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Desenvolvimento industrial no Brasil:oportunidades e desafios futuros
Fernando SartiClio Hiratuka
Texto para Discusso. IE/UNICAMP
n. 187, janeiro 2011.ISSN0103-9466
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Texto para Discusso. IE/UNICAMP, Campinas, n. 187, jan. 2011.
Desenvolvimento industrial no Brasil:oportunidades e desafios futuros
Fernando Sarti1Clio Hiratuka1
Resumo
Este texto tem como objetivo discutir as possibilidades de desenvolvimento industrial no Brasil,destacando tanto as oportunidades que se abrem em razo de mudanas recentes no cenrio interno e nocenrio internacional, assim como os principais desafios a serem enfrentados.
Introduo
Depois de um longo perodo de estagnao, a indstria brasileira voltou a darsinais de um crescimento mais forte no perodo recente. O crescimento da demandainterna foi o principal vetor desse crescimento, iniciado pelo consumo e que acabou serefletindo em elevao dos gastos com investimentos. Embora tenha sido afetado pelacrise internacional, a recuperao no perodo ps-crise d mostras de que o mesmopadro do perodo anterior foi retomado.
Apesar disso, no se pode dizer que um desenvolvimento econmico maissustentado, associado a um desenvolvimento industrial robusto est assegurado. Pelocontrrio, persistem desafios enormes, que historicamente sempre estiveram presentes
no processo de desenvolvimento industrial brasileiro, juntamente com novos desafioscolocados pelas mudanas recentes no cenrio mundial, que a crise internacionalapenas explicitou e tornou mais visvel.
A perspectiva adotada neste artigo de a indstria brasileira vai passar nosprximos anos por um momento chave em se definir qual o seu papel nodesenvolvimento econmico brasileiro. Este papel pode ser um papel muito mais ativo,com a constituio de um circulo virtuoso sustentado pela gerao renda e emprego nomercado interno, fomentando novos investimentos, capacitao tecnolgica e maiorinsero externa no longo prazo. Ou, pelo contrrio, um papel mais subordinado, comuma estrutura mais especializada, com o consumo dependendo muito mais das rendas etransferncias geradas pelas atividades exportadoras consolidadas nos setores de
commodities agrcolas e minerais e, em um futuro prximo, das atividades do Pr-Sal.
(1) Professores do Ncleo de Economia Industrial e da Tecnologia - NEIT do Instituto deEconomia da Unicamp.
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Nesta encruzilhada, onde os frutos benficos de uma estratgia adequadapodem ser proporcionais aos efeitos perversos de uma estratgia equivocada, definir
quais so os desafios e discutir quais as possveis formas de enfrent-los fundamental. Este artigo procura lanar alguma luz nessa direo.
Alm desta introduo, o artigo est estruturado em 4 sees. A primeira seoprocura argumentar que, apesar do intenso e rico debate sobre o processo dedesindustrializao da economia brasileira, o foco da discusso deve ser direcionadopara a retomada do processo de industrializao, suas possibilidades e obstculos. Asegunda seo, detalha o ciclo de crescimento econmico recente, ressaltando asmudanas observadas em relao ao perodo anterior e os impactos sobre a indstriabrasileira. A terceira busca levantar as oportunidades e desafios explicitados pelo novocenrio internacional ps-cries. Finalmente na ltima seo, so tecidos algunscomentrios gerais sobre os desafios da poltica de desenvolvimento industrial para
enfrentar esses desafios.
1 Industrializao interrompida e perspectivas de retomada
A indstria foi o motor do crescimento econmico brasileiro no perodo 1950-1980, quando o pas constituiu uma estrutura industrial relativamente diversificada,integrada e impulsionada pelo mercado domstico. O produto industrial cresceu vigorosa taxa mdia anual 8,3%, enquanto o PIB cresceu 7,4%. Mesmo no tendointernalizado completamente as capacidades inovativas das economias maduras, nemas condies de financiamento de longo prazo, houve um processo de convergncia daestrutura produtiva em relao s economias mais avanadas, o que se expressou na
crescente participao dos complexos qumico e metal-mecnico (ECIB, 1994).A partir de 1980, com as mudanas nos condicionantes internos e externos e a
opo pela adoo de sucessivas polticas econmicas restritivas ao desenvolvimentoindustrial, observou-se uma perda relativa de dinamismo da indstria e do processo deconvergncia das estruturas produtivas, distanciando o Brasil das economias avanadase mesmo de outros pases em desenvolvimento.
A dcada de 80 teve como uma de suas principais caractersticas, a elevadainstabilidade nas principais variveis macroeconmicas. Este fato restringiu asdecises privadas de investimento em expanso de capacidade, modernizao einovao, no apenas em razo da prpria instabilidade, mas tambm porque no bojo
do ajustamento patrimonial das empresas privadas - cuja contrapartida foi a prpriafragilizao fiscal e financeira do Estado estas puderam elevar as aplicaes emttulos pblicos indexados de elevada liquidez (Belluzzo; Almeida, 2002).
A frustrao acumulada ao longo dos anos 80 deu flego a uma guinada emtermos de estratgia de desenvolvimento. Em relao estrutura econmica mais
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protegida e autrquica do perodo anterior, identificada como grande causadora daestagnao e da ineficincia produtiva, observou-se o predomnio de uma poltica de
maior abertura comercial e financeira, ao mesmo tempo em que o papel do Estado erareduzido, seja diretamente atravs do processo de privatizao, seja atravs da retiradade polticas seletivas que buscavam coordenar e induzir aes do setor privado.Esperava-se que o setor privado, em especial o setor privado de capital estrangeiro,fosse capaz de liderar um novo ciclo de investimento e crescimento, com maiorespecializao, modernizao, maior transferncia de tecnologia e maior inserointernacional.
Frente a esse novo contexto, as estratgias empresariais a partir dos 90 buscaramcombinar racionalizao da produo, com reduo do grau de verticalizao esubstituio de fornecedores locais por insumos importados. Embora tenha resultadoem melhora no grau de eficincia produtiva, os investimentos realizados no perodo
continuaram tendo um carter mais defensivo, voltado para a modernizao esubstituio de equipamentos. Em geral, no estiveram associados a estratgias maisativas de expanso de capacidade e inovao de produtos e processos. Estes, quandoocorreram, foram muito mais a exceo do que a regra.
Apesar de ter contribudo para financiar o dficit de transaes correntes (emespecial na segunda metade da dcada de 90) o bom desempenho observado na atraode investimento direto estrangeiro (IDE) teve impacto limitado sobre a competitividadeda indstria brasileira. Em primeiro lugar porque a maior parte dos investimentos foidirecionada para setores non-tradables, atrados pelo processo de privatizao deservios pblicos de infra-estrutura. Em segundo, porque grande parte dos
investimentos ocorreu atravs de aquisies, no resultando em mudana significativana formao bruta de capital fixo. Em termos gerais, apesar do aumento daparticipao das empresas transnacionais (ETNs) na estrutura produtiva e no comrcioexterior brasileiro, isso no resultou em alterao estrutural significativa nem emmelhora na qualidade da insero externa (Laplane et al., 2001).
A integrao global das filiais brasileiras foi assimtrica, no sentido de participarmuito mais como compradora de produtos das demais partes das redes internacionaisdas grandes corporaes, para atender ao mercado interno, ou, no mximo para atendero mercado regional. Poucas filiais brasileiras assumiram o papel de fornecedorasglobais dentro da organizao mundial das ETNs (Hiratuka, 2002).
O dinamismo observado nos fluxos de IDE nos 90 e incio dos anos 2000acentuou uma das caractersticas do padro de insero externa brasileira que dizrespeito assimetria existente entre, de um lado, a elevada presena de empresasestrangeiras na estrutura produtiva brasileira e, de outro, o baixo grau deinternacionalizao produtiva das empresas nacionais.
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A insero externa das empresas brasileiras desde os anos 80, a partir dadesacelerao da demanda domstica e da concesso de incentivos fiscais e cambiais
dentro dos esforos de gerao de supervits comerciais, foi preponderantemente viacomrcio internacional, concentrado em setores industriais tradicionais de menor valoragregado e contedo tecnolgico. Os investimentos brasileiros no exterior sempreestiveram em um patamar pouco elevado e foram concentrados em poucas empresas esetores nas reas de servio (construo civil e setor financeiro) e de extrao mineral eproduo de commodities. Essa assimetria no processo de internacionalizao refletiaos diferenciais de competitividade e de capacidade de acumulao tecnolgica e decapital das empresas nacionais vis--vis as estrangeiras.
Observou-se portanto ao final dos 90 uma estrutura industrial com maior grau deeficincia produtiva, mais especializada e com menor densidade relativa. Tambmmais internacionalizada, embora de maneira assimtrica como assinalado
anteriormente. Apesar disso, sem capacidade de retomar de maneira sustentada osinvestimentos em expanso de capacidade, modernizao e inovao.
importante destacar que esse processo no pode ser dissociado da perda decapacidade do Estado de investir diretamente na modernizao da infra-estruturatradicional e na infra-estrutura de cincia e tecnologia (C&T). No bojo da fragilidadefiscal e financeira dos 80 e da poltica mais liberal dos 90, o Estado foi perdendo acapacidade de induzir e coordenar os investimentos empresariais privados. Da mesmamaneira, a utilizao de polticas mais ativas de desenvolvimento industrial foramdeixadas em segundo plano, uma vez que se realizou uma opo por polticas maishorizontais, voltadas basicamente para melhorar o ambiente de negcios, sem a
preocupao em detalhar polticas que partissem do reconhecimento das diferenas dascaractersticas tecnolgicas e econmicas dos setores ou cadeias produtivas, assimcomo seus diferentes graus de competitividade internacional.
Tomando o longo perodo de baixo crescimento econmico, entre 1980 e 2003,observa-se que o produto industrial cresceu menos de 1% ao ano, o que representouuma taxa nove vezes menor que a do perodo anterior. Por sua vez, a economia comoum todo cresceu a taxas mdias anuais modestas de 2% (Tabela 1).
