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FACULDADE DE CINCIAS DO 3PORTO E DE EDUCAO FSICA
UNIVERSIDADE DO PORTO
Organizao tctica no Voleibol
Modelao da regularidade de equipas de alto nvel em funo da sua eficcia ofensiva, nas aces a partir da recepo ao servio.
Domingos Paulo Coelho da Silva e Sousa
Janeiro de 2000
Dissertao de Mestrado em
Treino de Alto Rendimento
sob a orientao do
Prof. Doutor Jlio Garganta da Silva.
FACULDADE DE CINCIAS DO ESPORTO E DE EDUCAO FSICA
UNIVERSIDADE DO PORTO f f B
Organizao tctica no Voleibol
Modelao da regularidade de equipas de alto nvel em funo da sua eficcia ofensiva, nas aces a partir da recepo ao servio.
Domingos Paulo Coelho da Silva e Sousa
Janeiro de 2000
Dissertao de Mestrado em
Treino de Alto Rendimento
sob a orientao do
Prof. Doutor Jlio Garganta da Silva.
Universidade do Porto Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica.
Organizao Tctica no Voleibol Modelao da regularidade de equipas de alto nvel competitivo em funo da
sua eficcia ofensiva no ataque a partir da recepo ao servio.
Dissertao apresentada s
provas de mestrado no ramo de
Cincias do Desporto na rea de
treino de Alto Rendimento
Aluno: Domingos Paulo Coelho da Silva e Sousa
Orientador: Professor Doutor Jlio Garganta da Silva
Porto
Janeiro de 2000
Agradecimentos
A realizao deste trabalho exigiu o esforo de um grupo de pessoas empenhadas e
amigas.
No poderia deixar de referir algumas que nos tocaram de uma forma muito
especial.
Ao Professor Doutor Jlio Garganta, orientador deste trabalho, pela sua inteligncia,
dedicao e capacidade cientifica aliada a uma serenidade invejvel, nos ajudou a
conseguir este objectivo.
Professora Doutora Isabel Mesquita co-orientadora, pela confiana que em ns
depositou e pela capacidade cientifica que colocou ao nosso dispor. A forma amiga e
bem disposta com que o fez foi importante para atingir este objectivo.
Ao Gabinete de Voleibol da FCDEF nas pessoas do Professor Rui Faria e Carlos
Moutinho, que se mostraram sempre disponveis para ajudar.
Ao Mangas, pela bibliografia que nos conseguiu, e pela eterna boa disposio, que
tanto nos ajudou a ultrapassar os momentos mais difceis.
comisso executiva da Escola E. B. 2/3 da Corga, na pessoa do Mestre Antnio
Mota, pelas as facilidades concedidas e ausncias compreendidas ao longo destes
dois anos.
Aos meus pais e irmos por existirem, por serem quem so e por representarem
para mim modelos de referncia que, sem eles, jamais teria chegado ao fim desta
tarefa.
D. Virgnia e ao Sr. Isidro que, pelas ajudas e preocupaes constantes tanto
contriburam para este trabalho.
Ao Professor Lus Resende por estar sempre por perto e em tantos momentos nos
ajudarem a aliviar a presso.
Gabriela e Catarina pelos momentos de repouso que me proporcionaram nestes
tempos.
Clia por ser uma mulher invulgar, por estar incondicionalmente presente,
pela fora e capacidade de trabalho que consigo arrasta, pelo amor que nos dispensa.
Obrigado.
Resumo
No Voleibol, a observao e anlise do jogo constituem instrumentos importantes para
a modelao do jogo e do treino.
No presente estudo, tendo como referncia a dimenso tctica do jogo, pretendemos,
atravs da observao sistemtica de jogos realizados por equipas de alto nvel de
rendimento, identificar as sequncias ofensivas do jogo, em funo das caractersticas
que esto associadas ao sucesso/insucesso.
Para o efeito foram recolhidas 410 sequncias ofensivas, a partir dos jogos que as
equipas que se classificaram nos trs primeiros lugares da Liga Mundial de 1999
(Itlia, Cuba e Brasil) realizaram entre si.
Procurou-se averiguar a existncia de associaes entre as diferentes aces de jogo
e o efeito do ataque, bem como a possvel configurao de regularidades na lgica
acontecimental do jogo no decorrer dos "sets".
Destacam-se as seguintes concluses:
1. as sequncias ofensivas apresentam configuraes distintas no seu
decurso ( recepo, passe e ataque) diferindo ao nvel do efeito do ataque.
2. As sequncias positivas, isto , as que culminam com a conquista de ponto,
apresentam um perfil que se consubstancia em recepes de boa
qualidade (valorao 3) e passes realizados para zona 3 de ataque,
concretizados no 1o tempo de ataque e apenas com a oposio de um
jogador na aco de bloco.
3. O nmero de sequncias ofensivas decresce do incio para o fim dos "sets".
4. Os resultados sugerem que ser possvel identificar um momento crtico no
jogo, o qual acontece entre o 15 e o 19 ponto, em virtude de ser neste
intervalo que as sequncias negativas ocorrem com maior frequncia.
Rsum
Dans le Volley-ball l'observation et l'analyse du jeu sont des instruments
indispensables pour la modelization du jeu et de l'entranement.
Ayant comme reference fondamentale la dimension tactique du jeu, dans notre tude
on a essay d' identifier les sequences ofensives selon les caractristiques qui sont
associes la russite ou la defaute pendant le match.
On a fait l'observation sistematique dun ensemble de 410 sequences ofensives,
rassembls des jeux disputs pour des quipes les trois mieux places dans la Ligue
Mondial 1999 (Itlia, Cuba e Brasil).
En cherchant des liaisons entre les actions de jeu et l'effect de l'ataque, ainsi
comme quelques rgularits dans la logique acontecimental du jeu, pendant les
"sets", la ralisation de cet tude a permis de mettre en vidence les
conclusions suivantes:
Les sequences ofensives montrent diffrentes configurations pendant son decours
(reception, passe et ataque) en rapport avec le niveau de refait de l'ataque.
Les sequences positives, cette dire celles qui conduisent l'aquisition d'un point
de set, prsentent un profil qui se caractrise par des receptions de bonne qualit (
ponctuation 3), des passes orients vers la zone 3 de l'ataque et raliss au 1er
temps, avec l'oposition d'un seul joueur en situation de bloque.
Le nombre de sequences ofensives positives baisse du debut jusqu' la fin des
sets.
On peut identifier un moment critique du jeu, lequel arrivent entre le 15me et le
19me point de set, car les sequences ofensives negatives montrent une frequence
plus leve dans cette priode.
Abstract
In Volleyball, game observation and match analysis are important arguments to do
game modelling and to improve training.
In the present stuy, considering the tactical dimension, we intend to identify offensive
sequences according to the characteristics that lead to the success/failure during game
events.
In orther to achieve this porpose, 410 offensive sequences have been collected from
the matches played by three teams ranking in first, second and third place, in Volleyball
Word League 1999 (Italy, Cuba and Brazil).
Searching for links between diferent game actions and the attack effect, as well
as the possibility of configure some regularities during the game sets, we
conclude that:
Offensive sequences show different configurations according the the type of attack
effect.
Positive sequences, i.e. those that end with a point acquisition, show a profile
characterised by a good quality reception (level 3), passes directed to the zone 3 of
attack, which is performed in the first tempo attack, facing the opposition of a single
player in the block action.
The number of offensive sequences decrease from the beginning to the end of the
sets.
Results show that it seams possible to identify a critical moment during the game,
wich occur between the 15th and the 19 th point, since during this period negative
offensive sequences happen more frequently.
INDICE
Agradecimentos
Resumo
Resume
Abstract
1- Introduo 1
1.1- Pertinncia e mbito do trabalho 2
1.2- Objectivos 3
1.3- Hipteses 3
2- Reviso da Literatura 5
2.1- Natureza do jogo de Voleibol 6
2.2- O Voleibol enquanto JDC 8
2.2.1- Estrutura formal 9
2.2.2- Estrutura funcional 9
2.2.2.1-Subestrutura interna 9
2.2.2.1.1- Plano regulamentar 10
2.2.2..1.2- Plano das inter-relaes equipa/adversrio 12
2.2.2.2-Subestrutura externa 14
2.2.2.2.1-As subestruturas do jogo 15
2.2.2.2.2-A especializao dos jogadores 17
2.3- Essencialidade estratgico-tctica 19
2.3.1- Enquadramento estratgico-tctico da aco ofensiva no Voleibol 22
2.3.1.1- Conceito de estratgia 22
2.3.1.2- Conceito de tctica 23
2.3.2- Noo de espao 24
2.3.2.1- Variabilidade das aces 23
2.3.2.2- Frequncia e momentos de utilizao das combinaes tcticas ofensivas 29
2.3.2.3- Preferncias ao nvel das zonas, jogadores e tipos de ataque 30
2.3.2.4- Nmero de jogadores envolvidos na aco de ataque 30
2.3.2.5- Relao entre o primeiro toque e aco subsequente 31
2.3.3- Noo de tempo 3 1
2.3.4- Noo de tarefa 3 6
3- Modelao de jogo 41
4- Metodologia 4 4
4.1- Critrios de seleco da amostra 4 5
4.2- Recolha e registo de imagens 4 5
4.3- Explicitao das variveis 4 8
4.3.1- Macro-dimenso espao 4 6
4.3.1.1- Zona de recuperao de bola 46
4.3.1.2-Zona de ataque 4 7
4.3.1.3-Zona de passe 47
4.3.2- Macro-dimenso tempo" 4 8
4.3.2.1- Tempo de durao do ataque 4 8
4.3.2.2-Tempo de ataque 4 8
4.3.3- Macro-dimenso tarefa 4$
4.3.3.1- Modelo de avaliao da recepo 4g
4.3.3.2- Modelo de avaliao do ataque 49
4.3.3.3- Modelo de avaliao do Passe 50
4.3.4- Macro-dimenso organizao da equipa 5 Q
4.3.4.1- Finalizao com combinao ofensiva 50
4.3.4.2- Finalizao sem combinao ofensiva 51
4.3.4.3-Jogador finalizador 51
4.3.4.4-Resultado do "set" 51
4.4- Metodologia de observao 51
4.5- Fiabilidade da observao 52
4.6- Procedimentos estatsticos 54
5- Apresentao e discusso dos resultados 55
5.1- Caracterizao das sequncias 55
5.1.1- Macro-dimenso espao 55
5.1.1.1-Zonas de recuperao 55
5.1.1.2-Zonas de ataque 51
5.1.1.3- Zonas de passe 55
5.2- Macro-dimenso tempo 57
5.2.1-Tempo de ataque 57
5.2.2- Tempo de durao da sequncia gg
5.3- Macro-dimenso tarefa 75
5.4- Macro-dimenso organizao da equipa 51
5.5-Anlise de clusters 91
6- Concluses 94
7- Referncias bibliogrficas 95
8-Anexos 107
ndice de quadros Pgina
Quadro 1. Diferentes classificaes dos JDC. 8
Quadro 2. Principais alteraes s regras de jogo que visam maior 10
equilbrio entre a defesa e o ataque. Adaptado de Berjaud (1995) e Cunha
(1996). Quadro 3. Principais alteraes s regras de jogo que visam a defesa, 11
melhoria e promoo do espectculo. Adaptado de Berjaud (1995) e
Cunha (1996). Quadro 4. Modelo de avaliao da recepo ao servio e defesa 49
(adaptado de Coleman,1985).
