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OS DESAFIOS DA UNIVERSALIZAÇÃO DO ACESSO AO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO ESTADO DE MINAS GERAIS
Witan Pereira Silva (¹)
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.
Técnico em Meio Ambiente pelo Instituto Belo Horizonte; estagiário na ARSAE-MG desde fevereiro de 2012.
Extensionista no Projeto Manuelzão, realizando diagnósticos de microbacias hidrográficas. Coordenador
discente de eventos acadêmicos ligados à Engenharia no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e
membro fundador da Associação Mineira de Engenheiros Ambientais de Minas Gerais – AMEA.
Juarez Moreira Junior (²)
Graduando de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Estagiário na Agência
Reguladora dos Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Minas Gerais – ARSAE-MG
desde abril de 2012. Participante do Projeto de Saneamento Básico de Comunidades Quilombolas da
AQUAXXI.
Rodrigo Bicalho Polizzi (³)
Coordenador de Regulação e Fiscalização Técnico-Operacional na ARSAE-MG desde 2012. Engenheiro Civil
pela PUC-Minas e Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalha na área de
saneamento desde 2000. Coordenador e Engenheiro de Projetos de Saneamento nas empresas YC Engenharia
e O&M Engenharia. Engenheiro de Infraestrutura e Saneamento na Florida/EUA de 2006 a 2008.
Samuel Alves Barbi Costa (4)
Atualmente é Gerente de Fiscalização Econômico-Fianceira na ARSAE-MG e mestrando em Gestão e
Regulação de Serviços Públicos na FIOCRUZ. Bacharel em economia pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Foi auditor na Deloitte Touche Tohmatsu. Participou do Advanced Seminar on Regulatory Policy na
George Washington University e realizou intercâmbio no Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Taiana Coelho Netto (⁵) Geógrafa formada pela PUC-Minas. Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos pela Universidade
Federal de Minas Gerais – UFMG. Agente de fiscalização técnico operacional da Agência Reguladora dos
Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Minas Gerais – ARSAE-MG desde 2011, já
elaborou mais de cinqüenta relatórios técnicos de fiscalização dos sistemas de abastecimento de água e
esgotamento sanitário de municípios mineiros.
Endereço (1)
: Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves – Rodovia Américo Gianetti, s/n, Edifício
Gerais – 12º Andar – Bairro Serra Verde – Belo Horizonte – MG – CEP: 31630-901 – Brasil – Tel: +55 (31)
3915-8062 – email: [email protected]
RESUMO
Artigo Cientifico "Os Desafios da Universalização do Acesso ao Esgotamento Sanitário no Estado de Minas
Gerais", apresenta o cenário atual do saneamento em Minas Gerais apontando questões chaves dos problemas
do acesso causadas pela desatenção histórica do esgotamento sanitário no estado. Buscou-se também realizar
um comparativo entre o acesso ao tratamento de água e o esgotamento sanitário, sugerindo um conjunto de
ações integradas para o fomento da universalização do acesso aos serviços de esgotamento sanitário.
Palavras-Chave: Universalização do Acesso, Desafios, Programa Integrado, Esgotamento Sanitário.
INTRODUÇÃO
A relação entre os seres humanos e a água, não se restringe apenas a dessedentação. Desde os tempos
imemoriais, ou pelo menos desde a época da revolução da agricultura, o homem fixou-se em regiões
estratégicas que possibilitavam o cultivo de seus alimentos, geralmente as margens de rios. Tal tendência
possibilitou o crescimento de comunidades, que resultaram em grandes cidades. Essas, sempre associadas a
rios, como: Paris e o Sena, Viena e o Danúbio, Roma e o Tíbere, Londres e o Tâmisa, no Brasil temos a cidade
de São Paulo e o Tietê, além de tantas outras.
O crescimento concentrado das populações as margens dos cursos d’água trouxe com ele problemas àquelas
comunidades, devido à disposição inadequada de esgotos. A não compreensão do risco envolvido com a
disposição inadequada do esgoto trouxe várias epidemias a Europa na Idade Média, matando milhões de
pessoas.
Primeiras iniciativas
As iniciativas urbanas de coleta do esgoto, segundo Nuvolari (2011), só tiveram inicio na Europa, devido aos
surtos epidêmicos, que castigavam àquelas populações. Na Inglaterra em 1815 foram construídas galerias de
águas pluviais para drenagem e despejo de esgoto. A mesma iniciativa só foi vista na Alemanha em 1842 e na
França em 1880.
Nos séculos XIX e XX, o crescimento acentuado das cidades em todo mundo levou outros países a se
preocuparem com o tratamento de seus esgotos e investirem em pesquisas de tratamento e disposição, como
foi feito na Inglaterra (Nuvolari, 2011, pg 18)
No Brasil, segundo Nuvolari (2011), somente na década de 1970 ocorreram maiores avanços na temática do
saneamento. Entretanto ressalta-se que, no início do século XX, destacou-se o trabalho desenvolvido pelo
Engenheiro Saturino Brito em obras de drenagem em várias capitais, além disso, em 1933 o Engenheiro J.P de
Jesus Netto realizou um estudo no rio Tietê no trecho de Guarulhos até Itu, identificando a intensa degradação
e o risco de infecção das populações ribeirinhas de São Paulo.
