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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O ARTIGO DE OPINIÃO E AS ESTRATÉGIAS PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL
DALETE GOMES PIRES1
P AU L O R O B E R T O AL M E I D A 2
Resumo: Este artigo apresenta os resultados da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola, o qual teve como objetivo possibilitar a leitura e compreensão do gênero discursivo/textual artigo de opinião, objeto de ensino e aprendizagem nas aulas de Língua Portuguesa, com a finalidade de oferecer subsídios para a produção textual dos alunos. Para o desenvolvimento das atividades utilizou-se o jornal impresso e digital, a produção de uma sequência didática abordando as práticas de leitura, oralidade e escrita para o reconhecimento do gênero estudado nesse veículo de comunicação e sua importância social. Além disso, o trabalho com o gênero discursivo artigo de opinião visava o desenvolvimento linguístico e discursivo dos estudantes do ensino médio. Palavras-chave: Gêneros discursivos. Artigo de opinião. Leitura. Escrita.
INTRODUÇÃO
O presente artigo procura abordar os resultados obtidos do Projeto de
Intervenção Pedagógica, da Produção Didático Pedagógica, da Implementação do
Projeto na escola e a socialização destes no Grupo de Trabalho em Rede (ambiente
virtual de aprendizagem _ Moodle e-escola_SEED-PR).
Este trabalho teve o objetivo de possibilitar a leitura e compreensão do
gênero discursivo/textual artigo de opinião, o reconhecimento deste em seus
suportes (impresso e digital), visando subsidiar os educandos na produção textual e
o aprimoramento de seus conhecimentos linguísticos. Buscou favorecer o acesso
dos alunos ao jornal através da indicação de leitura on-line, proporcionando
diferentes recursos de leitura para despertar o interesse e interação com os
diferentes discursos e assim, ampliar suas expectativas de aprendizagem.
A elaboração do projeto partiu da constatação de uma necessidade dos
educandos em relação à escrita de textos argumentativos. Neste sentido, estudar o
gênero discursivo/textual artigo de opinião, texto com características argumentativas,
1 Graduada em Letras – Português/Inglês pela FAFIJAN – Jandaia do Sul/Pr; Pós-Graduada em Língua
Portuguesa e Literatura pela FAFIJAN – Jandaia do Sul/Pr; Professora da Educação Básica do Estado do Paraná. 2 Graduado em Letras - Português/Grego pela UNESP-Araraquara/SP; Mestrado e Doutorado em Linguística
Aplicada pela UNICAMP; Professor Adjunto de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura –
UEL.
apresentá-lo em seu veículo de circulação e propiciar um contato através de recurso
tecnológico atualizado tornou-se mais estimulante para o educando, pois de acordo
com relatos dos estudantes não tinham acesso a jornais, portanto não liam e
desconheciam a função social do artigo de opinião. Além disso, ir além do material
didático (livro), oportuniza ao aluno o reconhecimento de que o uso da língua é um
meio de interação social.
Dessa forma, para o ensino de línguas, neste caso a Língua Portuguesa,
pauta-se no princípio de que a língua constitui-se na e pela interação entre os
sujeitos de uma determinada sociedade e nesta perspectiva de ensino baseou-se
nos gêneros discursivos ou textuais, teorias fundamentadas, respectivamente, pelo
filósofo da linguagem e pelo linguísta Mikail Bakhtin (2003. p. 261-306) e Luiz A.
Marcuschi (2008).
Reconhece-se que em nossas comunicações cotidianas, expressamos
nossas ideias sobre os fatos, frequentemente expomos nossas opiniões, aceitando
ou refutando as opiniões de outros em relação aos acontecimentos que emergem
das nossas interações, o que significa dizer estamos sempre argumentando.
