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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA ESCOLA PÚBLICA
Rosane Batista Garda1 André Paulo Castanha2
Resumo O presente artigo é o resultado das atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Compreender o contexto diário da rotina de trabalho dos educadores frente a uma nova dinâmica social, fez com que desenvolvêssemos este objeto de estudo voltado às relações interpessoais no cotidiano escolar, e os males que, frequentemente tem acometido os profissionais da educação. O cenário atual expressa conflitos de responsabilidades, entre sociedade, família escola e sistema educacional. Estes conflitos paralelos à função explícita da escola acabam desgastando as relações interpessoais e as redes sociais da comunidade escolar. Este texto caracteriza o resultado de um estudo sobre as diversas formas de ver, pensar e sentir a educação em meio à contemporaneidade histórica. Para isso, foi desenvolvido um trabalho com toda a comunidade escolar baseada em três eixos fundamentais do cotidiano escolar, são eles: Mal-estar docente, Políticas Públicas e o papel da família na educação dos filhos. Os resultados encontram-se elencados ao longo deste documento.
Palavra-Chave: Políticas Públicas Educacionais, Mal-Estar Docente, Participação das Famílias na Educação dos Filhos.
Introdução
Professores doentes, pais ausentes, Politicas Públicas ineficientes.
Estas são questões cada dia mais presente no cotidiano escolar, que por sua
vez tem desencadeado uma crise em cadeia, seja nas relações interpessoais
dentro da comunidade escolar, seja no resultado da aprendizagem dos alunos
e até mesmo no sucesso das ações da estrutura escolar.
Ao identificarmos tal problema desenvolvemos uma pesquisa a partir de
entrevista com membros da comunidade escolar sobre questões básicas como:
Você conhece a estrutura do ensino publico onde atua?
Conhece o PPP deste estabelecimento?
Tem bom relacionamento com os alunos e suas famílias?
1 Professora da rede estadual de do Paraná. Gestora do Colégio Estadual Santo Antão - Ensino
Fundamental e Médio – Bela Vista da Caroba. Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR E-mail [email protected] 2 Professor do Colegiado de Pedagogia e do Programa de Mestrado em Educação da
UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão. Doutor em Educação e orientador no programa PDE. E-mail: [email protected]
E capaz de identificar as ações das Políticas Públicas, no resultado de
seu trabalho?
Sente-se satisfeito em sua profissão?
E reconhecido pelas famílias de seus educandos?
O ambiente de trabalho oferece toda a estrutura necessária a suas
praticas?
Sente se envolvido no coletivo de seus colegas?
Busca hábitos saudáveis para descontração em tempo livre?
Afasta-se com frequência de suas atividades por motivos de saúde?
Após a aplicação deste questionário, traçamos uma linha de trabalho
buscando compreender as causas desses males, e, sobretudo, analisar as
formas de ver, pensar e sentir a educação em meio à contemporaneidade
histórica. Conforme prevê o artigo 2º da LDB:
A educação abrange os processos formativos que desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL. Lei 9394 de 1996).
Fica claro pelo disposto acima que a educação é ao mesmo tempo
direito e dever de todos, todavia a amplitude desse direito e dever, muitas
vezes, deixa um vácuo de responsabilidades, e assim, ofusca o objetivo
científico da educação que deve ser exercido dentro da escola.
Mediante o estudo da problemática apresentada ao colegiado da escola
durante as discussões referentes às nossas contribuições como agentes do
conhecimento cientifico, debatemos várias questões que dizem respeito aos
resultados de nosso trabalho. Questionamo-nos se a educação tem sido
realmente emancipatória? Para todos? De qualidade? Estamos preparados
para as adversidades rotineiras? Trabalhamos em condições dignas? Devemos
aceitar falta constante de professores vitimados por atestados, estrutura
inadequada, ausência de comprometimento familiar e social entre outros
vivenciados pelas instituições de ensino público no país?
Para debater/compreender estas questões realizamos atividades na
forma de grupo de estudos procurando respostas para nosso objeto de estudo.
A etapa teve 32 horas de duração sendo certificada pela Unioeste. Os
encontros oportunizaram a compreensão da problemática apresentada e
propiciaram apontamentos para melhorarmos nossa prática docente, nossos
relacionamentos interpessoais, a crítica em relação aos poderes públicos,
conforme será apresentado na sequência.
