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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · EFMP de Nova Laranjeiras – Pr. O projeto ressalta a obra literária “Memórias da Emília” de Monteiro Lobato, pois a narrativa

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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A PRODUÇÃO DE NARRATIVAS DE MEMÓRIAS

Lídia Provin1

Raquel Terezinha Rodrigues2

Resumo: O presente artigo contempla a produção de narrativas memorialísticas proporcionando ao aluno ser sujeito do processo de construção do conhecimento e escritor de histórias de vida. Este trabalho é resultado da Implementação de um Projeto que enfatiza a Memória Literária e uma Unidade Didática planejada e norteada pelo Método Recepcional, aplicada a alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Rui Barbosa – EFMP de Nova Laranjeiras – Pr. O projeto ressalta a obra literária “Memórias da Emília” de Monteiro Lobato, pois a narrativa é arte a qual encanta e instiga. Assim sendo, além da leitura e análise da obra, buscou-se proporcionar aos alunos o desenvolvimento de atividades valorizando o conhecimento de mundo e as histórias dos mesmos, produção de autobiografias, bem como pesquisa de histórias de vida e produção de narrativas em 3ª pessoa. Logo após, foi elaborada coletânea com os textos escritos e disponibilizada uma cópia para cada aluno. Desta forma, podemos comprovar que Memória é um tema relevante que favorece o despertar da consciência do aluno quanto a sua importância na sociedade em que vive e de seu potencial em ser um sujeito escritor, pois norteia ações que visam melhorar o discurso, enaltecendo a parte escrita. O registro do resgate cultural é de extrema importância como meio para o aperfeiçoamento da linguagem e do registro de narrativas de memórias, escrevendo e reescrevendo a vida.

Palavras-chave: Memórias – Narrativas – Produção.

1¹Professora PDE 2013, graduada em Letras-Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas, Pr - (FAFI) no ano de 2000. Especialização em Administração, Supervisão e Orientação Educacional pela Universidade Norte do Paraná - (UNOPAR), de Londrina, no ano de 2001. Professora de Língua Portuguesa e Inglesa no Colégio Estadual Rui Barbosa – EFMP na cidade de Nova Laranjeiras – Paraná. Email: [email protected]

2²Orientadora, Professora Doutora Raquel Terezinha Rodrigues, graduada em Pedagogia e Letras-Português/Francês pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Doutora em Pedagogia e Letras-Português/Francês pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); Professora na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO). Email:[email protected].

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1. INTRODUÇÃO

O Programa de Desenvolvimento Educacional(PDE) oportuniza aos

professores um estudo significativo buscando proporcionar aos mesmos o

desenvolvimento de produções didáticas que vêm contribuir para a educação. Desta

forma, os professores, conscientes de sua responsabilidade no auxílio da formação

do indivíduo e embasados nas leis educacionais, têm buscado este aperfeiçoamento

compreendendo a necessidade de inovar, utilizando metodologias que favoreçam o

caminho da construção do saber.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 assegura no

Art. 1º: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida

familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,

nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais”. (BRASIL, 1996). Desta forma, os docentes têm uma grande

responsabilidade em nortear suas ações visando o aprimoramento da educação.

Neste contexto, a linguagem é caminho para a interação social e a cognição em

todas as disciplinas.

Segundo as Diretrizes Curriculares de Educação Básica do Estado do Paraná

(PARANÁ, 2008), o ensino de Língua Portuguesa norteia-se pelo Conteúdo

Estruturante: Discurso como Prática Social. Cabe à escola proporcionar a leitura, a

escrita e a oralidade, ou seja, o desenvolvimento da linguagem que acontece pela

necessidade de interação social. Desta forma, “assume-se a concepção de

linguagem como prática que se efetiva nas diferentes instâncias sociais [...]”

(PARANÁ, 2008, p. 62-63), ou seja, é através da interação entre sujeitos, na forma

oral ou escrita que o discurso se concretiza. Paraná cita que:

É nos processos educativos, e notadamente nas aulas de Língua Materna, que o estudante brasileiro tem a oportunidade de aprimoramento de sua competência linguística, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade. É na escola que o aluno, e mais especificamente o da escola pública, deveria encontrar o espaço para as práticas de linguagem que lhe possibilitem interagir na sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instâncias públicas e privadas. Nesse ambiente escolar, o estudante aprende a ter voz e fazer uso da palavra, numa sociedade democrática, mas plena de conflitos e tensões. (PARANÁ, 2008, p.38).

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Ainda de acordo com Paraná, faz-se necessário que se possibilite ao aluno

momentos de leitura literária, produção oral bem como escrita. “O trabalho com a

Literatura potencializa uma prática diferenciada com o Conteúdo Estruturante da

Língua Portuguesa (o Discurso como prática social) e constitui forte influxo capaz de

fazer aprimorar o pensamento trazendo sabor ao saber”. (PARANÁ, 2008, p. 77). A

escola é espaço de interação que deve promover essas atividades de uso da língua

e por meio de palavras o sujeito aprimore o seu saber, a sua linguagem:

[...] é no texto – oral ou escrito – que a língua se manifesta em todos os aspectos discursivos, textuais e gramaticais. Por isso, nesta prática pedagógica, os elementos linguísticos usados nos diferentes gêneros precisam ser avaliados sob uma prática reflexiva e contextualizada que lhes possibilitem compreender esses elementos no interior do texto. (PARANÁ, 2008, p. 82).

