Os 100 Anos de Hannah Arendt

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    Os 100 anos de Hannah Arendt

    por edsonteles ltima modificao 30/11/2006 10:10

    Texto de autoria de Cludia Perrone Moiss, publicado no jornal Valor Econmico, de14 de outubro de 2006Existem autores cuja biografia pode no ter muita importncia para o entendimento desua obra. No caso de Hannah Arendt, podemos dizer que o oposto. O conhecimento desua vida tem importncia fundamental para se aceder a seu pensamento: centrado que nos acontecimentos que ela presenciou, na sua experincia de judia alem refugiada donazismo e nas observaes que pde fazer da sociedade norte americana, na qual viveua maior parte de sua vida.

    Neste sentido, Julia Kristeva denomina gnios, no seu estudo dedicado ao gnio feminino(Hannah Arendt, Melanie Klein, Colette) aqueles que nos obrigam a contar suahistria de vida, por ser indisscivel de suas intenes, das inovaes trazidas pelo seu pensamento e seu ser, do florescimento das questes, das descobertas e dos prazeres queelas criaram. Essas contribuies nos dizem respeito to intimamente que no podemosdeixar de receb-las sem enraiz-las na vida de seus autores.

    Hannah Arendt nasceu em Hannover, na Alemanha, em 14 de outubro de 1906, proveniente de uma famlia de judeus de classe mdia que eram membros do partidosocial-democrtico. Na infncia, j era reconhecidamente brilhante: aos trs anos,mostrava-se capaz de falar corretamente acerca de qualquer assunto. Mas tambm jtinha sua reputao, comprovada posteriormente, de rebelde e independente: expulsa daescola por ter liderado um boicote contra um professor que a teria insultado, preparou-se sozinha para o ingresso na faculdade. Em 1924, aprovada com distino naUniversidade de Berlim, estuda grego e latim, assim como teologia. Decidida a buscar tudo que fosse importante no mbito dos estudos da filosofia na poca, parte para aUniversidade de Marburg, onde conhece o filsofo Martin Heidegger, com quem, almde ter aulas, viveu um romance que a marcaria pela vida toda. Esse romance foiduramente criticado em razo das posies prximas do nazismo de Heidegger e a pretensa falta de condenao dessa postura por parte de Arendt. Na verdade, Arendt nodeixou de critica-lo em cartas a amigos, conforme registra a sua extensacorrespondncia, mas visitou-o no ps-guerra diversas vezes, alm de defender e

    difundir seu pensamento nos Estados Unidos

    Com ele Hannah Arendt aprende o que passaria a ser seu mtodo principal: o pensar apaixonado, isto , a possibilidade de uma sntese entre o pensar e o estar vivo. Pensar no pensar sobre alguma coisa, mas pensar alguma coisa. No existiria neste pensar oposio entre razo e paixo ou entre o esprito e a vida. Dos tempos passados comHeidegger levaria, alm do pensar apaixonado, o amor pela poesia, mas tambm uma

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    viso crtica em relao a uma filosofia voltada para o indivduo em isolamento. Estaseria, posteriormente, uma de suas principais preocupaes em relao modernidade:a tentao do ser humano para a interiorizao e a conseqente perda do espao pblicoou do que ela chamou de dignidade da poltica.

    Nessa poca, est preparando sua tese de doutorado,O Conceito de Amor em Santo Agostinho,e por recomendao de Heidegger parte para a cidade de Heildeberg paraestudar com Karl Jaspers, de quem se tornaria amiga e discpula at o final da vida.Arendt herda de Santo Agostinho o conceito de comunidade. Para Santo Agostinho,amamos uns aos outros, pois pertencemos mesma comunidade: todos nsdescendemos de Ado(da a idia de gnero humano) e todos compartilhamos domesmo destino: a morte. No entanto, preciso observar que a morte, nesse contexto,no algo negativo. A morte, para Santo Agostinho, remete necessariamente aonascimento. Assim, nosso destino comum nos faz lembrar do incio, do milagre doincio, do novo comeo, ou danatalidade, como diria Arendt, que passaria a ser umacategoria central de seu pensamento.