A resposta a estes questionamentos foram surpreendentes. De forma
coletiva os membros da comunidade escolar perceberam o quanto estavam
alienados a um ciclo vicioso, e que durante essa alienação, se fecharam aos
avanços, e as problemáticas educacionais. Ao retomarmos nossa trajetória
histórica, foi possível visualizarmos nossas conquistas, nossos avanços, nosso
crescimento na disseminação das políticas educacionais e no ensino científico.
Todavia, percebemos que ao tempo que elevamos nosso papel em oportunizar
o conhecimento, descuidamos de questões estruturais de suma importância a
aplicabilidade e efetivação dos direitos e dos deveres implícitos nas políticas
educacionais, nas relações interpessoais e com as famílias de nossos
educandos.
Ao levantarmos questões que acometiam a estrutura do Colégio
Estadual Santo Antão, percebemos que o nível de conhecimento dos docentes
e demais membros era altíssimo. Todos os docentes pós-graduados, até com
mestrado, servidores com cursos de graduação e mesmo assim apresentavam
insatisfação e incompreensão a cerca de questões básicas, como
relacionamento entre pares e famílias dos alunos. Doenças psicossomáticas,
descontentamento em relação aos instrumentos públicos de financiamento e
suporte, enfim muitas dúvidas e questionamentos no dia a dia de sua profissão.
Percebeu-se um mal-estar geral traduzido por inúmeros atestados margeando
a casa de 18 % dos servidores ativos. Tais fatos implicam em uma série de
prejuízos acadêmicos e estruturais ao estabelecimento, bem como o
adoecimento coletivo da equipe docente.
Isto posto, desenvolvemos uma reflexão em três eixos fundamentais do
cotidiano escolar, tais como: Mal-estar docente, Políticas Públicas e o papel da
família na educação dos filhos para estabelecermos alguns denominadores
comuns e buscarmos soluções coletivas para os problemas.
Mal-Estar Docente: Desafios Atuais da Profissão
A abordagem deste tema obriga-nos a refletir sobre a condição humana,
física e emocional do professor, em uma época histórica onde a tendência
imediata é a culpabilização do professor pelo fracasso social, moral e
econômico da sociedade. Neste contexto, assistimos a uma crise real do
individuo, do ser humano, que foi preparado para ensinar, orientar despertar
outros seres ao conhecimento, a pesquisa e a formação de novas concepções.
Essa crise, tem acometido uma grande parcela de profissionais da
educação, sejam docentes, agentes educacionais e outros, pois tais
personagens sentem, de forma direta, as adversidades que comprometem o
processo de aprendizagem, superação e emancipação do indivíduo.
Este cenário educacional é passível de compreensão pelos efeitos
contemporâneos da sociedade conforme cita Hagemeyer:
Ao refletir sobre a função do professor na atualidade, deparamo-nos com a dificuldade de combinar os muitos fatores que dizem respeito a formação humana. O contexto atual, em que os problemas político-econômicos estão aliados a vertiginosa evolução cientifica e tecnológica, reflete-se em mudanças nas formas de ser e viver dos homens em todos os níveis, desconcertando a quem tem a profissão
de ensinar/formar crianças e adolescentes (2004, p. 68).
Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo
ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões relacionadas à
saúde dos professores, funcionários e às condições de trabalho, as quais são
submetidos.
Os dados obtidos, embora não permitam respostas conclusivas,
encaminham para a necessidade de uma reflexão coletiva sobre o que pode
ser feito hoje, na escola que temos, com os recursos físicos, econômicos,
humanos e, por que não dizer legais, que dispomos para prevenir e/ou
minimizar o adoecimento do professor.
