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ORGANISMOS ESPECIALIZADOS DE
COMBATE E PREVENÇÃO DA CORRUPÇÃO
RESUMO
No contexto internacional e, particularmente, no contexto europeu,
os organismos especializados no combate e prevenção da
corrupção, também apelidados de Agências Anti-Corrupção (Anti-
Corruption Agencies – ACAs) ou de Specialized Anti Corruption
Bodies, conforme terminologia da Convenção de Mérida, têm tido
um papel determinante no desenvolvimento daquele que é o atual
panorama do combate à corrupção.
Estes novos integrity warriors1 que surgiram na década de 90 são
organismos públicos especializados, cujas atribuições são
unicamente focadas para a prevenção e combate da corrupção, da
criminalidade conexa e de comportamentos que possam gerar
oportunidades favoráveis à sua ocorrência. A introdução destas
novas estruturas organizacionais veio conferir ao Estados uma
arma mais especializada, mais eficaz e, na maior parte dos casos,
mais independente para a prossecução da corrupção e dos crimes
económico-financeiros2.
1 De Sousa, Luís; Hindess, Barry; e Larmour, Peter (2009) Governments, NGOs and Anti-Corruption: The New Integrity Warriors. Londres/Nova Iorque: Routledge. 2 De Sousa, Luís (2009) ‘Anti-corruption agencies: between empowerment and
irrelevance’, EUI Working Papers/RSCAS 2009/08, ISSN 1028-3625 (Disponível
online:
É de tal forma importante o papel das ACAs, que estas fizeram e
têm feito parte dos programas de combate à corrupção dos países
candidatos e recém-entrados na União Europeia, de forma a cumprir
com os critérios estabelecidos para a entrada de novos Estados-
Membros. Apesar da existência de estruturas, competências e
atuação variáveis consoante o sistema jurídico ou político em que
cada ACA se insere, a sua criação tem seguido padrões comuns,
nomeadamente devido ao sucesso que têm tido em certas regiões
ou países, como a ICAC em Hong Kong3.
Portugal foi, de facto, um dos países pioneiros, criando uma das
primeiras ACAs na Europa – a Alta Autoridade Contra a Corrupção
(AACC) – que posteriormente veio a ser extinta em 1992. Após este
momento, para suprir a inexistência de organismos especializados
de combate à corrupção, foram criados a Direcção Central de
Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira,
junto da Polícia Judiciária, (DCICCEF/PJ, posteriormente substituída
http://cadmus.eui.eu/dspace/bitstream/1814/10688/1/EUI_RSCAS_2009_08.pdf,
17 Janeiro 2012). 3 De Sousa, Luís (2009) ‘Does performance matter to institutional survival? – The
method and politics of performance measurement for Anti-Corruption Agencies’,
EUI Working Papers/RSCAS 2009/09, ISSN 1028-3625 (Disponível online:
http://cadmus.eui.eu/dspace/bitstream/1814/10689/1/EUI_RSCAS_2009_09.pdf,
accessed 17 Janeiro 2012).
2
pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção) e o Departamento
Central de Investigação e Acão Penal (DCIAP/PGR), junto da
Procuradoria-Geral da República4.
Como outros países Europeus, Portugal optou por uma separar a
prevenção da repressão e criar uma estrutura multi-dimensional de
combate à corrupção, na qual se incluem todos os organismos
acima mencionados. No entanto, esta estrutura funciona
atualmente como um agregado de organismos com baixos níveis de
especialização, cooperação e coordenação, já para não mencionar
as dificuldades funcionais e materiais que em muito limitam a sua
capacidade de resposta.
De momento, o Conselho da Prevenção da Corrupção é o organismo
que mais se assemelha a uma ACA na medida em que é um
organismo unicamente criado com o intuito de prevenção da
corrupção. A sua atuação, estrutura e recursos não permitem, no
entanto, que seja analisado e classificado em pé de igualdade com
outras agências congéneres noutros países. Como tal, a sua
análise, no âmbito do projeto Sistema Nacional de Integridade (SNI),
será colocada lado a lado com a análise de outros organismos
especializados no combate à corrupção com competências
complementares, nomeadamente o Departamento Central de
Investigação e Ação Penal do Ministério Público e a Unidade de
Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, providenciando ao leitor
uma perspectiva abrangente do cenário atual relativo aos
organismos anticorrupção.
Alta Autoridade Contra a Corrupção
Como acima referido, a Alta Autoridade Contra a Corrupção (AACC)
foi um dos primeiros (senão o primeiro) exemplos europeus de
criação de um modelo de organismo com competência de combate à
corrupção, tendo sido criada por Decreto-Lei5 em 1983. Esta
entidade de caráter excepcional, transitório e independente tinha a
finalidade de fazer face ao crescente fenómeno da corrupção na
Administração Pública6, mediante a prevenção, averiguação e
denúncia às autoridades competentes dos crimes cometidos no
âmbito das funções públicas.
