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Orla Ocidental

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Orla Ocidental (O) 134

ORLA OCIDENTAL (O)

Introdução

Os terrenos que constituem a Orla Ocidental depositaram-se numa bacia sedimentar, cujaabertura coincide com os primeiros estádios da abertura do Atlântico, a Bacia Lusitaniana.Esta, forma uma depressão alongada, com orientação NNE-SSW, onde os sedimentosacumulados na zona axial atingem cerca de 5 km de espessura. A leste, encontra-seindividualizada do Maciço Hespérico pela falha Porto-Coimbra-Tomar, a sul pelo ramo destafractura, com direcção NNE, que se estende até ao canhão de Setúbal e a ocidente por umhorst hercínico, actualmente materializado pelos granitos e rochas metamórficas doarquipélago da Berlengas.

O estilo tectónico na Bacia Lusitaniana é caracterizado pela presença de famílias deacidentes de direcções variadas que correspondem, em parte, ao rejogo de fracturas tardi-hercínicas. Ao longo destes acidentes, a cobertura é deformada por dobras, falhas e dobras-falhas que delimitam blocos, no interior dos quais a cobertura tem um estilo subtabular, comdeformações de grande raio de curvatura (Ribeiro et al., 1979).

A fracturação dominante, que corresponde às direcções principais de fracturação tardi-hercínica do soco, mostra três orientações preferenciais (Ribeiro et al., 1979): NNE-SSW,coincidente com os principais alinhamentos diapíricos; ENE-SSW, paralela aos acidentes deorientação bética; e NW-SE, orientação das falhas secundárias no interior dos blocoslimitados pelos acidentes maiores.

As estruturas diapíricas, associadas ao complexo evaporítico hetangiano, formam duasbandas alongadas segundo a direcção geral NNE-SSW, correspondendo a halocinese para W,na banda ocidental e, para E, na banda oriental.

A migração do complexo evaporítico provocou o aparecimento de vários anticlinais, deperfil assimétrico, e a criação de sub-bacias de subsidência que se situam de preferência naparte mais profunda da Bacia Lusitaniana. A distribuição e configuração destas estruturas foi,em grande parte, controlada pela variação de espessura dos depósitos salinos. Nas zonas ondeo complexo evaporítico alcança maior espessura, a reactivação das falhas induziu a migraçãodo complexo salino e a formação de estruturas salinas que penetram os depósitos supra-evaporíticos.

A formação mais antiga, representada na Orla Ocidental, é a Formação dos Grés de Silves,de idade triásica, depositada em discordância sobre o soco antigo. Segue-se um complexoessencialmente pelítico, geralmente de côr avermelhada que inclui massas de gesso e sal-gema e intercalações calco-dolomíticas. Esta formação, designada por Margas de Dagorda,apresenta afloramentos mais ou menos contínuos, perto do contacto oriental da bacia, até àregião de Tomar, e retalhos descontínuos, associados a estruturas diapíricas. Além disso,ocorrem importantes massas evaporíticas com muitas dezenas, ou mesmo centenas de metros,representadas por gesso, anidrite e sal-gema, a profundidades variáveis, cobertas pordepósitos mais recentes.

As formações, situadas estratigraficamente acima das Margas de Dagorda, sãoessencialmente de natureza calco-margosa. São constituídas por calcários dolomíticos,

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calcários margosos, calcários compactos e margas de idades compreendidas entre oSinemuriano e o Aaleniano.

Ao Jurássico médio, pertencem os calcários mais puros, compactos e espessos, reponsáveispelas principais elevações topográficas da Orla Ocidental. São estes calcários que constituema ossatura principal do Maciço Calcário Estremenho, das serras de Sicó, Alvaiázere,Montejunto, Arrábida, etc. Constituem uma sequência muito espessa de calcários cristalinos,calcários oolíticos, calcários compactos, calcários dolomíticos e margosos.

O Malm inicia-se por uma sequência constituída essencialmente por margas e calcáriosmargosos alternantes, com algumas intercalações de calcários betuminosos, no topo, a que sesegue uma espessa sequência de natureza detrítica. Este sequência inicia-se por umaalternância de margas e arenitos, com frequentes intercalações de lenhitos, que foraminclusivamente, objecto de exploração. Os depósitos seguintes tornam-se progressivamentemais detríticos sendo constituídos por arenitos argilosos, cinzentos, amarelados, acastanhados,etc., com algumas intercalações calcárias, argilosas e margosas.

Uma importante parte da Orla Ocidental encontra-se coberta por arenitos, mais ou menosconglomeráticos, argilas e margas do Cretácico inferior, que assentam discordantemente sobreos terrenos jurássicos. A esta formação detrítica têm sido atribuídas várias designações, emfunção da sua distribuição geográfica: Arenitos do Carrascal, Arenitos de Requeixo, Grés dePalhaça, etc. A designação de Belasiano é também utilizada na literatura geológica,especialmente a mais antiga.

À série detrítica anterior, segue-se uma série, essencialmente calcária, que corresponde aoCenomaniano superior e Turoniano. É constituída por calcários compactos rijos, calcárioscom rudistas, calcários com polipeiros, calcários margosos, oolíticos, margas, etc.

