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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · A partir da teoria que fundamenta o projeto e com a finalidade de superação ... Na prática em sala de aula, o que se observa

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

1 Professora da Secretaria de Estado da Educação - Colégio Estadual General Eurico Gaspar Dutra. Turma PDE 2013. E-mail: [email protected]. 2 Professor Orientador do Departamento de Matemática da UNICENTRO–PR. E-mail: [email protected]

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS VINCULADA COM A ANÁLISE DE ERROS

Angela Maria Kubiak Secundo¹ Reinaldo Francisco²

Resumo: Este artigo apresenta resultados da intervenção pedagógica, desenvolvida por meio da aplicação da metodologia da resolução de problemas, vinculada com a análise de erros. Foi implementada no Colégio Estadual General Eurico Gaspar Dutra, Virmond-Paraná-Brasil, com alunos do sexto ano. Trata-se de uma pesquisa-ação, de cunho qualitativo, cuja finalidade é investigar se a aplicação desta metodologia pode contribuir no processo de ensino aprendizagem, na disciplina de Matemática. Os resultados obtidos através da revisão de literatura e as atividades desenvolvidas com os estudantes indicam resultados positivos, desde que haja uma nova postura metodológica do professor em sala de aula e um tempo maior na preparação e na aplicação do conteúdo. Em contrapartida, a aprendizagem ganha significado, pois, o processo é valorizado. As atividades iniciam com a problematização de uma situação, através da leitura o aluno compreende o problema e busca estratégias para resolvê-lo. A intervenção do professor nesse contexto é a de mediador, que ouve o aluno, questiona, responde a pergunta do estudante com outra pergunta, fazendo-o refletir sobre sua ação e corrigir seus erros. Nesse processo, o estudante utiliza primeiramente o que já conhece sobre o assunto e, a partir das dúvidas, o professor explica conteúdos novos, necessários para a resolução daquele problema. A metodologia incentiva à busca por uma estratégia para resolução valoriza a leitura, a interpretação e a escrita. Assim, amplia-se a compreensão acerca dos conteúdos matemáticos, que são re (construídos) pelos estudantes.

Palavras-chave: Matemática. Ensino-aprendizagem. Metodologia. Resolução de Problemas. Análise do erro.

INTRODUÇÃO

“Alguns segundos de prazer da descoberta valem mais do que mil

informações que possam ser transmitidas ao aluno.” Esta orientação de Dante

(2010, p.63) é importantíssima e indica um caminho para despertar o gosto por

estudar. Pois, uma descoberta é algo que marca significativamente a vida. Contudo,

na realidade escolar a metodologia predominante não oferece atividades que levem

o estudante a descobertas.

Considerando os dados de avaliações internas e externas e a realidade

encontrada em sala de aula, percebe-se que os alunos têm dificuldades em

aprender Matemática. Muitos não gostam e não veem sentido em aprender

conteúdos matemáticos, apresentam desinteresse em relação à leitura e

dificuldades na interpretação de textos, que trazem prejuízos à construção do

conhecimento. Na tentativa de minimizar tal situação, percebe-se que é importante a

valorização da leitura e da interpretação.

Desta forma, tendo como base estudos referentes às tendências em

educação matemática, apresenta-se como possibilidade de ação a ser realizada na

disciplina, o ensino através da metodologia da resolução de problemas.

Neste sentido, elaborou-se esta proposta de intervenção pedagógica, que

busca investigar se a aplicação da Metodologia da Resolução de Problemas,

vinculada com a análise do erro como estratégia didática, pode contribuir para o

enriquecimento do processo ensino aprendizagem de Matemática, valorizando o que

os estudantes já sabem e o processo de construção do seu conhecimento. Toda a

proposta parte da problematização, exige e incentiva a leitura e a interpretação.

O trabalho iniciou-se com a revisão bibliográfica, etapa significativa de

reflexão para a compreensão das dificuldades enfrentadas.

A partir da teoria que fundamenta o projeto e com a finalidade de superação

das dificuldades, foram propostas três ações para a intervenção pedagógica: i)

propor atividades significativas a serem resolvidas a partir das fases da Resolução

de Problemas propostas por Polya(2006) e Dante(2003; 2009) valorizando a

socialização das estratégias utilizadas pelos alunos; ii) utilizar a análise de erros

como estratégia didática (Pinto, 2009) e iii) estimular os alunos a relatarem de forma

descritiva a síntese dos conteúdos trabalhados na disciplina de Matemática

(D’Ambrósio, 2012).

Durante a intervenção foram realizadas as três ações planejadas onde:

a) Os estudantes foram incentivados a buscar soluções a partir de

atividades de resolução de problemas, em grupos, valorizando o conhecimento

prévio, a troca de experiência entre colegas, com a mediação da professora que

questionava, levando-os a pensar e elaborar estratégias para resolução.

b) A socialização e a análise de erros foram incentivadas e desenvolvidas

durante todo o processo, buscando desenvolver momentos diferenciados de

aprendizagem, onde o aluno é sujeito ativo, que apresenta seu ponto de vista, se

posiciona e assim constrói seu conhecimento.

c) Após cada atividade foi realizada com os estudantes, uma avaliação

descritiva em forma de texto, onde relataram o que aprenderam.

