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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · no que diz respeito a separação de resíduos e seu reaproveitamento, para o contexto em que o aluno está inserido. A horticultura

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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HORTA, UMA LIÇÃO DA ESCOLA PARA VIDA

Cláudio Santos1

Maysa de Lima Leite

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RESUMO

O foco desse projeto foi despertar, através do trabalho pedagógico aplicado

a prática, com alunos do Ensino Fundamental, o interesse por uma alimentação

saudável, partindo do pressuposto que os alunos darão mais valor ao alimento

produzido por eles próprios e, ao mesmo tempo aprendendo técnicas simples como

a separação do lixo doméstico para reaproveitamento dos resíduos orgânicos para

produção de composto (adubo orgânico), proveniente especificamente da cozinha,

seja da escola ou de seus lares e posteriormente, cultivar alimentos orgânicos

saudáveis em uma horta no próprio colégio. Assim, perceberiam, que através de

atitudes simples, estariam colaborando com a preservação do meio ambiente, uma

vez que, temos informações na mídia o tempo todo sobre os problemas que já

enfrentamos e, iremos enfrentar com a degradação ambiental causada pelo ser

humano. Enfim o projeto visava entrelaçar vários conhecimentos culminando na

conscientização dos nossos jovens para a importância de cada vez mais tomarmos

cuidado com a natureza e também com nossa saúde principalmente através de bons

hábitos alimentares; fazer com que o jovem passasse a entender e aceitar para sua

conduta que atitudes como não jogar lixo nas ruas, reaproveitar o que for possível,

não descartar por descartar na natureza, não desperdiçar a água, energia e papel,

assim como fazer a coleta seletiva doméstica poderá fazer toda a diferença não só

para ele mas para todos; e, sempre que possível aproveitar os espaços, por

menores que sejam, para cultivar em pequenas hortas algumas plantas para

complementar sua alimentação de maneira saudável, uma vez que, estaremos

produzindo alimentos sem qualquer agrotóxico ou outro produto nocivo a nossa

saúde, isto sem entrar no mérito do dispêndio financeiro na compra de muitos

desses alimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentação Saudável. Resíduos Orgânicos. Composto

Orgânico. Adubo. Horta.

1 Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná.

2 Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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1 INTRODUÇÃO

Sempre vimos o meio ambiente de maneira simples, ou seja, sendo tudo que

nos cerca como o solo, a água e o ar, mas devemos estar atentos também a

atmosfera, ao clima, subsolo, o oceano, as águas subterrâneas, etc.

No entanto, seu conceito é muito mais abrangente quando verificamos que

alguns problemas ambientais não podem ser estudados isoladamente, pois se faz

necessário associar a um contexto maior.

Assim, percebemos que temos recursos renováveis e recursos não

renováveis. Dentre os recursos renováveis podemos citar a água e o oxigênio. Já

dentre os não renováveis temos muitos minerais, sendo talvez o principal deles o

petróleo que leva milhões de anos para sua formação na natureza.

Se já há necessidade de se cuidar dos recursos que temos em maior

abundância no nosso ambiente, imagina os recursos de difícil ou quase impossível

renovação.

Com a exploração humana, principalmente dos recursos não renováveis

como fonte de energia, o meio ambiente está em perigo. Por isso, devemos estar

mais atentos a nossa relação com o meio ambiente antes que não tenhamos mais

muitos dos recursos encontrados hoje. Isso vale para preservação tanto da flora

como da fauna.

Diariamente, carros, caminhões e indústrias lançam seus gases tóxicos para

a atmosfera. O aumento populacional e consequentemente uma produção maior,

acarreta a necessidade de mais recursos naturais.

Nas últimas décadas, surgiram em todo planeta problemas ambientais, como

por exemplo, o aquecimento global que põe em risco a vida de todos os seres.

Preservar o meio em que vivemos é uma necessidade e está ao nosso

alcance.

A idealização desse projeto se iniciou com a observação dos hábitos

alimentares dos alunos nos intervalos (recreio) e também suas atitudes, jogando lixo

pelo chão.

É fato que, grande parte dos alunos, depende da alimentação que recebe no

colégio; que muitos não se alimentam adequadamente, pois em sua grande maioria

não consomem frutas, verduras e legumes, entre outros vegetais. Ingerem muitos

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alimentos que não são tão saudáveis ou que são realmente prejudiciais a saúde,

como salgadinhos, cachorro quente, pizza, muita fritura, etc.

