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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL
CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE QUÍMICA POR MEIO DAS
ATIVIDADES EXPERIMENTAIS
Giovana Fiori1 Raquel Roberta Bertoldo2
Resumo: O presente artigo tem por finalidade apresentar os resultados do desenvolvimento do projeto de intervenção pedagógica do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE
3, ofertado
pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Por meio de subsídios teóricos o projeto foi implementado utilizando-se uma metodologia para o ensino de Química que contemplou a realização de atividades experimentais pelos estudantes sobre o tema “Matéria e sua Natureza” de forma contextualizada, com o objetivo de promover a aprendizagem de conceitos científicos. Participaram do projeto alunos da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Machado de Assis, do município de Nova Aurora/PR. Os encaminhamentos para o desenvolvimento da realização das atividades experimentais foram planejadas em quatro etapas. Os resultados apontam que os objetivos do projeto foram alcançados, pois os estudantes demonstraram melhor compreensão dos conteúdos abordados e a metodologia utilizada permitiu aos mesmos colocar em prática o que aprenderam em sala de aula. Salientamos que o desenvolvimento de metodologias que contemplam atividades experimentais é importante, pois possibilitam a interação professor aluno, compreensão da relação teoria-experimento, valorização do conhecimento prévio do estudante, entretanto para que as atividades experimentais contribuam para o desenvolvimento de habilidades cognitivas é necessário um planejamento que privilegie a participação do estudante.
Palavras-chave: Ensino de Química. Contextualização. Experimentação.
INTRODUÇÃO
A Química tem papel essencial na formação do sujeito, pois é uma Ciência
que estuda as substâncias e suas transformações e está presente em tudo – nos
1Professora com formação em Química, da Rede Estadual de Educação, Colégio Estadual Machado
de Assis – Ensino Fundamental e Médio, PDE, NRE de Assis Chateaubriand, PDE 2013/2014. 2Professora Orientadora com formação em Química, Unioeste de Toledo, Especialista em Ensino de
Ciências e Matemática. 3 Programa de Desenvolvimento Educacional é uma política pública de Estado regulamentado pela
Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Disponível em http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=20. Acesso nov 2014.
alimentos, nas roupas, nos livros, nos aparelhos de TV, na água, no ar etc. A própria
manutenção da vida envolve processos químicos.
Um desafio atual do ensino de Química é construir significados para que os
estudantes entendam a relação entre o conhecimento científico e o cotidiano. Neste
sentido, a contextualização e a experimentação podem contribuir no processo
ensino aprendizagem, pois permitem que os estudantes percebam esta significação
dos conceitos químicos e percebam a relação da teoria com o mundo que vivem.
Pesquisas apontam a importância da experimentação para uma melhor
compreensão dos conceitos químicos, uma vez que permite articular teoria e prática
(HODSON, 1988 apud FERREIRA et al, 2010; AXT, 1991 apud PARANÁ, 2008, p.53;
NANNI, 2004 apud PARANÁ, 2008, p.54). No entanto, essa metodologia não deve
ser trabalhada de forma desconexa, fragmentada, do tipo “receita de bolo” onde os
estudantes recebem um roteiro para seguir e obter os resultados que o professor
espera, não deixando que o conhecimento seja construído por meio de
questionamentos.
Este artigo apresenta os resultados de um trabalho desenvolvido no
programa PDE. O mesmo foi desenvolvido no Colégio Estadual Machado de Assis –
EFMP, na 1ª Série do Ensino Médio no período matutino, com o conteúdo
estruturante „Matéria e sua Natureza‟ e como conteúdos básicos „Matéria e Energia,
Propriedades dos Materiais e Propriedades e transformações da Matéria‟,
trabalhados de maneira contextualizada tendo como encaminhamento metodológico
a experimentação.
As atividades experimentais ocorreram sob a orientação da professora de
Química da escola (primeira autora desse artigo), devidamente planejadas em 4
etapas, sendo apresentado os conceitos fundamentais, os ambientes para
realização das atividades, para somente depois ocorrer a realização dos
experimentos.
