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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013 Título: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E TRABALHO EDUCATIVO:

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

SILVANI APARECIDA CRIVELARO

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E TRABALHO EDUCATIVO:

uma análise do Projeto Político Pedagógico e sua relação com a prática

docente.

PARANAVAÍ –PR

2013

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E TRABALHO EDUCATIVO:

uma análise do Projeto Político Pedagógico e sua relação com a prática

docente.

Autor: SILVANI APARECIDA CRIVELARO

Disciplina/Área: (ingresso no PDE)

Pedagogia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual São Vicente de Paula- EFMNP

Município da escola: Nova Esperança

Núcleo Regional de Educação: Paranavaí

Professor Orientador: Drª Fátima Aparecida de Souza Francioli

Instituição de Ensino Superior: UNESPAR/Campus Paranavaí

Relação Interdisciplinar: (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

História da Educação Sociologia da Educação Filosofia da Educação

Resumo: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

O presente trabalho objetiva analisar as concepções pedagógicas que sustentam o trabalho educativo que se desenvolve na escola, com atenção especial para o Ensino Médio. A relação entre educação e sociedade produziu concepções de educação que, agrupadas em tendências teóricas, direcionam a prática docente e refletem um posicionamento quanto a finalidade social da escola. Nesse sentido, todo Projeto Político Pedagógico faz opção por uma dessas tendências como referencial teórico para o desenvolvimento do trabalho docente, constituindo-se como elemento articulador das práticas desenvolvidas na instituição escolar rumo a um objetivo comum. No entanto, o que se tem observado é que existe no interior da escola uma heterogeneidade de

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enfoques teórico-metodológicos amparados por diferentes concepções de educação o que, acaba gerando a desarticulação do processo educativo e consequentemente um fator da baixa qualidade do ensino. Desse modo, a análise das práticas educativas, possibilita compreender finalidades, intencionalidades e formas de intervenção no processo do ensino e aprendizagem. A reflexão sobre estas questões constitui-se em um passo importante no processo de superação do fracasso escolar e na construção de uma escola mais democrática e de qualidade para todos.

Palavras-chave: (3 a 5 palavras)

Concepções;Educação; Ensino; Aprendizagem

Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico Público: (indicar o grupo para o qual o material didático foi desenvolvido: professores, alunos, comunidade...)

Pedagogos e Professores

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O presente trabalho trata-se de uma Produção Didático-Pedagógica, no

formato de um caderno pedagógico, constituindo-se como parte de uma das

etapas do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de

Estado da Educação – SEED/PR, e tem por objetivo subsidiar o plano de

implementação do projeto de intervenção pedagógica no Colégio Estadual São

Vicente de Paula - EFMNP, já desenvolvido no decorrer do programa, no ano

de 2013. Por meio de ações sistematizadas e permeadas pela reflexão teórica,

o projeto visa contribuir para o redimensionamento da prática pedagógica e,

consequentemente, para a melhoria da qualidade do ensino na escola a qual

se destina.

O material aqui apresentado, tem como objeto de estudo as

concepções pedagógicas que direcionam o trabalho educativo no Ensino Médio

da referida escola e foi elaborado a partir da necessidade da comunidade

escolar buscar alternativas para melhorar o baixo desempenho destes alunos,

constatado no Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

É certo que muitos fatores externos à escola interferem e colaboram

para o problema exposto, mas, a pressão maior recai sobre a escola e, mais

diretamente, sobre a prática do professor. Sendo assim, torna-se

imprescindível refletir sobre as questões que envolvem o processo

educacional, para evitar que se cristalize a ideia (bastante comum) do aluno

como causa do problema, seja pela sua falta de interesse, pelos problemas

sociais que o afligem ou por sua defasagem de conteúdos.

Neste sentido, entendendo que é função primordial do pedagogo

mediar, organizar e articular o trabalho pedagógico, é imprescindível que este

profissional estude as práticas educativas, buscando compreender finalidades,

intencionalidades e formas possíveis de intervenção, propondo ações que

contribuam para a superação dos problemas que impedem o bom

desenvolvimento do processo do ensino e aprendizagem. Portanto, torna-se

importante observar o que está acontecendo no cotidiano escolar e refletir

APRESENTAÇÃO

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sobre que concepção (ou concepções) de educação tem se efetivado no

processo pedagógico. Para tanto, faz-se necessário compreender como os

educadores desenvolvem sua prática pedagógica, que relação professores e

alunos estabelecem com o saber escolar, qual a distância entre o discurso

instituído no Projeto Político Pedagógico e o trabalho educativo desenvolvido

na sala de aula

Este caderno pedagógico é direcionado ao professores e pedagogos e

foi organizado buscando possibilitar a estes educadores a relação entre teoria

e prática, no empenho de tornar efetivo um trabalho coletivo e articulado com

os fins propostos no Projeto Político Pedagógico da escola em questão. Este

material é composto por cinco unidades temáticas, dispostas da seguinte

forma:

Unidade I: A função social da escola e as teorias da educação - aborda a

função social da escola, constituída como uma necessidade da sociedade

moderna, e mostra as teorias educacionais que nortearam, e norteiam o

trabalho educativo ao longo da história.

Unidade II: O referencial teórico-metodológico - uma análise do PPP e sua relação com a prática docente – faz uma análise do Projeto Político

Pedagógico como documento norteador do trabalho educativo na escola, bem

como, do seu referencial teórico-metodológico.

Unidade III: As teorias da educação na sala de aula – apresenta uma

reflexão sobre como o estudo da organização curricular possibilita

compreender o significado das diferentes práticas educativas, em uma

perspectiva histórica, analisando, ainda, o livro didático como meio de

operacionalização do currículo na sala de aula.

Unidade IV: O jovem e a escola - trata sobre a relação dos jovens com a

escola e reflete sobre a necessidade desta ressignificar suas práticas

pedagógicas e buscar novos sentidos na sua relação com os alunos,

garantindo que todos se desenvolvam.

Unidade V: Uma concepção para o Ensino Médio - aponta a Pedagogia

Histórico-Crítica como referencial teórico-metodológico para o trabalho docente

no Ensino Médio, tendo como documento norteador as Diretrizes Curriculares

Estaduais do Paraná.

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A educação tem-se constituído em um fator de grande preocupação,

tanto para os órgãos governamentais quanto para a sociedade em geral. Isto

porque, embora, tenha apresentado grandes avanços quanto ao acesso,

depara-se, hoje, com o enorme desafio de se obter boa qualidade de ensino

nas escolas públicas da educação básica. O baixo desempenho dos alunos

apresentado nas avaliações escolares, é um problema que há muito tempo

vem sendo percebido pelos educadores no interior das escolas, mas, que

atualmente, tem afetado mais diretamente a sociedade, especialmente, no que

diz respeito ao campo profissional.

A sociedade moderna, com todo seu aparato tecnológico, assim como o

mercado de trabalho, “requerem cada vez mais trabalhadores e consumidores

mais formados e qualificados, quer para produzirem mercadorias e serviços,

quer para utilizá-los” (CHARLOT, 2007, p. 131). Para atender esta demanda,

as políticas econômicas dos últimos anos, têm colocado a educação a serviço

do desenvolvimento econômico. Desta forma, à escola impõe-se a mesma

lógica da economia, ou seja, a lógica da qualidade, da eficácia e da

diversificação, e esta passa a ser questionada sobre sua qualidade, por meio

de avaliações permanentes, como o Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica – Ideb, que é medido a cada dois anos a partir do desempenho dos

alunos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb, na

Prova Brasil, e das taxas de aprovação obtidas pelo Censo Escolar.

Em se tratando do Ideb, ele é o indicador objetivo para a verificação do

cumprimento das metas fixadas no Termo de Adesão ao Compromisso “Todos

pela Educação”, que é o eixo do Plano de Desenvolvimento da Educação e do

Ministério da Educação, que trata da educação básica (FERNANDES, 2007).

Embora a análise de índices insatisfatórios no Ideb, realizadas no interior

da escola, costume considerar fatores como o contexto social e as condições

físicas e materiais da referida instituição, é sobre o processo de ensino e

aprendizagem que recai o peso maior. Cabe ao professor, hoje considerado um

INTRODUÇÃO

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profissional, ministrar um ensino de qualidade e tornar os alunos bem

sucedidos.

Este é com certeza um objetivo concreto e também a função e o desejo

dos professores. No entanto, qual o critério da qualidade? Ter boas notas?

Passar de ano? Memorizar conteúdos sem terem sido aprendidos?

Desenvolver atitudes e valores? Apropriar do conhecimento científico? Adquirir

competências técnicas? Preparar para a vida?

Portanto, é importante enfatizar que a prática pedagógica não é

somente técnica, ela reflete uma determinada concepção, não só da educação

escolar, mas do social, do político, do cultural e implica sempre uma

determinada proposta pedagógica, ou seja, uma proposta do quê e como se

deve ensinar, aprender ou avaliar. Isto implica o papel dos diferentes sujeitos

em tudo isso e seus modos de se relacionar (TORRES, 1994).

No cotidiano escolar, nem sempre a prática do professor é direcionada

por uma concepção de educação, ou pelo menos, por uma concepção

consciente. O que se observa é que, de modo geral, a ação docente vem

sendo realizada sem uma permanente reflexão sobre o que se está fazendo,

seu sentido, seu significado e sua finalidade. Percebe-se que o que ocorre é

que o discurso instituído não condiz com a prática efetivada na sala de aula.

Diante dessas análises preliminares, o presente trabalho pretende

responder às questões que tem nos inquietado em nosso campo de atuação na

escola pública, buscando para isto estratégias que auxiliem alunos e

professores a terem êxito em seus papéis, no processo de ensino e

aprendizagem.

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A função social da escola e as teorias da educação

A educação é um fenômeno essencialmente humano. Isto porque, como

coloca Saviani (2007) a existência humana não é garantida pela natureza, mas

necessita ser produzida pelo próprio homem através do trabalho. De acordo

com o autor:

Desta forma, pode-se afirmar que a educação e o trabalho estão

diretamente ligados, sendo que, o primeiro possibilita ao homem transformar a

natureza para satisfazer as suas necessidades de subsistência e, por meio da

educação, ocorre a transmissão do conhecimento que já foi adquirido no

processo de trabalho, tornando possível o desenvolvimento da humanidade.

Saviani (2007) revela que, nas sociedades primitivas, os homens

apropriavam-se coletivamente dos meios de produção da existência e nesse

processo educavam-se e educavam as novas gerações. A educação, portanto,

não tinha como objetivo a preparação para a vida, educava-se vivendo. Com o

desenvolvimento da produção houve a divisão do trabalho e a propriedade

privada da terra, o que ocasionou o surgimento da sociedade de classes: a

classe dos proprietários dos meios de produção e a classe dos não-

proprietários. Esta divisão tornou possível aos donos da terra (o meio de

produção), viverem do trabalho dos não proprietários, convertendo-os em

escravos.

O homem não nasce homem. Ele forma-se homem. Ele necessita aprender a

ser homem, precisa aprender a produzir sua própria existência. Portanto, a

produção do homem é ao mesmo tempo a formação do homem, isto é, um

processo educativo. A origem da educação coincide, então, com a origem do

homem mesmo. (SAVIANI, 2007, p. 154).

UNIDADE I

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Esta nova organização social ocasiona também formas diferenciadas de

educação, sobre as quais Saviani (2007, p. 155) destaca que:

Saviani (2007) explica que ocorre, neste momento, a institucionalização

da educação, ou seja, o surgimento da escola. Esta é para os que dispunham

de tempo livre, deste modo, refere-se à primeira modalidade anteriormente

citada.

O autor, ao analisar a história da escola, afirma que o desenvolvimento

da sociedade de classes levou a separação entre educação e trabalho. No

entanto, é o modo como se organiza essa sociedade que permitiu a escola

tornar-se um espaço separado da produção. Por sua vez, a separação entre

escola e produção impeliu a divisão que foi se processando entre trabalho

manual e trabalho intelectual.

A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e

separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a

educação dos homens livres, e outra para a classe não proprietária,

identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada

nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de

caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de

trabalho.