Quadro 5. Modelo de avaliao do ataque (adaptado de Coleman, 1985). 50
Quadro 6. Modelo de avaliao do passe. 5 0
Quadro 7. Percentagem de acordos intra-observador registados nas 53
variveis abaixo indicadas. Quadro 8. Valores de p referentes ao Tteste de medidas repetidas do 53
tempo de durao da jogada. Quadro 9. Distribuio das sequncias ofensivas em funo do efeito do 56
ataque. Quadro 10. Nmero de ocorrncias e percentagem nas zonas de 57
recuperao. Quadro 11. Distribuio percentual do resultado do ataque em cada zona 57
de recuperao. Quadro 12. Distribuio percentual das zonas de recuperao por 59
sequncia. Quadro 13. Resultados das observaes nas zonas de ataque. 61
Quadro 14. Distribuio percentual do resultado do ataque em cada zona 62
de ataque. Quadro 15. Distribuio percentual das zonas de ataque por sequncia. 63
Quadro 16. Resultados das observaes nas zonas de passe. 65
Quadro 17. Valores percentuais das zonas de recuperao de bola das 66
sequncias ofensivas em funo do efeito do ataque, e de acordo com a
zona de passe. Quadro 18. Valores mdios expresso em segundos, desvio padro e 67
amplitude de variao da durao das jogadas. Quadro 19. Frequncia e percentagem dos tempos de ataque das 67
sequncias ofensivas.
Quadro 20. Valores mdios e desvio padro de cada uma das trajectrias 70
e do tempo total de durao das sequncias.
Quadro 21. Distribuio percentual das zonas de recuperao por 72
sequncia.
Quadro 22. Tempos mdios de durao das trajectrias de bola nas 73
sequncias ofensivas positivas, neutras e negativas.
Quadro 23. Frequncia de ocorrncia dos items de avaliao da recepo. 76
Quadro 24. Frequncia e percentagem de ocorrncias em cada tipo e 76
qualidade de passe nas sequncias totais.
Quadro 25. Distribuio percentual da recepo e do passe em funo da 77
qualidade do ataque das sequncias ofensivas totais.
Quadro 26. Distribuio percentual dos tempos de ataque pela qualidade 78
do passe nas sequncias ofensivas.
Quadro 27. Distribuio percentual da qualidade da recepo e do passe 79
nas sequncias ofensivas positivas, neutras e negativas.
Quadro 28. Valores observados nas sequncias ofensivas do tipo de 81
finalizao.
Quadro 29. Valores observados no tipo de ataque nas sequncias 81
ofensivas.
Quadro 30. Frequncia e percentagem do tipo de ayaque e combinao 82
ofensiva das sequncias ofensivas.
Quadro 31. Nmero de jogadores para cada equipa solicitados para 82
realizarem as aces de remate.
Quadro 32. Distribuio percentual dos trs atacantes mais solicitados em 84
cada equipa nas sequncias ofensivas positivas, neutras e negativas.
ndice de figuras Pgina
Figura 1. Implicaes dos diferentes tipos de jogadas no jogo de voleibol. 12
(Adaptado de Moutinho, 1994)
Figura 2. Sequncia de momentos e fases de jogo, com ou sem posse do 16
servio. (Adaptado de Fraser, 1988).
Figura 3. Modelo esquemtico do processo e das componentes da 21
prestao estratgico-tctica (Barth,1665).
Figura 4. Zonas de rotao impostas pelo regulamento de jogo. 25
Figura 5. Dispositivo de recepo com dois recebedores prioritrios, da 25
equipa da Holanda nos JO de Atlanta.
Figura 6. Dispositivo de recepo, com trs recebedores prioritrios, da 25
equipa da Holanda nos JO de Atlanta.
Figura 7. Corredores defensivos e zonas de proteco no Complexo 11 26
(side out transition). Figura 8. Zonas de ataque segundo Sellinger (1986). 26
Figura 9. Zonas de ataque segundo Neville (1990) 27
Figura 10. Zonas de ataque Hbert (1991) 27
Figura 11. Zonas de ataque segundo Vasconcelos. 27
Figura 12. Ataques do 1o tempo, segundo Pittera e Riva (1982). 33
Figura 13. Ataques de 2o tempo segundo Pittera e Riva (1982). 33
Figura 14. Ataques de 3o tempo segundo Pittera e Riva (1982). 33
Figura 15. Ataques de 1o, 2o e 3o tempo segundo Beal (1992). 35
Figura 16. Fases do processamento da informao e respectivos factores 37
influnciadores, segundo Alves e Arajo (1996).
Figura 17. Diviso do campo em nove partes iguais (capograma). 46
Figura 18. Zonas de ataque. 47
Figura 19. Zonas de passe. 47
Figura 20. Momentos de observao e registo dos indicadores em estudo. 52
Figura 21. Distribuio percentual da qualidade da recepo nas zonas 58
mais prximas e mais afastadas.
Figura 22. Representao das principais diferenas entre as zonas de 60
recuperao nas sequncias ofensivas.
Figura 23. Representao das principais diferenas entre as zonas de 64
ataque nas sequncias ofensivas. Figura 24. Comparao da distribuio percentual dos tempos de ataque 68
entre sequncias ofensivas, positivas e negativas.
Figura 25. Tempos mdios de durao das sequncias nos tempos de 70
ataque. Figura 26. Durao mdia das trajectrias de bola recepo/passe a partir 71
das diferentes zonas de recuperao.
Figura 27. Comparao dos tempos mdios de durao das trajectrias de 74
bola no ataque de 1o tempo entre sequncias ofensivas positivas, neutras
e negativas. Figura 28. Comparao dos tempos mdios de durao das trajectrias de 75
bola no ataque de 3o tempo entre sequncias positivas, neutras e
negativas.
Figura 29. Comparao da distribuio percentual da recepo e do efeito 80
do passe no bloco nas sequncias ofensivas positivas, neutras e
negativas.
Figura 30. Distribuio percentual dos trs atacantes mais solicitados em 83
cada equipa.
Figura 31. Distribuio percentual das sequncias ofensivas neutras e 85
negativas no decorrer dos "sets".
Figura 32. Distribuio percentual das zonas de recuperao de bola no 86
decorrer dos "sets". Figura 33. Distribuio percentual das zonas de ataque no decorrer dos 87
"sets". Figura 34. Distribuio percentual da qualidade do passe e da recepo 88
no decorrer dos "sets".
Figura 35. Distribuio percentual dos tempos de ataque no decorrer dos 89
"sets". Figura 36. Distribuio dos tempos mdios de durao das sequncias 90
ofensivas positivas, neutras e negativas.
Figura 37. Dendograma dos clusters obtidos s 19 variveis consideradas. 91
1-INTRODUO
1- Introduo O ponto de partida para este trabalho assenta na conscincia de que a aprendizagem se realiza com o uso, no de perguntas, mas de pesquisas e experincias, e na f de que nenhum dos aspectos da realidade, tal como se desenvolve no tempo e no espao, impenetrvel a nenhum ser humano, desde que se ponha na tarefa aquele mnimo de vontade, honestidade e de imaginao que, pela prpria natureza do homem existe em todos ns (Agostinho da Silva, 1995).
1.1- Pertinncia e mbito do estudo
No mbito desportivo, os Jogos Desportivos Colectivos, tm sido alvo do interesse
de grande nmero de investigadores, que procuram identificar as variveis que melhor
definam o rendimento desportivo.
No entanto, esta tarefa no se afigura fcil, dado que, a aco desportiva no pode
ser explicada apenas atravs da condio fsica ou da tcnica, mas requer a
compreenso de uma organizao complexa do comportamento em condies
situacionais diversificadas (Castaned, 1983; Barth, 1994; Rossi, 1996; Gimenez, 1998;
Prez, 1998).
O Voleibol, como parte integrante dos JDC, tem uma estrutura formal e, sobretudo,
funcional que assenta, predominantemente, na relao de cooperao/oposio,
estabelecida entre colegas e adversrios (Moreno, 1984; Tavares, 1993; Garganta &
Pinto, 1995; Mesquita, 1998).
Esta relao de cooperao/oposio ocorre sempres em "crise de tempo" para
decidir e agir (Greco e Chagas, 1992), fazendo apelo a um conhecimento, segundo
Torres (1998), da "experincia vivida", que no se podem tornar explcitos por meio
de descries verbais.
Este conhecimento denominado por conhecimento tctico e que, segundo
Garganta (1997), se materializa sobretudo na competio, isto no jogo, implicando a
elevao do fenmeno jogo formal a objecto de estudo ao qual urge responder.
No Voleibol, vrios so os autores que apresentam propostas de sistemas de
observao: Baacke e Matsudaira (1979), Rose (1981), Byra e Scott (1982), Sawula
(1985), Coelman (1985), Acosta (1989), Eom e Schutz (1992), Moutinho e Santos
(1993), e outros.
indiscutvel o contributo dos estudos realizados para a evoluo do jogo, na
medida em que resume dados que de outra maneira seriam de complexa organizao
(Druenne e Moreaux, 1987; Del Campo et ai, 1991).
No entanto na maioria dos estudos resulta num conhecimento parcelarizado,
segmentado em relao complexidade do jogo que, segundo Garganta (1997),
resulta da vulgar tentao da partir para a observao do jogo e para a construo de
2
1- Introduo
instrumentos operativos, sem antes explicar o travejamento conceptual em que estes
se fundam, pelo que, por mais sofisticados, podem achar-se desprovidos de sentido.
No nosso estudo, tendo como referncia a dimenso tctica do jogo, pretendemos,
atravs da observao sistemtica dos jogos, identificar as sequncias ofensivas do
jogo e, da anlise dos dados da resultantes, aferir sobre as caractersticas das
sequncias que levam ao sucesso/insucesso.
Pretendemos comparar as sequncias que resultam em ganho de ponto imediato
com as sequncias que permitem o contra-ataque ou perda imediata de ponto, com
base no caracter interdependente das suas variveis.
1.2-Objectivos
De acordo com os pressupostos acima enunciados definimos como objectivos para o
nosso trabalho:
Caracterizar a organizao ofensiva no ataque a partir da recepo ao
servio, das equipas de alto rendimento desportivo, com base no
comportamento interdependente das variveis tctico-tcnicas, qualitativas
e quantitativas;
Comparar e discriminar as sequncias ofensivas em funo da sua eficcia;
Identificar regularidades na lgica acontecimental das sequncias de jogo.
