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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
“ADMINISTRANDO O LAR”: A PERCEPÇÃO DE UMA “CULTURA DOMÉSTICA” E
OS DESAFIOS DO TRABALHO DOMÉSTICO REMUNERADO
Thays Monticelli1
Resumo: Esse artigo propõe analisar a percepção das patroas em relação aos cuidados domésticos
e, principalmente, as suas expectavas, desejos e compreensões de “eficiência” ao contratar uma
trabalhadora doméstica remunerada. Através da pesquisa realizada durante os anos 2015 e 2016,
sobre as lógicas e desafios elencados pelas empregadoras de trabalhadoras domésticas remuneradas,
percebi que havia uma constante sobre a maneira de se pensar e fazer o doméstico. Essa “cultura
doméstica” foi percebida na análise de manuais para donas-de-casa da década de 70, pesquisas
sobre o trabalho doméstico remunerado, documentários e filmes contemporâneos, assim como blogs
de boas maneiras. Frente a todo esse material, situados em diferentes momentos históricos, foi
percebido, na narrativa das patroas, representações do que seja uma casa bem limpa e organizada,
uma comida bem feita, uma mesa bem servida, como uma trabalhadora doméstica deve ser e estar,
quais os lugares não são pertencentes a elas, entre outras práticas cotidianas domésticas que
historicamente hierarquizam, reproduzem aspectos da servilidade e impedem que novas formas de
pensar o fazer doméstico sejam concretizadas. Essa realidade reafirma posições da divisão sexual
do trabalho e de classe estritamente vinculadas às desigualdades de gênero, trazendo desafios
analíticos sobre a interconexão entre o care as posições de poder, e como elas constroem
subjetividades.
Palavras-chave: patroas; empregadoras; trabalho doméstico; trabalho doméstico remunerado;
cuidado
No dia 25 de Março de 2015 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro um curso de
Atualização para Secretárias do Lar. A organizadora do evento, Lisa Mackey, envolveu-se em uma
polêmica midiática ao dar uma entrevista para Cleo Guimarães – colunista do Jornal OGlobo – ao
responder algumas questões sobre os objetivos propostos pelo curso, dizendo: “as empregadas
perderam a noção do limite. Teve uma que pedi para chegar 7h30 e botar a mesa do café. Ela disse
para mim: eu não! Imagina se eu vou botar mesa de café para madame! Essa falta de limite foi
muito lembrada também na pesquisa que fiz”. (GUIMARÃES,2015, n.p). Lisa Mackey fez uma
pesquisa com 150 patroas entre 35 e 45 anos para mapear as principais demandas que envolviam
“falhas” das trabalhadoras domésticas remuneradas, entre essas falhas ela listava, por exemplo,
“empregada que pendura pano de prato no ombro, que fala muito no celular e depois diz que não
deu tempo de passar a roupa, que se recusa a usar touca e uniforme ou que ficam falando das
1Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná. Tem trabalhado
especificamente com as questões que envolvem o trabalho doméstico remunerado, atuando em temas como: gênero,
trabalho, família, divisão sexual do trabalho, emoções e direito. Atualmente é integrante da pesquisa DomEQUAL,
coordenada pela Università Ca’Foscari Venezia/Itália.
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tragédias dos lugares onde moram”. (GUIMARÃES,2015, n.p). O curso de Atualização para
Secretárias do Lar tinha o custo de R$550,00, duração de seis horas e apresentava como principais
temas abordados: horário, vestimenta, cuidados pessoais, cuidados com utensílios, higiene na
cozinha e no banheiro, uso de produtos de limpeza, limpeza em geral (cantos, estantes altas e
detalhes), uso de telefone, música e demais comportamentos enquanto trabalha, organização de
geladeira, de armários de cozinha e despensa, dicas para variar o cardápio. Essa qualificação
profissional era necessária, de acordo com Lisa Mackey, porque havia uma incompatibilidade entre
o comportamento de trabalhadoras domésticas remuneradas dentro de seu ambiente de trabalho com
as ordens, desejos e expectativas de suas empregadoras2.
A polêmica nas redes sociais foi gerada especialmente porque o conteúdo desenvolvido no
curso e as declarações da organizadora denotavam perspectivas muito conservadoras, mostrando-se
deslocada em um contexto de mudanças no trabalho doméstico remunerado. É importante lembrar
que o país aprovou em 2013 a Proposta de Emenda Constitucional 478/10, estabelecendo igualdade
de direitos trabalhistas para essa categoria profissional, garantindo para uma grande parcela de
mulheres direitos básicos que combatem diretamente opressões que se vinculavam a este tipo de
trabalho no país, tornando-se um dos países mais avançados em termos de direitos da América
Latina.
