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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

DESENVOLVIMENTO DO BASQUETEBOL ATRAVÉS DOS JOGOS COOPERATIVOS NA ESCOLA COM CRIANÇAS DO 6º ANO DO

ENSINO FUNDAMENTAL

Autor: Carla Cristina de Carvalho¹

Orientador: Carlos Eduardo da Costa Schneider2

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo incentivar a prática da modalidade do

basquetebol na escola com as crianças do 6°ano nas aulas de Educação Física, de

forma prazerosa e divertida através dos jogos cooperativos. Abordando uma

metodologia de Ensino que respeitasse as expectativas e interesses dos alunos, e

que buscasse promover a união, respeito, cooperação e solidariedade. Foi utilizado

como instrumento metodológico o Diário de Bordo, ferramenta de observação onde

coletou informações diárias das atitudes e processos dentro do ambiente trabalhado,

e orientado dentro do contexto pesquisado. Junto ao Diário de Bordo foi utilizado e

realizado um questionário desenvolvido pelo autor deste projeto de pesquisa, com

perguntas fechadas e abertas.

Palavra-chave : Educação Física, Jogos Cooperativos, Basquetebol, Ensino

Fundamental.

¹ Licenciada em Educação Física na Faculdade de Educação Física do Norte do Paraná- LONDRINA 1989 –FEFI. Especialização em Magistério da Educação Básica com concentração em Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamenta – Paranaguá 1997 FAFIPAR

2 Mestre em Recreação e Lazer pela Universidade do Porto - Portugal. Especialista em Magistério Superior pela Universidade Tuiuti do Paraná. Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Católica do Paraná - PUCPR. Professor de Educação Física e Orientador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

1. INTRODUÇÃO

A Educação Física vem se esforçando para superar o modelo tecnicista que

ainda influencia muito a prática do esporte no ambiente escolar. A reprodução de

movimentos técnicos e a competitividade nas aulas de educação física criam

situações que não favorecem a integração entre os alunos, dificultando sua

participação e desmotivando-os. Por isso é importante promover aulas de Educação

Física que venham ao encontro real do papel da disciplina na escola, de modo a

desenvolver estratégias que auxiliem a aprendizagem privilegiando o lúdico,

cooperação, união e solidariedade.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais, a exacerbação e a ênfase na

competição, na técnica, no desempenho máximo e nas comparações absolutas e

objetivas faz do esporte na escola uma prática pedagógica potencialmente

excludente, pois, desta maneira, só os mais fortes, hábeis e ágeis conseguem viver

o lúdico e sentir prazer na vivência e no aprendizado desse conteúdo

(PARANÁ/SEED/DCE, 2008, p.63).

Compreendemos que a criança não necessita de elementos que lhe dê

especialidades quanto aos aspectos técnicos, tático ou físico do jogo, aqui

especificamente o de basquetebol, mas que o familiarize com estes. Isto porque se

acredita que o interesse da criança está mais próximo de jogar livremente,

experimentar o jogo, conhecer e criar movimentos, conviver e brincar com outras

crianças (Balbino; Paes, 2005).

A diferença principal entre os jogos competitivos e cooperativos é que nos

jogos cooperativos todo mundo coopera e todos ganham e estes jogos eliminam o

medo e o sentimento de fracasso. O principal objetivo seria criar oportunidade para o

aprendizado cooperativo e prazeroso. (ORLICK, 1989, p. 123).

Brotto (2001) afirma que um dos objetivos principais dos Jogos Cooperativos

é gerar a harmonia nas diferenças, pois ao se respeitar o limite do outro, superamos

a barreira do individualismo e nos conscientizamos de que é possível viver bem com

as divergências.

Reconhecendo antes de tudo que a Educação Física é uma prática

pedagógica, ela assume o papel de resgatar os valores humanos que

verdadeiramente possam socializar e privilegiar o coletivo sobre o individual, garantir

a solidariedade e o respeito humano e levar à compreensão de que a brincadeira se

faz com o outro e não contra o outro (ASSIS, 2005).

Segundo Cortez (1999), para transformar essa realidade e tornar a escola um

ambiente alegre, agradável de estar e aprender, é necessário mudar a prática

pedagógica, utilizando atividades que valorizem as experiências e desejos dos

alunos e jogos que criam oportunidades para o desenvolvimento físico, moral e

intelectual garantindo, dessa forma, a formação de um indivíduo com consciência

social, crítica, solidária e democrática.

