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Opiniões Depoimentos Novos Lançamentos Entrevista Literatura Infantil Número: Mês: Junho Ano: 2018 Preço: R$ 5,00 234 J ornal de Letras J ornal de Letras Casa nota 10 Casa nota 10 O Instituto Casa Roberto Marinho nasce no lugar que, por décadas, serviu de residência do jornalista, no Cosme Velho. A Instituição foi inaugurada com duas exposições. “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, nos anos 1930 e 1940, da coleção particular do jornalista. E “10 Contemporâneos”, série inédita de gravuras de artistas brasileiros em atividade – que usaram “casa” como tema. (Por Manuela Ferrari – págs. 10 e 11) O Instituto Casa Roberto Marinho nasce no lugar que, por décadas, serviu de residência do jornalista, no Cosme Velho. A Instituição foi inaugurada com duas exposições. “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, nos anos 1930 e 1940, da coleção particular do jornalista. E “10 Contemporâneos”, série inédita de gravuras de artistas brasileiros em atividade – que usaram “casa” como tema. (Por Manuela Ferrari – págs. 10 e 11) www.folhadirigida.com.br/ edicoes-digitais/ jornal-de-letras ACESSE: JL digital Foto: Roberto Teixeira

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O p i n i õ e s

D e p o i m e n t o s

N o v o s L a n ç a m e n t o s

E n t r e v i s t a

L i t e r a t u r a I n f a n t i l

N ú m e r o :

M ê s : J u n h oA n o : 2 0 1 8P r e ç o : R $ 5 , 0 0

234JornaldeLetrasJornaldeLetrasCasa nota 10Casa nota 10O Instituto Casa Roberto Marinho nasce no lugar que, por décadas, serviu de residência do jornalista, no Cosme Velho. A Instituição foi inaugurada com duas exposições. “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, nos anos 1930 e 1940, da coleção particular do jornalista. E “10 Contemporâneos”, série inédita de gravuras de artistas brasileiros em atividade – que usaram “casa” como tema. (Por Manuela Ferrari – págs. 10 e 11)

O Instituto Casa Roberto Marinho nasce no lugar que, por décadas, serviu de residência do jornalista, no Cosme Velho. A Instituição foi inaugurada com duas exposições. “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, nos anos 1930 e 1940, da coleção particular do jornalista. E “10 Contemporâneos”, série inédita de gravuras de artistas brasileiros em atividade – que usaram “casa” como tema. (Por Manuela Ferrari – págs. 10 e 11)

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JornaldeLetras2

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A r n a l d o N i s k i e r

Diretor responsável: Arnaldo NiskierEditora-adjunta: Beth AlmeidaColaboradora: Manoela Ferrari

Secretária executiva: Andréia N. GhelmanRedação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 — Tel.: (21) 2523.2064 – Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected]: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048Correspondentes: António Valdemar (Lisboa).Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda.Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras

O Jornal de Letras é uma publicação mensal doInstituto Antares de Cultura / Edições Consultor.

ExpedienteJL

EditorialJLSe o ensino superior brasileiro, segundo dados oficiais, perdeu

cerca de 200 mil alunos nos últimos três anos, como não acreditar que o nosso mercado livreiro esteja enfrentando uma séria crise? Mesmo sabendo-se que a indústria de apostila floresce nas universidades, como testemunhei na UERJ, registra-se hoje o fechamento de uma série de livrarias, por absoluta impossibilidade de sobrevivência. É alta a inadimplência, mesmo em empresas que aparentemente teriam o apoio internacional para as suas atividades. É um comércio que assi-nala índice de perda como talvez jamais tenha ocorrido. Trata-se de um formidável prejuízo para a cultura brasileira. Quantos anos precisarão se passar até que esses efeitos negativos sejam suplantados? Outro fato que devemos registrar é a desaceleração no número dos nossos escri-tores, por absoluta falta de incentivos. Se livros não são vendidos, por falta de livrarias, é claro que isso se refletirá no número de escritores em atividade, no mercado editorial. Tudo é profundamente lamentável, uma perda para a cultura brasileira.

O Editor.

“O homem está sempre disposto a negar tudo o que não compreende.”

Blaise Pascal

O cheiro do Méier

Cada cidade tem o seu perfume. Diria mais: cada bairro exala um perfume próprio, que lhe é característico. Foi o que senti na visita feita ao bairro do Méier, na zona norte do Rio de Janeiro, para a inauguração da Biblioteca Arnaldo Niskier. Em companhia

dos queridos Celso, Andrea e Giovanna, deslocamo-nos para o bairro que se tornou famoso, também, por ser o local de moradia do escritor Millôr Fernandes.

Senti um cheiro que me é familiar, pois nasci no bairro de Pilares, que uma professora da Unicarioca esclareceu fazer parte do Grande Méier. Sou da rua Fernão Cardim, onde também morou o jurista Evaristo de Moraes Filho, que se tornou depois meu colega da Academia Brasileira de letras. Ele tinha orgulho desse passado.

Ao me dirigir para a exemplar Biblioteca Arnaldo Niskier, dotada de todos os preceitos modernos, inclusive bons livros em quantidade suficiente, passei por outras ruas que aguçaram a minha memória. Na rua 24 de maio, no Riachuelo, cruzei com a rua em que morei: Filgueiras Lima, uma paralela à rua Marechal Bitencourt, onde fica até hoje o Riachuelo Tênis Club e o Clube dos Magnatas, um dos pioneiros do futebol de salão no Rio de Janeiro.

No RTC, além de grandes festas e olímpicas maratonas, aprendi a tomar gosto pelo basquetebol. Lá atuavam grandes nomes do nosso esporte, como Ruy de Freitas e Passarinho. Impossível esquecê-los.

Com o cheiro de Méier invadindo minhas narinas, cheguei à bonita sede da Unicarioca. Um imenso cartaz afirma que 92% dos ex-alunos recomendam a Unicarioca, considerado o melhor Centro Universitário do Rio, segundo o MEC. São 17 cursos de graduação pre-sencial, desde Administração, passando por Engenharia e chegando a Redes de Computadores. O número dos seus alunos vai aumentar com a próxima vinda dos cursos de Direito. Hoje, são 15 mil alunos, nas suas quatro unidades: Rio Comprido, Méier, Bento Ribeiro e Jacarepaguá. A entidade dedica-se também à graduação a distância, com os seus cursos de Administração, Ciências Contábeis, Gestão de Recursos Humanos, Marketing e Pedagogia, onde tem assinalado as melhores notas do mer-cado.

Uma das razões da excelente qualidade dos cursos da Unicarioca é o tratamento dado aos seus alunos pela direção. Segundo decisão do professor Celso Niskier, periodicamente ele próprio realiza reuniões com os alunos de toda a instituição, para ouvir as suas reivindicações e os comentários sobre o andamento das aulas. Não raro ele toma pro-vidências administrativas de relevo, deixando no espírito dos alunos a sensação de que são parceiros no comando, e não simples pagadores de mensalidades.

Neste momento, desenha-se uma crise nas grandes universidades brasileiras, inclusive por causa do destino tomado pelo FIES. Decisão do MEC altamente prejudicial aos alunos. Desenha-se uma crise, mas dela a Unicarioca escapou em grande estilo.

OpiniãoJL

O acadêmico Geraldo Carneiro recebeu homenagem do poeta Jean Carlos Gomes, editor do livro Vozes de Aço XIX, na ABL.

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3JornaldeLetras

Seis décadas de memórias

A obra Sérgio Jorge - 60 anos de Fotojornalismo (Editora Mogiana, 2018) celebra seis décadas de profissão de um dos mestres da fotografia brasileira, em edição histórica. Bilíngue, com projeto gráfico assinado pelo designer Nosbielg Pires, textos da jornalista Regina Helena Paiva Ramos e Rubens Fernandes Junior e coordenação exe-cutiva de Reginaldo Leme, o livro traz parte de seu acervo, revelando histórias de um Brasil em franco desenvolvimento, nos tempos áureos do fotojornalismo.

Com 200 páginas, somando cerca de 150 fotografias em preto e branco, o projeto foi financiado por meio de crowdfunding, plataforma online de financiamento coletivo, que obteve o apoio de 170 pessoas de 11 estados brasileiros.

Dividido em 15 capítulos, além de um extra para os agradecimen-tos, a publicação conta os bastidores de grandes reportagens sob a ótica da lente memorialística de seu personagem principal, o fotógrafo Sérgio Jorge: “Se você não tem uma foto antiga, você não tem a história de um acontecimento. Se você não tem hoje nenhuma foto dos seus avós ou da sua família, seus filhos não terão uma história para contar no futuro. E o futuro sempre quer ouvir uma história”, afirma o fotógrafo.

Segundo a jornalista Regina Helena Paiva Ramos, “Sérgio Jorge tem a memória em um grande arquivo. É o coração do fotógrafo que se abre nas páginas que se seguem. O coração e a vocação irresistível de ter tido toda uma vida correndo atrás da notícia”.

Celebrando seis décadas de muito trabalho, talento e dedicação, a carta do editor, Reginaldo Leme, registra a importância deste legado: “Esta publicação é mais do que apenas um livro de fotografia, é o resgate de imagens e memórias de um país em transformação, pois o amparen-se Sérgio Jorge registrou inúmeros acontecimentos enquanto a história acontecia. Foi pensando neste legado e na importância do seu trabalho para a fotografia brasileira que a Mogiana Produções Culturais abraçou a ideia de produzir seu primeiro livro, uma justa homenagem a um mes-tre do fotojornalismo.”

Sobre o FotógrafoSérgio Jorge nasceu em Amparo, no interior de São Paulo, e esteve

presente em inúmeros acontecimentos importantes da história do Brasil nos tempos áureos do fotojornalismo. Com espírito incansável, registrou a inauguração de Brasília, as primeiras corridas automobilísticas em Interlagos, o incêndio do Edifício Joelma e esteve na demarcação brasilei-ra no Polo Sul, entre vários outros.

Autodidata, trabalhou nos jornais O Dia e Gazeta Esportiva no início de sua car-reira e por 11 anos na revista Manchete. Em 1960, venceu o primeiro Prêmio Esso de Jornalismo, com uma foto que retrata a luta de um garoto para salvar seu cão do homem da carrocinha. Na década de 1970, ajudou a criar o Estúdio Abril de Fotografia, responsá-vel pela formação de diversos profissionais reconhecidos nacionalmente.

Por Manoela Ferrari

A tragédia do Edifício Joelma, no dia 1º de fevereiro de 1974, com o saldo de 198 mortos e 300 feridos, também foi registrada pelas lentes hábeis de Sérgio Jorge.Foto vencedora do 1º Prêmio Esso de

Fotojornalismo, em 1960.

Capa do primeiro livro do fotógrafo Sérgio Jorge, um projeto da Mogiana Produções Culturais.

Foto do presidente Juscelino Kubistcheck, na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960.

Sobrecapa do livro do fotógrafo Sérgio Jorge, com ilustração de Odahyr Zampoll Souza.

A trajetória do Rei Pelé foi acompanhada de perto pelo fotógrafo Sérgio Jorge, que, desde 1956, com 19 anos, já frequentava o campo do Santos Futebol Clube.

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por Manoela Ferrari

JornaldeLetras4

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS ou IDIOTISMOS

“Você não acha que o Nemo está parecendo um peixe fora d’água hoje?”

GALOPE À BEIRA-MAR, editado pela Leya, marca o 120º livro do acadê-mico e ex-presidente da República José Sarney. Repleto de histórias políticas amealhadas ao longo de uma trajetória onde desfrutou de todas as posições importantes da vida pública municipal, estadual e federal.

FOI UM SUCESSO o evento Darcy Ribeiro e a Biblioteca Básica Brasileira, no auditório do Instituto Cervantes, em Botafogo, com a par-ticipação de Cláudio Murilo Leal, presidente da Academia Carioca de Letras; José Ronaldo Alves Cunha, membro do Conselho Curador da Fundação Darcy Ribeiro; Godofredo de Oliveira Neto, curador da Coleção e membro da Academia Carioca de Letras e Carlos Barbosa, editor da Coleção. Composta por 50 livros, a Biblioteca Básica Brasileira recolhe as obras fundamentais da cultura brasileira apresentadas ao públi-co com novos prefácios escritos especificamente para cada livro.

DEPOIS de discutir a obra O Mulato, de Aluísio Azevedo, em maio, o Café Literário do PEN Clube deste mês tem como tema Retrato do artista quando jovem, de James Joyce.

ESTÁ CONFIRMADA a data de 25 de julho como a abertura ofi-cial da 16ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty. Começa com um tributo à escritora Hilda Hilst, grande homenageada do evento, comandado pela atriz Fernanda Montenegro e pela pianista e com-positora Jocy de Oliveira.

PESQUISAS da Nielsen Bookscan identificaram que o segmento de livros de memórias lançados no ano passado alcançaram, no Brasil, um salto de 23,4% em faturamen-to, em relação a 2016. Em números de exemplares, o crescimento foi de 8%. As biografias de maior suces-so foram as de Rita Lee, da Globo Livros, seguida de Na Minha Pele, de Lázaro Ramos, pela Companhia das Letras.

ALIMENTANDO o Mundo, dos his-toriadores Francisco Vidal Luna e Herbert Klein, foi entregue à editora da Universidade de Cambridge para sair no ano que vem. Foca o progres-so do agronegócio no Brasil.

PUBLICADA pela Relicário Edições, em 2017, A Retomada, de Laura Erber, está sendo traduzida para o albanês, adquirida pela Editora Buzuku, sediada em Kosovo.

VENCEDOR da categoria juvenil do National Book Award, a Ed. Record comprou os direitos de Far from the Tree, de Robin Benway, para comer-cialização ainda em 2018.

PRESIDENTE da Câmara Brasileira do Livro, Luiz Antônio Torelli estima

Internacional de Arte de São Paulo. Dá-se no Parque Ibirapuera, dessa vez contando com obras selecio-nadas dos artistas cariocas Nelson Félix, Luiza Crosman e Maria Laet, tendo o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro como curador.

AINDA que na contramão, a Lava-Jato rende até biografias. A do ex-governador Sérgio Cabral virá em 2019, pela Editora Objetiva, através do cientista político Cristian Klein, enquanto a de Eduardo Cunha, pela Editora Record, ficou a cargo dos jor-nalistas Aloy Jupiara e Chico Otávio.

