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1 ORDENAMENTO TERRITORIAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DA DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA ATRAVÉS DE EMANCIPAÇÕES MUNICIPAIS Francisco Lima Mota Universidade Estadual do Maranhão – UEMA [email protected] Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves Universidade Estadual do Maranhão – UEMA [email protected] Resumo Ordenamento Territorial constitui um tema interdisciplinar e em construção. Neste sentido, este trabalho apresenta elementos da Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT) a partir da discussão de vários expertos entre eles, geógrafos, além de apresentar elementos do Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de Territórios Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Apresenta também, considerações preliminares acerca da relação entre aplicação de recursos públicos e ordenamento territorial em municípios do Maranhão. Nesse sentido, o presente texto tem como objetivo é analisar a situação dos municípios maranhenses de Cidelândia e São Pedro no contexto do Ordenamento Territorial. Palavras-chave: Ordenamento territorial. Governo. Descentralização. Recursos Públicos. Município. Introdução O estudo do Ordenamento Territorial está na pauta da Geografia com temas diversos nos vários ramos que formam esta ciência. As discussões deste trabalho apresentam o pensar do governo central sobre questões da referida temática . Os resultados positivos das políticas públicas estão relacionados à qualidade de seus planejamentos. A necessidade de ordenar melhor o território nacional com o intuito de diminuir desequilíbrios, trouxe para a pauta do governo central o Ordenamento Territorial como tema que agrega conceitos diversos. A literatura do O.T apresenta como necessária na formação desse conceito, a discussão de outros conceitos como ordem, desordem, desenvolvimento, planejamento e território. Este último, entendido a partir de um conteúdo cheio de termos como: integração, socialmente

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ORDENAMENTO TERRITORIAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MINISTÉRIO

DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DA DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA ATRAVÉS DE EMANCIPAÇÕES MUNICIPAIS

Francisco Lima Mota

Universidade Estadual do Maranhão – UEMA [email protected]

Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves Universidade Estadual do Maranhão – UEMA

[email protected] Resumo

Ordenamento Territorial constitui um tema interdisciplinar e em construção. Neste sentido, este trabalho apresenta elementos da Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT) a partir da discussão de vários expertos entre eles, geógrafos, além de apresentar elementos do Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de Territórios Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Apresenta também, considerações preliminares acerca da relação entre aplicação de recursos públicos e ordenamento territorial em municípios do Maranhão. Nesse sentido, o presente texto tem como objetivo é analisar a situação dos municípios maranhenses de Cidelândia e São Pedro no contexto do Ordenamento Territorial.

Palavras-chave: Ordenamento territorial. Governo. Descentralização. Recursos Públicos. Município. Introdução

O estudo do Ordenamento Territorial está na pauta da Geografia com temas diversos nos

vários ramos que formam esta ciência. As discussões deste trabalho apresentam o pensar do

governo central sobre questões da referida temática . Os resultados positivos das políticas

públicas estão relacionados à qualidade de seus planejamentos. A necessidade de ordenar

melhor o território nacional com o intuito de diminuir desequilíbrios, trouxe para a pauta

do governo central o Ordenamento Territorial como tema que agrega conceitos diversos. A

literatura do O.T apresenta como necessária na formação desse conceito, a discussão de

outros conceitos como ordem, desordem, desenvolvimento, planejamento e território. Este

último, entendido a partir de um conteúdo cheio de termos como: integração, socialmente

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construído, “usado”, redes de organizações, relações de poder e autonomia, somente para

citar alguns.

Ao utilizar essa ideia de território, têm-se no governo central, encaminhamentos

principalmente a partir da Constituição de 1988, de planos de desenvolvimento pautados na

descentralização política que resultou na descentralização dos recursos públicos, estando

hoje, suas aplicações na responsabilidade de Estados e Municípios ,fato que foi bem

observado durante a realização deste trabalho ao analisarmos os Marcos Referenciais do

Desenvolvimento de Territórios Rurais, bem como quando estudamos o papel dos

municípios no Ordenamento Territorial. Dessa forma, o presente texto objetiva analisar a

situação dos municípios maranhenses de Cidelândia e São Pedro no contexto do

Ordenamento Territorial.

