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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
INTERTEXTUALIDADE COMO ESTRATÉGIA PARA LEITURA DE TEXTOS RELACIONADOS AO TERROR
OLIVEIRA, Cristiane Domingues de1 BALDIN, Fernanda Deah Chichorro2
RESUMO:Este artigo é resultado do estudo desenvolvido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) – 2014/2015 - apresenta e descreve a aplicação e os resultados obtidos na implementação do projeto de intervenção envolvendo alunos de 6ºano. O objetivo desse projeto foi desenvolver atividades que aprofundassem o interesse desses alunos pela leitura, pois nessa etapa escolar percebe-se que o aluno apresenta maiores dificuldades tanto na leitura como na escrita. Levando em conta esses fatores, fica evidente que a escola tem o papel fundamental de mostrar aos alunos caminhos para aprimorar o hábito da leitura por meio de gêneros textuais que chamem sua atenção e façam com que eles se envolvam com o trabalho. Com esse objetivo, utilizaram-se vários gêneros textuais e aplicaram-se a eles estratégias de leitura envolvendo o tema terror. O contato dos alunos com textos sobre esse assunto ampliou seu repertório, pois o trabalho com a compreensão permitiu solicitar a localização de informações e inferências. Foram utilizados diferentes níveis de contato com os textos que promovessem não só a leitura como também a escrita de histórias de terror pelos alunos envolvidos no projeto. Essa proposta contribuiu para a melhoria do ensino na turma em que foi realizada pois se desenvolveu uma metodologia de trabalho com textos que promoveram a interação e mediação no momento da leitura, levando sempre em consideração o contexto sociocultural e histórico do aluno, dando-lhe a oportunidade de tornar-se um leitor crítico e ativo. Palavras chave: textos. leitura. intertextualidade.
ABSTRACT:This article is the result of a study developed for Educational Development Program (EDP) - 2014/2015 – which introduces and describes the implementation and the results achieved in the implementation of the intervention project involving students who are in the 6th year. The objective of this project was to develop activities that deepened the interest of these students for reading, because in this school’s stage, one realizes that the student presents greater difficulties both in reading and in writing. Taking into account these factors, it is clear that the school has a fundamental role in showing students ways to improve the reading habit through genres that appeal to them and make sure they get involved with the work. To this end, they used various genres and applied them reading strategies involving the theme terror. The contact of students with texts on this subject has expanded their repertoire, for the work with the understanding allowed request location information and inferences. Different levels of contact were used with texts that promote not only reading but also writing horror stories by students involved in the project. This proposal contributed to the improvement of teaching, in the class in which it was carried out, because it has developed a methodology of work with texts that promoted interaction and mediation at the time of reading, always taking into consideration the socio-cultural and historical context of the student, providing opportunities for them to become both critical and active readers. Key words: texts. reading. intertextuality.
1 INTRODUÇÃO
1 Professora de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério - SEED, lotada no Colégio
Estadual Macedo Soares, Campo Largo, participante do curso referente ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2014. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora, graduada em Letras Português - Espanhol pela Universidade Federal
do Paraná, mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Professora do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da UFPR.
Este artigo é o resultado da Implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica no Colégio Estadual Macedo Soares, auxiliando na construção de
estratégias de leitura com alunos de 6º ano do Ensino Fundamental. Esses
alunos participaram de várias atividades envolvendo a leitura, as quais integram a
Produção Didático Pedagógico, material produzido durante o Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) com a finalidade de oportunizar aos alunos
da Rede Pública Estadual de Ensino o desenvolvimento da prática de leitura.
Tendo em vista que o desinteresse pela leitura tem prejudicado o
aprendizado, refletindo negativamente no rendimento escolar, direcionamos a
proposta de intervenção pedagógica para os alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental. Optou-se pela intenção de proporcionar aos alunos o hábito da
leitura com textos que chamassem sua atenção, ensinando-os a compreender,
entender as relações, inferências, informações a construir significados presentes
nos gêneros textuais relacionados ao terror e mistério.
