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ORDENAMENTO TERRITORIAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MINISTÉRIO
DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DA DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA ATRAVÉS DE EMANCIPAÇÕES MUNICIPAIS
Francisco Lima Mota
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA [email protected]
Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
[email protected] Resumo
Ordenamento Territorial constitui um tema interdisciplinar e em construção. Neste sentido, este trabalho apresenta elementos da Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT) a partir da discussão de vários expertos entre eles, geógrafos, além de apresentar elementos do Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de Territórios Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Apresenta também, considerações preliminares acerca da relação entre aplicação de recursos públicos e ordenamento territorial em municípios do Maranhão. Nesse sentido, o presente texto tem como objetivo é analisar a situação dos municípios maranhenses de Cidelândia e São Pedro no contexto do Ordenamento Territorial.
Palavras-chave: Ordenamento territorial. Governo. Descentralização. Recursos Públicos. Município. Introdução
O estudo do Ordenamento Territorial está na pauta da Geografia com temas diversos nos
vários ramos que formam esta ciência. As discussões deste trabalho apresentam o pensar do
governo central sobre questões da referida temática . Os resultados positivos das políticas
públicas estão relacionados à qualidade de seus planejamentos. A necessidade de ordenar
melhor o território nacional com o intuito de diminuir desequilíbrios, trouxe para a pauta
do governo central o Ordenamento Territorial como tema que agrega conceitos diversos. A
literatura do O.T apresenta como necessária na formação desse conceito, a discussão de
outros conceitos como ordem, desordem, desenvolvimento, planejamento e território. Este
último, entendido a partir de um conteúdo cheio de termos como: integração, socialmente
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construído, “usado”, redes de organizações, relações de poder e autonomia, somente para
citar alguns.
Ao utilizar essa ideia de território, têm-se no governo central, encaminhamentos
principalmente a partir da Constituição de 1988, de planos de desenvolvimento pautados na
descentralização política que resultou na descentralização dos recursos públicos, estando
hoje, suas aplicações na responsabilidade de Estados e Municípios ,fato que foi bem
observado durante a realização deste trabalho ao analisarmos os Marcos Referenciais do
Desenvolvimento de Territórios Rurais, bem como quando estudamos o papel dos
municípios no Ordenamento Territorial. Dessa forma, o presente texto objetiva analisar a
situação dos municípios maranhenses de Cidelândia e São Pedro no contexto do
Ordenamento Territorial.
Concepções de ordenamento territorial no Brasil. As discussões que envolvem o ordenamento territorial no Brasil, de acordo com
(RUCKERT, 2005 e 2007), (COSTA,2005), (MORAES,2005) e (BECKER,2005),
contribuem para um entendimento de que a construção de uma Política de Ordenamento
Territorial (PNOT) foi implantada em um cenário de mudança de sentido das políticas
territoriais do Estado brasileiro, inseridas no contexto da globalização e da competitividade,
assim como inserção sul-americana, reforma do Estado territorial e de incertezas de
paradigmas de políticas públicas após a crise de Estado Desenvolvimentista.
Desta forma, são consideradas recentes e complexas as discussões, bem como
interdisciplinar, conforme afirma Becker,(2005):
Campo relativamente novo de reflexão, sem conteúdo claramente definido, portanto, objeto de várias interpretações, é um conceito ainda em construção de caráter. É grande a variação de concepção quanto à sua natureza: interdisciplinar e prospectiva, técnica de administração e política de planejamento. (BECKER,2005,p.30)
A construção da Política de Ordenamento Territorial ( PNOT ) no Brasil inicia-se após a
promulgação da Constituição de 1988, que tem no artigo 21, inciso IX a afirmação de que
a PNOT objetiva elaborar e executar planos nacionais e regionais de Ordenamento
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Territorial ( OT ) e de desenvolvimento econômico e social. Porém somente quinze anos
após a referida promulgação em 2003, o governo discute a Política de Ordenamento
Territorial sendo um descompasso com as experiências internacionais do gênero.
(RUCKERT,2007).
