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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ORDENAMENTO TERRITORIAL E PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS: ANÁLISE EM AMBIENTE METROPOLITANO Marcel Bordin Galvão Dias Programa de Pós-Graduação em Geografia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP, Campus de Presidente Prudente (SP) [email protected] Jéssica de Sousa Baldassarini Programa de Pós-Graduação em Geografia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP, Campus de Presidente Prudente (SP) [email protected] INTRODUÇÃO O desenvolvimento das técnicas e a complexificação da sociedade ampliaram a capacidade interventora do homem sobre as dinâmicas da natureza, atribuindo-lhe o papel de agente geológico-geomorfológico. A magnitude e intensidade da ação humana sobre as dinâmicas da natureza variam no tempo-espaço, de acordo com os diversos arranjos socioambientais e o nível de desenvolvimento dos diferentes grupos sociais. Deste modo, a ação humana no ambiente produz efeitos diversos, especialmente em áreas urbanas, nas quais estes se ampliam e diversificam. A formação dos depósitos tecnogênicos é um exemplo desta ação sobre a fisionomia e a fisiologia da paisagem, posto que estes são constituídos a partir do acúmulo de materiais remobilizados pela ação humana (direta ou indireta), somado à incorporação de artefatos diversos em meio às camadas sedimentares. Nos ambientes urbanizados, a gênese destes depósitos está associada à forma de apropriação dos compartimentos geomorfológicos e ao ordenamento territorial. Historicamente, as cidades brasileiras foram edificadas em áreas aplainadas, próximas ao litoral e aos cursos d’água, utilizados como principal fonte de abastecimento. Com o desenvolvimento social e o estabelecimento de estratos socioeconômicos distintos, a forma como os grupos sociais se relacionam e se apropriam dos elementos naturais, dentre eles o 1214

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ORDENAMENTO TERRITORIAL E PROBLEMASSOCIOAMBIENTAIS URBANOS: ANÁLISE EM

AMBIENTE METROPOLITANO

Marcel Bordin Galvão Dias

Programa de Pós-Graduação em Geografia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP,

Campus de Presidente Prudente (SP)

[email protected]

Jéssica de Sousa Baldassarini

Programa de Pós-Graduação em Geografia, Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP,

Campus de Presidente Prudente (SP)

[email protected]

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das técnicas e a complexificação da sociedade ampliaram a

capacidade interventora do homem sobre as dinâmicas da natureza, atribuindo-lhe o papel

de agente geológico-geomorfológico. A magnitude e intensidade da ação humana sobre as

dinâmicas da natureza variam no tempo-espaço, de acordo com os diversos arranjos

socioambientais e o nível de desenvolvimento dos diferentes grupos sociais. Deste modo, a

ação humana no ambiente produz efeitos diversos, especialmente em áreas urbanas, nas

quais estes se ampliam e diversificam. A formação dos depósitos tecnogênicos é um

exemplo desta ação sobre a fisionomia e a fisiologia da paisagem, posto que estes são

constituídos a partir do acúmulo de materiais remobilizados pela ação humana (direta ou

indireta), somado à incorporação de artefatos diversos em meio às camadas sedimentares.

Nos ambientes urbanizados, a gênese destes depósitos está associada à forma

de apropriação dos compartimentos geomorfológicos e ao ordenamento territorial.

Historicamente, as cidades brasileiras foram edificadas em áreas aplainadas, próximas ao

litoral e aos cursos d’água, utilizados como principal fonte de abastecimento. Com o

desenvolvimento social e o estabelecimento de estratos socioeconômicos distintos, a forma

como os grupos sociais se relacionam e se apropriam dos elementos naturais, dentre eles o

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relevo, se modificou. No caso do Brasil, o crescimento vertiginoso das cidades em

decorrência de transformações na estrutura social, econômica e política ocorrida a partir

dos anos de 1960, resultou na adoção de um modelo de urbanização, por vezes, indiferente

às fragilidades do meio físico.

Em diversos municípios brasileiros, a ocupação de áreas ambientalmente

vulneráveis, associada à inexistência ou precariedade de políticas públicas voltadas à

instalação ou melhorias na infraestrutura e serviços urbanos (sistema de microdrenagem,

arruamentos, saneamento básico, coleta e tratamento do lixo) e os hábitos culturais da

população, como as queimadas, o lançamento de lixo e entulho em terrenos baldios e nos

fundos de vale, colaboraram para a instalação de um quadro de degradação socioambiental.

