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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Verdade ou mentira, real ou irreal, não se sabe ao certo; fato é que o mistério, ... Portanto, o desenvolvimento do projeto

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

PARANÁ GOVERNO DO

ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIDADE DIDÁTICA – PROFESSOR PDE – TURMA 2013

Título: Estratégias de incentivo à leitura e à escrita de contos de mistério e terror

Autora Margaret Panini

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto

Colégio Estadual Antônio Franco Ferreira da Costa

Município da escola Formosa do Oeste– PR

Núcleo Regional de Educação Assis Chateaubriand – PR

Professora Orientadora Deise da Silva Gutierres

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Oeste Paranaense – UNIOESTE/Cascavel

Relação Interdisciplinar Leitura, Produção Textual, Literatura

Resumo A partir da realidade educacional que aponta para a deficiência da leitura nas escolas, o objeto de estudo deste trabalho é o incentivo á leitura através dos contos de terror e de mistério (CORTÁZAR, 1974, POE, 2005), pensando nos sextos anos do ensino fundamental da Escola Estadual Antônio Franco Ferreira da Costa E.F. Dessa forma, organizou-se uma sequência didática que comportará o período de dois meses, contabilizando assim treze aulas a serem ministradas no segundo semestre de 2014. Os principais objetivos a serem alcançados nesta sequência pedagógica são o desenvolvimento da oralidade (pela contação de histórias recuperadas pelos próprios alunos com seus familiares e colegas); o estimulo a leitura (aproveitando os efeitos de sentido característicos que esse gênero produz em quem o lê) e o incentivo à produção escrita (promovendo a criação e recriação de contos de terror ou de mistério). Com isso, espera-se que o educando possa colocar em prática o aprendizado teórico na medida em que demostre domínio dos passos fundamentais do conto, compreendendo as principais características desse texto narrativo, bem como aumente seu gosto pela leitura. Os resultados desse trabalho serão apresentados para a comunidade escolar por meio de um sarau e publicados em um blog construído pela turma.

Palavras-chave Contos de Terror; Narrativa; Leitura; Produção Textual.

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo 6º anos do ensino fundamental

A) APRESENTAÇÃO

A presente unidade didática corresponde a uma sequências de ensino

com 13 encontros sobre o tema: “Contos de Mistério e Terror”. Histórias de

terror ou de acontecimentos sobrenaturais que sempre estiveram presentes

nas diversas culturas humanas, aquilo que escapa à explicação racional, ao

mundo real, parece sempre ter fascinado o ser humano. Histórias transmitidas

oralmente de geração para geração, lendas, fábulas, “causos”, contos: o que

não podemos explicar também pode nos atrair (e nos explicar, em certa

medida). Verdade ou mentira, real ou irreal, não se sabe ao certo; fato é que o

mistério, a incerteza, a hesitação e o caráter espetacular de algumas histórias

nos prendem, seja para ouvi-las, seja para lê-las – e foi apostando nesse

fascínio provocado pelas histórias de terror que desenvolveu-se o presente

projeto.

O percurso literário vai da história de terror transmitida oralmente ao

conto de terror (popular na Europa do século misterioso XIX), o qual é “irmão

da poesia e síntese viva ao mesmo tempo que vida sistematizada”. É um

gênero literário cuja origem estaria na tradição das narrativas orais, aquelas

que

Se transmitem à noite à roda de fogo” e que têm o poder de revelar (ou criar), expandindo a sensibilidade. A partir do recorte de um fragmento, o conto “fixa determinados limites, mas de tal modo que esse recorte atua como uma explosão que abre, de par em par, uma realidade muito mais ampla, como uma visão dinâmica que transcende (CORTÁZAR, 1979. p. 150).

O conto, gênero de definição por vezes controversa devido à sua

transformação ao longo do tempo, é, de modo geral, classificado como

narrativa ficcional breve, menor que a novela e o romance. Pode caracterizar-

se essencialmente por sua capacidade de apresentar, de forma concisa, um

acontecimento cujo eixo é um conflito que pode ou não ser resolvido ao final.

Edgar Allan Poe, tido como um dos precursores do conto moderno, afirma que

um bom conto caracteriza-se pela intensidade, conseguida através da

brevidade e da unidade. Julio Cortázar (1979), por sua vez, afirma que no

conto deve estar presente, sempre, uma tensão constante.