A escola, desde suas origens, foi posta do lado do trabalho intelectual;

constituiu-se num instrumento para a preparação dos futuros dirigentes que

se exercitavam não apenas nas funções da guerra (liderança militar), mas

também nas funções de mando (liderança política), por meio do domínio da

arte da palavra e do conhecimento dos fenômenos naturais e das regras de

convivência social.

(SAVIANI, 2007, p.157)

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Contudo, a sociedade capitalista, mais especificamente, a partir da

Revolução Industrial, faz surgir uma nova relação entre educação e trabalho,

que reconfigura a finalidade da escola. Isto porque, com uma sociedade e

economia cada vez mais complexas, faz-se necessário um trabalhador também

cada vez mais qualificado, já que o trabalho passou a ser organizado a partir

de princípios científicos. Esta nova forma de produção da existência humana

imprime o uso das funções intelectuais no sistema produtivo e determina a

reorganização das relações sociais. A escola assume um papel fundamental

nesse processo e passa a ser a forma dominante de educação (SAVIANI,

2007).

Assim, a escola pública, laica e gratuita passa a constituir-se como uma

necessidade da sociedade moderna, cuja função principal é transmitir a todos

os seus indivíduos, os conhecimentos científicos mínimos necessários ao seu

desenvolvimento.

A escola, no entanto, exerce essa função de diversas formas nos

diferentes contextos históricos e sociais. Estrutura-se um modelo diferente de

escola em cada sociedade, em cada tempo, de acordo com os interesses dos

dirigentes desta sociedade na qual está inserida. Estes interesses estão

representados nas teorias educacionais que nortearam e norteiam o trabalho

educativo, que podem ser assim classificadas e brevemente definidas:

- Pedagogia Tradicional: a escola deve ser para todos e seu papel é difundir a

instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e

sistematizados logicamente, visando a formação do cidadão livre, intelectual e

moralmente capaz de conviver socialmente;

- Pedagogia Nova: à escola cabe ajustar e adaptar os indivíduos a sociedade,

visando a formação do sujeito criativo capaz de aceitar as diferenças e

respeitar-se mutuamente.

- Pedagogia Tecnicista: a escola busca adaptar o trabalhador ao processo de

trabalho, por meio da organização racional dos meios, sendo seu objetivo

formar o trabalhador eficiente e produtivo;

- Pedagogia Histórico-Crítica: a função da escola é a socialização do saber

sistematizado, produzido histórico e culturalmente pelos homens, que devem

ser transformados em conteúdos reais, concretos e dinâmicos, visando o

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desenvolvimento humano em cada indivíduo singular na busca por uma

sociedade em condições de igualdade entre todos (SAVIANI, 1986)

- Pedagogia do Aprender a Aprender: a função da escola é desenvolver

competências cognitivas e culturais, que capacitem o indivíduo para a vida em

sociedade, para a atividade produtiva e as experiências subjetivas. É

estruturada em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender

a viver e aprender a ser. Ela visa a formação do sujeito reflexivo e participativo,

que seja capaz de integrar-se nas relações sociais, políticas e econômicas

(BRASIL, 1999)

Nesse sentido, a ação pedagógica desenvolvida na escola vincula-se ao

interesses defendidos pelas teorias acima definidas, sendo representados ora

por uma, ora por outra concepção de educação. Esta concepção de educação

é que norteia a organização dos espaços, dos tempos, dos conteúdos, dos

métodos e das relações que se estabelecem no espaço escolar. Este

direcionamento é consolidado de forma mais ampla por meio das políticas

educacionais e, de forma mais direta, por meio do Projeto Político Pedagógico

e da Proposta Curricular da escola. Portanto, ter clareza da concepção teórica

que norteia o trabalho educativo, é determinante para que a escola e os

educadores possam articular os fins que se pretende alcançar à prática

pedagógica desenvolvida na sala de aula.

Nas escolas públicas paranaenses, norteado pelas Diretrizes

Curriculares, o Projeto Político Pedagógico compreende a prática pedagógica

como a prática que Saviani define como sendo trabalho educativo.

O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em

cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e

coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz

respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que

precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que

eles se tornem humanos e, de outro lado, e concomitantemente, à

descoberta das formas mais adequadas para tingir esse objetivo

(SAVIANI, 1991, p. 21)

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Logo, envolver-se no trabalho educativo, significa produzir, por um lado,

o conhecimento clássico que permitirá, ao aluno, distinguir entre o que é

principal, essencial e fundamental para sua prática social. E, por outro, significa

produzir, por meio dos conteúdos escolares, a consciência do aluno de ter que

atuar na construção de um determinado tipo de sociedade. O objeto da

educação refere-se, desta maneira, à identificação dos conhecimentos que

necessitam ser aprendidos, bem como, à descoberta das formas mais

adequadas para tanto.

Deste modo, o trabalho educativo torna-se uma tarefa complexa, o que

requer dos profissionais da educação, assim como dos alunos e de toda a

comunidade escolar, o entendimento dos objetivos a serem alcançados e o

direcionamento claro das ações a serem implementadas.

1. Exibir o Episódio da série "Ser ou não ser" apresentado por Viviane Mosé.

Este episódio, dividido em 7 partes, apresenta reflexões sobre a escola e

sua função social. Disponível na página do Portal Diaadiaeducação.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=eJZ7OBZsbcc&feature=related Após apresentação dos vídeos e estudo do texto complementar “Tendências

pedagógicas na prática escolar” (Luckesi, 1991, p. 53 à 69), discutir e

responder, em pequenos grupos, as seguintes questões:

a) Qual a função social da escola na sociedade contemporânea?

b) Caracterizar as tendências pedagógicas, de acordo com o quadro

abaixo:

TRADICIONAL ESCOLA NOVA

TECNICISTA HISTÓRICO CRITICA

APRENDER A APRENDER

FUNÇÃO DA ESCOLA

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO

PROPOSTA DE ATIVIDADES

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CONCEPÇÃO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

METODOLOGIA

PROFESSOR

ALUNO

c) Estas tendências estão presentes na prática pedagógica desenvolvida

na escola? Qual tendência predomina? Por que isto ocorre?

Apresentar as conclusões dos grupos em plenária.

2. Com base na reportagem da Revista Escola “Discurso vazio: as

expressões que poucos sabem o que significam” disponível em

http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/discurso-vazio-

466745.shtml, analise as questões propostas e responda:

Qual linha (ou quais tendências) está representada nas expressões

abaixo? Que práticas representam este discurso pedagógico?

- “Partir do interesse dos alunos”

- “Formar alunos críticos”

- “Adquirir conhecimentos científicos”

- “Formar cidadãos”

- “Formar alunos críticos”

- “Partir da realidade do aluno”

- “Levantar o conhecimento prévio”

- “Aumentar a auto-estima”

3. Estudo do artigo “O professor decreta o fim da escola“ de Lígia Regina

Klein. O texto apresenta uma análise sobre a vulgarização de

determinadas afirmações que se instalaram como chavões no discurso

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pedagógico e as consequências negativas dessa vulgarização para a

escola.

Para refletir:

Os chavões apresentados no texto estão presentes no discurso

pedagógico da escola de nossa atuação? De que forma eles interferem

no trabalho educativo desenvolvido pelos professores?

Para saber mais: SAVIANI, Dermeval. Histórias da idéias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2010.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: Ministério da Educação, 1999. KLEIN, Lígia R. O professor decreta o fim da escola. Revista Intermeio. Campo Grande:UFMS, vol. 1, n. 2, p. 20-25. 1995. MOÇO, Anderson; SANTOMAURO, Beatriz; VICHESSI, Beatriz. Discurso Vazio. Revista Escola. Ano XXIII, n. 218, p. 42-51, dezembro. 2008. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1991.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986.

______. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991. ______. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação. V. 12, n. 34, jan./abr. 2007.

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O referencial teórico-metodológico: uma análise do Projeto Político Pedagógico e sua relação com a prática docente

Um dos grandes desafios que se coloca aos professores, diante das

transformações vividas pela sociedade e pela escola, nas últimas décadas, é o

de despertar o interesse dos alunos pelos conteúdos escolares e promover

uma aprendizagem mais efetiva.

Em contrapartida, o que se nota é uma difícil realidade em sala de aula,

onde predomina um clima de indiferença e desencontros entre o que propõe a

escola e o que desejam e motiva os alunos. Há, ainda, a cobrança cada vez

maior de todos os setores sociais, por uma educação com mais qualidade, fato

que vem instigando muitos educadores a buscarem novas alternativas,

especialmente, novas práticas, que possam produzir melhores resultados no

processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com Vasconcellos (2002, p. 13) “O problema metodológico é

um problema que perpassa todo o sistema educacional, uma vez que é longa a

tradição de um ensino passivo, desvinculado da vida.” Assim, transformar a

prática vai muito além de introduzir novas técnicas de ensino. Requer,

sobretudo, um referencial teórico-metodológico que dê significado para a ação

do professor e oriente o seu trabalho, a partir de uma perspectiva maior, que

supera os limites da sala de aula e envolva a compreensão da realidade e a

ação da escola como um todo.

E, tendo claros os objetivos mais abrangentes, as finalidades, cada professor

poderá, com clareza de consciência, escolher os procedimentos de ensino

entre os já formulados e apresentados nos textos de didática e técnicas de

ensino. Ou ainda, poderá criar novos procedimentos a partir das

necessidades emergentes, para cumprir os objetivos que tenham traçado.

(LUCKESI, 1991, p. 148)

UNIDADE II

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Contudo, segundo o autor, grande parte dos professores encontra

dificuldades em definir os procedimentos de ensino com base em critérios e

objetivos claros e, principalmente, coerentes com o Proposta Curricular da

escola. Há, inclusive, a necessidade de compreender melhor a própria

definição de método, tornando-se válido, que sejam apresentadas algumas

considerações sobre este assunto.

Luckesi (1991) distingue pelo menos duas perspectivas de compreender

método. A primeira define o método sob a ótica teórico-metodológica, sendo

que, nesta perspectiva, método significa um modo de abordar a realidade, seja

para a produção de conhecimentos ou para o encaminhamento de ações.

Assim, ao trabalhar um conteúdo, por exemplo, o professor pode seguir uma

abordagem reducionista, que consiste mais em uma apresentação dos fatos,

sem considerar as circunstâncias que os determinam; ou utilizar uma

abordagem dialética, apresentando os acontecimentos articulados com o

contexto e as condições históricas e sociais em que foram produzidos. Desta

forma, “o método ganha o seu caráter teórico, ou seja, o modo segundo o qual

ele permite que a realidade seja apreendida do ponto de vista do

conhecimento” (LUCKESI, 1991, p. 151). O Projeto Político Pedagógico e a

Proposta Curricular expressam uma concepção de educação e uma

abordagem teórico-metodológica definida por cada instituição, assim, estes

dois documentos podem e devem nortear a prática pedagógica do educador. A

segunda perspectiva define método sob a ótica técnico-metodológica, que

consiste na definição dos modos de se atingir os resultados e objetivos

previamente estabelecidos e está articulada com a ótica teórico-metodológica.

De acordo com Luckesi (1991, p. 152), “um modo operacional de agir ou

de fazer alguma coisa não existe num vácuo teórico, mas sim articulado com

uma ‘visão’ de realidade”. Desta forma, os procedimentos ou técnicas são os

recursos imediatos utilizados para atingir objetivos específicos de cada aula ou

conteúdo, bem como, os objetivos mais amplos na formação do aluno. Nesse

sentido, os procedimentos de ensino, segundo Luckesi, estão comprometidos

com as duas óticas metodológicas, a teórica e a técnica, e implicados com os

objetivos politicamente definidos.

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No cotidiano escolar, ainda que a proposta pedagógica esteja em

discussão com certa frequência, ela não costuma ser considerada pelos

docentes, quando selecionam os procedimentos de ensino. Ocorre que nem

sempre as propostas pedagógicas são assumidas com clara consciência, vindo

daí a dificuldade em articulá-las com os procedimentos.

O que se observa então, é que na mesma escola ou na mesma turma,

coexistem práticas muito distintas, o que torna o processo educativo um tanto

inconsistente e prejudica a aprendizagem dos alunos.

