a Previdência pública, apenas se preocupa em alardear seu suposto déficit. A lógica se lê nas entre-linhas: é preciso uma reforma.

Não teria efeito algum, porém, se a imprensa burguesa assumisse de forma explícita a defesa desses interesses. Ao contrário, poderia causar uma reação inversa. É preciso esconder. Para isso foi elaborada uma grande ideologia pró-pria à imprensa: o mito da imparciali-dade e da objetividade jornalística. Um conjunto de técnicas desenvolvido para transformar um texto, ou um discurso, em “verdade”. Segundo essa lógica, o jornalista seria um observador neutro com o objetivo apenas de divulgar os

fatos tal como os percebe.A estrutura do texto jornalístico que

podemos ler, por exemplo, na Folha de S. Paulo ou em qualquer outro grande jornal, é copiada de um padrão conso-lidado nos EUA. São matérias impes-soais, frias, com a objetividade de um documento de cartório. É o pacote que embala a ideologia burguesa. Não é à toa que o professor Perseu Abramo, editor da Folha no final dos anos 1970, afirmava que um jor-nal possuía a estrutu-ra de um partido po-lítico, com suas teses e manifestos, mas de forma camuflada.

Os trabalhadores e a imprensa

Desde que come-çaram a se organizar de maneira indepen-dente, os trabalhado-res viram a importân-cia de terem seus pró-prios meios de comunicação. Isso sig-nifica que a imprensa operária “surgiu com o próprio movimento operário”, na definição de Maria Nazareth Ferreira, pesquisadora do tema.

Ela vai ter, assim, um desenvolvi-mento específico de acordo com o pro-cesso de formação do movimento dos trabalhadores em cada país. No Brasil, os primeiros jornais surgiram já no sé-culo 19, com as primeiras fábricas no irregular processo de industrialização do período. É uma imprensa que cres-ce com o movimento sindical, sob forte influência imigrante, sobretudo italia-na, e de orientação anarcossindicalista.

Esse tipo de jornal chegou a ter certa força e influência. Segundo Vitor Gian-noti, em 1919, período de grandes gre-ves que agitaram várias capitais, foram criados dois jornais operários diários, “A Plebe”, em São Paulo, e “A Hora So-cial”, no Recife.

A partir da década de 1920, com a fundação do PCB e seu crescimento no movimento operário, o anarquismo deu lugar à imprensa comunista. Nos anos 1940, de 1946 a 1947, as principais capitais contavam com jornais diários do “partidão”, com o carioca “Tribuna Popular” tendo uma tiragem de 20 mil jornais, comparável ou superior a certos jornais burgueses.

Já no período da ditadura militar ins-taurada em 1964, a chamada “imprensa alternativa” cumpriu um importante papel num momento em que os jornais dos partidos de esquerda eram clandes-tinos ou simplesmente não encontravam possibilidades de existir. Jornais como “Movimento”, “Versus” e “Coojornal”

funcionavam como verdadeiras “frentes jornalísticas”, abrigando em suas reda-ções jornalistas de distintas tendências políticas. Atuavam, sobretudo, na classe média e no meio estudantil.

No final dos anos 1970, com o iní-cio da queda da ditadura e o ascenso operário no ABC, a imprensa alterna-tiva foi substituída por uma série de jornais das organizações que saíam da clandestinidade. Foi o caso da recém-

fundada Convergên-cia Socialista. Junto a isso, a imprensa sindical também ga-nhava novo impulso, com as oposições ex-pulsando os pelegos das entidades.

Uma imprensa de esquerda

Pode-se dizer que a imprensa operária tem as suas próprias características, dis-

tintas da imprensa burguesa. Primeiro, se define de forma clara como uma im-prensa que tem um lado. Não há disfar-ces nem ilusão de imparcialidade. Seus jornalistas são produzidos pelo próprio movimento operário. Assim, antes de jornalistas, são ativistas comprometidos com a classe trabalhadora.

O Opinião Socialista, apesar de seus breves 15 anos, se inscreve nessa lon-ga tradição de imprensa operária. Uma tradição, infelizmente, abandonada pela quase totalidade das organizações que um dia reivindicaram a estratégia da revolução socialista, mas que com o passar dos anos se acomodaram com a perspectiva meramente eleitoral.

Atualmente, apenas 20 grandes transnacionais de mídia controlam quase toda a informação produzida no planeta

Jornal anarquista do início do século XX, chegou a ter criculação diária

Sob o mito da imparcialidade, grande imprensa representa os interesses da burguesia

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Encarte especial10

O vídeo em que Amanda Gurgel cala os deputados estaduais do Rio Grande do Norte foi visto por

quase 2 milhões de pessoas no Youtube. Sua entrevista no Domingão do Faustão foi transmitida para aproximadamente 40 milhões de telespectadores. Por ou-tro lado, a edição do Opinião Socialista que tinha a mesma Amanda na capa foi de 9 mil exemplares, um número bastante reduzido, se comparado com os incríveis indica-dores da internet e da TV.

A pergunta que surge é inevitável: em um mundo dominado pelas “novas mídias”, tem sentido a publi-cação de um jornal de papel e ainda por cima com uma edição tão pequena? Não se-ria muito melhor abo-lir o jornal e investir todos os esforços em um grande site ou na produção de vídeos “virais”, que se espa-lhassem rapidamente pela internet e levas-sem aos trabalhado-res as ideias do par-tido? Por que, no início do século 21, os militantes do PSTU insistem em andar com um bolinho de jornais debaixo do braço e oferecê-los às pessoas?

Para responder a essas questões, é preciso entender o que é o jornal e qual o seu papel para um partido revolu-cionário.

Para que o jornal?Qualquer operário sabe que é im-

possível trabalhar sem ferramentas.

Por mais simples que seja a tarefa, ela não pode ser realizada sem a ajuda de algum tipo de instrumento: pá, enxa-da, prumo etc. Para um operário, usar as ferramentas disponíveis não é sinal de incapacidade ou inexperiência. Ao contrário, é uma demonstração de in-teligência e bom senso. O que fariam, por exemplo, os operários de uma obra se vissem que o jovem servente que acabou de ser contratado não quer utili-zar nenhuma ferramenta? Ele quer me-dir a largura das aberturas das portas com seus próprios passos, ao invés de usar a trena; quer fazer o reboco das

paredes “no olho”, ao invés de usar o pru-mo. Ora, é óbvio que os outros pedreiros iriam rir muito des-se novo colega, e de-pois lhe dariam um conselho de amigo: “experimente usar ferramentas!”

Os operários uti-l izam ferramentas por um motivo sim-ples: porque que-rem fazer um bom trabalho e não uma gambiarra. À medida que um trabalhador vai se qualificando em sua função, ao invés de abandonar as ferramentas, ele faz exatamente o contrário: quer cada

vez mais e melhores ferramentas. O mestre de obras já não se contenta com o prumo normal. Ele sonha com o prumo eletrônico, ou quem sabe um dia o prumo a laser!

Com a atividade militante, acontece a mesma coisa: o “trabalho” do mili-tante é a disputa política e ideológica na base em que ele atua (sua categoria, sua empresa, seu bairro etc). O jornal do partido é a ferramenta para esse trabalho.

Uma ferramenta para a agitação“Disputa política” significa conven-

cer as pessoas das ideias e propostas do partido revolucionário que não se resumem ao que acontece em uma em-presa ou categoria. Ao contrário, elas dizem respeito, em primeiro lugar, à realidade nacional e internacional. Fora Palocci! Vamos barrar o novo Código Florestal! 10% do PIB já! Todo apoio à revolução árabe! Temos aí alguns exemplos de ideias e propostas de nos-so partido para a atual conjuntura. As

propostas de um partido revolucioná-rio para uma fábrica ou empresa são apenas o reflexo de suas ideias e pro-postas mais gerais.

Mas como eu sei quais são as prin-cipais propostas do partido para a atual conjuntura? Quem me diz isso é o jornal, sobretudo em suas páginas centrais e no seu editorial. Por isso, a primeira fun-ção do jornal do partido é ser uma fer-ramenta para o militante fazer agitação política sobre sua base. “Agitação”, como o próprio nome diz, é a arte de entusias-

Não há mágica ou jogada de marketing que transforme o jornal de um partido revolucionário em um fenômeno editorial. O caminho para a influência de massas é longo e penoso, repleto de fracassos, saltos, avanços e paradas

A pergunta que surge é inevitável: em um mundo dominado pela internet, tem sentido a publicação de um jornal de papel?

o jornal?O que é

HENRIQUE CANARY, da Secretaria Nacional de Formação

HENRIQUE CANARY,

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mar as pessoas com duas ou três ideias centrais e convencê-las a agir: passar um abaixo assinado, fazer uma greve, montar barricadas nas ruas.