Esse estudo é definido por vários estudiosos e pesquisadores, como
Mal-Estar Docente, este por sua vez analisa as constantes causas que afastam
tantos profissionais de suas atividades trabalhistas, com uma frequência e
intensidade jamais observada antes. Hoje tantos discutem a educação, a
metodologia utilizada, fala se sobre os sujeitos da educação e da necessidade
da construção de um projeto-político-pedagógico da escola. Porém, pouco ou
quase nada se fala do “trabalhador” que viabiliza o sucesso ou o fracasso de
todas as políticas e metodologias propostas, desde a organização dos espaços
escolares a qualidade educacional. Em estudo relacionado com o mal-estar,
Esteve analisa, que
(...) essa expressão tem sido usada para designar os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor, como resultado das condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência. É, portanto o termo que tem nomeado o complexo processo no qual professores expressam suas marcas subjetivas e corporais produzidas no processo de trabalho, suportado a custa de desgaste e sofrimento. Tem modalidades como a inibição e o denominado “recurso de rotina” que são consideradas formas de cortar a implicação pessoal com a docência e eliminar as tensões provenientes dela. (1999, p. 39).
A autora observou que estudos realizados sobre o trabalho docente em
diversos países têm apontado para fatores como a intensificação do trabalho,
com o aumento de responsabilidades e exigências, que estão coincidindo com
um processo histórico de rápidas transformações do contexto social e
econômico. Tais transformações têm provocado modificações no papel desses
profissionais, implicando em fonte importante de mal-estar para muitos deles,
uma vez que não têm sabido ou, simplesmente, não têm aceitado acomodar-se
às novas demandas do sistema educacional.
A cada dia torna-se maior a exigência sobre o profissional que atua na
área da Educação. Com as mudanças ocorridas na sociedade, como a
democratização do ensino, os avanços tecnológicos, as mudanças na estrutura
familiar e com a saída da mulher para o mercado de trabalho, muitas das
funções educativas acabaram sendo transferidas para a escola, acarretando
maior responsabilidade para os professores. Essa nova forma de perceber a
sociedade contemporânea, parece natural e moderna, todavia, numa
concepção histórica, não tivemos esse sucesso no campo educacional quanto
ao desempenho escolar, qualidade educacional, relações interpessoais e por
fim, empenho do sistema nas ações políticas e educacionais.
Dentro de uma concepção histórica, o Mal-Estar docente, é descrito
como uma consequência da escola “moderna”, onde o estado mínimo transfere
à comunidade escolar a responsabilidade pelos fracassos e sucessos que a
educação possa apresentar no contexto social.
Essa transferência de papéis ou omissão de responsabilidades é sentida
diretamente pelos executores da ação social educadora; professores e
funcionários. Dentre elas destacamos:
Constante necessidade avaliativa do sistema, uma forma de pressionar
o profissional e responsabilizá-lo pelo insucesso do sistema educacional;
O estado controlador, que limita e distorce a identidade pedagógica do
estabelecimento;
A inovação tecnológica;
A inversão social da prática docente, onde o professor deixou de ser a
estratégia de ensino e passou ser a expectativa de aprendizagem.
A insuficiência das Políticas Públicas;
A demanda de informação disponibilizada através da era digital.
Mediante estes indicativos, e pela a falta de acompanhamento humano
nas ações profissionais dos servidores da educação, tem contribuído para
aumentar as situações de adoecimento desses profissionais. As causas são
fisiológicas, psicológicas e físicas, todas com os mesmos efeitos, a exaustão
produtiva desses servidores ao ponto de afastá-los de suas atividades
rotineiras.
Em nosso estudo junto do colegiado do Colégio Santo Antão,
conseguimos identificar as causas que levam a inúmeros atestados, doenças
psicossomáticas e a insatisfação pessoal vivenciada entre os servidores da
educação. Assim sendo, traçamos metas para erradicas as causas
apresentadas, como: trabalho em equipe, formação continuada nas áreas
tecnológicas, estudo sobre as politicas públicas e maior interação com os
familiares de nossos alunos, para que, no coletivo, possamos dividir
responsabilidades e somarmos esforços em torno do sucesso pedagógico dos
alunos.
Políticas Públicas e Educação
A Educação é de responsabilidade da família e do estado conforme
determina a Constituição Federal de 1988 e a LDB de 1996. Todavia, a
efetivação das ações educacionais de atendimento e interesse público e social
é de responsabilidade do estado, da união e dos municípios. Esse conjunto de
meios que instituem, legalizam, financia e mantém a educação em todas as
hierarquias são chamadas de Políticas Públicas Educacionais.
