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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
OS CRUZAMENTOS VOCABULARES NO AMBIENTE VIRTUAL
Fernanda CALLEFI1 (UEM)
Manoel Messias Alves da SILVA2 (UEM)
Introdução
Este artigo objetiva analisar a formação dos cruzamentos vocabulares. Nestes casos, é
comum recorrer-se à morfologia, com propostas de se entender os processos de formação e
depreender seus elementos formadores. Além disso, neste trabalho, pretende-se verificar se a criação
dessas novas palavras atende às necessidades sociais, culturais e psicológicas dos falantes. Nessa
perspectiva, examinam-se diversos gêneros virtuais emergentes, como também as diferentes de
nomenclaturas utilizadas para esse processo. Para finalizar, serão analisados os diversos
cruzamentos vocabulares encontrados com intuito de observar suas semelhanças e diferenças, a
produtividade para a expressividade da língua com seus respectivos comportamentos linguísticos.
A criação de cruzamentos vocabulares pode ser explicada pela necessidade de adquirir
representações da realidade, por meio de crenças e ideologias, para consolidar sua identidade, e
facilitar a ação conjunta por meio do discurso. Nessa perspectiva, a estrutura social é um fator
fundamental na formação de novas palavras e revela-se, na fala, por meio da ação cognitiva.
Analisar-se-ão os cruzamentos vocabulares nos gêneros virtuais, tendo por pressuposto que a
escolha lexical é uma das propriedades de discurso mais fortemente orientadas para as estruturas
sociais e relevantes para o estudo dos aspectos sociais da linguagem.
Com o intuito de acompanhar e entender as mudanças pelas quais passa a língua, muito se
tem estudado o processo de formação de palavras na língua portuguesa. Nos meios de comunicação
é comum o emprego de uma palavra em uma acepção ou o uso de um vocabulário inusitado.
1. As diferentes perspectivas adotadas para os cruzamentos vocabulares
1 [1] Pós-graduanda (bolsista PPG) em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
2 [2] Professor Doutor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM) – Orientador.
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Diversos autores tratam do fenômeno de cruzamento vocabular, mas esse tipo de formação
de palavra recebe diferentes nomenclaturas. Por isso, serão ressaltados alguns autores como: Alves
(1990), Laroca (1994), Lopes (2003), Silveira (2002), Henriques (2007), Sandmann (1996; 1997),
Basílio (2005), Gonçalves (2004) e Gonçalves & Almeida (2006).
O processos denominado palavra-valise, segundo Alves (1990), ocorre quando uma base ou
duas bases sofrem redução. Geralmente, uma base perde a parte final e a outra a parte inicial.
Para Laroca (1994), o processo composicional pode ser divido em dois tipos: a composição
vocabular e sintagmática. De acordo com a autora a composição pode ser segmentada em três
grupos: a justaposição, a aglutinação e o truncamento.
Na mesma perspectiva teórica Lopes (2003) denomina o cruzamento vocabular de
amálgama. Para o autor, é semelhante à aglutinação, porém as perdas fonéticas são maiores e
ocorrem no radical.
Silveira (2002) ressalta sobre a legitimidade do processo denominado cruzamento vocabular
ou palavra cruzada. Observa que a única diferença entre esse processo e a composição reside no
aspecto fonológico, pois as perdas composicionais são passíveis de recuperação via algum
mecanismo fonológico, por exemplo: a crase, a haplologia etc.
Por outro lado, Henriques (2007) denomina tal fenômeno linguístico como cruzamento
morfológico, enquadrando-o como composição ou derivação, uma vez que reúne duas bases lexicais
distintas para explorar as cargas semânticas.
Sandmann (1996) demonstra sua primeira proposta sobre cruzamento vocabular fazendo
uma subdivisão em cruzamentos vocabulares homófonos, que recebe, esse rótulo devido à
intersecção de material fônico presente nos vocábulos, a qual pode ser longa ou não. Nesse sentido,
é importante que haja fonologicamente algum resíduo comum às palavras no cruzamento. E os
cruzamentos vocabulares não-homófonos são constituídos por vocábulos que não compartilham
qualquer material fônico.
