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Os escolhidos as cronicas de alister mcgrath

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    kayle

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Text of Os escolhidos as cronicas de alister mcgrath

  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivode oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem como o simplesteste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro epoder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    McGrath, Alister E.

    As crnicas de Aedyn : os escolhidos / Alister McGrath & Wojciech Nowakowski ; [ilustraes]Wojciech Nowakowski ; [traduo Elosa Pasquini]. [Design da capa: Sara Molegraaf]So Paulo : Hagnos, 2011.

    ISBN 978-85-243-0438-5

    1. Fico inglesa I. Nowakowski, Wojciech. II. Ttulo.

    11-09235 CDD-823ndices para catlogo sistemtico:1. Fico : Literatura inglesa 823

    Originally published in the USA under the title: Chosen OnesCopyright 2010 by Alister McGrathTranslation copy rigth 2011 by Alister McGrathTranslation by Eloisa PasquiniPublished by permission of Zondervan, Grand Rapids, Michigan. www.zondervan.comPortuguese edition 2011 by Editora Hagnos LtdaTraduo:Eloisa Pasquini

    RevisoDominique M. BennetJoo GuimaresEdna Guimares

    Adaptao projeto grfico capaB. J. Carvalho

    DiagramaoB.J. Carvalho

    EditorJuan Carlos Martinez

    1a edio Outubro de 2011Coordenador de produoMauro W. Terrengui

    Impresso e acabamentoImprensa da F

    Todos os direitos reservados para:Editora HagnosAv. Jacinto Jlio, 2704815-160 So Paulo SPTel: (11) 5668 5668

  • [email protected]

  • PrlogoDez pequenos navios navegavam rapidamente pelos mares, procurando abrigo do desastre queengolira sua ilha. Homens, mulheres, crianas e animais olhavam para trs com medo. Alm dorastro de espuma deixado por suas embarcaes eles viam uma coluna de fumaa e cinzas subindoem direo ao cu, se espalhando pelo horizonte ao tocar a atmosfera. O brilho da luz e as chamasiluminavam as cinzas. Alguns passageiros choravam, com o vislumbre da devastao de sua terranatal.

    Os que estavam no primeiro navio olhavam ansiosamente para o lder. Se algum pudessesalv-los, seria Marcus. Ele os havia alertado de um desastre que estava por vir, ele os apressarapara fugir. Ele havia supervisionado a construo dos navios e o carregamento dos mantimentospara a viagem. Contudo, ningum sabia para onde iriam, se teriam algum destino alm de umtmulo nas guas. Nenhum dos grandes sbios jamais falara a respeito de terra alm do horizontesul. No entanto, esse era o rumo que Marcus havia estabelecido.

    Dias se passaram sem nenhum sinal de terra. Marcus vigiava na proa, observando atentamenteo vazio, tentando ocultar sua crescente ansiedade das pessoas que o rodeavam. Em algum lugarmais frente tinha que ter uma ilha uma ilha que no aparecia em nenhum mapa. Acima dele, asguias voavam em crculos, procurando sinais de terra. No entanto, nada surgira at aquelemomento. Marcus queria saber, e j no era pela primeira vez, se estava errado. Mas eleendireitou os ombros e manteve os olhos fixos, no horizonte. Tudo dependia dele.

  • CAPTULO1

    Era uma vez uma velha casa na cidade inglesa de Oxford. Ela fora construda perto dos antigosmuros da cidade, tinha hera crescendo sobre suas paredes de pedra, nas laterais das janelas, eera o tipo de lugar com muitos cantos escuros e escadarias obscuras. Nessa casa vivia umprofessor universitrio, sua esposa e um velho gato malhado.

    O interesse especial do professor era ler a respeito de antigas batalhas, tanto em terra como nomar. Seu escritrio desorganizado estava repleto de quadros de batalhas navais famosas. Oprofessor, na verdade, nunca estivera no mar, mas apreciava tudo o que a ele se relacionasse.Ningum, portanto, ficou mais orgulhoso do que ele quando seu filho se tornou comandante daMarinha Real Britnica. Sua esposa era o tipo de vov especialista em chs deliciosos e biscoitos.Ela possua grandes bochechas redondas e um enorme colo para as crianas sentarem.

    Certo dia, nem tanto tempo atrs, a casa estava toda em agitao com os preparativos para achegada de dois visitantes especiais: seus netos. A me deles morrera havia menos de um ano, ecom o pai em alto mar, eles precisavam de um lugar para passar as frias escolares. A esposa doprofessor passara a manh colocando lenis e cobertores ao sol, varrendo o cho, e tirando pdos armrios. O professor tinha passado a manh escolhendo livros para deixar nos quartos doshspedes. Para Pedro, de 14 anos, ele havia escolhido a histria das tticas da batalha deTrafalgar do almirante Nelson. Foi um pouco mais difcil encontrar um livro adequado para Jlia,de 13 anos, mas finalmente ele escolheu um timo livro sobre poltica grega antiga e deixou-osobre seu criado mudo. Sua esposa viu quando ele colocou ao lado da cama de Jlia, um vaso deflores recm-colhidas do jardim e apressadamente o substituiu por um exemplar de Alice no pasdas maravilhas.

    As crianas chegaram nessa mesma noite com todo o alvoroo costumeiro depois de umalonga viagem. Os dois foram muito abraados e beijados, deixaram as suas malas, comeramdiversos doces, e foram levados para os seus quartos. Pedro imediatamente desabou em cima desua cama sem ao menos se preocupar em trocar de roupa, mas Jlia no estava cansada. Elatomou banho, colocou uma camisola longa e sentou-se beira da cama, escovando seus longoscabelos, distrada e olhando pela janela para um jardim murado logo abaixo. Ela suspirouprofundamente.

    Em geral, ela e Pedro tinham permisso para ficar com amigos da escola durante essesperodos de frias enquanto seu pai estivesse ausente. Mas desta vez ele teria licena e viria v-los. Ele disse na mensagem enviada que tinha algo para lhes contar. Ento, Pedro e Jlia haviamsido avisados para irem direto do colgio interno para a velha casa em Oxford. O pai osencontraria assim que seu navio atracasse em Plymouth.

    Jlia preferiria ter ido para a casa de Lucy Honeybourne, em Kent. Elas poderiam nadarjuntas, e at mesmo fazer compras em Londres. Ela amava seus avs, mas eles eramto...antiquados. Ainda bem que eles finalmente a tinham deixado em paz durante a noite. Elaguardou a escova de cabelo e se recostou no travesseiro, folheando vagarosamente o livro, Aliceno pas das maravilhas, e ouvindo o ronco do irmo pela parede.

  • Jlia, na verdade, no era muito ligada a Pedro. Ele era interessado em coisas que aentediavam, como mquinas, equipamentos eletrnicos e esporte, e como os dois tinham sidomandados para o colgio interno, raramente se viam. Mas ela admitiu para si mesma que atPedro seria melhor companhia do que seus avs.

    O seu pensamento congelou quando seus olhos se fixaram na velha porta de madeiratrabalhada. Ela foi se abrindo lentamente, rangendo, at que um raio de luz invadiu o quarto. Masno momento seguinte, ela relaxou. Scamp, o velho gato malhado, entrou e, correndo, pulou nacama ao seu lado.

    Oh, ol Scamp! Ela o levantou e fez ccegas em seu pescoo. O gato ronronou apreciando ocarinho. Ambos estavam felizes por terem companhia. Jlia foi at a janela fazendo cafun atrsda orelha dele, e olhou pelo vidro para o jardim murado, onde havia uma fonte que borbulhavadelicadamente.

  • Olhe esse jardim! Scamp pressionou sua pata contra a fria vidraa e ronronou mais umavez.

    Voc no gostaria de explor-lo? Mas no pode porque voc um gato que fica dentro decasa, no ?

    Scamp no podia sair de casa para evitar a possibilidade de voltar com pulgas, pssaros oucamundongos recm-mortos. A av de Jlia ficava horrorizada s de pensar em uma dessascriaturas vivas, ou mortas, entrando em sua casa to bela e limpa. Ela tambm no queria que oScamp se misturasse com os gatos comuns e rudes que viviam nas ruas. Ele poderia aprendermaus hbitos.

    Jlia deu um sorriso irnico. Pobre Scamp, sempre preso dentro de casa! De repente, algo semexeu no jardim l embaixo. Alguns pssaros se agitaram ao redor da fonte. Scampimediatamente ficou em alerta, msculos tensos, olhando fixamente para os passarinhos l nojardim. Jlia notou seu interesse no que havia l embaixo.

    Voc gostaria de ir l fora e ter uma aventura, no gostaria? Bem, sinto muito, mas voc nopode sair. Voc ter que ficar aqui.

    Jlia colocou o gato na cama e observou-o se aconchegar e adormecer. Certificando-se de queScamp no iria segui-la, colocou suas pantufas azuis e desceu a escadaria de madeira que levavaat o hall. Ela no estava cansada ia, ento, explorar.

    A casa estava tranquila e silenciosa, exceto pelo tique-taque do velho relgio de parede. Era aprimeira vez que Jlia andava sozinha pela casa. Ela comeou a investigar, dando uma olhadanos cmodos nos quais tinha certeza que no devia entrar. Deu uma olhada no escritrio do seuav. Que baguna! Papis por todo o cho e pilhas enormes de livros sobre sua escrivaninha.Parecia ter um modelo de barco a vela em cada prateleira do escritrio. Fechou a portasilenciosamente e seguiu para a sala de visitas. Depois de meia hora, ela j tinha explorado todosos cmodos da casa. E agora? Ainda bem desperta, odiava a ideia de voltar para aquele quartoabafado.

    Ela, ento, foi para o corredor. Passou os dedos nos antigos painis de madeira que forravam aparede. sua esquerda estava a porta principal pela qual ela entrara mais cedo, quando chegou.Mas havia outra porta sua direita, meio escondida por uma pesada cortina verde. Ela andou emsua direo e empurrou a cortina de lado. Ser que essa porta a levaria para um poro? Ou paraa rua? Jlia certificou-se de que Scamp no estava por perto e, devagarzinho, comeou adestrancar e abrir a porta. A velha e pesada porta feita de madeira de carvalho gemeu e rangeupela falta de uso e Jlia congelou de medo. E se algum tivesse ouvido e viesse investigar? Jliaprendeu a respirao por um longo momento, mas, tudo continuava silencioso.