A NOITE DA ESPERA, de Milton Hatoum, lançada no Brasil pela Companhia das Letras, já esgo-tando os 20 mil exemplares da tiragem inicial, sairá na França pela Editora Actes Sud. O livro marcou, em 2017, a volta do escritor manaua-ra ao romance, nove anos depois de Órfãos do Eldorado. A história seguirá com mais dois volumes – e o próximo será situado na França.

EX-MODELO, sucesso como apre-sentadora de programas culinários na tevê paga, Rita Lobo lança novo livro dentro da coleção Já pra Cozinha, com um volume destinado a recém-casados.

FESTEJADA como mãe do abstra-cionismo, exposição com 130 obras de Hilma of Klint, selecionadas de um conjunto de 1200, denomina-da Mundos Possíveis, permanece na Pinacoteca SP até 17 de julho, de quarta a segunda, das 10 às 17 h.

negócios na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, mês de agosto, da ordem de 1,5 milhões de dólares.

O POETA Ramon Nunes Mello organizou, para a Editora Bazar do Tempo, uma antologia com 96 poe-tas escrevendo sobre Aids. Entre eles, o acadêmico Antonio Cícero. Título do trabalho: Tente Entender o que Tento Dizer.

ANDRÉ CARREIRA prepara, para a produtora cinematográfica, Camisa Listrada, um documentário sobre a trajetória do paisagista Burle Marx. Fala sério, mãe, sob seus cuidados, ultrapassou 2,9 milhões de especta-dores, em janeiro.

NO CATÁLOGO da Ed. Matrix, Não Erre Mais, do professor Luiz Carlos Sacconi, alcança a 32ª edição.

PRIMEIRO livro escrito por Adélia Lopes, publicado em 1985, Um jogo Bastante Perigoso será republicado pela Editora Moinhos. Ela é tida como um das mais importantes poetas portuguesas vivas.

OS DELICIOSOS escritos do capi-xaba Rubem Braga passam aos domínios da Editora Global, sob a coordenação de André Seffrin.

UM DOS PRINCIPAIS nomes da ficção policial brasileira, Patrícia Melo terá Gog Magog, seu décimo livro, aqui lançado pela Ed. Rocco, publicado também na Alemanha e na França, respectivamente, pelas Editoras Klett-Cotta e Actes Sud.

SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA, de Edney Silvestre, lançado em Portugal pela Ed. Planeta, em 2009, terá ree-dição até dezembro pela Compasso dos Ventos, recém-aberta em Lisboa por Jorge e Fábio Cyrino, responsá-veis, no Brasil, pela Ed. Landmark.

A OBRA infantojuvenil Cantigas por um Passarinho À Toa, com poemas de Manoel de Barros para a gurizada, volta às livrarias pela Companhia das Letrinhas, com ilus-trações de Kammal João.

NO FIM DO ano, com tradu-ção de Irineu Perpétuo, a Editora Carambaia traz Os Dias dos Turbin, de Mikhai Bulgárov, peça teatral de amplo sucesso no país, retratando a revolução russa no século passado.

POR INTERMÉDIO de programa Primavera Literária Brasileira, após França, Bélgica, e Luxemburgo, autores nacionais irão, no segundo semestre, a debates com estudantes estrangeiros da língua de nosso país em universidades dos EUA, localiza-dos em Chicago, Columbus, Phoenix e Albuquerque. Depois, o esquema terá extensão a Portugal, Espanha e Dinamarca.

DE 7 DE SETEMBRO a 9 de dezembro, acontece a 33ª Bienal

NA SESSÃO comemorativa do 181º aniversário, com palestra do Embaixador Luís Filipe Faro Ramos, tomou posse a diretoria do Real Gabinete Português de Leitura, eleita para o biênio 2018/2020.

EM JULHO, entra no ar o site do Portal da Crônica Brasileira, criação do Instituto Moreira Salles e Casa de Rui Barbosa, com textos dos princi-pais escritores nacionais.

NA PRAÇA, novamente, com Nunca Houve um Castelo, pela Companhia das Letras, Martha Batalha, apontada como uma das grandes escritoras brasileira da atua- lidade, teve seu livro anterior, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (ora virando filme sob direção de Karim Aïnouz) vendido para 12 países. Parece ser um novo fenômeno edi-torial feminino.

CIRCULANDO também em Portugal, o livro Lava-Jato – O Juiz Sérgio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil, do coleguinha Vladimir Netto, ganhará o segundo volume, da Editora Sextante.

PELA PRIMEIRA vez, o poeta sueco Tomas Tranströmer, Prêmio Nobel de Literatura, em 2011, tem livro publicado no Brasil: Mares do Leste e Outros Poemas saiu pela Editora Ayiné.

O SEGUNDO livro da escritora Roberta Lahmeyer, Retas Oblíquas (Ed. Ibis Libris, 2018) forma um díp-tico com o primeiro, Singularidade,

BrevesJLpor Jonas Rabinovitch

[email protected]@gmail.com

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Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Rober to

Na ponta Língua

5JornaldeLetras

daLâmpada queimada

“Ricardo foi trocar a lâmpada florescente, mas o tamanho não era o mesmo do bocal.”

Nem poderia trocar nada, escrevendo dessa forma.Ambos os vocábulos estão corretos, embora o termo

florescente esteja mal empregado na frase. Florescente se refere a alguma coisa ou alguém que floresce, que está em próspero desenvolvimento. Pode significar também aquilo que é brilhante, notável, vigoroso.

Fluorescente se refere a alguma coisa ou alguém que tem fluorescência, ou seja, a capacidade que alguns objetos têm de emitir luz ao receberem uma radiação luminosa.

Frase correta: “Ricardo foi trocar a lâmpada fluores-cente, mas o tamanho não era o mesmo do bocal.”

CuriosidadeVocê sabe o que são palíndromos?São palavras ou frases que podem ser lidas da esquerda para a direita e da direita para a

esquerda. Ex.: radar, luz azul, ame o poema, amor a Roma, a droga da gorda, o galo no lago etc.

Traidor“Ao saber da traição do namorado, Maria falou: Por hora, não farei nada!”Coitada da moça! Assim continuará sendo enganada. Na construção deste período, não

é possível o uso de hora (por hora) com h, pois não faz sentido.A expressão correta é por ora, sem h, que significa por enquanto.Período correto: Ao saber da traição do namorado, Maria falou: Por ora, não farei nada!

Você precisa saberO verbo aceitar é abundante. Entretanto, o uso correto de seus particípios se faz assim:

aceitado (particípio regular) é usado na voz ativa e com os auxiliares ter e haver e aceito (par-ticípio irregular) deve ser usado na voz passiva, com o verbo ser (auxiliar).

Ex.: havia aceitado (voz ativa) / tinha aceito (voz ativa) / foi aceito (voz passiva).

Péssima companhia“Todos reclamam da adolescente, acusando-a sempre de desmancha-prazer.”A menina deve ser mesmo desagradável. Há substantivos compostos que são usados

sempre no plural e este é um deles. Período correto: Todos reclamam da adolescente, acusando-a sempre de desmancha-prazeres.

Elevador enguiçado“Este elevador não serve ao último andar.”Assim, não sairá do térreo.O verbo servir, no sentido de prestar serviço, é transitivo direto, isto é, pede objeto

direto, complemento sem preposição. Frase correta: Este elevador não serve o último andar.

O melhor jogadorUm jornal do Rio, elogiando o estilo de um jogador de futebol, que é mesmo inconfun-

dível, escreveu que ele “disvincilhou-se com facilidade de dois adversários...”O verbo “disvincilhar” não existe.O drible do jogador teria sido mais bonito se ele tivesse se desvencilhado dos adversá-

rios. Observe: Existem os verbos: desvencilhar, desvincilhar e desenvencilhar, todos com o mesmo significado: soltar, livrar-se, desembaraçar-se.

Colorindo com lindas coresCuidado! Para não produzir um trabalho feio.O verbo colorir é defectivo, isto é, não tem a conjugação completa. Ele não possui a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, todo o presente

do subjuntivo e as pessoas do imperativo, que se formam do presente do subjuntivo.Paralelamente a colorir, há o verbo colorar, regular, de conjugação integral. Daí ser correto dizer eu coloro (de colorar), porém com a vogal tônica aberta (ó), como

a de adorar. Coloro a minha vida com cores vivas.

Vitimados“Vítimas foram heróis na tragédia”.Trata-se de uma silepse de gênero.A nossa gramática aceita esse tipo de construção, considerando-se que, as vítimas, haja

homens e mulheres. Quando a palavra que sofre a silepse for predicativo, a mesma

é perfeitamente aceitável: “V.Exa parece magoado...” – C. Drummond de Andrade , CB, 119.

Ainda o por queUsa-se o por que (separado) nas perguntas, no início e no

meio da frase, ou quando a locução significa motivo pelo qual: “Por que você não vai ao baile?” ou “A razão por que me afasto não posso dizer...” Usa-se o porque (junto) em respostas: “Ora, porque não quis.”

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JornaldeLetras6

EntrevistaJL d e A r n a l d o N i s k i e r

Jerônimo Moscardo

Livros para todos

Arnaldo Niskier: Hoje, com muito prazer, recebo a visita do embaixador Jerônimo Moscardo, um homem que fez bonita carreira diplomática e que hoje se dedica a coisas extraordinárias como, por exemplo, a distri-buição de livros para classes mais pobres. Embaixador, como é essa história de distribuir livros nas barraqui-nhas da Zona Sul?

Jerônimo Moscardo: A ideia nasceu no exterior. Eu servi, passei quatro anos, no Uruguai, e lá fre-quentava muito Punta del Este, que é um balneário praticamente argentino dentro do Uruguai. Hoje tem muito brasileiro, e os argentinos liam muito na praia. Era algo extraordinário, o argentino aprovei-tava para estar na praia e ler, então imaginei que, no Rio de Janeiro, o carioca vai muito à praia, uma praia é a nossa ágora, é o nosso encontro pratica-mente diário, e faltava o livro, quer dizer, a ideia de invadir esse espaço com livro. Por que não oferecer o livro ao carioca, ao frequentador da praia no Rio de Janeiro? Então nós pensamos, inclusive, numa ideia do Borges. Jorge Luis Borges dizia que a ideia de paraíso para ele era uma biblioteca. E a praia é uma ideia de paraíso para quase todo mundo, estar à beira do mar, estar no mar, é uma condição paradisíaca, então o encontro do livro com a praia é um encontro de dois paraísos. A ideia de você oferecer a leitura é oferecer companhia para quem está na praia.

Arnaldo Niskier: E o preço do livro não é um pro-blema?

Jerônimo Moscardo: Eu tive uma sorte imen-sa nesse sentido, porque, frequentando os sebos, conheci o livreiro, o rei do sebo, chamado Francisco Olivar, e ele tem uns sebos ali na Carioca, na entra-da do Metrô, e conversei com ele sobre isso. Ele disse: “Eu dou para você uma quota de livros. Você quer quantos por mês ou por semana?” E eu disse: “Vamos começar imediatamente.” E estou vendo algo extraordinário que não estou conseguindo atender e consumir toda a quota que ele me consegue de livros. Ele disse: “Se você quiser mil livros por mês, eu dou mil livros por mês.” E eu já tenho agora ofertas de pessoas que telefonam, pessoas que vão à barraca e oferecem livros.

Arnaldo Niskier: E quais são os livros mais pro-curados?

Jerônimo Moscardo: Tem muitos livros, mas tem livro de tudo, tem livros infantis e tem livros para adultos. É interessante, porque vi grande interesse dos barraqueiros, do pessoal das barracas que não acreditava que o livro pudesse ser doado. Tem livros inclusive espiritualistas e que eles gostam muito, tem tudo quanto é livro que aparece. Nós já recebemos a doação inclusive de livros importantes, livros até de arte, livros de pintura. De arte, nós já recebemos até uma doação: a maior doação que houve até agora foi uma edição de uma Bíblia em vários volumes da Editora Abril, prefaciados pelo presidente da Academia Brasileira de Letras na época, Austregésilo de Athayde. Vendo a Bíblia do ponto de vista literário,

mas uma beleza de edição e foi um presente incrível, muita gente procura a barraca para fazer doações. Nós já entramos inclusive nas redes sociais um pouco, e recebemos até um pedido para abrir outra barraca dessas no Posto 6, então estamos agora estu-dando como abrir uma outra barraca. E também tem estados do Brasil, por exemplo, já existe no Ceará, e no Rio Grande do Norte também pessoas que viram nas redes sociais. No Ceará eles querem até fazer um programa chamado “Iracema vai à praia”.

Arnaldo Niskier: Gostaria de perguntar, o embai-xador Moscardo esteve servindo ao país em diversas embaixadas, eu inclusive o visitei uma vez na Romênia, onde estivemos numa visita oficial, e ele lá estava, o senhor ficou oito anos na Romênia. É um país de língua próxima a nossa, não é? Acho que é um prazer grande trabalhar com os romenos. E nós fizemos uma visita à Academia Romena de Letras, eu me lembro muito bem, o senhor foi também muito bem tratado lá pelo Simeon. Qual foi a emoção de estar presente num país como a Romênia durante tanto tempo?

Jerônimo Moscardo: A Romênia foi uma grande surpresa, porque eu saía de Paris, estava lá, na Unesco, e, em Paris todo brasileiro, aliás toda a humanidade, se sente em casa, e sair de Paris era quase um choque para ir para Romênia. E tive uma surpresa extraor-dinária, porque eu cheguei na Romênia pensando, inclusive, que a nossa grande possibilidade era a lín-gua. Mas é mais do que a língua: eles nos entendem de uma maneira extraordinária. Os romenos, a gente diz, inclusive, são os portugueses com uma dimen-são extra de filosofia e tal. Eles têm o afeto que nos liga aos portugueses com uma dimensão crítica de filosofia. É algo extraordinário. O romeno é o carioca. É algo inacreditável. O bom humor e a rapidez, e a facilidade. Fiquei perplexo, porque nós fomos fazer lá um concurso literário patrocinado pela Academia Romena sobre Guimarães Rosa, e o meu conselheiro disse: “Os romenos não vão entender Guimarães Rosa, ele é muito brasileiro.” Tivemos uma surpresa enorme: uma moça romena fez uma dissertação dizendo que Guimarães Rosa não era regional, brasi-leiro, era universal. E deu as chaves dos personagens de Guimarães Rosa segundo o ocultismo do Hermes Trismegisto. Então, nós ficamos perplexos, porque ela navegava na literatura brasileira com essa pro-fundidade e dizendo coisas que, para mim, no caso, eram absolutamente novidades.

