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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CRIANÇA É CRIANÇA SEMPRE: UM RESGATE DE JOGOS E BRINCADEIRAS NO CONTEXTO ESCOLAR
Andreia Ducci Toninelo Zanetti ¹
Valdomiro de Oliveira ² Resumo: De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008), os Jogos e Brincadeiras são considerados conteúdos curriculares dentro da Educação Física e ambos compõem um conjunto de possibilidades que ampliam a percepção e a interpretação da realidade. Desta forma, o objetivo do presente estudo é verificar as possibilidades de resgatar Jogos e Brincadeiras tradicionais nas aulas de Educação Física do ensino formal. Materiais e métodos: esta pesquisa se constitui em uma proposta de trabalho nos moldes de uma pesquisa ação e foi desenvolvida com alunos de duas turmas do sexto ano do ensino fundamental, período vespertino do Colégio Estadual São Paulo Apóstolo, totalizando um total de sessenta e quatro alunos. Resultados: os resultados mostraram que, muitas vezes, os jogos e brincadeiras são situações oriundas da ausência de atividades lúdicas e prazerosas, que deveriam pertencer ao universo dos pré-adolescentes, uma vez que os mesmos estão perdendo, cada vez mais, as oportunidades de brincar. Percebeu-se que a televisão, os jogos eletrônicos, as redes sociais e as transformações do mundo urbano, têm contribuído para a diminuição de vivências lúdicas, principalmente em espaços abertos e também, na redução de experiências socializadoras reais, que são proporcionadas pela interação concreta com outro. Considerações finais: assim, conclui-se que se faz necessário proporcionar aos alunos dentro das aulas de Educação Física, momentos em que esses possam vivenciar Jogos e Brincadeiras tradicionais, resgatando e valorizando o brincar, pois, para muitas crianças este é o único momento de conhecer, praticar e interagir com tais Jogos e Brincadeiras resgatando, vivenciando e proporcionado transformações biopsicossociais através das aulas de Educação Física. Palavras chave: Resgate; Brincar; Proporcionar; Transformações; Educação Física. ABSTRACT: According to the Curriculum Guidelines of the State of Paraná Education (Parana 2008), Games and Play curricula are considered within the Physical Education and both comprise a set of possibilities that enhance the perception and interpretation of reality. Thus, the aim of this study is to investigate the possibilities of rescuing traditional games and Play in Physical Education from formal education. Materials and Methods: This research constitutes a job offer in the mold of an action research and has been developed with students from two classes of the sixth year of elementary school, the afternoon of the State College St. Paul the Apostle, totaling a total of sixty-four students. Results: The results showed that, often, the fun and games are situations arising from the lack of recreational and pleasurable activities, which should belong to the universe of pre-teens, since they are losing more and more opportunities play. It was noticed that television, video games, social networks and the changing urban world, have contributed to the decline of recreational experiences, especially in open spaces and also in the reduction of real socialization experiences, which are provided by the concrete interaction with another. Final considerations: so it follows that it is necessary to provide students within PE lessons, moments in which to experience these and Traditional Play Games, recovering and valuing the play, because for many children this is the only time learn, play and interact with these Games and play rescuing, living and offered biopsychosocial changes through physical education classes. Keywords: Rescue; Play; Provide; Transformations; Physical education. ¹ Professora de Educação Física, formada pela UFPR; participante do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná; Pós-graduada em Ciência do Movimento Humano.
² Doutor e Mestre em Ciências do Desporto Unicamp - 2002 e 2007; estágio pós-doutoral em Ciências Pedagógicas do Desporto no Instituto de Cultura Física de Moscou em 2010 e publicado em 2013 no Bolettin de Ciências do Desporto da Rússia; professor do programa de pós-graduação em Educação da UFPR.