A proposta da horta veio então com o intuito de desenvolver nos alunos a

concepção de que estamos vivendo tempos em que há uma real necessidade de

trabalharmos questões ambientais baseadas principalmente na sustentabilidade, no

reaproveitamento e na não agressão ao meio ambiente, pois, isto só traz prejuízos a

nós mesmos. Ainda que, podemos melhorar nossa alimentação produzindo alguns

alimentos em pequenos espaços em nossos lares, através de manejo simples.

Como educadores e membros da instituição Escola, nos compete a importantíssima tarefa de promover a reflexão sobre a realidade e proporcionar experiências de intervenção. Não cabem os dois extremos: nem cruzar os braços diante dos fatos e nem achar que a escola é a redentora na resolução dos problemas sociais. (BARBOSA, 2008, p. 17 – 18)

A preocupação com uma alimentação saudável aliada a questão da

preservação ambiental é primordial nos dias de hoje em que estamos vivenciando

acontecimentos como a falta de água em várias regiões do país e secas onde jamais

se imaginou. Portanto, essa questão pode iniciar-se na escola com um trabalho

pedagógico voltado para o despertar do interesse dos alunos.

Nessa perspectiva, estamos reafirmando que a escola, por estar na vida e ser a própria vida dos educandos, deve oportunizar que sejam buscadas as alternativas para mudança das práticas sociais mais imediatas no seu interior e na família. (BARBOSA, 2008, p. 17 – 18)

Esse trabalho foi realizado através de simples ações, envolvendo teoria e

prática com alunos, como a separação dos resíduos provenientes da cozinha, que

podem ou não ser aproveitados para adubo (composto orgânico), a preparação dos

espaços a serem utilizados para a compostagem e também para a horta. Segundo o

Manual Consumo Sustentável (2005), a compostagem é um processo no qual a

matéria orgânica putrescível (restos de alimentos, aparas e podas de jardins etc.) é

degradada biologicamente, obtendo-se um produto que pode ser utilizado como

adubo. A compostagem permite aproveitar os resíduos orgânicos, que constituem

mais da metade do lixo domiciliar. A compostagem pode ser feita em casa ou em

unidades de compostagem.

Esse aprendizado possibilitará que os educandos apliquem em seus lares os

conhecimentos adquiridos, percebendo que, por menor que seja o espaço ou, por

menos favoráveis que sejam suas condições sócio econômicas, poderão melhorar

sua alimentação e, consequentemente, contribuir com a preservação do meio

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ambiente, através de atitudes simples como separação do lixo, demonstrando a

importância da coleta seletiva.

O artigo 225 da Constituição Brasileira, promulgada em 1988, sintetizou a preocupação com a preservação ambiental: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (NASCIMENTO, 2012, p. 20).

Nesse sentido, esse trabalho visa dar subsídios a escola para trabalhar com

os alunos algumas questões relacionadas à preservação do ambiente aliadas a

técnicas simples como o reaproveitamento de alguns resíduos.

Através da promoção da ação escolar, torna-se possível gerar mudanças na

cultura da comunidade no que se refere, principalmente, à alimentação e,

consequentemente à saúde e à qualidade de vida, tendo a horta escolar como meio

para estas mudanças. Quer dizer, através deste projeto, os alunos aprendem

conceitos básicos de meio ambiente, de preservação, fazendo na prática a

separação do lixo da cozinha o qual antes era jogado provavelmente sem qualquer

cuidado e, de posse do resíduo orgânico aprende a produzir o composto orgânico,

entendendo a importância de não descartá-lo com o lixo comum. Produzindo o

composto (adubo orgânico) o aluno então o utiliza na produção das plantas, da

horta, onde percebe que os vegetais têm um melhor desenvolvimento devido a sua

aplicação. Percebe também que aqueles vegetais ali produzidos são livres de

agrotóxicos ou quaisquer outros produtos tóxicos nocivos a saúde. Como um dos

resultados positivos esperados, temos que o aluno passará a ter uma alimentação

saudável, além é obvio do que já falamos, ou seja, a importância de atitudes simples

para a preservação.

