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OS CARISMÁTICOS CATÓLICOS E A PARTICIPAÇÃO POLITICA NO ESTADO DO AMAPÁ (2010- 2014) PROF. MSC. MARCOS VINICIUS DE FREITAS REIS 1 Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a participação dos candidatos da Renovação Carismática Católica (RCC) no processo eleitoral no Estado do Amapá. Pretende-se compreender como este movimento tem se organizado internamente para participação nas eleições e como o clero local se envolve nesse processo. A escolha dos políticos com essa filiação religiosa deu-se em razão do número expressivo de adeptos, apoio da Igreja Católica e a visibilidade de seus eventos em nível estadual. Para isso, serão analisados: entrevistas, discursos de parlamentares, lideranças e membros da RCC, materiais de propaganda eleitoral, documentos oficiais da RCC sobre as diretrizes políticas, fotografias e documentos impressos. Palavras-chave: Renovação Carismática Católica, Religião e Política Representação Política Introdução A cada eleição que passa cada vez maior é o envolvimento de atores políticos que exploram suas identidades religiosas para conseguirem se elegerem. Alguns desses candidatos possuem o apoio institucional das suas igrejas. Nessa perspectiva, a Renovação Carismática Católica (RCC) tenta eleger seus representantes para cargos legislativos e majoritários, e assim, utilizar da esfera política para seus benefícios. Com essa mentalidade percebemos que desde 2010 carismáticos amapaenses tem disputados cargos para vereador, deputado estadual e deputado federal. Por isso escolhemos como nosso recorte de 2010 quando os carismáticos marcam sua entrada como envolvimento político e como suas estratégias foram usadas nas eleições atuais. Nesse sentido, o objetivo desse texto é compreender o envolvimento político- 1 Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Membro do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP-UFSCAR/CNPq). Pesquisador do Observatório em Direitos Humanos da Amazônia (OBADH-UNIFAP/CNPq), Líder do Centro de Estudos Políticos, Religião e Sociedade (CEPRES- UNIFAP/CNPq). Email para contato [email protected]

OS CARISMÁTICOS CATÓLICOS E A PARTICIPAÇÃO … · E o segundo é o Encontro Estadual da RCC Amapá com o objetivo de formação para os participantes dos carismáticos amapaenses

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OS CARISMÁTICOS CATÓLICOS E A PARTICIPAÇÃO POLITICA NO ESTADO DO AMAPÁ (2010- 2014)

PROF. MSC. MARCOS VINICIUS DE FREITAS REIS 1

Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a participação dos candidatos da Renovação Carismática Católica (RCC) no processo eleitoral no Estado do Amapá. Pretende-se compreender como este movimento tem se organizado internamente para participação nas eleições e como o clero local se envolve nesse processo. A escolha dos políticos com essa filiação religiosa deu-se em razão do número expressivo de adeptos, apoio da Igreja Católica e a visibilidade de seus eventos em nível estadual. Para isso, serão analisados: entrevistas, discursos de parlamentares, lideranças e membros da RCC, materiais de propaganda eleitoral, documentos oficiais da RCC sobre as diretrizes políticas, fotografias e documentos impressos. Palavras-chave: Renovação Carismática Católica, Religião e Política Representação

Política Introdução

A cada eleição que passa cada vez maior é o envolvimento de atores políticos que

exploram suas identidades religiosas para conseguirem se elegerem. Alguns desses candidatos

possuem o apoio institucional das suas igrejas.

Nessa perspectiva, a Renovação Carismática Católica (RCC) tenta eleger seus

representantes para cargos legislativos e majoritários, e assim, utilizar da esfera política para

seus benefícios. Com essa mentalidade percebemos que desde 2010 carismáticos amapaenses

tem disputados cargos para vereador, deputado estadual e deputado federal. Por isso

escolhemos como nosso recorte de 2010 quando os carismáticos marcam sua entrada como

envolvimento político e como suas estratégias foram usadas nas eleições atuais.

Nesse sentido, o objetivo desse texto é compreender o envolvimento político-

1 Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Membro do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP-UFSCAR/CNPq). Pesquisador do Observatório em Direitos Humanos da Amazônia (OBADH-UNIFAP/CNPq), Líder do Centro de Estudos Políticos, Religião e Sociedade (CEPRES-UNIFAP/CNPq). Email para contato [email protected]

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partidário dos católicos carismáticos do Estado do Amapá. Para isso algumas questões

permeiam o nosso estudo: Quais as estratégias utilizadas pelos carismáticos para tentar eleger

seus representantes? Qual a visão desse grupo religioso sobre a política partidária?

O Contexto Sócio Histórico dos Carismáticos Católicos no Estado do Amapá.