E ainda, na oralidade há espontaneidade de expressão, recorremos a outros
recursos de linguagem não-verbal e através dos contextos em que se situam essas
comunicações ocorre facilmente a compreensão. Entretanto, para a escrita torna-se
fundamental o desenvolvimento de práticas de linguagem que consideram a
situação comunicativa, ou seja, definir o gênero discursivo/textual a ser escrito,
quem fará a produção, a quem será destinada e de que forma será veiculada, pois
essas informações são determinantes para a produção textual.
Nesta perspectiva, elaborou-se uma Sequência Didática sobre o gênero
supracitado a fim de proporcionar aos educandos o conhecimento desse gênero
específico da esfera social de circulação imprensa, buscando ampliar seus
conhecimentos e a compreensão da importância desse para o desenvolvimento de
sua reflexão crítica.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 O Enunciado: uma concepção bakhtiniana
Para o ensino de Língua Portuguesa, primeiramente, toma-se por base uma
concepção de língua como forma de interação verbal e social e para as práticas de
ensino elege-se o texto, ou seja, os gêneros discursivos/textuais, como objeto de
estudo, conforme defende Antunes (2003, p. 41)
[...] a evidência de que as línguas só existem para promover a interação entre as pessoas nos leva a admitir que somente uma concepção interacionista da linguagem, eminentemente funcional e contextualizada, pode, de forma ampla e legítima, fundamentar um ensino da língua que seja, individual e socialmente, produtivo e relevante.
Neste sentido, os fundamentos teóricos utilizados para esta proposta de
intervenção pedagógica, no atual contexto escolar, tomam por base esta concepção
de língua.
Ao refletir sobre as situações comunicativas, nas interações sociais,
observa-se que as relações estabelecidas entre os sujeitos das mais diversas áreas
de atividades humanas se constituem pelo uso da linguagem. E, segundo Bakhtin
(2003), o uso da língua se processa em forma de enunciados, “unidade real da
comunicação discursiva”, que são concretos e únicos, sejam orais ou escritos,
pronunciados por sujeitos nas mais diferentes áreas da atividade humana. Esses
enunciados compõem-se de três elementos inseparáveis: o conteúdo temático, o
estilo da linguagem e formas de composição. Através desses elementos, torna-se
possível perceber as condições específicas e as finalidades do referido campo da
comunicação.
Ao considerar o enunciado como “unidade real da comunicação discursiva”,
Bakhtin assegura que o estudo do enunciado, nesta concepção, permite uma melhor
compreensão das unidades da língua (as palavras e orações). As características
distintivas entre enunciado e oração manifestam-se pela alternância dos sujeitos do
discurso, formas de expressão e conclusão.
Neste sentido, demonstra-se que o enunciado é real, dinâmico frente à
presença do outro em uma atitude responsiva, reflexiva e ativa no processo de
interação, contrapondo-se ao caráter abstrato da palavra ou oração, que só recebem
um sentido em um enunciado concreto. Segundo Rodrigues (2005, p.159)
“Concretiza-se o estudo do enunciado quando este é visto na sua integridade
concreta e viva, ou seja, ao serem considerados os seus aspectos sociais como
constitutivos”.
Diante disso, confirma-se a necessidade de práticas de ensino da língua de
forma contextualizada, pois de acordo com ANTUNES (2003, p. 121)
“pela análise dos usos da língua entende-se mais e melhor o funcionamento das unidades da gramática. Por conseguinte, é preciso que se analise o emprego dessas unidades em textos, para que se garanta seu uso com coerência e adequação comunicativa”
1.2 Os Gêneros do Discurso em Bakhtin
As diversidades de usos da linguagem ocorrem devido à multiplicidade das
áreas de atividades humanas, as quais, ao fazerem uso da linguagem, segundo
suas necessidades de comunicação, elaboram seus “tipos relativamente estáveis de
enunciados”, ou seja, os gêneros do discurso (cf. BAKHTIN, 2003, p.262). E devido
a esse fato torna-se infinita a variedade dos gêneros discursivos.