De fato, algumas mudanças tornaram-se notórias ao longo dos últimos anos no Brasil, como
por exemplo, a intensa diminuição de trabalhadoras que moram junto à família empregadora, de
jovens que adentram a essa categoria profissional e um pequeno aumento no número de contratos
legalmente firmados entre empregadoras e trabalhadoras. (FRAGA, 2016). Soma-se ainda a esse
contexto uma intensa discussão sobre a maneira como o trabalho doméstico remunerado é
estruturado no Brasil através de filmes, documentários, novelas, revistas, jornais, conversas
cotidianas, etc. Como analisa Fraga (2016), o tema estava “na boca do povo”, seja na articulação de
ideias sobre as dificuldades que as empregadoras encontrariam com a nova legislação, seja nas
denúncias e críticas sobre explorações sofridas dentro das residências brasileiras3 - o que fez causar
2 Estamos assumindo o universo dos empregadores no feminino por duas razões: primeiro que a toda a pesquisa de
campo realizada para a tese foi desenvolvida com mulheres empregadoras, mesmo quando essas eram casadas se
colocavam como as principais responsáveis pela comunicação com a trabalhadora doméstica remunerada. Segundo,
porque assumimos que essa realidade apontada pela pesquisa de campo não é singular, ela se faz presente em quase
todo o território nacional, nos mostrando como o ambiente privado ainda é massivamente feminino. 3 Um exemplo é a página no facebook intitulada “Eu Empregada Doméstica” criado em 2015 por Joyce Fernandes
(feminista negra, professora de história e ex-trabalhadora doméstica remunerada), somando mais de 138 mil pessoas
seguidoras de seus posts. A página conta com relatos e denúncias feitas diretamente por trabalhadoras domésticas
remuneradas. Disponível: <https://www.facebook.com/euempregadadomestica/?fref=ts> Acesso: 04 de mar. 2017.
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ainda mais repercussão o conteúdo do curso profissionalizante de Atualização para Secretárias do
Lar.
O que nos chama atenção no discurso proferido por Lisa Mackey é a conexão entre uma
ideia de profissionalismo com comportamentos já tradicionalmente pensados como servis. As
idealizações prometidas no curso sobre organização, limpeza, culinária e as posicionalidades da
trabalhadora em relação a vestuário, comportamentos, práticas e os espaços por onde esta pode
transitar, são justamente o que tenho tentado decodificar como elementos de uma “cultura
doméstica” que permeia e estabelece as formas de pensar o espaço residencial, construindo
subjetividades das patroas e trabalhadoras e sendo mais um elemento de negociações nas complexas
relações entre afetos, direitos, intimidades, doações, etc. Nesse sentido, o discurso do
“profissionalismo” vem exigir comportamentos específicos que se conectam com as posições e o
exercício do poder. A “atualização” prometida pelo curso de Lisa Mackey não tinha como objetivo
“modernizar” ou “renovar” a relação entre trabalhadoras domésticas remuneradas e suas patroas, ou
muito menos promover uma inclusão de novas tecnologias e novas práticas de trabalho, muito pelo
contrário, a idealização do curso era justamente “lembrar” a trabalhadora doméstica remunerada de
como organizar uma despensa, limpar os cantos dos armários mais altos, manter uma geladeira
limpa e chegar na hora para servir o café da manhã antes de seus patrões levantarem, remetendo a
uma narrativa nostálgica4 das formas de trabalho e mostrando claramente como algumas práticas,
lógicas e discursos fazem-se presentes tanto na realidade cotidiana doméstica das empregadoras,
como compõem um imaginário sobre o profissionalismo e a eficiência em relação ao
comportamento e aos serviços prestados pelas trabalhadoras domésticas remuneradas.
Nesse sentido, a ideia de profissionalização exerce um caráter de reprodução de suas
próprias necessidades, desejos e expectativas, assume-se que a trabalhadora doméstica remunerada
precisa “cuidar da casa como se fosse dela”, além de saber servir eficientemente. O tão almejado e
desejado “profissionalismo” exigido das trabalhadoras é a tradução de um caráter conservador, que
molda e exige comportamentos trabalhistas e morais, uma “boa profissional” é aquela que sabe
servir bem, que obedece as regras da casa, que conhece muito bem os gostos de seus empregadores,
que sabe os horários e as dinâmicas dos integrantes da família e sabe se adequar a eles, que deixa a
4 É importante lembramos que a nostalgia é um dos sentimentos, compartilhados socialmente, que nos mostram mais as
concepções do presente do que necessariamente do passado. Ao sentir falta de alguma estrutura social antiga, estamos
apresentando uma insatisfação ao presente. Ver Freeman (2015).