Arnaldo Niskier: E, para mim, houve um certo estranhamento na visita feita, porque quando eu disse que a minha esposa era descendente de romenos, o embaixador Moscardo lembra do que aconteceu: eles me abandonaram. Estavam me homenageando como mem-bro da Academia Brasileira de Letras, mas, depois que eu disse que a Ruth, minha mulher, era descendente de romenos, pronto, foi ela a homenageada, a homenagem passou para ela.

Jerônimo Moscardo: E eles ficaram muito orgu-lhosos da D. Ruth por representar não só a inteligên-

cia como a beleza da mulher romena. E brasileira, mas eles acham que é algo inacreditável a facilidade com que eles estão no Brasil e você está na Romênia. Você se sente em casa.

Arnaldo Niskier: Há publicações de lado a lado que são colocadas no mercado?

Jerônimo Moscardo: Há muito pouco. O Fernando Klabin foi lá porque se apaixonou por uma romena e encontrou essa romena em Viena, e seguiu para a Romênia apaixonado por ela. Celso Lafer, seu colega, me disse: “Olha, o Fernando vai aí, Fernando é meu primo.” Então foi uma maravilha, porque ele ficou lá na Romênia e me deu uma ajuda extraordinária. Foi inclusive o tradutor do filósofo Cioran, e deu uma grande contribuição. Ele chegou a Romênia atrás de um rabo de saia. Acho que hoje o Fernando Klabin está em São Paulo, mas ele foi real-mente extraordinário, e é poeta também.

Arnaldo Niskier: Existe um trabalho seu na Unesco, portanto, na área da Educação. O embaixador Jerônimo Moscardo foi também presidente da Fundação Alexandre de Gusmão do Itamaraty. O que faz essa Fundação, embaixador?

Jerônimo Moscardo: Essa fundação faz uma aproximação entre o mundo acadêmico e a diplo-macia. Ela foi criada para dar argumentos e fazer esse diálogo entre o mundo da inteligência e do espí-rito e a diplomacia. Produz livros. Nós editamos na Fundação, eu tive a felicidade de editar na Fundação mais de 500 títulos. Havia recursos. Aliás, nos foi fornecido na época pelo embaixador Celso Amorim e pelo secretário-geral, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Eles nos deram recursos e nós conse-guimos editar mais de 500 livros. Foi algo extraordi-nário, não posso me queixar. Era uma entidade no Ministério que não tinha carência de recursos.

Arnaldo Niskier: Como é que o senhor viu a sua passagem pela Unesco e o futuro da entidade?

Jerônimo Moscardo: Fiquei muito feliz em ser-vir na Unesco, porque nós tínhamos duas coisas: primeiro, o embaixador Paulo Guerreiro Carneiro, que foi um homem que deixou uma marca muito forte na Unesco. Membro da Academia. Todo mundo o tinha como referência intelectual extraordinária. O Eduardo Portela me facilitou enormemente o tra-balho, porque ele conhecia todo mundo, era amigo das pessoas e me contagiou, me incorporou a estes membros e às pessoas mais extraordinárias em Paris. Devo a ele, inclusive, conhecimentos como o Jean d’Ormesson. Ele trouxe uma proximidade, e eu atuei na Unesco beneficiado por isso. Na Unesco, também trabalhamos muito, e fiz uma amizade muito grande com Carlos Fuentes. Esse grande mexicano. Foi algo absolutamente prazeroso não somente Paris, mas essa vida intelectual. Participei também do Conselho Executivo da Unesco, e tivemos até a ideia de fazer um projeto de um diagnóstico sobre a cultura. E, hoje em dia, mais do que nunca, o mundo está pre-cisando de cultura. Estamos numa decadência nesse aspecto. Quando você visita a cultura europeia e vê homens como os grandes filósofos europeus e você vai também à China e você vê a tradição de pensa-mento chinês que se perde aí na noite dos tempos, você tem esse diálogo da Europa com o Extremo Oriente, e a América hoje está fazendo um forfait, está faltando a esse diálogo. Essa ordem nas ideias é mais importante do que a ordem nas coisas. É preci-so organizar a cabeça do mundo.

Arnaldo Niskier: Concordo com o amigo de que a Unesco poderia desenvolver um papel mais importante ainda.

Jerônimo Moscardo: Sem dúvida. A importân-cia da Unesco é o pensamento. Você só organiza a economia... A intendência segue, você precisa orga-nizar a mente, o espírito.

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por Manoela Ferrari

Livros e AutoresJL

7JornaldeLetras

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Nação QuilomboEm caprichada edição de capa dura, com 200 páginas, a obra Nação Quilombo (ND Comunicação, 2010) é assina-da por três especialistas na questão do negro no Brasil: Joel Rufino dos Santos, Nei Lopes e Haroldo Costa.Cada um ao seu modo, a partir de suas experiências de vida e profissionais, os autores fazem reflexões sobre quais as per-manências e ressonâncias da cultura africana na sociedade brasileira contemporânea, abordando a importância política, social e cultural dos cidadãos negros no país.Dividido em três partes, ricamente ilustrado com fotografias de colecionadores e museus, a obra aborda as transformações do negro na sociedade, expondo as temáticas gerais do pro-

cesso da transformação do negro na sociedade nacional.Na apresentação, o ator e cineasta, sócio fundador do Grêmio de Artes Negras Quilombo, Jorge Coutinho, afirma: “Numa sociedade em constante transformação, onde as tradições se movimentam compulsivamente e a luta pelos espaços políticos impõe, cada vez mais, táticas e estratégias diferenciadas, a contribuição do livro Nação Quilombo consolida-se a partir do texto acessível, informativo e muito bem apresentado por três dos maiores especialistas nestas questões: Joel Rufino dos Santos, Nei Lopes e Haroldo Costa.”

O professor, Beethoven e o ladrãoNa obra O professor, Beethoven e o Ladrão (Ed. Thesaurus, 2016), ao longo de 270 páginas, o leitor passeia entre artigos e crônicas com protagonistas que vão desde Shakespeare a Orson Welles, Marilyn Monroe, Cesar Camargo Mariano, Dom Quixote, Gilberto Freyre ou Clarice Lispector.Na coletânea, somam-se episódios plenos de graça e leve-za, evidenciando a riqueza humana, através de uma narra-tiva leve e fluida, altamente bem escrita.Nascido em Fortaleza, Ceará, Edmílson Caminha dirigiu, em Teresina, a Rádio Educativa e o Departamento de Jornalismo da TV Educativa do Estado do Piauí. É consultor legislativo (aposentado), por concurso público de provas e títulos, da Câmara dos Deputados, em Brasília-DF, de cujo Conselho Editorial foi presidente.Entre as obras publicadas: Palavra de Escritor (1995; 2. ed. 1996); Inventário de Crônicas (1997); Villaça, um Noviço na Solidão do Mosteiro (1998); Lutar com Palavras (2001); Drummond, a Lição do Poeta (2002; 2. ed. 2006); Pedro Nava: em busca do tempo vivido (2003); Rachel de Queiroz, a Senhora do Não Me Deixes (2010); Em Louvor a Drummond (2012); No PEN Clube do Brasil, a Casa de Villaça (2016).Entre outras instituições, Edmílson Caminha é membro da Academia Brasiliense de Letras, da Academia de Letras do Brasil, sócio correspondente da Academia Cearense de Letras e da Academia Cearense da Língua Portuguesa, sócio da Associação Nacional de Escritores (ANE), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação dos Bibliófilos do Brasil e do Observatório da Língua Portuguesa, em Lisboa, Portugal.

História da AcademiaNa obra História da Academia (Ed. Metamorfose, 2016), José Carlos Rolhano Laitano reúne a história da Academia Rio-Grandense de Letras (1901-2016), apresentando textos e documentos daqueles que compunham o Parthenon Litterario (1868-1885).Rica, tanto no fazer literário, como na postura política dos seus membros, a história da Academia Rio-Grandense de Letras e do Parthenon Litterario é fruto de excelente pes-quisa e contextualização histórica por parte do autor. De acordo com a apresentação da professora Márcia Ivana de Lima e Silva, do Instituto de Letras da UFRGS, “a obra é, ao mesmo tempo, um elogio à tradição e ao legado dos escri-tores gaúchos, como quer Machado, e um resgate da noção de intelectual, proposta por Benjamin. Quer ser, igualmente, um impulso para que a Academia torne-se mais participativa das questões intelectuais de nosso estado”.O professor José Carlos Rolhano Laitano ingressou na magistratura, em 1980, aposen-tando-se logo antes de ingressar no Tribunal para dedicar-se à literatura. Ocupante da cadeira nº 27 da Academia Rio-Grandense de Letras, publicou vários livros, entre eles o romance Youssef, o Judeu Errado (Ed. Metamorfose), Criação Literária – da ideia ao texto (Ed. Letra e Vida), Essa Coisa Chamada Justiça – Chico Mendes (Ed. Vozes), Jogo do Passa-conto (Ed. Italiana), além de organizar e participar de mais de doze coletâ-neas.

A consciência do envelhecerCom a pergunta que dá título ao livro (Velho, Eu?, Editora Galenus, 2017), o autor Antonio Bonifácio Rodrigues de

Sousa reflete sobre a perplexidade de cada um quando nota os primeiros sinais de envelhecimento – em si, no outro ou na natureza. Ao longo de 80 páginas, com um questionário no final, o livro esclarece conceitos interdisciplinares da Gerontologia, propondo uma reflexão consciente de velhice (“processo natu-ral de todo ser vivo”), com autenticidade e significado. O texto apresenta ideias, preconceitos e estereótipos, discorrendo sobre as diferentes fases da vida humana, concluindo com propostas de educação para o envelhecimento saudável. O escritor e professor Antonio Bonifácio Rodrigues de Sousa nasceu em Santa Izabel, no Pará, em 1941. Cursou Teologia na Universidade Urbaniana de Roma, Itália. É pedagogo, formado pela PUC-Rio de Janeiro. licenciado e mestre em Educação pela UERJ. É autor de vários livros publicados, entre eles Ética e Cidadania na Educação (Ed. Paulus), Filosofia e a Prática da Filosofia (Ed. Paulus), Filosofia da Saúde (Interciência-RJ) e O Destino & Eu (Ed. Singular-RJ).

Ordem Equestre do Santo SepulcroA história de uma das mais tradicionais e antigas organizações leigas da Igreja Católica é contada no livro Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém – Origem, história e missão (Editora MM, 2018), em edição bilíngue (português-inglês), escrita pelo Monsenhor André Sampaio de Oliveira. Mais do que a trajetória de uma importante organização religiosa, Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém – Origem, história e missão, conta parte da história da própria huma-nidade. Com 152 páginas, o livro é resultado de 15 anos de pesquisas do autor, que mergulhou em séculos de vida da instituição, fundada em data incerta, muito provavelmente à época das Cruzadas. Diplomata, monsenhor André Sampaio estava a serviço da Santa Sé na Nigéria, quando decidiu contar a história da Ordem do Santo Sepulcro: “Há várias publicações em italiano, francês e inglês, mas, em português, nenhuma, então decidi escrever uma apostila para que damas e cavalheiros conhecessem as raízes da organização para a qual estavam entrando”, conta. Os anos passaram e a apostila se transformou em livro – mais que isto, um livro bilíngue, português-inglês. O autor – nascido, por coincidência, na Paróquia do Santo Sepulcro, em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, monsenhor André foi ordenado sacerdote em 1997. No ano seguinte, ingressou na Escola Diplomática da Santa Sé. Como diplomata, serviu à Santa Sé em missão à Tailândia e Colômbia, para em seguida, assumir o cargo de secretário da Nunciatura Apostólica na Nigéria. No Brasil, ocupou cargos de relevância na Arquidiocese do Rio – foi, por exemplo, secretário do cardeal-arcebispo Dom Eugênio Sales. Atualmente é pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Misericórdia, juiz do Tribunal Eclesiástico no Rio de Janeiro, prior-coadjutor da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém – onde recebeu a condecoração da Concha do Peregrino e o título de comendador – professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio e professor do Pontifício Instituto de Direito Canônico.

Texto e contexto da modernidadeCom mais de 50 mil exemplares distribuídos em escolas, uni-versidades e instituições culturais, a Coleção Dicionários, da Editora Mecenas, alcança sua 12ª edição. Um dos mais impor-tantes projetos editoriais do Rio Grande do Sul, a Coleção já lançou compilações com verbetes sobre a obra de mais de uma dezena de autores da literatura brasileira e universal, como Erico Verissimo (1905 – 1975), Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) e Miguel de Cervantes (1547 – 1616). Inserido no elenco de atividades culturais patrocinadas pelo Grupo Zaffari, essa luxuosa publicação homenageia Mário de Andrade e Oswald de Andrade, com o subtítulo Texto e contexto da modernidade. Composta por centenas de verbetes, acompanhados da definição de cada um deles extraída da obra dos autores homenageados, a cuidadosa edição, em capa dura, é entremeada por fotos e conta com dezenas de textos sobre o legado de Oswald e Mário, redigidos por intelectuais como o professor Antonio Candido, o escri-tor Carlos Nejar e a professora Marília de Andrade, filha de Oswald. Na apresentação da obra, o escritor e editor Luiz Coronel afirma: “Muito além do encantamento literário que esta obra possa nos conferir, ela nos convida a viver e conviver com a forma criati-va dos brasileiros. Mário e Oswald cumpriram a missão fundamental da arte: conduzir a tradição ao presente; e, assim, por mérito e talento, alcançá-la ao futuro.” Entre as singularidades e diferenças dos dois escritores “que o destino deu o mesmo apelido de família”, o acadêmico Carlos Nejar aponta: “Foram extremos que se aliaram dentro da melhor criação contemporânea. Ambos alongaram as possibilidades do idioma, até o possível limite. Ambos são extremos que não dormem e, em luz, se alcançam.”