- Caracterizar o perfil das sequncias ofensivas em funo da evoluo do
marcador no decurso dos "sets".
1.3- Hipteses
A partir dos objectivos apresentados, formulmos as seguintes hipteses:
Hiptese 1 - As caractersticas das sequncias ofensivas, considerando o
processo que as configura, recepo construo e finalizao diferem em
funo da sua eficcia.
Hiptese 2 - As sequncias ofensivas que resultam em ganho de ponto
consubstanciam-se em nveis de eficcia elevados nos diferentes momentos de
3
1- Introduo
jogo considerados (ataque a partir da recepo ao servio) para as macro-
dimenses Espao, Tempo, Tarefa e Organizao da equipa.
Hiptese 3 - Evidenciam-se regularidades nas sequncias ofensivas
associadas ao efeito do ataque.
Hiptese 4 - A evoluo do marcador no decurso dos "sets" possui
configuraes distintas s sequncias ofensivas.
2-REVISO DA LITERATURA
Reviso da Literatura
2.1- Natureza do jogo de Voleibol
O Voleibol uma criao humana que pertence ao grupo dos denominados Jogos
Desportivos Colectivos (JDC).
A origem destes jogos encontra-se nas "tradies mais antigas e longnquas das
sociedades primitivas ou civilizadas" (Bayer, 1994) e os mesmos "desenvolveram-se
simultaneamente com a civilizao" (Teodorescu, 1984). Segundo este autor os JDC
representam uma forma de actividade social organizada, especfica na sua
manifestao prtica com caracter ldico e processual do exerccio fsico, no qual os
jogadores esto agrupados em duas equipas, numa relao de adversidade tpica no
hostil. Segundo Garganta (1994), os JDC, designao que engloba, entre outras, as
modalidades de Voleibol, Futebol, Basquetebol e Andebol, ocupam um lugar
importante na cultura desportiva contempornea. Na medida em que a sua prtica,
quando correctamente orientada, induz o desenvolvimento de competncias em vrios
planos, nomeadamente, o tctico-cognitivo, o tcnico e o scio-afectivo, este grupo de
desportos assume-se, segundo Mesquita (1992), como um meio formativo por
excelncia. Os JDC caracterizam-se pela natureza complexa e imprevisvel das aces de jogo,
pela flutuabilidade das condies de realizao (Pittera & Riva. 1982; Matveiev, 1991;
Konzag, 1991; Rodionov, 1991; Reilly, 1996) e pela predominncia da aciclicidade
tcnica (Teodorescu, 1977), uma vez que as aces tcnicas, neste contexto, esto
directa e intrinsecamente ligadas ao factor tctico desportivo (Teodorescu, 1984;
Garganta, 1996; Castelo, 1996). Isto implica um conjunto de adaptaes sistemticas
s situaes de jogo e s constantes mutaes por elas sofridas. Deste modo, os
atletas so sujeitos, no desenvolvimento da sua actividade desportiva, a uma tenso e
participao psquica elevadas (Teodorescu, 1977; Rodionov, 1991).
A grande quantidade de movimentos, bem como as combinaes possveis entre
eles (Konzag, 1983; Moreno, 1984; Teodorescu, 1984; Oliveira e Tico, 1992),
assumem-se como uma caracterstica fundamental destes jogos.
O padro de movimentos dos jogadores e das equipas difere, se a equipa se
encontra em fase de defesa ou em fase de ataque, entendidas enquanto fases
fundamentais do jogo de Voleibol. Esta diferena mais evidente no Voleibol, uma vez
que a presena da rede a separar os dois campos, a impossibilidade de invadir o
campo adversrio e a ausncia de contacto fsico representam caractersticas
especficas que modificam o padro de movimento.
A curta durao das aces de jogo, bem como a rapidez de execuo reclamada, limitam a interveno do jogador, sendo fundamentais, para a estrutura do rendimento,
Reviso da Literatura
a percepo e anlise da situao e a capacidade de antecipao (Baacke, 1988;
Maclaren, 1990; Clotre, 1990; Garganta, 1991). Estas caractersticas propiciam
subtilezas de comportamento que determinam a eficcia dos comportamentos de
adaptao, interferindo decisivamente na vitria ou na derrota (Faria e Tavares, 1996).
No jogo de Voleibol a impossibilidade de agarrar a bola e o nmero limitado de
contactos de que cada equipa dispe faz sobressair, com grande evidncia, a eficcia
dos comportamentos de adaptao e a sua interferncia no resultado final da aco de
jogo. O objectivo central dos JDC atacar o alvo do adversrio. Este objectivo central
envolve um conjunto de aces intermdias e no menos importantes, tais como,
defender o prprio alvo, impedindo que o adversrio o atinja, parar o contra-ataque
adversrio, coordenar as aces no sentido de recuperar a posse da bola, conservar a
posse da bola e faz-la progredir no sentido da concretizao do objectivo principal, o
ponto ou o golo (Mahlo, 1997; Sardinha, 1982; Teodorescu, 1984; Grhaigne &
Guillon, 1992; Garganta, 1994).
No Voleibol o princpio da conservao da posse da bola no evidente, uma vez
que a intercepo do passe no permitida. tambm por esta razo que a
progresso da bola se baseia em princpios diferentes dos demais JDC. Enquanto que
a aleatoriedade, a imprevisibilidade e a oposio directa nos demais jogos se processa
em todas as fases, no Voleibol a conservao da posse da bola e sua progresso
podem ser unilateralmente dirigidas sem interferncia contextual directa do opositor.
Na concretizao do objectivo de jogo, as equipas que se defrontam, formam dois
colectivos, que tm a sua organizao prpria, o sistema de jogo, que serve de guia
no sentido das inter-relaes (Cloitre, 1985). Atravs do sistema de jogo as equipas
tentam transformar de forma vantajosa acontecimentos de jogo, cuja frequncia,
ordem cronolgica e complexidade no podem ser previstas antecipadamente, sendo
por isso requerida aos jogadores uma permanente atitude estratgico-tctica
(Garganta, 1994). De uma forma geral, os JDC so caracterizados por possurem:
> Uma estrutura formal, constituda por um campo de jogo, um mbil (ex. bola),
regras, golos/pontos, colegas, adversrios, e outros.
> Uma estrutura funcional englobando a relao tcnico-ttica, relao
ataque/defesa, relao cooperao/oposio, etc. (Moreno, 1984, 1989; Bayer,
1994; Oliveira e Tico, 1992; Tavares, 1993; Garganta, 1994).
De acordo com Parlebas (1981), a estrutura funcional do jogo possui uma lgica
interna e uma lgica externa. A lgica externa do jogo refere-se sequncia repetida
das subestruturas do jogo e s especializaes posicionais e funcionais dos jogadores
Reviso da Literatura
(Moutinho, 1994). A lgica interna ou natureza do jogo (Garganta, 1997) o produto
da interaco contnua entre as principais convenes do regulamento e a evoluo
das solues prticas encontradas pelos jogadores, decorrentes das suas habilidades
tcticas, tcnicas e fsicas (Deleplace, 1979), aliadas s noes de equipa e
adversrio (Moutinho, 1994).
Vrios autores tm defendido que o estudo nos JDC se deve centrar na lgica interna
do jogo j que o que determina o sucesso na competio a componente cognitiva
(Harris, 1985) e a este nvel que a influncia dos processos mentais na formao do
pensamento tctico do jogador ganha importncia (Tavares, 1996).
Para Teodorescu (1985), a relao da lgica didctica com a lgica interna do jogo,
uma das tarefas mais importantes e mais complexas que se colocam ao nvel dos
JDC.
Tambm existe uma lgica interna (percepo, deciso, cognio) relativa aco
do jogador/equipa e uma lgica externa (expresso do comportamento e sua relao
no jogo) cujos registos traduzem a existncia de uma imensa panplia de jogos
parcelares no macroconfronto que o jogo.
2.2- O Voleibol enquanto JDC
Os JDC so alvo de classificaes de tal modo diversas, que, autores como
Parlebas (1988), Moreno (1994), Garganta (1996) se dedicaram ao estudo dos
critrios subjacentes a cada classificao.
O quadro 1 pretende mostrar algumas dessas classificaes.
Quadro 1. Diferentes classificaes dos JDC
Classificao Autor(es) Critrio Desportos de Conflito Loureiro dos Santos (1982) Conflito de interesses.
Desportos de Situao Pittera e Riva (1982) Rodionov(1991) Tavares e Faria (1996)
Modificao continua das situaes de jogo.
Desportos de Cooperao/Oposio
Hernandez (1994) Grinvald (1999)
No podem ser jogados individualmente.
Desportos de no invaso Almond (1986) cit. Gimenez (1998)
Desportos com espao separado e aco sobre o mbil alternada.
Desportos de Invaso Almond (1986) cit. Gimenez (1998)
Desportos com espao comum e aco simultnea sobre o mbil.
Desportos de Estrutura Complexa
Djatschkow cit. Carvalho (1988) Capacidades energtico-funcionais.
8
Reviso da Literatura
O Voleibol, semelhana dos restantes JDC, tem sido classificado de diferentes
formas. Esta modalidade, tendo em conta o regulamento de jogo, possui caractersticas
especificas no contexto dos JDC (Bayer, 1994; Garganta e Soares, 1986; Beal e
Murphy, 1989; Garganta, 1991; Oliveira e Tico, 1992), sendo para Bayer (1994), o que
mais se distingue das demais.
O Voleibol pode ser considerado como um jogo desportivo por equipas, jogado
directamente com qualquer parte do corpo, em que o espao de jogo de cada equipa
separado por uma rede, de empenhamento preceptivo continuo e participao tctico-
tcnica alternada.
Alguns autores consideram que esta modalidade se integra nos desportos de
situao (Pittera e Riva, 1982; Vandermeulen, 1990), uma vez que as situaes de
jogo que se modificam continuamente em espao e tempo muito breves (Pittera e Riva
1982).
2.2.1- Estrutura Formal O Voleibol jogado num campo de 9m X 18m, separado por uma rede no centro do
campo. Em cada campo est assinalada uma linha (linha dos trs metros), separada
trs metros da linha central, que define uma zona de ataque e uma zona de defesa.
Podem jogar seis jogadores em cada equipa, simultaneamente, sendo que, trs se
encontram na zona de defesa e trs na zona de ataque.
A bola reposta em jogo atravs da execuo do servio, realizado fora do campo
ao longo da linha final.
O Voleibol caracteriza-se ainda pela ausncia de confronto directo (corpo a corpo)
na luta pela posse da bola, pela impossibilidade de invaso do campo adversrio e
pela circulao da bola decorrer no espao areo.
2.2.2- Estrutura Funcional
A estrutura funcional, do Voleibol possui uma subestrutura interna e uma
subestrutura externa.
2.2.2.1- Subestrutura interna Segundo Moutinho (1994), a lgica interna do jogo pode ser perspectivada segundo
dois planos de referncia:
> No plano regulamentar, atravs das: - implicaes das especificidades das regras;
Reviso da Literatura
- implicaes do sistema de pontuao.
