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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O CONSELHO ESCOLAR E A DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA:
Possibilidades e limites para a construção da escola popular.
Autora: Cleonizete Totti1
Orientador: José Luiz Zanella2
Resumo:Apresentamos, nos limites deste artigo, a experiência obtida com o Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, turma 2013/2014. O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Município de Boa Esperança do Iguaçu – PR, tendo como público-alvo a comunidade escolar. O artigo discute os limites e as possibilidades para que tenhamos um processo democrático na escola, com a participação efetiva dos Conselhos Escolares. O estudo inicial baseia-se na importância da participação da comunidade nas ações da escola e, em seguida, aponta os resultados da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola. Uma das dificuldades encontradas para o desenvolvimento de uma gestão democrática é a diversidade cultural, política, social e econômica dos sujeitos que participam da gestão da escola. Este estudo procura mostrar que para haver gestão democrática na escola é fundamental a existência de espaços para que novas relações sociais entre os diversos segmentos escolares possam acontecer. Faz-se necessário também, discutir as ações com todos os segmentos da escola, para estas sejam descentralizadas, as decisões sejam tomadas no coletivo e a gestão democrática realmente aconteça.
Palavras – chave: Escola. Gestão Democrática. Participação. Conselho Escolar.
1 Introdução
Este artigo é resultado de estudos que foram realizados para a elaboração do
projeto de Intervenção Pedagógica durante a participação no Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, na turma 2013/2014. Busca-se através
deste, relatar o que foi planejado no Projeto de Intervenção Pedagógica, intitulado:
“O Conselho Escolar na Democratização da Escola Pública: Possibilidades e limites
na construção da escola popular”, que teve como objetivo fortalecer os Conselhos
Escolares e analisar como ocorre a democratização das relações administrativas e
1Especialização em Ciências do 2º Grau – Química, Licenciada em Ciências com Habilitação em Química, Professora do Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Ensino Fundamental e Médio. E-mail: [email protected] 2Doutor em Educação, Especialização para Educadores de Jovens e Adultos, Graduado em Filosofia e
Professor Efetivo da Universidade Estadual do Centro Oeste, Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]
pedagógicas dentro da escola e sua articulação com a comunidade no Colégio
Estadual Boa Esperança do Iguaçu.
A escolha do tema do Projeto de Intervenção Pedagógica foi baseada nas
constantes transformações que tem ocorrido no âmbito educacional, sendo que a
escola não pode deixar de acompanhar essas transformações e também nos
documentos que legitimam a gestão democrática, estabelecendo a participação da
comunidade escolar nas decisões da escola. Sabemos que muitos são os
obstáculos e limitações que encontramos na escola para que tenhamos um
processo democrático, entre eles está o papel do gestor frente à escola e a maneira
como mobiliza ou não a comunidade escolar e local para participar.
O artigo trata, inicialmente, da reflexão teórico-metodológica que perpassou
os debates realizados durante a implementação do projeto na escola e, num
segundo momento, da sistematização das atividades realizadas na escola. Sustenta-
se que a participação coletiva depende da articulação do gestor. De nada adianta a
comunidade escolar estar disposta a participar das ações da escola, se o gestor não
der abertura e voz para a comunidade, impossibilitando-a de exercer seu papel na
escola.
2 Proposição teórico-metodológica do Projeto de Intervenção Pedagógica
As reformas educacionais da década de 80, de natureza progressista, tiveram
como referência o desenvolvimento humano e maior autonomia escolar. Com a
descentralização administrativa as escolas ganharam maior autonomia para elaborar
o Regimento Interno, forma de gestão, sistemas de avaliação, relação com a
comunidade, currículo e organização dos tempos escolares (Revista Espaço
Acadêmico, 2003).
No entanto, as escolas públicas ainda apresentam uma estrutura centralizada,
corporativista e fragmentada, de acordo com as discussões e opiniões dos
Professores da Rede Estadual durante o Grupo de Trabalho em Rede (GRT/2014).