Tabela 1Taxa mdia anual de crescimento do PIB e do produto industrial 1950-2009 (em %)
1950-80 1980-2003 2004-08 2009
PIB 7,4 2,0 4,8 -0,2Produto industrial* 8,3 0,9 3,9 -7,0(*) indstria de transformao.Fonte: SCN-IBGE.
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possvel identificar esse perodo como um momento em que o processo deindustrializao brasileiro foi interrompido, como fica evidente no Grfico 1. Esse
grfico mostra tanto a participao da Indstria no PIB, quanto a renda per capitarelativa do Brasil em relao aos Estados Unidos. No perodo 1950-1980 a indstriaganhou participao relativa no PIB, ao mesmo tempo em que a economia brasileiraapresentou uma tendncia aproximao de renda per capita com a maior economiamundial.
Grfico 1Brasil: Evoluo comparada do PIB per capita relativo e da participao da indstria no PIB (em %)
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
20,0
22,0
24,0
26,0
28,030,0
1 1 1 1 1 1
1
%
Brasil
Fonte: GGDC database. Elaborao NEIT-IE-UNICAMP. Base PIB per capita dos EUA = 100.
Por outro lado, algumas economias asiticas, com destaque para a Coria do Sule China, mantiveram sua estratgia de industrializao, fato que se refletiu naselevadas taxas de crescimento do produto industrial. Esse processo, por sua vez, aocontrrio do Brasil, teve continuidade ao longo dos ltimos 30 anos, como pode serobservado no Grfico 2. Inclusive no caso de China e ndia, vem se acelerando,reduzindo o diferencial existente entre o PIB per capita desses pases e o dos EUA(Grfico 2).
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Grfico 2Evoluo comparada do PIB per capita relativo e da participao da indstria no PIB para
Coria do Sul, China e ndia (em %)
Coria do Sul
-
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
%
Pib per Capita relativo Ind. de Transf. no PIB
China
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
%
Pib per Capita Relativo Ind. de Transf. no PIB
ndia
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
%
PIB per Capita relativo Ind. de Transf. no PIB
Fonte: GGDC database. Elaborao NEIT-IE-Unicamp. Base PIB per capita dos EUA = 100.
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Como destacado em Hiratuka e Sarti (2010) uma das principais caractersticasda indstria mundial nesse perodo foi a intensa relocalizao da atividade
manufatureira nos pases em desenvolvimento, em especial nos pases asiticos, comoresultado da interao entre as estratgias das grandes corporaes de desverticalizarinternacionalmente os processos de produo e as polticas econmicas dedesenvolvimento industrial dos pases asiticos.
Comparativamente, as taxas de crescimento do produto industrial foram muitosuperiores na sia em desenvolvimento do que nos pases da Amrica Latina em gerale no Brasil em particular. Por conta desse baixo dinamismo, o pas perdeusistematicamente participao no produto industrial dos PED. Esse processo deuorigem a um intenso debate sobre a existncia e a profundidade de um processo dedesindustrializao na economia brasileira no perodo recente.
As vises, interesses e motivaes dentro desse debate so de matizes diversos.Em um extremo, a viso liberal que defende uma estrutura produtiva mais enxuta,especializada e internacionalizada, e que identifica na maior exposio competioexterna e mobilidade do capital produtivo e financeiro, os fatores necessrios esuficientes para a configurao de uma estrutura produtiva com setores competitivos.Neste caso, um padro de especializao produtiva e de insero comercial em setoresintensivos em recursos naturais refletiria uma alocao mais eficiente dos fatoresprodutivos e as vantagens comparativas da estrutura produtiva brasileira. Dentro dessaviso, a adoo de polticas e instrumentos seletivos para a promoo ou mesmointernalizao de setores mais intensivos em capital e/ou tecnologia provocaria umadistoro alocativa e a gerao de ineficincias. As polticas e instrumentos para o
desenvolvimento industrial deveriam ter um carter mais genrico e horizontal, taiscomo a melhoria da infra-estrutura, das condies de educao e de financiamento.
Em outro, a viso desenvolvimentista que identifica na indstria o principalvetor de crescimento econmico nos PED, tomando como base o prprio padro decrescimento brasileiro no perodo 1950-80 e, mais recentemente, as bem sucedidasexperincias de desenvolvimento industrial dos pases do leste asitico. Neste caso, aspreocupaes concentram-se em avaliar tanto o dinamismo industrial brasileiro vis--vis o de outras economias emergentes, quanto a composio da pauta de produo e deexportao. A desindustrializao seria identificada no apenas com a perda deimportncia da indstria no PIB ou no emprego total, mas tambm a partir demudanas na estrutura de produo da indstria, em particular pela maior participao
de setores mais intensivos em recursos naturais e com menor capacidade deencadeamentos produtivos e tecnolgicos vis--vis setores mais intensivos em capital,conhecimento e tecnologia2e assim com maior capacidade de encadeamentos. Embora
(2) Ver, por exemplo, Palma (2005); Nassif (2006) e IEDI (2007).
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dentro dessa corrente haja diferentes posies sobre o grau desejado e necessrio deeficincia, de especializao e de internacionalizao da estrutura produtiva, em
comum a idia de que o processo de industrializao pressupe algum grau deinterveno e de coordenao pblica e que se constitui na principal via para odesenvolvimento econmico e social.
No perodo mais recente, dentro do debate das polticas para o desenvolvimentoindustrial, a persistente valorizao cambial da moeda domstica e as condiesfavorveis de demanda e de preos produo e exportao de commoditiesagrcolas,metlicas e minerais, somadas as vantagens competitivas j existentes, representariampara os desenvolvimentistas, mais riscos que oportunidades e poderiam vir aconfigurar, dependendo das polticas nacionais adotadas, um processo deespecializao regressiva da pauta de produo (doena holandesa). Isso significaque a elevada competitividade desses setores permitiria a gerao de expressivos
supervits comerciais que, por sua vez, reforaria a apreciao da moeda domstica,expondo os demais setores industriais menos competitivos concorrncia externa.
Outro argumento crtico a esse padro de especializao est associado menorcapacidade dos setores intensivos em recursos bsicos de promover encadeamentosprodutivos e tecnolgicos para o restante da economia. Alm disso, menor dinamismoe baixa participao do produto industrial implicariam baixo crescimento do PIB, dadoo papel indutor da indstria para as demais atividades econmicas e para as variveisda demanda agregada: consumo, investimento e exportao.
Entretanto, para outros especialistas a reduo do produto industrial no produtototal da economia no necessariamente caracterizaria um processo de
desindustrializao, e estaria sim associado a um maior grau de amadurecimento daestrutura produtiva e de demanda, o que implicaria na maior presena de setores deservios mais sofisticados (finanas, telecomunicaes, sade, educao etc.), o quetenderia ocorrer naturalmente a partir de um certo nvel de desenvolvimentoeconmico. Em uma linha semelhante de argumentao, outros especialistas edefensores da especializao da pauta de produo apontam para uma crescentesofisticao na produo e/ou extrao dos setores intensivos em recursos bsicos, coma demanda de bens, insumos e servios mais sofisticados.
Porm, sem pretender esgotar o debate, julgamos que pode ser mais produtivodesloc-lo para uma outra direo, retomando a discusso sobre as perspectivas do
desenvolvimento industrial brasileiro, no sob o prisma da existncia ou no de umprocesso de desindustrializao, ou de suas causas, mas principalmente a partir dodelineamento de questes que julgamos fundamentais para o correto entendimento dosriscos e oportunidades para o avano da indstria no Brasil e para a retomada de suacontribuio efetiva ao desenvolvimento econmico.
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Mesmo considerando o longo perodo de estagnao, que teve comoconseqncia a perda de importncia relativa no sistema industrial mundial, no
julgamos correta a concluso de que a indstria brasileira est fatalmente condenada acontinuar tendo um papel pouco importante no desenvolvimento econmico brasileiro.
Em primeiro lugar porque como argumentado em Hiratuka e Sarti (2010),mesmo tendo perdido espao na manufatura mundial, a indstria brasileira continuasendo uma das mais importantes entre os pases em desenvolvimento. Alguns setoresde maior dinamismo no produto industrial mundial e intensivos em tecnologia tm umaparticipao de destaque na estrutura produtiva brasileira e/ou a produo brasileiraaparece com destaque na produo dos PED, como so os casos da indstriaautomobilstica, de outros equipamentos de transporte, mquinas e equipamentoseltricos e mecnicos. Com isso, segundo os dados da UNIDO, a indstria brasileira responsvel pelo terceiro maior produto industrial entre os PED, atrs somente da
China e da Coria do Sul.Alm disso, apesar do longo perodo de estagnao e da interrupo do processo
de industrializao a partir da dcada de 80, do desadensamento relativo e do aumentodo contedo importado de algumas cadeias produtivas a partir da dcada de 90 e domenor crescimento relativo dos setores mais intensivos em tecnologia a indstriabrasileira ainda mantem um grau de diversificao bastante grande.
O ponto mais importante, porm, o fato de que o desenvolvimento da estruturaindustrial brasileira ainda capaz de gerar dinamismo sobre o restante da economia,como ficou evidenciado no ciclo de crescimento econmico de 2004-2008, queantecedeu a grave crise internacional. No perodo houve tanto uma acelerao na taxa
de crescimento quanto uma mudana no padro de crescimento, sustentado tambm nademanda domstica (consumo e investimento) e no apenas na demanda externa, o quefavoreceu a expanso de uma gama mais ampla de setores industriais, sobretudo ossetores de bens salrios e de bens de capital, que tinham sido fragilizados no padro decrescimento anterior. O perodo vivenciou um ciclo virtuoso da produo, emprego,renda, consumo e investimento. Como resultado, o crescimento industrial foi bastantevigoroso e houve uma expanso sem precedentes nas taxas de emprego formal(inclusive na indstria), com forte ampliao do mercado domstico.