O ENSINO DE QUÍMICA
A Química é uma forma de pensar e falar sobre o mundo, que pode ajudar o
cidadão a participar da sociedade em que vive, na qual a ciência e a tecnologia
desempenham um papel cada vez mais importante. Um dos motivos de se ensinar
Química é para formar cidadãos conscientes e críticos. Segundo Chassot (1990,
p.30) “A Química é também uma linguagem. Assim, o ensino de Química deve ser
um facilitador da leitura do mundo. Ensina-se Química, então, para permitir que o
cidadão possa interagir melhor com o mundo”.
Para que o indivíduo desempenhe seu papel de cidadão, isto é, participe da
sociedade em que vive, é necessário que ele disponha de alguns conhecimentos
químicos básicos para saber, por exemplo, utilizar determinadas substâncias no seu
dia a dia, compreender os efeitos da química no meio ambiente, interpretar as
informações químicas das embalagens sobre a utilização e conservação de produtos
químicos, enfim que ele compreenda e questione os acontecimentos a sua volta.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96) define para o
Ensino Médio, última etapa da educação básica, ter como uma das finalidades: “[...]
a preparação básica para o trabalho e para cidadania do educando, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” (BRASIL, 2010, p.28).
Desse modo, uma função básica do ensino médio é completar a formação
do indivíduo para a vida social. Santos e Schnetzler, salientam:
[...] a química no ensino médio não pode ser ensinada como um fim em si mesma, senão estaremos fugindo do fim maior da educação básica, que é assegurar ao indivíduo a formação que o habilitará a participar como cidadão na vida em sociedade (2003, p.50).
Portanto, para que o estudante consiga compreender o conhecimento
científico e relacionar com o seu dia a dia, caberá ao professor dar-lhe fundamentos
teóricos de maneira contextualizada com o auxílio de uma metodologia que desperte
o interesse pela aprendizagem e para o exercício da cidadania.
O papel da experimentação e da contextualização no Ensino de Química
Segundo os PCNEM (Brasil, 2000, p.78), “O tratamento contextualizado do
conhecimento é o recurso que a escola tem para retirar o estudante da condição de
espectador passivo”. Para tanto é necessário entender que contextualizar a química
não é promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno,
nem citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas que
contextualizar é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento
necessário para entendê-las e procurar solucioná-las.” (PCN+, p.93).
A contextualização dos conteúdos aproxima os conhecimentos estudados
em sala de aula com os acontecimentos do dia a dia dos estudantes, motivando e
despertando o interesse destes pelo conhecimento químico, atiçando sua
curiosidade e tornando a aula mais prazerosa (CACHAPUZ; PRAIA; JORGE, 2004).
Assim, através do trabalho contextualizado a química passa a ter mais
sentido para o estudante que reconhece a ciência em seu dia a dia e assim passa
de sujeito espectador para sujeito ativo, participando e contribuindo com a formação
do próprio conhecimento cientifico (PEREIRA, 2010, p.2).
As Diretrizes Curriculares de Química para a Educação Básica do Estado do
Paraná (DCE) propõe que a compreensão e a apropriação do conhecimento químico
se dão por meio do contato do estudante com o objeto de estudo via
experimentação, onde o professor deve planejar, organizar e dirigir esse processo
através de uma relação dialogada, contribuindo para a formação do estudante e
rompendo desta forma com a ideia das atividades experimentais tradicionais. Ainda
segundo este documento, a experimentação numa abordagem conceitual favorece a
apropriação efetiva do conceito, tendo como ponto de partida a problematização que
permite ao estudante a construção da sua própria explicação através das situações
observadas na atividade experimental. Para Fonseca (2001), o trabalho experimental
deve estimular o desenvolvimento conceitual, fazendo com que os estudantes
explorem, elaborem e supervisionem suas ideias, comparando-as com a ideia
científica.
O ensino de Química é ainda hoje, um desafio para muitos professores e
estudantes. Há uma insatisfação muito grande por parte dos professores, que
demonstram dificuldades de relacionar os conteúdos científicos com os
acontecimentos da vida cotidiana; há insatisfação entre os estudantes, que
consideram a química uma disciplina difícil e abstrata que exige muita memorização.
De acordo com Bernardelli (2004), esses seriam os motivos pelo qual, muitas
pessoas resistem ao ensino de Química. Portanto,
[...] devemos criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina, aproveitando, no primeiro momento, a vivência dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia, buscando com isso reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura do seu mundo (BERNARDELLI, apud PARANÁ, 2008 p.55).