O leitor enquanto ser social relaciona seu conhecimento de mundo com a
leitura e com o passar do tempo faz modificações, estabelece relações e assim
vai ampliando seu repertório de textos. Para Maria Helena Martins (1982, p.21) “a
interação das condições internas e subjetivas e das externas e objetivas são
fundamentais para desencadear e desenvolver a leitura”.
Considerando essas colocações observa-se que para o leitor assumir um
papel atuante, ele não pode apenas decodificar o texto, passando a ser um
receptor passivo nas leituras, mas deve engajar-se no texto, estabelecendo
relações com outros textos, sendo assim, ativo na construção de significados.
Desse modo é importante ressaltar que na escola muitas vezes as
atividades de leituras não correspondem ao que se afirma acima, pois muitos
textos são impostos e as atividades propostas são leituras descontextualizadas e
resumem-se a exercícios gramaticais.
Com base nisso elaborou-se um trabalho, seguindo a perspectiva sócio
interacionista tendo como função primordial o hábito da leitura por meio de
gêneros textuais diferenciados relacionados ao tema terror, trabalhando o
conhecimento prévio do aluno, permitindo a interação de conhecimentos e
promovendo uma aprendizagem significativa.
A abordagem teórica foi feita por meio do estudo de vários autores cujos
conhecimentos são imprescindíveis e se justificam por contribuir para que
professores tanto em formação inicial, como em formação continuada, possam
refletir sobre essa problemática e tenham condições de desenvolver
metodologias de ensino que levem a uma prática da leitura que contribua para a
formação de leitores competentes e críticos, proporcionando-lhes a oportunidade
de exercer seu papel na sociedade de forma crítica e efetiva.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 LEITURA
Ler não significa decodificar o texto, escrito ou não. É preciso unir
conhecimentos do leitor juntamente com o texto e fazer sentido. A familiaridade
com os textos das diferentes esferas sociais poderá desenvolver uma atitude
crítica. Para Brandão e Micheletti (2002, p. 9):
É um processo abrangente e complexo; é um processo de compreensão, de intelecção de mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: sua capacidade simbólica e interação com o outro pela mediação de palavras. O ato de ler não pode se caracterizar como uma atividade passiva.
É nesse momento da leitura as pessoas vão ampliando seu mundo e
entendendo-se mais. Desse modo entende-se que a leitura não é somente
decodificar símbolos, mas sim apresentar reflexão crítica, sendo esse um
processo de conhecimento e formação cultural. Para Maria Helena Martins
“Certamente aprendemos a ler a partir do nosso contexto pessoal. E temos que
valorizá-lo para poder ir além dele.” (Martins,1982,p.15)
A leitura na escola tem o objetivo de preparar o aluno, utilizando práticas
pedagógicas competentes, como sujeito de sua própria história, sendo crítico e
atuante no meio social. Para que isso ocorra a instituição precisa trabalhar com
seus alunos uma diversidade de gêneros que permitam uma reflexão crítica.
Segundo as Diretrizes Curriculares (2008) a leitura do indivíduo depende do
conhecimento de mundo, em que se constitui, ou seja, as suas vivências e
experiências. Desde os primeiros anos de escolarização a criança vai se
familiarizando com os textos e reconhecendo-os devido ao seu contexto social.
De acordo com Raquel Lazzari Leite
A leitura é, portanto, o resultado do vivido e do narrado. O entendimento do enunciado do texto não é posterior, mas se dá no próprio ato de ler quando interagem a historicidade do texto e a historicidade da própria ação da leitura. Envolve subjetividade e formação cultural.(Barbosa,1998,p.33)
Dessa forma, ressalta-se que o aluno quando chega na escola não é
considerado nulo, vazio de informações como afirmavam os autores de
concepções tradicionais. Até chegar a escola já teve uma vivencia de mundo, já
adquiriu conhecimentos que perpetuam em sua comunicação com os outros.
Esse aspecto é reiterado por Angela Kleiman, quando se assegura que o
entendimento do texto se realiza a partir do uso do conhecimento prévio.