INTRODUÇÃO
Este artigo está vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE) da Secretaria de Estado da Educação. Após um ano de estudo, elaborou-se
um Projeto de Intervenção Pedagógica objetivando uma produção didática para
alunos do sexto ano do Colégio Estadual São Paulo Apóstolo, tendo como objeto de
estudo, as origens históricas; a confecção de brinquedos e os elementos
contributivos envolvidos na prática dos Jogos e Brincadeiras tradicionais.
O projeto de estudo foi determinado pela percepção de que ao longo das
gerações as crianças foram ficando com menor tempo para ampliar seu repertório
motor e também estão mais propensas ao sedentarismo, tendo pouco contato com o
‘brincar’. Esta prática, com o passar do tempo, foi deixando de fazer parte da rotina
das nossas crianças. Hoje em muitos ambientes não é mais possível sair às ruas
para brincar, devido à falta de segurança: os espaços nas residências são
reduzidos, e para os pais e avós que cuidam das crianças quando não estão na
escola é mais seguro mantê-las em frente à TV, ao videogame e ao computador.
Assim, torna-se necessário resgatar o sentido da palavra brincar, pois
brincando a criança vive e respeita as diferenças individuais, estabelece vínculos
sociais, respeita as regras, descobre, inventa e desenvolve diferentes habilidades,
troca experiências e aumenta o contato com a diversidade cultural.
Sendo assim, após a aplicação da produção didático-pedagógica verificou-se
que as aulas de Educação Física são extremamente importantes, tratando-se de um
momento único, em que os alunos entram em contato com a atividade física,
melhoram suas aptidões e diminuem o sedentarismo. Pôde-se portanto, confirmar a
premissa de que é possível colocar em prática as brincadeiras em qualquer contexto
social, em todas as escolas, já que , “criança é criança sempre” .
Desta forma, o objetivo do presente estudo é verificar as possibilidades de
resgatar Jogos e Brincadeiras tradicionais nas aulas de Educação Física do ensino
formal. De forma específica: verificar o conhecimento dos pais sobre a vida dos seus
filhos nos jogos e brincadeiras e identificar o conhecimento acumulado dos pré-
adolescentes sobre os jogos e brincadeiras.
DESENVOLVIMENTO Jogos e brincadeiras tradicionais
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Física para Educação
Básica da Secretaria de Estado da Educação (2008), os conteúdos estruturantes da
disciplina são: o esporte, a ginástica, os jogos e brincadeiras, as lutas e a dança.
Neste trabalho foca-se o eixo: jogo e brincadeiras, e dentro desse, os jogos
tradicionais, tendo em vista os que fazem parte do patrimônio lúdico, cultural no qual
o aluno está inserido.
Segundo as Diretrizes Curriculares (2008, p. 66),
(...) os trabalhos com jogos e as brincadeiras são de relevância para o desenvolvimento do ser humano, pois atuam como maneiras de representação do real através de situações imaginárias, cabendo por um lado, aos pais e, por outro, à escola fomentar e criar condições apropriadas para as brincadeiras e jogos.
A palavra “jogo” tem origem no vocábulo latino lócus, locare que significa
brinquedo, folguedo, divertimento, passatempo sujeito a regras, ou uma série de
coisas que formam um todo ou uma coleção (FERREIRA, 2004).
Segundo Kishimoto (2005), a definição de jogo não é uma tarefa fácil, pois
conforme o termo é pronunciado pode - se receber significados diferentes. Os jogos
podem ser variados, como, jogos de criança, de adultos, xadrez, adivinhas, futebol,
amarelinha, brincar na areia, etc. Ainda para Kishimoto (2005, p. 13): “Tais jogos,
embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades.” No jogo de faz
de conta, existe a situação imaginária, ao brincar na areia, a manipulação do objeto,
no futebol e no xadrez regras padronizadas e outros que exigem além da
representação mental a habilidade manual para sua construção.