Dentro do gênero conto há desdobramentos que permitem subdivisões,

sendo o conto fantástico considerado um novo gênero, com traços que o

particularizam. Esses traços estão ligados fundamentalmente ao sobrenatural e

os temas abordados, remetem à ideia aparente de fenômenos inexplicáveis do

ponto de vista da razão. Aparente porque um dos elementos apontados como

básicos para a caracterização desse novo gênero é a ambiguidade, que resulta

de uma hesitação (tanto da personagem quanto do leitor) diante de um

fenômeno. Essa hesitação, por sua vez, é gerada pelo questionamento relativo

ao pertencimento, ou não, ao mundo real, daquilo que foi presenciado. Tzvetan

Todorov, no livro ‘Introdução à literatura fantástica’, oferece uma explicação

mais detalhada desses elementos que compõem o conto fantástico:

o fantástico se fundamenta essencialmente numa hesitação do leitor – um leitor que se identifica com a personagem principal – quanto à natureza de um acontecimento estranho. Esta hesitação pode se resolver seja porque se admite que o acontecimento pertence à realidade; seja porque se decide que é fruto da imaginação ou resultado de uma ilusão; em outros termos, pode-se decidir se o acontecimento é ou não é (TODOROV, 1975, p.165-166).

Essas definições – tanto a de conto, de modo geral, quanto a de conto

fantástico – são essenciais para compreendermos quais são as características

necessárias para a composição do segundo, objeto de trabalho que norteará a

sequência didática.

B) JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO A presente unidade didática aborda o tema “Contos de Mistério e

Terror”, que por meio do trabalho com as habilidades linguísticas possibilita a

ampliação dos conhecimentos dos alunos sobre as diversas culturas e pode

levar o educando a desenvolver um vocabulário mais amplo, bem como a

escrita e a oralidade, levando-se em conta que a maioria de nossos alunos do

ensino fundamental não tem o hábito de ler.

Sendo assim, no decorrer do projeto se incentivará a leitura e a

imaginação, com base nas atividades propostas, a partir da opção por uma

abordagem de metodologia baseada em oficinas de leitura, escuta e produção

de textos. Isso porque parte-se do princípio de que a apropriação dos textos

pelos alunos (tanto dos contos lidos como de suas próprias produções) é

extremamente relevante para que os conteúdos sejam trabalhados com vários

recursos. Dessa forma, os alunos poderão adquirir a compreensão de que eles

são parte integrante do processo e ao lerem e relerem as obras, ao contarem

histórias conhecidas, ao escreverem um texto e ao julgarem a qualidade da

produção textual de um colega a partir dos recursos que lhes foram

apresentados. Portanto, o desenvolvimento do projeto utilizará um total de

treze aulas (pois dentro das crenças e dos ditos populares treze é o número do

azar). Os exercícios montados nesta sequência didática procurarão criar

contextos específicos para as produções orais e escrita de histórias e contos

de terror, contextualizando o educando no clima desses gêneros textuais. Tal

metodologia é fundamental, pois:

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias... “escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...”. Podemos, assim, começar a compreender a importância da Literatura Infantil no desenvolvimento cognitivo das crianças. Ser leitor é o meio para conhecer os diferentes tipos de textos, de vocabulários (ABRAMOVICH, 2009, p.14).

Sendo assim, o contato com os contos de terror e de mistério é uma

forma de ampliar o universo linguístico. Para o "contador" de histórias, cabe o

prazer de interagir com a leitura ao mesmo tempo em que oportuniza este

prazer para os seus ouvintes. Como afirmam Aroeira et al. (1996, p. 141),

"Contar histórias é uma experiência de grande significado para quem conta e

para quem ouve".

C) PROBLEMATIZAÇÃO

A problemática da presente pesquisa é identificar as diversas

dificuldades que ocorrem nas escolas quanto ao hábito da leitura, tais como

alunos que não têm o hábito da ler e/ou têm muita dificuldade para escrever.

Outros ainda não sabem produzir e interpretar um texto. Fatos esses

preocupantes nas escolas.

Sendo assim, considerando que a leitura é uma ferramenta

indispensável para viver e compreender a sociedade e o mundo, ressalta-se o

papel da escola que deveria ser o de formar leitores para a vida inteira. O livro

deveria ser um instrumento do dia a dia das pessoas. Portanto, acredita-se que

a leitura tem um papel importante na vida de todos os cidadãos, que é através

dela que se torna possível organizarem nossas ideias, criar e recriar visões de

mundo. Assim, como usar o gênero “Conto de Terror e de Mistério” para levar

os alunos a perceberem a importância da leitura, de forma prazerosa e

interativa?