    Respirou fundo, abriu completamente a porta e deparou com um jardim murado. Aqueledevia ser o mesmo jardim que ela via de seu quarto. Jlia hesitou. Deveria entrar? Olhourapidamente sua volta. No havia ningum! Ela entrou no jardim, fechando com muito cuidadoa porta atrs de si.

    Era uma maravilhosa noite do ms de maio. Uma luz prateada brilhava por entre as correntesde gua da fonte no centro do jardim. O suave borbulhar da fonte ecoava nos muros, envolvendoo jardim em uma msica suave. Ao lado da fonte havia um pequeno lago alimentado pelaprpria corrente dgua. Os muros estavam cobertos por rvores e trepadeiras. Macieiras,glicnias e magnlias estavam todas em flor, e o ar noturno misturava-se s suas fragrncias. Era

  • o jardim mais lindo que Jlia j tinha visto.E ento, ela ouviu uma voz sussurrar seu nome, suave e vagarosamente. Um arrepio desceu

    pela sua coluna ao se virar, procurando de onde vinha aquela voz. Mas, no havia ningum ali.Pare de ser boba, ela falou para si mesma e sacudiu a cabea antes de correr de volta paracasa. Deve ter sido o vento, os passarinhos, ou algum na rua do lado de fora dos muros.

    Jlia fechou a porta delicadamente e voltou para o seu quarto no andar de cima. Scamp, queainda estava deitado, espreguiou e flexionou suas garras enquanto ela puxava as cobertas edeitava na cama. Que jardim estranho, ela pensou. Algo no estava certo ali. Mesmo assim,ele parecia to lindo do lado de fora de sua janela, brilhando suavemente. rvores prateadas,caminhos prateados, gua prateada. A fonte e o pequeno lago cintilavam uma luz misteriosa, e aomesmo tempo bonita. Havia algo estranho ali, ela pensou. Mas no conseguia entender o que era.

    Jlia aconchegou-se debaixo das cobertas, decidindo que visitaria o jardim novamente no diaseguinte. E foi exatamente enquanto adormecia, que ela teve a sbita percepo do que acharaestranho no jardim: naquela noite no havia lua.

    Na manh seguinte, Jlia acordou sentindo uma presso no ombro, abriu os olhos e viu Scampmassageando as patas sobre ela. Jlia sorriu, ainda com sono, e fez ccegas em suas orelhas. Omalhado pulou da cama e miou porta.

    Pronto para o caf da manh? Jlia perguntou ao seu amiguinho. Tambm no meimportaria de comer um pouco.

    Sua av j estava mesa no andar de baixo, tomando aos poucos sua xcara de ch enquantolia com ateno a correspondncia. Ela sorriu quando Jlia apareceu e, gesticulando para quesentasse ao seu lado, disse: Bom dia, minha querida. E onde est aquele seu irmo maroto nestamanh?

    Sua pergunta foi respondida com um resmungo. Pedro entrou galopando na sala, ainda com aroupa do dia anterior, e caiu pesadamente sobre a cadeira. Jlia chegou concluso de que asfrias seriam muito longas...

    O caf da manh foi um acontecimento tenso. A av das crianas tentou fazer que Pedro eJlia falassem a respeito da escola e de seus hobbies, mas quando seu arsenal de perguntas seesgotou, ela deixou a mesa e se retirou para o seu mundo silencioso dos livros e do croch. Pedropediu permisso para explorar Oxford, e Jlia, alegre por ter sido deixada em paz, pegou umlivro e foi para o jardim que ela j estava comeando a considerar seu.

  • CAPTULO2

    Os dias se transformaram numa fcil rotina. Pedro acordava tarde e saa para a cidade emtempo de almoar com o professor. Eles passavam as tardes discutindo as tticas navais deNelson e o desenvolvimento da plvora. Conversa de meninos, de acordo com Jlia. Ela ficavano jardim lendo, desenhando, ou deitada, sem fazer absolutamente nada.

    Foi com essa disposio que uma noite ela viu o brilho comear. Ela, na verdade, havia seesquecido por completo da luz prateada daquela primeira noite no jardim, mas agora, assistindoao pr-do-sol por sobre os muros do jardim, a estranheza dele no poderia passar despercebida.Havia um vislumbre na brisa e um som como que de sinos, mas quem sabe isso seria s em suamente. Jlia sentou-se e olhou sua volta e suspirou.

    Cada rvore, cada pedra, cada lmina de grama parecia estar revestida de uma luz prateadaprpria. O brilho estava mais forte do que tinha sido na outra noite, Jlia pensou tudo estavamais penetrante, mais claro. Ela se levantou e andou ao redor do jardim, observando, sorvendodaquela esplndida luz. Chegou margem do pequeno lago e parou, sentindo uma forapuxando-a que no conseguia definir. Algo estava empurrando-a para a frente algo forte. Algopoderoso.

    Mas um soar de sinos mais alto desta vez despertou-a repentinamente daquele momento. Osino da vov para o jantar chamou-a de volta realidade, e ela correu para casa.

    Os jantares na velha casa eram de natureza formal, voltando aos tempos da juventude doprofessor. As crianas no deveriam ser vistas nem ouvidas no exatamente mas a comidaera pesada e os pratos eram numerosos, e a conversa geralmente limitava-se ao tempo e aosacontecimentos da faculdade. Nesta noite em especial, o professor estava discutindo seu ponto devista a respeito da goteira do teto da biblioteca, e parte das instrues murmuradas de Pedropara explodir tudo, entendia-se que as crianas no ficariam quietas.

    Razo pela qual era to fora do comum Jlia interromper a conversa. Entre a sopa e o pratoprincipal, ela no conseguiu controlar a curiosidade, e perguntou: Vov, existe alguma razoespecial para o jardim brilhar noite?

    Sua av olhou para ela com espanto, com o garfo cheio de rosbife na metade do caminho paraa boca.

    Brilhar? Minha querida, seus olhos devem estar brincando com voc. Talvez voc esteja comfebre! s vezes, pessoas veem coisas quando tm febre. Ela rapidamente colocou a mo na testade Jlia. No, nenhum sinal de febre. Querido?

    Ela olhou para o marido. Existe alguma coisa errada com o jardim? O que minha querida?

  • O professor estava profundamente concentrado em seu pur de batatas. Jlia est curiosa para saber por que o nosso jardim brilha noite, querido. Eu no fao ideia. Ele brilha noite? Nunca notei isso. Aha! Ele espetou de maneira

    triunfal uma ervilha que o estava enganando.Jlia no ficou inteiramente satisfeita com a resposta de seu av. Ento o senhor poderia me contar algo a respeito do jardim? Quero dizer, quanto tempo faz

    que ele existe? Bem, est tudo perdido na histria, minha querida. O jardim uma das partes mais antigas

    de Oxford. Ele foi construdo h muitos sculos por um um monge, eu creio. De fato, Jlia, oprofessor fez uma pausa para engolir suas ervilhas existe uma antiga histria a respeito dessemonge. Dizem que ele foi assassinado nesse jardim, e que nunca poder deix-lo.

    Jlia arregalou muito os olhos. O senhor quer dizer que o jardim mal-assombrado?Pedro deu uma gargalhada dentro do copo de gua. Sua av interveio rapidamente. Querido, no queremos que as crianas fiquem muito agitadas! No quero que fiquem

    acordadas noite procurando alguma figura fantasmagrica no jardim, ou se preocupando,achando que algo aparecer rastejando para dentro, pela janela!

    Claro, claro. Voc est totalmente certa. Jlia, isso apenas uma histria. No precisa sepreocupar! Nunca vi tal monge! E ahn! ningum mais o viu.

    E com outro aha!, o professor voltou s suas batatas.

    Naquela noite mandaram Jlia cedo para a cama. Sua av ainda no convencida que ela noestava com febre, a colocou na cama como se ainda fosse uma menininha, afofando seustravesseiros e ouvindo suas oraes. Ela beijou sua testa e apagou a luz, deixando Jlia a ss comseus pensamentos. Esses pensamentos tinham a ver com Pedro, que ainda estava acordadobrincando com seu jogo de qumica. Fazia experincia com plvora, como sempre o meninoera absolutamente obcecado em explodir as coisas. Pedro foi esquecido quando sua mente maisuma vez voltou ao jardim.

    At mesmo daquela distncia ela podia perceber o brilho. Ela permaneceu deitada, acordada,pensando, at a casa ficar escura e silenciosa, a no ser pelos rangidos da idade.

    E, mais uma vez, ela desceu e abriu a porta que rangia para chegar ao seu jardim.Novamente se sentiu atrada para o pequeno lago, guiada pela mesma fora misteriosa que

    havia sentido mais cedo naquela noite. Ela se ajoelhou na grama ao lado da gua, banhada porum brilho fantasmagrico, sem perceber como a nvoa da fonte deixara uma mancha prateadaem seu brao. Ela espiou para dentro dele, observando o prprio reflexo. Parecia uma porta deentrada. Parecia um comeo.

    De dentro das sombras das rvores, um vulto encapuzado a observava. Duas crianas eramnecessrias para que a profecia fosse cumprida quando apareceria a outra?

  • Pedro, como sempre, lendo na cama, ouviu dobradias rangendo no andar debaixo Jliahavia retornado de sua ronda da meia-noite, ele supunha. Fechou seu livro de Sherlock Holmes eo colocou no criado-mudo. O detetive mestre estava mais uma vez beira do triunfo, mas otriunfo haveria de esperar at amanh. Bocejando, saiu da cama para fechar a janela. Olhoupara o jardim l embaixo, sentindo-se um pouco hipnotizado de maneira que no era nem delonge cientfica. Estava to hipnotizado que ele no ouviu sua irm a no ser quando ela falou.

    Bonito, no ?Ele se virou e olhou para ela sem a reconhecer at que ela sorriu. Ele sorriu tambm fazia

    tempo que Jlia no o via sorrir. Voc tem algo prateado por todo o corpo, ele apontou. Da fonte disse Jlia. Ele foi at a janela. D at para imaginar que existem fadas vivendo

    ali. Parece encantado, no ? Um pouco ele concordou, mas em seguida caiu em si. Encantamento era coisa para

    meninas. Ele deu uma risada spera. Voc tem lido demais Alice no pas das maravilhas, Jlia,ele disse. Toda essa besteira a respeito de mundos de faz de conta. Um jardim apenas umjardim. Por que voc tem que ler livros que imaginam outro tipo de mundo? H mais do que osuficiente para se explorar neste mundo!