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão (Keiman,1989, p.13)
Percebe-se assim que o aluno ao ler um texto precisa necessariamente
fazer ligações com outras leituras para haver a compreensão. Por isso, a escolha
de textos é muito importante para se trabalhar em sala de aula, pois implicará no
conhecimento prévio dos alunos.
Daí a importância de leituras interessantes e motivadoras pelas quais o
aluno conseguirá relacionar com suas vivencias, lembranças, fornecendo assim
possíveis pistas para o entendimento textual e ao mesmo tempo fazendo com
que reveja suas opiniões e possa construir repertório.
2.2 GÊNEROS TEXTUAIS
Para Bakhtin (1999) a linguagem é considerada um fenômeno social,
histórico e ideológico. Assim o autor nos explica que os gêneros textuais são
elaborados de acordo com a situação em que se exige a comunicação verbal e
que varia de acordo com o contexto histórico envolvendo tempo, espaço,
participantes e finalidade em que foi elaborado.
Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. (BAKTHIN, 2003: 261).
Os gêneros não se substituem, mas sim surgem de acordo com a
necessidade humana que ocorrem por meio de mudanças sócio-históricas e
culturais e que são interpretados de acordo com o conhecimento prévio de cada
um. Para Koch (2002,p.61) “todo texto constitui uma proposta de sentidos
múltiplos e não de um único sentido, e que todo texto é plurilinear na sua
construção”.
Sendo assim, o sujeito inserido na sociedade interage por meio de
oportunidades comunicativas que os gêneros textuais oferecem. Essa
manifestação é individual, pois cada sujeito organiza os elementos de expressão
de acordo com o seu conhecimento adquirido no meio social. Para
Bazerman,(2007,p.23) “Gêneros podem [...] assinalar para nós a situação e a
ação, projetando o contexto invisível. O leitor e o escritor precisam do gênero
para criar um lugar de encontro comunicativo legível da própria forma e conteúdo
do texto.”
Assim percebe-se que o texto é compreendido através da interação. O
leitor poderá de acordo com sua história apropriar-se de múltiplas e variadas
maneiras de leituras. Os gêneros textuais são elementos dinâmicos, ou seja, se
modificam, desaparecem e surgem novos devido a necessidade sócio-cultural de
um povo. A ligação que existe entre um texto e outro chamamos de
intertextualidade. Segundo Marcuschi (2003) “ um texto dialoga com outros
textos”. Kristeva (1974,p.64) afirma que “todo texto se constrói com um mosaico
de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”.
Desse modo, ressaltamos a importância de desenvolver, no cotidiano da
sala de aula, práticas intertextuais e dialógicas, visando habilidades de leitura e
de acordo com os PCNs é papel do professor planejar, atribuir e fazer o
direcionamento das respectivas atividades, ajudando e orientando o aluno e sua
reflexão, garantindo assim a aprendizagem sistematizada.
Segundo Martins (1997), a sala de aula é um lugar onde deve ocorrer o
conhecimento sistematizado através da interação entre alunos e professor. Essa
reflexão tem base na teoria de Vygotsky que explica o processo da interação no
contexto educacional tendo em vista o papel pedagógico em sala de aula,
essencial para a construção do saber.
É nesse sentido que os PCNs insistem para o processo de ensino e
aprendizagem na escola, pois através da mediação o aluno irá refletir e socializar
sobre o conhecimento adquirido, podendo transformar seu espaço social.
2.3 BREVE ENTENDIMENTO DO TEMA: TERROR
O tema terror vai abordar geralmente o que é sobrenatural, misterioso,
incompreensível, inquietante, ou seja, tudo que causa medo.
Para entender melhor esse tema faz se necessário uma reflexão sobre a
literatura gótica sempre presente as histórias que causam medo, terror e horror,
ocorrendo sempre em lugares sombrios e aterrorizantes, normalmente castelos
medievais abandonados e cemitérios mal-assombrados. Para Sandra Guardini
Vasconcelos (2002, p. 122), “reação aos mitos iluministas, às narrativas de
progresso e de mudança revolucionária por meio da razão, o gótico surge para
perturbar a superfície calma do realismo e encenar os medos e temores que
rondavam a nascente sociedade burguesa”. Segundo a autora, este tipo de
literatura chega na época com a intenção de levar as pessoas ao imaginário do
medo e as pessoas passam a ver o individuo como objeto, enfraquecidas e sem
sentido para a vida, tornando seu ambiente mórbido, lúgubre, sombrio e triste.