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casa impecavelmente limpa e organizada, além de apresentar um amplo cardápio culinário, sempre
sendo fiel e “sabendo o seu devido lugar”, sendo discreta, silenciosa, autônoma, polivalente.
Essa mesma perspectiva foi analisada na etnografia realizada por Emanuela Oliveira (2007),
em agências de emprego destinadas exclusivamente para as trabalhadoras domésticas remuneradas,
que ofereciam cursos de treinamento e aperfeiçoamento profissional. Esses cursos se mostraram
como verdadeiros exemplos de “modelagem” do corpo e de posições de sujeito da trabalhadora
através de aulas de boas maneiras, como servir adequadamente uma mesa, como deve ser utilizado
o uniforme, além de estabelecer como devem estar os cabelos e as unhas. Esses cursos eram
marcados em um contexto de desigualdades de gênero, onde havia um processo de
disciplinarização, que se estendia às regras e comportamentos desejados pelas empregadoras até um
caminho de sucesso de reconhecimento da atividade profissional.
Desta maneira, se constitui um esforço de construção da imagem da empregada
“profissional” em oposição à empregada “quebra-galho”. Coloca-se que a “profissional”
não deve se limitar a cumprir ordens, ela tem que fazer uma casa funcionar sem a
necessidade de uma supervisão constante”. A postura “profissional” é ainda atrelada ao fato
de se, principalmente, acatar a determinação dos empregadores. [...] “Se tiver que comer
arroz e ovo vai ter que comer sim! Se quiser comer filé traga de casa porque patrões não
tem obrigação nenhuma de te sustentar”. É assim que da mesma maneira em que se postula
como tarefa da trabalhadora a elaboração de um cardápio rico e variado para seus patrões,
se afirma que a comida desta tem que ser separada e diferente da dos empregadores.
(OLIVEIRA, 2007, p.69 e 70).
Assim, esses cursos de “profissionalização” tem como ideal a manutenção de práticas
trabalhistas pautadas e embasadas em pressupostos “servis”5. É importante lembrar que esses
discursos tornam-se ainda mais frequentes frente a quadros de mudanças legislativas para
trabalhadoras domésticas remuneradas, pois as patroas se comportam como consumidoras de um
serviço, pagam por direitos e querem receber “o melhor” – nota-se que o “melhor” destina-se as
práticas que mantêm certos pressupostos privilegiados de servilismo. Como bem apontam Brites e
Fraga (2014), as mais expressivas mudanças no trabalho doméstico remunerado atualmente estão
5 É importante dizer que não parto do pressuposto que as trabalhadoras domésticas remuneradas são servis ou que não
apresentam políticas, estratégias e agências cotidianas para minimizar as diversas desigualdades sociais, raciais, de
gênero e de invizibilização de seus saberes – tópicos já profundamente analisados e empiricamente observados. Essa
pesquisa se fundamenta compreendendo que verdadeiras mudanças ocorreram nos últimos anos no país em relação a
esse trabalho, inclusive no sentido das diversas possibilidades de dizer “não” aos diferentes abusos trabalhistas exigidos.
(MONTICELLI, 2015).
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relacionadas aos novos padrões de comportamentos, limites e trabalhos oferecidos pelas
trabalhadoras, que não contempla um desejo de servilismo da classe empregadora, impulsionando
também uma falsa narrativa sobre um possível desaparecimento dessa categoria profissional no país
– dado desmistificado nas análises estatísticas. Assim, percebe-se a compreensão do trabalho
doméstico e a maneira como ele deve ser realizado é embasado por características conservadoras,
que moldam a percepção das patroas sobre a casa, cuidados e organização doméstica. A
“profissionalização” desejada pelas patroas então nada contempla formas de emancipação política e
ofertas trabalhistas bem limitadas e especializadas da parte das trabalhadoras, o “profissionalismo”
é a linguagem utilizada para buscar trabalhadoras que as sirvam, limpem e organizem suas casas de
acordo com pressupostos servilistas, que muitas vezes se conectam com práticas discriminatórias e
desiguais.