Segundo o autor, diante dessa heterogeneidade dos gêneros (orais e
escritos) é importante saber a diferença entre os gêneros discursivos primários
(simples) que se constituíram em condições da comunicação discursiva imediata,
como o diálogo cotidiano, relato do dia a dia, carta familiar etc. e os gêneros
discursivos secundários (complexos) que emergem de um convívio cultural mais
complexo, desenvolvido, organizado e, principalmente, escrito (artístico, científico e
sociopolítico) como romances, dramas, pesquisas científicas, etc. que em sua
constituição agregam e reelaboram diversos gêneros discursivos primários e estes
se transformam e adquirem um caráter especial.
Conforme analisa Rodrigues (2005, p.169), a diferenciação entre os gêneros
primários e secundários não está baseada na diferença funcional e nem na escrita,
pois há gêneros primários escritos, como o diário íntimo, e gêneros secundários
orais, como a palestra. A diferenciação é histórica, baseada na concepção
ideológica e social da linguagem, agrupada entre as ideologias do cotidiano e as
ideologias organizadas. Com isso, torna-se fundamental o estudo dos diversos
gêneros do discurso, nas diversas esferas da atividade humana, a fim de evitar
concepções simplificadas da existência do discurso.
1.3 Os Gêneros Textuais segundo Marcuschi
Segundo Marcuschi (2008), toda forma de comunicação verbal é
estabelecida por meio de um texto, concretizado em um determinado gênero, ou
seja, manifesta-se por meio de um gênero textual. Portanto, ao se referir ao
processo interativo e social da produção linguística, centra-se na noção de gênero
textual. O autor correlaciona-se com Bakhtin, e afirma que, diante desse fato, os
gêneros textuais são inúmeros, porém não são infinitos. O autor assegura que o
domínio de um gênero textual é uma forma de efetivar linguisticamente objetivos
específicos em situações sociais particulares, afirmando que “os gêneros textuais
operam, em certos contextos, como formas de legitimação discursiva, já que se
situam numa relação sócio-histórica com fontes de produção que lhes dão
sustentação além da justificativa individual” (2008, p.154).
O autor defende que se insiram à organização do gênero as sequências
tipológicas, ou seja, os tipos textuais, fato que comprova que não há oposição entre
gêneros e tipos, mas estes se integram e se complementam na constituição do texto
e do funcionamento da língua nas condições de comunicações do cotidiano.
Estabelece-se a necessidade de esclarecer, conforme Marcuschi, as definições
desses termos.
Para o autor, tipo textual denomina um tipo de produção escrita determinada
pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações lógicas, estilo). Os tipos textuais definem-se como sequências
tipológicas conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição,
injunção. Esse conjunto é limitado e sem tendência a aumentar. O predomínio de um
dos tipos em um dado texto concreto configura o texto em narrativo ou
argumentativo ou expositivo ou descritivo ou injuntivo.
Marcuschi define gênero textual como textos materializados em situações
comunicativas do cotidiano, que apresentam padrões comunicativos distinguidos
pelas composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos constituídos de forças
históricas, sociais, institucionais e técnicas. Assim, “os gêneros são formas textuais
escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas” (2008 p.155).
São exemplos de gêneros textuais: telefonema, bilhete, carta pessoal ou comercial,
romance, reportagem, notícia jornalística, receita culinária, bula de remédio,
resenha, edital de concurso, editorial, artigo de opinião, carta do leitor, cardápio de
restaurante, inquérito policial, piada, conferência, etc.
Segundo o autor, o domínio discursivo constitui uma “esfera da atividade
humana” no sentido bakhtiniano do termo, indica os tipos de discurso (jurídico,
jornalístico, religioso etc.) e dá origem a vários gêneros textuais institucionalizados.
Ao assumir essa concepção teórica, Marcuschi conclui que se deve tratar os
gêneros de discurso vinculados a sua realidade social e em suas relações com as
atividades humanas.