Nascimento da Política de Saneamento
Em 1971, foi lançado o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), sendo a primeira ação efetiva de
fomento nacional para a expansão das obras de saneamento no país. O PLANASA era subsidiado com
recursos do Sistema Financeiro de Saneamento (SFS), que era gerido pelo Banco Nacional de Habitação
(BNH). Contudo, o Plano Nacional de Saneamento não durou muito e foi se enfraquecendo em decorrência da
crise da década de 80, tendo sua situação agravada, devido à extinção do BNH. Com isso, o plano entrou em
processo de declínio, se extinguindo em 1989 e tendo seu encerramento oficial em 1992. (SEIS, 2012, p.1).
Notou-se que, após o declínio do PLANASA, o Governo Federal percebeu a relação intrínseca entre
saneamento e habitação, juntamente com a necessidade de estímulo e implementação de ações paliativas. Com
isso, foram criados Programas e Ações direcionadas às principais necessidades, visando a melhoria da
cobertura e atendimento do saneamento no país.
Como os demais estados, na década de 1960, Minas Gerais não contava com uma política especifica para a
área de saneamento. Somente em 1963 o saneamento entrou na pauta política de Minas. Com o advento do
PLANASA o antigo Departamento de Água e Esgoto (DEMAE), de Belo Horizonte e a Companhia Mineira
de Água e Esgoto (COMAG), se fundiram criando em 1974, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais
(COPASA-MG), que tornou-se responsável pelo saneamento básico no estado. A COPASA orientava-se pelas
diretrizes do Plano Nacional de Saneamento e, com a extinção do mesmo, viu-se a necessidade de criação de
legislação específica para o setor. Com isso, o Governo de Minas em dezembro de 1994 sanciona a Lei n°
11.720, que estabelece a Política Estadual de Saneamento Básico. (SEIS, 2012, p.4).
Atualidade
O saneamento básico passa a ser visto com uma questão de saúde pública no fim da década de 80. No Brasil
em 1992 a taxa de mortalidade, segundo Léo Heller, era de 58 em cada 1.000 habitantes, enquanto em Cuba o
percentual era de 14 para cada 1.000 habitantes. Constatou-se também que 30% das mortes de crianças
menores de um ano de idade, eram causadas por diarreia (CAVINATTO, 2003).
Conforme exposto na cartilha Plano de Saneamento Básico Participativo (2011) a carência de uma legislação
federal que tratasse do saneamento só foi corrigida em 2007, com advento da sanção da Lei n° 11.445, que
estabeleceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico. Além disso, a Lei trouxe a ampliação da
compreensão do saneamento como tratamento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de
resíduos e a ligação direta com a saúde pública. O advento da Lei buscou estabelecer, além da compreensão
sobre o assunto, a garantia de acesso de toda população aos serviços de maneira universal, ou seja,
incentivando a ampliação do atendimento progressivo a todos os domicílios ocupados no país, garantindo
níveis adequados de saúde pública.
A Lei 11.445/2007 delibera em seu Art. 52, que a União elaborará, sobe a coordenação do Ministério das
Cidades o Plano Nacional de Saneamento Básico – PNSB. Tal Plano conterá: objetivos e metas nacionais e
regionais; prazos estabelecidos como curto, médio e longo; proposições de programas e projetos para alcance
das metas, diretrizes para o planejamento; orientação legal e jurídica para o equacionamento dos
condicionantes e a avaliação da eficácia das ações. A inserção de tal mecanismo possibilitará melhor controle
e gestão do saneamento, como o planejamento e adoção de medidas estratégicas para o avanço da
universalização.
O Capítulo II da lei 11.445/2007 traz para o saneamento o termo regulação dos serviços e possibilita que o
Titular dos serviços, crie um ente responsável pela regulação e fiscalização da prestação dos serviços. Com
base no retrocitado, o Governo de Minas através da Lei Estadual n° 18.309/2009, instituiu a Agência
Reguladora – ARSAE-MG, responsável pela regulação da prestação dos serviços de saneamento em Minas
Gerais.
Com o intuito de agregar conhecimento, colaborando com a discussão e contribuindo com um prognóstico de
ações, o presente artigo busca fomentar a mitigação dos agravos causados pelo histórico de desatenção ao
esgotamento sanitário, apresentando o cenário atual do saneamento em Minas Gerais, sugerindo um programa
de ações integradas para a universalização do acesso aos serviços em complemento a política nacional de
saneamento.
São perseguidos também nesse contexto os objetivos específicos de:
a) Apresentar comparativo entre acesso ao tratamento de água e a coleta e tratamento de esgoto nos
municípios mineiros.
b) Discutir propostas que favoreçam o avanço do processo da universalização do acesso ao esgotamento
sanitário no Estado.
c) Apresentar perspectivas de melhorias no quadro do esgotamento sanitário, mediante a adoção e
implementação de um programa de ações integradas.
O presente artigo está organizado em quatro seções: 1) Levantamento dos Desafios da Universalização do
Acesso; 2) Metodologia; 3) Programa de Ações Integradas; 4) Considerações.
METODOLOGIA
O presente estudo foi baseado em pesquisas, que procuraram obter um entendimento teórico da discussão da
problemática do acesso ao esgotamento sanitário em Minas Gerais. Baseando-se em análise bibliográfica das
legislações vigentes, das informações contidas no Sistema de Informações Sobre Saneamento- SNIS e
publicações existentes; a fim de sugerir um prognostico dos desafios para a universalização do acesso ao
esgotamento sanitário em Minas Gerais.