    Jlia encarou o irmo. Mas Pedro, e se tivermos sido escolhidos para sonhar? Suponhamos que tivessem nos dado o

    poder de sonhar a respeito de outros mundos para que pudssemos ver o nosso de maneiradiferente?

    No seja tola, Jlia. Podemos desfrutar dos jardins sem ter que acreditar que fadas vivemembaixo das rvores. rvores so rvores, e estrelas so estrelas. So todas feitas de tomos. Nstambm, de fato. Nada somos alm de muitos e muitos tomos, e isso tudo. No existe magia.

    Jlia se jogou na cama, j frustrada com a conversa. Pedro o realista, Pedro o cientista, notinha absolutamente nenhuma imaginao.

    Certamente existe mais que isso, Pedro. E se este mundo for s um entre muitos? Como salasnum prdio. Estamos to acostumados a viver em s um deles que no percebemos que existemoutros. Outros melhores, quem sabe.

    Pedro bocejou vagarosa e deliberadamente. Tudo bem Jlia. No se estresse. Tenho certeza que voc entender melhor quando for mais

    velha, e voc no ver fadas, nem duendes ou jardins que brilham noite. Voc no v o brilho? Jlia perguntou. Toda essa luz prateada? Voc no enxerga? a lua, Jlia, disse Pedro, com a maneira protetora de um adulto para uma criana. Jlia

    ficou irritada. No tem lua hoje noite ela anunciou. Bem, um pouco, mas s um pedao. No o

    suficiente para produzir esse tipo de luz. Olhe.Ela pulou e apontou pela janela para o cu escuro.E no havia nada que Pedro pudesse dizer.

  • Voc v? Jlia perguntou. Voc v que ele encantado? Deve... deve ser...Pedro diminuiu a voz, confuso. Jlia deu uma risadinha e agarrou a mo dele. Venha, seu lerdo.Juntos eles foram ao jardim cuidando para no fazer barulho na escadaria que rangia, para

    no acordar os avs e Jlia o levou at o pequeno lago. Aqui mais forte ela disse. Eu sinto como se estivesse me puxando. Est nos puxando, disse Pedro. Ele tremeu e foi em seguida que ele ouviu seu nome. Era

    baixo, to suave que poderia ter sido s em sua mente. Mas havia algo de outro mundo nisso queele no conseguia explicar.

    Ele agarrou a mo de Jlia com fora e foi em direo porta. Jlia precisamos voltar para dentro de casa. Imediatamente! ele disse. Acho que no

    estamos seguros aqui.Mas Jlia no o estava ouvindo. Estava olhando fixamente para a gua, para o seu reflexo. A

    imagem parecia mais profunda de alguma maneira mais forte. Mais real que seu prprio rosto. Jlia...Aquela voz novamente, chamando seu nome. Chamando seu nome amorosa e delicadamente.Pedro agarrou sua mo mais fortemente, puxando-a de volta em direo porta. Venha, Jlia. Tem algo estranho acontecendo. No deveramos estar aqui.Havia um tom de pnico em sua voz.Mas Jlia soltou a mo. a porta, Pedro. a toca do coelho que vai para baixo at o Pas das Maravilhas, voc no

    percebe? Pedro... No existe um Pas das Maravilhas, no existe encantamento! Volte para dentro! a porta, e eu preciso ver o que tem do outro lado. Voc pode voltar para dentro se quiser.

    No se preocupe comigo.Pedro nunca havia ouvido sua irm falar assim to adulta e serena. Algo a estava

    transformando... E o transformando tambm. Ele pegou sua mo novamente, mas, no tentouarrast-la de volta para casa em segurana. Ela levantou a cabea e sorriu para ele, e juntosentraram nas guas escuras.

  • CAPTULO3

    O clido mar turquesa ondeava delicadamente contra a deserta praia branca, ladeada porrvores balanando vagarosa e graciosamente ao vento. Os nicos sons ouvidos eram o silenciosozunido da gua sobre a areia, e o suave sussurro das rvores na brisa. A areia levava at o topo deum grupo de dunas gramadas, absorvendo o calor do sol de fim de tarde.

    No linda? Jlia falou, como que num sonho, para ningum em especial.Ela se levantou com um impulso e esfregou os olhos. Estivera dormindo e sonhando: estava na

    hora de levantar. No entanto, quando tirou as mos do rosto, sabia que tudo estava diferente. Oparaso ainda estava l. O azul do mar, e do cu, era muito mais claro e brilhante do que qualquercor que j tinha visto na natureza. O nico som que conseguia ouvir era o zunido das ondas sobrea areia. Ela estava com febre, como a av havia imaginado.

    Jlia ficou em p, alarmada, e ento, sentiu a clida brisa despentear seu cabelo. Tentou daralguns passos at o mar, sentindo o calor da areia sob seus ps. Havia uma qualidade curiosa emtudo, como num sonho, como se vozes a tivessem chamado do fim do mundo por sobre os maressem praia. Devia estar imaginando, disse para si mesma. Mas tudo parecia to real...

    Olhou a areia sob seus ps e, de repente, percebeu que estava descala. Apressadamente,verificou-se para ter certeza de que estava decentemente vestida. Sua me sempre enfatizou quemocinhas decentes deveriam se vestir de maneira modesta. Ficou aliviada ao descobrir queestava vestida, mas no com sua camisola costumeira. Estava agora envolta num pano brancoque drapejava suavemente sobre ela.

    Tudo parecia errado. Talvez ela tivesse ficado louca! Ser que a levariam para um hospital dedoentes mentais? No foi isso que aconteceu com o tio de uma colega de escola? Ele pensava(sua amiga lhe contou em sigilo total) que tinha virado uma gaivota, e tentara voar da janela desua manso em Kensington. Agora estava trancado num hospital especial que lidava com pessoasassim. Oh! no, Jlia pensou. Eu posso acabar me encontrando com ele logo, logo. E acho queno vou gostar nada disso.

    Ela deu uma ltima olhada na baa. No podia ficar o dia todo ali. De alguma maneira tinhaque descobrir onde estava e como voltar para casa. Fazendo sombra para os olhos com as mos,ela inspecionou o mar que ia longe. No viu sinal de nenhum navio que pudesse resgat-la.Virou-se para a praia. Cada extremidade da baa estava cercada por promontrios rochosos,esticando seus dedos para dentro do mar. Ao inspecionar a paisagem, Jlia notou uma trilha queia para dentro da mata sua esquerda. No momento seguinte, j andava por ela. Ela passou porum pequeno morro para outra baa igual que havia deixado para trs.

    Jlia hesitou, e depois comeou a andar em direo areia no final da trilha. Ela deveriaaproveitar para dar uma olhada nessa praia tambm. Ento, ficou paralisada, espantada, com umpouco de medo, porque havia pegadas ali.

    De repente se lembrou. O jardim, a luz prateada, o lago... O lago. As guas tinham se abertodiante deles e eles ficaram beira de um precipcio, iluminado por um nico ponto de luz, bem,bem longe abaixo deles. E eles caram...

  • E ento, onde estaria Pedro?As pegadas pareciam seguir uma trilha que dava a volta no promontrio entre as duas baas.

    Ela seguiu a trilha ao longo do afloramento rochoso, mata sua direita e mar sua esquerda. Derepente, as rvores terminaram e ela estava numa clareira. Via, ouvia e sentia o cheiro do marpor entre as velhas rvores torcidas que circundavam o espao aberto. E na extremidade opostadivisou um vulto familiar, de costas para ela enquanto olhava para esse mundo to desconhecido.Ela tomou flego e comeou a correr.

    Ouvindo os passos se aproximando, Pedro virou-se. Olhou para a sua irm, que vinha correndoao seu encontro, e quase no a reconheceu. Seus olhos brilhavam, seu rosto enrubescido comalvio e alegria, e ele a abraou, coisa que nunca teria sonhado em fazer quando estava em casa.Mas as regras ali pareciam diferentes.

    Pedro, o sonho se tornou realidade! Chegamos ao Pas das Maravilhas!Pedro saiu de perto fazendo careta. Eu no acho que estamos no Pas das Maravilhas, Jlia. Bem, ento vamos explorar para saber que lugar este. Olhou por cima dos ombros de

    Pedro, alm da extremidade da clareira. Para onde voc estava olhando? Voc viu algumacoisa?

    Vi um pequeno pedao de terra prateado, logo ali no, ali, ele disse apontando. Parece aluz do jardim l de casa. Eu ia explorar quando voc apareceu.

    Parece um bom lugar para comear, ela concordou. Vamos seguir aquela trilha e ver onde nos leva? Ela indicou um atalho por entre as rvores.Talvez nem fosse um atalho, Pedro rapidamente comentou. No era mais que uma trilha decervos, alguns pequenos pedaos de terra, de grama pisada que se entrelaavam entre asrvores. Mas sem opo os dois foram em frente.

    Andaram para dentro da mata, e o mar foi desaparecendo atrs deles. O suave som das ondasna margem da praia deu lugar ao sussurro do frondoso abrigo na clida brisa. O cheiro salgadopenetrante da praia foi substitudo pela fragrncia das flores e da resina de pinho. Pedro e Jliaolhavam admirados sua volta, as plantas pareciam sair de contos de viajantes. Uma luz verdetremeluzia no caminho adiante deles, enquanto trepadeiras com flores azuis, brancas e laranjadesciam por todos os lados.

    mgico! pensou Jlia.

  • Depois de dez minutos, a trilha, se que podia ser chamada de trilha chegou a umabifurcao. Pedro, que estava na liderana, parou e virou-se para Jlia.

    Para que lado voc acha? Ele perguntou, arrastando o dedo do p no cho. Ele no olhoupara a irm, detestando admitir que no sabia o caminho. Jlia, grata por terem parado, comeoucerimoniosamente a rasgar largas tiras de pano de sua roupa.

    No tenho ideia, ela murmurou, com os dentes cerrados enquanto rasgava o pano branco. Espere um minuto enquanto fao meus sapatos. Meus ps esto me matando.

    Ela rasgou duas partes de pano e cuidadosamente embrulhou os ps com eles, enfiando aspontas para dentro por baixo da dobra. Pedro, vendo sabedoria nisto, fez a mesma coisa.

    E agora, disse Jlia vendo os ps recm-enfaixados de seu irmo, qual caminho seguir? Ondeest o brilho prateado?