Durante a Idade Média época em que predominava o religioso, muitas
histórias surgem sobre o fantástico e o macabro. O medo e o horror se tornam
predominantes no interior do homem, ligado a busca das origens.
A arte gótica se torna então conhecida e admirada pela arquitetura
arrojada, permitindo ao homem construírem castelos e fortalezas resistentes.
Estes castelos se tornam cenários de histórias e lendas ligadas ao místico e
sobrenatural.
No final do século XVIII muitos escritores e artistas em geral visitam essas
construções e acabam produzindo obras que são contadas e admiradas até hoje
como: Frankenstein (Mary Shelley), Drácula (Bram Stoker),O corvo (Edgar Allan
Poe), As flores do mal (Charles Baudelaire) e muitas outras.
Segundo (CANDIDO 2006,p.63)
A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento de conceber e executar, quanto do receptor, no momento de sentir e apreciar.
Esse tema trabalhado em sala de aula por meio de vários gêneros textuais
pode contribuir nas propostas pedagógicas, ampliando a noção de leitura dos
alunos. MARTINS nos assegura que:
Vista num sentido amplo, independente do contexto escolar, e para além do texto escrito, permite compreender e valorizar melhor cada passo do aprendizado das coisas, cada experiência. Incorpora-se, assim, ao cotidiano de muitos o que geralmente fica limitado a uma parcela mínima da sociedade: ao âmbito dos gabinetes ou salas de aula e bibliotecas, a momentos de lazer ou busca de informação especializada. Enfim (...), o ato de ler permite a descoberta de características comuns e diferenças entre os indivíduos, grupos sociais, as varias culturas; incentiva tanto a fantasia como a consciência da realidade objetiva, proporcionando elementos para uma postura critica, apontando
alternativas. (MARTINS,1982,p.29)
O embasamento teórico da literatura gótica nos leva a refletir sobre a
emoção mais forte e mais antiga do homem que é o medo do desconhecido
através de personagens místicos encontrados nas narrativas, telas de cinema,
HQ, canções, etc., relevantes e importantes para o tema do projeto, visto que se
elaborou a unidade didática trabalhada no projeto a que se refere esse artigo.
3. Análise e discussão dos resultados
Descrição das Atividades de Intervenção
A intervenção pedagógica realizada contou com a participação dos alunos
de uma das turmas de sexto ano do Ensino Fundamental, os quais participaram e
se envolveram totalmente nas atividades propostas pelo projeto.
As ações previstas foram trabalhar com diversidade de gêneros a fim de
que os alunos os identificassem e percebessem sua importância efetivando um
processo mais dinâmico e interativo em sala de aula. Os textos foram
selecionados e adaptados durante o trabalho de construção da Produção
Didático-Pedagógica de acordo com o público alvo, levando em questão a idade
dos alunos e principalmente a fim de possibilitar reflexões e mudanças de hábito
em relação a leitura, ensinando o aluno a compreender, entender as relações,
inferências, informações e significados presentes em textos relacionados ao
terror e suspense.
Para a implementação da unidade didática propôs-se a realização de seis
etapas:
Primeira etapa
Foi apresentado o tema do projeto e em seguida um levantamento dos
conhecimentos prévios dos alunos sobre o hábito da leitura por meio de dois
vídeos, sendo o primeiro apenas para discussões orais e o segundo com registro
em caderno e perguntas elaboradas. A observação e questionamentos serviu de
base para uma investigação a respeito do hábito de leitura dos alunos. Percebeu-
se que alguns alunos apresentavam interesse pela leitura, pois relataram ter lido
vários livros como de aventuras e outros alegaram ler apenas o gênero
quadrinhos, por ser rápido e fácil.