Diante dos fatos expostos, constata-se que o Projeto Político

Pedagógico constitui-se como eixo norteador do trabalho pedagógico, sendo

um instrumento que permite o encontro, a reflexão e ação sobre a realidade da

escola, por meio do qual define-se a sua identidade e os princípios

orientadores que poderão direcionar a ação pedagógica e a partir dos quais

serão estabelecidas as prioridades estratégicas para alcançar as metas de

aprendizagem pretendidas.

No ensino, não basta definir que se vai utilizar a ‘exposição oral’ ou a

‘exposição escrita’, ou o ‘trabalho dirigido’ etc. É preciso ter clareza da

intenção com a qual se vai utilizar este ou aquele procedimento. E isso

depende da concepção pedagógica que gere o nosso trabalho docente .

(LUCKESI, 1991, p. 153, grifo do autor).

No geral, os procedimentos de ensino são retirados do arsenal já

consagrado pela prática docente [...] O professor está habituado – seja pela

sua formação, seja pela prática, seja pela herança cultural comum que

recebeu - a não se preocupar com a proposta pedagógica e, muito menos,

com a articulação entre procedimentos de ensino e proposta pedagógica.

(LUCKESI, 1991, p. 155).

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Como bem explica Veiga (2007), pensar a qualidade do ensino requer

pensar a prática educativa e a própria escola e situá-las no contexto histórico e

social, pois, conhecer os processos e as práticas históricas de educação

possibilita compreender como, em tempos e espaços distintos, foram e são

organizados os modos de aprender e transmitir conhecimentos pela

humanidade.

1) Estudo do texto “Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória?” de Ilma Passos Alencastro

Veiga.

Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v23n61/a02v2361.pdf

2) Os participantes serão organizados em dois grupos, que deverão discutir

e analisar o Projeto Político Pedagógico da instituição e a prática

pedagógica desenvolvida na escola, conforme o roteiro proposto. Após a

É preciso entender que o projeto pedagógico é caracterizado como ação

consciente e organizada. O projeto deve romper com o isolamento dos

diferentes segmentos da instituição educativa e com a visão burocrática,

atribuindo-lhes a capacidade de problematizar e compreender as questões

postas pela prática pedagógica. (VEIGA, 2003, p. 279)

PROPOSTA DE ATIVIDADES

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análise, cada grupo deverá realizar uma apresentação em plenária e

entregar um texto, com a síntese das informações levantadas por seus

integrantes.

GRUPO 1: PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA

- Qual é a concepção de sociedade expressa no documento?

- Ele evidencia a realidade da escola e do seu entorno?

- Como são caracterizados os alunos?

- Qual o papel atribuído à escola? - Qual a concepção de homem? Que tipo de pessoa a instituição educativa

quer formar?

- Qual o referencial teórico apresentado? O documento é elaborado

segundo os princípios deste referencial? Os autores utilizados são

coerentes com o referencial teórico?

- Explicita com clareza as seguintes dimensões :

- Pedagógicas (planejamento, objetivo, estrutura...).

- Administrativas (estrutura e organização da escola, dirigentes, etc.)

- Comunitária (relacionamento: professor, família, comunidade, etc.)

GRUPO 2: PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NA ESCOLA

- O que é método de ensino? E metodologia?

- Que métodos de ensino o grupo conhece e/ou utiliza?

- Dê exemplos de atividades que os professores utilizam no trabalho

pedagógico desenvolvido na escola.

- Qual a concepção pedagógica adotada no PPP de sua escola?

- Qual o referencial teórico-metodológico está contido nesta concepção?

- Os professores trabalham com o método proposto na concepção adotada

no PPP?

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Para saber mais: VEIGA. I. P. A. Escola: espaço do projeto político pedagógico. Campinas:

Autores Associados, 1992.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1991.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. 12ª ed.São Paulo: Libertad, 2002. VEIGA, Cynthia G. História da Educação. 1. ed. São Paulo:Ática, 2007. VEIGA, Ilma P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 267-281, dezembro 2003. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> . Acesso em 15/09/13.

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As concepções de educação na sala de aula

Vivemos um momento especial na educação em que a atenção da

sociedade se volta para a escola como um espaço fundamental de formação.

Novas necessidades são impostas mediante um mundo globalizado, em que as

distâncias foram encurtadas, os meios de comunicação em massa foram

amplamente difundidos, possibilitando o acesso rápido à informação, e a

revolução tecnológica vem

provocando grandes

transformações tanto no

setor produtivo como nas

formas de socialização.

Merece destaque,

também, o fato de que a

escola é um espaço que

hoje convive com as

diferentes gerações,

vivenciando intensas

contradições e muitos

conflitos, que devem ser

negociados e apaziguados, para que haja êxito no processo educativo. Além

disso, espera-se da escola a formação integral do aluno, ou seja, que ele se

desenvolva em todos os aspectos: cognitivo, cultural, psicológico, social e

produtivo. É notório, então, que nunca se delegou para a instituição escolar

tantas demandas, tornando o trabalho educativo tão complexo quanto são

complexos os problemas que a atual sociedade enfrenta, especialmente,

quando se aponta a educação formal como principal caminho para a superação

dos desafios que ora se apresentam.

Nesse sentido, não são poucas as discussões e as divergências sobre o

papel que a escola deve desempenhar e a quais interesses ela deve atender,

principalmente, porque no Brasil ainda não se efetivou um sistema nacional de

A burguesia coloca ideologicamente a

educação como um fenômeno

estritamente cultural, mas, ao mesmo

tempo, repensa seu sistema educativo à

luz das exigências sócio-econômicas.

Ela encontra-se, assim, presa numa

contradição pedagógica, que se traduz

pela multiplicação de reformas

educativas mais ou menos

abortadas.(CHARLOT, 1983, p. 305)

UNIDADE III

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Educação desvinculado de interesses políticos partidários. Tantas são as

mudanças no direcionamento das políticas educacionais quantas são as

mudanças de governo e, embora, nem sempre estas mudanças se consolidem

totalmente na prática pedagógica, elas interferem profundamente no trabalho

educativo, tornando difícil aos educadores compreenderem em que consiste a

especificidade da educação e do trabalho pedagógico, bem como, perceberem

como as concepções inerentes a estas propostas afetam a prática

desenvolvida no processo educativo.

Sendo assim, constata-se que os profissionais ligados à educação “no

discurso e na prática, expressam, às vezes aspectos das várias concepções,

estando a predominância de uma ou de outra tendência condicionada a fatores

objetivos e subjetivos [...]” (SAVIANI, 1994, p. 16). Tais fatores normalmente

estão ligados, em maior ou menor grau, à formação profissional, às condições

materiais de trabalho, à identificação com as propostas apresentadas, ao

controle exercido pelo sistema educativo.

Percebe-se, porém, que é de senso comum a todos o fato de que cabe

à escola, transformar o conhecimento científico em saber escolar, tornando a

relação conteúdo-forma uma das questões cruciais do fazer pedagógico.

É preciso distinguir. Uma coisa é a “natureza” do saber escolar, isto é, o que o

constitui enquanto tal. Outra coisa são as suas formas de manifestação, isto é, o

modo como ele se realiza em circunstâncias determinadas. Ora, aquilo que é

próprio do que estamos denominando de “saber escolar” é a organização do

saber elaborado, produzido historicamente, para efeitos do processo de

transmissão-assimilação no espaço e tempo escolares. Ou seja, a cultura letrada,

o saber sistematizado está disponível socialmente, mas, para ser assimilado

pelas crianças, ele precisa ser dosado e seqüenciado, isto é, organizado de uma

forma tal que se torne assimilável progressivamente pelos educandos através do

trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas. Esta é uma característica inerente

ao funcionamento das escolas e está, pois, presente em todas as formas de

organização escolar. Na sua realização prática, entretanto, essa característica

própria das escolas irá se manifestar de diferentes maneiras, de forma mais ou

menos consistente, trabalhada segundo orientações metodológicas distintas

conforme as correntes pedagógicas que influenciam direta ou indiretamente, de

modo orgânico ou difuso, a organização escolar. (SAVIANI, 2000, s/p)

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Considerando estas reflexões, torna-se evidente que é imprescindível

compreender melhor os processos de transmissão e assimilação do

conhecimento, pois, de acordo com Saviani (1994, p. 24), “isto exige uma

concepção de método não como instrumento, mas como trajetória que supõe a

mediação entre o conhecimento elaborado (o objeto) e sua assimilação pelo

aluno (o sujeito)”.

Assim, o estudo da organização curricular possibilita a compreensão do

significado das diferentes práticas educativas numa perspectiva histórica.

Nesse sentido, por meio de um estudo realizado em sua dissertação de

mestrado, Nereide Saviani aborda a existência de tratamentos diferenciados

aos temas referentes ao saber escolar, discutindo sua origem, constituição e

organização no processo pedagógico. A autora faz, ainda, alguns

apontamentos

sobre o que tem

sido a elaboração

do currículo e a

constituição das

disciplinas

escolares, partindo

da análise de sua

história, e expõe

sobre o papel e

importância que

elas assumem, na

definição dos

rumos mais gerais

do ensino.

De acordo com Saviani (1994), múltiplos fatores relacionados aos fins

educativos se entrecruzam e se determinam mutuamente, aparecendo com

maior ou menor intensidade neste ou naquele período histórico, em um ou

outro contexto, contribuindo para conformar e definir o caráter do ensino e do

currículo a que ele corresponda. Tais fatores acabam por determinar o caráter

e a modalidade do currículo (único ou diversificado): as matérias que o

O QUE REVELA A HISTÓRIA DOS CURRÍCULOS:

A elaboração do currículo obedece ao estabelecimento

de prioridades de acordo com as finalidades da

educação escolar e o público a que se destina.

A elaboração do currículo consiste numa seleção de

elementos da cultura, passíveis e desejáveis de serem

ensinados/aprendidos na educação escolar.

Enquanto construção social, o currículo resulta de

processos conflituosos e de decisões negociadas.

Há uma tendência, na elaboração dos currículos, a se

seguirem normas, critérios, modelos mundiais,

principalmente quando se trata de currículos em

âmbito nacional destinados às massas.

(SAVIANI, 1994)

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compõem, sua distribuição, carga horária e ordenação; o conteúdo do ensino; a

destinação de recursos financeiros e materiais; as formas e os critérios de

avaliação do rendimento escolar; as normas disciplinares gerais e os modos de

acompanhamento e controle do funcionamento das unidades escolares; bem

como, o lugar e o papel dos saberes elementares. Desta forma, entende-se o

currículo sendo utilizado como controle do processo pedagógico.

No Brasil, a influência das agências internacionais se dá, principalmente,

por meio de acordos firmados com o Banco Mundial, pois, para desenvolver

alguns projetos sociais, ambientais, de infraestrutura, transporte e agricultura, o

governo federal e os estaduais, em diferentes momentos históricos, recorreram

ao Banco Mundial e solicitaram empréstimos, assinaram termos de

compromisso e comprometeram-se com as regras exigidas pelo Banco (SILVA,

2003).

Para estes organismos internacionais, a educação é um dos fatores que

determinam a condição e o papel do país no contexto da economia mundial.

Assim, agências como a Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência e Cultura (UNESCO), a Comissão Econômica para a América Latina e

Caribe (CEPAL), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e,

principalmente, o Banco Mundial, têm exercido uma influência significativa nos

rumos da educação. De maneira considerável, a partir da década de 1990,

inspirados no modelo neoliberal, estas instituições multilaterais vêm impondo

ao Brasil algumas prioridades, como mudança na legislação, nas formas de

investimentos/financiamentos e em programas, que buscam atender as

exigências da reestruturação produtiva do país. Desse modo, “essas

modificações foram assentadas em uma nova concepção do papel da escola,

da qual decorre a escolha dos conteúdos curriculares e dos métodos de ensino

e aprendizagem.” (VIEIRA, SFORNI, s/d.)