Política pública é uma expressão que visa definir uma situação
específica da política. Conforme Shiroma, Morais e Evangelista (2011), a
melhor forma de compreendermos essa definição é partirmos do que cada
palavra, separadamente, significa. Política é uma palavra de origem grega,
politikó, que exprime a condição de participação da pessoa que é livre nas
decisões sobre os rumos da cidade, a polis. Já a palavra pública é de origem
latina, publica, e significa povo, do povo.
A discussão e implementação das politicas educacionais visam atender
as especificidades do sistema, emancipar social e culturalmente a população, e
prover a responsabilidade constitucional com o social e coletivo. Assim
constantemente as ações governamentais as quais denominamos Políticas
Públicas, precisam ser redimensionadas de acordo com a necessidade social,
política, econômica e cultural da população. Também são estas ações que
traduzem a ascensão social da população aos olhos dos órgãos de controle
internacionais como BANCO MUNDIAL, UNESCO, etc., assim sendo além da
atenção interna com o social, o governo deve manter o sistema para se manter
na hierarquia econômica mundial.
Numa dimensão histórica, entende-se por Políticas Públicas
Educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de ensino,
instituindo a educação escolar de acordo com sua lei. A educação se
desenvolveu acompanhando o desenvolvimento do próprio capitalismo, e
chegou na era da globalização resguardando um caráter mais reprodutivo, haja
vista a redução de recursos investidos nesse sistema que, tendencialmente
acontece nos países que implantam os ajustes neoliberais, ou seja, que estão
a serviço do capital.
Percebe se através dos índices apresentados pelos órgãos internos
reguladores como IDEB, Prova Brasil, Saep, Saeb entre outros que ainda
demanda implementar mais Políticas Educacionais de investimento, e
estruturação do sistema educacional. Estas, por sua vez, se bem aplicadas,
possibilitariam formação continuada aos profissionais, remuneração digna,
estruturas físicas adequadas, locomoção aos alunos, profissionalização, além
de uma ampla reforma curricular que permita a integralidade do aluno à
sociedade.
Essa insuficiência de recursos afeta a educação em todos os níveis,
desde as creches ao ensino superior, e interfere de maneira direta no
crescimento social da população.
Após a compreensão acerca desta problemática como objeto de estudo,
constatamos, pela maioria das respostas obtidas via questionários que a
insatisfação profissional, falta de estrutura física e de pessoal e a insuficiência
de recursos financeiros, comprometem as ações rotineiras dos servidores
educacionais. Os espaços inapropriados, insuficientes, falta de incentivo à
pesquisa, formação continuada e salários não dignos são os indicadores que
levam ao adoecimento fisiológico dos servidores e, por consequência os
afastam de suas atividades.
Cientes de que não podemos de forma rápida e imediata resolver
questões de tamanha complexidade, buscamos alternativas junto a APMF e
Conselho Escolar para resolver questões pontuais que melhoram a estrutura
física e, por consequência os ambientes como: ar condicionado nas salas,
aquisição de livros para pesquisa e material de laboratório, através de recursos
estaduais e federais, onde os próprios professores, em conjunto com alunos
escolhem os materiais que melhoram sua prática. São necessárias ações que
promovam o envolvimento amplo com a comunidade, para juntos, propormos
ações de enfrentamento aos problemas que demandam iniciativas financeiras,
como melhoria física do ambiente escolar.
Elencadas as prioridades, reunimos os segmentos da comunidade e
definimos o prazo de seis meses ou dezembro de 2014, como referência para a
primeira etapa de prioridades a serem efetivadas. Destacamos que 80% delas
já se concretizaram.
A IMPORTANCIA DA FAMILIA NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS
É imprescindível que as crianças, para se tornarem cidadãos instruídos,
precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se encontram
com professores empenhados em transmitir o que sabem, para desenvolver no
aluno o desejo de saber, a curiosidade e a investigação.
Para sacramentar este interesse nos adolescentes e jovens é necessário
uma caminhada cultural por parte da família nas ações educativas promovidas
pela escola. É preciso que os pais sintam-se familiarizados como o cotidiano
escolar, não apenas quando chamados por adversidades, como
comportamento, notas, indisciplina, enfim para resolver problemas.