Assim, observa-se na atualidade a ocorrência de diversos problemas ambientais

urbanos, especialmente aqueles relacionados à qualidade do ar, das águas e do solo, a

exemplo do assoreamento e contaminação dos cursos d’água pelo lançamento de resíduos

sólidos e esgotos e a degradação dos solos pela erosão antrópica acelerada, em áreas

urbanas e rurais, associada à retirada da cobertura vegetal e as práticas inadequadas de uso

e manejo do solo, sobretudo por atividades econômicas como a agricultura e a pecuária.

Dada a complexidade das dinâmicas sociais e naturais, a identificação e

caracterização dos depósitos tecnogênicos fornece bons subsídios para o entendimento

acerca da intervenção humana sobre a natureza e suas dinâmicas, uma vez que a

composição dos materiais tecnogênicos está diretamente relacionada à ação humana

desenvolvida num dado ambiente contendo, portanto, materiais autóctones, sedimentos

remobilizados e artefatos manufaturados diversificados. Sob essa perspectiva, o presente

trabalho tem por objetivo central identificar e caracterizar a gênese dos depósitos

tecnogênicos localizados no perímetro urbano de Goiânia (GO), tendo como recorte espacial

a região noroeste (Figura 1).

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Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo no perímetro urbano de Goiânia (GO)

A escolha da área para identificação, coleta e caracterização dos depósitos

tecnogênicos deve-se à especificidade do histórico de uso-ocupação da terra, caracterizado

pela ocupação das planícies e fundos de vale. Devido à inobservância das condições

ambientais locais, os solos, em especial, foram significativamente alterados pela ação

antrópica, incorporando artefatos diversos, produto das atividades desenvolvidas ao longo

do processo de ocupação, o que resultou na formação de depósitos tecnogênicos,

especialmente nas planícies aluviais que integram a rede de drenagem local.

METODOLOGIA

Inicialmente, procedeu-se o levantamento bibliográfico para a caracterização dos

aspectos ambientais da área de estudo (geologia, geomorfologia, solos), bem como aqueles

relacionados ao uso e ocupação da terra. Na sequência, foram elaboradas as cartas

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temáticas e o diagnóstico das condições ambientais e de uso e ocupação da terra na área,

buscando realizar uma análise dos aspectos naturais e sociais para o entendimento da

dinâmica atual da paisagem. Em campo, priorizou-se a observação dos fundos de vale e das

planícies aluviais, considerando-se que tais ambientes recebem (direta e indiretamente), de

modo contínuo, sedimentos e artefatos produzidos pelas atividades humanas no entorno e

a montante, transportados pelos canais fluviais ou pelos fluxos de escoamento superficial

nas vertentes.

A escolha da região noroeste como área para este estudo deveu-se às

especificidades de seu histórico de uso-ocupação e também ao fato de seus bairros

encontrarem-se em diferentes estágios de urbanização (consolidado, semi-consolidado e

em consolidação). A não escolha de áreas situadas na porção central do perímetro urbano

justifica-se pelo fato de que nestas localidades observa-se maior impermeabilização do solo

pelas edificações e pavimentação asfáltica, bem como a existência de planícies aluviais

profundamente alteradas pelas canalizações dos cursos d’água. Já nas áreas circunjacentes

à porção central, caso da região noroeste, as áreas de planície aluvial encontram-se

acessíveis e possibilitam a identificação e coleta dos materiais tecnogênicos com as

estruturas deposicionais de origem antrópica pouco alteradas, diferentemente das áreas

densamente urbanizadas.

Deste modo, foram eleitos dois pontos de amostragem para a realização de

coletas dos depósitos tecnogênicos em diferentes bairros da região noroeste. Os pontos

amostrados, genericamente denominados pelos números 1 e 2, localizam-se no Setor

Morada do Sol e Chácaras Maria Dilce, respectivamente. A seguir estão representados os

pontos de coleta com a indicação do local de retirada das amostras (Figura 2).

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Figura 2 - Mapa de localização dos pontos amostrados com indicação do local de coleta

Em campo, as coletas de material tecnogênico foram realizadas utilizando-se

tubos de PVC de quatro polegadas, com um metro de comprimento. Os tubos, aqui

denominados de testemunhadores, foram inseridos verticalmente em taludes

pré-existentes com o auxílio de uma prancha de madeira e uma marreta, para impulsionar a

penetração. Após a retirada completa do testemunhador, suas extremidades foram vedadas

para evitar a perda de material e este foi transportado/acondicionado na posição horizontal.

Os testemunhadores foram abertos lateralmente (Figura 3) utilizando-se serra

Makita® no Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física (Labogef) da

Universidade Federal de Goiás (UFG). Posteriormente, os tubos ficaram expostos ao ar para

secagem parcial do material. Em seguida, foram identificadas (visualmente) as camadas

constituintes de cada depósito, adotando-se como critérios a cor, a textura e a presença de

artefatos. De cada uma das camadas foram coletadas amostras que, por sua vez, foram

acondicionadas em sacos plásticos, lacrados e identificados, e transportadas para o

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Laboratório de Sedimentologia e Análise de Solos da UNESP, Campus de Presidente

Prudente (SP).