Percebe-se hoje, no decorrer das aulas, que as crianças não sabem “brincar”,
muitas só pensam em correr, brigar e bater. Isso reflete problemas contemporâneos,
pois a maioria dos pais não tem tempo para brincar com seus filhos, bem como a
violência cada vez mais presente no dia a dia, faz com que as crianças fiquem
dentro das suas casas, em frente à televisão, ou ao computador, reproduzindo
muitas vezes o que veem nos programas infantis de televisão, sendo que, na
maioria das vezes, o que mais as atraem são os programas de conteúdo violento,
fazendo com que as crianças tornem-se agressivas e acreditem que aquilo seja uma
forma de brincar.
Os jogos, assim como as brincadeiras tradicionais, foram se perdendo e em
alguns casos sofreram transformações como consequência da urbanização e da
industrialização. Antes as crianças brincavam nas ruas, em terrenos baldios, porém
hoje, como afirma Soler (2003, p. 135): “As crianças já não podem brincar livremente
pelas ruas, pois dois motivos as impedem: o crescente desenvolvimento das cidades
e a escalada da violência.”
Assim de acordo com Marcellino (2002, p.41):
(...) entre as tradições que vão sendo esquecidas, estão as antigas brincadeiras e jogos infantis, substituídos pela televisão, pelos brinquedos industrializados, e mais recentemente, pelas possibilidades abertas pelo mundo da informática, estas ainda restritas a determinadas camadas da população.
Os jogos e brincadeiras tradicionais são transmitidos de geração para
geração através da oralidade e fazem parte da cultura popular, porém muitas vezes
as gerações acabam adaptando à sua maneira de ser e de viver, fato este, que faz
muitas vezes que um mesmo jogo acabe sofrendo transformações, incorporando
adaptações e recebendo denominações diferentes.
Tanto os jogos quanto as brincadeiras são conteúdos que podem ser
abordados conforme a realidade regional e cultural do grupo tendo como ponto de
partida a valorização das manifestações corporais próprias desse ambiente cultural.
De acordo com Kishimoto (1993,p.15) “Enquanto manifestação livre e
espontânea da cultura popular, a brincadeira tradicional tem função de perpetuar a
cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de
brincar.”
Os jogos e brincadeiras na maioria das vezes apresentam regras, porém dão
a liberdade para que sejam adaptadas conforme o interesse do grupo.
Na concepção de Vygotsky (1998, citado por Sesnik, 2008, p.7):
O jogo facilita o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, portanto, jogo e brincadeira são atividades que permitem à criança assimilar e recriar as experiências sócio-culturais. È um fato social, espaço privilegiado de interação infantil e de constituição da criança como ser humano, produto e produtor de história e cultura.
Vários estudiosos abordam a importância do brincar para o desenvolvimento
e socialização da criança. Através de seus estudos o brincar passou a estar
presente na Educação Infantil. (PIAGET, 1976; VYGOTSKY, 1989; KISHIMOTO,
1993).
Ao brincar a criança cria estratégias, regras, têm atitudes que desenvolvem
seu potencial, cognitivo, afetivo, motor, social, intelectual, além de desenvolver a
socialização, a integração, a conexão entre o imaginário e o simbólico tendo assim
atitudes de respeito, confiança e aceitação. É importante lembrar que a brincadeira,
o jogo e o brinquedo estão muito relacionados entre si, e que são fundamentais para
a vida e para a aprendizagem no contexto da educação básica, desde o período
compreendido pela educação infantil até o ensino fundamental
Assim sendo, as brincadeiras são “excelentes oportunidades de
relacionamento, convívio e respeito entre as diferenças, de desenvolvimento de
ideias (sic) e de valorização humana, para que seja levado em conta o outro”
(PARANÁ, 2008, p.29).
As atividades lúdicas são de suma importância para o desenvolvimento da criança, pois brincando com a fantasia, a criança constrói uma ponte no tempo, revivendo o passado, experimentando no presente e projetando o futuro, transitando entre o mundo inconsciente e a realidade, complementando-as. Assim, devemos incentivar a criança na expressão de suas fantasias, no uso de sua imaginação, na realização de desejos que de outra forma, não poderiam ser satisfeitos (SCHWARTZ, 2004, p.6).