Em se tratando dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, por

exemplo, estes têm como base os pressupostos contidos no relatório da

Comissão Internacional da UNESCO – Relatório Jacques Delors, elaborado

como síntese dos resultados dos trabalhos da Comissão Internacional sobre

Educação para o século XXI, cuja concepção de educação prioriza o

desenvolvimento de atitudes, competências e habilidades, buscando atender

uma sociedade em constante mudança. Nessa perspectiva, foram incorporadas

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como diretrizes gerais e orientadoras da proposta curricular as quatro

premissas apontadas pela UNESCO como eixos estruturais da educação:

aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver, aprender a ser

(BRASIL, 1999). Os PCNs foram distribuídos em todo o território nacional com

o objetivo de subsidiar e orientar a revisão curricular, a formação inicial e

continuada dos professores, a produção de livros didáticos, a elaboração dos

projetos educativos e da avaliação, pertinentes ao sistema público de

educação. (VIEIRA, SFORNI s/d).

No que se refere às disciplinas escolares, Nereide Saviani aponta que

os interesses dos

grupos dominantes

na sociedade, a

forma como veem o

papel e a

importância da

educação e as

finalidades impostas

pelos diferentes

tipos de ensino e

por necessidades

sócioculturais

diversas, interferem

diretamente no seu

desenvolvimento.

Também, nas considerações da autora, as principais mudanças advêm,

principalmente, da transformação social e cultural dos públicos escolares,

ponderando, ainda, que as disciplinas escolares, por sua vez, adquirem uma

existência autônoma no interior da escola, pois, ao passo que transformam os

conteúdos culturais em saber escolar, tornam-se capaz de interferir também na

cultura da sociedade.

É neste sentido que “o currículo, incluindo as disciplinas, constituem uma

conversão da cultura da sociedade global, uma espécie de ‘reinvenção da

cultura’, que resulta num tipo peculiar de saber, o saber escolar” (SAVIANI,

1994, p. 60). Isto torna possível afirmar que é falsa a ideia de que a escola

O QUE REVELA A HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS

A insaturação, a evolução e as mudanças das (e nas)

disciplinas escolares (inclusive seu surgimento e

desaparecimento) devem-se a fatores internos ( dizem

respeito às próprias condições de trabalho na área) e

externos ( diretamente relacionados à política

educacional e ao contexto econômico, social e político

que as determinam).

Existe reciprocidade de influências entre as disciplinas

escolares e a cultura da sociedade.

As disciplinares escolares constituem um conjunto

peculiar de conhecimentos, dispostos especificamente

para fins de ensino.

(SAVIANI, 1994)

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transpõe, didaticamente, para a sala de aula, os saberes tais como foram

produzidos em outros locais.

Em seus apontamentos, Nereide Saviani torna claro que não há

“currículos ideais”, totalmente adequados a uma única teoria, pois sua

elaboração decorre de soluções negociadas e sua aplicação é permeada por

conflitos entre as interpretações que se fazem e o grau de aceitação/rejeição

das propostas, bem como, do “choque” com o que já está instituído.

Já o autor Dermeval Saviani salienta que um caminho prático e objetivo

para verificar a montagem e o modo de operar dos currículos escolares, tal

como ele se dá efetivamente no interior das escolas, é partindo-se da análise

dos livros didáticos utilizados pelos docentes.

didáticos.

Dispondo os conhecimentos numa forma que visa viabilizar o processo de

transmissão-assimilação que caracteriza a relação professor-aluno em sala de

aula, mal ou bem os livros didáticos fazem a articulação entre a forma e o

conteúdo. A questão pedagógica por excelência, que diz respeito à seleção,

organização, distribuição, dosagem e sequenciação dos elementos relevantes

para a formação dos educandos é, assim, realizada pelo livro didático no que se

refere à pedagogia escolar; o livro se transforma, ainda que de modo

“empírico”, isto é, sem consciência geralmente de maneira acrítica, dá forma

prática à teoria pedagógica nas suas diferentes versões. O que foi dito pode ser

verificado ao se constatar que, na medida em que se alteram as influências

teórico-pedagógicas, os livros didáticos mudam de cara. Quando predominava

a pedagogia tradicional, os livros didáticos eram sisudos, centravam-se nos

conteúdos e se dirigiam ao intelecto dos alunos, solicitando sua capacidade de

memorização. Quando passou a predominar a influência escolanovista, os

livros didáticos se tornaram coloridos, ilustrados, com sugestões de atividades,

buscando estimular a iniciativa dos alunos. E quando se difundiu a pedagogia

tecnicista começaram a surgir livros didáticos descartáveis, com testes de

escolha múltipla ou na forma de instrução programada.

(SAVIANI, 2009. p. 151)

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É preciso salientar que, no

Brasil, a produção de livros

didáticos é um negócio bastante

rentável, sendo possível “indicar

os grupos editoriais privados como

o setor mais organizado, com

canais estabelecidos, para fazer

valer suas posições e seus

interesses” (HOFLING, 2000, p.

167).

Outra questão a ser atrelada à discussão sobre a função do livro didático

é a de que, a fragilidade da formação e as precárias condições de trabalho,

fazem com que o referido material suplante a mediação do professor entre o

conteúdo sociocultural e o aluno, legitimando-se como principal condutor do

trabalho pedagógico (TEIXEIRA, 2008)

Tal fato torna-se bastante evidente no cotidiano escolar, observando-se

que muitas propostas curriculares e planejamentos são elaborados tal qual o

livro didático. Isto porque a seleção e organização de conteúdos e de

encaminhamentos metodológicos adequados, exige pesquisa, estudo,

discussão e requer condições e um tempo que o professor não tem. Além

disso, os educadores que se dispõem a um ensino mais efetivo, acabam

assumindo as despesas dos materiais que são distribuídos aos alunos, pois é

fato, também, que são poucas as instituições escolares que conseguem dispor

recursos suficientes para custearem os materiais de uso dos discentes, com as

famílias dos alunos contribuindo pouco, neste sentido.

A questão do material didático costuma ser, até, motivo de conflitos

entre alunos e professores, uma vez que, no primeiro caso, os alunos não dão

a devida importância ao material escolar, seja pela falta de recursos para o

investimento em materiais de estudo, ou pela não valorização deste tipo de

material; ou pelo simples descaso em providenciá-lo, quando são solicitados

pelos professores. Já no segundo caso, como já foi discutido anteriormente,

torna-se inviável para o professor custear o material de que precisa para suas

aulas, levando-se em conta a quantidade de aulas e de alunos que o mesmo

assume em sua carga horária. Tal situação colabora, inclusive, para que o livro

O mercado é muito promissor no Brasil, só no ensino fundamental são 33 milhões de estudantes. O País é o 8o mercado editorial do mundo – 75 % dos livros produzidos aqui são didáticos e, só o PNLD/2001-02 chegou a alcançar 60% deste mercado. Em 2013 o FNDE distribuiu cerca de 132 milhões de manuais didáticos em escolas do nível fundamental e médio.

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didático seja mantido, como já foi dito, como o principal condutor do processo

de ensino e aprendizagem.

1. Palestra com a profª drª MARIA TEREZINHA BELLANDA GALUCH,

doutora em Educação: História, Política, Sociedade pela PUC/SP e

professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá.

Tema: “O ensino nos anos iniciais do ensino fundamental: reflexões sobre práticas pedagógicas propostas por livros didáticos”.

A professora trará uma importante contribuição expondo uma análise sobre a

perspectiva de formação defendida por documentos oficiais, que orientam a

Educação Básica, bem como as práticas pedagógicas que eles sugerem.

2. Os professores formarão grupos, por disciplina, e farão análise de um

conteúdo apresentado no livro didático, considerando as seguintes

questões:

a) Como os conteúdos são introduzidos?

b) Como os conceitos são desenvolvidos?

c) Que tipo de atividades predomina?

d) Há evidência de uma concepção de educação no encaminhamento

metodológico?

3. Propor aos professores que selecionem um conteúdo específico, de sua

disciplina, a ser trabalhado no bimestre, em uma turma de sua escolha e

PROPOSTA DE ATIVIDADES

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proceder da seguinte forma:

Apresentar o conteúdo que será trabalhado para a turma;

Estabelecer um diálogo com os alunos, buscando verificar o que eles

sabem sobre o assunto;

Propor questões sobre o conteúdo, para que fiquem registradas as

concepções dos alunos sobre o tema proposto;

Manter os registros sob a posse do professor;

Desenvolver o conteúdo, normalmente, de acordo com o planejamento

do professor.

Aplicar, novamente, as mesmas questões e recolher as respostas.

Esta atividade tem como objetivo analisar o processo de apropriação do

conhecimento escolar e será concluída na Unidade V, que trata mais

especificamente sobre a questão da mediação pedagógica.

Para saber mais: DELORS, Jacques (org.) Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC/UNESCO, 1998, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da educação. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC, 1999. CHARLOT, Bernard. A mistificação pedagógica: Realidades Sociais e Processos Ideológicos na Teoria da Educação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983. GALUCH, Maria T. B; SFORNI, Marta S. de F. Interfaces entre políticas educacionais, prática pedagógica e formação humana. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.6, n.1, p. 55-66 , jan.-jun. 2011. Disponível em <http://www.periodicos.uepg.br>

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HOFLING. Eloísa de M. Notas para discussão quanto à implementação de programas de governo: Em foco o Programa Nacional do Livro Didático. Educação & Sociedade, ano XXI, nº 70, Abril, 2000. SAVIANI, Nereide. Saber escolar, currículo e didática: problemas da unidade conteúdo/método no processo pedagógico. Campinas, SP: Autores Associados, 1994. SAVIANI, Dermeval. Entrevista. Produção Online Campinas, 23 de abril 2000. Disponível em <http://www.fae.unicamp.br/dermeval/bauru.html>. Acesso em 10/10/13. ______, Dermeval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 40 jan./abr. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf>. Acesso em 15/08/13. SILVA, Maria A. da S. Do projeto político do Banco Mundial ao projeto político-pedagógico da escola pública brasileira.Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 283-301, dezembro 2003.Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 15/09/13.

TEIXEIRA, Cristina M. d`Á. Decifra-me ou te devoro: O que pode o professor frente ao manual escolar. In: 28ª Reunião da ANPEd. Disponível em <http://www.anped.org.br/reunioes/28/gt04.htm.> Acesso em 26/09/13. VIEIRA, Vaniza A. M. A; SFORNI, Marta S. de F. O papel da educação escolar no Relatório Jacques Delors e no Parâmetros Curriculares Nacionais. Cianorte: UEM, 2008. Disponível em <http://www.nre.seed.pr.gov.br/cianorte/arquivos/File/PEDAGOGAS/CURRICULO/Educacao_Escolar_Marta_Sforni.pdf>. Acesso em 20/10/13.

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O Jovem e a escola

Os grandes avanços tecnológicos e científicos alcançados nas últimas

décadas do século XX e cada vez mais acelerados no século XXI, contribuíram

para profundas transformações econômicas e sociais. A Era da Globalização

imprimiu novas formas de produção propiciada pela informatização e

automação, tornando ainda maior a necessidade de aquisição dos

conhecimentos científicos, o que trouxe uma exigência também maior no que

se refere à educação das novas gerações.

Desse modo, a escola assume um papel de fundamental importância

para os jovens que, no atual contexto, enfrentam complexos desafios e amplas

contradições para sua inserção social. Entretanto, se por um lado os jovens

atribuem grande valor à escolaridade, como condição fundamental para o

exercício da cidadania, por outro, os altos índices de evasão e repetência

existentes no Ensino Médio, demonstram um vácuo entre a escola e o

significado que os jovens atribuem a ela. Tais dados foram apontados pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep),

cujos índices, em 2011, ficaram em torno de 13,1%de repetência e de 9,5% para o

abandono escolar.

Diante desta problemática, Dayrell (2009) aponta que é de suma

importância desvendar o sentido atribuído pelos jovens à educação, para que a

escola e, mais diretamente, os educadores possam responder às demandas

concretas da juventude. Segundo o autor:

Fica evidente, assim, a necessidade de a escola e seus professores refletirem

sobre o sentido da escola para os seus alunos, bem como sobre a relação

que estes estabelecem com os projetos de futuro. É preciso, portanto,

compreender as expectativas dos jovens estudantes a respeito de sua

formação escolar e a avaliação que eles fazem dessa. (DAYRELL, 2009, p.7)

UNIDADE IV

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Diante de tal afirmação, é compreensível que nesta nova sociedade,

decorrente da revolução tecnológica, em que as informações são veiculadas de

maneira extremamente rápida, a escola necessite ressignificar suas práticas

pedagógicas e buscar novos sentidos na sua relação com os alunos,

garantindo que todos se desenvolvam. Especialmente, no Ensino Médio, é

preciso garantir a superação de uma escola que, ao invés de se colocar como

elemento fundamental no desenvolvimento do jovem como cidadão, tem

contribuído para a sua exclusão.