Se vou para uma assembleia ou se minha categoria está em greve, posso preparar minha fala em base aos prin-cipais artigos do jornal. Posso escolher dois ou três assuntos, ou me concen-trar em apenas um. De qualquer forma, quem me diz quais são os temas mais atuais, mais importantes e quais as sa-ídas que o partido propõe é o jornal.

Uma ferramenta para a propaganda

Mas por que exatamente somos con-tra o novo código florestal? Como assim Fora Palocci? De que jeito vamos tirá-lo de lá? Quem deve julgá-lo? Será mesmo possível destinar 10% do PIB para a edu-cação? Não será demais? Não será melhor apoiar Kadafi para evitar que o imperia-lismo tome conta da Líbia? Como se vê, cada ideia ou proposta política leva a novas ideias e novas propostas, algumas bastante complicadas, que exigem mais dados, mais reflexão, mais informação.

Por isso, a segunda função do jor-nal é fazer propaganda revolucionária. “Propaganda” significa explicar deta-lhadamente alguma ideia ou proposta. Em uma assembleia ou ato público, onde as intervenções são curtas, nin-guém consegue explicar nada. Um mi-litante só tem tempo de saudar a luta, apontar alguns objetivos e propor duas ou três tarefas que ele considera impor-tante. Mas ele tem uma saída: depois de falar no microfone, ele pode circu-lar pelo plenário e oferecer o jornal do partido aos ativistas que o apoiaram ou demonstraram mais interesse. No jornal, esses ativistas encontrarão uma análise mais profunda da situação e muito mais detalhada. Eles saberão qual é o PIB do país, quanto o governo destina desse PIB para a dívida interna e externa e o que seria possível fazer com esses 10% se eles fossem investi-dos na educação.

Assim, em base ao jornal, um ope-rário pode conversar sobre educação com um bancário e este pode conver-sar sobre a Líbia com uma professo-ra; um nordestino pode conversar com um carioca sobre as enchentes em São Paulo e nas plataformas de petróleo o assunto do momento pode ser a gre-ve dos trabalhadores da CSN. O jornal torna-se, dessa forma, um elo político entre as distintas categorias e regiões. O operário, o bancário, a professora e o petroleiro entenderão que seus pro-blemas são os de todo os trabalhadores e que seus inimigos são os mesmos em toda a parte: os governos de plantão, a burguesia e o imperialismo.

Uma ferramenta para construir e organizar o partido

Ao unificar o trabalho de agitação e propaganda, o jornal assume uma terceira e importantíssima função: a de “organizador coletivo” como dizia Lênin, de ferramenta para a constru-ção partidária.

Se quero ganhar uma pessoa para o partido, lhe ofereço o jornal e a pro-curo para saber o que achou, quais são suas dúvidas, de quais campanhas está disposta a participar. Se tenho três ou quatro leitores fieis e que concordam com o partido, posso propor a eles nos reunirmos uma vez por semana para discutir o jornal e organizar alguma atividade. Já formei um novo núcleo. A partir daí o jornal será ainda mais importante. É ele que me diz por onde devo começar minha reunião, quais são as campanhas nas quais o partido está engajado, quais as tarefas que o movimento está realizando e como meu núcleo pode ajudar.

Em base a algum artigo do jornal, surge uma bela conversa na hora do almoço, na sala de aula ou mesmo ao pé da máquina. Como nessa conver-sa eu não soube responder a várias perguntas que meu colega me fez, volto para a reunião de núcleo e tiro minhas dúvidas, me preparo com no-vos argumentos para uma nova con-versa. Me torno um militante ativo, influencio pessoas, organizo meus companheiros. Com aqueles que não concordam comigo, continuo man-tendo boas relações e também vendo o jornal. Quem sabe um dia concor-dem. O partido cresce, se estrutura. Ao final, me torno aquilo que todo o militante revolucionário deve querer ser: um porta-voz dos oprimidos e ex-plorados, uma referência política, um líder do povo.

Uma ferramenta para a educação política e ideológica

Em quarto lugar, o jornal pode e deve cumprir um papel de educador político e ideológico. A burguesia en-sina aos trabalhadores tudo que é ne-cessário para que eles cumpram suas tarefas: matemática, química, geome-tria, física, planilha excel etc. Ela sabe que os trabalhadores podem compre-ender e utilizar os mais modernos mecanismos da tecnologia, operar as mais complexas e perigosas máquinas. Mas ao mesmo tempo ela enfia na ca-beça deles que eles são incapazes de entender a sociedade em que vivem: que a filosofia é chata, que a história é inútil, que a economia é complica-da demais.

Um jornal revolucionário pode e deve falar de tudo isso. Ele deve ser um

instrumento para propagar as ideias do socialismo, que é a ideologia da classe operária, a ciên cia de sua libertação. No jornal de um partido revolucioná-rio os trabalhadores devem encontrar respostas para as perguntas mais pro-fundas de nossa vida social: como eles são explorados, por que acontecem as crises econômicas, qual a razão dos conflitos no Oriente Médio.

O verdadeiro significado do jornal

A influência ou o tamanho da tiragem do jornal depende da influência e do tama-nho do partido. Não há mágica ou jogada de marketing que transforme, de repente, o jornal de um partido revolucionário em um fenômeno editorial. O caminho para a influência de massas é longo e penoso, repleto de fracassos, avanços e paradas. Para que o jornal conquiste milhões de lei-tores, o próprio partido precisa conquistar milhões de corações e mentes. Isso só será possível com um árduo e paciente traba-lho de agitação, propaganda, construção, organização e educação política.

Dissemos que o jornal é uma ferra-menta. Mas essa definição é incompleta. Se o jornal faz tanta coisa, ele é muito mais do que um simples instrumento. Se divulgar o jornal é divulgar o par-tido; se agitar as palavras de ordem do jornal é agitar as palavras de ordem do partido; se organizar meus compa-nheiros em torno ao jornal é organizá-los em torno ao partido; se a alma do partido exala de suas páginas, então a conclusão é transparente como água e descobrimos com isso a verdadeira es-sência do jornal: ele é o próprio partido.

No passado, cada partido da classe trabalhadora tinha o seu jornal. O que aconteceu com essas publicações? Se o jornal é tão im-portante, por que, então, o PSTU é praticamente a única organiza-ção de esquerda que mantém um jornal regular?

As organizações reformistas e burocráticas, como o PT e o PCdoB, não publicam jornais porque não se preocupam em elevar a consciência política e o nível de combatividade dos tra-balhadores, porque se adaptaram aos gabinetes parlamentares, aos aparatos sindicais burocratiza-dos e ao Estado burguês. Ora, para quê discutir Iraque e Afe-ganistão se isso não me ajuda e eleger deputados e vereadores? Para quê explicar aos trabalha-dores o caso Palocci se isso ques-tiona o governo Dilma, que “me deu um carguinho e me paga um dinheirinho?”

Outras organizações, como o PSOL, por exemplo, não têm jornal por um motivo distinto: porque são formadas por correntes que quase nunca concordam em nada entre si. Um jornal editado pelo PSOL não poderia se posicionar sobre a situação em Cuba, sobre as trai-ções da CUT ou sobre a legaliza-ção do aborto porque dentro desse partido não há acordo sobre esses assuntos, e nenhuma das correntes aceita se submeter à vontade da maioria. Ele seria mudo diante dos principais fatos da luta de classes.

Assim, onde muitas vozes se calaram, e onde outras jamais se levantaram, o Opinião continua emitindo seus acordes dissonan-tes. E isso há 15 anos!

Os outros partidos e seus jornais

Em seu livro, “Que Fazer?”, em 1902, Lênin formulou as prin-cipais ideias a respeito do jornal do partido revolucionário. Seu objetivo era luta implacável con-tra as tendências sindicalistas e reformistas que se expressavam em vários círculos social-demo-cratas da época (os chamados “economicistas”). Para Lênin, era essencial a criação de um “órgão central” de propaganda, agitação e organização em todo o país. Funcionando como um verdadei-ro intelectual coletivo, o jornal do partido criaria as condições para uma prática política verda-deiramente revolucionária, supe-rando o mero sindicalismo. “Sem este órgão de imprensa, o trabalho local seguirá sendo um trabalho ‘artesanal’ estreito. A formação do partido ’ se não se organiza um jornal determinado, que represen-te acertadamente a este partido ’ se reduzirá em grau considerável a simples palavras.” (Lênin - So-bre imprensa).

Lênin e o Jornal

Saiba mais

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Encarte especial12

Não há dúvidas sobre a impor-tância do uso das nos mídias difundidas na internet para o

fortalecimento e divulgação da luta dos trabalhadores, além da agitação das propostas do partido revolucio-nário. Um exemplo bastante contun-dente ocorreu no início deste ano com o processo revolucionário egípcio. A revolução derrubou o governo corrupto e ditatorial de Mu-barak.