    As rvores o esto bloqueando, disse Pedro. Acho que estamos mais longe do que estvamosna clareira, infelizmente.

    E estavam mesmo. No havia nada alm de floresta em todas as direes, e as duas trilhaslevemente pisadas cada uma indo para um lado.

    Esquerda, disse Jlia imediatamente. Eu acho que para a direita disse Pedro. Por qu?Pedro tentou com afinco pensar numa razo, desejando que tivesse prestado mais ateno

    durante o treinamento dos escoteiros. Ele se lembrava de alguma coisa a respeito da estrela donorte, mas era dia, e tambm, quem poderia saber se a estrela do norte existia aqui ondeestavam?

    Porque eu disse, ele concluiu. Jlia fez um som entre um ronco e uma zombaria e se dirigiupara a esquerda, e que escolha Pedro tinha?

    Meia hora mais tarde uma longa meia hora as rvores revelaram outra clareira.O cho abruptamente em declive levava a uma rea plana fechada por rvores que poderiam

    ser vidoeiros no fossem as folhas prateadas. Assentos tinham sido cavados no cho em trs dosquatro lados da clareira. No quarto lado havia um trono feito de uma nica rocha. E no centroflorescia um jardim que brilhava com uma luz prpria, prateada.

    Falei que era para a esquerda, disse Jlia. Pedro notou que ela estava com um sorrisomalicioso, completamente desnecessrio, ele pensou. Mas depois alcanou esquecendo de ficarirritado, porque na verdade era um lugar mais do que extraordinrio.

    Em alguns aspectos o jardim parecia igual ao que eles tinham deixado para trs em Oxford.Contudo, estava destrudo e coberto de mato. Pedro e Jlia andaram por um caminho de pedrasacidentado, coberto de espinhos e trepadeiras, passando por uma fonte de pedra no centro dojardim. No estava funcionando. A grama crescia em sua bacia e os repuxos pareciambloqueados pela lama. A fonte estava repleta de mato. Toda escultura na pedra tinha sido atacadapor um mosaico de lquen e musgo, e as rvores pareciam ser abrigo de morcegos. Mas apesarde toda aquela runa e negligncia, ela ainda tinha aquele toque mgico prateado.

    As crianas ficaram quietas por um longo momento enquanto inspecionavam a cenadesoladora.

    Faz sculos que est abandonado, Jlia disse finalmente. Pedro acenou com a cabea. Eleestava observando as sombras das rvores alongarem. Eles seriam como Joo e Maria perdidos

  • na floresta escura. Haveria abrigo nas rvores, quem sabe, mas no tinham comida, gua,proteo contra quaisquer perigos nos quais pudessem se ocultar durante a noite. Seu pai nunca operdoaria se algo acontecesse a Jlia.

    Essa fonte no parece outro portal, no ? Ele perguntou. Jlia sacudiu a cabea. No haviapuxo ali nenhuma presena mgica impulsionando-os para a frente como tinha sido emOxford. Pedro ficou arrepiado. O sol desaparecia no horizonte, e estava ficando frio. Talvez eledevesse fazer uma fogueira. Se pelo menos tivesse prestado mais ateno quando aprendeu arespeito de sobrevivncia na mata!

  • Jlia observou a luz do dia perdendo sua batalha conta a intrusa noite. Acima dela, minsculasaberturas de luz comearam a aparecer no cu. Ela queria que a tranquilidade solene daquelemomento se prolongasse para sempre. Parecia to... Bem, to significativo!

    A voz de Pedro interrompeu seu devaneio. Precisamos encontrar um abrigo, ele disse.Eles o encontraram nas rvores. Os galhos prateados dos vidoeiros eram fortes e ainda assim

    flexveis, e Pedro construiu um tipo de cobertura sob a qual poderiam dormir. Eles procurariamgua assim que clareasse o dia.

    gua e depois o caminho para casa.Mesmo sem o conforto de uma fogueira? ele adormeceu antes que Jlia. Ela deitou-se com os

    braos atrs da cabea, observando por entre os galhos as estrelas cintilando no cu. Sorriuenquanto as observava, e o sorriso permaneceu no seu rosto ao adormecer sob o silencioso cu.

  • CAPTULO4

    Pedro acordou de um sono sem sonhos, com o estmago doendo de fome. Ele sentou, esfregouos olhos, e gemeu. Ele achava que ia acordar no quarto de hspedes na casa de seu av emOxford. Evidentemente, no tinha sido um sonho.

    Ele afastou os galhos e ficou em p alongando o longo corpo. O sol ainda estava baixo no cu,mas j tinha tirado o frio da noite. Prometia ser um dia quente. Havia um pensamento na mentede Pedro: gua.

    Ele se abaixou por debaixo dos galhos e sacudiu o ombro de sua irm. Ela se contorceu sob seutoque e virou-se com um suspiro de protesto.

    Jlia, precisamos encontrar um crrego, uma rvore frutfera ou alguma outra coisa, anunciou. Ela murmurou concordando e ficou quieta. Pedro suspirou e a chacoalhou mais fortedesta vez.

    Jlia! V voc, me deixe dormir. Ela resmungou.Pedro ficou em p e passou a mo pelos seus cabelos despenteados. Jlia estava escondida

    entre o emaranhado de galhos, e sem ela, ele poderia ir mais rapidamente. Pedro deu mais umaolhada no sol; eles realmente no poderiam esperar muito mais para encontrar gua. curvou-senovamente e disse:

    Volto logo, Jlia. No saia do jardim, est bem? Voc promete que ficar aqui?Ela acenou com a cabea ainda meio sonolenta. Satisfeito, Pedro saiu do jardim e voltou

    trilha, certo de que o levaria a um crrego.Depois de alguns minutos apesar de parecer mais tempo Jlia finalmente acordou

    percebendo que seu irmo havia ido embora. Ela saiu do abrigo de galhos e foi at a fonteestagnada, imaginando o que poderia ter acontecido com Pedro. Ela lembrava vagamente dealgo como um crrego e acreditou que ele tivesse sado para procurar gua. Pensou em tentarsegui-lo, mas decidiu que seria melhor permanecer no jardim. Ali no havia predadores pelomenos nenhum que pudesse ver.

    Foi ento que percebeu que estava sendo observada.Era um tipo de instinto que ela no sabia que possua, mas que a alertava para o perigo. Ficou

    bem quieta por um longo tempo, com medo at de respirar. Quem sabe se no se mexesse, fossel o que fosse iria embora. Seus olhos moviam-se rapidamente de um lado para o outro,procurando uma sada ou, se isso no desse certo, algum tipo de arma. Havia algumas pedrascheias de musgo que tinham sido empurradas para fora do muro, pelas razes das rvores que seexpandiram, mas elas estavam muito longe para serem alcanadas. Quem sabe se ela corresse...

    Era um homem. Ele estava em p ao lado da cadeira de pedra com as mos juntas suafrente. Ele usava uma tnica com capuz, e seu rosto estava escondido na sombra. Mas mesmoassim Jlia podia sentir seus olhos nela. Ela se levantou ereta e pronta para fugir. Os seusmsculos estavam tensos.

    Mas ento ele estendeu a mo para ela, e com uma voz grave e solene disse:

  • Seja bem-vinda, Jlia. Faz muito tempo que esperamos por voc.Houve uma pausa longa e desconfiada, enquanto Jlia avaliava o estranho. Quem voc? Ela perguntou cautelosamente. O que voc quer de mim?O homem tirou o capuz, e pela primeira vez Jlia pde ver seu rosto. Ele era idoso muito

    mais velho que seu av, Jlia pensou. Seu rosto era marcado por profundas linhas uma delassendo uma cicatriz cor-de-rosa em toda a extenso de sua bochecha e seus cabelos brancoscobriam levemente o couro cabeludo. Mas seus olhos eram brilhantes e ele estava sorrindo.

    Meu nome Gaius, ele disse. E quero que voc cumpra uma profecia.Houve mais um longo momento em que Jlia simplesmente olhou fixamente para esse

    homem. Ele maluco, ela pensou maluco e possivelmente perigoso. Ela pensounovamente nas pedras perto do muro e queria saber se Pedro estaria prximo, se ela gritasse,talvez ele aparecesse!

    Voc no precisa se preocupar disse Gaius. No tenho inteno de machuc-la. Se vocme permitir, gostaria de lhe contar uma histria.

    Ela acenou com a cabea sem tirar os olhos dele. Bom ele disse , talvez agora eu possa fazer que voc se sinta mais a vontade.Ele gesticulou para um cobertor e para uma almofada estendidos no cho. Jlia olhou

    fixamente nada daquilo estava ali um momento atrs. Gaius sorriu. Eu fao um pouco de mgica disse ele de maneira simples. Sim... claro disse Jlia. Ela foi at onde estava o cobertor e sentou-se encostada na

    almofada, imaginando se teria sido assim que Alice se sentiu quando chegou ao Pas dasMaravilhas.

    Esta uma velha histria comeou Gaius e eu sou o nico homem ainda vivo que podecontar a verdade. a histria de uma boa terra e de um bom povo, e como eles foram levados runa.

    Existiu certa vez um pas que ficava bem alm dos mares. Era uma terra linda, com pradosviosos, florestas perfumadas, e rios de guas cristalinas que corriam montanha abaixo para asgrandes e frteis plancies do sul. Essa terra era Khemia, governada por Marcus, prncipecoroado da dinastia de Ilium. Era um lugar de paz, e todo seu povo vivia em harmonia.

    Era o sexto ano do reinado de Marcus quando houve um desastre. Um vulco dormente entrouem erupo, envolvendo a terra num manto de gs mortfero liberado das profundezas da terra.Marcus tinha ouvido as velhas histrias histrias j antigas na sua poca de uma velha ilhaalm-mar. Ele j tinha organizado a evacuao de Khemia. Depois de seis longas semanas nomar, semanas sem ter boa comida, gua ou espao para se mexer, Marcus viu montanhas adistncia.

    Eles acabaram num pas novo e inexplorado uma terra de florestas e praias, uma terra de luzbrilhante e sombras misteriosas e se estabeleceram ali fazendo sua morada. Os primeiros rudesabrigos que fizeram deram lugar a casas, e as casas a pequenas cidades, e finalmente um grandecastelo coroava essa terra. Era do seu castelo que Marcus governava, e a terra cresceu frtil,com justia e paz, como Khemia tinha sido antes.