A espessura é reduzida não ultrapassando em geral os 50 m. Apesar disso, pode assumiralguma importância hidrogeológica, além de constituir uma camada-referência, a norte deTorres Vedras.

Para norte de Leiria, sobre a unidade carbonatada acima referida, depositou-se umasequência detrítica, constituída por arenitos, por vezes micáceos, finos a muito finos, seguidosde arenitos grosseiros, arcósicos a subarcósicos, de calibração deficiente e passagensargilosas. A sequência termina, na região de Aveiro, por uma formação essencialmenteargilosa, do Santoniano-Maastrichtiano, que constitui o tecto impermeável do sistemaaquífero do Cretácico de Aveiro.

A sul de Torres Vedras, as formações cretácicas apresentam outras características, havendomaior desenvolvimento das litologias carbonatadas e terminando a série no Cenomanianosuperior.

O Terciário e Quaternário estão bem representados na Orla Ocidental, sobretudo pordepósitos de natureza detrítica. Os depósitos terciários mais antigos têm extensão reduzida,sendo constituídos por conglomerados, arenitos, margas e calcários paleogénicos.

No Orla Ocidental, o Miocénico é quase sempre de natureza continental, estandorepresentado por argilas, margas, arenitos argilosos, mais ou menos grosseiros comintercalações de lenhitos. A espessura máxima é da ordem dos 200 m. O Pliocénico estárepresentado por depósitos marinhos constituídos por areias finas e argilas fossilíferas, queafloram no vale do Lis e depósitos continentais, constituídos por arenitos argilosos, areias ecascalheiras com intercalações de argilas e lenhitos.

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O Quaternário está representado por depósitos de praia, terraços, dunas e aluviões. Asdunas e areias de duna formam um afloramento muito extenso ao longo do litoral, atingindouma largura máxima de 20 km, na região de Aveiro.

Sob o ponto de vista hidrogeológico a Orla Ocidental é caracterizada pela existência devários sistemas aquíferos importantes, relacionados com formações calcárias e detríticas.

A organização sequencial dos sedimentos e a tectónica, em particular a tectónica salífera,tiveram um papel importante na organização e distribuição daqueles sistemas.

A organização sequencial dos sedimentos, individualiza, verticalmente, formações comcomportamento hidrogeológico diverso, criando alternâncias, mais ou menos cíclicas deaquíferos, aquitardos e aquiclusos. Formam-se, assim, sistemas aquíferos multicamada, comescoamentos por drenância intercamadas, de acordo com o potencial hidráulico local:genericamente descendente nas zonas de recarga e ascendente nas de descarga.

Nalgumas estruturas evaporíticas, encontram-se preservados depósitos detríticos comgrande potencial aquífero.

No que respeita à circulação da água subterrânea, individualizam-se dois tipos de sistemasaquíferos: os cársicos e os porosos.

Os primeiros, têm por suporte, calcários e dolomitos, fundamentalmente do Liásicoinferior, Dogger e Malm inferior. Apresentam circulação, em grande, condicionada porestruturas cársicas, que se desenvolvem pela dissolução dos carbonatos, provocada pelopróprio escoamento no aquífero. A infiltração, quando a superfície se encontra carsificada, éelevada, podendo ser da ordem de 50 a 60% da precipitação. Também a capacidade dearmazenamento e transmissiva dependem da carsificação. Estes aquíferos têm, em regra,poder de auto-regulação limitado, que bem se evidencia pelas grandes variações de caudaldas nascentes por onde descarregam e pela amplitude da variação dos níveis da água, entre aépoca das chuvas e a estação seca.

A infiltração e o escoamento rápido, pelas estruturas cársicas, tornam estes aquíferosparticularmente vulneráveis à poluição, com muito baixo poder autodepurador e compropagação rápida das contaminações.

Os sistemas aquíferos porosos, suportados pelas formações detríticas mesozóicas ealgumas terciárias, são multicamada. Entre os terrenos mesozóicos, os Arenitos do Carrascalsobressaem pela sua importância hidrogeológica. Já os terrenos representativos de outrogrande episódio, de espessa sedimentação detrítica na Bacia Lusitaniana, ocorrido noJurássico superior, têm um comportamento hidrogeológico menos relevante.

Em seguida, far-se-á uma caracterização mais desenvolvida dos principais aspectosgeológicos e hidrogeológicas das formações detríticas do Jurássico superior e, ainda, dealgumas manchas cretácicas que, devido às suas características, não foram incluídas emsistemas aquíferos individualizados.