São justamente esses discursos, práticas, lógicas, símbolos e representações que fazem parte
da “cultura doméstica” da qual tenho por objetivo analisar, compreender como se conectam com as
construções de subjetividades de patroas e trabalhadoras e como se interpõe nas negociações de
direitos, considerando outros aspectos que igualmente se fazem presentes nessa relação trabalhista
como os afetos, as intimidades, cuidados, doações, etc. A “cultura doméstica” é intrinsicamente
formada nas relações de poder familiares, da divisão sexual do trabalho e constitui importantes
posicionalidades que diferenciam e mantem hierarquias. Esses aspectos são analisados a seguir a
partir da pesquisa de campo.
O Modelo Ideal da Casa e as Reconfigurações da Cultura Doméstica
A pesquisa de campo foi realizada em Curitiba-PR, no ano de 2015, com 15 empregadoras
de trabalhadoras domésticas remuneradas. Compõe como quadro socioeconômico predominante
mulheres brancas, que trabalham no mercado formal de trabalho ganhando em média R$6.698,00,
casadas, com filhos, naturais da capital paranaense, entre 30-40 anos, com Ensino Superior
completo e moradoras de bairros com maiores rendimentos econômicos da cidade – de acordo com
a Prefeitura Municipal de Curitiba-PR. Essas mulheres tinham dupla jornada de trabalho, eram
pertencentes à núcleos tradicionais familiares – marido, esposa e filhos.
O que foi evidente na pesquisa é que essas mulheres estão inseridas em desigualdade
econômica no mercado formal, não tendo igualdade salarial com seus cônjuges e não sendo as
principais responsáveis pelo orçamento familiar. Essas mulheres também estão igualmente inseridas
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nos processos de desigualdade fundados pela divisão sexual do trabalho, pois são as responsáveis
pelas manutenção e organização da casa – e muitas vezes não pensavam em mudar essa estrutura –
sendo as principais agentes do trabalho doméstico e dos cuidados familiares não remunerados.
As patroas dessa pesquisa compartilhavam de uma ideia sobre suas posições enquanto
esposas, mães, donas-de-casa e profissionais que se demonstraram com poucas variações em
relação aos modelos já tradicionalmente estabelecidos sobre o casamento, maternidade e os “papéis
de mulher”. Elas se colocam como as principais responsáveis pela manutenção do lar, pela
organização da vida de cada membro da família e como detentoras dos cuidados, atenções e amor
por todos eles. No entanto, sentem-se aprisionadas por esse espaço, por essas posições e pelas
tarefas domésticas. É importante recorrermos a Costa (2002), pois a autora nos remete a ideia dos
interstícios, ou os espaços chamados in-between, onde as subjetividades são construídas por essas
ambiguidades posicionais. As experiências múltiplas e conflitantes do sujeito patroa simbolizam um
processo reflexivo entre as representações essencializadas da casa e do lar conectadas com os
cuidados e amores femininos, ao mesmo tempo que escolhem uma vida “moderna” em termos
estéticos, profissionais vinculados aos pressupostos dicotômicos da esfera pública. Nesse complexo
jogo reflexivo, as patroas ao sentirem as pressões advindas das imposições e necessidades da
manutenção da casa, não introduzem novas formas de pensar a relação doméstica e compartilhar as
responsabilidades com a sua família, elas repassam todas as desigualdades geradas pela divisão
sexual do trabalho para a trabalhadora doméstica remunerada, como já extensamente analisado por
Ávila (2009). Mas, ao repassar essas responsabilidades elas enumeram diversas ordens, estabelecem
normas, organizam e querem que a trabalhadora contratada faça tudo impecavelmente, da maneira
como elas subjetivamente já pensaram como deve estar suas casas.
A limpeza da casa, foco para esse artigo, é pautada por uma exigência minuciosa, que requer
vigilância, organização e padronizações de higiene. Uma exigência que as desgastavam
emocionalmente, seja quando tinham que fazer ou quando tinham que demandar e cobrar de quem
faz. E é justamente nessa parte onde as narrativas sobre a “falta de profissionalismo”, as falhas, as
constantes reclamações, os motivos de desgaste, de ter que se impor enquanto patroas, de
frustrações de expectativas, de motivos para demissões e de negociações (inclusive de direitos
trabalhistas) aparecem. A limpeza é o ponto crucial para saber se uma trabalhadora doméstica
remunerada é realmente boa ou não, é necessário enxergar a limpeza, sentir o cheiro de limpo, estar
tudo no lugar, guardado, passado, feito no capricho, deixando os detalhes impecáveis, fazendo tudo
da forma mais higiênica possível.