As caractersticas e os desdobramentos desse perodo permitem pensar quedepois de um longo perodo de interrupo, o processo de industrializao deu sinaisvitais importantes, mostrando que perfeitamente possvel imaginar um novo ciclo de
crescimento de prazo mais longo com um papel de liderana da indstria. Se os sinaismais recentes do uma indicao que a indstria pode ter um papel mais destacado nagerao de emprego e renda, articulando um ciclo bastante virtuoso, por outro ladotambm verdade que a continuidade desse padro e o avano em direo resoluode alguns problemas que ainda perduram no sistema produtivo industrial no esto
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garantidos. At porque, os desafios colocados para a retomada da industrializao estoem outro patamar, em virtude de mudanas no cenrio internacional, como ser
destacado na seo 3.A prxima seo busca detalhar as caractersticas do crescimento verificado
entre 2004 e 2008, assim como destacar algumas caractersticas da retomada noperodo ps-crise.
2 O ciclo recente de crescimento econmico, a crise internacional e os impactos
sobre a indstria brasileira
Nesta seo, atravs da anlise de dados mais recentes, buscamos enfatizar que odinamismo observado na indstria a partir de 2004 vem apresentando caractersticasbastante distintas dos perodos anteriores. Especial destaque deve ser dado aocrescimento da demanda domstica, principalmente dos investimentos, que crescerama um ritmo bastante acelerado. Embora esse dinamismo tenha sido interrompidobruscamente pela crise internacional, em grande medida o padro que vem sedesenhando no perodo ps-crise bastante similar ao verificado no perodo anterior,com expressivo crescimento da demanda interna, puxada pelo consumo e peloinvestimento. Alm disso, tambm vale a pena destacar o fato que o padro deinternacionalizao tem apresentado sinais de mudana, com as empresas brasileirasdemostrando uma disposio maior de investir no exterior.
O ciclo de crescimento e de investimento recente diferenciou-se dos ciclosanteriores no apenas pela sua intensidade e durao, mas principalmente pelo fato deter sido sustentado na expanso das demandas externa e interna, sobretudo por esta
ltima, com peso crescente dos investimentos. Importante destacar tambm que aocontrrio dos breves ciclos anteriores verificados desde o incio dos anos 80, ainterrupo do crescimento no ocorreu por fatores associados a desequilbrioscausados pelo prprio processo de crescimento, mas por um fator exgeno.
Entre os principais elementos que permitiram a retomada do crescimento deve-se destacar a superao da elevada vulnerabilidade externa herdada dos anos 90. Istofoi possvel devido aos supervits comerciais acumulados desde o incio dos anos2000, o que possibilitou o pas financiar o dficit estrutural na conta de servios erendas das transaes correntes e acumular reservas que hoje superam US$ 280bilhes. Como ser destacado mais a frente, esse aspecto foi fortemente influenciadopela crescente influncia da China na economia mundial.
Se do ponto de vista do deslocamento da restrio externa e da melhora nascondies macroeconmicas o setor externo teve um papel decisivo, do ponto de vistada demanda agregada, sua contribuio foi menos importante e concentrou-se no inciodo ciclo de crescimento (2003-04). A partir da, a demanda interna teve papel
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preponderante no estmulo da demanda agregada, como pode ser visto no Grfico 3. Ja partir de 2004, o consumo das famlias passou a ter um crescimento importante e
uma contribuio decisiva para a evoluo do PIB.Como destacado no estudo de Baltar et. al. (2010) o aumento dos gastos de
consumo esteve diretamente associado ao aumento da renda do trabalho. A reduo dodesemprego foi acompanhada do aumento da participao do emprego formal, aomesmo tempo em que a poltica de aumento do salrio mnimo fez com que a elevaodos rendimentos ocorresse de maneira mais acentuada nos estratos inferiores de renda.
Ao crescimento da renda e do emprego, se somou a expanso do crdito paraconsumo que, alm da reduo de taxas e da expanso de novas modalidades como ocrdito consignado, pode contar com uma base ampliada, em razo do prprio aumentodo nmero de trabalhadores formalizados.
Observou-se, assim, a retomada de um mecanismo de retroalimentao dinmicada economia extremamente importante, com a expanso do mercado de trabalhoestimulando o consumo e a prpria produo industrial. Em um primeiro momento odinamismo industrial esteve associado ao aumento da demanda domstica por bens deconsumo, sobretudo durveis e semi-durveis. Porm, o mais importante que em umsegundo momento, o vetor de dinamismo se expandiu para o investimento, refletindo-se na expanso da formao bruta de capital a partir de 2006 e principalmente 2007.
Grfico 3Crescimento do PIB e contribuio dos componentes da demanda ao crescimento, 2000-2009, em %
,
,
,
,
,
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,
%
Fonte: IBGE-SCN. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
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A partir de 2003, as taxas de lucro da indstria passaram por uma recuperao,fato que com certeza est associado retomada dos gastos com consumo. A partir de
dados das 1000 maiores empresas brasileiras publicada pelo jornal Valor Econmico, possvel observar essa tendncia, ao mesmo tempo em que se verifica uma reduo dograu de endividamento at 2006 (Grfico 4).
Grfico 4Rentabilidade e endividamento das 1000 maiores empresas, 2000-2008 (em %)
Fonte: Elaborao NEIT-IE-Unicamp a partir de dados do Valor 1000.
A expectativa de continuidade dos elementos que favoreciam a expanso doconsumo, aliados ao afastamento de fatores de restrio macroeconmicos internos e retomada de polticas para coordenar investimentos produtivos e de infraestruturaresultaram em elevao dos investimentos.
Como pode ser visto no Grfico 5, a taxa de formao bruta de capital fixo(FBCF) cresceu frente do PIB durante 19 trimestres, a partir do segundo trimestre de2004 at o quarto trimestre de 2008, quando foi bruscamente interrompida pela crisefinanceira internacional. Em especial a partir de 2006, a diferena entre o crescimentodas duas variveis foi aumentando em favor dos investimentos, fato que tambm deve
ter se refletido no aumento do grau de endividamento empresarial observado noGrfico 4. interessante notar que desde o incio dos anos 90, para os quais existemdados comparveis, o perodo anterior mais longo de crescimento da FBCF acima doPIB foi entre o segundo trimestre de 1993 e o terceiro trimestre de 1995, isto , durante10 trimestres.
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Os investimentos concentraram-se inicialmente na infra-estrutura e nos setoresindustriais exportadores, mas posteriormente foram se ampliando para outros setores
industriais e para a construo civil. Assim, a indstria brasileira contribuiu, em menormedida, e foi beneficiada, em grande medida, pelo ciclo de crescimento e deinvestimento recente.
Grfico 5Taxa de variao do PIB e da FBCF 1992-2010 (em %)
Fonte: IBGE-SCN. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
A contribuio dos investimentos para a expanso do PIB pode ser visto demaneira mais detalhada no Grfico 6. J no quarto trimestre de 2008 pode se perceberuma interrupo brusca no crescimento do investimento, enquanto em 2009, at oterceiro trimestre, a contribuio foi bastante negativa, como resultado da interrupode vrios projetos frente incerteza provocada pela crise internacional.
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Grfico 6Taxa de contribuio do investimento para a variao do PIB (em %)
Fonte: SCN-IBGE. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
Do ponto de vista das categorias de uso, pode ser visto atravs do Grfico 7, queo perodo recente marcado justamente pelo crescimento da produo de bens deconsumo e bens de bens de capital, de maneira mais acelerada do que o da produoindustrial em geral. Em especial a partir de 2006, o crescimento da produo de bensde capital se acelerou, passando a apresentar um ritmo muito mais forte do que osdemais setores.
Tambm pode ser observado pelo Grfico 7. que a indstria foi duramenteatingida pela crise financeira internacional, o que se refletiu na contrao das vendas,da produo e do emprego e no cancelamento e/ou postergao de vrios projetos deinvestimentos. Segundo, o BNDES o valor dos investimentos de projetos firmes naeconomia brasileira previstos para o perodo 2009-2012 que era de US$ 780,5 bilhesantes da crise foi revisto para US$ 730,7 bilhes em junho de 2009. A maior queda foi
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com relao aos projetos de investimento na indstria de US$ 239,4 bilhes paraUS$ 159,5 bilhes em junho de 2009.
Grfico 7ndices de produo fsica da indstria por categoria de uso
Mdia 2002 = 100. Jan./1991 a jun./2010
Fonte: PIM-PF-IBGE. Elaborao NEIT-IE-UNICAMP.
Porm, o que se observa tambm que a economia brasileira superou de
maneira relativamente rpida o perodo de crise. As medidas fiscais, monetrias efinanceiras tiveram um efeito bastante positivo e os dados observados no final de 2009e incio de 2010 indicam uma retomada com um padro bastante similar ao perodoanterior crise, inclusive com crescimento mais rpido da produo de bens de capitale a volta da contribuio positiva do investimento para o crescimento do PIB.
Outra mudana importante que tem se verificado no perodo recente a reduoda assimetria existente entre o grau de internacionalizao via investimentos diretosrealizados e recebidos do exterior. Se, por um lado, a estrutura produtiva brasileiracontou com uma crescente participao de capital externo, de outro, as empresasbrasileiras apresentaram nos anos 90 e na primeira metade dos anos 2000 uma inseroexterna preponderantemente comercial e com reduzidos investimentos diretos no
exterior (IBDE). O valor mdio de IBDE foi inferior a US$ 1 bilho no perodo 1990-2000 e pouco superior a US$ 150 milhes no perodo 2001-03. O processo deinternacionalizao produtiva concentrou-se em um nmero reduzido de grandesempresas nacionais, que buscavam compensar no mercado externo a retrao e/ou
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baixo dinamismo do mercado domstico ou mesmo contornarem os entravesprotecionistas s suas exportaes.
Embora a assimetria entre os fluxos de IDE recebido e realizado seja umacaracterstica geral dos PED, mesmo entre os mais internacionalizados, no casobrasileiro esta tendncia foi bem mais acentuada. Com base nos indicadores da Tabela2 possvel observar que o coeficiente da relao IDE realizado e IDE recebido paraos PED no perodo 1990-2000 foi de 40,5% contra 122,5% para os pases avanados.No mesmo perodo o coeficiente foi de apenas 8,7% para o Brasil.