D) CONTEÚDO ESTRUTURANTE

Oralidade;

Leitura;

Escrita.

E) CONTEÚDOS DE ENSINO

Desenvolver a oralidade: recuperar histórias de mistério e de terror que

os alunos ouviam de seus familiares e fazer com que eles as

reproduzam (trabalhar entonação, ritmo, respiração e outros recursos

utilizados nas narrativas orais);

Aplicar estratégias de leitura: perceber, na construção do texto, quais

os recursos que o autor utiliza para criar tensões (suspense, medo e

mistério), como ele faz para compor uma personagem soturna e como o

narrador adapta o mundo para prender a atenção dos leitores;

Estimular a escrita: incitar a transcrição de contos já conhecidos e a

criação de novos.

F) OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO

OBJETIVO GERAL

Efetivar, em Língua Portuguesa, uma prática didático pedagógica em

forma de sequência didática, que possibilite o contato dos educando do

sexto ano do ensino fundamental com os gêneros textuais “Conto de

Terror e Conto de Mistério”, de forma a trabalhar sistematicamente a

leitura desses gêneros textuais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Desenvolver e motivar a criatividade do educando;

Desenvolver a oralidade;

Despertar a imaginação;

Aprimorar o vocabulário e habilidades linguísticas (orais e escritas);

Recuperar histórias de mistério e terror que os alunos ouviam de seus

familiares e fazer com que eles as reproduzam (trabalhar entonação,

ritmo, respiração e outros recursos utilizados nas narrativas orais);

Aplicar diferentes estratégias de leitura, incentivando a leitura de maneira

dinâmica e prazerosa;

Entender que recursos que o autor utiliza para criar tensões (suspense,

medo e mistério), bem como o mesmo faz para compor uma personagem

e como o narrador adapta o mundo para prender a atenção dos leitores;

Estimular, a partir da leitura, a escrita;

Refletir sobre os contextos trazidos nas narrativas, por meio da leitura e

discussão que desenvolva a capacidade de interpretar textos, fazendo

relação com a vida cotidiana.

G) DESENVOLVIMENTO

Para esse trabalho as aulas serão organizadas em duas horas aulas

semanais, correspondendo assim a 13 encontros que ocuparão 8 semanas

escolares sequenciais, aproximadamente um bimestre do período escolar da

educação básica.

O plano de aula, com base em Gasparin (2003) apresentará:

Leitura de contos de terror e de mistério;

Pesquisa de contos em livros, na internet e história contadas pelos e

familiares e amigos;

Apresentação dos textos escritos pelos próprios alunos;

Apresentação da sequência de estudo desenvolvida pelos alunos para a

comunidade escolar em forma de sarau;

Construir um blog da turma para apresentação dos textos escrito pelos

próprios alunos.

1. Primeiro encontro:

A primeira aula é fundamental para o bom andamento do projeto, pois é

nela que o professor precisa conquistar e atrair a atenção dos alunos e fazer

com que eles se envolvam nas atividades.

Na apresentação da proposta, deve-se informar que a turma irá contar,

ler e escrever contos de terror e, no final do projeto, todos os trabalhos serão

publicados em um blog e lidos em um sarau temático para a comunidade

escola. Além de serem conquistados pelo projeto, os alunos precisam

estabelecer um vínculo afetivo com o gênero e, para isso, uma boa

apresentação é imprescindível.

Propõe-se, nessa primeira aproximação, que o professor conte

(utilizando todos os recursos que tornam uma narrativa oral “viva”, isto é, o

trabalho de respiração, a entonação, o gestual, a mímica, etc.) uma história de

terror (ele tem a liberdade de escolher uma história de que goste, que o tenha

marcado ou tido importância em sua vida, para que o prazer de contá-la seja

maior). Após isso, pedir aos alunos que contem outras histórias que eles

conheçam. Para aqueles que não conhecem nenhuma, pode-se pedir que as

colham junto a seus familiares e colegas (esse contato é uma forma

interessante de, simbolicamente, trazer a família para a escola e aproximar o

aluno da cultura familiar, muitas vezes enfraquecida por conta da falta de

diálogo). É aconselhável certa antecedência nessas recomendações para que

a programação inicial não seja prejudicada.

.♠ Apresentação uma história

de terror para os alunos;

♠ Pedir que eles contem histórias que

conheçam ou sugerir que peçam ajuda para

pais, avós e familiares, caso não conheçam

nenhuma história (primeira produção oral).

. ORALIDADE: - Conterrorizando em duas aulas.