Para avaliação da proposta foram realizados junto aos alunos, pré-teste e

pós-teste e seus resultados apontam dados importantes sobre esta pesquisa-ação.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao analisar a História da Educação no Brasil, voltando o olhar para a

disciplina de Matemática, para a escola e a sala de aula, percebe-se que a

metodologia utilizada na abordagem dos conteúdos, que predomina é o modelo da

escola tecnicista. Relatos dos professores, estudos e avaliações realizadas mostram

a necessidade urgente de mudanças em todo o sistema educacional e também no

ensino da Matemática.

Segundo D’Ambrósio (2012, p.61): “[...] pesquisas têm mostrado que os

resultados obtidos num ano escolar têm pouca relação com o desempenho em anos

posteriores [...]. Principalmente em Matemática, a incapacidade de transferir

conhecimentos para uma situação nova é constatada.”.

Pesquisas desenvolvidas no mestrado de Psicologia da UFPE e discutidas no

livro “Na vida dez na escola zero” mostram que

[...] a aprendizagem de matemática e a resolução de problemas, se não estão diretamente relacionadas com a solução de problemas práticos, não são facilmente transferidas para a prática. Uma primeira sugestão que surge é então a de oferecer ao aluno oportunidade de resolver problemas em contextos práticos. [...] Uma segunda sugestão é oferecer à criança experiência com problemas que tenham respostas não unitárias, mas que subdividem em sub-respostas. Isso poderá ajudá-la a lidar mais efetivamente com problemas na vida real. (SCHLIEMANN, 1991, p. 82).

Na prática em sala de aula, o que se observa é que pela falta de tempo em

relação à quantidade de conteúdos a serem desenvolvidos, pela formação, por

comodismo ou descrença no sistema, o professor acaba por passar um exemplo e

apresentar uma lista de outros exercícios iguais, geralmente do livro didático, onde

os alunos seguem o modelo, ou seja, são treinados, capacitados tecnicamente. Com

relação a esse tipo de educação onde se procura ensinar por meio da repetição

D’Ambrósio afirma

Indivíduos passando por isso talvez saiam capacitados como mão de obra para execução de trabalhos de rotina. Mas como será sua participação ampla numa sociedade moderna e democrática? Como fica o componente crítico, que deveria ser dominante num modelo educacional conduzindo à cidadania plena? (D' AMBROSIO, 2012, p.63).

Isso demonstra que, há necessidade de avançar, que os métodos precisam

ser revistos, de forma que, os professores de todas as disciplinas sejam

responsáveis pela formação de cidadãos críticos. Freire apresenta na obra

Pedagogia da Indignação o que se espera da educação e dos educadores:

A necessária formação técnico-científica dos educandos por que se bate a pedagogia crítica não tem nada que ver com a estreiteza tecnicista e cientificista que caracteriza o mero treinamento. É por isso que o educador progressista, capaz e sério, não apenas deve ensinar bem a sua disciplina, mas desafiar o educando a pensar criticamente a realidade social, política e histórica em que é uma presença. (FREIRE, 2000, p. 44).

Desta forma, sugere o uso de metodologias diversificadas, visando

possibilidades de melhoria no processo ensino aprendizagem, partindo de situações

problemas, que aproximem a Matemática com a realidade do aluno. Neste sentido,

conforme D’Ambrósio (2012, p. 79): “É fundamental na preparação para a cidadania

o domínio de um conteúdo relacionado com o mundo atual.” A aprendizagem da

Matemática, de acordo Paraná (2008, p. 45) consiste em: “[...] criar estratégias que

possibilitem ao aluno atribuir significado às ideias matemáticas de modo a tornar-se

capaz de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar. [...] A ação do

professor é articular o processo pedagógico [...]”.

As diretrizes curriculares, sugerem tendências metodológicas que podem ser

utilizadas pelos professores e que possibilitam uma perspectiva diferenciada no

processo ensino aprendizagem. São elas: Resolução de Problemas, Modelagem

Matemática, Etnomatemática, História da Matemática, Tecnologias e Jogos

Matemáticos. A utilização de cada uma delas vem sendo amplamente discutida nos

encontros e pesquisas referentes ao Ensino de Matemática.

Atualmente, as mudanças ocorrem de forma acelerada e globalizada. Há um

universo de informações disponíveis e isso faz pensar o que e como ensinar neste

momento histórico. Sobre essa questão Pinto afirma:

Se, no início do século, a escola elementar preparava uma geração com um conhecimento matemático restrito ao trabalho agrícola, industrial ou doméstico, hoje essa sociedade complexificou-se, exigindo da escola uma resposta mais precisa em termos de escolarização condizente com os

avanços tecnológicos, que instrumentalize o cidadão para enfrentar um mundo globalizado e cada vez mais competitivo. (PINTO, 2009, p. 17).