1.4 Linguagem e Argumentatividade: o artigo de opinião
As interações entre os sujeitos de uma determinada comunidade,
comprovadamente, se efetivam pelo uso da linguagem verbal (oral ou escrita), e
nessas condições, a linguagem assume uma função social, pois por meio dela os
sujeitos se comunicam, constroem conhecimentos, transformam-se, atuam na
sociedade das mais variadas formas e com finalidades específicas buscam
satisfazer suas necessidades. Dessa forma, agem uns com os outros e sobre os
outros, ou seja, buscam convencer ou persuadir, e de forma intencional, tentam
influenciar e provocar mudanças de ideias ou comportamentos. Nessa perspectiva,
“a linguagem passa a ser encarada como forma de ação, ação sobre o mundo
dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto,
pela argumentatividade” (KOCH 1987, p. 17). Ainda segundo a autora, é inerente à
linguagem o ato de argumentar, e mesmo uma simples escolha de opinião a ser
reproduzida, representa uma argumentação carregada de ideologia, o que comprova
a inexistência da neutralidade do discurso e que em maior ou menor grau, a
argumentatividade está presente, também, em outros textos.
O artigo de opinião é um gênero textual que exerce uma função social, pois
torna-se um instrumento de interação entre autor e leitores de revistas ou jornais
(impressos e digitais), porém tal interação não ocorre no mesmo espaço e tempo e
nem pessoalmente, porque segundo ANTUNES (2003, p. 51),
“a escrita é uma modalidade de interação verbal em que a recepção é adiada, pelo fato de que os sujeitos atuantes não ocupam, ao mesmo tempo, o mesmo espaço. Além disso, há um espaço de tempo maior ou menor, entre o ato da produção textual pelo autor e o ato da leitura pelo leitor”.
O artigo de opinião situa-se na seção destinada a emitir opiniões, publicado
em um determinado período (diário, semanal, quinzenal, mensal) dependendo do
suporte, jornal ou revista, ocupando um espaço limitado da seção. A opinião é parte
constitutiva desse gênero, pois ele apresenta a opinião de um articulista, que pode
ou não ser uma autoridade (cientista, juiz, médico, empresário etc.) no assunto
tratado. Segundo Boff, Köche e Marinello (2009, p. 3), “o artigo de opinião é gênero
textual que se vale da argumentação para analisar, avaliar e responder a uma
questão controversa. Discute um tema da atualidade de ordem social, econômica,
política ou cultural e de interesse dos leitores”.
Segundo Rodrigues, “no gênero artigo, interessa menos a apresentação dos
acontecimentos sociais em si, mas a sua análise, e interessa junto com eles a
posição do autor do artigo” (2005 p.174). Ao assumir um ponto de vista em relação
aos acontecimentos, o autor busca defender sua opinião por meio de argumentos
favoráveis ou desfavoráveis a um posicionamento oposto.
Desta forma, o artigo de opinião constitui-se um gênero da ordem do
argumentar, que objetiva convencer, persuadir ou influenciar os possíveis leitores,
valendo-se de estratégias discursivas pertinentes ao gênero, como por exemplo, o
uso de palavras e expressões avaliativas, a negação, as aspas, os operadores
argumentativos, o chamamento do discurso de um outro, a ironia, os pronomes
demonstrativos.