DESAFIOS PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DO ACESSO
O Cenário do Esgoto no Brasil
A temática do saneamento vem sendo discutida no Brasil há um período considerável. Entretanto os avanços
práticos não puderam ser observados claramente, devido à ausência de uma política consolidada,
investimentos em recursos humanos e tecnologias, além da falta de uma legislação especifica que tratasse do
saneamento como uma questão de interesse e saúde pública. Tal ineficiência consolidou-se em um retardatário
cenário de atendimento e abrangência dos serviços no país.
O agravo só é percebido quando as estatísticas são descritas. De acordo com a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (PNSB) elaborada pelo IBGE em 2010, 55,2% dos municípios brasileiros possuem
serviços de esgotamento sanitário, entretanto apenas 28,5% destes possuem tratamento de esgoto. Quando
considerada a discrepância entre as áreas rurais e urbanas, percebe-se que nas áreas rurais este atendimento é
ainda menor cerca de 80% menor. Isso se deve, principalmente, ao distanciamento entre as moradias e a
inexistência de rede coletora. Nessa realidade a adoção de alternativas de esgotamento inadequadas, como
despejo direto e/ou fossas rudimentares potencializa o problema.
Observa-se também que as áreas urbanas concentram grande número de despejos irregulares, ausência de
redes coletoras e de tratamento abrangente. Tudo isso potencializa e favorece o risco a saúde das populações,
além de constituir um gigantesco impacto ambiental responsável por prejuízos financeiros, sociais, ambientais,
históricos, à saúde, ao bem estar social e ao desenvolvimento sustentável.
O Cenário Mineiro do Esgoto
No tocante ao estado de Minas Gerais, o contexto histórico demonstra uma tendência de desatenção ao
esgotamento sanitário, contribuindo para uma lacuna no gradiente de coleta e tratamento de esgoto no estado.
Essa discrepância se compararmos índices de cobertura dos sistemas de abastecimento de água com a
abrangência dos sistemas de esgotamento sanitário. Tal discrepância favoreceu um quadro de risco a saúde
ambiental dos corpos d’água, além de reduzir por meio da contaminação a disponibilidade hídrica para
abastecimento e utilização na dessedentação de animais, agricultura e balneabilidade.
Com intuito de avaliar a situação atual do estado de Minas Gerais, no que se refere ao esgotamento sanitário
objetivou-se utilizar a base de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS),
divulgado pelo Ministério das Cidades em 2010. O SNIS abrange aspectos operacionais, econômico-
financeiros, contábeis, administrativos e de qualidade dos serviços. Os dados permitem identificar, com
elevado grau de objetividade, os aspectos de abrangência e gestão de serviços nos municípios mineiros. É
válido ressaltar que a base de dados escolhida é limitada do ponto de vista que os presentes dados são auto-
declarados pelas Prefeituras municipais e Prestadores de serviço, além de não contar com nenhum tipo de
verificação externa. Mesmo com esses contrapontos, o SNIS é a base mais completa e consolidada de
informações sobre saneamento no Brasil, servindo como um mapa das condições do setor e guia para políticas
públicas. Tal base auxilia a atuação de agências reguladoras do setor e Prestadores de Serviços em todo o país.
Diagnóstico do Esgotamento de acordo o SNIS
Minas Gerais possui 853 municípios, destes apenas 94 não participaram do SNIS em 2010. A discrepância
entre o acesso ao esgotamento sanitário e o abastecimento de água é facilmente perceptível quando se compara
as figuras 01 e 02, que tratam respectivamente do percentual de municípios com serviços de abastecimento de
água no estado e os que possuem coleta e/ou tratamento de esgoto.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 01: Percentual de Municípios Mineiros com acesso a Serviços de Abastecimento de Água
69%
19%
1% 11%
Possuem Serviços
Não Possuem Serviços
Não Informado*
Não participou**
(*) Municípios que não souberam ou não informaram a situação da
prestação dos serviços de abastecimento de água.
(**) 94 municípios que não
participaram do SNIS.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 02: Percentual de Municípios Mineiros com acesso a Serviços de Esgotamento Sanitário
A partir da observação das Figuras 01 e 02, é possível perceber que quase 70% dos municípios de Minas
possuem serviços de abastecimento de água. Tal característica se deve pelo fato de que os investimentos em
saneamento foram prioritários ao tratamento e distribuição de água potável à população, a fim de reduzir a
incidência de doenças de veiculação hídrica causadas principalmente pela ingestão de água sem tratamento.
Também se observa que os serviços de água são objeto de maior cobrança popular, com isso constituem-se
fator estratégico para visibilidade política.
Já o esgotamento sanitário não é objeto de tantas cobranças populares como a água e não constitui-se fator
estratégico para visibilidade politica. Tal situação favoreceu o estabelecimento de um quadro preocupante do
esgotamento no estado.
O avanço da universalização do acesso à água potável reduziu significadamente os índices de mortalidade
infantil no país. Entretanto, deve se considerar que a transmissão de doenças de veiculação hídrica não ocorre
apenas pela ingestão, podendo ocorrer pelo contato, deixando em risco comunidades ribeirinhas. Além disso, o
impacto ambiental causado ao meio ambiente terrestre e hídrico, em decorrência do despejo de esgotos, é
imensurável e compromete a disponibilidade de água com condições de tratamento para consumo. Portanto,
atualmente torna-se mais difícil encontrar fontes de água com características compatíveis para captação e
vazão apropriada para abastecimento público.
Na Figura 02, percebe-se um alto índice de municípios que não informaram sobre a prestação dos serviços de
esgotamento, o que pode indicar que cerca de 50% dos municípios mineiros não possuem nenhum tipo de
serviço de esgotamento sanitário. É válido, ainda, ressaltar que dos 40% municípios que possuem algum
serviço de esgotamento apenas 127 possuem coleta e tratamento conforme demonstrado na Figura 03.