A missão de promover a PNOT no Brasil está sob a responsabilidade do Ministério da
Defesa e do Ministério da Integração, no entanto, faz parte da agenda dos Ministérios do
Desenvolvimento Agrário, Ministério das Cidades e do Meio Ambiente. A aplicação do
objetivo da PNOT busca o desenvolvimento sócio-econômico equilibrado das regiões,
melhoria da qualidade de vida, gestão responsável dos recursos naturais, a proteção
ambiental e a utilização racional do território. Do ponto de vista dos agentes, podem-se
considerar como os principais sujeitos territoriais, o Estado, a sociedade civil e os agentes
privados. O impacto das ações destes atores ou agentes, incluídas aí as relações de
dominação, determina os processos territoriais, que podem complementar-se, entrar em
conflito e / ou anular-se.
Assim, como um sistema aberto, e formado por diversos agentes o ordenamento territorial,
possui um movimento dialético, pois representa a sociedade e busca organizar o uso do
território.
A necessidade de melhoria dos desequilíbrios regionais está na pauta da PNOT. Por ser um
país de dimensões continentais, e com características naturais e sócio-espaciais, muito
diferentes entre as regiões ,os problemas carecem ser interpretados pelo Governo Federal
com capacidade técnica adequada a obter um diagnóstico capaz de , segundo Wanderley da
Costa (2005, p. 55) “indicar tendências e aferir demandas e potencialidades, de modo a
compor o quadro no qual devem operar de forma articulada as políticas públicas setoriais,
com vistas a realizar os objetivos estratégicos do governo.”
Dessa forma, ainda que existam afirmações um pouco contraditórias sobre o papel do
Estado na organização do território e aqui apresentamos as de MORAES (2005, p. 59)
quando o autor relata que:
o grande agente da produção é o Estado, por meio de suas políticas territoriais. É
ele o dotador dos grandes equipamentos e das infra-estruturas, o construtor dos grandes sistemas de engenharia, o guardião do patrimônio natural e o gestor dos fundos territoriais. Por estas atuações o Estado é também o grande indutor da ocupação do território, um mediador essencial no mundo moderno, das relações sociedade- espaço e sociedade-natureza. Tal qualidade ganha potência nos países
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periféricos, notadamente nos de formação colonial, como o Brasil. (COSTA, 2005, p.59).
E ainda conforme o autor:
Com o indiscutível fortalecimento dos estados e municípios nos últimos quinze
anos decrescem consideravelmente o poder da União como indutor e o coordenador exclusivo das estratégias e políticas de alcance nacional. E isto não apenas porque faltam a ele os recursos materiais e financeiros de que dispunha no passado e que dele foram subtraídos no processo constituinte, mas especialmente porque nas atuais circunstâncias, o governo central carece de “reservas de poder” e de legitimidade política para auto-atribuir-se esse papel, fato que constitui, diga-se de passagem, um dos aspectos agudos da chamada “crise federativa”.Visto de outro modo, faltam também os” instrumento finos “ de identificação, de análise e de ação para assegurar padrões mínimos de eficácia quando desafiado a perscrutar os novos movimentos e circuitos capitalizados que se “ocultam” agora nas escalas espaciais sob o controle, a coordenação e as formas diversas de gestão dos entes federados subnacionais no exercício legítimo das suas recém- conquistadas autonomias. (COSTA, 2005, p. 33).
Não se pode estabelecer de acordo com as afirmações, que o Estado não seja indutor de
desenvolvimento, pois mesmo que se considere a descentralização a partir da constituição
de 1988, como uma prática voltada para atender a dinâmica da economia capitalista
mundial , na época, orientada pela ideologia neoliberal, o Estado foi e é ordenador de
planos de “desenvolvimento”.