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JornaldeLetras8

Homenagem pelo centenário do escritor José Condé

Academia Pernambucana de Letras e nossa presidente Margarida Cantarelli, reunidas nesta última segunda-feira, dia 25, festejando o grande e igualmente esquecido escritor José Condé. Ele e Mauro Mota eram amigos fraternais. O Zé das nossas convivências, afetivas. No Recife em nossa casa á tua Amélia, e no Rio de Janeiro á rua da Matriz, em Botafogo. Luisa, companheira infatigável de Condé e do seu êxito literário, no mínimo espaço do jardim. plantara um pequeno umbuzeiro (superestimado), sem querer levantar do chão, sentindo falta do clima do agreste. Em casa, deitado ou sentado, tinha aos seus pés os velhos e amados vira-latas, Teddy e Pepito. Nas vindas ao Recife, José Condé, com Mauro Mota, visitavam o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, à casa de Gilberto Freyre, à do colecionador de Arte sacra e popular, Abelardo Rodrigues, recebendo, de José Condé, peças do artista Vitalino. Mauro Mota, quando diretor do Diário de Pernambuco. Na sua coluna “Agenda”, 2/19/1970, escreveu: “O Romance O Vento do Amanhecer em Macambira do escritor José Condé, considerado sua obra prima. O que senti na releitura desse livro? Que o querido José Condé amanhece e volta!”

E volta mesmo! Como nesta tarde, em nossa Academia, pelas lem-branças revividas, assistidas por pessoas do Recife e Caruaru. O professor, escritor Edson Tavares, lança o seu excelente livro: O Nome do Autor –

O Caso José Condé, Editora Appris, Curitiba-PR/2017, com depoimento do diretor do Instituto Histórico de Caruaru: escritor Valmiré Dimerson. Como palestrantes, as acadêmicas: Ana Maria César, que emocionada fala da sua infância na cidade de Caruaru. Nossa vice-presidente, Luzilá Gonçalves, sempre fluente, sendo solicitada a pronúncia do vocábulo francês. Sem mérito. Eu, Marly Mota, aqui escrevo atendendo ao convite da nossa presidente Margarida Cantarelli para reverenciar, o amigo: Eu, Marly Mota, que aqui escrevo:

Luciana Mota, mais filha, que enteada, morando em Paris, recebe e acompanha o querido casal Condé, vindos de viagens além Portugal. Condé desembarca muito enfraquecido, com frequentes hemorragias, durante à viagem, vomitando sangue, dizia aflita Luisa. Protestando, Condé dizia que não era sangue, era Wisque. Internado no Hospital de Montrouge a 30 minutos de Paris, diagnosticado: Cirrose, causada pelos caramujos nos banhos frequentes, no Ipojuca, com a meninada da sua idade que frequentavam a Escola de Zé Leão. O Rio Ipojuca é o mais poluído do Estado de Pernambuco. Em agosto de 1970, noite da posse de Mauro Mota na Academia Brasileira de Letras, Condé estava muito doente, e Luisa levou-o ao Hotel Florida, (nossa casa no Rio). Ele queria ver Mauro vestido com o fardão. Ficamos todos emocionados. Condé duplamente pelo amigo, e por ele próprio sem tempo para a sonhada glória acadêmica. Com nossos filhos presentes, Luciana veio de Paris à posse do pai. Com os Condé se hospedara. Aos domingos, passávamos as tardes, com eles à rua da Matriz. Levávamos um bom lanche. À mesa, Mauro Mota à maneira tão dele, procurando distrair o amigo, levanta-se, bate forte na mesa, fazendo suspense, falando alto: “O presunto à mesa, não foi comprado na padaria da esquina, este à mesa é da minha Indústria: Presumota. Enlato, até o ronco do porco.” Todos se retorciam de tanto rir. O nosso Zé Condé, sem forças para soltar sua famosa garga-lhada. Em tarde de um dia de primavera, em setembro de 1971, aos 51 anos, morre o José Condé, deixando o muito dele em todos nós.

*Marly Mota é membro da Academia Pernambucana de Letras.

Por Marly Mota

Família, sentido amplo

Outro dia me perguntaram, de que eu tinha inveja.Eu respondi, não tenho inveja de nada, tenho tudo que necessito

para viver, mas minutos depois de refletir!Sim, tenho inveja de uma família harmoniosa, igual à que fui cria-

do, na realidade, não consegui construir.O que é família para você?Família é o elo mais maravilhosa da existência da humanidade, é

a essência da vida. Vejo família na sua amplitude, em sua força, em sua capacidade de dar e ter respeito de todos. Família não é só a esposa e os filhos, isto é parte de uma família, são todos – avós, pais, filhos e princi-palmente os irmãos, quando alguns destes elos quebram, perdem assim a base, e começa a ruir a estrutura básica da vida. Tem um ditado que diz: “Uma andorinha só não faz verão”, pura realidade, assim o mesmo acontece à família, sem todos os elos juntos, não passamos de andori-nhas solitárias no mundo.

Histórias interessantes ouvimos e assistimos contar e ver, princi-palmente dos imigrantes que quando chegaram ao Brasil, sem falar o idioma, sem ter nenhum conhecimento cultural do país que estavam chegando para morar, mas tinham dentro de si, a união de todos que faziam parte daquela pequena família, lutar unidos, todos em prol de um único objetivo, vencer com união, assim seriam fortes e respeitados.

Estas uniões que se deram em todo país, com os estrangeiros, foi clara, mostrou a força da família e este fenômeno familiar acorreu em todos os cantos, assim criaram os filhos, os sobrinhos, os primos, dando-lhes a oportunidades de ter diplomas, única coisa que poderiam dar, pois dinheiro eles não tinham, mas tinha a união familiar.

Existem povos no mundo que sempre foram perseguidos, até nos dias de hoje, são taxados como ladrões, como perigosos, mas, na rea-lidade, não são nada disso. Sabem que sozinhos tornam presas fáceis, então se unem, formando assim um clã, onde um são todos e todos tem só um pensamento, união, para sobreviver e proteger um ao outro. Um destes povos são os ciganos, são sem pátria, nômades, mas vivem em todas as partes da terra, sempre unidos em defesa deles – família cigana.

Estes sentimentos sobre família são os únicos sentimentos que me dá inveja, de não ter conseguido continuar o que me foi ensinado, e, hoje, a vida tudo depende só de mim, deixa uma certa frustação de ver da grandeza que fui criado e ver a desunião que vivo agora. Tento ser feliz a meu modo agora, sou feliz e triste, dois sentimentos que vivem juntos, são inseparáveis, quando um vai o outro fica fazendo compa-nhia.

Você, que está começando a vida, construa família sólida, junto com seus irmãos e irmãs, filhos e sobrinhos todos juntos, com único objetivo, ser mais felizes, ser fortes e unidos, que todos respeitem um ao outro e, quando erros acontecerem, reúnam, conversem e ajudem a não errar. Assim não estariam fazendo algo só para um, mas para todos, mantendo assim a união.

Deus os abençoou e lhes disse:“Sejam férteis e multipliquem-se! Família, unidas, fortes, terão a

paz e amor sempre.”“A família é o lugar ideal para refletir e falar do amor de Deus...”

*Amyn Daher Jr. é escritor.

Por Amyn Daher Jr.*

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Já se tornou lugar comum ouvir o termo “brain drain” ou fuga de cérebros. Brain drain, fuga de capital humano ou de cérebros consiste na emigração de indivíduos detentores de alto grau de conhecimento técnico ou científico para países mais desenvolvidos, devido a fatores como conflitos étnicos, guerras, riscos à saúde, instabilidade política, mas, principalmente, como é o caso do Brasil, à instabilidade econômica com a consequente carência de investimentos em pesquisa nas áreas de ciência e tecnologia, que, por via de consequência, gera a falta de oportunidades de empregos em nosso país.

Tais especialistas são atraídos para trabalhar em países mais desenvolvidos, como os EUA e Europa, já que lá conseguem benefícios pessoais, reconheci-mento da carreira, têm oportunidades de desenvolver pesquisas em ciência e tecnologias, e o mais importante, facilidade de empregos com remuneração adequada.

É importante registrar que os EUA, mesmo tendo o maior número de cientistas em seu território, são o maior receptador dos melhores cérebros do mundo, visando desenvolver novas tecnologias de ponta para que possam ser patenteadas naquele país. Não é à toa que a maioria das inovações tecnológicas tiveram origem por lá e, principalmente, no Vale do Silício e Califórnia.

Se por um lado a emigração das cabeças pensantes para diversos países como os EUA trazem consequências financeiras benéficas para o país receptor, por outro lado, o país perdedor fica carente de um grande potencial de ino-vações, o que é extremamente nefasto e economicamente prejudicial ao país perdedor. Que o diga o Brasil.

As fugas de cérebros são extremamente comuns entre os países mais pobres do planeta, e também entre as nações em desenvolvimento, como

países africanos, ilhas do Caribe, países da América Latina, além do Brasil. Ilustrativamente, citamos um estudo realizado na América Latina, no ano 2000, no qual revelou que, naquele ano, a Argentina perdeu 2,9% dos seus profissio-nais, o Brasil 3,3%, o Chile 5,3%, o Equador 10,9%, a Colômbia 11% e o México 14,3%.

Nesse sentido, o Brasil, que embora para alguns não seja considerado um grande perdedor de pesquisadores, segundo a CAPES e o CNPQ, só em 2015 perdeu quase 50 mil cientistas para universidades estrangeiras, especialmente de setores da Medicina, Engenharia, Cinematografia e inclusive produção grá-fica, haja vista que fenômenos de bilheteria hollywoodiana são frutos de pro-fissionais brasileiros, a exemplo do filme Matrix, considerado uma revolução cinematográfica, e o desenho animado A Era do Gelo I e II.

Com efeito, além das causas já citadas, cumpre elencar outras causas do brain drain no Brasil: A qualidade da educação brasileira fica na 76ª posição entre 129 países de acordo com a Unesco, perdendo até para países africanos, como Zâmbia e Senegal, além de estar abaixo de todos os países da América do Sul. As escolas são ruins, sem estruturas e equipamentos, professores mal pre-parados e mal remunerados. Isso repercute no ensino superior; dentre todos os países, o Brasil é um dos mais corruptos do mundo. As verbas não chegam ao destino final e somos um dos mais burocráticos países do mundo. Tem uma das maiores taxas de juros do planeta, logo, qualquer financiamento para realizar pesquisa em ciência e tecnologia encarece a pesquisa, sobremaneira; uma das maiores cargas tributária do mundo. Fazemos baixos investimentos em inova-ção, pesquisa da ciência e do desenvolvimento tecnológico; falta conexão entre as universidades e o mercado de trabalho (indústrias e empresas em geral).

Arrematando, cumpre asseverar que, para manter nossos pesquisadores em nosso país, trabalhando em inovação e pesquisa para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, é imprescindível a adoção de políticas que evitem que sejamos um “doador de cérebros”. E isso só é possível através de altos investi-mentos em inovação e pesquisa da ciência para o desenvolvimento científico e tecnológico, ou seja, se tornando um polo de inovações para que os pesqui-sadores tenham oportunidades de desenvolver suas pesquisas e possam ter carreiras iguais e empregos bem remunerados.

*Janguiê Diniz é mestre e doutor em Direito - Reitor da UNIVERITAS – Centro Universitário Universus Veritas. Fundador e presidente do Conselho de

Administração do grupo Ser Educacional – [email protected]

Como evitar a evasão de nossos cientistasComo evitar a evasão de nossos cientistasPor Janguiê Diniz*

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Diretoria 2018:Presidente: Marco LucchesiSecretário-Geral: Alberto da Costa e Silva

1ª Secretária: Ana Maria Machado

2º Secretário: Merval Pereira Tesoureiro: José Murilo de Carvalho

Leituras dramatizadas15h | 20 de junho

O Protocolo - Machado de Assis

Teatro R. Magalhães Jr.

Visitas guiadas14h | Segundas, quartas e sextas

Agendamento: (21) [email protected]

Petit Trianon

17h30min | Ciclo de Conferências

A CULTURA EM PROCESSO

Cultura e adversidadeCoordenação: Acad. Domício Proença Filho

Conferencista: Acad. Zuenir Ventura

7 de junho

17h30min | Ciclo de Conferências

A CULTURA EM PROCESSO

Inteligência artificial e cultura Coordenação: Acad. Domício Proença Filho

Conferencista: Muniz Sodré

14 de junho

17h30min | Ciclo de Conferências

A CULTURA EM PROCESSO

Aspectos da cultura brasileira contemporâneaCoordenação: Acad. Domício Proença Filho

Conferencista: Acadêmico eleito Joaquim Falcão

21 de junho

17h30min | Ciclo de Conferências

A CULTURA EM PROCESSO

Língua, cultura e identidade nacionalCoordenação: Acad. Domício Proença Filho

Conferencista: Acad. Domício Proença Filho

28 de junho

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O número 10 no alto do casarão rosa do Cosme Velho, residência do jornalista Roberto Marinho entre os anos 1943 e 2003, não se refere ao endereço, nem aos 10 mil metros quadrados de área verde, com um dos primeiros jardins particulares projetados por Burle Marx. Trata-se do cartaz da mostra inaugural da Casa Roberto Marinho, que fica no número 1.105 da Rua Cosme Velho, transformada em um centro cultural aberto ao público.

A visita começa no jardim planejado por Burle Marx que, além da natureza exuberante, abriga esculturas de Maria Martins, Bruno Giorgi, Ascânio MMM, Beth Jobim, Carlos Vergara e Raul Mourão. Ao entrar no casarão, pode-se apreciar parte da coleção de 1.473 obras adquiridas ao longo de sete décadas pelo jornalista Roberto Marinho, com foco no modernismo e na abstração informal.

A Instituição foi inaugurada com duas exposições. “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, nos anos 1930 e 1940, da coleção particular do jornalista. São 124 obras de Pancetti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Guignard, Djanira, Milton Dacosta, Lasar Segall, Portinari e Burle Marx.

No térreo, a outra mostra em cartaz – “10 Contemporâneos”, série inédita de gravuras de artistas brasileiros em atividade – que usaram “casa” como tema (em uma referência à inauguração do espa-ço) – traz trabalhos de Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Daniel Senise, José Bechara, Lena Bergstein Luiz Aquila, Luiz Zerbini, Malu Fatorelli, Roberto Magalhães e Wanda Pimentel.