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Formações detríticas do Jurássico superior

Figura O.1 – Enquadramento litoestratigráfico das formações do Jurássico superior

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Enquadramento Geológico

Estratigrafia e Litologia

As formações da base do Jurássico superior, da Orla Ocidental, são, em geral, constituídasessencialmente por calcários, com aptidão aquífera elevada, constituindo um dos suportes dealguns dos sistemas mais importantes da mesma (Maciço Calcário Estremenho, por exemplo).Devido à regressão que se iniciou no Oxfordiano, as formações que se depositaram são denatureza detrítica ou carbonatada, mas com elevada componente argilosa, pelo queapresentam uma aptidão aquífera muito menos relevante, embora com algumas excepções decarácter mais ou menos localizado. Isto não significa que não possam assumir algumaimportância, quer para satisfazer pequenos consumos, quer para abastecimentos, já de algumadimensão, a alguns concelhos (por exemplo Cadaval, Bombarral, etc.). Estas formaçõesocupam um grande extensão da Orla Ocidental (conforme figura O.1).

Nesta caracterização será adoptada uma escala litostratigráfica simplificada, visto queexiste alguma confusão nas nomenclaturas que têm sido usadas pelos diversos estudiosos quetêm abordado aqueles terrenos. Assim, seguir-se-á, no essencial, a escala que tem sidoproposta nalguns trabalhos mais recentes, por exemplo Wilson et al., 1990.

A sedimentação no Jurássico superior, inicia-se no Oxfordiano superior, estandorepresentada por calcários, localmente betuminosos ou com leitos de anidrite, assentes sobreuma paleo-superfície de carsificação dos calcários do Caloviano (Formação de Cabaços).Verifica-se, portanto, a existência de uma lacuna que abrange uma parte do Caloviano até àbase do Oxfordiano. A esta formação, cujo topo revela já a influência de condiçõesabertamente marinhas, segue-se a Formação de Montejunto, constituída essencialmente porcalcários. Os aspectos hidrogeológicos relacionados com estas duas formações não serão aquiabordados pelas razões acima aduzidas. À formação de Montejunto segue-se a Formação deAbadia, constituída por arenitos, margas e calcários margosos. Esta formação apresenta umaespessura que pode atingir os 800 m. Variações laterais nas condições de deposição, deramorigem a fácies especiais: argilas, margas e calcários (Membro da Tojeira) e arenitos, siltes emargas do Membro de Cabrito (200 m de espessura). Perto de Vila Franca de Xira afloramconglomerados arcósicos grosseiros e arcoses (Membro de Castanheira). A Formação deAbadia estende-se do Oxfordiano ao Kimeridgiano. É seguida pela Formação de Amaral, com60 a 80 m de espessura, na região de Torres Vedras-Montejunto, constituída por calcáriosoolíticos e corálicos. A sequência termina com uma formação muito espessa, de carácterfundamentalmente detrítico, a Formação de Lourinhã, com idade compreendida entre oKimeridgiano e o Titoniano. Esta formação, correspondente, em parte, à antiga designaçãoGrés Superiores com Vegetais e Dinossáurios, apresenta uma grande extensão na OrlaOcidental, particularmente na região do Bombarral, Caldas da Raínha e Arruda dos Vinhos.Na região de Sintra-Cascais uma variação lateral deu origem a calcários nodulares, calcárioscom corais e margas (Formação de Farta-Pão) que podem apresentar boa aptidão aquíferaconstituindo uma das formações do sistema de Pisões-Atrozela.

Tectónica

As formações do Jurássico superior que se seguem à Formação de Montejunto, distribuem-se, na Orla Ocidental, fundamentalmente por duas grandes regiões: uma que vai das

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vizinhanças de Alcobaça até à serra de Montejunto e ao contacto com a Formação de TorresVedras (Cretácico), situado nas imediações da cidade com o mesmo nome; a outra,desenvolve-se, fundamentalmente, entre a referida serra e Vila Franca de Xira, estendendo-separa oeste até à costa. As características estratigráficas e estruturais permitiram estabeleceruma divisão em três sub-bacias principais (Wilson, 1979; Wilson et al., 1990, etc.): a sub-bacia de Bombarral (ou Bombarral-Alcobaça), correspondente à primeira região acimareferida; a sub-bacia de Arruda dos Vinhos, limitada a norte pela serra de Montejunto, a lestepela Bacia Terciária do Tejo-Sado, a sul pelos afloramentos cretácicos e a oeste pela Bacia deRuna; a sub-bacia do Turcifal, que se estende entre a Bacia de Runa e a costa, limitada a nortee sul por afloramentos cretácicos.

A sub-bacia do Bombarral, corresponde a um sinclinal com eixo orientado ENE-WSW,rodando, mais a norte, para NE-SW, e é ladeada por estruturas diapíricas: a oeste pelo diapirode Caldas da Raínha e a leste pelo de Rio Maior. O diapiro de Caldas da Raínha prolonga-se,para sul da serra de El Rei, pelo pequeno diapiro de Bolhos e, mais a sul, pelo de Vimeiro. Asformações do Jurássico superior são atravessadas por algumas falhas, de orientação NW-SE e,a sul de Caldas da Raínha, pelo importante filão de Gaeiras, com orientação WNW-ESE.

A sub-bacia de Arruda dos Vinhos é cortada por numerosas falhas, com orientaçãoaproximada NW-SE, sendo também significativas as que têm orientação NNE-SSW.Assinalam-se, também, alguns filões e pequenas chaminés vulcânicas. Na sub-bacia doTurcifal, merecem referência os numerosos filões, com várias orientações, mas ondepredominam as que se distribuem entre a N-S e NE-SW.

