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INTRODUÇÃO O nome “atributos” não é ideal, desde que transmite a noção de acrescentar ou consignar alguma coisa a alguém, e, portanto, pode criar a impressão de que alguma coisa é acrescentada a Deus. Incontestavelmente o termo “propriedade” é melhor, no sentido de indicar algo que é próprio de Deus e de Deus somente. Naturalmente, dado que alguns dos atributos são comunicáveis, o carácter absoluto da palavra “próprio” é enfraquecido, porque alguns dos atributos não são próprios de Deus no sentido absoluto da palavra. De modo geral, é preferível falar das “perfeições” ou “virtudes” de Deus, com o entendimento, porém de que, neste caso, o termo “virtudes” não é empregado em sentido simplesmente ético. Agindo assim, a) seguimos o uso da Bíblia, que emprega o termo “Arete”, traduzido por “virtudes” ou “excelências” em 1 Pe 2.9; e b) evitamos a idéia de que alguma coisa é acrescentada ao Ser de Deus. Suas virtudes não são adicionadas ao Seu Ser, mas, antes, o Seu Ser é a sede de Suas virtudes e nestas se revela. Definição: Os atributos de Deus são “as perfeições que constituem predicados do Ser Divino na Escritura, ou que são visivelmente exercidas por ele em Suas obras de criação, providência e redenção.” Continuaremos a utilizar a expressão “atributos”, porque é habitualmente utilizado, e o faremos com claro entendimento de que se deve excluir rigidamente a noção de algo acrescentado ao Ser de Deus. “O fundamento de todo o conhecimento verdadeiro de Deus só pode ser a clara compreensão mental de Suas perfeições, segundo revelam as Escrituras Sagradas. Não é possível servir nem adorar um Deus desconhecido, nem depositar nEle a nossa confiança” A.W. Pink Na verdade, só conhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma, quando nos rendemos a Ele, quando nos submetemos a Sua autoridade e quando os Seus preceitos e mandamentos regulam todos os pormenores da nossa vida. Deus se revelou através das Escrituras, todavia, os homens andam a procura de outros métodos, que têm seu ponto de partida na experiência humana e não na palavra de Deus revelada. Deliberadamente ignora-se a clara revelação que Deus nos dá de Si

Os atributos de deus

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Precisamos quem buscamos e adoramos. Este artigo fala de todas as perfeições de Deus reveladas nas escrituras.

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INTRODUÇÃO

O nome “atributos” não é ideal, desde que transmite a noção de acrescentar ou consignar alguma coisa a alguém, e, portanto, pode criar a impressão de que alguma coisa é acrescentada a Deus.

Incontestavelmente o termo “propriedade” é melhor, no sentido de indicar algo que é próprio de Deus e de Deus somente. Naturalmente, dado que alguns dos atributos são comunicáveis, o carácter absoluto da palavra “próprio” é enfraquecido, porque alguns dos atributos não são próprios de Deus no sentido absoluto da palavra.

De modo geral, é preferível falar das “perfeições” ou “virtudes” de Deus, com o entendimento, porém de que, neste caso, o termo “virtudes” não é empregado em sentido simplesmente ético. Agindo assim, a) seguimos o uso da Bíblia, que emprega o termo “Arete”, traduzido por “virtudes” ou “excelências” em 1 Pe 2.9; e b) evitamos a idéia de que alguma coisa é acrescentada ao Ser de Deus. Suas virtudes não são adicionadas ao Seu Ser, mas, antes, o Seu Ser é a sede de Suas virtudes e nestas se revela.

Definição: Os atributos de Deus são “as perfeições que constituem predicados do Ser Divino na Escritura, ou que são visivelmente exercidas por ele em Suas obras de criação, providência e redenção.”

Continuaremos a utilizar a expressão “atributos”, porque é habitualmente utilizado, e o faremos com claro entendimento de que se deve excluir rigidamente a noção de algo acrescentado ao Ser de Deus.

“O fundamento de todo o conhecimento verdadeiro de Deus só pode ser a clara compreensão mental de Suas perfeições, segundo revelam as Escrituras Sagradas. Não é possível servir nem adorar um Deus desconhecido, nem depositar nEle a nossa confiança” A.W. Pink

Na verdade, só conhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma, quando nos rendemos a Ele, quando nos submetemos a Sua autoridade e quando os Seus preceitos e mandamentos regulam todos os pormenores da nossa vida.

Deus se revelou através das Escrituras, todavia, os homens andam a procura de outros métodos, que têm seu ponto de partida na experiência humana e não na palavra de Deus revelada. Deliberadamente ignora-se a clara revelação que Deus nos dá de Si nas Escrituras e exalta-se a idéia do descobrimento humano de Deus, mediante métodos científicos reconhecidos.

A única maneira apropriada pela qual obter conhecimento dos atributos divinos, perfeitamente confiável, é o estudo da Auto-revelação de Deus nas Escrituras.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS DIVINOS

Durante muito tempo, vários estudiosos têm sugerido várias classificações dos atributos de Deus. A grande maioria distingue entre duas classes gerais. Estas classes são designadas por diferentes nomes e representam diferentes pontos de vista, mas substancialmente são as mesmas.

- Uns falam de Atributos Naturais e Atributos Morais;

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- Outros distinguem entre Atributos Absolutos e Atributos Relativos;

- Há ainda os que dividem as perfeições divinas em Atributos Imanentes ou Intransitivos e Atributos Emanentes ou Transitivos;

- A distinção mais comum é entre Atributos Incomunicáveis e Atributos Comunicáveis. É a que vamos utilizar em nossa abordagem.

Atributos Incomunicáveis: são aqueles aos quais nada equivalente existe na criatura, como asseidade, simplicidade, imensidade, etc.

Atributos Comunicáveis: são as excelências de Deus com os quais as propriedades do espírito humano têm alguma relação, como poder, bondade, misericórdia, retidão, etc.

Os atributos pertencentes a primeira classe qualificam os pertencentes a segunda, de maneira que se pode dizer que Deus é único, absoluto, imutável e infinito em Seu conhecimento e sabedoria, em Sua bondade e amor, em Sua graça e misericórdia, em Sua justiça e santidade.

3. OS ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS

Os atributos incomunicáveis salientam o absoluto ser de Deus. É comum na Teologia falar-se de Deus como Se absoluto. Ao mesmo tempo, o termo “absoluto” é mais característico da Filosofia do que da Teologia. Na metafísica a expressão “o Absoluto” expressa o fundamento último de toda a existência; e, uma vez que o cristão fala também de Deus como o fundamento último de toda existência, às vezes se pensa que “o Absoluto” da filosofia e o Deus dos cristãos são um só e o mesmo Ser. O que não é verdade. A Filosofia declara que “o Absoluto” não se relaciona com nada, e que não pode existir nenhuma relação prática entre ele e a vontade finita, entre ele e a sua criação.

Entretanto, quando o Absoluto é definido como a Causa Primeira de todas as coisas existentes, ou como o fundamento último de toda realidade, ou como o único Ser auto-existente, pode ser considerado idêntico ao Deus dos cristãos, que é auto-suficiente, mas ao mesmo tempo pode entrar livremente em várias relações com Sua criação como um todo e com Suas criaturas em particular.

a) AUTO-EXISTÊNCIA DE DEUS.

Deus é auto-existente, isto é, ele tem sem Si mesmo a base da Sua existência. Às vezes esta idéia é expressa dizendo-se que “Ele é a Sua própria causa”, mas não se pode considerar exacta esta expressão, desde que Deus é o “não causado”, que existe pela necessidade do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente. O homem, por outro lado, não existe necessariamente, e tem a causa da sua existência fora dele próprio.

A idéia da auto-existência de Deus era geralmente expressa pelo termo “asseidade”, que significa “auto-originado”, mas os teólogos reformados em geral o substituíram pela palavra “indenpendentia” (independência), expressando com ela não somente que Deus é independente em Seu Ser, mas também que é independente em tudo mais: em Suas virtudes, decretos, obras, e assim por diante.

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Deus não só é independente, como também faz tudo depender dele. Esta auto-existência de Deus acha expressão no nome Jeová1. É somente como o Ser auto-existente e independente que Deus pode dar a certeza de que permanecerá eternamente o mesmo, com relação ao Seu povo. Encontram-se indicações adicionais disso na afirmação presente em Jo 5.26 - “Porque assim como o pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo”.

Deus é independente de todas as coisas e todas as coisas só existem por meio dEle.

Is 40.22-31 – “É Ele o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para Ele como gafanhotos; é Ele o que estende os céus como cortina, e o desenrola como tenda para nela habitar. É Ele o que reduz a nada os príncipes, e torna em coisa vã os juízes da terra. E não se plantam, nem se semeiam, nem se arraiga na terra o seu tronco cortado; sopra sobre eles, e secam-se, e uma tempestade os leva como à pragana. A quem, pois, me comparareis, para que eu lhe seja semelhante? - diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede: quem criou estas coisas? Foi aquele que faz sair o exército delas segundo o seu número; ele as chama a todas pelos seus nomes; por ser ele grande em força, e forte em poder, nenhuma faltará. Por que dizes, ó Jacó, e falas, ó Israel: O meu caminho está escondido ao Senhor, e o meu juízo passa despercebido ao meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? E inescrutável o seu entendimento. Ele dá força ao cansado, e aumenta as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão.”

Actos 17.22-28 – “Porque, passando eu e observando os objectos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós; porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dEle também somos geração.”

Deus é independente em Seu pensamento.

Rm 11.33, 34 – “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro?”

Is 40.13,14 – “Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou Ele conselho, para que lhe desse entendimento, e quem lhe mostrou a vereda do juízo? quem lhe ensinou conhecimento, e lhe mostrou o caminho de entendimento?”

1Co 2.16 – “Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”

Deus é independente em sua vontade

Dn 4.35 – “E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”

1 Estudado no capítulo 6 - “Os nomes de Deus”

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Rm 9.19 – “Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?”

Ef 1.5,6 – “E nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.”

Ap. 4.11 – “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas.”

Deus é independente em Seu poder

Sl 115.3 – “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.”

Deus é independente e em Seu conselho

Sl 33.11 – “O conselho do Senhor permanece para sempre, e os intentos do seu coração por todas as gerações.”

b) IMUTABILIDADE DE DEUS (sem alteração, inalterável)

A Imutabilidade de Deus é a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em Seus propósitos e em suas promessas. Vejamos algumas passagens que atestam a imutabilidade do Ser de Deus:

Sl 102.26, 27 - “Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim.”

Is 8.12 - “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu mesmo, eu o primeiro, eu também o último.”

Ml 3.6 - “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.”

Rm 1.23 - “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.”

Tg 1.17 - “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação.”

Hb 13.8 - “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.”

Em virtude deste atributo, Ele é exaltado acima de tudo quanto há, e é isento de todo acréscimo ou diminuição e de todo desenvolvimento ou decadência em Seu Ser e em Suas perfeições. Seu conhecimento e Seus planos, Seus princípios morais e Suas Vontades permanecem sempre os mesmos. Até a razão nos ensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que qualquer mudança é para melhor ou para pior. Mas em Deus, a perfeição absoluta, melhoramento e desgaste são igualmente impossíveis. A imutabilidade de Deus é claramente ensinada em passagens da Escritura como as que vimos acima, ao mesmo tempo, há muitas passagens bíblicas que parecem atribuir mudança a Deus. Aquele que habita a eternidade, que criou os Céus e a Terra, encarnou-se em Cristo, e no Espírito Santo fez morada na Igreja. Não é Ele apresentado como se revelando e ocultando-se, como vindo e indo, como se arrependendo e mudando de

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intenção, e como procedendo diferentemente com o homem antes e depois da sua conversão? Confira:

Êx 32.10-14 - “Deixe-me agora, para que a minha ira se acenda contra eles, e eu os destrua. Depois farei de você uma grande nação. Moisés, porém, suplicou ao Senhor, o seu Deus, clamando: Ó Senhor, por que se acenderia a tua ira contra o teu povo, que tiraste do Egito com grande poder e forte mão? Por que diriam os egípcios: Foi com intenção maligna que ele os libertou, para matá-los nos montes e bani-los da face da terra? Arrepende-te do fogo da tua ira! Tem piedade, e não tragas este mal sobre o teu povo! Lembra-te dos teus servos Abraão, Isaque e Israel, aos quais juraste por ti mesmo: Farei que os seus descendentes sejam numerosos como as estrelas do céu e lhes darei toda esta terra que lhes prometi, que será a sua herança para sempre. E sucedeu que o Senhor arrependeu-se do mal que ameaçara trazer sobre o povo.”

Jn 3.10 - “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez.”

Pv 11.20 - “Abominação para o SENHOR são os perversos de coração, mas os que são perfeitos em seu caminho são o seu deleite.”

Sl 18.26 - “Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável.”

A contradição aqui presente baseia-se até certo ponto em uma compreensão errada. A imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de imobilidade, como se não houvesse movimento em Deus. É hábito na teologia falar-se de Deus como actus purus, Deus sempre em ação. A Bíblia nos ensina que Deus entra em multiformes relações com os homens e, por assim dizer, vive sua vida com eles. Ele está cercado de mudanças, mudanças nas relações dos homens com Ele, mas não há nenhuma mudança em Seu Ser, em Seus atributos, em Seus propósitos, em Seus motivos de acção, nem em Suas promessas. Seu propósito de criar o mundo é eterno como Ele, mas não houve mudança nEle quando esse propósito foi levado a efeito por um único acto de Sua vontade.

A encarnação não produziu mudança no Ser e nas perfeições de Deus, nem em Seu propósito, pois era da Sua eterna aprovação enviar ao mundo o Filho do Seu amor. E se a Escritura fala do seu arrependimento, de Sua mudança de intenção, e da alteração que faz de sua relação com pecadores quando estes se arrependem, devemos lembrar-nos de que se trata apenas de um modo antropopático de falar. Na realidade, a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus.

Confira as seguintes passagens:

1Sm 15.29 - “E também aquele que é a força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.”

Nm 23.19 - “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?”

Sl 33.11 - “O conselho do SEHOR permanece para sempre; os intentos do Seu coração, de geração em geração.”

Deus é perfeito em sabedoria e, portanto, não erra no que Ele decreta; Ele é Todo-Poderoso e, consequentemente, é capaz de fazer tudo o que Ele decidiu. Então, o que aconteceu em Gêneses 6.6; em 1Sm 15.11,26; em Ex 32.9-14, em Jonas 3.4-10?

A resposta não é tão complexa ou misteriosa como se possa pensar. As Escrituras claramente ensinam que as perfeições, propósitos e promessas de Deus são sempre as mesmas. Mas isso não significa que o Seu relacionamento e disposição diante da Sua ―

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sempre inconstante criação, não possa variar. Génesis 6:6 simplesmente se refere à santa resposta de Deus ao pecado do homem e a Sua determinação de apagar o homem da face da terra – versículo 7, (o mesmo acontece em I Samuel 15:11,26). Em Êxodo 32:9-14, Deus se arrependeu em relação à sua vontade de destruir Israel como resposta graciosa à oração de Moisés (uma oração que Deus conduziu e capacitou poderosamente Moisés para a fazer). Em Jonas 3:4-10, Deus simplesmente se abrandou em relação à destruição de Nínive quando Nínive se arrependeu do seu pecado. Estas passagens são lembretes para nós de que a imutabilidade de Deus não significa imobilidade. Ele não muda, mas não é estático, apático ou não-envolvido com a Sua criação. Ele é dinâmico e interage com a Sua Criação.