Na segunda proposta, Sandmann conceitua os cruzamentos vocabulares como “um tipo de
composição, distinguindo-se dessa porque seus elementos formadores, todos ou ao menos um,
sofrem diminuição de um corpo fônico”. Para ele, os cruzamentos vocabulares são formados
semelhantemente aos nomes compostos de substantivo + substantivo, isto é, pode-se encontrar
substantivo em relação de dependência ou não nos cruzamentos vocabulares. Podendo ser dividido
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em cruzamento copulativo, que ocorre quando há uma adição de vocábulos do mesmo nível. As
palavras se combinam de maneira equitativa, ou seja, há independência de sentido de cada uma.
Assim, existe a coordenação ou parataxe entre si. Como também em cruzamento vocabular
determinativo ou subordinativo, caracterizado pelo acréscimo de dois vocábulos de níveis
diferenciados. Nessa perspectiva, há um vocábulo subordinado ao outro, o que requer a divisão a
divisão em núcleo e adjunto do cruzamento vocabular. Existe, logo, a hipotaxe entre os termos da
combinação vocabular.
A proposta de Basílio (2005) considera o cruzamento vocabular como uma forma de
composição, pois o resultado final decorre diretamente da combinação de duas palavras. O produto
de um cruzamento vocabular é considerado pela composição fonológica e semântica dos dois
vocábulos envolvidos. A autora ressalta a proposta do cruzamento vocabular como um item lexical
formado por parte de dois ou mais vocábulos. Também demonstra que há um grande número de
cruzamentos vocabulares que apenas usa parcialmente uma das palavras, uma vez que a outra
palavra é criada integralmente ao longo do lexema. A estudiosa propõe que o cruzamento vocabular
seja uma composição em que seus elementos não possuem extensão fonológica plena. Desse modo,
ela defende que esse processo morfológico se denomine por composição truncada, visto que há
regularmente a perda de material fônico em, no mínimo, uma das bases vocabulares.
Os cruzamentos vocabulares para Basílio (2005) têm sua estrutura superposta a outra palavra
com o objetivo de predicá-la o que é resultante da incorporação da palavra superposta na palavra
hospedeira. Para tal fato ocorrer, é preciso que haja semelhança fonológica entre as duas palavras.
De acordo com a autora esse é um ponto importante, pois caracteriza a fusão ou interposição
vocabular, distinguindo-a de outros processos morfológicos, como o cruzamento vocabular.
Gonçalves (2004), por sua vez, apresenta o cruzamento vocabular como um fenômeno
morfológico não-concatenativo em língua portuguesa, sendo caracterizado pela interseção de bases.
Segundo o autor, há dois padrões para cruzamentos no Brasil: (a) um para os casos em que as
formas de base possuem algum tipo de semelhança fônica e (b) outro, para aqueles que são
diferentes do ponto de vista segmental.
Por fim, Gonçalves & Almeida (2006), consideram que o cruzamento vocabular seja
dividido e três subgrupos: estranhamento ou impregnação lexical, combinação truncada e reanálise.
Tal divisão é bastante pertinente ao fenômeno linguístico denominado cruzamento vocabular, dessa
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forma, existe uma quantidade considerável de vocábulos nos quais ocorre a junção de duas bases
livres com perda de material fônico. Especialmente, quando se refere ao corte silábico e a perda de
material fonológico não possui uma situação semântica ou fonológica em uma só direção de
ocorrência, isto é, há embutidos diversos objetivos, tais como a descrição e avaliação o que dificulta
uma certa padronização dessas formações linguísticas. Nesse âmbito, devido à amplitude do
fenômeno, tais autores distribuíram as mais diversas formações nesses grupos já citados.
É perceptível que alguns autores tratam o cruzamento vocabular como um tipo de
composição, outros como justaposição, truncamento, aglutinação, derivação ou até mesmo como
fusão vocabular. Além disso, também foram encontradas propostas com subdivisões dos
cruzamentos vocabulares, como é o caso de Sandmann (1996).
3- Análise e discussão
Para a análise do corpus, será tomado como base teórica a perspectiva adotada por
Gonçalves (2004), pelo fato de ser uma proposta que condiz com aquilo que acreditamos ser o
fenômeno cruzamento vocabular. No caso, torna-se evidente que esse fenômeno ocorre por causa da
intersecção de bases, que podem ser divididos em dois padrões: um que possui algum tipo de
semelhança fônica e outro que é diferente do ponto de vista segmental. As análises nos gêneros
virtuais analisados ocorreram no período de 01/01/2012 até 31/08/2012.