A horta escolar se configura, também, como um mecanismo de oferecer ao cidadão as informações sobre seus direitos quanto à alimentação. Nesse sentido, é importante registrar que em 15 de setembro de 2006 foi promulgada a Lei No 11.346 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que, por sua vez, objetiva assegurar o direito humano à alimentação adequada. A referida Lei estabelece que o poder público, com a participação da sociedade civil organizada, formule e implemente políticas, planos, programas e ações que visem a garantia desse direito. (BARBOSA, 2008, p. 17 – 18)

O educando tem um laboratório a céu aberto. “O senso comum e a ciência

são expressões da mesma necessidade básica, a necessidade de compreender o

mundo, a fim de viver melhor e sobreviver.” (ALVES, 1981, p.16). Surge então a

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necessidade de adaptar os conceitos da Educação Ambiental, mais especificamente

no que diz respeito a separação de resíduos e seu reaproveitamento, para o

contexto em que o aluno está inserido.

A horticultura representa uma forma de obtenção de uma alimentação

saudável e uma fonte de renda para milhares de famílias no Brasil. Nota-se, na

maioria das regiões, predominância da horticultura de subsistência, ou seja, aquela

feita para consumo próprio.

Dentro do sistema agroecológico de produção de hortaliças, encontramos

algumas práticas, que por mais simples que elas pareçam, fazem com que se

produzam alimentos de qualidade com o mínimo de impacto possível. Para tentar

buscar a sustentabilidade, resíduos oriundos da cozinha são reutilizados, evitando

ao máximo a entrada de insumos provenientes de outros locais. Um sistema

sustentável pode ser representado, em analogia, como uma balança de pratos,

sendo que o ser humano se encontra em uma das extremidades, na outra

extremidade, está o meio ambiente e, ao centro, encontram-se os métodos de

produção. Os três fatores (ser humano, meio ambiente e produção orgânica) devem

apresentar-se em harmonia, ou o mais próximo dela.

Esta busca pela harmonia pode ser feita com utilização de técnicas simples

de compostagem, adubação verde, cobertura morta do solo, plantio em nível, horta

em mandala (canteiros dispostos em círculo), entre diversas outras técnicas.

A horticultura unida aos artefatos necessários torna-se uma ferramenta

pedagógica interessante. O plantio, neste sistema, de hortaliças, as quais possuem

ciclo curto (até 90 dias), ministram um referencial prático e teórico para o estudo de

diversos fatores relacionados direta e indiretamente à Educação Ambiental.

A exemplo, ao construirmos uma horta sustentável na escola, estamos desenvolvendo uma série de novas aprendizagens e valores em nós e nos educandos. Estaremos assumindo uma tarefa conjuntamente e aprendendo a trabalhar em grupo com pessoas diferentes em gostos e habilidades. Estaremos oportunizando que os educandos aprendam a ouvir, a tomar decisões, a socializar, a seguir instruções, a ler manuais, entre outras tantas habilidades inatas. (BARBOSA, 2008, p. 17 – 18)

Outros casos podem ser descritos utilizando a horticultura como ferramenta

didática, como por exemplo, na disciplina de Matemática, onde se pode aplicar a

modelagem matemática ou ainda em Ciências, onde o professor pode demonstrar

através da prática muitos conteúdos abordados em sala de aula.

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Enfim, com a implantação deste projeto, pretendia-se que a maioria dos

alunos, não só entendesse a proposta da obtenção de uma alimentação saudável

através de práticas simples como a instalação de uma horta, mas que a levassem

adiante, ou seja, dessem continuidade na escola e principalmente em seus lares.

2 MATERIAL E MÉTODOS

No município de Castro, Paraná, se encontra o Colégio Estadual Professora

Maria Aparecida Nisgoski, tendo aproximadamente 60 professores, 36 funcionários

entre Direção, Equipe pedagógica e agentes I e II, com cerca de 900 alunos

distribuídos em 32 turmas, nos períodos matutino, vespertino e noturno.

Os alunos são oriundos de regiões rurais (minoria) e da área central, além

de vários bairros do município.

A implantação prática do projeto iniciou-se em fevereiro de 2014 com a

apresentação à comunidade escolar, abordando os diversos assuntos a serem

trabalhados, dentre eles, um breve histórico da Educação Ambiental, a separação de

resíduos sólidos e orgânicos, a compostagem e seus objetivos, além de sua

utilização, a identificação do solo, as ferramentas a serem utilizadas e a horta.