Os exemplos acima não são uma contradição a Sua imutabilidade, mas é a prova dela. Ele sempre é o mesmo, mas o Seu relacionamento e questões com homens mutáveis irão variar de acordo com a resposta deles. Jeremias 18:7-10 – “Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe. E se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação e acerca dum reino, para edificar e para plantar, se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que lhe intentava fazer.”

Ezequiel 18:21-24 – “Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e preceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as suas justiças que tiver feito não se fará memória; pois pela traição que praticou, e pelo pecado que cometeu ele morrerá.”

Is 14.24 – “O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.”

Isto não é uma contradição à Sua imutabilidade; é antes a prova dela. Ele irá sempre responder às acções humanas de uma forma consistente com os Seus inalteráveis atributos. É importante entender que a imutabilidade de Deus não apenas depende da Sua perfeição, mas também do Seu poder. Deus não seria imutável se existisse algum ser ou poder maior do que Ele mesmo, que O coagiria ou o manipularia.

c) INFINIDADE DE DEUS

Infinidade é a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação. Isto implica que Ele não é limitado de maneira nenhuma pelo universo, por este mundo caracterizado pela relação tempo-espaço. Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão espacial. Distinguimos vários aspectos da infinidade de Deus:

Sua perfeição absoluta.

Esta é a infinidade do Ser Divino considerada em si mesma. Não deve ser considerada num sentido quantitativo, mas qualitativo; ela qualifica todos os atributos comunicáveis de Deus. O poder infinito não é um quantum absoluto, mas sim, uma santidade qualitativamente livre de toda limitação ou defeito. O mesmo se pode dizer do conhecimento infinito, da sabedoria infinita, do amor infinito e da justiça infinita.

Jó 11.7-10 – “Poderás descobrir as coisas profundas de Deus, ou descobrir perfeitamente o Todo-Poderoso? Como as alturas do céu é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o Seol; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar. Se ele passar e prender alguém, e chamar a juízo, quem o poderá impedir?”

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Sl 145.3 – “Grande é o Senhor, e mui digno de ser louvado; e a sua grandeza é insondável.”

Sua eternidade.

A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim.

Sl 90.2 – “Antes que nascessem os montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus.”

Sl 102.12 – “Mas tu, Senhor, estás entronizado para sempre, e o teu nome será lembrado por todas as gerações.”

Ef 3.21 – “a esse seja glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém.”

Devemos lembrar, porém, que ao falar como fala, a Bíblia emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Geralmente pensamos na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, está ligada àquilo que transcende todas as limitações temporais.

Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não é assim a existência de Deus. A nossa vida se divide em passado, presente e futuro, mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua eternidade pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado. Acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível. A relação da eternidade com o tempo constitui um dos mais difíceis problemas da filosofia e da teologia, talvez de impossível solução em nossa condição actual.

Sua imensidade.

A infinidade de Deus também pode ser vista com referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Esta pode ser definida como a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. Deus está acima do espaço e ocupa todas as partes deste com todo o Seu Ser.

Deus ocupa o espaço repletivamente, porque ele preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra. “Imensidade” aponta para o facto de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações (Transcendência), ao passo que “omnipresença” denota que, não obstante, Ele preenche todas as partes do espaço com todo o Seu Ser (Imanência). O primeiro salienta a Transcendência, e o último, a imanência de Deus. Deus é imanente em todas as Suas criaturas, na Sua criação inteira.

Deus está presente em cada parte da Sua criação. Porém, ele não está igualmente presente, e presente no mesmo sentido em todas as Suas criaturas. A natureza da Sua permanência está em harmonia com a das Suas criaturas. Ele não habita na terra do mesmo modo como habita no céu, nem nos animais como habita no homem, nem na

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criação inorgânica como na orgânica, nem dos ímpios como nos piedosos, nem na Igreja como em Cristo.

A onipresença de Deus é revelada claramente na Escritura. O céu e a terra não podem contê-lo.

1 Rs 8.27 – “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei!”

Is 66.1 – “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? e que lugar seria o do meu descanso?”

At 7.48, 49 – “mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O céu é meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual o lugar do meu repouso?”

E ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus acessível.

Sl 139.7-10 – “Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, ainda ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.”

Jr 23.23, 24 – “Sou eu apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu o céu e a terra? diz o Senhor.”

At 17.27, 28 – “para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.”

Dn 2.22 – “Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.”

Mt 18.20 – “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles.”

Mt 28.20 – “ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

d) UNIDADE DE DEUS

Distingue-se entre as unidade singular e unidade simples.

unidade singular.

Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o facto de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que existe somente um Ser Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm sua existência a partir dele, por meio dele e para Ele. Existe somente um Deus verdadeiro. Salomão pleiteou com Deus que defendesse a causa do Seu povo, “para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro” - 1. Rs 8.60.

Paulo escreve aos coríntios: “todavia, para nós há um só Deus, o pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também por ele” - 1 Co 8.6. Semelhantemente, escreve a Timóteo, “porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” - 1 Tm 2.5.

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Outras passagens salientam, não a unidade numérica de Deus, mas a sua unicidade. É o caso das bem conhecidas palavras de Dt 6.4 - “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”.

A mesma idéia é lindamente expressa na interrogação retórica de Êx 15.11 - “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operasmaravilhas?”

Unidade simples

É a unidade interior e qualitativa de Deus. Quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado, condição ou qualidade de estar livre de divisão em partes. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível de divisão em nenhum sentido da palavra. Isto implica, entre outras coisas, que as três pessoas da Divindade não são outras partes das quais se compõe a essência de Deus. Não há distinção entre a essência e as perfeições de Deus, e que os atributos não são adicionados à Sua essência.

Is 44.6 – “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus.”

4. OS ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS

Os atributos comunicáveis acentuam a natureza pessoal de Deus. É nos atributos comunicáveis que Deus se posiciona como Ser moral, consciente, inteligente e livre; como Ser pessoal no mais elevado sentido da palavra.

A lógica e os agnósticos2 dizem que é totalmente impossível um ser absoluto ter personalidade e ser absoluto ao mesmo tempo. Para os agnósticos só se conhecem as coisas em suas relações. Se não se pode conhecer coisa alguma de alguém, esse alguém não pode ter personalidade. Para a lógica, atribuir personalidade ao absoluto seria limitá-lo a um modo de ser, e destruiria o seu carácter absoluto. Para os cristãos o absoluto não depende de nada que lhe seja alheio, mas faz todas as coisas dependerem dele e, ainda pode entrar em várias relações com as suas criaturas finitas.

O que é pessoa?

Pessoa: é um ser individual de carácter racional, consciente de si, com vontade própria e com capacidade de se relacionar. Observemos se Deus reúne estas características.

1- Deus tem consciência de Si próprio, Ele sabe o que Ele é - Ex 3.14.

2- Deus é um ser individual. Há um só Deus - Is 45.21; 40.25

3- Deus é um ser racional. Pensa, percebe, entende, usa a razão - Sl 92.5-6; Rm 11.33-36

4- Deus tem vontade própria. Tem poder, capacidade de determinar Suas próprias acções. Deus é o único ser completamente livre para fazer qualquer coisa que

2 Aqueles que acreditam que a realidade espiritual é impossível de ser compreendida.

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propõe a Si mesmo sem limitações ou possibilidade de falhas – Pv 19.21; Is14.27; Dn 4.34,35; Ef 1.11

5- Deus tem capacidade de se relacionar com outros seres. Toda a Bíblia é um exemplo disso. “E se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus” - Tg 2.23

“Enoque andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou” - Gn 5.24.

Na verdade, personalidade perfeita só se acha em Deus, e o que vemos no homem é apenas uma cópia finita do original infinito.

Como provar a personalidade de Deus?

A personalidade humana requer um Deus pessoal para sua explicação. O homem não é um ser auto-existente e eterno, mas um ser finito, com princípio e fim. A causa deve ser suficiente para explicar totalmente o efeito. Visto que o homem é um produto pessoal, o poder que lhe deu origem também tem que ser pessoal. Doutro modo, existiria no efeito alguma coisa superior ao que se acha na causa; e isto seria completamente impossível.

O Universo em geral dá testemunho da personalidade de Deus. Em toda a sua estrutura e constituição o Universo revela os mais claros sinais de uma inteligência infinita.

A natureza moral e religiosa do homem apontam para a personalidade de Deus. A sua natureza lhe impõe um senso de obrigação de fazer o que é recto, isto implica necessariamente a existência de um Legislador Supremo. Além disso, a sua natureza religiosa constantemente o incita a procurar comunhão pessoal com algum ser superior; e todos os elementos e actividades da religião requerem um Deus pessoal como seu objecto e fim último, doutra maneira, não têm sentido algum.

Mas nós não precisamos nem dependemos destes argumentos para provar a doutrina da personalidade de Deus. Nós buscamos provas na revelação que Deus faz de si mesmo nas Escrituras Sagradas.

De Gênesis à Apocalipse Deus se apresenta como um Deus pessoal, com quem os homens têm possibilidade e permissão de se comunicar, em quem podem confiar, que os sustenta nas suas provações e enche os seus corações da alegria da libertação.

A mais alta revelação de Deus de que a Bíblia dá testemunho é uma pessoa: JESUS CRISTO revela o pai de maneira tão perfeita que pode dizer a Filipe: “Quem me vê a mim, vê o Pai” – Jo 14.9. “O qual é imagem do Deus invisível...” – Cl 1.15

4.1. A ESPIRITUALIDADE DE DEUS

Jesus disse à mulher samaritana: “Deus é Espírito” - Jo 4.24. Numa única palavra o Senhor Jesus nos diz o que Deus é. O Senhor não diz meramente que Deus é um espírito (com “e” minúsculo), mas que Ele é Espírito. Deus tem uma essência exclusivamente Sua e distinta de todos os outros seres. Esta Sua essência é imaterial, invisível, e sem composição nem extensão. A espiritualidade de Deus inclui o pensamento de que todas as qualidades que pertencem à perfeita idéia de Espírito se acham nele: que Ele é um Ser auto-consciente e

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auto-determinante. Ele é Espírito no sentido mais absoluto e mais puro da palavra, não há nele nenhuma composição de partes. Ele não tem nenhuma das propriedades pertencentes a matéria. As vezes as Escrituras falam de Deus como se Ele possuísse um corpo físico. Existem referências de Seus braços, costas, mãos, sopro, ouvidos, olhos, face, pés, dedos, etc. Como assim se Deus é Espírito?! A idéia de espiritualidade exclui necessariamente a atribuição de qualquer coisa semelhante a corporalidade. Quando a Bíblia fala de mãos e pés, olhos e ouvidos, boca e narinas de Deus, está a falar antropomórfica ou figuradamente daquele que, de longe, transcende o nosso conhecimento humano, e de quem só podemos falar aos gaguejos, à maneira dos homens.

Paulo fala dEle como o “Rei eterno, imortal, invisível” - 1 Tm 1.17, e como “o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém”. - 1 Tim 6. 15, 16

Hb 11.27 – “Deus é invisível.”Dt 4.12 – “Além da voz não vistes figura alguma.”Jo 6.46 – “Ninguém viu o pai, a não ser aquele que é de Deus; este tem visto o pai.”Jo 1.18 – “Deus nunca foi visto por alguém. O filho unigênito, que está no seio do pai, esse o revelou”.

4.2. ATRIBUTOS INTELECTUAIS

Nas Escrituras Deus é apresentado como “Luz” e, portanto, como perfeito em Sua vida intelectual. A intelectualidade de Deus compreende duas perfeições divinas: O Conhecimento e a Sabedoria de Deus.

a) O CONHECIMENTO DE DEUS.

O conhecimento de Deus é a perfeição de Deus pela qual Ele, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples.

A Bíblia atesta abundantemente o conhecimento, como, por exemplo, em 1 Sm 2.3; Jó 12.13; Sl 94.9; 147.4; Is 29.15; 40.27, 28. Em conexão com o conhecimento de Deus, vários pontos pedem consideração.

Sua natureza.

O conhecimento de Deus difere do dos homens nalguns pontos importantes. É arquetípico, o que significa que Ele conhece o universo como ele existe em Sua própria idéia anterior à sua existência como realidade finita no tempo e no espaço; e esse conhecimento não é obtido de fora, como o nosso. É um conhecimento caracterizado por perfeição absoluta. Como tal, é intuitivo, antes que demonstrativo ou discursivo. É inato e imediato, e não resulta de observação ou de um processo de raciocínio. Sendo perfeito, é também simultâneo e não sucessivo, de modo que Ele vê as coisas de uma vez em sua totalidade, e não fragmentadas uma após a outra. É completo e plenamente consciente, enquanto que o conhecimento do homem é sempre parcial, frequentemente indistinto, e muitas vezes não consegue ascender à clara luz da consciência. Faz-se distinção entre o conhecimento necessário e o livre conhecimento de Deus.

Conhecimento Necessário de Deus: é o conhecimento que Deus tem de Si mesmo e de todas as outras coisas possíveis, um conhecimento que repousa na

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consciência de Sua omnipotência. É chamado “necessário” porque não é determinado por uma acção da vontade divina. Também é conhecido como “conhecimento de simples inteligência”, pelo facto de que é pura e simplesmente um acto do intelecto divino, sem nenhuma ação concomitante da vontade divina.

O livre conhecimento de Deus: é aquele que Ele tem de todas as coisas reais, isto é, das coisas que existiram no passado, que existem no presente ou que existirão no futuro. Funda-se no conhecimento infinito que Deus tem do Seu propósito eterno, totalmente abrangente e imutável, e é chamado “ livre conhecimento” porque é determinado por um acto concomitante da vontade. Também é denominado scientia visionis, conhecimento de vista.

Sua extensão.

O conhecimento de Deus não é perfeito somente em sua natureza, mas também em sua abrangência. É chamado “onisciência”, porque é absolutamente abrangente.

Deus é onisciente. Ele sabe todas as coisas — todas as coisas possíveis, todas as coisas reais, todos os eventos, conhece todas as criaturas, todo o passado, presente e futuro. Conhece perfeitamente todos os pormenores da vida de todos os seres que há no céu, na terra e no inferno.

"... conhece o que está em trevas..." Daniel 2:22 - Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz..

Nada escapa à Sua atenção, nada pode ser escondido dEle, não há nada que Ele esqueça! Bem podemos dizer com o salmista: "Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir" - Salmo 139:6.

Seu conhecimento é perfeito. Ele jamais erra, nem muda, nem passa por alto coisa alguma. "E não há criatura alguma encoberta diante dele: antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" - Hebreus 4:13. Sim, tal é o Deus a quem temos de

prestar contas!

"Tu conheces o meu assentar e o meu levantar: de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces" - Salmo 139:2-4.