A primeira aula é fundamental para o bom

andamento do projeto, pois é nela que o

professor precisa conquistar e atrair

atenção dos alunos e fazer com que eles se

envolvam nas atividades.

Ao apresentação da proposta, devemos

informar a turma irá contar, ler e escrever

contos de terror e, no final do projeto,

todos os trabalhos serão publicados em

um blog e lidos em um sarau temático,

para a comunidade escola. Além de serem

conquistados pelo projeto, os alunos

precisam estabelecer um vínculo afetivo

com o gênero e, para isso, uma boa

apresentação é imprescindível.

Propomos, nessa primeira aproximação,

que o professor conte (utilizando todos os

recursos que tornam uma narrativa oral

“viva”, isto é, o trabalho de respiração, a

entonação, o gestual, a mímica, etc.) uma

história de terror (ele tem a liberdade de

escolher uma história de que goste, que o

tenha marcado ou tido importância em sua

vida, para que o prazer de contá-la seja

maior). Após isso, pedir aos alunos que

contem outras histórias que conheçam.

Para aqueles que não conhecem nenhuma,

pode pedir que as colham junto a seus

familiares e colegas (esse contato é uma

forma interessante de simbolicamente,

trazer a família para a escola e aproximar o

Dessa forma, será apresentado um conto que mostrará aos alunos qual

é o resultado final que se espera: saber contar um conto de terror. Depois

disso, os contos trazidos por eles darão uma ideia sobre quais as visões que se

têm sobre a atividade proposta. Elas são decisivas, pois guiam o trabalho

docente. É nesse momento, ainda, explicaremos o que espera ver nos alunos

ao final do projeto, encaminhando o processo de avaliação.

2 – Segundo encontro

Feito o trabalho de sensibilização (partindo inicialmente da oralidade), o

professor lerá, na segunda aula, um conto para a classe. Uma sugestão é “A

queda da Casa de Usher, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (não

apenas por tratar-se de um dos mestres do gênero que baseia o trabalho, mas

também porque seus textos podem ser facilmente encontrados em bibliotecas

públicas e de escolas, além de sites, facilitando o acesso do docente e dos

estudantes ao material).

O trabalho de leitura dramática do texto apresentará para os alunos o

segundo objetivo deste projeto, que é ensiná-los a ler (em voz alta) um conto

de terror. Por isso é importante que o professor ensaie o conto com

antecedência, preparando sua apresentação. Ao ler, ele se expõe, mas:

Se ele [o professor] puser ali o seu saber dominando seu prazer, se sua leitura for ato de simpatia tanto para o auditório quanto para o texto e seu autor, se ele conseguir fazer entender a necessidade de escrever despertando nossas mais obscuras necessidades de compreensão, então os livros se abrem largamente, e a multidão daqueles que se acreditavam excluídos da leitura se colocam bem ali atrás dele (PENNAC, 1995, p. 196).

‘A Queda da Casa de Usher’ narra a história de um homem que recebe

uma carta de um amigo de infância (Roderick Usher) dizendo que está muito

doente e pedindo a sua presença. O chamado é prontamente atendido.

Leitura dramática de A queda da Casa de Usher

para os alunos;

♠ Contexto histórico dos contos

.fantásticos (por que esses contos se produzem

em épocas passadas?) . ORALIDADE - Caindo na armadilha em duas aulas.

Chegando à mansão dos Usher, esse homem se depara com um cenário

sombrio (“muros frios”, “troncos apodrecidos”, “fileiras de juncos”, “tudo tornava

a paisagem depressiva e gelada”) e fatos estranhos começam a acontecer.

A leitura dos primeiros parágrafos do conto já revela o tom dessa

narrativa, que precisaria ser mantido e reproduzido (na medida do possível)

pelo professor. Para criar-se a atmosfera de mistério e suspense na leitura, é

crucial que seja empregado um tom grave e reticente. Terminada a leitura, o

professor pode fazer algumas perguntas para os estudantes:

Qual a sua impressão sobre o conto?; Qual a impressão do personagem

sobre o lugar?; O narrador tem certeza do que está acontecendo com ele?;

Você conhece alguma história que tem uma casa parecida com a do conto?

Entretanto, é bom lembrar que os alunos trazem suas próprias impressões

e perguntas e é fundamental que tenham a oportunidade de apresentá-las e

discuti-las. É importante que digam o que pensam para que, só depois, então,

haja uma sistematização das questões estruturais do gênero.