Desta forma, este projeto terá o Método Recepcional como norteador da

sequência de atividades, mencionado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de

Aguiar, segundo a Estética da Recepção de Hans Robert Jauss. Este método, que

tem enfoque no leitor, visa um encaminhamento metodológico baseado em cinco

etapas: determinação, atendimento, ruptura, questionamento e ampliação dos

horizontes de expectativa.

Optou-se por esse encaminhamento devido ao papel que se atribui ao leitor, uma vez que este é visto como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu contexto. Além disso, esse método proporciona momentos de debates, reflexões sobre a obra lida, possibilitando ao aluno a ampliação dos seus horizontes de expectativas”. ( PARANÁ, 2008, p.74).

No livro “A Formação do Leitor”, de Aguiar e Bordini, (1993), há o

desenvolvimento destas etapas: detectado o problema, ou seja, dificuldade no

desenvolvimento do discurso, principalmente no que se refere à leitura literária, o

professor traça metas para atender estes alunos proporcionando atividades diversas

como leituras, interpretações, pesquisas e análise da obra, causando, assim, a

ruptura, ou seja, o confronto do conhecimento prévio com o estudado. O resultado

deste estudo auxilia na resolução do problema fazendo que o objetivo proposto seja

atingido. A ampliação dos horizontes de expectativa dos alunos se dará através da

maior aquisição de conhecimento obtido, das produções e indagações que surgirem:

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Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar, mas ao modo como veem seu mundo, os alunos, nesta fase, tomam consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência com a literatura. Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais, verificam que suas exigências tornaram-se maiores, bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada.(AGUIAR E BORDINI, 1993. p.90 e 91).

Para Regina Zilberman, (1989), literatura é fato social. A partir do contato

entre obra e leitor há o horizonte de expectativas. “Pela leitura ele é mobilizado a

emitir um juízo, fruto de sua vivência do mundo ficcional e do conhecimento

transmitido”. (ZILBERMAN, 1989. p.110). A literatura, segundo Jauss, produz

efeitos:

Quando age sobre o leitor, convida-o a participar de um horizonte que,pela simples razão de provir de um outro, difere do seu. É solidária e diferente ao mesmo tempo, sintetizando nesse aspecto o significado das relações sociais. Quando se soma a isto o fato de que uma obra de época diversa reatualiza a experiência do passado, de outra maneira inacessível, compreende-se em que medida a literatura também possibilita um relacionamento histórico e temporal praticável apenas dessa maneira. Eis por que Jauss sublinha seguidamente a natureza emancipatória da arte literária: ela, de algum modo, arranca o indivíduo de sua solidão e amplia suas perspectivas, este alargamento do horizonte dando-lhe a dimensão primeira do que pode vir a ser. (ZILBERMAN, 1989, p. 110).

O gênero memorialístico oferece uma diversidade de caminhos que auxiliam

no aperfeiçoamento do discurso e, nesta perspectiva, busca-se oferecer

oportunidades de oralidade que garantam o socializar do conhecimento; de leitura

para amplitude da aquisição de conhecimento e reflexão; da escrita para que “o

sujeito se posicione, tenha voz em seu texto, interagindo com as práticas de

linguagem da sociedade” de acordo com Bakhtin apud Paraná (2008, p.56). O

estudo deste gênero possibilita a verbalização de experiências vividas, o confronto

com o presente e a construção de sentidos. Linguagem viva em constante

movimento. Bakhtin ressalta que o resultado da interação dialógica auxilia na forma

e nas significações do que se diz. Ainda relata que, nesta interação, precisa-se

valorizar o conhecimento de mundo e as histórias de vida que o aluno traz consigo.

(PARANÁ, 2008, p.56).

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Para Pierre Bourdieu,(1986), “Falar de história de vida é pelo menos

pressupor – e isso não é pouco, – que a vida é uma história[...]” e que “[...] uma vida

é inseparavelmente o conjunto dos acontecimentos de uma existência individual

concebida como uma história e o relato dessa história”. Assim, com o registro, ou

seja, a escrita dessas histórias é que se aprende a importância da vida e da história

e através delas, que expressam lembranças, memória, se adquire conhecimento.

(BOURDIEU, 1986, p.183). O escritor relata também a importância e a

individualidade do eu nos espaços sociais:

Como instituição, o nome próprio é arrancado do tempo e do espaço e das variações segundo os lugares e os momentos: assim ele assegura aos indivíduos designados, para além de todas as mudanças e todas as flutuações biológicas e sociais, a constância nominal, a identidade no sentido de identidade consigo mesmo, de constantia sibi, que a ordem social demanda. E é compreensível que, em numerosos universos sociais, os deveres mais sagrados para consigo mesmo tomem a forma de deveres para com o nome próprio ( que também, por outro lado, sempre um nome comum, enquanto nome de família, especificado por um prenome). O nome próprio é o atestado visível da identidade do seu portador através dos tempos e dos espaços sociais [...]. BOURDIEU,1996.p.187).