Nada se pode esconder de Deus! “... quanto às cousas que vos sobem ao espírito, eu as conheço” - Ezequiel 11:5. Ele é invisível para nós, nós não o somos para Ele. Nem as trevas da noite, nem as mais espessas cortinas, nem o calabouço mais profundo podem ocultar o pecador dos olhos do Onisciente. “Mas se não fizerdes assim, estareis pecando contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar” – Números 32:23.

Como é solene o Salmo 90:8! Boa razão tem todo o que rejeita a Cristo para tremer diante destas palavras: “Diante de ti puseste as nossas iniquidades: os nossos pecados ocultos à luz do teu rosto”. Mas a onisciência de Deus é uma verdade cheia de consolação para o crente.

Em tempos de aflição, ele diz com Jó: "Mas ele sabe o meu caminho..." - 23:10.

Em tempos de fadiga e fraqueza, os crentes podem assegurar-se de que Deus “ ... conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” - Salmo 103:14.

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Em tempos de dúvida e incerteza, eles apelam para este atributo, dizendo: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se ha em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” - Salmo 139:23-24.

Em tempos de triste fracasso, quando os nossos corações foram traídos por nossos actos; quando os nossos feitos repudiaram a nossa devoção, e nos é feita a penetrante pergunta, “Amas-me?”, dizemos, como o fez Pedro: “... Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo...” - João 21:17.

“Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito” - Salmo 147:5. Deus não somente sabe tudo que aconteceu no passado em todos os rincões dos Seus vastos domínios, e não apenas conhece por completo tudo o que agora está ocorrendo no universo inteiro, mas também é perfeito conhecedor de todos os acontecimentos, do menor ao maior deles, que haverão de suceder nas eras vindouras.

Deus mesmo planejou tudo que há de ser, e o que Ele planejou terá que ser efectuado. Como a Sua Palavra infalível afirma, “... segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes?” - Daniel 4:35. E de novo: “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá” - Provérbios 19:21.

O perfeito conhecimento de Deus é exemplificado e ilustrado em todas as profecias registadas em Sua Palavra. No Velho Testamento acham-se muitas profecias concernentes à história de Israel, as quais se cumpriram até o mínimo detalhe, séculos depois de terem sido declaradas. Há também inúmeras outras, predizendo a carreira de Cristo na terra, e também se cumpriram literal e perfeitamente. Tais profecias só poderiam ter sido dadas por Alguém que conhecesse o fim desde o princípio, e cujo conhecimento repousasse na incondicional certeza da realização de tudo quanto fosse predito.

O conhecimento de Deus não nasce das coisas porque elas existem ou existirão, mas porque Ele ordenou que existissem. Deus sabia da crucificação do Seu Filho e a predisse muitas centenas de anos antes que Ele Se encarnasse, e isto, porque, segundo o propósito divino, Ele era um Cordeiro morto desde a fundação do mundo. Portanto, lemos que Ele “... foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus...” - Atos 2:23.

Nenhum de nós sabe o que o dia de amanhã nos trará, mas todo o futuro está aberto ao olhar omnisciente de Deus. O conhecimento infinito de Deus deveria encher-nos de santa reverência. Nada do que fazemos, dizemos ou mesmo pensamos, escapa à percepção dAquele a quem teremos que prestar contas: “Os olhos do Senhor estão em todo o lugar, contemplando os maus e os bons” - Provérbios 15:3.

- Ele é perfeito em conhecimento.

Jó 37.16 - Compreendes o equilíbrio das nuvens, e as maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos...?

- Não olha só para a aparência exterior, mas para o coração.

1 Sm 16.7 - Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coraçao.

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1 Cr 28.9 - E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai, e serve-o com coração perfeito e espírito voluntário; porque o Senhor esquadrinha todos os corações, e penetra todos os desígnios e pensamentos. Se o buscares, será achado de ti; porém, se o deixares, rejeitar-te-á para sempre.

- Conhece o lugar da nossa habitação.

Sl 33.13-15 - O Senhor olha lá do céu; vê todos os filhos dos homens; da sua morada observa todos os moradores da terra, aquele que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.

- Conhece os dias da nossa vida.

Sl 37.18 - O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre.

Jó 14.5 - Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; tu lhe puseste limites, e ele não poderá passar além deles.

b) A SABEDORIA DE DEUS.

É evidente que conhecimento e sabedoria não são a mesma coisa, embora estreitamente relacionados. Nem sempre vão juntos. Um homem sem instrução formal pode ser superior em sabedoria a um erudito. O conhecimento é adquirido pelo estudo, mas a sabedoria resulta de uma compreensão intuitiva das coisas. O conhecimento é teórico, enquanto que a sabedoria é prática. Ambos são imperfeitos no homem, mas em Deus são caracterizados por absoluta perfeição. A sabedoria de Deus é a Sua inteligência como manifestada na adaptação de meios e fins. Ela indica o facto de que Ele sempre busca os melhores fins possíveis, e escolhe os melhores meios para o alcance dos Seus propósitos.

Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual ele aplica o Seu conhecimento ao alcance dos Seus fins de um modo que O glorifica o máximo. Implica um fim último ao qual todos os fins secundários estão subordinados; e, segundo a Escritura, este fim último é a glória de Deus:

Rm 11.33 – “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”

Rm 14.7, 8 – “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor”.

Ef 1.11, 12 - “nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da sua glória, nós, os que antes havíamos esperado em Cristo”.

Cl 1.16 – “porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.”

As Escrituras se referem à sabedoria de Deus em muitas passagens, e até a apresentam como personificada em Provérbios 8.

Vê-se esta sabedoria particularmente na criação,

Sl 19.1-7 - Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

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Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há fala, nem palavras; não se lhes ouve a voz.

Por toda a terra estende-se a sua linha, e as suas palavras até os consfins do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol,

que é qual noivo que sai do seu tálamo, e se alegra, como um herói, a correr a sua carreira.A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso até a outra extremidade deles; e nada

se esconde ao seu calor.A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos

simples.

Vê-se na providência,

Rm 8.28 – “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”

Vê-se na redenção,

1 Co 2.7,8 – “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória, a qual nenhum dos príncipes deste mundo compreendeu;”

c) A VERACIDADE DE DEUS.

A Escritura utiliza várias palavras para expressar a veracidade de Deus: no Velho testamento ‘emeth, ‘amunah, e ‘amen, e no Novo Testamento alethes (aletheia), alethinos, e pistis. Isto já indica o facto de que ela inclui diversas idéias, como verdade, fidedignidade, e fidelidade. Quando se diz que Deus é a verdade, esta deve ser entendida em seu sentido mais abrangente.

Ele é a verdade num sentido metafísico, isto é, nele a idéia da Divindade se concretiza perfeitamente; Ele é tudo que como Deus deveria ser e, como tal, distingue-se de todos os deuses, assim chamados, os quais são chamados ídolos, nulidades e mentiras, Sl 96.5 – “Porque todos os deuses dos povos são ídolos; mas o Senhor fez os céus.”

Sl 115.3-8 – “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem.Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem;têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram;têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.Semelhantes a eles sejam os que fazem, e todos os que neles confiam.”

Ele é a verdade num sentido ético e, como tal, revela-se como realmente é, de modo que a Sua revelação é absolutamente confiável, Nm 23.19 – “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?”

Rm 3.3,4 – “Pois quê? Se alguns foram infiéis, porventura a sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus?

De modo nenhum; antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado.”

Ele é a verdade num sentido lógico e, em virtude disto, conhece as coisas como realmente são, e constitui de tal modo a mente do homem que este pode conhecer não apenas a aparência, mas também a realidade das coisas. Assim, a verdade de Deus é o alicerce de todo conhecimento. Deve-se ter em mente, ademais, que esses três sentidos são apenas diferentes aspectos da verdade, que é única em Deus.

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Assim, podemos definir a veracidade ou verdade de Deus como a “perfeição de Deus em virtude da qual Ele responde plenamente à idéia da Divindade, é perfeitamente confiável em sua revelação, e vê as coisas como realmente são”. É devido a esta perfeição que Ele é a fonte de toda verdade, não somente na esfera moral e da religião, mas também em todos os campos da actividade científica.

A Escritura é muito enfática em suas referências a Deus como verdade:

Êx 34.6 – “Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeovã, Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade”

Dt 32.4 – “Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniqüidade; justo e reto é ele.”

Sl 25.10 – “Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam o seu pacto e os seus testemunhos.”

Is 65.16 – “De sorte que aquele que se bendisser na terra será bendito no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos.”

Jr 10.8 – “Mas o Senhor é o verdadeiro Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno, ao seu furor estremece a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação.”

Jo 14.6 – “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”

Jo 17.3 – “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.”

Tt 1.2 – “Na esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos.”

1 Jo 5.20 – “Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.”

A fidelidade de Deus é uma perfeição em virtude da qual Ele está sempre atento à Sua aliança e cumpre todas as promessas que fez ao Seu povo. Esta fidelidade de Deus é de máxima significação prática para o povo de Deus. É a base da sua confiança, o fundamento da sua esperança, e a causa do seu regozijo. A fidelidade de Deus nos livra do desespero, dá-nos coragem para prosseguirmos, apesar de todos os nossos fracassos.

Nm 23.19 – “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?”

Dt 7.9 – “Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos.”

Sl 89.33 – “Mas não lhe retirarei totalmente a minha benignidade, nem faltarei com a minha fidelidade.”

1 Co 1.9 – “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor.”

2 Tm 2.13 – “Se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo.”

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Hb 10.23 – “Retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa.”

4.3. Atributos Morais

Os atributos morais de Deus são geralmente considerados como as perfeições divinas mais gloriosas. Não que um atributo de Deus seja em si mesmo mais perfeito e mais glorioso que outro, mas, relativamente ao homem, as perfeições morais de Deus brilham com um esplendor todo Seu. Geralmente são discutidos sob três títulos: (a) a bondade de Deus; (b) a santidade de Deus; e (c) a justiça de Deus.

a) A BONDADE DE DEUS.

A idéia fundamental da bondade de Deus é que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que Ele deve ser como Deus, e, portanto, corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra “Deus”. Ele é bom no sentido metafísica da palavra, é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo. É neste sentido que Jesus disse ao homem de posição: “Ninguém é bom senão um só, que é Deus”, Mc 10.18; Lc 18.18, 19. Mas, desde que Deus é bom em Si mesmo, é também bom para as Suas criaturas. Ele é a fonte de todo bem, e assim é apresentado de várias maneiras na Bíblia toda. O poeta canta: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz” - Sl 36.9.

Todas as boas coisas que as criaturas desfrutam no presente e esperam no futuro, fluem para elas a partir deste manancial superabundante. E não somente isso, mas Deus é também o supremo bem, para todas as Suas criaturas, embora em diferentes graus e na medida em que correspondem ao propósito da sua existência. Ele é essencialmente bom; não somente bom, mas é a própria bondade: na criatura, a bondade é uma qualidade acrescentada; em Deus, é Sua essência. Ele é infinitamente bom; na criatura a bondade é uma gota apenas, mas em Deus há um oceano infinito ou um infinito ajuntamento de bondade. Ele é eterna e imutavelmente bom. Tudo que provém de Deus — os Seus decretos, a Sua criação, as Suas leis as Suas providências — só pode ser bom, como está escrito: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom...” - Gênesis 1:31.

A bondade de Deus para com Suas criaturas em geral.

É a perfeição de Deus que O leva a tratar bondosa e generosamente todas as Suas criaturas. É a afeição que o Criador sente para com as Suas criaturas dotadas de sensibilidade consciente como tais. O salmista a exalta com as bem conhecidas palavras: “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras. Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo; abres a mão, e satisfazes o desejo de todos os viventes.” - Sl 145.9,15, 16.

Sejam as aves do céu, os animais das matas ou os peixes no mar, foi feita abundante provisão para suprir todas as suas necessidades. Deus “... dá mantimento a toda a carne; porque a sua benignidade é para sempre” - Salmo 136:25. Verdadeiramente, “... a terra está cheia da bondade do Senhor” - Salmo 33:5.

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Vê-se a bondade de Deus na variedade de prazeres naturais que Ele providenciou para as Suas criaturas. Deus poderia ter-Se satisfeito em saciar a nossa fome sem que os alimentos fossem agradáveis ao nosso paladar — como Sua benignidade transparece-nos diversos sabores de que Ele revestiu os diferentes tipos de carne, vegetais e frutas! Deus não nos deu somente os sentidos, mas também nos deu aquilo que os agrada; e isso também revela a Sua bondade. A terra poderia ser tão fértil como é, sem a sua superfície ser tão deleitavelmente variegada, A nossa vida física poderia ser mantida sem as lindas flores para encantarem os nossos olhos e para exalarem suaves perfumes. Poderíamos andar pelos campos, sem que os nossos ouvidos fossem saudados pela música dos pássaros. Donde, pois, vem esta beleza, este encanto, tão livremente difundido pela face da natureza?

Vê-se a bondade de Deus em que, quando o homem transgrediu a lei do seu Criador, não começou de imediato uma dispensação de ira sem contemplação. Bem poderia Deus ter privado as Suas criaturas decaídas de todas as bênçãos, de todos os confortos e de todos os prazeres. Em vez disso, Ele introduziu um regime de natureza mista, de misericórdia e de juízo. Devidamente considerado, isso é maravilhoso, e quanto mais profundamente se examine esse regime, mais transparecerá que " ... a misericórdia

triunfa do juízo” - Tiago 2:13. Não obstante os males todos que acompanham o nosso estado decaído, o prato do bem predomina grandemente na balança. Com relativamente raras excepções, os homens e as mulheres experimentam muito maior número de dias de boa saúde, do que de enfermidade e dor. Mesmo as nossas tristezas admitem considerável alívio, e Deus conferiu à mente humana uma versatilidade que lhe possibilita adaptar-se às circunstâncias e tirar delas o melhor proveito possível. Não se pode com justiça pôr em questão a benignidade de Deus pelo facto de haver sofrimento e tristeza no mundo. Se o homem peca contra a bondade de Deus, se ele despreza “as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade” “e, seguindo a dureza e a impenitência do seu coração entesoura

para si mesmo ira para o dia da ira” - Romanos 2:4-5, a quem deve culpar, senão a si próprio? “De quê se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados” - Lm 3.39. Usamos mal as Suas bênçãos, abusamos da Sua benevolência, pisoteiamos as Suas misericórdias quebramos as Suas leis, desafiamos a Sua autoridade, zombamos dos Seus mensageiros, escarnecemos do Seu Filho e perseguimos aqueles pelos quais Ele morreu.

A bondade de Deus foi mais ilustremente visível quando Ele enviou o Seu Filho, "... nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos" - Gaiatas 4:4-5. Foi então que uma multidão dos exércitos celestiais louvou seu Criador e disse: "Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens" - Lucas 2:14. Sim, no evangelho “a graça (em grego, a benevolência ou bondade) de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” - Tito 2:11.

A bondade de Deus é apreciada superficialmente porque é exercida para conosco no curso comum dos eventos. Não a percebemos bem porque a experimentamos diariamente. "Ou desprezas tu as riquezas da sua begnidade?..." - Romanos 2:4.