O artigo de opinião apresenta uma estrutura característica que, apesar de
não ser rígida, diferencia-o de outros gêneros. A produção de um artigo de opinião
exige a apresentação de um problema a ser discutido, de uma proposta de solução
ou avaliação, de uma reflexão sobre o assunto e estrutura-se da seguinte forma:
situação-problema, discussão e solução-avaliação, conforme definem BOFF,
KÖCHE, MARINELLO (2009).
a) situação-problema: propõe a questão que será desenvolvida para indicar
ao leitor o que virá na sequência do texto. Procura contextualizar o assunto
abordado, através de afirmações gerais e/ou específicas. Nesse momento, pode
esclarecer o objetivo da argumentação que será sustentada no decorrer do artigo,
bem como a relevância de se discutir o tema.
b) discussão: expõe os argumentos e constrói a opinião sobre a questão
analisada, apresentando argumentos em defesa da posição assumida ou contra as
afirmações divergentes. Os argumentos baseiam-se em dados e fatos reais que
exemplificam e comprovam a veracidade dos conceitos apresentados.
c) solução-avaliação: apresenta uma resposta à questão proposta, em que
pode haver uma confirmação da posição assumida ou uma apreciação do assunto
abordado.
O conhecimento sobre as características e o funcionamento de um
determinado gênero propicia uma melhor compreensão tanto na leitura quanto na
escrita de um texto. E para as práticas de ensino da Língua Portuguesa, as
Diretrizes Curriculares da Educação Básica propõem que “o trabalho com a
disciplina considerará os gêneros discursivos que circulam socialmente, com
especial atenção àqueles de maior exigência na sua elaboração formal” (PARANÀ
2008, p. 63).
Ressalta-se, no documento, que o professor deverá fazer a escolha do
gênero a ser trabalhado considerando a compreensão do uso do gênero e de sua
esfera de circulação. E, de acordo com o gênero, finalidades e objetivos
desenvolver-se-ão as práticas de ensino, não sendo necessário abordar todas as
práticas ao mesmo tempo em todos os gêneros. Enfatiza-se que no Ensino Médio
“no entanto, é relevante que o aluno leia e produza artigos de opinião” (PARANÀ
2008, p. 90). Destaca-se que ao abordar o estudo de um gênero discursivo é preciso
considerar seus elementos constituintes como o conteúdo temático (ideológicos), a
forma de composição e de estilo (marcas linguísticas e enunciativas).
Sobre a leitura de um artigo de opinião considera-se que, diferentemente de
um texto poético, é importante atentar para o local e a data de publicação,
contextualizar o tema discutido, avaliar os argumentos apresentados se
posicionando, observar os operadores argumentativos, modalizadores, ou seja, as
marcas discursivas que explicitam a posição do articulista.
Neste sentido, evidencia-se que o estudo do gênero artigo de opinião
constitui-se um objeto de ensino e de aprendizagem fundamental para o
aprimoramento das práticas de linguagem em uso e socialmente valorizadas,
propicia a produção de conhecimentos vivenciados nas relações interacionais.
Anterior às propostas das DCEs, os pressupostos teóricos configurados nos
PCNs, e também OCEM, já atribuíram uma grande importância ao estudo dos
gêneros discursivos, vistos como formas de interação pela linguagem em uso, nas
diferentes esferas sociais de circulação, eleitos assim como objetos de ensino-
aprendizagem para o desenvolvimento das aulas de Língua Portuguesa. O estudo
dos gêneros discursivos facilita a compreensão das formas comunicativas, favorece
o desenvolvimento das capacidades de linguagens e oferece condições aos
educandos de atuação na sociedade em que está inserido.
Portanto, na tentativa de consolidar esses princípios teóricos que orientam
as práticas de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, tomando por base o
gênero discursivo artigo de opinião, buscou-se desenvolver atividades significativas
para o desenvolvimento reflexivo e crítico dos educandos, sob a perspectiva de que
o estudo do gênero proposto pode possibilitar o engajamento dos alunos nas
interações sociais.
RESULTADOS
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica ocorreu no Colégio
Estadual Rio Branco – Ensino Fundamental e Médio, em uma turma do 3º ano do
ensino médio, período noturno, transcorrida no período de fevereiro a junho de 2014,
totalizando uma carga horária de 32 aulas.
Inicialmente, foi exposta a proposta a ser desenvolvida no decorrer do
período letivo (semestral). Os alunos comentaram que não liam artigos de opinião,
portanto não o conheciam e, assim, consideraram importante e necessário o estudo
sobre o gênero, sobretudo por tratar-se de um gênero da ordem do argumentar.