E se queremos mudar essa realidade, os gestores e a comunidade não podem ficar
alheios a essas mudanças.
No respaldo da Lei, tanto a Constituição Federal de 1988 quanto a Lei de
Diretrizes e Bases (1996) amparam uma escola de gestão democratizada,
considerando a participação da comunidade escolar e local nas decisões da escola.
Aqui no estado do Paraná também se observa esse amparo para a democratização
da escola, pois o Conselho Estadual da Educação (1999) determina que todas as
escolas devem elaborar suas propostas pedagógicas. Assim, ao elaborar a sua
proposta pedagógica de acordo com as particularidades e especificidades locais é
possível obter maior autonomia no âmbito escolar. Porém, o que se observa na
maioria das escolas é que, no momento de construir sua proposta pedagógica,
acabam pegando uma proposta pronta, que não atende as particularidades e
especificidades do público-alvo, justificando que o aluno, em algum momento,
poderá pedir transferência e agindo dessa forma, não desenvolve sua autonomia.
Saviani (1983) afirma que a democracia tem que ser a perspectiva principal
de uma escola: portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu
conjunto, sob a condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto
de partida e a democracia como realidade no ponto de chegada. Mas, para que a
democracia aconteça, é necessário que os educadores ofereçam uma educação
emancipadora, onde escola e cidadãos tenham autonomia para exercer essa gestão
democrática, buscando meios de atender a diversidade de todos os envolvidos, num
ambiente que se possa compreender e respeitar as opiniões, construindo uma
escola que respeite a individualidade e trabalhe as especificidades para atingir a
qualidade no ensino. “Na história das ideias pedagógicas, a autonomia sempre foi
associada ao tema da liberdade individual e social, da ruptura com esquemas
centralizadores e, recentemente, da transformação social” (GADOTTI e ROMÂO ,
2004, p.44).
Segundo Paulo Freire (1996), em sua obra: Pedagogia da Autonomia, “A
autonomia faz parte da própria natureza educativa. Sem ela não há educação, não
há ensino, não há aprendizagem”.
Considerando ainda os escritos de Paulo Freire, em sua obra: Professora sim,
tia não, que se refere à democracia: “É que a democracia, como qualquer sonho,
não se faz com palavras desencarnadas, mas com reflexão e prática” (FREIRE,
1997, p. 91).
Analisando as ideias desse autor, é possível perceber a necessidade da
participação da comunidade escolar na busca da melhoria da qualidade de ensino,
pois a participação é um importante instrumento de gestão democrática da escola
pública.
Segundo (GADOTTI, 2004, p.35):
A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães, alunos, alunas, professores e funcionários assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola.
Em todas as organizações há divergências e isto é, de certa forma, até
positivo. O que dificulta nas gestões é saber lidar com essas adversidades, com os
grupos de oposição, por isso a importância do gestor ser criativo e firme a ponto de
conquistar os grupos que atrapalham o processo e fazê-los sentir-se parte integrante
do processo para alcançar o sucesso nas ações da escola. Isso será possível
acontecer se na escola houver lideres dinâmicos, transparentes, descentralizadores
de poder e que possibilitem a todos o acesso à informação e a participação nas
ações e decisões da escola.
[...] Ao se eleger um diretor de escola, o que se está elegendo é um projeto para a escola. [...] o projeto da escola depende da ousadia de seus agentes. [...] não se constrói um projeto político pedagógico sem uma direção política, um norte, um rumo. (GADOTTI, 2004, p. 40-41).
Para que a democracia aconteça de fato dentro da escola com a participação
efetiva da comunidade escolar é necessário que haja um conhecimento do Projeto
Político Pedagógico por parte de todos os envolvidos e que ele seja o norte para a
organização da escola.
O Projeto Político Pedagógico, além de ser uma obrigação legal, deve ser
construído por todos os segmentos da escola, a fim de discutir, planejar e organizar
o trabalho administrativo e pedagógico, de forma que traduza os objetivos, metas e
ações que irão determinar autonomia da escola, com propostas de ação concretas,
com a participação de cidadãos críticos e responsáveis para desenvolver as
atividades necessárias no processo ensino e aprendizagem (PARANÁ, 2010).