O nome próprio “[...] só pode atestar a identidade da personalidade, como

individualidade socialmente constituída [...]”. ( BOURDIEU, 1996.p.187).

Segundo Eliane Zagury, (1982), observa-se uma riqueza de detalhes que o

texto Memórias menciona, detalhes estes, que revelam lembranças da infância e da

família, das profissões, das características dos locais onde viveram, dos

sentimentos, da natureza, dos internatos, entre outros acontecimentos. Adjetivos e

repetições fazem parte destes textos que retratam a memória, assim como o

aspecto afetivo.

Antes de iniciar o processo de estudo sobre memória literária e escrita de

narrativas de memória, o professor precisa mediar as tarefas de maneira a explorar

o conhecimento de mundo, as lembranças, as sensações, os sentimentos, para que

os alunos saibam organizar as ideias em prol de um texto com maior solidez. Para

isso, as entrevistas, as fotos, os sons, as imagens, as cartas, a imprensa também

são recursos importantes que os estudantes necessitam para desenvolver o senso

crítico. Com isso, terão argumentos significativos para a escrita e reescrita,

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estruturando o texto de forma coerente, encantando o leitor através da arte da

escrita literária.

Philippe Lejeune, (2008), em O Pacto Autobiográfico, nos ensina que um texto

de memórias não é totalmente sincero, pois em um texto literário como este, as

identidades se misturam. Quando se escreve, na verdade, compartilha-se dos

desejos e ilusões da pessoa a qual se está entrevistando. O escritor do texto busca

expressar na forma escrita o que ouviu e o que sentiu ao ouvir o sujeito e sua

história, e nisso, menciona palavras, sensações e sentimentos que talvez o

entrevistado gostaria de ter expressado:

[...] que ilusão acreditar que se pode dizer a verdade e acreditar que temos uma existência individual e autônoma!...Como se pode pensar que, na autobiografia, a vida vivida produz o texto, quando é o texto que produz a vida!... Meu propósito em “O pacto autobiográfico” não era entrar nesse debate, mas simplesmente explicitar e descrever as posições e crenças necessárias ao funcionamento desse sistema. (LEJEUNE, 2008.p.65).

Este pacto, nada mais é do que uma junção de identidades. Assim, uma

narrativa de memória, não deixa de ser uma autobiografia ou um texto de ficção,

depende da maneira que se interpreta. Pacto é contrato. “[...] é preciso admitir que

podem coexistir leituras diferentes do mesmo texto, interpretações diferentes do

mesmo “contrato” proposto”.( LEJEUNE, 2008, p. 57). O autor revela que no

decorrer do tempo é que aprendeu a interpretar textos na íntegra, e lembra,

referindo-se ao seu bisavô e autor de uma autobiografia: “Como fui idiota de pensar

que ele não sabia escrever, quando era eu que não sabia ler”. (LEJEUNE, 2008, p.

76). Revela também a memória no decorrer do tempo tanto na poesia, nos

autorretratos, nas cartas, nos diários nos blogs – nesta era da internet.

O percurso das últimas décadas, desta modernização, gerou diferentes

comportamentos, algumas pessoas optaram pela utilização da internet, outros não

se adaptam e, ainda outros a utilizam em partes. Desta forma, percebe-se a

dimensão e a importância das memórias como um recurso que auxilia na forma de

expressão e que o professor pode utilizar como ferramenta no ensino-aprendizagem

para um pleno desenvolvimento da linguagem: “[...] creio na transparência da

linguagem e na existência de um sujeito pleno que se exprime através dela.”

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(LEJEUNE, 2008.p.65).

Clara Rocha ao mencionar Philippe Lejeune,diz que ele, ao escrever suas

obras, realiza grande levantamento envolvendo o “[...] caráter sociológico, etnológico

e antropológico [...]” referindo-se que a História se utiliza das autobiografias para a

constituição de “arquivos da memória”.( ROCHA, 1992. p.12). E que, muitos estudos

buscam “[...] a inserção histórico-cultural das várias modalidades da escrita

autobiográfica”. (ROCHA, 1992, p.16). Embora se admita que as formas de literatura

autobiográfica estejam mais presentes a partir do Romantismo, anterior a esse

tempo, já havia a “[...] vontade de afirmação do eu [...]”. (ROCHA, 1992, p.16).

Assim, observa-se que todo ser tem a necessidade, no decorrer do tempo, de ser

reconhecido: “A época contemporânea trouxe transformações sociais de várias

ordens, que tornaram ainda mais premente a necessidade de cada um afirmar a sua

presença irrepetível no mundo”. (ROCHA, 1992, p.18). E mais, “A escrita do eu pode

assim ser encarada como uma forma de salvação individual num mundo que

começa a descrer de sucessivos modelos ideológicos de salvação coletiva”.

(ROCHA, 1992, p.19).