O assassinato do jovem Khaled Said, preso, torturado e morto pelos agentes da repressão do re-gime, em junho do ano passado, como-veu todo o Egito. Seu rosto ensanguenta-do, seu nariz, ma-xilar e dentes es-traçalhados se tor-nam uma imagem chocante que expôs toda a brutalidade da polícia de Muba-rak. Para protestar contra o brutal assassinato, outro jo-vem, Wael Ghonim, criou no Facebook uma página de protesto chamada “We Are All Khaled Said” (“Somos todos Khaled Said”), cuja versão em árabe reuniu mais de um milhão de pessoas. Wael Ghonim talvez não imaginasse o que estaria por vir...

Em janeiro de 2011 os ventos do le-vante na Tunísia finalmente permitem o começo da revolução egípcia em 25 de janeiro. É nesse dia que se inicia a jornada de protestos que culminariam na derrubada de Mubarak. Todos os protestos foram articulados a partir das redes sociais e do micro blog Twitter. Mundo afora, #25jan ou #tahir, naligua-

gem das tags se tornam um símbolo das jornadas revolucionárias.

A revolução do Egito foi a primeira na qual a internet ocupou um papel de suma importância. A tal ponto de, como nos contou na época Luiz Gustavo, en-viado do Opinião Socialista ao Cairo, a multidão na Praça Tahrir se espremer para poder tocar e beijar o jovem Wael Ghonim.

Evidentemente que a revolução ocorreu a partir de toda uma base real sobre a qual a tecnologia e as redes puderam contribuir para a revolta. “As

mídias sociais de-sempenharam um papel importante, mas não foi a raiz. Dizer ‘uma página de Facebook come-çou a revolução’ é uma narrativa que não tem nenhuma verdade”, revela Aalam Wassef, um dos jovens ativistas que convocaram os protestos, em entre-vista ao pesquisa-dor Howard Rhein-gold. “O sentimen-to revolucionário e a raiva começaram nas fábricas e nas casas, ou melhor,

na favela. Com uma pressão econô-mica enorme”, sentencia Wassef.

Qualquer mudança na estrutura so-cial não acontece a partir da vontade e desejo, mas apoiada em uma situação concreta, na realidade de um povo e de seu tempo. Obedece a uma aritmética própria, com fatores como a situação da economia, as contradições sociais, a forma como o poder é exercido etc. E também, do nosso lado, como os tra-balhadores e a classe operária se orga-niza, não só em sindicatos, DCEs, mas principalmente em suas direções polí-ticas, suas organizações e partidos, que almejam o poder político da sociedade.

Assim, as novas mídias foram ha-

bilmente articuladas com a realidade política que se apresentava no Egito. E o ditador Mubarak ficou tão assom-brado como poder de comunicação dos meios digitais que foi obrigado a “derrubar” a internet de todo o país por vários dias.

Usar novas mídias é uma necessidade

Utilizada como ferramenta integrada à luta real dos trabalhadores, confron-tada com as condições existentes, a tec-nologia e as redes podem proporcionar episódios fantásticos como o do Egito. Ou ainda, podem revelar a superexplo-

Utilizada como ferramenta integrada à luta real dos trabalhadores, a tecnologia e as redes podem proporcionar episódios fantásticos como o do Egito. Ou ainda, revelar a superexploração dos trabalhadores.

Qual é o papel que as novas mídias podem desempenhar na luta dos trabalhadores?

novas mídias O jornal e as

GUSTAVO SIXEL E JEFERSON CHOMA,da redação

Imagens tiradas durante as revoluções

árabes. As redes sociais cumpriram

um papel fundamental nas

revoluções árabes

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ração que os trabalhadores são subme-tidos, além de divulgar suas lutas. Foi o que aconteceu com o vídeo da professo-ra e militante do PSTU Amanda Gurgel no Youtube. O vídeo com o desabafo da professora causou uma comoção na-cional. Milhares de professores, pais, alunos e da população em geral se iden-tificaram com as palavras de Amanda. Todos sentem na pele a precariedade da educação, as salas superlotadas, a falta de infraestrutura, os salários baixos etc. Por meio do repentino sucesso do vídeo, a professora Amanda está divulgando as greves e lutas dos professores do país, além de defender a bandeira da aplicação imediata de 10% do PIB na educação, ou como se diz no universo do Twitter #dezporcentodopibja.

A utilização das novas mídias se tor-nou uma necessidade para a luta dos tra-balhadores. Uma ferramenta poderosa para furar o bloqueio imposto pela gran-de mídia burguesa e atingir milhões.

Lênin também se preocupou em aler-tar os bolcheviques sob o advento das novas tecnologia de comunicação e a importância de utilizá-las. Na sua épo-ca, o rádio proporcionava uma revolução em comunicação comparável a internet de nossos dias.

Depois que os bolcheviques tinham tomado o poder, Lênin escreveu uma carta para Mikhail Alexandrovich Bon-ch-Bruyevich, inventor na área de ra-diodifusão. Nela o revolucionário rus-so elogia as potêncialidade do rádio e afirma que com esse “jornal sem papel e sem distâncias, com os alto-falantes e receptores feitos por B. Bruyevich, pode-remos conseguir centenas de ouvintes e toda a Rússia escutará o jornal lido em Moscou”. Em outra carta, Lênin chega a dar uma “bronca” em Dovgalevsky, comissário do povo para os correios e telégrafos, que não estaria tratando a difusão do “jornal sem papel” com toda a atenção que merecia.

Superação do jornal impresso? É bem comum escutar que o advento

da internet está suplantando os veículos convencionais, como o jornal impresso, que estaria às vésperas de se tornar ob-soleto. Mas seria possível que apenas a internet realizasse o papel de agitador,

propagandista e organizador coletivo como propunha Lênin sobre o papel do jornal? Como se faria com os traba-lhadores que não têm acesso à internet?

A internet, o Facebook, o Twiter e o Youtube são muito importantes e devem, sim, ser utilizados por um partido que queira atingir as grandes massas. Mas eles não substituem o jornal de papel por um motivo muito simples: a política revolucionária e a militância socialista são atividades essencialmente humana, é uma relação entre trabalhadores fei-tos de carne e osso. É algo para ser dito olho no olho. Disputar a consciência das pessoas não significa apenas divulgar ideias, coisa que pode e deve ser feita também pela internet, mas em primeiro lugar, participar da vida e das lutas dos trabalhadores. Isso não se faz em casa, diante de um computador, mas sim em cada local de trabalho, estudo e mora-dia. Em todas essas frentes de batalha, está presente o militante revolucionário, armado com seu jornal.

Além disso, é importante lembrar que o uso de novas mídias encontra uma barreira que é a exclusão digital de aproximadamente 100 milhões de brasileiros (65 % da população, segundo o IBGE). Essa é uma barreira concreta que não pode ser ignorada por todos aqueles que almejam alcançar os seto-res mais explorados da classe operária. Como é impossível distribuir Tablets e Notebooks nas assembleias, escolas e fábricas, o jornal continua sendo para esses trabalhadores a principal forma de acesso as propostas do partido re-volucionário.

A internet cumpre um papel de ex-trema importância. Devemos dedicar todos os esforços para dominar a tecno-logia e a linguagem que surge, tendo, porém, consciência de suas limitações. O jornal, por sua vez, continua sendo o centro de toda uma rede de comuni-cação, da atividade de propaganda, da agitação e organização do partido. É o centro de uma rede, de um sistema de comunicação cujo objetivo é aproximar os trabalhadores das posições revolu-cionáriarioss. No entanto, tal objetivo não pode ser plenamente realizado sem o apoio do “jornal sem papel” dos nos-sos tempos.

1996 Partido cria sua primeira página, ainda em um endereço gratuitos de hospedagem, comum na época. Ainda não havia Google e sites eram registrados em ferramentas de busca, como o ‘Cadê”. O PSTU foi um dos primeiros a entrar na web, junto com o PT. Site era muito simples, com formas de contato, conteúdo do jornal e textos urgentes. 2000 Em fevereiro, o site é refeito. Ganha

ainda versão em inglês, com apre-sentação do par-tido e resumo das greves metalúr-gicas. Mural de mensagens, Fó-rum de Debates e a Lista PSTU Discute perma-necem com des-taque. A novidade

é a criação de uma área “ùltimas”, reunindo o que havia de novo no site. No entanto, atualização segue irregular.