Bernardes (2006) afirma que através dos jogos e brincadeiras as crianças
estabelecem vínculos sociais, interagem com outras crianças, vivenciando desta
forma a amizade e a solidariedade, obedecem regras estabelecidas e também
propõem mudanças. Aprende a ganhar e perder.
É interessante salientar que os jogos e brincadeiras foram tema de estudo e
reflexão de muitos autores. Como afirma Kishimoto (1993), muitas pesquisas em
torno do jogo foram iniciadas no início deste século, muitos autores como, Piaget,
Vygotski, Wallon e Bruner, entre outros, destacaram a importância do ato de brincar
e jogar para o desenvolvimento humano.
Dentro da educação escolar, segundo Tezani (2004), “o jogo ocupa lugar de
extraordinária importância.” Portanto a autora observa que o jogo não é somente um
passatempo com o objetivo de divertir os alunos, pois demanda uma transformação
do sujeito, em que o jogo “(...) estimula o crescimento e o desenvolvimento, a
coordenação muscular, as faculdades intelectuais e a iniciativa individual. Estimula a
observar e conhecer as pessoas e as coisas do ambiente em que se vive”.
Fazer com que as aulas de Educação Física tornem-se um espaço para que
as crianças conheçam e vivenciem estes jogos e brincadeiras, proporcionando
novas descobertas e, com isso, refletindo diretamente no contexto social no qual
estão inseridos deve ser o objetivo do profissional da área.
Segundo Soler (2003, p.138):
Existem muitas razões para o brincar fazer parte de qualquer projeto sério da Educação Física, pois através dele a criança tem a sua independência aumentada, sua sensibilidade visual e auditiva é estimulada, a cultura popular é preservada, as habilidades motoras são trabalhadas, a agressividade é diminuída, a imaginação e a criatividade são muito exercitadas, acontece uma aproximação entre pessoas, e com certeza a escola cumpre o seu papel fundamental que é o transformar uma realidade difícil.
Portanto, os jogos e brincadeiras são considerados instrumentos
pedagógicos, pois, enquanto joga ou brinca, a criança aprende desde que esse
aprender se faça em um ambiente lúdico e prazeroso para a criança. Com isso,
deve-se fazer com que as aulas de Educação Física tornem-se um espaço para que
as crianças conheçam e vivenciem estes jogos e brincadeiras, proporcionando
novas descobertas, permitindo uma reflexão diretamente ligada ao contexto social
na qual estão inseridos.
De onde vêm os jogos e brincadeiras
Desde a Antiguidade o homem já jogava e brincava, isso se percebe através
dos desenhos representados nas cavernas. Por isso Huizinga (2007, p.10),
considera que “o jogo é uma função da vida”, faz parte da natureza humana.
Para Kishimoto (1993), os jogos e brincadeiras são aliados ao folclore da
cultura de um povo em um certo período histórico com características de anonimato
por não se saber quem foram seus criadores. Ainda, segundo Kishimoto (1993), a
origem dos jogos e brincadeiras brasileiras está na cultura dos povos que
colonizaram o país. Estudos indicam a influência de três raças nos primeiros séculos
de colonização, a raça branca, a raça vermelha e a raça negra, representadas pelos
portugueses, índios e africanos.
Algumas práticas que eram realizadas por adultos em seu trabalho ou em
atividades de guerra foram abandonadas, retornando posteriormente na forma de
brinquedos ou brincadeiras.
Segundo Santos (1997), temos como exemplo a pipa que era utilizada pelos
adultos de diferentes formas, servindo como portadora de mensagens aos deuses,
como dispositivo de sinalização militar, sendo que suas cores e seus movimentos no
ar serviam como forma de comunicação entre os campos militares. Muitos
concordam que seu país de origem foi a China, e que posteriormente viajou para o
Japão, para a Índia e depois para Europa No Brasil, a pipa chegou com os
portugueses e recebe diferentes denominações dependendo da região. No Rio
Grande do Sul e Santa Catarina é conhecida como cafifa, papagaio, quadrado,
piposa, pandorga. No Acre e Amazonas recebe a denominação de arraia ou pepeta.