Figura 3 - Testemunhador contendo amostra de material tecnogênico coletado na área de estudo

Fonte: Acervo pessoal do autor

Em laboratório, as amostras coletadas foram retiradas das embalagens plásticas

e colocadas em recipiente para secagem por uma semana. Após a secagem, as amostras

foram peneiradas utilizando-se peneira com abertura de 2 mm para separar os sedimentos

dos artefatos incorporados às camadas, como fragmentos de vidro, cerâmica, plásticos,

madeira, tecido, etc (Figura 4)

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Figura 4 - Amostra bruta peneirada utilizando-se peneira de 2 mm de abertura

Fonte: Acervo pessoal do autor

Posteriormente, procedeu-se a observação dos artefatos encontrados nas

camadas identificadas utilizando-se um estereomicroscópio, com capacidade de aumento

de 52 vezes. As amostras brutas foram, primeiramente, observadas a olho nu,

identificando-se e separando-se os materiais relacionados à atividade humana, como

fragmentos de plástico, vidro, madeira, cerâmica, etc (Figura 5). Em seguida, os materiais

selecionados foram transferidos para um pequeno recipiente côncavo, de modo que fosse

possível observá-los no microscópio.

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Figura 5 - Amostra contendo artefatos diversos (plástico, vidro, madeira)

Fonte: Acervo pessoal do autor

As cartas temáticas representativas da localização dos pontos de coleta dos

depósitos tecnogênicos e dos aspectos do meio físico (geologia, geomorfologia e solos) em

escala de semi-detalhe (1:40.000), contendo a representação da malha urbana, foram

elaboradas a partir da base de dados constante no Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia

(MUBDG, v.23). Os produtos cartográficos foram elaborados em ambiente SIG, utilizando o

software ArcGis®110.

O mapa de uso e cobertura da terra foi elaborado a partir das imagens do

Landsat 8, órbita/ponto 222/71, de 24 de outubro de 2013, obtidas do website

http://glovis.usgs.gov/. As imagens foram reprojetadas para sistema de projeção UTM, o

mesmo do banco de dados do MUBDG v.23, e na sequência foi realizado o recorte da área

de estudo. A classificação (supervisionada) da imagem ocorreu utilizando-se o software

ENVI®4.7 e o classificador SVM. A arte final (layout) foi realizada no ArcGIS®10. As classes

foram elaboradas levando-se em consideração os preceitos do Manual Técnico de Uso da

Terra (IBGE, 2013), porém com adaptações na legenda, para que fosse possível representar

aspectos mais pontuais da área de estudo, tais como as áreas verdes e os vazios urbanos.

1 ArcGis e ENVI são marcas registradas pela Esri.

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A análise e discussão dos resultados obtidos considerou as observações

realizadas em campo e nos depósitos coletados (cor, textura, coesão, materiais presentes),

os dados obtidos em laboratório, as cartas temáticas relativas ao meio físico e a bibliografia

referente ao tema, em especial, aquelas relacionadas ao uso e ocupação da terra na região

noroeste. Procurou-se, de modo geral, resgatar o histórico de uso e ocupação como

elemento balizador para compreensão da gênese e tipologia dos depósitos, bem como dos

problemas socioambientais decorrentes da apropriação dos compartimento do relevo e dos

solos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O município de Goiânia está, geologicamente, situado sobre duas unidades

litoestruturais distintas. Na porção setentrional destacam-se as rochas pertencentes ao

Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu, compostas por granulitos (orto e paraderivados)

ácidos e básicos, metagranitóides e rochas metavulcanossedimentares associadas que

remontam ao Arqueano-Proterozóico Inferior. Já na porção meridional predominam rochas

pertencentes ao grupo Araxá-Sul de Goiás, com a ocorrência de micaxistos e quartzitos que

datam do Mesoproterozóico (MORETON, 1994; CAMPOS et al., 2003). Acerca destas duas

formações, ressalta-se um grande contraste entre os terrenos situados nas porções norte e

sul do município, separadas por uma zona de cisalhamento de direção geral EW, colocando

em contato duas formações bastante diferenciadas quanto à idade e composição,

resultando em comportamentos distintos face aos processos naturais e antrópicos (LOPES,

2001). Na área de estudo encontram-se os granulitos anfibolitos e bandados (Figura 6).