As competências da AACC foram-se alterando: inicialmente
desprovida de capacidade para investigar e dar seguimento a casos
sobre entidades soberanas, a revisão da sua lei estatutária em
1986 (Lei 45/86, de 01 de Outubro) que colocou a AACC na
dependência da Assembleia da República (inicialmente eleito pelo
Conselho de Ministros, o Alto Comissário passava agora a ser eleito
por maioria de dois terços na AR, por proposta de qualquer grupo
parlamentar e com candidaturas devidamente instruídas quanto à
4 De Sousa, Luís (2011) Corrupção. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos. 5 DL 369/83, de 06 de outubro. 6 Preâmbulo DL 369/83, de 06 de outubro.
elegibilidade dos candidatos) veio a conferir-lhe poderes de
investigação de entidades soberanas sob supervisão deste órgão
parlamentar.
Em 1992, os principais partidos políticos representados na AR
votaram, com a exceção do PCP, na extinção da AACC, ainda que
sem um debate elucidativo sobre esta decisão e sobre os
resultados obtidos pela agência. A sua extinção foi posta a
consideração da AR pelo Alto Comissário7, por considerar que as
instâncias tradicionais do Estado tinham nesse momento
disponibilidade para desempenhar as atribuições da AACC, os
partidos, por outro lado, consideraram que a AACC não passou de
um instrumento polémico e ineficiente no combate à corrupção.
Também no âmbito deste projeto, a maioria dos peritos
entrevistados pronunciaram-se sobre a AACC no sentido da sua
inadequação para o combate à corrupção, preferindo, quando
questionados sobre uma possível reorganização das estruturas do
combate à corrupção, apostar na atual estrutura melhorando-a, do
que seguir o exemplo da AACC.
Ainda assim, há críticas à inusitada extinção da AACC pela AR, por
um conjunto de razões:
pela demonstração de uma maior eficácia da AACC
quando existia uma maior distanciação do poder político,
sendo que os resultados começavam a ser visíveis pouco
antes da AACC ter sido extinta8;
pelo papel muito pouco proativo que os partidos tiveram
em denunciar casos de corrupção (apenas 0,61% de um
total de quase 3000 casos entre 1984 e 19929);
por, após a extinção da AACC, o seu Arquivo Geral, para
o qual vigorava um regime de «sigilo absoluto»10 e do
qual constavam os resultados de todas as informações
recebidas e produzidas pela AACC no âmbito das suas
averiguações, ter sido remetido para os Arquivos
Nacionais/Torre do Tombo, sendo impossível aceder às
suas informações durante um período de 20 anos11.
Departamento Central de Investigação e Ação Penal
O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) foi
criado pelo Estatuto do Ministério Público (EMP)12 e estabelecido em
Setembro de 199913, 7 anos após a extinção da Alta Autoridade
7 Projecto de Lei 199/VI, 16 de julho de 1992, relativo à extinção da AACC (PS, PSD,
PSN e CDS). 8 Luís de Sousa, Does performance matter to institutional survival? The method and politics of performance measurement for anti-corruption agencies, European
University Institute, Florença, fevereiro de 2009. 9 AACC, Relatório Final, 18 de março de 1993. 10 Art. 7.º/1 da Lei nº 45/86 de 1 de outubro. 11 Art. 4.º/4 da Lei nº 26/92, de 31 de agosto. 12 Lei 60/98, de 27 de agosto. 13 Circular da PGR 10/99, de 16 de julho.
3
contra a Corrupção. Trata-se de uma estrutura interdisciplinar do
MP, que funciona na dependência da Procuradoria-Geral da
República14 em cujas competências se incluem funções de
coordenação, de direção da investigação (para crimes
transdistritais ou de maior complexidade) e de prevenção da
criminalidade violenta, altamente organizada ou de especial
complexidade.
O DCIAP exerce as suas competências relativamente aos crimes
elencados no artigo 47.º n.º 1 do EMP15. A sua função de
coordenação compreende o exame e a execução de formas de
articulação com outros departamentos e serviços, nomeadamente
de polícia criminal, com vista ao reforço da simplificação,
racionalidade e eficácia de procedimentos, bem como a elaboração
de estudos sobre a natureza, o volume e as tendências de evolução
da criminalidade e os resultados obtidos na prevenção, na detecção
e no controlo. Exerce-se esta função com base na informação
remetida ao DCIAP, fundamentalmente através obrigação
(estabelecida pela Circular 11/99 de 3 de Novembro) de
comunicação dos serviços do MP ao DCIAP.
Existem, no entanto, obstáculos à prossecução eficaz das
competências do DCIAP, o primeiro deles sendo, principalmente, a
falta de recursos16, nomeadamente recursos de investigação
especializados como as perícias. De um modo geral, o DCIAP não
dispõe de verbas suficientes para uma investigação constante e
eficaz, dependendo muito dos próprios recursos (como o Núcleo de
Assessoria Técnica – NAT) ou dos recursos dos OPCs,
nomeadamente da Polícia Judiciária. O facto de não existir qualquer
retorno de verbas para o DCIAP quando uma investigação criminal
tem sucesso e resulta na recuperação de património pelo Estado
(por vezes em largos milhões de euros), torna a atividade de
investigação extremamente dependente de verbas orçamentais
previamente fixadas, não contribuindo para uma evolução do
momentum de investigação.