A descrição da memória, do relato do eu, é uma forma de registro que

permeia o mundo literário há muito tempo, pois de acordo com Remédios:

No século XX, diários íntimos, memórias, relatos pessoais, confissões tornam-se produto de consumo corrente, marcados pela crença no indivíduo, pela atitude confessional e pelo objetivo de preservar um capital de vivências, recordações e fatos históricos”. ( REMÉDIOS,1997, p.09)

Observa-se, com isso, que as narrativas de memória existem há muito tempo,

e é uma forma de expressar a vida: “Narrando, o homem enuncia continuamente

sequências de acontecimento, pode explicar seu passado e seu presente,

aventurando-se pelo futuro; pode justificar, responsabilizar, ser verdadeiro ou mentir,

[...]”. (REMÉDIOS, 1997.p.10). Relatos memorialísticos podem ser encontrados em

diversos gêneros literários, no decorrer do tempo.

Remédios em citação a Georges May, diz que:

[...] na narrativa memorialística destaca-se o fundo histórico-cultural filtrado pela memória e pela subjetividade de um eu social. Todos os

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acontecimentos são desvelados pela lembrança, que recorre, muitas vezes, a documentos como registros oficiais, cartas, diários, jornais, para que o memorialista possa, desse modo, persuadir o leitor sobre a verdade do que relata e prestar um serviço àqueles que o sucederão na sociedade. (REMÉDIOS, 1997, p. 13 e 14).

Autores citados nesse livro, por Maria Luiza Remédios observam que:

[...] o autor de uma autobiografia, para a realização de seu projeto autobiográfico, deve recompor a unidade de sua vida através do tempo, revelando o auto - reconhecimento, devido à possibilidade de reconstituição e de decodificação dessa vida em sua globalidade. Assim, ao relatar sua história, o indivíduo chega a si mesmo, situa-se como é, na perspectiva do que foi. (REMÉDIOS, 1997, p.12).

Há vários gêneros literários que revelam essas lembranças implícitas e que

podem ser utilizados para melhor compreensão e desenvolvimento da

aprendizagem: biografias, autobiografias, poemas, narrativas, fábulas, entre outros.

Em todo texto há um contexto e em cada gênero as palavras estão dispostas para

serem acolhidas e compreendidas.

O acolhimento da palavra do outro aliada a sua, gera reflexão, conflito de

ideias e, assim, há a força do discurso, que se fortalece e se transforma em cada

sujeito. Desta forma, o discurso se efetiva, visto que educação é a apropriação do

discurso.

A Língua Portuguesa quando ensinada através dos gêneros textuais oferece

diversidade de linguagem que é de extrema importância para a aprendizagem. As

várias formas de comunicação em nosso cotidiano nos auxiliam na socialização, a

partir de e-mail, da leitura de jornais, panfletos, teatro, textos literários, entre outras.

Quando o indivíduo compreende as possibilidades de sentido que há nas

palavras, se apropria de maior habilidade para a interação e a inserção na

sociedade em que vive, pode, assim, observar e se conscientizar da riqueza e da

sabedoria que as culturas trazem consigo. O processo da linguagem em nosso dia-

a-dia se efetiva na relação leitor/ouvinte. Assim, todo diálogo, leitura e / ou produção

interage com o conhecimento que a pessoa traz consigo gerando novas ideias,

novos conhecimentos, novas transformações.

Está em cada um o aperfeiçoamento do discurso, e no que tange aos textos

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memorialísticos, a produção dos mesmos é um desafio, pois exige do escritor leitura

significativa e observância redobrada para captar do entrevistado memórias que o

tempo quase apagou. É preciso também selecionar palavras que realmente

transmitam o que o mesmo expressou e que gostaria de ter expressado. Escrever

lembranças/memórias é arte minuciosa; um relato de vida bem escrito é tarefa

grandiosa onde o escritor precisa comprimir o tempo e os acontecimentos, não

interferindo na essência do que ouviu de seu entrevistado.

Para que a produção final de um texto de memória seja significativo, a

sequência de atividades deve estimular os estudantes não só à escrita, mas à

reescrita. Reescrever é aguçar o senso crítico, incrementando a linguagem; é tentar

chegar à perfeição do que se quer expressar.

Chico Viana cita que “Reescrever é sobreviver”:

Reescrever é um componente fundamental do processo da escrita. A razão disso é que nenhum texto ganha forma da primeira vez em que as palavras são lançadas no papel. Reescreve-se para chegar ao que se quer dizer. Com isso, desenvolve-se o senso crítico e se aprende mais sobre as possibilidades da língua. (REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA. Ano 7. Nº 76. Fevereiro de 2012).

A redação exige a reescrita e os professores precisam oportunizar essa

prática no cotidiano escolar. Com isso, o aluno percebe que escrita e reescrita

também são processos que geram aprendizagem e que elas são fundamentais para

se obter o satisfatório, sem ter receio dos erros, pois tomam consciência de que

estes são ensejos para os acertos e que sempre o que se escreve pode ser

aperfeiçoado em prol do objetivo que se almeja.

2. EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA

MATERIAL DIDÁTICO E ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

1ª ETAPA: Determinação dos Horizontes de Expectativas (2 aulas)

Nesta etapa houve o reconhecimento do tema. O projeto ressaltou “Memórias

de Emília”, leitura e análise da obra literária de Monteiro Lobato. Foi proposto

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diálogo sobre o assunto, observação e conversação a respeito de slides sobre

Memórias e, como sugestão, a música “A lista – de Oswaldo Montenegro” para o

início da interação com o tema em estudo. As atividades proporcionaram maior

aquisição de conhecimento sobre o Gênero Memórias, principalmente quanto a

textos autobiográficos. Autobiografias é uma das formas de narrativas de memórias

e, de acordo com Remédios (1997), elas existem há tempo, e é uma forma de

expressar a vida.

O trabalho foi iniciado com slides – “Memória e Memórias Literárias”: a cada

slide, os alunos foram instigados a falar a respeito – o que pensaram e o que

sentiram quando leram as mensagens e observaram as imagens. Com esta

atividade, despertou-se a oralidade; as lembranças, a expressão do conhecimento

de mundo. Os slides abordaram o tema Memórias com palavras de Pierre Bourdieu

e Phillipe Lejeune sobre autobiografia e a importância do eu – do sujeito.

Observe:

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Logo após, foi apresentada a Música: “A lista” – de Oswaldo Montenegro: Os

alunos ouviram, cantaram, refletiram e conversaram a respeito. Compartilharam

ideias afins sobre a valorização da vida e dos acontecimentos através dos tempos.

Observaram que as músicas também revelam memórias e nos incentivam a contar

as lembranças que se tem.

Na sequência, foi proporcionada atividade escrita para que relatassem

algo a cada frase da música. A partir de então, as respostas foram compartilhadas.

Questões que foram respondidas de forma escrita e compartilhada.

1. A música acima citada revela memórias? Por quê?

2. Quais as melhores lembranças que ela te proporcionou?

3. Esta música nos ajuda a fazer uma retrospectiva de nossa vida. Baseando-se

nisso, quais pessoas você não vê a tanto tempo e gostaria de encontrar?

4. Escreva qual a relação entre a música com os slides apresentados.

2ª ETAPA: Atendimento dos Horizontes de Expectativas (3 aulas)

Nesta etapa motivou-se os alunos a exporem suas histórias.

Os alunos foram convidados a se retirarem da sala de aula, buscar um lugar

arejado dentro do pátio da escola e, exporem aos colegas fatos da infância que a

música e a obra literária os fez lembrar. Desta forma, cada um deles, além de contar

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um fato, sentiram-se valorizados por serem ouvidos e, assim houve grande interação

e respeito com o outro.

A maioria dos alunos relataram que viveram a infância neste município, e

buscaram falar mais sobre as brincadeiras, as alegrias vividas. Dois deles nasceram

no Paraguai, passaram a infância lá e retornaram para o Brasil, país de origem dos

pais. Estes, também optaram por falar mais sobre diversão do temo de criança.

No final desta tarefa, orientou-se os alunos para conversarem com uma

pessoa de mais idade e pedir que lhe contasse uma história interessante da infância.

Na próxima aula os alunos foram convidados a compartilhar as mesmas.

Ao retornarem na aula seguinte, contaram que grande parte das pessoas

relataram a respeito das dificuldades que passaram, como a falta de hospitais, de

remédio, de vestuário, de alimentação, de educação, ou seja, das carências que a

vida lhes proporcionou. Foi observado que todos os alunos ficaram admirados com

as histórias ouvidas, podendo fazer um comparativo com os dias atuais e

valorizando mais os próprios padrões de vida.

3ª ETAPA: Ruptura dos Horizontes de Expectativas (10 aulas)

Nesta etapa os alunos foram direcionados às atividades de leitura e

interpretação de textos identificando “memórias” em diferentes gêneros. Em seguida

proporcionada a leitura, compreensão e interpretação da obra literária “Memórias da

Emília”, bem como contextualização da obra com os textos.

- Poema: “Infância” – Carlos Drummond de Andrade. (sugestão)

http://letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/460647/ Acesso em 16.10.2013

Questões para interpretação:

1. No poema de Carlos Drummond de Andrade pode-se observar a memória? De

que maneira?

2. A história acontece em qual meio? Há várias frases que deixam claro este local,

cite uma delas.

3. Qual é a afirmação que o escritor faz que revela autoestima e conhecimento?

4. Se acordo com a música de Oswaldo Montenegro, “quais seriam nossos grandes

amigos” do poema “ Infância” de Drummond?

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5. Qual foi a lembrança que este poema te fez recordar?

Poema: “A arte de ser feliz” – Cecília Meireles. (sugestão)

http://pensador.uol.com.br/frase/MjIzNtMw/ Acesso em 16.10.2013

Questões para interpretação;

1.Qual é o motivo da felicidade que o poema de Cecília Meireles nos revela?

2. Nos versos: “Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela,”... O que significa para você a palavra “janela”,

neste contexto?

3. Qual o significado e a importância de “ aprender a olhar” em nossa vida?

4. Você já aprendeu a olhar a vida? O que você tem visto?

- Crônica:“ Como comecei a escrever” - Fernando Sabino. (sugestão)

“Para gostar de ler” - Volume 4 – Crônicas”, Ática – São Paulo, 1980, p.8.