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Figura 6 – Mapa de geologia da região noroeste de Goiânia (GO)

Os materiais de cobertura superficial são representados predominantemente

pelos Latossolos, em geral ocorrendo em relevo plano a suave ondulado. As principais

classes encontradas e de maior expressão consistem em: Latossolo Vermelho Escuro (LE),

correspondente a aproximadamente 25,5 % da área do município; Latossolo Roxo (LR),

originado das rochas ultrabásicas, totalizando 25,5 % e Latossolo Vermelho-Amarelo (LV),

correspondente a 41 %. Ocorrem ainda, em menor proporção, solos do tipo Podzólico

Vermelho Escuro (PE), com pedregosidade, concreções e cascalhos; Cambissolos (C), com

presença de cascalhos, calhaus, ou mesmo matacões; Solos Litólicos (R), com presença em

alguns casos de grande quantidade de cascalhos ou concreções ou mesmo de matacões no

perfil ou na superfície; Gleissolos (G); e solos aluviais, distribuindo-se esses três últimos em

planícies fluviais (IBGE, 1999).

O levantamento realizado por Campos et al. (2003) apontou a existência de três

grupos definidos em função da dinâmica das águas nos solos e a partir de análises de

resultados de ensaios de infiltração in situ: o primeiro grupo abrangendo os Latossolos

Vermelho e Vermelho-Amarelo, Nitossolo Vermelho e Chernossolo; o segundo o Cambissolo,

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Neossoloso Litólico e Plintossolo e o terceiro, o Neossolo Flúvico e o Gleissolo. A área de

estudo situa-se sobre os domínios dos Latossolos Vermelhos (LV), entremeados por

manchas de Neossolos Litólicos (RL) (Figura 7).

Figura 7 – Mapa de solos da região noroeste de Goiânia (GO)

O município encontra-se compartimentado geomorfologicamente em cinco

unidades morfológicas distintas, o Planalto Dissecado de Goiânia a nordeste, os Chapadões

de Goiânia na região sudoeste, o Planalto Embutido de Goiânia na faixa central (de SE para

NW), os Terraços e Planícies da Bacia do Rio Meia Ponte e Fundos de Vale. Segundo Casseti

(1992), associados a essas unidades morfológicas estão os materiais de cobertura eluviais,

coluviais e aluviais. Os primeiros, denominados depósitos detrito-lateríticos, são materiais

de cores avermelhadas, formados por massa areno-argilosa contendo grãos e fragmentos

de laterita e quartzo e associam-se a relevo de forma tabular.

Os coluviões ocorrem indistintamente no município, constituindo-se de

depósitos avermelhados, contendo fragmentos e grãos de material laterítico concrecionado

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e de quartzo. Ainda ocorrem associados às planícies de inundação dos principais cursos

d’água, aluviões compostos por cascalhos, areias, siltes e argilas atuais e subatuais (IBGE,

1999). A região noroeste encontra-se, morfologicamente, sobre os domínios do Planalto

Embutido de Goiânia (Figura 8).

Figura 8 – Mapa de Unidades Morfológicas da região noroeste de Goiânia (GO)

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A região noroeste está em sua quase totalidade inserida na bacia hidrográfica do

rio Meia Ponte, que corta o município de noroeste para sudeste. Os canais fluviais presentes

na região são, direta ou indiretamente, tributários do rio Meia Ponte, com destaque para o

ribeirão São Domingos, o córrego Caveirinha e o córrego da Divisa. O primeiro possui

nascentes nas porções oeste e centro-norte da região noroeste. Suas águas fluem na

direção norte até a divisa com o município de Goianira e, posteriormente, na direção leste

até desembocar no rio Meia Ponte. O segundo tem duas de suas principais nascentes

próximas ao aterro sanitário de Goiânia e do município de Trindade. Segue direção geral

leste e possui alguns afluentes na região, com destaque para o córrego da Divisa. Este

último possui duas nascentes, uma situada no Jardim Curitiba e outra nos limites entre a Vila

Mutirão I e o Aeroclube de Goiânia. Flui na direção geral sudeste e atravessa diversos

bairros, até desaguar no córrego Caveirinha que, por sua vez, lança suas águas no rio Meia

Ponte.

No tocante ao uso e ocupação da terra, vale destacar que Goiânia experimentou

um rápido crescimento a partir dos anos 60, tendo se intensificado nas décadas seguintes

por um significativo crescimento populacional, sobretudo, devido aos inúmeros fluxos

migratórios oriundos de diversos estados brasileiros, como Minas Gerais, Bahia, Maranhão e

São Paulo. Fundada em 1933 para ser a nova capital do estado de Goiás, Goiânia

desempenhou papel importante na “Marcha para o Oeste” e na consolidação de Goiás como

uma nova fronteira agrícola do país. O processo de metropolização é resultante de um

conjunto de fatores, tais como a modernização da agricultura em diversas regiões do

estado, o êxodo rural e um conjunto de investimentos em infraestrutura (rodoviária e

energética) destinado a atender as demandas urbanas e aquelas geradas em função da

construção da nova capital federal na década de 60 (ARRAIS, 2004).