Corti (2009) afirma que se a inclusão do Ensino Médio no âmbito da

educação básica, determinado pela Lei de Diretrizes e Bases(LDB) nº 9394/96,

reconfigurou a educação secundária, tradicionalmente, reservada às elites

intelectuais e econômicas, como um patamar básico de escolaridade para

todos os brasileiros, as mudanças não se deram no currículo, apenas no perfil

dos jovens que passaram a chegar aos bancos escolares.

Considerando o exposto, é possível verificar que a inclusão de novos

grupos, antes marginalizados, tem tencionado o ambiente escolar, as velhas

práticas e os rituais cotidianos, produzindo novos conflitos, o que requer da

escola a busca de novas alternativas para atender a esse público

extremamente diverso, bem diferente das gerações anteriores (KRONBAUER,

SIMIONATO, 2008). Muitos educadores reagem negativamente diante da

realidade que esses alunos trazem para a sala de aula, seja na forma de sua

expressão verbal, e/ou pelo contexto cultural ou social em que estão inseridos.

A expansão e a democratização do acesso trouxe para a escola a diversidade

cultural das juventudes, e também as desigualdades sociais e econômicas

que marcam sua condição. Muitos jovens passaram a ser os primeiros em

suas famílias a terem acesso ao Ensino Médio – jovens mais escolarizados

que seus pais, mães e familiares – divididos entre a promessa positiva de

ascensão social anunciada pela escola, e o confronto dramático com uma

situação de desemprego estrutural sem precedentes.

(CORTI 2009, p. 13):

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Há, inclusive, um certo saudosismo do tempo em que havia na escola “bons

alunos”.

O que se pode constatar é que “se a escola se abriu para receber um

novo público, ela ainda não se redefiniu internamente, não se reestruturou a

ponto de criar pontos de diálogo com os sujeitos e sua realidade” (Dayrell,

2007, p. 1117). Mesmo que, teoricamente, a escola ofereça oportunidades de

participação e diálogo, através do Projeto Político Pedagógico, na prática essa

participação se dá de modo bastante superficial e não chega a interferir de fato

no processo educativo.

Segundo Abad (2004), a escola, ao não ter a capacidade de construir

relações condizentes com as características, interesses, expectativas,

linguagens dos seus jovens alunos, termina por criar rupturas, às vezes

irreversíveis, entre o mundo escolar e o mundo juvenil do educando. A

consequência disto pode ser o afastamento, não apenas simbólico, mas, real

desses jovens da escola. Tal situação pode ser comprovada pela análise dos

índices de evasão, repetência, e pela observação dos tão conhecidos

problemas enfrentados pelos professores, tais como a indisciplina, o

desinteresse e até mesmo a violência. Ainda mais que, atualmente, em

decorrência da modernização industrial e da economia em desenvolvimento,

não existe mais a ilusão da mobilidade e da ascensão social, que deveria ser

trazida pela expansão da educação média, como fora para seus pais, tornando

a escola menos atraente e sem sentido para os jovens.

Como sugere Kuenzer (2005, p. 76), “não se trata de discutir

procedimentos didáticos ou o uso de materiais, mas a própria relação que o

jovem estabelecerá com o conhecimento em situações planejadas pelo

professor ou em situações informais”. Acima de tudo, o aluno necessita

compreender o significado dos conteúdos/conhecimentos adquiridos na escola,

como fruto da necessidade do homem em produzir sua própria existência, ou

seja, enquanto produção humana, construídos como respostas para as

necessidades do cotidiano.

Por outro lado, de acordo com Charlot (2000) o investimento dos alunos

e o seu envolvimento com as disciplinas são diferenciados, dependendo da

forma como cada um elabora o seu estatuto como aluno. Este investimento,

também está relacionado com a capacidade de atribuir sentido ao que é

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ensinado, condição essencial para a aprendizagem. E como o aluno pode

atribuir sentido?

Segundo Vigotski (1987) significado é aquilo que é partilhado

socialmente, de forma consistente, permitindo o entendimento entre diferentes

usuários da linguagem. Já o sentido é dado pelo sujeito, inclui experiência

pessoal e envolve grande carga afetiva e subjetiva.

Os apontamentos de Charlot(1996) consideram, igualmente, que é

imprescindível aos educadores compreenderem qual o significado que os

alunos atribuem ao fato de ir à escola e qual sua relação com o saber e com a

instituição escolar. Para tanto, é preciso ter claro os processos de mobilização

em relação à escola; processos estes que articulam histórias singulares,

relações sociais e situações escolares como mobilizadoras. Isto porque o

sujeito é um ser social por pertencer a um grupo social, porém, produz sentidos

e significados sobre si e o mundo, construindo sua singularidade.

Na visão do autor, a mobilização se dá na escola e, também, em relação

à escola. No primeiro caso, está relacionada ao investimento no estudo, à

história escolar singular que o aluno constrói, envolvendo sua disposição em

estudar e à forma de se relacionar no ambiente escolar. Já no que tange à

mobilização em relação à escola, trata-se do investimento no próprio fato

escolar, implicando que se atribua um sentido ao fato de ir à escola e aprender

coisas. Se um aluno não vê sentido na escola, ele não irá estudar,

independente das ações do professor.

Em suas pesquisas, Charlot (1996) identifica no contexto escolar,

diferentes modos de como os alunos se relacionam com os estudos: há alunos

com hábitos de estudo, estudam naturalmente (minoria nas escolas públicas);

há aqueles para os quais o estudo é uma conquista cotidiana (estudam para

tirar nota e passar de ano); há ainda os que não se identificam com a escola,

estão presentes no ambiente escolar, mas não sentem que fazem parte dele; e,

finalmente, há os alunos que veem a escola como um caminho para se ter

uma profissão e um futuro melhor.

Dando continuidade à reflexão, sobre as relações que o aluno

estabelece com os estudos, Charlot assinala que o sentido da escola também

se constrói nela mesma, ou seja, na própria escola, através das atividades que

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são desenvolvidas. Deste modo, a mobilização na escola e a mobilização em

relação à escola, são processos que funcionam articuladamente.

Conforme estudos de Charlot (1996), é possível identificar processos

diferenciados na relação do aluno com a escola, sendo que a mobilização em

relação ao estudo, para grande maioria dos alunos (fato que é evidente no

contexto de nossas escolas) está ligada, diretamente, em garantir um futuro

melhor, ter uma profissão, tornando-se necessário atingir um nível maior de

escolarização. No entanto, para grande parte dos estudantes, tal objetivo está

ligado à simples frequência à escola e a obediência às regras da instituição e

não diretamente a aquisição do conhecimento.

Os processos epistêmicos que os alunos desenvolvem também são

diferenciados, ou seja, aprender não tem o mesmo significado para todos os

alunos. Para aqueles estudantes, cujo sentido da escola é somente a

frequência e a obediência às regras, aprender é se tornar capaz de se adaptar

às situações, de estar em conformidade com o que tais situações exigem, de

operacionalizá-las de modo pertinente, de “se sair o melhor possível de

qualquer situação”. A relação desses sujeitos com o saber (que é na verdade,

uma relação com os aprendizados) é o que eles constroem na vida cotidiana e

levam para a escola, sem ruptura epistemológica.

Charlot (1996) esclarece que no espaço cotidiano, aprender é construir

a possibilidade de agir, e relação com saber é a vinculação com ações

possíveis neste espaço. É com referência a estas ações cotidianas que o fato

de aprender faz sentido, pois o Eu permanece imbricado na situação. Assim,

para os alunos que estabelecem a relação direta entre o saber e a vida

cotidiana, a escola torna-se, então, um lugar onde sucedem disciplinas, cujos

Esses jovens que ligam escola e profissão sem referência ao saber têm uma

relação mágica com a escola e a profissão. Além disso, sua relação cotidiana

com a escola é particularmente frágil na medida em que aquilo que se tenta

ensinar-lhes na escola não faz sentido em si mesmo, mas somente para um

futuro distante. (CHARLOT, 1996, p. 56)

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conteúdos não fazem muito sentido, isto é, ficam distanciados da realidade

social do aluno.

A respeito disto, Spósito (2004, p. 18), traz a seguinte explicação: “tem

sido reiterada a crítica dos alunos a um currículo distante da sua realidade,

colocando aos professores a necessidade de estabelecerem a relação dos

conteúdos escolares com a vida cotidiana”. Tais alunos referem-se, portanto, à

necessidade de um saber prático, em que o sentido fundamental atribuído por

estes jovens à escola e à aprendizagem advém de uma relação utilitária, ao

lado da não identificação da sua especificidade e das atividades cognitivas

requeridas para obter o conhecimento necessário à vida profissional.

Na lógica desses estudantes, o bom aluno é aquele que respeita as

regras e presta atenção no professor. Para eles “é o professor que cria o saber

na cabeça dos alunos, é o professor que tem a atividade no processo ensino-

aprendizagem, não o aluno” (CHARLOT, 2002, p. 28). Assim, quando eles não

aprendem, atribuem a culpa ao professor que não explicou bem, não se

importando em estudar mais para melhorar seu desempenho e, diante de

dificuldades, se recusam a começar um trabalho, não aceitam fazer tentativas.

Já para os alunos centrados no aprendizado escolar, o fato de aprender,

adquirir conhecimentos, é que se constitui como via de acesso a uma

profissão. Os conteúdos das disciplinas são entendidos como corpos de saber

e não apenas como “coisas” que devem ser aprendidas para passar de ano. “ A

relação com a escola é então uma relação com o saber, pois o saber apresenta

um sentido em si mesmo, ele pode ser importante sem ser útil [...], e pode

mesmo ser importante e inútil”(CHARLOT, 1996, p. 56). Estes alunos, ao

contrário dos outros, não esperam o momento de terminar a escola para viver,

eles vivem já na escola e pensam sua escolaridade em termos de “base” e de

progressão no saber.

Eles exprimem aprendizados em termos de conteúdos de pensamento

descontextualizados, de objetos pensáveis em si mesmos, sem referência

direta a um Eu em situação. Para eles, aprender é saber alguma coisa,

construir um saber enunciável ou se apropriar dele. Eles mantêm uma boa

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Pode-se dizer que, embora, trata-se de alunos das camadas populares,

o perfil destes estudantes é muito mais próximo daquele aluno que sempre

esteve presente na escola e que se aproxima do perfil daqueles que estudam

na escola particular, em que o fracasso escolar, embora exista, não aparece de

forma tão acentuada, como na escola pública. Portanto, é fundamental a escola

compreender o seu papel na relação que o aluno estabelece com o saber.

relação com o Saber e não simplesmente com os aprendizados. Essa

relação com o saber é relação com um conteúdo, com o objeto de saber,

sem nenhuma presença, nem em potencial, do sujeito que constituiu esse

saber. O Eu não está implicado e imbricado na situação, ele é espectador e

possuidor de um objeto de saber: por sua vez, o não envolvimento do Eu,

em face da situação, torna possível num mesmo movimento, uma

objetivação do saber e uma objetivação do sujeito em face do saber.

(CHARLOT, 1996, p. 59)

Apoiando-se na relação com o saber dos alunos das famílias populares,

na intenção de ajudá-los a obter sucesso, aprisiona-os nesta relação. Com

sua experiência, os professores percebem o problema epistêmico, mas

por falta de uma teorização adequada, pensam-no em termos de

“abstrato” e “concreto” – quer dizer, numa problemática ao mesmo

tempo sem pertinência filosófica e sem eficácia pedagógica. Eles

procuram ensinar o “concreto” e o “útil”. [...] A pedagogia do útil, e as

vezes do projeto, sem dúvida mais eficaz que a pedagogia magistral com

jovens que esperam que o saber lhes “sirva” para alguma coisa [...] não

permite compreender qual o sentido do saber e a especificidade da escola

[...].