Assim, a contextualização e a problematização das situações discutidas é
essencial para que o trabalho desenvolvido não tenha caráter mecânico,
comprobatório, de receitas prontas que não admitem o improviso, onde a ciência é
vista como verdade absoluta, pois esses não permitem que o estudante perceba a
significação dos conceitos químicos e faça uma relação da teoria com o mundo em
que vive. Portanto a utilização de aspectos do cotidiano no ensino de Química tem
como objetivo de chamar a atenção do aluno, aguçar sua curiosidade e tem como
único propósito de ensinar conteúdos levando em consideração experiências do
convívio dos estudantes, tornando um ensino mais dinâmico (CACHAPUZ; PRAIA;
JORGE, 2004).
É sabido que os documentos que norteiam o ensino de Química no Brasil
recomendam o uso de experimentação, enfatizando a teoria-prática e a
contextualização dos conceitos.
Muitos trabalhos no ensino de Química apontam que a experimentação é
pouco usada pelos professores do ensino médio, geralmente pela falta de
laboratório, equipamentos, tempo, entre outros. Schutz (2009) afirma que é
incoerente justificar o pouco uso de atividades experimentais pela falta de recursos,
pois não é necessário ter um laboratório e equipamentos sofisticados para realizar
uma atividade experimental, existem outras formas e maneiras para realizar essa
atividade, utilizando materiais de baixo custo sobre temas abrangentes que
contemplam diversos conteúdos. Sendo assim, para que alguns experimentos
ocorram não é preciso laboratórios sofisticados, com grandes quantidades de
reagentes e vidrarias, pois existe uma variedade de materiais e espaços alternativos
como a própria sala de aula ou laboratório (quando houver), pátio da escola, cantina,
horta, além de locais como feiras, jardins, supermercados, farmácias, cooperativas,
estação de tratamento de água e esgoto, aterros sanitários. Enfim existe uma
diversidade de espaços onde as atividades experimentais podem ser significativas,
uma vez que fazem parte da vivência cotidiana dos estudantes.
Silva; Fernandes e Nascimento (2011) apresentam algumas sugestões de
atividades experimentais como: Atividades Demonstrativas-Investigativas,
Experiência Investigativa, Simulações em Computadores, Vídeos e Filmes, Horta da
Escola, Visitas Planejadas, Estudos de Espaços Sociais e Resgate de Saberes
Populares. Cada uma das atividades apresentadas, possibilitam a interação do
professor e estudante, compreensão da relação teoria-experimento, valorização do
conhecimento prévio do estudante, abordagem contextualizada e interdisciplinar,
permitindo com isso a superação do ensino tradicional no que diz respeito a
experimentação.
METODOLOGIA DE TRABALHO
A pesquisa desenvolvida apresentou como metodologia o estudo de
situações de ensino com estudantes do ensino médio na disciplina de Química. A
princípio, realizamos uma pesquisa bibliográfica para embasar teoricamente o
trabalho, autores como Carvalho (2012), Oliveira (2010), Fachin (2006), Marconi e
Lakatos (2012), afirmam que uma base teórica sólida é imprescindível para o
desenvolvimento de diferentes pesquisas.
Durante a etapa de preparação, elaborou-se uma sequência didática sobre
os conteúdos de Matéria e Energia, Propriedades dos Materiais e Propriedades e
transformações da Matéria. A mesma foi desenvolvida no período de fevereiro à
junho de 2014, com trinta e dois (32) estudantes do 1º ano do Ensino Médio, do
Colégio Estadual Machado de Assis– EFMP, no município de Nova Aurora/PR.
Nosso instrumento de análise são as gravações realizadas durante o
desenvolvimento das atividades da sequência didática.
O processo de intervenção em sala de aula perpassa por quatro etapas,
conforme apresentamos a seguir:
ETAPA 1 - apresentação do projeto: O projeto foi apresentado para os
estudantes por meio de questionamentos do tipo: O que é Química? O que ela
estuda? Que tipos de fenômenos essa ciência pretende investigar e explicar? Com
isso, instiga-se a busca pela elaboração de respostas, convidando-os para a
realização de algumas atividades onde sua participação é fundamental tanto nas
situações que vão envolver o debate de ideias ou a realização de trabalhos
experimentais em grupo quanto nos momentos de discussão ou de apresentação
em sala de aula.