    Em 1933, porm, Arendt e seu primeiro marido, Gunther Stern, um colega de faculdadeespecialista em filosofia da msica, so forados a sair da Alemanha rumo Frana, emconseqncia do aumento das perseguies aos judeus. Ela j havia sido detida einterrogada diversas vezes em razo de seu trabalho para a Organizao Sionista Alem,com quem romperia em 1944 por discordar da posio do sionismo em relao Palestina. Permanece em Paris at 1941, onde continua a desenvolver seus trabalhostanto intelectuais como polticos, torna-se amiga de Walter Benjamin, separa-se do primeiro marido, casa-se com o segundo, o anarquista Henrich Blucher, que conheceraem 1936. Depois de ser presa num campo de concentrao perto da fronteira espanhola(Gurs), por algumas semanas, decide fugir mais uma vez e parte para Nova Iorque,onde permanecera o resto de sua vida.

    Nessa poca Arendt, j estaria marcada por trs vertentes ou formas de pensar: a primeira, seria a utilizao do mundo clssico como base para a verificao de proposies morais e polticas; a segunda, seria a filosofia crist baseada em SantoAgostinho, em especial a questo da responsabilidade pessoal, e a filosofia cosmopolitade Kant; em terceiro lugar, os filsofos da tradio do existencialismo: Kierkegaard,Husserl e Heidegger.

    Durante todo o tempo aps sua fuga da Alemanha, Arendt se tornaria aptrida, isto ,sem nacionalidade alguma. E isso no um detalhe, pois traria influncia marcante parasuas reflexes, como a idia da importncia do chamado direito a ter direitos, ou seja,da cidadania, na garantia dos direitos humanos. Somente em 1951 consegue a cidadanianorte-americana. Esse ano tambm seria o de sua consagrao. A publicao de sua

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    obra O rigens do Totalitarismo saudada, nos EUA, como grande acontecimento e ela passa a receber o reconhecimento pblico de seu pensamento.

    Em O rigens do TotalitarismoArendt descreve o processo pelo qual, depois dosTratados de Paz que puseram fim Ia. Guerra mundial, os direitos do homem herdadosda tradio das Revolues, passaram por uma prova de fogo. Considerados inexistentes para uma categoria de pessoas consideradas como sem direitos por serem aptridas,os direitos do homem demonstraram sua ineficcia quando desvinculados da cidadania.Essa foi tambm a situao das pessoas pertencentes s minorias nacionais de muitos pases, que por fora da guerra, haviam sido transformadas em refugiadas, semencontrar um lugar no mundo.Eram os chamados indesejveis da Europa, como diziaArendt:uma vez fora do pais de origem, permaneciam sem lar, quando deixavam seu Estado, tornavam-se aptridas: quando perdiam seus direitos humanos, perdiam todosos direitos, eram o refugo da terra .

    A crtica que Arendt efetua da questo dos direitos do homem diz respeito suaabstrao, que se tornaria manifesta no momento em que no tivessem mais apoio nacidadania: o s direitos do homem, afinal, haviam sido definidos como inalienveis porque se supunha serem independentes de todos os governos: mas sucedia que , nomomento em que seres humanos deixavam de ter um governo prprio, no restavanenhuma autoridade para proteg-los e nenhuma instituio disposta a garanti-los. Aemergncia do totalitarismo, com seus requintes de crueldade em relao aos sereshumanos destitudos de proteo estatal, s veio a ser possvel, segundo Arendt, porquefoi precedida por um processo, no entre guerras, que ela denominoudestituio dohumano. Esse processo se deu por etapas: primeiro, a destruio jurdica e moral dosindesejveis, para chegar ento sua destruio psicolgica e fsica. No por acasoque os nazistas iniciaram a perseguio aos judeus e outras minorias dentro daAlemanha, privando-os da cidadania. A desnacionalizao havia-se tornado poderosaarma da poltica totalitria. A soluo final de Hitler, aponta Arendt, seria umaeloqente demonstrao de como liquidar os problemas relativos s minorias e aosaptridas. O nazismo ilustraria, de forma concreta, a vacuidade de princpios humanistase de direitos abstratos em relao a pessoas privadas de cidadania.