Em Portugal é denominado papagaio de papel.
De influência portuguesa vieram ainda para o Brasil, os versos, adivinhas,
parlendas, jogos de bolinha de gude, pião, amarelinha, pedrinhas (cinco Marias) e
outros. De acordo com Cosmo (2009), com relação ao jogo das pedrinhas, também
conhecido como cinco Marias, três Marias, jogo do osso, onente, bato, arrios, telhos,
chocos e nécara, sua origem é pré-histórica. Na Grécia esse jogo era praticado tanto
por moças quanto por rapazes, e era presenteado as crianças quando estas
apresentavam um bom desempenho escolar. Na Grécia era conhecida como pentha
litha e em Roma de astragulus.
Segundo Cosmo (2009) esse jogo também era praticado pelos reis que
utilizavam pedras preciosas, marfim ou âmbar e pepitas de ouro. No Brasil costuma
ser jogado com pedrinhas, caroço de frutas, saquinhos cheio de areia. É jogado de
diversas maneiras, dependendo do contexto cultural de cada região.
O jogo de bolinha de gude teve sua origem na Grécia antiga onde as crianças
jogavam com castanhas e azeitonas e em Roma com nozes e avelãs. Era uma
brincadeira tão popular praticada nas ruas de Roma que o imperador César Augusto
chegava a parar na rua para assistir alguns desafios. Chegou ao Brasil por
intermédio dos portugueses e aqui recebe o nome de bolitas, jogo de bolinhas de
gude, inhaque, triângulo, mata-mata e papão. Apresenta regras diferentes que vão
sofrendo modificações e adaptações dependendo do local de onde é praticado.
As brincadeiras de imitar animais, arco e flecha e peteca tiveram origem
através dos índios. O jogo de peteca era muito apreciado principalmente pelos
adultos que utilizavam palha de milho e penas de aves para sua confecção.
Deram o nome de Pe’teka, que em tupi significa bater. No Brasil o jogo é
praticado tanto por adultos quanto por crianças. A peteca foi difundida no mundo nas
Olimpíadas de Antuérpia (1920), quando os atletas brasileiros nas horas vagas
brincavam com a mesma.
De origem africana temos: o caça ao tesouro, pegador ou pega-pega. No
Brasil as crianças negras durante a escravidão brincavam livremente caçando
passarinhos com bodoque (estilingues), nadavam em rios e algumas crianças
brincavam juntamente com os meninos brancos na casa grande, onde serviam ora
como companheiros para brincadeiras e em outros momentos eram maltratados
sendo feito como animal para ser montado.
A construção de brinquedos com materiais alternativos
Segundo Costa e Schötz (2009):
A criança aprende aquilo que vive concretamente, por isso, é importante que ela faça suas próprias descobertas através da manipulação, observação, transformação e exploração dos jogos, que lhe permitirão assimilar conceitos, integrá-los a sua personalidade e organizar o seu pensamento.
O material alternativo traz consigo o elemento da transformação, pois é algo
que passa a ser utilizado fora da forma habitual, onde se faz necessário a ação e a
imaginação da criança para que a brincadeira aconteça.
Os recursos do ambiente podem ser considerados grandes aliados no
desenvolvimento da criatividade. Nunca é demais enfatizar que todos os indivíduos
têm potencial, têm vocação de criador, podendo desenvolvê-lo em diferentes níveis
de intensidade. A criança é um ser muito curioso e que mesmo que lhe deem
objetos prontos, muitas vezes ela os desmancha e destrói, para ver de que são
feitos.