> No plano das inter-relaes equipa/adversrio.
2.2.2.1.1- Plano regulamentar:
Ao nvel regulamentar, este jogo tem sido alvo, ao longo dos anos, de profundas
alteraes.
Estas alteraes resultam da (1) superioridade do ataque face defesa Vandermulen,
1990; Mikkola, 1990; Stell, 1991; Ejem, 1991; Platonov, 1991; Toyoda, 1991; Frhner
& Zimmermann, 1992/1996; Eom & Schutz, 1992), e (2) da necessidade de captar o
interesse dos media, nomeadamente da televiso, no sentido de aumentar o volume
de receitas (Frhner & Gasse, 1992).
No que se refere ao equilbrio defesa/ataque as principais alteraes esto
mencionadas no Quadro 2.
Quadro 2. Principais alteraes s regras de jogo que visam maior equilbrio entre a defesa e o ataque. Adaptado de Berjaud (1995) e Cunha (1996). .
> O bloco passa a poder penetrar no espao adversrio (1964);
> Introduo das varetas a 9,40 m de distncia (1970);
> Reduo do espao entre varetas e o toque de bloco deixa de contar para os trs
contactos da equipa (1976);
> Diminuio da presso da bola (1984); > Despenalizao de toques consecutivos na mesma aco, no 1o toque (1984);
> Proibio de blocar ou atacar o servio adversrio (1984);
> Contacto com a bola permitido at ao joelho (1992) e com qualquer parte do
corpo (1994); > Alargamento da zona de servio (1994); > Despenalizao de aces espectaculares em grande dificuldade (1994);
> Despenalizao do 1o toque (1994); > Permisso para jogar a bola, ao segundo toque, no campo adversrio, desde que
enviada por cima ou por fora das varetas (1997).
> Introduo do jogador livre de defesa (joker) (na World League 1998).
A penetrao dos media, nomeadamente da televiso, obrigou o organismo mximo
do voleibol a proceder a algumas alteraes s regras, no sentido de aumentar a
espectacularidade do jogo e diminuir a sua de durao, bem como o tempo das
interrupes registadas no Quadro 3.
i
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Reviso da Literatura
Quadro 3 Principais alteraes s regras de jogo que visam a defesa, melhoria e promoo do espectculo. Adaptado de Berjaud (1995) e Cunha (1996).
> Possibilidade de violao da linha central (1972);
> (Re)organizao do protocolo de jogo (1976, 1984, 1988, 1992);
> Definio do conceito de demora intencional de jogo e respectivo sancionamento
(1988); > Adopo dum novo sistema de pontuao (1988), readaptao sucessiva (1992) e
Rally Point Scoring (1999);
> Definio de zona livre (1992);
> Despenalizao de algumas situaes de falta na rede (1992, 1994);
> Alterao do sistema de limpeza no campo (1992);
> Definio de zona livre para o treinador, podendo este circular vontade no
espao definido (1998).
Actualmente, das especificidade decorrentes do regulamento, de registar a
ausncia do empate como resultado final. Do confronto entre as duas equipas sair
vencedora aquela que atingir, em primeiro lugar, os trs sets necessrios para a
vitria, no havendo, por isso, tempo limite de jogo.
Uma equipa ganha um set quando atinge os vinte e cinco pontos com vantagem de,
pelo menos, dois pontos sobre a equipa adversria. O quinto set termina aos quinze
pontos, tendo no entanto de existir pelo menos dois pontos de vantagem sobre a
equipa adversria. Para conseguir um ponto necessrio fazer com que a bola passe por cima da rede,
e toque o solo dentro dos limites do campo adversrio. Na concretizao deste
objectivo do jogo, os jogadores utilizam um conjunto de recursos motores especficos
que habitualmente so designadas por aces tcnicas (Teodorescu, 1984; Garganta
e Pinto, 1994). Segundo Moutinho (1994), no jogo de voleibol, podemos distinguir as seguintes
aces tcnicas: as posies fundamentais, os deslocamentos, o servio, a manchete,
o passe, o remate, o ataque colocado, o bloco e a defesa baixa.
No entanto, como j foi referido, estas aces tcnicas esto directa e
intrinsecamente ligadas ao contexto tctico do jogo. O conjunto de comportamentos
colectivos da equipa, que esto intimamente ligados a um modelo de jogo adoptado
por essa equipa, designado de aces tctico-tcnicas (Oliveira, 1991).
Moutinho (1994), distingue os seguintes procedimentos tctico-tcnicos no jogo de
voleibol: o servio, a recepo ao servio, a distribuio, o ataque e a defesa.
Reviso da Literatura
Sempre que uma equipa ganha um ponto ganha tambm a posse da bola para
executar um servio, (Figura 1).
JOGO DE VOLEIBOL
J Jogada com posse de servio
J_
Efeito positivo
Efeito negativo
Jogada sem posse de servio
Efeito positivo Efeito negativo
Ganha ponto;
mantm posse do
servio
Perde ponto; perde
posse do servio
Ganha ponto;
ganha posse do
servio
Perde ponto;
continua sem
posse do servio
Figura 1. Implicaes dos diferentes tipos de jogadas no jogo de Voleibol. (Adaptado de Moutinho, 1994).
Sempre que uma equipa ganha a posse do servio, existe uma rotao dos
jogadores no sentido dos "ponteiros do relgio". Assim, todos os jogadores tm de
passar por todas as posies, obrigatoriamente. Cada equipa pode fazer seis substituies por set, sem que nestas estejam includas
a troca de um jogador defesa pelo Joker*. Este jogador pode entrar e sair do campo, substituindo um jogador defesa, sempre que haja uma interrupo de jogo. As suas funes so exclusivamente defensivas, sendo impedido pelos regulamentos de penetrar para passar ou atacar a bola.
2.2.2.1.2- Plano das inter-relaes equipa / adversrio: A equipa um grupo de jogadores que praticam uma actividade colectiva dentro dos
limites do regulamento estabelecido, representando tambm um grupo social
(Teodorescu, 1984; Clotre, 1985). Segundo Sardinha (1981), a equipa possui uma estrutura bidimensional. No primeiro
nvel constitui-se como um grupo enquanto unidade social; constitui um "super
* Jocker um jogador especialista nas aces de defesa, que entra no jogo para participar apenas nas aces de defesa no lhe sendo permitida a realizao de aces de finalizao. As substituies realizadas com este jogador no necessitam da autorizao da equipa de arbitragem nem sao registadas n c . 5 5 de jogo. Este jogador joga com uma camisola de padro diferente dos restantes elementos da sua equipa.
12
Reviso da Literatura
indivduo" que possui as suas normas, a sua organizao, a sua coeso, etc. Est em
relao com outros grupos do mesmo gnero (primrios) e com grupos secundrios
(vida), ou seja, com a sociedade que condiciona as sua prprias manifestaes. No
segundo, o nvel inter-individual, como grupo scio-motor onde o objectivo perseguido
possui uma valncia positiva e o obstculo uma valncia negativa.
Na concretizao do objectivo do jogo, as equipas e os atletas desenvolvem tarefas
de cooperao e oposio.
A este respeito Moreno (1984) destaca a necessidade de cooperao constante
entre os jogadores da mesma equipa para poder atingir os objectivos a que se prope.
Konzag (1991) afirma que a actividade de um jogo desportivo (desportos de equipa)
realiza-se sempre em coordenao directa (interaco) com os companheiros de jogo.
Oliveira e Tico (1992), afirmam que as tarefas bsicas que decorrem do jogo so as de
cooperao e oposio, tanto no ataque como na defesa. Garganta (1994), refere
como um dos traos fundamentais da identidade e importncia dos JDC, o apelo
cooperao entre os elementos de uma mesma equipa para vencer a oposio dos
elementos da equipa adversria.
No Voleibol, as tarefas de cooperao/oposio, comparativamente ao Futebol,
Basquetebol e Andebol, esto facilitadas, na medida em que so realizadas sem a
interferncia directa por parte dos adversrios.
Para Grhaigne e Guillon (1992), o problema central dos JDC pode ser equacionado
da seguinte forma: numa situao de oposio, os jogadores coordenam as suas
aces no sentido de recuperar, conservar e fazer progredir a bola a fim de atingir o
objectivo do jogo(...). Estes autores consideram a noo de oposio e a gesto da
desordem como fonte de todos os progressos. neste sentido que Moutinho (1994)
considera as categorias de equipa e adversrio como sendo as mais importantes e
caracterizadoras dos JDC.
No desenvolvimento das suas aces os jogadores comunicam entre si, atravs de
gestos, de sinais ou verbalmente, no sentido de coordenarem as suas aces e, se
possvel, desviarem as atenes da equipa adversria dos acontecimentos
fundamentais do jogo.
Para Sardinha (1981), as relaes entre os vrios jogadores estando determinadas
pelo contedo da regra, suscitam nveis de comunicao, uns codificados outros no.
Ainda segundo este autor, a comunicao tem grande importncia, quer se trate de
uma prtica relacionada com a aprendizagem quer com a prtica competitiva.
Moreno (1984), reala o facto de, nas relaes de cooperao, ser imprescindvel o
conhecimento dos cdigos de comunicao e dos sistemas de aco que regem o
jogo. Para este autor, a linguagem nos desportos de equipa situa-se em dois grandes
13
Reviso da Literatura
grupos: (i) as comunicaes motrizes, que correspondem aquelas que se produzem
entre os membros de uma mesma equipa; (ii) as contra-comunicaes motrizes, que
so os actos antagnicos que se produzem entre jogadores de equipas contrrias.
Grhaigne e Guillon (1992), afirmam que a noo de reversibilidade das situaes
representa um aspecto fundamental dos JDC, sendo que, aquela se materializa em
termos prticos, segundo Sardinha (1981), por condutas de inter-motricidade e
comotricidade atravs das aces de comunicao e contra-comunicao entre
companheiros e adversrios(...).
Para a comunicao e contra-comunicao, as equipas e os jogadores socorrem-se
da linguagem verbal e motora (Clotre, 1985; Oliveira e Tico, 1992), sendo esta ltima
de grande importncia. Para Moutinho (1994), para alm da linguagem verbal e
motora existe tambm a linguagem gestual, sendo esta ltima, segundo Sardinha
(1991), a mais utilizada medida que o jogo se torna cada vez mais elaborado.
Em suma, as redes de comunicao e contra-comunicao que se realizam nos
desportos de equipa so complexas e evoludas (Oliveira e Tico, 1992), tendo um
contedo semntico ou codificado para que se torne explcita para a sua equipa,
devendo possuir ainda um contedo ectosemntico de forma a que no seja
descodificavel pela outra equipa tornando o real em simulado (Sardinha, 1991).
As transaes que se operam, segundo Garganta (1997), encontram na capacidade
de comunicao entre jogadores da mesma equipa e de contra-comunicao entre
equipas em confronto, os seus factores crticos de constrangimento.