Estudos no campo da Educação Matemática contribuem neste sentido,

apontando tendências metodológicas e dentre elas encontra-se a abordagem dos

conteúdos matemáticos através da resolução de problemas, que se justifica de

acordo com Dante pela necessidade de:

Ensinar o aluno a enfrentar situações novas. As rápidas mudanças sociais e o aprimoramento cada vez maior e mais rápido da tecnologia impedem que se faça uma previsão exata de quais habilidades, conceitos e algoritmos matemáticos seriam úteis para preparar um aluno para sua vida futura. [...] Assim um caminho bastante razoável é preparar o aluno para lidar com situações novas, quaisquer que sejam elas. E, para isso, é fundamental desenvolver nele iniciativa, espírito explorador, criatividade e independência através da resolução de problemas. (DANTE, 2003, p.12).

De acordo com Schroeder e Lester (1989) citado por Colombo e Lagos (2005,

p.23) “no ensino de matemática tem-se pensado de três maneiras diferentes a

resolução de problemas: ensinar sobre resolução de problemas, ensinar a resolver

problemas e ensinar através de resolução de problemas”. E, considerando o que

afirma Onuchic

[...] o ponto de partida das atividades matemáticas não é a definição, mas o problema; que o problema não é um exercício no qual o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou uma determinada técnica operatória; que aproximações sucessivas ao conceito criado são construídas para resolver um certo tipo de problemas e que, num outro momento, o aluno utiliza o que já aprendeu para resolver outros problemas; que o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas; que a Resolução de Problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas como orientação para a aprendizagem. (ONUCHIC, apud BICUDO, 1999, p. 25).

Para que se tenha uma aprendizagem significativa, com métodos

diferenciados, uma possibilidade é ensinar através da resolução de problemas.

Neste sentido encontram-se os trabalhos de Polya (1995 e 2006) e Dante (2003 e

2009).

A metodologia da Resolução de Problemas apresentada por Polya (2006), em

sua obra “A Arte de resolver problemas”, trata de forma profunda todas as questões

envolvidas na resolução de problemas. Já nas primeiras páginas, encontra-se uma

lista, composta de fases e cada fase contêm indagações e sugestões, onde de

acordo com Polya, a sequência das indagações e sugestões, foi elaborada

cuidadosamente, analisando o processo natural de raciocínio, que uma pessoa

utiliza ao resolver problemas. Dante (2003, p.22) com base no trabalho de Polya,

traz uma importante contribuição acerca da Resolução de Problemas, abordando de

maneira atual o assunto, inclusive utilizando passo a passo, cada uma das fases

propostas por Polya, as quais Dante chama de etapas.

Para a Resolução de Problemas, sejam eles de Matemática ou práticos, de

acordo com Polya é indispensável:

[...] Quatro fases de trabalho. Primeiro, temos de compreender o problema, temos de perceber claramente o que é necessário. Segundo, temos de ver como os diversos itens estão inter-relacionados, como a incógnita está ligada com os dados, para termos a ideia da resolução, para estabelecermos um plano. Terceiro, executamos o nosso plano. Quarto, fazemos um retrospecto da resolução completa, revendo-a e discutindo-a. (POLYA, 2006, p. 4-5).

Ao aplicar este modelo, faz-se necessário que o professor tenha

primeiramente claro seus objetivos, que selecione problemas que desafiem os

alunos e principalmente, que os alunos saibam o que se pretende em cada uma das

etapas de resolução. Pois, de acordo com Polya (2006, p.5): “O problema deve ser

bem escolhido, nem muito difícil, nem muito fácil, natural e interessante e certo

tempo deve ser dedicado à sua apresentação natural e interessante.”.

Segundo D’Ambrósio (2012), repensar o processo ensino aprendizagem, na

tentativa de ultrapassar a barreira do treinamento e oportunizar o acesso a diversos

instrumentos que ajudem o estudante a resolver problemas, é fundamental. Essa

necessidade também é apontada no trabalho de Polya:

Quando o professor tenciona desenvolver nos seus alunos as operações mentais correspondentes às indagações e sugestões da nossa lista, ele as apresenta tantas vezes quanto o puder fazer com naturalidade. [...] Graças a esta orientação, o estudante acabará por descobrir o uso correto das indagações e sugestões e, ao fazê-lo, adquirirá algo mais importante do que o simples conhecimento de um fato matemático qualquer. (POLYA, 2006, p. 4).

Polya (2006, p. 2) explica que “A indagação e a sugestão visam ao mesmo

objetivo: ambas tendem a provocar a mesma operação mental.” Ele atribui o

sucesso de uma pessoa na resolução de problemas a utilização das fases de

resolução, das indagações e sugestões da lista. São elas que levam a pensar, pois

sugerem operações mentais.

O método de questionar do professor é determinante na resolução de

problemas, principalmente se o que se pretende é que o aluno desenvolva a

capacidade de resolver problemas futuros. Neste sentido, Polya afirma:

As sugestões devem ser genéricas, aplicáveis não apenas ao problema presente, mas também a problemas de todos os tipos, pois só assim elas poderão desenvolver a capacidade do estudante e não somente uma técnica específica. [...] Desse modo, é provável que elas sejam finalmente assimiladas pelo estudante e contribuam para o desenvolvimento de um hábito mental. (POLYA, 2006, p. 17).