Ao realizar a primeira produção ficou constatado que a maioria dos alunos
tinha noções básicas da tipologia textual dissertativa-argumentativa, embora alguns
demonstrassem muita dificuldade na escrita. Constatou-se ainda que os alunos
pouco usaram os diversos conectivos para o encadeamento das ideias e mostraram-
se limitados na exposição das ideias, inclusive alguns solicitaram a apresentação de
“palavras” que eles pudessem usar no momento de escrever. Após a correção dos
textos e comentários sobre as produções, os alunos tiveram o momento para
reescrevê-los, momento esse considerado fundamental para a interação entre os
colegas de classe e professora.
Na segunda oficina, os alunos organizaram-se em duplas; foi distribuído a
eles um conjunto de textos contendo os gêneros discursivos carta do leitor, artigo de
opinião, notícia, charge e um anúncio publicitário para leitura e identificação do
artigo de opinião. Nesta atividade, os alunos demonstraram bastante interesse e
interação com os textos apresentados, fazendo questionamentos sobre os gêneros
discursivos.
Após apresentar-lhes definições sobre o artigo de opinião e questões sobre
o gênero, os alunos dispuseram de jornais para a localização do artigo de opinião e
observação dos demais gêneros discursivos que compunham a mesma seção. Esta
atividade foi importante para a diferenciação entre os gêneros argumentativos e
melhor compreensão da sua disposição no jornal impresso. Foi apresentado aos
alunos o jornal digital com o uso de data show. Estas atividades foram consideradas
significativas para os alunos, pois o contato com o jornal impresso e digital
possibilitou-lhes compreender a importância social desse gênero discursivo.
As atividades propostas nas demais oficinas proporcionaram a leitura e
compreensão de artigos de opinião, sendo dois deles com opiniões controversas
sobre a mesma questão polêmica. Assim, os alunos tiveram a oportunidade de
estudar desde o vocabulário desconhecido, os mecanismos para a constituição do
gênero em estudo e os tipos de argumentos presentes nos textos. Os alunos
também identificaram e elaboraram algumas questões polêmicas extraídas a partir
da leitura de um tópico de reportagem. Houve uma discussão sobre a importância da
argumentação para a defesa de um ponto de vista, mesmo que em situações
informais do cotidiano.
Além dessas atividades, tiveram como proposta a busca de um artigo de
opinião, para analisarem-no sob luz dos aspectos estudados. O resultado foi
gratificante, pois houve caso de aluno que não fez a primeira produção, tinha
dificuldade de expor-se e realizou esta atividade comentando que estava buscando
fazer leitura de outros artigos no jornal on-line.
Para finalizar a proposta de intervenção pedagógica, a penúltima atividade
propunha a escolha e pesquisa de um tema polêmico, pois pressupunha-se que os
alunos precisassem de informações para a última atividade que consistia na
produção final, porém nem todos os alunos corresponderam à proposta, alegando
falta de tempo, em virtude de trabalho. Assim, nesta atividade evidenciou-se a falta
de autonomia por alguns de nossos alunos na construção da própria aprendizagem
e isso repercutiu no momento da produção final.
O trabalho com o gênero artigo de opinião, utilizando-se dos recursos em
que é veiculado, trouxe mais motivação e melhor compreensão do gênero em
estudo. Embora tanto na produção inicial quanto na produção final nem todos os
alunos realizassem a atividade escrita, os comentários dos alunos interessados no
seu desenvolvimento foram gratificantes em relação ao trabalho desenvolvido.