A Renovação Carismática Católica surgiu nos Estados Unidos na década de 1960,

especificamente, na Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, Pensylvania, a partir de um

retiro feito de docentes e estudantes universitários que pretendiam vivenciar certa renovação

espiritual do catolicismo. A Igreja Católica foi influenciada pela pentecostalização que ocorria

em denominações evangélicas, sendo a instituição romana menor em face das protestantes

naquele país. (Cleary, 2011)2. Em pouco tempo o movimento carismático expande para outras

regiões do mundo (Chenuest, 2003).

O movimento carismático chegou ao Brasil no início da década de 1970, trazido pelos

padres jesuítas norte-americanos: Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty, mediante a

organização de retiros e encontros na cidade paulista de Campinas. A partir dessas atividades

rapidamente o pentecostalismo católico espalha para outras regiões do Brasil (Prandi 1996).

No Estado do Amapá os carismáticos iniciaram suas atividades no final da década

oitenta. Alguns católicos da cidade Laranjal do Jari participaram de um retiro do “espírito

santo” na cidade de Monte Dourado no interior do Pará. No ano de 1989 essas pessoas

começam os primeiros encontros carismáticos no município do Laranjal. No inicio dos anos

noventa inicia a expansão das atividades carismáticas no território amapaense. Por meio de

encontros de “renovação espiritual” surgem grupos nas cidades de Macapá e Santana.

No Amapá a principal atividade desenvolvida pelos carismáticos são os grupos de

oração. Consiste em encontros semanais que reúne dezenas de pessoas para cantar, rezar e

estudo da bíblia (Reis 2011). Os grupos podem ocorrer nas casas dos participantes ou nas

2 A RCC se baseia na experiência individual e subjetiva com a divindade, algo que é chamado de “efusão do Espírito Santo” ou mais popularmente conhecido como “Batismo do Espírito Santo” (Carranza 2000). É constituído basicamente por leigos de classe média, tendo como características marcantes: a devoção mariana, usos dos dons do espírito santo (oração em línguas, curas, libertações, profecia, dentre outras) a obediência à hierarquia católica e a valorização dos sacramentos católicos, tudo em contraposição ao pentecostalismo evangélico (Prandi 1996).

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paróquias, mas sempre contando com a autorização clerical para o seu funcionamento (Mariz

2001).

Outra marca desse movimento católico são os encontros anuais e massivos em estádios

de futebol chamados de Cenáculo. Prandi (1996) que os cenáculos reúnem milhares de

pessoas e tem por finalidade exercita a identidade carismática no seio do catolicismo. No

Amapá anualmente organiza dois grandes eventos realizados no Centro Diocesano de Pastoral

da Diocese do Amapá3 4 (Carranza 2000). O primeiro é o retiro de carnaval voltado para o

público jovem. E o segundo é o Encontro Estadual da RCC Amapá com o objetivo de

formação para os participantes dos carismáticos amapaenses. Em ambos os encontros os

palestrantes são pessoas de outros estados e há apresentação de cantores católicos de

expressão nacional.

Além dos grupos de oração, a RCC vem se caracterizando mais recentemente também

pela formação das Novas Comunidades. Elas são chamadas de aliança quando seus membros

são ligados a ela, mas sem se deixarem a convivência familiar e a vida profissional; e são de

vida, quando os membros deixam sua vida secular, passando a morar nas dependências da

entidade, dedicando-se integralmente às suas atividades. (Carranza & Camurça, 2009). São,

portanto entidades autônomas e alternativas ao tradicional modelo de organização eclesial por

vezes, realizam trabalhos assistenciais, tais como apoio a dependentes químicos, visitas a

orfanatos, creches, asilos de idosos, presídios, escolas e bairros pobres (Silveira 2008). No

Estado do Amapá há a presença da Comunidade Shalom5, Comunidade Canção Nova6 e a

3 O Centro Diocesano de Pastoral da Diocese do Amapá é um espaço para realização de eventos da comunidade católica amapaense. Possui cozinha industrial, refeitório, dormitórios, salas para reunião, quadra e espaço para realização das missas. 4 A Diocese de Macapá pertencente à Província Eclesiástica de Belém do Pará e ao Conselho Episcopal Regional Norte II da CNBB. A Catedral de São José está na cidade de Macapá. Sua fundação foi em 1948 e constitui sendo a única diocese católica do estado do Amapá (Lobato 2013). 5 A Comunidade Católica Shalom foi fundada em 1982 pelo cearense Moysés Louro de Azevedo Filho. Atualmente existem núcleos da comunidade em vários lugares do mundo. No Amapá as atividades são iniciadas em 1993 a pedido do então bispo Dom João Risatte. Semanalmente desenvolve grupos de oração, aconselhamentos, missas, e projetos sociais com menores infratores e usuários de drogas (Carranza & Camurça 2009). 6 A Comunidade Canção Nova foi fundada em 1978 pelo Padre Jonas Abib. Desde 1989 a principal atividade desenvolvida é a transmissão de eventos carismáticos realizados na cidade de Cachoeira Paulista (SP) pelos meios de comunicação rádio e tv. A comunidade possui uma faculdade, hospital e vários projetos sociais, além de núcleos em outros países (Carranza 2000).