A partir do momento que se propõe mudança de metodologia, é preciso

colocar também em discussão a forma de avaliar o processo educativo. No contexto

da resolução de problemas, vinculada com a análise do erro, a avaliação precisa ser

entendida por meio de uma concepção de avaliação formativa e não como vem

sendo atualmente desenvolvida, de forma classificatória. De acordo com Hoffmann:

A escola não tem por objetivo a eliminação de candidatos [...] e age como se tivesse tal finalidade. Quando a finalidade é seletiva, o instrumento de avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, deveriam ter o caráter problematizador e dialógico, momentos de troca de ideias entre educadores e educandos na busca de um conhecimento gradativamente aprofundado. (HOFFMANN, 2003, p. 52).

Ainda, de acordo com Hoffmann (2003, p. 120), a ação do professor ao

avaliar deve ser provocativa, desafiando o estudante a refletir sobre as situações, a

formular e reformular hipóteses na busca de um saber enriquecido.

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p.70), ao

avaliar, o professor deve considerar os conhecimentos prévios que o estudante traz

e relacioná-los com os conteúdos matemáticos, na tentativa de superar a pedagogia

do exame, para se basearem numa pedagogia do ensino e da aprendizagem.

Nessa mesma linha, encontra-se a proposta de Neuza Bertoni Pinto, em sua

obra “O erro como estratégia didática”, onde o erro tem uma nova perspectiva.

Assim afirma Pinto (2009): “O erro apresenta-se como uma pista para o professor

organizar a aprendizagem do aluno”. Analisar o erro, conforme a autora é

fundamental para entender o que ainda precisa ser feito, para ajudar o aluno a

continuar sua trajetória na produção do conhecimento.

Hoffmann (2003, p. 86), também chama a atenção para a necessidade de

compreender o erro como parte do processo, afirma que, a postura do professor em

relação ao erro, é determinante no processo educativo. O comentário do professor

pode desafiar o aluno, desde que, seja em forma de questionamento.

De acordo com Freire

Uma educação em que a liberdade de criar seja viável necessariamente tem de estimular a superação do medo da aventura responsável, tem de ir mais além do gosto medíocre da repetição pela repetição, tem de tornar evidente aos educandos que errar não é pecado, mas, um momento normal do processo. (FREIRE, 2000, p. 100).

A concepção de avaliação, que o professor traz para a sala de aula,

determina e interfere diretamente no processo ensino aprendizagem. Segundo Pinto:

Numa avaliação classificatória, em que o foco de atenção está voltado para o acerto da resposta, não sendo utilizado como um instrumento de reflexão, o erro provavelmente não será valorizado pelo professor. Em outra concepção de avaliação, mais preocupada com a formação do aluno em termos de aprendizagens significativas e duradouras, o erro deixa de ser apenas uma resposta a ser analisada: ele passa a ser uma questão desafiadora que o aluno coloca ao professor – portanto um elemento desencadeador de um amplo questionamento do ensino. (PINTO, 2009, p.11).

No ensino através da resolução de problemas, a avaliação ocorre durante

todo processo. E a socialização possibilita valorizar as diferentes estratégias

utilizadas pelos estudantes, além de constituir-se num excelente momento para a

análise dos erros. Havendo necessidade é importante retomar a atividade, a partir

do erro, procurando outras possibilidades na tentativa de superar obstáculos. Esse

processo possibilita ao professor avaliar o desenvolvimento do aluno.

De acordo com Lorenzato, o erro pode acontecer por diferentes motivos:

Falta de atenção, pressa, chute, falha de raciocínio, falta de estudo, mau uso ou má interpretação da linguagem oral ou escrita da matemática, deficiência de conhecimento da língua materna ou de conhecimentos matemáticos. Detectar a (s) causa (s) de cada erro, na maioria das vezes, não é fácil. [...] É importante diagnosticar como o erro se deu, sem o que será impossível encontrar a (s) causa (s) dele. Nessa fase é fundamental ouvir o aluno, conversar com ele com o objetivo de desvelar seu

pensamento e seus motivos. Feita a diagnose, convém propor ao aluno uma ou mais situações com as quais ele possa perceber a incoerência de suas respostas ou posições. Auxiliando o aluno a descobrir novas alternativas, podemos esperar que ele reformule seus conceitos, corrija o erro e, assim, evolua. (LORENZATO 2010, p. 50)

O uso desta metodologia pode fazer da sala de aula um espaço de reflexão,

com respeito, responsabilidade, interação e socialização.

E diante da necessidade de rever o processo avaliativo, nas aulas de

matemática, visando sair do processo de avaliação classificatória, rumo à avaliação

formativa, considera-se, a importante contribuição de D’ Ambrósio, em seu livro

Educação Matemática: da Teoria à Prática, que é o uso de relatório-avaliação:

Trata-se de um relatório escrito, reconhecendo que o mundo moderno exige a escrita em praticamente todas as ações. Além disso, é amplamente admitido que, por intermédio da escrita, o indivíduo pode mais facilmente reconhecer seu próprio processo cognitivo e assim encaminhar adequadamente esse processo. […] Mesmo em Matemática, a adoção de escrita vem sendo defendida. (D' AMBROSIO, 2012, p.65).