40%
0%
49%
11%
Possuem Serviços
Não Possuem Serviços
Não Informado*
Não participou**
(*) Municípios que não souberam ou não informaram a situação da
prestação dos serviços de esgotamento sanitário.
(**) 94 municípios que não participaram do SNIS.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 03: Descrição do Tipo de Serviço de Esgotamento Prestado Por Município em Minas Gerais
Considerando os dados da Figura 03, outros fatores ligados à necessidade de ampliação do atendimento do
esgotamento sanitário também devem ser considerados, tais como: o despejo de esgoto in natura e as ligações
irregulares. Através do estudo dos dados do SNIS, considerando somente os municípios que participaram da
pesquisa, conclui-se que 632 municípios não possuem nenhum tipo de tratamento e despejam seu esgoto in
natura nos cursos d’água, o que equivale a mais de 70% do total de municípios mineiros.
Problemas com a qualidade de serviço comprometem a expansão do setor de saneamento, apenas em 2010
conforme CNI – 2011, as prestadoras contabilizaram uma perda de 37,6% com medições incorretas, roubos,
vazamentos e ligações clandestinas. É de grande importância a capacitação dos profissionais, para além de
minimizar as perdas, prestar um serviço para a população de maior qualidade. No tocante às ligações
irregulares, considera-se como objeto mensurável de análise um comparativo do número de ligações totais de
água e esgoto, conforme mostrado na Figura 04. A diferença entre ligações totais de água e esgoto chega a
1.420.390 ligações, cerca de 30%, constituindo-se uma questão extremamente preocupante.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 04: Comparativo entre o número de ligações totais de água e esgoto.
127
216
416
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Coleta e Tratamento Somente Coleta Não Possuem Nenhum Serviço
3.512.784
4.933.174
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
Ligações Esgoto Ligações Água
1.420.390
Obs.: Os 94 Municípios que não participaram do SNIS, foram desconsiderados nesta análise.
Quando consideradas as ligações ativas, conforme ilustrado na Figura 05, temos a confirmação da grande
lacuna entre o ideal e o atual, pois cada ligação ativa de água produz vazões distintas de esgoto e boa parte
deste esgoto não se encontra ligada a rede de esgotamento e é lançado sem tratamento nos corpos d’água.
Diferentemente dos serviços de abastecimento de água, o esgotamento sanitário encontra grandes entraves
para sua perpetuação e ampliação. Implica que a existência de rede coletora não garante que o esgoto
produzido seja totalmente tratado ou disposto de forma adequada, já que ligar-se a rede coletora é uma ação
voluntária e exclusiva do morador conforme a Lei 11.445 no seu Art. 3º, item II. Tal condição favorece a não
adesão dos moradores, pois quando o serviço de coleta é implantado o morador passa a pagar 50% a mais do
valor de consumo de água. Quando a coleta e o tratamento são implantados o impacto na conta é ainda maior
chegando a 90%. É válido ressaltar que esses percentuais referem-se ao percentual de tarifa aplicado pela
COPASA-MG nos municípios onde a mesma possui concessão. Nesse contexto o esgoto recebe o estereótipo
de onerador de faturas.
Embora o esgoto tenha a fama de atividade não rentável. Em municípios populosos e adensados, o mesmo
pode ser considerado um excelente negócio, pois demanda menos operadores para o tratamento e manutenção
da rede, além de apresentar menor gasto com energia elétrica se comparado com o tratamento e bombeamento
de água. Entretanto, também, percebe-se que o esgotamento sanitário apresenta desvantagem, devido aos
custos de implantação em municípios de pequeno porte.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 05: Comparativo entre o número de ligações ativas de água e esgoto.
A atual situação do esgotamento sanitário no estado de Minas Gerais é preocupante. A percepção de
agravamento do caso aumenta cada vez mais quando são aprofundadas as análise nos percentuais de
atendimento as áreas rurais.A carência de prestação de serviços de esgotamento nas áreas rurais se dá
principalmente pela demanda de construção de extensas redes coletoras para um número de usuários
consideravelmente pequeno, ao passo que os custos dos investimentos são altos e potencializados em
decorrência do distanciamento das residências. Além disso, o fator cultural do homem do campo consiste em
uma barreira para a consumação dos projetos no sentido de real utilidade por parte das famílias. Isso se dá
porque muitas comunidades rurais não estão habituadas a módulos sanitários e descartam seu esgoto na
maioria das vezes em fossas rudimentares.
Outra forma utilizada é o lançamento de esgoto diretamente em cursos d’água, comprometendo a qualidade da
água, favorecendo a eutrofização dos corpos d’água e o desenvolvimento de vetores de doenças. Na Figura
06, é apresentado o número de municípios com atendimento de esgoto no perímetro urbano em comparação
com municípios que possuem atendimento nas áreas rurais. É possível notar que a prestação nos centros
urbanos e muito maior que nas áreas rurais. Dos 341 municípios com atendimento em área urbana, apenas 67
abrangem áreas rurais no atendimento. Isso constitui uma diferença de 274 municípios que não possuem
nenhum tipo de atendimento em áreas rurais.
3.451.093
4.830.310
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
Ligações Esgoto Ligações Água
1.379.217
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SNIS 2010.
Figura 06: Número de Municípios com Esgotamento nas Áreas Urbanas em Comparação ao atendimento em
Áreas Rurais.