Dessa forma, pensar o ordenamento territorial a partir dos desequilíbrios regionais e da
descentralização política do território, nos remete a uma análise das idéias de escala, visto
que “uma compreensão de escala geográfica poderia nos proporcionar uma linguagem mais
plausível da diferença espacial”, além de que a “construção da escala é um processo social,
isto é, a escala é produzida na sociedade “ (SMITH,2000, p. 139).O referido autor ainda
enfatiza que uma exploração teórica da produção da escala pode contribuir com o
entendimento da diferença espacial, situando ser necessário para tanto, esclarecimentos da
linguagem de espaço. Quando discute diferentes escalas espaciais, (corpo, casa,
comunidade, espaço urbano, região, nação e fronteiras globais) contribui com o
entendimento do poder estatal e, apesar de considerar a escala do estrado-nação ”
peculiarmente vulnerável da organização social”, afirma : O poder estatal não só está nas mãos de uma classe dominante minoritária, como, em geral, de homens, provavelmente de um determinado grupo racial, étnico ou religioso. Na medida em que esses interesses são sistematicamente incorporados ao tecido legal e ideológico do Estado, a exploração e a opressão
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baseadas em classe, raça, gênero e outras diferenças sociais são institucionalizadas nas estruturas de direitos civis e leis da propriedade. (SMITH, 2000,p.154).
Assim, se por um lado a Política Nacional de Ordenamento Territorial, é discutida em um
cenário democrático, com descentralização política e econômica, é necessário alguns
questionamentos sobre a própria condição sócio-espacial do pais. Suas diferenças regionais,
ambientais, étnicas, econômicas e outras, estão realmente inseridas nessa política? O
Governo Federal é o principal ordenador ou apenas está representando as empresas globais
nesta nova fase de organização do capital, na qual o Estado se apresenta como grande
aliado? O acompanhamento aos planejamentos que dão suporte à PNOT podem contribuir
para o esclarecimento desses questionamentos.
Ordenamento territorial na perspectiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário /
SDT.
Como parte integrante do Governo Federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrário,
através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, executa planos de ordenamento
territorial. Apresentamos elementos de alguns conteúdos do Marco Referencial para Apoio
ao Desenvolvimento de Territórios Rurais publicado em junho de 2005 e que constitui uma
fonte de análise de ordenamento territorial a partir da visão do Governo Federal.
O documento apresenta vários conceitos como : território, abordagem territorial, capital
Social, Gestão social, Empoderamento e Institucionalidades, como necessários ao
desenvolvimento sustentável nos territórios rurais. Na exposição de cada conceito fica claro
a preocupação do Ministério do Desenvolvimento Agrário , em apresentá-los dentre as mais
atuais discussões dos referidos, em ciências como a Geografia, Sociologia, Política entre
outras. O entendimento de território é exposto como” (...) espaço geograficamente
definido(...)caracterizado por critérios multidimensionais(...) e uma população com grupos
sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de
processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam
identidade e coesão social, cultural e territorial” (SDT,2005 p.8)
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Na apresentação sobre o conceito de abordagem territorial, algumas afirmações sobre
território complementam o entendimento da Secretaria acerca desse conceito “ (...) o
território é a unidade que melhor dimensiona os laços de proximidade entre pessoas, grupos
sociais e instituições que podem ser mobilizadas e convertidas em um trunfo crucial para o
estabelecimento de iniciativas voltadas para o desenvolvimento” (SDT,2005, p.8) A ideia
portanto, de território vai de encontro com as discussões realizadas na Geografia , como a
de “ território usado” (SANTOS, 2002), dentre outras, observadas, que têm uma ideia
integradora de território.
Na exposição de todos os conceitos, há uma preocupação em fazer o leitor entender o que
pensa o MDA sobre desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento é apresentado como
diferente de crescimento econômico simplesmente. O documento situa “os processos de
desenvolvimento como algo que envolve múltiplas dimensões, cada qual contribuindo de
uma determinada maneira para o futuro do território”. Expõe as dimensões: econômica,
sociocultural, político-institucional e ambiental, na busca por caminhos de um
desenvolvimento que não seja “decorrência da ação verticalizada do poder público, mas
sim da criação de condições para que os agentes locais se mobilizem em torno de uma visão
de futuro” (SDT, 2005,p.8).