No caso específico do Basquetebol, a educação deve estar sempre presente

no seu processo de ensino aprendizagem. Esta modalidade pode exercer importante

função educativa, a partir do momento em que percebe a possibilidade se sua

prática desenvolver algumas qualidades sócio motrizes, como a solidariedade e o

espírito de equipe (PAES, 1992).

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 História e Evolução - Basquetebol

O presente estudo objetiva apresentar os Jogos Cooperativos como prática

pedagógica no contexto escolar nas aulas de Educação Física na modalidade de

basquetebol.

Segundo Vieira e Freitas (2006), o basquete tem suas origens nas mais

antigas sociedades, porém na sua forma atual é conhecido desde 1891. Foi criado

pelo professor de Educação Física canadense James Naismith, na Associação

Cristã de Moços de Springfield (Massachussetts) EUA.

O basquetebol é jogado por duas equipes de cinco jogadores, sendo que o

objetivo de cada equipe é o de marcar pontos na equipe adversária e evitar que a

outra equipe faça pontos.

Os mesmos autores apontam que Naismith criou o jogo pela necessidade de

incentivar a prática da atividade física pelos alunos da ACM local, em razão da falta

de interesse devido à monotonia das aulas, atividade que pudesse ser realizada em

local coberto, para fugir do inverno rigoroso e envolver um grande número de

pessoas na mesma atividade.

No Brasil começou quando o norte-americano Augusto Shaw introduziu o

esporte na Associação Atlética Mackenzie de São Paulo, em 1896. Depois na Escola

Normal da Praça (Instituto Caetano de Campos) e na ACM de São Paulo.

O primeiro campeonato Brasileiro foi realizado em 1925.

De acordo com Rose Junior e Tricoli (2005), os fundamentos são gestos

básicos do jogo, que podem ser executados isoladamente ou combinados com

outros fundamentos, mas dependem das capacidades motoras, condicionais e

coordenativas.

Fundamentos de defesa têm como características controle do corpo, posição

defensiva e rebote.

Fundamentos de ataque têm como características controle do corpo, controle

da bola, drible, arremesso, passe e rebote. Os fundamentos são: controle do corpo,

manejo de bola, drible, arremesso (jump, bandeja e gancho), finta e passe.

As regras do basquetebol são: definição do esporte, dimensões da quadra,

oficiais de arbitragem, jogadores substitutos e técnicos, regulamentação do tempo

de jogo, regulamentação do jogo, violações, faltas, faltas técnicas e provisões

gerais.

2.2 A Educação Física e os Jogos Cooperativos

Os Jogos Cooperativos, enquanto ação pedagógica de jogar com o outro,

busca um aprendizado de companheirismo, da questão do jogo coletivo e

principalmente vai de encontro com a solidariedade para com o próximo, cujo, os

elementos são primordiais para o processo educativo, e educação integral,

propiciando entretenimento às aulas, levando-a na Educação Física escolar a ser

motivada a aprender jogando.

Contudo, torna-se imprescindível ao educador uma postura de renovação das

práticas educativas necessárias à formação motora integral de seus alunos em suas

aulas de Educação Física. De acordo com Borges, ele comenta sobre essa postura

que o professor deve ter “A criança está nas mãos do professor e este, portanto, tem

a responsabilidade de lhe proporcionar boas condições para que se desenvolva

integralmente” (2002, p.137). Esta atitude em relação ao aluno cria uma junção de

interação entre o educador e o educando, onde esta questão é importantíssima na

relação ensino aprendizagem do aluno.

Na Educação Física escolar e na vida real do nosso dia a dia é necessário a

criança ter o hábito de comunicar-se constantemente com as outras crianças, pais,

com o professor, e todos aqueles que estão ao seu redor, deve conduzi-la e instigá-

la para participar, interagir e vivenciar as práticas propostas.

O professor deve guiar a criança, a cada aula, numa ação contínua, no

encanto que as levará ao conhecimento e as dimensões que perpassam o seu

desenvolvimento, num espaço de tempo muito curto, a um aprendizado satisfatório e

contagiante que é a descoberta e a participação ativa nos jogos cooperativos.