É importante identificar o contexto, porque o uso do vocabulário está diretamente ligado à
natureza do discurso. Dessa forma, discursos informais, como este que foi analisado, são
caracterizados pela completa despreocupação com relação ao uso de regras gramaticais. Para
compreender este tipo de construção é necessário resgatar as pistas estruturais fornecidas e conectá-
las a informações contextuais, culturais e / ou de conhecimento partilhado.
Vale lembrar que neste artigo será apontada apenas uma amostra dos cruzamentos que foram
recolhidos nos gêneros textuais no ambiente virtual tratado, com a entrada, uma informação
morfológica, o contexto e uma descrição semântica de seu emprego, como também informações
sobre o processo de formação. O corpus de exclusão utilizado foi o Dicionário eletrônico Houaiss
da língua portuguesa 3.0, publicado em 2009 já com a nova ortografia da língua portuguesa.
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Aborrecente / substantivo – (20/06/2012) – (www.letrasdemusica.com.br)
“Aborrcente”
Trata-se de uma música da banda Bonde do Maluco, o título dessa música refere-se a um
grupo específico, no caso, dos adolescentes que começam, por conta da idade, a aborrecer seus pais
ou mesmo a sociedade, por exemplo, por tomarem algumas atitudes que não são bem vistas ou
mesmo querem ter certa liberdade que ainda não possuem, pois são dependentes de seus pais.
Agrozoo / substantivo – (2012) – (www.orkut.com)
“SEJAM BEM VINDOS... E ESPERO QUE O AGROZOO CONTINUE POR MUITOS
ANOS SEMPRE TRANSMITINDO ALEGRIA E DIVERSÃO PARA TODA A GALERA.....”
Ocorre a junção de dois cursos superiores: agronomia e zootecnia com algumas perdas
morfológicas agroo + zoo. É uma festa tradicional nas universidades em que as duas áreas se juntam
para realizar esse evento anualmente.
Alcoorexia / substantivo – (22/01/2012) - (www.entretenimento.r7.com/receitas)
“Espécie de versão mais saudável da alcoorexia, hábito preocupa. No início do ano, uma
tática de emagrecimento no mínimo estranha virou polêmica entre médicos e nutricionistas.”
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Alcoorexia é o termo utilizado quando alguém, no caso, Lady Gaga, passa a ingerir bebidas
alcoólicas com o intuito de inibir o apetite, nesse sentido, passa a diminuir a alimentação. Sendo
uma forma de emagrecimento.
Carnaporto / substantivo (2012) – (www.webgama.com/carnaporto/)
“ Carnaporto: 13, 14 e 15 DE FEVEREIRO DE 2013 = PORTO SEGURO”.
Já estão sendo realizadas as propagandas para o carnaval 2013 de Porto Seguro. Um lugar
bastante requisitado para o carnaval. Tem-se o cruzamento vocabular de carna + porto.
Chorinthians / substantivo - (04/04/2012) – (www.shoopashampoo.blogspot.com.br)
“Camiseta do Menguinho inspirada no chorinthians.”
O time Corinthians devido às suas perdas está conhecido como chorinthians. Além disso, os
torcedores corintianos também choram quando o time não ganha a partida de seus adversários. Esta
palavra já é bastante produtiva na língua, pois já aparece em diversos contextos.
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Craconha / substantivo (17/04/2012) – (www.folhaderondonia.com.br/)
“...já que os traficantes estão a comercilizar a maconha com percentuais de crack, sendo
praticamente rara a venda de maconha com “pureza”, o que temos é a criptonita, craconha, zirrê e
tantos outros nomes dados a esta „mistura‟.”
O crack é também um problema econômico, visto que seu comércio ilegal gera um lucro
astronômico. Agora os usuários de droga estão fazendo a mistura de crack com maconha, formando
o vocábulo craconha, e a partir da inovação tornar o produto mais atrativo e com o custo maior.
Consequentemente, é um meio dos traficantes produzirem mais lucro.
Empreguetes / substantivo – (28/05/2012) - (www.wp.clicrbs.com.br/holofote/)
“Curtiu o clipe das empreguetes? Então aprenda a cantar o novo hit da internet. Acompanhe
a letra de 'Vida de empreguete' e fique por dentro da nova sensação.”