A bondade de Deus é o sustentáculo da confiança do crente, É esta excelência de Deus que exerce mais atração sobre os nossos corações. Visto que a Sua bondade dura para sempre, jamais deveríamos ficar desanimados. "O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele" - Naum 1:7. Isto é absolutamente certo, que o Senhor é bom; as Suas dispensações podem variar, mas a Sua natureza é sempre a mesma.

b) O AMOR DE DEUS.

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O apóstolo João nos diz três coisas a respeito da natureza de Deus:

1) “Deus é espírito” - João 4:24. No grego não há artigo indefinido. Dizer “Deus é um espírito” é sumamente repreensível, pois O coloca na mesma classificação de outros seres. Deus é “espírito” no sentido mais elevado. Como é “espírito”, é incorpóreo, não tem substância visível. Se Deus tivesse Deus um corpo palpável, não seria omnipresente, estaria limitado a um lugar; sendo “espírito”, enche os céus e a terra.

2) “Deus é luz” - 1 João 1:5. O que é oposto às trevas. Nas Escrituras as “trevas” representam o pecado, o mal, a morte; a “luz” representa a santidade, a bondade, a vida. “Deus é luz” significa que Ele é a soma de todas as excelências.

3) “Deus é amor” - 1 João 4:8. Não é simplesmente que Deus ama, porém que é amor mesmo. O amor não é meramente um dos Seus atributos, mas sim Sua própria natureza. Quanto mais conhecemos o Seu amor — sua natureza, sua plenitude, sua bem-aventurança - mais os nossos corações serão conduzidos a amá-Lo.

O amor de Deus é livre de influência alheia. Queremos dizer com isso que não há nada nos objectos do Seu amor que possa colocá-lo em acção, e não há nada na criatura que possa atraí-lo ou impulsioná-lo. O amor que uma criatura tem por outra deve-se a algo existente nelas; mas o amor de Deus é gratuito, espontâneo e não causado por nada nem por ninguém. A única razão pela qual Deus ama alguém acha-se em Sua vontade soberana: “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o Senhor vos amava” - Deuteronômio 7:7-8, Deus amou o Seu povo desde a eternidade e, portanto, a criatura nada tem que possa ser a causa daquilo que se acha em Deus desde a eternidade. Seu amor provém dEle próprio: “... segundo o seu próprio propósito...” - 2 Timóteo 1:9. “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” - 1 João 4:19. Deus não nos amou porque nós O amávamos, mas nos amou antes de nós termos uma só partícula de amor por Ele. Se Deus nos tivesse amado em resposta ao nosso amor, então o Seu amor não seria espontâneo; mas visto que Ele nos amou quando nós não O amávamos, é claro que o Seu amor não foi influenciado. Para que se honre a Deus, e se firme o coração ao Seu Filho, é altamente importante que entendamos com absoluta clareza esta verdade preciosa. O amor de Deus por mim e por todos e cada um dos que são “Seus”, não foi movido nem motivado por coisa nenhuma em nós. « Que havia em mim que atraiu o coração de Deus? » Absolutamente nada! Ao contrário, porém, havia tudo para repeli-lo, tudo na medida para levá-lO a detestar-me - sendo eu pecador, depravado, corrupto, sem “nenhum bem” em mim. “O que existia em mim que merecesse estima ou desse algum prazer ao Criador? Fosse assim mesmo, ó Pai, eu sempre cantaria por veres algo bom em mim, Senhor."

O amor de Deus é eterno. Necessariamente, Deus é eterno, e Deus é amor; portanto, como Deus não teve princípio, Seu amor também não teve. Mesmo concedendo que esse conceito transcende o alcance das nossas frágeis mentes, contudo, quando não podemos compreender, podemos inclinar-nos em adoração. Como é claro o testemunho de Jeremias 31:3 - "... com amor eterno te amei, também com amorável benignidade te atraí". Que bem-aventurança saber que o grandioso e santo Deus amava o Seu povo antes do céu e a terra terem sido chamados à existência, que Ele pusera o Seu coração neles desde toda a eternidade! Esta é uma prova clara de que o Seu amor é espontâneo, pois Ele nos amou antes de sequer existirmos!

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A mesma verdade preciosa é exposta em Efésios 1:4-5 – “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fóssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.” Que louvores isto deveria suscitar de cada um dos Seus filhos! Que tranquilidade para o coração saber que, uma vez que o amor de Deus por mim não teve começo, certamente não terá fim! “De eternidade a eternidade” Ele é Deus, e é “amor”, “de eternidade a eternidade” Ele ama a Seu povo.

O amor de Deus é soberano. Isso também é evidente em si mesmo. Deus é soberano, não deve obrigação a ninguém; Ele é Sua própria lei e age sempre de acordo com a Sua vontade dominadora. Assim, pois, se Deus é soberano e é amor, infere-se necessariamente que o Seu amor é soberano. Porque Deus é Deus, faz o que Lhe agrada; porque é amor, ama a quem Lhe apraz. Eis a Sua própria afirmação expressa: “... amei Jacó e aborreci Esaú” - Romanos 9:13. Em Jacó não havia mais razão do que em Esaú para ser objecto do amor divino. Ambos tinham os mesmos pais e, gêmeos que eram, nasceram na mesma hora. Contudo, Deus amou um e aborreceu o outro. Por quê? Porque assim Lhe aprouve.

Nenhuma lei, nenhuma norma governa Deus. Ele mesmo, Deus, é a “Norma Suprema”. “Em amor nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo” — o quê? Alguma virtude que previu em nós? Não. O quê, então? — “ ... segundo o beneplácito de sua vontade” - Efésios 1:4-5.

O amor de Deus é infinito. Em Deus tudo é infinito. Sua essência enche os céus e a terra. Sua sabedoria não sofre nenhuma limitação, porquanto Ele conhece todas as coisas, do passado, do presente e do futuro. Seu poder é ilimitado, pois não há nada difícil demais para Ele. Assim, o Seu amor é sem limite. Há nele uma profundidade que ninguém consegue sondar; há nele uma altitude que ninguém consegue escalar; há nele uma largura e um comprimento que desdenhosamente desafiam a medição feita por todo e qualquer padrão humano. É declarado belamente em Efésios 2:4 – “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou”. A palavra “muito” aqui faz paralelo com a expressão “... Deus amou... de tal maneira...” – João 3:16, Diz-nos que o amor de Deus é tão transcendental que não pode ser avaliado.

Nenhuma língua pode expressar plenamente a infinidade do amor de Deus, e nenhum intelecto pode compreendé-lo: “... excede todo o entendimento...” - Efésios 3:19. As idéias mais amplas que a nossa mente finita pode conceber acerca do amor divino, estão infinitamente abaixo da sua verdadeira natureza. O céu não se acha tão distante da terra como a bondade de Deus está além das mais elevadas concepções que somos capazes de formular dela.

O amor de Deus é imutável. Como em Deus “... não há mudança nem sombra de variação” - Tiago 1:17, assim o Seu amor não conhece mudança nem diminuição. O verme Jacó dá-nos enfático exemplo disto: “Amei Jacó”, declarou Jeová, e, a despeito de toda a sua incredulidade e obstinação, Ele nunca deixou de amá-lo. João 13:1 oferece-nos outra bela ilustração. Precisamente naquela noite um dos apóstolos diria “... mostra-nos o Pai...”; outro O negaria soltando maldições; todos se escandalizariam por causa dEle e O abandonariam. Todavia, “... como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim” . O amor divino não se rende às vicissitudes. Nada nos pode separar dele: Romanos 8:35-39 – “quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados,

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nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”

O amor de Deus é santo. O amor de Deus não é regulado por capricho, paixão ou sentimento, mas por princípio. Exactamente como a Sua graça reina, não às suas expensas, mas “...pela justiça...” - Romanos 5:21, assim o Seu amor nunca entra em conflito com a Sua santidade. Que “Deus é luz” - 1 João 1:5 se menciona antes de dizer-se que “Deus é amor” - 1 João 4:8. O amor de Deus não é mera fraqueza boazinha, nem brandura efeminada. As Escrituras declaram: “... o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” - Hebreus 12:6. Deus não tolerará o pecado, mesmo em Seu povo. O Seu amor é puro, e não se mistura com nenhum sentimentalismo barato.

O amor de Deus é pleno de graça. O amor e o favor de Deus são inseparáveis. Esta verdade é exposta claramente em Romanos 8:32-39 – “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” O que é esse amor, do qual, nada nos pode separar? É aquela boa vontade ou beneplácito e graça de Deus que O determinou a dar Seu Filho pelos pecadores. Esse amor foi o poder impulsivo da encarnação de Cristo: "... Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito..." - João 3:16. Cristo morreu, não para fazer com que Deus nos amasse, mas porque Ele já amava o Seu povo. O Calvário é a suprema demonstração do amor divino. Sempre que você for tentado a duvidar do amor de Deus, volte ao Calvário. Há aqui, pois, abundante causa para confiança e paciência sob a aflição debaixo da mão de Deus. Cristo era amado pelo Pai, porém Ele não foi eximido de pobreza, humilhação e perseguição. Cristo teve fome e sede. Assim, quando Cristo permitiu que os homens cuspissem nEle e O golpeassem, isso não foi incompatível com o amor de Deus por Ele. Portanto, que nenhum cristão questione o amor de Deus quando passar por aflições e provações. Deus não enriqueceu a Cristo na terra com prosperidade temporal, pois Ele não tinha "... onde reclinar a cabeça" - Mateus 8:20. Mas Deus Lhe deu o Espírito sem medida (João 3:34). Aprenda o cristão, pois, que as bênçãos espirituais são os principais dons do amor divino. Que bênção saber que, ao passo que o mundo nos odeia, Deus nos ama!

Jo 16.27 – “pois o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus.”

Rm 5.8 – “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.”

1 Jo 3.1- “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque não conheceu a ele.”

c) A GRAÇA DE DEUS.

A significativa palavra “graça” é uma tradução do termo hebraico «chanan» e do grego «charis». A graça é a única fonte da qual fluem a boa vontade, o amor e a salvação de Deus para o Seu povo escolhido. Este atributo do caráter divino foi definido por Abraham Booth em seu proveitoso livro, The Reign of Grace — O Reino da Graça, assim:

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“É o livre, absoluto e eterno favor de Deus, manifesto na concessão de bênçãos espirituais e eternas a culpados e indignos”. A graça divina é o soberano e salvador favor de Deus exercido na dádiva de bênçãos a pessoas que não têm em si mérito nenhum, e pelas quais não se exige delas nenhuma compensação. Não apenas isso, é ainda mais; é o favor de Deus demonstrado a pessoas que, não só não possuem merecimentos próprios, mas são totalmente merecedoras do inferno. A Bíblia geralmente emprega apalavra para indicar a imerecida bondade ou amor de Deus aos que perderam o direito a ela e, por natureza, estão sob a sentença de condenação. A graça de Deus é a fonte de todas as bênçãos espirituais concedidas aos pecadores.

Quando dizemos que uma coisa é "de graça", queremos dizer que seu recebedor não tem direitos sobre ela, que de maneira nenhuma ela lhe era devida. Chega-lhe como pura caridade e, a princípio, não solicitada nem desejada por ele.

"A graça" está em directa oposição a obras e merecimento, todas as obras e todo merecimento . Vê-se isto com muita clareza em Romanos 11:6 - "E se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se é por obras, já não é pela graça; de outra maneira, as obras já não são obras". É impossível unir a graça e as obras . “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” – Efésios 2:8-9. O absoluto favor de Deus não pode harmonizar-se com o mérito

humano. Romanos 4:4-5 – “Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida; porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça”.

São três às principais características da graça divina:

1) A Graça de Deus é eterna. A graça foi planejada antes de ser exercida, e fez parte do propósito divino antes de ser gerada: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" - 2 Timóteo 1:9.

2) A Graça de Deus é livre, ou gratuita, pois ninguém a pôde comprar jamais: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça..." - Romanos 3:24.

3) A Graça de Deus é soberana, porque Deus a exerce em favor daqueles a quem Lhe apraz, e a estes a concede: "Para que... também a graça reinasse..." - Romanos 5:21. Se a graça "reina", ocupa um trono, e o ocupante do trono é soberano. Daí o "... trono da graça..." - Hebreus 4:16. Exactamente porque a graça é um favor imerecido, exerce-se necessariamente de maneira soberana. Portanto, o Senhor declara: "Terei misericórdia" (ou graça) "...de quem eu tiver misericórdia,..'" - Êxodo 33:19. O grande Deus não está sob nenhuma obrigação para com nenhuma de Suas criaturas, menos ainda para com os que são rebeldes contra Ele. A vida eterna é um dom e, portanto, não pode ser obtida pelas boas obras, nem reivindicada como um direito. Vendo que a salvação é um "dom", quem tem direito de dizer a Deus a quem Ele deve doá-lo? Não é que o Doador recusa este dom a qualquer que o busque de todo coração e de acordo com as regras que Ele prescreveu. Não; Ele não o recusa a ninguém que O busca de mãos vazias e da maneira determinada por Ele. Mas, se de um mundo impenitente e incrédulo Deus está resolvido a exercer o Seu direito soberano escolhendo um número limitado de pessoas para ser salvas, quem sai prejudicado? Estará Deus obrigado a impor o Seu dom aos que não lhe dão valor? Estará Deus compelido a salvar os que estão determinados a seguir o seu próprio caminho?

Nada, porém, enraivece mais o homem natural e mais contribui para trazer à tona a sua inata e inveterada inimizade contra Deus, do que insistir com ele sobre a eternidade, a

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gratuidade e a absoluta soberania da graça divina. Dizer que Deus formou Seu propósito desde a eternidade, sem nenhuma consulta à criatura, é demasiadamente humilhante para o coração não quebrantado. Dizer que a graça não pode ser adquirida ou conquistada pelos esforços do homem, esvazia demais o ego dos que confiam em sua justiça própria. E o facto de que a graça separa os que ela quer para serem os objetos do seu favor, provoca acalorados protestos dos rebeldes arrogantes. Um rebelde infractor da lei atreve-se a questionar a justiça da soberania divina.

"Onde o pecado abundou, diz a proclamação do tribunal do céu superabundou a graça.

Manassés foi um monstro cruel, pois fez passar seus próprios filhos pelo fogo, e encheu Jerusalém de sangue inocente. Manassés foi perito em iniquidade, pois, não só multiplicou, chegando a extremos extravagantes, as suas impiedades, como também envenenou os princípios e perverteu os costumes dos seus súbditos, fazendo-os agir pior do que os pagãos idólatras mais detestáveis. Veja 2 Crônicas 33. Contudo, através desta “super abundante graça”, ele se humilhou, mudou de vida, e se tornou um filho do amor que perdoa e um herdeiro da glória imortal.