Apesar do planejamento inicial elaborado para a área central da cidade – a

exemplo dos setores Central, Sul, Oeste, Marista e Bueno – a necessidade de acolher a

população migrante do meio rural e de outras regiões do estado e do país resultou em uma

expansão urbana desordenada, que por sua vez foi responsável pela gênese ou

intensificação de problemas ambientais diversos, a exemplo da retirada excessiva da

cobertura vegetal original; a poluição dos cursos d’água pelo lançamento de esgotos

domésticos e industriais não-tratados; a degradação dos solos por processos erosivos

lineares relacionados ao escoamento superficial concentrado; e o assoreamento dos canais

de drenagem por sedimentos oriundos da erosão antrópica, resultando no alagamento das

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vias urbanas. Além disso, a apropriação diferencial do solo urbano, determinada pela renda,

configurou diferentes padrões de uso da terra, reforçando o adensamento populacional em

algumas áreas, especialmente aquelas com melhor infraestrutura urbana, em detrimento de

outras, como a região noroeste.

Em geral as regiões pouco populosas, como a Noroeste, têm ocupação mais

recente. Em muitos casos, foram resultado da doação de lotes em áreas

irregulares, do ponto de vista ambiental, ocupando áreas próximas da região de

captação de água do Rio Meia Ponte. A opção por atender à pressão por

loteamentos deu origem a inúmeros bairros, dentre os quais podemos citar os

seguintes: Vila Mutirão, Finsocial, Jardim Curitiba, além dos assentamentos

originários da Fazenda São Domingos, como o Bairro Vitória. [...] A carência de

infraestrutura (abastecimento de água, asfalto, coleta regular etc.) é uma

característica comum de muitos bairros dessa região (ARRAIS, 2004, p.118).

A região noroeste era composta, até o final dos anos 70, essencialmente por

chácaras e fazendas, estando fora do perímetro urbano e da área de expansão urbana da

cidade. Em uma pequena parte, nas proximidades da Avenida Perimetral Norte, devido a um

zoneamento realizado na década de 1970, permitiu-se a instalação de empreendimentos de

grande porte, como indústrias e galpões, além do uso rural.

O primeiro bairro a se consolidar na região foi o Jardim Nova Esperança,

originado a partir da ocupação da fazenda Caveiras em 1979 pela população, em sua

maioria, desprovida de moradia própria (MOYSÉS, 2001). Após essa primeira ocupação,

seguiram-se outras duas novas tentativas, rapidamente reprimidas pelo poder público. Tal

fato resultou na iniciativa da Prefeitura Municipal de assentar mais de 3000 famílias em uma

área próxima, dando origem ao segundo bairro da região, a vila Finsocial, implantada em

1981.

A partir de então, o governo estadual passou a interferir de forma mais efetiva e

contínua na ocupação da região, promovendo vários loteamentos destinados à população

carente. Assim, em 1983 foram implantados as Vilas Mutirão I, II e III; em 1987, o Jardim

Curitiba I, II, III e IV; em 1992 os bairros São Domingos, São Carlos, da Vitória, Floresta e Boa

Vista, na fazenda São Domingos; e em 1994 foi implantado o conjunto Primavera. Dados do

censo demográfico de 1991 indicam que existia na região, além do Jardim Nova Esperança,

ocupado pela população, e dos loteamentos criados pelo governo estadual (Vila Finsocial,

Vila Mutirão e Jardim Curitiba) outros seis setores constituídos por chácaras e sítios:

Chácaras São Joaquim, Mansões Rosa de Ouro, Sítios de Recreio Morada do Sol, Parque

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Tremendão, Chácaras Maria Dilce e Sítios de Recreio Panorama.

A população da região totalizava, em 1991, 66.450 habitantes, sendo que destes

15.179 viviam no Jardim Nova Esperança, 48.107 nos loteamentos criados pelo governo

estadual e 3.164 nos sítios e chácaras. Observa-se ainda que o Setor Morada do Sol e o

Parque Tremendão, que se localizam entre a Vila Finsocial e o Jardim Curitiba, iniciavam seu

parcelamento e ocupação urbana, com população superior a 1.000 habitantes, enquanto os

demais não atingiam a marca de 300 habitantes. Atualmente, a região conta com

empreendimentos imobiliários edificados pela iniciativa privada, como condomínios

fechados destinados à população de classe média e vários empreendimentos industriais

localizados nas proximidades da rodovia GO-070 e da Avenida Perimetral Norte, vias de

acesso às demais regiões da cidade e às cidades da Região Metropolitana como Goianira e

Inhumas.