Esta palavra está sendo utilizada para empregadas domésticas que têm um estilo moderno, ou
seja, que usa maquiagem, roupa colada, salto alto, entre outros. Saindo um pouco daquele
estereótipo que as pessoas tinham de como as “empregadas” deveriam se portar. O uso do termo
empreguete foi ampliado, porque passou a ser utilizado para nomear uma personagem novela “Cheia
de Charme”, transmitida na Rede Globo. Atualmente, também é encontrado o termo patroete
designado às patroas que possuem o estilo de piriguete – vão à balada, usam roupas consideradas
vulgares etc. Assim, ocorre o cruzamento vocabular por meio da palavra patroa e piriguete.
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Estudetes / substantivo – (18/06/2012) – (www.g1.globo.com/bahia/noticia)
“'Estudetes' fazem paródia de novela para retratar greve no ensino da Bahia. Vídeo foi
inspirado nas 'empreguetes' da novela Cheias de Charme.
Greve já dura mais de 60 dias; governo diz que busca normalizar aulas.”
Este termo foi inspirado nas empreguetes da novela “Cheias de Charme”, da Rede Globo,
três estudantes recriaram o hit e o clipe das domésticas para criticar a greve no ensino público da
Bahia, que acabou perdurando por vários dias. O vídeo completo traz cenas dos erros de gravação e
um manifesto cobrando do governo uma solução para acabar com a greve dos professores. A
Secretaria da Educação do Estado da Bahia diz, em nota, que avalia o vídeo das estudantes como
uma "paródia do momento", devido à ausência de aulas na rede estadual. O governo do Estado
afirma que "vem fazendo um esforço para assegurar a normalidade das aulas". Há uma substituição
da palavra empregada para estudante, ocorrendo à junção de estudante e piriguetes com as
respectivas perdas morfológicas.
Feliporco / substantivo – (11/05/2012) - (www.meutimao.com.br/humor)
“Esse Feliporco é uma piada. Não consegue fazer a porcaiada ganhar nada e quer se meter a
dar conselho para o atual CAMPEÃO BRASILEIRO. Rí muito aqui. rsrsrs...”
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O técnico do Palmeiras, Luis Felipe Escolares, conhecido como Felipão também é chamado
de Feliporco. Esse termo ocorre, pois ocorre à junção do nome do técnico com perdas de mofes + o
mascote do time, no caso, é o porco.
Florminense / substantivo (10/05/2012) – (www.supervasco.com/noticias)
“Alô torcida vascaina tô com nojo desse florminense os caras tão com uma gana tão grande
de ser vasco que tudo que o vasco quer eles se metem,daqui a pouco vão querer imitar ate o hino
porque o manto sagrado deles já tentarão força vascão.”
Este termo florminense de flor + minense, a flor é algo delicado que representa diversos
traços femininos, logo o time Fluminense pode ser caracterizado como um time frágil e delicado.
Gayrreiros / substantivo (08/03/2012) – (www.wp.clicrbs.com.br)
“Fluminense, time de macho”
“Anônimo disse... : “Parabéns, gayrreiros!!”
Por conta de muitas ofenças o time do Fluminense se retrata dizendo que o time é “muito
macho”, como também ressalta que eles são guerreiros, no entanto, após a mensagem que o
blogueiro expôs, anonimamente, parabenizaram o time e os chamaram de gayrreiros, ou seja,
dizendo ironicamente que o time não é tão macho como estão dizendo.
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Gornaldo / substantivo - (22/02/2012) – (www.wp.clicrbs.com.br/holofote)
“BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOH! Eu ficaria com medo, certamente ela ficou
também. Porém, cinco minutos mais tarde, Gornaldo passou pelo mesmo local e deu um beijinho na
mão da produtora. Vai entender...”
Mais uma vez o Ronaldo fenômeno está envolvido em confusões. O ex-jogador é retratado
como gornaldo pelo fato de seu porte físico estar um pouco saliente.
Mulhomem / substantivo (04/05/2012) - (www.youtube.com/watch)
“Nova onda, "MULHOMEM" Sensação do 'Inverão'.”
É o título de uma música que retrata a história de uma mulher desprovida de características
delicadas e femininas. A pessoa que resolve se declarar a ela não sabe se lhe dá “uma flor ou uma
enxada”, por isso, o uso deste termo mulhomem.
Namorido / substantivo (04/02/2012) – (www.mulher.terra.com.br/noticias/)
“Ter um "namorido" é opção das mulheres modernas.”