Concepções de ordenamento territorial no Brasil. As discussões que envolvem o ordenamento territorial no Brasil, de acordo com

(RUCKERT, 2005 e 2007), (COSTA,2005), (MORAES,2005) e (BECKER,2005),

contribuem para um entendimento de que a construção de uma Política de Ordenamento

Territorial (PNOT) foi implantada em um cenário de mudança de sentido das políticas

territoriais do Estado brasileiro, inseridas no contexto da globalização e da competitividade,

assim como inserção sul-americana, reforma do Estado territorial e de incertezas de

paradigmas de políticas públicas após a crise de Estado Desenvolvimentista.

Desta forma, são consideradas recentes e complexas as discussões, bem como

interdisciplinar, conforme afirma Becker,(2005):

Campo relativamente novo de reflexão, sem conteúdo claramente definido, portanto, objeto de várias interpretações, é um conceito ainda em construção de caráter. É grande a variação de concepção quanto à sua natureza: interdisciplinar e prospectiva, técnica de administração e política de planejamento. (BECKER,2005,p.30)

A construção da Política de Ordenamento Territorial ( PNOT ) no Brasil inicia-se após a

promulgação da Constituição de 1988, que tem no artigo 21, inciso IX a afirmação de que

a PNOT objetiva elaborar e executar planos nacionais e regionais de Ordenamento

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Territorial ( OT ) e de desenvolvimento econômico e social. Porém somente quinze anos

após a referida promulgação em 2003, o governo discute a Política de Ordenamento

Territorial sendo um descompasso com as experiências internacionais do gênero.

(RUCKERT,2007).

A missão de promover a PNOT no Brasil está sob a responsabilidade do Ministério da

Defesa e do Ministério da Integração, no entanto, faz parte da agenda dos Ministérios do

Desenvolvimento Agrário, Ministério das Cidades e do Meio Ambiente. A aplicação do

objetivo da PNOT busca o desenvolvimento sócio-econômico equilibrado das regiões,

melhoria da qualidade de vida, gestão responsável dos recursos naturais, a proteção

ambiental e a utilização racional do território. Do ponto de vista dos agentes, podem-se

considerar como os principais sujeitos territoriais, o Estado, a sociedade civil e os agentes

privados. O impacto das ações destes atores ou agentes, incluídas aí as relações de

dominação, determina os processos territoriais, que podem complementar-se, entrar em

conflito e / ou anular-se.

Assim, como um sistema aberto, e formado por diversos agentes o ordenamento territorial,

possui um movimento dialético, pois representa a sociedade e busca organizar o uso do

território.

A necessidade de melhoria dos desequilíbrios regionais está na pauta da PNOT. Por ser um

país de dimensões continentais, e com características naturais e sócio-espaciais, muito

diferentes entre as regiões ,os problemas carecem ser interpretados pelo Governo Federal

com capacidade técnica adequada a obter um diagnóstico capaz de , segundo Wanderley da

Costa (2005, p. 55) “indicar tendências e aferir demandas e potencialidades, de modo a

compor o quadro no qual devem operar de forma articulada as políticas públicas setoriais,

com vistas a realizar os objetivos estratégicos do governo.”

Dessa forma, ainda que existam afirmações um pouco contraditórias sobre o papel do

Estado na organização do território e aqui apresentamos as de MORAES (2005, p. 59)

quando o autor relata que:

o grande agente da produção é o Estado, por meio de suas políticas territoriais. É

ele o dotador dos grandes equipamentos e das infra-estruturas, o construtor dos grandes sistemas de engenharia, o guardião do patrimônio natural e o gestor dos fundos territoriais. Por estas atuações o Estado é também o grande indutor da ocupação do território, um mediador essencial no mundo moderno, das relações sociedade- espaço e sociedade-natureza. Tal qualidade ganha potência nos países

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periféricos, notadamente nos de formação colonial, como o Brasil. (COSTA, 2005, p.59).