Questões para interpretação:

1. Os poemas “Infância e A arte de ser feliz”, bem como a crônica “Como comecei a

escrever”, retratam memórias. Em qual pessoa gramatical estão escritos estes

textos?

2. Logo, no primeiro parágrafo há uma expressão que revela temporalidade. Cite-a.

3. O que você lembra de quando tinha 10 anos? Compartilhe com seus colegas.

4. O escritor fala da importância da amizade. Você é ajudado e tem ajudado as

pessoas sendo um amigo verdadeiro? Escreva um exemplo.

-Discussão acerca dos textos: este foi um momento de sucumbir a leitura - os

alunos interagiram com o tema Memórias nos diferentes gêneros literários, fazendo

uma correlação com as experiências de vida de cada um, favorecendo a

intertextualidade e o desenvolvimento do senso crítico. Após a interpretação dos

textos houve discussão acerca da obra literária “ Memórias da Emília”.

As memórias expressam a vida. Na música, nos textos estudados e no livro

“Memórias da Emília” houve a arte do relato das lembranças. Os alunos conheceram

a história do livro de Monteiro Lobato, conversaram com seus colegas e escreveram

o que ela expressou de interessante que também se pode observar na música e nos

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textos estudados.

Com isso, foi realizada a Leitura da biografia de Monteiro Lobato – Pré-

modernismo: foi explicado aos alunos que ao final do séc XIX início do séc XIX

houve muitas manifestações populares contra o sistema político republicano.

Autores dessa época, como Monteiro Lobato tinham perfil ideológico e buscavam

retratar a realidade através de seus escritos. O pré-modernismo nasceu a partir de

mudanças na cidade e no campo, e seus conflitos. Os autores buscavam romper

com as ideias do passado. Havia disparidade econômica, abolição mal executada e

anseio da população por uma vida melhor.

Assim, os alunos conheceram um pouco desta época literária e iniciaram a

leitura coletiva do Livro – Memórias da Emília, de Monteiro Lobato: com pausas para

compreensão dos elementos da narrativa. Logo após foi proposta a interpretação da

obra, primeiramente, de forma escrita e individual e, então, compartilhada para

promover a observação das diversas opiniões, o respeito a cada uma delas e a

reflexão acerca.

Todos os alunos demonstraram um carinho muito especial pela obra literária,

pelos personagens e pelo ambiente, visto que a maioria deles vive na área rural.

Questões para interpretação:

1. Emília - Marquesa de Rabicó, em uma conversa com Tia Nastácia diz que

memórias são a história da vida da gente, com tudo o que acontece desde o dia do

nascimento até o dia da morte. Diz ainda, que não pretende morrer. Por que você

acha que ela pretende sempre viver?

2. Quem Emília escolheu para escrever suas memórias? Por que ela fez esta

escolha?

3. Em uma conversa entre Emília e o Visconde, a história de Robinson Crusoé é

citada como memória, por quê? Você conhece esta história? O que ela revela que

pode ser considerada memória?

4. Emília é uma menina muito esperta e inteligente, mas ao descrever-se, ou seja,

atribuir-se características, diz: “nasci de uma saia velha de tia Nastácia. Eu nasci

vazia. Enchida de macela. Feia...como uma bruxa”. O que ela quis dizer com a

palavra vazia? Você concorda com ela? Justifique.

5. Explique o que Emília quis nos dizer com a frase: “ Piscar é abrir e fechar os olhos

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– viver é isso”.

6. A boneca Emília adora um anjinho de asa quebrada. Ao conversar com ele, fala;

“você não imagina como é interessante a língua que falamos aqui”! Você acha

interessante a língua que falamos? Por quê?

7. A menina também relata que a língua tem muitos segredos. Qual é o motivo para

ela assim se referir à língua que fala?

8. As explicações para com o anjinho das coisas aqui da terra continuam e, Emília

diz que o animal mais amigo do homem é o cão. Para você que é jovem, o que é ser

um amigo? Você tem amigos? Qual é o perfil deles: amigos velhos ou velhos

amigos?

9. Você acha importante ter amigos? Em qual idade?

10. Mencione o nome de alguns amigos que você considera verdadeiros.

11. O sítio de Dona Benta, onde Emília morava era cheio de pessoas que se

consideravam amigas verdadeiras. A amizade e o anjinho atraia crianças do mundo

todo, todos queriam visitar o sítio. Que tipo de amigo mais te chama a atenção e te

faz confiar mais?

12. O anjinho que morava no sítio recebeu o nome de Flor das Alturas. Escreva sua

opinião a respeito, como ele era para merecer esse nome? Parecia ser amigo?

13.Ao ser questionado por crianças que visitavam o sítio, o anjinho responde: “ flor é

um sonho colorido e cheiroso, que com as raízes as plantas tiram do escuro da terra

e abrem no ar. Foi como Emília me ensinou”. De acordo com esta frase e com a

música “A lista” acima citada, cite alguns sonhos coloridos e cheirosos que você

tem.

14. A boneca de pano disse à tia Nastácia que suas memórias eram fantásticas. Por

que ela assim as caracterizou? Releia a página 54 e responda.

15. Releia a página 58 e relate o que deixava emília triste. Você concorda com ela?

Justifique.