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Comunidade Eterna Aliança7.

Para Jurkevics (2004) o movimento carismático torna-se instância burocrática e

institucionalizada para melhor gerenciar suas atividades, formar novas lideranças e dialogo

com o clero. A RCC organiza em âmbitos: paroquial, diocesano, estadual, nacional e também

internacional8. Em cada um desses níveis, há coordenadores responsáveis pelas atividades que

contam com grupos auxiliares e conselhos consultivos. As atividades recebem supervisão ou

ao menos autorização da parte dos párocos e dos bispos diocesanos (Souza 2005). De acordo

com Jurkevics:

A RCC apresentou-se como um movimento religioso que se distanciou de

outros que a Igreja conheceu no decorrer do último século. Seu núcleo é

basicamente laico, apesar de contar com a presença e orientação de padres

e religiosos e de sua sede situar-se em Roma. A central latino-americana,

denominada Conselho Carismático Católico Latino-Americano (Conclat),

sediada em Bogotá, na Colômbia, se encarrega de preparar os encontros

bienais dos líderes. Esses encontros, segundo PRANDI (1997) seguem, pelo

menos formalmente, as orientações do Conselho Episcopal Latino-

Americano (Celam). Em cada país, um conselho nacional se responsabiliza

pela definição de projetos e pelo acompanhamento da vida dos grupos de

oração – base da vida carismática. Esses grupos se reúnem semanalmente

em busca de uma renovação espiritual, numa complementação às práticas

sacramentais, fundamentada nos vários tipos de orações e cânticos,

considerados como uma forma alternativa de oração, além da leitura da

Bíblia e de testemunhos pessoais (JURKEVICS, 2004, p. 75 ).

O Estado do Amapá é composto apenas pela diocese de Macapá. Nesse sentido, o

coordenador estadual da RCC AP é responsável por todas as atividades ocorridas nas 16

cidades amapaenses. A cada dois anos são realizados eleições para a escolha do novo

coordenador estadual e para a escolha do conselho deliberativo. As pessoas aptas a votarem

são apenas os coordenadores de grupo de oração. Abaixo a organização institucional da RCC

AP em 2014.

7 A Comunidade Missionária Eterna Aliança foi fundada pelo Padre Jurandir Avelino Júnior em 1997 na cidade de Macapá (AP) e desde então tem desenvolvido projetos de evangelização por meio de apresentações musicais e grupos de oração. 8 Na América Latina, a coordenação das atividades é feita pelo Conselho Carismático Católico Latino-Americano (CONCLAT), sediado em Bogotá, na Colômbia. Internacionalmente, existe a International Catholic Charismatic Renewal Services (ICCRS), em funcionamento desde 1970, na capital italiana e também católica: Roma. ICCRS é constituída por um presidente, um vice e doze conselheiros representantes de diferentes regiões do globo em que a o movimento se faz presente (Jurkevics 2004).

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A RCC ainda possui ramificações chamadas ministérios que realizam trabalhos

específicos nas dioceses para apoio aos grupos de oração. Atualmente no Amapá existe:

Universidades Renovadas9, Jovens10, Crianças11, Promoção Humana12, Comunicação Social13,

Famílias14, Pregadores15, Intercessores16, Cura e Libertação17, Música18, Coordenadores19 e

Formação20. Cada ministério possui um coordenador que é escolhido pelo coordenador

9 Atividades desenvolvidas com universitários e profissionais, a exemplo do grupos de oração universitários (GOU) e Grupo de Partilha e Profissionais (GPP) 10 Ações voltadas para catequização de jovens. Desenvolvem grupos de oração para jovens (GOJ), retiros sobre afetividade e sexualidade, e trabalhos sociais com adolescente com drogas e alcoolismo. 11 Trabalhos de catequização com crianças por meio de grupos de oração para crianças. Há muito teatros e brincadeiras lúdicas sobre ensinamentos da doutrina católica. 12 Consiste na formação de lideranças para trabalhar com projetos sociais e coordenação dos projetos assistencialistas desenvolvidos pelos membros da RCC. Os projetos mais comuns são com a recuperação de dependentes químicos e alcoólatras, visita a hospitais e creches, cestas básicas, cursos de formação técnica. 13 Consiste em todo o trabalho de divulgação dos eventos carismáticos nos meios de comunicação e nas redes sociais. 14 Desenvolve trabalhos relativos a problemas familiares. São realizados retiros com casais, namorados e pessoas com segunda união com o intuito de catequização. 15 Forma pessoas para darem palestras nas atividades da RCC 16 Desenvolve formações para novos intercessores e desenvolve formas de oração para seus membros. 17 Trabalhos desenvolvidos para orarem pela Cura das pessoas e expulsão de demônios. 18 Fornece subsidio teórico e prático para as diversas modalidades artísticas dentre elas: música,dança, teatro, artes plásticas 19 Ações ligadas às coordenações diretivas das instâncias da RCC. 20 Ensina os membros da RCC informações da doutrina católica e aspectos específicos da identidade carismática.