Segunda etapa
Nessa etapa os alunos tiveram o primeiro contato com as marcas do tema
terror através de questionamentos pela professora e dos alunos. Contaram as
histórias que já ouviram, filmes, música entre outros. Após os questionamentos
sobre o tema, os alunos receberam uma caixinha contendo várias palavras
relacionadas ao terror para em seguida elaborarem frases representando o tema
proposto. Para essa atividade foi repassado aos alunos um texto como modelo a
fim de facilitar a produção do exercício. Ao final das produções os alunos
apresentaram para a turma. Percebeu-se que estavam envolvidos com as
atividades, pois todos queriam ler seus textos e comentar dos colegas.
Terceira etapa
Essa etapa chamou muito a atenção dos alunos devido a contação da
história de terror “Devolva minha Aliança de Rosa Amanda Strausz”. Os alunos
confeccionaram figuras a respeito do tema para decorar a sala e tornar a leitura
mais dinâmica.
No momento da leitura do conto foi colocado uma música de fundo
abordando o tema terror. Percebeu-se silêncio e concentração suscitando
suspense e medo. Antes de ler o final, os alunos puderam imaginar o desfecho e
comparar com o final verdadeiro. Após ler o texto na íntegra todos queriam
comentar as passagens interessantes da história, levando a uma ótima aceitação
do assunto. Nesse trabalho com o conto foi possível apresentar as diferenças do
texto de terror com outros. Além da interpretação foi possível explorar os
conceitos e aspectos que estão relacionados às histórias de terror e a
importância de circulação do gênero.
Os alunos receberam questões do texto para interpretação escrita e logo
após foi colocado na TV pendrive uma imagem representando o terror para
possível descrição e finalizando a etapa foi repassado um caça palavras com
palavras sobre as reações que o medo pode causar. Esse tema medo foi
abordado com mais detalhes na próxima etapa.
Quarta etapa
Após a atividade com o conto comentou-se sobre os possíveis medos que
os alunos possuíam, estabelecendo relações entre os próprios medos e os dos
colegas, conscientizando-se deles através do livro dos medos3. Antes da leitura
do texto foram exploradas as diversas informações do livro como título, autora
3 Organização H Eloisa Projeto. São Paulo: Companhias das Letrinhas, 1998, p. 37. MEDO?
TODO MUNDO TEM!!! O texto escolhido do livro foi MEDO? TODO MUNDO TEM!!! Silvinha Meirelles
organizadora e demais autores, editora, índice, etc. A leitura do texto foi feita pela
professora, valorizando ritmo e entonação. Ao término da leitura abriu-se espaço
para que os alunos dissessem o que sentiram e o que perceberam durante a
leitura, inclusive destacando e discutindo os pontos que mais chamaram a
atenção. Em seguida receberam perguntas sobre o assunto para que
registrassem no caderno.
No final da etapa os alunos receberam folhas sulfite para que ilustrassem e
escrevessem sobre seus maiores medos e após todos leram para a turma. Nessa
atividade percebeu-se que alguns alunos tinham medo não de histórias de terror,
mas de perder seus entes queridos e a preocupação a respeito do que pudesse
acontecer após uma situação de medo e insegurança. Eles puderam relatar
também de suas inseguranças em sala de aula como quando recebem uma
prova, uma apresentação em público, etc.
Quinta etapa
Foram propostas nessa etapa três diferentes gêneros: anúncio publicitário,
poema, música e tirinha a fim de analisarem e reconhecerem as funções dos
gêneros e suas diferenças.
Os alunos receberam os gêneros textuais fotocopiados. A leitura em voz
alta foi realizada por alguns alunos e houve comentários a respeito das imagens,
linguagem utilizada e características dos gêneros. As atividades com perguntas
tiveram registro nos cadernos dos alunos e finalizando a etapa como uma
proposta de produção, utilizando o texto 2 (tirinha) no qual os alunos criaram
diálogos das personagens. Após, leram e fizeram comparações com a dos
colegas. Os textos foram bem aceitos e isso pôde ser percebido pelos alunos
terem participado e exposto suas opiniões, fazendo questionamentos e até
mesmo sugestões de tirinhas e poemas como por exemplo o "Sobrenome" de
José Paulo Paes no qual se cita o personagem Frankestein, entre outros.