2001 Nova reformulação. Desta vez, adota-se visual mais limpo, com um menu completo à esquerda. O conteúdo do Opinião con-tinua sendo o carro-chefe. Site começa a cadastrar e-mails. Mantém a sala de bate-papo no IRC, no canal #socialismo

2002 Site é comple-tamente refeito, com projeto grá-fico e editorial muito superior ao das demais o r ga ni z ações e par tidos na época. Adota as cores ver-melho e ama-relo ao site, um

menu horizontal e dá destaque ao Fala Zé Maria. Também incorpora novidades como especiais (cam-panhas), enquetes, galerias de fotos e o uso de banners. Logomarca do partido é unificada, a partir do site, e cria-se uma versão especial para anos eleitorais, com o 16 junto. Lançamento é feito no Fórum Social Mundial, com cartaz e folheto. Em agosto, a candidatura de Zé Maria, com o eixo do Não à Alca e o FMI, ganha site próprio, com cobertura da campanha nos estados e repercussão na imprensa. Também oferece download de materiais.

2003 Portal faz sua segunda cobertura, direto do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Neste ano, também lança o seu boletim eletrônico. Hoje quinzenal, é enviado para cerca de 25 mil endereços.

2005 Portal sofre reformulação em janeiro, adequando a primeira página e editorias para receber atualização permanente e conteúdo próprio do site.

2006 Partido cria conta no Youtube, disponibi-lizando programas eleitorais. Na semana da eleição, site oferece “cola virtual”, para internautas montarem sua lista para o dia das eleições.

2007 Ano marca o reforço na atualização do conteúdo, que passa a ser diária. Em março, portal faz transmissão ao vivo do ato em homenagem a Nahuel Moreno, no Memorial da América Latina. Evento é visto em 21 países. No segundo semeste, partido faz chat com membros da delegação que visitou o Haiti e lança especial sobre o aniversário da Revolução Russa.

O blog Molotov, feito por militantes do Ceará, entra para o portal, como blog do partido.

2008 Editora Sundermann passa a vender livros pela internet.

2009 É lançado o Arquivo Leon Trotsky e o site da Liga Internacional dos Trabalha-dores é reformulado e ganha versões em quatro idiomas.

2010 Nas eleições, par-tido cria site espe-cial para a campa-nha Zé Maria pre-sidente. Twi�er é um dos fenôme-nos da campanha e principais candi-datos do partido passam a enviar mensagens para a rede. Partido lança a TV PSTU e a primeira página do site é adaptada, para receber conteúdo em vídeo. Regionais criam sites próprios, como Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e MInas Gerais.

2011 Em janeiro, logo após o programa de TV do partido, a tag #PSTU aparece entre as 10 mais do Twi�er, junto com o #naoaoau-mentodosdeputados. O feito se repetiria algumas vezes, inclusive recentemente, após a ida de Amanda Gurgel na TV, após seu vídeo no Youtube ter sido visto por milhões de pessoas. PSTU e a juventude do partido criam suas páginas no Facebook. Campanha pela liberdade dos presos do Consulado lança site.

PSTU na Rede 1996

ainda versão em

Nova reformulação. Desta vez, adota-se

Site é comple-

2003

2005

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Os 15 anos do Opinião Socialista também serão contados em um vídeo no portal, através de de-poimentos de ex-integrantes da redação, capas marcantes e muitas histórias. Confira!

15 anos do OpiniãoVEJA NA TV PSTU:

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Encarte especial14

A imprensa revolucionária sempre teve um papel de suma impor-tância para os marxistas e para

construção do partido revolucionário. Mas como fazer com que o partido mantenha uma boa imprensa, um bom jornal, como ampliar o espaço e a influência da imprensa revolucioná-ria entre os trabalhadores, como escre-ver artigos claros e ao mesmo tempo atraentes, que prendam a atenção de nosso leitor, como disputar o espaço na consciência da classe trabalhado-ra com a imprensa burguesa? Essas e outras questões sempre fizeram parte das nossas preocupações. Sempre pro-curamos descobrir o segredo de fazer um jornal que fosse uma ferramenta de aglutinação dos militantes, de enlace entre aqueles que estivessem dispostos a lutar pela revolução socialista.

Uma das melhores evidências do papel essencial de uma boa imprensa revolucionária encontramos em Leon Trotsky. Para ele, a imprensa revolucio-nária era tão fundamental que acabou se confundindo com a sua própria vida militante. A cada passo em sua intensa trajetória de intelectual marxista e mi-litante revolucionário existiu um jornal, às vezes dois, até mesmo três. Fosse na prisão, fosse no exílio, na guerra ou dentro do trem blindado correndo em alta velocidade para combater a contra-revolução, Trotsky nunca perdeu a chan-ce de escrever para um jornal.

Lênin, que considerava essa uma das tarefas mais difíceis do partido - criar um jornal popular - viu na entrada de Trotsky no Partido Bolchevique a solu-

ção para esse problema. Enfatizava o fato de que a criação

de um órgão popular para esclarecer a política do partido para as massas era uma tarefa que exigia uma grande ex-periência. “Por isso o CC quer conseguir a colaboração do camarada Trotsky, que teve êxito na criação de seu órgão popu-lar Rússkaya Gazeta”, dizia.

Mas ao contrá-rio de Lênin, Trotsky deixou poucos escri-tos sobre a questão do jornal. Um deles é O jornal e seu leitor (em Questões do Modo de Vida) onde ele insiste no cuidado que deve-mos ter na apresenta-ção de nossos jornais. Mas se vamos inves-tigando os seus pas-sos, podemos encon-trar boas pistas sobre seu trabalho nos jor-nais, suficientes para acreditar que não havia nenhum gran-de segredo nele, ape-nas uma boa dose de sensibilidade e uma confiança absoluta na classe trabalhadora e na força das idéias re-volucionárias.

Obviamente que do tempo em que Trotsky viveu e mili-tou até hoje, a forma de fazer e distri-buir um jornal operário mudou muito. Mas o objetivo desse jornal continua praticamente o mesmo.

Os primeiros jornaisO primeiro jornal feito por Trotsky

chamava-se Nashe Delo (Nossa Causa).

Era um jornal clandestino e circulava pelas fábricas da cidade de Nikolaiev, na Rússia, onde funcionava a União de Operários do Sul da Rússia. Essa organi-zação foi fundada por Trotsky em 1897, junto com seus amigos estudantes e um grupo de operários. Tinha cerca de 250 membros, a maioria trabalhadores

manuais. É bom enfatizar

a importância que Trotsky atribuía à qualidade e à apre-sentação gráfica dos panfletos e jornais que faziam, e o ex-tremo cuidado com que escrevia os tex-tos. Ele conta: “Eu me sentava para escrever os panfletos ou os ar-tigos, que depois eu mesmo me encarrega-va de copiar em letra de fôrma para o grá-fico. Ainda não sabí-amos que existiam as máquinas de escrever. Me preocupava em traçar as letras com a maior meticulosida-de, pois tinha o pru-rido de que nenhum operário, ainda que só soubesse soletrar, dei-xasse de entender os panfletos e manifestos

saídos de nossa ‘imprensa’. Cada página me custava duas horas pelo menos. Às vezes passava semanas inteiras com as costas dobradas e só me levantava da mesa para assistir a alguma reunião ou dar um curso para os operários. Ficava feliz quando chegavam os informes das fábricas e oficinas contando a ansiedade com que os operários devoravam aquelas

folhinhas misteriosas com letras em cor violeta, passando-as de mão em mão e discutindo acaloradamente seu conteú-do. Para eles, o autor desses panfletos devia ser um personagem importante e misterioso, que sabia penetrar em todas as indústrias, que averiguava tudo o que ocorria entre os operários e se adianta-va aos acontecimentos por meio de uma folhinha nova ao cabo de vinte e quatro horas”.

O Nashe Delo ia muito bem e tinha grande acolhida entre os operários de Ni-kolaiev. Mas em janeiro de 1898, Trotsky foi preso e deportado para a Sibéria.

Um jornal atrás do outroEm 1902, Trotsky fugiu da Sibéria e

foi para Londres, onde filiou-se ao gru-po de social-democratas russos, dirigido por Lênin. Aí, colaborou na redação da Iskra (Faísca), jornal encabeçado por Lênin, Martov e Vera Zasulich.

No processo revolucionário de 1905, ele teve uma participação tanto teórica quanto prática. Fez trabalho de agitação e uma intensa atividade propagandísti-ca. Escreveu em três jornais ao mesmo tempo: a pequena Russkaia Gazeta (Ga-zeta Russa), que publicava junto com Parvus, e que transformaram em um órgão de luta das massas. Em poucos, o jornal passou de 30 mil para 100 mil exemplares vendidos, tendo atingido a tiragem de meio milhão de exemplares nos primeiros dias de dezembro de 1905; era feito em condições bem precárias em relação aos recursos gráficos. Em 13 de novembro de 1905, apareceu o Natchalo (Início), órgão político que fundou com os mencheviques.