Diversos autores se têm debruçado sobre os aspectos estratigráficos e estruturais dasformações do Jurássico superior. Entre os trabalhos mais relevantes podem-se citar Ribeiro etal., 1979; Leinfelder, 1988; Wilson, 1988; Leinfelder et al., 1988; Wilson et al., 1990; Ellis etal., 1990; Reis et al., 1992; Ravnås et al., 1997; Azerêdo et al., 1998; Curtis, 1999. Váriosdestes autores, abordam os aspectos estruturais que podem ser inferidos a partir dainterpretação de dados de prospecção sísmica, e dos resultantes de algumas sondagensprofundas, para prospecção de hidrocarbonetos. No entanto, dadas as pequenas profundidadesnormalmente atingidas pelos reconhecimentos hidrogeológicos, os referidos aspectos nãoserão aqui abordados.

Hidrogeologia

Características Gerais

Dada a heterogeneidade das formações do Jurássico superior, por vezes com variaçõeslaterais significativas, as condições hidrogeológicas variam em função das camadas captadase da localização das captações. Devido às frequentes intercalações mais argilosas, ascaptações aproveitam, em geral, várias camadas, mais ou menos independentes. Algumascaptações apresentavam forte artesianismo repuxante aquando da sua construção.

A profundidade média de 388 captações implantadas no Jurássico superior é de 130 m(Quadro O.1) existindo valores superiores a 300 m.

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Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

130 56 7 90 125 161 318

Quadro O.1 - Principais estatísticas da profundidade dos furos

Parâmetros Hidráulicos e Produtividade

As estatísticas dos caudais (L/s), calculadas a partir de 251 dados são apresentadas noquadro O.2

Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

2,3 2,3 0,3 1,9 1,7 2,8 20

Quadro O.2 - Principais estatísticas dos caudais

Figura O.2 - Distribuição cumulativa dos caudais

Parece não existir uma relação significativa entre o caudal de exploração e a profundidade,embora se verifique que os maiores caudais (5 a 20 L/s) se obtêm nas captações cujocomprimento varia, aproximadamente, entre os 100 e os 200 m, conforme a figura O.3.

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1 - Caudal vs profundidade

05

10152025

0 100 200 300 400Prof (m)

Q (l

/s)

Figura O.3 – Projecção do caudal versus a profundidade dos furos

Paralelamente, o caudal específico apresenta um comportamento semelhante, na suaprojecção contra a profundidade: os maiores valores de caudal específico (0,2 - 1 L/s.m)situam-se em captações com profundidade a variar aproximadamente entre os 50 e os 200 m.No entanto existem valores, quer de caudal de exploração, quer de caudal especifico, muitobaixos, para aquelas profundidades (Figura O.3).

Caudal especifico vs profundidade

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

0 50 100 150 200 250 300 350

Profundidade (m)

q (L

/s/m

)

Figura O.4 – Projecção do caudal específico versus a profundidade dos furos

Também parece não existir uma relação nítida entre o caudal especifico e a percentagem dezona captada (razão entre a soma dos comprimentos dos ralos e a profundidade total dacaptação), embora se note alguma tendência para se conseguirem maiores valores de caudalespecífico quando a zona captada é superior. Porém, também neste caso, existem valoresmuito baixos do caudal específico para valores elevados de percentagem de zona captada.

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Caudal especifico vs zona captada

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0

Zona Captada (%)

q (L

/s/m

)

Figura O.5 – Projecção do caudal específico versus a zona captada

A distribuição espacial das produtividades das formações do Jurássico superior, apresentauma irregularidade elevada. Para isto contribuem diversos factores como sejam a litologia, aprofundidade a que se encontram as camadas mais produtivas, variações laterais de fácies, etc.

No entanto, através da projecção dos caudais de exploração, é possível individualizar zonascom tendências semelhantes na distribuição das produtividades. Com base na mediana, essaszonas foram identificadas, em função da tendência das produtividades para exceder ou nãoaquele valor (Figura O.6).

Foram individualizadas três zonas principais:

Zona 1 – limitada, a oeste, pelo vale tifónico das Caldas da Rainha; a leste, pelo MaciçoCalcário Estremenho; a norte, aproximadamente, pelo paralelo formado pelas localidades deDelgada e Paínho; a sul, sensivelmente, pelo paralelo de Alcobaça.

Zona 4 - situada a sul da zona anterior, a norte do alinhamento Ponte de Rol-TorresVedras-Vale Benfeito; é limitada a oeste pela linha de costa e a leste da serra de Montejunto,excluindo a área do sistema aquífero de Torres Vedras.

Zona 6 - situada a sul da anterior e a norte do limite de afloramento das formações doJurássico superior; é limitada a oeste pela linha de costa e a leste pela Bacia Terciária do Tejo.

Com base nos mesmos critérios foram ainda definidas dentro destas zonas, outras comdimensões mais reduzidas:

Zona 2 – Enquadrada pelas localidades de Alcobaça, Cela, Gaio e Valbom.