Sexta etapa
O projeto finalizou-se com a produção de contos de terror em que os
alunos produziram textos durante várias aulas, pois foram feitas várias reescritas
até a produção final. A atividade foi feita em sala através de pequenos grupos os
quais apresentavam seus textos para possíveis correções, gerando um trabalho
bastante árduo, mas com um resultado significativo. Cada grupo primeiramente
desenhou gravuras sobre o tema terror e dependurou em um varal de forma que
os membros dos outros grupos, ao olharem o varal, reconstruíssem a história
imaginada pelo grupo que confeccionou. Foi muito divertido e dinâmico, pois os
alunos já queriam imaginar as histórias através dos desenhos e começar a contar
oralmente. Foi preciso muita conversa para que compreendessem que haveria o
momento certo para a contação da história. Percebeu-se que os alunos ficaram
muito envolvidos com a atividade, pois todos os integrantes dos grupos
conversavam e discutiam a respeito dos desenhos.
Com os textos prontos os alunos enfeitaram a sala com figuras sobre o
tema, levamos alguns objetos como chapéus de bruxa, velas, almofadas entre
outros e música de fundo afim de tornar a roda de leitura mais prazerosa e
dinâmica e com muito suspense.
Durante a implementação do projeto em sala de aulas acontecia, o Grupo
de Trabalho em Rede (GTR), um grupo de discussão on-line, no qual os
professores participantes puderam debater e questionar sobre o material
produzido. Foi de muito importante e gratificante a participação dos colegas da
rede pública no GTR, pois percebi a mesma preocupação que muitas vezes nos
angustiam perante uma sala de aula a respeito da falta de leitura de nossos
alunos. Os depoimentos e sugestões dos professores cursistas ajudaram na
aplicação do projeto, pois foi possível compartilhar atividades, textos e opiniões
afim de melhorar o trabalho realizado em sala de aula.
A implementação do projeto desencadeou uma procura maior por textos
relacionados ao terror e mistério na biblioteca da escola. Alguns livros foram
indicados pelos próprios alunos para fazerem parte do acervo e outros foram
comprados aumentando assim o número de livros na biblioteca, fomentando a
prática da leitura.
Considerações finais
O projeto intitulado “Intertextualidade como estratégia para leitura de
textos relacionados ao terror” ancorando-se na perspectiva sócio interacionista
oferece ao professor de Língua Portuguesa subsídios teóricos e práticos os quais
pretendem permitir a interação de conhecimentos e promover uma aprendizagem
significativa.
A intervenção pedagógica na escola mostrou que trabalhar com o tema
terror abordando vários gêneros textuais em especial com alunos do 6º ano
contribui para o incentivo a leitura, pois os textos chamam a atenção dos alunos,
amplia o seu repertório, ampliam a compreensão, solicita a localização de
informações e inferências. Os textos relacionados ao tema terror têm despertado
grande interesse pela leitura, pois brincam com os seus medos, lidam com o
desconhecido e dividem opiniões, podendo assim contribuir para a formação de
leitores capazes de adentrarem nos textos com segurança, habilidade, permitindo
assim uma reflexão crítica.
O trabalho possibilitou aos alunos uma tentativa de diminuir o desinteresse
pela leitura por meio de atividades que também buscassem melhorar o seu
desempenho em sala de aula. Através de trabalho diferenciado podemos
perceber que em Língua Portuguesa o aluno amplia seu vocabulário e as
possibilidades de leitura, se torna mais participativo, fazendo questionamentos
sobre o tema, possibilitando assim que os alunos possam desenvolver uma
escrita com muito mais informação. Claro que devemos ressaltar que para se
chegar ao resultado final foi possível muito treino com várias atividades de leitura,
interpretação dos textos e reescrita.
Alguns desafios permanecem, como a percepção de que é preciso
trabalhar ainda mais a questão da identificação dos gêneros, leitura e a produção
escrita, de modo que o aluno compreenda as funções dos textos e ainda saibam
expor na escrita suas interpretações de forma clara e objetiva.
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