Contou com uma metodologia teórico-prática, com uma estratégia de campo,

utilizando como instrumento o trabalho teórico em sala e prático na horta. O total de

alunos envolvidos no projeto foi de trinta e oito alunos, sendo escolhidos os alunos

do sexto ano, devido a sua faixa etária e, por estarem iniciando seus estudos no

Colégio, pois entendemos que têm muito mais entusiasmo para participar

inicialmente da proposta e, podem dar prosseguimento ao projeto passando

conhecimentos adquiridos aos seus colegas, como multiplicadores. O trabalho se

desenvolveu durante as aulas ministradas por mim nesta turma e, também em

contra turno.

Foram trabalhados em sala de aula, temas como a importância da

separação dos resíduos, a montagem de composteiras, a necessidade de aeração

nas mesmas e, a importância de manter esse material sempre úmido, além das

temperaturas elevadas que seriam observadas pelo composto.

A composteira foi feita em um local dentro do terreno utilizado para horta,

com auxílio e observação dos alunos, contando com o apoio dos funcionários do

Colégio, mais especificamente da cozinha que guardaram para os alunos o resíduo

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orgânico e, outros servidores que colaboraram na horta, carpindo, virando a terra e

preparando os canteiros para o plantio.

No intervalo de preparação do composto até sua utilização os alunos fizeram

pesquisas sobre um calendário agrícola com as principais plantas que poderiam

cultivar.

Segundo Torres (2008) temos que observar quais são as plantas mais

indicadas para cada época que vamos plantar devido principalmente as suas

características com relação às estações do ano. Deve-se ainda, organizar o plantio

de acordo com o que se pretende colher. Para isso, deve-se analisar dados de cada

planta, de cada cultura. Um exemplo fácil disso é a alface que possui um ciclo que

varia entre 35 dias no verão e 60 dias no inverno. A quantidade que você vai plantar

tem que levar em consideração que, se plantarmos 50 pés hoje de alface teremos,

daqui cerca de 35 dias, uma semana para colher e consumir toda essa alface.

No período de análise do solo disponível, os alunos o prepararam para o

plantio organizando os espaços da horta para um melhor aproveitamento dos

canteiros, devido principalmente ao tamanho que as plantas atingem no ápice de

sua formação. Separados em grupos e com o auxílio de um dos servidores da

escola foi possível desenvolver as atividades de forma que todos pudessem

observar passo a passo todas as etapas. Nesse mesmo momento, foi realizada a

limpeza do espaço reservado à horta, com a retirada das plantas invasoras e o lixo

(resíduo sólido) que ali se encontrava.

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao conhecer, no início do ano, o espaço reservado a horta, não fiquei muito

surpreso, afinal a direção já havia me informado que poderia encontrar um local com

muito mato (ervas invasoras), além de restos de construção, ferros, tijolos, entre

outros. Realmente estava tomado por ervas daninhas, inclusive não havia sinais de

ter sido roçado ou carpido já há algum tempo, devido a altura que percebemos das

gramíneas. Havia também muitas embalagens plásticas, papéis de chiclete e bala,

pacotes vazios de salgadinhos, cacos de vidro, restos de lâmpadas, tocos de ferro

de construção entre outros objetos como canetas, lápis, pedaços de borracha velhos

(Figura 1).

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Figura 1: Aspecto inicial da área a ser utilizada para a construção da horta escolar.

Mostrei aos alunos e comentei sobre tudo que encontramos ali, mostrando já

de início, as consequências negativas ao ambiente provocadas pelo descarte

incorreto de resíduos sólidos. No entanto, decidi eu mesmo remover todos esses

materiais dali, para que os alunos não se machucassem ou se ferissem.

Foram necessários alguns dias até remover tudo. Em seguida, como o

espaço era amplo, começamos carpir apenas algumas partes do terreno, a fim de

preparar o local da composteira e também os primeiros espaços para aplicação do

composto e o plantio das mudas.

Para iniciar o projeto, construímos uma composteira com dois espaços

separados (Figura 2), utilizando tijolos, com capacidade aproximada de um metro

cúbico de composto final, o que seria suficiente para atender a quantidade de

canteiros que previmos preparar inicialmente como experimento.

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Figura 2: Vista parcial da composteira construída.

Poderíamos ter feito muitos canteiros, no entanto, optou-se por preparar

apena três de bom tamanho para inicialmente plantar beterraba, repolho e alface

(Figura 3). A escolha foi feita pelos alunos com base em suas pesquisas sobre o

calendário agrícola, já mencionado, sendo o repolho e beterraba de épocas mais

frias e a alface como um experimento, já que é mais suscetível ao frio.