E ainda, durante a implementação do projeto de intervenção na escola,
ocorreu, paralelamente, o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), ambiente virtual de
aprendizagem disponibilizado pela SEED - PR aos professores de todo o Estado, o
qual objetivou a socialização das produções elaboradas pela professora participante
do PDE (exerceu a função de tutora neste grupo). Este processo de socialização
contou com um grupo de 13 professores de diferentes lugares e experiências. Para
as discussões e contribuições dos professores participantes do GTR foram
propostas atividades em fórum de discussão e diário referentes às produções
disponibilizadas ao grupo.
Os professores participantes do grupo foram unânimes quanto à pertinência
e relevância do projeto de intervenção pedagógica para a escola, confirmando a
necessidade de desenvolver atividades que propiciem o desenvolvimento da escrita,
atividades que elevam o nível de informação e formação crítica, importante para o
seu desenvolvimento enquanto sujeito social. Quanto à produção didático-
pedagógica consideraram ótima a seleção de textos no tocante aos temas
abordados por tratarem de problemas presentes na sociedade e dos quais os alunos
fazem parte.
Dessa forma, as discussões promovidas durante as atividades do GTR,
compartilhadas entre professores de diferentes regiões do Estado, trouxeram
reflexões e contribuições de todos os professores participantes do grupo, sendo
essas consideradas importantes para a nossa prática e formação docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com a produção escrita muitas vezes é repudiado por uma parte
dos alunos o que confirma a necessidade da escola, cada vez mais, propor
atividades de produção escrita, o qual deverá estar atrelado à leitura para a
aquisição de informações sobre a temática e conhecimento dos aspectos
constituintes do gênero discursivo proposto.
Nesta perspectiva, o trabalho desenvolvido sobre o gênero discursivo artigo
de opinião foi de grande importância para os educandos, sujeitos do ensino médio,
que tiveram a oportunidade de estudar de forma diferente da tradicional, ou seja,
apenas enquanto tipologia textual como é ainda apresentado em alguns livros
didáticos.
A relevância para os alunos, de estudar e produzir o gênero discursivo
apresentado nas atividades da produção didático-pedagógica, que contemplou a
leitura, oralidade e escrita, também reconhecê-lo em seu suporte, o jornal impresso
e digital, constitui-se pela oportunidade de receber informação e formar opinião
sobre os assuntos discutidos, ampliar seus conhecimentos linguísticos e discursivos,
de refletir criticamente sobre os fatos e compreender a importância desse gênero
discursivo/textual como forma de interação social.
Considera-se fundamental para a formação do educando, enquanto sujeito
social, conhecer as diferentes formas de interação social, e nesse caso, o gênero
discursivo artigo de opinião torna-se um meio de interação entre escritor e leitor,
embora a interação não seja pessoal, terá importância para o leitor que irá adquirir
informação e ao mesmo tempo confrontar sua opinião, refletindo sobre opiniões
divergentes e tornando-se favorável ou contra a opinião do escritor sobre a temática
apresentada no texto.
Acreditamos que a leitura e escrita do gênero discursivo artigo de opinião
proporcionarão melhor desempenho do estudante frente à modalidade escrita tanto
na organização composicional quanto a outros aspectos constitutivos do gênero bem
como o seu desenvolvimento reflexivo e crítico. Enfim, esta é uma das inúmeras
possibilidades de trabalhos com os gêneros discursivos/textuais no ensino
aprendizagem de qualquer disciplina escolar, especialmente nas aulas de língua
portuguesa.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. 8. ed. São Paulo: Parábola, 2003. BAKHTIN, Mikail. Os gêneros do discurso. In:______ Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003. p. 261-306. BOFF, Odete M. B.; KÖCHE, Vanilda S.; MARINELLO, Adiane F. O Gênero Textual Artigo de Opinião: um meio de interação. ReVEL, vol. 7, n.13, 2009. Disponível em ˂http:/www. revel.inf.br˃. Acesso em : 12 jun. 2013. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias.Brasília: MEC, 2008. KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e Linguagem. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1987. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. 3. ed. São Paulo. Parábola, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008. RODRIGUES, Rosângela Hammes. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: A abordagem de Bakhtin. (UFSC). In: MEURER, J.L. BONINI, A., MOTTA-ROTH, D (orgs.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005.p.154-181.