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As excessivas ordens de limpeza e os padrões estabelecidos para saber se uma casa está
realmente limpa ou não – limpa-se o invisível, como já nos apontou Brites (2000) – são as
características que mais se conectam com os pressupostos construídos pela “cultura doméstica”.
Quando se trata desse aspecto, são poucos elementos de fato reconfigurados, pois eles ainda
permanecem em uma compreensão “dura” sobre as práticas que devem ser realizadas na limpeza e
organização de uma casa. E muitas vezes estende-se a imagem de fazer da forma higienicamente
certa à trabalhadora doméstica remunerada, sendo percebidas como “porcas”, “sujas”, sem noção de
limpeza quando não estão dentro dos padrões imaginados e construídos.
Thays: quais as principais falhas que você considera em uma trabalhadora doméstica? Que
você vê e pensa: ah, não vai mais poder ficar aqui em casa.
Empregadora: Ai, falta de higiene né. Porque ter, já vi várias vezes, é, lavar pano de chão
com pano de cozinha. Essas coisas, é, sabe? Logo no começo eu falava muito pra, porque
quando a babá veio, a babá era filha da empregada, então a empregada tinha, acho, que uns
dois meses aqui na minha casa. Aí eu precisava de uma pessoa para cuidar do meu filho que
eu estava voltando a trabalhar, e ela falou: eu tenho a minha filha. Então enfim veio a filha,
e eu sempre falava para ela: “olha, o que é de banheiro é banheiro, o que é de cozinha é de
cozinha, você nunca pode misturar uma coisa com a outra. Pano de cozinha é pano de
cozinha, esponja que lava cozinha não pode ir no banheiro”. Então, eu sempre falava as
coisas assim, sabe? Meio que marcava, olha: escova de banheiro, escova de cozinha para
não misturar. Então isso também é uma coisa importante. Sabe, ela é bem, ela é limpinha
também.
Thays: uhum
Empregadora: ah, porque funcionário fedido também não dá né. E gente que mistura, deixa
pano de louça, pano de chão, lava calcinha com pano de prato? Também não dá. Aqui na
minha casa é tudo separado, então ela lava tudo que é de cozinha, pano de mão, pano de
louça, lavo, toalha de mesa essas coisas não tem problema. E roupa tudo separado, roupa de
adulto lava separado de roupa de criança, que lava separado de roupa de bebê. Que eu
expliquei para ela: “olha, adulto tem algumas coisas que não pode misturar com roupa de
criança, não pode misturar nem toalha, e nem as roupas do meu filho podem misturar com
as roupas da bebê, porque ele é uma criança que tem seis anos, põem a mão na boca, põem
a mão no pipi e não lava a mão, faz pouco tempo ele estava com vermes, não dá para
misturar com as coisas porque ela é um bebê. Então, lava tudo separado e ela tem
um...tudo separado. Então isso é bem importante assim que eu vejo dela. Ela tem uma
organização higiênica lógica dela né para fazer as coisas.
(entrevista 4, 2015)
As patroas entrevistadas não só gostam de ver a limpeza, sentir que a casa passou por uma
transformação higiênica enquanto elas não estavam lá, como também precisam saber se essa
limpeza foi feita da forma mais organizada, separada e “higiênica” possível. Lavar as roupas de
adultos, crianças e bebês em separado é triplicar o trabalho de quem faz, aumentar a vigilância
sobre o trabalho e estipular padrões de higiene que se são formas de controle, de exercício do poder.
Além disso, elas querem ver os lugares não visíveis limpos, as gavetas que não são usadas, os
armários que dificilmente são abertos, o cantinho atrás do sofá que só aparece se o sofá for mudado
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de lugar, até o teto precisa ficar livre da sujeira, absolutamente tudo precisa estar impecavelmente
limpo, desinfetado e sem pó – mesmo que não seja usado, que não faça parte dos espaços ocupados
cotidianamente e que sejam “invisíveis”.
Cozinha e banheiros são os cômodos para os quais mais se exige uma limpeza e higiene
redobrada. Possivelmente porque nesses espaços o trânsito de pessoas é maior, o banheiro é o
espaço da limpeza dos corpos, então este não pode conter o resto de gordura corporal, pelos,
cabelos, unhas, lixinho retirado cotidianamente, além do depósito das roupas sujas. O banheiro não
pode ser simplesmente limpo, ele tem que ser lavado. Isso significa que todo o espaço, paredes,
chão, box, pia, torneiras, vaso sanitário, espelhos precisam ser esfregados com água e sabão,
desinfetado com água sanitária, passar produtos de limpeza com cloro, álcool, desinfetantes,
sapólio, enxugar e finalizar com um produto aromático.