Em muitas escolas acontece a administração autocrática, isto é, a que
centraliza todo o poder na mão do gestor, que sobrecarregado com tanto trabalho
acaba gerando conflitos no ambiente escolar e prejudicando o processo ensino-
aprendizagem. Como pode haver gestão democrática onde os gestores estão
preocupados apenas com os seus interesses e não pensam coletivamente nos
interesses da escola? Como pensar em gestão democrática, quando é vivenciada na
escola a prática da injustiça, onde profissionais comprometidos com a democracia
na educação são perseguidos e pessoas individualistas e gananciosas levam
vantagens?
É possível perceber que há ausência da democracia na escola, até mesmo no
processo de consulta à comunidade escolar para a escolha de diretores, conforme a
reflexão de uma Professora da rede, durante a sua participação no fórum de
discussão do GTR:
A consulta à comunidade escolar deveria ser um processo mais viável para
representar a democracia na escola. Porém, como acompanhei algumas eleições, pude notar que nem sempre ela é verdadeira, tendo em vista que a direção (quando se candidata novamente) continua atuante na escola, durante o processo e escolhe Professores “amigos” ou “mais manipuláveis” para melhor controlar os encaminhamentos do pleito. O que eu observo, é que isso já é tão comum nas eleições que, em algumas escolas, nem candidatos mais aparece. Outro fator importante: o peso na contagem dos votos também deveria ser igual em todos os segmentos. Ora, se o processo é coletivo e democrático, porque o peso dos votos dos professores deve ser diferente e maior? (Nilza P. Crepaldi – Professora da Rede). [Grifo nosso]
Esta indagação feita pela professora da rede estadual nos faz pensar em qual
é o objetivo em utilizar esta fórmula matemática para a contagem de votos . Isso
torna o processo de escolha do gestor realmente democrático?
Os indivíduos nascem desprovidos de atributos culturais. É pela educação
que desenvolvem a sua cultura, que os tornam capazes de discordar do que a
minoria pensa e acredita. Necessita-se que sejam oportunizadas condições para
participarem da formulação de conceitos e valores. Para tanto, essa cultura
apresentada, criada e desenvolvida, exige um processo democrático, envolvendo
deliberações do que é considerado importante. Pois o importante para um sujeito,
não se apresenta no mesmo grau de importância para outro e, consequentemente,
tudo pode ser recriado a partir desse meio, dessa interação e convívio. Para que
isso aconteça é necessário remover obstáculos como desigualdades de poder e
dispor de espaço e tempo para reflexões a cerca do objetivo maior dentro da escola:
a qualidade do ensino.
[...] não podemos pensar que a gestão democrática vai resolver todos os problemas de um estabelecimento de ensino ou da educação, mas a sua implementação é, hoje, uma exigência da própria sociedade, que a enxerga como um dos possíveis caminhos para a democratização do poder na escola e na própria sociedade (PADILHA e ROMÂO, 2004, p. 92).
Sabe-se que muitos foram os avanços para a gestão democrática, mas o que
se observa é que, apesar desses avanços na gestão pública estadual do Paraná,
ainda, no chão da escola, há representantes que burlam as leis para atender alguns
casos que lhes convém. Isso só amplia o descontentamento e a falta de
comprometimento e responsabilidade com a escola, criando uma rotina pessimista
de ideias e ações que não desenvolvem o processo e, quando menos se espera, o
próprio gestor acaba desabando no abismo que ele mesmo gerou. Diante dessas
situações, faz-se necessário a atuação dos Conselhos Escolares e que estes
adotem a estratégia de participar ativamente do cotidiano da escola, fiscalizando as
ações do gestor e trabalhando de forma justa e igualitária.