Figura 3: Vista parcial da implantação da horta.

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Podemos ressaltar muitos pontos positivos nos resultados além, é óbvio, da

participação e conscientização dos alunos com relação à questão ambiental, como

por exemplo, a participação ativa de servidores, que agora continuam separando os

resíduos na escola e depositando restos de cascas, dentre outros alimentos, nas

composteiras, ajudando a ampliar e manter a horta.

As discussões em sala de aula a respeito dos temas como Educação

Ambiental, sustentabilidade, o reaproveitamento de lixo (resíduos sólidos e

orgânicos), como utilizar estes resíduos e a horta, tipos de plantas mais adequadas,

o efeito do Sol e da água nas plantas e a mudança nos hábitos alimentares dos

alunos através do consumo de verduras produzidas por eles mesmos só trouxeram

enriquecimento para o projeto, proporcionando um aprendizado diferenciado das

nossas aulas de matemática, pois, oportunizou em vários momentos, ao aluno,

correlacionar alguns dos conhecimentos da horta com a disciplina.

No dia a dia os alunos puderam observar o ótimo desenvolvimento das

plantas e discutir em sala de aula que este fato se devia a aplicação do adubo

preparado por eles mesmos, ou seja, ao composto orgânico, constituindo-se em rico

material de ensino-aprendizagem.

Muitos alunos levaram verduras para casa, como alface e repolho e

puderam apreciar mesmo no lanche da escola que, em alguns dias, foram

preparados pelas merendeiras.

Diante da questão ambiental, alimentar e nutricional, fica evidenciada a grande responsabilidade da escola na formação de atitudes e opiniões que favorecem ou impedem a melhoria da qualidade da vida em comunidade. (BARBOSA, 2008, p. 17 – 18)

Os conceitos referentes ao reaproveitamento de resíduos, a horta e a

alimentação saudável, foram amplamente trabalhados com os alunos. Objetivou-se

uma abertura da visão dos mesmos, pois a produção de alimentos saudáveis deve

ser sempre enfatizada, uma vez que, trata-se de uma forma simples, mas eficaz de

contribuição para uma melhor qualidade alimentar dos alunos e de seus familiares

por meio da agricultura orgânica, além de estar auxiliando na preservação do Meio

Ambiente, no qual o aluno está inserido como parte integrante.

Ao final do projeto, os alunos responderam a um questionário onde foram

indagadas questões referentes à disseminação e à aplicação do conhecimento

recebido em seus lares, assim como sua importância. As perguntas apresentaram

questionamentos do tipo: “o que acrescentou aos seus conhecimentos; se eles

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passaram a dar mais importância ao Meio Ambiente e por quê; se já possuíam ou

iniciaram sua própria horta; se ensinaram a mais alguém sobre como fazer uma

horta e produzir composto orgânico em casa; se a horta da nossa escola melhorou a

merenda escolar; o que mais ele gostaria de fazer na horta da escola e, a etapa do

trabalho que julga ter sido mais importante para sua vida?”

Observa-se, que muitos alunos já possuíam hortas em seus lares, no

entanto, a maioria destes jamais havia participado ativamente; outros, além de

“colocar a mão na massa” gostavam muito do assunto. Aqui uma fala de um aluno

“[...] em minha casa existe plantações e eu gosto muito de plantar e zelar das

plantas.” E de outro aluno “[...] a gente está aprendendo passo a passo sobre as

plantas, como cuidar, o que devemos colocar nelas para termos melhores resultados

e aprendemos coisas muito interessantes e que ainda não sabíamos, até como

devem ser plantados as sementes ou as mudas.”

Algumas falas demonstram a motivação e a viabilidade do trabalho, como a

de um aluno: “É mais fácil de aprender desse jeito, porque você pega na planta, vê

cada parte dela mais fácil” ou como outro “O projeto foi muito bom, aprendi muitas

coisas novas, é diferente e muito legal porque assim não ficamos apenas

aprendendo teoria e sabemos como acontece na prática, é mais fácil para aprender”.