    Mas havia inquietao entre os lordes. Havia cochichos nos escuros aposentos e boatos sobretraio, fatos que Marcus ignorava, colocando-o em risco. Ele j era um homem idoso nessapoca, seu julgamento era prejudicado pelo desejo de tranquilidade e pela crena na lealdade de

  • seu povo.Alguns disseram que sua morte foi acelerada pela mo de um dos lordes, mas a sade de

    Marcus j estava frgil e nada pde ser provado. Os lordes assumiram o poder, trs delescoroaram a si mesmos regentes, e os dias de paz acabaram. Eles se autodenominaram o Chacal,o Leopardo, e o Lobo, e foraram brutalmente seu poder, escravizando qualquer um querecusasse total obedincia s suas ideias e exigncias egostas. A eles foi concedida uma vidalonga, contrria s leis da natureza, pelo efeito de amuletos de bano os quais usavam em voltade seus pescoos e medida que o tempo foi passando, tornaram-se mais cruis. O paraso deMarcus, disse Gaius, tornou-se uma priso.

    Jlia permaneceu quieta enquanto ouvia toda a histria. Ela havia sentado com o queixoencostado em seus joelhos, olhando fixamente, com os olhos bem abertos e fixos no homem sua frente. Quando ele ficou em silncio ela perguntou mais uma vez, com voz abafada:

    Quem voc?Ele sorriu quando ouviu sua pergunta. Eu estava com Marcus em Khemia e fui leal a ele durante todo seu reinado. Quando os

    lordes de Aedyn se revoltaram, fugi para esta floresta. Eles enviaram grupos de busca paratentarem me encontrar, mas nunca tiveram sucesso. A floresta escura e profunda, e um lugarseguro para um fugitivo como eu.

    E o que Pedro e eu estamos fazendo aqui? Chamei-o, Gaius disse simplesmente. Eu fui at o mundo de vocs e abri caminho para

    que viessem para c. O jardim... disse Jlia. O senhor o monge, o monge que foi... Assassinado, disse ele com raiva. Sim, eu sou o monge. Constru o jardim como uma

    passagem para os Escolhidos quando fosse o tempo certo. Disseram que eu deveria chamar atque eles ouvissem e respondessem. E vocs vieram.

    Disseram? Quem disse? Um ainda maior que Marcus, minha filha. Porque existe uma histria importante, uma

    histria mais profunda. Uma histria que governa todas as histrias. Uma histria da qual vocsfazem parte.

    Jlia comeou a pensar que algum tinha cometido um grande erro. Eu no sou... Gaius, eu no sou a escolhida. Pedro e eu... Quem voc, minha querida, para dizer se foi ou no escolhida para fazer grandes coisas?Jlia se arrepiou. Conte-me, conte-me a respeito deste lugar. Conte-me como voc pode estar aqui se foi...

    Ela engoliu Se voc foi assassinado em Oxford. J lhe falei antes, tenho um pouco de magia, disse o monge. Por ter morrido em outro

    mundo, meu esprito pode permanecer. E eu sou necessrio aqui para contar a histria. O povono deve esquecer. Entramos aqui para recordar.

    Ele levantou a cabea e olhou sua volta. Este o jardim do Grande Rei. o lugar onde os fiis se renem todos os anos h cinco

    sculos para contarem as histrias do xodo de Khemia. E agora tambm contamos a histria daescravido em Aedyn.

    Aedy n?

  • Esta bela ilha. Aqui Aedyn.Jlia acenou com a cabea enquanto o monge continuava. Este jardim onde os fiis se renem para lembrar do passado e olhar para o futuro. Um

    futuro... Fez uma pausa. Um futuro no qual dois estranhos de outro mundo os Escolhidos viriam para esta terra e a libertariam.

    O que voc quer que faamos, Gaius? Isto vocs que vo descobrir. Tudo que posso fazer contar o que aconteceu. Eu no posso

    mais mudar as coisas. Isso vocs que vo fazer. E vocs no estaro sozinhos. Ser dado avocs poder para lutar.

    Ele levantou a cabea escutando. Seu irmo vem vindo. Eu preciso deix-la. Ele levantou-se e ajudou Jlia a se levantar. Eu preciso alert-la a no contar isso a ningum, nem mesmo para seu irmo.Jlia abriu a boca para protestar, e Gaius colocou um dedo sobre seus lbios. Ningum pode saber o que voc ouviu. Entendeu? S voc sabe as verdades, e so verdades

    perigosas de fato. Voc no poder confiar em ningum. Mas Pedro... Voc poder manter Pedro mais seguro com o seu silncio, disse Gaius. A vem ele!Jlia olhou sua volta, e ento percebeu que Gaius havia ido embora. Parecia que ele havia

    derretido em meio s sombras. Ela ficou s apenas por um momento at que um vulto de olhosbem arregalados apareceu em meio s rvores.

    Pedro! Voc encontrou gua? Um castelo! Jlia, achei um castelo! Venha!

  • CAPTULO5

    L! Pedro apontou de maneira triunfal para longe. Ali, por entre aquela passagem nas montanhas.

    Jlia o alcanou no cume de uma colina e olhou fixamente para bem longe. Eles avanavamlentamente para a frente enquanto o sol ia subindo e, finalmente, chegaram a uma grande rocha.Havia degraus cavados nela, que levavam a um tipo de plataforma no seu pico. Jlia subiurapidamente rocha, encantada pelo que estava vendo. O cho caia acentuadamente abaixo darocha e revelava uma paisagem verdadeiramente resplandecente.

    frente deles, to longe quanto podiam enxergar, se estendia uma delicada plancie, banhadapelo brilho do sol da tarde, com ricos campos verdes e cercas vivas. Havia prados sua frentealcanando as distantes colinas, salpicadas de flores que proporcionavam um delicado perfume leve brisa.

    Ao longe, no centro da enorme plancie, havia um grande parque fechado por gigantescos efortes muros com portes fortificados sua volta. E no corao do parque havia um castelo. Seusmuros, torres e muralhas se erguiam desde a plancie, brilhando na curiosa inclinao do brilhodo sol matutino.

    Pedro virou-se para ela, seus olhos brilhavam de empolgao. Vai levar sculos para chegarmos l, mas conseguiremos. E com certeza acharemos gua

    ao longo do caminho, e comida quando chegarmos ao castelo!Jlia acenou com a cabea meio distrada. Comida e gua... Fosse o que fosse para o que

    Gaius precisasse que seus Escolhidos fizessem, com certeza comearia pelo castelo.Eles desceram da plataforma de pedra e se dirigiram por um caminho ngreme morro abaixo.

    Logo se encontraram no meio de uma densa floresta, mas tendo as montanhas vista sempreque chegavam a uma clareira, conseguiram se manter indo na direo certa. No era, porm, acaminhada mais confortvel que j tinham feito. Se voc j dormiu no cho duro com galhos egravetos espetando suas costas, sem travesseiro ou cobertor, e passou longas horas sem comidaou gua e depois lhe pediram para andar o dia todo sem os sapatos apropriados... Bem, entovoc tem alguma ideia do humor em que Jlia e Pedro estavam.

    Pedro reagiu melhor que Jlia. Ele estava lembrando das suas experincias de escoteiro namata, lembrando de como andar e achar o caminho, e como evitar as pequenas ciladas que oslevariam a ter um tornozelo torcido. Quando ele alcanou o cume de uma colina este maisngreme que a maioria olhou e viu que Jlia estava muito para trs. Percebeu que ela estavamuito cansada. Seu rosto estava vermelho pelo esforo e a respirao ofegante, suas mos cheiasde lama pelo tombo que levara e pelo lugar onde se apoiara.

    Ele pegou um galho baixo de uma rvore que estava por perto e o quebrou diretamente dotronco. Quando Jlia o alcanou, j tinha arrancado todas as suas folhas e pequenos galhos, e oestendeu a ela sem falar nada.

    O que isto? Ela perguntou confusa.

  • Uma bengala. Ele disse. Ela a ajudar nas colinas. Jlia acenou com a cabea e a segurou. Obrigada.Essas foram as nicas palavras ditas entre eles por algum tempo. No havia muito a ser dito.

    Quando o caminho era plano e Jlia no precisava se concentrar muito no terreno ela ficavapensando no irmo. Havia algo estranho em seus olhos, ela pensou. Algo novo. Por falta deuma palavra melhor, ela chamou de determinao, mas pensou, ao dar uma olhadela, meio delado, que era mais do que isso. Mas a o terreno mudou novamente, e ela precisou focar em seuspassos em vez de ponderar a respeito dos muitos mistrios de Pedro. E ento continuaramandando, o castelo sempre frente, indo um pouco mais devagar, agora que o sol estava alto nocu e batendo diretamente sobre eles.

    Ambos alcanaram a passagem da montanha no incio da tarde. A floresta terminou derepente, como se algum tivesse desenhado uma linha onde as rvores no tivessem permissode ultrapassar. frente deles surgiam campos verdes com todo tipo de gros, rvores e flores.No havia sinal de pssaros ou de qualquer animal. Pedro pensou: Na Inglaterra, pastos comoestes estariam repletos de vacas e ovelhas, pastando com satisfao nesta linda grama, quemsabe olhando para eles pelos portes enquanto passavam. Ou talvez cavalos de arado agitandosuas cabeas, prontos para comear a trabalhar nos campos. No entanto, tudo que encontravamseus olhos era uma vasta extenso de dourados e verdes, estendendo-se a distancia.

    A plancie frente era dividida como um tabuleiro de xadrez em vrios campos, cada umladeado por cercas vivas guarnecido de flores brilhantes. As cabeas do gro douradobalanavam delicadamente na clida brisa em alguns desses campos; outros eram pontilhadoscom todo o tipo de rvores frutferas, seus galhos pesados com ricas frutas amadureciam. Jliadeu um pequeno grito de alegria quando as viu, e deixando de lado sua bengala, arranjou foraspara correr.

    Anos mais tarde, Jlia tentou descrever essa fruta, mas no conseguiu. Nunca vira nada igualna Inglaterra os sabores eram mais deliciosos, mais profundos, as cores mais arrojadas, e osuco infinitivamente mais refrescante. Eles comeram at que o lquido correu por suas faces emos manchando suas tnicas. Ento se entreolharam e riram.