Essa vida atribulada de Trotsky no calor da revolução de 1905 é descrita por Isaac Deutscher: “Das assembléias, Trotsky corria a seus escritórios nas oficinas de redação, pois dirigia e co-dirigia três jornais. O Izvestia do Soviet aparecia em intervalos irregulares e era produzido com ingênua valentia (...). Além disso, Trotsky conseguiu, com a ajuda de Parvus, que vivia em Peters-burgo, obter o controle do jornal liberal Russkaya Gazeta, que transformou em um órgão popular do socialismo militan-te. Pouco depois fundou com Parvus e Martov um jornal de grande circulação: Nachalo (Início), visto como porta-voz do menchevismo. Na verdade, Nachalo era sobretudo o jornal de Trotsky, pois ele impunha as condições aos menche-viques: o jornal defenderia a ‘revolução permanente’”.

Preso na repressão à insurreição de 1905, Trotsky é novamente deportado para a Sibéria, em 1907, e novamente consegue fugir de lá. Passa a viver em Viena, na Áustria, de onde, a partir de outubro de 1908, Trotsky começou a

“Eu me sentava para escrever os panfletos ou os artigos, que depois eu mesmo me encarregava de copiar em letra de fôrma para o gráfico. Ainda não sabíamos que existiam as máquinas de escrever. Me preocupava em traçar as letras com a maior meticulosidade”

CECÍLIA TOLEDO, jornalista e integrante das redações dos jornais Versus, Convergência Socialista e Opinião Socialista

Para Trotsky, a imprensa revolucionária era tão fundamental que acabou se confundindo com sua própria vida

Trotskyimprensae a

operaria

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de 9 a 29 de junho de 2011 15

publicar em russo o jornal Pravda (A Verdade). O jornal aparecia duas vezes ao mês e estava destinado aos operá-rios, entre os quais teve muito sucesso. A publicação durou três anos e meio, e apesar de ser apenas bimestral, exigia um trabalho enorme e cansativo, porque a correspondência secreta com a Rússia levava muito tempo.

Quatro anos depois, os bolcheviques começaram a publicar em São Peters-burgo um jornal com o mesmo nome. Trotsky responsabilizou o bolchevis-mo pelo plágio, e deixou de publicar o Pravda em Viena. Mas depois passou a colaborar no Pravda publicado sob a direção de Lênin.

A partir de 1912, com a iminência da Primeira Guerra Mundial, Trotsky começa a trabalhar como jornalista no Kievskaia Mysl (O Pensamento de Kiev), que lhe ofereceu um cargo de correspon-dente de guerra nos Bálcãs.

Nos anos de 1912 e 1913, Trotsky se dedicou a estudar a situação política e social na Sérvia, Bulgária e Romênia. Aí ele aprendeu muito sobre a guerra, cujas lições lhe seriam úteis não só em 1914, mas também em 1917. E o jorna-lismo foi a forma que ele encontrou para melhor expressar suas idéias, colocando suas matérias a serviço da luta contra a guerra.

Isaac Deutscher lembra que, para falar da guerra, Trotsky narra as aven-turas de um único soldado, revelando por meio delas todo o horror dos cam-pos de batalha. No texto intitulado O Sétimo Regimento de Infantaria da Epopéia Belga, escrito em 1915, Trotsky descreve as experiências de De Baer, um estudante de direito da Universi-dade de Lovaina que concentra em si mesmo todo o drama da Bélgica inva-dida e ocupada. Trotsky acompanha sua saga desde o início da guerra, as

batalhas, os cercos, as escapatórias, o nascimento do patriotismo entre o povo invadido, os absurdos da guerra. O estudante sofre espantosos tormentos nas trincheiras e, enviado a um hospi-tal na França, se descobre que é muito míope para ser soldado e é dispensado. Abandonado pelas forças militares em um país estranho, não consegue em-prego; e quando Trotsky o conhece, ele está passando fome e vestindo trapos. Com o foco centrado em De Baer, Trotsky reproduziu o drama vivido por milhões de jovens soldados como ele, e, com isso, não fez demagogia, ape-nas mostrou o absur-do da guerra.

Enquanto a guer-ra assolava a Europa, Trotsky escreveu em Zurich o folheto A Guerra e a Interna-cional, um dos pri-meiros documentos marxistas de caráter antibelicista. Nesse texto, dirigido em primeiro lugar contra os social-democratas alemães, ele explica que o dever dos socialistas era defender uma paz de-mocrática, sem anexações ou inde-nizações, pela autodeterminação das nações oprimidas.

Em janeiro de 1917, Trotsky vai para Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lá co-labora com a redação do Novy Mir (O Novo Mundo), que tinha como redatores Nikolai Bukarin, Alessandra Kolontai e V. Volodarsky. Escreve uma série de arti-gos analisando a revolução russa. Com-parando esses artigos de Novy Mir com as cartas que Lênin escreveu na mesma época (as Cartas de Longe), que enviava de Zurique a Petrogrado, percebe-se a concordância com a análise e as pers-pectivas da revolução russa.

Em março de 1917 Trotsky volta para a Rússia e publica artigos no semanário que fundou: Vperiod (Adiante), órgão dos membros da Organização Interdis-trital. O jornal apareceu até que a orga-nização dos internacionalistas ingressou no Partido Bolchevique, tendo atingido os 16 números.

Vitoriosa a Revolução de Outubro, Trotsky é nomeado Ministro da Guerra e passa grande parte do tempo viajan-do por todo país num trem blindado. No trem, além das atividades militares, ele escreveu muito e publicou um jornal chamado V Puti (No Caminho), onde diariamente se noticiava as ações e as batalhas ocorridas.

Servindo ao leitor Os jornais de Trotsky sempre faziam

muito sucesso. “Isso não surpreende a ninguém que revise as coleções dos jor-nais e os compare: os jornais de Trotsky tinham muito mais brilho e força de ex-pressão”, diz Deutscher em O Profeta Ar-mado. Mas por que seus jornais atraíam tanto os leitores?

Logicamente, são inúmeros os fatores que podem nos levar a fazer um jornal

atraente e escrever belos textos. No en-tanto, um deles é im-prescindível: a sen-sibilidade para com os problemas huma-nos. Trotsky gosta-va de dizer que seus jornais não serviam para explicar nada ao leitor, mas sim, serviam ao leitor.

Acostumados a serem tratados pela imprensa burguesa como ignorantes, ob-jetos descartáveis, imbecis que preci-sam ser educados, os trabalhadores, quando encontram

um jornal que os trata como o que re-almente são - sujeitos -, tendem a ouvir melhor as suas idéias e a sentir que ali está alguém que se interessa por eles.

“Caros colegas jornalistas: o leitor lhes suplica que evitem dar-lhes lições, fazer sermões ou serem agressivos, mas sim, que descrevam clara e inteligivelmente o que se passou, onde e como. As lições e as exortações ressaltarão por si mesmas”, aconselha.

A preocupação em escrever de for-ma clara, saber relacionar os fatos entre si e baixar tudo à terra, com exemplos concretos, eram outros atributos do jor-nalismo de Trotsky. Ele não usava o jor-nal apenas como agitador, no sentido de abrir suas páginas para noticiar fatos ou agitar bandeiras. Seus jornais eram fun-damentalmente órgãos de propaganda. Ele escrevia artigos que tinham uma carga explicativa muito grande.

Em síntese: para Trotsky é preciso fazer um jornal para um leitor vivo, desperto para a luta diária pela vida e para os problemas políticos. O leitor tem necessidade de que se manifeste interesse por ele, ainda que nem sem-pre ele saiba exprimir esse desejo. Foi movido por essa idéia e com esse leitor em mente que ele conseguiu fazer jor-nais socialistas que se esgotavam no ato, disputados avidamente por operá-rios, soldados e camponeses, estivessem onde estivessem.

Acostumados a serem tratados pela imprensa burguesa como ignorantes, os trabalhadores, quando encontram um jornal que os trata como o que realmente são - sujeitos -, tendem a ouvir melhor as suas idéias

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número 425 > de 9 a 29 de junho de 2011 17

eduARdo AlMeidA, da redação

A demissão de Palocci é uma expressão de uma mudança na conjuntura e a primeira grande derrota de Dilma. No

início do ano havia uma combinação de alta popularidade, crescimento econô-mico e maioria absoluta no parlamento. O crescimento econômico segue exis-tindo. Seguramente Dilma ainda tem popularidade elevada, mas a conjuntura mudou.

Por um lado, entre os trabalhadores, um mal estar vem crescendo. O cresci-mento econômico vem junto com a in-flação e um ritmo infernal de trabalho nas empresas. A resultante é um surto de greves salariais no país. Não é um ascenso generalizado, mas envolve se-tores importantes dos trabalhadores. A mobilização dos bombeiros no Rio de Janeiro é uma de suas expressões mais radicalizadas.