Na parte que se refere às Diretrizes e Estratégias, ainda como fundamentos do
desenvolvimento territorial, a SDT continua apresentando um grande conhecimento tanto
teórico como técnico e sociocultural necessários na implantação de um programa de
desenvolvimento. As diretrizes e estratégias estão orientadas pelas referências conceituais
da abordagem territorial e compreendem também o território como espaço socialmente
construído, metodologias participativas, valorização de ações de atores sociais, construção
de alianças, articulação entre políticas públicas e privadas, apóio aos órgãos colegiados,
planejamento e gestão participativa e desenvolvimento de competências. A segunda parte
do documento, compreende a exposição da execução do Programa de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais . São metas, resultados a alcançar, instrumentos para o
planejamento e a gestão territorial, bem como, monitoramento, avaliação e aperfeiçoamento
do programa. Mais uma vez o documento se constitui uma cartilha inteligente construída
com base em “expertos“. Além de utilizar dados oficiais já existentes (IBGE), para a
caracterização geral dos atuais territórios rurais , esclarecendo no entanto, ser essa
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caracterização mais aperfeiçoada. O documento apresenta também o gigante que é esse
programa, que tem a pretensão de atender 450 territórios rurais em 32 anos .O período
apresentado compreende 2004-2007, envolvendo 190 territórios rurais em 2.600 mil
municípios.
Na tentativa de atender os fundamentos teóricos da primeira parte, todas as diretrizes e
estratégias, contém orientações para a busca da: prática democrática , redes de cooperação,
fortalecimento da gestão social, articulação das forças locais e de políticas públicas, enfim,
é um plano que pretende alcançar resultados e para tanto , enfatiza que as ações a serem
desencadeadas na escala local, não fiquem restritas ao MDA e à SDT.
No que se refere à avaliação e monitoramento das estratégias de apóio ao desenvolvimento
sustentável dos territórios rurais,o documento considera fundamental que espaços e
métodos de avaliação estejam em concordância com iniciativas de curto, médio e longo
prazo. Apresenta também um organograma funcional, onde várias gerências, coordenações,
institutos, núcleos e secretarias, trabalharão “ juntos” na execução do programa.
Considerações acerca do ordenamento territorial em municípios no Maranhão: um
olhar na aplicação de recursos públicas
Como espaço político-administrativo que hierarquicamente está distante do Governo
Federal, o município ficou muitas vezes fora das discussões sobre o ordenamento territorial
do pais. Após uma mudança de paradigma com a valorização do local , inserindo grupos
como os das quebradeiras de coco, a exemplo do Maranhão , da atuação da Associação
Brasileira de Municípios (ABM) com sede atualmente em Brasília, ou seja, próximo ao
Poder Central, bem como , criação dos Conselhos Setoriais de Gestão que foram
regulamentados em todos os âmbitos Federal, Estadual e Municipal, a presença do
município tem estado de forma mais regular junto aos governos Estaduais e Federal nos
planejamentos dessas respectivas instâncias de governos e que por outro lado,
compreendem os municípios como seus espaços de representação e de extensão de seus
poderes.
Na Geografia, autores como Iná Elias de Castro chama a atenção para a importância do
município e quando discute sobre Estado e Território no Brasil Contemporâneo, afirma:
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“(...) aproveito o tema para fazer uma introdução ao debate sobre o município no Brasil e as possibilidades que ele apresenta, como menor recorte federativo e mais próximo do cidadão, de constituir uma problemática clara como objeto de reflexão e de pesquisa na Geografia”. (CASTRO, 2005, p.163-164)
As análises sobre produção territorial relacionadas às aplicações de recursos públicos a partir
das emancipações municipais, estão no foco da geografia política que tem apresentado a
importância da escala municipal como
significativa do fazer político no espaço e oferece um vasto campo para a geografia política contemporânea que vai desde a visibilidade de um espaço político de ação das organizações da sociedade civil até as decisões concretas que resultam em políticas públicas que impactam o território e a vida do cidadão. (CASTRO,2005,p.134)
Assim, a busca da análise da aplicação de recursos públicos municipais no Oeste do
Maranhão como promotor de ordenamento territorial, constitui nosso objeto de estudo no
curso de mestrado, pois busca um debate coerente na concepção de desenvolvimento de
escalas menores, como os municípios, desmistificando-o como “ um recorte espacial de
informação estatística” Castro, (2005,p.136) para pensá-lo “ como objeto de conhecimento
e como resultado possível das próprias condições diferenciadas das sociedades regionais e
locais do pais”. Castro, (2005, p. 136). Dessa forma, ainda segundo Castro, (2005):
Um novo olhar permitirá perceber melhor, através do município, tanto das diferenças territoriais e sociais no país como algumas das suas causas, obscurecidas em um debate que teima em não ver o espaço mais banal e mais fundamental da nossa sociedade. (CASTRO,2005. p.137).