Na Tabela 01, observa-se um diagnóstico do setor de saneamento, categorizando as ações em Bom, Ruim e
Péssimo. Na Tabela é possível observar uma síntese da avaliação da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), pública em complemento a Agenda da Industria para 2010-2019( A industria e o Brasil: uma Agenda
para Crescer mais e melhor ). Nota-se que a coleta e tratamento de esgoto receberam, respectivamente, o status
de ruim e péssimo. Os planos municipais de saneamento, que se encontram em elaboração em todo o país, e
os modelos de financiamento foram avaliados como ruim. Tal avaliação confirma a necessidade de se
aprimorar os esforços no sentido do esgotamento sanitário. Um dos caminhos mais eficientes para isso é a
construção de planos municipais integrados as realidades locais, difundidos através da participação e não em
um plano único para todo o país fundamentado.
Fonte: Quadro extraído do relatório “A indústria e o Brasil: Saneamento: desafios para expansão dos investimentos” CNI-2011, 48p.
Figura 01: Diagnóstico do Setor de Saneamento
341
67
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Urbano Rural Nº de Municípios com Esgotamento
274
Determinado pelo Constituição federal de 1988 em seu Art. 158, IV esta o Imposto Sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços- ICMS tem em vista uma melhor distribuição do repasse do Governo Federal para
áreas prioritárias como: educação, saúde, agricultura, patrimônio cultural e preservação do meio ambiente.
Nesse sentido, a determinação dos critérios de repasse cabe ao estado. Com isso, foi criado o ICMS Ecológico,
que consiste em um dispositivo que promove melhorias ambientais em grande escala, sendo passada a receita
apenas para aqueles municípios que preservassem o meio ambiente.
Minas Gerais adotou o ICMS ecológico em 1995 e por ser um estado com o maior numero de municípios do
Brasil foi exigido um esforço maior por parte do governo estadual para a consolidação da lei. Foi inserido
neste contexto o critério de indicadores ambientais ligados ao saneamento.
Em Minas gerais o ICMS ecológico, além da conservação e preservação florestal está condicionado ao
atendimento dos indicadores de saneamento, que consiste no: Abastecimento de água, disposição dos resíduos,
tratamento dos esgotos sanitários e drenagem urbana. Tal critério despertou o interesse municipal ao
saneamento e voltou os olhos dos administradores para o saneamento. Dos 25% repassados aos municípios
em Minas Gerais, apenas 1,10% são repassados considerando o índice de saneamento. Sugere-se a elevação
deste percentual a fim de potencializar a atenção para o assunto e despertar de maneira mais efetiva as
prefeituras para o assunto (LOPES, Ana et all 1997).
Outra questão a ser levantada é a chamada etapalização da qualidade do efluente, que consiste no
procedimento pelo qual se divide os investimentos em qualidade do efluente tratado e na infra-estrutura
sanitária em etapas. Esse processo apresenta grandes vantagens econômicas, pois possibilita o parcelamento da
aplicação das verbas do projeto, condicionando-as ao cumprimento de prazos de construção.
O ganho ambiental também deve ser considerado. Conforme mostrado na Figura 07, o modelo sem
etapalização admite um grande impacto ambiental em decorrência do despejo de efluentes sem nenhum
tratamento em um longo período de tempo. Enquanto no modelo etapalizado percebe-se a evolução na
qualidade do efluente e com isso menor esforço da capacidade de resiliência e autodepuração do ambiente.
No tocante aos investimentos, pode-se optar pela aplicação difusa. Isso seria a distribuição do montante de
recursos em pequenas frações para inicio de várias estações com tratamento primário e no médio prazo aplicar
novas receitas na evolução dos projetos
O processo de etapalização é uma ação estratégica, que pode ser adotada para atenuar em curto prazo o quadro
do esgotamento sanitário. Contudo é necessário o acompanhamento dos órgãos ambientais e agentes
financiadores, com intuito de fiscalizar o cumprimento das metas, auxiliando e possibilitando a adequada
continuidade do processo firmado nos condicionantes de investimentos.
Fonte: Retirado do Livro Introdução à Qualidade das Água e ao Tratamento de Esgotos, Von Sperling - 2005, p.244.
Figura 07: Etapalização da Qualidade do Efluente
PROGRAMA DE AÇÕES INTEGRADAS
Integrar ações e atores do saneamento fomentando o avanço da Política Nacional de Saneamento Básico é um
grande desafio, para isto a interlocução a multiplicação de esforços entre os envolvidos diretamente com a
temática do saneamento são vitais.
Nesse contexto objetivou-se sugerir ações entre os diferentes Órgãos ligados ao saneamento com foco no
esgotamento sanitário, agregando ações e unindo esforços para possibilitar celeridade ao processo de
universalização do acesso através das seguintes ações, que constituem o programa de ações integradas:
Tarifa de Disponibilidade – Ações de Fomento a Adoção de Redes Coletoras
Como visto anteriormente a não adesão às redes coletoras constitui um grande problema nos sistemas de
esgotamento sanitário. Atualmente não se vê nenhum tipo de cobrança na estrutura remuneratória dos
Prestadores de Serviços que prevê taxação pela disponibilidade. Entretanto nota-se que a Lei 11.445/07 em seu
Art. 30: “[...] a estrutura de remuneração e cobrança dos serviços públicos de saneamento básico poderá levar
em consideração os seguintes fatores: [...] IV - custo mínimo necessário para disponibilidade do serviço em
quantidade e qualidade adequadas” reconhece e possibilita a tarifação pelo serviço de disponibilidade. O
Prestador, nesse caso, poderá realizar cobrança pela disponibilidade do serviço. Tal cobrança se daria apenas
ao morador que optasse pela não adesão a rede disponível. Justifica-se essa ação pelo fato da aplicação de
investimentos na projeção e construção das redes, que se tornarão inúteis pela não adesão e ETE’s inoperantes,
devido a ausência de volume de efluente adequado.