[...] No âmbito da unidade escolar, esta constatação aponta para a necessidade da comunidade participar efetivamente da gestão da escola de modo a que esta ganhe autonomia [...] Não basta, entretanto, ter presente a necessidade da participação da população na escola. É preciso verificar em que condições essa participação pode tornar-se realidade (PARO, 2005, p.40).
No Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Ensino Fundamental e
Médio frequentam 367 alunos, distribuídos em três turnos. Os alunos são a maioria
de classe média/baixa e aproximadamente 70% são da zona rural. No corpo docente
e administrativo, há grande rotatividade de professores, pedagogos e funcionários
que são contratados pelo regime PSS e não sabem por quanto tempo ficarão com
esse emprego, e em muitos deles o que se observa é o descomprometimento com a
escola, pois não sabem se continuarão no ano seguinte. Então, como
construir/desenvolver um Projeto Político Pedagógico com tanta rotatividade dos
recursos humanos? De que forma o Conselho Escolar poderá ser participativo e
atuante? De que forma o gestor poderá descentralizar as ações? Como superar a
ideia de que Conselhos Escolares são apenas para existirem no papel e assinar
documentos?
O Conselho escolar é um órgão que representa a comunidade escolar, por
isso, deve ser formado por todos os segmentos da escola, constituindo um espaço
de discussão de caráter consultivo, deliberativo, fiscalizador e mobilizador. O
Conselho Escolar e a APMF constituem uma grande conquista para a
democratização da escola, pois essas instâncias aproximam as pessoas na tomada
de decisões na comunidade escolar, apesar de que em muitas escolas essas
instâncias existem apenas para formalizar e atender o que exige a lei (baseado no
depoimento dos professores da rede durante as discussões no fórum do GTR).
No Estatuto do Conselho Escolar, Cap.III, Art. 13 estão especificados os objetivos
desse Conselho no âmbito da escola, listados a seguir:
I - Realizar a gestão escolar numa perspectiva democrática, contemplando o coletivo, de acordo com as propostas educacionais contidas no Projeto Político-Pedagógico da Escola; II - Constituir-se em instrumento de democratização das relações no interior da escola, ampliando os espaços de efetiva participação da comunidade escolar nos processos decisórios sobre a natureza e a especificidade do trabalho pedagógico escolar; III - Promover o exercício da cidadania no interior da escola, articulando a integração e a participação dos diversos segmentos da comunidade escolar na construção de uma escola pública de qualidade, laica, gratuita e universal; IV - Estabelecer políticas e diretrizes norteadoras da organização do trabalho pedagógico na escola, a partir dos interesses e expectativas histórico-sociais, em consonância com as orientações da SEED e a legislação vigente; V - Acompanhar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido pela comunidade escolar, realizando as intervenções necessárias, tendo como pressuposto o Projeto Político-Pedagógico da escola; VI - Garantir o cumprimento da função social e da especificidade do trabalho pedagógico da escola, de modo que as organizações das atividades educativas escolares estejam pautadas nos princípios da gestão democrática (PARANÁ, 2010).
2.1Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica
No decorrer desses dois anos de participação no Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, é possível afirmar que os encontros e debates
com os colegas de curso, com os Professores das Universidades, os dados
alavancados na escola e as reflexões com os professores da rede, através do Grupo
de Trabalho em Rede – GTR, contribuíram significativamente para o
desenvolvimento das atividades propostas pelo PDE.
Na vivência há vários anos em escola pública e também como gestora há
cinco anos no Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu, o que se observa é a
falta de participação da comunidade escolar nas ações da escola, seja pelos
condicionantes políticos, históricos, sociais ou econômicos. Mas, argumentar a falta
de interesse das famílias no processo e o descompromisso dos profissionais e não
propor ações para elucidar esse problema, pode constituir também um subterfúgio
para manter a autocracia na escola. A rotatividade de profissionais também é um
problema nas escolas, e, pelo que se vê, já vem sendo estudado pelo sistema
educacional, mas difícil e complexo para ser elucidado. A escola, na pessoa do
gestor, deve criar meios para conquistar os profissionais (novos/velhos,
efetivos/PSS), no sentido de promover a participação nas ações da escola.