ETAPA 2 – introdução/apresentação do laboratório de química: Após a
apresentação do projeto e fazer uma breve discussão da importância do estudo da
Química, os alunos foram levados ao laboratório, onde puderam observar as
vidrarias e equipamentos disponíveis, além de conhecerem as normas básicas de
segurança, símbolos que alertam de perigos e algumas técnicas de descarte de
resíduos.
ETAPA 3 – atividades experimentais: Nesta etapa, foram propostas
algumas atividades experimentais seguindo o Plano de Trabalho Docente sobre o
conteúdo estruturante Matéria e suas transformações, e como conteúdos básicos
Matéria e Energia, Propriedades dos Materiais e Propriedades e transformações da
Matéria. As atividades desenvolvidas contemplaram diferentes ambientes como o
laboratório da escola, a sala de aula, visita técnica e o laboratório de informática. As
atividades foram:
1º) Investigando a água sob aquecimento
2º) Por que os materiais afundam ou flutuam?
3º) Reações químicas: Como reconhecê-las?
4º) Lixo: Para onde vai?
ETAPA 4 – avaliação: Após a realização das atividades experimentais, os
estudantes responderam algumas questões para avaliarem as atividades
desenvolvidas e também para contribuírem para melhoramento da atividade.
METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS
Após o desenvolvimento das duas primeiras etapas citadas, iniciamos a
análise das atividades experimentais elaboradas. Estabelecemos três (03)
categorias para analisar os experimentos como consta a seguir:
Categoria 1: verificar se as atividades experimentais despertaram um maior
interesse pela disciplina de Química.
Categoria 2: verificar se a contextualização e a experimentação permitiram
aos estudantes relacionar o conteúdo estudado com o cotidiano.
Categoria 3: verificar se a contextualização e a experimentação
possibilitaram uma melhor compreensão e elaboração dos conceitos químicos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No início da realização das atividades experimentais propostas, nos
deparamos com algumas dificuldades como: turma numerosa, estudantes
desatentos e desinteressados, falta de apoio técnico (laboratorista), materiais e
equipamentos que não funcionam, enfim dificuldades encontradas no cotidiano
escolar. Contudo, com o apoio e a colaboração da equipe pedagógica e direção da
escola conseguimos realizar os experimentos.
Neste artigo, apresentaremos as análises das atividades experimentais, que
compõe a etapa 3 da metodologia apresentada. A seguir, apresentamos as análises
com base nas categorias estabelecidas no item “metodologia de análise de dados”.
A 1ª atividade “investigando a água sob aquecimento” foi realizada no
laboratório, os estudantes desenvolveram o experimento em grupo e observou-se
que:
Categoria 1: a atividade proposta deixou os estudantes surpresos, pois
antes de iniciarem a atividade, responderam algumas questões preliminares como: A
que temperatura vocês esperam que a água comece a ferver? Quando isso ocorre,
vocês esperam que a temperatura continue subindo ou permaneça constante? E as
respostas foram variadas, do tipo:
E 01: “Acho que a 80ºC”
E 09: “Não a 100ºC e depois continua aumentando até secar a água do
béquer”.
A medida que faziam as medições e constatavam que ao chegar em 100ºC a
temperatura permanecia constante e a água estava passando do estado líquido para
o gasoso os estudantes diziam:
E 14: “Que legal, eu achava que a temperatura iria continuar a subir”
E 04: “Visualizamos as matérias estudadas em sala de aula”.
Nesta categoria percebemos que a experimentação desperta o interesse no
estudante, pois os estudantes são motivados a buscar respostas a partir do
experimentos realizados e conforme aponta Silva; Fernandes e Nascimento (2007) a
motivação vem a ser, o elemento propulsor neste processo, tendo em vista que
despertar o interesse implica em envolver o estudante em algo que tenha significado
para si.
Categoria 2: A atividade permitiu aos estudantes fazerem comparações do
tipo:
E 18: “Ah, então quando fervemos a água para o café a temperatura é
100ºC”
E 04: “Professora, por isso que no gráfico a temperatura da ebulição ficava
reto?”