O que D’Ambrósio (2012) propõe, é uma prática diferenciada de avaliar o

aprendizado, esta que, reduz o caráter objetivo e privilegia o caráter subjetivo. É um

momento onde o estudante pode se expressar e nesse movimento ele tem a

possibilidade de superar dificuldades e desenvolver seu processo cognitivo.

Diante do exposto, na tentativa de mudança de metodologia, foram

desenvolvidas ações direcionadas, considerando toda a teoria aqui apresentada.

2 AÇÕES DESENVOLVIDAS

A pesquisa-ação de abordagem qualitativa iniciou-se com a revisão

bibliográfica. Seguida da elaboração da unidade didática e implementada com um

grupo de 25 alunos, aproximadamente 5% do total de alunos matriculados no

colégio.

A intervenção iniciou com a apresentação do projeto à equipe pedagógica e

direção, foi bem recebido, considerado como um desafio, que vem de encontro às

dificuldades encontradas no Colégio.

Com o objetivo de avaliar o conhecimento prévio, foi aplicado aos alunos um

pré-teste, este demonstrou que eles não conheciam as etapas de resolução de

problemas e apresentavam uma visão negativa em relação ao erro.

Este foi o ponto de partida, aprender o método de resolução de problemas,

resolvendo um problema processo, valorizando as fases conforme proposto por

Polya. As estratégias sugeridas pelos alunos eram registradas pela professora no

quadro, todas levaram a um mesmo resultado, no final da questão houve um erro e

ao fazer a revisão os estudantes o perceberam e compreenderam a importância da

revisão.

Na sequência foi realizado trabalho em grupos com resolução de problemas

envolvendo temas diversos e números naturais, que foi muito significativo. Cabe

ressaltar a necessidade de apresentar o problema colocando o estudante como

participante da ação que será realizada, sem entrar nos detalhes do que ele trata.

Diante dos questionamentos dos alunos, responder com outra pergunta, enfatizar as

fases de resolução, pois, muitos alunos não leem e chamam a professora, dizendo

que não sabem fazer. Nesse momento, é necessário mostrar que é preciso primeiro

compreender o problema e solicitar que voltem a ler. Agindo desta forma, o

professor incentiva o aluno a buscar e descobrir. E, aos poucos os estudantes

adquirem o hábito de ler até compreender e desenvolvem a autonomia para a

resolução de problemas.

Dentre as atividades propostas, destacou-se a que apresentava dados

referentes à Copa do mundo. Evidenciando que, é importante discutir e analisar, em

sala de aula, assuntos que estão em destaque na mídia. Os alunos ficaram

impressionados e mostraram sua indignação com os valores gastos. Houve um

pouco de dificuldade no início, em entender a tabela, momento este de ensinar

Matemática.

A atividade de elaboração de problemas, a partir de uma lista de preços de

materiais escolares, foi muito prazerosa e desenvolvida de forma compromissada

pelos alunos nos grupos. Usaram e mostraram criatividade, organizaram-se para a

execução da atividade.

Durante a socialização, aconteceu a análise dos erros com a turma e a

valorização do registro da estratégia para a compreensão da resolução. Pois, o

registro permite identificar a estratégia utilizada e possibilita a revisão, caso ocorra

algum erro, sem a necessidade de refazer tudo. O envolvimento na socialização de

início foi difícil, mas, ao final proveitoso. Os colegas apresentaram sugestões para

melhorar o texto do problema, mostrando que além de ler, passaram a analisar e

interpretar os problemas. No momento de socializar, nas primeiras atividades os

alunos demonstraram um pouco de timidez para falar, alguns não entendiam sua

própria letra. A maioria achava que estava falando apenas para a professora, com

tom de voz baixo. Neste momento, foi possível explicar sobre a postura ao

apresentar um trabalho e que tom de voz usar quando se fala para uma turma. A

princípio, evidenciou-se a necessidade da compreensão por parte dos alunos de

ouvirem e refletirem, a partir do ponto de vista de quem estava socializando sua

estratégia de resolução.

Os alunos gostaram muito da proposta de trabalhar em grupos. Mas, a

maioria não sabia como fazer. Em muitas situações, além de auxiliar na resolução

da atividade, foi necessário mediar pequenos conflitos, típicos da faixa etária. É

importante destacar que o trabalho em grupos dependo da turma, deve ser realizado

nas primeiras aulas, pois, ao final do período os alunos ficam muito agitados e o

rendimento é menor.

Para avaliar a aprendizagem, foi elaborado um relatório avaliação, sugerido

por D’Ambrósio (2012, p. 66), onde os alunos apresentaram de forma descritiva suas

considerações sobre as atividades e o que aprenderam a partir do que foi realizado.

Eles surpreenderam com os textos e reflexões referentes aos itens estudados.

Demonstraram avanços, apesar da dificuldade na leitura, interpretação e escrita.