Zona 3 – Enquadrada pelas localidades de A-dos-Negros, Vidais e S. Gregório da Fanadia.

Zona 5 - Enquadrada pelas localidades de Bombarral, Pero Moniz, Campelos e Lourinhã.

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Figura O.6 - Representação esquemática das diferentes zonas individualizadas

Nas figuras seguintes (O.7 e O.8) estão representados os diagramas de caixa e bigodes docaudal de exploração e caudal específico para cada zona considerada.

Como seria de esperar, no diagrama de caixa e bigodes do caudal de exploração, existemdiferenças significativas dos valores centrais das zonas 2, 3 e 4, comparativamente às zonas 1,5 e 6. As primeiras, apresentam valores centrais mais elevados em relação àquelas últimas.

O mesmo não se verifica, analisando o diagrama do caudal específico. Para as mesmaszonas, apenas a zona 4 se distingue das outras por valores centrais, em geral, mais elevados.

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Figura O.7 – Diagramas de caixa e bigodes para o caudal de exploração

Figura O.8 – Diagramas de caixa e bigodes para o caudal específico

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Orla Ocidental (O) 145

As produtividades e parâmetros hidráulicos das zonas identificadas são descritas emseguida.

Zona 1

As estatísticas principais relativas a esta zona são apresentadas no quadro seguinte (O.3).

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

100 1,8 1,7 0,3 0,8 1,4 1,8 5,6

Profundidade (m) 100 125 44 42 98 131 140 300

Zona captada (%) 100 26,3 13,7 4,1 17,1 22,2 31,4 63,9Caudal específico

(L/s/m)82 0,07 0,11 0,01 0,03 0,04 0,06 0,9

Transmissividade(m2/dia)

82 6,7 11,2 0,9 2,85 4,3 6,1 93

Quadro O.3 - Principais estatísticas calculadas para a zona 1

Não se verifica nenhuma correlação significativa entre o caudal de exploração e aprofundidade, embora os valores mais elevados se tenham obtido em captações cujocomprimento varia, aproximadamente, entre 50 e 200 metros.

Também não se observa nenhuma correlação significativa do caudal específico, quer com aprofundidade, quer com a percentagem de zona captada.

Zona 2

As estatísticas principais, relativas a esta zona, são apresentadas no quadro seguinte (O.4).

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

38 2,7 1,5 0,4 1,5 2,2 3,2 6,9

Profundidade (m) 38 133 42 50 109 150 154 285

Zona captada (%) 38 26,6 13,7 1,8 16,7 25,6 30,1 70Caudal específico

(L/s/m)28 0,07 0,04 0,01 0,04 0,06 0,09 0,19

Transmissividade(m2/dia)

28 7,3 4,2 1,2 4,4 5,7 9,1 19

Quadro O.4 - Principais estatísticas calculadas para a zona 2

Também nesta zona, as correlações entre as variáveis consideradas são muito baixas, nãose verificando uma tendência significativa.

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Zona 3

As estatísticas principais relativas a esta zona são apresentadas no quadro seguinte (O.5).

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

16 2,8 1,0 0,8 1,9 2,8 2,8 5,6

Profundidade (m) 16 156 46 80 130 150 186 250

Zona captada (%) 16 36,3 20,1 11,6 20,2 34,6 46,2 93,9Caudal Específico

(L/s/m)15 0,07 0,04 0,03 0,05 0,07 0,08 0,16

Transmissividade(m2/dia)

15 6,9 3,6 2,6 4,7 6,5 8,3 15,8

Quadro O.5 - Principais estatísticas calculadas para a zona 3

O caudal específico apresenta uma correlação considerável (r = 0,6), com o comprimentodas captações, verificando-se um decréscimo do caudal específico à medida que aumenta aprofundidade, sugerindo que os níveis produtivos mais superficiais possuem maiorpermeabilidade.

Zona 4

As estatísticas principais relativas a esta zona são apresentadas no quadro seguinte (O.6).

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

34 4,3 4,2 0,6 2 3,0 4,2 20

Profundidade (m) 34 138 43 60 120 136 170 210

Zona captada (%) 34 53,7 15,2 16,3 43,3 56,3 65,0 82,7Caudal Específico

(L/s/m)29 0,21 0,24 0,02 0,08 0,10 0,27 0,95

Transmissividade(m2/dia)

29 20,7 23,8 1,6 7,5 10,1 26,9 95,2

Quadro O.6 - Principais estatísticas calculadas para a zona 4

De um modo geral, verifica-se que as captações mais profundas apresentam maiorprodutividade, embora existam excepções. Também o caudal específico apresenta umatendência semelhante, aumentando quer com a profundidade, quer com a percentagem dezona captada.

Zona 5

As estatísticas principais relativas a esta zona são apresentadas no quadro seguinte (O.7).