Tabela 2Brasil e pases selecionados: indicadores de internacionalizao produtiva (em US$ milhes e em %)
Variao Participao
IDE realizado (outflow)1990-00
(a)2001-03
(b)2004-08
(c)1990-2008
em %(c)/(a)
1990-00(em %)
2001-03(em %)
2004-08(em %)
Brasil 1.048 158 13.610 4.213 1.198,8 0,2 0,0 0,9 China 2.195 4.086 22.708 7.892 934,6 0,4 0,7 1,6Mundo 490.009 615.211 1.441.960 760.291 194,3 100,0 100,0 100,0 Economias emdesenvolvimento
52.929 59.355 207.326 94.574 291,7 10,8 9,6 14,4
PED asiticos 37.509 36.545 152.455 67.606 306,4 7,7 5,9 10,6 Economias desenvolvidas 435.734 549.833 1.202.200 655.451 175,9 88,9 89,4 83,4 Variao Participao
IDE recebido (inflow)1990-00
(a)2001-03
(b)2004-08
(c)1990-2008
em %(c)/(a)
1990-2000(em %)
2001-2003(em %)
2004-2008(em %)
Brasil 12.000 16.397 26.335 16.467 119,5 2,4 2,4 1,9 China 30.104 51.042 79.517 46.413 164,1 6,1 7,6 5,8Mundo 490.159 671.755 1.369.097 750.132 179,3 100,0 100,0 100,0 Economias emdesenvolvimento
130.741 191.783 440.706 221.949 237,1 26,7 28,5 32,2
PED asiticos 76.328 110.683 277.608 134.721 263,7 15,6 16,5 20,3 Economias desenvolvidas 354.817 466.332 864.185 506.469 143,6 72,4 69,4 63,1Relao IDErealizado e recebido
1990-00 2001-03 2004-08 1990-2008
(Outflow / Inflow) (%) (%) (%) (%)Brasil 8,7 1,0 51,7 25,6China 7,3 8,0 28,6 17,0
Economias emdesenvolvimento
40,5 30,9 47,0 42,6
PED asiticos 49,1 33,0 54,9 50,2Economias desenvolvidas 122,8 117,9 139,1 129,4
Fonte: Unctad. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
Essa assimetria foi parcialmente revertida no ciclo de crescimento de 2004-08.
Vale destacar, porm, que o aumento do investimento no exterior e o surgimento deempresas mais internacionalizadas no um fenmeno apenas brasileiro, mas que vemocorrendo para os pases em desenvolvimento em geral (UNCTAD, 2007). Em 1990 ospases em desenvolvimento representavam cerca de 5% do fluxo mundial deinvestimento direto realizado no exterior, em 2008 essa participao triplicou e atingiu
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15,6%. Em termos de estoque, a participao saltou de 8,1% em 1990 para 14,5% em2008. Alm do Brasil, tambm contriburam para a maior participao dos PED nos
fluxos globais de investimento realizado no exterior os investimentos realizados pelasempresas chinesas, indianas, russas, coreanas e sediadas em Hong Kong e Taiwan. Emmenor medida, tambm as empresas do Mxico e da Argentina experimentaram umprocesso maior de internacionalizao produtiva.
No caso brasileiro, os fluxos mdios anuais de IBDE saltaram para US$ 13,6bilhes no perodo 2004-08. Alguns outros indicadores confirmam a crescenteimportncia do IBDE. A relao entre os fluxos de IDE recebido e realizado noexterior que foi de 8,7% no perodo 1990-2000, reduzindo-se ainda mais no perodo2001-03 para apenas 1%, saltou para 51,7% no perodo 2004-08, ou seja, para cadaUS$ 2 de investimento recebido pelo pas, foi investido um dlar no exterior.
A estratgia de internacionalizao abrangeu um nmero maior de setores(industriais e de servios) e de empresas, inclusive de mdio porte, com importanteinsero regional. Ainda assim, o processo foi mais intenso nos setores de commodities(petrleo, minerao, siderurgia, papel e celulose e alimentos) e de servios(engenharia e construo civil) com insero global, o que reflete o padro deespecializao da estrutura produtiva e a maior competitividade desses setores (verTabela 3).
Tabela 3Maiores multinacionais brasileiras por ativos no exterior em 2008
Rank Empresa SetorAtivos noExterior
(US$ milhes)% no Exterior
1 Vale Minerao 52.167 52%2 Gerdau Siderurgia/Metalurgia 20.375 63%3 Petrobrs Energia 14.441 13%4 Votorantim Commodities 7.426 10%5 Odebrecht Construo 4.434 20%6 Embraer Aeronutica 4.379 39%7 Marfrig Alimentos 1.765 35%8 Camargo Correa Construo 1.733 16%9 Ultrapar Distribuio de Combustveis 515 10%10 Weg Motores 474 18%11 Tigre Material de Construo 393 46%12 Andrade Gutierrez Construo 353 3%13 Marcopolo nibus e Peas 216 16%14 Amrica Latina Logstica Transporte 167 3%
15 Lupatech Metal-mecnica 163 18%16 Itautec Servios de TI 130 20%17 Sab Autopeas 125 49%18 Oi Serv. Telecom 119 0%19 Perdigo Alimentos 108 2%20 Aracruz Celulose 105 2%
Fonte: Fundao Dom Cabral.
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A melhoria nos indicadores financeiros e nas condies de financiamentoforam fatores decisivos para suportar o novo ciclo de internacionalizao. A maior
rentabilidade contribuiu para melhorar as condies de autofinanciamento dasempresas, bem como sua capacidade de alavancagem financeira. Tambm foi decisivaa atuao do BNDES na concesso de emprstimos e/ou nas operaes decapitalizao das empresas, sobretudo para viabilizar as operaes de fuses eaquisies (F&A), o que aponta para estratgias de internacionalizao mais ativas dasempresas brasileiras.
Observa-se, assim, um cenrio de mudanas importantes nos anos mais recentes.Essas mudanas e a recuperao ps-crise criam expectativas de uma nova trajetria decrescimento econmico, sustentada no curto prazo no dinamismo da demandadomstica. A normalizao das condies de crdito e financiamento, a recuperaodos nveis de emprego formal e da massa salarial, aumento real do salrio mnimo e os
programas sociais de transferncia de renda podem assegurar uma taxa de crescimentodo consumo igual ou superior taxa pr-crise. Mas a maior contribuio aocrescimento sustentado dever vir da ampliao dos investimentos em infra-estrutura,na construo civil, no Pr-sal e na prpria indstria.
importante destacar, porm, que a volta do crescimento econmico e aretomada ps-crise, embora tenha sinalizado que a indstria continua tendo o poder deresponder aos estmulos do crescimento da renda, exercendo efeitos de encadeamentointer e intra-setoriais importantes e retroalimentadores sobre o prprio crescimento darenda, do emprego e do investimento, no possvel ainda afirmar que esse processoter continuidade no futuro. Ou, nos termos que est colocado nesse livro, que o pas
retomar de forma sustentada seu processo de industrializao.No mdio e longo prazos, coloca-se o desafio de garantir o aproveitamento do
dinamismo do mercado interno para no apenas voltar a elevar a taxa de investimento,como tambm incentivar investimentos que possam fomentar mudanas estruturais quetornem o pas capaz de enfrentar uma competio externa cada vez mais acirrada, sejapor parte de outros pases emergentes, em especial os asiticos, seja por parte dospases centrais, que devem buscar acelerar os processos de mudana tecnolgica paraestimular a retomada de seu prprio crescimento.
Em grande medida, a direo do desenvolvimento industrial brasileiro dependerda capacidade de articular estratgias que consigam maximizar as oportunidades
abertas e reduzir os riscos que se colocam para o futuro. Essa no uma tarefa trivial,uma vez que os prprios desafios e oportunidades que esto colocados atualmentenecessitam ser delineados com clareza para seu enfrentamento. A prxima seoprocura abordar essa questo
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3 Desafios e oportunidades para retomar o processo de industrializao
Os desafios e oportunidades associados ao desenvolvimento futuro da indstria
brasileira devem ser entendidos a partir de um conjunto de mudanas importantes quevem ocorrendo no plano interno e externo, alterando rapidamente o ambiente emrelao aos perodos anteriores.
No plano externo, os principais organismos e agncias internacionais (FMI,Banco Mundial, IIF) apontam para um padro de crescimento da economia global ps-crise ancorado nas economias emergentes, sobretudo asiticas, que tendero a crescer ataxas muito maiores que as economias avanadas nos prximos anos. A ttulo deilustrao j em 2009, as estatsticas apontam que a China (9,6%) e ndia (7,3%)tiveram taxas de crescimento positivas, contra uma taxa mdia negativa de -3,2% paraas economias avanadas. Para 2010, as expectativas so que os mercados emergentes
devero crescer em mdia 6,3% (8,7% na sia, 2,8% na Europa e 4% na AmricaLatina) contra 2,3% nas economias avanadas. A projeo do FMI que os pasesemergentes passem a ter uma contribuio crescente para o crescimento global.Somente a China, segundo a mesma fonte, deve responder por cerca de 1/3 docrescimento mundial em 2015.
A capacidade de recuperao da China, que surpreendeu alguns especialistas,demonstra as vantagens de ter um mercado domstico de grandes dimenses, bemcomo de exercer um elevado controle sobre a evoluo da demanda domstica. Ocrescimento chins tender a beneficiar diretamente os demais pases asiticos dadasua posio de centro de gravidade e por realizar a etapa final de montagem edistribuio dos produtos para fora da regio, em especial para os EUA, ao mesmo
tempo em que importa grande quantidade de bens de capital, peas e componentes dosdemais pases dentro da regio asitica. Alm disso, o prprio crescimento da demandainterna vem crescentemente exercendo os mesmos efeitos de encadeamento sobre orestante dos pases asiticos.
importante destacar que apesar da importncia do comrcio exterior para aestratgia inicial de industrializao e para o acmulo de reservas, o mercadodomstico e o investimento tem cumprido um papel cada vez mais importante naeconomia chinesa. Como ressaltado por Medeiros (2007), o rpido processo deindustrializao e urbanizao na China, coordenado em grande parte peloinvestimento pblico das empresas estatais, tem resultado em uma demanda crescente
tanto por energia e alimentos, como por commodities minerais e industriais necessriaspara dar suporte ao crescimento da infra-estrutura urbana. Alm disso, a expanso darenda tem propiciado uma crescente diferenciao de consumo, inclusive de bensdurveis.