Os dados obtidos no pré-teste e pós-teste, realizado com os 25 alunos da

turma onde foi aplicada a metodologia, mostraram resultados positivos, conforme os

dados indicados na tabela abaixo.

Tabela 1 – Resultados do Pré-teste e Pós-teste

Erro

Avaliação deve

acontecer diariamente

Uso das etapas de resolução

Estratégias

Autonomia Indica que deve

descon-tar nota

Indica que há

conteúdos a serem

aprofunda-dos

É desa-gradá-

vel Total Parcial Sem autonomia

Pré-teste 19% 52% 19% 77% 8% 16% 16% 0% 84%

Pós-teste 16% 60% 24% 84% 92% 52% 52% 40% 8%

Em relação à compreensão acerca dos erros nas atividades escolares, os

índices mostram avanços significativos, considerando o pequeno período de tempo

da intervenção. Uma vez que, avanços na área de educação, acontecem de forma

lenta por se tratar de questão cultural.

Questionados sobre a avaliação antes e depois da intervenção, constatou-se

a elevação do percentual de 77% para 84% dos alunos, que consideram importante

que a Avaliação de Matemática aconteça no dia a dia, pelo acompanhamento das

atividades desenvolvidas.

A análise do pós-teste, demostrou a segurança dos alunos em resolver os

problemas propostos, fato que se deve ao uso das etapas da resolução de

problemas. Também, foi possível perceber que os alunos adquiriram autonomia para

a resolução de problemas e passaram a utilizar estratégias diferentes de resolução.

Paralelamente à implementação foi realizada a análise do projeto por meio de

um Grupo de trabalho em rede (GTR), formado por professores da rede estadual de

educação, que aplicaram o projeto em suas respectivas escolas e apresentaram

suas considerações.

2.1 Sobre ensinar através da Resolução de problemas

A utilização da metodologia da Resolução de problemas, pela sua natureza

requer um trabalho com vários conteúdos ao mesmo tempo, fator que acaba com a

linearidade na abordagem dos conteúdos curriculares. Portanto, vem de encontro ao

que sugerem as Diretrizes Curriculares Estaduais de Matemática e também o

Caderno II do Pacto do Ensino Médio: “Os jovens estudantes de hoje têm cada vez

mais dificuldades de adaptação a esse tipo de escola organizada pela verticalização

de hierarquias e linearidade na forma de socialização de informações e

conhecimentos.” (caderno da temática II do Pacto do Ensino médio p. 47). No início

essa metodologia, pode assustar o professor, acostumado a pautar-se pela

linearidade, mas o trabalho mostra a aplicabilidade dos conteúdos no cotidiano e

assim, a Matemática ganha sentido, deixando de ser aquele conteúdo pronto,

acabado, exato, pensado e utilizado só por gênios e ganha sentido quando os

alunos percebem, que podem a partir de seus conhecimentos prévios, chegar a

novos conhecimentos e resolver problemas utilizando estratégias diferentes.

A aplicação desta metodologia apontou resultados positivos, conforme

podemos perceber pelos resultados do pré e pós-teste, onde foram aplicados aos

estudantes cinco questões, que exploravam conteúdos matemáticos, através de

situações problema e o objetivo era verificar se os alunos utilizavam as etapas da

resolução. No pré-teste, apenas 8% dos 25 alunos, demonstraram utilizá-las, esse

índice passou para 92% depois da intervenção. No pré-teste apenas 16% dos

alunos utilizavam estratégias próprias para a realização das atividades, o percentual

evoluiu para 52%. Quanto à autonomia do aluno na resolução de problemas, o pré-

teste indicava apenas 16%, se elevou para 52% com autonomia total, outros 40%

tiveram um avanço considerável e apenas 8% dos alunos não apresentaram

avanços.

O primeiro desafio aos professores consiste em compreender a metodologia

da Resolução de Problemas, abandonando a concepção de que a resolução de

problemas se faz ao final de um conteúdo, passando a utilizá-lo como uma questão

inicial, a problematização de uma situação que exigirá a utilização de um conteúdo.

Nessa proposta, segundo Dante (2003), cada aula ou conteúdo inicia com um

problema do tipo processo, onde o estudante é convidado a redescobrir o conteúdo.

Assim, o conhecimento é construído pelo estudante, que busca respostas a uma

questão e, para isso necessita ler, compreender, elaborar estratégias, executar um

plano e revisar, pois, conforme afirma Lorenzato (2010, p.3) “Ensinar é dar

condições para que o aluno construa seu próprio conhecimento.”

O segundo desafio, está relacionado à formação. Lorenzato chama a atenção

para a discrepância que existe entre o que é ofertado na formação acadêmica e o

que o professor precisa ensinar na prática:

[...] aqueles que cursaram a licenciatura de matemática sabem que nela estudaram matemática superior [...] e sempre pelo método dedutivo, repleto de demonstrações. Por isso receberam um diploma que lhes deu o direito de lecionar o conteúdo matemático que consta dos programas do ensino fundamental e médio e que deve ser ensinado de modo intuitivo, repleto de atividades experimentais [...]. (LORENZATO, 2010, p. 5-6).