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estadual da RCC AP21.

Além dos ministérios os carismáticos possuem programas nos meios de comunicação

católica amapaense. O responsável pelo setor de comunicação da diocese de Macapá Padre

Fábio Pereira22 (ligado ao movimento carismático) permite ampla inserção dos segmentos

católicos carismáticos do Amapá na programação das emissoras de TV e na Rádio São José.

No tocante a TV Nazaré sempre produz reportagens sobre os eventos carismáticos e

programas de entrevistas com lideranças da RCC AP. A Rede Vida transmite semanalmente

missas com o Padre Marcelo Rossi e aos domingos o programa “Fazendo Barulho” produzido

pela Comunidade Shalom (Carranza 2000). A programação da rádio durante a semana tem a

apresentação do programa “Canções Mariana” e a noite programas de aconselhamento

apresentado pela Comunidade Eterna Aliança e Comunidade Canção Nova. O conteúdo dos

programas da tv e do rádio são pautados por catequeses, músicas, aconselhamentos, orações e

venda de material do universo carismático.

Carranza (2000) frente à concorrência a outros grupos religiosos padres vêm

investindo em suas paróquias na realização de eventos carismáticos com o intuito de atrair

novos adeptos23. No Amapá as missas de cura têm atraído centenas de fieis. Em 1997 Pe.

Jurandir inicia as celebrações na Igreja São Benedito do bairro do Laguinho, em 1998 Pe.

Aldenor institui a missa na Igreja São Pedro no bairro do Beirol. Em 2012 Pe. Paulo inicia a

missa de cura e libertação na Igreja Jesus de Nazaré e mensalmente Pe. Fábio celebra a missa

da misericórdia na Paróquia da Conceição na região central da cidade de Macapá.

Com as realizações das missas de cura as relações entre RCC e o clero amapaense

estreitaram. Alguns padres tem incentivado a abertura de grupos de oração e promoção de

21 Para se tornar membro efetivo da RCC no Estado do Amapá, é preciso, inicialmente, fazer o Curso de Seminário Vida no Espírito, Formação de Dons I e II, Seminário de Batismo no Espírito Santo, Formação Humana e Curso Paulo Apóstolo. Depois disso, o iniciante é encaminhado para ajudar no grupo de oração de sua paróquia e na participação e formação dos ministérios específicos. Esta formação inicial dura em torno de 3 a 4 anos, em média. 22 Souza (2005) diz que as dioceses têm investido nos padres cantores ligados a RCC para evitar a fuga de católicos para outras denominações religiosas. Assim, Pe. Fábio Pereira tem gravado CDs, esporadicamente realiza shows nas cidades do Estado do Amapá, além da apresentação anual no Círio Musical (Evento realizado após o Círio de Nazaré) 23 De acordo com dos dados do IBGE de 2010 sobre o Panorama religioso da população do Estado do Amapá 63,5% identificam com o catolicismo, 28 % evangélicos, 5,5 % sem religião, 0,4 % espíritas, 0,1 % religiões afro-brasileiras e 2,3% outras religiões. Percebemos que existe um pluralismo cristão na sociedade amapaense (SOUZA, 2012).

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eventos em suas paróquias. Por outro lado, as paróquias administradas pelos padres do

PIME24 têm desenvolvido relações conflituosas com as lideranças carismáticas (Lobato 2013).

Nessas igrejas os grupos de oração tem sido de proibidos de exercerem os dons do espírito

santo e reuniões canceladas a mando dos padres. De acordo com Souza (2005) o clero local

exerce controle e normatização das atividades exercidas pelos carismáticos em suas

paróquias.

Prandi e Souza (1997), dissertam que nas dioceses existem disputas entre carismáticos

e com os segmentos De um lado, os carismáticos propondo uma religiosidade mais

emocional, enfocando a vida sacramental, subjetiva e acreditando que os valores

conservadores seriam a solução para os principais problemas vivenciados pelas pessoas. Do

outro, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pastorais sociais, dentre outros,

reivindicantes de políticas progressistas, acreditando que a religiosidade deveria pautar uma

militância político-social que prol da melhora das condições de vida, sobretudo das pessoas

vitimadas pela pobreza. Essa divisão está bastante presente na diocese de Macapá, refletindo

as diferenças pastorais e de visão de mundo desses dois movimentos (Reis 2011).

A partir dessa visão de mundo que os católicos carismáticos amapaense vão se

posiciona a respeito do cenário político nacional e estadual.