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O nvel de desenvolvimento econmico atingido pela China, refletido tambmem suas elevadas escalas de produo e consumo, tem posicionado o pas no apenas
como um grande produtor de manufaturas industriais, mas tambm como um grandeconsumidor de manufaturas, alimentos e matrias-primas minerais e energticas. Almdisso, o seu poder de arrasto sobre as demais economias da regio faz com que esseprocesso de elevao da renda e diferenciao de consumo acabe transbordando paraos demais pases asiticos.
Esse movimento vem beneficiando os exportadores de commodities, alterandobastante os termos de troca em favor dos produtos primrios, entre eles o Brasil, apartir do incio dos 2000, em especial a partir de 2003. A crescente importncia daChina como grande importadora desses produtos exerceu grande impacto sobre asexportaes brasileiras, contribuindo para reduzir a vulnerabilidade externa vigente atento. importante lembrar que tambm as exportaes brasileiras de manufaturados
foram alavancadas por esse processo, na medida em que o aumento da demanda porcommodities aumentou a capacidade de importao de grande parte dos pases daAmrica Latina, onde o Brasil tradicionalmente concentra suas exportaes demanufaturados (Hiratuka et. al., 2007)
O crescimento sincronizado das economias centrais no perodo anterior crisetambm favoreceu a alta de preo das commodities, mas a rpida recuperao emanuteno em patamares elevados depois da fase mais aguda da crise internacionalem 2008 mostra que a China tem tido um papel cada vez mais preponderante na taxade crescimento da demanda por esses produtos (Grfico 8).
Grfico 8ndice de preos de commodities. 2005 = 100
0
50
100
150
200
250
1992
_1
1992
_8
1993
_3
1993
_10
1994
_5
1994
_12
1995
_7
1996
_2
1996
_9
1997
_4
1997
_11
1998
_6
1999
_1
1999
_8
2000
_3
2000
_10
2001
_5
2001
_12
2002
_7
2003
_2
2003
_9
2004
_4
2004
_11
2005
_6
2006
_1
2006
_8
2007
_3
2007
_10
2008
_5
2008
_12
2009
_7
2010
_2
Commodities Total Commodities exclusive combustveis
Fonte: FMI. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
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Em termos dos fluxos de comrcio internacional, tambm possvel verificarcomo a evoluo no perodo recente tem sido diferente do perodo anterior.
Considerando os grandes grupos de produtos, chama ateno o maior crescimento dosprodutos agrcolas e dos combustveis e minerais em relao s exportaes demanufaturas. Alm disso, dentro do grupo de manufaturas, as exportaes de Ferro eAo tiveram taxas superiores aos demais grupos. O fato das economias centrais japresentarem sinais da crise em 2008 pode explicar a menor taxa de crescimento docomrcio dos produtos que lideraram o crescimento anterior, como os do complexoeletrnico, mas no explicam o elevado crescimento das commodities agrcolas eindustriais.
Tabela 4Crescimento e estrutura do comrcio mundial por grandes grupos de produtos. 2000-2008. Em %
Cres. 2000-2008 2008 2000Produtos Agrcolas 11,7 8,4 8,5
Combustveis e Minrio 19,3 22,1 13,3
Combustveis 20,0 17,9 10,3
Manufaturas 10,5 65,6 72,8
Ferro e Ao 19,3 3,7 2,2
Qumicos 14,3 10,7 9,0
Informtica, Eletrnica e Telecom. 6,1 9,8 15,0
Automotivo 10,0 7,7 8,9
Txtil 6,0 1,6 2,4
Vesturio 7,8 2,3 3,1Fonte: WTO. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
Independente da recuperao do comrcio de manufaturas, a perspectiva decontinuidade do crescimento chins e, em menor medida da ndia, com um padrocrescentemente puxado pelos investimentos em infra-estrutura e pelo consumodomstico, pode significar uma demanda aquecida por produtos primrios ecommodities industriais, com preos favorveis por um perodo de temporelativamente longo.
Se do ponto de vista da demanda por produtos bsicos, a demanda chinesa podepotencialmente ser um fator positivo, por outro, no caso da produo demanufaturados, a concorrncia asitica em geral, e chinesa em particular, representa
claramente uma ameaa para os pases com produo industrial importante. No caso doBrasil e dos demais pases da Amrica Latina, essa ameaa mais evidente porque asestruturas industriais desses pases no podem se beneficiar da proximidade e das redesde produo compartilhada j montadas, como os demais PED da sia. Nesses pases,o efeito competio compensado pelo efeito aumento de demanda por importaes de
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outros produtos manufaturados (Medeiros, 2007), fato que no acontece nos pases daAmrica Latina.
Um aspecto importante que o tamanho e o dinamismo do mercado chins temdeslocado as escalas de produo para nveis extremamente elevados. Esse fatoproporciona vantagens de custo que se somam ao custo de mo-de-obra. A capacidadede incorporao de mo-de-obra com custos baixos, seja na China, seja em outrospases asiticos para onde a fronteira de produo manufatureira tambm vem seexpandindo, como Vietn e Bangladesh, indicam que possvel esperar que atendncia de reduo de preos relativos de produtos manufaturados continue por umbom tempo, em especial naqueles produtos onde fragmentao do processo produtivodeslocou etapas mais intensiva em mo-de-obra para esses pases.
Quando Prebish apontava uma tendncia de deteriorao dos termos de troca
desfavorveis aos pases perifricos da Amrica Latina, ele se referia ao surgimento deum novo contexto no ps-guerra, onde o novo centro cclico principal era um grandeprodutor de matrias primas, concorrendo portanto com as economias perifricas, mastambm onde a produo industrial se consolidava em uma estrutura oligoplica,verticalmente integrada dentro dos prprios pases centrais, e que empregavatrabalhadores sindicalizados que conquistavam direitos sociais crescentes, e, portanto,com resistncia a reduo de salrios.
J a emergncia de China e seu processo de industrializao e montagem deinfra-estrutura urbana muito mais dependente de fornecimento externo de matrias-primas minerais, energticas e agroalimentares. Ao mesmo tempo, embora a estruturaoligoplica em vrias cadeias se mantenha e tenha at se acentuado em vrias
atividades, as etapas manufatureiras foram em grande medida deslocadas para umaregio com uma oferta extremamente abundante de mo-de-obra barata. possvelimaginar, assim, que os termos de troca podem continuar favorveis s commoditiespor um bom tempo.
Novamente importante destacar que o processo de descentralizao daatividade manufatureira no significou reduo da concentrao e centralizao docapital. Pelo contrrio, a elevao do poder de comando das grandes corporaes dospases centrais sobre o valor gerado nas diferentes regies foi potencializado, aomesmo tempo em que grande parte do comprometimento de recursos com atividadesintensivas em mo-de-obra foi externalizado. At porque, esse processo foi
acompanhado de um movimento acelerado de fuses e aquisies.Ao mesmo tempo, a poltica de estmulo formao de grandes grupos estatais e
privados nacionais nos pases em desenvolvimento, evidenciou ainda mais o aumentorpido das escalas empresariais, originando empresas que vem se lanandorapidamente no mercado internacional. Vale destacar que o surgimento de grandes
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empresas internacionais no apenas uma caracterstica chinesa, mas tambm deoutros pases em desenvolvimento, como ndia e Rssia, que buscam utilizar essas
empresas para alavancar investimentos em expanso produtiva no mercado domsticoe internacional e crescentemente para dominar outros ativos intangveis como marcas,canais de comercializao e capacitaes tecnolgicas.
Coloca-se, portanto, o desafio de enfrentar uma competio em custo bastanteacirrada, com barreiras entrada crescente para a participao nos oligopliosmundiais, dadas pela elevao da escala, tanto tcnica como empresarial. Ao mesmotempo, os fatores tecnolgicos continuam tendo um peso importante. Apenas comoexemplo, a sinalizao dado pelo governo dos Estados Unidos no pacote de estmulospara a recuperao da crise financeira aponta para uma crescente importncia daspesquisas cientficas voltadas para o desenvolvimento de novas fontes de energiarenovvel. O prprio governo chins tambm vem sinalizando uma preocupao
crescente com os impactos ambientais do seu desenvolvimento, canalizando recursostambm para essa rea.
Observa-se, assim, um cenrio onde existe a perspectiva de uma inseroexterna favorvel para as commodities agrcolas, minerais, metlicas, energticas e dealimentos, ao mesmo tempo em que a competio nas demais reas de produtosmanufaturados e servios de alto valor devem ser tornar mais acirrados. Asperspectivas de expanso da demanda interna so bastante positivas, mas o riscoconcentra-se na capacidade da indstria nacional de atender essa demanda, evitandoque uma parcela considervel seja desviada para o exterior via aumento do coeficientee contedo importados no bojo de um crescente processo de valorizao cambial que
pode inclusive ser reforado pela crescente insero externa nos setores primrios.O Grfico 9 mostra uma inverso no saldo comercial da indstria de
transformao a partir de 2008. Embora a evoluo das exportaes industriais tenhasido crescente no perodo, as importaes cresceram mais que proporcionalmente,provocando um dficit comercial de US$ 14,4 bilhes em 2008, contra um supervitmdio de US$ 17,3 bilhes no perodo 2003-07. Com a crise internacional, a queda dasexportaes superou em muito a das importaes, ampliando o dficit comercial paraUS$ 16,4 bilhes em 2009. Esta tendncia se acentuou na recuperao da economia aolongo do primeiro semestre de 2010. Considerando apenas o acumulado entre Janeiro eOutubro de 2010, o dficit da Indstria de Transformao atingiu US$ 30,8 bilhes,praticamente o dobro do valor observado em 2009.