O nosso recorte espacial, toma os municípios de Cidelândia e São Pedro da Água Branca
para análise. Ademais, não custa lembrar da importância de se estudar escalas menores para
compreender os fenômenos que se apresentam, sobretudo se essa discussão focaliza
elementos que digam respeito aos direitos de cidadania” (CASTRO, 2005, p.134).
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Desse modo o município, apresenta-se como um espaço cheio de conteúdo a ser
observado, pois essa unidade federativa tem sido resultante de repartições de poder político,
econômico e social. Conforme afirma Raffestin (1993) “sem partições o poder não tem
nenhuma estrutura, pois não saberia mais como se exercer... dividir para reinar”.
(RAFFESTIN, 1993 p.169).
A orientação feita pelo atual modo de produção para a organização do espaço geográfico
não nega a “manipulação constante de oposição continuidade versus descontinuidade...
conduz a assegurar ora a continuidade, deslocando os limites, ora a provocar a
descontinuidade, criando novos limites” ( RAFFESTIN, 1993, p.169).
Tanto a “continuidade “como a “descontinuidade” são bastante observadas no exercício do
poder por parte de grandes empresas, do Estado e grupos sociais articulados na distribuição
da produção econômica e da população no território. Cidelândia e São Pedro da Água
Branca são parte de uma unidade maior que está totalmente inserida na globalização, o
Maranhão, que atende a essa articulação pública e privada, mesmo estando em situação
periférica.
Diante da necessidade de analisar a aplicação de recursos públicos no Maranhão a partir do
processo de emancipação dos anos de 1990, coloca-se a importância do território. É
necessário o entendimento dessa categoria geográfica que tem sido bastante discutida na
evolução do seu conceito a partir das contribuições teóricas de Ratzel “que efetua uma
abordagem geopolítica, entendendo o território como área de recurso natural”
(SAQUET,2007, p.30) assim como “ um discurso sobre território essencialmente fixado
no referencial político do Estado ”.(SOUZA, 2007, p.85); Claude Raffestin, que usa o
conceito de poder “centrado na atuação do Estado ”(SAQUET,2007.p.33) para refletir
sobre território ; Milton Santos com a noção de território usado “ o território são formas
,mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de espaço habitado” (SANTOS,
2002,p.16) e Rogério Haesbaert com grandes contribuições no entendimento de
territorialidade e desterritorialidade , entre tantos teóricos desse assunto.
Assim, a Constituição Federal de 1988, é a base legal para o surgimento de novas
fronteiras no Brasil, o município, onde esta unidade federativa:
“(...) torna-se o lócus privilegiado para análise das práticas de gestão territorial e do campo de poder na definição do território no qual melhor podemos evidenciar o uso do território pelos diferentes atores sociais.É no município que esses atores
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buscam resolver seus anseios e garantir seus acessos aos recursos sociais” (PALHETA, 2004,p.37-38).
No que se refere às questões do rural na área em estudo, pretendemos organizar uma
caracterização dos municípios escolhidos para o estudo (Cidelândia) e (São Pedro da Água
Branca) ,esta caracterização , será assegurada em teóricos que abordam o que é o rural e o
urbano, principalmente os que discutem essas categorias para essa região com tantas
especificidades em seus espaços, onde o rural e o urbano se confundem muitas vezes.
O Município de Cidelândia surgiu com incentivos da SUDAM, financiados pelo BASA,
em 20 de julho de 1967 por meio do parecer nº 067/68, foi implantada a Companhia
Industrial da Amazônia (CIDA), de propriedade de um pecuarista e um engenheiro, ambos
do Goiás e um advogado de Belém.
O local escolhido foi próximo ao rio Tocantins acerca de 4 Km do povoado Frades.
Ocupava uma área de 55.000 hectares. A CIDA funcionou somente entre 1968 e 1971,
período em que beneficiou madeira de lei (cedro, pau-rosa, maçaranduba e mogno). Cabe
informar que o Município de Imperatriz recebeu a instalação de 51 projetos da SUDAM
nesse período, distribuídos no setor agropecuário, madeireiro, indústria de transformação
de madeira e arrozeiras.