Hodiernamente, a área de estudo apresenta diferentes estágios de urbanização,

considerando-se a existência de bairros completamente consolidados como o Setor Morada

do Sol, Vila Finsocial, Jardim Curitiba, Jardim Nova Esperança, Recanto do Bosque, pioneiros

no parcelamento do solo urbano; outros ainda em fase de consolidação, como o Jardim

Fonte Nova, Residencial Barravento, Setor Alto do Vale, loteados em período recente (após

os anos 2000); e aqueles constituídos por um conjunto de chácaras e sítios, tais como o

setores Chácaras Maria Dilce, Chácaras Helou, Jardim Colorado e Mansões Rosa de Ouro.

Nos loteamentos mais recentes observa-se a existência de inúmeros lotes e

terrenos não edificados. Estes, desprovidos de cobertura vegetal ou

edificação/pavimentação, podem atuar com áreas fornecedoras de material sedimentar

para as áreas a jusante, tais como as planícies e os fundos de vale. As áreas verdes estão

presentes nos diversos parques existentes na região, como o Parque Fonte Nova, Parque

Recreativo e o Parque Nova Esperança; nos bairros constituídos por sítios e chácaras; em

fragmentos (capões) no interior de bairros como o Residencial Brisas da Mata, Estrela Dalva,

Bairro Floresta, Setor São Domingos; e nas áreas de preservação permanente dos cursos

d’água que compõe a rede de drenagem.

As áreas no entorno tem seu uso caracterizado por pastagens, cultivos agrícolas

e fragmentos de Cerrado e Floresta Estacional, típicos dessa região. Ressalta-se que dado o

método de classificação adotado para a elaboração do mapa de uso e cobertura da terra

(Figura 9), as áreas verdes e vazios urbanos foram enquadrados em uma mesma categoria.

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Figura 9 - Mapa de uso e cobertura da terra na região noroeste de Goiânia (GO)

Considerando-se as características da ocupação inicial da área, acrescida do

incremento populacional ocorrido no final dos anos 80 e início dos 90, podem-se

compreender as transformações e intervenções realizadas pela sociedade sobre o meio

físico, em especial a vegetação e os solos. A retirada da cobertura vegetal nativa (Floresta

Estacional Decidual), para dar lugar às edificações e arruamentos, alterou a dinâmica dos

fluxos superficiais e subsuperficiais de escoamento, através da impermeabilização e

compactação dos solos.

A formação de depósitos tecnogênicos está diretamente relacionada ao

processo de urbanização e ao ordenamento territorial urbano. De modo geral, tem-se que

durante a abertura dos lotes e arruamentos, no momento anterior à execução das

construções e da pavimentação, ocorre à retirada da cobertura vegetal. Com o solo exposto,

há maior remobilização e arraste dos sedimentos, favorecendo seu acúmulo em locais de

morfologia côncavo-retilínea, cujas cotas altimétricas são inferiores às das áreas-fonte de

material sedimentar. Deste modo, a ocupação urbana alcançou as áreas de nascentes,

cursos d’água e planícies aluviais. Este fato possibilitou a deposição de materiais

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tecnogênicos, tanto de forma indireta, ocasionada pelo transporte por fluxo superficial,

quanto de forma direta.

O primeiro ponto amostrado (Ponto 1), situa-se nos limites do Setor Morada do

Sol. O contexto ambiental assemelha-se ao bairro limítrofe (Jardim Fonte Nova), pois ambos

encontram-se assentados sobre a mesma vertente, com declividades pouco acentuadas. No

entanto, o Setor Morada do Sol encontra-se totalmente consolidado, dispondo de poucos

lotes ou terrenos vazios (Figura 10). O ponto de amostragem localiza-se às margens do

córrego da Divisa, um dos principais cursos d’água da região.

Figura 10 - Visão parcial do S. Morada do Sol, com indicação do ponto de coleta na planície docórrego da Divisa.

Fonte: Google Earth, data da imagem: 09/04/2013

Dada à intensa ocupação da área, pode-se verificar a ocorrência de inúmeros

problemas ambientais, a começar pela presença de resíduos sólidos domésticos às margens

do curso d’água (Figura 11). O perfil identificado (Figura 12) apresenta grande diversidade de

artefatos, tais como fragmentos de vidro, cerâmica, madeira, tecido, carvão, entre outros,

incorporados às camadas sedimentares.