A variedade de produtos de limpeza utilizados para “verdadeiramente” higienizar o banheiro
também é um veículo de vigilância e observação das patroas. O mercado oferece uma gama de
possibilidades de desinfetantes, sabão, soluções aromáticas, etc. Afinal de contas, a limpeza não
produz necessariamente cheiros e odores, a tão famosa e desejada sensação de “cheirinho de limpo”
advém dos produtos utilizados para a limpeza. Assim, a multiplicidade usada destes para a
higienização do banheiro não se faz coerente muitas vezes, levando em consideração, por exemplo,
que o “Veja X-14” (um produto específico para a limpeza de banheiros) tem a mesma composição
química que a Q-boa, a diferença é a inserção de aromatizantes6, ou seja, o cloro ativo vai eliminar
o mesmo limite das sujeiras e germes do espaço. O consumo de produtos que visam uma
higienização e limpeza muitas vezes se caracterizam por ideias ilusórias sobre a sua real eficiência,
como comprovado por Camargo, Schim et al. (2013), que os níveis de bactérias que se proliferam
em uma escova de dente convencional é a mesma de uma escova de dente antibacteriana. Nesse
sentido, a compreensão sobre a limpeza e a forma como ela deve ser realizada ainda preservam as
características da “cultura doméstica”, é necessário limpar o que não existe, com produtos que não
cumprem com as exigências estabelecidas sobre o nível de higienização necessária e impõem
separações e diferenciações através de atributos como “sujo”, “impuro”, “contagioso”.
(DOUGLAS, 1976).
6 Informações retiradas do site oficial de cada produto:
http://www.vejalimpeza.com.br/produtos/banheiro/?gclid=CjwKEAiAq8bEBRDuuOuyspf5oyMSJAAcsEyWi_UqHe2
Pvox8gs_cmNXhobqP5xlMzilmlOP_IFcwpRoCjFrw_wcB e < http://www.qboa.com.br/produtos-
interna.php?id=4&titulo=%C1gua%20Sanit%E1ria> . Acesso: 31 de jan. 2017.
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No clássico livro de Corbin (1987) sobre odores e sabores e as transformações sociais e
históricas em relação a estes, o autor expõe que no final do século XVIII, a construção do espaço
privado foi de suma importância para idealizar o sujeito individualizado, o “eu”. O espaço privado e
íntimo também passa a ser o lugar de “esconder” ou “reservar” os odores íntimos, o ato de defecar e
seus cheiros provenientes passam a ser delimitados longe da cozinha e da sala de receber as visitas,
por exemplo. Mas "o fato de que os odores do eu tenham sido mais bem definidos, mais
intensamente ressentidos, só fez estimular a repulsa contra os odores do outro", contra o "cheiro da
multidão e suores nos lugares apertados do espaço público" (GOMES, p. 85). E aqui se tem início a
etapa da insularização dos odores pessoais na qual estamos inseridos (GOMES, 1988, p. 262).
É importante lembrar que a maior parte das casas, das quais fiz a pesquisa, tinha mais de um
banheiro e todos tinham que ser limpos e desinfetados da mesma forma. A limpeza do banheiro é
imprescindível para as patroas que entrevistei, é onde elas podem ver se a trabalhadora doméstica
remunerada é de fato “boa” e “eficiente”, se retira todas as sujeirinhas e “lodos” dos rejuntes, se não
tem um pelo ou fio de cabelo no azulejo, se a torneira está brilhando, se foram jogados
suficientemente os produtos – não podem ser usados em demasia e nem em extrema economia-
para matar os germes que se instaram no vaso sanitário, box e pia. Há uma idealização da limpeza.
Thays: É, porque hoje em dia... e quando você pensa em contratar alguém pra trabalhar na
sua casa, quais as expectativas que você tem sobre esse trabalho, o que que você deseja
encontrar nessa contratação?
Empregadora: Pois é, perfeição. (risos).
Thays: O que que é a perfeição pra você, me fala?
Empregadora: Perfeição... que a empregada venha na casa da gente e faça tudo, assim, um
serviço de primeiríssima, assim, infelizmente não acontece.
Thays: Como que seria esse serviço de primeiríssima assim?