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n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

8 1,1 0,3 0,7 0,8 1,0 1,4 1,7

Profundidade (m) 8 160 53 85 128 139 205 250Zona captada (%) 8 49 14 0,3 37 50 58 74Caudal específico

(L/s.m)7 0,03 0,02 0,01 0,02 0,02 0,03 0,07

Transmissividade(m2/dia)

7 3 2 0,7 2 2 3 7

Quadro O.7 - Principais estatísticas calculadas para a zona 5

Os caudais apresentam uma correlação inversa significativa com o comprimento dascaptações, isto é, à medida que o comprimento das captações aumenta, os caudais tendem adiminuir. O caudal específico tende a aumentar à medida que diminui a profundidade eaumenta a percentagem de zona captada.

Zona 6

As estatísticas calculadas para esta zona são apresentadas no quadro seguinte (O.8).

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal deexploração (L/s)

16 1,1 0,6 0,3 0,7 1,1 1,4 3

Profundidade (m) 16 161 74 60 100 157 205 318Zona captada (%) 15 36,1 16,3 11,4 26,6 31,8 43,5 73,6Caudal Específico

(L/s/m)14 0,05 0,05 0,003 0,02 0,03 0,06 0,2

Transmissividade(m2/dia)

14 4,9 5,1 0,3 1,8 2,95 5,8 19,7

Quadro O.8 - Principais estatísticas calculadas para a zona 6

Nesta zona, os caudais tendem a aumentar concomitantemente com o comprimento dascaptações. O caudal específico apresenta uma tendência aumentar à medida que diminui aprofundidade.

Qualidade

Considerações Gerais

Dispõe-se de um conjunto de análises, cujo período de execução, varia desde 1962 até1989. As principais estatísticas para alguns dos parâmetros encontram-se no quadro O.9.

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Sistemas Aquíferos de Portugal Continental

Orla Ocidental (O) 148

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

pH 184 7,5 0,5 6,3 7,3 7,5 7,8 9,3

Condutividade(µS/cm)

181 949 561 307 730 840 1090 7045

Dureza Total (ºF) 184 37,1 25,8 0,6 26,4 36,3 44,4 321,0

Cálcio (mg/l) 185 91 69 2 60 90 114 850

Magnésio (mg/l) 184 63 59 0,5 29 50 91 850

Sódio (mg/l) 170 86 86 4 43 62 91 805

Potássio (mg/l) 168 4,4 5,7 0,6 1,9 3,0 5,4 61,6

Bicarbonato(mg/l)

186 350 100 12,2 300 358 409 647

Sulfato (mg/l) 185 81 136 5 31 52 92 1735

Cloreto (mg/l) 186 131 134 21 75 103 150 1633

Nitrato (mg/l) 165 7,4 14,2 0 0,6 1,5 8,4 78,7

Quadro O.9 – Principais estatísticas das águas

Predominam as fácies bicarbonatadas cálcicas e sódicas, existindo também cloretadascálcicas, cloretadas sódicas e mistas, conforme o demonstra a figura O.9.

Figura O.9 - Diagrama de Piper das águas das formações do Jurássico superior

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Orla Ocidental (O) 149

Qualidade para Consumo Humano

Em relação à qualidade para consumo, apesar da concentração relativamente alta do sódio,cloreto e condutividade, as águas podem ser consideradas, na maior parte dos casos,apropriada para produção. Para os parâmetros amónio, nitritos, oxidabilidade, ferro,manganês, fosfatos e parâmetros microbiológicos, dispõe-se de algumas análises efectuadasentre 1996 e 1998. O ferro e alguns parâmetros microbiológicos, situam-se acima dosrespectivos VMAs.

No mesmo período foram feitas análises de metais pesados, haletos orgânicos e compostosorganofosforados. Todos os resultados se situavam abaixo dos respectivos limites dedetecção.

Uso Agrícola

A maioria das águas pertencem às classes C3S1 (59,6%) e C2S1 (28,9%). As restantesdistribuem-se pelas classes C3S2 (4,8%), C3S4 (3,6%) e C3S3 (1,8%), existindo ainda umaamostra em cada uma das classes C4S1 e C4S3.

Assim, a maior parte das águas apresentam um perigo de salinização dos solos médio a altoe perigo de alcalinização dos solos baixo, existindo alguns casos com risco muito alto desalinização e risco médio a muito alto de alcalinização dos solos (Figura O.10).

Figura O.10 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola

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Orla Ocidental (O) 150

Formações cretácicas

A maior parte das manchas cretácicas da Orla Ocidental apresentam interessehidrogeológico relativamente elevado, constituindo o suporte de diversos sistemas aquíferos(Cretácico de Aveiro, Pousos-Caranguejeira, Ourém, Alpedriz, Torres Vedras, Louriçal, etc.).No entanto, algumas manchas, ou por terem expressão diminuta, ou por menor aptidãoaquífera, não foram individualizadas como sistemas. As litologias dominantes permitemestabelecer uma distinção clara, entre as manchas situadas a norte de Torres Vedras, deconstituição fundamentalmente arenítica, e as situadas a sul, onde as formações carbonatadastem maior desenvolvimento.