Participação Política dos Católicos Carismáticos do Estado do Amapá

Desde a redemocratização do Brasil a forma de participação política dos católicos

carismáticos é não exclusivamente mais prioritariamente a via partidária. Desde os anos 1990

a RCC conseguiu eleger alguns deputados estaduais, deputados federais, prefeitos e

vereadores (Reis 2011, Carranza 2000, Procopio 2012). Para incentivar e organiza as questões

relativas à participação política dos seus membros em 1995 criou-se a secretária Matias e que

no ano de 2000 seria chamado Ministério de Fé e Política (MFP). Desde então cada estado

apoia institucionalmente candidatos para que sejam eleitas e lutem pelas suas demandas na

24 Pontificado de Instituto das Missões Exteriores (PIME). Fundado na cidade italiana Milão pelo Papa Pio IX em 1850 com o intuito de enviar padres para locais no mundo com poucos padres. Os padres do PIME chegam no Estado do Amapá em 1948 com objetivo da catequização do povo amapaense e consolidação administrativa da diocese de Macapá (Lobato 2013).

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arena política (Miranda, 1999).

De acordo com Carranza (2000) Deputados Federais e Deputados Estaduais são

escolhidos pelos conselhos estaduais e vereadores e prefeitos são escolhidos pelos conselhos

regionais. Durante o período eleitoral os grupos de oração passam a serem cabos eleitorais e

existe um grupo de pessoas que fiscalizam as atividades dos parlamentares eleitos.

Os parlamentares eleitos trazem para o debate posicionamentos contrários a

legalização do aborto e a união homoafetiva, descriminalização das drogas, profissionalização

da prostituição, investimento público em eventos católicos, concessões de rádio e tv para

associações católicas, e a defesa da liberdade religiosa (Reis 2011). Isto é, a visão política dos

carismáticos corresponde que a democracia brasileira precisa ser organizada e conduzida a

partir de ser submetida aos valores cristãos (Silveira 2008).

Contudo é a pauta do aborto que tem a maior movimentação política dos católicos

carismáticos. Anualmente são feitas diversas ações motivando os membros da RCC a se

posicionarem contra a liberação do aborto (Carranza 2000). E nessa campanha o Estado do

Amapá tem se destacado na promoção de palestras e entrevistas nos meios de comunicação

justificando porque o católico não pode votar em partidos ou candidatos que sejam favoráveis

a prática do aborto (Reis 2011).

Além dessas ações, desde janeiro de 2014 a RCC AP desenvolve o projeto “Brasil

Vivo Sem Aborto”. Que consiste em uma campanha na defesa do discurso que são defensores

da vida. Por isso mobilizam suas bases para coleta de assinaturas para apoiar o Projeto de Lei

6061/2013 dos deputados Hugo Leal (PSC/RJ), Salvador Zimbaldi (PDT/SP) e Eduardo

Cunha (PMDB/RJ) que aperfeiçoa a Lei 12.845 dificultando as práticas do aborto no Brasil25.

Abaixo o símbolo da campanha.

25 O Deputado Federal Salvador Zimbaldi lidera a frente parlamentar intitulada em “Defesa da Vida” no Congresso Nacional. A organização é composta por católicos, evangélicos, espíritas e políticos de outras religiões e se posicionam contra o aborto nas discussões proferidas nas comissões.

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A foto acima representa a concepção que os católicos possuem a respeito do aborto.

Tal prática em nenhuma hipótese pode ser exercida por ser tratar de uma vida humana. O

Brasil “feliz” e “vivo” é uma nação na qual reconhece o direito de existência humana e não

cabendo a mulher o direito se quer ou não levar a gravidez adiante. Isto é, a maior riqueza do

Brasil não são seus metais preciosos, suas florestas, rios, desenvolvimento socioeconômico, e

sim a defesa da vida humana desde a sua concepção. A criança rindo bem apoiado por mãos

de adultos no centro da bandeira do Brasil significa isso na visão dos os carismáticos.

As cores da bandeira são bem exploradas para mobilização dos membros da RCC AP

militarem contra o aborto. O verde representa a esperança para o país revogue os casos

permitidos por lei a cerca do aborto. O amarelo significa otimismo e “luz” que se unirem

forças é possível conseguir atingir esse objetivo. E o azul equivale a harmonia de terem

estratégias eficazes para que o Brasil adote a concepção cristã sobre a vida humana.

Para os carismáticos amapaenses o Partido dos Trabalhadores (PT) é o responsável

pela tentativa de ampliação dos casos de aborto no Brasil. Na figura abaixo o vermelho é

utilizado em destaque para mostrar que para mostrar as supostas pretensões políticas do PT é

algo profano, ruim, maléfico e demoníaco. Ou seja, a estratégia petista é minar da política de

qualquer fundamento cristão que norteia a atuação dos políticos, partidos políticos ou projetos

de lei. Expulsar os cristãos católicos da vida política do Brasil.

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A figura acima foi utilizada em alguns eventos promovidos pelos carismáticos e

circulação nas redes sociais. A ideia é associar o governo petista ao governo totalitário da

antiga União Soviética (URSS). Consolidar a visão que governos de esquerda defendem os

interesses dos gays, feministas, são contras os cristãos e se permanecerem no poder vão

implantar no Brasil governo autoritário tal qual foi a URSS, atualmente é o governo cubano,

chinês, venezuelano e dos norte-coreanos. Algo ruim para a democracia brasileira.