Desta forma, na elaborao da resposta, a equipa adversria obrigada a responder
de forma reactiva ou de forma preditiva mas ineficaz, aumentando assim a
possibilidade de erro (Rossi, 1996).
No caso especfico do Voleibol, a obrigatoriedade de rotao dos jogadores confere
particularidades diferentes em cada uma das rotaes, existindo uma personalizao
do sistema (Clotre, 1985), e, por isso, diferentes modos de comunicao e contra-
comunicao.
Como afirma Badin (1993), em cada uma das rotaes efectuadas, duas novas
equipas se confrontam.
2.2.2.2- Subestrutura externa Para Moutinho (1994), possvel distinguir duas grandes dimenses nas
regularidades do jogo de Voleibol:
> As sub-estruturas do jogo; > As especializaes posicionais e funcionais dos jogadores.
14
Reviso da Literatura
2.2.2.2.1- As sub-estruturas do jogo
Vrios autores tm afirmado que o jogo de Voleibol se baseia numa cclica repetio
de sequncias de jogo (Pelletier, 1986; Fraser, 1988; Moutinho, 1994; Meier, 1994).
Por esta razo alguns autores (Dufour, 1983, 1990; Parlebas, 1988; Genson e
Giantommaso, 1988; Gosgeorge, 1990; Moutinho, 1994; Mesquita, 1996) consideram
o Voleibol como o desporto que possui uma estrutura externa mais determinista.
O Voleibol possui, para vrios autores (Chebahi e Kobrle, sd; Clotre, 1985; Pelletier,
1986; Fraser, 1988; Eom e Schutz, 1992; Moutinho, 1994), duas fases fundamentais
de jogo: o ataque e a defesa.
Apesar disto, esta diviso , do nosso ponto de vista, um exerccio no sentido de
melhor compreender o jogo, pois a defesa no mais do que a primeira fase do ataque. Se assim entendermos a defesa, ela assume-se como o primeiro princpio de
ataque.
Tendo como referncia a literatura existente, estas duas fases (ataque/defesa)
resultam da combinao de mltiplos factores.
A fase ofensiva caracterizada por situaes tcticas nas quais, uma equipa, na
posse da bola desenvolve aces de jogo no sentido de fazer progredir a bola para a
concretizao do objectivo de jogo (Chebahi e Kobrle, sd; Moutinho, 1994). Esta fase,
na maioria das situaes, o resultado de uma sucesso de factores como sejam a
preparao para o ataque, a execuo do ataque e a cobertura ao ataque (Fraser,
1988). A fase defensiva caracterizada por situaes tcticas, em que uma equipa sem a
posse da bola, desenvolve aces de jogo no sentido de fazer parar o ataque
adversrio e simultaneamente tenta recuperar a posse da bola (Chebahi e Kobrle, sd;
Moutinho, 1994).
Esta fase o resultado de uma sucesso de factores tais como a preparao para a
defesa e a defesa propriamente dita (Fraser, 1988).
Para este autor estas duas fases do jogo esto determinadas por dois ciclos distintos
dependendo se a equipa est na posse do servio ou em situao de recepo ao
servio (Figura 2).
Reviso da Literatura
Ataque
=> Cobertura ao
ataque
Execuo do
ataque
Preparao
para o ataque
SERVIO
Transio para
a defesa
ga^^aSi!ife:^-:--:-.: ::-: ""H
Transio para
o ataque
RECEPO
SERVIO
Preparao
para a defesa
Defesa
V Execuo da
defesa
Fiqura 2 Sequncia de momentos e fases de jogo, com ou sem posse do servio. (Adaptado de Fraser, a 1988).
Deste quadro resultam dois momentos distintos de jogo. Estes dois momentos de
jogo so identificados pelo ataque a partir da recepo ao servio e o ataque a partir
da defesa ao ataque adversrio, configurando em si dois nveis de organizao e
complexidade completamente distintos.
No ataque a partir da recepo ao servio, tambm denominado de "side out"
(escola americana) ou "Complexo I" (Frhner e Zimmermann, 1992), o ataque realiza-
se numa situao em que a complexidade de recuperao de bola est simplificada,
ou seja, o nmero de factores a ter em conta na recuperao da bola est,
exclusivamente dependente, do potencial do jogador que serve e do potencial do
jogador que recebe.
16
Reviso da Literatura
As equipas organizam-se num dispositivo de jogo de forma a simplificar os
deslocamentos dos jogadores atacantes e, na maioria das situaes, a aco dos
jogadores atacantes est previamente determinada.
Neste compartimento de jogo, a maioria dos ataques realiza-se atravs de aces
ofensivas organizadas e so utilizadas, predominantemente, combinaes de ataque.
No ataque a partir da defesa ao ataque adversrio, tambm denominado de "side
out transition" (escola americana) ou "Complexo II" (Frhner e Zimmermann, 1992), a
recuperao da bola est dependente de um grande nmero de factores que se
relacionam com a complexidade do ataque adversrio, a organizao do bloco e a
capacidade e organizao defensiva.
O nvel de incerteza e imprevisibilidade muito elevado, condicionando a qualidade
do primeiro toque, a maioria das aces de ataque realiza-se a partir de passes altos nas zonas quatro e dois.
Frhner e Zimmermann (1996), compararam os resultados dos estudos realizados
nos JO de 1992, no Campeonato do Mundo de 1994 e nos JO de 1996 e concluram
que no "Complexo I" a opo das equipas recaa sobre as combinaes de ataque e,
no "Complexo II", essa opo recaa sobre utilizao de passes altos nas zonas quatro
e dois. Cada uma das aces de jogo situa-se numa alternncia entre a procura da
continuidade procura da ruptura (Badin, 1993). A procura da continuidade
quando a equipa se encontra na fase de defesa e a procura da ruptura quando a
equipa est em fase de ataque, evidenciando uma lgica inversa dos JDC de
invaso. Na maioria das sequncias de jogo, podemos encontrar : (i) um primeiro toque, que
se destina ao controlo da bola, proveniente do campo adversrio, atravs da aco de
recepo ao servio ou da defesa; (ii) um segundo toque ou toque de transio entre a
defesa e o ataque, traduzindo-se no passe para ataque; (iii) um terceiro toque ou
toque de finalizao que visa criar uma situao de ruptura no ciclo de jogo.
2.2.2.2.2- A especializao dos jogadores
A compreenso do funcionamento de uma equipa indissocivel da compreenso
das funes que desempenham cada um dos seus elementos.
Segundo Clotre (1985), estas funes vo evoluindo desde a indiferenciao nas
equipas de formao at especializao maximal nas equipas de alto nvel. Esta
especializao, segundo Badin (1993), no Voleibol, pode estar condicionada pela
regra da rotao de jogadores.
Reviso da Literatura
Podemos encontrar diferentes classificaes e funes especficas, de acordo com a
fase do jogo a que se refere. Assim, quando falamos na formao de base podemos
identificar jogadores atacantes, distribuidores e universais (Clotre, 1985; Selinger,
1986; Rodrigues, 1990; Moutinho 1994).
Os jogadores atacantes tm uma funo predominantemente finalizadora. Os
jogadores distribuidores so os organizadores do jogo atacante da equipa,
pertencendo-lhes a responsabilidade de realizar o passe para ataque. Os jogadores
universais desempenham as duas funes anteriores, ou seja, podem desempenhar
as funes de atacantes ou de distribuidores.
De acordo com os diferentes elementos em campo, cada equipa pode ter diferentes
conformaes. Actualmente as conformaes situam-se, regra geral, no 5:0:1 (cinco
atacantes e um distribuidor) para equipas com objectivos de rendimento desportivo, e,
no 4:0:2 (quatro atacantes e dois distribuidores) para equipas com objectivos de
formao.
Quando falamos das funes desempenhadas pelos jogadores no campo, no
decorrer do jogo, podemos identificar funes especficas de acordo com a fase de
jogo.
Na fase de defesa encontramos dois importantes compartimentos de jogo: (1) defesa
ao servio adversrio; e (2) defesa ao ataque adversrio (Chebahi e Kobrle, sd;
Pelletier, 1986; Rodrigues, 1990; Moutinho 1994). Na defesa ao ataque adversrio,
identificamos a defesa alta ou o bloco e a defesa baixa. No bloco encontramos os
blocadores de zona trs, os blocadores de zona quatro e os blocadores de zona dois.
Na defesa baixa encontramos os defesas de zona um, os defesas de zona seis e os
defesas de zona cinco. Na recepo ao servio adversrio as equipas de rendimento
desportivo possuem normalmente jogadores especializados nesta funo de jogo.
Estes jogadores so denominados recebedores prioritrios.
Na fase de ataque encontramos os atacantes de zona quatro, de zona trs e de
segunda linha se o distribuidor se encontrar frente e ainda o atacante de zona dois
se o distribuidor se encontra atrs (em penetrao).
Segundo Moutinho (1994) se as funes na circulao tctica ofensiva so os
referenciais prioritrios, ento temos o atacante de 1o tempo (ou de bola rpida), o
atacante de 2o tempo (ou jogador de combinao), o atacante de 3o tempo (ou de bola
alta) e o(s) atacante(s) de 2a linha (ou defesa(s)).
18
Reviso da Literatura
2.3- Essencialidade estratgico-tctica do jogo de Voleibol
A generalidade dos autores que estudam os desportos colectivos classificam os
factores de rendimento desportivo em fsicos, tcnicos, tcticos e psicolgicos (Greco
e Chagas, 1992; Riera, 1995; Miller, 1995; Sisto e Greco 1995; Moya, 1998).
Tendo em conta a abrangncia e interactividade das dimenses que contribuem
para a prestao desportiva, nos JDC (Garganta, 1997), a aco desportiva no pode
ser explicada apenas atravs da condio fsica ou da tcnica, mas requer a
compreenso de uma organizao complexa do comportamento em condies
situacionais diversificadas (Castaned, 1983; Barth, 1994; Rossi, 1996; Gimenez, 1998;
Prez, 1998).
Esta diversidade de situaes deve-se, em primeira instncia, ao confronto ou
oposio entre duas equipas (Grhaigne e Guillon, 1992; Riera, 1995a; Castelo, 1996;
Garganta, 1997).
No Voleibol, esta oposio deve ser entendida e interpretada, segundo Metzler
(1992), enquanto a evoluo de um duelo entre dois sistemas de foras que se
opem. Este duelo sujeita os atletas presso de tempo para decidir (Greco e
Chagas, 1992), levando-os a criarem inovaes (Ming, 1991; Frhner e Murphy, 1995;
Frhner, 1995). Estas inovaes resultam da procura contnua de solues e da
necessidade de agir sobre a relao defesa/ataque (Berjaud, 1995).
A actividade desportiva hoje considerada uma actividade complexa e multifactorial
(Schoch, 1987; Greco, 1989; Schubert, 1990; Barth, 1994, 1995; Sisto e Greco 1995;
Garganta, 1997; Moya, 1998; Grhaigne et ai. 1999).