À frente dessa empreitada, está um expert no assunto: Lauro Cavalcanti, que, depois de 22 anos no comando do Paço Imperial, se entusiasma com a Direção Executiva do Instituto Casa Roberto Marinho: “A ideia é que o Instituto tenha duas grandes exposições por ano. A próxi-ma, em outubro, incluirá peças do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Queremos incentivar a troca de acervos, particulares ou não. O momento convoca à parceria. Estamos resgatando uma vocação artística e cultural que sempre existiu no casarão, afirma.

O diretor do espaço acompanhou de perto a transformação da casa em centro cultural, que tem ainda livraria, café, cinema e salas para oficinas e cursos sobre temas relacionados a artes. A intenção é criar um centro de referência do modernismo brasileiro, aproveitando a vocação da coleção e conjugando-a à arquitetura do imóvel.

A transformação de uma residência em espaço destinado a expo-sições, apto a receber cerca de 200 visitantes por dia, é de autoria do arquiteto Glauco Campello. A casa foi erguida em 1939, tendo como modelo o Solar Megaípe, construção pernambucana do século XVII. Procurando respeitar a essência do imóvel, Campello adaptou-o às necessidades técnicas de um centro cultural.

Para isso, reforçou as estruturas, promoveu mudanças – o cinema, antes no segundo andar, desceu para o térreo – e fez acréscimos: onde

Casa nota 10Casa nota 10Por Manoela Ferrari

havia o estacionamento, há, agora, um prédio que abriga uma cafeteria, uma pequena livraria e o espaço educativo. A casa da guarda se transfor-mou na recepção aos visitantes. O arquiteto acrescentou, nos fundos do local, uma reserva técnica, que abrigará parte da coleção de 1.473 peças.

Os salões do primeiro andar não foram muito modificados e guar-dam, por exemplo, o piano de cauda da família. No segundo piso, pelo qual se chega através de uma escada onde está exibida uma obra de Frans Krajcberg, encontra-se uma placa sinalizando a sacada do quarto de Roberto Marinho.

De acordo com depoimento dos filhos, Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto “A paixão do nosso pai pela arte está presente em nossas vidas, desde crianças. Ao longo da sua vida, formou uma coleção importante sobre o modernismo brasileiro, ainda que tenha trabalhos relevantes de artistas estrangeiros. Gostava de expor sua coleção para o público e ficava feliz em emprestar suas obras para participar de expo-sições nacionais e internacionais. Não foram poucas as vezes em que se comentou que uma de suas maiores satisfações era ver crianças de escolas em visita a uma exposição. Acreditava que arte e educação caminham lado a lado. Hoje, ao inaugurarmos o Instituto Casa Roberto Marinho com essa exposição, temos a convicção de que a Coleção que ele formou refor-ça muitos valores e princípios da essência do Grupo Globo: a crença no valor da cultura brasileira e na inovação; a paixão pela comunicação em todas as suas dimensões; o compromisso com a estética como caminho para encantar, educar e enriquecer a vida das pessoas; e o investimento num futuro melhor, fazendo todo o necessário para construí-lo.”

JornaldeLetras10

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Fotos: Jaime Acioli e Roberto Teixeira

O Instituto Casa Roberto Marinho nasce no lugar, que por décadas, serviu de residência ao jornalista, no Cosme Velho.

A exposição “Modernos 10” reúne destaques de dez expoentes do modernismo brasileiro, da coleção particular do jornalista Roberto Marinho.

Fernanda Montenegro, ao centro, com Ruth Niskier e Ruth de Aquino, em visita à Casa Roberto Marinho. Ao fundo, o quadro “Santa Cecília” (1954), de Portinari.

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Serviço:A INSTITUIÇÃO. Rua Cosme Velho, 1.105 (3298-9449). De terça a domingo, das 12h às 18h, com ingressos a R$ 10 (meia-entrada a R$ 5). Às quartas, o acesso é gratuito.ÁREA DE EXPOSIÇÕES. Todo o segundo andar, onde antes eram os aposentos privados da família, foi adaptado para receber mostras, com 674 m². No térreo, há outro espaço, com 567m².JARDIM. Os 10 mil m² projetados por Burle Marx ganharam obras de Carlos Vergara, Raul Mourão e Ascânio MMM. No lago, os flamingos deram lugar a carpas, menos suscetíveis ao fluxo de pessoas.CINEMA. Com capacidade para 34 pessoas, exibe um filme dirigido por Antonio Carlos da Fontoura sobre a casa.CAFETERIA. Administrada pelo Metiers Café, com capacidade para 40 pessoas. Nos dias de semana, funciona no mesmo horário da casa. Aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 19h.LIVRARIA. A cargo da Pinakotheke, editora especializada em livros de arte. Vende publicações ligadas às exposições da casa e de arte em geral.ESTACIONAMENTO. Há uma área com vagas para 30 carros, gratuita, em frente à casa.

11JornaldeLetras

No patamar intermediário da escada que leva ao segundo andar, escultura vibrante de Frans Krajcberg (1921-2017).

Jardim com obras de Carlos Vergara e Ascânio MMM.

Abaixo, a obra “Boneco”(1939), de José Pancetti (1902-1958), era um dos quadros preferidos de Roberto Marinho. Ao lado do quadro, um texto do jornalista:

“Toda vez que olho esse pequeno quadro de Pancetti, tenho a comovida sensação de estar olhando para dentro de mim mesmo. Tem ele um poder evocativo que me fascina, pois dentro desse boneco há um menino, envolto de solidão, mistério e fantasia. (...) Minha secreta paixão por esse quadro talvez se explique pelo fato de eu vê-lo como um símbolo do momento solitário em que o menino desenha, com as cores da pureza, o futuro do homem que ele será, um dia.”

O quadro “Roda” (1942), de Milton Dacosta.

No térreo, um dos salões do primeiro piso, a jornalista Manoela Ferrari com piano da famí-lia Marinho.

Óleo sobre tela de 1936-1937, sem título, de Alberto da Veiga Guignard.

A obra Paisagem II (1963), de Tarsila do Amaral.

A obra Kaddish (1917-1918), de Lasar Segall.

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Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected]

Literatura InfantilJL Por Anna Maria de Oliveira Rennhack

JornaldeLetras12

Visite a nossa página na internet: annarennhack.wix.com/amor

O verso do poema do Vinícius de Morais surgiu na minha mente ao pensar em todas as notícias que nos têm surpreendido na área da literatura infantil e juvenil:

• a compra de livros literários pelo governo que exige que os livros para crianças e jovens sejam acompanhados por manuais e vídeos, tutoriais para os professores e a inclusão de textos complementares nos livros que serão destinados aos dos alunos:

• livros infantis e juvenis preconceituosamente banidos ou criticados como não convenientes por professores despreparados para enfrentar pais radicais – incluindo alguns que exigem que os filhos não tenham contato com livros de contos de fadas;

• a desvalorização dos livros de literatura infantil e juvenil em novas regras de importante prêmio literário e o desconhecimento do trabalho dos ilustradores dos livros infantis no mesmo prêmio.

É importante lembrar que, anteriormente, outra premiação impor-tante, ao reunir todos os prêmios em um só, retirou qualquer possibilidade de que um livro infantojuvenil seja vencedor.

No meio desse turbilhão, algumas coisas alentadoras aconteceram.

• O professor Wander Soares, atual presidente da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, assumiu a presidência da Academia Paulista de Educação no dia 17 de maio. Em seu discurso de posse, Wander ressaltou a contínua dificuldade pela qual passa a educação em nosso país e relembrou a afirmativa de Fernando Pessoa: “Não temo o que virá, pois venha o que vier, não será maior que a minha alma”.

• No dia 19 de maio, o Colégio Miguel de Cervantes, de São Paulo, comemorou aniversário com o tema 40 años de Memoria, Creatividad y Conocimiento. Uma marato-na de encontros dos alunos com autores adotados na escola e que tiveram seus livros trabalhados interdisciplinarmente de uma

forma extraordinária. Foi comovente acompanhar as atividades, o entusiasmo e o carinho de alunos e professores e a emoção dos

autores.

• No período de 17 a 20 de maio, aconteceu a Ler – Salão Carioca do Livro. O evento que reuniu vários autores e ilustradores reabriu a Biblioteca Parque do Rio de Janeiro, fechada pelas dificuldades econômicas do Estado. A curadoria de literatura infantil e juvenil ficou a cargo de Volnei Canonica e Verônica Lessa. Um dos destaques foi a homenagem a Ziraldo e a Roger Mello. Volnei Canonica fez a saudação a Ziraldo. Roger Mello teve sua atua-ção destacada por Verônica Lessa e Graça Lima deu depoimento amoroso sobre os artistas homenageados.

• Para terminar o mês com um novo clamor de esperança, no dia 23 de maio, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) completou 50 anos de dedicação e compromisso com a literatura infantil e juvenil de qualidade. A mesa da solenidade foi composta pelo professor Wander Soares, presidente do Conselho Diretor da FNLIJ, Mansur Bassit, secretário da Economia da Cultura, do Ministério da Cultura, Anna Rennhack e Marisa Borba, mem-bros do Conselho Diretor da FNLIJ. A grande homenageada da noite foi Laura Sandroni, uma das fundadoras da FNLIJ, que recebeu o título de Presidente Emérita da Fundação. Destacamos a linda marca criada por Roger Mello para comemorar o jubileu de ouro da FNLIJ.

O presidente da Academia Paulista de Educação (Apedu), prof. Wander Soares e Anna Rennhack.

Húbert Alquéres (1º Secretário da Apedu) e Wander Soares.

Alexandre de Castro Gomes e Cris Alhadef participaram do encontro no Colégio Miguel de Cervantes com as turmas do 4º ano.

O estande temático, reu-nindo todos os trabalhos realizados pelos alunos em diferentes disciplinas, sobre o livro Quem Matou o Saci? (Escarlate), escrito por Alexandre e ilustrado pela Cris.

Volnei Canonica enumera os feitos de Ziraldo, observado por Roger Mello.

Ainda na Ler, Roger Mello lançou Clarice (Global), obra lindamente ilustrada por Felipe Cavalcanti. Na foto, Felipe, Anna Rennhack e Roger.

Ao lado a marca criada por Roger Mello para os 50 anos da FNLIJ.

Laura Sandroni, no momento da homenagem, ladeada por Elizabeth Serra, secretária executiva da FNLIJ e Wander Soares.

Da esquerda para a direita: Wander Soares, Mansur Bassit, Anna Rennhack e Marisa Borba.

E se puder me manda uma notícia boa...E se puder me manda uma notícia boa...

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acervo JL acervo JL acervo JL

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Biblioteca Básica BrasileiraBBBO Jo rna l de Le t ras ap resen ta ma i s t r ê s au to res cu jas ob ras não podem fa l ta r numa B ib l i o teca Bás i ca B ras i l e i ra .

JL Biblioteca Básica Brasileira

Alberto Vasconcellos da Costa e Silva

Nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931. Fez os estudos pri-mários e iniciou o curso secundário no Colégio Farias Brito, em Fortaleza. Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou o Externato São José e o Instituto Lafayette.

Diplomata pelo Instituto Rio Branco em 1957. Professor do Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas do Instituto Rio Branco em 1971-1972. Presidente da Banca Examinadora do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, de 1983 a 1985, e vice-presidente de 1995 a 2000.Membro do Conselho Nacional de Direito Autoral, em 1984 e 1985. Membro do Comitê Científico do Programa Rota do Escravo, da UNESCO, de 1997 a 2005. Membro do Júri do Prêmio Camões em 2001 e 2003. Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Universidade de Ifé), da Nigéria, em 1986, e em História pela Universidade Federal Fluminense, em 2009, e pela Universidade Federal da Bahia, em 2012. Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano de 2003, da União Brasileira de Escritores e Folha de S. Paulo. Homem de Ideias de 2007. Prêmio Camões, 2014. Membro do PEN Clube do Brasil. Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História. Oficial de Gabinete e Assessor de Coordenação do Ministro das Relações Exteriores (1970-74); Grã-cruz da Ordem de Rio Branco; grande oficial da Ordem do Mérito Militar; gran-de oficial da Ordem do Mérito Aeronáutico; comendador da Ordem do Mérito Naval; Condecorações – dos Camarões: oficial da Ordem do Mérito. Da Costa do Marfim: oficial da Ordem do Mérito. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2002 e 2003.

Ivan JunqueiraNasceu no Rio de Janeiro (RJ)

em 3 de novembro de 1934. Assessor de imprensa e depois diretor do Centro de Informações das Nações Unidas no Rio de Janeiro entre 1970 e 1977, foi supervisor editorial da Editora Expressão e Cultura e diretor do Núcleo Editorial da UERJ, além de colaborador de várias enciclopédias.

Como crítico literário e ensaísta, colaborou em jornais e revistas brasileiras, e publicações especializadas, como Colóquio Letras, Leitura e Iberomania. Assessor da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990. Conferencista, realizou palestras no Brasil e em vários países. Participou do Projeto Camões, tendo proferido conferências em Coimbra, Porto, Vila Real, Lisboa e Ponte de Sor. De 1995 a 1997, tomou parte no Projeto Ponte Poética Rio–São Paulo. Recebeu da UFRJ o diploma de “Notório Saber”. Em 1998, foi curador do Programa de Co-Edições da Fundação Biblioteca Nacional, que possibi-litou a publicação de 35 títulos de autores das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Membro titular do PEN Club do Brasil e da Academia Brasileira de Filosofia. Recebeu vários prêmios literários: Prêmio Nacional de Poesia, do INL (1981); Prêmio Assis Chateaubriand, da ABL (1985); Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1995, 2005, 2008 e 2010). Festival Mundial de Poesia, realizado em Santiago do Chile. Recebeu a Medalha do Pacificador Sergio Vieira de Mello, do Parlamento Mundial para a Segurança e a Paz. Medalha Machado de Assis (ABL, 2008), Medalha Euclides da Cunha (ABL, 2009), Medalha Fernando Pessoa (Portugal, 2008), Medalha Gonçalves Dias (2008). Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, dinamarquês, russo e chinês. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2004 e 2005. Faleceu no dia 3 de julho de 2014, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.

Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça

Nasceu em Nazaré da Mata (PE), em 30 de junho de 1939. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco-PE (1962). Cursou o mestrado, na Faculdade

de Direito da UFPE. Professor de Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, de 1964 a 1994, Conferencista em diversos locais: Escola Superior de Guerra – 1970 e 1985, Escola de Comando e Estado Maior do Exército (1994 e 1995), Escola de Guerra Naval da República Argentina – Buenos Aires (1996), Universidade de Helsinki (Finlândia). Associação dos Escritores de Moçambique. Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica – 2002. Universidade Autônoma de Lisboa. Diretor do Departamento de Cultura do Diretório Acadêmico de Direito (1959). Fundador da Academia dos Novos, em Limoeiro-PE. Membro do Conselho Empresarial de Cultura da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Coordenador do Conselho Consultivo da Fundação Cesgranrio (Rio de Janeiro). Membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira 26), tendo sido seu presidente em 4 mandatos. Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (Câmara de Letras). Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Suplente de Senador da República (ARENA) pelo Estado de Pernambuco (Titular: Nilo de Souza Coelho). Honrarias: Ordem do Rio Branco, no Grau de Grã-Cruz (Min. das Relações Exteriores), Ordem do Mérito da Cultura (Min. da Cultura). Ordem do Congresso Nacional no Grau de Comendador (Conselho da Ordem do Congresso Nacional).

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[email protected] Zé Rober to

JornaldeLetras14

Quando a pena não tem pena de ninguémDia desses, eu estava buscando

algumas imagens na internet, acabei esbarrando numa das muitas hemero-tecas online que as bibliotecas públi-cas disponibilizam aos pesquisadores.

Numa delas, encontrei uma das mais divertidas caricaturas que o saudoso Mário Mendez desenhou em toda a sua

vitoriosa carreira, a de um pugilista conhecido na época por Virgolino. Quando dei de cara com o dese-nho, logo me lembrei de uma das histórias mais hilárias que o cari-caturista me contou numa das visitas que fiz a ele, no seu aparta-

mento, no Bairro de Fátima. Me recordo que cheguei a

registrar a história num texto que foi editado e publicado no Jornal da ABI, quando da gestão

do amigo Maurício Azêdo. O fato é simples e divertido, Mendez contou que, entre

as várias caricaturas que desenhou ao longo dos

anos, uma delas quase provocou a ira do cari-caturado. Quando des-

creveu as cenas, Mendez acabou se confundindo e citou como se o burburinho tivesse aconteci-do na redação do jornal A Noite, quando na verdade o fato ocorreu no ambiente do matutinho A Batalha. Esse tipo de confusão é bastante comum, especialmente quando se trata de um artista como o Mendez, que passou por praticamente todas as redações dos principais jornais e revistas cariocas. Quando escrevi sobre o fato para o informativo da ABI, acabei cometendo o mesmo equívoco e, por isso, na época, não localizei a caricatura da discórdia, já que fiz buscas nos arquivos da Biblioteca Nacional, mas no material de A Noite.

Mas vamos aos fatos. O diário A Batalha sempre dedicava bons espaços para informes sobre esportes, principalmente boxe e futebol, e não foram poucas a vezes que as caricaturas do Mendez consagraram os atletas da época.

Durante a segunda semana de março de 1931, Virgolino de Oliveira, conhecido pelo apelido de Lampeão, marcaria presença no rin-gue do Fluminense Futebol Clube, merecendo do Mendez uma incrível caricatura que ilustrou a nota do jornal que, ironicamente, falava: “(...) Dizem que Virgolino é o lindinho dos nossos ringues, mas o Mendez dis-cordou e o fez feio.” Dias depois, mesma arte foi novamente publicada, sempre batizando o valente atleta como o “Lindinho do Catete”. Talvez nem tanto pelas jocosas legendas, mas o que deve ter de fato magoado o pobre Virgolino foi a caricatura. Mendez pegou pesado e reforçou a expressão medonha do pugilista e, num acabamento que hoje seria clas-sificado como politicamente incorreto, o caricaturista acrescentou uma

argola ao beiço de Virgolino, dando a ele um ar de africano selvagem.O que ocorreu dias após, além de ter sido derrotado nas cordas

do ringue, Virgolino se sentiu desrespeitado e foi tirar satisfações com o caricaturista. “Quem é o tal de Mendez? Quero um entendimento com ele!”, disse Virgolino à porta da redação do jornal. Graças ao raciocínio rápido do jornalista Pilar Drumond, que, ao reconhecer Lampeão, avi-sou que o Mendez não estava, já que ele “gozava de merecidas férias”. Contrariado e acreditando na lorota, o injuriado atleta foi embora e não voltou mais. Mendez escapou de levar uns sopapos, mas por um bom tempo foi motivo de chacota de seus colegas de jornal. Era só o Mendez chegar à redação, que alguém gritava: “Olha o Lampeão!”

O título aqui presente é uma referência e reverência ao samba do Salgueiro de 1983, quando a agremiação levou para a Sapucaí o enredo “Traços e Troças”, de Augusto Cesar Vannucci e Lan.

Destaco os versos “A minha pena não tem pena nem perdoa / Mexe com qualquer pessoa / Ela quer se divertir”

O samba foi criado pela dupla Celso Trindade e Bala, e foi magis-tralmente gravado pelo cantor Rico Medeiros.

Caricatura do pugilista Virgolino feita por Mendez.

Mário Mendez e sua autocaricatura.

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Reedição de livros de Dalcidio Jurandir

A Pará.grafo Editora, do Pará, tem trabalhado no sentido de con-seguir um financiamento coletivo para recolocar no mercado obras do escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979). Considerado, com jus-tiça, um dos grandes autores brasileiros do século XX por nomes como Benedito Nunes, Ignácio de Loyola Brandão, Fausto Cunha, Moacir C. Lopes, Antonio Olinto, Sérgio Milliet, Jorge Amado, Haroldo Bruno, Adonias Filho e Luís da Câmara Cascudo, Dalcídio Jurandir, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjun-to da obra, sete anos antes de sua morte.

A campanha pretende reeditar os livros Três Casas e um Rio e Os Habitantes, há décadas fora de circulação (na Estante Virtual, um exem-plar chega a custar 250 reais).

O autor nasceu na paraense Ilha do Marajó, mais precisamente na Vila de Ponta de Pedras, em 10 de janeiro de 1909. Em 1941, publicou seu primeiro romance, Chove nos Campos de Cachoeira, depois de trabalhar como garçom, professor, revisor e jornalista em Belém, no Rio de Janeiro e na própria ilha natal. Comunista confesso, enfrentou perseguição polí-tica e foi preso, na década de 1930.

A Casa de Rui Barbosa, no Rio, é sede do Instituto Dalcídio Jurandir.Encantou-me a leitura de seu livro Santa Maria de Belém do Grão-

Pará, delicioso roteiro histórico, sentimental e turístico da bela capital paraense, cidade que muito aprecio. Outro livro importante na obra desse grande escritor é o romance Chove nos Campos de Cachoeira. Celebrado romance do autor é também Marajó, sobre o qual discorreu o crítico Fausto Cunha: “…um dos maiores romances de toda a literatura brasileira.” Elogio consagrador.

O crítico Haroldo Bruno assim se expressou: “Dalcídio Jurandir está construindo uma das obras mais perfeitas, pela sua coerência testemunhal e pelas suas características de estilo, da moderna ficção brasileira.”

Em 1962, foi lançada, em Moscou, a edição russa de Linha do Parque, apresentada por Jorge Amado.

O escritor publicou também, entre romances e contos, Belém do Grão-Pará, Chão dos Lobos, Linha do Parque, Passagem dos Inocentes, Ribanceira e Ponte do Galo. Em 1972, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Já havia ganho o Prêmio Paula Brito, da Biblioteca do Estado da Guanabara, e o Prêmio Luíza Cláudio de Souza, instituído pelo Pen Clube do Brasil.

Fausto Cunha acentua que o escritor marajoara vinha desenvol-vendo uma espécie de saga, que tinha mais a ver com alguns grandes painéis do romance clássico, na linha de Balzac, Zola, Galsworthy, Rolland, que, com a seriação regionalista, Jorge Amado e José Lins do Rego seriam os nossos representantes mais característicos (O romancis-ta de ‘Marajó’, prefácio à 2ª ed. de Marajó – Rio, Cátedra/Brasília, INL, 1978).

A serviço e a passeio, fui quatro vezes a Belém e a algumas outras cidades do Pará, cuja padroeira é Nossa Senhora de Nazaré, a do Círio famoso. Terra do tacacá, do pato ao tucupi, do pirarucu ao tucupi, do açaí, do guaraná e do cupuaçu. E de dezenas de frutas que dão sucos e sorvetes irrecusáveis. Não tive a sorte de conhecer Marajó, de rica culi-nária, paisagens paradisíacas e onde os búfalos servem de montaria, inclusive para a Polícia Militar, que conta com um famoso Grupamento de Bufaleiros ou Polícia Montada do Marajó. No Marajó, está o maior rebanho de búfalos do mundo. Dezesseis municípios fazem parte do arquipélago, dentre eles Soure, Muaná, Chaves, Cachoeira do Arari, Porto Camará, Salvaterra e Ponta de Pedras. Com cerca de 3 mil ilhas e ilhotas, é o maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo. Grande atração turística nacional e internacional. Um dos mais deslumbrantes cenários da Amazônia.

Por Danilo Gomes*

• • •Em 2013, a excelente revista paulista (em papel couché) Sabor à

Mesa trouxe matéria especial intitulada Sabores da Amazônia, com des-taque para Marajó, com texto de Neide Rigo e fotos de James Oseland. Ali, a gastronomia impera, como sob a batuta de Brillat-Savarin, Carême e outros mestres, como os nativos do arquipélago, grandes cozinheiros. Cozinheiros chefs, como o paulistano Alex Atala e a brasiliense Alice Mesquita de Castro, renderam-se aos encantos da culinária amazônica.

Neide Rigo escreve, com mestria, depois dos dois parágrafos ini-ciais: “Marajó é exagerada em todos os sentidos. Do tamanho da Suíça, é a maior ilha cercada por água doce em todo o mundo! Ela fica no encon-tro do Rio Amazonas com o Oceano Atlântico e, por isso, a qualquer momento, dependendo do tempo e das marés, os pescadores podem fisgar espécies de água salgada ou de água doce.”

A culinária é uma tentação. O filé marajoara é um bife de búfalo com queijo de búfala derretido e batatas fritas crocantes. Filhote (um bagre de água doce que pode chegar a 230 quilos) com molho de ervas frescas, tomate, alho e camarão e banana-da-terra. Arroz e feijão ver-melho. Pimentas em conserva. Farinha d’água. Camarões. Caranguejos recheados com farinha de mandioca na manteiga. Guisado de carne de porco com ervas aromáticas e jambu. Peixe fresco, sempre. E casquinha de muçuã, ou seja, carne guisada suculenta de um pequeno quelônio e farinha d’água amarelada pelos talhos de manteiga quentinha – o pequeno quelônio é servido no seu próprio casco.

Escreve a jornalista: “A caldeirada de peixe chega carregada de ovos, camarão e batatas, em uma panela de barro com arroz e caldo de peixe. Azeite de dendê e leite de coco, para quem gosta. Pães recém--assados numa padaria da aldeia de Pesqueiro, perto de Soure. Nem menciono frutas, sobremesas, temperos de ervas amazônicas, como a alfavaca, o urucum líquido, o coentro-do-pasto ou coentrão e o tucupi.” Escreve a talentosa Neide Rigo: “Comemos felizes e em silêncio, ouvindo as ondas constantes e o suspiro do oceano. É uma poeta (ou poetisa) e tanto. Vamos parar por aqui esse banquete marajoara do nosso grande Brasil, que as eleições de outubro devem mudar para melhor, talvez, com uma boa faxina. Dalcídio Jurandir, apaixonado pela sua terra e sua ilha (ou arquipélago, melhor dizendo) nos trouxe até aqui. Ele ficaria feliz por ver Marajó comentada pela sua literatura, sua culinária, suas belas paisagens e seus quase mitológicos búfalos, pesados parentes dos bucéfalos do Olimpo grego (não dos pégasos voadores)…” Até o grande viajante e historiador Heródoto teria gostado de andar por aquelas belas paragens, para depois narrar nas suas Histórias…

*Danilo Gomes é membro da Academia Mineira de Letras.

Dalcidio Jurandir

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Novos LançamentosJL

JornaldeLetras16

Última chanceAlyson Richman estava no cabeleireiro quando ouviu uma das clientes contar uma história em que a avó da noiva e o avô do noivo, que nunca haviam se encontra-do antes da cerimônia dos netos, perceberam que já se conheciam antes da Segunda Guerra. Esse foi o ponta-pé inicial de Um amor perdido (Bertrand Brasil) livro premiado pelo Long Island Reads que conta a saga de Lenka, uma jovem estudante de arte que se apaixona por Josef, um médico recém-formado e irmão de sua melhor amiga. Na Praga do pré-guerra, eles se casam, mas logo são forçados a se separarem graças aos desdobramentos da perseguição aos judeus na Europa. Os caminhos de Josef o levam para a América, onde tem a oportunidade de recomeçar. Para se livrar dos traumas da morte de vários conhecidos, ele se torna obstetra e se dedica a colocar novas esperanças no mundo. Por algum tempo, tentou encontrar o seu amor perdido, mas as notícias

não foram animadoras. Acreditando que Lenka estava morta, casou-se novamente. A nar-rativa é intercalada entre os relatos de Josef, que dá o tom saudoso contando como con-seguiu ter uma nova vida nos Estados Unidos, longe daquela que foi o seu primeiro amor; e Lenka, que traz a triste realidade da guerra. Em um gueto judeu nos arredores de Praga, bem próximo dos fantasmas de um campo de concentração, ela sobrevive graças os seus dons artísticos e é obrigada a ajudar os nazistas com desenhos técnicos, ao mesmo tempo em que apoia o movimento de resistência dos judeus. Muitos anos depois, já viúvos e ido-sos, Josef e Lenka finalmente se encontram para uma última chance de viverem o amor.