O segundo obstáculo é a inexistência de um gabinete de
intelligence17: o DCIAP, de acordo com as suas competências de
organismo centralizador de informação, recolhe grandes
quantidades de informações sobre todos os processos-crime
relacionados com um elenco de crimes previamente fixados. No
entanto, não existe qualquer tratamento dessa informação, seja a
nível de prevenção criminal, averiguação de áreas de risco, ou
14 Número 3 do artigo 9.º do EMP. 15 Especificados por via de uma tabela analítica, não exaustiva, presente nas
circulares 10/99 e 11/99 da PGR. 16 Entrevista com a Diretora do Departamento Central de Investigação e Ação
Penal, Dr.ª Cândida de Almeida, e Procuradora-adjunta Dr.ª Carla Dias, 10 de maio
de 2011. 17 Id.
definição do perfil comum dos arguidos. Esta informação recolhida
acaba, pois, por ficar estanque, não tendo uma utilidade
correspondente ao seu potencial.
O terceiro e último obstáculo é a falta de uma coordenação eficaz:
como anteriormente mencionado, o DCIAP é um organismo
centralizador e de coordenação da investigação criminal, cujas
competências deveriam caracterizá-lo como um bloco centralizador
de informação proveniente de uma extensa rede, que incluiria
todos os DIAPs, serviços e representações do MP, a PGR e os OPCs.
No entanto, tem sido apontado que esta função não é concretizada
pelo DCIAP, existindo uma grande desorganização principalmente a
nível do MP quando se trata de partilha de informação e
coordenação de investigações que necessitem de um papel proativo
de múltiplos organismos.
Unidade Nacional de Combate à Corrupção
Ainda antes da extinção da AACC ou da criação do DCIAP, foi criada,
em 199018 no âmbito da estrutura orgânica da PJ, a Direcção Central
de Investigação da Corrupção, Fraudes e Infracções Económico-
financeiras, uma unidade com competências de investigação
criminal e coadjuvação das autoridades judiciárias no âmbito de
crimes de corrupção, fraude e falsificação de moedas19 e no âmbito
do qual funcionava a perícia financeiro-contabilística da Polícia
Judiciária20.
Com as medidas anticorrupção de 199421, esta unidade veio a ser
redimensionada e a sua estrutura readaptada: a nova Direcção
Central de Combate à Corrupção, Fraudes e Infracções Económico-
financeiras (DCCCFIEF-PJ) já tinha competência para os crimes
conexos à corrupção22 (como o peculato, corrupção e outras
infracções económico-financeiras), e nos seus serviços centrais
incluía-se uma Unidade Nacional de Informação sobre Crime
Organizado (UNICEO), que tinha entre as suas competências a
recolha e análise de informação recolhida nos inquéritos e
averiguações realizadas23.
A Unidade de Combate à Corrupção (UNCC) veio, no ano 200824,
substituir a Direcção Central de Investigação da Corrupção e
Criminalidade Económico Financeira25 (DCICCEF-PJ), tendo sido
18 DL 295-A/90, de 21 de Setembro, que estabelecia uma nova orgânica para a
Polícia Judiciária. 19 Arts. 4.º/1 e 30.º/1 do DL 295-A/90, de 21 de setembro. 20 Art. 30.º/2 do DL 295-A/90, de 21 de setembro. 21 Arts. 10.º e 13.º Lei 36/94, de 29 de setembro. 22 Art. 10.º da Lei 36/94, de 29 de setembro. 23 Arts. 3.º e 4.º do DL 299/94, de 13 de dezembro. 24 DL 37/2008, de 06 de agosto que estabelece uma nova orgânica para a Polícia
Judiciária. 25 A denominação da DCCCFIEF havia sido, entretanto, rectificada para esta nova
denominação no ano 2000 (Rectificação 16-D/2000, de 30 de novembro).
4
criada com a finalidade de ser uma unidade cuja performance era
especificamente dedicada ao combate da corrupção e criminalidade
conexa, e que iria funcionar como uma complexo de especialistas e
peritos na matéria, aumentando assim o desempenho da Polícia
Judiciária na investigação criminal da corrupção.
Na prática, no entanto, a criação da UNCC não passou de uma
operação estética. As competências desta unidade em muito se
assemelham à anterior DCICCEF, pelo que a emblemática mudança
está na designação da unidade, e na forma como esta nova
designação poderá apaziguar quaisquer recomendações
provenientes de avaliações externas que seja críticas nesse
sentido.
À UNCC também cabe a investigação de um elenco de crimes
relacionados com a corrupção e outras infracções económico-
financeiras, e as ações de prevenção26 referentes a esses mesmos
crimes. Segundo o representante designado pela UNCC para este
estudo27, esta unidade tem à sua disposição meios e recursos
humanos, materiais ou financeiros adequados à investigação da
corrupção e da criminalidade económico-financeira. Para aumentar
a sua eficácia na comunicação e interação inter-institucional, a
UNCC tem destacados pontos de contacto28: inspetores para lidar
unicamente com certas entidades ou autoridades judiciárias (v.g.,
um inspecor dedicado para o DCIAP, um inspetor dedicado para o
DIAP de Lisboa, um inspetor dedicado para os restantes DIAPs).
Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC)
Introdução
O Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC) foi criado, acima de
tudo, na circunstância de ausência de uma entidade de prevenção
da corrupção em Portugal. Enquanto o DCIAP e a UNCC
desempenham o papel da repressão criminal, o facto de não existir
uma entidade com o propósito de ativamente prevenir e disseminar
informação sobre a corrupção tinha como significado o
incumprimento do artigo 6.º da Convenção de Mérida.
Como tal, procedeu-se à criação de uma agência29 com essa missão,
o CPC. Este organismo insere-se, deste modo, no grupo de agências
especializadas de combate à corrupção sem poderes de
investigação e prossecução criminal, capacitada exclusivamente
para prevenir e disseminar informação sobre a corrupção. Entre as
competências do CPC estão a recolha e organização de informações
relativas à prevenção e combate da corrupção e crimes conexos, o
26 Art. 1.º da Lei n.º 36/94, de 29 de setembro. 27 Entrevista com a Coordenadora de Investigação Criminal (CIC) da Unidade
Nacional de Combate à Corrupção, Drª Manuela Marta, 12 de maio de 2011. 28 Id. 29 O CPC foi criado pela Lei 54/2008, de 04 de setembro.
acompanhamento de instrumentos jurídicos e medidas
administrativas para a prevenção da corrupção, e a emissão de
pareceres sobre a elaboração de instrumentos normativos sobre a
prevenção e combate da corrupção e crimes conexos (art. 2.º da Lei
54/2008, de 04 de Setembro).
O enquadramento legal do CPC e a sua atividade está ligada, de
forma intensa, àquela do Tribunal de Contas. De facto, apesar de
serem entidades completamente autónomas, não existindo
qualquer vínculo expresso do CPC ao Tribunal de Contas, ambas as
instituições funcionam em consonância, partilhando a mesma
liderança e, dir-se-á, da mesma agenda política.
RECURSOS (LEI)
Em que medida é que existem normas que
assegurem que o CPC tem recursos adequados
para eficazmente prosseguir com as suas
atribuições e competências?
Resultado: 75
Segundo o artigo 4/1 da Lei 54/2008, de 4 de Setembro, todas as
despesas de funcionamento do CPC constituem encargos do Estado
através do orçamento. O orçamento do CPC é preparado por este
próprio organismo com base nos valores que considerar
necessários à adequada prossecução da sua atividade,
apresentando posteriormente ao Governo para a elaboração da
proposta de Lei de Orçamento.
Não existem quaisquer indicadores objetivos para mudanças no
orçamento, sejam baseadas em performance ou noutros possíveis
indicadores, nem existem outras formas de o CPC se financiar que
não sejam derivadas do Orçamento de Estado preparado pelo
Governo.
Os recursos humanos do CPC (o seu serviço de apoio técnico e
administrativo) são fixados por portaria do Ministério das Finanças
e da Administração pública sob proposta do CPC e recrutam-se com
recurso à mobilidade dentro da função pública, podendo ainda o
CPC deliberar contratar consultores técnicos externos para a
elaboração de estudos tendentes à realização dos seus objetivos30.
30 Art. 6.º da Lei 54/2008, de 4 de Setembro.
5
RECURSOS (PRÁTICA)
Na prática, em que medida é que o CPC tem
recursos adequados para prosseguir a sua
missão?
Resultado: 50
É difícil de aferir se na prática o Conselho de Prevenção da
Corrupção dispõe de recursos suficientes para o desempenho das
suas funções. Segundo declarações do seu Diretor-Geral, o CPC
dispõe de recursos suficientes31 e o mesmo se tem afirmado quanto
ao seu orçamento32, no entanto assiste-se a uma constante falta de
performance e de atividade do CPC face às suas competências,
levando a questionar se, não se tratando de falta de recursos,
tratar-se-á de falta de vontade política.
Como mencionado acima, a contratação de recursos humanos faz-se
com recurso à mobilidade dentro da função pública, não sendo
previstos quaisquer testes de seleção com base em critérios de
ética, e estando os contratados sujeitos à remuneração que
auferiam no seu cargo de origem.
RECURSOS (PRÁTICA)
Em que medida é que existem normas que
assegurem a independência do CPC?
Resultado: 25
Segundo o art. 1.º da Lei 54/2008 que cria o Conselho de Prevenção
da Corrupção, este organismo é um órgão dotado de autonomia
administrativa, sendo que as suas despesas de instalação e
funcionamento constituem encargo do Estado, através do respectivo
Orçamento.