Portanto a base argumentativa da militância católica carismática amapaense pauta-se

em uma visão dicotômica da política. “O “bem” e o “sagrado” representado pelos setores

conservadores da sociedade que tem as soluções para os problemas políticos, econômicos e

socais do Brasil e o “mau” e profano” representado pelos setores mais progressistas que uma

vez no comando das instituições políticas governam de forma corrupta e com práticas que

perseguem os cristãos. Abaixo a fala de uma liderança carismática a respeito desse assunto:

Infelizmente, com uma possível vitória do PT, estaremos entrando mais

diretamente do que agora no que está sendo chamado de "comunismo

moderno". A par disso, todos os escândalos, distorções da verdade, mentiras

deslavadas e manipulação de toda espécie constituem ameaça especial. Será

que, daqui a alguns meses, poderemos estar escrevendo um e-mail tão

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aberto como esse? Será que não apenas os valores da fé católica (como

acontece hoje) como a própria fé não estarão sendo perseguidos,

questionados, desprezados? Será que agora mesmo, nesse instante, o sigilo

de meu e-mail pessoal não está sendo rompido? (...) Falo como católica que

lê no Catecismo que todo aquele que promover o aborto ou colaborar com

ele (e é esse o caso do voto dado ao PT) está automaticamente

excomungado. Falo como católica que precisa levar o Evangelho com

liberdade a todos os que não conhecem Jesus. Falo como católica que crê

ser o Evangelho e o Magistério a Verdade e a felicidade para todos. Como

dizia o Evangelho desse domingo, ou Deus, ou o dinheiro. 26

De acordo com o texto supracitado a manutenção da liberdade de expressão, religiosa,

política é condicionada a saída do governo petista do poder e a base organizacional da

democracia são os dogmas católicos. Portanto, aquele que votar nesse partido estará expulso

da igreja. Essa visão mostra uma intolerância em relação as escolhas políticas das pessoas.

Mostra não estar aberto ao dialogo e tudo aquilo que é contrário do seu pensamento é

classificado como algo ruim e que não deve existir. Ao dizer que o sujeito que vota no PT está

“automaticamente excomungado” é promover a experiência de apagamento do outro. O

diferente deve ser eliminado na defesa da “tradição” ou dos “valores cristãos”. Dito de outra

forma, categorizar o partido dos trabalhadores como “comunismo moderno”, “bolivariano”,

“esquerdista” é reafirma apenas o pensamento católico carismático amapaense é superior.

Essa visão binária da política mostra que a cidadania ela está atrelada a identidade

religiosa. O voto passa a ser resignificado e entendido como arma contra tudo que há de

maléfico na política (Burity 2000). O Estado deve ser organizado a partir das necessidades e

concepções católico-carismático. A participação política contribuiria para a moralização da

vida pública (Oro & Mariano 2010).

Mesmo entendendo que a política precisa ser moralizada o conselho estadual da

Renovação Carismática Católica do Estado do Amapá não institucionalizou o Ministério de

Fé e Política. A visão das lideranças é similar a visão dos pentecostais dos anos 80 que a

política partidária é um espaço “demoníaco”. A política é dominada por “entidades malignas”

no qual não pode ter envolvimento direto das instituições religiosas. Segundo um dos

coordenadores de grupo de oração da Diocese de Macapá:

26 Disponível em <http://desabafopais.blogspot.com.br/2014/07/comunidade-catolica-shalom-faz-ofensiva.html >. Acesso em 05 de setembro 2014.

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Olha, primeiro na minha visão, é uma questão dos lideres da renovação, das

pessoas que estão à frente, eles veem, a percepção deles sobre a política é

como a maioria das pessoas, é algo ruim, algo impuro até, é algo perigoso.

A visão que eles têm e que se meter, se relacionar com as questões políticas

é algo que vai levar para o mal, é algo sedutor, é como um espaço muito

sensível habitado por uma entidade mal até, então eles vem a religião na

minha visão como algo ruim, algo distante da vida religiosa. E por outros

fatores também, acredito que pela cultura, não é muito comum no nosso

Estado sujeitos religiosos ligados a igreja católica intensamente não só da

renovação, mas voltando pra renovação, eles não são muito envolvidos em

questão religiosa, o movimento por exemplo não apoia nenhum, nem nunca

apoio. E pelo que eu sei, e acho difícil apoia aqui na nossa realidade, a

orientação é esta, que o movimento, a instituição, o movimento Renovação

Carismática Católica no Amapá, ela não apoia nenhum tipo de

candidatura.27

A política partidária é vista como algo que poderá contaminar e desvirtuar os objetivos

de catequização da RCC AP. Portanto, trabalhar com candidaturas oficiais, usar os grupos de

oração como cabos eleitorais, ou desenvolver estratégias de marketing e financeira em torno

de campanhas políticas não é algo que condiz com a prática católica carismática amapaense.