Segundo Lavorski (2008) para o desenvolvimento integral dos alunos é

necessário que o educador utilize as mais diversas ferramentas, entre as quais

podemos citar os jogos e brincadeiras, que por sua vez são momentos únicos, nos

quais a criança tem a oportunidade de se expressar com o meio que a cerca.

Nesses momentos de prazer a criança não só se diverte, mas desenvolve

criatividade, raciocínio, mais humanidade, coordenação motora, domínios cognitivos,

afetivos, psicomotores e sociais.

Durante a infância a criança passa por estágios e fases que são fundamentais

para o seu desenvolvimento, sendo que uma delas é realizada na primeira infância,

na qual a atividade motora e cognitiva são interligada. Dessa forma, os jogos

possivelmente contribuem para evolução dos alunos, pois a criança se desenvolve

nos aspectos sociais, intelectual, afetivo e motor. Na mesma compreensão, sabe-se

que a Educação Física ultrapassa os limites do próprio corpo, assim o jogo

possibilita a produção de condições que favorecem a evolução dos alunos com

harmonia, porque ao brincar a criança relaciona a realidade com a imaginação

(SILVA 2008).

Segundo Orlick, um dos maiores estudiosos do tema, que pesquisou a

relação entre jogo e sociedade, relata que os Jogos Cooperativos, não são

manifestações culturais recentes, eles existem há milhares de anos. Mas começou a

ser sistematizado na década de 1950 nos Estados Unidos, através dos trabalhos de

Ted Lentz. No Brasil o pioneiro é o professor Fábio Otuzi Brotto, que vem

trabalhando e divulgando a proposta e a metodologia dos Jogos Cooperativos.

Brotto, ao analisar e comparar os jogos competitivos e cooperativos, não tem

a intenção de opor um ao outro.

(...) visa primeiramente, ampliar nossa percepção sobre as dimensões que o

Jogo e o Esporte nos oferecem como campo de vivência humana. E, em

segundo lugar, pretende indicar que nos Jogos e Esportes, bem como na

Vida, existem alternativas para jogar além das formas de competição,

usualmente sugeridas como única ou a melhor maneira de jogar e viver.

(BROTTO, 2002, p. 56-7).

Em continuidade, Brotto (1999), explicita a definição de ambos: Cooperação:

é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são

compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.Competição: é um

processo de interação social, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as

ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os benefícios são

concentrados somente para alguns.

Vamos analisar, a tabela “Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos”,

adaptada de Walker (apud Brotto, 2002, p. 56), que traz uma comparação entre

essas duas formas de jogar.

JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS

São divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.

Alguns jogadores são excluídos por sua falta de habilidade.

Todos se envolvem independentemente de sua habilidade.

Seus adeptos aprendem a ser desconfiados, egoístas ou a se sentirem melindrados com os outros.

Aprende-se a compartilhar e a confiar.

Divisão por categorias, por exemplo, “meninos x meninas”, criando barreiras entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão.

Há mistura de grupos que brincam juntos criando alto nível de aceitação mútua.

Os “perdedores” ficam de fora do jogo e se tornam meros expectadores.

Os jogadores ficam envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades.

Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando algo “ruim” acontece aos outros.

Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros, desejando também o seu sucesso.

Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um “senso de unidade”.

Os jogadores perdem a confiança em si mesmos quando são derrotados ou rejeitados.

Desenvolve-se a autoconfiança porque todos são bem-aceitos.

Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns

jogadores um sentimento de desistência diante de dificuldades.

A habilidade de perseverar face às dificuldades é

fortalecida.

Poucos se tornam bem-sucedidos. Todos encontram um caminho para o crescimento e o desenvolvimento.

Para Orlick ([1978], p. 116), ao introduzir atividades e jogos que alterem os

conceitos de vitória e derrota das crianças, a vontade de participar apenas pelos

valores intrínsecos do jogo é legitimada e reavivada. A experiência com esses novos

jogos deve demonstrar que ser aceito como ser humano (e aceitar os outros) não

depende de um resultado numérico. Mas para aqueles que desejarem, mais tarde,

deverão encarar a competição e também a cooperação de modo saudável e

positivo. Assim, os esportes se tornarão uma busca pelo desenvolvimento pessoal, e

não uma oportunidade de destruir os outros ou uma questão de vida ou morte.