Em contrapartida, sempre temos pessoas adversas aos objetivos propostos,

como podemos observar na fala de um aluno: “Eu gostei muito porque não tinha que

ficar fazendo tarefa em sala de aula”. Vale considerar tal fala, pois, estamos

trabalhando com pessoas, que são variáveis complexas de serem entendidas,e a

totalidade de abrangência talvez seja utópica. Mas, opiniões divergentes das nossas

são de grande importância e é saudável a existência de controvérsia, pois assim nos

motiva a ir além, buscar sempre novas metodologias visando agradar um número

maior de pessoas e assim tornar o processo de ensino-aprendizagem moldável e

flexível.

O aluno, ao estar contido numa realidade próxima, e vendo-a transformada

em conhecimento científico, passa a aprender por meio de descobertas, e após a

adequação do aluno neste sistema de aprendizagem, passa a querer descobrir o

meio natural no qual está inserido. Assim sendo, o sentimento de preservação passa

a ser valorizado e efetivado.

Alguns dos dados apresentados não corresponderam aos esperados.

Sabemos que a educação, por mais esmerada que seja, buscando abranger um

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número maior de pessoas e trabalhar com as inteligências múltiplas, dificilmente

atingirá a totalidade dos alunos. Na educação, estamos trabalhando com pessoas,

que nunca serão um dado fixo, mas sempre uma variável, cada qual com seu modo

de vida, forma de pensar, dificuldades cognitivas, entre outras.

A produção de ervas medicinais já está sendo implantada, bem como a

produção de temperos para a merenda escolar. A horta passa agora a fazer parte do

colégio pois, com o envolvimento da direção, professores, agentes educacionais e

alunos haverá continuidade da mesma.

Os saberes ambientais são necessários, pois o seu uso na conscientização

de jovens e adolescentes deve estar presente em pequenos gestos do cotidiano,

pois o indivíduo passa a valorizar o ambiente onde vive, e assim, fazer dele uma

área onde a preservação e o uso racional dos recursos naturais estejam efetivados.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A horta na escola pode nos propiciar um trabalho excelente, pois é um

laboratório onde podemos desenvolver atividades pedagógicas relacionadas a

Educação Ambiental e Alimentar através da teoria e da prática, contextualizando o

ensino aprendizagem, além de propiciar o trabalho coletivo entre a comunidade

escolar.

Os resultados apresentados indicam que a estratégia foi plenamente aceita

pelos alunos, os quais se sentiram motivados e empenhados ao ensino-aprendizado

proposto. Prova-se então a contribuição do emprego da olericultura para o ensino de

Educação Ambiental e Alimentar, pois o avanço dos alunos em relação aos

conteúdos trabalhados foi considerável.

Através da metodologia empregada, houve assimilação dos conteúdos de

Educação Ambiental e olericultura, mas seria de suma importância o envolvimento

de agentes externos como técnicos agrícolas ou até mesmo um agrônomo para

auxiliar em todas as questões desenvolvidas nesse projeto, como princípios de

horticultura, compostagem, tipos de produção de alimentos, manejo de solo, entre

outros.

Dentre as plantas cultivadas estão, alface, repolho, beterraba, pepino e

cebolinha. Os alunos querem agora, o que me causou espanto aliado a satisfação,

plantar outros vegetais como milho, abobrinha, tomate e, até ervas medicinais.

Alguns sugeriram até plantar flores ao redor da horta.

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Fica como sugestão que a escola, no caso de interesse na continuidade do

projeto, juntamente com a equipe pedagógica, procure envolver todos ou a maioria

dos professores de outras áreas/disciplinas para o desenvolvimento de um trabalho

transversal, afinal está claro pelos resultados apresentados que o mesmo é possível.

Também sugerimos buscar parceria com Colégios Agrícolas ou Emater, que

desenvolvem projetos assim para que os alunos tenham conhecimentos técnicos

mais aprofundados.

Vale ressaltar que a direção do colégio já manifestou a intenção em dar

continuidade a este trabalho.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Brasiliense, 1981. BRASIL. Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005. 160 p. BARBOSA, Najla Veloso Sampaio – A horta escolar dinamizando o currículo da escola. 2 ed. – Brasília: Ministério da Educação – Cristal Gráfica e Editora LTDA. Brasília, 2008. NASCIMENTO, Luis Felipe - Gestão ambiental e sustentabilidade. – Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES : UAB, 2012. 148 p. TORRES, Carlos - Horta orgânica doméstica - Manual Clube do Jardim. Disponível em: http://permacoletivo.files.wordpress.com/2008/06/manual-horta-organica-domes tica.pdf, acesso em 11/11/2013.