2. Terceiro encontro

Esta atividade visa a um esboço de definição (informal, da própria sala)

do conto fantástico. Para fazê-lo, pode-se questionar os alunos sobre o que

lhes provoca medo ou terror; a intenção é de trazer à tona as sensações que

as histórias desencadeiam e, a partir delas, sistematizar e definir aspectos

estruturais do gênero.

Nesse momento, pode ser interessante, também, trabalhar o aspecto

histórico do conto fantástico, falando de seu surgimento (Todorov o situa no

século XIX, apesar de existirem novelas góticas no XVII e XVIII) e de uma de

suas principais características, a de possuir, historicamente, um caráter

transgressor, já que:

Uma série de temas que provocam freqüentemente a introdução de elementos sobrenaturais: o incesto, o amor homossexual, o amor a vários, a necrofilia, a sensualidade excessiva... cada um desses temas foi, de fato, freqüentemente proibido, e pode ser ainda em

. ♠ Questão para os alunos: O que

lhes provoca medo?

. ORALIDADE - Definindo o gênero em duas aulas.

nossos dias... A condenação de certos atos pela sociedade provoca uma condenação que ocorre no próprio indivíduo, proibindo-o de abordar certos temas tabus. O fantástico é um meio de combate contra uma e outra censura (...) (TODOROV, 1969, p. 161).

Alguns aspectos não podem faltar no momento da sistematização da

estrutura dos contos fantásticos: a hesitação, o narrador em primeira pessoa e

a descrição. Frases que exprimem incerteza, torpor, e a utilização de verbos no

imperfeito, por exemplo, criam a sensação de hesitação. As indagações que

eventualmente o narrador faz a si mesmo podem confirmar sua incerteza com

relação aos eventos ocorridos.

A ideia de ambiguidade é reforçada pela presença do narrador em

primeira pessoa: ele testemunha os fatos, mas as coisas que lhe sucedem são

de tal forma estranhas que ele duvida de que elas possam ser verdadeiras.

Isso faz com que o leitor também tenha dúvidas (hesite) sobre a veracidade ou

não dos fatos, como ocorre no seguinte trecho:

E eu que me dispusera a passar semanas naquele lugar! ... O fato é que ali estava eu. E nem me lembrava bem de Roderick... Sei que minha imaginação trabalhara tanto que parecia haver realmente, em torno da mansão e no domínio inteiro, uma atmosfera própria (POE, 2005, p. 76).

A descrição dos cenários feita pelo autor e a escolha do léxico são

bastante importantes na criação da sensação de suspense:

Era, de fato, muito antigo. E o tempo desbotara tudo. Muitas plantas pequenas cresciam no telhado, descendo pelos beirais. Isso, porém, não significava estrago na construção. Pelo contrário, esta se encontrava intacta. Nada desmoronando. Mas parecia haver uma violenta contradição entre o ajuste perfeito das pedras e seu estado de esfarinhamento, de fragmentação isoladamente. Dava mesmo a impressão de uma estrutura apodrecida durante longos anos, mas que o contato com o ar exterior a fizera manter-se de pé (POE, 2005. p. 76).

“Desbotara”, “desmoronando”, “esfarinhamento”, “fragmentação” e

“apodrecida”, termos usados na caracterização da casa, vão se sobrepondo e

construindo um cenário de “ruínas”, bastante apropriado para uma história de

mistério. Em todo o conto esses recursos são utilizados; logo, destacá-los para

os alunos é fundamental para que possam colocá-los em prática na produção

dos seus próprios contos (a caracterização morfológica e sintática desses

termos também merecem atenção).

4- Quarto encontro

Este é o momento de distribuir o texto ‘A queda da casa de Usher’ (que

poderá ser a tradução direta do original de Edgar Allan Poe ou a adaptação

feita por Clarice Lispector) aos alunos.

O conto, já lido pelo professor, será agora relido junto com os alunos,

que o terão em mãos. Essa estratégia de apresentar o texto “materializado”

somente depois deles terem tido contato por meio da escuta é uma forma de

fazer com que se interessem pela forma com que o texto escrito é construído.

Entra aqui a idéia de tecer, que está na origem da palavra texto. Ao ler,

apenas, o professor está apresentando uma forma mais próxima da oralidade

(apesar do material lido estar escrito), já que ao ouvir apreendemos estruturas

nucleares e elementos principais do que está sendo lido. Mediante a

visualização do texto, possibilitada pela leitura conjunta, é que o aluno

perceberá os reais recursos textuais utilizados pelo autor, tais como

encadeamento de orações, divisão por parágrafos, pontuação, aliterações,

assonâncias e outros recursos estilísticos.