Enquadramento Geológico

Diversas manchas cretácicas não foram incluídas em nenhum dos sistemas aquíferos queforam estabelecidos para a Orla Ocidental, em geral, por terem representação diminuta. Amancha que ocupa a região de Óbidos, constitui uma excepção, já que possui uma áreasignificativa. No entanto, a sua importância, comparativamente com outras homólogas, ébastante reduzida. A formação aquífera é o Complexo Gresoso de Olhos Amarelos e Pousioda Galeota (Complexos gresosos de Olhos Amarelos, Pousio da Galeota e Gansaria) doCretácico inferior (Camarate França et al., 1960). É constituída por arenitos cauliníferos, comcalhaus rolados e intercalações de níveis conglomeráticos e argilosos, com espessura que podeultrapassar nalguns locais 250 m.

Como foi referido, a sul de Torres Vedras, em especial na região de Lisboa-Cascais-Sintra,o Cretácico está representado por formações com algumas características distintas, assumindoas litologias carbonatadas maior importância. Também o Jurássico superior daquela região,apresenta características próprias, estando ausentes as formações detríticas, amplamenterepresentadas a norte de Torres Vedras. Na região de Sintra, o Jurássico superior termina comlitologias carbonatadas que se mantêm nas formações de base do Cretácico.

Na região de Vale de Lobos, aos calcários sucede-se uma formação detrítica, denominadaArenitos de Vale de Lobos (Cretácico inferior), que forma uma mancha com cerca de 7 km2.Esta formação é composta por arenitos finos, cauliníticos, dispostos em lentículas comestratificação entrecruzada e associados em sequências positivas a leitos horizontais deargilas. Verifica-se a existência de níveis específicos de grão grosseiro ou médio. SegundoGraça (1986), esta formação pode atingir 115 m.

Das formações do Cretácico da região de Lisboa-Sintra-Cascais, merecem destaque, pelasua extensão e espessura, as do Albiano-Cenomaniano inferior e médio. São constituídas porcalcários margosos, margas, arenitos, calcários recifais, etc.

Na mesm região, o Cenomaniano superior está representado por calcários compactos, porvezes argilosos, muito fracturados e carsificados, com rudistas (Calcários de Pero Pinheiro).

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Hidrogeologia

Características Gerais

A grande variedade de litologias reflecte-se nas características dos aquíferos nelasinstalados. Assim, as formações detríticas suportam aquíferos porosos, em geral multicamada,livres a confinados, enquanto que nos aquíferos associados às litologias calcárias e calco-margosas a carsificação, embora pouco desenvolvida, pode assumir um papel predominante.Muitas captações exploram várias camadas, algumas das quais exibem artesianismo, porvezes forte.

Parâmetros Hidráulicos e Produtividade

Em relação à mancha cretácica de Óbidos apenas se dispõe de dados referentes àprodutividade de 5 captações: 1,1; 3,8; 4; 5 e 10 L/s. A transmissividade estimada apenas combase em dois caudais específicos oscila entre 10 e 70 m2 /dia.

Para os Arenitos de Vale de Lobos também se dispõe de um número reduzido de dados decaudais de furos que variam entre 0,4 e 6 L/s, com a média situada em cerca de 1,6 L/s.Valores de transmissividade e coeficiente de armazenamento obtidos por Graça (1986), numacaptação: Transmissividade = 8,25 m2 /dia; S=9,91 x 10-3 (Método de Theis). Atransmissividade estimada apenas com base em dois caudais específicos oscila entre 10 e70 m2/dia.

As produtividades das formações do Albiano-Cenomaniano inferior e médio, e doCenomaniano superior, são semelhantes às dos Arenitos de Vale de Lobos, embora,localmente, se possam obter caudais elevados. No quadro seguinte (O.10) apresentam-se asestatísticas principais das produtividades (L/s) das captações implantadas nas referidasformações.

n Média Desviopadrão

Q1 Mediana Q3 Mínimo Máximo

Cenomaniano superior 16 1,2 1,3 0,6 0,8 1,6 0,2 5,6Albiano-Cenomaniano 157 2,1 4,0 0,6 1,1 1,7 0,1 33,3

Quadro O.10 – Principais estatísticas das produtividades para diferentes formações do

Cretácico

Qualidade

Considerações Gerais

Para a mancha cretácica de Óbidos apenas se dispõe de duas análises efectuadas no ano2000. Os valores determinados, relativos a dois furos (RA1 e RA2) apresentam-se no quadroseguinte (O.11).

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Parâmetro RA1 RA2pH 6,3 8,9Condutividade (µS/cm) 582 767Cloretos (mg/L) 182 107Dureza total (mg/L de CaCO3) 88 100Nitratos (mg/L) <2 <2Azoto amoniacal (mg/L de NH4) <0,02 0,04Oxidabilidade (mg/L de O2) <1,8 <1,8Alcalinidade (mg/L de CaCO3) 42 249Ferro (µg/L) 56 243

Quadro O.11 – Análises efectuadas em dois furos no Cretácico de Óbidos

Para caracterizar as águas da mancha cretácica de Vale de Lobos dispõe-se de análisesreferentes a um período compreendido entre Janeiro e Abril de 1984, para 15 captações(Graça, 1986). A fácies predominante é cloretada sódica e fácies mistas.