Por outro lado, existe uma crise nas alturas, uma divisão interburguesa, que se manifestou na derrota do governo na votação do código florestal e na crise de Palocci. Foi essa combinação de lutas salariais e crises políticas que gerou uma nova conjuntura no país.

o “MistéRio” dA MultiplicAção do dinheiRo

Palocci ganhou R$ 20 milhões só em 2010. Muitas vezes uma cifra tão alta não pode ser dimensionada com clareza. Mas isso corresponde ao que um trabalhador que ganha salário mí-nimo levaria três mil anos para receber.

É evidente que a “empresa de con-sultoria” de Palocci é uma fachada para esconder o tráfico de influência para conseguir vantagens e informações pri-vilegiadas para grandes empresas. As-sim são obtidos empréstimos dos ban-cos estatais, vitórias em concorrências, favores fiscais, perdão nas dívidas, etc. Não é por acaso que Palocci multiplicou seu dinheiro quando foi um dos coorde-nadores da campanha presidencial de Dilma. Nem o governo, nem o PT, nem Palocci conseguem explicar a origem do dinheiro por um motivo simples. Essa é uma das formas mais descaradas de corrupção.

Palocci foi uma das figuras-chave do escândalo do mensalão. O governo Lula conseguiu abafá-lo, recompor sua popularidade e eleger Dilma. Mas isso não aconteceu com todos os envolvidos. José Dirceu, José Genoíno e Palocci, por exemplo, tiveram sua reputação manchada. Esses petistas, que pode-riam ter sido candidatos à sucessão de

Lula (bem antes de Dilma), termina-ram queimados para concorrer a car-gos majoritários. Palocci chegou a ser cogitado como candidato ao governo de São Paulo. Mas, depois de pesquisas, o próprio PT retirou seu nome.

Mas isso não impediu que mantives-se seu prestígio com Lula e quadros di-

rigentes do PT. Por isso, ele voltou como uma espécie de primeiro-ministro de Dilma, encarregado das relações com os partidos e da nomeação dos milha-res de cargos no governo.

Nos primeiros meses, em que o go-verno surfava em condições quase ide-ais, Dilma simplesmente impunha suas posições por meio de Palocci. Isso ficou evidente na votação do salário mínimo, assim como na discussão sobre os car-gos do governo. Essa prática gerou mui-ta insatisfação nos partidos da própria base governista. Não é por acaso que Palocci, que atuava como um primeiro-ministro, virou o alvo da crise.

A oposição buRguesA se “escAndAlizA”

O escândalo não é produto da cor-rupção. Esta é real e existe tanto com Palocci como no PMDB, PSDB, DEM e todos os outros partidos. O objetivo das denúncias é enfraquecer um pouco Dil-ma, para que governe como fazia Lula, em negociações diretas e explícitas de cargos e favores com os partidos.

A hipocrisia é parte da política bur-guesa. O DEM está atolado até hoje nos escândalos de corrupção do governo Arruda em Brasília. O PSDB está man-chado não só pelas negociatas nas priva-tizações de FHC, mas pela atual corrup-ção em grande escala no Rodoanel de São Paulo. O PMDB do vice-presidente Temer é o partido de Sarney, Jader Bar-balho e um longo etcétera. Todos estes partidos fazem exatamente o mesmo que Palocci. O que está acontecendo é só parte de uma disputa interburguesa, usando os meios de comunicação de massa e muita hipocrisia.

Essa crise nas alturas afeta Dilma, que não é como Lula. O ex-presidente tinha uma autoridade própria, que o livrava dos desgastes das crises políti-cas. Além disso, é um líder acostumado às negociações, terreno que não é o de Dilma. Lula teve de entrar em cena, cos-turando o acordo do recuo do governo em relação ao kit anti-homofobia, para evitar que a bancada evangélica convo-casse Palocci para depor no Congresso. Agiu como ponto de apoio para Dilma, mas explicitou sua maior fragilidade.

Prisão e expropriação dos bens de Palocci e de todos os corruptos!

A demissão de Palocci deve termi-nar com essa crise política. Mas não vai acabar com o desgaste já existen-te. E muito menos com a desconfiança generalizada sobre a corrupção no go-verno. É preciso avançar com a prisão e a expropriação dos bens de Palocci e de todos os corruptos e corruptores.

silviA feRRARo, de campinas (sp)

A prefeitura de Campinas (SP) tem sido notícia pelos atuais es-cândalos de corrupção, envolven-do vários secretários, a esposa do prefeito Hélio (PDT) e também o vice-prefeito Demétrio (PT).

Através das investigações do Mi-nistério Público Estadual foi des-vendada uma verdadeira quadrilha que fraudava contratos da Empre-sa de Abastecimento de Água de Campinas.

O MP aponta que os contratos eram superfaturados e as licitações favoreciam empreiteiras. A princi-pal suspeita é de que a esposa do prefeito fazia os contratos superfa-turados com as empresas escolhidas por meio de licitações fraudulentas. Em troca todos recebiam propinas. Fala-se da cifra de R$ 615 milhões.

Das 20 pessoas indiciadas, 13 fo-ram presas, incluindo o vice-prefeito Demétrio. A esposa do prefeito só não foi presa em razão de um habeas cor-pus. Todos já foram soltos e continu-am respondendo o processo. Alguns ainda se encontram foragidos.

A partir dessas denúncias, a oposição de direita do PSDB entrou com um pedido de impeachment do prefeito na Câmara de Vereadores.

As denúncias e as prisões estou-raram no momento em que funcio-nalismo municipal realizava sua greve. A palavra de ordem “Fora Hélio” foi incorporada pelos gre-vistas. A greve durou 19 dias, mas as reivindicações dos servidores só foram atendidas parcialmente, mostrando que além das corrup-ções o prefeito Hélio despreza as reivindicações dos servidores.

O PSTU não confia na Câma-ra e nem na oposição de direita. Eles querem apenas tirar proveito eleitoral da situação, mas o pró-prio governo do Estado, do PSDB, está metido também em corrupção, como no metrô. Por isso somente a mobilização dos trabalhadores e do povo de Campinas poderá der-rubar Hélio e exigir a convocação de novas eleições.

Cai Palocci: primeira grande derrota do governo Dilma

Prefeitura de Campinas é exemplo de corrupção

Corrupção Nacional

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Petroleiros

“A categoria voltou a acreditar nas suas próprias forças”

dA RedAção

QuAl A suA AvAliAção dA cAMpAnhA sAlARiAl?

Foi uma campanha que retomou a participação da categoria. Assembleias massivas como há muitos anos não se via, reuniões de negociação com am-pla participação da base chegando a ter mais de 120 metroviários, e grande adesão ao uso do colete com o slogan ‘Chega de Sufoco’. Só no mês de maio lançamos 4 cartas abertas à popula-ção, defendendo a redução da tarifa do transporte de São Paulo, denunciando a superlotação do metrô. Exigimos tam-bém mais investimentos no metrô pú-blico, estatal e de qualidade e, por fim, conseguimos avançar além do limite imposto pelo governo.

QuAis foRAM os AvAnços conQuistAdos pelos MetRoviáRios duRAnte A negociAção?

Conseguimos reajuste de 8%, Licen-ça Maternidade de 180 dias, o vale-ali-mentação que passou de R$ 100 para

R$ 150, e participação nos resultados que teve um aumento médio de 10%. Avançamos também em questões como o reenquadramento de algumas fun-ções e na equiparação salarial, entre outros temas.

hAviA uMA expectAtivA de Que os MetRoviáRios entRARiAM eM gReve, poR Que isso não ocoRReu?

As assembleias cresciam e marcamos greve para 1º de junho. Quando entra-mos na quadra da assembleia recebe-mos a informação que os ferroviários e trabalhadores da Sabesp votaram greve para o mesmo dia. Aí a oportunidade era histórica, os ferroviários há 16 anos que não entravam em greve e poderíamos juntos pressionar o governo. Além disso, a Emtu e rodoviários do ABC também marcaram greve. O reajuste oferecido pelo Metrô era de 7,77%. Mas a Inter-sindical, que é parte importante da di-retoria, defendeu fechar o acordo. E a empresa propôs no meio da assembleia o reajuste 8%. Continuamos defendendo a greve para pressionar o governo com

a unificação das categorias. A assem-bleia se dividiu. Se toda a diretoria esti-vesse unificada pela defesa da greve, a insegurança seria superada e teríamos uma greve histórica de todo o sistema metroferroviário. Diante disso defendi que, com a categoria dividida, era me-lhor adiar a greve.

essA foi A pRiMeiRA cAMpAnhA sAlARiAl diRigidA pelA novA diRetoRiA eleitA Ano pAssAdo. QuAl foi A difeRençA entRe As cAMpAnhAs AnteRioRes?