Como destaca Estevão (2003), a participação dos pais nas escolas não
deve ser encarada como sendo debilidade, último recurso quando as coisas
não andam bem (mau comportamento ou notas baixas), ou necessária apenas
nos eventos festivos promovidos pelas escolas. A interação deve ser encarada
como sendo uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do
espaço democrático na escola.
Assim sendo a escola deve se por como parceira das famílias e não
agindo como um órgão fiscalizador.
Segundo a psicanálise, a escola representa um lugar de emancipação
da criança a respeito de seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e
falar com outros, além de seus pais.
Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que lhe possibilitam
receber recursos que poderá utilizar no futuro: com outros semelhantes, na
escolha de profissão, etc. Dito isso, fica claro que a escola propicia a
socialização da criança, mas, é a família e sua função um dos maiores
responsáveis pela educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a
Educação pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia,
depende da estrutura familiar do aluno. Quando a família valoriza os estudos e
a aprendizagem, estimula no filho o mesmo. O interesse dos pais no que seus
filhos produzem, aprendem, faz com que eles (filhos) sintam-se valorizados em
relação ao que fizeram.
Mediante o exposto, e de posse dos questionários que embasaram a
pesquisa, discutimos com o grupo, se esses valores de família estão realmente
presente na vida escolar de nossos alunos? Se as dificuldades pontuadas
como Mal-Estar Docente, entre outras estão agravadas pela omissão da família
na educação dos filhos.
É fato que os valores morais, sociais e culturais passaram por
significativas modificações, bem como hábitos e costumes. A
contemporaneidade através de seus novos costumes levaram as mulheres ao
mercado de trabalho, e estas inserções sacudiram paradigmas sociais,
historicamente instituídos, como a educação dos filhos como de
responsabilidade da mãe.
Como as mães passaram a assumir responsabilidades que antes eram
atribuídas aos pais, estes tiveram que dividir a responsabilidade de educar e
acompanhar os filhos. No entanto, essa responsabilidade passou a ser
meramente formal, pois na prática, observa-se uma lacuna na formação das
crianças, visto que nem mãe, nem pai, estão cumprindo sua parcela de
acompanhamento na vida escolar das crianças e adolescentes. Além disso, a
situação se agrava com a oferta deliberada de tecnologia, de informação, de
curiosidades que tornam tudo atrativo, menos o ato de estudar.
Vivemos hoje num “Fordismo Virtual”, onde crianças e adolescentes se
tornam massificados pelo consumismo tecnológico, e a propagação do ócio
alienatório. É evidente que a atração pelo estudo fica comprometida, uma vez
que o ato de ensinar obedece alguns critérios, que aos olhos das crianças e
adolescentes é obsoleto. A partir dai surge um estágio de desinteresse, apatia,
por tudo que se relacione a educação, como a escola, a aprendizagem, o
professor. Essa intolerância é manifestada pelos alunos, muitas vezes de forma
agressiva, contribuindo com a violência na escola, ou pelo afastamento desse
aluno dos bancos escolares, o que chamamos evasão escolar.
Qualquer uma das causas apontadas anteriormente contribui para a
precarização educacional no campo social, como a omissão das famílias no
processo educativo dos filhos. Assim sendo, mediante o exposto analisamos
com o grupo a real situação de nosso estabelecimento, identificando causas
relevantes que resultam da omissão de algumas famílias na educação de seus
filhos, bem como estabelecemos estratégias de ação, que implícitas no PPP e
regimento escolar, possibilitem uma mudança nos métodos utilizados nas
práticas docentes e nas relações interpessoais. Dentre elas elencamos:
eventos de participação coletiva de pais, mães e adolescentes; maior atenção
a esta faixa etária compreendida entre os 11 e 16 anos, que se encontram no
vácuo da atenção em vários setores como saúde, comércio, formação etc.
Necessidade de preparação por parte da escola para compreender o jovem
contemporâneo, incentivo a leitura, escrita, oralidade inclusive das famílias dos
alunos, para que possam compreender o funcionamento da escola, parceria
com as redes de apoio, como: saúde, assistência social, comércio e poderes
públicos para a inserção de jovem em programas de qualificação.
As ações apontadas passarão a compor o plano de ação da escola e
estão previstas para serem realizadas em 2 anos.