Empregadora : Assim, olha, por exemplo, você fazer uma limpeza e aparecer que foi limpo,
sabe, que eu cansei de levantar a noite jogar água no banheiro, porque ela jogava tanto
sabão que aí você toma banho aquilo fica cheirando sabão assim, então muitas vezes eu tive
que levantar pra lavar o banheiro, pra tirar aquele cheiro de sabão assim, então é assim,
mais qualidade no trabalho sabe.
(entrevista 8, 2015)
Na literatura específica sobre as compreensões do que seja impuro e puro, sujo e limpo,
nojento e aceitável nas relações de sociabilidade, nos processos sociais, culturais e econômicos, nos
mostram que essas dicotomias foram utilizadas para moldar a ideia de “civilização” ocidental, além
de ter caracterizado um teor ideológico de separar e diferenciar os sujeitos, como nos apontam Mary
Douglas (1976), Marcel Mauss (1974), Goffman (1988), Elias (1991), por exemplo.
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O que tenho tentado demostrar é que essas práticas ideológicas dicotômicas não foram
sanadas quando se trata de pensar em relações contemporâneas de contratações de trabalhadoras
domésticas remuneradas, elas tem, de fato, sido reconfiguradas. A limpeza e a comida são formas
de perceber essa características de diferenciações mais veladas, camufladas na narrativa do convite
para sentar à mesa, de fazer parte da festinha de aniversário de algum membro da família, ou de
comprar distintas frutas – um para a família e outro para quem trabalha para ela – demostrando
como aspectos da “cultura doméstica” se apresenta atualmente.
As patroas idealizavam uma casa impecavelmente limpa e organizada, que não houvesse
nada fora do lugar, nenhuma poeira ou sujeirinha acumulada em nenhum dos mais escondidos
cantinhos da casa, que a roupa estivesse lavada e passada, quartos devidamente acomodados,
banheiros absolutamente desinfetados e cheirosos, cozinha sem gordura e impurezas, além da
alimentação diária nutritiva e variada. Uma idealização que as desgastava emocionalmente, sentiam
que seu tempo era improdutivo e as subjetivavam com aspectos ligados a inferioridade. Essa casa
ideal estava no rol de competências exigidas enquanto esposas, mães e donas-de-casa, utilizando da
contratação de uma trabalhadora doméstica remunerada como uma forma de administrar as
demandas que essa idealização estabelecia.
Essa contratação era percebida como o caminho da “liberdade” por essas mulheres, que as
retiravam do aprisionamento entediante e desgastante do cotidiano cíclico do lar. Mas essa tão
sonhada liberdade lhes custava “caro”, saber conduzir todas as complexidades que se inseriam em
suas vidas privadas ao colocar outra mulher no espaço residencial, da intimidade, do cuidado, da
nutrição e da manutenção desse lugar requer muita habilidade nas formas de negociações, tanto as
que precisavam realizar consigo mesmas, quanto em suas posições de poder. Nas negociações
subjetivas, as patroas precisam agenciar suas posicionalidades para que nada fique “fora do lugar”
nessa relação, elas demandam os cuidados a outra mulher, mas são elas que mandam, observam,
vigiam, estabelecem os parâmetros do que consideram bom ou não, querem ser livre, mas ainda
vinculadas ao lugar primordial estabelecido como o de responsabilidade feminina – a liberdade de
não sujar as mãos na pia e nem a barriga no tanque, mas que não as desvinculam totalmente dos
espaços enquanto pertencimento. Nesse sentido, as negociações enquanto sujeitos administrando
suas posicionalidades, seu exercício de poder para manter os diversos sentidos de pertencimento do
lar, as patroas acessam variados aspectos de diferenciações que se interpõem nessa relação
empregatícia: classe social e étnico-raciais, principalmente. Como essa relação é estabelecida
intrinsicamente nas bases do gênero, duas mulheres que precisam administrar e negociar as pressões
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e explorações da divisão sexual do trabalho, as diferenciações vão se estabelecer através dos
pressupostos de classe e por meio do racismo.