E 09: “Agora entendi porque quando a água ferve começa a borbulhar”
A experimentação e a contextualização permitiu aos estudantes fazerem
uma relação entre o conteúdo estudado em sala de aula com o seu dia a dia. Tal
afirmação esta de acordo com Russel (1994) quando diz que quanto mais integrada
à teoria e a prática, mais sólida se torna a aprendizagem de Química, que contribui
para a construção do conhecimento químico.
Categoria 3: Por meio de atividades realizadas antes e depois dos
experimentos ficou claro que houve uma maior compreensão dos conceitos
estudados. Nesta atividade conseguimos desenvolver um trabalho interdisciplinar
com a disciplina de matemática. É importante considerar a interdisciplinaridade e a
contextualização para o ensino de química, uma vez que possibilitam uma
superação da perspectiva tradicional de ensino, assim como tendo destacado pelos
educadores químicos e também como possibilidade de inovação, como propõe
Carbonell (2002).
Figura 1: Algumas imagens da 1ª atividade
Na 2ª atividade “Por que os materiais afundam um flutuam?” realizamos três
experimentos diferentes, em ambientes diferentes, com o objetivo de desenvolver
nos estudantes conceitos de propriedades físicas como solubilidade e densidade, e
sua utilização no processo de identificação e quantificação de substâncias.
Experimento I: Os estudantes fizeram um experimento simples, em sala de
aula e em grupo com o objetivo de distinguir diferentes materiais usando a
propriedade densidade que está relacionada à flutuação de objetos em líquidos.
A medida que os estudantes misturavam os materiais para observarem
quais iriam flutuar e quais iriam afundar, surgiam questionamentos como:
E 18: “Por que será que materiais diferentes flutuam de forma diferente”?
E 23: “Professora porque o xarope de groselha não se misturou com a
água”?
E 19: “Professora isso que estamos fazendo tem a ver com o peso das
coisas”?
Experimento II: Os estudantes foram levados ao laboratório de informática
da escola onde fizeram uma simulação online disponível no portal dia a dia
educação com o título: Quer saber se sua gasolina está adulterada?
Esse experimento deixou os estudantes curiosos e instigados levando a
perguntas do tipo:
E 04: “Será que os postos da nossa cidade vendem gasolinas adulteradas”?
E 29: “Nossa não sabia que a gasolina adulterada podia fazer isso com o
carro”!
E 27: “Então é assim que se faz pra saber se a gasolina esta adulterada”?
E 04: “Professora vamos fazer o experimento para saber se a gasolina daqui
é adulterada?”
Experimento III: Esse experimento foi feito no laboratório de química e em
grupo, a professora recolheu amostras de gasolina dos postos da cidade,
nomeando-os como postos A, B, C e D, com o objetivo de verificar o teor de álcool
na gasolina.
Os estudantes estavam atentos e interessados pela atividade, não havia
conversa paralela e todos os integrantes dos grupos estavam prestando atenção nas
instruções. No decorrer da aula os estudantes fizeram os seguintes
questionamentos e comentários:
E 07: “Por que o volume da gasolina diminuiu?”
E 09: “O volume de água aumentou. Por que isso acontece?”
E 15: “Separamos elementos que eu achava impossível”
Categoria 1: Com a realização dos experimentos ficou evidente que esse
tipo de atividade desperta um maior interesse pela disciplina de Química, pois os
estudantes se sentiram motivados a refletir, discutir e questionar questões que
fazem parte da sua vivência cotidiana, pois segundo Chassot (1990) um dos motivos
de se ensinar Química é para formar cidadãos conscientes e críticos.
Categoria 2: Os experimentos realizados permitiram aos estudantes
entenderem de forma prática a teoria abordada em sala de aula. O desenvolvimento
destas atividades constitui um importante instrumento, uma vez que estabelece um
espaço para a experimentação, trazendo para a vida do aluno experiências práticas
sobre uma substância que faz parte do seu cotidiano. Assim, a utilização de
aspectos do cotidiano no ensino de Química tem como objetivo de chamar a atenção
do aluno, aguçar sua curiosidade e tem como único propósito de ensinar conteúdos
levando em consideração experiências do convívio dos estudantes, tornando um
ensino mais dinâmico (CACHAPUZ; PRAIA; JORGE, 2004).