2.3 As Diretrizes Curriculares e os Jogos Cooperati vos

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Física (2006), os

Jogos Cooperativos devem ser trabalhados nas aulas dessa disciplina, visando a

não subordinação de um sujeito sobre os outros.

Sendo assim, o espírito de equipe deve ser enfatizado. Os alunos deverão ser

conscientizados de que todos têm sua importância, independente das dificuldades

individuais

Grande parte dos Jogos conhecidos estimula o confronto ao invés do

encontro. São situações capazes de eliminar a diversão e a pura alegria de jogar,

sendo estruturados para eliminação de pessoas e para produzir mais perdedores do

que vencedores, os jogos tornaram-se um espaço de tensão e ilusão. (CANOTILHO,

2006, p. 23).

Afirma-se que competir faz parte da natureza do homem. Entretanto, Soler

(2003) diz que a cooperação e a competição são valores socioculturais, ou seja, são

comportamentos ensinados e aprendidos por meio das relações sociais

provenientes da educação formal ou informal, pela qual o indivíduo será influenciado

a competir exacerbadamente ou a cooperar com os seus pares.

Kamii et alli (1991) salientam que se o adulto trabalhar a competição com a

criança de forma natural, sem glorificar o vencedor e humilhar o perdedor, não

enfatizará o seu aspecto negativo. Na verdade, a competição sem limites reforça o

individualismo e diminui a autoestima, pois promove a exclusão, aumentando a

frustração que desencadeará em comportamentos agressivos.

É possível que na escola alguns jogos estimulem a agressividade entre os

educandos, pois a nossa cultura é responsável em promover a busca pela vitória a

qualquer custo, sendo indiferente às desastrosas consequências que essa atitude

pode gerar às pessoas envolvidas nesse contexto.

Costa (2003) salienta que a violência nasce da agressividade, sendo utilizada

para satisfazer os desejos destrutivos do homem e para resolver conflitos de

interesses, porém, essa violência pode ser domesticada pela ação da civilização.

Sendo assim, postula-se que ao trabalhar o Jogos Cooperativos na escola se

estaria desenvolvendo uma ação que civilizaria o indivíduo. No Jogos Cooperativos,

segundo Broto (2001), os participantes jogam juntos e não uns contra os outros,

sendo enfatizado o trabalho em grupo, confiança e coesão grupal.

Assim, nas aulas de Jogos Cooperativos o professor tem uma maior

oportunidade de trabalhar valores humanos que estimularão uma prática voltada

para habilidades humanas e não habilidades de desempenho (ORLICK, 1989).

2.4 Pesquisando e discutindo os Jogos Cooperativos

Ainda em pouca quantidade e, em alguns casos, com pouco aprofundamento,

encontramos trabalhos de pesquisa publicados em dissertações, periódicos e anais

de encontros que revelam um interesse e uma necessidade de estudos sobre os

Jogos Cooperativos.

Uma das poucas dissertações é a de Cortez (1999). A autora identificou, em

um grupo de alunos da 3a série do ensino fundamental, mudanças ocorridas no

nível de satisfação, alegria, autoestima, integração e competição a partir da

introdução de um programa de Jogos Cooperativos. Observou e analisou as

seguintes categorias de comportamentos e atitudes durante o trabalho com Jogos

Cooperativos: "ação aleatória; interação social; papel do desafio no 'fluir';

pensamento reflexivo e solução de problemas e cooperação" (p. 101). De uma

forma geral, suas observações e análises demonstraram haver alegria e satisfação

durante a maior parte da experiência, além de muita vontade e empenho dos alunos

para solucionarem imprevistos e dificuldades na execução das atividades

cooperativas. Os Jogos Cooperativos exigem dos alunos um novo comportamento e

uma nova forma de jogar que melhoram a interação social, pois os mesmos são

levados a perceber a possibilidade de haver divertimento sem a competição que

estão acostumados.

Esses conflitos são vistos como oportunidades para questionar com os alunos

o paradigma da competição e pensar com eles a perspectiva da cooperação em

suas relações cotidianas. Correia (2006b) relata uma experiência com alunos do

ensino fundamental, em uma escola pública da rede estadual do Rio de Janeiro,

onde foi pesquisador e docente. Mostra que nem sempre as atividades com Jogos

Cooperativos são prontamente aceitas, mas admite que despertam questões sociais

quando "confrontados" com a realidade da cultura competitiva trazida pelos alunos.