Contudo somente a cobrança de taxa não garantiria a mudança do quadro de esgotamento. Considera-se que o
morador pagaria a taxa de disponibilidade e consequentemente esta seria menor que a taxa pela coleta. O
morador optaria por pagar a taxa de disponibilidade e continuaria a dispor seu esgoto de forma inadequada. A
adoção de medidas acessórias a taxa de disponibilidade são necessárias e precisam ser adotadas em conjunto
favorecendo o fluxo de adesão. Nesse sentido as Prefeituras precisam pressionar os moradores a realizarem a
ligação na rede coletora, através de legislações que fiscalizem e responsabilizem o morador pelo dano
ambiental.
Aliadas às regulamentações elaboradas pelas Prefeituras as Agências Reguladoras, no exercício de sua função
normatizadora, precisam fornecer ferramentas legais aos Prestadores, para que estes atuem diretamente neste
problema. Através do poder normatizador, as Agências possibilitariam que os Prestadores de serviço
vinculassem a prestação do serviço de água ao de esgoto, sendo assim a ligação de água seria condicionada a
ligação de esgoto. Nos casos de não adesão o Prestador de serviços solicitaria justificativa assinada pelo
morador juntamente com termo de responsabilidade criado para este fim, onde seriam descritas as ações
alternativas adotadas pelo morador para destinação adequada do esgoto produzido. O não cumprimento de tal
exigência acarretaria na suspensão do abastecimento de água naquele domicilio.
Considerando a apresentação de alternativa de destinação adequada e os termos assinados o morador seria
cobrado apenas pela tarifa de disponibilidade de serviços, sendo está cobrada conforme os princípios
regulatórios.
O despejo de esgoto doméstico sem tratamento caracteriza-se crime ambiental, além disso, de acordo com a
Lei 9.605/1998 no seu Art. 3° parágrafo Único: “A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”, entende-se que a geração do esgoto é
decorrente do consumo de água e a responsabilidade da disposição adequada é responsabilidade do produtor e
do usuário.
Licenciamento Ambiental – Priorização de Projetos que Possuam Interesse e Abrangência Pública Desde a gênese dos projetos à implantação e operação das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s)
compreende-se um longo processo, que demanda, além de recursos, muito tempo. Tal realidade torna o
processo de implantação das ETE’s um desafio a ser vencido. O advento do processo de simplificar e
estabelecer prazo para o licenciamento das ETE’s objetivou a redução dos prazos para análise destes
processos. Entretanto simplificar a análise não implica na agilidade necessária para liberação do processo de
licenciamento.
Tratando-se de um empreendimento de atendimento público com alta abrangência social, o mesmo é tratado
como um empreendimento particular obedecendo um ordem de cadastro nos órgãos licenciadores.
Diante disso, empreendimentos que demandam processos cautelosos se interpõem como entraves para a
liberação das licenças de ETE’s. Com isso, é necessário o estabelecimento de prioridade nos órgãos
ambientais para a tratativa de empreendimentos de interesse público. de forma a estabelecer um fluxo no qual
empreendimentos de abrangência e interesse público sejam licenciados com o mais curto prazo possível a fim
de agilizar o processo de implantação.
ICMS Ecológico – Destinação do Percentual de Repasses Condicionado à existência e abrangência dos
Sistemas de Saneamento Básico.
Minas Gerais foi o primeiro estado no Brasil a incorporar a avaliação de Índices Ambientais ligados ao
saneamento para a concessão do repasso de ICMS ecológico. Tal ação despertou o interesse dos municípios
para a temática do saneamento.
Contudo, faz-se necessária a ampliação e aumento no percentual repassado com base na avaliação dos
sistemas de esgotamento sanitário dos municípios. Essa ação irá de maneira mais expressiva despertar a
atenção das Prefeituras para a importância da existência de sistemas de esgotamento sanitário no município,
pois um dos maiores fatores de coibição da importância com o esgotamento é o desinteresse e não
acompanhamento pelos titulares dos serviços. Isso se dá principalmente pelo temor de indisposição com a
população que terá alteração dos valores pagos nas faturas em decorrência da prestação de serviço de
esgotamento sanitário.
Aliado a esta situação estão contratos que preveem a implantação de sistemas de esgotamentos no menor prazo
possível. Contraditoriamente são comuns casos de municípios com concessão de mais de 10, 15 até 20 anos
sem nenhuma ação para o esgotamento. Os titulares dos serviços precisam ser despertados para a importância
do esgotamento e a melhor forma de fazer isso é interferindo no aporte de receita municipal, forçando a
mobilização das Prefeituras no sentido de buscar melhorias para a condição municipal do saneamento.
Objetiva-se através do aumento no percentual de repasse de ICMS ecológico fomentar investimentos e o
acompanhamento do esgotamento sanitário municipal pelas prefeituras.
CONCLUSÃO
O presente artigo buscou fomentar a mitigação dos agravos causados pelo histórico de desatenção ao
esgotamento sanitário, apresentando o cenário atual do saneamento em Minas Gerais, sugerindo um programa
de ações integradas para a universalização do acesso aos serviços em complemento à política nacional de
saneamento. A fim de contribuir e colaborando com a discussão através de um prognóstico de ações.