Apesar do pouco tempo de funcionamento a CIDA proporcionou um aumento
populacional de diversos pequenos povoados já existentes, formados por pescadores,
agricultores e fazendeiros. Isso se deu devido à abertura de estradas (carroçáveis),
permitindo o deslocamento de pessoas que, principalmente, já habitavam nas áreas
próximas e de outras áreas do Estado do Maranhão, do Estado do Goiás e do Estado do
Pará.
Após a paralisação das atividades da indústria em 1971, fixou residência no
Entroncamento da CIDA (cruzamento das estradas abertas pela companhia) o senhor
Raimundo Josias Mendes de Sousa vindo de Colinas no Maranhão, que recebeu a área
como doação. Esse senhor é considerado como fundador de Cidelândia. Tornou-se
comerciante, fazendeiro e delegado regional.
Com a exploração de ouro de Serra Pelada e a construção da estrada de ferro Carajás (PA)
a Ponta da Madeira (MA), novamente essa região recebe grandes contingentes de
migrantes. Como resultado desse processo, ocorreu um significativo aumentando da
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população do Distrito em questão, acompanhada por necessidades de serviços coletivos de
responsabilidade pública que eram atendidos apenas parcialmente.
Assim, com os argumentos já apresentados nas entrevistas, o Município de Cidelândia foi
instituído pela Lei 6142/10.11. 94. Possui uma extensão territorial de 1.464,421 km ²;
população estimada de 12.866 habitantes de acordo com o IBGE, 2009; Produto Interno
Bruto (PIB) de 66.062 mil reais em 2006 (IBGE) e Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) em 2000 de 0,613 (ONU/ PNUD), colocando-se na 55ª posição no Estado do
Maranhão e na 4437ª no Brasil.
Convém destacar que na história da formação de São Pedro da Água Branca existe o
evento da disputa pela região, onde o Município situa-se, atualmente, entre o Pará e o
Maranhão. Por um lado, na concepção dos paraenses, São Pedro da Água Branca pertencia
ao Pará (tal entendimento devia-se à influência exercida por Marabá à região, mais do que
Imperatriz). Por outro lado, no entendimento dos migrantes, oriundos de diversas partes do
Maranhão, da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, o território pertencia ao Maranhão.
Pode-se admitir que o evento da disputa do limite entre os dois Estados foi, na realidade,
uma justificativa em adotar um novo modelo de uso dessas terras. Até então, havia o
predomínio da cultura do arroz que, desde a década de 1950, vinha constituindo-se em
atividade produtiva e sendo identificada como um ciclo econômico que contribuiu na
formação do Município de Imperatriz, juntamente com a coleta do babaçu e extração de
madeira. O quadro 1 a seguir ilustra a produção de arroz em diversos períodos no
Maranhão.
Com a chegada de Jackson Mendonça, inicia-se a implantação das fazendas de gado e
também a instauração da grilagem. A resistência dos posseiros em permanecer nas terras
causou vários eventos de violência, registrados no processo de ocupação do Bico do
Papagaio.
Quadro 2 - Produção de arroz no Município de Imperatriz 1975 a 1982
SAFRA CULTURA ÁREA CULTIVADA PRODUÇÃO
1975/76 Arroz 30.000ha 59.400t
1976/77 Arroz 37.000ha 68.820t
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1977/78 Arroz 40.700ha 80.586t
1978/79 Arroz 45.400ha 79.105t
1979/80 Arroz 59.000ha 116.820t
1981/82 Arroz 66.000ha 118.800t
Fonte: (COUTINHO, 1994, p. 169-170 apud FRANKLIN, 2008)
As ações do governo federal nessa região, no final dos anos de 1970 e 1980, são marcadas
com a incorporação da referida como área indispensável à Segurança Nacional,
implantando a Coordenadoria Especial do Araguaia–Tocantins (Em 1977 é elaborado um
Decreto–Lei nº 1523 de 3/2/1977, que cria essas coordenadorias) e em 1º de fevereiro de
1980 pelo Decreto- Lei nº 1767 o Grupo Executivo de Terras do Araguaia–Tocantins
(GETAT). O objetivo era a regularização fundiária no Sudeste do Pará, Nordeste do Goiás
e Oeste do Maranhão. Com esse objetivo o GETAT pretendia, especificamente, viabilizar a
implantação do Projeto Carajás, da melhor forma possível, sob a óptica dos militares.