Esses conflitos são vistos como oportunidades para questionar com os alunos o

paradigma da competição e pensar com eles a perspectiva da cooperação em suas

relações cotidianas. Encontra nos Jogos Cooperativos uma proposta coerente com

as perspectivas de mudança ou de superação do "mito da competição" (Correia,

2006b, p. 150) que a Educação Física escolar vem buscando.

Embora o trabalho de Santo, Silva e Barbosa (2005) não aprofundem a

questão filosófica importante, levantada por eles mesmos, sobre os Jogos

Cooperativos, o relatamos, porque caminha em um sentido contrário às críticas

sobre a visão esportiva e competitiva dos últimos anos. Baseados em suas

"reflexões nietzschianas" (p. 240), os autores criticam os Jogos Cooperativos,

porque "aspiram um certo coletivismo muito nocivo do ponto de vista pedagógico" (p.

239). As críticas desses autores precisam ser vistas cuidadosamente, uma vez que

os mesmos se apropriam de conceitos de um filósofo com pensamento bastante

complexo, mas sem dar o devido aprofundamento ás questões levantadas. Além do

mais, Brown (1995) e Correia (2006a e 2006b) ressaltam o cuidado para que os

Jogos Cooperativos não sejam vistos como resignadores ou redentores, mas,

apesar disso, não deixam de considerar seu potencial transformador.

Com o cuidado de evitar abordar os Jogos Cooperativos com uma visão

redentora ou resignadora, Correia (2006b), apoiado em Brown (1995), ressalta como

grande um desafio para a Educação Física: levar a cooperação além do prazer do

jogo, da aula e da escola.

Enfim, Corella (2006), em Cuba, concluiu que os Jogos Cooperativos não são

muito utilizados em seu país por conta do desconhecimento da proposta pelos

professores, mas reconhece um acordo no âmbito internacional quanto à

importância e ao potencial dos mesmos nas aulas de Educação Física. Recomenda

a capacitação de professores de Educação Física em Jogos Cooperativos para que

qualidades como ajuda mútua, solidariedade e cooperação possam ser melhor

desenvolvidas nas escolas.

3. METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa

O presente estudo caracteriza-se numa abordagem qualitativa descritiva e

interpretativa com a estratégia de estudo de caso. Basicamente, a metodologia

qualitativa busca entender uma realidade que não deve ser quantificada,

trabalhando no campo dos valores e significados (Minayo, 2008). Sendo assim:

[...] a metodologia qualitativa, pelo fato de trabalhar em

profundidade, possibilita que se compreenda a forma de vida das

pessoas, não sendo apenas um inventário sobre a vida de um grupo.

As técnicas utilizadas permitem, entre outras coisas, o registro do

comportamento não verbal e o recebimento de informações não

esperadas, porque não seguem necessariamente um roteiro fechado,

percebendo como bem-vindos os dados novos, não previstos

anteriormente (VICTORA, 2000).

Segundo Netto (2006), o modelo de pesquisa descritiva é aquele que enfoca

o seu trabalho na identificação, registro e análise de características que se

relacionam com o mundo físico e seus fenômenos. Pode ser considerado um estudo

de caso, onde após a coleta de dados, é realizada uma análise das relações entre

as variáveis.

Ainda para justificar a escolha dessa abordagem cito Cauduro (2004, p.20)

quando afirma que na pesquisa qualitativa, são explorados “a fundo conceitos,

atitudes, comportamentos, opiniões e atributos do universo pesquisado, avaliando

aspectos emocionais e intencionais, implícitos nas opiniões dos sujeitos da

pesquisa”, possibilitando, assim, analisar todas as questões que envolvem a

participação da família e escola no projeto social esportivo.

3.2 Instrumentos metodológicos

O instrumento metodológico utilizado para coletar informações foi o

questionário desenvolvido pelo autor deste projeto de pesquisa, com perguntas

fechadas e abertas, o Diário de Bordo, ferramenta de observação onde coletou

informações diárias das atitudes e processos dentro do ambiente trabalhado,

orientado dentro do contexto pesquisado.