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Grfico 9Evoluo do comrcio exterior da indstria de transformao no Brasil 2002-2009
(em US$ bilhes)
/
Fonte: MDIC-Secex. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
Os setores industriais que mais contriburam para a gerao do saldo comercialnegativo foram mecnico, material eltrico e de comunicaes, qumico, farmacuticoe produtos de matrias plsticas. Este desempenho est associado ao aumento docontedo importado nesses setores, ou seja, ao aumento das importaes de partes,peas, insumos e componentes. Entretanto, o forte crescimento das importaes debens de consumo durveis no perodo mais recente aponta para um aumento tambmdo coeficiente importado de bens finais e no apenas de bens intermedirios.
Outro ponto de destaque que tanto nas importaes de bens intermediriosquanto de bens finais, observou-se um expressivo crescimento de participao dasimportaes provenientes da China (Grfico 10). Em 2000, os produtos chineses
representavam apenas 2% da pauta de importao brasileira, participao que mais quedobrou em 2003, e que saltou para 13,5% em 2010, s sendo superada pelaparticipao das importaes dos EUA. Por outro lado, a China tornou-se no mesmoperodo o maior mercado de exportaes brasileiras, sendo responsvel por quase 16%do total 9contra apenas 2% em 2000 e 6,2% em 2003.
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Grfico 10Evoluo da participao chinesa nas importaes e exportaes brasileiras
2000-2010 (em %)
2,0
3,3
4,2
6,25,6 5,8
6,1
6,7
8,3
13,7
2,4
3,3
4,4
5,9
7,3
8,8
10,5
11,6
12,5
15,7
13,5
2,2
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 jan-jul 2010
Exp Imp
Fonte: MDIC-secex. Elaborao NEIT-IE-Unicamp.
A evoluo da pauta de comrcio exterior brasileiro depender em grandemedida da evoluo dos investimentos industriais. Do ponto de vista dos diferentessistemas produtivos, abre-se uma perspectiva bastante favorvel para que o Brasil
consolide sua posio de grande fornecedor de commodities, em especial atravs dossistemas produtivos do agronegcio e de insumos bsicos. Vale destacar, porm, que aforma como ocorrer os investimentos futuros desses sistemas pode significar impactosbastantes distintos.
Em um primeiro cenrio, podem ocorrer apenas investimentos a partir decapitais nacionais e internacionais induzidos por esse cenrio de expanso da demandae dos fatores de vantagem j conquistados pelo Brasil para uma oferta competitiva. Aampliao dos investimentos nesse cenrio teria efeitos positivos, em especial para amanuteno de uma situao externa mais confortvel em termos de divisas.
No entanto, so necessrios, alm dos investimentos induzidos puramente pela
expanso da demanda, um conjunto de investimentos estratgicos capazes de mudarsignificativamente as capacitaes existentes nos sistemas produtivos e melhorar ascondies de aproveitamento das oportunidades existentes. Embora a existncia deuma demanda externa relevante possa significar uma oportunidade para pases comrecursos e capacitaes para atender a essa demanda, para um pas com uma estrutura
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industrial diversificada como a do Brasil, a forma como essas oportunidades podem sercapturadas dependem tambm da intensidade com que se consiga articular
capacitaes produtivas e tecnolgicas em outros setores a jusante e a montante.Alm disso, no atual processo de competio globalizada, garantir uma posio
relevante nesses segmentos implica assumir uma posio relevante dentro da cadeia devalor desses produtos. Em muitos casos isso significa avanar na logstica dedistribuio e aumentar o domnio sobre canais de comercializao internacionais. Emoutros significa reforar capacitaes produtivas e tecnolgicas nas atividades defornecimento e suporte (servios especializados, servios financeiros e logstica defornecimento). Na maior parte das vezes, esse movimento precisa ser acompanhado doaumento da escala empresarial e do grau de internacionalizao dos atores principaisdentro desses dois sistemas produtivos.
Vale destacar ainda que aproveitar plenamente as oportunidades abertas pelaintegrao da estrutura de produo brasileira com a estrutura de produo e consumoasitica deve passa necessariamente pelo reforo dos elos entre os diferentes sistemas esubsistemas da indstria brasileira. Em especial, o sistema mecnico e tambm algunssegmentos do sistema eletrnico podem se articular de maneira mais efetiva com ossistemas do agronegcio e de insumos bsicos mais diretamente voltados ao mercadoexterno.
Quanto ao mercado interno, como j ressaltado, a expectativa que a expansoda demanda seja sustentada pelos gastos com consumo e crescentemente pelos gastoscom investimento. A expanso do mercado interno de grandes propores, em umambiente internacional onde os pases centrais devem continuar crescendo a um ritmo
lento por um perodo relativamente longo, com certeza se torna um ativo com o qualpoucos pases podem contar. O grande desafio justamente como transformar ocrescimento da demanda interna em um vetor no apenas de expanso de capacidadeprodutiva, mas tambm de mudana estrutural de longo prazo, viabilizando oaproveitamento de economias de escala e escopo, o acmulo de capacitaestecnolgicas e organizacionais e maior grau de internacionalizao, garantindo aomesmo tempo aumentos substanciais de produtividade para sustentar a taxa decrescimento da renda.
Os dados da Tabela 5 mostram os investimentos mapeados pelo BNDES para operodo 2010-2013. O crescimento total estimado de 54,6% (ou 9,1% ao ano), sendo
que uma parcela muito relevante deve estar concentrada no setor de petrleo e gs e nainfra-estrutura. Um aspecto que deve ser ressaltado que em grande parte dessessegmentos, o Estado Brasileiro tem uma grande capacidade de influenciar as decisesde investimento, coordenando ao mesmo tempo decises privadas.
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Tabela 5Investimentos mapeados no Brasil pelo BNDES. Em R$ bilhes e %.
Setores 2005-2008 2010-2013 Cresc. a. a.R$ bilhes % R$ bilhes %
Petrleo e Gs 160 18,7 340 25,7 16,3
Extrativa Mineral 53 6,2 52 3,9 -0,6
Siderurgia 26 3,0 51 3,8 14,8
Qumica 20 2,3 34 2,6 11,3
Automotiva 23 2,7 32 2,4 6,6
Eletrnica 15 1,8 21 1,6 6,8
Papel e Celulose 17 2,0 19 1,4 2
Total Indstria 314 36,7 549 41,4 11,8
Energia Eltrica 67 7,8 98 7,4 7,8
Telecomunicaes 66 7,7 67 5,1 0,4
Saneamento 22 2,6 39 2,9 12Ferrovias 19 2,2 56 4,2 24,2
Transporte Rodovirio 21 2,5 36 2,7 11,6
Portos 4 0,5 15 1,1 26
Total Infra-Estrutura 199 23,2 311 23,5 9,2
Total Edificaes 343 40,1 465 35,1 6,3
Total 856 100,0 1325 100,0 9,1Fonte: GT Investimento BNDES, extrado de Puga, F. (Viso do Desenvolvimento, n. 81).
A existncia de polticas prvias, em especial o PAC e a PDP, que foramreforadas para enfrentar a crise, com certeza um elemento que conta positivamente
no enfrentamento do desafio de melhorar os instrumentos de coordenao entre asvrias instncias governamentais e entre o setor pblico e o setor privado. Essacoordenao poderia ser utilizada, por exemplo para utilizar de maneira mais intensa aspolticas de poder de compras que privilegiem o contedo local e o desenvolvimentoprodutivo e tecnolgico de fornecedores locais, como na cadeia de petrleo e gs, nosetor de TICs, no Complexo Industrial da Sade e na indstria da Defesa.
Os exemplos anteriores mostram a importncia de transformar aquilo quepoderia simplesmente ser uma elevao dos investimentos na indstria, induzidos pelaexistncia de investimentos nas cadeias mencionadas, em mais investimentosestratgicos, voltados para alterar a capacidade competitiva de longo prazo da prpriaindstria, em especial em vrios dos subsistemas dos Sistemas Mecnico e Eletrnico.
Alm disso, tambm fundamental reconhecer que o aumento da capacidadecompetitiva passe pela reestruturao patrimonial e consolidao de empresas lderes ede grupos econmicos, com ampliao da escala empresarial. Em setores ondepredominam filiais de empresas estrangeiras, tambm importante aproveitar o maior
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dinamismo do mercado interno para buscar ampliar e melhorar as funes corporativasdas filiais dentro da cadeia global da corporao.
Vale lembrar que a consolidao do Brasil enquanto grande fornecedor dematrias-primas e alimentos para o bloco de produo asitico liderado pela China,assim como as perspectivas de exportao de petrleo e derivados, tende a pressionar avalorizao do real. Ou seja, corre-se o risco de termos uma situao de demandaaquecida, combinada com valorizao cambial e concorrncia forte em produtosmanufaturados no apenas no mercado domstico, mas tambm nos principaismercados de destinos das exportaes brasileiras.
A indstria ter um duplo papel na construo de um ciclo virtuoso decrescimento. De um lado, poder contribuir para a dinamizao da demanda domstica,atravs da expanso do consumo (incremento do emprego e da massa salarial) e do
investimento e, em menor medida atravs das exportaes. Do ponto de vistamacroeconmico, a importncia do desempenho exportador industrial est cada menosassociado sua capacidade de imprimir dinamismo economia e sim de assegurar agerao de supervits comerciais e de contribuir para a reduo da sua vulnerabilidadeexterna. A atual insero da indstria brasileira no dinmico sistema produtivo e deconsumo dos pases emergentes, sobretudo asiticos, dever assegurar o dinamismoexportador nas reas de alimentos e de energia.
De outro lado, a indstria tem o desafio de acumular capacitaes produtivas etecnolgicas para assegurar as condies materiais para o aumento do investimento, doconsumo e das exportaes. Para tanto, novos investimentos industriais deveroampliar a capacidade de produo e inovao, modernizar plantas, diferenciar e
agregar valor aos produtos, consolidar empresas lderes e grupos econmicos, integrarsistemas de produo, distribuio e comercializao e promover a internacionalizaode empresas nacionais.