Veja Saulo, aquele perseguidor cruel e sanguinário, quando, “respirando ameaças” e disposto à matança, atormentava as ovelhas de Jesus e levava à morte os Seus discípulos. A devastação que causara e as famílias inofensivas que arruinara, não eram suficientes para mitigar o seu espírito vingativo. Eram apenas uma amostra para o paladar que, em vez de saciar a sede de sangue, fizeram-no seguir mais de perto a presa e ansiar mais ardentemente pela destruição. Continuava sedento de violência e morte. Tão ávida e insaciável era sua sede, que chegava a respirar ameaças e mortes. Atos 9:1 – “Paulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote”. Suas palavras eram verdadeiras lanças e flechas, e a sua língua, uma espada afiada. Para ele, ameaçar os cristãos era tão natural como respirar. Nos propósitos do seu coração rancoroso, eles não paravam de sangrar. Só devido à falta de poder é que cada sílaba que proferia e cada sopro da sua respiração não espalhavam mais mortes nem faziam cair mais discípulos inocentes. Quem, segundo os princípios da justiça humana, não o teria pronunciado vaso da ira, destinado a inevitável condenação? E mais, quem não estaria pronto a concluir que, se houvesse cadeias mais pesadas e masmorra mais triste no mundo das torturas, certamente se reservariam para tão implacável inimigo da verdadeira religiosidade? Entretanto, admirai e adorai os inexauríveis tesouros da graça — este Saulo é admitido na santa comunhão dos profetas, é enumerado com o nobre exército de mártires e faz distinguida figura no glorioso colégio dos apóstolos.

Era assustadora a maldade dos coríntios. Alguns deles chafurdavam em tão abomináveis libertinagens, e estavam habituados a tão ultrajantes actos de injustiça que eram uma infâmia até para a natureza humana. Contudo, até mesmo esses filhos da violência e escravos do sensualismo foram lavados, santificados, justificados (1 Coríntios 6:9-11). "Lavados" no sangue precioso do Redentor que deu Sua vida; "santificados" pelas poderosas operações do bendito Espírito; "justificados" através das misericórdias infinitamente ternas do Deus da graça. Os que outrora foram um aflitivo fardo para a terra, vieram a ser o júbilo do céu, o encanto dos anjos.

Agora, a graça de Deus se manifesta no Senhor Jesus Cristo, por Ele e através dEle.-“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” - João 1:17. Isto não significa que Deus nunca exercera a Sua graça em favor de alguém antes de encarnar-Se o Seu Filho, Gênesis 6:8 – “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.” Êxodo 33:19 – “Respondeu-lhe o Senhor: Eu farei passar toda a minha bondade diante de ti, e te proclamarei o meu nome

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Jeová; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer.” Mas a graça e a verdade foram plenamente reveladas e perfeitamente exemplificadas quando o Redentor veio a esta terra e morreu na cruz por Seu povo. É somente através de Cristo, o Mediador, que a graça de Deus flui para os Seus eleitos. "Muito mais a graça de Deus e o dom pela graça, que é dum só homem (ou "por um SÔ homem"), Jesus Cristo... muito mais os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só — Jesus Cristo... para que... também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor" – Romanos 5:15, 17, 21).

A graça de Deus é proclamada no evangelho Atos 20:24 – “mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” o qual é para o judeu confiante em sua justiça própria um "escândalo" (ou "pedra de tropeço"), e para o grego presunçoso e filósofo "loucura". Por quê? Porque não há nada no evangelho que se preste para gratificar o orgulho do homem. Ele anuncia que se não formos salvos pela graça, não seremos salvos de modo nenhum; Ele declara que, fora de Cristo - o Dom inefável da graça de Deus — o estado de todos os homens é desesperador, irremediável, sem esperança. O evangelho trata os homens como criminosos culpados, condenados e mortos. Declara que o moralista mais puro está na mesma condição terrível em que se encontra o libertino mais carnal; que o religioso confesso e zeloso, com todas as suas práticas religiosas, não é melhor do que o mais profano infiel.

O evangelho considera a todo descendente de Adão como pecador decaído, corrupto, merecedor do inferno e desvalido. A graça que o evangelho divulga é a sua única esperança. Todos permanecem diante de Deus como réus sentenciados, transgressores da Sua santa lei, como criminosos culpados e condenados, não a espera de alguma sentença, mas esperando a execução da sentença já passada sobre eles João 3:18 – “Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”; Romanos 3:19 – “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus”

O Espírito Santo é o comunicador da graça pelo que e denominado "... o Espírito de graça... " - Zacarias 12-10. “de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?” – Hebreus 10.29

Deus, o Pai, é a fonte de toda graça, pois Ele em Si mesmo determinou a aliança eterna da redenção. Deus, o Filho, é o único canal da graça. O evangelho é o divulgador da graça. O Espírito Santo é o doador. Ele aplica o evangelho com poder salvador à alma vivificando os eleitos enquanto ainda mortos, dominando as suas vontades rebeldes, amolecendo os seus duros corações, abrindo-lhes os olhos da sua cegueira, limpando-os da lepra do pecado. G. S. Bishop dizia: «A graça é uma provisão para homens que se encontram tão decaídos que não podem erguer o machado da justiça, tão corruptos que não podem mudar a sua própria natureza, tão contrários a Deus que não podem voltar para Ele, tão cegos que não podem vê-Lo, tão surdos que não podem ouvi-Lo, e tão mortos que Ele mesmo precisa abrir os seus túmulos e levantá-los para a ressurreição"

Como tal, lemos a seu respeito em Ef 1. 6,7 – “para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça.”

No modernismo teológico, com sua “falsa crença” na bondade inerente do homem e em sua capacidade de bastar-se a si próprio, a doutrina da salvação pela graça tornou-se praticamente um “acorde perdido”, e mesmo a palavra “graça” foi esvaziada de toda significação espiritual e desapareceu dos discursos religiosos. Só foi conservada no sentido

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de “graciosidade”, coisa inteiramente externa. Felizmente há algumas evidências de uma renovada ênfase ao pecado, e de uma recém-despertada consciência da necessidade da graça divina.

d) A MISERICÓRDIA DE DEUS.

Outro importante aspecto da bondade e amor de Deus é a Sua misericórdia ou terna compaixão. A palavra hebraica mais geralmente empregada para esta perfeição é «chesed». Há outra palavra, porém, que expressa uma terna e profunda compaixão, a saber, a palavra «racham», às vezes lindamente traduzida por “terna misericórdia”. A Septuaginta e o Novo Testamento empregam a palavra grega «eleos» para designar a misericórdia de Deus.

Se a graça de Deus vê o homem como culpado diante de Deus e, portanto, necessitado de perdão, a misericórdia de Deus o vê como um ser que está suportando as conseqüências do pecado, que se acha em lastimável condição, e que, portanto, necessita do socorro divino. A misericórdia divina é a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos. Em Sua misericórdia Deus se revela um Deus compassivo, que tem compaixão dos que se acham na miséria e está sempre pronto a aliviar a sua desgraça. Esta misericórdia é generosa, Dt 5.10 – “e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.”

Sl 86.5 – “Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam.”

Os poetas de Israel se dedicam em entoar canções descrevendo-a como duradoura e eterna, 1 Cr 16.34 – “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre.” Veja também o Salmo 136.

Ed 3.11 – “E cantavam a revezes, louvando ao Senhor e dando-lhe graças com estas palavras: Porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E todo o povo levantou grande brado, quando louvaram ao Senhor, por se terem lançado os alicerces da casa do Senhor.”

Repetidamente se nos diz que essa perfeição divina é demonstrada para com os que temem a Deus, Ex 20.2 – “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”

Dt 7.9 – “Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos”

Sl 86.5 – “Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam.”

Lc 1.50 – “E a sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem.”

Não significa, porém, que se limita a eles, conquanto a desfrutem em medida especial. As ternas misericórdias de Deus estão sobre todas as Suas obras, Sl 145.9 – “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras.” E até os que não O temem compartilham delas, Ez 18.23 – “Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?”

Ez 18.32 – “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus; convertei-vos, pois, e vivei”

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Ez 33.11- “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?”

Lc 6.35, 36 – “Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os integrantes e maus. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.”

Não se pode apresentar a misericórdia de Deus como oposta à Sua justiça. Ela é exercida somente em harmonia com a mais estrita justiça de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo. Outros termos empregados para expressar a misericórdia de Deus são “piedade”, “compaixão”, “benignidade”.

e) A LONGANIMIDADE DE DEUS.

A longanimidade de Deus é ainda outro aspecto da Sua grande bondade ou amor. O hebraico emprega a expressão ‘erek ‘aph, que significa literalmente “grande de rosto” e daí também “lento para a ira”, enquanto que o grego expressa a mesma idéia com a palavra makrothymia. É o aspecto da bondade ou amor de Deus em virtude do qual Ele tolera os rebeldes e maus, apesar da sua prolongada desobediência. No exercício deste atributo o pecador é visto como permanecendo em pecado, não obstante as admoestações e advertências que lhe vêm. Revela-se no adiantamento do merecido julgamento. A Escritura fala da longanimidade de Deus em Êx 34.6 – “Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeovã, Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade”.

Sl 86.15 – “Mas tu, Senhor, és um Deus compassivo e benigno, longânimo, e abundante em graça e em fidelidade.”

Rm 2.4 – “Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento?”

1 Pe 3.20 – “os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água”

2 Pe 3.15 – “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”

Um termo sinônimo, com uma conotação ligeiramente diversa, é a palavra “paciência”.

f) A SANTIDADE DE DEUS.

A palavra hebraica para “ser santo”, qadosh, deriva da raiz qad, que significa cortar ou separar. É uma das palavras religiosas mais proeminentes do Velho Testamento, e é aplicada primariamente a Deus. A mesma idéia é comunicada pelas palavras hagiazo e hagios, no Novo Testamento. Disto já se vê que não é correto pensar na santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente se faz. Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa.

Sua natureza.

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A idéia bíblica da santidade de Deus é dupla. Em sentido original significa que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, a santidade de Deus é um dos Seus atributos transcendentais e às vezes é mencionada como a Sua perfeição central e suprema. Não parece próprio falar de um atributo de Deus como sendo mais central e mais fundamental que outro; mas, se fosse permissível isto, a ênfase da Escritura à santidade de Deus pareceria justificar a sua escolha. Contudo, é evidente que, neste sentido da palavra, a santidade não é realmente um atributo moral, que possa ser coordenado com outros, como o amor, a graça e a misericórdia, mas é antes uma coisa de amplitude igual à de todos os predicados de Deus e a eles aplicável. Ele é santo em tudo aquilo que O revela, em Sua graça e bondade como também em Sua ira e justiça.

Pode-se-lhe chamar “majestade-santidade” de Deus e as passagens abaixo se referem a ela:

Ex 15.11 – “Quem entre os deuses é como tu, ó Senhor? e quem é como tu poderoso em santidade, admirável em louvores, operando maravilhas?”

1 Sm 2.2 – “Ninguém há santo como o Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como a nosso Deus.”

Is 57.15 – “Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.”

Os 11.9 – “Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; eu não virei com ira.”

É a santidade de Deus que Otto, em sua importante obra sobre o Santo (Das Heilige), considera como “parte do não-racional em Deus, em que não se pode pensar conceitualmente, e que inclui idéias como “inacessibilidade absoluta” e “domínio absoluto” ou “majestade temível”. Desperta no homem um sentimento de nulidade absoluta, uma “consciência” ou “sentimento de condição de criatura” que leva a um auto-rebaixamento absoluto.

Mas a santidade de Deus tem também um aspecto especificamente “ético” na Escritura, e é neste seu aspecto que estamos mais interessados nesta abordagem. A idéia ética da santidade divina não pode ser dissociada da idéia da majestade-santidade de Deus. Aquela desenvolve-se a partir desta. A idéia fundamental da santidade ética de Deus também é a de separação, mas, neste caso, a separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em virtude da sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, Jó 34.10 – “Pelo que ouvi-me, vós homens de entendimento: longe de Deus o praticar a maldade, e do Todo-Poderoso o cometer a iniqüidade!”

Hc 1.13 – “Tu que és tão puro de olhos que não podes ver o mal, e que não podes contemplar a perversidade...”

Empregada neste sentido, a palavra “santidade” indica a pureza majestosa de Deus, ou a Sua majestade ética. Mas a idéia de santidade não é meramente negativa (separação do pecado); tem igualmente um conteúdo positivo, a saber, o de excelência moral, ou perfeição ética. Se o homem reage à “santidade majestosa” de Deus com um sentimento de completa insignificância e temor, sua reação à “santidade ética” revela-se num senso de impureza, numa consciência de pecado, Is 6.5 – “Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”

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O simples temor, a simples necessidade de refúgio face ao ‘tremendo’, elevou-se aqui ao sentimento de que o homem, em sua condição de ‘profano’, não é digno de ficar na presença do Santo.

Esta “santidade ética” de Deus é definida como a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas.

Sua manifestação.

A santidade de Deus é revelada na lei moral implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência e, mais particularmente, na revelação especial de Deus. Expressa-se proeminentemente na lei dada a Israel. Essa lei, em todos os seus aspectos, foi planejada para imprimir em Israel a idéia da santidade de Deus, e para levá-lo a sentir fortemente a necessidade de levar vida santa. A este propósito atendem símbolos e tipos como a nação, a “terra santa”, a “cidade santa”, o “lugar santo” e o “sacerdócio santo”. Além disso, foi revelada na maneira como Deus recompensava a observância da lei e visitava os transgressores com terríveis punições.

A suprema revelação da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, que é chamado “o Santo e o Justo”, At 3.14 – “Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida”. Ele refletiu em Sua vida a perfeita santidade de Deus.

g) A JUSTIÇA DE DEUS.

Este atributo relaciona-se estreitamente com o da santidade de Deus. Shedd fala da justiça de Deus como “um modo de Sua santidade”, e Strong lhe chama simplesmente “santidade transitiva”. Contudo, estes termos só se aplicam à geralmente denominada justiça relativa de Deus, em distinção de Sua justiça absoluta.

A idéia fundamental de justiça.

A idéia fundamental de justiça é a de estrito apego à lei. Entre os homens ela pressupõe que há uma lei à qual eles devem ajustar-se. Às vezes se diz que não podemos falar de justiça em Deus, porque não há lei à qual Ele esteja sujeito. Mas, embora não haja lei acima de Deus, certamente há uma lei na própria natureza de Deus, e esta constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual todas as outras leis são julgadas. Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a relativa.

Justiça absoluta é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é infinitamente recto em Si mesmo.

Justiça relativa é a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação da Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é Santo. É a esta retidão que o termo “justiça” se aplica mais particularmente. A justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem o que lhe é devido, em tratá-lo de acordo com os seus merecimentos. A inerente retidão de Deus é naturalmente básica para a retidão que Ele revela no trato de Suas criaturas, mas é especialmente esta última, também denominada justiça de Deus, que requer especial consideração aqui. Esta perfeição é repetidamente atribuída a Deus na Escritura:

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Ed 9.15 – “Senhor Deus de Israel, justo és, pois ficamos qual um restante que escapou, como hoje se vê. Eis que estamos diante de ti em nossa culpa; e, por causa disto, ninguém há que possa subsistir na tua presença.”

Ne 9.8 – “E achaste o seu coração fiel perante ti, e fizeste com ele o pacto de que darias à sua descendência a terra dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos perizeus, dos jebuseus e dos girgaseus; e tu cumpriste as tuas palavras, pois és justo.”