De acordo com Lobato (2013) a política partidária amapaense é caracterizada por

práticas clientelísticas, corporativistas e personalistas. Historicamente são políticos membros

da família “Goes” ou “Capiberibe” ou parlamentares apadrinhados por essas famílias que

revezem a frente da administração do governo estadual e da prefeitura de Macapá. E para

conseguir ser eleitos utilizam da prática da compra de votos e promessa de cargos públicos

por meio de contrato sem processo seletivo.

Para evitar problemas políticos e associar a imagem a essa realidade política local as

diretrizes da Diocese de Macapá a cerca do envolvimento das entidades católicas na política

partidária. Pede-se que nenhuma expressão católica tenha vínculos institucionais com

candidatos ou partidos políticos. Portanto, diáconos e padres estão proibidos de apoiar

publicamente qualquer político. De acordo com a visão do Diácono:

27 Entrevista realizada no dia 04/07/2014, com coordenador de grupo de oração, nas dependências da sua residência na cidade Macapá AP.

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agora o que eu percebo hoje é que a Igreja não quer um envolvimento direto com a política, assim receber benefícios isso eu percebo que o nosso Bispo

não é a favor de beneficiado assim vamos dizer ele prefere que o político

faça o bem para a sociedade aconteceu muito isso na RCC, de alguns

candidatos eles favorecerem, assim se eu me eleger eu vou dar um terreno

pra RCC, se eu me eleger eu vou conseguir isso pra RCC, isso já

demonstravam que eles não estavam com boa intenção, por que nós

queremos políticos que façam política para todos e não que vão beneficiar a

RCC, não é esse o interesse e não deveria ser esse o interesse na RCC e da

Igreja eleger políticos que vão trazer benefícios para a Igreja e para RCC,

mas políticos que estejam comprometidos com valores cristãos que vão fazer

leis justas essa e a visão que eu tenho que é a visão de Dom Pedro inclusive,

mas eu vejo como ele trouxe a escola de Fé e Política pra cá que os leigos

eles se envolvessem mais com a política fossem mais conscientes e pudessem

interferir mais no futuro do Estado.28

A determinação da proibição do envolvimento político-partidário institucional reflete

na postura da RCC AP a cerca do seu envolvimento na arena política. Para evitar conflitos

com o clero local faz-se a opção por não apoiar ninguém e elaborar outras estratégias para

eleger representantes. E adotado o modelo proposto pela Diocese de Macapá denominada

“candidaturas avulsas”. Na visão de um coordenador de grupo de oração de Macapá:

(...) Ela se lance em nome de si própria, não em nome da igreja, não em

nome de X movimento, não em nome da Renovação Carismática, mas de

iniciativa própria, como cristão católico, pessoa que sente o desejo, o

chamado de DEUS pra mudar, pra transformar a realidade, este sim.

Inclusive tinha algum tempo, teve algum tempo, essa Escola de Fé e

Política, justamente pra preparar lideres para que tenham a vocação da

política partidária se engajarem29.

De acordo com essa metodologia de trabalho, o sujeito por atributos e prerrogativas

próprias participa do processo eleitoral. O envolvimento da igreja consistiria na formação

política do individuo com a participação da Escola de Fé e Política promovida pela diocese.

Teoricamente a pessoa eleita conduziria o seu pleito pautado pelos valores cristãos e

representaria os interesses institucionais da Igreja Católica nas instâncias deliberativas.

28 Entrevista realizada no dia 08/07/2014, com um Diácono ligado a RCC AP, nas dependências da sua residência na cidade Macapá AP. 29 Entrevista realizada no dia 25/08/2014, com um coordenador de grupo de oração ligado RCC AP, nas dependências da sua residência na cidade Macapá AP.

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A partir dessa realidade membros da RCC AP participam desses encontros de fé e

política e se lançam candidatos nos pleitos eleitorais. Caso conseguissem eleger a “formação”

obtida garantiria que os carismáticos amapaenses estivessem representados na arena política

local:

Houve algumas, nosso Bispo está há pouco tempo, mas o Bispo anterior

Dom João Rifati, ele encorajou a fazermos com orientador espiritual da

época um frei Cappuccino a fazer encontros para trabalhar a parte de

política, inclusive nas épocas das eleições ele trazia os candidatos pra,

expor os que queriam expor os seus projetos, de trabalho seus planos de

trabalho e agora o Dom Pedro ele instituiu na arquidiocese o curso de fé e

política ele trouxe pessoas de fora, ele trouxe os assessores da CNBB pra cá,

pra dar aos leigos para o laicado geral não era direcionado especificamente

para a RCC, o material que o Dom João mas dava pra gente era o material

da CNBB, a cartilha que eles editavam os documentos que eles davam e

falavam de política era esse o material que a gente utilizava ele procurava

também na homilias né,?30

Ao mesmo tempo em que a RCC garante que seus membros disputem às eleições a

diocese de Macapá consegue controla e instrumentaliza a participação política partidária da

comunidade católica. Ou seja, acredita-se que a padronização da maneira de envolver na

política garante ao bispo não problemas políticos por não ter vínculos institucionais e não

divide internamente às expressões católicas em torno pela disputa pelo apoio de candidaturas.