4 Proposies de polticas para o desenvolvimento industrial
A crise financeira internacional iniciada em 2008 e as polticas e estratgias deseu enfrentamento ao longo de 2009 e 2010 reforaram o argumento que a posse de ummercado domstico dinmico e de grandes dimenses um ativo estratgico quepoucos pases podem usufruir. As experincias mais bem sucedidas de enfrentamentoda crise dentre os pases emergentes - Brasil, China e ndia apontam para importncia
da capacidade de coordenao das variveis domsticas (investimento, gastos efinanciamento pblico, produo e consumo), o que pressupe, por sua vez, umacapacidade de interveno, de formulao e de execuo de polticas pblicas.
Os cenrios domstico e internacional no perodo ps-crise global ampliaramas oportunidades mas tambm os riscos para o desenvolvimento industrial brasileiro.
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Otimizar essas oportunidades e minimizar os riscos existentes sero os grandesdesafios da poltica de desenvolvimento industrial brasileira na prxima dcada.
O padro de crescimento global ps-crise dever se estruturar em torno de doisgrandes vetores. Primeiro, a expanso global seguir liderada pelos pases emergentes,com destaque para a China. O padro de crescimento dos emergentes continuar, porsua vez, sustentado na expanso industrial. O desenvolvimento industrial asiticocontinuar associado principalmente s elevadas taxas de investimentos eminfraestrutura e s mudanas na intensidade e no padro de consumo, no mbito doaprofundamento do processo de urbanizao, e, em menor medida, ao crescimento desuas exportaes e ao processo de internacionalizao produtiva de suas empresas,reforando as posies nas redes regionais e globais de produo e assegurando oacesso aos insumos e matrias-primas. Em todas as dimenses so reforadas cada vezmais as economias de escala empresariais e externas nas atividades industriais como
elementos centrais na reduo de custos e preos e na gerao de vantagenscompetitivas.
O segundo vetor de dinamismo dever ser observado nos pases avanados,que tendero a promover um novo boom de investimento em reas estratgicas(energias alternativas, segurana alimentar e biotecnologia e defesa) e de conhecimento(cultura e entretenimento, novos materiais, nanotecnologia, tecnologias de informaoe comunicao, entre outros). Os impactos das novas tecnologias sobre a matrizenergtica, de produo, distribuio e comercializao, bem como sua difuso eutilizao nos demais setores de atividades devero promover mudanas importantesna dinmica de acumulao e apropriao capitalista e no atual quadro geopoltico.
As polticas pblicas anticclicas de enfrentamento da crise no Brasil,sobretudo para reativar as vendas nos setores automotivo, de eletrodomstico, bens decapital e da construo civil, permitiram economia retomar o crescimento econmicoe industrial ainda em 2009. J no final do primeiro semestre de 2010, a indstriaretomava o mesmo patamar de produo do terceiro trimestre de 2008, que antecedeu acrise. Com a relativa normalizao da demanda e da produo, a agenda de poltica ede estratgias competitivas para a indstria dever se voltar para questes maisestruturantes de mdio e longo-prazos.
O Brasil tem desafios diferentes mas concatenados para o mdio e longoprazos. O desafio no curto e mdio prazos, ser de um lado, dinamizar a demanda
domstica atravs da expanso do consumo e do investimento. De outro, evitar queuma parcela considervel dessa expanso de demanda seja desviada para o exterior viaaumento desproporcional do coeficiente e contedo importados. O impacto negativo deum brusco aumento das importaes industriais seria mais intenso em relao sdecises de investimento que em relao ao fluxo corrente de produo dos setores
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industriais. Para tanto, a poltica de desenvolvimento industrial no Brasil dever tercomo principal meta assegurar que a crescente, ampla e segmentada demanda
domstica (consumo e investimento) seja atendida por uma crescente e competitivaoferta domstica de bens intermedirios, de capital e de consumo.
A demanda domstica (consumo e investimento) dever ser a principalalavanca para promover a reestruturao competitiva de setores e atividades maismaduros, a partir, sobretudo, do reforo das economias de escala empresariais eexternas; e de outro, da intensificao do processo de inovao e difuso tecnolgicas.Nos dois casos o dinamismo da demanda domstica ter uma contribuio decisiva,seja ampliando as escalas seja segmentando e sofisticando os mercados. A conjunode uma demanda dinmica e uma oferta competitiva so as bases para um maiordesenvolvimento industrial no bojo de um novo ciclo virtuoso de crescimento.
No mdio e longo prazos, o desafio da poltica de desenvolvimento industrialser promover mudanas estruturais: a) ampliao da capacidade de produo, deinovao, de diferenciao e de agregao de valor; b) modernizao e ampliao dainfra-estrutura; c) reestruturao patrimonial e consolidao de empresas lderes e degrupos econmicos para a ampliao da escala empresarial; d) maior integrao dossistemas de produo, distribuio e comercializao; e) ampliao e melhoria dasfunes corporativas das filiais de empresas estrangeiras no mbito da cadeia global devalor; f) maior insero exportadora em setores de maior contedo tecnolgico e maioragregao de valor; e g) ampliao do grau de internacionalizao produtiva dasempresas nacionais. Assim, no mdio e longo prazos a estrutura produtiva deverreduzir a dependncia do mercado domstico e reforar seu potencial de crescimento e
de acumulao com um intenso processo de internacionalizao comercial e produtiva.Esses dois eixos de mudanas temporais e estruturais assegurar uma
dinmica demanda domstica que induza uma reestruturao competitiva da indstriabrasileira e promover uma insero internacional mais ativa e virtuosa estointegrados e so imprescindveis para colocar o Brasil como novo e importanteprotagonista na economia global.
A Poltica de Desenvolvimento Produtivo (PDP) tem um diagnstico corretodos desafios da indstria brasileira no mdio prazo e fornece um roteiro bastanteabrangente de medidas e aes necessrias para ampliar o investimento e a produo,estimular as atividades de C&T&I, incrementar as exportaes e o fortalecimento de
micros e mdias empresas. Muitas das medidas e aes j esto em operao e deverotrazer resultados positivos no mdio prazo. Importante destacar a reviso de algunsprazos e metas frente crise internacional. A avaliao dessas polticas tem sido objetode vrios estudos realizados pelas instituies empresariais (Fiesp, CNI, IEDI, Abinee,Abimaq, entre outras) e de trabalhadores (CUT, Dieese), bem como de rgos do
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governo (ABDI, IPEA, MDIC, BNDES, entre outros). Embora existam diferenasnesses estudos com relao prioridade das polticas e dos instrumentos e a velocidade
de sua operacionalizao, em comum nessas anlises a importncia de se retomar oplanejamento do desenvolvimento industrial e o reconhecimento de que o pas dependedo desenvolvimento industrial para um desenvolvimento econmico e social maisabrangente e justo.
A anlise a seguir, sem a pretenso de esgotar o tema nem de aprofundar odebate sobre o diagnstico e as proposies de polticas, aes e instrumentos da PDP,tem como objetivo destacar algumas das medidas e polticas mais amplas para odesenvolvimento industrial brasileiro.
As condies objetivas para a expanso da demanda domstica atravs doincremento do investimento e do consumo esto relativamente dadas no curto e mdio
prazos. Pelo lado do consumo, a melhoria nas condies de crdito e financiamento, oaumento do emprego e da massa salarial e os programas sociais de transferncia derenda asseguram uma taxa de consumo crescente. Em particular, o aumento doconsumo interno dever beneficiar o sistema produtivo de Bens Salrios, que foi omais fragilizado nas ltimas dcadas pelo baixo poder aquisitivo e dinamismo domercado domstico. O sistema produtivo de Bens Salrios caracteriza-se por um maiorgrau de desconcentrao geogrfica e um elevado peso na estrutura de emprego.Assim, o prprio fortalecimento do sistema de Bens Salrios reforar o ciclo virtuosoda renda e consumo, alm de promover uma reduo na desigualdade de renda e nasdisparidades regionais. No mdio prazo, estas tendncias devero ser reforadas pelastransferncias sociais e regionais do excedente do Pr-sal
O maior risco para a expanso do consumo, sobretudo para o de bens deconsumo durveis de maior valor agregado, seria a adoo de uma poltica monetriaequivocada de elevao das taxas de juros, sob pretexto de uma poltica anti-inflacionria, com impactos negativos sobre as decises de gastos e de financiamento.Cabe observar que o nvel de endividamento das famlias (e tambm das empresas) noBrasil, embora crescente, est ainda muito abaixo dos padres internacionais. Arelao crdito para o setor privado e o PIB atingiu no auge do ciclo de crescimento ede financiamento 45%, patamar muito inferior ao de outras economias com mercadosfinanceiros estruturados. E mais, o aumento no grau de endividamento das famliasvem sendo acompanhado de aumento de renda e poder aquisitivo.
Pelo lado do investimento, h a expectativa de um novo ciclo de investimentoainda mais intenso do que o verificado no perodo 2006-08. Esses investimentos estoconcentrados na infraestrutura tradicional (energia eltrica e transportes, entre outros),na universalizao de servios (sade, educao, saneamento, segurana, tecnologiasde informao e comunicao), na construo civil (moradias para a populao de
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baixa e mdia rendas), no Pr-sal e na prpria indstria. Os eventos esportivos dasOlmpiadas em 2016 e da Copa do Mundo de Futebol em 2014 tambm sero
importantes vetores de investimentos. Cabe destacar o aumento dos investimentos nossetores industriais de bens intermedirios e de consumo voltados para o mercadodomstico.
A expanso da infraestrutura tradicional tem um triplo papel para odesenvolvimento industrial. Primeiro, constitui uma fonte de demanda importante,sobretudo, para os sistemas industriais de insumos bsicos e bens de capital seriados esob encomenda. Segundo, enquanto um fator sistmico de competitividade, permite areduo de custos de produo, logstica, transporte, distribuio e comercializao.Terceiro e ltimo, tem um forte impacto sobre o desenvolvimento regional, integrandoe promovendo novos mercados.
