Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – UEPG

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ARTIGO FINAL

ÁREA: LÍNGUA PORTUGUESA

NILDA REGINA DE CAMARGO DESPERTANDO O HÁBITO DA LEITURA ATRAVÉS DAS HQs

Artigo final, apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, 2013, na área de Língua Portuguesa para a obtenção do título de Professor PDE.

Orientadora: Profª Drª Cloris Porto Torquato

Telêmaco Borba 2014

RESUMO

São recorrentes entre os alunos do Ensino Fundamental a desmotivação

e o desestímulo ao participar de práticas escolares de leitura. Portanto,

este projeto, vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional,

desenvolveu ações no contexto escolar com o objetivo de ampliar as

práticas de leitura a fim de formar um leitor crítico, apto a participar das

práticas sociais com a escrita. O projeto foi desenvolvido no 7º ano do

Ensino Fundamental, na Escola Estadual Pe. José de Anchieta, no

município de Telêmaco Borba, no qual foram promovidas atividades com

o gênero textual tirinhas. As estratégias de compreensão dos textos lidos

trabalhada no decorrer do projeto levaram os alunos a ler como uma

necessidade pessoal, ampliando assim, o gosto pela leitura.

Palavras chave: Práticas de leitura- compreensão- tirinhas

INTRODUÇÃO

Este projeto, vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional,

busca apresentar os resultados da implementação que foi desenvolvida no

período de fevereiro a junho de 2014, no qual foram desenvolvidas, através

tirinhas de Calvin e Haroldo, do autor Bill Watterson, estratégias de leitura para

que os alunos compreendam o sentido real da leitura, assim, ,como algo

prazeroso pelo que está sendo lido. Outro objetivo desse projeto foi, portanto,

desenvolver, através das tirinhas, estratégias de leitura para que os alunos

compreendam também os propósitos implícitos e explícitos da leitura das

tirinhas e das HQs (inferências), bem como avaliando a consistência interna do

conteúdo expresso pelas tirinhas e sua compatibilidade com o conhecimento

prévio como interpretações, hipóteses, previsões e conclusões.

Para que essas atividades se tornassem motivadoras, e para que

atividade principal se tornasse viável, fez-se necessária uma pesquisa na qual

retornei como professora pesquisadora à escola onde este projeto foi aplicado

e fiz uma pesquisa junto aos alunos que estudavam na série onde se

desenvolveu a implementação deste projeto, fazendo questionamentos junto

aos mesmos sobre suas preferências de leitura. A turma, quase que em sua

totalidade, demonstrou real interesse pelas histórias em quadrinhos e, por esse

motivo, este projeto buscou trabalhar com um gênero próximo às histórias em

quadrinhos, que são as tirinhas, proporcionando estratégias de leitura nas

quais os alunos sentissem prazer na leitura e despertassem o hábito da leitura.

Este projeto priorizou os processos envolvidos no ato da leitura no qual o

aluno realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do

estudo das inferências, por exemplo e do conhecimento que já possuía a

respeito do assunto, sendo ele próprio quem escolheu esse gênero.

Dessa forma, as estratégias realizadas antes, durante e depois das

tirinhas auxiliaram a compreensão, levando o estudante a utilizar o

conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto da tira, a

identificar as coisas que não entendia e esclarecê-las, retrabalhando a

informação encontrada por meio das onomatopeias e expressões das

personagens das tirinhas, bem como a análise realizada a partir da

comparação realizada entre uma historia em quadrinho que se tornou filme.

No gênero HQ, é possível percebermos inúmeras possibilidades de seu

uso para leitura, suas peculiaridades não se esgotam, pois seus elementos, ao

mesmo tempo em que contribuem ao entendimento da leitura, conduzem o

leitor a refletir em cada pormenor, através das inferências, das expressões

faciais das personagens, bem como o prazer que pode acontecer por meio da

leitura quando essa é compreendida em sentido social, onde o leitor lê e

participa da história de maneira dinâmica.

No ensino de língua portuguesa, nosso foco pode ser auxiliar nosso

aluno a se tornar um leitor competente, por exemplo, aquele que busca

selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, os que podem atender a

uma necessidade sua. Um exemplo claro disso é quando se busca em um

jornal, aquilo que interessa saber diante de tantas outras informações.

A utilização das estratégias de leitura utilizadas nesse projeto

também foi considerada pela importância e necessidade de se trabalhar em

torno da diversidade do gênero HQ, o universo de recursos que ela representa

e as inúmeras possibilidades de explorá-las, buscando assim, a construção de

significados. Um dos aspectos trabalhados foi a relação das histórias e tirinhas

com outras linguagens, como o cinema, e com outros gêneros, como as

resenhas. O professor deve propiciar momentos para que sejam vivenciadas

situações onde o aluno que ainda não lê como um leitor competente possa

fazer uso desses recursos. SOLÉ(1998, p.89) salienta-nos que “Muitas das

estratégias são passíveis de trocas, e outras estarão presentes antes, durante

e depois da leitura”..