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Figuras 11/12 – Presença de resíduos sólidos na planície do córrego da Divisa, com destaque para operfil de depósito tecnogênico coletado.

Fonte: Acervo pessoal do autor

Conforme exposto na metodologia, os materiais presentes nos depósitos

coletados foram identificados visualmente e, posteriormente, realizou o registro fotográfico

utilizando-se o estereomicroscópio (Figura 13).

Figura 13 - Registro fotográfico dos materiais tecnogênicos (fragmentos de vidro, plástico e cerâmica)obtido através do estereomicroscópio.

Fonte: Acervo pessoal do autor

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Quanto à tipologia do depósito, tomando por base a proposta de classificação

integrada elaborada por Peloggia (1999) e considerando o critério da composição, pode-se

afirmar que o referido depósito é constituído basicamente por materiais “úrbicos”, definidos

por Fanning & Fanning (1989) como “materiais terrosos que contêm artefatos

manufaturados pelo homem moderno, frequentemente em fragmentos, como tijolos, vidro,

concreto, asfalto, pregos, plástico, metais diversos, pedra britada, cinzas e outros,

provenientes, por exemplo, de detritos de demolição de edifícios” (PELOGGIA, 1998, p.74).

O segundo ponto amostrado (Ponto 2) localiza-se no setor Chácaras Maria Dilce.

Este bairro integrava um conjunto de sítios e chácaras, ocupadas inicialmente de modo

irregular e posteriormente regularizada pelo poder público municipal. Atualmente,

apresenta um uso-ocupação diferenciado em relação aos demais bairros da região

noroeste, pois se observa a existência de inúmeras áreas verdes, edificações residenciais e

alguns empreendimentos industriais que ali se instalaram para desenvolver suas atividades

econômicas. O ponto escolhido para esta amostragem situa-se nas proximidades do córrego

Caveirinha (Figura 14), que tem como um de seus afluentes o córrego da Divisa.

Figura 14 - Visão parcial do setor Chácaras Maria Dilce, com indicação do ponto de coleta nasproximidades do córrego Caveirinha.

Fonte: Google Earth, data da imagem: 09/04/2013

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Apesar de não se constituir enquanto uma área densamente urbanizada, como o

Setor Morada do Sol, e possuir um número considerável de áreas verdes em relação aos

demais loteamentos da região, sobretudo aqueles edificados pelo governo estadual, o setor

Chácaras Maria Dilce não ficou imune à degradação de suas planícies, principalmente

através da deposição de materiais pela ação direta do homem e que permanecem no local

onde foram criados, constituindo os chamados “depósitos tecnogênicos construídos”.

De modo geral tais depósitos podem ser classificados [...] em função de que se

constituem: em depósitos “espólicos” (sejam aterros compactados

tecnologicamente controlados, as verdadeiras “obras da terra” da engenharia, ou

mais raramente depósitos em “bota-fora”); em depósitos úrbicos,

predominantemente lançados em “bota-fora”, aterrando baixadas, fundos de

vale ou predominantemente as porções côncavas do relevo, os “anfiteatros”

morfológicos das cabeceiras de drenagem; [...] (PELOGGIA, 1998, p. 129)

O perfil identificado constitui-se como um depósito úrbico, lançado em forma de

“bota-fora”. A diversidade de materiais encontrados em meio às camadas de sedimentação

(Figura 15) se explica pelo fato destes serem originados pela ação humana direta,

encarregada de transportar e realocar este material em terrenos considerados inóspitos ou

abandonados pelos proprietários ou poder público (PELOGGIA, 1998).

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Figura 15 - Perfil do depósito tecnogênico coletado no setor Chácaras Maria Dilce em Goiânia (GO)

Fonte: Acervo pessoal do autor

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, as formas de intervir sobre as dinâmicas da natureza foram se

modificando em consonância com o contexto social, político, econômico e cultural, e com as

técnicas, ferramentas e recursos disponíveis naquele momento histórico. Dessa forma, as

marcas da ação humana na paisagem, a exemplo dos depósitos tecnogênicos, são produto

da sobreposição de vários tempos.

Quanto à dimensão espacial, deve-se considerar a produção do espaço, seus

agentes, processos e desigualdades inerentes ao espaço produzido. O espaço urbano, em

especial, é um exemplo do modo como os diferentes agentes se apropriam, modificam e

interveem na natureza e suas dinâmicas, considerando o acesso ao conhecimento, às

técnicas e os interesses econômicos e políticos vigentes. Assim, as repercussões desta

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apropriação sobre os ambientes podem se manifestar de diversos modos, dentre eles, a

partir da gênese de depósitos tecnogênicos, como observado na área de estudo.