Para a nomeação do presidente do CPC, do seu secretário-geral, ou
dos membros do CPC não existe um procedimento de seleção
competitivo ou aberto. De facto, todas estas posições são
determinadas por inerência de funções, sem recurso a qualquer de
pré-selecção e candidatos ou audições públicas: as posições de
presidente, secretário geral e três dos restantes seis membros
pertencem a outros cargos políticos (presidente do Tribunal de
Contas, Diretor-Geral do Tribunal de Contas, Inspetor-Geral das
31 Entrevista com os representantes do Tribunal de Contas e do Conselho de
Prevenção de Corrupção: Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Tribunal
de Contas e do Conselho de Prevenção de Corrupção, e Dr. José Farinha Tavares,
Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas e Secretário-Geral do Conselho de
Prevenção de Corrupção, 06 de junho de 2011. 32 LUSA, “Corrupção: Conselho de Prevenção considera ‘suficiente’ orçamento de
240 mil euros”, in Expresso Online, 16 de outubro de 2008. Disponível em
http://expresso.sapo.pt/corrupcao-conselho-de-prevencao-considera-suficiente-
orcamento-de-240-mil-euros=f426765#ixzz1qK0evDEU.
Finanças, Inspetor-Geral das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações, Inspetor-Geral da Administração Local), sendo que
os restantes três membros são representantes de três sectores
diferentes com mandatos de 4 anos, renováveis: um representante
do Ministério Público (proposto pelo CSMP, e com mandato de 4
anos), um representante da Ordem dos Advogados e um jurista de
mérito na área da prevenção da corrupção (cujo método de
nomeação não é explanado)33.
Isto significa, então, que mais de metade dos membros do CPC são,
na realidade, escolhidos politicamente, por via da escolha dos
dirigentes políticos de outras instituições como a Inspeção-Geral
das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, a Inspeção-Geral
das Finanças, ou o Tribunal de Contas. Por outro lado, também
significa que os membros do conselho são, em regra
personalidades com experiência nas áreas de risco da corrupção.
Mas isto não deixa de afastar a sua nomeação política pelo
Executivo e consequente falta de independência na medida em que
o Governo poderá destituí-los dos seus postos originais e, por isso,
retirar-lhes o estatuto de membros do CPC.
Excluindo as referências legais à administração independente do
CPC e ao seu reporte individual (ou seja, independentemente do
Tribunal de Contas) ao Governo e Assembleia da República, não
existem outras normas no sentido da independência e autonomia
funcional do CPC. Como referido acima, apesar de o CPC propor o
seu próprio orçamento (independência financeira), cabe ao Governo
elaborar a Lei de Orçamento na qual ele se insere. Sendo, pois,
possível ao Executivo dar uma maior ou menor liberdade de
atividade ao CPC consoante o financiamento público que lhe é
disponibilizado. Esta situação agrava-se com a falta de outras
fontes de financiamento do CPC, ao contrário do Tribunal de
Contas34.
INDEPENDÊNCIA (PRÁTICA)
Em que medida é que o CPC é independente na
prática?
Resultado: 25
Na prática a independência do CPC é meramente aparente. Visto
que os cargos dirigentes são maioritariamente escolhidos pelo
Executivo (ainda que de forma indireta) não existe um verdadeiro
destacamento daqueles face a este poder político. Como tal a
percepção que o público tem do CPC é de um organismo
predominantemente político, que age consoante a agenda política
do Tribunal de Contas, junto do qual funciona, partilhando a sua
33 Art. 3.º da Lei 54/2008, de 4 de Setembro. 34 Vd. pilar Tribunal de Contas.
6
direção, e por vezes subsumindo-se a este tribunal como se de um
organismo acessório se tratasse.
A partilha da direção entre os dois organismos (CPC e Tribunal de
Contas) é uma das principais razões para esta percepção,
principalmente devido ao mediatismo atingido pelo Tribunal de
Contas em situações de derrapagens públicas e questões
orçamentais. Inevitavelmente, quaisquer juízos que recaiam sobre
a direção do Tribunal de Contas acabam por transmitir-se para o
CPC.
No entanto, dado a falta de competências do CPC para a
investigação e prossecução criminal, a atenção que este organismo
merece da parte do poder político é relativamente reduzida, não se
afigurando que existam exemplos graves de interferência política
na sua atividade. De facto, as atividades do CPC são de tal forma
reduzidas face às suas competências que a oportunidade para tais
interferências é muito reduzida.
É possível fazer denúncias de corrupção ao CPC sem medo de
represálias, que posteriormente serão reencaminhadas aos
serviços competentes do Ministério Público.
TRANSPARÊNCIA (LEI)
Em que medida é que existem normas que
assegurem que o público tem acesso à
informação sobre as atividades e processos
decisórios do CPC?
Resultado: 50
De acordo com o artigo 7.º da acima mencionada Lei 54/2008, o CPC
apresenta todos os anos um relatório das suas atividades, mas a
lei parece um pouco ambígua quanto à obrigação do CPC divulgar
estes relatórios. Refere o número 5 deste artigo 7.º que o “CPC só
pode divulgar os seus relatórios depois de estes terem sido
recebidos pela Assembleia da República e pelo Governo”, pelo que
não está presente na letra da lei uma verdadeira obrigação de
divulgar tais relatórios, mas apenas uma faculdade de o fazer, e
apenas após o escrutínio dos órgãos políticos.