O manuseio de materiais alternativos em jogos e brincadeiras permite o
desenvolvimento das potencialidades infantis, dentro do ritmo, do interesse e das
necessidades de cada criança, além de possibilitar a criança a utilizar suas
habilidades manuais e sua criatividade.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação (2008), deve-se dar aos
alunos a oportunidade de construírem seu próprio brinquedo, fazendo com que os
mesmos deem outro significado a esses objetos e a essas ações enriquecendo com
isto suas vivências e práticas corporais.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Caracterização da pesquisa: população, amostra e tratamento dos dados
O projeto teve seu início em reunião pedagógica com o intuito de informar a
comunidade escolar sobre a importância do mesmo. O projeto foi apresentado aos
professores, funcionários, equipe pedagógica e direção. Este trabalho se constitui
em uma proposta de trabalho nos moldes de uma pesquisa ação e foi desenvolvido
com alunos de duas turmas do sexto ano do ensino fundamental, período vespertino
do Colégio Estadual São Paulo Apóstolo, totalizando um total de sessenta e quatro
alunos. Os instrumentos utilizados foram: a) questionário elaborado para o estudo
sobre o conhecimento dos pais sobre Jogos e Brincadeiras; b) questionário para os
alunos sobre seu conhecimento e pratica dos Jogos e Brincadeiras; c) jogos e
brincadeiras pré-elaborados aplicados aos alunos em diferentes aulas. Os dados
foram tratados pela analise de conteúdos das brincadeiras e jogos aplicados e
interpretação inferencial e coletiva das respostas dos questionários aplicados. Para
essas analises utilizou-se como apoio os estudos de TRIPP, David. (2005) que
retrata sobre a pesquisa ação.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Primeira etapa: apresentação do projeto aos alunos e um questionário aos pais
O projeto foi apresentado aos alunos, mostrando-lhes a importância do estudo
o qual eles estavam participando. Foi encaminhado um questionário aos pais com o
objetivo de fazer um levantamento de quais brincadeiras eles realizavam na sua
infância, onde brincavam; se brincam com seus filhos; se já haviam construído um
brinquedo com seu filho e qual a opinião deles sobre a forma de brincar de hoje.
Após o retorno deste questionário foi realizado uma discussão com os alunos
sobre as respostas obtidas das seguintes questões:
Quais brincadeiras eles realizavam na sua infância?. Onde brincavam?
Brincam com seus filhos? Já haviam construído um brinquedo com seu filho? Qual a
opinião deles sobre a forma de brincar de hoje?
Respostas:
“Muitos alunos perceberam que eles não brincavam como seus pais”. Que hoje eles estão
restritos a pequenos espaços e que muitos só ficam em frente à TV e ao computador. Esta
discussão foi relevante em dois aspectos: primeiro eles perceberam que não brincam e que
estão sedentários. Posteriormente houve relato de muitos alunos que ao conversarem com
seus pais, conheceram um pouco da infância deles. Muitos alunos comentaram que não
brincam com seus familiares, com a justificativa de que eles não têm “tempo”, pois durante a
semana seus pais trabalham e no final de semana querem descansar.
Na sequencia:
Foi apresentado aos alunos o quadro de Pieter Brughel, no qual os alunos
tinham que verificar na imagem - quais brincadeiras eles conheciam. Foi criado um
quadro com as brincadeiras encontradas e neste momento algumas observações surgiram,
pois as brincadeiras eram iguais, porém recebiam outros nomes por parte de alguns
colegas da classe. Neste momento foi interessante trabalhar com os alunos a questão
da diversidade cultural. Na sequência, começamos a trabalhar e também vivenciar
as atividades propostas.
A primeira atividade realizada foi o jogo do caçador.
Esta atividade era conhecida por todos os alunos, porém 90% dos alunos conheciam
como caçador e 10% como queimada. Em um primeiro momento foram discutidas as regras
e logo em seguida executadas, com a prática do jogo. Foi solicitado aos alunos que
pesquisassem junto aos familiares como eram as regras desta brincadeira e também que os
alunos criassem ou pesquisassem formas diferenciadas de jogar.