Observa-se, neste caso, que a apropriação dos compartimentos do relevo e dos

solos resultou na alteração dos processos ambientais, especialmente aqueles ligados à

hidrodinâmica e ao escoamento superficial; e na instalação de um quadro de degradação

ambiental caracterizado pelo assoreamento dos cursos d’água, ocupação e lançamento de

resíduos sólidos nas planícies, compactação do solo, etc. A gênese dos depósitos

tecnogênicos é, nesta perspectiva, um indicador qualitativo da relação sociedade-natureza

no tempo e no espaço.

REFERÊNCIAS

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MOYSÉS, A. A Produção de TerritóriosSegregados na Região Noroeste de Goiânia:uma leitura sócio-política. In: ENCONTRODEMOCRACIA, IGUALDADE E QUALIDADE DEVIDA. O DESAFIO PARA AS CIDADES NOSÉCULO XXI, 2, 2001, Belém. Anais...Belém:2001, p. 1-18.

PELOGGIA, A. U. G. O homem e o ambientegeológico: geologia, sociedade e ocupaçãourbana no município de São Paulo. SãoPaulo: Xamã, 1998.

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ORDENAMENTO TERRITORIAL E PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS: ANÁLISE EM AMBIENTE METROPOLITANO

EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional

RESUMO

O advento das cidades transformou os ambientes de acordo com os princípios da lógica

capitalista de produção do espaço, criando espaços desiguais e fragmentados, nos quais as

características do meio físico foram, por vezes, desconsideradas. Os desequilíbrios provocados

nos sistemas naturais ampliam-se e diversificam-se mediante a complexidade e dinamicidade do

espaço urbano, especialmente em áreas densamente urbanizadas, caso das metrópoles. A cidade

estrutura-se a partir da modificação e apropriação dos compartimentos do relevo, dos solos e da

estrutura geológica devido à inserção de formas artificias, como as edificações e os equipamentos

urbanos, os arruamentos, a pavimentação asfáltica e a canalização dos cursos d’água, que alteram

a dinâmica ambiental. Assim, as cidades representam a expressão das modificações impressas

pela sociedade aos sistemas naturais terrestres, posto que nas áreas urbanizadas, em especial

nas metrópoles, os efeitos da influência humana intensificam-se e são pontualmente localizados,

diferentemente do que ocorre nos espaços rurais. A magnitude e os desdobramentos desta

influência sobre as dinâmicas da natureza em áreas urbanizadas podem ser analisados a partir da

identificação e caracterização dos depósitos tecnogênicos, constituídos a partir do acúmulo de

materiais remobilizados pela ação humana (direta ou indireta), somado à incorporação de artefatos

diversos em meio às camadas sedimentares. Nesta perspectiva, o trabalho tem por objetivo

central avaliar os problemas socioambientais ocorrente no perímetro urbano de Goiânia (GO) a

partir da identificação e caracterização dos depósitos tecnogênicos presentes na área,

considerando que este tipo de material é indicativo (e resultante) do processo de uso e ocupação

da terra e do ordenamento territorial urbano. Para tanto, realizou-se a caracterização

socioambiental da área de estudo por meio de levantamento bibliográfico e elaboração de cartas

temáticas representativas dos aspectos naturais (geologia, geomorfologia, solos) e do uso e

ocupação da terra, adotando como recorte espacial a região noroeste da metrópole.

Posteriormente, realizaram-se trabalhos de campo para identificação e coleta dos depósitos

tecnogênicos, em especial, aqueles ocorrentes nas áreas de planície aluvial, cuja gênese está

associada tanto à contribuição do canal fluvial quanto dos fluxos de escoamento superficial. As

amostras coletadas foram submetidas à análise laboratorial para identificação dos materiais

tecnogênicos, tais como fragmentos de vidro, cerâmica, plástico, madeira, tecido etc.

Observou-se, neste caso, que a apropriação dos compartimentos do relevo e dos solos resultou

na alteração dos processos ambientais, como aqueles ligados à hidrodinâmica e ao escoamento

superficial; e na instalação de um quadro de degradação ambiental caracterizado pelo

assoreamento dos cursos d’água, ocupação e lançamento de resíduos sólidos nas planícies,

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compactação do solo, entre outros. A gênese dos depósitos tecnogênicos é, portanto, um

indicador qualitativo da relação sociedade-natureza no tempo e no espaço, bem como a

identificação e caracterização destes materiais, considerando que sua composição e tipologia

fornecem bons subsídios para o entendimento da dinâmica ambiental urbana.

Palavras-chave: ordenamento territorial; problemas socioambientais; depósitos tecnogênicos.

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