E ainda conforme o autor:

Com o indiscutível fortalecimento dos estados e municípios nos últimos quinze

anos decrescem consideravelmente o poder da União como indutor e o coordenador exclusivo das estratégias e políticas de alcance nacional. E isto não apenas porque faltam a ele os recursos materiais e financeiros de que dispunha no passado e que dele foram subtraídos no processo constituinte, mas especialmente porque nas atuais circunstâncias, o governo central carece de “reservas de poder” e de legitimidade política para auto-atribuir-se esse papel, fato que constitui, diga-se de passagem, um dos aspectos agudos da chamada “crise federativa”.Visto de outro modo, faltam também os” instrumento finos “ de identificação, de análise e de ação para assegurar padrões mínimos de eficácia quando desafiado a perscrutar os novos movimentos e circuitos capitalizados que se “ocultam” agora nas escalas espaciais sob o controle, a coordenação e as formas diversas de gestão dos entes federados subnacionais no exercício legítimo das suas recém- conquistadas autonomias. (COSTA, 2005, p. 33).

Não se pode estabelecer de acordo com as afirmações, que o Estado não seja indutor de

desenvolvimento, pois mesmo que se considere a descentralização a partir da constituição

de 1988, como uma prática voltada para atender a dinâmica da economia capitalista

mundial , na época, orientada pela ideologia neoliberal, o Estado foi e é ordenador de

planos de “desenvolvimento”.

Dessa forma, pensar o ordenamento territorial a partir dos desequilíbrios regionais e da

descentralização política do território, nos remete a uma análise das idéias de escala, visto

que “uma compreensão de escala geográfica poderia nos proporcionar uma linguagem mais

plausível da diferença espacial”, além de que a “construção da escala é um processo social,

isto é, a escala é produzida na sociedade “ (SMITH,2000, p. 139).O referido autor ainda

enfatiza que uma exploração teórica da produção da escala pode contribuir com o

entendimento da diferença espacial, situando ser necessário para tanto, esclarecimentos da

linguagem de espaço. Quando discute diferentes escalas espaciais, (corpo, casa,

comunidade, espaço urbano, região, nação e fronteiras globais) contribui com o

entendimento do poder estatal e, apesar de considerar a escala do estrado-nação ”

peculiarmente vulnerável da organização social”, afirma : O poder estatal não só está nas mãos de uma classe dominante minoritária, como, em geral, de homens, provavelmente de um determinado grupo racial, étnico ou religioso. Na medida em que esses interesses são sistematicamente incorporados ao tecido legal e ideológico do Estado, a exploração e a opressão

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baseadas em classe, raça, gênero e outras diferenças sociais são institucionalizadas nas estruturas de direitos civis e leis da propriedade. (SMITH, 2000,p.154).

Assim, se por um lado a Política Nacional de Ordenamento Territorial, é discutida em um

cenário democrático, com descentralização política e econômica, é necessário alguns

questionamentos sobre a própria condição sócio-espacial do pais. Suas diferenças regionais,

ambientais, étnicas, econômicas e outras, estão realmente inseridas nessa política? O

Governo Federal é o principal ordenador ou apenas está representando as empresas globais

nesta nova fase de organização do capital, na qual o Estado se apresenta como grande

aliado? O acompanhamento aos planejamentos que dão suporte à PNOT podem contribuir

para o esclarecimento desses questionamentos.

Ordenamento territorial na perspectiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário /

SDT.

Como parte integrante do Governo Federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrário,

através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, executa planos de ordenamento

territorial. Apresentamos elementos de alguns conteúdos do Marco Referencial para Apoio

ao Desenvolvimento de Territórios Rurais publicado em junho de 2005 e que constitui uma

fonte de análise de ordenamento territorial a partir da visão do Governo Federal.

O documento apresenta vários conceitos como : território, abordagem territorial, capital

Social, Gestão social, Empoderamento e Institucionalidades, como necessários ao

desenvolvimento sustentável nos territórios rurais. Na exposição de cada conceito fica claro

a preocupação do Ministério do Desenvolvimento Agrário , em apresentá-los dentre as mais

atuais discussões dos referidos, em ciências como a Geografia, Sociologia, Política entre

outras. O entendimento de território é exposto como” (...) espaço geograficamente

definido(...)caracterizado por critérios multidimensionais(...) e uma população com grupos

sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de

processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam

identidade e coesão social, cultural e territorial” (SDT,2005 p.8)

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Na apresentação sobre o conceito de abordagem territorial, algumas afirmações sobre

território complementam o entendimento da Secretaria acerca desse conceito “ (...) o

território é a unidade que melhor dimensiona os laços de proximidade entre pessoas, grupos

sociais e instituições que podem ser mobilizadas e convertidas em um trunfo crucial para o

estabelecimento de iniciativas voltadas para o desenvolvimento” (SDT,2005, p.8) A ideia

portanto, de território vai de encontro com as discussões realizadas na Geografia , como a

de “ território usado” (SANTOS, 2002), dentre outras, observadas, que têm uma ideia

integradora de território.