A principal diferença foi a catego-ria voltar a acreditar nas suas próprias forças, com ampla mobilização, parti-cipação em todas as atividades, princi-palmente das assembleias. Dialogamos com a população, defendendo uma outra visão de transporte para o caos instalado na cidade. Também conseguimos cons-truir um trabalho com os três sindicatos dos ferroviários que atuam na CPTM. Os trabalhadores perceberam que o sin-dicato estava de volta às suas mãos.

Os metroviários acabam de realizar uma forte campanha salarial em que bateram de frente com a direção do Metrô, o governo estadual e a Justiça. O Opinião Socialista conversou com Altino Prazeres, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo

Petroleiros estão construindo uma nova direção

AMéRico goMes, do ilaese

Os resultados nos sindicatos de-monstram que em todo o país os pe-troleiros estão construindo uma nova direção operária. Após a suada vitória no Sindipetro-RJ, os petroleiros que são oposição à Federação Única dos Petro-leiros (FUP) tiveram uma vitória estron-dosa no sindicato de Alagoas e Sergipe. A chapa ligada a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a CSP-CONLU-TAS ganhou com 87% dos votos, ven-cendo em todas as urnas, desde o setor administrativo da Petrobras, passando pela área operacional até os terceiriza-dos e aposentados. De ponta a ponta.

Clarkson Messias, diretor da entidade, considera a vitória espetacular. “Demons-trou que melhoramos o trabalho de base, ainda que não seja o ideal. Defendemos

os direitos dos trabalhadores da Petrobras e o das contratadas. Também foi uma demonstração que a base concorda com nossa política. A chapa era conhecida por uma oposição intrasigente à FUP e ao sindicalismo governista. Os trabalha-dores que votaram sabiam que lutamos contra o Marco Regulatório do Petróleo do governo Lula e continuaremos lutan-do contra os leilões, por exemplo. Enfim, estamos credenciados para lutar por suas reivindicações”, comemora.

Uma das propostas da chapa é uma greve petroleira nacional, no dia do 11º Rodada de Leilão dos poços. A rodada está confirmada pelo governo Dilma e a previsão é que ocorra em setembro.

AlteRnAtivA no noRte fluMinenseAs eleições do Sindipetro-NF tive-

ram 5.159 votantes, sendo que 2.696

escolheram a Chapa 1 (CUT/FUP) e 2.124 a Chapa 2, que somou 44,4% dos eleitores. A eleição foi marcada por imensa desigualdade de recursos entre as chapas e grande parte da ca-tegoria não pôde votar, por não ser sindicalizada.

Mas o resultado demonstrou a von-tade de mudança. Durante toda a cam-panha, membros da Chapa 2 ouviam declarações de apoio. A simpatia com a oposição vinha da luta pelo fim das PLR`s desiguais, contra a inseguran-ça nas plataformas, o assédio moral, os leilões do petróleo e os acordos rebaixados.

O resultado é muito importante para toda a categoria. A região é o princi-pal pólo produtor de petróleo. Segun-dos dados de abril deste ano, o Campo de Roncador, na Bacia de Campos, foi

o que extraiu a maior quantidade de petróleo do país. É lá onde está a pla-taforma campeã de produção, a P-52, produzindo 138 mil barris por dia, em média.

unidAde A eleição no Sindipetro-NF signifi-

cou um avanço importante. Petroleiros de todo o país começam a enxergar a necessidade de construir uma nova unidade nacional, verdadeiramente de luta, independente dos governos e dos patrões. Para além das direções dos sindicatos, a categoria percebe a ne-cessidade de se organizar, de formar oposições e de apostar na sua própria mobilização. E agora se prepara para as eleições no Sindicato Unificado de São Paulo, no da Bahia e no de Duque de Caxias (RJ).

Além das vitórias no sindicato de Alagoas e Sergipe e no do Rio de Janeiro; oposição consegue 44,4% no Norte Fluminense, principal pólo de exploração do petróleo

Movimento

Kit Gaion

Movimento Metroviários

altino Prazeres fala durante a assembleia

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número 425 > de 9 a 29 de junho de 2011 19

Trabalhadores da CSN fazem greve histórica

heRMAno RochA, de belo horizonte (Mg)

Eram 5h30 do dia 26 de maio, em uma manhã fria e com ne-blina, quando os trabalhadores da CSN começaram a chegar

ao transbordo da Mina Casa de Pedra para a assembleia que decidiria os ru-mos do acordo coletivo 2011.

Os trabalhadores já haviam demons-trado disposição de luta, em uma para-lisação de 24h ocorrida na mesma se-mana. Agora restava saber se aguenta-riam a pressão de uma greve por tempo indeterminado.

O Sindicato Metabase Inconfidentes acreditava que a greve passaria, mas precisava preparar os trabalhadores para as dificuldades que teriam que enfrentar.

o coMbinAdo

“Votada a greve, fiquem em casa, não entrem nos ônibus para trabalhar; desliguem os telefones, para que nenhum ‘chefe mala’ pressione vocês a trabalhar. Se o sindicato fizer a sua parte e vocês fizerem a de vocês, nossa greve tem tudo para ser vitoriosa”.

Com este combinado, a greve foi aprovada com 70% dos votos nas assem-bleias que ocorreram ao longo do dia.

O sindicato aguardou então o melhor momento para deflagrar a greve. Seria na madrugada de sexta para sábado, às 5h da manhã, “letra A” pegando serviço (a melhor turma). E assim foi. Durante todo o fim de semana os turnos foram parando um a um e aderindo à greve. Pouca gente entrava nos ônibus para trabalhar e os que entravam, desciam assim que chegavam aos piquetes. A gre-ve começou forte no setor da produção!

enfRentAndo A tRuculÊnciA dA csnNa segunda-feira começaria a bata-

lha para que o setor administrativo ade-risse. Era um momento importante. A CSN começou então sua contraofensiva.

Com uma liminar obtida no final de semana em Barbacena, a CSN impôs um interdito proibitório que determinava que o sindicato não poderia fazer mais piquetes, nem parar os ônibus.

A Polícia Militar se alinhou à em-presa e impôs a passagem dos ônibus pelos piquetes através da força. Uma parte do administrativo entrou. Outra parte ficou em casa.

No dia seguinte, a luta continuava. A empresa ligou para a casa de todos,

dizendo que quem não entrasse nos ônibus seria demitido ou perderia be-nefícios. Colocou seguranças armados dentro dos ônibus. Convenceu alguns trabalhadores a dormirem dentro da mina e impediu outros de voltar para casa. Contratou 150 seguranças para intimidarem a peãozada.

Um momento dramático da greve em que era preciso apelar para a opi-nião pública.

gAnhAndo o Apoio dA populAção

Centenas de grevistas e apoiadores de todo o estado, organizados pela CSP-Conlutas, desceram para o Monteirão, que se transformaria na praça central da greve. Ali, começaram a discutir com a população que na greve estava em jogo uma parte do futuro da cidade.

As mineradoras estão destruindo Congonhas. Destroem serras, acabam com mananciais de água, poluem a ci-dade com poeira e rejeitos, e a riqueza extraída vai toda para os acionistas, nada para os trabalhadores e a popu-lação; a cidade não comporta mais a expansão das empresas e sofre com falta de moradia, escolas, saúde pública e saneamento.

Foi assim que toda a cidade passou a apoiar a greve e isolou a CSN. Associa-ções de moradores, igrejas, estudantes, trabalhadores da saúde, vereadores e até a prefeitura falaram em apoio à greve. A população trazia comida e água para os piquetes, e vereadores entraram na mesa de negociação do lado dos gre-vistas. Foi aí que a CSN começou a perder a greve.

uMA gReve histÓRicA

Na quarta-feira saiu uma proposta de acordo. Não era o que os trabalhadores queriam, mas uma nova proposta: 8,3%

de reajuste, R$ 250 de cartão alimen-tação, nenhuma punição aos grevistas. Tínhamos dobrado a CSN.

Foi realizada então uma grande as-sembleia em que os trabalhadores apro-varam o acordo e voltaram ao trabalho. Mais do que a vitória (parcial) econô-mica, ficou a lição da greve: é possível lutar e é possível vencer!

Desde 1988 não havia uma greve na CSN. Uma nova categoria, de jovens to-talmente inexperientes, mas com muita disposição de luta, enfrentou e venceu a empresa. Por isso esta foi uma greve histórica, que poderá se espalhar como um rastilho de pólvora por toda a região.

Durante cinco dias, os 2.400 funcionários da Mina Casa de Pedra, em Congonhas (MG), enfrentaram e venceram a intransigência e a truculência de Benjamin Steinbruch

NÃO À DIVISÃO DO PARÁ!

O minério tem que ser nosso!

O Congresso Nacional aprovou a realização de um plebiscito para decidir sobre a divisão do Pará em três estados. Respeitamos e concordamos com a opinião e o sentimento dos trabalhadores de todo o estado do Pará, em parti-cular das regiões sul, sudeste e oeste em relação à incompetência do governo do estado em garantir emprego, terra, saúde, educação e saneamento para todos.