ANEXOS - Produção Final
Fonte: Aluno do 3º ano do E. M. Lorran Donato Bergamo, autorizado pela mãe.
O BRASIL E SUAS FACES
O povo brasileiro está ansioso para a realização da Copa Mundial, afinal o
país sediará um grandioso evento e todos os holofotes estarão voltados para o
Brasil, mas a estimativa é de que já foram gastos cerca de 25,6 bilhões de reais e
ainda, as obras não foram todas concluídas, algumas não irão além do projeto.
São construídos lindos estádios com cadeiras aconchegantes, porém nos
hospitais públicos faltam leitos e espaços para atender a todos os doentes. Desses
investimentos apenas permanecerão aqueles referentes a melhorias de mobilidade
pública e telecomunicações, mas o restante será esquecido, passarão mais quatro
anos e outra copa terá e todos os holofotes estarão voltados para outro país.
O Brasil é um dos países que menos gasta em educação, pois ela é sempre
deixada em último plano e isso tem sido um dos agravantes para os problemas
sociais. Contudo, se temos dinheiro para sediar um evento desse porte, por que falta
dinheiro para resolver os problemas de ordem pública? Afinal, o Brasil não está
preparado para promover um evento desse, pois sua infra-estrutura é precária e sua
organização é péssima.
No país, ainda há fome, pessoas que passam necessidades básicas para
sobreviver dignamente e em condições humanas, no entanto, o Brasil está
investindo bilhões e cumprindo todas as exigências da FIFA para a realização desse
evento esportivo.
Deste modo, se todo esse investimento fosse voltado para resolver os
problemas de ordem pública como saúde, educação, moradia e segurança,
certamente seria um país com desenvolvimento assegurado.
Aluno: L D B _ 3º. ano A _ Colégio Est. Rio Branco _ Ens. Fund. e Médio.
Fonte: Aluna do 3º ano do E. M. Eloina Soares Carneiro Assad, autorizado pela autora.
UMA VIDA INDEFESA
No Brasil, discute-se muito sobre o aborto e o assunto continua causando
polêmicas, pois muitas pessoas acham que a prática do aborto não é um grande mal
e as que o praticam não pensam na vida que está gerando, mas apenas em si
mesmas, esquecem que a criança é a principal vítima do ato praticado, no entanto, a
criança é apenas fruto das relações de seus pais.
A lei que autoriza o aborto é oposta ao símbolo do amor e da paz porque a
criança é um ser inocente e indefeso, portanto se a mulher não deseja engravidar,
deve tomar medidas preventivas, além disso, a prática do aborto pode causar
sequelas tanto físicas quanto psicológicas.
Enquanto há mulheres que sofrem com a esterilidade, outras alegam que o
aborto é o direito sobre o próprio corpo e que matar o próprio filho é fonte de
liberdade, realização pessoal e nem se importam que o mesmo é um atentado
contra a própria natureza da mulher, a de ser mãe.
É necessária para a mulher e a criança, uma solução benéfica para se falar
do bem de ambas, mas infelizmente, essa solução é ocultada. Deste modo, é
importante que ao invés de incentivar uma mulher a realizar o aborto, houvesse
assistência social para resolver suas dificuldades, pois se ela não pode criar seu
filho, não tem apoio da família ou do pai da criança, então que ela receba ajuda de
uma entidade social para que essa criança seja adotada e tenha todos os cuidados
necessários.
Assim, esse problema pode ser resolvido com uma educação adequada,
sexualidade compreendida e vivida de modo saudável e responsável sem que seja
necessário pensar em aborto e muito menos praticá-lo.
Aluna: E S C A - 3º ano A. Colégio Est. Rio Branco _ Ens. Fund. e Médio.