Diante desta realidade, a solução é buscar na formação continuada,

embasamento teórico e num processo reflexivo com base na prática-pedagógica,

ousar, mesmo que no princípio pareça difícil. No desenvolvimento do trabalho,

percebeu-se a possibilidade de aplicação desta metodologia a todas as turmas do

Ensino Fundamental – Séries Finais e Ensino Médio, necessitando apenas adequar

os conteúdos.

Os professores cursistas do GTR concordam que, ensinar através da

Resolução de Problemas é uma possibilidade e pode trazer bons resultados.

Demonstraram ter consciência que a mudança é necessária, que o processo é lento,

requer toda uma mudança de postura do professor e também dos alunos, pois, eles

também estão acostumados com a passividade. De acordo com a professora P1:

“Nossos alunos estão acostumados a receber tudo pronto; [...]. Nós, professores

temos a obrigação de mudar essa forma de pensar. Acredita-se que esta

metodologia vem ao encontro desta necessidade pedagógica.”.

2.2 Sobre o trabalho em grupos

Ressalta-se o trabalho em grupo como um importante fator nesse tipo de

ação pedagógica. Inicialmente é preciso que haja a compreensão do que é trabalhar

em grupo, visto que, atualmente os estudantes, levados pela onda social do

individualismo e diante da agitação da vida, pensam somente em si mesmos, em dar

a sua resposta e muitas vezes não querem ouvir seus colegas.

Diante disso, foi preciso, ter bastante paciência e passo a passo mostrar a

importância do trabalho cooperativo. Algumas vezes, foi necessário resolver

pequenos conflitos entre eles, por questões normais para a faixa etária. Contudo, o

trabalho em grupo permite interação entre os estudantes, ajuda mútua e o professor

acompanha de perto as dúvidas de cada um, identifica as dificuldades frente aos

conteúdos e pode auxiliar individualmente ou no grupo a superá-las.

A socialização das soluções encontradas pelo grupo ou individualmente, foi

significativa para a aprendizagem. Essa oportunidade de socialização é assim

expressa por Lorenzato (2010, p.15): “Se acreditamos que só o indivíduo consegue

construir seu conhecimento e se desejamos auxiliá-lo a transformar-se num cidadão,

então é preciso permitir e incentivar que nossos alunos se pronunciem em nossas

aulas.” E, além de expor suas ideias, cada um também pode ouvir seus colegas,

perceber as fases/etapas de resolução e conhecer outras estratégias que, muitas

vezes eram mais simples e/ou rápidas de resolver. Para Lorenzato:

A experimentação é um processo que permite ao aluno se envolver com o assunto em estudo, participar das descobertas e socializar-se com os colegas. [...] A importância da experimentação reside no poder que ela tem de conseguir provocar raciocínio, reflexão, construção de conhecimento. [...] Facilita que o aluno levante hipóteses, procure alternativas, tome novos caminhos, tire dúvidas e constate o que é verdadeiro, válido, correto ou solução. Experimentar é valorizar o processo de construção do saber em vez do resultado dele, pois, na formação do aluno, mais importante que conhecer a solução é saber como encontrá-la. Enfim, experimentar é investigar. (LORENZATO, 2010, p. 72).

2.3 Sobre a análise de erros

Durante a intervenção pedagógica, procurou-se trabalhar com a análise dos

erros que ocorriam durante a realização das atividades. E, esse olhar diferente para

o erro, foi incentivado aos poucos também ao aluno, que através das perguntas do

professor, também passou a questionar-se diante de seus erros, bem como, em

muitos casos, entre os colegas, um procurava entender o erro do outro. Neste

sentido Lorenzato (2010, p. 50-51) afirma: “Na nova concepção de erro, este é

interpretado como parte natural, inevitável ao processo de aprendizagem. [...] O erro

é um indicador de (re) direcionamento pedagógico [...]. Mas é extremamente

importante corrigir o erro.”.

Assim a aprendizagem se torna significativa para os estudantes. E, questões

como, da punição pelo erro, do medo e da vergonha de errar, dão lugar a uma chuva

de ideias e hipóteses que vão sendo testadas pelos estudantes.

Nesse processo, a cada atividade olhando com atenção para as respostas

dos alunos e ouvindo-os, foi possível perceber, diante de seus acertos e erros o

conhecimento de cada um em relação ao conteúdo.

Nas palavras de Lorenzato, percebeu-se que a metodologia utilizada nesse

projeto contribui para o sucesso no processo ensino-aprendizagem, pois:

Mais do que deixar os alunos falarem, é preciso saber ouvi-los. Durante as aulas, os alunos se exprimem através da fala, da escrita, do olhar, de gestos; eles apresentam perguntas ou soluções, cometem erros, mostram suas dificuldades, constroem raciocínios, revelam seus vocabulários interpretações, insatisfações, [...] (LORENZATO, 2010, p. 16).

Após a aplicação da metodologia, reduziu o percentual de alunos que

entendiam que o erro indica que se deve descontar nota do aluno, passando de 19%

para 16%. Enquanto o percentual de alunos que afirmavam que existem conteúdos

a serem aprofundados, subiu de 54% para 60% após a aplicação da metodologia.