Comparativo entre acesso ao tratamento de água e a coleta e tratamento de esgoto nos municípios mineiros.
Quase 70% dos municípios de Minas possuem serviços de abastecimento de água. Tal característica se deve
pelo fato de que os investimentos em saneamento foram prioritários ao tratamento e distribuição de água
potável à população, a fim de reduzir a incidência de doenças de veiculação hídrica causadas principalmente
pela ingestão de água sem tratamento. Também se observa que os serviços de água são objeto de maior
cobrança popular, com isso constituem-se fator estratégico para visibilidade política.
Já o esgotamento sanitário não é objeto de tantas cobranças populares como a água e não constitui-se fator
estratégico para visibilidade politica. Tal situação favoreceu o estabelecimento de um quadro preocupante do
esgotamento no estado.
Cerca de 50% dos municípios mineiros não possuem nenhum tipo de serviço de esgotamento sanitário. É
válido, ainda, ressaltar que dos 40% municípios que possuem algum serviço de esgotamento apenas 127
possuem coleta e tratamento. 632 municípios não possuem nenhum tipo de tratamento e despejam seu esgoto
in natura nos cursos d’água, o que equivale a mais de 70% do total de municípios mineiros
Com relação às ligações irregulares. Percebeu-se uma enorme diferença entre ligações totais de água e esgoto
chegando a 1.420.390 ligações, cerca de 30%, constituindo-se uma questão extremamente preocupante.
Diferentemente dos serviços de abastecimento de água, o esgotamento sanitário encontra grandes entraves
para sua perpetuação e ampliação. Implica que a existência de rede coletora não garante que o esgoto
produzido seja totalmente tratado ou disposto de forma adequada, já que ligar-se a rede coletora é uma ação
voluntária e exclusiva do morador conforme a Lei 11.445 no seu Art. 3º, item II. Tal condição favorece a não
adesão dos moradores, pois quando o serviço de coleta é implantado o morador passa a pagar 50% a mais do
valor de consumo de água. Quando a coleta e o tratamento são implantados o impacto na conta é ainda maior
chegando a 90%. É válido ressaltar que esses percentuais referem-se ao percentual de tarifa aplicado pela
COPASA-MG nos municípios onde a mesma possui concessão. Nesse contexto o esgoto recebe o estereótipo
de onerador de faturas
Embora o esgoto tenha a fama de atividade não rentável. Em municípios populosos e adensados, o mesmo
pode ser considerado um excelente negócio, pois demanda menos operadores para o tratamento e manutenção
da rede, além de apresentar menor gasto com energia elétrica se comparado com o tratamento e bombeamento
de água. Entretanto, também, percebe-se que o esgotamento sanitário apresenta desvantagem, devido aos
custos de implantação em municípios de pequeno porte
A atual situação do esgotamento sanitário no estado de Minas Gerais é preocupante. A percepção de
agravamento do caso aumenta cada vez mais quando são aprofundadas as análise nos percentuais de
atendimento as áreas rurais. A carência de prestação de serviços de esgotamento nas áreas rurais se dá
principalmente pela demanda de construção de extensas redes coletoras para um número de usuários
consideravelmente pequeno, ao passo que os custos dos investimentos são altos e potencializados em
decorrência do distanciamento das residências. Além disso, o fator cultural do homem do campo consiste em
uma barreira para a consumação dos projetos no sentido de real utilidade por parte das famílias. Isso se dá
porque muitas comunidades rurais não estão habituadas a módulos sanitários e descartam seu esgoto na
maioria das vezes em fossas rudimentares
Dos 341 municípios com atendimento em área urbana, apenas 67 abrangem áreas rurais no atendimento. Isso
constitui uma diferença de 274 municípios que não possuem nenhum tipo de atendimento em áreas rurais.
Propostas de fomento ao avanço do processo de universalização do acesso ao esgotamento sanitário.
Integrar ações e atores do saneamento fomentando o avanço da Política Nacional de Saneamento Básico é um
grande desafio, para isto a interlocução a multiplicação de esforços entre os envolvidos diretamente com a
temática do saneamento são vitais.
Com relação a tarifa de disponibilidade salienta-se que a não adesão às redes coletoras constitui um grande
problema nos sistemas de esgotamento sanitário. Atualmente não se vê nenhum tipo de cobrança na estrutura
remuneratória dos Prestadores de Serviços que prevê taxação pela disponibilidade. Entretanto nota-se que a
Lei 11.445/07 em seu Art. 30: “[...] a estrutura de remuneração e cobrança dos serviços públicos de
saneamento básico poderá levar em consideração os seguintes fatores: [...] IV - custo mínimo necessário para
disponibilidade do serviço em quantidade e qualidade adequadas” reconhece e possibilita a tarifação pelo
serviço de disponibilidade. O Prestador, nesse caso, poderá realizar cobrança pela disponibilidade do serviço.
Tal cobrança se daria apenas ao morador que optasse pela não adesão a rede disponível. Justifica-se essa ação
pelo fato da aplicação de investimentos na projeção e construção das redes, que se tornarão inúteis pela não
adesão e ETE’s inoperantes, devido a ausência de volume de efluente adequado.