No envolvimento multifactorial da competio desportiva de quase todos os
desportos, a componente estratgico-tctica tem vindo a ser alvo de uma importncia
crescente (Barth, 1994).
A inteno tctica est composta de uma determinada inteno/expresso motora,
articulada no espao e no tempo (Moya, 1998). O resultado da inteno/expresso
motora, ou seja a aco motora, representa uma forma de expresso do
comportamento (Sisto e Greco 1995; Castelo, 1996). Ela o elemento indispensvel
para a soluo do problema em situao de jogo.
De acordo com Mahlo (1997) as aces de jogo so uma combinao significativa,
mais ou menos complexa, de diversos processos motores e cognitivos, indispensveis
soluo de um problema nascido na situao de jogo. Em ltima anlise, as aces
de jogo visam a resoluo de problemas.
O sucesso na resoluo de problemas , segundo Rossi (1996), o resultado de uma
organizao mental ptima do comportamento em competio.
19
Reviso da Literatura
A literatura sugere insistentemente que dentro do processo de ensino-aprendizagem
e treino, deve ser dado grande destaque ao desenvolvimento de processos cognitivos
do atleta, a fim de que esteja capacitado para responder com xito s exigncias do
jogo (Sisto e Greco, 1995).
De facto os aspectos cognitivos, so hoje considerados factores determinantes da
performance (Schoch, 1987; Greco, 1989; Schubert, 1990; Greco e Chagas, 1992;
Garganta e Pinto, 1994; Tavares, 1994; Riera, 1995, 1995a; Sisto e Greco, 1995;
Castelo, 1996; Garganta e Oliveira, 1996; Tavares e Faria, 1996; Rossi, 1996;
Balasch, 1998; Brito e Mas, 1998).
O desenvolvimento sistemtico e planeado das capacidades cognitivas de
percepo, antecipao e tomada de deciso, est condicionado pelos conceitos
tcticos (Sisto e Greco, 1995). neste sentido que (Riera, 1995) afirma que o
movimento desportivo determinado, predominantemente, pela tctica, estando esta
directamente associada ao conceito de oposio.
So vrios os autores que sustentam que a tctica ocupa um lugar central no ensino,
treino e competio nos JDC (Arajo, 1988; Alves, 1990; Aguil, 1990; Konzag, 1991;
Greco e Chagas, 1992; Sonnenbichler, 1994; Garganta, 1994; Riera, 1995a; Sisto e
Greco, 1995; Moya, 1998).
Para Matveiev (1991), as particularidades da tctica das diversas modalidades so
condicionadas, antes de mais, pelas caractersticas dos contactos entre os
participantes na competio e pelas particularidades da relao mtua dos factores
que determinam os resultados desportivos.
Outros autores corroboram este entendimento (Weineck, 1983; Riera 1995) ao
referirem que a tctica tem um significado e importncia distinta de acordo com as
caractersticas dos diferentes JDC, e ainda, e no menos importante, com a
concepo de jogo perfilhada pelos diferentes treinadores (Riera 1995).
Se nos desportos individuais, com excepo daqueles que integram o factor
oposio (Boxe, Esgrima, etc.), um conhecimento tctico de base, geral, suficiente
(Weineck, 1983), nos desportos colectivos, o grau de dificuldade que o comportamento
tctico coloca mais elevado e elaborado (Greco, 1989, Castelo, 1996) e atinge o seu
nvel de expresso mais alto (Greco e Chagas, 1992).
Neste grupo de desportos as resposta aos problemas momentneos do jogo
pressupe um elevado processo de percepo, anlise, soluo mental (deciso) e
soluo motora (execuo), (Brito e Mas 1998), ou seja, necessrio determinar e
estabelecer meios e planos de aco, para influenciar, controlar ou desviar o
adversrio do plano original (Greco e Chagas, 1992).
20
Reviso da Literatura
No Voleibol, o elevado grau de vigilncia, de observao sistemtica dos
acontecimentos de jogo, de percepo simultnea dos colegas, da bola e dos
adversrios, bem como o curto espao de tempo para decidir e agir (Castaned, 1983;
Vaslin et ai., 1996), requerem ao atleta um elevado desenvolvimento do seu
pensamento, da sua tctica individual e colectiva (Castaned, 1983).
Outros autores (Barth, 1994, 1995; Riera, 1995; Rossi, 1996; Garganta, 1994,
1997) defendem que os desportos colectivos possuem uma forte determinante
estratgico-tctica.
O Voleibol, enquanto desporto colectivo, marcado por um confronto directo entre um
ou mais atletas (Greco e Chagas, 1992), cada vez mais um desporto estratgico-
tctico (Berjaud e Petit, 1988; Badin, 1993).
A dimenso estratgico-tctica emerge simultaneamente como polo de atraco,
campo de configurao e territrio de sentido das tarefas dos jogadores no decurso do jogo (Garganta, 1997).
Para o atleta conseguir satisfazer os requisitos estratgico-tcticos necessita de uma
srie de sistemas integrados que consistem, sobretudo, na representao,
processamento e condicionamento de caracter psquico e psicomotor (Barth, 1995).
Este autor, apresenta um modelo do processo e dos pressupostos de prestao
estratgico-tctica mais significativos para a capacidade de aco e que esto sempre
coligados e em interaco com a motivao e a emoo (Figura 3).
Competncia de aco estratgico-tctica
Aquisio
de informai
Capacidade de:
-sentir
3
Elaborao
da informao
Capacidade de: -representar mentalmente
-escolher
-discriminar
-perceber
-antecipar
-planificar
-decidir
-reconhecer Armazenamento da informao
Cap acidade de:
-aprender
-memorizar
-conhecer
-adquirir exprincia x_ i x . : t A ~ t ; ~ , ID
Fiaura 3 Modelo esquemtico do processo e das componentes da prestao estratgico-tctica (Barth, M 1995).
No contexto do Futebol, a essencialidade estratgico-tctica, segundo Garganta
(1997), decorre de um quadro de referncias que contempla: (1) o tipo de relao de
21
Reviso da Literatura
foras (conflitualidade) entre efectivos que se confrontam; (2) a variabilidade, a
imprevisibilidade e a aleatoriedade do contexto em que as aces de jogo decorrem;
(3) as caractersticas das habilidades motoras para agir num contexto especfico.
Este quadro de referncias, no nosso entendimento, parece tambm definir a
essencialidade estratgico-tctica do Voleibol.
2.3.1- Enquadramento estratgico-tctico da aco ofensiva no voleibol
A estratgia e a tctica so conceitos que jogam um papel importante no desporto,
embora o seu grau de importncia varie em funo das actividades desportivas a que
respeitam (Barth, 1994; Riera, 1995; Garganta e Oliveira, 1996). Esta importncia
resulta das relaes de cooperao e oposio caractersticas dos JDC (Garganta e
Oliveira, 1996; Garganta, 1997; Grhaigne, et ai. 1999).
No Voleibol, a compreenso da organizao ofensiva das equipas est intimamente
relacionada com a compreenso dos conceitos de estratgia (Genson e
Giantommaso, 1988) e de tctica (Frhner e Zimmermann, 1992).
2.3.1.1- Conceito de estratgia A estratgia est associada, segundo Grhaigne, et ai. (1999), aos processos de
elaborao cognitiva e as decises tomadas esto baseadas na reflexo sem
constrangimentos de tempo, com o objectivo de que a equipa se organize a ela
prpria. Para Riera (1995), as caractersticas principais da estratgia relacionam-se com o
objectivo principal a atingir, planificao de curto, mdio e longo prazo e aborda a
globalidade dos aspectos da actividade.
Para Garganta (1997), a estratgia um processo que partindo de um conjunto de
dados, define cenrios, baliza os meios, os mtodos e institui regras de gesto e
princpios de aco, tendo em conta segundo (Riera, 1995) os factores que
influenciam cada jogador ou a globalidade da equipa Isto significa que a estratgia
est vinculada capacidade dos jogadores e das equipas para agirem em condies
de adversidade, aleatoriedade e imprevisibilidade (Garganta e Oliveira, 1996; Garganta, 1997).
Por isso, no parece ter sentido nem utilidade restringir o conceito de estratgia aos
planos e intenes que se desenvolvem colateralmente ao jogo propriamente dito e
menos ainda circunscrev-lo s competncias do treinador (Garganta e Oliveira,
1996), j que, os jogadores tm, inerente sua actuao, uma estratgia prpria,
individual, ainda que regulada pela estratgia global da equipa (Riera, 1995; Garganta
e Oliveira, 1996).
Reviso da Literatura
2.3.1.2- Conceito de tctica O conceito de tctica actualmente conotado, segundo Garganta (1997), com a
gesto inteligente do comportamento nas situaes de conflitualidade.
Segundo Rossi (1996), a tctica o conjunto de comportamentos individuais e/ou
colectivos que, tendo em conta a situao actual, cria condies que possam ser
utilizadas em proveito prprio durante o jogo.
Para Torres (1998) o conhecimento tctico o conhecimento da "experincia vivida",
na medida em que a participao numa qualquer performance, os indivduos tm
acesso ao aspecto qualitativo daquilo que esto a realizar.
Segundo este autor, este um tipo de conhecimento que os indivduos no podem
tornar explcitos por meio de descries verbais.
neste contexto que Grhaigne e Godbout (1995), definem tctica como sendo
adaptaes pontuais s novas configuraes de jogo e de circulao de bola,
implicando segundo (Garganta, 1997) uma organizao fundamentalmente
informacional.
Assim, os comportamentos tcticos dos jogadores so induzidos pelas relaes de
cooperao e oposio, e portanto, pelas sucessivas transformaes que decorrem ao
longo do jogo (Garganta, 1997) e com forte constrangimento de tempo (Grhaigne, et
ai. 1999).
Por isso fundamental que os jogadores desenvolvam as suas capacidades de
adaptao, sendo mais importante gerir regras de funcionamento, ou princpios de
aco, do que utilizar esquemas pr-estabelecidos (Garganta, 1997).
Vrios autores (Teodorescu, 1984; Greco, 1989; Konzag, 1991; Greco e Chagas,
1992; Barth, 1994; Riera, 1995; Sisto e Greco, 1995; Castelo, 1996) distinguem dois
nveis da tctica: individual e colectiva. Outros autores (Greco e Chagas, 1992; Barth,
1994; Sisto e Greco, 1995; Castelo, 1996) consideram tambm a existncia da tctica
de grupo.
Para Santesmases (1998), a tctica individual consiste no comportamento ajustado
de um indivduo conveno de como jogar, isto , jogada mais conveniente para a
equipa a que pertence.
Greco e Chagas (1992), entendem que a tctica de grupo consiste numa aco
coordenada entre dois ou trs jogadores baseada nas intervenes individuais que
objectiva fundamentalmente a continuidade da aco conforme o conceito tctico geral
do jogo e o objectivo final do mesmo.