TRANSPARÊNCIA (PRÁTICA)
E em que medida é essa informação
disponibilizada?
Score: 25
Na prática, o CPC serve-se do próprio website alojado no domínio
do Tribunal de Contas (www.cpc.tcontas.pt) para publicitar
documentos relativos ao fenómeno da corrupção e da sua
prevenção. No entanto, não se encontram no seu website os
relatórios anuais de atividades do CPC (organismo criado em finais
de 2008) e desconhece-se se de facto foram elaborados e
apresentados à Assembleia da República e Governo conforme
estipulado por lei.
Adicionalmente, além de constarem do website do CPC as datas das
reuniões do CPC, inicialmente publicavam-se também os
comunicados do conselho sobre as suas reuniões (ainda que com
um conteúdo extremamente genérico e breve), tendo sido emitidos
comunicados para as primeiras 5 reuniões35. No entanto essa
prática foi descontinuada, existindo agora completa ignorância do
cidadão sobre o conteúdo das reuniões do CPC desde Fevereiro de
2009 até aos recentes comunicados de início de 2012.
ACCOUNTABILITY (LEI)
Em que medida é que estão previstas normas
que assegurem que o CPC tem que prestar
contas pela sua atividade?
Resultado: 50
O CPC presta contas ao Governo e à Assembleia da República, por
via da preparação de um relatório anual de atividades, que deverá
ser apresentado até ao final de Março de cada ano (art. 7.º da Lei
54/2008). Também os programas anuais de atividades aprovados
pelo CPC deverão ser enviados ao poder executivo e legislativo (nº
1 do art. 5.º da Lei 54/2008).
É possível ao CPC elaborar relatórios intercalares relativas a áreas
específicas da sua atividade e que deverão também ser remetidos
ao Governo e Assembleia da República, mas esta faculdade fica ao
critério do próprio CPC e não das instituições às quais tem que
reportar (n.º 3 do art. 7.º da Lei 54/2008).
35 Disponíveis online em: http://www.cpc.tcontas.pt/actividades.html.
7
ACCOUNTABILITY (PRÁTICA)
E como são respeitadas as regras de prestação
de contas na prática?
Score: 25
Como foi acima referido, o CPC não têm como prática publicar no
seu website nem os relatórios anuais de atividade nem o conteúdo
ou comunicados das suas reuniões, obstando assim à existência de
um escrutínio dos cidadãos e do público em geral face às suas
atividades. Por esta razão, não é sequer possível aferir se esses
relatórios foram de facto elaborados ou não. Até à data, não houve
qualquer divulgação da existência ou conteúdo dos mesmos à
comunicação social.
MECANISMOS DE INTEGRIDADE (LEI)
Em que medida é que estão previstos
mecanismos que assegurem a integridade dos
membros do CPC?
Score: 25
Não existem códigos de conduta específicos para o CPC. Os seus
membros são abrangidos pelo código de conduta genérico dos
funcionários públicos. Quanto ao recebimento de prendas ou outros
tipos de hospitalidade, aplica-se o regime do Código Penal
português, pelo que tal comportamento tanto poderá ser
considerado um crime ou não consoante a aplicação do critério de
adequação social ao caso particular, conforme previsto para o crime
de Recebimento de Vantagem Indevida (art. 372.º do Código Penal).
MECANISMOS DE INTEGRIDADE (PRÁTICA)
E como são aplicados na prática?
Score: 25
Como referido acima, não existe qualquer tipo de pré-seleção de
funcionários ou membros do CPC com base em standards éticos,
nem foi publicitada até à data qualquer formação específica dos
funcionários (serviços de apoio) do CPC no âmbito do combate à
corrupção, transparência e integridade.
Em que medida é relevante o papel do CPC no
combate à corrupção?
Resultado: 25
O desempenho do CPC ficou aquém das expectativas, resumindo-se
a duas principais atividades:
Por um lado, é realizada a recolha e análise superficial
dos planos de gestão e prevenção de riscos de corrupção
elaborados pelos institutos da Administração Pública,
acompanhadas de posteriores visitas às entidades
visadas para explicar o alcance e a necessidade de pôr
em prática estes planos. Neste programa é perceptível a
falta de poder deste organismo, cujas recomendações a
nível de prevenção da corrupção na Administração
Pública, não têm qualquer tipo de sanção acoplada,
passando a ser encaradas pelos organismos públicos
como meros incómodos administrativos.
Por outro lado, é realizada a emissão de opiniões
públicas sobre a tomada de iniciativas de corrupção, ou
outros casos conexos. Neste sentido, parece existir, em
certos casos, uma certa instrumentalização do CPC por
parte do Tribunal de Contas, nomeadamente mediante a
emissão de comunicações quase simultâneas às
comunicações do próprio tribunal, com um possível
objetivo de desviar a atenção dos media ou atenuar o
efeito negativo de certas informações.