No quadro seguinte (O.12) apresentam-se a estatísticas principais referentes às análisesefectuadas no período citado.

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Condutividade(µS/cm)

15 327 258 75 184 210 358 1100

pH 15 5,9 1,1 4 5 6,1 6,7 7,6Bicarbonato(mg/L)

15 70 93 1 1 12 153 283

Cloreto (mg/L) 15 51 32 14 31 44 53 130Sulfato (mg/L) 15 31 44 4 7 18 25 152Nitrato (mg/L) 6 29 35 1 8 18 21 99Sódio (mg/L) 15 28 23 0 17 22 26 91Potássio (mg/L) 15 5 9 0,2 1 2 3 30Cálcio (mg/L) 15 33 35 2 5 10 57 114Magnésio (mg/L) 15 7 5 3 5 6 7 24

Quadro O.12 – Principais estatísticas das águas de Vale de Lobos

Para efectuar uma caracterização geral das outras formações cretácicas da região deLisboa-Sintra-Cascais, usou-se um conjunto de 270 análises, realizadas pelo Centro deGeologia da Universidade de Lisboa (CGUL, 1995). Análises posteriores (Jesus, 1995),embora não realizadas nos mesmos locais, parecem indicar um agravamento da qualidade noque respeita aos nitratos. As estatísticas principais referentes àquele conjunto, indicam-se noquadro O.13.

MédiaDesvioPadrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

pH 7,08 0,56 4,15 6,92 7,09 7,33 8,49Dureza (mg/L) 365 186 32 268 374 447 1827Alcalinidade (mg/L) 227 102 0 197 250 286 628Sulfatos (mg/L) 78 103 1,6 30 63 93 1417

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Cloreto (mg/L) 104 94 14 55 77 112 923Nitratos (mg/L) 58 65 0 15 35 76 459Sódio (mg/L) 60 88 8 27 40 70 1256Cálcio (mg/L) 112 65 4 76 114 142 641Magnésio (mg/L) 20 14 0 11 17 27 79

Quadro O.13 – Principais estatísticas referentes às águas da região de Lisboa-Sintra-

Cascais (CGUL, 1995)

As características químicas são muito variadas, ocorrendo águas pouco mineralizadas,associadas aos arenitos, de fácies cloretada sódica, até águas cuja mineralização pode exceder1 g/L. Estas casos estão associados a processos naturais, nomeadamente a dissolução depequenas massas de gesso, intercaladas nos calcários margosos do Albiano-Cenomanianoinferior e médio (Almeida et al., 1991).

Qualidade para Consumo Humano

Para os Arenitos de Vale de Lobos verifica-se que os VMRs do cloreto, sódio sãoultrapassados em cerca de 75% e 50%, respectivamente. Os VMRs do sulfato e nitrato sãoultapassados em cerca de 25% das análises.

De maneira geral, a qualidade química das águas subterrâneas das outras formaçõescretácicas é bastante deficiente. Alguns factores naturais e antropogénicos são responsáveispela excessiva mineralização e pela concentração elevada de algumas espécies, queultrapassam quase sempre os valores máximos recomendados (VMR) e, frequentemente, osvalores máximos admissíveis (VMA). De facto, considerando os parâmetros agrupados noAnexo VI do Decreto-Lei 236/98, sob a designação de parâmetros fisico-químicos, verifica-sea seguinte situação:

• Sódio e Cloreto: com raras excepções o VMR é sempre ultrapassado

• Dureza: algumas violações do VMA

• Cálcio, predominam os valores acima do VMR

• Sulfatos, predominam os valores situados entre o VMR e o VMA

No que diz respeito aos parâmetros agrupados sob a designação de parâmetros relativos asubstâncias indesejáveis, apenas se caracteriza a qualidade em relação aos Nitratos onde severifica uma tendência para ultrapassar o VMR observando-se numerosas violações do VMA.

No quadro seguinte (O.14) faz-se um resumo da situação tendo como referência aamostragem colhida aquando do trabalhos para a elaboração do relatório sobre a qualidade daágua no concelho de Sintra (CGUL, 1995).

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Anexo VI Anexo I -Categoria A1Parâmetro

<VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA

Cloretos 1 100 39 61

Dureza total 86 14

Sulfatos 20 80 3 67 33 28

Cálcio 38 62

Magnésio 80 20 4

Sódio 12 88 3

Nitratos 40 60 38 100 0 0

Quadro O.14 – Apreciação da qualidade face aos valores normativos

Uso Agrícola

As maioria das águas da mancha cretácica de Vale de Lobos pertencem à classe C1S1

(57,1%). As restantes distribuem-se pelas classes: C2S1 (35,2%) e C3S1 (7,1%), pelo querepresentam um perigo de salinização dos solos predominantemente baixo a médio e perigode alcalinização dos solos baixo.

Quanto às águas das restantes formações cretácicas, predominam as que têm mineralizaçãoelevada, pertencendo a maioria à classe C3S1.

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