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Este termo foi empregado por conta das circunstâncias que perpassam as mulheres
modernas. Por exemplo, "casar de papel passado" não é mais tão importante para as mulheres. Juntar
os "trapos", expressão usada popularmente, e morar junto sem oficializar a união é cada vez mais
comum e resulta na mistura de namo + marido, o "namorido". As mulheres estão mais preocupadas
com a carreira profissional, o que as levam a ficar mais racionais e este comportamento acaba se
refletindo nas relações afetivas. Nessa perspectiva, querem testar antes para ver se vai dar certo.
Paracetamal / substantivo (26/06/2012) - (www.folhaderondonia.com.br/eventos)
“Galeria de fotos - Chopada de Medicina - Paracetamal - Porto Velho.”
Parecetamal foi o temo agregado à festa de medicina de Porto Velho. Criando uma
nomenclatura bastante cômica, devido ao recurso fônico de –mol do remédio paracetamol como o
advérbio mal. Logo, os estudantes utilizam o nome do remédio, porque são profissionais capacitados
em “curar doenças”. Em se tratando de uma “cervejada”, fazem um trocadilho com o nome do
remédio, como se fosse: “para você (ce) estar (ta) mal”. Ou seja, quem participar da festa vai beber
tanto ao ponto de ficar “mal”.
Paitrcínio / substantivo – (28/05/2012) – (www.wp.clicrbs.com.br/holofote/)
“'Paitrocínio': Renato Gaúcho paga a conta da filha e amigo em barzinho.”
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Paitrocínio é um termo bastante frequente na fala público jovem, quando precisam de algo e
recorrem ao pai. Neste caso, a filha de Renato gaúcho, Carolina Portaluppi, estava bebendo um
Chopp acompanhada de um rapaz em um barzinho de Ipanema, no entanto, quando foi fechar a
conta, a salvação foi o pai Renato Gaúcho, que emprestou dinheiro à filha.
Sextanejada / substantivo – (01/06/2012) – (www.youtube.com)
“Giovanni Acioly & Banda balada TOP ao vivo na Sextanejada Mix (01/06/2012).”
Este cruzamento vocabular é formado a partir da palavra sexta que indica sexta-feira, o dia
em que vai ocorrer a “balada” com “Giovanni Acioly & Banda”, e –nejada faz parte da palavra
sertanejada, formada por meio de derivação sufixal do sufixo –ada que representa a ideia de
multidão, logo fica evidente que se trata de uma festa sertaneja que ocorreu na sexta-feira do dia
01/06.
Telespescadores / substantivo - (09/05/2012) (Pesca Dinâmica | Facebook)
“Boa tarde amigos telespescadores e internautas como informamos na data de ontem o
programa hoje entrará no ar.”
Essa formação é bastante utilizada no programa “Pesca Dinâmica”, no qual seus
telespectadores são nomeados como telespescadores, pois a maior parte do público que assiste tal
programa são pessoas que, geralmente, praticam a pesca esportiva.
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Além da necessidade de criar novas ULs para se comunicar, toda UL criada tem certa
intencionalidade, por isso, essa estratégia também é bastante utilizada na publicidade e na
propaganda como meio de chamar a atenção do consumidor ou mesmo de tornar algo atrativo. Nos
gêneros publicitários, é bastante rápido o surgimento de palavras por meio de cruzamento vocabular,
por ter esse caráter inovador e criativo de a todo momento querer chamar a atenção do consumidor
para adquiri um produto de determinada marca ou mesmo mostrar qual o diferencial de seu produto,
por exemplo no termo chocotone, torna-se perceptível que não se trata de um simples panetone, mas
sim, de um panetone com chocolate. Ainda, tal recurso é bastante comum para estampar alguns
impasses sociais ou mesmo para desmascarar os feitos de algumas figuras com considerável
circulação social.
Apesar dos cruzamentos vocabulares serem utilizados na fala de muitas pessoas, ainda existe
certo preconceito ou receio por parte de outras, pois esses indivíduos têm a ideia de que falar ou
escrever palavras que não estão dicionarizadas pode diminuir a sua capacidade de se comunicar
bem, ou seja, tem uma concepção arraigada de falar a todo o momento a língua no padrão culto.
A língua envelhece, aparentemente, com aquele que a fala e que se identifica com ela. Mas o
homem não quer envelhecer; ele lê na evolução da língua sua própria decadência. Assim, ele deseja
conservar a língua na pureza, na integridade de sua juventude.