Análise da Intervenção na Escola
Ao retornarmos à escola depois de identificar seus pontos frágeis
percebemos novas formas de ver nosso trabalho docente, o comportamento
discente, a participação das famílias e por fim compreender a estrutura do
sistema educacional brasileiro vivenciado pela escola pública nesse momento
histórico, onde os valores, hábitos e até mesmo a estrutura familiar da
população passa por uma brusca transformação.
O processo de intervenção foi orientado a partir dos cinco passos da
Pedagogia Histórico-Crítica, conforme orientações de Gasparin (2011), prática
social inicial, problematização, instrumentalização, catarse, prática social final.
Essa metodologia possibilitou um envolvimento coletivo de todos os segmentos
da comunidade escolar, bem como apontamentos de pontos comuns sobre
ângulos distintos. Nesta perspectiva tivemos o primeiro apontamento de uma
crise, pois buscávamos consenso onde deveríamos respeitar a diversidade de
opiniões, ideias, sugestões. Chegar ao denominador comum foi à primeira
tarefa e permitiu reescrevermos um novo ponto de partida para unirmos
esforços e buscarmos o bem estar da comunidade escolar considerando que a
realidade escolar parte da diferença.
Nos primeiros encontros percebemos que todos, sem distinção,
buscavam culpados, esperávamos soluções prontas. Perceber este perfil foi
difícil, pois somos culturalmente resistentes à autoavaliação. Todavia, de forma
progressiva fomos redimensionando nossos ranços, nossos paradigmas
ultrapassados, e, por fim a aceitação da mudança. Neste momento da
intervenção foi possível identificarmos de forma clara a fragilidade de nossas
ações, a importância do diálogo, do conhecimento da estrutura da escola,
como PPP, Regimento Escolar, Proposta Curricular, a constituição e o Estatuto
da Criança e Adolescente, das Politicas Públicas Educacionais, da realidade da
comunidade escolar e de seus alunos. Enfim sentimos que, embora
diariamente no chão da escola, somos indiferentes a sua constituição em todos
os segmentos: humanos, estruturais, financeiros, legais etc., e essa falta de
informação, dificulta nossa compreensão de questões básicas de gestão do
sistema educacional, escolar, pedagógico e humano de nossa comunidade
escolar.
Este THOUR holístico permitiu elencar uma série de ações pontuais. Em
um dos encontros definimos e na sequência realizamos ações de extensão
como:
Acompanhar o roteiro do transporte escolar (esta ação destina-se ao
conhecimento das dificuldades dos alunos em chegar à escola, conhecer suas
condições econômicas, distâncias de suas casas até a escola, o tempo gasto
para o deslocamento, o que dificultava a visita dos pais à escola).
Vivenciamos a experiência de nos colocar na situação de alunos; ficando
o tempo do aluno em sala com atividades maçantes para testarmos nosso nível
de apropriação.
Propusemo-nos a mudar hábitos rotineiros, como alimentação, atividade
física;
Realizamos uma dinâmica de autoavaliação, onde a professora PDE,
visitou as famílias sem o conhecimento dos membros do grupo de estudos, e
as mesmas indicavam um objeto, um pertence ao até mesmo um fato peculiar
a cada um. Na sequência a professora PDE, iniciou a dinâmica com um dos
objetos a fim de que os demais identificassem qualidades ou referencias que
traduziam o perfil do colega. A dinâmica foi fantástica, pois nos ajudou a
perceber que éramos muito alheios aos nossos colegas, não identificávamos
suas fragilidades, suas necessidades, suas virtudes e, por consequência que a
insensibilidade da ignorância afetava a relação diária.
Também oportunizamos que os familiares dos alunos pudessem situar-
se na vida de seus filhos, (alunos do estabelecimento), quanto a sua
importância no caminho educacional percorrido pelos mesmos, no campo
afetivo e perante a sociedade, a dinâmica foi realizada por testes psicotécnicos
assistidos e orientados por uma psicóloga que faz parte da rede de proteção da
escola. O resultado foi fantástico. Os pais revelaram um sentimento alheio ao
nosso trabalho, revelaram sentir-se obsoletos na vida dos filhos, ultrapassados,
caretas e desvalorizados. Após tal constatação realizamos um trabalho em
parceria com a equipe pedagógica da escola durante as reuniões de pais onde
enfatizamos a importância dos mesmos na educação e sucesso acadêmico de
seus filhos. Enfatizamos que o trabalho da escola só será promissor com a
ajuda dos pais e que somos uma grande equipe, pais, escola, professores e
alunos.