Dentre essas estratégias, citamos o estudo das inferências realizadas

quase que em todas as atividades propostas; podemos citar ROJO (2009, p

79), que afirma sobre a questão das inferências: “Nem tudo está dito ou posto

num texto. O texto tem seus implícitos ou pressupostos que também têm de ser

compreendidos numa leitura efetiva”.

Percebemos neste contexto que as tirinhas e HQs levam o leitor a fazer

uso dessas estratégias citadas por ROJO (2009), levando-se em consideração,

o grande número de inferências apresentados nesse gênero de leitura.

Vale ressaltar ainda que o professor tem um papel fundamental no

desenvolvimento de práticas de leitura dos seus alunos, na forma como

conduz as estratégias a serem exploradas para a efetivação do ler,

transformando nosso aluno em um leitor apto e capaz de praticar as

diferentes formas de leitura, ensinando-os a discutirem, analisarem e

tomarem posição diante dos fatos apresentados, não só na forma oral como

também na escrita, pois uma está intrinsecamente ligada a outra.

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

O referido projeto teve sua aplicabilidade no ano subsequente a

elaboração do projeto e do material didático e foi desenvolvido no primeiro

semestre desse ano de 2014, na escola já citada anteriormente, Pe. José de

Anchieta, com três turmas de 7º anos.

Na primeira semana de aula, durante a semana pedagógica, a equipe

técnico-pedagógica cedeu um espaço para que eu, professora PDE, fizesse um

relato do meu projeto para os demais professores, bem como a metodologia e

aplicabilidade do mesmo.

Nos primeiros dias de aula, a partir do dia 10 de fevereiro, foi feita a

explanação do projeto aos alunos, e teve início o desenvolvimento do projeto.

Estudo das inferências e análise linguística

Na semana primeira semana de implementação do projeto,

realizamos o estudo das inferências, estudo dos balões, análise das

expressões faciais, análise linguística através do estudo dos pronomes, como

nos mostra a tirinha abaixo:

TIRINHA3:

Fonte\: http://depositodocalvin.blogspot.com.br/

As questões orientadoras para leitura foram as seguintes:

1. No primeiro quadrinho, Calvin faz uma pergunta ao pai da qual ele já sabia a resposta. Qual foi seu propósito ao formular essa pergunta?

2. Explique porque Calvin usou a repetição do advérbio no último quadrinho:

3. Antes que ele terminasse sua fala, o pai teve uma reação violenta. Por quê?

4. Observe a expressão facial do pai de Calvin no primeiro, segundo e terceiro quadrinho. O que você percebeu?

Convém observar que as questões acima focalizam aspectos internos ao

texto, ainda que as questões busquem pensar o processo de interação que a

tirinha internamente recria.

Nesta etapa da implementação, os alunos mostraram-se bastante

participativos e motivados, realizaram todas as atividades propostas, que

consistiu na leitura e análise de oito tiras, e contribuíram com ideias e

sugestões.

Na semana subsequente, continuamos com a análise das inferências,

análise das expressões faciais, análise linguística através do estudo dos

pronomes e da escolha estilística usada nas tiras. O objetivo nesse processo

foi alcançado, pois os alunos conseguiram sistematizar e perceber as

inferências utilizadas nessa e nas demais tirinhas da sequência. A Análise das

expressões faciais das personagens também foram assimiladas pelos alunos.

Estudo dos balões e das

onomatopeias

ATIVIDADE1:

Fonte\: http://depositodocalvin.blogspot.com.br/

A partir da leitura do quadro que explicita a diversidade de balões e da

leitura da tira acima, os alunos refletiram sobre os tipos de balões e sobre as

onomatopéias no gênero tirinha. Foram trabalhadas, dentre diversas outras, as

seguintes questões:

Explicite o tipo de balão que aparece:

A. No 1º quadrinho:__________________________________

B. No 2º quadrinho:__________________________________

C. No 4º quadrinho:__________________________________

Essa questão pedia apenas a identificação dos balões, mas buscava

auxiliar o professor a refletir sobre o entrecruzamento verbal/não-verbal e como

o formato dos balões pode orientar a leitura das tiras e/ou das HQ.

Os alunos mostraram-se bastante entusiasmados, demonstrando

espírito de cooperatividade com colegas. Após o estudo de três tiras, o objetivo

nessa etapa também foi alcançado.