    Essa foi a primeira vez que eles riram de verdade desde que chegaram a Aedy n, e osentimento foi totalmente magnfico. Nada era particularmente engraado, mas o alvio e oprazer de encontrar a fruta foram simplesmente alm de qualquer comparao. Eles riram atderramarem lgrimas, at precisarem segurar a barriga com medo que ela estourasse. E foiquando passou a risada e eles estavam deitados no cho, sorrindo um para o outro, que Jlia ouviua corrente de gua.

    Ela provavelmente no teria ouvido se tivessem barulhos de animais, mas no lmpido ar o somera inconfundvel. Ela se sentou e ficou olhando fixamente.

    Ser que... Pedro, isso gua? Onde?Ela ouviu atentamente. Ali. Ela apontou por sobre o ombro para a esquerda. Atrs daquela linha de rvores. Sim,

    tenho certeza que um riacho.Pedro j estava em p indo em direo s arvores, em questo de segundos, e Jlia o seguia de

    perto. Eles no precisavam de gua to desesperadamente como antes, porque tinham

  • encontrado as rvores frutferas, mas ambos estavam com sede e uma longa caminhada aindaestava frente.

    Ambos caram sobre o riacho como um leo cai sobre a presa. A gua era fria e lmpida.Beberam at no poderem mais. Ento Jlia espirrou gua em Pedro um acidente, ela insistiu e Pedro espirrou de volta, e logo os dois estavam ensopados. Eles se deitaram margem doriacho, deixando que o sol quente os secasse. Conversaram sobre nada em especial escola,amigos, seu pai e depois ficaram em silncio por um longo tempo.

    Eu queria saber o que vamos encontrar no castelo disse Jlia, finalmente quebrando osilncio.

    O caminho para casa, quem sabe? Replicou Pedro com indiferena. Ouso dizer queencontraremos algum que poder nos explicar tudo isto: como chegamos aqui e comopoderemos voltar para Oxford.

    Voc no... Jlia fez uma pausa. Voc no acha que temos algo a fazer aqui? Algumarazo por termos sido chamados? Quero dizer talvez ainda no seja hora de voltarmos paracasa.

    Pedro olhou feio para ela. Eu suponho que descobriremos, ele disse. Nesse meio-tempo precisamos continuar

    andando.Eles voltaram para o campo entre as montanhas. Algumas trilhas passavam pela grama, todas

    pareciam ou pelo menos era assim que parecia a Pedro os levar para o grande castelo aolonge, acima de todo o terreno volta. Ele escolheu a trilha que parecia a mais direta, e entoforam em frente.

    Renovados pelas frutas e pela gua e com a ajuda da nova bengala de Jlia, puderam andarmuito mais depressa que antes. Passaram-se, quem sabe, vinte minutos antes que Jlia parasseexausta.

    Oh! Sinceramente disse Pedro com os dentes cerrados. Ns nunca chegaremos se...Mas ele no terminou a frase, silenciado pela aparncia de sua irm. Seus olhos estavam

    arregalados com medo, e um dedo apontava para o leste. Pedro seguiu seu olhar pasmado e osviu.

    Havia trs homens a cavalo, seguindo o que ele imaginava ser outro caminho para o castelo.Estavam vestidos de preto, encapuzados e mesmo a distncia ele podia perceber que seus rostosestavam cobertos. Algo em sua postura indicava que no eram amigos. Um arrepio passou peloar, e o sol parecia brilhar um pouco menos, quando Pedro finalmente entendeu: eles estavamfazendo a ronda.

    Abaixe-se Jlia sussurou. Precisamos encontrar abrigo.Eles olharam ao redor rapidamente. No havia rvores por perto, e o mato alto dera lugar a

    um campo de flores silvestres que no chegavam a quinze centmetros de altura. Aquele lugarno serviria para os esconder.

    Ali. Pedro disse devagar, acenando a cabea para o lado de onde tinham vindo. Voltepara onde o mato alto, e com alguma sorte...

    Mas j era tarde demais. Os cavaleiros j os tinham visto, e como se fossem um s, elesmudaram de direo, indo diretamente a Pedro e Jlia.

  • Eles tentaram correr, claro. Todos os instintos os impulsionavam para a frente, apesar de serimpossvel desde o comeo quem poderia correr mais que aqueles garanhes?

    Eles os alcanaram em questo de minutos. Pedro, em uma ltima tentativa para se esconder,lanou-se por entre o mato alto e tentou rastejar. Jlia virou-se para encarar os cavaleiros egritou muito alto no de medo, mas, de raiva.

    Ningum ficou mais surpreso pelo resultado, que ela.O grito que veio de seus lbios no foi aquele grito agudo de uma menina, mas um som

    infinitamente mais forte e profundo. Derrubou os cavaleiros de seus cavalos e, mais longe,chacoalhou as folhas das rvores. Pedro colocou as mos sobre os ouvidos e gemeu, os cavalosfugiram com relinchos de pnico e Jlia, com raiva ainda nos olhos, cerrou os punhos e gritoumais forte. Ela no entendia no sabia de onde vinha aquela voz mas sabia que o sol tremerano cu e que os trs encapuzados estavam aterrorizados.

    Eles tinham dor, suas mos apertavam os ouvidos, desesperados para fugirem, mas paralisadospelo grito. Quando Jlia parou para tomar flego, eles gemeram, se viraram e ficaram parados.

    Ela fez uma pausa, respirando fortemente, e olhou para trs para o irmo. Ele olhavafixamente para ela como se fosse uma estranha, uma apario extraterrestre. Ela estendeu amo para ajud-lo a levantar.

    Como... O que... Eu no sei ela disse asperamente. Vamos dar o fora antes que eles acordem.Pedro nunca discordaria de uma menina cujo grito estremeceu o sol, ento levantou-se e a

    seguiu.Foi uma caminhada silenciosa. Jlia estava perdida em sua prpria contemplao, e Pedro a

    olhava de lado. Esse grito no foi normal, ele pensou. Algo acontecera com ela, algoprovavelmente horrvel. Ele ansiava chegar ao castelo, certo de que todos os mistrios daquelelugar seriam explicados assim que chegassem.

    O castelo agora no estava longe. Ele dominava o horizonte, elevado sobre os campos que ocircundavam como se fora erguido da terra para governar sobre tudo ao seu redor. Talveztenham canhes l em cima nos parapeitos, Pedro pensou. Se tivesse plvora suficiente, elespoderiam controlar a plancie toda.

    Cercando o castelo havia um muro amarelo de pedra. Eles o seguiram pelo que pareceusculos at chegarem a um grande porto de madeira. Suas tbuas eram velhas, salpicadas depregos em deteriorao, mas o porto estava firme. Pedro deu alguns chutes sem nenhumresultado.

    O que acontece agora? Perguntou Jlia. No tenho ideia, ele murmurou. Por que voc no tenta aquele grito? Pode ser que abra a

    porta.Mas quando o pesado porto comeou a se abrir com um solene e vagaroso rangido, viram

    que seria desnecessrio. Jlia e Pedro se entreolharam, deram de ombros e entraram.

  • CAPTULO6

    Uma vez dentro dos muros, puderam ver quem havia aberto o porto: uma silhueta alta envolvidaem tnicas escuras. Eles no conseguiam ver o rosto, e em princpio acharam que fosse um doscavaleiros que estavam fazendo a ronda na passagem da montanha. Mas a pessoa era diferente: magra, de certo modo, e sem o poder sombrio dos cavaleiros. O homem se que era umhomem apontou para cima em silncio, em direo ao castelo.

    Pedro estava estupefato com a imensido da construo; era mais majestoso, mais esplndidodo que qualquer castelo que j vira. At o castelo de Windsor (que visitara certa vez com aescola) parecia insignificante ao lado da imensa construo.

    A ruela por onde andavam deu lugar a ruas de paraleleppedos, ladeadas por uma srie decasas baixas. As velhas construes de pedra estavam cobertas por altas trepadeiras de ambos oslados. Cada casa tinha uma porta bem colorida, mas a tinta estava desbotando em alguns lugarese remendos de madeira descoberta revelavam onde haviam sido lascadas. As portas e asvenezianas estavam bem fechadas, e Jlia percebeu, com um arrepio, que estavacompletamente silencioso ali na pequena cidade, como estava no campo. No havia pessoastrabalhando fora nenhuma mulher estendendo roupa no varal, nenhum homem assoviandoenquanto fazia suas tarefas, nenhuma criana brincando na rua. Com um curioso impulso, Jliaalcanou a mo de Pedro, segurando-a firme enquanto andavam.

  • A rua de paraleleppedo os levava lentamente morro acima, passando por um porto aberto.Pararam num ptio um ptio to vazio quanto as ruas. Uma imensa escadaria de pedra do ladooposto da praa levava a uma majestosa entrada a entrada do castelo mas ambos hesitaram.

    Parece um pouco mal-assombrado, disse Jlia. Pedro acenou com a cabea e apertou suamo.

    Tudo me pareceu mal-assombrado at agora. Venha.Juntos subiram a escada. Quando chegaram, Pedro bateu porta.Por um momento houve completo silncio, como se o mundo estivesse segurando a

    respirao. E ento, ouviram um vagaroso rangido e a porta abriu. Com os olhos acostumados aoforte brilho do sol, eles s conseguiram ver escurido l dentro, mas distinguiram dois vultos.

    Algum estava saindo.Duas pessoas desceram intencionalmente em direo a eles, com espadas em seus cintos.

    Estavam vestidas com tnicas cinzas, os rostos cobertos por capuzes. Jlia, que haviarecentemente feito um trabalho na escola sobre Francisco de Assis, achou que pareciam mongesfranciscanos. (Ou eram frades? Ela estava um pouco na dvida.) Mas tinham rostos? Era comose seus uniformes tivessem sido desenhados para esconder sua identidade, como os cavaleiros lno campo, e a silenciosa pessoa no porto.

    Pedro ficou apavorado pelo aspecto dos homens. Se que eram homens. Suas tnicasocultavam tanto que era impossvel at saber se eram humanos. Mas observou quando eles securvaram, gesticularam em sua direo, e ento ficaram de lado, permitindo que entrassem nocastelo. Pedro deu uma olhada para Jlia e ela para ele, e juntos entraram pela porta aberta,numa grande antecmera abobadada. A luz era fraca, e os dois tropearam num degrau baixo depedra. Mas quando seus olhos acostumaram com a escurido, puderam distinguir os guardas ecortesos em p, em estado de ateno ao longo das paredes com colunas. E, no extremo da sala,havia trs tronos numa plataforma elevada.

