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Os adolescentes e as drogas
Silvia Moreira Trugilho
Os adolescentes constituem um grupo de alto risco para a utilização de drogas.
Os adolescentes e os grupos
Muitos adolescentes experimentam as drogas sem, contudo, evoluir para a toxicodependência.
Nesta etapa de vida as pressões dos grupos de pares, a necessidade de contestação como prática de liberdade são fatores que levam rapazes e moças a experimentar drogas.
O grupo de adolescentes é um espaço de experimentação, onde os valores do grupo superam os da família. O grupo lhe oferece a sensação de pertencimento, segurança e a sensação de ser alguém, de ser importante.
O uso de drogas
A utilização de drogas é um sintoma que denuncia um grave comprometimento com a possibilidade de se lidar com a frustração. É uma negação maníaca da frustração.
O efeito psicológico desejado é sempre de um anestésico para a angústia, mesmo que o efeito físico-químico seja diverso.
O estímulo da mídia.
É comum que anúncios de cigarros e bebidas alcoólicas estejam associados a sucesso, dinheiro, felicidade no amor, numa fantasia de felicidade plena, sem frustrações. O adolescente é presa fácil deste apelo.
A dificuldade da saída
Os grupos de usuários geralmente mantêm-se fechados, inclusive procurando evitar a saída de algum membro, devido à intensa inveja que essa saída produz. Os laços com “os de fora” (os caretas) não são desejáveis, até porque o grupo de fecha em torno de um discurso extremamente pobre, no qual a temática da droga e seus efeitos é preponderante.
A importância dos limites
O adolescente que usa droga tem que a prender a ouvir e a dizer não, a obedecer limites. Assim poderá aprender a lidar com a frustração e a construir seus limites. O limite é uma ação de cuidado. A falta de limites por parte dos pais pode ser sentida pelo adolescente como uma menos valia de si.
O narcotráfico
O narcotráfico tornou-se um poder paralelo que movimenta enormes quantidades de dinheiro.
O negócio do narcotráfico tem chegado a movimentar uma cifra de 600 bilhões de dólares na América Latina.
As drogas tornaram-se elos de integração do continente americano, através de suas ligações com a política e a economia dos países envolvidos, mas sobretudo pela corrupção de políticos e policiais que facilitam os negócios do narcotráfico para também fazer dinheiro por meio de propinas, comissões, desvio de verbas, etc. Dinheiro esse que é depois lavado no mercado de capitais, em negócios imobiliários, na agropecuária, etc.
Os traficantes atuam de forma intensa na economia de países como a Colômbia e o Brasil e promovem de forma efetiva a desestruturação do Estado de direito criando um “estado paralelo”, com leis e justiça próprias, implicado uma radical mudança no posicionamento ético de certo segmento da sociedade, no qual dissemina um padrão aético de comportamento.
O narcotráfico está ainda ligado ao contrabando de armas, de ouro de pedras preciosas, de madeira.
No Brasil o narcotráfico surgiu vinculado ao problema do contrabando, que para existir necessita estar firmemente associado à corrupção do aparelho policial e do Judiciário. Foi pouco a pouco ganhando espaço devido às facilidades que encontrou e encontra em certos segmentos da classe política.
A estrutura do narcotráfico no Brasil é sólida, complexa e tem bases difusas. Seus agentes são ágeis, violentos, fiéis ao crime, eficientemente operativos, competentes e com notável força de penetração no aparato policial, jurídico e político.
Das 500 favelas e conjuntos habitacionais do Rio de Janeiro, praticamente todas têm tráfico de drogas.
O Brasil é o maior consumidor de drogas na América Latina e pode, com facilidade, chegar a ser o segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos estados Unidos
Facilidades ligadas à droga
Um dos barateadores do preço da cocaína e seus derivados é a grande oferta de metanfetaminas (drogas sintéticas de grande poder aditogênico e com custo de fabricação relativamente barato).
A produção de metanfetamina não demanda grandes laboratórios, pode-se fabricá-la em casa, o que reduz o seu custo e barateia sua venda. Pode ser produzida, distribuída e vendida por um único indivíduo.
Das metanfetaminas, a de maior repercussão é o MDMA (mais conhecido com ecstasy). O seu consumo vem crescendo notadamente entre os jovens de classe média brasileira (especialmente em boates e raves).
O enfrentamento do narcotráfico
As ações contra o narcotráfico devem envolver a sociedade civil como um todo. Deve envolver o maior número possível de atores sociais, diversificando assim a luta contra o narcotráfico.
OS ADOLESCENTES TRABALHADORES DO TRÁFICO
O tráfico de drogas divide seus trabalhadores em várias categorias, com as seguintes funções: soldado, avião, olheiro, fogueteiro, gerente da boca, gerente do branco, gerente do preto, contador, etc.
Os adolescentes são recrutados para fazer a segurança da base dos morros usando pistolas. Podem atirar à vontade pois não falta munição.
A preferência pelos adolescentes se dá por diversos fatores, tais como: estão menos sujeitos a penas; oportunidade de ingresso num mercado produtivo (o que ainda lhes possibilita a inserção no mundo do consumo); o fascínio cultuado aos líderes do tráfico por portarem armas, que são tomados como modelos de identificação.
Em nenhum outro país a experiência com a utilização de adolescentes no tráfico foi tão bem sucedida como no Brasil.
A “adrenalina”
Associado à necessidade de ter modelos de identificação, está a questão da busca de desafios, de correr riscos. O adolescente busca emoções e riscos como forma de consolidar o seu eu. No entanto, quando suas condições psicológicas são precárias e o seu contexto familiar é conturbado, a escolha de modelos identificatórios bem como a noção de correr riscos ficam severamente distorcidas.
Profissão “rentável”
O adolescente se torna um profissional do tráfico num trabalho muito bem remunerado para o seu nível de escolaridade (aproximadamente R$300,00 a R$400,00 por semana.
Esta profissão rentável, em que o risco é extremamente negado, surge em oposição ao trabalho honesto dos pais que nunca os levou a mudar de vida e serve apenas para sobreviver.
O fascínio sobre o jovem
Mas é um trabalho que atrai o adolescente pelo fascínio de andar armado, de pertencer a um grupo forte, de ter dinheiro e poder e de infundir temor nos adultos.
Trechos extraídos da obra:
FREITAS, Luiz Alberto Pinheiro de. Adolescência, família e drogas. Rio de janeiro: Mauad, 2002.