(CHARLOT, 1996, p. 61).

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Segundo o autor, para que o aluno se aproprie do saber e construa

competências cognitivas, é preciso estudar, engajar-se numa atividade

intelectual, mobilizando-se intelectualmente. Para que essa mobilização

aconteça, é necessário que a situação de aprendizagem tenha sentido,

podendo responder a um desejo e produzir prazer, e que a mobilização induza

a uma atividade intelectual eficaz.

Desta forma, como sugere Charlot (2000), a escola não deve ensinar

informações, mas saberes, de maneira que os alunos compreendam melhor o

sentido do mundo, da vida humana, das relações com os outros e das relações

consigo mesmo.

As atividades selecionadas para esta unidade serão realizadas em

pequenos grupos. Cada grupo deverá expor suas conclusões e um relator

escolhido pelos participantes fará uma síntese geral da discussão.

1. Apresentar a reportagem da Revista Escola “O que pensam os jovens do Ensino Médio” disponível em

http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/pensam-jovens-ensino-

medio-pesquisa-estudo-alunos-750343.shtml?page=1

Após a leitura da reportagem, debater sobre as seguintes questões:

a) O que os jovens do Ensino Médio esperam da escola?

b) O que a escola espera dos jovens?

c) Qual a relação que os alunos mantêm com o conhecimento? Como

eles se posicionam no processo de aprendizagem?

PROPOSTA DE ATIVIDADES

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2. Mostrar a pesquisa pessoal da professora PDE, referente ao trabalho

de monografia “O aluno do Ensino Médio: o perfil do jovem estudante”, apresentada como requisito parcial à obtenção do título

de Especialista na Pós Graduação em Educação: Métodos e Técnicas

de Ensino, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR.

A pesquisa citada apresenta dados referentes ao perfil socioeconômico

dos educandos do Colégio Estadual São Vicente de Paula - EFMN e a

relação destes sujeitos com a aprendizagem e com a escola. Para refletir:

a) A compreensão que os alunos têm sobre a escola é semelhante à

visão apresentada pelos docentes, na questão “O que os jovens do

Ensino Médio esperam da escola”, discutida anteriormente? b) Algum dado referente ao perfil dos alunos ou de sua relação com a

escola era desconhecido pelos docentes? Aponte quais. c) Que concepção de educação fundamenta a percepção dos jovens

sobre a escola, o professor e o processo de ensino e

aprendizagem?

Para saber mais: ABRAMO, Helena W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, ANPED, nº 5/6, 1997.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ABAD, Miguel. Crítica das políticas de juventude. In: A invisibilidade da juventude na vida escolar. Luiza MitikoYshiguro Camacho (org). Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. 02, p. 325-343, jul./dez. 2004. Disponível em <http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectivas.htm> acesso em 14/11/12

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BERNARDO, André. O que pensam os jovens do Ensino Médio. Revista Escola. Edição 263, Junho/Julho 2013. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/pensam-jovens-ensino-medio-pesquisa-estudo-alunos-750343.shtml?page=1. Acesso em 08/10/13. CHARLOT, Bernard. Relação com o Saber e com a Escola entre Estudantes de Periferia.Trad. Neide Luzia de Rezende. In: Cadernos de Pesquisas. Fundação Carlos Chagas, n. 97,p.47-63, maio 1996. ______. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. ______. Relação com a escola e o saber nos bairros populares. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. Especial, p. 17-34, jul./dez. 2002. CORTI, Ana P. Juventude e diversidade no Ensino Médio. In: Juventude e escolarização: os sentidos do Ensino Médio. Salto para o Futuro. Ministério da Educação. Ano XIX, boletim 18, p. 12-15, 2009. DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educ. Soc.,Campinas, vol. 28, n. 100 – Especial, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf> Acesso em 05/10/13 ______, Juarez. O aluno do Ensino Médio: o jovem desconhecido. In: Juventude e escolarização: os sentidos do Ensino Médio. Salto para o Futuro. Ministério da Educação. Ano XIX, boletim 18, p. 16-23, 2009. FERNANDES, Reynaldo. Índice de desenvolvimento da educação básica. Série Documental. Brasília: INEP, 2007. KUENZER, Acácia (Org.). Ensino Médio: Uma proposta para os que vivem do trabalho. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2005.

KRONBAUER, Selenir C. G; SIMIONATO, Margareth F. Formação de professores: Abordagens contemporâneas. São Paulo: Paulinas, 2008. SPÓSITO, Marília P. (Des)encontros entre jovens e a escola. In: FRIGOTTO, Gaudêncio. CIAVATTA, Maria (Org.). Ensino Médio: ciência, cultura e trabalho. MEC. Brasília: 2004 VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

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Uma concepção para o Ensino Médio

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 (art 35),

situa o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica e define entre suas

finalidades a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos

no ensino fundamental, que possibilitem o prosseguimento dos estudos, a

preparação básica para o trabalho e a cidadania, o aprimoramento do

educando como pessoa humana e a compreensão dos fundamentos científico-

tecnológicos dos processos produtivos.

Observa-se, então, que a LDB confere um caráter legal à condição do

Ensino Médio como parte da Educação Básica, portanto como etapa final de

uma educação de caráter geral e abre caminho para a construção da sua

identidade. É válido lembrar que, historicamente, esse nível de ensino esteve

predominantemente centrado no mercado de trabalho, oscilando entre a oferta

de uma formação geral de caráter propedêutico para posterior ingresso no

ensino superior e a oferta do ensino profissionalizante, para atender a

demanda do mercado.

É certo que nas últimas décadas houve uma expansão significativa nas

matrículas do Ensino Médio, trazendo para a escola um grande contingente da

população, que antes não tinha acesso à educação secundária. Contudo, a

enorme ampliação do acesso não foi acompanhada de políticas e ações

governamentais que pudessem sustentá-la com a qualidade necessária,

acirrando ainda mais a crise estrutural do Ensino Médio (CORTI, 2009).

As mudanças que ocorreram se deram muito mais no interior da escola

que passou a receber um novo perfil de aluno, do que propriamente na

estrutura do sistema.

[...] o ‘novo’ não veio do currículo, mas do perfil dos jovens que passaram a

frequentar os bancos escolares – a expansão e a democratização do acesso

trouxe para a escola a diversidade cultural das juventudes, e também as

desigualdades que marcam sua condição. (CORTI, 2009, p. 13)

UNIDADE V

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Neste contexto, os jovens que passaram a frequentar o Ensino Médio,

principalmente nas instituições públicas, trouxeram para a escola novas

necessidades e outras perspectivas além do ingresso na universidade, ainda

pouco acessível à maioria dos jovens - os números da Pesquisa Nacional por

Domicílio (Pnad) 2012 revelam que somente 11% da população adulta no

Brasil possui ensino superior. Por outro lado, a escolaridade passa a ser uma

exigência da expansão urbana e industrial ocorrida de forma acentuada

durante o século XX.

Saviani (1994) destaca que na era da segunda Revolução Industrial ou

“era das máquinas inteligentes” em que funções específicas tendem a

desaparecer, há a necessidade cada vez maior de uma formação geral sólida,

da capacidade de manejar conceitos, do desenvolvimento do pensamento

abstrato. Este novo contexto torna imprescindível à escola repensar o seu

papel na formação das novas gerações.

Por sua vez, muitos desses jovens, que não encontram sentido em

estudar, enfrentam situações precárias de vida, por isso, mais do que um

projeto de futuro, eles tem necessidades imediatas, como, por exemplo, o

consumo e o lazer. De acordo com Krawczyk (2004, p.114):

A escola está ligada a este processo, como agência educativa ligada às

necessidades do progresso, à necessidade de hábitos civilizados, que

correspondem a vida na cidade. E a isto também está ligado o papel político da

educação escolar enquanto formação para a cidadania, formação do cidadão.

Significa formar para a vida na cidade, para ser sujeito de direitos e deveres na

vida da sociedade moderna, na vida da cidade e da indústria. O que tivemos

com este processo? Que a educação escolar emerge como forma dominante na

sociedade atual. Isto a tal ponto que a educação escolar passa a ser entendida

como a educação propriamente dita. (SAVIANI, 1994, p. 157)

O aumento da escola média está acontecendo sobre uma estrutura sistêmica

pouco desenvolvida, com uma cultura escolar incipiente para o atendimento

dos adolescentes das camadas populares, uma vez que, historicamente, a

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Diante deste contexto, o ensino propedêutico, com conteúdos para o

vestibular, não atende as expectativas desses novos estudantes e, tampouco,

é capaz de promover uma

aprendizagem que tenha sentido

para eles. Tal situação acaba

gerando resistências e muitos

conflitos no interior da escola,

criando um enorme abismo entre

as finalidades propostas na LDB

e os resultados alcançados.

Por outro lado, as grandes

transformações nos sistemas

produtivos e a globalização da

economia exigem trabalhadores

cada vez mais qualificados e o

diploma de Ensino Médio sofre

um processo de desvalorização, pois, mesmo consistindo em requisito

necessário para a entrada no mercado de trabalho, ele certamente deixa de ser

suficiente para garantir um emprego. (CORTI, 2009)

Do mesmo modo, é importante destacar que a reforma do Ensino Médio,

implementada pelo Ministério da Educação, na década de 1990, pautada em

uma educação com o intuito de promover o desenvolvimento de competências,

buscou a adaptação da educação às demandas do setor produtivo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio – PCNEM

tornam evidente esta função da educação na sociedade tecnológica,

informação que pode ser comprovada pela leitura do documento:

escola secundária, dirigida apenas para responder às necessidades de

setores médios da elite, teve como referência mais importante somente os

requerimentos do exame de ingresso à educação superior

Lima (2004, p. 102), analisando um estudo

da Fundação Osvaldo Cruz com alunos de

escolas públicas localizadas em áreas

carentes coloca que, em geral, esses

estudantes apresentam muitas objeções ao

sistema escolar e aos professores,

sobretudo à precariedade das condições

materiais em que se encontra a escola.

Surgem também críticas ao ambiente

rotineiro e sem maior incentivo à

criatividade, que gera desinteresse pelas

atividades educacionais.

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Já para Frigotto (2009), a transformação do Ensino Médio em um pacote

de competências ditadas pelo mercado, em um contexto marcado pelo

desemprego e condições precárias de trabalho, torna os jovens cada vez mais

céticos em relação a escola. Isto porque, embora nos últimos anos, o Brasil

viva uma situação econômica mais favorável, com um aumento significativo na

taxa de emprego, em se tratando dos jovens, estes ainda são os mais atingidos

pelo desemprego ou pelo subemprego.

Assim, torna-se fundamental a construção de novas perspectivas para o

ensino médio, sendo primordial considerar a realidade acima exposta e definir

a identidade deste nível de ensino, de modo que possa garantir uma formação

que contemple as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas destes

educandos.

Os argumentos brandidos neste caso seriam, de um lado, a contribuição da

educação para o sistema econômico sustentado, na perspectiva da chamada

‘competitividade autêntica’, a qual, por suposto, promoveria maior

equidade social, de outro lado, argumenta-se que a educação promoveria a

mesma equidade pela via da promoção da ‘empregabilidade’ individual, em

particular daqueles que não tiveram acesso a escolaridade de alto nível,

nem possuem qualificações profissionais apuradas. (FERRETI, 2007, p. 4)

O novo paradigma emana da compreensão de que, cada vez mais, as

competências desejáveis ao pleno desenvolvimento humano aproximam-se

das necessidades à inserção no processo produtivo. Segundo Tedesco, aceitar

tal perspectiva otimista seria admitir que vivemos ‘uma circunstância histórica

inédita, na qual as capacidades para o desenvolvimento produtivo seriam

idênticas para o papel do cidadão e para o desenvolvimento social’. Ou seja,

admitindo tal correspondência entre as competências exigidas para o exercício

da cidadania e para as atividades produtivas, recoloca-se o papel da educação

como elemento do desenvolvimento social (BRASIL, 1999, p. 23)

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Para tanto, faz-se necessário superar a visão enciclopedista e

academicista do currículo, possibilitando aos jovens alunos a capacidade de

usar os conhecimentos científicos, tecnológicos, históricos e sociais, tanto para

sua inserção no mundo do trabalho, quanto para a vivência em situações do

cotidiano.