Durante algumas aulas foram colocadas em prática diversas formas
diferenciadas de jogar o caçador. Os alunos durante o decorrer dos jogos uniam
regras de jogos que eles haviam pesquisado.
Paralelo a prática
Após a professora dividir a turma em grupos, foi atribuído a cada grupo uma
brincadeira dentre as que foram propostas no projeto (caçador, peteca, cinco Marias,
bolinha de gude e amarelinha), e eles deveriam pesquisar a origem, formas de jogar,
variações dos jogos. Esse trabalho foi realizado nas aulas de Educação Física e
logo em seguida foi exposto para que outros alunos pudessem visualizar.
Trabalhou-se também, os jogos com a bolinha de gude.
De todos os alunos que estavam participando 40% já haviam brincado com esse jogo,
destes 20% haviam aprendido com os pais, os demais com vizinhos, tios e avós. Apresentou
se aos alunos, algumas formas de jogar bolinha de gude e também foi solicitado que
questionassem seus pais quais outras maneiras diferentes de jogar.
Nas aulas seguintes houve um entrosamento muito interessante entre os
alunos, pois muitos meninos orientavam as meninas com relação a algumas regras.
O interesse pela brincadeira foi tão grande que muitos alunos aderiram à brincadeira
no horário do recreio.
Outra fase do trabalho, foi a confecção da peteca.
Cada aluno criou sua própria peteca utilizando diversos materiais, tais como: jornal,
revista, TNT, garrafa pet, serragem, canudinhos, penas de galinha e areia. Após a confecção
da peteca foi proporcionado o manuseio, através do jogo propriamente dito estruturado a
partir de um mini campeonato e também de algumas variações sugeridas pelos próprios
alunos.
Durante algumas aulas foram realizadas diversas práticas, utilizando a
peteca que eles haviam confeccionado e tmbém foi realizado um mini campeonatp,
onde os alunos estabeleceram quais regras seriam utilizadas. Este mini
campeonato, chamou a atenção de outras turmas, fazendo com que as outras
professoras também realizassem esta atividade.
Na sequência foi trabalhado o jogo da amarelinha.
De todos os alunos participantes 25% já haviam brincado anteriormente, os demais
alegaram que achavam uma atividade chata e que era uma atividade feminina. Durante as
aulas foram expostas, aos alunos algumas formas de pular amarelinha. Em seguida,
proposto um desafio: Quem conseguiria chegar ao céu em tempo menor, sem erros. A partir
do momento que houve este desafio, percebeu-se uma motivação maior por parte dos
meninos.
O interessante nesta atividade foi observar que, enquanto ela estava sendo
aplicada em uma quadra, alunos do oitavo ano, que estavam em aula de Educação
Física ao lado, solicitaram a sua professora que realizasse também essa atividade.
A última atividade aplicada foi a brincadeira de cinco Marias.
Quando questionados a cerca dessa brincadeira, cerca de 90% dos alunos disseram
nunca ter brincado, porém já tinham ouvido falar. Então, solicitou-se que criassem as cinco
Marias, com a ajuda de seus familiares. Os alunos ficaram motivados com a brincadeira, pois
muitas mães e avós ensinaram algumas regras da brincadeira.
Quando a atividade foi proposta na prática, a grande maioria dos alunos já
tinha uma noção de sua significação, pois haviam sido orientados em casa. Esta
atividade também foi desenvolvida por alguns alunos no recreio.
Segunda etapa: aplicação de um questionário aos alunos sobre as atividades
apreendidas por eles nas aulas
Após o ensino de todas as atividades, foi aplicado um questionário junto aos
alunos, com objetivo de perceber se eles realmente gostaram das atividades
propostas até porque para muitos foi o primeiro contato com algumas brincadeiras.