    Pedro ouviu uma respirao forte ao seu lado e quase tropeou novamente, percebendo o quetinha amedrontado Jlia. Nos tronos estavam sentados trs vultos encapuzados, e onde deveriamestar seus rostos, havia mscaras douradas e enfeitadas com smbolos misteriosos. Eles eramcomo os deuses animais de povos antigos, ele pensou. A figura central usava a mscara de umlobo, e os outros dois de um leopardo e de um chacal.

    Jlia tremeu, lembrando a histria de Gaius no jardim. O Chacal, o Leopardo e o Lobo ostrs lordes que derrotaram Marcus. Ela olhou fixamente, paralisada, para as mscaras escuras epara as fendas vazias de onde ela sabia ter olhos observando-a. Um arrepio desceu por suaespinha deixando um formigamento de ansiedade pelo seu corpo.

    Eles se observaram por um longo momento e, ento um dos cortesos, envolvido numa tnicacor de vinho, marchou at o centro do aposento e se virou na direo de Pedro e Jlia. Eles noestavam surpresos de estarem olhando fixamente para uma escurido oval fechada por umcapuz. O corteso falou em um tom ameaador.

    Vocs esto diante dos trs lordes de Aedy n. Declarem o que vieram fazer. Quem sovocs? Por que esto aqui?

    Pedro ficou com a lngua presa. Achou que no ajudaria falar precipitadamente. Meu nome Pedro e eu quero ir para casa. Mas que outra resposta poderia dar? Ele estava

    procurando uma maneira de explicar tudo, que no o fizesse soar como um tolo, quando Jlia

  • falou.Ela tambm estava assustada, e no conseguia pensar em alguma explicao para a presena

    deles em Aedyn alm de, Um fantasma nos chamou para c para destru-lo, senhor. Ela noconseguia tirar os olhos daquelas mscaras medonhas. Mas, de repente, lembrou de seu paiandando pra l e pra c no quarto de sua me e ensaiando seus grandes discursos. Ela deu doispassos frente, curvou-se, e falou numa voz profunda e confiante, que no reconheceu comosua.

    Meus lordes, eu sou Jlia de Londinium, a emissria do imperador de Albion, uma grande epoderosa terra alm do vasto mar do ocidente. Este lorde Pedro, meu conselheiro de confianae consultor. Trazemos saudaes de nosso grande imperador, o qual solicitou que discutissimosassuntos de interesse mtuo.

    Ela se curvou, e o lorde com mscara de lobo acenou com a cabea. Albion, ele repetiu. Deve ser uma longa distncia de fato, se sua viagem foi to...

    desagradvel.Ele gesticulou apontando para os trapos sujos e rasgados que Pedro e Jlia trajavam. Um naufrgio, Jlia disse apressadamente. Pedimos desculpas por aparecer desta

    maneira perante vocs. Ns somos ela deu uma olhada para seu irmo Ns somos os nicossobreviventes.

    Os lordes murmuraram compreenso.Pedro observou Jlia com total assombro. Era realmente a sua irm? Onde aprendera a falar

    daquele jeito? Ela no poderia ter simplesmente perguntado-lhes a respeito do caminho que oslevaria de volta ao portal de Oxford? Ele observou ansioso enquanto os trs lordes de Aedy nconfabulavam. Parecia haver algum tipo de discrdia, e ele estava tentado a correr para salvarsua vida. Todavia ele sabia que as portas do grande aposento tinham sido fechadas depois queeles entraram. No tinham opo a no ser esperar.

    Depois de alguns minutos, o lorde com a mscara de lobo virou-se para eles e chamou-os comum gesto para que se aproximassem. Pedro, observando Jlia com o canto dos olhos, foi frente,ao lado dela, e curvou-se diante dos tronos. Ento o lorde falou em voz baixa e sibilante que fez oseu sangue gelar.

    Lady Jlia, a senhora e lorde Pedro so muito bem-vindos a Aedyn. Eu sou Lobo, o grandesenhor deste pas, e estes ele gesticulou de maneira grandiosa para os outros lordes so meuscolegas, o Chacal e o Leopardo. Juntos, ns governamos a ilha.

    Houve uma pequena pausa, e Jlia imaginou que por baixo da mscara ele estivesse dando umsorriso maldoso.

    H tempos achvamos que existiam outras terras alm dos mares, mas no sabamos seunome, nem sua localizao. Vamos aprender mais sobre sua terra, e podemos discutir comopoderemos ser de ajuda um para o outro neste mundo difcil. Vocs se uniro a ns amanh noGrande Salo, quando poderemos falar mais plena e francamente. Enquanto isso ele aumentoua voz e abriu os braos -, vocs so nossos hspedes. Tudo que temos estar disposio de vocsdurante todo o tempo que estiverem em Aedyn.

    O Lobo olhou para o lado e acenou com a cabea quase que imperceptivelmente para algumnas sombras, e ento voltou para o seu trono. A audincia havia terminado.

    Jlia sussurrou seu agradecimento e curvou-se, bastante aliviada. Pedro e ela viraram-se e

  • saram, sentindo como se tivessem quase escapado. Quando chegaram parte detrs do grandesalo, outro corteso vestido de tnica vermelha os cumprimentou e os levou a uma porta lateral.Ficaram surpresos ao verem que o seu rosto no estava escondido por trs de uma mscara. Eleno era um homem idoso, mas tambm no era jovem, e seus olhos no eram bondosos.

    Eu sou Anaximander, ele disse. Lorde Chamberlain de Aedyn, e eu lhes trago saudaes.Vocs sero levados aos seus aposentos por dois escravos, onde tero comida e gua para obanho e ele disse olhando propositalmente para os panos rasgados e enlameados com os quaisestavam vestidos vestes decentes.

    Anaximander gesticulou para dois vultos sem rostos, vestidos de tnicas e encapuzados. Se vocs precisarem de alguma coisa, peam que eles providenciaro. Obrigada, Anaximander. Jlia sorriu e curvou a cabea polidamente. Posso perguntar o

    nome destes criados? Escravos no tm nomes, disse ele com desprezo. Por favor, no se incomodem com

    assuntos to triviais. Descansem e desfrutem da hospitalidade de Aedyn.Jlia viu que ele estava sorrindo um sorriso no qual no confiou totalmente. Obrigada, Anaximander. Aguardaremos a reunio com os lordes de Aedyn amanh.Depois de mais alguns cumprimentos, Jlia e Pedro foram levados por dois escravos, que os

    guiaram em silncio pelos corredores do castelo. Eles subiram uma escadaria de mrmore eforam levados para um conjunto de quartos com uma vista magnfica da plancie central da ilha.gua e comida j estavam preparadas para eles ali e, depois que os escravos partiram securvando, eles experimentaram a refeio hesitantemente. Pedro foi o primeiro a quebrar osilncio.

    Jlia, voc pode me dizer o que est acontecendo? Por que voc disse que somos emissrios?Por que no perguntou a eles como voltar para casa?

    Porque... o alerta de Gaius veio sua mente. Pedro no poderia saber de tudo. Ainda no.Ele no poderia saber que os lordes provavelmente os matariam se eles no se fizessem passarpor pessoas importantes. Porque eu acho que tem trabalho para fazermos aqui, e nopoderemos voltar pra casa at que o faamos.

    Pedro ficou muito irritado com essa resposta, mas sua frustrao foi esquecida quando doisescravos silenciosos reapareceram trazendo vidros de perfumes e leos. Eles foram entoconduzidos a cmodos com banheiras cheias de gua fumegante e convidados a banharem-sepor quanto tempo desejassem, e numa situao como essa podemos perdo-los por esqueceremdo apuro em que se encontravam e tambm da reunio no dia seguinte.

    E ento, Pedro e Jlia descansaram em seus aposentos, sem ter cincia que seu destino estavasendo decidido no andar de baixo.

    Os trs lordes de Aedy n estavam, naquele mesmo momento, sentados ao redor da mesa, assobras do jantar nos pratos diante deles e o vinho ainda em seus copos. O Lobo tinha o copo emsuas mos, agitando o vinho enquanto considerava. Os outros estavam em silncio. J tinhamdado seus argumentos, e a deciso final caberia ao Lobo. Finalmente, ele falou, e os ecos de suavoz estridente prolongaram-se pelo aposento.

    Ns nos reuniremos com os honorveis estranhos amanh. Se no pudermos us-los, ns osdestruiremos. Vamos esperar que durmam bem ele disse sorrindo por baixo da mscara. Estapode ser sua ltima noite.

  • CAPTULO7

    Pedro acordou ao amanhecer, abriu os olhos e viu a luz entrando pela janela. Jogou a roupa decama e se espreguiou, bocejando profundamente. No importava quo ameaadores os lordese seu castelo fossem, eles certamente sabiam fazer um hspede se sentir confortvel. Pedro noera de desprezar os prazeres de uma cama macia, quentinha, especialmente depois de uma noitepassada no cho, e de uma longa caminhada num terreno difcil.

    Ele olhou sua volta e notou que a roupa rasgada e suja com a qual chegou tinha sidosubstituda por vestes de um prncipe. Sentiu com os dedos o pano encorpado, notando comalguma curiosidade que um papel retorcido estava em cima do bolso da camisa.

    Ele o pegou e o virou em sua mo, finalmente percebendo que continha um punhado deplvora. Ele tinha esquecido disso at agora duas noites atrs, l em Oxford, estava fazendoexperincias com seu jogo de qumica quando sua av anunciou que j era hora de ir para acama. Ele havia recolhido o produto de seu experimento e o colocado num pedao de papel.Ento, o colocou em seu bolso e o deixou ali. Estranho... A roupa original tinha sido substitudapela tnica branca, mas aquele bocado de plvora viera junto para este mundo.

    Ele se vestiu rapidamente, s fazendo uma pausa para se admirar no espelho, e colocou aplvora novamente no bolso. Ningum poderia saber quando algo assim poderia ser conveniente.Cincia isso era algo em que algum poderia confiar. No havia nada de incerto ou mgico arespeito da cincia, havia? E ento, decidindo que faria uma investigao e coletaria pistas, damesma maneira que Sherlock Holmes, e descobriria todos os mistrios deste lugar, ele foi aoencontro de Jlia.

    Ela j estava acordada e vestida quando ele chegou no s acordada e vestida, mas tambmpronta para trabalhar. Ela imaginava exatamente o que aconteceria na reunio no Grande Saloe como fariam para manter a estratgia de serem emissrios de Albion e, para isso j tinhaescrito o comeo de uma lista.