Aqui, pode-se dar destaque à entonação, ao ritmo e a respiração,

demonstrando aos alunos que a leitura deve contemplar esses aspectos se

quiser transparecer o clima que o autor procurou criar quando escreveu a

história.

5- Quinto encontro

Os aspectos da oralidade e da leitura trabalhados nas quatro aulas

anteriores já poderão, a essa altura, convergir para o trabalho escrito. As

narrativas orais colhidas pelos alunos com seus familiares serão passadas para

♠ Os alunos escreverão uma história

(estranha, de algum fato sobrenatural) que

conheçam (primeira produção escrita);

♠ Distribuir o conto “A queda da Casa de Usher”;

♠ Releitura dele (pela classe) em voz alta, observando

entonação, ritmo e respiração;

. ORALIDADE – Aprendendo a “dizer” o conto em quatros aulas.

ESCRITA - Pondo a mão na massa em quatros aulas.

o papel e é interessante que esse processo seja trabalhado com mais

profundidade.

As diferenças entre oralidade e escrita são nítidas e o professor pode

explorá-las. A hesitação e a repetição presentes na fala são traços que

geralmente inexistem no texto escrito. A fala, como sabemos, possui mais

fluência e é mais imediata que a escrita, que exige um processo mais

cuidadoso de construção que visa à clareza de sentido.

Para exemplificar, o professor pode pedir a algum aluno que conte

rapidamente uma história sobrenatural que tenha escutado (a lenda do

lobisomem, por exemplo) e, ao mesmo tempo, transcrever na lousa a fala

desse aluno, destacando que estão sendo reproduzidos, tais quais foram

produzidos, os traços de oralidade, como repetições, hesitações e auto-

correções de fala. Ao final, o professor pode reescrever esse trecho na forma

considerada recomendável.

6. Sexto encontro

Após a produção escrita da aula anterior, propomos uma “quebra” na

sequência. Entram em cena outros gêneros. O professor pode selecionar

trechos de notícias, piadas, poemas, receitas, artigos, e distribuí-los

aleatoriamente aos alunos. Em um recipiente (caixa ou saco plástico), seriam

colocados papéis contendo “estados de espírito” (preferencialmente

relacionados às emoções reincidentes em contos de terror: apreensivo, triste,

amedrontado, perturbado, nervoso, deprimido, assustado, aterrorizado, etc.).

O docente explica aos alunos que eles lerão os trechos em voz alta, de

acordo com o “estado de espírito” sorteado. Essa atividade pode tornar-se

divertida na medida em que uma receita, por exemplo, pode ser lida como se

♠ Selecionar trechos de gêneros diversos

(notícias, narrativas, poemas) e distribuí-los

aleatoriamente aos alunos. Numa caixa, colocar

papéis com “estados de espírito” (apreensivo, triste,

perturbado, etc.). Explicar que os alunos deverão ler

os trechos em voz alta e de acordo com o “estado de

espírito” sorteado;

ESCRITA

- Treinando a leitura em duas aulas.

fosse uma história de terror, causando, no mínimo, um estranhamento

necessário para despertar o interesse por diferentes formas de leitura.

Essa atividade ajuda a perceber o quanto é importante uma leitura

atenta, baseada na descrição fornecida pelo autor, e também que cada gênero

textual solicita uma leitura diferente. O texto que toca em assuntos

sobrenaturais, por exemplo, deve ser lido de acordo com estados de espírito

próximos a esse, com as tensões, pausas e modulações de voz que dão o

caráter sombrio necessário à leitura. O fundamental dessa atividade é que o

aluno perceba que quem dá essa atmosfera sombria é, além do autor, com a

descrição dos acontecimentos, o próprio leitor, ao realizar a leitura dentro das

exigências do gênero.

7. Sétimo encontro

ORALIDADE

– Aspectos descritivos em quatros aulas .

O professor pede aos alunos que façam, oralmente, a descrição de

imagens (em cartões ou fichas em cartolina) de espaços e personagens

relacionados ao contexto das histórias de terror (ambientes sombrios, casas

abandonadas, pessoas soturnas), a fim de que percebam o quanto é relevante

a presença desses elementos. A seguir, sugere-se o retorno à leitura do conto

trabalhado, buscando que os alunos identifiquem nele possíveis descrições

semelhantes às comentadas. Uma pergunta-chave pode conduzir essa

atividade: Você acha que a descrição é importante neste conto? Por quê?