Atender essa nova demanda, ou seja, efetivar o que propõe o art. 22 da

LDB “o desenvolvimento do indivíduo, assegurando-lhe a formação comum

indispensável para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para

progredir no trabalho e

em estudos posteriores”,

envolve questões

complexas, tanto no

âmbito político, quanto

pedagógico e requer que

se tomem a realidade da

escola e do jovem como

referência, oportunizando,

de fato, as condições

necessárias para a sua

participação na vida

escolar, produtiva e

social, articulando,

portanto, trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emancipação humana.

É preciso que o ensino médio defina sua identidade como última etapa da

educação básica mediante um projeto que, conquanto seja unitário em seus

princípios e objetivos, desenvolva possibilidades formativas que

contemplem a múltiplas necessidades socioculturais e econômicas dos

sujeitos que o constituem – adolescentes, jovens e adultos-, reconhecendo-

os não como cidadãos e trabalhadores de um futuro indefinido, mas como

sujeitos de direitos no momento em que cursam o ensino médio. (RAMOS,

2004, p. 41)

Trabalho: primeiro fundamento da educação

como prática social, entendido como mediação de

primeira ordem no processo de produção da existência e

objetivação da vida humana, ou seja, o ponto de partida

para a produção de conhecimentos e cultura pelos

grupos sociais.

Ciência: deve apresentar conhecimentos que,

produzidos e legitimados socialmente ao longo da

história, fundamentam as técnicas.

Cultura: síntese da formação geral e da

formação específica por meio das diferentes formas de

criação existentes na sociedade, com seus símbolos,

representações e significados. (FRIGOTTO, CIAVATTA

2004)

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De acordo com Ramos (2004) o projeto unitário de ensino médio sob os

princípios do

trabalho, da ciência e

da cultura, requer, do

ponto de vista

organizacional, a

integração dos

conhecimentos

necessários à

formação plena do

educando, em um

mesmo currículo,

possibilitando

construções

intelectuais

elevadas, a

apropriação de

conceitos,

necessários para a

intervenção

consciente na

realidade, e a

compreensão do

processo histórico de

construção do

conhecimento.

É nessa perspectiva que as Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná

e, também, o Projeto Político Pedagógico da escola, fazem a opção pela

Pedagogia Histórico-crítica, desenvolvida por Dermeval Saviani sob os

pressupostos filosóficos do materialismo histórico-dialético, cuja concepção

compreende a história a partir do desenvolvimento da condições materiais da

existência humana, e analisa o mundo material apoiando-se na ciência da

natureza, da sociedade e do pensamento do mundo real.

Ferreira e Francioli (2011) em artigo publicado na Revista

Germinal: Marxsismo e Educação em debate, esclarecem

sobre as contribuições do Materialismo histórico- dialético

para a educação:

Materialismo histórico é a ciência filosófica que busca

compreender a sociedade humana estudando a evolução

desta sociedade e como os homens a utilizam.

A dialética é o estudo das mudanças que ocorrem na

natureza, no homem e na sociedade no decorrer da história.

Esta não vê o mundo como um objeto fixo, mas sim tem

uma visão de que tudo está em constante movimento e

transformação.

A dialética em uma concepção materialista não se limita

em analisar e compreender as transformações e mudanças,

mas sim busca compreendê-las a partir da realidade em

que aconteceram.

O materialismo dialético, de base materialista, procura,

por meio de um método dialético, compreender as

transformações sociais que ocorrem na sociedade, sendo

este inseparável do materialismo histórico. A partir do

momento que ocorre uma transformação ou mudança

também se transforma e muda a história por meio da ação

do homem sobre a natureza. Sendo assim, o materialismo

histórico e dialético é um método de análise do

desenvolvimento humano, levando em consideração que o

homem se desenvolve à medida que age e transforma a

natureza e neste processo também se modifica.

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Neste sentido, o objetivo que se busca atingir no Ensino Médio é uma

formação humanista consistente e, também, que possibilite uma compreensão

da lógica e dos princípios técnico-científicos, que afetam as relações sociais e

de trabalho. O papel da escola, então, não é formar para o mercado, nem dar

conta de todos os problemas sociais e econômicos, mas é o de possibilitar que,

por meio do conhecimento, os alunos possam ter compreensão da sua

condição como sujeito histórico. (PARANÁ, 2003). Portanto, para a Pedagogia

Histórico-crítica é a exigência da apropriação do conhecimento sistematizado

por parte das novas gerações que torna necessária a existência da escola.

Em relação ao ensino destinado às camadas populares, Saviani defende

a prioridade dos conteúdos. Como esclarece o autor:

Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Estaduais, buscando romper

com o esvaziamento dos conteúdos disciplinares, fruto dos modelos de

organização curricular que vigoraram na década de 1990, propõem a

organização do ensino, nas disciplinas, por meio de conteúdos estruturantes.

Ora, clássico na escola é a transmissão-assimilação do saber sistematizado.

Este é o fim a atingir. E aí que cabe encontrar a fonte natural para elaborar

os métodos e as formas de organização do conjunto das atividades da

escola, isto é, do currículo.

(SAVIANI, 1991, p. 25)

Os conteúdos são fundamentais e, sem conteúdos relevantes, conteúdos

significativos, a aprendizagem deixa de existir, ela se transforma num

arremedo, ela se transforma numa farsa [...] Justamente porque o domínio

da cultura constitui instrumento indispensável para a participação política

das massas. (SAVIANI, 1983, p.59)

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Essa forma de organização considera, ainda, o contexto social e a

importância do professor, como sujeito no processo pedagógico, entendido

como mediador entre a cultura elaborada e o aluno. E, busca abordar os

conteúdos das disciplinas, como recorte histórico, político e cultural do

conhecimento, em suas múltiplas determinações para que não se perca o

sentido de totalidade.

Entende-se por conteúdos estruturantes os conhecimentos de grande

amplitude, conceitos, teorias ou práticas, que identificam e organizam os

campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais

para a compreensão de seu objeto de estudo/ensino. Esses conteúdos são

selecionados a partir de uma análise histórica da ciência de referência

(quando for o caso) e da disciplina escolar, sendo trazidos para a escola para

serem socializados, apropriados pelos alunos, por meio das metodologias

críticas de ensino-aprendizagem. (PARANÁ, 2008, p.25)

As disciplinas da Educação Básica terão, em seus conteúdos estruturantes,

os campos de estudo que as identificam como conhecimento histórico. Dos

conteúdos estruturantes organizam-se os conteúdos básicos a serem

trabalhados por série, compostos tanto pelos assuntos mais estáveis e

permanentes da disciplina quanto pelos que se apresentam em função do

movimento histórico e das atuais relações sociais. Esses conteúdos,

articulados entre si e fundamentados nas respectivas orientações teórico-

metodológicas, farão parte da proposta pedagógica curricular das escolas.

A partir da proposta pedagógica curricular, o professor elaborará seu plano

de trabalho Docente, documento de autoria, vinculado à realidade e às

necessidades de suas diferentes turmas e escolas de atuação. No plano, se

explicitarão os conteúdos específicos a serem trabalhados nos bimestres,

trimestres ou semestres letivos, bem como as especificações metodológicas

que fundamentam a relação ensino/aprendizagem, além dos critérios e

instrumentos que objetivam a avaliação no cotidiano escolar. (PARANÁ,

2008, p. 26)

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Contudo, para que a escola pública atinja seus fins e, conforme indica

Saviani, possa transformar a igualdade formal (garantida pela lei) em igualdade

real e, realmente, cumpra o que propõe as Diretrizes Curriculares para a

Educação Básica, que é formar sujeitos que construam sentidos para o mundo,

que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e

que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e

transformadora na sociedade, é preciso pensar o trabalho educativo de forma

que realmente vá ao encontro das necessidades dos alunos. Isto requer,

segundo Saviani(1983), a superação, tanto dos métodos tradicionais de

caráter mecânico, repetitivo e desvinculado da realidade, quanto dos métodos

novos, responsáveis pelo esvaziamento dos conteúdos e rebaixamento do

ensino. Tal tarefa pressupõe dispor os conhecimentos científicos de forma

dinâmica, de modo que sejam compreendidos como produção histórica dos

homens e como elemento fundamental para a compreensão e transformação

da sociedade.

A respeito deste assunto Saviani (1983), atenta que não se trata de

ecletismo, ou seja, da soma dos métodos tradicionais e dos novos, já que estes

implicam uma autonomização da pedagogia em relação à sociedade. Os

Uma pedagogia articulada com os interesses populares valorizará, pois a

escola; não será indiferente ao que ocorre em seu interior, estará

empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em

métodos de ensino eficazes. Tais métodos se situarão para além dos

métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições

de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão a atividade e

iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor;

favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor mas sem deixar

de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em

conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o

desenvolvimento psicológico mas sem perder de vista a sistematização

lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do

processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. (SAVIANI,

1983, P. 73)

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métodos preconizados por ele mantém uma relação direta entre educação e

sociedade e é esta relação que torna os conteúdos escolares concretos. “Com

isso, entende-se a escola como o espaço do confronto e diálogo entre os

conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Estas

são as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade”.

(PARANÁ, 2008, p. 21).

Em uma análise do que vem ocorrendo nas escolas, constata-se que o

que ainda acaba predominando no sistema escolar é a concepção tradicional

de ensino, centrada na exposição dos conhecimentos pelo professor,

entendidos como verdades absolutas e desvinculados da realidade social. No

entanto, diante de resultados ineficientes, apresentados dentro deste contexto,

muitos professores vêm buscando novas alternativas, mas, sem ter clareza do

que fazer, pois a mudança necessária não se concretiza na concepção teórica-

metodológica do educador.

Vasconcellos (2002) argumenta que, geralmente, a mudança se dá de

forma superficial, levando a certas posturas, tais como a substituição da

exposição oral pela exposição através de vídeos ou computador; a disposição

dos alunos em círculos, ao invés de filas; cópias do quadro, em detrimento do

uso do livro didático; realização de aulas dinâmicas, mas vazias de conteúdo.

Ou seja, para inovar não basta variar as técnicas de ensino utilizadas, há que

se mudar o referencial teórico-metodológico que fundamenta a prática

pedagógica.

Na busca de mudanças efetivas, é necessária outra forma de abordar o

conhecimento. De acordo com Gasparin (2003, p. 14):

Essa nova postura implica trabalhar os conteúdos de forma contextualizada

em todas as áreas do conhecimento humano. Isso possibilita evidenciar aos

alunos que os conteúdos são sempre uma produção histórica de como os

homens conduzem sua vida nas relações sociais de trabalho em cada modo

de produção. Consequentemente, os conteúdos reúnem dimensões

conceituais, científicas, históricas, econômicas, ideológicas, políticas,

culturais, educacionais que devem ser explicitadas e apreendidas no

processo ensino-aprendizagem.

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Para o autor, é preciso possibilitar aos alunos, através do processo de

abstração (separar as partes do todo), a compreensão da essência dos

conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações

internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade

da prática social e histórica. Segundo ele, “este é o caminho por meio do qual

os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico-

científico, desvelando os elementos essenciais da prática imediata do conteúdo

e situando-o no contexto da totalidade social”. (GASPARIN, 2003, p. 7)

Sendo assim, é imprescindível uma metodologia que favoreça a relação

dialética entre sujeito-realidade-sujeito, oportunizando ao aluno estabelecer

ligação entre os conteúdos escolares e seu contexto de vida.

Portanto, mais que simplesmente apresentar o conteúdo e solicitar uma

série de exercícios, é preciso criar espaço para o confronto e o diálogo entre o

conhecimento sistematizado e a realidade social, possibilitando ao educando

elaborar conceitos e ideias próprias sobre o assunto.