Conclusão
Ao percorrer um caminho empírico inspirada pela linha de que haveria uma “cultura
doméstica” que permeava as relações no ambiente residencial, trazendo consequências,
reproduções, reconfigurações e reiterações de um caráter conservador nas interações entre patroas e
trabalhadoras domésticas remuneradas, tive acesso a um conteúdo complexo, de jogos de poderes,
afetos, intimidades, desejos, expectativas e sentimentos que são caros aos debates feministas, as
análises econômicas, de classe social e aos insistentes mecanismos de práticas racistas na sociedade
brasileira. Mas para além disso, a “cultura doméstica” revela uma faceta ordinária da vida cotidiana,
cíclica, exaustiva, essencializada no feminino e que explora diariamente mulheres inseridas nessa
relação, construindo símbolos e representações de vidas depressivas, entediantes, feias, infelizes e
humilhantes – visão partilhada pelas patroas. A “cultura doméstica” demostra claramente como a
imagem dicotômica onde o lar é o espaço dos mais puros sentimentos e amor, caminho, aconchego,
intimidade, companheirismo e segurança são irreais, ou parcialmente reais. A casa é também um
lugar violento, de explorações, negociações, frustrações e subjetivações enquanto esposas, mães e
donas-de-casa das mulheres nele inseridas.
Essa contratação era percebida como o caminho da “liberdade” por essas mulheres, que as
retiravam do aprisionamento entediante e desgastante do cotidiano cíclico do lar. No entanto, nessas
relações contratuais contemporâneas foi percebido diversas reconfigurações e reiterações da
“cultura doméstica”, pressionadas por diversas mudanças e transformações que o trabalho
doméstico remunerado sofreu ao longo dos anos através da ampliação de direitos trabalhistas,
críticas contundentes em relação a maneira como esse trabalho era estabelecido e aos diversos
processos políticos e de melhorias econômicas que as trabalhadoras foram conquistando perante
essa relação. Mas alguns aspectos são igualmente vivenciados na contemporaneidade, o racismo,
por exemplo, se apresentou insistente. As patroas entrevistadas eram cientes de todas as
desigualdades que estruturam essas relações empregatícias, estavam ligadas nas críticas e tentavam
estabelecer novas maneiras de convívio com as trabalhadoras, como convidar a sentar à mesa nas
refeições, ter um discurso de reconhecimento do árduo trabalho realizado em casa e da nova
legislação trabalhista, no entanto foi percebido formas veladas de diferenciações e de manutenção
de hierarquias e desigualdades, como ter diferentes alimentos destinados aos membros da família e
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à elas, utilizar de um discurso de autonomia da trabalhadora para dizer onde esta deve estar e como
deve se portar, além das práticas de vigilância, de imposição de limites e das extremas e idealizadas
exigências em relação a limpeza e organização da casa.
Se as patroas pagam “caro” na contratação de uma trabalhadora doméstica remunerada, seja
economicamente ou emocionalmente, as trabalhadoras ainda continuam a receber as misérias das
desigualdades de classe e étnico-raciais, além de não saírem de um quadro marginalizado
economicamente, sem seus direitos plenamente reconhecidos. A “cultura doméstica” antes de mais
nada pauta os paramentos da não empatia, do não reconhecimento e de uma idealização da casa, do
lar e da família irreais, reproduzindo uma violenta realidade que angustia e causa infelicidade nas
patroas e mantém uma precária relação trabalhista ainda vinculada aos pressupostos de servilidade.
O rompimento real da “cultura doméstica” se mostra, pelas análises realizadas nessa tese, como um
caminho para se concretizar parâmetros minimante modernos em termos contratuais legais e
igualitários em termos das relações travadas cotidianamente no lar. Enquanto isso, as patroas
seguem tentando encontrar a trabalhadora “perfeita”, que cubra seus desejos de liberdade, suas
idealizações referentes ao lar e que sejam o contraponto posicional de seus exercícios de poder.
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“Managing a Home”: the “Domestic Culture” Perception and the Challenges on Paid
Domestic Work Astract: This paper has the goal to analyze the patros’s perceptions about domestics cares and,
mainly, their expectations, wishes and “efficiency” notion in the paid domestic work hires. The
research done during 2015 and 2016 about the challenges and rationales listed by employer of paid
domestic work, I realized a “constant” in their narratives about the ways to think and to make “the
domestic” and “home”. This “domestic culture” was realized in the seventies household manuals,
researches about paid domestic works, contemporaries movies and documentaries, and good
manners blogs. In all of these materials, from different historic periods, it was observed in the
patron’s narratives representations about cleanness and organizations of houses; as well
representations about a well-made meal, a well-served table, where the paid domestic worker
should be, which places belong to them, among other domestic daily practices that historically
hierarchize, reproduce servility and do not allow new ways to think the domestic work. This reality
reaffirm sexual division of labor positions, with theoretical challenges about interconnection
between “care” and “power”, and how it produce subjectivites.
Keywords: employers; paid domestic work, care