♠ Distribuir fichas com imagens (ambientes sombrios,

casas abandonadas, pessoas soturnas) e pedir para os alunos

descreverem o que veem;

♠ Localizar no conto, a partir de uma nova leitura,

passagens em que haja descrição de pessoas e ambientes.

♠Pergunta-chave: Você acha que a descrição é importante

nesta história? Por quê?

Figura 1: Casas mal –assombradas (2010).

Fonte: Disponível em <http://rwnd.wordpress.com/2010/05/30/as-8-casas-mais-assustadoras-

dos-filmes-de-horror/> .

8. Oitavo enconto

Como o objetivo deste trabalho é que os alunos, além de lidarem com a

oralidade, a escrita e a leitura, também conheçam o gênero conto de terror,

nesta aula apresentar-se-á um novo conto para leitura: Ligéia, também de

Edgar Allan Poe. A partir dele, propõe-se uma atividade voltada às figuras de

linguagem. Partindo do princípio de que os contos de terror as contém

♠ Leitura de um novo conto – Ligéia. A partir

dele, trabalhar as figuras de linguagem (hipérbole,

sinestesia, metáfora).

LEITURA - Contextualizando o conto duas aulas.

(hipérbole, metáfora, sinestesia, etc.), é pertinente uma exposição sobre elas

aliada ao trabalho com o texto, visando à percepção exata dos efeitos que

trazem ao gênero.

Nas citações a seguir, fizemos o levantamento de dois trechos dos

contos trabalhados. O primeiro é de Ligéia, cuja citação remete à metáfora

utilizada pelo narrador para comparar a personagem principal ao “esplendor de

um sonho de ópio, uma visão aérea e encantadora”:

Em beleza de rosto, nenhuma mulher jamais se igualou. Era o esplendor de um sonho de ópio, uma visão aérea e encantadora, mais estranhamente divina que as fantasias que flutuam nas almas dormentes das filhas de Delos”. (POE, 1954, p.74).

Em ‘A queda da casa de Usher’ há, já no primeiro parágrafo, um

exemplo claro de sinestesia, quando o narrador se refere a “um dia pesado,

escuro e mudo de outono”.

9. Nono encontro

Neste momento, os alunos já tiveram contato com elementos

importantes dentro dos contos de terror, como descrição, figuras de linguagem

e estados de espíritos, que dão a eles sua “fisionomia” peculiar. Portanto,

chega a hora de retomar as produções realizadas na Atividade V, para que, em

princípio, sejam feitas as correções levantadas pelo professor referentes a

problemas textuais encontrados, como coesão, coerência e ortografia.

Uma sugestão é que essa correção seja realizada coletivamente, por

meio de uma transparência ou da transcrição do trecho problemático na lousa.

Todos os alunos terão a oportunidade de retrabalhar a escrita, adequando-a à

norma culta padrão “exigida” para os textos escritos.

ESCRITA O retorno às produções dos alunos em duas aulas.

♠ Entregar os textos produzidos pelos alunos na quinta aula,

já avaliados.

♠ Selecionar trechos “problemáticos” (coesão, coerência,

ortografia) e corrigi-los coletivamente.

10. Décimo encontro

Nesta etapa, os alunos já realizaram atividades diversificadas que lhes

permitiram refletir a respeito das características próprias dos contos de terror.

Nesta aula, eles farão a releitura e a reescrita de seus próprios textos, tendo

em vista enriquecê-los a partir desse novo repertório. Seria proveitoso que

sentassem em duplas e, antes das alterações finais, trocassem os textos,

possibilitando um intercâmbio de sugestões. Sugere-se que o professor circule

pela classe, dando atendimento individual a quem necessitar de ajuda.

11. Décimo primeiro encontro

Divididos, agora, em grupos de quatro alunos, cada um deverá ler seu

texto para os colegas. O grupo escolherá o melhor entre eles. Deverá ser

decidido, ainda, quem lerá para a sala o texto escolhido e, tendo sido feita a

escolha, deverão ser sugeridas estratégias para a leitura, como, por exemplo, a

adequação do tom de voz a um determinado trecho da história, representando

ansiedade, medo, susto, etc. Essa atividade coletiva retoma o trabalho de

desenvolvimento da habilidade de contar uma história.

♠ Retomar os textos da ultima aula e pedir que os

alunos os reescrevam.

♠ Com os textos reformulados, separar a sala em

grupos e pedir aos alunos que escolham o melhor entre

seus textos.