Categoria 3: A partir das atividades desenvolvidas é possível perceber que a
dificuldade dos estudantes em compreender os conteúdos de Química, pode ser
superada ou minimizada através da utilização de atividades experimentais
contextualizadas que auxiliam na compreensão dos temas abordados em sala de
aula e em suas aplicações no seu cotidiano. Para Fonseca (2001), o trabalho
experimental deve estimular o desenvolvimento conceitual, fazendo com que os
estudantes explorem, elaborem e supervisionem suas ideias, comparando-as com a
ideia científica.
Figura 2: Algumas imagens da 2ª atividade
A 3ª atividade Reações químicas: Como reconhecê-las? foi desenvolvida em
três partes, sendo:
Parte I: Pesquisa em grupo, com o tema: “Investigando o processo de
fabricação do pão”. O objetivo dessa pesquisa era que os estudantes identificassem
o fenômeno que ocorre na fabricação do pão e percebessem se ocorreu ou não uma
reação química. A atividade foi importante, pois os estudantes tiveram contato com
pessoas da comunidade como, por exemplo, o padeiro do seu bairro, a cozinheira
da escola, a tia, a mãe, a avó, enfim saíram da sala de aula e foram em busca de
respostas para sua pesquisa. Muitos estudantes durante a discussão com os
colegas em sala de aula sobre se havia ou não ocorrido uma reação química na
fabricação do pão diziam:
E 06: “Nossa minha mãe falou que em dias frios o pão não cresce direito por
causa que o fermento não reage bem”.
E 13: “Professora por isso que quando está frio minha mãe aquece o
forninho e deixa a massa de pão lá dentro?”
E 20: “A tia da cozinha falou que ocorre sim uma reação química no pão, por
isso que ele cresce”.
Parte II: Nesta atividade feita em sala de aula, os estudantes citaram alguns
exemplos de transformações de materiais que ocorrem na natureza e, em seguida
construíram uma tabela relacionando as transformações ocorridas com
características que permitiam a identificação. Os estudantes ficaram empolgados e
participativos, citaram exemplos de transformações químicas e físicas de materiais.
Nesta atividade os estudantes demonstraram facilidade em classificar as
transformações ocorridas com determinados materiais.
Parte III: Neste momento foi realizado um experimento em grupo e no
laboratório, que tinha como objetivo observar ocorrências que permitiam a
identificação de reações químicas, como: mudança de cor, mudança de cheiro,
mudança de temperatura, desprendimento de gás e formação de substâncias pouco
solúveis.
Essa parte foi muito produtiva, pois os estudantes puderam discutir,
questionar e buscar respostas e explicações para os fenômenos observados,
possibilitando com isso a evolução do conhecimento químico. Durante a realização
dos experimentos os estudantes fizeram comentários do tipo:
E 01: “Olha o Royal ferve, igual quando colocamos ENO na água”.
E 05: “Que legal o Bombril mudou de cor, ficou vermelho!”.
E 12: “Professora isso que aconteceu com o bombril é a mesma reação que
ocorre quando o ferro enferruja?”
Nesta atividade, observou-se que alguns estudantes apresentavam
conhecimentos provenientes do dia a dia e do ambiente escolar, sobre o conceito de
reações químicas. O fato dos estudantes apresentarem conhecimento sobre o
assunto ajudou na dinâmica da aula tornando-a mais rica para reflexão e
compreensão do tema abordado.
Categoria 1: Por meio dos questionamentos ficou claro que as atividades
desenvolvidas promoveram o interesse pela disciplina de Química, principalmente
aquelas que promoviam um envolvimento sensorial com odores, cores e texturas.
Categoria 2: Observou-se que durante as atividades os estudantes estavam
muito animados e motivados, visto que a maioria sentiu-se à vontade para falar das
suas observações. A realização dessas interações permitiu perceber que, ao longo
do desenvolvimento das etapas, os estudantes ganhavam segurança nos conceitos
construídos e faziam correlações com o cotidiano. As observações feitas confirmam
o que Bernardelli (2004) diz que devemos criar condições favoráveis e agradáveis
para o ensino e aprendizagem da disciplina, aproveitando, no primeiro momento, a
vivência dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia.