23
Reviso da Literatura
A tctica colectiva, segundo Barth (1994), refere-se interaco racional dos
jogadores de uma equipa ou de uma parte da equipa em relao realizao da
finalidade tctica.
Como podemos verificar, estes trs conceitos orientam-se para a necessidade da
equipa recolher, tratar e armazenar a informao no sentido de conseguir os seus
objectivos. Garnier (1979), afirma mesmo que o jogador predominantemente um manipulador
de informao, ao advogar que, na construo do ataque, a manipulao da
informao pode ser realizada atravs das componentes Espao, Tempo e
Acontecimentos (representados pelo jogador responsvel pela interveno).
Neste contexto a organizao ofensiva faz apelo s noes de Espao, Tempo e
Espao-Tempo (Tarefa), bem como s capacidades das equipas e dos seus jogadores
de serem criativos no sentido de resolverem problemas imprevistos no decorrer do
jogo (Genson e Giantommaso, 1988).
No contexto do Futebol, tambm Garganta (1997), considera o Espao, o Tempo e a
Tarefa como macrodimenses configuradoras da organizao ofensiva das equipas
em futebol.
2.3.2- Noo de espao
Garganta (1997), distingue um Espao formal ou fsico; um Espao conformacional;
e um Espao configuracional ou informacional.
No Voleibol, o regulamento obriga a que o recinto de jogo possua um espao para
alm das linhas-limite do campo, com, no mnimo, trs metros ao longo das linhas
laterais e cinco metros ao longo das linhas finais, podendo este espao ser utilizado
pelas equipas no decorrer do jogo.
Assim, o Espao fsico ou formal no se limita s linhas-limite do campo, podendo o
jogo decorrer para alm dessas linhas.
O Espao conformacional definido pela ocupao do espao fsico por parte dos
jogadores (Garganta, 1997).
O regulamento de jogo impe seis zonas a ocupar por cada jogador em cada
rotao. Essas zonas vo de um at seis e esto distribudas pelo espao formal de
jogo da seguinte forma:
Reviso da Literatura
Figura 4. Zonas de rotao impostas pelo regulamento de jogo.
Apesar desta distribuio obrigatria as equipas adoptam diferentes formas de
ocupao do espao, em funo do momento de jogo e da rotao dos jogadores.
Assim, relativamente defesa, no Complexo I (side out), a maioria das equipas com
objectivos de rendimento, adopta uma disposio em que privilegia dois recebedores
(defesas), a que chama de recebedores prioritrios.
Nas situaes em que o servio adversrio realizado com grande agressividade e
em suspenso includo no dispositivo de recepo (defesa) mais um jogador.
A sua funo consiste em receber todas as bolas provenientes do servio, cabendo
a cada um deles uma rea de responsabilidade previamente definida.
Os restantes jogadores adoptam posies em que privilegiam os deslocamentos
prioritrios de ataque. Um exemplo demonstrativo desta organizao o dispositivo da equipa da Holanda
nos JO Olmpicos de Atlanta, analisada por Frhner (1996) (Figuras 5 e 6).
Figura 5. Dispositivo de recepo, com dois recebedores prioritrios, da equipa
da Holanda nos JO de Atlanta.
Figura 6. Dispositivo de recepo, com trs recebedores prioritrios, da
equipa da Holanda nos JO de Atlanta.
Reviso da Literatura
No Complexo II {side out transition), a maioria dos autores (Pelletier, 1986;
Vandermeulen, 1990; Ran, 1991; Liskevych e Neville, 1992;) defendem a existncia
de trs corredores defensivos e uma zona de proteco (Figura 7).
Figura 7. Corredores defensivos e zonas de proteco no Complexo II (side out transition)
Segundo Ran (1991), o que distingue as equipas, no so as zonas de defesa, mas,
o jogador responsvel pela proteco ao bloco.
No ataque, a literatura no unanime quanto diviso do espao no ataque.
Selinguer (1986), divide o espao de rede em nove zonas, sendo a zona zero a
zona do distribuidor. Este autor numera de um a cinco as diferentes zonas de ataque
frente do distribuidor e A, B, e C as zonas atrs do distribuidor, no definindo zonas de
ataque atrs dos trs metros (Figura 8).
1 0 A B
Figura 8. Zonas de ataque segundo Selinguer (1986).
Outros autores (Neville, 1990; Beal, 1991), acrescentam s nove zonas de ataque de
primeira linha, cada uma delas com um metro, quatro corredores de ataque de
segunda linha (A, B, C, D). A zona do distribuidor a zona seis (Figura 9).
Reviso da Literatura
1 2 3 4 5 6 7 8 9
A B C D
Figura 9. Zonas de ataque segundo Neville (1990); Beal (1991)
Por seu turno, Hbert (1991), em complemento das nove zonas de ataque de
primeira linha, define trs corredores de ataque de segunda linha. Este autor diverge
ainda dos anteriores ao distinguir zonas fixas e moveis no ataque de primeira linha
(Figura 10).
5 4 3 2 1 6 7 8 9 D
A B
Figura 10. Zonas de ataque segundo Hbert (1991)
Assim as zonas cinco, quatro e nove so fixas e as restantes movem-se em relao
posio do distribuidor.
Em referncia a esta temtica, Vasconcelos (1998), para avaliar a aco da atacante
central e a sua influncia sobre o bloco adversrio, dividiu a zona de ataque em cinco
zonas de rede e uma de ataque de segunda linha (Figura 11).
4 3B 3A 2A 2B
D
Figura 11. Zonas de ataque segundo Vasconcelos (1998)
27
Reviso da Literatura
Estas diferentes divises do espao conformacional tm sentido apenas no plano
formal do estudo do jogo, uma vez que nos permitem estudar e conhecer alguns
contedos de informao do jogo.
Elas so de capital importncia para a compreenso do jogo, podendo ser
denominadas, no seu conjunto, de acordo com Garganta (1997) de espao
informao. Para este autor, tal espao resulta da construo cognitiva dos jogadores,
a partir da experincia acumulada, face s situaes com que se deparam no decurso
do jogo.
ainda possvel distinguir um Espao informacional colectivo de outro, individual.
Todavia, para vrios autores (Clotre, 1985; Grzadziel, 1991; Sonnenbichler, 1994;
Muchaga, 1998), elas esto de tal forma interligados que um influencia o outro, sendo
do compromisso estabelecido entre os dois que resulta a capacidade decisional da
equipa.
O Espao informacional colectivo pode ser configurado pela variabilidade das
aces tcticas de ataque, pela frequncia e momentos da sua utilizao, pelas
preferencias ao nvel das zonas, jogadores e tipos de ataque, pelo nmero de
jogadores ("ameaas") envolvidos na aco de ataque e pela relao que se
estabelece entre o primeiro toque da equipa e a aco de ataque subsequente.
2.3.2.1-Variabilidade das aces de ataque
As equipas podem manipular a variabilidade das aces de ataque tendo em conta
as combinaes de ataque, as zonas de ataque, as trajectrias da bola, os
deslocamentos dos jogadores e os tempos de salto (Hippolyte, 1997).
Para Teodorescu (1984) a combinao tctica representa a coordenao das aces
individuais de dois ou mais companheiros, numa fase do jogo, com o objectivo de
realizar uma misso parcial do jogo de ataque ou de defesa.
Para Clotre (1985), a combinao tctica representa a coordenao entre dois
companheiros de equipa. Para este autor, se uma aco de jogo envolve mais de dois
jogadores representa um esquema tctico, que mais complexo do que a combinao
tctica.
Apesar da divergncia quanto ao nmero de jogadores na combinao tctica, as
duas definies reportam-nos para uma colaborao premeditada de um grupo de
competidores, ligados no tempo e no espao para a realizao dos objectivos da
aco de jogo (Pelletier, 1986).
O jogo com mltiplas combinaes de ataque surgiu com grande evidncia em 1972,
nos JO Munique, por intermdio da equipa do Japo (Frhner e Zimmermann, 1992).
28
Reviso da Literatura
Esta tendncia acentuou-se durante a dcada de 70 (Buchel e Boutoux, 1979;
Frhner e Zimmermann, 1992).
A partir dos JO de Los Angeles assistiu-se ao abandono das combinaes de jogo
muito sofisticadas (Bevon, 1984; Lamouche, 1987; Berjaute Petit, 1988).
No Campeonato do Mundo de 1990, ao nvel do ataque na rede, nenhuma nova
combinao de ataque foi explorada. So as mesmas para novas tcnicas de ataque
individual (Ejem, 1991).
No campeonato do mundo de 1994, realizado na Grcia, regista-se uma diminuio
efectiva na complexidade do jogo ofensivo, observando-se uma utilizao mais
pronunciada dos passes altos (Zimmermann, 1995).
Os JO de Atlanta (1996) caracterizam-se pela simplicidade das aces ofensivas
(Frhner e Zimmermann, 1992). Segundo estes autores, o mximo de duas variantes
de ataque marcam o jogo dos medalhados.
2.3.2.2- Frequncia e momentos de utilizao das combinaes tcticas ofensivas
A frequncia ou oportunidade de utilizao de combinaes tcticas de ataque , no
nosso entendimento, um indicador da qualidade do primeiro toque e do grau de
complexidade do jogo de uma equipa.
Frhner e Zimmermann (1992) e Zimmermann (1995) no estudo dos sistemas
ofensivos do JO de Barcelona, detectaram um aumento na frequncia de ocorrncia
das combinaes ofensivas no Complexo I, comparativamente ao Complexo II.
Todavia Zimmermann (1995), no estudo dos sistemas ofensivos no Campeonato do
Mundo de 1994 na Grcia, registou uma ligeira diminuio no nmero de combinaes
tcticas de ataque no Complexo I.
Ainda no que concerne a esta temtica num estudo realizado por Frhner e
Zimmermann (1996), relativo s caractersticas do jogo ofensivo das melhores equipas
do mundo, em diferentes competies, concluram que estas equipas utilizavam, no
Complexo I, predominantemente combinaes de ataque, e no Complexo II, passes
altos nas posies dois e quatro.
De facto, as combinaes tcticas ofensivas parecem fazer parte do jogo de ataque
das equipas, principalmente no Complexo I. Todavia, de realar a elevada
frequncia de utilizao de passes altos nas zonas quatro dois e um, mesmo nas
equipas mais criativas (Ejem e Jinoch, 1991).
Para estes autores, as equipas, nos momentos decisivos do jogo optam,
normalmente, por concretizar as suas aces ofensivas atravs de passes altos nas
zonas quatro, dois ou ainda atravs dos atacantes mais eficazes da equipa, o que
29
Reviso da Literatura
pode indiciar que ao longo de cada set, de acordo com o resultado, existem
estratgias de concretizao diferentes.
2.3.2.3- Preferncias ao nvel das zonas, jogadores e tipos de ataque Para Hippolyte (1997), no existe igualdade de oportunidades no ataque, porque
alguns jogadores tm mais bolas de ataque do que outros.