Contudo somente a cobrança de taxa não garantiria a mudança do quadro de esgotamento. Considera-se que o
morador pagaria a taxa de disponibilidade e consequentemente esta seria menor que a taxa pela coleta. O
morador optaria por pagar a taxa de disponibilidade e continuaria a dispor seu esgoto de forma inadequada. A
adoção de medidas acessórias a taxa de disponibilidade são necessárias e precisam ser adotadas em conjunto
favorecendo o fluxo de adesão. Nesse sentido as Prefeituras precisam pressionar os moradores a realizarem a
ligação na rede coletora, através de legislações que fiscalizem e responsabilizem o morador pelo dano
ambiental.
No tocante ao licenciamento ambiental. Empreendimento de atendimento público com alta abrangência social,
são tratados como um empreendimento particular obedecendo um ordem de cadastro nos órgãos licenciadores.
Com isso, é necessário o estabelecimento de prioridade nos órgãos ambientais para a tratativa de
empreendimentos de interesse público. de forma a estabelecer um fluxo no qual empreendimentos de
abrangência e interesse público sejam licenciados com o mais curto prazo possível a fim de agilizar o processo
de implantação.
No que tange o aumento no percentual de repasse doo ICMS ecológico. Minas Gerais foi o primeiro estado no
Brasil a incorporar a avaliação de Índices Ambientais ligados ao saneamento para a concessão do repasso de
ICMS ecológico. Tal ação despertou o interesse dos municípios para a temática do saneamento.
Contudo, faz-se necessária a ampliação e aumento no percentual repassado com base na avaliação dos
sistemas de esgotamento sanitário dos municípios. Essa ação irá de maneira mais expressiva despertar a
atenção das Prefeituras para a importância da existência de sistemas de esgotamento sanitário no município,
pois um dos maiores fatores de coibição da importância com o esgotamento é o desinteresse e não
acompanhamento pelos titulares dos serviços. Isso se dá principalmente pelo temor de indisposição com a
população que terá alteração dos valores pagos nas faturas em decorrência da prestação de serviço de
esgotamento sanitário.
Objetiva-se através do aumento no percentual de repasse de ICMS ecológico fomentar investimentos e o
acompanhamento do esgotamento sanitário municipal pelas prefeituras.
Em suma objetivou-se sugerir ações entre os diferentes Órgãos ligados ao saneamento com foco no
esgotamento sanitário, agregando ações e unindo esforços para possibilitar celeridade ao processo de
universalização do acesso através de ações que constituem o programa de ações integradas.
Perspectivas de melhorias no quadro do esgotamento sanitário, mediante a adoção e implementação de um
programa de ações integradas.
Através da observação do histórico do saneamento no país percebem-se, em suma, avanços moderados com o
advento do PLANASA. Porém, com seu declínio, o cenário nacional deu lugar aos programas de saneamento
que buscavam atenuar a ausência de uma política de saneamento básico, o que possibilitou avanços e
desenvolvimento, mesmo que insuficientes comparados ao ideal. Atualmente vivencia-se o desenvolvimento
de uma nova política de saneamento básico no país, através da Lei 11.445/2007 e do Plano Nacional de
Saneamento Básico – PLANSAB.
A compreensão de que não há ação genérica para solucionar o problema do saneamento no país é evidente
assim como a necessidade de se conhecer as especificidades locais para melhor elaboração dos Plano de
saneamento.
A participação dos atores do saneamento também é de suma importância para a consolidação do Plano e
consumação eficiente da política. Para o alcance das perspectivas, a interlocução entre Prestadores de
Serviços, Órgãos Ambientais, Agências reguladoras, Prefeituras, Ministério Público e sociedade civil
organizada, são decisórias para o êxito no processo. Por isso, quando se propõe um programa de ações
integradas, busca-se fornecer um instrumento acessório a política que possibilite a interação dos atores do
saneamento na busca de atenuar questões que fogem ao alcance da política, mas que estão diretamente ligados
ao cotidiano daqueles que protagonizam o saneamento.
As ações foram citadas neste artigo e tem como finalidade possibilitar o avanço do esgotamento e a
universalização do acesso. Estas ações estão fundamentadas no entendimento de que: 1) O titular dos serviços,
deve zelar pela melhoria na eficiência e ampliação dos serviços prestados; 2) Os Prestadores devem prestar
serviços de maneira regular, generalizada, contínua, eficaz e segura à população urbana e /ou rural; 3) As
Agências Reguladoras precisam adotar uma postura de equilibra a relação entre titular, concessionária e
população, fomentando a prestação adequada e preservação ambiental, exigindo o cumprimento dos padrões
de qualidade, a regularidade, a continuidade, a seguridade e eficiência da prestação dos serviços.
Portanto a universalização do acesso aos serviços de esgotamento sanitário, só será possível através do
envolvimento conjunto, aliado a uma política bem articulada e concisa, além de ações acessórias configuradas
em programas integrados, que possibilitem a interlocução entre Órgãos, Autarquias, Prestadores, Prefeituras e
Sociedade Civil. Entende-se que esses atores deveriam contribuir sugerir, interferir, colaborar, fomentar para
construir e garantir uma prestação de serviços igualitária a toda sociedade de forma generalizada, contínua,
eficaz e segura, indiscriminadamente sendo ela em área rural ou urbana.
Portanto pretende-se com o presente articulo possibilitar a reflexão sobre a necessidade da adoção de ações
assessorias ao saneamento de forma a contribuir para a universalização no mais curto prazo possível. O
programa proposto pretende iniciar um debate no qual novas iniciativas passem a ser discutidas para que o
esgotamento sanitário atinja toda a população brasileira.
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