Sl 119.137 – “Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos.”

145.17 – “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e benigno em todas as suas obras.”

Jr 12.1 – “Justo és, ó Senhor, ainda quando eu pleiteio contigo; contudo pleitearei a minha causa diante de ti. Por que prospera o caminho dos ímpios? Por que vivem em paz todos os que procedem aleivosamente?”

Lm 1.18 - “Justo é o Senhor, pois me rebelei contra os seus mandamentos; ouvi, rogo-vos, todos os povos, e vede a minha dor; para o cativeiro foram-se as minhas virgens e os meus mancebos.”

Dn 9.14 – “por isso, o Senhor vigiou sobre o mal, e o trouxe sobre nós; pois justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as obras que faz; e nós não temos obedecido à sua voz.”

Jo 17.25 – “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço...”

1 Jo 3.7 – “Filhinhos, ninguém vos engane; quem pratica a justiça é justo, assim como ele é justo”

Ap 16.5 - E ouvi o anjo das águas dizer: Justo és tu, que és e que eras, o Santo; porque julgaste estas coisas”

Distinções aplicadas à justiça de Deus.

Justiça da rectidão de Deus. Esta justiça, como está implícito no nome, é a retidão que Deus manifesta como o Governador que exerce domínio tanto sobre o bem como sobre o mal. Em virtude deste aspecto da Sua justiça, Deus instituiu um governo moral no mundo, e impôs ao homem uma lei justa, com promessas de recompensa ao obediente e ameaças de punição ao transgressor. Nas Escrituras Deus sobressai muitas vezes como o Legislador de Israel e do povo em geral, Tg 4.12 – “Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?”

Suas leis são justas, Dt 4.8 – “E que grande nação há que tenha estatutos e preceitos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?”

A Bíblia refere-se a esta obra da rectidão de Deus também em Sl 99.4 - “És Rei poderoso que amas a justiça; estabeleces a equidade, executas juízo e justiça em Jacó.”

Rm 1.32 – “os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.”

Justiça remunerativa, que se manifesta na distribuição de recompensas a homens e anjos, Dt 7.9 – “Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos.”

Dt 7.12, 13 – “Sucederá, pois, que, por ouvirdes estes preceitos, e os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Deus te guardará o pacto e a misericórdia que com juramento prometeu a teus pais; ele te amará, te abençoará e te fará multiplicar; abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu grão, o teu

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mosto e o teu azeite, a criação das tuas vacas, e as crias dos teus rebanhos, na terra que com juramento prometeu a teus pais te daria.”

2 Cr 6.16 – “Agora, pois, Senhor, Deus de Israel, cumpre ao teu servo Davi, meu pai, o que lhe promete-te, dizendo: Nunca te faltará varão diante de mim, que se assente sobre o trono de Israel; tão somente que teus filhos guardem o seu caminho para andarem na minha lei, como tu andaste diante de mim.”

Sl 58.11 – “Então dirão os homens: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.”

Mt 25.21 – “Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.”

Rm 2.7, 8 – ”A saber: a vida eterna aos que, com perseverança em favor o bem, procuram glória, e honra e incorrupção; mas ira e indignação aos que são contenciosos, e desobedientes à iniqüidade”.

Hb 11.26 – “tendo por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.”

É realmente uma expressão do amor divino distribuindo a Sua generosidade, não com base em méritos propriamente ditos, pois a criatura não pode dar prova de nenhum mérito absoluto diante do Criador, mas segundo promessa e acordo, Lc 17.10 – “Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer.”

1 Co 4.7 – “Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” As recompensas de Deus são fruto da sua graça e decorrem de uma relação pactual estabelecida por Ele.

Justiça retributiva, que se relaciona com a imposição de castigos. É uma expressão da ira divina. Enquanto que num mundo isento de pecado não haveria lugar para a sua aplicação, necessariamente tem proeminente lugar num mundo cheio de pecado. A Bíblia em geral dá mais ênfase à recompensa dos justos que à punição dos ímpios; mas mesmo esta é bastante proeminente, Rm 1.32 – “os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.”

Rm 12.19 - “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.”

2 Ts 1.8 – “e tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.”

Deve-se notar que, ao passo que o homem não merece a recompensa que recebe, merece a punição que lhe é dada. A justiça divina está originária e necessariamente obrigada a punir o mal, não, porém a recompensar o bem, Lc 17.10 – “Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer.”

1 Co 4.7 – “Pois, o que te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” O propósito primordial da punição do pecado é a conservação da lei e da justiça. É certo que ela pode, incidentalmente, servir para reformar o pecador e impedir que outros pequem, e, secundariamente, isso pode estar incluído em seus propósitos.

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4.4. ATRIBUTOS DE SOBERANIA

A soberania de Deus recebe forte ênfase na Escritura. Ele é apresentado como o Criador, e

Sua vontade como a causa de todas as coisas. Em virtude de Sua obra criadora, o céu, a terra e tudo o que eles contêm Lhe pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta sobre as hostes celestiais e sobre os moradores da terra. Ele sustenta todas as coisas com a Sua omnipotência, e determina os fins que elas estão destinadas a cumprir. Ele governa como Rei no sentido mais absoluto da palavra, e todas as coisas dependem dele e Lhe são subservientes. As provas bíblicas da soberania de Deus são abundantes, mas aqui nos limitaremos a referir-nos a algumas das passagens mais significativas: Gn 14.19 – “e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra!”

Ex 18.11 – “Agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses; até naquilo em que se houveram arrogantemente contra o povo.”

Dt 10.14, 17 - Eis que do Senhor teu Deus são o céu e o céu dos céus, a terra e tudo o que nela há. Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem recebe peitas;

1 Cr 29.11, 12 - Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos. Tanto riquezas como honra vêm de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo.

2 Cr 20.6 - e disse: Ó Senhor, Deus de nossos pais, não és tu Deus no céu? e não és tu que governas sobre todos os reinos das nações? e na tua mão há poder e força, de modo que não há quem te possa resistir.

Ne 9.6 - Tu, só tu, és Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles já, e tu os conservas a todos, e o exército do céu te adora.

Sl 22.28 – “Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações.”

Sl 47.2, 3, 7, 8 - Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei sobre toda a terra. Ele nos sujeitou povos e nações sob os nossos pés. Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com salmo. Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre o seu santo trono.

Sl 50.10-12 - Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de outeiros. Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move no campo é meu. Se eu tivesse fome, não to diria pois meu é o mundo e a sua plenitude.

Sl 95.3-5 - Porque o Senhor é Deus grande, e Rei grande acima de todos os deuses. Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes são suas. Seu é o mar, pois ele o fez, e as suas mãos formaram a serra terra seca.

Sl 115.3 - Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.

Sl 135.6 - Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos.

Sl 145.11-13 - Falarão da glória do teu reino, e relatarão o teu poder, para que façam saber aos filhos dos homens os teus feitos poderosos e a glória do esplendor do teu reino. O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura por todas as gerações.

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Jr 27.5 - Sou eu que, com o meu grande poder e o meu braço estendido, fiz a terra com os homens e os animais que estão sobre a face da terra; e a dou a quem me apraz.

Lc 1.53 - Aos famintos encheu de bens, e vazios despediu os ricos.

At 17.24-26 - O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação.

Ap 19.6 - Também ouvi uma voz como a de grande multidão, como a voz de muitas águas, e como a voz de fortes trovões, que dizia: Aleluia! porque já reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso.

Dois atributos requerem discussão sob este título: A Vontade Soberana de Deus, e o Poder Soberano de Deus.

a) A VONTADE SOBERANA DE DEUS.

A importância da vontade divina aparece de várias maneiras na Escritura. É apresentada como a causa final de todas as coisas. Tudo é derivado dela: a criação e a preservação, Sl 135.6; Jr 18.6; Ap 4.11; o governo, Pv 21.1; Dn 4.35; a eleição e a reprovação, Rm 9.15, 16; Ef 1.11; os sofrimentos de Cristo, Lc 22.42; At 2.23; a regeneração, Tg 1.18; a santificação, Fp 2.13; os sofrimentos dos crentes, 1 Pe 3.17; a vida e o destino do homem. At 18.21; Rm 15.32; Tg 4.15, e até as menores coisas da vida, Mt 10.29. Daí, a teologia cristã sempre reconheceu a vontade de Deus como a causa última de todas as coisas.

É primariamente na vontade de Deus como a faculdade de autodeterminação que estamos interessados no momento. Esta pode ser definida como a perfeição do Seu Ser pela qual Ele, num acto sumamente simples, dirige-se a Si mesmo como o Sumo Bem (isto é, deleita-se em Si mesmo como tal) e as Suas criaturas por amor do Seu nome e, assim, é a base do ser e da continuada existência delas.

Distinções aplicadas à vontade de Deus.

Têm-se aplicado várias distinções à vontade de Deus. Estas são designadas como segue:

1) A vontade decretatória de Deus e Sua vontade preceptiva. A primeira é a vontade de Deus pela qual ele projecta ou decreta tudo que virá a acontecer, quer pretenda realizá-lo efetivamente (causativamente), quer permita que venha a ocorrer por meio da livre acção das Suas criaturas racionais. A segunda é a regra de vida que Deus firmou para as Suas criaturas morais, indicando os deveres que lhes impõe. A primeira é realizada sempre, ao passo que a segunda é desobedecida com frequência.

2) A vontade secreta de Deus e Sua vontade revelada. Esta distinção é a mais comum. A primeira é a vontade do decreto de Deus, em grande medida oculta em Deus, enquanto que a segunda é a vontade do preceito, revelada na Lei e no Evangelho. A distinção baseia-se em Dt 29.29 - “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.”

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A vontade secreta de Deus é mencionada em Sl 115.3 – “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.”

Dn 4.17 – “Esta sentença é por decreto dos vigias, e por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles.”

Dn 4.35 – “E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”

Rm 9.18, 19 – “Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece. Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?”

Ef 1.5, 9, 11 – “5 - ... e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 9 - ... fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs... 11 - nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.”

A Sua vontade revelada, é apresentada em Mt 7.21 – “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”

Mt 12.50 – “Pois qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.”

Jo 4.34 – “Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra.”

Jo 7.17 – “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo.”

Rm 12.2 – “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Esta última é acessível a todos, e não está longe de nós, Dt 30.14 – “Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.”

Rm 10.8 - “Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé, que pregamos.”

Deus tem Suas razões para querer como quer. Tem razões que O fazem a escolher um fim e não outro. Tem razões para escolher um meio para realizar um fim, em preferência a outros meios. Em cada caso há um motivo predominante, que torna o fim escolhido e os meios selecionados agradáveis a Ele, embora não sejamos capazes de determinar que motivo é esse. Em geral se pode dizer que Deus não pode querer nada que seja contrário à Sua natureza, à Sua sabedoria ao Seu amor, à Sua justiça, a Sua santidade. Raramente podemos discernir por que Deus quis uma coisa e não outra. Também não nos é possível, e tampouco permitido, procurar alguma base mais profunda do que a vontade de Deus para fundamentar as coisas.

b) O PODER SOBERANO DE DEUS.

A soberania de Deus acha expressão, não somente na vontade divina, mas também na onipotência de Deus, ou em Seu poder de executar a Sua vontade. Denomina-se o

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poder de Deus a eficaz energia da Sua natureza, ou a perfeição do Seu Ser pela qual Ele é a causalidade absoluta e suprema.

É comum distinguir-se entre Poder absoluto de Deus e Poder ordenado. De acordo com Hodge e Shedd, “o poder absoluto é a eficiência divina, exercida sem a intervenção de causas secundárias; enquanto que o poder ordenado é a eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas secundárias.” O conceito mais geral é exposto por Charnock como segue: “Absoluto é o poder pelo qual Deus é capaz de fazer o que Ele não fará, mas que tem possibilidade de ser feito; ordenado é o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer, isto é, o que Ele ordenou ou marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos, mas um e o mesmo poder. O Seu poder ordenado é parte do Seu poder absoluto; pois se Ele não tivesse poder para fazer tudo o que pudesse desejar, não teria poder para fazer tudo que deseja”. Poder ordenado pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele, mediante o simples exercício da Sua vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho.

A Bíblia nos ensina, por um lado, que o poder de Deus estende-se além daquilo que Ele tem realizado de facto:

Gn 18.14 – “Há, porventura, alguma coisa difícil ao Senhor? Ao tempo determinado, no ano vindouro, tornarei a ti, e Sara terá um filho.”

Jr 32.27 – “Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso há alguma coisa demasiado difícil para mim?”

Mt 3.9 – “e não queirais dizer dentro de vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.”

Mt 26.53 – “Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?”

A idéia da omnipotência de Deus é expressa pelo nome “El-Shaddai”; e a Bíblia fala a seu respeito em termos que não deixam dúvida, em passagens como:

Jó 9.12 – “Eis que arrebata a presa; quem o pode impedir? Quem lhe dirá: Que é o que fazes?”

Sl 115.3 – “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.”

Jr 32.17 – “Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil!”

Mt 19.26 – “Jesus, fixando neles o olhar, respondeu: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.”

Lc 1.37 – “porque para Deus nada é impossível.”

Rm 1.20 – “Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis.”

Ef 1.19 – “e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder.”

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Deus manifesta o Seu poder na criação:

Rm 4.17 – “(como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, que vivifica os mortos, e chama as coisas que não são, como se já fossem.”

Is 44.24 – “Assim diz o Senhor, teu Redentor, e que te formou desde o ventre: Eu sou o Senhor que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus, e espraiei a terra (quem estava comigo?)”

Deus manifesta o Seu poder nas obras da providencia:

Hb 1.3 – “sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas”

Deus manifesta o Seu poder na redenção de pecadores:

1 Co 1.24 – “mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.”

Rm 1.16 – “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.”

5. PROVA BÍBLICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS.

Para nós a existência de Deus é a grande pressuposição da teologia . Não há sentido em falar-se do conhecimento de Deus, se não se admite que Deus existe. A pressuposição da teologia cristã é um tipo muito definido. A suposição não é apenas de que há alguma coisa, alguma idéia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa aplicar o nome de Deus, mas que há um ser pessoal auto-consciente, auto-existente, que é a origem de todas as coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte da criação. Pode-se levantar a questão se esta suposição é razoável, questão que pode ser respondida na afirmativa. Não significa, contudo, que a existência de Deus é passível de uma demonstração lógica que não deixa lugar nenhum para dúvida; mas significa, sim, que, embora verdade da existência de Deus seja aceita pela fé, esta fé, se baseia numa informação confiável.

Embora a teologia reformada considere a existência de Deus como pressuposição inteiramente razoável, não se arroga a capacidade de demonstrar isto por meio de uma argumentação racional. Dr. Kuyper fala como segue da tentativa de fazê-lo: “A tentativa de provar a existência de Deus ou é inútil ou é um fracasso. É inútil se o pesquisador acredita que Deus recompensa aqueles que O procuram. É um fracasso se se trata de uma tentativa de forçar, mediante argumentação, ao reconhecimento, num sentido lógico, uma pessoa que não tem esta pistis ” .

O Cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Mas esta fé não é uma fé cega, mas fé baseada em provas, e as provas se acham, primariamente, na Escritura como a Palavra de Deus inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na natureza. A prova bíblica sobre este ponto não nos vem na forma de uma declaração explícita, e muito menos na forma de um argumento lógico. Nesse sentido a Bíblia não prova a existência de Deus. O que mais se aproxima de uma declaração talvez seja o que lemos em Hebreus 11:6 “... é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.

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A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial, “No principio criou Deus os céus e a terra”. Ela não somente descreve a Deus como o Criador de todas as coisas, mas também como o Sustentador de todas as Suas criaturas. E como o Governador de indivíduos e nações. Ela testifica o fato de que Deus opera todas as coisas de acordo com o conselho da Sua vontade, e revela a gradativa realização do Seu grandioso propósito de redenção. O preparo para esta obra, especialmente na escolha e direção do povo de Israel na velha aliança, vê-se claramente no Velho Testamento, e a sua culminação inicial na Pessoa e Obra de Cristo ergue-se com grande clareza nas páginas do Novo testamento.

Vê-se Deus em quase todas as páginas da Escritura Sagrada em que Ele se revela em palavras e actos. Esta revelação de Deus constitui a base da nossa fé na existência de Deus, e a torna uma fé inteiramente razoável. Deve-se notar, contudo, que é somente pela fé que aceitamos a revelação de Deus e que obtemos uma real compreensão do seu conteúdo. Disse Jesus, “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” - João 7.17. É este conhecimento intensivo, resultante de íntima comunhão com Deus, que Oséias tem em mente quando diz, “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” - Oséias 6.3. O incrédulo não tem nenhuma real compreensão da palavra de Deus. As palavras de Paulo são pertinentes nesta abordagem: “Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação” - 1 Coríntios 1.20, 21.

6. OS NOMES DE DEUS

O que há num nome? Na cultura hebraica, o nome de alguém não é um mero título; é uma expressão ou revelação da pessoa. Nas Escrituras, encontramos vários exemplos disso: Abraão significa “pai de muitas nações” - Génesis 17:5, Jacó significa “aquele que agarra sua mão ao calcanhar” ou “aquele que engana” - Génesis 25:26; 27:36, Nabal significa “louco” - I Samuel 25:25, e Barnabé significa “filho da consolação” - Actos 4:36. Todos estes nomes reflectem o carácter dos homens que os carregaram. De forma semelhante, os nomes de Deus são inseparáveis da Sua pessoa. Devem ser recebidos como uma fiel revelação dEle. Cada nome de Deus expressa uma determinada verdade sobre o Seu carácter e Sua pessoa.

Vamos agora considerar os nomes de Deus.

(HEBRAICO: EL)

A palavra “El” é um dos nomes de Deus mais antigos e mais usualmente empregados pelos povos semitas (babilónios, fenícios, aramaicos, hebreus). O significado do nome denota poder, força, grandeza e majestade. Este nome é usado 208 vezes nas Escrituras.

Salmos 19:1- “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.”

Isaías 43:12 – “Eu anunciei, e eu salvei, e eu o mostrei; e deus estranho não houve entre vós; portanto vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor.”

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(HEBRAICO: ELOAH)

Transmite as mesmas ideias que “El” – poder, força, grandeza e majestade. A palavra ocorre 56 vezes no Velho Testamento, 41 vezes no livro de Jó.

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Jó 22:12 – “Não está Deus na altura do céu? Olha para as mais altas estrelas, quão elevadas estão!”

33:12, 37:22, 40:2, etc).

(HEBRAICO: ELOHIM)

A palavra “elohim” é o primeiro nome de Deus que aparece nas Escrituras (Génesis 1:1) e é usado referindo-se a Deus quase mais do que qualquer outro nome nas Escrituras, 2570 vezes. O nome “elohim” é provavelmente a forma plural de “eloah” e transmite as mesmas ideias de força e poder. Nas Escrituras, “elohim” é traduzido de quatro formas distintas, dependendo do contexto. O termo pode referir-se a:

O facto de elohim ser uma palavra no plural é muito importante e tem duas possíveis interpretações: 1º Todas as línguas semíticas usam o plural para comunicar que algo é excepcional ou único. Um pequeno corpo de água seria chamado de ― água, enquanto que um enorme corpo de água seria chamado de ― águas. A palavra plural “elohim” é usada em relação a Deus, não porque exista mais de um Deus, mas porque Ele é um Deus grande e incomparável, o único Deus verdadeiro acima de todos os deuses. 2º A palavra plural “elohim” pode eventualmente indicar a pluralidade de pessoas no seio da Trindade.

(ARAMAICO: ELAH / GREGO: THEOS)

A palavra aramaica “elah” é traduzida por Deus nas porções aramaicas dos livros de Esdras 4:8; 6:18; 7:12-26 e de Daniel 2:4b - 7:28. A palavra grega “theos” é traduzida como Deus em todo o Novo Testamento. Nenhuma das palavras contribui com algo de novo para a compreensão bíblica de Deus.

ALTÍSSIMO (HEBRAICO: ELYON / ARAMAICO: ILLAI / GREGO: HUPSISTOS)

A palavra hebraica “elyon” é traduzida por Altíssimo, e denota a posição de exaltação e indescritível majestade de Deus. Em Salmos 97:9 lemos: ― “Pois tu, SENHOR, és o mais alto sobre toda a terra; tu és muito mais exaltado do que todos os deuses”. A palavra é usada 31 vezes nas Escrituras. Nos trechos em aramaico de Daniel 2:4b - 7:28, o nome Altíssimo é traduzido da palavra aramaica “illai”. No Novo Testamento, o nome Altíssimo é traduzido do grego hupsistos (Marcos 5:7, Lucas 1:32, 35, 76; 6:35; 8:28; Actos 7:48,16:17; Hebreus 7:1).

TODO-PODEROSO (HEBRAICO: SHADDAI / GREGO: PANTOKRÁTOR)

A palavra hebraica “shaddai” é traduzida como Todo-Poderoso, e denota o poder infinito de Deus. Na Septuaginta (a tradução grega do Velho Testamento, a partir do hebraico), a palavra é traduzida pela palavra pantokrátor (todo-poderoso), e na Vulgata Latina é traduzido como omnipotens, da qual deriva a palavra portuguesa omnipotente.

SENHOR (HEBRAICO: ADON, ADONAI)

O nome “Adon” denota senhorio e possessão. Nas Escrituras, quando este nome se encontra no plural (i.e. Adonai) refere-se sempre a Deus. A forma plural indica intensidade — Deus é o Senhor absoluto de todas as coisas, sem excepção. O título “Adonai” indica o Senhorio de Deus sobre toda a criação. Também transmite muito acerca da relação que existe entre Deus e o Seu povo. Enquanto Dono e Mestre, Deus está comprometido a cuidar do Seu povo e a prover as suas necessidades. Enquanto servos do Mestre, devemos estar comprometidos a servi-lO em absoluta obediência. O nome “Adonai” surge 456 vezes nas Escrituras referindo-se a Deus.

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SENHOR (HEBRAICO: YAHWEH OU JEOVÁ)

“Yahweh” é o nome pessoal de Deus e um dos mais utilizados na Escrituras (6825 vezes). No hebraico, o nome é escrito sob a forma de um tetragrama (palavra com quatro letras): YHWH. Embora não se saiba ao certo, a verdadeira pronúncia é provavelmente “Yahweh” (ou Jeová). A grande maioria dos estudiosos da Bíblia acredita que o nome “Yahweh” vem do verbo “hayáh” – ser (Êxodo 3:14). O nome denota a eternidade, imutabilidade e singularidade de Deus. É importante reconhecer que o Senhor Jesus Cristo aplicou este nome a Si mesmo (João 8:58-59) e, portanto, afirmou a Sua divindade.

SENHOR (HEBRAICO: YAH)

O nome “Yah” é a forma contraída de “Yahweh”. Aparece 48 vezes nas Escrituras, principalmente no livro de Salmos e na exclamação aleluia: hallelu[yah (i.e. ― Louvai Jeová! ou ―Louvai o Senhor!). A palavra “yah” também faz parte de vários nomes de pessoas nas Escrituras: Elias – Eli[yah] (i.e. ― O meu Deus é o Jeová ou ―Jeová é Deus).

SENHOR (GREGO: KÚRIOS OU KYRIOS)

Para os gregos, a palavra “kyrios” podia referir-se a um homem de alta posição e poder, ou a um ser sobrenatural (i.e. um deus). A palavra é usada na Septuaginta (a tradução grega do Velho Testamento a partir do hebraico) no lugar do nome hebraico “Yahweh” ou “Jeová”, e no Novo Testamento transmite a ideia hebraica de Deus como Senhor. Apalavra é utilizada 640 vezes no Novo Testamento referindo-se a Deus. É significativo que a palavra “kyrios” seja usada sem reservas referindo-se a Jesus.

SENHOR (GREGO: DESPÓTES)

A palavra grega “despótes” denota posse e senhorio absoluto. No seu mais antigo uso, o despótes era o mestre da casa, que governava com autoridade absoluta. Com o tempo, o termo passou a designar alguém de autoridade política ilimitada, ou até mesmo tiránica. Hoje, o termo é mais usado negativamente pela simples razão de que o poder absoluto corrompe homens caídos. Quando o termo é atribuído a Deus na Septuaginta e no Novo Testamento, não comunica nada de negativo. Deus é o Dono e Senhor, por direito, de tudo o que Ele criou. A Sua santidade e justiça garantem que Ele sempre usará a autoridade absoluta com perfeita justiça. O termo “despótes” é usado 6 vezes no Novo Testamento referindo-se a Deus (Lucas 2:29, Atos 4:24; II Timóteo 2:21; 2 Pedro 2:1; Judas 1:4; Apocalipse 6:10). Em 2 Pedro 2:1 e Judas 1:4, a referência é feita especificamente a Jesus Cristo.

6.1. UM OLHAR MAIS ATENTO PARA JEOVÁ.

Agora iremos considerar brevemente os nomes compostos de Deus, que são formados com o nome de Yahweh. Cada nome irá dar-nos uma melhor noção da pessoa e obra de Deus.

O SENHOR DOS EXÉRCITOS (HEBRAICO: YAHWEH-SABAOTH)

O nome Yahweh-Sabaoth representa a Deus como o omnipotente Rei e Guerreiro, que governa e protege o Seu povo. A palavra exércitos pode referir-se: 1º aos seres angelicais ou 2º ao cosmos – o sol, as estrelas e as forças da natureza. A idéia transmitida é que o Senhor governa sobre todos os seres e as coisas, sejam elas terrestres, cósmicas ou celestes. Ele realiza a Sua perfeita vontade e não há ninguém que se possa opor a Ele.

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Salmos 24:10 – “Quem é esse Rei da Glória? O Senhor dos exércitos; ele é o Rei da Glória”.

Isaías 6:1-5 – “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. E as bases dos limiares moveram-se à voz do que clamava, e a casa se enchia de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”

Isaías 31:4-5 – “Pois assim me diz o Senhor: Como o leão e o cachorro do leão rugem sobre a sua presa, e quando se convoca contra eles uma multidão de pastores não se espantam das suas vozes, nem se abstem pelo seu alarido, assim o Senhor dos exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro. Como aves quando voam, assim o Senhor dos exércitos protegerá a Jerusalém; ele a protegerá e a livrará, e, passando, a salvará.”

O SENHOR ALTÍSSIMO (HEBRAICO: YAHWEH -ELYON)

O nome “Yahweh-Elyon” fala da soberania, exaltação e majestade de Jeová. Deus é Senhor de tudo e acima de tudo – Ele é digno de toda adoração e louvor.

Salmos 7:17 – “Eu louvarei ao Senhor segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do Senhor, o Altíssimo.”

Salmos 47:2 – “Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei sobre toda a terra.”

Salmos 97:9 – “Pois tu, Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra; tu és sobremodo exaltado acima de todos os deuses.”

O SENHOR PROVERÁ (HEBRAICO: YAHWEH-JIREH)

Este nome foi atribuído a Deus pelo patriarca Abraão em Génesis 22:14 – “Pelo que chamou Abraão àquele lugar Jeová-Jiré; donde se diz até o dia de hoje: No monte do Senhor se proverá.” Em obediência ao mandamento de Deus, Abraão colocou o seu filho Isaque sobre o altar como sacrifício. Antes que Abraão pudesse atingir o seu filho, Deus deteve-o e providenciou um carneiro no seu lugar. A redenção que Deus proveu naquele dia, no Monte Moriá, levou Abraão a chamar aquele lugar de Yahweh-Jireh. Embora seja verdade que Deus é poderoso e fiel para suprir todas as nossas necessidades, o nome Yahweh-Jireh não é uma promessa de prosperidade económica, mas sim uma promessa de redenção do pecado. Nós devíamos morrer pelos nossos pecados (Romanos 6:23 – “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.”), mas Yahweh-Jireha presentou um sacrifício no nosso lugar – o Seu unigénito e amado Filho. Ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo (João 1:29 – “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”). É quase blasfemo enfatizar a prosperidade económica acima da redenção. Jesus não derramou o Seu sangue pelos nossos ganhos monetários, mas pela salvação das nossas almas – a redenção da alma é de elevado custo (Salmos 49:7-8 – “Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, nem por ele dar um resgate a Deus, pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que os seus recursos não dariam.”).

O SENHOR É A MINHA BANDEIRA (HEBRAICO: YAHWEH-NISSI)

Este nome foi utilizado por Moisés em Êxodo 17:15 (“Pelo que Moisés edificou um altar, ao qual chamou Jeová-Níssi.”), depois de Deus ter derrotado o exército dos amalequitas. Nos tempos antigos, as tropas reuniam-se em torno de um “estandarte” ou “bandeira” para se prepararem para

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a batalha. A verdade comunicada aqui é a de que Deus é a bandeira do Seu povo. Quando nos reunimos em torno dEle, a vitória é certa.

O SENHOR QUE SANTIFICA (HEBRAICO: YAHWEH -QADESH)

Este nome aparece pela primeira vez em Êxodo 31:13 (Falarás também aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis os meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós pelas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica.) e surge várias vezes no livro de Levítico.

Levítico 20:8 – “Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor, que vos santifico.”

Levítico 21:8 – “Portanto o santificarás; porquanto oferece o pão do teu Deus, santo te será; pois eu, o Senhor, que vos santifico, sou santo.”

A palavra santificar (hebraico: qadash) significa separar algo ou alguém do uso comum e consagrá-lo ou dedicá-lo para algum propósito especial. O nome Yahweh-Qadesh transmite muitas verdades maravilhosas ao povo de Deus. Deus separou-nos do restante dos povos da terra, Ele consagrou-nos para o Seu serviço e Ele está a trabalhar para nos conformar à Sua imagem.

O SENHOR É O MEU PASTOR (HEBRAICO: YAHWEH -RAAH)

Este nome é encontrado num dos capítulos mais conhecidos e amados de todas as Escrituras, Salmos 23. Para o povo de Deus, o nome Yahweh-Raah é um dos mais estimados. Deus é o pastor do Seu povo. Ele ama-os, alimenta-os, orienta-os e guarda-os dos seus inimigos.

