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Os Crimes de Responsabilidade Dos Funcionários Públicos Perante o Princípio Da Igualdade
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13/09/2015 Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos perante o princípio da igualdade
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Webartigos.com Publicação de artigos e monografiasTítulo: Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos perante o princípio da igualdadeAutor(a): Ronan Gonçalves De FariaEndereço da publicação: http://www.webartigos.com/artigos/oscrimesderesponsabilidadedosfuncionariospublicosperanteoprincipiodaigualdade/79278/
Publicado em 07 de novembro de 2011, às 11h24min em Direito
Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicosperante o princípio da igualdadeOs crimes de responsabilidade dos funcionários públicos estão previstos no Código de Processo Penal no
Capítulo II do Título II – dos Procedimentos Especiais.
Para ser tipificado como tal, é necessária a condição de “funcionário público”. Para o Direito Penal,
funcionário público é o agente com prerrogativa estatal não política. O artigo 327 do Código Penal caracteriza
o funcionário público de maneira bastante ampla, sendo, “para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”.
Portanto, os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos são aqueles previstos nos artigos 312 a
326 do Código Penal. São os crimes em que a condição de funcionário público é inerente à prática do delito,
ou seja, crimes próprios. Dessa forma, não são considerados os crimes cometidos por funcionários públicos
quando não investidos na sua função, e, nesse caso, seriam apenas ilícitos comuns.
A peculiaridade desse procedimento é a possibilidade de o funcionário público apresentar defesa preliminar
antes do recebimento da denúncia, conforme o artigo 514 do Código de Processo Penal (CPP). Observase
que o artigo trata da notificação do funcionário público, juntamente com o chefe da repartição pública, ao
contrário de todos os outros casos previstos no CPP, em que o acusado é citado, e não notificado, como no
referido artigo.
Ainda com relação ao artigo 514 do CPP, devese observar que se refere aos crimes afiançáveis, e houve
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recente alteração com relação a esse tema, previstos nos artigos 322 e 323 do CPP, que tiveram sua
redação alterada pela Lei n° 12.403 de 4 de maio de 2011. Há previsão de concessão de fiança pela
autoridade policial somente nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade não seja superior a 4
(quatro) anos (nova redação do artigo 322 do CPP). Além disso, conforme o artigo 323 do CPP, não será
concedida fiança: I – nos crimes de racismo; II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III – nos crimes cometidos por grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
À parte dos crimes citados, ou seja, nos casos de crimes afiançáveis, há previsão de duas fases nos crimes
de responsabilidade dos funcionários públicos: uma fase préprocessual (também chamada fase
administrativa) e a fase judicial.
Na fase préprocessual, o funcionário público é notificado, para que apresente suas alegações no prazo de
15 dias. Essa é a especificidade desse crime: há uma espécie de defesa preliminar, uma espécie de
garantia para o funcionário público, pois nesse período o juiz não poderá receber a denúncia. Ao funcionário
público é facultado o direito de se manifestar antes mesmo do juiz. Então, nesse momento, não há ação ou
processo, só existem os autos, porque o juiz ainda não terá recebido a denúncia. Após a manifestação da
defesa, o juiz aceitará ou não a denúncia, iniciandose, então, a fase judicial, passando a ter o mesmo
procedimento de outros crimes.
Essa possibilidade de defesa preliminar, garantindo um privilégio de diferenciação ao acusado, em função de
sua condição de funcionário público, está de acordo com o artigo 5° da CF/88 ao prever que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”?
O artigo 5° dispõe sobre o princípio da igualdade formal ou princípio da isonomia ao afirmar serem todos
iguais perante a lei. No entanto, essa igualdade não é necessariamente absoluta, haja vista também a
existência do princípio da proporcionalidade, a partir do qual se infere a possibilidade de tratar os iguais de
forma igual e os desiguais de forma desigual. Portanto, não se configura uma rigidez no artigo 5° da CF/88 a
ponto de se evitarem discriminações. Ao contrário, a flexibilização dessa igualdade é latente em diversas
discussões, como em relação às cotas nas universidades públicas para os indivíduos que se declaram
negros ou oriundos de escola pública.
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Ao estabelecer critérios de discriminação, o princípio da igualdade é relativizado, mas exige que haja uma
correlação entre o fator discrimnador, a desigualdade percebida e a igualdade que se pretende atingir.
Conforme Bandeira de Mello (2005), “a lei não pode conceder tratamento específico, vantajoso ou
desvantajoso, em atenção a traços e circunstâncias peculiazadoras de uma categoria de indivíduos se não
houver adequação racional entre o elemento diferencial e o regime dispensado aos que se inserem na
categoria diferenciada”.
Dessa forma, concluise que qualquer prerrogativa de vantagem deve ser fundada numa razão muito
importante para o bem público, haja vista o princípio da igualdade. No entanto, a igualdade não obriga a
adoção de normas idênticas, pois se aplica a cada caso em concreto e parte do pressuposto de que não há
princípios absolutos.
Como, então, o princípio da igualdade foi relativizado nos crimes de responsabilidade dos funcionários
públicos? Sob a óptica do sujeito ativo do crime, ou seja, o funcionário público, podese induzir à ideia de
que houve afronta ao artigo 5° da CF/88. Não seria justo que o acusado, em função de sua condição de
funcionário público, fosse “premiado” com a faculdade de apresentação de defesa antes mesmo da
apreciação do juiz.
No entanto, para que seja possível perceber a relativização do princípio da igualdade nesse tipo de crime,
devese ater à óptica do sujeito passivo, que é um ente público: União, EstadoMembro, Distrito Federal,
Território (se houver) ou Município. Dessa forma, será possível observar, nesse caso específico, não o
interesse do funcionário público, mas o interesse do serviço público. Surge, então, um outro princípio
implícito nessa situação: o princípio da supremacia do interesse público. Conforme Alexandrino e Paulo
(2010), “presumese que toda atuação do Estado seja pautada pelo interesse público, cuja determinação
deve ser extraída da Constituição e das leis..Assim sendo, lógico é que a atuação do Estado subordine os
interesses públicos.”. Os referidos autores ainda afirmam que: “...existindo conflito entre o interesse público
e o interesse particular , deverá prevalecer o primeiro, tutelado pelo Estado...”.
Depreendese daí que o interesse do Estado deve ser resguardado em primeiro plano. Por isso, foi
estabelecido um rito especial no Código de Processo Penal em relação aos crimes de responsabilidade do
funcionário público. Não é o direito à igualdade, relativizado, que está no foco da discussão, ou seja, não é o
sujeito ativo do crime e sua posição privilegiada em relação aos sujeitos ativos acusados de outros crimes.
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O rito especial se justifica em relação ao sujeito passivo do crime, ou seja, o ente público. Ao estabelecer
um rito especial, conforme Mirabete (2004), a lei teve em vista “os elevados interesses da administração
pública, resguardandoa no que respeita a probidade, ao decoro, a segurança e outros bens jurídicos que lhe
são essenciais...Com isso, também se protege a pessoa do funcionário que, em decorrência de suas
funções, é muitas vezes alvo de acusações infundadas por motivos até políticos.”.
Referências bibliográficas:
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo descomplicado. 18a ed. São Paulo:
Método, 2010.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3a ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 8a. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
Por Ronan Gonçalves De Faria
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