No entanto, essa é uma realida-de para a maioria dos trabalhado-res de todo o Pará. Somos contrá-rios à divisão do estado e chama-mos os trabalhadores paraenses, de todas as suas regiões, a votar contra a divisão.

Quem manda em nosso esta-do são as multinacionais, como a Vale e a Cargil, e um punhado de latifundiários e mega-empre-sários. A divisão do estado é uma proposta dos latifundiários e das multinacionais que controlam o campo paraense. Ao contrário, do que se pensa, a divisão do estado irá aprofundar a miséria e o caos no interior do Estado, pois a maior parte do orçamento dos possíveis estados de Carajás e Tapajós será, caso seja aprovada a divisão, para garantir a própria máquina admi-nistrativa desses estados (a criação do poder Executivo, Legislativo e Judiciário). Os mais prejudicados com a divisão do Estado serão os trabalhadores, de todas as regi-ões do Estado, pois faltarão verbas para sãs áreas sociais que serão consumidas pelos políticos cor-ruptos da região.

- Não à divisão do Pará!- Queremos o Pará unido para os trabalhadores!- O minério tem que ser nosso! Pelo aumento dos royalties da mineração de 2% para 10% rumo à reestatiza-ção da Vale!- Reestatização sob controle dos tra-balhadores da CELPA e das multi-nacionais que exploram nossas ri-quezas!- Reforma agrária já!- Por um governo socialista dos tra-balhadores!

Queremos o Pará para os trabalhadores!pstu-pA

O PSTU participou ativamente da greve da CSN. Estivemos nas reuni-ões do comando, na linha de frente dos piquetes, nas manifestações.

Mas a maior vitória para o PSTU foi ter lançado a campanha “O mi-nério tem que ser nosso” como uma discussão importante na greve. Isso ajudou a evitar o isolamento do mo-vimento e pressionou a CSN a ne-gociar.

Agora, o desafio é organizar um comitê da campanha na cidade, para discutir os royalties sobre a minera-ção; a defesa da Serra Casa de Pedra; o combate à poluição; a necessidade de investimentos em infraestrutura e agregação de valor ao minério.

A semente foi lançada, mas a luta continua!

PLEBISCITO

Mineiros Movimento

trabalhadores em assembleia na CSn

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gAbRiel MAssA, de buenos Aires *

Israel comemora 10 de maio como a data de sua “independência”. É o aniversário do dia em que as Nações Unidas, em 1948, decidi-

ram dividir a Palestina em dois Estados, outorgando 54% do território para Is-rael. Naquele momento, mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas terras, em uma ofensiva assassina, na qual milhares foram massacrados pelos sionistas.

Os palestinos recordam esses even-tos como a “Nakba”, o desastre. Todos os anos são realizados atos convocados por organizações palestinas dentro e fora de Israel.

Neste ano, porém, houve mobiliza-ções ainda maiores. Milhares de pa-lestinos marcharam sobre a fronteira de Israel nas colinas do Golã, na Síria, Líbano, Gaza e Cisjordânia. A resposta das tropas israelenses foi brutal, assas-sinando 21 palestinos e ferindo quase 200, segundo a imprensa internacional.

As MobilizAções de MARço O salto das ações na comemora-

ção da Nakba ocorre após as mobili-zações massivas realizadas em março na Cisjordânia e em Gaza. Os protes-tos exigiam que a Autoridade Palestina (que governa a Cisjordânia por meio de Mahmud Abbas) e os dirigentes da corrente islâmica Hamas (que governa Gaza) terminassem com seus confron-tos e se unissem para enfrentar Israel.

Essas mobilizações deram resulta-do quase imediato: obrigaram as dire-ções da Fatah e do Hamas a chegar a um acordo, o que veio acompanhado da decisão do novo governo egípcio de abrir sua fronteira com Gaza (fechada pela ditadura Mubarak em 2006, cola-borando com o bloqueio israelense). Esses sucessos alimentaram o avanço da mobilização palestina.

A “ReconciliAção” de hAMAs e fAtAh Sob a supervisão do governo transi-

tório egípcio, no dia 4 de maio o chefe da Fatah, Mahmoud Abbas, e o líder do Hamas, Khaled Meshal, assinaram no Cairo um “acordo de reconciliação”.

Segundo diferentes fontes, o Hamas aceitaria que Abbas continue como presidente da Autoridade Palestina e siga negociando acordos de seguran-ça com Israel.

Abbas e a Autoridade Palestina têm se alinhado como aliados de Israel há anos e têm colaborado com o bloqueio e os ataques sionistas à Faixa de Gaza. O Hamas, por sua vez, vinha recusando a perspectiva de um “Estado independen-te” negociado com Israel e os Estados Unidos por Abbas. Denunciava a Auto-ridade Palestina por seu papel cúmplice no bloqueio a Gaza em conjunto com a ditadura egípcia de Mubarak.

Junto com as mobilizações de mar-ço em Gaza e na Cisjordânia, um fator importante que promoveu a “recon-ciliação” foi sem dúvida a queda de Mubarak. Seu governo era muito im-portante para sustentar a orientação de Abbas de abandonar toda política de confronto e entrar nas negociações de paz com Israel e os EUA. Por ou-tro lado, o bloqueio a Gaza por parte de Israel seria impossível se Mubarak não tivesse mantido fechada também a fronteira com a região.

Após a queda do ditador, o novo governo egípcio, mesmo que tenha ra-tificado o acordo de paz com Israel, anunciou em fins de abril que daria alguns passos para a reabertura de sua fronteira com Gaza. Imediatamente foi cogitada a reunião de “reconciliação” de todas as facções palestinas no Cairo.

Diante do acordo de reconciliação entre as frações palestinas, o premiê israelense Benjamín Netanyahu decla-rou: “A Autoridade Palestina deve es-

colher a paz com Israel ou a paz com o Hamas, não há nenhuma possibilidade de paz com ambos”.

uM AcoRdo pARA contRolAR A Revolução

A “reconciliação” foi recebida clara-mente como um triunfo pelas massas palestinas. E isto sem dúvida alentou a massiva participação em maio nas mar-chas realizadas nas fronteiras com Israel.

Ao mesmo tempo, o acordo entre Hamas e Fatah tem um aspecto muito contraditório. Noura Erakat, advoga-da palestina no exílio e professora do Centro de Estudos Árabes Contempo-râneos da Universidade de George-town, em Washington, publicou um extenso artigo no qual diz: “A recon-ciliação entre Hamas e Fatah pode re-presentar a primeira vitória do nascente movimento juvenil palestino do dia 15 de março.” Mas “se poderia dizer que a formação de um governo de unidade é uma tática preventiva para tratar de conter o crescente descontentamento palestino e a crescente relevância dos protestos juvenis, em uma Primavera Árabe”. De fato, no dia do anúncio (da reconciliação), forças de segurança do Hamas dispersaram violentamente cerca de cem jovens que celebravam na Praça do Soldado Desconhecido, em Gaza.

Em síntese, a “reconciliação” entre Hamas e Fatah alentou a mobilização das massas palestinas. Mas estas dire-ções estão tratando de converter este acordo em um instrumento para que o povo palestino aceite algo que vai na contramão de seus próprios interesses.

fAltA uMA novA diReção pAlestinA Nós, da Liga Internacional dos Tra-

balhadores (LIT-QI), sustentamos que a única perspectiva para defender real-mente os direitos do povo palestino (que estava inscrita na bandeira original da

OLP) é a luta pela destruição do Estado de Israel e pela construção de um Esta-do palestino laico, democrático e não ra-cista, em todo o território da Palestina.

Os jovens que pediram a unidade de Hamas e Fatah já estão começando a ver que essas direções não oferecem nenhuma saída. Pelo contrário. Só bus-cam os enganar e controlar. Para cum-prir suas aspirações, as novas gerações de jovens ativistas palestinos indepen-dentes que saem à luta sob a influência da revolução árabe terão que tomar em suas mãos a velha bandeira, a do fim do Estado de Israel. Para isso, precisa-rão construir uma nova direção, que retome o caminho da luta intransigen-te pela destruição do Estado sionista e pela construção de um Estado palesti-no laico em toda a Palestina, batalha abandonada tanto pela Fatah como pelo Hamas. Neste sentido, terão que enfren-tar também o engano, abençoado pelos EUA e pela ONU, de um pseudoestado palestino nos territórios ocupados.

* artigo publicado em Correio internacional

(nova Época) nº 5

Internacional Palestina

Revolução árabe entra na Palestina

No último dia 5, tropas de israel abriram fogo contra manifestantes sírios e palestinos que tentavam cruzar a linha de cessar-fogo nas colinas de Golã, ocupadas por israel. a ação de israel deixou pelo menos 18 mortos e 225 feridos.