Por fim conseguimos amenizar parte das angústias que alteravam o
resultado final de nossas ações.
Estudar nossa própria realidade foi um fato novo oportunizado através
do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE. A participação no
Programa possibilitou uma análise criteriosa de nossa prática gestora frente ao
Colégio Estadual Santo Antão. Assim ao identificarmos no coletivo nossas
fragilidades, nossas angústias, insatisfações, nossas possibilidades, nossa
força perante a comunidade escolar qualificamos nossa ação educativa. No
inicio a sensação de fracasso era eminente, pois trabalhávamos apenas com
os pontos negativos, todavia, ao questionarmos o que realmente era negativo,
se havíamos feito algo para melhorarmos como pessoa e profissionalmente,
qual o nível de conhecimento da estrutura de ensino público e da escola,
abriram um vasto horizonte de estudos.
Percebemos que também figurávamos como agentes do fracasso. Que
também não buscávamos a compreensão de nossa angústia, que a ignorância
em torno das políticas educacionais e até mesmo do PPP da escola,
favoreciam a fadiga, enfim, percebemos no coletivo, que éramos o instrumento
de mudança, que precisávamos agir em equipe, pois só assim poderíamos
superar, ou amenizar as questões que estavam provocando o adoecimento da
equipe.
Ao oportunizar o estudo sobre as políticas educacionais, sobre os males
que desenvolvemos e, por fim, que também contribuímos pela omissão das
famílias no processo educacional dos filhos, foi possível amenizar a
insatisfação, visualizar oportunidades de mudança nas formas de ver, pensar e
agir frente ao processo educacional.
Sentimos a APMF, mais presente, a participação do Grêmio estudantil
constante e parceira, e os pais valorizados e nós educadores, com a certeza de
figurarmos no caminho certo.
Considerações Finais
A instrumentalização da realidade como objeto de estudo, foi possível
pela proposta de formação continuada dento dos moldes do Programa de
Desenvolvimento Especializado-PDE. A oportunidade de ver a escola do ponto
de vista diagnóstico possibilitou a instrumentalização da pesquisa, levando a
escola novamente a universidade através das problemáticas apresentadas,
Assim os agentes educacionais e comunidade escolar tiveram a oportunidade
de assumir a função de agentes de sua própria pesquisa, identificando
pontuando e apontando as possíveis soluções. Tal prática sacudiu a zona de
comodidade e conformismo vivenciada pela instituição de ensino, bem como a
abolição dos jargões que o governo e culpado de tudo, e que somos vítimas do
sistema.
Atuar como protagonistas desta mudança importa em resinificar nosso
papel de agentes transformadores da sociedade e formadores de opiniões, fato
que se ofuscou pela transformação da sociedade, todavia pertinente ao ato de
ensinar.
Atualmente vivemos uma ampla autonomia de ações no espaço escolar.
A gestão democrática deu bandeira a uma nova forma de construção e
fortalecimento das ações educacionais no chão da escola. Cabe a nós
educadores, militar em torno de nossos ideais, desenvolvermos a criticidade de
nossa prática e, por fim, permitir o envolvimento de todos no processo
educacional.
A análise das políticas educacionais leva-nos ao entendimento e a
compreensão do sistema educacional. Para tanto, precisamos promover
encontros de estudos, de leitura de textos e documentos oficiais para termos
condições de fazermos uma análise crítica da realidade. O autodiagnóstico das
causas de doença possibilitou a identificação dos males dentro do meio
docente, e assim desenvolver estratégias de prevenção, como diálogo, hábitos
diversificados e saudáveis, autocontrole etc. e, por fim a aceitação de que os
alunos são fruto do meio em que vivem e cabe a nós mediar sua emancipação
social, cultural e humana. Mas, para isso precisamos envolver as famílias e, ao
mesmo tempo, aceitar seu nível de limitação nesse processo.
REFERENCIAS
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