E, se queremos construir uma gestão democrática, não podemos permitir que
os Conselhos Escolares existam apenas para cumprir formalidades, ou ainda,
legitimar as questões já definidas pelo gestor. Segundo Paro (1997) a comunidade
precisa estar convencida da relevância e necessidade desta participação. O autor
afirma ainda que pouco estímulo a escola tem oferecido à participação e que o
pouco conhecimento que os integrantes da escola possuem sobre as aspirações da
comunidade e seus reais interesses provocam este distanciamento.
Sendo assim, o Projeto de Intervenção Pedagógica para o PDE, foi elaborado
para fortalecer os Conselhos Escolares e analisar como ocorre a democratização
das relações administrativas e pedagógicas dentro da escola e sua articulação com
a comunidade. No desenvolvimento do projeto, a metodologia utilizada foi baseada
no “Círculo de Cultura” de Paulo Freire, nos três momentos: investigativo,
tematização e proposição, com utilização da Produção Didática Pedagógica para o
PDE. Foi feito um estudo do Estatuto do Conselho Escolar, suas funções consultiva,
deliberativa, fiscal e mobilizadora, com fundamentação teórica e atividades práticas
para enfrentamento dos problemas da escola, com o objetivo de que, mediante
Conselho Escolar qualificado, possam desempenhar seu papel com consciência e
conhecimento do seu espaço de poder, auxiliando o gestor num processo de
construção coletiva dentro da escola, pois o gestor é o mediador entre a comunidade
escolar. Porém, de nada adianta a consolidação dos Conselhos Escolares, se o
gestor não estiver preparado para isso. Segundo Alonso (1979), espera-se dele um
trabalho de articulação tanto no nível interno, com seus pares, como com
representantes legais da comunidade, com as lideranças locais e com os pais, a fim
de obter apoio necessário para a execução dos projetos assumidos pela
comunidade escolar.
E sobre a participação da comunidade escolar, PARO afirma que:
[...] é possível imaginar um tipo de relação entre pais e escola que não esteja fundada na exploração dos primeiros pela segunda. É possível imaginar um tipo de relação que não consista simplesmente de uma “ajuda” gratuita dos pais à escola. Pode-se pensar em uma integração dos pais com a escola, em que ambos se apropriem de uma concepção elaborada de
educação que, por um lado, é um bem cultural para ambos, por outro, pode favorecer a educação escolar e, ipso facto, reverter-se em beneficio dos pais, na forma da melhoria da educação de seus filhos (PARO, 2007, p. 25).
Para que a gestão democrática aconteça é necessária uma reestruturação
das políticas educacionais que ainda estão submetidas a outras finalidades. Porém,
no âmbito da escola, as implantações dos Conselhos Escolares foi um importante
passo para a democratização das ações e o desenvolvimento do Projeto Político
Pedagógico que reconstrói as ações, estimula o trabalho coletivo e permite a
mudança de concepções. Sobretudo é importante a participação efetiva dos
membros envolvidos, que representam seus pares, para que a voz da comunidade
seja ouvida.
A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Além disso, proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica das relações da escola com a comunidade e favorece uma aproximação maior entre professores, alunos e pais (LIBÂNEO, 2001, p. 102).
De acordo com o autor, assegurar a participação de todos os sujeitos
envolvidos nesse processo para a garantia da qualidade da educação é
fundamental. O gestor deve estar comprometido com a escola e ter consciência de
que o educando precisa avançar em vários aspectos, sejam eles: sociais, políticos,
culturais, econômicos, intelectuais e humanos, pois a escola não é só espaço para a
educação, mas também para o exercício da cidadania.
Sobre isso afirma Gadotti:
A gestão democrática é um passo importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um fim em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão democrática da escola esta prestando um serviço também à comunidade que a mantém (2004, p.35).