Na exposição de todos os conceitos, há uma preocupação em fazer o leitor entender o que

pensa o MDA sobre desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento é apresentado como

diferente de crescimento econômico simplesmente. O documento situa “os processos de

desenvolvimento como algo que envolve múltiplas dimensões, cada qual contribuindo de

uma determinada maneira para o futuro do território”. Expõe as dimensões: econômica,

sociocultural, político-institucional e ambiental, na busca por caminhos de um

desenvolvimento que não seja “decorrência da ação verticalizada do poder público, mas

sim da criação de condições para que os agentes locais se mobilizem em torno de uma visão

de futuro” (SDT, 2005,p.8).

Na parte que se refere às Diretrizes e Estratégias, ainda como fundamentos do

desenvolvimento territorial, a SDT continua apresentando um grande conhecimento tanto

teórico como técnico e sociocultural necessários na implantação de um programa de

desenvolvimento. As diretrizes e estratégias estão orientadas pelas referências conceituais

da abordagem territorial e compreendem também o território como espaço socialmente

construído, metodologias participativas, valorização de ações de atores sociais, construção

de alianças, articulação entre políticas públicas e privadas, apóio aos órgãos colegiados,

planejamento e gestão participativa e desenvolvimento de competências. A segunda parte

do documento, compreende a exposição da execução do Programa de Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais . São metas, resultados a alcançar, instrumentos para o

planejamento e a gestão territorial, bem como, monitoramento, avaliação e aperfeiçoamento

do programa. Mais uma vez o documento se constitui uma cartilha inteligente construída

com base em “expertos“. Além de utilizar dados oficiais já existentes (IBGE), para a

caracterização geral dos atuais territórios rurais , esclarecendo no entanto, ser essa

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caracterização mais aperfeiçoada. O documento apresenta também o gigante que é esse

programa, que tem a pretensão de atender 450 territórios rurais em 32 anos .O período

apresentado compreende 2004-2007, envolvendo 190 territórios rurais em 2.600 mil

municípios.

Na tentativa de atender os fundamentos teóricos da primeira parte, todas as diretrizes e

estratégias, contém orientações para a busca da: prática democrática , redes de cooperação,

fortalecimento da gestão social, articulação das forças locais e de políticas públicas, enfim,

é um plano que pretende alcançar resultados e para tanto , enfatiza que as ações a serem

desencadeadas na escala local, não fiquem restritas ao MDA e à SDT.

No que se refere à avaliação e monitoramento das estratégias de apóio ao desenvolvimento

sustentável dos territórios rurais,o documento considera fundamental que espaços e

métodos de avaliação estejam em concordância com iniciativas de curto, médio e longo

prazo. Apresenta também um organograma funcional, onde várias gerências, coordenações,

institutos, núcleos e secretarias, trabalharão “ juntos” na execução do programa.

Considerações acerca do ordenamento territorial em municípios no Maranhão: um

olhar na aplicação de recursos públicas

Como espaço político-administrativo que hierarquicamente está distante do Governo

Federal, o município ficou muitas vezes fora das discussões sobre o ordenamento territorial

do pais. Após uma mudança de paradigma com a valorização do local , inserindo grupos

como os das quebradeiras de coco, a exemplo do Maranhão , da atuação da Associação

Brasileira de Municípios (ABM) com sede atualmente em Brasília, ou seja, próximo ao

Poder Central, bem como , criação dos Conselhos Setoriais de Gestão que foram

regulamentados em todos os âmbitos Federal, Estadual e Municipal, a presença do

município tem estado de forma mais regular junto aos governos Estaduais e Federal nos

planejamentos dessas respectivas instâncias de governos e que por outro lado,

compreendem os municípios como seus espaços de representação e de extensão de seus

poderes.