Resultado da aplicação questionário aos alunos:
Muitos alunos relataram que gostaram das atividades propostas, e que
aprenderam formas diferentes de realizar as mesmas. De todas as atividades a que
os alunos mais gostaram foi: 1º- bolinha de gude; 2º- caçador; 3º- peteca; 4º- 5
Marias; 5º- amarelinha.
Na atividade da amarelinha ainda percebesse um certo preconceito por parte
dos meninos que ainda acham que a mesma é uma atividade feminina.
Com relação a confecção dos materiais os alunos gostaram de realizar esta
atividade e muitos relataram que houve o envolvimento da família. Alguns alunos
também abordaram o fato de terem confeccionado a peteca e as 5 marias para seus
irmãos.
Os alunos acharam importante a participação deles neste projeto e
perceberam que hoje é possível realizar tais atividades nas aulas de Educação
Física, sendo que a mesma não precisa ser necessariamente constituída de jogos
com bola.
Terceira etapa: Grupo de Trabalho em Rede (GTR).
Paralelo à implementação do Projeto de Intervenção foi realizado o Grupo de
Trabalho em Rede (GTR). Participaram 17 professores de diferentes cidades do
Paraná, sendo que 15 concluíram todas as etapas.
Durante o GTR, os professores tiveram a oportunidade de discutir sobre a
importância deste projeto, houve troca de experiências e alguns professores
contribuíram com atividades que poderiam enriquecer o trabalho. Também houve a
sugestão de encerrar a intervenção com uma atividade que encaminhasse o pai
para dentro da escola, onde pai e filho pudessem vivenciar algumas brincadeiras
dentro do espaço escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o ser humano a brincadeira é uma oportunidade de exercício do ser, em
que este vivencia ações de forma interativa com o outro, bem como compreende os
limites das regras e amplia as possibilidades experienciais com um brinquedo e/ou
brincadeira.
Os Jogos e as Brincadeiras, como conteúdos a serem trabalhados, criam uma
importante abertura para a cultura lúdica, tendo em vista que, os valores culturais
presentes nestas práticas, não podem ser ignorados pelo ensino escolar, bem como,
as contribuições de tais vivências, para o desenvolvimento integral do aluno (o físico,
o social, o cognitivo e o afetivo).
A escola é um lugar privilegiado para trabalhar o “brincar”, pois hoje as
famílias não estão dando conta de suprir esta necessidade lúdica do ser humano,
que é tão presente nas crianças e adolescentes. Assim, podemos e devemos
trabalhar a ludicidade nos diferentes eixos da Educação Física (Esporte, Dança,
Lutas e Jogos) de forma divertida e prazerosa principalmente nas fases escolares
que antecedem o ensino médio.
No decorrer do desenvolvimento deste projeto, pode-se perceber uma
aproximação entre pais e filhos, ou seja, a família mais presente na vida destas
crianças, uma vez que os alunos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco
sobre a infância de seus pais.
Através das aulas de Educação Física pôde-se desenvolver mecanismos
pedagógicos para atrair na criança o interesse pelas práticas da cultura corporal,
não só dentro da escola, mas também fora dela. É necessário resgatar os Jogos e
as Brincadeiras, mas também as crianças, proporcionando a elas práticas divertidas,
que outros presenciaram no passado, pois criança é criança sempre e devemos dar
valor a esta etapa da vida, pois ela é essencial na formação integral do ser humano.
Dessa forma entendemos que os objetivos iniciais traçados tais como: verificar as
possibilidades de resgatar Jogos e Brincadeiras tradicionais nas aulas de Educação
Física do ensino formal. De forma específica: verificar o conhecimento dos pais
sobre a vida dos seus filhos nos jogos e brincadeiras e identificar o conhecimento
acumulado dos pré-adolescentes sobre os jogos e brincadeiras foram alcançados.
Assim, concluímos que o resgate dos jogos e brincadeiras na escola deve ter
continuidade e uma certa constância em sua aplicação, pois eles trazem para as
crianças muitos benefícios psicológicos, motores afetivos e sociais.
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