Segundo Bogdan e Biklen (1994) o Diário de bordo é utilizado relativamente

às notas de campo. O diário de bordo tem como objetivo ser um instrumento em que

o investigador vai registando as notas retiradas das suas observações no campo.

Bogdan e Bilken (1994:150) referem que essas notas são “ o relato escrito daquilo

que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo

sobre os dados de um estudo qualitativo”.

No caso de o investigador ser um observador participante, alguns autores

(Yin, 1994:88; Merriam, 1995:11), alertam para esse risco, mas também para as

excelentes oportunidades que esse papel pode proporcionar. O diário de bordo

representa, não só, uma fonte importante de dados, mas também pode apoiar o

investigador a acompanhar o desenvolvimento do estudo.

3.3 Universo da pesquisa

O universo da pesquisa é composto por 34 pré- adolescentes, do 6º ano do

ensino fundamental da região litorânea do Paraná, com faixa etária de 11 a 15 anos,

participantes ativos das atividades curriculares no Colégio Estadual José Bonifácio

ensino fundamental, médio e profissional da Rede Estadual do Paraná.

A amostra analisada foi especificamente de 34 alunos pré-adolescentes,

sendo 18 do sexo feminino (11 a 13anos) e 16 do sexo masculino (11 a 15 anos). As

intervenções foram ministradas com duas aulas semanais, cada uma de 50 minutos

com o basquetebol e os jogos cooperativos pelo período de 4 meses. Onde foi

observado presencialmente o desenvolvimento de todas as atividades pelo professor

autor.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o período de coleta de dados das entrevistas semi-estruturadas e das

observações realizadas através do diário de bordo, as respostas foram digitalizadas

e analisadas. Diante dessas questões, optou-se por trabalhar com uma análise de

conteúdo, onde categorizou-se o retorno da coleta de dados para melhor

compreensão do pesquisador (BARDIN, 2002).

Através das respostas similares foi possível relatar por meio de tabelas, o

número(N) e a porcentagem (%) de respostas similares para cada questionamento,

separando as discussões dos resultados por cada questão analisada.

Pergunta 1

O que mudou nas aulas com as intervenções do basque tebol com os jogos cooperativos?

N %

Participei mais das aulas com amigos 31 91 Participei normalmente das aulas 3 8

As aulas administradas com o basquete e os jogos cooperativos incentivaram

as crianças a desenvolver as atividades mais animadas, descontraídas sem nenhum

receio de brincar e interagirem juntas. Os momentos de aprendizagem foram aceitos

em realizar em grupo, dois a dois ou com todos. Auxiliando nas relações

interpessoais contribuindo assim, a desenvolver atitudes pró-ativas.

A ideia básica da proposta pelo jogo cooperativo é de permitir mudanças de

sentimentos e de encontrarmos em contato íntimo com as nossas emoções para

potencializar as Habilidades Humanas básicas como: o amor, a alegria, a

criatividade, a confiança, o respeito, a responsabilidade, a liberdade, a autonomia, a

paciência, a humildade, etc. (ALMEIDA, 2003).

Nesta proposta visamos à participação de todos para alcançar um objetivo

comum, onde a motivação não é perder, a motivação está centrada na participação,

onde tem como interesse principal o processo e não o resultado. (ALMEIDA, 2003).

Pergunta 2

É importante a realização dos jogos coope rativos nas aulas de educação física. Por que?

N %

Sim. Aprendemos mais o conteúdo 34 100 Não. Aprendemos do mesmo jeito 0 00

Os jogos cooperativos propõem a busca de novas formas de jogar, com o

intuito de diminuir as manifestações de agressividade nos jogos, promovendo

atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade

(AMARAL, 2001).

A preocupação é a busca de metodologias educativas que fortaleçam as

relações de respeito entre as crianças diminuindo a representação da sociedade

capitalista, preocupada em vencer sempre individualizando e distanciando as

pessoas.

Por isso que para Brotto (1999) nenhuma pessoa joga ou vive sozinha. “Bem

como, ninguém joga ou vive tão bem, em oposição e competição contra os outros,

como se fossem ou vissem em sinergia e cooperação com todos”. Para o autor:

(Os jogos cooperativos propõe um exercício de ampliação da visão sobre a

realidade da vida refletida no Jogo. Percebendo melhor o Jogo-Vida é

possível Jogar-Viver com consciência e discernir sobre os diferentes estilos

de Jogo-Vida disponível em cada momento (BROTTO, 1999, P. 91).