    Conforme aponta Celso Lafer (introdutor do pensamento de Arendt no Brasil) em seuestudo fundamental, A reconstruo dos direitos humanos um dilogo com o

    pensamento de Hannah Arendt , a reflexo que Arendt efetua em torno da condio deaptrida permite-lhe concluir que, num mundo como o do sculo XX, inteiramenteorganizado politicamente, perder a cidadania significava ser expulso da humanidade, denada valendo os direitos humanos aos expelidos da trindade Estado/povo/territrio.

    Nem a sacralizao do direito natural pelo pensamento humanista, oriundo doIluminismo, nem o modelo do Estado-nao ofereceram garantias para impedir o

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    advento do totalitarismo e as brbaries que se seguiram.O conceito de direitos humanos,baseado na suposta existncia de um ser humano em si, desmoronou no mesmo instanteem que aqueles que diziam acreditar nele se confrontaram pela primeira vez com sereshumanos que haviam realmente perdido todas as outras qualidades e relaesespecficas exceto que ainda eram humanos.O mundo no viu nada de sagrado naabstrata nudez de ser unicamente humano.Esta ltima frase seria um anncio do que, a partir de Foucault, passando por Georgio Agamben e outors pensadores damodernidade, seria denominadobiopoltica.

    O rigens do Totalitarismo,e a Condio Humana (1958)so as obras que contm asidias mais difundidas de Arendt. Em aCondio Humana, publicada em 1958, ela procura responder pergunta: o que estamos fazendo? E a partir de trs categorias deatividades da vida ativa -o labor, o trabalho e a ao - aponta para a destruio dascondies de existncia do ser humano no mundo moderno, operada pela sociedade demassa. Nesta obra, sua proposta consiste em detectar o que genrico e o que especfico na condio humana, por meio do estudo dessas trs atividades fundamentais,que integram o que ela denomina devida ativa.

    O labor uma atividade derivada da necessidade e concomitante futilidade do processo biolgico. Porque a atividade que os homens compartilham com os animais, qualifica-a como a doanimal laborans. Segundo ela,o labor a atividade que corresponde ao processo biolgico do corpo humano, cujo crescimento espontneo, metabolismo eeventual declnio tm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelolabor no processo da vida. A condio humana do labor a prpria vida.

    O trabalho, ao contrrio do labor, no est contido no processo vital. atravs dele queo homem, neste caso ohomo faber,cria coisas, extradas da natureza, convertendo omundo num espao de objetos partilhados pelo homem. a atividade que garante a permanncia de um mundo comum, a durabilidade do mundo. esta durabilidade queempresta s coisas do mundo sua relativa independncia dos homens que a produziram,garantindo a permanncia do mundo.

    A terceira atividade, a ao, segundo ela, a nica que se exerce diretamente entre os

    homens sem a mediao das coisas ou da matria, e tem como atributo criar a possibilidade para o exerccio da liberdade e, conseqentemente, a instaurao do novo. No entanto, a ao desencadeia um processo irreversvel e imprevisvel. Preocupadacom a fragilidade dos assuntos humanosem que os atos so irreversveis eimprevisveis e para garantir aos homens o espao pblico, Arendt apresenta como possvel soluo, o emprego de duas potencialidades da prpria ao: o perdo e a promessa. A nica soluo possvel para o problema da irreversibilidade aimpossibilidade de se desfazer o que se fez, embora no soubessem ou no pudessem saber o que se fazia a faculdade de perdoar.Para Arendt, existem, contudo, duas

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    ressalvas a serem feitas em relao ao perdo. A primeira diz respeito ao que eladenomina imperdovel ou mal radical, na esteira de Kant, cujo exemplo mais prximoeram os crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas na IIa. Guerra Mundial,em relaao aos quais no haveria a possibilidade de perdo. A outra ressalva consiste

    na idia de que o que se perdoa no o ato e, sim, o agente. O perdo dirigido aalgum que cometeu algo. , portanto, um ato de amor.