Linguagem verbal e não-verbal

Para o trabalho com linguagem verbal e não-verbal, associamos à leitura

das tiras a leitura de charge. Os alunos poderiam fixar-se na relação verbal e

não-verbal com um texto com menos informações mobilizadas ao mesmo

tempo.

htt

p://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteu

do=11

Algumas das questões trabalhadas na leitura da charge foram as

seguintes:

ATIVIDADE 1: 1. Observando a imagem acima, você a classifica como verbal ou não-verbal? 2. A imagem nos mostra o poder de manipulação que a TV exerce sobre as pessoas. Como você descreve esse controle televisível? ATIVIDADE 2: Cite outros exemplos de linguagem não-verbal:

A etapa do estudo da linguagem verbal e não-verbal foi realizada no mês

de abril. Os alunos mostraram-se participativos, todos realizaram a atividade

proposta, realizaram as inferências solicitadas a respeito da expressão facial

das personagens.

Atividades sobre o filme “Spider Man”

No mês de maio os alunos assistiram ao filme Spider-man com a HQ

do Homem Aranha em mãos. Dessa forma, fizeram uma análise, comparando

as semelhanças e diferenças entre a HQ e o filme que estava sendo exibido.

ATIVIDADE 1 1. Contar para a turma que todos irão assistir “Spider -Man”, filme que

teve origem a partir de uma HQ. Antes de assistir o filme, fazer as seguintes questões:

a. O que vocês sabem sobre o Homem Aranha? b. Como ele se tornou o Homem Aranha? c. Alguém conhece as HQs do Homem Aranha? 2. Distribuir algumas HQs do Homem Aranha para que os alunos

possam folhear e ler alguma história. É preciso ter um número suficiente de gibis para toda a turma. Essa atividade pode ser realizada com os alunos organizados em duplas ou trios.

3. Exibir o filme em seguida. Na sequência, pedir aos alunos que comparem as HQs com o filme.

4. Organizar um debate sobre as diferenças e semelhanças entre os dois gêneros: filme e HQ.

5. Pedir aos alunos que montem um esquema indicando algumas cenas do filme que eles reconheceram como semelhantes ou próximas dos quadrinhos das HQs.

Depois da análise do filme e de um volume da HQ, os alunos foram

orientados a produzir uma resenha. Desta forma, assim como em relação à

leitura da charge e do filme, obsejtiva-se ampliar o repertório de gêneros do

discurso trabalhados e a inserção em diferentes práticas letradas. Aprodução

da resenha foi orientada pelo seguinte enunciado:

ATIVIDADE 2: Elaboração de uma resenha oral do filme a partir do seguinte enunciado: Quando você assiste a um filme e conta para um amigo como ele é, o que esperava ver, se gostou dele, se vale a pena assistí-lo, você está resenhando o filme. Ou seja, a resenha é um tipo de comentário sobre alguma coisa que lemos, assistimos, ouvimos. Então, pode-se dizer que uma resenha tem um breve resumo, as expectativas, uma análise, uma recomendação. Pense, por exemplo, no dia seguinte a um grande jogo de futebol: os jornais (TV, rádio, jornal impresso) analisam, discutem, contam como foi o jogo, ou seja, eles estão apresentando a resenha do jogo. A mesma coisa acontece com as novelas. Repare que uma resenha não precisa ser necessariamente escrita: quando você contou para seu colega uma história de que se lembrava, você fez uma resenha oralmente!

REFERÊNCIAS

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Art. Med, 1988.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ªed. 6ª reimpr. Belo

Horizonte: Autêntica, 2003.

ROJO, Roxane. Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo:

Editora Parábola, 2009.

PORTAL EDUCAÇÃO. O que é onomatopeia. 2009. Disponível

em:< http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/7626/o-

que-e- onomatopeia#ixzz2fq27LNTV>. Acesso em: 11 out. 2014.

PORTAL EDUCAÇÃO. Violência na TV. 2010

Disponível:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conte

u do.php?conteudo=11>. Acesso em:12 out. 2014.

FILIPOUSKI, A. M. R.; MARCHI, D. M.; SIMÕES L. J.Governo do Estado do

Rio Grande do Sul_ Lições do Rio Grande- Secretaria da Educação –

Professor nota 10.

DEPÓSITOS DE TIRINHAS. Calvin & Haroldo. 1987. Disponível

em:http://depositodocalvin.blogspot.com.br. Acesso em: 10 out.

2014.

Beter Life With More Funn. Calvin and Hobbies. 2013. Disponível em:<

http://funy-images.blogspot.co.uk/2013/10/calvin-e-hobbes.html>. Acesso em

04 nov. 2014.

SIMÕES, M. de B. A. Textos & Linguagens, 5ª série: São Paulo: Escala

Educacional, 2005.

REVISTA NOVA ESCOLA. Filmes para trabalhar em sala de aula, edição

especial, julho, 2011, nº 37, p. 18.

PORTAL DO PROFESSOR – MEC. Disponível em : <

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=40626>.

Acesso em 10 nov. 2014.