Categoria 3: Pelas atividades realizadas antes e depois dos experimentos é
notória a evolução na compreensão dos conceitos químicos.
Figura 3: Algumas imagens da 3ª atividade
Na 4ª atividade “Lixo: Para onde vai?” os estudantes fizeram uma visita
técnica (de campo) ao aterro sanitário da cidade, onde observaram como o lixo é
acondicionado, quais as técnicas usadas, se o lixo era apenas doméstico ou incluía
outros tipos, se o local possuía proteção adequada para evitar a contaminação dos
lençóis freáticos pelo chorume, enfim, fizeram uma análise geral do local. Essa
atividade foi realizada em contraturno, por esse motivo cinco estudantes não
participaram da atividade. Após a visita, os estudantes formaram grupos para
responder algumas questões, debater e discutir com os colegas e com a professora.
Nesse momento surgiram comentários como:
E 12: “Do que adianta separar o lixo em casa se depois é misturado tudo de
novo?”
E 05: “Muitas coisas que estão aqui poderiam ser aproveitas”
E 13: “Professora isso aqui é um lixão e não um aterro sanitário”
E 26: “Que cheiro horrível, esse cheiro é o chorume?”
Categoria 1: O que pode-se observar a partir da discussão, foi que a visita
possibilitou aos estudantes senso crítico, vistos por meio dos questionamentos
feitos. O desenvolvimento da atividade promoveu uma motivação e envolvimento
maior por parte dos alunos em relação à química e a preservação do meio ambiente,
os quais puderam perceber que existe uma relação lógica entre o discurso científico
e o discurso cotidiano. Para Fonseca (2001) o conteúdo de Química na escola não
pode ignorar a realidade, deve ter como finalidade a promoção de educação em
Química permitindo aos estudantes a compreensão dos conteúdos, tornando-se
capazes de compreender o mundo natural que os rodeia, e de interpretar, do modo
mais adequado as suas manifestações.
Categoria 2: A atividade permitiu aos estudantes a construção de diversos
saberes, capacitando-os para o exercício da cidadania, pois os mesmos precisam
estar interligados com a informação química e o contexto social, uma vez que para
participar da sociedade é necessário não só compreender Química, mas a
sociedade em que vive. Segundo Chassot (1990, p.30) “A Química é também uma
linguagem. Assim, o ensino de Química deve ser um facilitador da leitura do mundo.
Ensina-se Química, então, para permitir que o cidadão possa interagir melhor com o
mundo”.
Categoria 3: Com a atividade realizada pode-se observar que a mediação
entre a teoria e a prática pedagógica fez com que a aprendizagem se tornasse mais
significativa, pois foi possível despertar uma consciência em relação ao meio
ambiente e sua associação à química em vários tópicos do conteúdo, uma vez que a
construção do conhecimento deve ser permanente e que é preciso estar atento as
transformações das ciências e tecnologias a fim de resgatar a função social da
escola.
Figura 4: Algumas imagens da 4ª atividade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscando superar as atividades práticas tradicionais de receitas prontas que
não admitem o improviso, onde a ciência é vista como verdade absoluta, onde não
permitem que o estudante perceba a significação dos conceitos químicos e faça uma
relação da teoria com o mundo em que vive, procurou-se desenvolver atividades
experimentais com uma metodologia que pode tornar as aulas de Química,
prazerosas, dinâmicas e com a participação do estudante no processo de
aprendizagem.
Desse modo, desenvolveu-se um projeto e uma produção didática
pedagógica visando superar algumas dificuldades do ensino de Química e aproximar
a Química do conhecimento dos estudantes, onde a contextualização contribuiu para
a aprendizagem dos conteúdos, pois proporcionou o estabelecimento de inter-
relações entre os conhecimentos escolares e os acontecimentos cotidianos da vida
dos mesmos.
Os resultados desta pesquisa levaram-nos a considerar que a aplicabilidade
de atividades experimentais quando aliada a um bom planejamento, buscando
meios simples, práticos e contextualizados para o desenvolvimento dos conteúdos,
possibilitam aos estudantes uma melhor compreensão e elaboração dos conceitos
químicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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