Na Geografia, autores como Iná Elias de Castro chama a atenção para a importância do

município e quando discute sobre Estado e Território no Brasil Contemporâneo, afirma:

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“(...) aproveito o tema para fazer uma introdução ao debate sobre o município no Brasil e as possibilidades que ele apresenta, como menor recorte federativo e mais próximo do cidadão, de constituir uma problemática clara como objeto de reflexão e de pesquisa na Geografia”. (CASTRO, 2005, p.163-164)

As análises sobre produção territorial relacionadas às aplicações de recursos públicos a partir

das emancipações municipais, estão no foco da geografia política que tem apresentado a

importância da escala municipal como

significativa do fazer político no espaço e oferece um vasto campo para a geografia política contemporânea que vai desde a visibilidade de um espaço político de ação das organizações da sociedade civil até as decisões concretas que resultam em políticas públicas que impactam o território e a vida do cidadão. (CASTRO,2005,p.134)

Assim, a busca da análise da aplicação de recursos públicos municipais no Oeste do

Maranhão como promotor de ordenamento territorial, constitui nosso objeto de estudo no

curso de mestrado, pois busca um debate coerente na concepção de desenvolvimento de

escalas menores, como os municípios, desmistificando-o como “ um recorte espacial de

informação estatística” Castro, (2005,p.136) para pensá-lo “ como objeto de conhecimento

e como resultado possível das próprias condições diferenciadas das sociedades regionais e

locais do pais”. Castro, (2005, p. 136). Dessa forma, ainda segundo Castro, (2005):

Um novo olhar permitirá perceber melhor, através do município, tanto das diferenças territoriais e sociais no país como algumas das suas causas, obscurecidas em um debate que teima em não ver o espaço mais banal e mais fundamental da nossa sociedade. (CASTRO,2005. p.137).

O nosso recorte espacial, toma os municípios de Cidelândia e São Pedro da Água Branca

para análise. Ademais, não custa lembrar da importância de se estudar escalas menores para

compreender os fenômenos que se apresentam, sobretudo se essa discussão focaliza

elementos que digam respeito aos direitos de cidadania” (CASTRO, 2005, p.134).

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Desse modo o município, apresenta-se como um espaço cheio de conteúdo a ser

observado, pois essa unidade federativa tem sido resultante de repartições de poder político,

econômico e social. Conforme afirma Raffestin (1993) “sem partições o poder não tem

nenhuma estrutura, pois não saberia mais como se exercer... dividir para reinar”.

(RAFFESTIN, 1993 p.169).

A orientação feita pelo atual modo de produção para a organização do espaço geográfico

não nega a “manipulação constante de oposição continuidade versus descontinuidade...

conduz a assegurar ora a continuidade, deslocando os limites, ora a provocar a

descontinuidade, criando novos limites” ( RAFFESTIN, 1993, p.169).

Tanto a “continuidade “como a “descontinuidade” são bastante observadas no exercício do

poder por parte de grandes empresas, do Estado e grupos sociais articulados na distribuição

da produção econômica e da população no território. Cidelândia e São Pedro da Água

Branca são parte de uma unidade maior que está totalmente inserida na globalização, o

Maranhão, que atende a essa articulação pública e privada, mesmo estando em situação

periférica.

Diante da necessidade de analisar a aplicação de recursos públicos no Maranhão a partir do

processo de emancipação dos anos de 1990, coloca-se a importância do território. É

necessário o entendimento dessa categoria geográfica que tem sido bastante discutida na

evolução do seu conceito a partir das contribuições teóricas de Ratzel “que efetua uma

abordagem geopolítica, entendendo o território como área de recurso natural”

(SAQUET,2007, p.30) assim como “ um discurso sobre território essencialmente fixado

no referencial político do Estado ”.(SOUZA, 2007, p.85); Claude Raffestin, que usa o

conceito de poder “centrado na atuação do Estado ”(SAQUET,2007.p.33) para refletir

sobre território ; Milton Santos com a noção de território usado “ o território são formas

,mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de espaço habitado” (SANTOS,

2002,p.16) e Rogério Haesbaert com grandes contribuições no entendimento de

territorialidade e desterritorialidade , entre tantos teóricos desse assunto.