Parece ser este o entendimento de diversos autores (Ejem e Jinoch, 1991; Frhner e
Zimmermann, 1992, 1996; Zimmermann, 1995), para quem o jogo de ataque se realiza
predominantemente pelas zonas quatro, dois e um.
Segundo Frhner e Zimmermann (1996), o factor decisivo no sucesso do jogo de
ataque no Complexo I, reside na capacidade individual dos atacantes.
Para Paiement, (1992) os atacantes excepcionais tm a responsabilidade de
concretizarem a maioria dos ataques, diminuindo a importncia da tctica ofensiva
colectiva.
Nos JO Barcelona, as equipas apresentaram todas o mesmo estilo de jogo e a
competio revelou-se muito equilibrada (Berjaut, 1992; Paiement, 1992), registando-
se as maiores diferenas ao nvel do ataque individual (Paiement, 1992), em que as
aces individuais so objecto de uma preparao particular, funcionando como
complemento do sistema ofensivo bsico da equipa (Frhner e Zimmermann, 1992).
Esta preparao particular visa, segundo Hippolyte (1997), uma maior variabilidade
ao nvel da altura, do espao, da profundidade, do tempo e dos deslocamentos de
ataque.
Outra caracterstica assinalvel do jogo de ataque das melhores equipas , segundo
Frhner e Zimmermann (1996), a alternncia entre os ataques fortes e os ataques
deliberadamente colocados.
Isto dificulta a observao e a previso do jogo das equipas de alto nvel e traduz
uma filosofia dinmica de adaptao do jogo ofensivo s caractersticas do jogo
defensivo da equipa adversria (Hippolyte, 1997).
2.3.2.4- Nmero de jogadores envolvidos na aco de ataque
Em 1972, nos JO de Munique, a equipa do Japo surgiu com um dispositivo de
formao com cinco atacantes e um distribuidor (Neville, 1986), sem que, no entanto,
existisse um aumento significativo no nmero de jogadores envolvidos na aco de
ataque.
A partir do Campeonato do Mundo do Brasil (1990), assiste-se a um aumento no
nmero de atacantes disponveis para finalizar cada uma das aces de jogo.
30
Reviso da Literatura
Segundo Ejem (1991) e Toyoda (1991), neste campeonato regista-se um aumento
na proporo dos ataques de segunda linha, em diferentes posies e nos dois
Complexos (I e II), e de acordo com Frhner e Zimmermann (1992), a sua utilizao
sistemtica nos JO de Barcelona (1992).
Ainda no que concerne a esta temtica Frhner e Zimmermann (1992) e
Zimmermann (1995) afirmam que todos os jogadores esto envolvidos na aco de
ataque, principalmente no Complexo I. Neste complexo o jogador que executa a
recepo pode ser solicitado para finalizar a aco de jogo, em qualquer posio do
campo.
2.3.2.5- Relao entre o primeiro toque e aco de ataque subsequente
O passe e o ataque esto fortemente dependentes da aco precedente e a relao
que se estabelece entre estas aces diferente no Complexo I e no Complexo II
(Eom e Schutz, 1992).
Estes autores concluem no seu estudo que as recepes de m qualidade (22,1%)
resultam em passes de qualidade aceitvel e ataques eficazes.
Frhner e Zimmermann (1996), pelo contrrio, afirmam que a qualidade da recepo
uma caracterstica decisiva para a eficcia do ataque no Complexo I.
Vrios estudos foram realizados, no sentido de estabelecer uma relao entre a
performance da equipa nas diferentes aces tcnicas e o sucesso no jogo (Cox,
1974; Ejem e Horak, 1980, Baacke, 1982; Eom e Schutz, 1992).
Estes autores identificaram maior relao com o sucesso nas aces tcnicas do
Complexo II do que nas do Complexo I. A defesa baixa surge como factor mais
determinante do que a recepo ao servio no sucesso das equipas.
Eom e Schutz (1992) concluem que no existem grandes diferenas na prestao no
Complexo I, entre as quatro melhores equipas e as quatro ltimas. No entanto estas
diferenas so acentuadas no que se refere ao Complexo II. Isto significa que as
melhores equipas no tiveram melhor performance no passe e no ataque no
Complexo I, mas conseguiram-no no Complexo II.
2.3.3- Noo de tempo
Nos desportos de competio, de uma forma ou de outra, o tempo est
omnipresente (Sopena, 1998).
Contreras e Ortega (1999) referem uma dupla dimenso do tempo no desporto. Para
estes autores existe um tempo que vem configurado no regulamento de jogo e que
segundo Menaut (1982) se denomina sincronia externa e um tempo que se refere
Reviso da Literatura
sequencialidade das aces e ao ritmo de jogo e que o mesmo autor denomina de
diacronia interna. Do ponto de vista da diacronia interna, Balasch (1998) considera o tempo, no s
como uma condio de realizao de uma actividade adaptativa como por exemplo os
JDC, mas tambm um parmetro de avaliao da inteligncia desportiva, uma vez que
o saber desportivo se caracteriza pelo ajustamento temporal e espacial da aco.
este tambm o entendimento de Garganta (1997) e Hippolyte (1997), para quem o
espao e o tempo interagem para sucesso da aco e o ajustamento destes dois
factores representam o foco de tenso da actividade desportiva.
O factor tempo, segundo Garganta (1997), condiciona vrios aspectos importantes
do jogo, e funciona como um gerador de contingncias, impondo fortes
constrangimentos utilizao do espao e realizao das tarefas.
Por esta razo, Barth (1995) afirma que um dos principais problemas do treino nos
JDC reside no desenvolvimento da velocidade de compreenso das situaes de jogo.
Dada a brevidade e transitoriedade dos estmulos e a presso temporal imposta para
a seleco da informao e deciso, o que o jogo reclama ao jogador no que ele
seja um pensador profundo, mas um perveiver, um hbil percebedor (Garganta, 1997).
Neste sentido, o tempo que o atleta leva a tomar uma deciso, assume-se como um
factor de qualidade do pensamento tctico (Tavares, 1996).
No jogo de Voleibol, a impossibilidade de agarrar a bola, o nmero limitado de
contactos que cada equipa possui e as elevadas velocidades de jogo, fazem
sobressair, com grande evidncia, o tempo como factor determinante no desenrolar
dos acontecimentos.
Para Pittera e Riva (1982) e Vandermeulen (1990), os tempos de ataque parecem
ser aqueles que determinam os tempos de defesa e de bloco, isto , aos tempos de
ataque correspondem tambm tempos de defesa e bloco subsequentes.
O tempo de ataque, segundo Pittera e Riva (1982), corresponde ao tempo que
decorre entre o momento em que a bola sai das mos do passador at ao momento
que entra em contacto com o atacante.
Vrios autores (Pittera e Riva, 1982; Vandermeulen, 1990; Sellinger, 1992),
consideram a existncia de trs tempos de ataque.
Beal (1991), no refere o tempo, mas classifica o ataque de zero a quatro, sendo
que esta classificao se refere a um tipo de trajectria ou zona de ataque.
Tambm Frhner e Zimmermann (1996), no estudo das aces de ataque,
consideram a existncia de diferentes tipos de ataque. Estes autores referem ataques
de tempo um, de tempo dois, de passes altos e ataques de segunda linha.
32
Reviso da Literatura
Pittera e Riva (1982), defendem que o tempo de ataque est relacionado com a
trajectria vertical da bola (Figuras 12, 13 e 14). Neste contexto, a definio dos
tempos de ataque consiste em:
> ataque de primeiro tempo, que consiste no primeiro ataque que pode ser efectuado
em ordem ao tempo (Figura 12).
1o tempo 1o tempo 1o tempo
Figura 12. Ataques de 1tempo segundo Pittera e Riva (1982)
> ataque de segundo tempo, que consiste no segundo ataque que pode ser
efectuado em ordem ao tempo. O vrtice da trajectria mais alto do que no
ataque de primeiro tempo e por conseguinte o tempo de voo da bola mais
longo (Figura 13).
L OO X ~ 2o tempo 2 tempo
Figura 13. Ataques de 2o tempo segundo Pittera e Riva (1982)
> ataque de terceiro tempo, que consiste no terceiro ataque que pode ser efectuado
em ordem ao tempo. A trajectria vertical superior s trajectrias de primeiro e
segundo tempos (Figura 14).
3o tempo 3o tempo
Figura 14. Ataques de 3o tempo segundo Pittera e Riva (1982)
33
Reviso da Literatura
Dada a dificuldade de objectivar os tempos de ataque atravs das trajectrias de
bola, alguns autores (Vandermeulen, 1990; Beal, 1991; Sellinger, 1992), fazem
depender a classificao dos tempos de ataque de outros factores.
Vandermeulen (1990), classifica os tempos de ataque, levando em linha de conta,
para alm das trajectrias de bola, as zonas de ataque e a existncia, ou no, de
combinaes e fintas de ataque.
Assim este autor classifica os tempos de ataque em:
> ataques de primeiro tempo, todos os ataques curtos frente e atrs do passador,
os ataques efectuados a partir de passes tensos e bolas colocadas ao segundo
toque;
> ataques de segundo tempo, os ataques que resultam de combinaes e de fintas
de ataque;
> ataques de terceiro tempo, os ataques que resultam de passes altos e os ataques
de segunda linha.
Beal (1991), no refere tempos de ataque, e classifica os ataques em funo da
relao de proximidade que se estabelece entre a zona de ataque e a zona de passe e
em funo da trajectria vertical da bola. Este autor classifica os ataques de zero a
quatro e define-os da seguinte forma:
> quatro ou bola tensa e caracteriza-se por ser um ataque que resulta de um passe
baixo, junto tela da rede;
> trs e caracteriza-se por ser o resultado de um ataque a partir de um passe
efectuado entre o passador e o atacante;
> dois e caracteriza-se por resultar de um passe sessenta e um centmetros,
aproximadamente, acima da altura da rede e imediatamente ao lado do passador;
> um ou rpido e resulta de um passe em cima do passador de forma a que o
atacante possa golpear a bola na sua trajectria ascendente;
> zero ou regular e caracteriza-se por resultar de um passe de grande amplitude.
A Figura 15 evidencia esta classificao.
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Reviso da Literatura
u Figura 15. Ataques de1, 2 e 3 tempo segundo Beal (1992)
Sellinger (1992), distingue os tempos de ataque atravs da relao que se
estabelece entre o momento em que o passador toca na bola e o momento de salto do
atacante. Neste contexto os tempos de ataque so designados por:
> ataques de primeiro tempo, por serem ataques em que o atacante j est no ar, no
momento em que o distribuidor toca na bola. Estes ataques podem dividir-se em
ritmo regular se o atacante salta antes do passe e ritmo lento se o atacante salta
no momento do passe;
> ataques de segundo tempo, se o atacante salta depois do distribuidor tocar na
bola. Nos passes afastados do distribuidor, o atacante tocar a bola na sua
trajectria desc