O ciclo de investimento ser fortemente acelerado pelos investimentos do Pr-sal. Importante destacar que a aprovao do novo marco regulatrio para o Pr-sal,com o sistema de partilha e de cesso onerosa, alm de permitir a capitalizao daPetrobrs, permitir que a Unio tenha uma maior controle na intensidade e velocidadeda gerao, apropriao e distribuio do excedente do Pr-sal. Esse controle daintensidade e velocidade dos investimentos fundamantal para o desenvolvimentocompetitivo de fornecedores domsticos, sobretudo nos setores naval e de mquinas eequipamentos.
Vrias das aes e polticas da PDP em termos tributrios (reduo do prazo deapropriao dos crditos tributrios na aquisio de bens de capital, depreciaoacelerada, reduo do IPI para bens de capital) e do financiamento (reduo do spread
do BNDES, da TJLP e das taxas de juros para aquisio e produo de bens de capital,aumento do prazo para o Finame, criao do Fundo Garantidor de Investimento, entreoutros) vo na direo tambm de dinamizar o investimento. A combinao deinstrumentos tributrios e fiscais para incentivar o investimento pode ser uminstrumento bastante til e necessrio. A ampliao do mecanismo de substituiotarifria para vrios setores e Estados brasileiros, no mbito de uma reforma tributria,integrada ao mecanismo da depreciao acelerada do capital fixo poderia, ao mesmotempo, incentivar a expanso do investimento industrial e gerar desvantagenscompetitivas s importaes.
O aumento desproporcional das importaes e a perda de competitividade das
exportaes de manufaturados constituem-se nos maiores obstculos ao investimentoindustrial e gerao de empregos e renda e, portanto, constituio do ciclo virtuosode crescimento liderado pelo investimento e pela indstria. Isto porque se, por um lado,as perspectivas de expanso da demanda (consumo e investimento) so bastantepositivas, por outro, h um risco no desprezvel com relao capacidade de oferta
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competitiva da indstria brasileira, permitindo que uma parcela considervel daexpanso da demanda seja desviada para o exterior via aumento do coeficiente e
contedo importados. A expanso exponencial das importaes deve ser objeto depreocupao e no se trata de defender uma poltica inadequada e ineficiente desubstituio de importaes e sim da lgica de montagem de um ciclo virtuoso decrescimento liderado pelo investimento e pela indstria e da estratgia de utilizar omercado domstico como espao privilegiado de acumulao e centralizao decapital.
O risco de impactos negativos de uma expanso das importaes ser maior nobojo de um crescente processo de valorizao cambial. O cenrio mais provvel vai nadireo de um cmbio ainda bastante valorizado nos prximos anos. A questo emaberto e dependente das decises de poltica econmica dizem respeito intensidadedessa valorizao.
As presses para um cmbio valorizado viro do supervit comercialestrutural, das confortveis reservas internacionais e dos fluxos positivos da conta decapital e financeira do balano de pagamentos. O saldo positivo na balana comercialdever se sustentar nas exportaes de commodities agrcolas e minerais e serpaulatinamente acrescido pelos excedentes do Pr-sal, a partir da maturao dosinvestimentos em 2020. No curto prazo, essas exportaes mais que compensaro oelevado, porm temporrio, dficit comercial nos setores da indstria detransformao. Isto porque a expectativa que tambm nesses setores industriais possaser revertido o dficit comercial, a partir da maturao do ciclo de investimentoindustrial. Com relao ao balano de pagamentos, os fluxos de investimento direto
estrangeiro (IDE) tendero a compensar os sistemticos dficits em conta corrente, emfuno das negativas contas de renda (remessas de lucro, dividendos e juros) e deservio. Por outro lado, h a expetativa de um crescente fluxo de investimentobrasileiro no exterior (IBDE), que poder superar inclusive os fluxos de IDE no mdioe longo prazos. A maior internacionalizao de empresas brasileiras representa noplano microeconmico o reforo das capacidades competitivas e no planomacroeconmico uma maior estabilidade nos fluxos cambiais.
Um fator negativo e altamente desestabilizador que tem contribudo para umavalorizao cambial e que poder seguir pressionando o cmbio a manuteno doelevado diferencial entre as taxas de juros no Brasil e no resto do mundo, exercendoforte atrao sobre os fluxos financeiros de curto prazo. Neste ponto caberia poltica
econmica romper o ciclo vicioso gerado pela interao entre juros altos, aintensificao dos fluxos de dlares pela conta financeira e o aprofundamento davalorizao cambial. A reduo no diferencial de juros no apenas reduziria os fluxosde investimento em carteira, como estimularia, via expanso da demanda domstica, o
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aumento do IDE e da reinverso dos lucros das filiais de empresas estrangeiras,melhorando o padro de financiamento do balano de pagamentos.
No mbito da escolha da estratgia de desenvolvimento industrial como motordo crescimento econmico no Brasil no faz sentido subordinar as polticasestruturantes s polticas macroeconmicas recessivas e equivocadas de juros altos ecmbio valorizado. A coordenao da expanso da demanda (consumo e investimento)com o incremento da eficincia e capacidade produtivas se constituem na poltica maiseficaz e socialmente justa de acumulao de capital, controle inflacionrio, de aumentoreal de poder aquisitivo e de distribuio de renda.
O desvio de demanda para o exterior poder ser reduzido tambm no curto emdio prazos pelo uso mais intenso de polticas de poder de compras pblica e privadaque privilegiem o contedo local e o desenvolvimento produtivo e tecnolgico de
fornecedores locais (setor naval e mquinas e equipamentos e Pr-sal; setorfarmacutico e sade; setor aeronutico e defesa; setor de telecomunicaes e softwaree TIC; setor de mquinas e implementos agrcolas e de qumica fina e agronegcios;setor de logstica e material de transporte e extrativa mineral; motores e turbinas eenergia eltrica; entre outros). A opo por bens e servios de maior contedo localtende a ser reforado por programas de apoio engenharia nacional, como o caso doProEngenharia no setor automotivo. A mesma experincia deveria ser estendida para aconsolidao da indstria naval no bojo dos volumosos investimentos do Pr-sal e daindstria de mquinas e equipamentos pesados e material de transporte ferrovirio nosinvestimentos do agronegcio e da minerao. A concesso de crdito, emprstimos efinanciamento para investimento e consumo por parte dos bancos pblicos deveria
contemplar a maior exigncia de contrapartidas em termos de emprego e de contedolocal.
Em um cenrio de curto-prazo de relativa estagnao do mercado externo,sobretudo das importaes dos pases avanados, e de acirramento da competiointernacional, a intensificao e agilizao das medidas de defesa comercial tambm setornam fundamentais para combater a no somente as prticas desleais de subsdios edumping, mas tambm de pirataria, subfaturamento, falsa classificao de mercadoriaise no cumprimento de requisitos tcnicos e sanitrios. O crescimento exponencial dasimportaes brasileiras no foi proporcionalmente acompanhado de maioresinvestimentos em infraestrutura, equipamentos e pessoal especializado. Cabe lembrarque o Brasil apresenta 23 mil km de fronteira e 150 pontos de entrada.
O Brasil ainda se utiliza pouco do instrumento de medidas compensatrias. Attulo de ilustrao, enquanto o Brasil realizou um total de 180 investigaesantidumping de 1995 a 2010 (primeiro semestre), a Argentina realizou 276, a UnioEuropeia 409, os EUA 441 e a ndia 602. Um avano importante foi a aplicao da Lei
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11.786 de 25/09/2008 que possibilita a abertura de investigao de dumping ou prticadesleal de comrcio para partes, peas e componentes mesmo que no tenha sido ainda
possvel comprovar o dumping para o bem acabado.O maior uso de medidas antidumping e compensatrias uma condio
necessria porm no suficiente para combater as prticas desleais e surtos deimportao. O instrumento torna-se cada vez menos eficiente no mbito de umcomplexo processo de constituio de redes internacionalizadas de produo. Istoporque a fragmentao do processo produtivo em vrios pases facilita osprodutores/exportadores burlarem as medidas compensatrias atravs da triangulaocomercial (prtica de circunveno). Portanto, fundamental o aperfeioamento eoperacionalizao da Lei 9.019 de 1995 no sentido que as medidas antidumping sejamestendidas tambm a importaes de produtos, partes, peas e componentes deterceiros pases.
Alm de maiores investimentos em infraestrutura, equipamentos e pessoal paramelhorar o monitoramento e agilizar a operacionalizao das medidas de defesacomercial, h a necessidade de maior articulao das polticas de defesa comercial comoutros instrumentos. A atual guerra fiscal entre Estados brasileiros, que implica areduo de ICMS para produtos importados, acirra um concorrncia desleal e ainformalidade das empresas, o que no contribuem para o desenvolvimento industrial.
Outro ponto importante de coordenao diz respeito integrao das polticasde defesa com as negociaes externas. Cabe destacar que o crescimento dasimportaes brasileira (e tambm das exportaes) esteve concentrado nas importaesprovenientes da China. O Brasil reconheceu a China como economia de mercado,
embora no tenha ainda internalizado est deciso, que precisa ser aprovada peloCongresso Nacional. A prpria OMC autoriza o tratamento da China como noeconomia de mercado at 2016. Assim, EUA, Unio Europeia e Japo ainda noreconheceram a China. Sem o reconhecimento, a margem de dumping para a aplicaodo direito compensatrio a diferena (maior) entre o preo internacional e o preo deexportao da China. Com o reconhecimento, a margem a diferena (menor) entre opreo domstico chins e o seu preo de exportao. Embora se reconhea aimportncia da China para as exportaes brasileiras de commodities, o Brasil deverianegociar de forma mais ativa o acesso chins ao mercado brasileiro, sobretudo de bensindustriais.
Ainda com relao demanda externa, embora a recuperao dos pasesavanados sinalize que ser mais lenta do que o inicialmente previsto, a maiorintegrao da indstria brasileira aos sistemas produtivo e de consumo asiticos deverassegurar a ampliao das exportaes nas reas de commodities agrcolas, metlicas eminerais; e ser fundamental para assegurar supervits comerciais. As exportaes de
7/23/2019 Oportunidades e Desafios Futuros
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Fernando Sarti / Clio Hiratuka
Texto para Discusso. IE/UNICAMP, Campinas, n. 187, jan. 2011. 36
manufaturados para os pases latinoa