    Quanto possibilidade de um substrato divino do perdo, Jacques Derrida, que tambmse dedicou profundamente ao tema( Foi et Savoir ), em entrevista a ElisabethRoudinesco, ao falar de Arendt, nos lembra-nos que, para ela, o perdo umaexperincia puramente humana, mesmo no caso de Cristo, que ela, para lembrar suasrazes terrestres, chama sempre de Jesus de Nazar.

    Sendo as aes humanas, alm de irreversveis, imprevisveis, como prope Arendt: a soluo para o problema da imprevisibilidade, da catica incerteza do futuro, estcontida na faculdade de prometer e cumprir promessas,chamando a ateno para o fatode que, contrariamente ao perdo, que sempre foi considerado irrealista e inadmissvelna esfera pblica, a promessa sempre esteve presente, desde os romanos, por meio daidia da inviolabilidade dos pactos. A promessa instalailhas de previsibilidadenooceano de incertezas dosassuntos humanos.

    Como podemos ver, Arendt passaria a dedicar-se poltica de forma integral. Ementrevista televiso alem, em 1964, afirmou: No sou filsofa. Minha profisso se pode ser chamada assim a teoria poltica. Eu me despedi irreversivelmente da filosofia. Estudei filosofia, mas isso no quer dizer que permaneci nela. A razo, por simesma, a faculdade de pensar que possuo, tem necessidade de atualizar-se. A preocupao com a poltica permeia toda sua obra, quer pela anlise de regimes ousistemas de governo, como o totalitarismo, ou de temas correlatos, como autoridade,liberdade, revoluo, violncia e desobedincia civil, em livros como Entre o Passado eo Futuro, Crises da Repblica e Da dignidade da poltica. A seu ver, o exerccio do pensamento poltico consiste em mover-se na lacuna entre o passado e o futuro,tomando os acontecimentos do presente, da experincia viva, dos quais o pensamento pode emergir.

    .

    Em 1961, um acontecimento seria determinante no percurso intelectual de Arendt.Enviada para Jerusalm para assistir e cobrir, para a revista New Yorker , o julgamentodo criminoso nazista Eichmann, que se transformaria posteriormente no livro, Eichmann em Jerusalm - Um relato sobre a banalidade do mal,essa experincia resultar no retorno filosofia. Foi no seio da comunidade judaica, estendendo-se posteriormente a outros meios, que se desenvolveu a mais famosa polmica gerada pelo

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    livro. Gershom Scholem foi implacvel por ela ter relatado as condies da cooperaodas lideranas judaicas, atravs dos Conselhos Judaicos, durante o estgio de deportaoda mquina de extermnio nazista. Para um judeu, o papel desempenhado peloslderes judeus na destruio de seu prprio povo , sem nenhuma dvida, o captulomais sombrio de toda uma histria de sombras, dizia Arendt. Sendo acusada, por Scholem, de lhe faltar amor ao povo judeu( Ahabath Israel ), responde que sempreconsiderou a sua judaicidade como algo dado que ela jamais quis mudar ou repudiar,mas que nunca amou povos ou coletividades - como o povo alemo, francs ouamericano, ou a classe operria. Na mesma reposta afirma ainda que tinha grandeconfiana na capacidade de cada um pensar por conta prpria. O pensar por conta prpria um legado de Lessing, uma das figuras intelectuais biografadas por ela no belssimo livro Homens em Tempos Sombrios.