Nesta perspectiva, Corazza (1991 apud Gasparim, 2003), explicita que a

teoria dialética entende o conhecimento como um movimento que parte da

síncrese(o empírico, o concreto percebido), passando pela análise(abstração,

separação dos elementos particulares de um todo, identificação dos elementos

essenciais, das causas e contradições fundamentais) e chegando à síntese (o

concreto pensado, um novo concreto mais elaborado, uma prática

transformadora).

O modo dialético de pensar abre mão das especulações oriundas desse, ao

fundamentar-se no fato de que o homem, enquanto um ser pensante,

produtor de significados, é um ser que, ao interagir com a realidade,

conhece-a e explica-a, constituindo-se como produtor e ao mesmo tempo,

produto desse mundo, necessitando ser compreendido, em todos os seus

aspectos e relações estabelecidas, por meio das mesmas idéias gerais que

explicam a realidade na sua totalidade. (OLIVEIRA; ALMEIDA; ARNONI,

2007, p. 47)

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No que se refere ao método dialético, Saviani (1986, p. 77) ressalta a

importância deste para o processo educativo.

Isso significa dizer que a prática pedagógica direcionada pelo método

dialético constitui-se como um processo que envolve prática, teoria, prática. De

acordo com Gasparin (2003), estas três fases desenvolvem-se da seguinte

forma:

1) O processo de conhecimento tem como ponto de partida a prática

social dos sujeitos da educação, que não se reduz somente ao cotidiano

particular dos alunos, mas também à prática social geral. A tomada de

consciência sobre essa prática deve conduzir à busca do conhecimento teórico,

que possibilite refletir sobre o fazer prático cotidiano.

2) A teorização sobre a prática social, que consiste na busca de um

suporte teórico que desvele, explicite, descreva e explique esta realidade.

Dessa forma, através do processo de abstração, deve-se buscar a

compreensão da essência dos conteúdos, a fim de que sejam estabelecidas as

ligações internas específicas destes com a totalidade da prática social e

histórica. Isto possibilita aos educandos passar do conhecimento

empírico(senso comum) aos conceitos científicos e juízos universais, que

permitem a compreensão dessa realidade em todas as suas dimensões.

3) É o retorno à prática para transformá-la, pois ao passar pelo processo

de abstração o educando modifica sua maneira de entende-la e agir sobre ela.

O conhecimento teórico retorna à prática social de onde partiu, visando agir

sobre ela com entendimento mais crítico, elaborado e consistente, intervindo

em sua transformação, em um processo de ação-reflexão-ação.

Na concepção dialética da ciência, o movimento que vai da síncrese (“visão

caótica do todo”) à síntese (“uma rica totalidade de determinações e de

relações numerosas”) pela mediação da análise (“as abstrações mais

simples) constitui uma orientação segura tanto para o processo de

descoberta dos novos conhecimentos (métodos científicos) como para o

processo de transmissão-assimilação de conhecimentos ( o método de

ensino).

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Trata-se, portanto, de uma concepção metodológica que propõe um

equilíbrio entre teoria e prática e os processos indutivo e dedutivo na

construção do conhecimento escolar. Ou como sugere Klein:

Segundo as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008), talvez um começo

para que as mudanças se iniciem, seria apresentar os saberes escolares de

um ponto de vista questionador, contextualizado, interdisciplinar, quebrando a

rigidez que a legitimidade social e o estatuto de verdade dão a eles. Passa,

portanto, pela transformação dos conteúdos formais, fixos e abstratos, em

conteúdos reais, dinâmicos e concretos.

Para tornar os conteúdos concretos, é preciso considerar, ainda, o aluno

como um sujeito social, mas, também singular, ou seja, é preciso ponderar o

modo singular como cada sujeito, em cada sala de aula, lida e se envolve com

Abordar um conteúdo em uma perspectiva de totalidade significa

desenvolve-lo a partir de seus fundamentos, explicitando as relações e

mecanismos que articulam seus elementos particulares. Não se trata,

pois, de “ir da parte ao todo”, nem tampouco de “ir do todo à parte”, mas

de explicitar, no todo, como é que as partes se articulam de modo a

constituir aquela totalidade e não outra. ( s/d)

Nessa perspectiva, a penetração no conceito, expresso no trabalho

educativo na forma de conteúdo de ensino, revela-o dotado de sentidos

dinâmicos, portadores de contradições, as quais somente são apreendidas

num exercício racional por meio do qual necessitamos dar movimento ao

conceito-conteúdo de ensino, no sentido sincrônico(tempo atual) e

diacrônico(através dos tempos) e, assim, a partir desse movimento,

estabelecer a sua totalidade, por meio das relações entre parte que se

configura/apresenta o fenômeno e o todo no qual ele está inserido.

(OLIVEIRA; ALMEIDA; ARNONI, 2007, p. 51 )

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os problemas de sua realidade, para compreender como estes apreendem os

conhecimentos e como os traduzem em sua prática cotidiana.

Na concepção de Vasconcellos (2002), cabe, então, ao professor

provocar situações em que o conhecimento possa emergir e o aluno possa

atuar, colocando seu pensamento em movimento; é necessário oportunizar que

ele pense sobre a questão, dispondo objetos/elementos/situações variadas,

dando condições para que este possa elaborar respostas aos problemas

levantados e superar o senso comum. Compete, ainda, ao professor interagir

com a representação do sujeito, solicitar expressão, acompanhar o percurso de

construção e mostrar novas possibilidades na apropriação do conhecimento.

Esta postura metodológica poderá ser articulada com estratégias que tenham

coerência com princípios metodológicos, tais como: a problematização, a

exposição dialogada, o trabalho de grupo, a pesquisa, o seminário, a

experimentação, o debate, os jogos educativos, a dramatização, a produção

coletiva, os estudos de caso, os projetos de trabalho, entre outros.

Enfim, a prática educativa, portanto, deve oportunizar que os educandos

percebam que o conhecimento se relaciona com seu contexto de vida, que é

repleto de significação e que possam estabelecer a conexão entre o seu

contexto particular e o contexto social mais amplo. Se essa relação dialética for

de fato significativa, então, as metodologias foram adequadas. (PARANÁ,

2006).

Diante das considerações aqui apresentadas, constata-se que

transformar a prática pedagógica não é uma questão fácil ou simples de

resolver. Não basta somente a vontade do professor, pois essa mudança

envolve, com grande peso, aspectos como as condições de trabalho,

Ou seja, o estudante do Ensino Médio é uma pessoa de um tempo histórico

específico, que sofre as influências dos movimentos e das determinações de

sua época. É uma pessoa que tem uma origem social, que marca sua

constituição como sujeito. Não se reduz, porém, a estas circunstâncias

históricas e sociais porque é, também, um ser singular, alguém que

interpreta e dá um sentido ao mundo, à sua vida e à sua história (CHARLOT,

2000 apud PARANÁ, 2008, p. 33 ).

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aperfeiçoamento e a valorização profissional e o próprio contexto social, que

exige uma demanda cada vez maior da escola, na educação das crianças e

dos jovens.

Todavia, ter clareza quanto ao processo educativo e do caminho a

seguir, é um importante passo para aproximar o jovem da escola e para

superar a visão do aluno enquanto problema e causa do fracasso escolar. É,

portanto, um passo decisivo na busca por uma educação de qualidade para

todos os alunos, especialmente, para aqueles do Ensino Médio, tratados neste

trabalho.

1. Palestra com a profª drª FÁTIMA APARECIDA DE SOUZA FRANCIOLI,

doutora em educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e

professora do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do

Paraná - UNESPAR - Campus de Paranavaí.

Tema: “Etapas do desenvolvimento do pensamento e do conhecimento na perspectiva do materialismo histórico dialético”.

A professora apresentará um estudo sobre a teoria do materialismo histórico

dialético e as contribuições da pedagogia histórico-crítica e da psicologia

histórico-cultural para a educação escolar.

2. Apresentar em plenária a análise dos resultados da atividade solicitada na

Unidade III, em que os professores trabalharam um conteúdo específico

de sua disciplina, conforme as orientações dadas, buscando analisar o

processo de apropriação do conhecimento pelos alunos.

Questões que poderão orientar a discussão:

PROPOSTA DE ATIVIDADES

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Qual a primeira percepção dos alunos sobre o conteúdo proposto?

Foi possível identificar conhecimento científico nas primeiras

respostas?

Ocorreram mudanças conceituais sobre o conteúdo após o trabalho

realizado? O que contribuiu para este resultado?

3. Em pequenos grupos, os professores farão análise de um plano de aula

disponível no Portal do MEC/Espaço da Aula.

In: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html.

Refletir sobre as seguintes questões:

Como são introduzidos os conteúdos? Partem da prática

social/realidade?

Os conteúdos são teorizados? Há a análise do conhecimento?

As atividades propostas possibilitam ao aluno relacionar os

conteúdos do ensino com o contexto social mais amplo?

É possível identificar no plano de aula o movimento síncrese-

análise-síntese?

Para saber mais: FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um Estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, o construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.

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Neste Caderno Pedagógico todas as unidades apresentam

fundamentação teórica e uma proposta de atividades com questões

norteadoras que, a partir da leitura dos textos, reportagens e vídeos disponíveis

através de links ou downloads, tem como objetivo levar a uma reflexão sobre

como as teorias da educação interferem e/ou direcionam a prática pedagógica

e poderá servir como material de apoio e oferecer subsídios teórico-

metodológicos para pedagogos e professores que pretendam abordar o tema

proposto em grupos de estudos ou em um trabalho de formação continuada

junto aos educadores nas instituições de ensino onde atuam.

O encaminhamento de um trabalho nesta perspectiva é importante, uma vez

que: a teoria, ou seja, a forma de como compreendemos a realidade, determina nossas ações mais imediatas, quer tenhamos ou não pleno conhecimento e domínio teórico. Nem sempre refletimos sobre as origens de nossa maneira de pensar; assimilamos, apenas, de forma mais ou menos refletida, as formas de pensamento de nossa época e agimos sob influência dessa assimilação. Quando ocorre essa ausência de uma reflexão teórica, nossa prática acaba por não ter uma direção segura, oscilando entre a explicitação e o obscurecimento da realidade (KLEIN,1991, p. 03).

Deste modo, considerando que a Produção Didático-pedagógica busca

alternativas de superação de problemas percebidos nas práticas pedagógicas

dos professores (PARANÁ, 2013) é importante buscar processos de formação

que promovam a articulação entre as proposições teóricas e a prática escolar

através de uma abordagem dialética. Segundo Oliveira; Almeida; Arnoni

(2007), a dialética caracteriza-se como a lógica do aprofundamento do

processo de investigação da realidade, podendo contribuir para a compreensão

dos fatos educativos e para a construção de consensos coletivos. Por meio

deste movimento do pensamento que se debruça sobre a prática para

apreendê-la e compreendê-la, estabelece-se a relação entre teoria e prática,

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

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princípio que deve estar presente em todos os momentos da práxis

pedagógica. (PARANÁ, 2006, p. 39)

Especialmente aos pedagogos, como articuladores do trabalho

educativo na escola, torna-se fundamental promover encontros pedagógicos

que possam constituir-se como um espaço de aprofundamento teórico,

discussão e análise da prática docente e busca de propostas de intervenção no

contexto escolar. Pois, como, coloca Lowy ( 2000, p. 27), “é na medida em que

lutamos para transformar a realidade que a entendemos e é na medida em que

melhor a entendemos que mais lutamos para transformá-la”.

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CHARLOT, Bernard. Educação e Globalização: uma tentativa de colocar ordem no debate. Sísifo - Revista de Ciências da Educação, nº 4. Out/dez 2007. Disponível em <http://sisifo.hpce.ul.pt/pdfs/04-14.Conf2.pdf> Acesso em 12/04/13. FERNANDES, Reynaldo. Índice de desenvolvimento da educação básica. Série Documental. Brasília: INEP, 2007. KLEIN, Lígia R. Elementos de Fundamentação Teórica para a Alfabetização. In: Caderno de Alfabetização para o Professor de Educação de Adultos. SEED-DESU. Curitiba – PR, 1991. LÖWY, M. Ideologias e Ciência Social: elementos para uma análise marxista. 14ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. OLIVEIRA, Edilson M., ALMEIDA, José L. V., ARNONI, Maria E. B. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS