Upload
vominh
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
HISTÓRIA POLÍTICA E FORMAÇÃO CIDADÃ ATRAVÉS DO LEGISLATIVO MUNICIPAL
Simone Aparecida Otto1
RESUMO:Este Artigo apresenta as metas, ações e resultados da Oficina Inicial para a Formação Cidadã, envolvendo treze aluno/as do ensino médio do colégio estadual Barão do Cerro Azul e do Programa Jovem Vereador/a, executado em parceria com o legislativo local, com a participação de onze estudantes do ensino médio dos três colégios estaduais do município de Cruz Machado (PR). A partir de atividades sobre a temática da história política foi possível constatar que aluno/as, e até mesmo a comunidade em geral, possuem pouco conhecimento do que seja, efetivamente, história política, tanto local como nacional, bem como cidadania, poder, democracia e participação política. Foram identificados ainda falta de interesse, participação e atuação política neste município assim como, desta mesma forma ocorre na sociedade brasileira, não sendo estas características diferentes ao/as aluno/as do Ensino Médio. Assim, buscou-se desenvolver junto aos aluno/as o conhecimento da História política local como forma de construção de identidade histórica e formação cidadã. Também, identificar a trajetória histórica política do município de Cruz Machado (PR). Ressaltando que os objetivos propostos possuem relação direta com os objetivos da educação brasileira, alicerçados em promover a construção de sujeitos autônomo/as e crítico/as, que exerçam os princípios democráticos previstos na Constituição e que atuem de forma competente, comprometida e participativa na sociedade em que vivem.
PALAVRAS-CHAVEEnsino de História; História Local; Política e Cidadania; Programa Jovem Vereador.
ABSTRACTThis article presents the goals, actions and results of the Inicial Workshop for Citizenship Education, involving thirteen high school students from state school Barão do Cerro Azul and of Young Councillor Program, executed in partnership with the local legislature, with the participation of eleven high school students from three state schools of Cruz Machado (PR). From activities about the theme of political history it was found that students and even the general community, have little knowledge of what are, effectively, both local and national political history, as well as citizenship, power, democracy and political participation. It were also identified a lack of interest, participation and political activity in this city as well as this same form occurs in Brazilian society; these features were not different from high school students. Thus, we sought to develop with the students the knowledge of local political history as a way of building historical identity and citizenship training. Also, identify the historical trajectory politics of Cruz Machado (PR). Emphasizing that the goals are directly related to the objectives of the Brazilian education, grounded in promoting the construction of autonomous and critical people, to exercise democratic principles outlined in the Constitution and acting in a competent, committed and participatory society they live.
KEY WORDS:History Teaching; Local History; Politics and Citizenship; Young Councillor Program.
1. INTRODUÇÃO:
Este trabalho surgiu de inquietações decorrentes de atividades desenvolvidas,
nas aulas de História com os alunos do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, ao se
1 Professora da Rede Estadual do Paraná, licenciada em História pela FAFI-UV, com especialização em Psicologia de Educação, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE (2013-1024). E-mail: [email protected] Professor Orientador Dr. Aurélio Bona Junior. E-mail: [email protected]
abordar a temática da história política. A partir destas atividades foi possível
constatar que os alunos, e até mesmo a comunidade em geral, possuem pouco
conhecimento do que seja, efetivamente, a história política, tanto local como
nacional, bem como cidadania, poder, democracia e participação política.
Também, há falta de interesse, participação e atuação política no município de Cruz
Machado (PR) assim como, desta mesma forma ocorre na sociedade brasileira. Não
sendo diferentes estas características nos alunos do Ensino Médio do referido
colégio.
Alguns problemas comuns no sistema educacional ocorrem também no
Colégio Estadual Barão do Cerro Azul que conta com o ensino fundamental do 6ª ao
9ª anos, ensino médio regular, EJA fundamental e médio e o Curso de Formação de
docentes, atendendo alunos da área rural e urbana do município de Cruz Machado
(PR). Podendo ser citados indisciplina em sala de aula; situações de conflito entre os
alunos; alunos faltosos; aumento da repetência e da evasão. Além desses, existe
também o problema quanto à aprendizagem e desinteresse pela política local e
exercício da cidadania. Por consequência, observa-se no PPP desta unidade escolar
uma proposta de desenvolver ações de maneira que a escola se torne um lugar
onde, além dos conteúdos disciplinares, se desenvolvam também atividades que
envolvam a sociedade como um todo em atividades extraclasses. Assim, o colégio
propõe formar cidadãos capazes, em cooperação com os outros, de respeitar e
preservar o patrimônio social e também de construir ou transformar as leis e normas
da sociedade em que vivem. (PPP, 2012).
Partindo do pressuposto que a educação é um processo integrado entre
família e escola e diante do fato que o problema identificado atinge não só os
alunos, mas a comunidade como um todo, busca-se através da formação dos alunos
criar uma nova forma da comunidade escolar conceber a cidadania através do
conhecimento da história política local.
Afinal, conhecer e verificar como atuam os membros eleitos diretamente por
votos, no caso do legislativo local, deve ser tarefa mínima no ensino de História.
Sendo esta uma das possibilidades de compreender a política, tornando-a mais
simples, transparente e próxima à realidade dos alunos.
O direito que o povo tem de escolher seus representantes, tanto aqueles que,
em seu nome, vão administrar as coisas públicas e governar – ou executar as
políticas ou prioridades, de cujas escolhas a sociedade pode participar com mais ou
menos intensidade – quanto àqueles que vão fazer as leis, acompanhar e fiscalizar
os governos, é o mais clássico exemplo e exercício da política. Esse exercício é
construído historicamente e transformado de forma processual nas relações sociais.
Assim, o preço da comida, a distribuição da renda, o valor do salário, os
direitos e os deveres da cada um são resultados da política. E sua influência direta
no cotidiano da sociedade, seja positiva ou negativa, está presente, inerente e
necessária à vida humana. Entendendo que o objetivo principal da política seja
proteger a dignidade da pessoa humana em todas as suas dimensões, considera-se
que o envolvimento das pessoas seja resultante do processo histórico político por
eles vividos.
Considerando que a participação política é construída historicamente, este
projeto, através da história política local contextualizada a nacional, buscou
desenvolver junto aos alunos o conhecimento acerca de suas origens políticas como
forma de compreender a atual realidade de participação cidadã.
A partir destas constatações, puderam ser levantadas algumas questões para
investigação: De que forma o conhecimento da História política local pode contribuir
para mudanças de hábitos e atitudes dos alunos acerca da participação política? O
processo de escolha dos representantes políticos ao longo da História contribuiu
para o atual uso limitado do voto como forma de se isentar de responsabilidades do
acompanhamento político? O conhecimento da trajetória histórica política local
aliado às atividades integradas ao poder legislativo é uma possibilidade real para
mudar atitudes frente à participação na política?
Para tanto este projeto tem como objetivo principal desenvolver junto aos
alunos o conhecimento da História política local através da implantação do programa
Jovem Vereador junto à Câmara Legislativa do município de Cruz Machado-PR,
como forma de construção de identidade histórica e formação cidadã.
Bem como, ainda:
• Identificar a trajetória histórica política do município de Cruz Machado- PR.
• Reconhecer a evolução histórica da democracia brasileira identificando os
poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário, com ênfase para o
Legislativo municipal.
• Desenvolver habilidades de comunicação, oralidade e socialização dos
alunos.
• Conduzir o aluno a identificar-se como sujeito histórico que produz e contribuí
para a História, através de uma postura crítica, atuante, comprometida e
participativa na política local.
Diante das considerações acima citadas, entendeu-se que a importância
deste projeto foi à oportunidade de trazer conhecimentos em perspectivas de senso
crítico e integração cidadã dos alunos nas atividades do legislativo municipal, bem
como, na forma de demonstrar diferentes contextos históricos sobre a atuação
política democrática.
Esta proposta de trabalho foi realizada em três momentos. Primeiro com
aluno/as do Ensino Médio do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, no município de
Cruz Machado (PR), através da Oficina Inicial para a Formação Cidadã, com
atividades em contra turno.
Num segundo momento foram envolvidos os três colégios estaduais do
município de Cruz Machado, Colégio Estadual Barão do Cerro Azul (localizado na
área urbana), Colégio Estadual do Campo Estanislau Wrublewski (localizado no
distrito de Santana a 17 quilômetros do centro) e Colégio Estadual Helena Kolody
(localizado na Linha Vitória a 13 quilômetros do centro) onde o/as aluno/as da
Oficina Inicial para a Formação Cidadã relataram um pouco dos conhecimentos
adquiridos nesta formação, destacando a importância de ter conhecimento e
participar de modo efetivo na construção de uma verdadeira democracia. Ainda,
divulgaram, orientaram e estimularam a participação de todo/as no Programa Jovem
Vereador/a.
E o ponto culminante foi o desenvolvimento das atividades do Programa
Jovem Vereador/a, em parceria com a Câmara Legislativa de Cruz Machado. Este
Programa Jovem Vereador/a, que tem como base a simulação de atividades
parlamentares, seguiu toda a tramitação legal exigida, sendo aprovado sob a Lei nº
1433/2013, em 28 de novembro de 2013.
2. ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
O objetivo principal da educação brasileira está em promover a construção de
sujeitos autônomos e críticos, que exerçam os princípios democráticos previstos na
Constituição e que atuem de forma competente na sociedade em que vivem.
Objetivo também previsto na LEI nº 9.394 de 1996- Lei de Diretrizes e Bases da
Educação:
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
E este modelo de formação é, também, um objetivo relevante nas instituições
escolares. Através de um importante documento escolar, o Projeto Político
Pedagógico –PPP – do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, pode identificar-se a
busca pela formação de um cidadão que tenha condições de exercer sua cidadania
com êxito:
Temos como objetivo uma educação transformadora, voltada para a prática social e que seja também significativa para a vida do aluno e para a sociedade de forma geral, onde partindo do conhecimento adquirido possa exercer sua cidadania e assim vir a transformar sua realidade (PPP, 2013, p.25).
Segundo Silva (2012, p.47) cidadania seria “Um complexo de direitos e
deveres atribuídos aos indivíduos que integram uma Nação, [...] abrange direitos
políticos, sociais e civis. Cidadania é um conceito histórico que varia no tempo e no
espaço”.
Para Jaime Pinsky (2005):
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito a educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, A uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais (PINSKY, 2005, p. 9).
Cabe especificarmos um pouco mais o conceito dos direitos acima citados,
para uma melhor compreensão de cidadania.
Compreendem-se por direitos civis aqueles fundamentais à vida, à liberdade,
à propriedade, à igualdade perante a lei (CARVALHO, 2012).
Já, aos direitos sociais inclui-se a educação, o trabalho, o salário justo, a
saúde, a aposentadoria. São estes direitos que permitem às sociedades
politicamente organizadas, controlar as desigualdades produzidas pelo sistema
capitalista, visando à garantia mínima de bem-estar para todos.
Os direitos políticos podem ser definidos como sendo a participação do
cidadão no governo de sua sociedade, pois são eles que conferem legitimidade à
sua organização política (SILVA, 2012). Ainda, segundo Silva (2012), estes direitos
políticos são confundidos com a participação política, a limitação à ação de votar e
ser votado. Entretanto, nem o voto é uma garantia de cidadania e nem esta sintetiza
o exercício do voto. Ao contrário, os direitos políticos seriam a base de conquista
aos demais.
Através da educação política possibilitou-se às pessoas, ao longo da história,
tomar conhecimento de todos estes direitos e organizarem-se na luta para tê-los. E é
a ausência desta educação um dos principais obstáculos a uma cidadania completa.
Fato reforçado pela citação abaixo:
Não é o excesso, mas a falta de política, na perspectiva do senso crítico e da participação cidadã, que tem levado à descrença nas instituições. Sem ela prevalece a lei do mais forte, o individualismo, o “salve-se quem puder” (QUEIROZ, 2012, p.08).
Avaliando sua própria amplitude e a frequência com que o conceito de
cidadania aparece, não só na mídia, mas no discurso da maioria das pessoas, fica
claro que esta definição esteja mais condicionada à participação social e política em
um Estado do que simplesmente sua definição. Participação esta que deva ser
efetiva em todo o processo e nos diversos níveis, “Em um processo participativo,
promove-se a elevação dos atores para os níveis mais altos do processo decisório -
estimula-se a interação dos que decidem com os que executam e com os que serão
atingidos pelas decisões tomadas” (CORDIOLI, 2001, p.24).
Segundo Hobsbawm (1998), podemos considerar o passado como sendo,
essencialmente o padrão para o presente.
Todo ser humano tem consciência do passado (definido como o período imediatamente anterior aos eventos registrados na memória de um indivíduo) em virtude de viver com pessoas mais velhas. Provavelmente todas as sociedades que interessam ao historiador tenham um passado, pois mesmo as colônias mais inovadoras são povoadas por pessoas oriundas de alguma sociedade que já conta com uma longa história. Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação ao seu passado (ou da comunidade), ainda que apenas para rejeitá-lo. O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável
das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana (HOBSBAWM, 1998, p. 22).
Quanto à memória, Le Goff (2003, p. 469) afirma que “a memória é um
elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva,
cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de
hoje.” Através da memória as informações passadas serão preservadas para a
posteridade.
Neste viés, encontramos a importância do trabalho com a História local, que
nos aproxima ao objeto de estudo, em qual a narrativa deixa de se prender a fatos
distantes para incorporar-se aos acontecimentos próximos. Possibilitando o
reconhecimento e a valorização de uma comunidade ou município (BENZAK, 2012).
A História local pode favorecer a recuperação de experiências individuais e
coletivas dos alunos, possibilitando vê-las como constitutivas de uma realidade
histórica. E, a partir disso, o aluno aprende a valorizar a história e a cultura de sua
localidade.
As Diretrizes Curriculares Nacionais de História trazem uma preocupação
com a História local, ao acreditarem que esta faz com que os alunos ampliem a
capacidade de observar seu entorno para compreenderem as relações sociais
existentes em seu tempo, enfatizando que sempre se deve partir do presente para
então, explorar as mudanças e permanências do passado. Tais discussões fazem
com que os alunos não se sintam isentos da história, ao contrário, eles passam a
sentir-se parte integrante, sujeitos dessa história. Pois, quando questões locais são
enfocadas mostra-se que nenhum grupo é deixado à margem do processo histórico,
mas estes fazem parte desse contexto, sendo, portanto, elemento dos fatos.
Com relação à memória dos fatos políticos, esta trás juízos de valor com
ênfase, pois não se trata somente de narrar os acontecimentos, mas de deixar clara
a posição assumida. (BOSI, 1994).
Se a memória da infância e dos primeiros contatos com o mundo se aproxima, pela sua força e espontaneidade, da pura evocação, a lembrança dos fatos públicos acusa, muitas vezes, um pronunciado sabor de convenção. Leitura social do passado com os olhos do presente, o seu teor ideológico se torna mais visível (BOSI, 1994, p.453).
Nesse contexto a utilização da História local é um elemento importante para
que os alunos possam compreendê-la contextualizada à História nacional. No
entanto, um aspecto primordial para que as análises possam ter êxito é a crítica ao
documento, pois segundo Le Goff (2003) o documento é um produto da sociedade
que o fabricou. Fato ressaltado por Rémond (2003):
A história de fato não vive fora do tempo em que é escrita, ainda mais quando se trata da história política: suas variações são resultado tanto das mudanças que afetam o político como das que dizem respeito ao olhar que o historiador dirige ao político. Realidade e percepção interferem (REMOND, 2003, p.22).
Agora, uma breve análise da história política e cidadania no Brasil:
3. HISTÓRIA POLÍTICA E CIDADANIA NO BRASIL
Pairando sobre diversos conceitos de relevância ao tema da história política,
está o Estado que segundo Silva (2012, p.115) se define como: “Entidade abstrata
que comanda e organiza a vida em sociedade. Composta por diversas instituições,
de caráter político, que comanda um tipo complexo de organização social”.
Também Queiroz (2009) define Estado como:
[...] uma estrutura que se destaca da sociedade: os cidadãos dão o voto para a formação de uma superestrutura política; o Estado moderno é uma grande máquina política que se estrutura a partir da sociedade com o objetivo de gerenciá-la dentro de uma estrutura legal (QUEIROZ, 2009, p.27).
Considerando que sua existência seja para possibilitar a vida em sociedade, o
uso deste conceito deve levar em consideração as conjunturas diversas e peculiares
de cada sociedade. Mas, do ponto de vista que aqui nos interessa – ele se tornou
apenas um espaço administrativo e burocrático situado fora do corpo de cidadãos.
Onde a participação foi substituída pela eleição de representantes da maioria
(SILVA, 2012).
Analisando a referência que fazemos atualmente, à política, de acordo com
Silva (2012, p.336): “Política diz respeito, por um lado, à gestão dos negócios
públicos e, por outro, às ações da sociedade civil a fim de ter suas reivindicações
atendidas”.
Entende-se que sejam na política resolvida as grandes questões, com ou sem
a nossa participação. Participar, portanto, é o ponto crucial. Temos que resgatar a
participação política direta. Desmistificando esta história de que política não se
discute e é “bobagem”. Fato atestado por Rémond (2003, p.24):
Como sustentar ainda que o político não se refere às verdadeiras realidades, quando ele tem por objeto geri-las? A prova disso está na atração cada vez maior que a política e as relações com o poder exercem sobre agrupamentos cuja finalidade primeira não era, contudo, política: associações de todos os tipos, organizações sócio profissionais, sindicatos e igrejas, que não podem ignorar a política.
Para Cordioli (2001, p. 27) “[...] participar também se aprende, se pratica. É o
melhor caminho para o fortalecimento da cidadania, em suas mais diversas
possibilidades”. Porém, para que haja esta participação, temos que pensar como se
desenvolveu a cidadania entre os brasileiros.
A construção da cidadania no Brasil foi edificada em meio a um longo
processo de exclusão. Em uma rápida passada à fase colonial, citamos a conquista
como dominação e extermínio dos milhões de indígenas. Também a conotação
comercial de um empreendimento do governo colonial incorporado a particulares
(CARVALHO, 2012).
Durante o Império, escravos, libertos, mulheres e pobres em geral estiveram
fora do exercício de cidadania. Com relação às câmaras municipais, estas existiam
“somente nas localidades que tivessem pelo menos a categoria de vila” (LEAL,
1997, p.81). Suas funções, no entanto, eram amplas:
Tinham funções muito mais importantes do que as das modernas municipalidades. Assim é que, além das atribuições de interesse peculiar do município, exerciam elas funções hoje a cargo do Ministério Público, denunciando crimes e abusos aos juízes, desempenhavam funções de polícia rural e de inspeção da higiene pública, auxiliavam os alcaides no policiamento da terra e elegiam grande número de funcionários da administração local (LEAL, 1997, p.82).
Tais colocações fizeram com que as câmaras municipais possuíssem imenso
poder, desafiando o poder público em benefício do poder privado, fazendo com que
suas atribuições resultassem “muito menos da lei do que da vida” (LEAL, 1997, p.85
). A situação preocupa a Coroa, mas que não encontra muito que fazer, pois, “o fator
básico dessa situação era o isolamento em que viviam os senhores rurais, livres,
portanto de um elemento efetivo de contraste de sua autoridade” (LEAL, 1997, p.86).
A transladação da Corte para o Brasil e, depois, a independência e a constitucionalização do país muito contribuíram para acelerar o processo de redução progressiva do poder privado. Mais próximo e melhor aparelhado, pôde o governo estender sua autoridade sobre o território nacional com muito maior eficiência (LEAL, 1997, p.90).
Na Independência do Brasil, D. Pedro assumiu uma participação ativa na
defesa dos interesses dos grupos dominantes. “Assim, ao mesmo tempo em que o
reino caminhou para a independência, caminhou também para a
constitucionalização” (SANGOI, 2008, p. 16). Mesmo com a convocação de uma
Assembleia, ficam claras duas posições divergentes. E, D. Pedro deixa a grande
marca do nosso primeiro momento político constitucional: o império da força
(SANGOI, 2008). Temos, assim, a Constituição Imperial de 1824, outorgada. A
Constituição traz como principal característica o Poder Moderador, conforme
especifica Figueiredo (2011):
Destinado a ser a “chave mestra de toda a organização política”, exercido privativamente pelo imperador (Art. 98 a 101). O legislativo era bicameral (Câmara de Senadores ou Senado e Câmara de Deputados). O mandato do senador era vitalício. A legislatura tinha duração de quatro anos. Os presidentes das Províncias eram escolhidos pelo monarca. Havia, ainda, em cada distrito, uma Câmara e, na capital de cada Província, um Conselho- Geral. O sufrágio era censitário, com eleições em dois graus. Recorde-se ainda que a Carta do Império era flexível para emendas: só a “matéria constitucional” é que se achava sujeita a quorum específico. O que não fosse “matéria constitucional” poderia ser alterado por quórum ordinário (Art. 178). O monarca, segundo a Carta de 1824 concentrava “todas as atribuições que não são legislativas, em que esse centro, todavia tem parte, ou judiciárias, sobre que ainda assim tem inspeção”, esta forma de governo “simboliza a unidade e a força nacional, a estabilidade na vida interior do Estado e nas suas relações internacionais” (FIGUEIREDO, 2011, p.127).
Deste modo, a colonização portuguesa no Brasil deixou marcas duradouras,
acentuadas ao problema em questão.
A transição da Monarquia para a República “ocorreu de forma tranquila, sem
qualquer esboço de reação. Sob as ordens de Marechal Deodoro da Fonseca, a
população completamente à margem do processo “revolucionário” presenciou o fim
do Império e o nascimento da República” (SANGOI, 2008, p.26).
Na Primeira República, apesar da pressão de diversos grupos, não foram
realizadas grandes mudanças. Mesmo com a abolição da escravidão e a
incorporação dos ex-escravos aos direitos civis, esta ação foi muito mais formal do
que real. (CARVALHO, 2012). Prevalecia o poder do coronel. De acordo com Leal
(1997, p. 40), o coronelismo era concebido como:
Resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é, pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui fenômeno típico de nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.
Designado como a pessoa de poder no município. O chefe político local
participava de práticas eleitorais fraudulentas. Desse modo, o voto possuía um
sentido onde: “O votante não agia como parte de uma sociedade política, de um
partido político, mas como dependente de um chefe local, ao qual obedecia com
maior ou menor fidelidade” (CARVALHO, 2012, p.35).
O coronelismo transformava seus trabalhadores e dependentes em seus
súditos, pois imperava a lei do coronel, criada e executada por ele. Quando o Estado
se aproximava, era dentro do acordo coronelista pelo qual o governador retribuía o
apoio político do coronel lhe permitindo a indicação das autoridades locais. Com o
controle destes cargos, o coronel premiava seus aliados, controlava sua mão de
obra e sonegava impostos. Colocando a justiça e a polícia a beneficio do poder
privado. Não havendo, dessa maneira, justiça e poder verdadeiramente público. Não
havendo cidadãos civis (CARVALHO, 2012). Assim, não havia noção do que fosse
um governo representativo e do que constituía o ato de escolher alguém como seu
representante político. Considerando que “Nestas circunstâncias, não poderia haver
cidadãos políticos. Mesmo que lhes fosse permitido votar, eles não teriam as
condições necessárias para o exercício independente do poder político”
(CARVALHO, 2012, p.57).
Com a influência dos militares nos primeiros governos republicanos, a
oligarquia vinha, aos poucos, neutralizando-as e garantindo um governo civil estável
(CARVALHO, 2012). Porém, os militares visavam recuperar sua influência perdida.
Assim, “o tenentismo não tinha características propriamente democráticas, mas foi
uma poderosa força de oposição”. (CARVALHO, 2012, p. 91) que, ao encontrarem
circunstâncias favoráveis, forneceram à liderança militar auxílio para derrubar o
governo (CARVALHO, 2012).
A década de 1930 foi um divisor de águas na história do país. O Brasil passou
por uma época de ampla agitação política, superando todos os movimentos políticos
anteriores pela amplitude e grau de organização destes. Foi criada, inclusive, uma
legislação previdenciária e trabalhista para os trabalhadores urbanos e um código
eleitoral incluindo o direito de voto às mulheres (SILVA, 2012). No entanto, tratava-se
de uma concepção da política social como privilégio e não como direito, como
assinala José Murilo de Carvalho (2012, p.114):
Ao lado do grande avanço que a legislação significava, havia também aspectos negativos. O sistema excluía categorias importantes de trabalhadores. No meio urbano, ficavam de fora todos os autônomos e todos os trabalhadores (na grande maioria, trabalhadoras) domésticos. Estes não eram sindicalizados nem se beneficiavam da política de previdência. Ficavam ainda de fora todos os trabalhadores rurais, que na época ainda eram maioria.
Mesmo com estas características, não podemos deixar de destacar que este
foi o período dos direitos sociais. ”O que veio depois foi aperfeiçoamento,
racionalização e extensão da legislação a número maior de trabalhadores”
(CARVALHO, 2012, p.123).
A Revolução de 1964 marca o início do governo de militares, também definido
como Ditadura Militar, no Brasil. Que teve a duração de duas décadas, cujas
realizações adquiriram “inegável dimensão histórica”, infelizmente, pelo controle
absoluto de toda e qualquer liberdade de expressão e ação e pelas severas
punições/torturas àqueles que descumprissem tal regra (COUTO, 1999).
As punições atingiam a todos aqueles que, de alguma maneira, se
mostrassem contrários aos ideais do governo. Inicialmente referenciados à classe
média e que foi, posteriormente, engrossado por professores, estudantes,
jornalistas, técnicos, escritores, cientistas, funcionários públicos, arquitetos e até
padres. (COUTO, 1999).
Com relação à amplitude de tais punições, encontramos na citação abaixo, a
tentativa de justificar a limitação destas, destacando a segunda fase destas ações:
Sempre que alguém diz que a revogação do Ato Institucional nº 5 ou do decreto-lei nº 477 é um problema que só interessa às elites, uma orquestra de vozes iradas se levanta, procurando querer provar que o povo está lutando denodadamente para a anulação desses instrumentos de que o Governo dispõe, como medidas excepcionais, para combater a subversão e a corrupção. É o caso de se indagar com honestidade: você, homem do povo, que trabalha e luta para, de forma anônima, fazer esse país crescer; você que luta para garantir o pão de sua família e que quer nos fins de semana ter o direito do mais merecido descanso, está com receio de que o Governo venha a aplicar sobre sua pessoa o AI-5 ou o 477? É muito antigo um ditado popular: quem não deve não teme. Somente aqueles que procuram, sob a inspiração comunista, agitar o País ou os que procuram, à
custa do povo, ganhar lucros excessivos e por formas pouco honestas são os que mais lutam contra os instrumentos legais (MAJ. CARLOS MAIA DE ASSIS, 1975 citado por COUTO, 1999, p.188).
Estes “instrumentos punitivos foram constituídos pelos diversos atos
institucionais e complementares, cujo conjunto configura a institucionalização da
Revolução (COUTO, 1999, p.189). Foram dezessete Atos Institucionais- AIs e
noventa e seis atos complementares - ACs que tratavam “também de assuntos
políticos, político-administrativos, jurídicos e interesse social” (COUTO, 1999, p.222),
porém, a ênfase era nas medidas punitivas, consideradas necessárias à
implementação do processo revolucionário. Destacando, inclusive, com o AI-13 o
banimento ou exílio.
A abertura política ficou muito mais na intenção do que em uma pequena
prática dos governos revolucionários. Ela somente se torna possível, com a
redemocratização do Brasil e a Constituição de 1988- Constituição Cidadã - que,
elaborada em um clima de democratização, envolvendo amplos debates, permitiu
especial atenção aos direitos fundamentais individuais e coletivos, sociais e de
solidariedade, garantindo como fundamentos básicos, a cidadania e a dignidade da
pessoa humana. Instituiu, também, uma democracia participativa, que chama o
cidadão a colaborar na gestão e fiscalização da Administração Publica.
Como ponto relevante, nos países democráticos, “todos concebem o Governo
sob a imagem de um poder único, simples, provincial e criador” (TOCQUEVILLE,
1998, p.352). Sendo que:
Só com muito esforço é que os cidadãos dos países democráticos se afastam de seus afazeres particulares para se ocupar de assuntos comuns; sua tendência natural é entregar esse cuidado ao representante visível e permanente dos interesses coletivos, que é o Estado. Não só lhe falta o gosto de se ocupar com o público, como não dispõem de tempo para fazê-lo. A vida privada é tão atrativa e tão cheia de solicitações e de trabalho que quase não resta energia nem lazer a um homem para se entregar à vida política (TOCQUEVILLE, 1998, p.353).
Justificando, desta maneira, o fato de que grande parte da população
desconheça seus direitos civis, sociais e, principalmente políticos, condicionando o
pensamento que a única forma de ser cidadão é exercendo os direitos políticos
ativos, ou seja, votando apenas. Este procedimento,
[...] sustenta que os atores políticos tomam decisões tendo em vista seus interesses pessoais. Ou, em outras palavras, a opção pública está condicionada pelas preferências, pelos valores e pelos interesses pessoais de quem faz as escolhas em nome da coletividade. E dessa lógica decorre que as instituições de uma determinada sociedade têm o importante papel de impor controle sobre as escolhas dos atores políticos para que aconteçam respeitando o interesse da coletividade (QUEIROZ, 2009, p.36).
Pois, ao ignorarmos a importância da participação, nos tornamos potenciais
vítimas de uma política dominadora e excludente, transferindo o poder de decisão e
participação dos cidadãos a grupos econômicos e de poder que buscarão no
aparelho do Estado somente interesses próprios. Concluímos com as palavras de
Dantas (2013):
[...] o público alvo dessa atividade não é o político, mas sim o cidadão que carece de informações acerca do trabalho de seus representantes e encontra nesse processo uma das possíveis formas de olhar para o parlamento – por vezes esquecido, ou visto por muitos apenas como uma indústria de favores ou uma agência de despacho dos desejos do Poder Executivo (DANTAS, 2013, p.14).
4. RELATO DA EXPERIÊNCIA
A primeira ação, em 2013, foi um contato prévio com o Executivo e a Câmara
Legislativa Municipal para discussão e apresentação do Projeto Jovem Vereador/a, a
ser efetivado no ano letivo de 2014. Esta ação concretizou-se através da
apresentação e aprovação, por unanimidade, do Programa Jovem Vereador/a como
Lei nº 1433/2013, em 28 de novembro de 2013, bem como sua publicação em Diário
Oficial.
No ano de 2014, iniciou-se pela apresentação do projeto à direção, equipe
pedagógica e professore/as dos três Colégios Estaduais- Barão do Cerro Azul,
Estanislau Wrublewski e Helena Kolody- do município.
Em seguida, especificamente no Colégio Barão do Cerro Azul, o convite,
através de cartazes espalhados pelo Colégio e nas salas de aula, aos aluno/as para
a participação na Oficina Inicial para a Formação Cidadã.
Com o/as aluno/as inscrito/as foi realizada a primeira atividade, sendo uma
dinâmica das bexigas, onde cada participante deveria cuidar para que estas não
caíssem. O objetivo, além de uma melhor integração entre o/as participantes
(considerando que estes aluno/as eram de séries e turnos diferentes) foi de atentar
ao fato de sermos pessoas diferentes, porém unidas em prol de um mesmo trabalho.
Após, a exploração dos conhecimentos prévios do/as aluno/as sobre o tema,
através de uma produção de texto.
Exibição do vídeo “O perigo de uma única visão de História” de Chimamanda
Ngozi Adichie. Esta atividade tinha por objetivo, ao fazer relação com o tema da
Oficina, a reflexão que, independente do assunto, é sempre necessário buscar mais
de uma fonte de informação para não fazermos com que uma história torne-se a
“única história”.
Na segunda-feira seguinte, dia da reunião do Legislativo local, nos fizemos
presentes. Esta participação frequente nas sessões semanais ocorreu de março a
junho do corrente ano.
No encontro seguinte, explicações com slides e textos, sobre alguns pontos
pertinentes ao tema: conceitos históricos específicos; formas, regime e sistema de
Governo; função e constituição do Estado. Também, combinamos a atividade
seguinte.
Atividade de visita ao prédio da Câmara municipal e da Prefeitura.
Encontro de orientações e preparo para posterior realização de entrevistas
com representantes e ex-representantes políticos locais e algumas pessoas que
frequentam, assiduamente, as reuniões legislativas semanais. Foram organizados
os grupos, já de acordo com a afinidade estabelecida entre ele/as.
Organização de leitura, análise, estudo e discussão da Constituição; Lei
Orgânica do município e Regimento Interno da Câmara local; e texto sobre a origem
e o desenvolvimento histórico das Câmaras municipais brasileiras.
Orientações, preparo e realização da pesquisa de campo nas Atas da Câmara
municipal. O/as aluno/as foram organizados em grupos e, em contra turno, de
acordo com a disponibilidade da Câmara, sempre acompanhados de um
professor/a, ele/as passavam horas lendo e registrando as informações que
encontravam nas Atas. Esta foi uma atividade que o/as aluno/as gostaram muito.
Pois ficavam admirado/as com as informações que liam. Infelizmente, por ser um
trabalho minucioso, analisamos apenas três livros Atas: o primeiro, de 04 de janeiro
de 1953/19 de dezembro de 1963; o segundo de 14 de fevereiro de 1964/03 de
fevereiro de 1970; e o terceiro de 04 de fevereiro de 1970/04 de dezembro de 1973.
Coleta e organização do material produzido pelo/as o/as aluno/as – produção
textual, charges, desenhos, histórias em quadrinhos, cartazes- sobre os temas
trabalhados ao longo do desenvolvimento da Oficina.
Discussão, análise, organização e execução dos
resultados/concepções/compreensão dos temas trabalhados na Oficina e
incorporados/compreendidos pelo/as participantes, preparados para serem
repassados aos demais aluno/as do Ensino Médio do município. Interessante frisar
que ele/as se organizaram por conta própria, criando espaços para que todo/as
participassem.
Divulgação e conscientização para a participação no Programa Jovem
Vereador/a a todo/as o/as aluno/as de segundas e terceiras do Ensino Médio,
Formação de Docentes e Casa Familiar Rural dos três colégios estaduais do
município. Foram diversos dias e turnos em que, de acordo com a disponibilidade
do/as participantes da Oficina, percorremos todos os colégios estaduais do
município e a Casa Familiar Rural. Em alguns momentos, contamos com o
transporte escolar, em outros horários, fomos por conta própria. Atingimos cerca de
600 aluno/as. Essa atividade teve um resultado impressionante, cuja repercussão foi
muito além do esperado para esta ação. Acredito que isso se deu pelo fato de ter
aluno/as falando aos seus pares.
Neste momento, no período da manhã, nos dedicamos aos preparos finais
para a execução das atividades do Programa Jovem Vereador/a. Inclusive, neste
dia, demos uma entrevista ao jornal local sobre nossas atividades.
Nesta noite, além participarmos da reunião na Câmara municipal, tivemos a
abertura oficial das atividades do Programa Jovem Vereador/a. Onde, eu, através do
uso da palavra, fiz as apresentações do projeto, do Programa, do/as jovens
vereadore/as selecionados e do projeto de lei de cada um dele/as.
Dia da viagem à capital do nosso Estado- Curitiba, com visitações à Câmara
Legislativa, Assembleia Estadual, Jardim Botânico e Museu Oscar Niemeyer.
Participaram desta viagem o/as treze aluno/as da Oficina Inicial para a Formação
Cidadã, o/as onze jovens vereadore/as selecionados de cada colégio e quatro
professore/as e pedagoga acompanhantes. A Assembleia Estadual do Paraná tem
uma equipe de excelente competência, que recepciona e organiza a visita.
Proporcionando inclusive, um momento com o presidente desta casa de leis.
Neste dia nossas atividades foram realizadas no prédio da Câmara municipal.
Iniciamos com apresentações do executivo e alguns membros do legislativo local
falando deste trabalho, sua importância e relatando suas próprias experiências como
legisladores. Contamos com a disponibilidade da assessora jurídica, que palestrou
sobre: Funções e Leis específicas do Legislativo local. Também, a palestra sobre
Filosofia e o poder Político: uma breve reflexão sobre suas origens e a realidade
atual com o professor de Filosofia Lisandro Walczak, do colégio Barão. Ainda,
apresentação e análises de clip de músicas relacionadas à História Política e
Cidadania, incitando discussões pertinentes ao tema, preparado pelo/as aluno/as da
Oficina.
Apresentação dos 11 projetos de lei participantes do Programa Jovem
Vereador/a.
Entrega de certificação e medalha a todo/as o/as participantes.
Organização e execução da Sessão dos Jovens Vereadore/as, transmitida ao
vivo pela Internet, no dia vinte de outubro de 2014.
5. PROGRAMA JOVEM VEREADOR/A
Este programa tem como base a simulação de atividades parlamentares.
Através da simulação parlamentar estimula-se nos estudantes a reflexão
sobre o processo democrático e o exercício da cidadania.
Ainda, aprofunda os conhecimentos sobre o funcionamento do Legislativo,
bem como oferece um canal de expressão e desenvolve o interesse pela
participação política. Sendo que esta prática está sendo considerada uma das mais
bem-sucedidas ações de educação para a democracia, na atualidade. Acontece
usualmente fora do ambiente escolar ou com configuração extracurricular, pois se
trata de um evento que imita o funcionamento de um parlamento na discussão de
um tema ou proposta de ação, normalmente envolvendo público escolar. Ainda que
não seja uma atividade exclusiva dos parlamentos, raras são as casas legislativas
de países democráticos, hoje, que não apresentam alguma forma de simulação de
seus trabalhos para estudantes (COSSON, 2008).
Ao considerarmos que o Legislativo é popularmente conhecido como a Casa
do Povo, nesse sentido devemos estar próximos, emparceirados, atentos e unidos
(DANTAS, 2013, p.13). Antes, durante e depois do momento do voto, pois
consideramos que acompanhar os trabalhos dos membros eleitos diretamente por
votos, no caso do legislativo local, deve ser tarefa mínima para uma educação
política e o exercício de uma verdadeira cidadania, sendo esta uma das melhores
possibilidades de compreender a política, tornando-a mais simples, transparente e
próxima à realidade de todo/a cidadão/ã, possibilitando que este se identifique como
sujeito histórico que produz e contribuí para a História, ao perceber que a política
possui influência direta em nosso cotidiano, compreendendo que o preço da comida,
a distribuição de renda, o valor do salário, os direitos e os deveres de cada um são
resultados desta.
Existindo no Brasil dificuldade para que os cidadão/ãs, de maneira geral,
entendam que a verdadeira cidadania vai além do direito de votar e de ser votado e
passem a acreditar na política como instrumento de transformação e construção
conjunta da realidade, esta ação desenvolvida em parceria com o Poder Legislativo
local, marcará um tempo novo. Um tempo de conhecimento, compreensão,
cumplicidade, cobrança e produção de uma nova cultura política, efetivando ainda
mais a democracia.
O Programa Jovem Vereador/a de Cruz Machado teve como base o
Programa Parlamento Jovem. Cuja principal ação é a elaboração de projetos de
relevância para o nosso município. Sendo onze Jovens Vereadores- número
equivalente aos vereadores desta municipalidade, distribuídos entre os três colégios
estaduais.
O público alvo são aluno/as do Ensino Médio com dezesseis anos completos.
Esta faixa etária, considerada crítica pelas transformações que lhe são específicas,
busca referências no meio social e político em que vivem. E cabe a todos nós
mostrar a eles que sua participação pode ser decisiva para a construção do futuro
que eles sonham. Compete-nos ainda fornecer-lhes os instrumentos éticos de
participação.
Pois, pensar a trajetória, funções e importância do poder legislativo local
significa evidenciar um resgate histórico e valorizar a construção política desta
municipalidade.
A implantação deste Programa no município seguiu todo trâmite legal exigido
para ser efetivado como Lei nº 1433/2013. Sendo aprovado por unanimidade, em 28
de novembro de 2013, bem como sua publicação em Diário Oficial.
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Partindo dos objetivos previstos aos resultados finais, concluo que estes
foram alcançamos, em maioria. Sendo, inclusive, superadas as expectativas em
determinadas questões.
Inicio citando que, na maioria das situações, comprovamos aquilo que,
supostamente já sabíamos e pensávamos sobre a mesma realidade de descrédito,
desconhecimento, descomprometimento do/as aluno/as e da nossa sociedade em
relação à falta de conhecimento/participação sobre política e tudo o que diz respeito
a ela. Postura esta modificada e percebida, durante e após a realização do projeto.
Também, a certeza de que este trabalho nos levou às inúmeras outras
situações e discussões necessárias: conhecimento sobre política e não politicagem,
e tudo mais o que a envolve: voto, eleições, acompanhamento, participação direta e
indireta; organizações na sociedade: Grêmio Estudantil, Associações, Sindicatos,
ONGs, Conselhos Municipais, enfim, todas as instâncias de participação;
importância e posse dos documentos pessoais; conhecimento de Leis e estatutos; a
existência/importância dos impostos/tributos; preconceitos raciais e outros; a
questão de gênero/mulher.
Finalizo com dois pontos de destaque: primeiro, o interesse e participação na
Oficina Inicial para a Formação Cidadã de aluno/as de classe social baixa, faltosos,
com dificuldade de aprendizagem, com dificuldades nas habilidades de
comunicação, oralidade e socialização que, em grande parte, as superaram, com
êxito. Pois, desde o início da Oficina, alguns professore/as e funcionário/as
surpreendiam-se, de forma negativa, infelizmente, com a presença destes aluno/as.
Passando a opinião de que não fosse possível, verdadeiro e sério o
interesse/participação dele/as. Sendo que, posteriormente, ficou comprovado
inclusive pelo/as mesmo/as professore/as que desacreditaram, a melhora na
autoestima, na frequência/presença às aulas regular, no rendimento e na
participação do/as referidos aluno/as, aproximadamente oito do total de treze
participantes. Resultados estes que, inclusive, foi destaque nas observações da
equipe pedagógica que acompanha as turmas deste/as aluno/as nas suas séries do
regular.
E o segundo ponto de destaque foi à atividade de divulgação do Programa
Jovem Vereador/a. Todo o preparo e apresentação aos demais aluno/as foi iniciativa
e execução do/as aluno/as da Oficina, com a participação de todo/as, superando
seus próprios limites.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A política, aqui definida como sendo a participação do/a cidadão/ã no governo
de sua sociedade, sempre foi e vai ser importante na história da humanidade. Esse
exercício é construído historicamente e transformado de forma processual nas
relações sociais. E sua influência direta no cotidiano da sociedade, seja positiva ou
negativa, está presente, inerente e necessária à vida humana. Ligada ao contexto de
cada época, continua em movimento e aberta a novas transformações.
Inevitavelmente, todo/as nós estamos envolvido/as na política, participando e
ajudando a formular as leis ou simplesmente aceitando o que o/as outro/as decidem
por nós. Considerando que o envolvimento das pessoas seja resultante do processo
histórico político por eles vividos, é comum ouvirmos falar que a política é dever de
“fulano” ou de “ciclano”, como se não fosse dever de todos. Ao não participar, as
pessoas ficam alienadas diante da situação em que vivem, e, em consequência, não
conhecem seus direitos/deveres de cidadão/ãs. Assim sendo, ao iniciar este
trabalho, a consciência de que seria um grande desafio em diversos sentidos, foi
fato irrevogável. Comprovado. No entanto, muitos destes desafios foram superados,
proporcionando grandes contribuições, não somente ao/as envolvido/as diretamente,
mas a todo/as o/as demais.
Ainda quanto ao tema política, podemos salientar que é algo tão
desacreditado, infelizmente, que alguns aluno/as nunca tinham sequer entrado no
prédio do legislativo local. Menos ainda para assistir uma reunião. Sendo que, com o
desenvolvimento dos trabalhos, o/as aluno/as participantes tornaram-se
frequentadores assíduos.
Para a montagem da turma: atrair participantes, disponibilidade para
atividades em contra turno e sobrecarga de trabalho. Neste caso, nem todo/as o/as
interessado/as deram conta. Alguns realmente por não se identificarem com o tema.
O ponto positivo é que permaneceu somente quem teve interesse e queria mesmo.
Algumas ações foram realizadas em forma de amostragem, pois houve muita
dificuldade de disponibilidade de tempo e horários para dar conta de tudo o que
havia sido previsto.
O interesse e o entusiasmo despertado pelas atividades realizadas eram
constantes. Tanto é que, por exemplo, resultou na criação de uma página na internet
para expor e divulgar o projeto e o tema. Página esta que continua sendo
alimentada/atualizada por três aluno/as da Oficina. .
Anualmente estarei em parceria com a Câmara municipal efetivando a
realização das atividades do Programa Jovem Vereador/a (Lei nº 1433/2013).
Que este Programa vigore por muitos anos, ao longo dos quais ele seja
inovado, se tornando um espaço de aprendizagem e de grandes debates sobre
vários assuntos, contribuindo para que a participação chegue às diversas faixas
etárias.
Ainda, que contribua para despertar a curiosidade, instigar novas pesquisas e
promover outras iniciativas que possam valorizar e exaltar a comunidade cruz
machadense.
REFERÊNCIAS
BENZAK, Vera Maria. Monumento da irmã Ambrósia: a memória na construção de um lugar sagrado.2012. 045 f. Monografia. Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória –PR –FAFIUV, 2012.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil:o longo caminho. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.34. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
CORDIOLI, Sérgio. Enfoque Participativo: um processo de mudança: conceitos, instrumentos e aplicação prática. Porto Alegre: Gênesis, 2001.
COSSON, Rildo. Dois Modelos de Parlamento Jovem: uma leitura de seu funcionamento como letramento político. 2008. 010 f. Artigo (Simpósio Nacional sobre Política, Ética e Educação)-Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas, 2008. Disponível em: ttp://submissoes.al.rs.gov.br/index.php/estudos_legislativos/article/view/25/27. Acesso em: 20 abr. 2013.
COUTO, Adolpho João de Paula. Revolução de 1964: a versão e o fato. Porto Alegre: Gente do Livro, 1999.
DANTAS, Humberto. (org.) De olho no legislativo: um método para acompanhar mandatos parlamentares. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2013. Disponível em: < http://www.votoconsciente.org.br/wp-content/uploads/2013/02/LIVRO-FINAL-_-MVC-KAS.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2013.
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA-DCE-História. Curitiba: SEED, 2008.
FIGUEIREDO, Marcelo. Transição do Brasil Império à República Velha. 2011. 27 f. Artigo-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Disponível em: <http://alojoptico.us.es/Araucaria/nro26/monogr26_4.pdf >. Acesso em 30 jun. 2013.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
LE GOFF, Jacques. História e memória. 5.ed. Campinas, São Paulo: Unicamp, 2003.
PINSKY, Jaime;PINSKY, Carla Bassanezi. (Orgs.) História da cidadania 3. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO -PPP. Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, 2013.
QUEIROZ, Antonio Augusto de. Noções de Política e Cidadania no Brasil. Brasília: DIAP, 2012. (Série Educação; v.1) Disponível em: <http://www.diap.org.br/index.phpoption=com_jdownloads&view=viewcategories&Itemid=217>. Acesso em: 20 abr. 2013.
QUEIROZ, Roosevelt Brasil. Formação e Gestão de Políticas Públicas. 2.ed. Curitiba: Ibpex, 2009.
RÉMOND, René. Por uma memória política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
ROCKENBACH, Irene. Dados Históricos e memórias de Cruz Machado. Cuiabá: [s.n], 1996.
SANGOI, Tricia Schaidhauer. O Supremo Tribunal Federal e as Political Questions: uma análise histórica de sua compreensão e aplicabilidade pela jurisdição constitucional brasileira. 2008. 195 f. Dissertação de Mestrado. Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, 2008. Disponível em: http://www.unisc. br/portal/images/stories/mestrado/direito/dissertacoes/2009/tricia_sangoi.pdf.> Acesso em: 27 jun.2013.
SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2012.
TOCQUEVILLE, Alexis de. Da democracia na América. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.