Percebeu-se o entendimento do erro como sendo parte do processo de

aprendizagem.

Uma questão importante a ser considerada, é que os alunos não estão

habituados a esse tipo de intervenção. Surpreenderam-se com os questionamentos

do professor sobre como chegou àquela resposta. Também, a quantidade de

atividades trabalhadas na aula é bem menor, contudo, a compreensão acerca do

que se faz é incomparável, pois, a problematização, seguida do processo de

resolução, socialização e análise dos erros enriquece de significado tudo o que foi

realizado e vem de encontro ao que o Ministério da Educação propõe: “Se aprende

fazendo, errando, refletindo sobre os erros (Caderno II – Sismédio, p. 32)”.

2.4 Sobre o uso do relatório avaliação

O encerramento da intervenção, com a aplicação do relatório avaliação

(D’Ambrósio, 2012), demonstrou a importância de ampliar o uso desse tipo de

instrumento de avaliação nas aulas de Matemática. Pois, possibilita ao estudante,

uma oportunidade de organizar internamente seu aprendizado e demonstra ao

professor o que ele realmente aprendeu sobre o assunto.

Lorenzato (2010, p. 42), destaca a importância de o aluno explicar, socializar,

ou escrever sobre o assunto estudado: “Devido à relatividade do simples, do

evidente e do acerto, torna-se altamente recomendável que os alunos verbalizem o

que estão vendo, fazendo ou pensando, para que o professor possa constatar o tipo

de aprendizagem que está acontecendo.”.

Os estudantes, que antes nem justificavam por escrito a resposta de um

problema, depois da intervenção, ao escreverem o relatório, não economizaram

palavras. Nos textos, puderam expor aquilo que aprenderam nas resoluções,

trabalhos em grupo, socializações e análises dos erros. Ao fazer o relatório,

sistematizaram o aprendizado, organizando as informações, primeiramente para si

mesmos, para depois passarem para o papel. Ao escreverem, alguns demonstraram

mais dificuldades que outros.

Na leitura dos textos elaborados pelos alunos, percebeu-se, além do

conteúdo, o que sabem e o que sentem diante do que estão estudando, como se

posicionam em relação aos colegas e à professora. As informações constituíram-se

em material riquíssimo, para o professor avaliar o processo ensino aprendizagem e

organizar as próximas atividades.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reflexão realizada a partir do desenvolvimento desta pesquisa-ação permitiu

compreender o papel determinante da ação pedagógica para o sucesso no processo

de ensino aprendizagem. Ao investigar se a aplicação da Metodologia da Resolução

de Problemas vinculada com a análise do erro como estratégia didática pode

contribuir no processo ensino aprendizagem, verificou-se avanços significativos. Em

sala de aula, o aluno se percebeu responsável pela construção do conhecimento,

desafiado a elaborar estratégias, rever as respostas e pensar em alternativas.

A formação continuada do professor é importante para a compreensão sobre

como ocorre o aprendizado e a importância da educação estar voltada à formação

integral, de um sujeito que tenha condições de transformar a realidade em que vive.

A ação pedagógica proposta neste trabalho exige do professor, pesquisa,

elaboração de materiais e atividades adequadas, uma vez que, deve trabalhar com

um problema significativo e a partir deste, desenvolver o processo de aprendizagem,

onde o aluno é sujeito, que busca respostas para problemas reais. Algo que pode

colaborar nesse sentido é a educação integral, pois, há necessidade de maior

disponibilidade de tempo para preparação das aulas, bem como, para o trabalho

com o estudante.

Esta metodologia permite o trabalho interdisciplinar, pois, é possível na

problematização, a utilização de situações reais e estas trazem aspectos que podem

ser abordados por outras disciplinas. Uma parceria que pode ser estabelecida é

entre as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, no que diz respeito à

revisão do relatório avaliação e reelaboração de problemas.

Mudanças significativas na metodologia exigem pesquisa, elaboração de

materiais, reflexão sobre a estratégia utilizada pelo estudante, análise de erros e

anotações que possibilitem a retomada da atividade. Por isso, sugere-se que seja

dado ao professor melhores condições para organização das atividades, entre elas

destacamos a efetivação de cinquenta por cento (50%) da carga horária do

professor para hora atividade.

As discussões realizadas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) confirmaram

a necessidade de mudança de metodologia, para que o processo ensino

aprendizagem aconteça com significado para o aluno. Assim, é possível afirmar que

um caminho para o enriquecimento do processo ensino aprendizagem está na

utilização da problematização, valorização da leitura, interpretação, oralidade e

análise do erro.

Tendo em vista que os últimos encaminhamentos pedagógicos realizados nas

capacitações para os professores da rede estadual do Estado do Paraná apontam a

necessidade da problematização de situações reais e a valorização da leitura. Assim

sendo, deixa-se aqui a sugestão para que estudos futuros sejam realizados no

sentido de pensar situações reais que possam ser problematizadas, trabalhadas de

forma interdisciplinar e a partir destas se estabeleça o processo ensino

aprendizagem.

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