E nesse contexto surgem candidatos que nas eleições exploram suas identidades

religiosas. E a situação do candidato abaixo que nas eleições de 2014 tentou vaga para a

Câmara dos Deputados no Estado do Amapá.

30 Entrevista realizada no dia 08/07/2014, com um Diácono ligado a RCC AP, nas dependências da sua residência na cidade Macapá AP

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O nome adotado na campanha “João de Deus” indica que ele é uma pessoa preparada

pelo “sagrado” para a vida política, isto equivale a dizer que possui características comuns

para um cristão tais como: honestidade, solidariedade, caridade, instrução educacional,

trabalhador. Ou seja, o fato dele pertencer a Deus naturalmente possui atributos do universo

cristão. Ao adotar o nome popular “João” implica dizer que conhece bem os problemas

socioeconômicos do povo amapaense, e ter sua origem nessa realidade.

O uso do bordão “Renovar é preciso” faz alusão à proposta da Renovação Carismática

Católica que da mesma forma tem por objetivo de “renovar” a catolicidade das pessoas.

Portanto o candidato leva para a política a ideia que precisa mudar toda a realidade corrupta

da política amapaense. Certamente sua representação política será pautada pelos valores

cristãos, na defesa dos interesses da Igreja Católica. O próprio destaque para as cores azul e

amarelo fazem alusão a essa ideia. O candidato é a “luz” e que resolveria os problemas

políticos do Estado do Amapá.

A foto abaixo mostra em um dos momentos da campanha eleitoral. Representa uma

reunião promovida pelo candidato com pessoas carentes com o intuito de mostrar suas

propostas e pedir seus votos. O evento é iniciado com momento de oração característico que

ocorre nas atividades carismáticas. A exploração de gestos corporais como braços levantados,

mãos dadas, palmas, músicas e orações espontâneas.

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A linguagem religiosa é utilizada para tentar angariar votos da comunidade católica

carismática no Estado do Amapá. Essa forma de fazer política é não representa uma

“renovação” na maneira de conduzir a política partidária e sim reprodução das práticas

clientelísticas. Podemos perceber isso pelo procedimento dos candidatos posicionarem

representante da comunidade religiosa e trabalhar pelos seus interesses em troca do voto

(Gruman 2005). E esse estilo de fazer política padres acaba apoiando publicamente

candidaturas católicas carismáticas e não seguindo as diretrizes da Diocese de Macapá. Como

demonstra uma coordenadora de grupo de oração ligado a RCC AP:

tem uma Missa aqui de quinta- feira, que na missa essa pessoa está sempre

lá, ele é uma pessoa de caminhada dentro da Igreja Católica, assim ele tem

espaço livre e tem um programa aqui que ele apresenta, e teve esse Padre

que estava mais próximo dele deu toda a abertura, não na questão de pedir

voto durante a missa, não é isso, mas a questão de estar lá estar se

identificando, não deixando claro, mas entre linhas ele deixava claro o

apoio dele.31

31 Entrevista realizada no dia 20/03/2014, coordenador de grupo de oração ligado a RCC AP, nas dependências da sua residência na cidade Macapá AP

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Toda essa movimentação nas eleições nos revela tentativa dos católicos carismáticos

tentarem eleger seus representantes. Com apoio institucional ou não existe por parte das

lideranças da RCC AP intuito de se fazem presentes na política partidária. Isto com o intuito

de garantir a presença e influencia católica nas questões deliberativas da vida pública do

Estado do Amapá.

Conclusão

A Igreja Católica do Estado do Amapá nas últimas décadas vem perdemos

considerável número de fieis. E isso vem ocorrendo paralelamente com o crescimento de

outros grupos religiosos que tem ameaçado o monopólio do catolicismo local.

O contexto pluralista religioso pode ser observador pela presença de outros grupos

religiosos na mídia, na política, na filantropia e no setor educacional. Para se mantiver

presente nessas esferas, sobretudo na arena política amapaense, a Renovação Carismática

Católica AP torna-se estratégia para tal finalidade.

Diferente de outros estados brasileiros, a RCC AP não adota a estratégia de

candidaturas oficiais. Por meio de cursos de fé e política organizados juntamente com a

Diocese de Macapá incentiva seus membros a entrarem na disputa eleitoral sustentando

identidade católica mais sem vínculos institucionais com alguma entidade católica.

Até o presente momento não foi eleito nenhum membro da RCC AP. Porém em toda

época de eleição sempre há presença de seus membros com o intuito de buscar a inédita

representação política no cenário local.

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