Génesis 48:15 – “E abençoou a José, dizendo: O Deus em cuja presença andaram os meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor durante toda a minha vida até este dia.”

Génesis 49:24 – “mas o seu arco permaneceu firme, e os seus braços foram fortalecidos pelas mãos do Poderoso de Jacó, o Pastor, o Rochedo de Israel.”

Isaías 40:11 – “Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará mansamente.”

Ezequiel 34:12 – “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão.”

No Novo Testamento, Deus está presente em Jesus Cristo como o Bom Pastor que entrega a Sua vida pelas Suas ovelhas.

João 10:11- “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.”

O SENHOR QUE TE CURA (HEBRAICO: YAHWEH -RAFAH)

Este nome encontra-se em Êxodo 15:26, onde Moisés comunica a promessa de Deus a Israel: ―E disse: “Se ouvires atento a voz do SENHOR teu Deus, e fizeres o que é recto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque eu sou o SENHOR que te sara.” O nome Yahweh-Rafah garante-nos que podemos confiar no cuidado providencial do Senhor. Ele já nos curou da doença mortal do pecado e é capaz de curar-nos fisicamente, se a Sua vontade e glória forem promovidas através dessa cura.

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O SENHOR É PAZ (HEBRAICO: YAHWEH-SHALOM)

Este nome encontra-se em Juízes 6:22-24 (Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! pois eu vi o anjo do Senhor face a face. Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás. Então Gideão edificou ali um altar ao Senhor, e lhe chamou Jeová-Shalom; e ainda até o dia de hoje está o altar em Ofra dos abiezritas.) e transmite um dos aspetos mais importantes da relação que existe entre Deus e o Seu povo – a paz. Nesta passagem, Gideão tinha tido a revelação impressionante de Deus através do Anjo do Senhor, e sabia que ia morrer por causa da visão. Tal temor é comum sempre que um homem pecador tem um encontro com o Deus Santo. No caso de Gideão e do povo de Deus, a graça de Deus transforma esse terror em paz. Esta verdade encontra o seu maior cumprimento no Senhor Jesus Cristo, que é a nossa paz.

Efésios 2:14 – “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade.”

O SENHOR ESTÁ AQUI OU ESTÁ PRESENTE PESSOALMENTE (HEBRAICO: YAHWEH-SAMA)

Este nome é encontrado em Ezequiel 48:35 - “Dezoito mil côvados terá ao redor; e o nome da cidade desde aquele dia será Jeová-Samá.”, onde Deus promete a Sua presença na restauração completa do Seu povo, nos últimos dias. A presença de Deus sempre foi uma bênção muito especial para o povo de Deus. Adão andava com Deus no Éden antes da queda e do julgamento, Génesis 3:8 – “E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.”

Em Êxodo 33:13-14 (Se eu, pois, tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que agora me mostres os teus caminhos, para que eu te conheça, a fim de que ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é teu povo. Respondeu-lhe o Senhor: Eu mesmo irei contigo, e eu te darei descanso.), Moisés pediu que a presença de Deus acompanhasse Israel na sua jornada no deserto.

Em I Reis 8:10-11 (E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor; de modo que os sacerdotes não podiam ter-se em pé para ministrarem, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor.),Deus abençoou o Seu povo, enchendo o templo com a Sua presença. No Novo Testamento, a promessa da presença de Deus foi cumprida da forma mais perfeita através de Jesus Cristo. NEle, Deus fez-se carne e habitou entre os homens (João 1:1,14 – “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.”)

Na Igreja, Deus não só habita com o Seu povo, mas no Seu povo, através do Espírito Santo (João 14:17 – “a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.”)

Na consumação de todas as coisas, Deus habitará com e no Seu povo, nos Novos Céus e Nova Terra (Apocalipse 21:3 – “E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.”)

Romanos 8:11 – “E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.”

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O SENHOR, NOSSA JUSTIÇA (HEBRAICO: YAHWEH-TSIDKENU)

Este nome encontra-se em Jeremias 23:5-6. Neste texto, Deus promete que o Messias irá ― salvar o Seu povo e ― governá-lo com perfeita justiça. Esta profecia também encontrou o perfeito cumprimento em Jesus Cristo. Através da Sua vida perfeita, da morte expiatória e da intercessão no céu, Ele tornou o Seu povo justo e o governa sobre ele com justiça perfeita. A nossa justiça não vem de nós mesmos, mas de Jesus Cristo, que é o Senhor Yahweh, a nossa justiça.

6.2. NOMES DIVINOS, TÍTULOS E METÁFORAS

Mais abaixo está uma listagem dos muitos outros nomes, títulos e metáforas que são atribuídas a Deus nas Escrituras, com referências importantes para cada uma. Novamente: cada nome vai dar-nos uma melhor noção sobre a pessoa e obra de Deus.Certifique-se de pesquisar e estudar cada uma das referências por si mesmo.

6.2.1. NOMES QUE REFLETEM A GLÓRIA E A MAJESTADE DE DEUS

Deus dos deuses: Deuteronómio 10:17, Salmos 136:2; Daniel 2:47, 11:36

Deus da glória: Salmos 29:3, Atos 7:2

Deus em cima nos céus e em baixo na terra: Josué 2:11

Deus invisível: Colossenses 1:15

Deus bendito: I Timóteo 1:11

Magnífica glória: II Pedro 1:17

Majestade nos céus: Hebreus 8:1

Aquele que é temível: Salmos 76:11

6.2.2. NOMES QUE REFLETEM A ETERNIDADE DE DEUS

Sempiterno ou Deus Eterno: Génesis 21:33; Deuteronómio 33:27; Isaías 40:28; Romanos 16:26

Ancião de dias: Daniel 7:9-10, 13-14, 22

EU SOU: Êxodo 3:13-14, João 8:56-58

Alfa e Ómega: Apocalipse 1:8; 21:6, 22:13

O Princípio e o Fim: Apocalipse 21:6

O Primeiro e o Último: Isaías 41:4, 44:6, Apocalipse 22:13

6.2.3. NOMES QUE REFLETEM A SANTIDADE E JUSTIÇA DE DEUS

O Santo: Provérbios 9:10; Isaías 40:25, 43:15; Oseias 11:9; Habacuque 1:12

Santo Deus: I Samuel 6:20

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Deus Zeloso: Josué 24:19

Deus de justiça: Isaías 30:18

Deus Justo: Isaías 45:21

Justo Juiz: Salmos 7:11

6.2.4. NOMES QUE REFLETEM O PODER E A SOBERANIA DE DEUS

Criador: Romanos 1:25

Artífice e Construtor: Hebreus 11:10

Possuidor dos céus e da terra: Génesis 14:19, 22

Oleiro: Romanos 9:20-21

Poderoso: Lucas 1:49

Deus de toda a carne: Jeremias 32:27

Deus de toda a terra: Isaías 54:5

Deus de todos os reinos da terra: Isaías 37:16

Deus Forte: Isaías 9:6

Deus Grande e Terrível: Neemias 1:5

Grande, Forte e Terrível Deus: Deuteronómio 10:17

Deus Grande e Rei Grande sobre todos os deuses: Salmos 95:3

Rei Grande sobre toda a terra: Salmos 47:2

Deus vivo e o Rei eterno: Jeremias 10:10

Rei dos séculos, Imortal, Invisível: I Timóteo 1:17

Rei desde a antiguidade: Salmos 74:12

Rei de toda a terra: Salmos 47:7

Rei das nações: Jeremias 10:7

Rei do céu: Daniel 4:37

Rei dos reis: I Timóteo 6:15, Apocalipse 17:14, 19:16

Senhor do céu: Daniel 5:23

Senhor de toda a terra: Salmos 97:5

Senhor do céu e da terra: Lucas 10:21, Atos 17:24

Senhor dos reis: Daniel 2:47

Page 44: Os atributos de deus

Senhor dos senhores: Deuteronómio 10:17; Salmos 136:3; I Timóteo 6:15, Apocalipse17:14, 19:16

Senhor da seara: Mateus 9:37-38

Bem-aventurado e único Poderoso Senhor: I Timóteo 6:15

Legislador: Isaías 33:22; Tiago 4:12

Juiz de toda a terra: Génesis 18:25

6.2.5. NOMES QUE REFLETEM O JUÍZO E IRA DE DEUS

Deus zeloso: Êxodo 20:4-5; Deuteronómio 4:24, Josué 24:19-20

Fogo consumidor: Deuteronómio 4:24; Hebreus 12:29

Deus zeloso e vingador: Naum 1:2

Deus das recompensas: Jeremias 51:56

Guarda dos homens: Jó 7:20

Juiz de toda a terra: Génesis 18:25; Salmos 94:2

Justo Juiz: Salmos 7:11

6.2.6. NOMES QUE REFLETEM O RELACIONAMENTO DE DEUS COM O SEU POVO DEUS É O ÚNICO DEUS E CRIADOR DO SEU POVO

Verdadeiro Deus: Jeremias 10:10; João 17:3

Criador: Isaías 43:7, 15; 44:2, 21

Fiel Criador: I Pedro 4:19

Aquele que nos criou: Salmos 95:6; 149:2-3; Isaías 54:5

6.2.7. DEUS É ÍNTIMO DO SEU POVO

Pai: Salmos 103:13, Isaías 64:8; Malaquias 1:6, 2:10; João 20:17; I João 3:1

Pai Santo: João 17:11

Pai Justo: João 17:25

Pai de misericórdias: II Coríntios 1:3

Pai das luzes: Tiago 1:17

Pai da glória: Efésios 1:17

Pai celestial: Mateus 6:14

Pai dos espíritos: Hebreus 12:9

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Aba Pai: Romanos 8:15, Gálatas 4:6

Marido: Isaías 54:5

6.2.8. DEUS É AQUELE QUE É FIEL, AMA E PERDOA O SEU POVO

Deus da verdade: Salmos 31:5; Isaías 65:16

Deus Fiel: Deuteronómio 7:9

Deus Misericordioso: Deuteronómio 4:31

Deus Compassivo e Piedoso: Neemias 9:31; Salmos 86:15

Deus que perdoa: Salmos 99:8

Deus de toda a graça: I Pedro 5:10

Deus de paz: Romanos 15:33, 16:20, I Tessalonicenses 5:23, Hebreus 13:20

Deus de amor e paz: II Coríntios 13:11

Deus de toda consolação: II Coríntios 1:3

6.2.9. DEUS REINA SOBRE O SEU POVO

Rei: Isaías 33:22, 43:15 158

Grande Rei: Salmos 48:2

Legislador: Isaías 33:22; Tiago 4:12

Juiz: Isaías 33:22; Tiago 4:12, 5:9

6.2.10. DEUS SALVA O SEU POVO

Redentor: Jó 19:25, Salmos 19:14, Isaías 44:24, 54:5; Jeremias 50:34

Redentor desde a antiguidade: Isaías 63:16

Força da minha salvação: II Samuel 22:3

Libertador: II Samuel 22:2; Salmos 40:17; Salmos 144:2

Força salvadora: Salmos 28:8

Salvação: Êxodo 15:2; Salmos 27:1, 62:1-2, 118:14; Isaías 12:2

Salvador: II Samuel 22:3; Isaías 45:21; Lucas 1:47; I Timóteo 1:1; Judas 1:25

Salvador de todos os homens: I Timóteo 4:10

Fortaleza da minha salvação: Salmos 140:7

Page 46: Os atributos de deus

6.2.11. DEUS DÁ SEGURANÇA AO SEU POVO

Rocha: Deuteronómio 32:4, 31; II Samuel 22:2, 32, 47; Salmos 62:6-7

Rocha Eterna: Isaías 26:4

Rocha da nossa salvação: Salmos 95:1

Firme Rocha: Salmos 31:1-2

Rocha da minha fortaleza: Salmos 62:7

Habitação Forte: Salmos 71:3

Rochedo: II Samuel 22:2, Salmos 71:3; 91:2 144:2

Fortaleza: Salmos 59:9, 16-17; 144:2; Jeremias 16:19

Torre de força: Salmos 61:3

Torre Forte: Provérbios 18:10

Santuário: Isaías 8:13-14

Refúgio: Salmos 59:16, 61:3, 62:7, 91:2

Refúgio no dia da aflição: Jeremias 16:19

Refúgio contra a tempestade: Isaías 25:4

Esconderijo: Salmos 32:7; 119:114

Morada: Deuteronómio 33:27; Salmos 91:9

Sombra contra o calor: Isaías 25:4

Força da minha vida: Salmos 27:1

Fortaleza do pobre: Isaías 25:4

Fortaleza do necessitado na sua angústia: Isaías 25:4

Escudo: Génesis 15:1; II Samuel 22:3, 31; Salmos 3:3; 18:2, 30; 28:7; 115:9-11;119:114; Provérbios 2:7; 30:5

Escudo do teu socorro: Deuteronómio 33:29

Muro de fogo: Zacarias 2:5

Pai de órfãos: Salmos 68:5

Juiz de viúvas: Salmos 68:5

Fortaleza do meu coração: Salmos 73:26

6.2.12. DEUS LUTA PELO SEU POVO

Guerreiro: Êxodo 15:3; Isaías 42:13

Homem de guerra: Isaías 42:13

Valente Terrível: Jeremias 20:11

Espada da nossa majestade: Deuteronómio 33:29

Fogo consumidor: Deuteronómio 9:3

Leão: Isaías 31:4-5

Page 47: Os atributos de deus

6.2.13. DEUS AJUDA O SEU POVO

Força: Êxodo 15:2; Salmos 18:1; 28:8; Jeremias 16:19; Habacuque 3:19

Ajudador: Salmos 30:10; Hebreus 13:6

Amparo: Salmos 18:18

Socorro bem presente na angústia: Salmos 46:1

6.2.14. DEUS SUSTENTA O SEU POVO

Sol: Salmos 84:11; Malaquias 4:2

Sombra: Salmos 121:5, Isaías 25:4

Orvalho: Oseias 14:5

Fonte de águas vivas: Jeremias 2:13; 17:13

Vida: João 14:6; Colossenses 3:4

Luz: Salmos 27:1; Miqueias 7:8, I João 1:5

Luz perpétua: Isaías 60:19-20

6.2.15. DEUS CUIDA DO SEU POVO

Deus que vê: Génesis 16:7-14

Pastor: Salmos 23:1; Isaías 40:11, Ezequiel 34:11-16

Sumo Pastor: I Pedro 5:4

Grande Pastor: Hebreus 13:20

Bom Pastor: João 10:11, 14

Pastor e Bispo das nossas almas: I Pedro 2:25

Lavrador: João 15:1-2

Oleiro: Isaías 64:8, Jeremias 18:1-6

Lâmpada: II Samuel 22:29

Guarda: Salmos 121:5

6.2.16. DEUS É A RECOMPENSA DO SEU POVO

Herança: Números 18:20; Deuteronômio 10:9; Josué 13:33; Ezequiel 44:28

Possessão: Ezequiel 44:28

Porção: Números 18:20

Coroa gloriosa: Isaías 28:5

Diadema formosa: Isaías 28:5

Canção: Êxodo 15:2, Isaías 12:2 160