Sobre essa questão Ferraz, (2000, p.97) assim contribui:
A região do Bico do Papagaio foi escolhida como área prioritária de atuação do GETAT, devido ao número elevado de conflitos registrados na área e à sua proximidade com a Serra dos Carajás. Para o governo era urgente pacificar a região. O “Projeto Carajás”, conhecido da opinião pública, envolvendo elevados investimentos nacionais e estrangeiros, exigia garantias para entrar em operação (FERRAZ, 2000, p. 92).
Como resultado das ações do GETAT, em São Pedro da Água Branca, foi feito um
loteamento para 105 pessoas, que para os são pedrenses, também faz parte da história da
formação do Município.
Assim, da mesma forma que Cidelândia, também o município de São Pedro da Água
Branca foi criado nesse mesmo período. Tem como Lei de instituição a de nº 6146/10.11.
1994. Possui uma extensão territorial de 720, 492km²; uma população estimada de
11.481habitantes de acordo com o IBGE, 2009; Produto Interno Bruto (PIB) de 33.657 mil
reais em 2006 (IBGE) e Índice de Desenvolvimento de 0, 588 (ONU/ PNUD), ocupando a
94ª posição no estado e 4868ª posição em nível de Brasil.
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Considerações Finais
O estudo realizado sobre Ordenamento Territorial para a organização deste trabalho,
contribuiu para o entendimento de vários conceitos discutidos na Geografia como:
desenvolvimento, território, escala e rural. Contribuiu também, para um melhor
conhecimento das estratégias de planejamento do governo federal e de como a política de
ordenamento territorial do país está sendo construída, além do entendimento de que o
conceito de Ordenamento Territorial é multidisciplinar. Como reflexão final, entendemos
que o Estado é ainda um grande ordenador de territórios. Também, a análise do
ordenamento territorial nessa região expõe de forma clara que vários projetos atenderam
grupos de elites, provocando um intenso êxodo rural nos anos de 1980, período de grande
grilagem na região. Essa realidade fortaleceu a sequência de uso desse espaço territorial à
implantação de projetos industriais de grande impacto ambiental e alteração no padrão de
uso das áreas agrícolas. De um espaço de com grande concentração de roças, sítios e
pecuária extensiva, atualmente, tem-se a cultura do eucalipto.
Referências
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Territorial. Brasília. Ministério da Integração Nacional, Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional (SDR), 2005, p.43 a 47. RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. RÜCKERT, Aldomar A. A Política Nacional de Ordenamento Territorial Brasil: uma Política territorial contemporânea em construção. Anais do IX Colóquio Internacional de Geocrítica. Porto Alegre, 28 de maio a 01 de junho de 2007. O Processo de Reforma do Estado e a Política Nacional de Ordenamento Territorial. In: Para Pensar uma Política Nacional de Ordenamento Territorial. Brasília. Ministério da Integração Nacional, Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional (SDR), 2005,p.31 a 38. SMITH, Neil. Contornos de uma Política Espacializada: Veículo dos Sem-Tetos e Produção de Escala Geográfica: In: ARANTES, Antônio A. (org.) O Espaço da Diferença. Campinas: Papirus, 2000. SANTOS, Milton. O Retorno do Território. In: SANTOS, Milton; SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e Concepções de Território. São Paulo: Expressão Popular, 2007. SILVA, João Márcio Palheta da. Poder governo e Território em Carajás. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente 2004. SMITH, Neil. Contornos de uma Política Espacializada: Veículo dos Sem-Tetos e Produção de Escala Geográfica: In :ARANTES, Antônio A. (org.) O Espaço da Diferença. Campinas: Papirus, 2000. SOUSA, Marcelo José Lopes de. O Território: Sobre Espaço e Poder, Autonomia e Desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de ; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.).Geografia: Conceitos e Temas 10 ed. Rio de Janeiro, Bertrand, 2007.