Tendo em conta as suas atribuições e competência, é possível
verificar que o CPC não cumpre tudo aquilo que poderia ou deveria
cumprir. Como entidade de recolha de informação, tanto a nível
administrativo como criminal, e que tem uma ligação privilegiada
ao Tribunal de Contas e à sua atividade, o CPC não tem apresentado
quaisquer resultados úteis, seja na detecção de áreas de risco de
corrupção, seja na detecção de atuais casos de corrupção, ou na
contribuição para a criação de um gabinete de intelligence, que
consiga além de recolher, tratar a informação contribuindo para
aperfeiçoar a investigação criminal e a adoção de medidas
preventivas: a informação entra mas não sai36.
A inatividade do CPC não se basta por aqui, no entanto. Não
obstante o seu papel preventivo no âmbito dos planos de gestão de
riscos de corrupção e apesar de ter no seu conselho diretivo
representantes das Inspeções-Gerais do Estado, o CPC não contacta
regularmente com as entidades que concretizam a detecção e
investigação criminal, não beneficiando dos conhecimentos destas
entidades; por outro lado, o CPC não aproveita a sua especial
ligação com as instituições da administração pública, sendo que
poderia ter um papel proactivo e benéfico na criação de maiores
laços de cooperação, proactividade e coordenação entre MP, OPCs e
Administração Pública.
36 Entrevista com a Diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal de
Lisboa (DIAP-Lisboa), Dr.ª Maria José Morgado, 24 de junho de 2011.
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Adicionalmente, o CPC peca por ser uma instituição estanque e
hermética37, cuja passividade transparece também dos seus
estatutos em que algumas das competências elencadas são só
efetiváveis a solicitação de outras entidades38:
o CPC só poderá dar parecer sobre a elaboração e
aprovação de novos instrumentos normativos a
solicitação da AR ou do Governo;
também só poderá ter um papel ativo na elaboração de
códigos de conduta e ações de formação nesta área
quando solicitado pelas entidades públicas interessadas;
no caso de conhecimento de crime, o CPC tem obrigação
de participação imediata, no entanto, não existe uma
obrigação de envio imediato de todos os documentos
pertinentes na sua posse, a utilização destes
documentos fica à discrição das autoridades que poderão
ou não solicitá-los;
por último, os relatórios e informações que são
comunicados às autoridades judiciárias são sujeitos a
contraditório, este tipo de praticas, também presente
nas Inspeções-Gerais, já foi anteriormente considerado
como uma má prática, na medida em que serve de pré-
aviso aos agentes corruptos ou corruptores para uma
eminente investigação criminal, podendo incitar à
eliminação da prova ou à concertação prévia de
testemunhas.
Tendo isto em conta, conclui-se que o CPC não só é uma instituição
estanque e passiva por falta de iniciativa abrangente por parte da
sua direcção, mas também pela própria natureza dos seus
estatutos que impedem uma séria pro-actividade no combate à
corrupção.
Reflexões e comentários finais
Perante os problemas encontrados a nível da prevenção, da
detecção, da investigação e da prossecução da corrupção, que
passos tomar para garantir uma melhor organização e eficácia
neste âmbito? Como acima mencionado, a cargo destas atribuições
estão o CPC, a UNCC, o DCIAP e os DIAPs, um conjunto de
organismos que apresentam problemas de comunicação, de auxílio
mútuo e de aproveitamento mútuo das suas capacidades. Os
problemas de coordenação, centralização e análise de informação
do DCIAP vêm piorar esta situação.
37 Id. 38 Art. 2.º da Lei 54/2008, de 04 de Setembro.
A solução poderá estar, como anteriormente já recomendado pela
TIAC39, na criação de uma instituição especializada de combate à
corrupção que reúna algumas ou todas as competências daqueles
organismos. Não se deixa, no entanto, de recomendar (como tem
sido prática da TI e da TIAC) o aperfeiçoamento dos organismos já
existentes e no terreno (como recomendado pelos peritos
entrevistados): a constituição de um organismo deste tipo, ou
agência de combate à corrupção, trata-se de uma medida paralela,
cuja adoção poderá ser suprida por um correto desempenho do
atual sistema judiciário e de prevenção da corrupção.
A tendência para adoção deste tipo de organismos tem vindo a ser
seguida em todo o mundo desde a década de 90, principalmente por
via do estabelecimento de organismos similares àqueles que têm
maior sucesso noutros países (veja-se o exemplo da Independent
Commission Against Corruption –ICAC de Hong Kong).
Contudo, como a TIAC teve a oportunidade de apurar, a criação
deste tipo de organismo tem sido fortemente desincentivada pelos
vários stakeholders entrevistados40, mais favoráveis da
manutenção e aperfeiçoamento das instituições já existente no
terreno. Refere-se que a criação deste tipo de organismo iria criar
apenas mais confusão e problemas41, num panorama que já tem
excessivas entidades a lidar com a corrupção, a existência de mais
uma autoridade iria gerar conflitos de competências e iria
igualmente gerar custos financeiros acrescidos.