Com relação à análise da democratização das relações administrativas e
pedagógicas dentro da escola e sua articulação com a comunidade foi realizado um
questionário com quarenta participantes, que contemplou todos os segmentos da
comunidade escolar, ou seja, gestor, pedagogos, professores, funcionários, pais,
alunos e lideranças locais. Quando questionados sobre o que é necessário para que
a gestão democrática aconteça na escola, 36 consideraram a participação efetiva da
comunidade escolar e local nas ações da escola e 4 deles apontaram o papel do
gestor frente à instituição de ensino. E sobre como promover a participação da
comunidade escolar no acompanhamento do cotidiano da escola, 24 deles
apontaram como sugestão a realização de reuniões mensais com os pais, 14 deles
sugeriram a articulação do gestor com o Conselho Escolar e 2 participantes
sugeriram a realização de atividades recreativas na escola. Para entender o pouco
envolvimento das famílias com a escola, 40 deles apontaram como principal entrave
a rotina diária de trabalho dos pais ou responsáveis. E sobre a aplicação dos
recursos financeiros oriundos da SEED (Fundo Rotativo), MEC (PDDE e PDE
Escola) e arrecadados na comunidade através da APMF, todos responderam ser
conhecedores destes recursos e suas aplicações, pois é divulgado no mural da
escola e nas reuniões com a comunidade escolar. Além disso, é possível consultar
através do portaleducacional do Paraná - Dia a Dia Educação, assim como alguns
pais consultam o resultado dos alunos (boletins) e nem mais por esse motivo,
comparecem à escola. E sobre a elaboração coletiva e implementação de um
projeto de acompanhamento à aprendizagem para que a escola ofereça educação
de qualidade, 32 participantes apontaram a cobrança de resultados (média no
boletim, no mínimo) dos beneficiários do Programa Bolsa-família e não apenas a
frequência do aluno, pois o que acontece em nossa escola e que atrapalha muito o
processo de ensino aprendizagem são os alunos que frequentam a escola apenas
para não perder o benefício, mas que não produzem e atrapalham o
desenvolvimento cognitivo dos alunos em sala de aula e também o trabalho dos
Professores e 8 deles consideraram que os Professores devem se responsabilizar
por isso.
Durante a implementação do Projeto de Intervenção, foi realizado um Curso
de Formação para os Conselheiros Escolares, como extensão da UNIOESTE -
Campus de Francisco Beltrão, que contou com a participação de 25 cursistas e
duração de 20 horas, com certificação pela Universidade e supervisão do Professor
Orientador. O Curso teve como programa: Os aspectos legais da gestão
democrática e do Conselho Escolar e os três momentos do Círculo de Cultura
(Investigativo, Tematização e Proposição) de Paulo Freire. Durante as discussões
foram levantados os principais problemas da escola e suas origens, problemas
esses de ordem pedagógica, administrativa e financeira. Entre eles estão: falta de
espaço físico adequado para a prática esportiva nas aulas de Educação Física e nos
Projetos Complementares, falta de equipe multidisciplinar, pouco envolvimento dos
pais no processo ensino-aprendizagem, preocupação com o IDEB, cumprimento às
normas do regimento escolar por parte dos alunos, falta de recursos para melhorar a
merenda escolar e autonomia para aplicar os recursos públicos onde a escola mais
precisa. A partir desse levantamento foi elaborado um plano de ação para
enfrentamento desses problemas com ações a serem realizadas durante o ano letivo
de 2014. Para os problemas que não dependem diretamente da escola e sim das
políticas públicas, foram elaborados documentos a ser enviados aos órgãos
competentes e aos que estão ao alcance da comunidade escolar, foi estabelecido
uma meta, conforme exemplo no quadro a seguir:
Tabela 1 - Enfrentamento dos problemas de ordem pedagógica, administrativa e financeira.
Problema Falta de espaço físico para prática esportiva
Meta
Adequar o espaço físico existente e viabilizar junto à Prefeitura Municipal uma pista de atletismo para uso conjunto com a escola municipal.
Ação Solicitação de cota extra da SEED e encaminhar solicitação ao poder Legislativo e Executivo para a construção da pista de atletismo.
Período 1º Semestre/2014
Responsável Conselho Escolar Público-alvo Alunos, Professores e comunidade local.
Recursos materiais Espaço físico, mão de obra e materiais de construção.
Resultados esperados Espaço físico adequado para a prática esportiva e melhorar a qualidade de vida.
Fonte: TOTTI, 2014
Os resultados alavancados durante a pesquisa com a comunidade escolar
foram apresentados à Direção e Equipe Pedagógica do Colégio que sentiu a
necessidade de promover oficinas para pais, líderes e vice-líderes de turmas,
professores, funcionários, membros do Conselho Escolar e APMF com o objetivo de
discutir esses dados e planejar ações para a melhoria do trabalho pedagógico e
consequentemente, melhores resultados no processo ensino-aprendizagem. Foram
realizadas quatro oficinas, com 40 vagas, tendo como um dos recursos a Produção
Didático Pedagógica para o PDE.
Tabela 2 - Oficinas desenvolvidas com a comunidade escolar
Evento Tema Nº de
participantes
Oficina 1 Gestão democrática: limites e possibilidades para que ela realmente aconteça.
39
Oficina 2 A importância da participação dos pais na educação dos filhos (contamos com o apoio de uma Psicóloga).
35
Oficina3 O que os pais esperam da escola X o que esperamos dos pais (Elaboração coletiva de um projeto de acompanhamento à aprendizagem).
39
Oficina4 Os recursos financeiros e como são aplicados. 32
Fonte: TOTTI, 2014
Ao analisar os resultados desses encontros foi possível perceber que a
comunidade escolar está disposta a participar e que são conhecedores de que a
escola é de todos e deve ser para todos, que não devemos fazer a parte que cabe
ao Estado e sim mobilizar a comunidade escolar para que cobrem do Estado as
melhorias de que a escola necessita tanto financeiras quanto pedagógicas.
3 Considerações Finais
Ao término da implementação do projeto de Intervenção Pedagógica, pode-se
afirmar que os objetivos propostos foram alcançados. Os encontros com os
Conselheiros fortaleceram a interação entre a comunidade escolar do Colégio
Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Ensino Fundamental e Médio, bem como
contribui para que a comunidade local também passasse a participar das ações da
escola.
As atividades promoveram o envolvimento dos pais/responsáveis, de
lideranças locais, da Secretaria Municipal de Educação, da Escola Municipal, do
corpo docente e discente do colégio. A Produção Didático-Pedagógica foi elaborada
para ser trabalhada com todos os segmentos, não apenas durante a implementação
do Projeto de Intervenção, mas no decorrer do ano letivo, de forma que a promoção
da participação da comunidade escolar não acabe com o término da implementação
do Projeto, mas seja uma rotina constante em nossa escola.
Os autores que fundamentaram esse projeto sustentam que a participação é
a principal ferramenta para promover a gestão democrática na escola e que para
essa participação acontecer é necessário que o gestor seja capaz de promover essa
participação. A partir do desenvolvimento desse projeto é possível concordar com os
autores, pois a comunidade escolar e local precisa sentir-se como parte integrante
da escola e se o gestor não for dinâmico, criativo, transparente e trabalhar de forma
centralizada, ocorrerá à gestão autocrática na escola, ou seja, todas as decisões
partirão exclusivamente do gestor.
Com relação ao plano de ação elaborado pelos participantes do “Curso de
Formação para Conselheiros Escolares” e das oficinas realizadas, espera-se que a
escola não desenvolva uma educação que mantenha a realidade em que vivemos e
sim uma educação que contribua para a transformação dessa mesma realidade,
considerando que não devemos fazer o que é dever do Estado, mas mobilizar a
comunidade para uma autonomia emancipatória, exigindo do Estado aquilo que é de
sua responsabilidade.
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