Clarice MeninaClarice (Global Editora), obra inédita de Roger Mello, apresenta, por meio da ficção, as observações de duas crianças que vivenciaram a ditadura militar. O autor entrega no olhar curioso da menina Clarice os questio-namentos de diferentes gerações sobre o exercício de poder do adulto, sobre os medos, as contradições, as fugas e a opressão. Quanto pesa um livro que afunda no lago com a sua história e a história de quem o leu? Quão perigoso é ter um lago de livros emergindo no pensamento? Em fortes linhas, os autores deste livro traçam, como arquitetos, uma estrutura ficcional capaz de transportar o leitor de todas as idades por uma cidade construída e destruída pela utopia. Uma história que subverte o olhar como um caleidoscópio, um filtro, um cobogó, um reflexo no lago. Uma Brasília por memórias familiares sem a preocupação de entregar fatos, mas sim possibilidades de vivências das personagens. A obra reúne os talentos de Roger Mello, já consagrado no Brasil

e no exterior, e do jovem ilustrador e designer Felipe Cavalcante, que revela o seu com-promisso com a arte e a infância. Clarice é uma daquelas histórias que não conseguimos parar de ler e reler porque foi projetada num clima de suspense, em que as mensagens são cifradas e incompletas. Roger Mello nasceu em Brasília, em 20 de novembro de 1965, e vem se destacando como ilustrador e autor de livros infantis, sendo um dos nomes mais aclamados pela crítica e pelo público. Em 2014, ganhou o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio infantojuvenil do mundo.

Dicionário temáticoPara comemorar criticamente os 130 anos da abolição da escravidão, a Companhia das Letras lança coletânea de textos organizados por Lilia Moritz Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes, com cinquenta textos dos maiores especialistas no tema. Um panorama abrangente de como a escravidão se enraizou perversamente em nosso cotidiano. “A meia centena de ensaios concisos que Lilia Moritz Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes reuniram neste volume, com título e intenção de ser um dicioná-rio temático, mostra a grande quantidade de faces que compõem o que é um poliedro em movimento. Cada um desses textos convida a novos textos, a novas pesquisas, a aprofundamentos, a novas comparações e a contesta-ções. Não faltam neste livro parágrafos sobre a espera, a busca e a obtenção da liberdade. Sobre a liberdade como antônimo de escravidão, mas que com ela coexiste para a ela se opor. Se estes ensaios nos dizem que o passado é sem esperança de conserto, eles não nos deixam esque-

cer que não há sombra sem luz”, salienta o acadêmico Alberto da Costa e Silva em seu prefácio. Lilia Moritz Schwarcz é autora de entre outros livros: O espetáculo das Raças, As Barbas do Imperador, O Sol do Brasil, Brasil: Uma Biografia (com Heloisa Murgel Starling; Companhia das Letras, 2015, indicado ao prêmio Jabuti/Ciências Humanas) e Lima Barreto: Triste visionário. Flávio dos Santos Gomes tem publicado dezenas de livros, cole-tâneas e artigos em periódicos nacionais e estrangeiros, atuando na área de Brasil colonial e pós-colonial, escravidão, Amazônia, fronteiras e campesinato negro.

EsquecerAvenida dos Mistérios (Editora Rocco) é o mais recente romance do veterano escritor e roteirista John Irving, autor que completa agora 40 anos de uma bem-su-cedida carreira. Três vezes finalista do National Book Award e ganhador do prêmio em 1980 pelo romance O mundo Segundo Garp, levado para o cinema com Robin Williams no papel principal, Irving retoma em seu mais novo livro algumas de suas obsessões: infância, orfan-dade, religião, sexo, excentricidade, realismo fantástico e escritores. No livro, ambientado entre o México e os Estados Unidos, Juan Diego Guerrero é um interna-cionalmente conhecido escritor mexicano-americano, autor de uma literatura pujante e sedutora, que transita entre a ficção e a realidade. A imaginação extremamente fértil e selvagem serve de contraponto, porém, para uma vida bastante limitada: um acidente na infância aleijou um de seus pés, dificultando seus movimentos. Além disso, um problema congênito no coração o faz tomar

remédios que o impedem de sentir qualquer prazer ou emoções fortes, o que transforma sua existência em uma vida infeliz e medíocre. Mas uma promessa de infância vai fazê-lo romper com sua proteção autoimposta. Juan Diego é o mais novo escritor-personagem de sua galeria de criações, que inclui o fascinante Garp (de O mundo Segundo Garp). Limitado fisicamente, Juan Diego tem uma imaginação sem limites estimulada, principalmente, pela vida incomum que teve desde criança, vivida em um lixão em uma pequena e pobre cidade mexicana. Uma infância que ele deseja desesperadamente esquecer.

CorrupçãoFruto de dois anos de pesquisa, O Delator (Record Editora) é mais que uma biografia; é o raio-x do homem que implodiu a máfia da cartolagem nas três Américas. Traz informações exclusivas, detalhes até então desconhecidos, contratos explosivos jamais revelados e propinas de todos os tipos. Disseca, ainda, a parceria com Ricardo Teixeira e a CBF, que viria a sequestrar dos brasileiros a gestão de seu bem mais amado: o futebol. Os premiados jornalistas Allan de Abreu e Carlos Petrocilo mapeiam, aqui, as metamorfoses de Hawilla. De radialista do interior até senhor de um patri-mônio que inclui afiliadas da TV Globo no interior, fazendas, holdings, jatinhos, fazendas de criação de gado; passando pela compra e venda de placas de publicidade na beira do gramado em estádios. Mais tarde, os direitos de transmis-são televisiva dos mais importantes eventos de futebol do planeta. Os autores revelam, ainda, detalhes de seu depoi-mento ao FBI, após ser acusado de formação de quadrilha,

obstrução de justiça, lavagem de dinheiro, fraude bancária... sem nunca ter sido nem ao menos indiciado em seu país natal. Protagonista de um mega esquema de corrupção que lhe garantiu fortuna e impunidade, Hawilla optaria por se tornar um homem-bomba. E implodir o sistema. Hawilla está para o futebol como Marcelo Odebrecht para a construção civil. Ambos prosperaram em um ambiente de privilégios e pouquíssima transparência. Escrutinar sua trajetória é entender as raízes do subdesenvolvimento de nosso futebol. Pródigo em talentos, mas indigente em gestão e profissionalismo, atrelado a interesses ilegí-timos. O Delator é um gol de placa do jornalismo investigativo.

ExcelênciaO jornalista Cezar Motta entrevistou dezenas de pessoas e mergulhou fundo em uma extensa pes-quisa documental para reconstituir a trajetória do JB desde a sua fundação, em abril de 1891, até o seu fim como jornal impresso, em 2010. Até a Última Página (Editora Objetiva) é um livro fascinante, que aborda desde as relações do jornal com os governos civis e militares até o dia a dia da redação. Os even-tos protagonizados por nomes do quilate de Alberto Dines, Elio Gaspari, Millôr Fernandes, Zózimo, Carlos Castello Branco, Amilcar de Castro, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo, entre muitos outros, acabam por compor uma espécie de mosaico dos mais variados aspectos da sociedade brasileira durante quase um século. Até a última página é leitura indispensável para todos aqueles que desejam conhecer a ascensão e a queda de um dos jornais mais emblemáticos do país. “Este é um livro de jornalista. Talvez por isso se leia com tanto gosto. Como uma grande reportagem.

Para escrevê-lo, o autor pesquisou um bocado, é verdade. Mas, sobretudo, Cezar Motta entrevistou, ouviu, conferiu a revelação de uma fonte com a versão de outra, foi checar em documentos. Por vezes, deixou nestas páginas as contradições entre os diferentes teste-munhos. Teve o cuidado de contextualizar o que foi apurando. Levou anos nesse trabalho, de cuidado e amor à notícia, empolgado com sua pauta”, assim ressalta em seu prefácio a acadêmica Ana Maria Machado, o jornalismo investigativo de Cezar Motta.

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17JornaldeLetras

“O homem tem a dimensão de seu pensamento”

A Academia Brasileira de Filologia, em 2017, entendeu distinguir a obra A Infernização do Hífen, de minha autoria, com o Prêmio Nacional Antenor Nascentes, honraria jamais pensada.

Na condição de pioneiro da Capital da Esperança, desejo dedicar esta pre-miação a Brasília, uma vez que sou o primeiro candango a receber um laurel literá-rio nacional, a quem devo infinita acolhida telúrica.

Amo Brasília! Amo o Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, no dizer de Humberto de Campos em mensagem mediúnica.

Alguns Registros e ReflexõesA minha vinda para o Planalto Central é algo esotérico, inenarrável no con-

texto do universo exotérico. Aos 13 anos, eu já editava um semanário – O Quarteirão, que circulava de

forma restrita na Porto Alegre dos Casais, num bairro antigo, recanto de intelec-tuais, o Alto da Bronze, de tantas memórias.

Aos 20, eu já era um homem velho!Senhor de cutelo e baraço das minhas vontades e decisões, era submisso ao

Alto, tão somente.Dizem os metafísicos que as nossas almas, regentes de nosso viver, são espí-

ritos redivivos no tempo e no espaço.Em verdade, eu não sou dono de mim, mas simples passageiro agônico,

vivente de um momento, porque o tempo não existe, vez que ele é uma criação dos homens.

O acaso me levou ao canteiro de obras da Capital da Esperança, no dizer de André Malraux, nos albores da sua criação, quando a minha alma, em êxtase, se reencontrou consigo mesma.

Vim para ficar, vim para ajudar, para edificar e sedimentar um novo processo civilizatório. Este foi o sentimento que invadiu o meu ser, de forma avassaladora e imperial.

Talvez, a saga do Amanhã.Maktub! Estava escrito...Apesar de ser gaúcho de nascimento, o Nordeste sempre me encantou com

sua cultura, com a sua música, com a sua alegria de viver, com a magia de seu lito-ral, com seu povo aconchegante e hospitaleiro. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, como afirmava Euclides da Cunha em Os Sertões.

Convivi com Câmara Cascudo e fui apaixonado pela singeleza do armorial de Suassuna, gênios que habitaram o meu espírito, marcando-me para a eternidade.

Hoje, eu tenho raízes profundas fincadas no agreste brasileiro, a feitio de mandacarus que sobrevivem à seca e a todas as vicissitudes vivenciais de seu gentio.

Assim, no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, quando a sertaneja Exu feste-java internacionalmente o centenário de nascimento de seu filho mais ilustre – Luiz Gonzaga, a municipalidade e o Estado de Pernambuco me convidavam a lançar o romance Lagoa dos Cavalos, denominação toponímica daquela cidade.

Festa de luzes e cantoria durante uma semana para o Brasil e para o mundo.Lagoa dos Cavalos é um romance histórico, onde a fantasmagoria da ficção

se entrelaça com a história de nosso país, registrando a criação da Guarda Nacional, cópia da francesa Garde Nationale, implantada por um dos homens probos desta nação – Padre Antônio Feijó, célebre Regente, filho de um padre.

O romance mostra-nos as razões porque o Brasil é um país continental, falante da Língua de Camões, harmônico com sua população multifária, de credos, cores e idiossincrasias.

Por sua vez, a obra – A infernização do Hífen nasceu em Brasília, quando a Academia de Letras de Brasília realizou evento imperdível no estudo da língua por-tuguesa – Simpósio Linguístico da Língua Portuguesa, reunindo as cabeças-pen-santes do idioma, congregando os nove países lusófonos.

A temática foi: “O povo, a língua e a gnose”, celebrando-se o Dia Mundial das Línguas!

Como mero ouvinte e atento observador das falas magistrais dos filólogos e gramáticos presentes, convenci-me que algo deveria ser feito, ou seja, a busca das origens da hifenização.

Iniciou-se, então, imensa pesquisa na Torre do Tombo, na biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; assim, perambulei à busca de dados. Pesquisa autodidática, incansável, procurando-se, nos desvãos das entrelinhas dos livros e alfarrábios, o princípio da hifenização.

Por José Carlos Gentili

No Condado Portucalense, o Rei D. Dinis e seus sucessores desconheciam o execrável hífen.

A obra em comento traz luz às sombras infernais da hifenização, explícitas na língua de Camões e, na francesa, revigorada pelo Rei Francisco, que a fixou pela Ordennance de Villers-Cotterêts, em 1539, na França.

Os livros têm o seu próprio destino (habent sua fata libelli) no dizer do gra-mático latino, Terenciano.

Dos 210 milhões de brasileiros, somos uma vintena de partícipes da quase tricentenária Casa do Barão de Lafões – Antiga Academia Real de Letras de Portugal, hoje Academia das Ciências de Lisboa, encontro-me irmanado com intelectuais brasileiros que receberam esta honraria, quais sejam, por ordem de posses: Cleonice Serôa da Mota Berardinelli, José Sarney, Lygia Fagundes Telles, Marcos Vinicios Vilaça, Antônio Paim, Erwin Theodor Rosenthal, Gilberto Mendonça Teles, Arnaldo Niskier, Nélida Piñon, Arno Wehling, Evanildo Cavalcante Bechara, Alberto da Costa e Silva, Massaud Moisés, Fernando Henrique Cardoso, Antônio Gomes da Costa, Vamireh Chacon Albuquerque, Ana Maria Machado, Geraldo Holanda Cavalcanti, José Carlos Gentili, Domício Proença Filho, Deonísio da Silva, Celso Augusto Nunes da Conceição, Renato Galvão Flores Júnior, Edvaldo Boaventura, Merval Pereira, Antônio Carlos Secchin e Marco Lucchesi.

A propósito, diga-se de passagem, que não sou um acadêmico ocasional, passageiro, meramente figurativo; mas, ao contrário, participo ativamente das lides acadêmicas de Além-Mar, a fixar a imagem de Brasília no contexto literário lusófono.

Assim, neste alinhavo, a mais recente comunicação, a pedido do presidente Artur Anselmo, tratou de uma temática assaz polêmica e instigante: – O Futuro da Europa passará também pelo Brasil? Palestra que embasou o novo livro, de igual nominação, que nasce sob as bênçãos prefaciais de Adriano Moreira, ilustre soció-logo lusitano, integrante do nobilíssimo Conselho de Ministros de Portugal.