No nosso entender, todas estas observações e receios são
justificáveis. Porém, a criação de tal instituição, perante uma
panorama tão caótico do combate à corrupção afigura-se-nos como
sendo mais vantajosa que perigosa, sendo que, para atingir
melhores resultados, será importante apostar nas falhas dos
organismos já existentes (como a falta de gabinetes de análise e
tratamento de informação, falta de peritos formados e
especializados, falta de independência assegurada, falta de códigos
de conduta específicos, etc.) enquanto se mantêm as boas práticas
(equipas multidisciplinares do DCIAP, existência de pontos de
contacto com os stakeholders mais importantes, estruturas de
apoio pericial como o Núcleo de Assessoria Técnica).
Para cumprir eficazmente competências de prevenção, uma
hipotética agência de corrupção deverá trabalhar de perto com a
39 Transparência e Integridade, Associação Cívica (2011), Corrupção Fora de Prazo: prescrição de crimes na justiça portuguesa. 40 Entrevista com o representantes do Sindicado dos Magistrados do Ministério
Público (SMMP), Dr. João Palma, Presidente do SMMP, e Dr. Rui Cardoso, Secretário-
Geral do SMMP, 05 de Junho de 2011; entrevista com a Directora do DIAP-Lisboa,
24 de Junho de 2011; e entrevista com a CIC Dr.ª Manuela Marta da UNCC, 12 de
Maio de 2011. 41 Entrevista com os representantes do SMMP, 05 de Junho de 2011.
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Administração Pública e os seus organismos fiscalizadores (Tribunal
de Contas e Inspeções-Gerais), e simultaneamente com os
Organismos de Polícia Criminal. Sendo essencial a atribuição não só
de plenos poderes de investigação, mas também de uma
capacitação a nível de competências e recursos para utilizar esses
poderes (recursos informáticos e materiais, tal como recomendado
para o Ministério Público).
Absorvendo assim as competências atuais do CPC, do DCIAP e da
UNCC, seria possível criar uma estrutura única, com todos os
benefícios daí decorrentes, tais como: a transferência de
conhecimento entre profissionais de diferentes áreas; o tratamento
multilateral das informações recolhidas (intelligence); a
independência face às anteriores instituições ou organismos
(Ministério Público e Ministério da Justiça). Adicionalmente, tirando
partido da transferência de conhecimentos e da experiência no
terreno, facilmente se poderia alargar as competências de um tal
organismo à educação, formação e sensibilização.
Por fim, e como forma a evitar casos similares à antiga AACC,
deverão ser estabelecidos indicadores e mecanismos transparentes
e eficazes de avaliação do desempenho de um organismo
especializado de combate à corrupção,42 de forma a que o seu
desempenho não esteja só sob o escrutínio dos órgãos de
soberania, mas também dos cidadãos; enquanto que,
simultaneamente, deverá ser estabelecida a independência do
organismo, tanto pela adoção de um sistema mais forte de
nomeação política (maioria de dois terços como é o caso do
Provedor de Justiça), como pela garantia de autonomia financeira,
pela previsão do orçamento mediante uma percentagem fixa (e
adequada) do Orçamento de Estado (como é o caso da ICAC de Hong
Kong).
É recomendação da TIAC a criação de um organismo especializado
de combate à corrupção – ou agência de combate à corrupção -, que
reúna competências de investigação, prevenção (no âmbito do
sector público e do sector privado), prossecução criminal, e
educação. Absorvendo assim as competências atuais do CPC, do
DCIAP e da UNCC, permitindo criar uma estrutura única, com todos
os benefícios daí decorrentes.
A estrutura e funcionamento deste organismo deverá
respeitar um conjunto de boas práticas internacionais,
entre outras:
42 Johnsøn, Jesper; Hechler, Hannes; De Sousa, Luís; e Mathinsen, Harald (2011)
How to monitor and evaluate anti-corruption agencies: Guidelines for agencies, donors, and evaluators. Bergen: U4/CMI em associação com PNUD (Disponível
online: http://www.u4.no/publications/how-to-monitor-and-evaluate-anti-
corruption-agencies-guidelines-for-agencies-donors-and-evaluators-2).
• Possuir códigos de conduta específicos, devidamente
fiscalizados e com sanções acopladas ao seu
incumprimento;
• Possuir mecanismos adequados de avaliação e
fiscalização interna, tanto a nível de desempenho
pessoal como da gestão do organismo como um todo,
mecanismos esses que devem ser supervisionados por
entidades ou órgãos independentes e com participação
externa (políticos, praticantes da justiça, sociedade
civil).
• Estruturação por equipas multidisciplinares (seguindo
o exemplo do DCIAP), com pontos de contacto
designados para os stakeholders envolvidos.
• Existir uma regulamentação detalhada sobre o
recrutamento de novos agentes, com concursos de
admissão público e processos transparentes.
• Obrigatoriedade de prestação de contas anual à AR.
• Garantias de independência:
• Pela forma de nomeação do cargo
máximo dirigente, por exemplo
seguindo o método de maioria de
2/3, como é utilizado para o
Provedor de Justiça.
• Pela autonomia financeira do
organismo, mediante a fixação do
seu orçamento com base numa
percentagem fixa do Orçamento de
Estado para cada ano.