Tal como se deseja transmitir aos filhos os valores e a cultura do passado intacto, assim
também se espera transmitir-lhes a herança da língua. Mas, de um modo insuportável para o purista,
são as gerações jovens que, apropriando-se da língua, a mudam. A língua se encontra, assim,
perpetuamente rejuvenescida e não envelhecida, ao passo que seus falantes, inexoravelmente,
envelhecem. Aceitar a mudança é se sentir de certo modo despossuído, é perder um poder sobre e
pela língua (BAGNO, 2001, p. 68).
Por fim, o julgamento da aceitabilidade que se processa no meio social depende não
só da vontade individual como também de um consenso social e cultural. São as
condições de aceitabilidade dessas novas palavras, seu emprego por vários
locutores e o sentimento de que é compatível com a língua, que, se satisfeitas,
acabam por impô-lo. Por outro lado, o maior contato dos falantes/ouvintes com uma
forma nova faz, aos poucos, desaparecer o impacto da novidade lexical. Essas
novas palavras vão sofrendo um esvaziamento progressivo, até que,
imperceptivelmente, a UL passa a integrar o inventário das unidades léxicas
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memorizadas de alta frequência e distribuição regular entre os falantes até o ponto
de ser incluída em dicionários de língua, mas no caso dos cruzamentos vocabulares,
por se referirem a casos mais específicos como em gornaldo passam a não ser
encontrados com tanta frequência nos dicionários.
Considerações finais
Esse artigo buscou ilustrar a formação de novas ULs, explicar e exemplificar os tipos de
formação de ULs e também propor uma discussão a respeito das definições de cruzamento
vocabular por meio do embasamento teórico já citado. O principal ponto de reflexão foi a afirmação
de que o estudo desses fenômenos vocabulares de uma língua permite analisar a evolução da
sociedade que dela se utiliza, pois as transformações sociais e culturais refletem-se nitidamente no
acervo léxico dessa comunidade. Por isso, o estudo sistemático da neologia no PB é, sob a
perspectiva linguística, a análise dos processos de formação de novas ULs; do ponto de vista
extralinguístico, que constitui o estudo da evolução da sociedade brasileira. De acordo com as
análises, também foi possível observar que houve predomínio das formações sem algum tipo de
semelhança fônica, o que foi perceptível na maioria dos casos.
O conjunto de exemplos arrolados, neste trabalho, evidencia a produtividade do esquema
correspondente ao cruzamento vocabular expressivo em português, além de indicar que, ainda que
apresentem forte motivação expressiva, não se prendem a um único contexto.
O uso dos cruzamentos vocabulares como forma de produzir riso e menosprezar pessoas,
principalmente, com ampla circulação social mostrou-se eficaz, como também o uso para tornar algo
mais atrativo. A fusão de palavras, geralmente, com relação fonológica consegue criar o ambiente
humorístico necessário para o desenvolvimento de ideia e atinge um tom irônico exigido para a
elaboração de um texto dinâmico, com alto valor no mundo moderno. Então, a multiplicidade de
formas novas encanta qualquer leitor e o leva além do patrimônio dicionarizado do léxico português,
ou seja, quando se depara com as novas palavras ele reaprende sua própria língua.
Referências
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ALMEIDA, M. L. L. Cruzamento Vocabular no Português: aspectos Semânticos-Cognitivos. In:
Neuza Salim Miranda; Maria Crsitina Name. (orgs.). Linguística e Cognição. 1 ed. Juiz de Fora:
Ed. UFJF, 2006, v. 1, p. 157-170.
ALVES, I. M. Neologismo – Criação lexical. São Paulo: Ática, 1990.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Loyola, 2001.
BASÍLIO, Margarida (2005-2007). A Fusão Vocabular como Processo de Formação de
Palavras. Anais do IV Congresso Internacional da ABRALIN, www.abralin.org.
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HENRIQUES, Claudio Cezar. Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica. Rio de
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LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes;
Juiz de Fora: UFJF, 1994.
SANDMANN, A. J. A linguagem da propaganda. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1997.
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Curitiba: Ed. da UFPR, 1996.
SILVEIRA, C. M. da. Cruzamento vocabular em português: acaso ou processo? 2002.86f.
Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa)- Faculdade de Letras, UFRJ, Rio de Janeiro, 2002.