Às favas a futurologia, razão pela qual se examinou a questão sob o foco da União Europeia, que há 60 anos se consolida, desbancando a ONU, ora em declínio, mostrando que os mercados mundiais se voltam para o Velho Mundo. Assim, nasceu mais um livro, a ser lançado com este título, onde o ledor navegará pelos meandros do poder no mundo.

Fecundo trabalho se concretiza neste primeiro trimestre do ano em curso; primeiro, com palestra envolvendo o direito autoral, intitulada – “A perspectiva humanística: Os direitos autorais e a infância no mundo cibernético”, no contexto do Colóquio sobre o Direito de Autor e Ética: Perspectivas multidisciplinares, na cidade de Lisboa; em segundo plano, comunicação intitulada – “O criptojudeu Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte”, levada a efeito nesta última cidade, sob o patrocínio da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia.

Mais, nos dias 18 a 20, de 2018, palestra de abertura do Congresso Internacional dos 270 anos da Presença Açoriana em Santa Catarina – Mar, História, Patrimônio, Literatura e identidade, evento reunindo centenas de parti-cipantes, nacionais e estrangeiros, inclusive de lentes literárias, coparticipantes da Universidad de Salamanca.

Perguntam-me, sempre?Por que o Brasil não tem um único Prêmio Nobel de Literatura? – indaga-me

o ávido e ilustre leitor destas reflexões, neste momento.Quiçá a resposta se encontre nas profundezas ignotas dos meandros polí-

tico-sociológicos, onde o destino repousa nos braços do acaso, sob as vistas das oportunidades, que regem o universo dos acontecimentos.

Anos passados, por estes acontecimentos do destino, fui privilegiado por ter sido recebido na Svenska Akademien, na Suécia, pelo ilustre Odd Zschiedrich, que ofereceu o tradicional “chá das cinco” em inesquecível e fidalga visita. Hoje, o norueguês Odd, que me honra com fidalguia e distinção, é o poderoso Mestre de Cerimônias da Casa Real, em Estocolmo.

A seguir, passei a conhecer esta notável instituição, a qual dediquei o livro de poesias, Universo do Verso, que elenca os poetas agraciados com Prêmio Nobel; obra, também, com edição espanhola, prefaciada pela dirigente da Universidade de Salamanca a doutora - professora Ascención Rivas Hernández.

O único escritor da língua portuguesa a ser agraciado com o laurel foi o português José Saramago, literato de indiscutível valor e nomeada, que mereceu apoio e incentivo literário do saudoso primeiro-ministro português – Mário Soares, ambos participantes do movimento marxista.

José Saramago, sempre polêmico, foi lapidar e categórico a respeito das nuances e tênues divergências lexicais e semânticas dos falantes e seus falares no mundo da Língua de Camões:

“Não existe a língua portuguesa. Existem línguas em português.”Seria maravilhoso e emulativo para a cultura brasileira, se um escritor bra-

sileiro viesse a receber o galardão, mormente por tratar-se da maior população de língua portuguesa do mundo.

Trago à baila afirmativa de Saramago, encontradiça na obra Ensaio sobre a Cegueira, que nos remete ao universo do incognoscível: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Vejam todos! Reparem todos!Inúmeros e extraordinários literatos do Brasil reúnem inigualáveis condições

de serem agraciados, pois têm visibilidade internacional e um conjunto de obras com dimensão de notável meritocracia. São muitos, velhos e novos escritores, cuja nomi-nação seria um ato imperdoável e insano, face à viabilidade de omissões ocasionais.

Costumo afirmar que o tempo é o senhor das ações e o tempo dirá!

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Lobivar Matos e Manoel de Barros – Cesário Verde e Fernando Pessoa: Aproximações

Chegamos a Corumbá percorrendo as serras, observando o voo dos tuiuiús e das araras azuis, espalhando pelo ar o pó claro da terra calcária. As ruas de paralelepípedos, os casarões antigos, as palmeiras que levam ao porto, tudo nessa cidade é mágico. É fronteira vazada, tríplice (Brasil, Paraguai e Bolívia); é passado das culturas da platina e do chaco. À noite, fantasmas per-correm as avenidas largas. Foi assim que encontrei em frente ao cais, lugar de saudades que se transformam em pedras, o poeta Lobivar Matos. Magro, baixo, orelhas de abano, olhar inquieto, esse corumbaense falecido precocemente em plena fase de amadurecimento pessoal e do movimento modernista, estendeu--me a mão e me fez caminhar pelas páginas de seus livros, pelas sílabas e silên-cios de seus poemas. Areotorare, o livro de estreia, refere-se ao índio que fala aos irmãos da tribo, em volta da fogueira, contando histórias e perpetuando lendas. Sarobá, nome de um bairro pobre de negros, lugar sujo, miserável, onde habitavam a mulata Isaura, o Nhô Juca, Mané Galvão, os moleques, as lava-deiras, os marginalizados, os excluídos, os anônimos, figuras humanas tristes, quase trastes, vestidas de trapos, acostumadas ao banzé de cuia, à bagunça, ao forrobodó. “— Vê, disse-me ele, é uma mancha negra bulindo na cidade mais branca do mundo.” De uma bica, pingava água e fazia lama no chão socado.

Conduziu-me a uma igreja, onde ficou namorando os desgraçados encolhidos na escadaria. “Os verdadeiros santos”, confessou-me ele sobre sua religião pessoal que misturava dor, compaixão e solidariedade.

Literatura é mesmo invenção e memória, concluo enquanto chacoalha o ônibus que me afasta de Corumbá e do fantasma de Lobivar. Abro o livro A Vida e a Obra de Lobivar Matos: o modernista (des)conhecido, da professora Susylene Dias de Araujo, sua tese de doutorado, defendida na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mas se é um trabalho científico em que a autora apresenta Lobivar Matos como “o sábio bororo de Areotorare”; o poeta-filóso-fo-fotógrafo que revela Sarobá à luz dos lampiões e da consciência sociológica; o poeta que nos deixou um livro inédito, o Rendas da Interrogação, datado de 1933, formatado pelo próprio autor, resistindo ao tempo, cheio de devaneios poéticos, coletânea de epígrafes e referências, permeado de dúvidas que se trançam como rendas nas rodas do Destino, por que choro assim? Por que as lágrimas inundam minha face constatando quão inútil foi para o poeta sofrer tanto pela humanidade? Ofereceu-se como sacrifício vivo. Ele que acordara contente numa manhã de sol, com vontade de se estirar na areia, mas que, ao

lembrar dos milhares de irmãos injustiçados, trancafiados nas prisões, come-çou a sentir a úlcera do fígado doer, doer, até estourar. Gemeu e gritou até a morte. As veias e os versos secos.

No capítulo “A Amizade Literária”, um encontro, um tesouro, uma aproxi-mação no tempo e no espaço: Lobivar Matos e Manoel de Barros foram amigos na infância, habitaram o chão da branca cidade de Corumbá. Embora de famí-lias diferentes, receberam o sobrenome Barros em seus registros de nascimen-to. Lobivar, o mais velho, de 1915, teve sua vida abreviada aos 32 anos. Manoel, de 1916, faleceu aos 98 anos, gênio reconhecido, aclamado pelo público leitor e pela crítica. Lobivar e Manoel se conheceram, conviveram em Corumbá e no Rio de Janeiro, onde ambos cursaram Direito e tentaram ampliar seus horizon-tes existenciais e literários. Lobivar apresenta Manoel como “um novo poeta que surge”, “um poeta originalíssimo” o seu amigo Nequinho. Fala entusias-ticamente de uma efervescente geração de poetas, anuncia o surgimento de modernistas no sul de Mato Grosso. Em 1936, Lobivar publica Areotorare. Um ano depois, Manoel publica Poemas Concebidos sem Pecado. Dois jovens poetas amigos. “Lobivar, o Lolito, foi meu amigo até uma semana antes de sua morte”, escreveu Manoel de Barros em carta à professora Susylene, resgatadora de fios e rendas. Influenciaram-se mutuamente. Lobivar vaticinou a liberdade. Manoel viveu-a com intensidade criativa.

Essa história me lembrou de outro encontro, outro tesouro, outra apro-ximação: Cesário Verde e Fernando Pessoa, poetas modernistas portugueses. Amo a dicção dos poetas portugueses! Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 1855, filho de um lavrador e comerciante. Foi obrigado a dedicar-se às ati-vidades práticas que colidiam com seu temperamento sensível. Faleceu em 1886, aos 31 anos. No ano seguinte, Silva Pinto reuniu seus poemas em O Livro de Cesário Verde. Trata-se de um lirismo não amoroso, não metafísico, de um repórter atraído pela cidade pulsante, cheio de emoção perante o real cotidia-no, fascinado pela paisagem citadina, que, ao mesmo tempo, o seduz e o repele, como um visgo, um nojo, um desencanto. No longo poema “O Sentimento de um Ocidental” aparecem “as ruas de Lisboa ao anoitecer, soturnas, melancóli-cas, as sombras, a maresia do Tejo, o gás extravasado, as chaminés, a turba, as fragatas ancoradas, o miado das gatas, o cheiro de peixe podre gerando focos de infecção”. Tudo muito forte, moderno e perturbador.

Morre tão jovem Cesário Verde! O lírico insatisfeito, o visionário de obje-tos e belezas que só mais tarde viriam a ser explorados por Fernando Pessoa, seu discípulo, seu continuador.

Fernando Pessoa, maior poeta português depois de Camões, nasceu em Lisboa em 1888 e faleceu em 1935, aos 47 anos de idade, de cirrose. Assinando com seu heterônimo Álvaro de Campos, escreve o poema “Lisbon Revisited”, claramente inspirado em Cesário Verde. Álvaro de Campos, na cosmovisão pessoana, é poeta irritadiço, grandiloquente, niilista, ofensivo, agressivo em contato com a civilização nas suas engrenagens de máquina. E desabafa aos seus contemporâneos cegos: “Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!”

Encontros, tesouros, aproximações: Lobivar Matos/Manoel de Barros – Cesário Verde/Fernando Pessoa. A arte é longa; a vida é curta. Mais curta ainda para os amados poetas que morreram jovens. Alguns pontos sempre aproxi-mam os poetas: amizades, cidades, livros, pedras, portos e rios. O rio Paraguai e o rio Tejo desembocam na foz, na voz de seus poetas, penso, o rosto encostado no vidro do ônibus que atravessa o Pantanal.

* Raquel Naveira é diretora da União Brasileira de Escritores/Seção SP; pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, à Academia Cristã de

Letras de São Paulo e ao Pen Clube do Brasil.

*Por Raquel Naveira

Sobre Primaveras, Milagres e Rotina

Existe uma expressão muito comum em Inglês: “take for granted”. Significa “tomar como dado” ou não ligar muito para alguma coisa que se tem. Fazemos isso com nossa saúde, com nossos pais, com músicos de rua, com amor, com a beleza das coisas em volta.

Nessa era de informação abundante e comunicação desenfreada, tro-camos qualidade por quantidade com uma rapidez estonteante. É importante prestar atenção ao que importa.

Os filósofos gregos diziam que o sol é um fenômeno muito mais incrível que um cometa. Mas como o sol aparece todo dia, ninguém liga.

Só quem vive noite após noite de um longo inverno tem o coração pre-parado para se encantar com a primavera.

Nesses dias de final de abril, vivo feito cão farejando o ar, sorvendo aro-mas em grandes goles, ouvindo pássaros que antes não estavam, olhando com toda intensidade possível os novos rosas, o verde Van Gogh, o amarelo claro explodindo nas esquinas. Cheiros, sons, imagens que gritam sutilmente. É sensual.

Quem não toma a vida como dada se desaponta com a falta de segundos para absorver tudo. Como um relógio mágico, os brotos das folhas aparecem aos milhões, como se a natureza tivesse passado cada segundo do inverno conspirando.

Segundo o dicionário, milagre vem de “maravilhar-se”, um acontecimen-to extraordinário que, “à luz dos sentidos e conhecimentos até então disponí-veis, não possuindo explicação científica ainda conhecida, dá-se de forma a sugerir uma violação das leis da natureza”. Esse dicionário não me serve e não me cabe. É exatamente o contrário.

Existem milhões de explicações sobre a primavera, mas não servem. A primavera grita sussurrando. Essa é a sua lei. Só para quem sabe e quer ver, ouvir e sentir.

Por Jonas Rabinovitch

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A V Feira Literária Capixaba (FLIC-ES), promovendo o lançamento de 70 obras de autores locais, movimentou o campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), transformando-o num universo de livros e eventos literários. Dos dias 23 a 27 de maio, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), o evento foi idealiza-do em conjunto pela Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e

Academia Espírito-santense de Letras.Ao todo, 9 palestras e 22 mesas redondas foram realizadas, simul-

taneamente, no auditório do Centro de Ciências Exatas (CCE) e na tenda cultural do evento, montada na área externa. Com entrada gratuita, a V FLIC-ES atraiu mais de 10 mil pessoas nos cincos dias.

No final do evento, o III Prêmio Capixaba de Literatura Afonso Cláudio de Freitas Rosa premiou obras inéditas nas categorias “Ensaio” e “Ilustração”, destinadas ao público adulto e infantil.

Homenageado do EventoA Feira acontece anualmente em Vitória e com uma curiosidade: a

cada edição faz homenagem a uma personalidade capixaba. A FLIC-ES,

neste ano, homenageou o escritor, poeta, historiador, professor e advo-gado Afonso Cláudio de Freitas Rosa. Nascido em Mangaraí, município de Santa Leopoldina, a 2 de agosto de 1859, Afonso Cláudio participou ativamente do movimento republicano e, quando da Proclamação da República, foi escolhido primeiro governador do estado do Espírito Santo, nomeado em 20 de novembro de 1889, exercendo o governo até 7 de janeiro de 1890. Foi membro fundador da Academia Espírito-santense de Letras. Faleceu no Rio de Janeiro, 16 de junho de 1934, aos 75 anos.

V Feira Literária movimenta o ESV Feira Literária movimenta o ESPor Manoela Ferrari

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A V FLIC–ES atraiu mais de 10 mil pessoas durante os cinco dias do evento.

No “Espaço do Escritor”, a presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Ester Abreu Vieira de Oliveira, lançou, entre outras obras, o ensaio Metapoema – A poesia em torno de sua própria tessitura.

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