Assim, a Constituição Federal de 1988, é a base legal para o surgimento de novas

fronteiras no Brasil, o município, onde esta unidade federativa:

“(...) torna-se o lócus privilegiado para análise das práticas de gestão territorial e do campo de poder na definição do território no qual melhor podemos evidenciar o uso do território pelos diferentes atores sociais.É no município que esses atores

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buscam resolver seus anseios e garantir seus acessos aos recursos sociais” (PALHETA, 2004,p.37-38).

No que se refere às questões do rural na área em estudo, pretendemos organizar uma

caracterização dos municípios escolhidos para o estudo (Cidelândia) e (São Pedro da Água

Branca) ,esta caracterização , será assegurada em teóricos que abordam o que é o rural e o

urbano, principalmente os que discutem essas categorias para essa região com tantas

especificidades em seus espaços, onde o rural e o urbano se confundem muitas vezes.

O Município de Cidelândia surgiu com incentivos da SUDAM, financiados pelo BASA,

em 20 de julho de 1967 por meio do parecer nº 067/68, foi implantada a Companhia

Industrial da Amazônia (CIDA), de propriedade de um pecuarista e um engenheiro, ambos

do Goiás e um advogado de Belém.

O local escolhido foi próximo ao rio Tocantins acerca de 4 Km do povoado Frades.

Ocupava uma área de 55.000 hectares. A CIDA funcionou somente entre 1968 e 1971,

período em que beneficiou madeira de lei (cedro, pau-rosa, maçaranduba e mogno). Cabe

informar que o Município de Imperatriz recebeu a instalação de 51 projetos da SUDAM

nesse período, distribuídos no setor agropecuário, madeireiro, indústria de transformação

de madeira e arrozeiras.

Apesar do pouco tempo de funcionamento a CIDA proporcionou um aumento

populacional de diversos pequenos povoados já existentes, formados por pescadores,

agricultores e fazendeiros. Isso se deu devido à abertura de estradas (carroçáveis),

permitindo o deslocamento de pessoas que, principalmente, já habitavam nas áreas

próximas e de outras áreas do Estado do Maranhão, do Estado do Goiás e do Estado do

Pará.

Após a paralisação das atividades da indústria em 1971, fixou residência no

Entroncamento da CIDA (cruzamento das estradas abertas pela companhia) o senhor

Raimundo Josias Mendes de Sousa vindo de Colinas no Maranhão, que recebeu a área

como doação. Esse senhor é considerado como fundador de Cidelândia. Tornou-se

comerciante, fazendeiro e delegado regional.

Com a exploração de ouro de Serra Pelada e a construção da estrada de ferro Carajás (PA)

a Ponta da Madeira (MA), novamente essa região recebe grandes contingentes de

migrantes. Como resultado desse processo, ocorreu um significativo aumentando da

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população do Distrito em questão, acompanhada por necessidades de serviços coletivos de

responsabilidade pública que eram atendidos apenas parcialmente.

Assim, com os argumentos já apresentados nas entrevistas, o Município de Cidelândia foi

instituído pela Lei 6142/10.11. 94. Possui uma extensão territorial de 1.464,421 km ²;

população estimada de 12.866 habitantes de acordo com o IBGE, 2009; Produto Interno

Bruto (PIB) de 66.062 mil reais em 2006 (IBGE) e Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) em 2000 de 0,613 (ONU/ PNUD), colocando-se na 55ª posição no Estado do

Maranhão e na 4437ª no Brasil.

Convém destacar que na história da formação de São Pedro da Água Branca existe o

evento da disputa pela região, onde o Município situa-se, atualmente, entre o Pará e o

Maranhão. Por um lado, na concepção dos paraenses, São Pedro da Água Branca pertencia

ao Pará (tal entendimento devia-se à influência exercida por Marabá à região, mais do que

Imperatriz). Por outro lado, no entendimento dos migrantes, oriundos de diversas partes do

Maranhão, da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, o território pertencia ao Maranhão.