16. A criançada, no sítio, só cuida de duas coisas, segundo Emília: Brincar e

aprender. Por que isso é importante em nossas vidas?

17. Memórias de Emília acontece em um meio parecido com o poema “Infância” de

Drummond? Justifique.

18. Qual é a história citada neste poema “Infância”e na obra de Monteiro Lobato?

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19. Cecília Meireles em seu poema “A arte de ser feliz” menciona a importância de

“aprender a olhar”. Como a personagem Emília de Monteiro Lobato aprendeu a olhar

a vida?

20. De acordo com a crônica de Fernando Sabino “Como comecei a escrever e do

conto “Memórias da Emília” de Monteiro Lobato, qual a diferença quanto à escrita

dessas obras?

Após o estudo das questões acima citadas e da leitura da obra literária,, os

alunos tiveram a oportunidade de assistir em vídeo o início da história lida, onde

Emília, a personagem principal, tem a ideia de escrever suas memórias.

Vídeo: Sugestão: assistir ao vídeo “ Memórias da Emília”.

www. youtube .com/watch?v=WNbefMsEIh Acesso em 21.10.2013

4ª ETAPA: Questionamento dos Horizontes de Expectativas (12 aulas)

Nesta etapa houve uma consciência maior do gênero estudado, os alunos sentiram-

se mais seguros ao falar a respeito e, assim, foram desenvolvidas as atividades

seguintes:

- Produção coletiva de descrição escrita do sítio em que Emília vivia, bem

como das pessoas que moravam com ela.

Através de conversação, os alunos relataram detalhes – adjetivos – das

personagens e do espaço imaginado ao ler a obra, estes eram escritos no quadro e

estruturados em um texto descritivo. Houve participação significativa, a maioria deles

caracterizavam com entusiasmo, lembrando e parecendo vivenciar a história lida.

- Relato escrito de algumas palavras e expressões que se referem ao

passado contidas em “Memórias da Emília”.

Nesta atividade os alunos escreveram, leram e compartilharam palavras e

expressões referentes ao passado, as quais foram observadas na obra literária.

Desta forma, observaram a importância delas em um relato de memória.

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- Oswaldo Montenegro na música “A lista” faz um paralelo entre passado e

presente. Quais palavras revelam este paralelo?

Mais conhecedores da importância dos tempos e das memórias, os alunos

identificaram na música estudada palavras indicativas de fatos vividos anteriormente

e na atualidade. Palavras que também são indispensáveis na estruturação de

Narrativas de Memórias.

- Produção de peça teatral sobre o tema e apresentação.

Os alunos escolheram uma parte da história onde o anjo estava presente,

escreveram uma pequena peça teatral e apresentaram aos seus colegas. Observou-

se uma grande dedicação em representar a história, buscando mostrar no vestuário

e na forma de se expressar as características contidas na obra literária.

- Produção de maquete do Sítio do Picapau Amarelo e suas personagens.

A produção da maquete foi uma tarefa admirável, os estudantes empenharam-se

muito e ficaram muito contentes com a própria produção. Nela, eles puderam

concretizar o ambiente do sítio, bem como as personagens.

- Produção de poesia com rima atribuindo adjetivos as pessoas da família

relatando as características de cada um.

Primeiramente foi feita uma relação de virtudes que podiam ser observadas nas

pessoas de nosso convívio e, logo após, foram estruturadas as poesias. Esta

atividade proporcionou maior valorização dos familiares.

5ª ETAPA: Ampliação dos Horizontes de Expectativas (6 aulas)

Nesta etapa, os alunos, já mais críticos e com um conhecimento maior sobre

Memórias, observaram que somos parte da história, e que essas histórias precisam

ser preservadas. O resultado de uma comunicação oral eficiente pode ser registrado

através da escrita, que também merece atenção e aperfeiçoamento. Proporcionar o

ato da leitura e da oralidade é tarefa de todo educador, visto que o ler, o saber ouvir

e o saber expressar-se é de extrema importância para que a comunicação se

concretize. Desta forma, os alunos foram envolvidos nas práticas de uso da língua e

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aperfeiçoando o discurso, proporcionando o relato escrito dessas histórias.

- Produção de Entrevista: os alunos foram questionados sobre quais curiosidades

tinham quanto às épocas que os antecederam, os acontecimentos, os fatos vividos,

as mudanças na sociedade, e assim, coletivamente, formularam questionário para

posterior entrevista às pessoas de mais idade. Os jovens foram motivados para que

imaginassem, a princípio, qual pessoa desejaria entrevistar. É preciso despertar a

curiosidade do aluno quanto à pesquisação, fazendo um paralelo sobre passado e

presente e suas respectivas transformações, resgatando respeito, admiração e

reconhecimento.

- Produção Textual: fez-se oralmente uma retrospectiva das atividades realizadas,

expondo a importância da leitura literária, da interação e do resgate histórico e

propôs aos alunos a escrita de uma Narrativa em terceira pessoa, de acordo com a

entrevista realizada anteriormente, explicando que precisavam registrar

características, sentimentos e sensações observadas no decorrer da mesma. Com

isso, os alunos puderam reconhecer que são parte de uma história e que o passado

se faz presente na vida de todos, e ainda, que a produção de um texto memórias é

instrumento de comunicação que amplia nossos horizontes. A partir de então, as

Narrativas de Memórias foram produzidas e lidas aos colegas. Observou-se um

grande empenho nos relatos.