    A expressobanalidade do mal foi outro foco de discrdia por ter sido vista comotrivializao do ocorrido. Para alguns, Arendt havia trado a idia domal radical defendida anteriormente passando a consider-lo apenas como banal. Ocorre que Arendtnunca abandonou a idia do mal radical, mas o que presenciou em Jerusalm no seenquadrava na definio. Abanalidade do mal estava ligada incapacidade de pensar e execuo automtica de tarefas do burocrata moderno.

    Segundo Arendt, Eichmann no era um monstro, mas era difcil no desconfiar quefosse um palhao. At suas ltimas palavras foram frases feitas. Diante dessas palavras,Hannah Arendt explica por que teria sido levada a adotar a expresso banalidade domal. Foi como se naqueles ltimos minutos estivesse resumindo a lio que este longocurso de maldade humana nos ensinou - a lio da temvel banalidade do mal, quedesafia as palavras e os pensamentos. Apesar de concordar com a pena de morteaplicada, ela nos deixa um alerta: faz parte da prpria natureza das coisas humanas quecada ato cometido e registrado pela histria da humanidade fique com a humanidadecomo uma potencialidade muito depois da sua efetividade ter-se tornado coisa do passado. Nenhum castigo jamais possuiu poder suficiente para impedir a perpetraode crimes.

    J no final da vida, a partir do incio dos anos 70 ela retorna ento filosofia. Ainda sobo impacto de seu relato do julgamento de Eichmann, em que se deparou com aincapacidade de pensar como uma possibilidade para a dificuldade do juzo, porque

    Eichmann no pensava no que estava fazendo, que no tinha a capacidade de identificar sua conduta como criminosa, ela comea a escrever AVida do Esprito,obra que ficariainacabada com sua morte em 4 de dezembro de 1975, e que seria dividida em trs partes: o pensamento, a vontade e o juzo. Uma das perguntas neste livro seria: o queestamos fazendo quando estamos pensando? Sua preocupao consistia em indagar como podemos, sem nos afastarmos do mundo ou transcendermos a ele, retirar-nosapenas o bastante, ou seja, ter a distncia necessria para chegar compreenso.Outra pergunta da resultaria: a capacidade de pensar que nos faz distinguir entre o bem e omal?

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    A compreenso a base do pensamento de Arendt: dizia que no queria educar ouconvencer, mas apenas compreender. Pedia ainda que no fizssemos esforos paraconcordar com ela, mas apenas pensar no que ela estava dizendo. Pensadoracontrovertida, manteve-se sempre afastada das escolas acadmicas, partidos polticos elinhas ideolgicas. Da decorre a relutncia de alguns meios em aceitar sua obra, pois,como ela mesma dizia,de certa forma, eu no me enquadro.

    No que se refere sua viso do mundo, podemos dizer que seu pensamento realista,sem, no entanto, cair no pessimismo estril. Aps o julgamento de Eichmann, ela diria,de forma visionria: a s razes particulares que falam pela possibilidade de repetiodos crimes cometidos pelos nazistas so ainda mais plausveis. A assustadoracoincidncia da exploso populacional moderna com a descoberta de aparelhostcnicos que, graas automao, tornaro suprfluos vastos setores da populao,at mesmo em termos de trabalho, e que, graas energia nuclear. possibilitam lidar com essa dupla ameaa com o uso de instrumentos ao lado dos quais as instalaes de gs de Hitler pareceriam brinquedos de uma criana maldosa - tudo isso deve bastar para nos fazer tremer .

    Estamos festejando o centenrio de Hannah Arendt, o que no uma celebraoqualquer. Sua obra permeada pela idia do nascimento, do milagre do novo. Ohomem, para ela, capaz de realizar o infinitivamente improvvel, e isso s possvel porque cada homem singular; a cada nascimento, vem ao mundo algo desingularmente novo. H cem anos, uma criana veio ao mundo , algum queacreditaria na possibilidade do incio de um novo comeo, mesmo vivendo numa pocaem que o mal se mostrou ao mesmo tempo banal e radical, mas sempre extremo. VivaHannah Arendt!