Pode-se admitir que o evento da disputa do limite entre os dois Estados foi, na realidade,

uma justificativa em adotar um novo modelo de uso dessas terras. Até então, havia o

predomínio da cultura do arroz que, desde a década de 1950, vinha constituindo-se em

atividade produtiva e sendo identificada como um ciclo econômico que contribuiu na

formação do Município de Imperatriz, juntamente com a coleta do babaçu e extração de

madeira. O quadro 1 a seguir ilustra a produção de arroz em diversos períodos no

Maranhão.

Com a chegada de Jackson Mendonça, inicia-se a implantação das fazendas de gado e

também a instauração da grilagem. A resistência dos posseiros em permanecer nas terras

causou vários eventos de violência, registrados no processo de ocupação do Bico do

Papagaio.

Quadro 2 - Produção de arroz no Município de Imperatriz 1975 a 1982

SAFRA CULTURA ÁREA CULTIVADA PRODUÇÃO

1975/76 Arroz 30.000ha 59.400t

1976/77 Arroz 37.000ha 68.820t

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1977/78 Arroz 40.700ha 80.586t

1978/79 Arroz 45.400ha 79.105t

1979/80 Arroz 59.000ha 116.820t

1981/82 Arroz 66.000ha 118.800t

Fonte: (COUTINHO, 1994, p. 169-170 apud FRANKLIN, 2008)

As ações do governo federal nessa região, no final dos anos de 1970 e 1980, são marcadas

com a incorporação da referida como área indispensável à Segurança Nacional,

implantando a Coordenadoria Especial do Araguaia–Tocantins (Em 1977 é elaborado um

Decreto–Lei nº 1523 de 3/2/1977, que cria essas coordenadorias) e em 1º de fevereiro de

1980 pelo Decreto- Lei nº 1767 o Grupo Executivo de Terras do Araguaia–Tocantins

(GETAT). O objetivo era a regularização fundiária no Sudeste do Pará, Nordeste do Goiás

e Oeste do Maranhão. Com esse objetivo o GETAT pretendia, especificamente, viabilizar a

implantação do Projeto Carajás, da melhor forma possível, sob a óptica dos militares.

Sobre essa questão Ferraz, (2000, p.97) assim contribui:

A região do Bico do Papagaio foi escolhida como área prioritária de atuação do GETAT, devido ao número elevado de conflitos registrados na área e à sua proximidade com a Serra dos Carajás. Para o governo era urgente pacificar a região. O “Projeto Carajás”, conhecido da opinião pública, envolvendo elevados investimentos nacionais e estrangeiros, exigia garantias para entrar em operação (FERRAZ, 2000, p. 92).

Como resultado das ações do GETAT, em São Pedro da Água Branca, foi feito um

loteamento para 105 pessoas, que para os são pedrenses, também faz parte da história da

formação do Município.

Assim, da mesma forma que Cidelândia, também o município de São Pedro da Água

Branca foi criado nesse mesmo período. Tem como Lei de instituição a de nº 6146/10.11.

1994. Possui uma extensão territorial de 720, 492km²; uma população estimada de

11.481habitantes de acordo com o IBGE, 2009; Produto Interno Bruto (PIB) de 33.657 mil

reais em 2006 (IBGE) e Índice de Desenvolvimento de 0, 588 (ONU/ PNUD), ocupando a

94ª posição no estado e 4868ª posição em nível de Brasil.

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Considerações Finais

O estudo realizado sobre Ordenamento Territorial para a organização deste trabalho,

contribuiu para o entendimento de vários conceitos discutidos na Geografia como:

desenvolvimento, território, escala e rural. Contribuiu também, para um melhor

conhecimento das estratégias de planejamento do governo federal e de como a política de

ordenamento territorial do país está sendo construída, além do entendimento de que o

conceito de Ordenamento Territorial é multidisciplinar. Como reflexão final, entendemos

que o Estado é ainda um grande ordenador de territórios. Também, a análise do

ordenamento territorial nessa região expõe de forma clara que vários projetos atenderam

grupos de elites, provocando um intenso êxodo rural nos anos de 1980, período de grande

grilagem na região. Essa realidade fortaleceu a sequência de uso desse espaço territorial à

implantação de projetos industriais de grande impacto ambiental e alteração no padrão de

uso das áreas agrícolas. De um espaço de com grande concentração de roças, sítios e

pecuária extensiva, atualmente, tem-se a cultura do eucalipto.

Referências

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