ESCRITA

-Adequação de leitura: contar expressivamente em duas aulas.

♠ Cada grupo deverá escolher um representante para fazer a leitura

dramática desse conto para o restante da turma.

ESCRITA

- Aprimorando a escrita em duas aulas.

escrita

12. Décimo segundo encontro

A aula que antecede o sarau será dedicada à escolha dos melhores

contos. Cada aluno selecionado pelos grupos deverá realizar sua

apresentação. A classe decidirá quais contos farão parte do blog e quais serão

apresentados no sarau. Nesta aula, também serão combinados os detalhes de

ambientação do sarau que, além dos contos, poderá conter leituras dramáticas

de poesias ou apresentações musicais. Como tarefa, os alunos poderão

delegar os trabalhos de digitação dos contos e de preparação dos cartazes de

divulgação.

13. Décimo terceiro encontro

A última atividade é a realização do sarau. Em seu decorrer, será feita a

divulgação do blog com a coletânea de histórias.

Sugere-se, para criação de blogs, o site http://www.blogger.com; já para a

obtenção de variadas imagens relacionadas ao universo do terror, nossa dica é

a boa e velha área de pesquisa do Google: http://images.google.com.br.

ESCRITA

- Preparativos finais em quatro aulas

♠ Sarau e apresentação dos textos

no blog da turma, Contos de terror.

♠ Apresentação final dos contos e construção do blog

da turma.

♠ Preparação dos textos que irão ir para um blog e

para serem apresentados para o restante da escola em

um sarau.

Figura 2: Blog dos contos de terror das histórias dos educandos

Fonte: Alves et al. (2013).

H. AVALIAÇÃO

Os alunos serão avaliados a partir de suas produções finais (o que deve

ficar claro logo na apresentação do projeto). Pretende-se que a avaliação seja

contínua, isto é, aula a aula.

Como procurou-se explorar os vários aspectos componentes do conto,

cada produção feita pelos alunos (depois da apresentação dos temas) pode ser

avaliada em:

- Produção Oral (contar e ler uma história em voz alta) – o aluno

conseguiu aprender as técnicas para contar uma história: criar o clima que o

gênero cobra e prender a atenção do público?

- Produção escrita (escrever um conto) – o aluno utiliza as técnicas de

construção de um conto fantástico (cenários com descrições características,

hesitação, ambigüidade) que foram comentadas em sala de aula?

É importante que a avaliação seja feita juntamente com os alunos,

justificada, ponto a ponto, para que eles possam ver quais as expectativas que

foram atingidas e quais as que não foram. Se todos os critérios forem

devidamente expostos ao longo das aulas, o aluno se sentirá seguro ao ser

avaliado. Além da avaliação do professor, deverá ser levada em conta a da

sala (o público para o qual os contos – orais e escritos – foram produzidos).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2009.

ALVES, Andréia Manfrin et al. Conterrorizando: da história de terror ao conto. Revista Melp. Disponível em < http://www2.fe.usp.br/~lalec/revistamelp/index.php/inicio/pagina-de-rosto/item/43-conterrorizando-da-hist%C3%B3ria-de-terror-ao-conto>. Acesso em 10 de set. de 2013.

AROEIRA, M.; SOARES, M.; MENDES, R. Didática de pré-escola: vida e criança:brincar e aprender. São Paulo: FTD, 1996,

CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: _________. Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 1995. p. 235-263.

CORTÁZAR, Júlio. Alguns aspectos do conto. In: ________. Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1979.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: _______. Exprimir-se em francês. Edições de Boeck, 2001.

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HERNÁNDEZ, Fernando. Os projetos de trabalho e a necessidade de mudança na educação e na função da escola. In: _________. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática ensinar na escola: norma e uso na Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2003.

PENNAC, Daniel. Como um romance. São Paulo: Rocco, 1995.

POE, Edgar Allan. A queda da casa de Usher. In: ________. Histórias Extraordinárias (tradução e adaptação de Clarice Lispector). São Paulo: Ediouro, 2005.

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REWIND, PLEASE. As 8 casa mal-assombradas dos filmes de horror. Maio de 2010. Disponível em: < http://rwnd.wordpress.com/2010/05/30/as-8-casas-mais-assustadoras-dos-filmes-de-horror/>. Acesso em 20 de agost. de 2013.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1975.

_____. Os homens-narrativas. In: As estruturas narrativas. Tradução Moysés Baumstein. São Paulo: Perspectiva, 1969.