- Produção de uma Narrativa sobre sua Infância: os alunos foram instigados a

escrever sua própria história – uma autobiografia. Nesta atividades, os alunos

também dedicaram-se bastante, sentindo-se valorizados.

- Produção de uma coletânea com os textos produzidos: foi realizada a digitação

dos textos pelos alunos, produção da coletânea e ilustração. Os alunos puderam

compartilhar com a comunidade escolar através de exposição em mural e também

realizar a leitura das narrativas para que as pessoas entrevistadas se sentissem

lisonjeadas observando sua história de vida escrita e compartilhada.

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3. CONCLUSÃO A ampliação dos horizontes de expectativas foi observada através da

interação com o tema Memórias durante o desenvolvimento das atividades e com a

aquisição maior de conhecimento demonstrada na produção da coletânea.

A leitura da obra literária “Memórias da Emília” - de Monteiro Lobato,

proporcionou aos leitores um aperfeiçoamento significativo da linguagem.

Com a leitura e atividades afins, observou-se o desenvolvimento do discurso,

pois a literatura encanta, faz o leitor viajar no tempo, refletir e compreender a vida.

O Método Recepcional, mencionado por Maria da Glória Bordini e Vera

Teixeira de Aguiar foi um norte importante para que o objetivo proposto fosse

alcançado, pois em suas cinco etapas: determinação, atendimento, ruptura,

questionamento e ampliação dos horizontes de expectativas, a interação e

participação foi notável.

Além do conhecimento do Gênero Memorialístico ser ampliado, houve

exposição do conhecimento de mundo e da própria vida, onde os alunos

expressaram-se de forma clara tanto na oralidade quanto na escrita, contribuindo

para a produção das Narrativas em 3ª pessoa e das autobiografias.

Lejeune (2008), diz: “[...] creio na transparência da linguagem e na existência

de um sujeito pleno que se exprime através dela.” ( LEJEUNE, 2008. P.65).

O trabalho também proporcionou reflexão sobre a importância do passado e

da vida, da própria vida, e a contação dessas histórias, bem como o registro das

mesmas.

Remédios ( 1997) relata:

“[...] o autor de uma autobiografia, para a realização de seu projeto autobiográfico, deve recompor a unidade de sua vida através do tempo, revelando o autorreconhecimento, devido à possibilidade de reconstituição e de decodificação dessa vida em sua globalidade. Assim, ao relatar sua história, o indivíduo chega a si mesmo, situa-se como é, na perspectiva do que foi. REMÉDIOS, 1997.p.13).

Desta forma, observou-se que Memória Literária é um tema significativo que

auxilia no desenvolvimento do discurso, na valorização do “eu” e do “outro” e

também da vida. Proporciona conhecimento e reconhecimento maior da importância

do ser “leitor” e do ser “escritor” de histórias de vida.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORDINI, Maria da Glória/ AGUIAR, Vera Teixeira de. A Formação do Leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993.

BOURDIEU, Pierre. Usos e Abusos da História Oral. Cap: A ilusão

biográfica.1986.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (LDBEN).1996. Disponível:< http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 22/05/2013.

LEJEUNE, Philippe. O Pacto Autobiográfico: de Rousseau à Internet / Philippe Lejeune; organização: Jovita Maria Gerheim Noronha, Maria Inês Coimbra Guedes.- Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

LOBATO, Monteiro. Memórias da Emília. 43ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Educação Básica. Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.

REMÉDIOS, Maria Luiza. Literatura Confessional – autobiografia e Ficcionalidade. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.

ROCHA, Clara. Máscaras de Narciso: estudos sobre a literatura autobiográfica em Portugal. Coimbra, 1992.

SABINO, Fernando. Como comecei a escrever. In “Para gostar de ler” - Volume 4 – Crônicas”, Ática – São Paulo, 1980, p.8.

VIANA, Chico. Reescrever é sobreviver. Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento. Ano 7. Nº 76. Fevereiro de 2012.

ZAGURY, Eliane. A escrita do eu. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1982.

ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo. Ática. 1989.

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Música: A lista – Oswaldo Montenegro. Disponível em: <www. youtube .com/watch? v=_phH_fmZgfk Acesso em 21.10.2013.

Poema “Infância” - Carlos Drummond de Andrade. Disponível em:< http://letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/460647/ Acesso em 16.10.2013.

Poema: “A arte de ser feliz” – Cecília Meireles. Disponível em:< http://pensador.uol.com.br/frase/MjIzNtMw/ Acesso em 16.10.2013.em: <www. youtube .com/watch?v=WNbefMsEIh Acesso em 21.10.2013.

Pré - modernismo - Monteiro Lobato. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/monteiro-lobato-sua-autenticidade

premodernista.ht m Acesso em 07.11.2013.

Vídeo Memórias da Emília. Disponível

Pré – modernismo Monteiro Lobato. Disponível em: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=563 Acesso em 07.11.2013

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5. ANEXOS