Nesta proposta visamos à participação de todos para alcançar um objetivo comum,

onde a motivação não é perder, a motivação está centrada na participação. Nesse

sentido, a proposta educativa tem como interesse principal o processo e não o

resultado. (ALMEIDA, 2003).

4.1. Considerações Finais

Após a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, cujo

objetivo principal foi traçar uma estratégia de superação da competitividade

exacerbada nas aulas de Educação Física e a busca da necessidade de maior

interação entre as pessoas por meio dos Jogos Cooperativos, desenvolveu-se uma

metodologia prazerosa e muito participativa.

Esta interação pode ocorrer por meio dos jogos na escola, pois Huizinga

(1992) frisa que é no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve, é

através dele que conhecemos a comunidade que ali se encontra.

Autores como Brotto (2001) apresentam que é por meio do esporte e dos

jogos que o professor tem oportunidades de, ao mesmo tempo em que estiver

ensinando, aprender, procurando se aperfeiçoar cada vez mais por meios técnicos e

táticos, etc., com a finalidade de transmitir de forma correta e bem feita seus

conhecimentos. Desta forma, os jogos cooperativos vêm propor uma busca de

novas formas de jogar, com o intuito de diminuir as manifestações de agressividade

nos jogos, promovendo atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria

e solidariedade (AMARAL, 2004). Todos esses sentimentos que o jogo propicia são

os que estamos precisando na escola para fazer de nossos alunos cidadãos,

atualmente.

A competição existe. Isso é um fato! Mas é importante que mostremos aos

nossos alunos que há outra possibilidade e que esta, a cooperação, nos traz vários

benefícios pessoais e intelectuais, para que futuramente eles possam competir de

uma forma mais honesta consigo mesmo e com o outro.

Esta construção começa durante as aulas de Educação Física, mas não

exclusivamente. Darido (2001) afirma que a Educação Física tem várias

perspectivas metodológicas, e uma delas é a dos jogos cooperativos, que têm como

finalidade fazer com que todos os alunos cooperem mais uns com os outros para

atingirem um determinado objetivo, e também contribui no processo de solidarização

deles. Porque nenhuma pessoa joga ou consegue

viver sozinha.

Considerando todos os fatores, relações sociais ou vivência em sociedade, e

cidadania, observa-se uma ligação entre eles que resulta em uma convivência

melhor e também uma qualidade de vida para as pessoas.

Desta forma, a cooperação pode trazer muitos benefícios para a educação,

mas para que todos possam usufruir destes, é preciso, ou melhor, necessário que se

aprenda a utilizar a aprendizagem cooperativa, pois como observado através da

teoria de Piaget, ela está centrada na criança que consegue desenvolver muito mais

seus relacionamentos sociais por não ter sentimentos negativos e sim positivos.

As propostas realizadas através de atividades lúdicas contribuíram

positivamente para mudanças de hábitos e as atitudes entre as crianças

fortalecendo a confiança e criando um vínculo maior entre elas. Essas situações que

foram se apresentando e melhorando as relações, criando e valorizando a amizade

favoreceram o reconhecimento da brincadeira, do jogo e do esporte que inclui e que

se preocupa em “agregar sem haver ou criar adversários.

Faz-se necessário ao educador, buscar recursos que possibilitem ainda o

trabalho escolar contextualizado à vida real do aluno, justificado por valores sociais

marcados pelo desenvolvimento do homem na história da humanidade, ou seja,

planejar, sistematizar e desenvolver atividades com o objetivo de promover, na

escola, a socialização de nossos jovens, utilizando como recurso pedagógico os

jogos cooperativos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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professores de educação física: uma possibilidade de mudança

paradigmática. 2004. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Curso de

pós-graduação em Educação, Setor de Educação, Universidade Federal do

Paraná, Curitiba, 2004.

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• ALMEIDA, Marcos. Jogos Cooperativos na Educação Física: uma proposta

lúdica para a paz. III Congresso Estatal y I Iberoamericano de Actividades

Físicas Cooperativas. Gijón (Astúrias). Ceará, 2003.

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• BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari . Investigação Qualitativa em Educação,

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• BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.

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