    Oh que bom, voc se levantou ela disse sucintamente. Sente-se e me ajude.Pedro fez como indicado. Agora, nosso objetivo derrotar os lordes e libertar os escravos ela indicou isto escrito no

    topo da lista. Ento... Com licena disse Pedro.Ela olhou para cima. O que h de errado? Esse o nosso objetivo? Ele perguntou incredulamente. Como sabemos que esse o nosso

    objetivo? Porque... Ela, ento, pensou de novo no jardim, e no alerta do monge de que Pedro poderia

    estar mais seguro atravs do desconhecimento. Porque no assim que deveria ser? Escravos,lordes tirnicos e tudo mais?

    Ns no sabemos se eles so tirnicos, Jlia. O que voc acha que eles so? Benevolentes? Com aquelas mscaras horrorosas? O Chacal,

  • o Leopardo e o Lobo? Eu no sei, e esse o ponto. Pedro fez uma pausa por um instante, parecendo muito cheio de

    si e satisfeito consigo mesmo. Temos que usar a razo. Observao. Procurar fatos e us-lospara chegar a concluses.

    Sinceramente! Jlia jogou sua lista com fora contra a mesa, de mau humor. A verdadenem sempre lgica, voc sabe.

    Claro que ! Disse Pedro de maneira presunosa. Pensei em comear pela biblioteca, paraler um pouco a respeito da histria deste lugar.

    Jlia estava prestes a dizer algo sarcstico e que poderia se arrepender sobre a capacidade deraciocnio de seu irmo, quando os dois se assustaram com algum batendo porta. Antes quequalquer um dos dois pudesse responder, a porta se abriu repentinamente para revelar umapessoa de tnica vermelha, enfeitada de joias: Anaximander.

    Nossos lordes de Aedyn solicitam sua presena, ele anunciou, e com um gesto deu umpasso para o lado e indicou a porta. Pedro e Jlia se levantaram e o seguiram, encarando um aooutro s por precauo.

    O Grande Salo estava vazio, a no ser pelos lordes, cujas mscaras estavam to imponentescomo no dia anterior. Pedro e Jlia foram para a frente e se curvaram, Jlia silenciosamentecerrava os dentes.

    Sejam bem-vindos, meu lorde e lady, disse o Lobo. Venham contar algo sobre sua terra.Contem-nos sobre Albion.

    Pedro olhou para Jlia. Jlia olhou para Pedro. Ele sacudiu os ombros quase queimperceptivelmente, e ento ela comeou.

    Meus lordes, a grande nao de Albion fica muito alm dos mares do ocidente. Nosso grandeimperador deseja estabelecer paz e prosperidade mtua por toda a regio. Ns oferecemos agarantia de segurana. Em troca, pedimos a sua garantia de neutralidade e qual era mesmo apalavra que seu pai usava? No agresso.

    O Lobo ouviu pacientemente enquanto Jlia esboava sua proposta, seus longos dedos estavamunidos pelas pontas. Ele acenou com a cabea quando ela terminou, e tocou seus dedos numamuleto escuro que estava em sua tnica.

    Minha lady Jlia, de fato estamos honrados que o imperador de Albion tivesse tomadoconhecimento de uma nao to pequena quanto Aedyn. Poderia eu perguntar o que os levou anos escolher com o favor especial de sua visita? Parece excessivo pelo nosso tamanho eimportncia, peo que me perdoe por dizer isso.

    Ns no queramos omiti-los quando consultamos nossos vizinhos, meu lorde. A nossaesperana construir amizade com todas as naes, grandes e pequenas, e... Compartilhar nossoconhecimento um com o outro.

    Jlia sorriu, tentando pensar com rapidez. Nesse momento ela j esgotara cada item da listaque fizera naquela manh, e no tinha absolutamente nenhuma ideia do que dizer em seguida.

  • Compartilhar conhecimento? O Lobo inclinou-se para frente. Sim. Disse Jlia, com um sorriso evasivo. Ela estava desesperadamente tentando parecer

    uma emissria, algum que fosse importante demais para ser executado, mas suas ideias tinhamse esgotado. Ela olhou rapidamente para Pedro, procurando indicar-lhe, de modo particular, oseu desespero.

    Por exemplo, isto, meu lorde, disse Pedro, alcanando algo dentro do bolso da sua camisa. Veja aqui um pequeno exemplo de nossas aptides!

    Jlia no distinguia bem o que Pedro tinha em sua mo. Ele atravessou o salo at uns enormescandelabros e segurou, fosse o que fosse, na chama, e depois jogou para baixo na direo doslordes.

    O salo explodiu, a detonao reverberou por todo o espao fechado. Uma fumaa escura edensa encheu o salo e, quando clareou, Jlia pode ver os trs se agachando diante e seescondendo horrorizados atrs de seus tronos. O Leopardo estava tossindo muito, tentando selivrar da fumaa asfixiante, e o Chacal tinha as mos apertadas firmemente sobre os ouvidos. OLobo se levantou primeiro, e apontou um dedo trmulo para Pedro.

    O que era esse diabo em sua mo? Ele sibilou.Muitos guardas chegavam agora ao salo, espadas apontavam para o inimigo desconhecido.

    Lobo fez sinal para que sassem, nunca tirando os olhos de Pedro. Houve, ento, um longosilncio.

    O que voc tem a dizer, menino? Ele gaguejou. Que magia essa na ponta de seusdedos?

    Jlia notou, a essa altura, que Pedro parecia um pouco convencido. Ela no gostou disso, edesejou ter um momento para trocar ideias com Pedro antes que ele dissesse algo sem sentido.Mas Pedro estava olhando diretamente para a mscara medonha que escondia o rosto do Lobo, efalou lentamente e com autoridade.

    Meu lorde, este um exemplo muito pequeno de nosso poder. Esta sala e este castelo seriamdestrudos, com todos que esto aqui dentro, se eu demonstrasse o verdadeiro poder que Albionoferece. Chama-se plvora!

    No havia muito mais a se dizer depois disso. Os emissrios haviam demonstrado suasuperioridade, os lordes estavam tremendo nas bases, e Jlia estava muito apreensiva. Ela fezuma srie de cumprimentos e mesuras, curvando-se, sorrindo, desejando felicidade e, sutilmentearrastou Pedro para fora do salo.

    Nos samos bem, eu acho! Disse ele quando voltaram a seus aposentos. Bem?! Plvora! Armas alm do entendimento deles!

    Sim... Maravilhoso de fato!Jlia andava de um lado para o outro do quarto. Voc disse que o objetivo era derrot-los! No sei o que deveramos ter feito, mas certamente no inclua uma exploso no Grande

    Salo!Jlia estava quase chorando, e isso poderia ter se tornado uma briga feia se ela no tivesse, de

    fato, nesse momento, percebido que esquecera o manto no Grande Salo. Ele ficara meio soltosobre seus ombros e, quando ela se lanou repentinamente para o lado durante a exploso, elehavia cado. Ela detestava a ideia de deix-lo l, onde poderia ser pisoteado, e queria ter uma

  • desculpa para ficar longe de Pedro. Ento, anunciou brevemente que voltaria logo e fugiu doaposento.

    Andou a passos largos e tristemente pelos corredores, e desceu um enorme lance de escadas,desejando meio que desesperadamente, que nunca tivesse visto o brilho prateado no jardim. Elano sabia o que fazer, nem como resgatar os escravos e, naquele momento, no via nenhumarazo pela qual deveria se importar com isso. E Pedro, falando palavras speras e causandoexploses, quando ele no entendia o que estava acontecendo... Pedro era impossvel.

    Foi com esse humor que ela mais uma vez chegou ao Grande Salo.Algo a impediu de entrar at mesmo de bater porta. Havia vozes do lado de dentro. Ela

    pressionou seu ouvido na porta e escutou atentamente, se esforando para ouvir o que estavamdizendo. Uma voz dominava um sibilar ameaador que ela imediatamente reconheceu comosendo a voz do Lobo.

    Mas ainda h o risco de uma revolta dos escravos a ser considerado. Os observadores aindaesto ouvindo rumores de escravos fugitivos na grande floresta do ocidente. Vocs devem selembrar que o grupo de guardas que enviamos para encontr-los h dois meses nunca voltou, eeu temo... Houve uma grande pausa. Eu temo que esses escravos na floresta possam ser o ncleo deuma revolta.

    Outra voz, mais spera, assumiu a conversa. Era o Chacal. Mas com esta nova arma poderemos destruir os escravos na floresta. Ser o fim de qualquer

    revolta! Os escravos no so tolos! Acrescentou uma terceira voz. Eles entraro na linha assim

    que mostrarmos nossa fora. Estamos salvos.Jlia ouvia o som inconfundvel de vinho sendo derramado de uma garrafa para os copos,

    seguidos de sons tinindo e de speras risadas. Ela ouvira o suficiente. Voltou s sombras para oseu quarto.

  • CAPTULO8

    Pedro viu Jlia sair, com certo alvio. No havia nada de errado em ostentar a plvora nada deerrado em demonstrar que ele era uma fora a ser enfrentada.

    Ele saiu bruscamente do quarto, andando a passos largos e pisando duro pelos corredores.Meninas! Para que servem to sentimentais e pouco cientficas! Ela ia ver! Ele descobriria aresposta para o mistrio daquele lugar!

    Pedro parou um vulto de tnica no corredor e perguntou onde ficava a biblioteca.Silenciosamente lhe foi apontada a torre norte do castelo e, depois de alguns minutos de buscapelos escuros e empoeirados corredores, ele a encontrou.

    A biblioteca que encontrou poderia estar em uma casa de campo inglesa, mas era muito maisgrandiosa e magnfica. Os livros estavam empilhados at onde os olhos podiam ver, estantes emais estantes livros de todos os tipos de assuntos imaginveis. Pedro olhou para cima, maisacima e mais acima, respirando o aroma do couro de tudo aquilo.

    Houve um rpido ham-ham! e um pigarrear vindo de algum lugar direita. Pedro olhou suavolta. Sentado numa enorme escrivaninha estava um homem magro de culos que s poderia sero bibliotecrio.

    Pedro se aproximou vagarosamente tentando chegar a uma concluso a seu respeito. Ele notouseus dedos manchados de tinta, o lpis atrs da orelha direita, e um grande livro de couro cheiode anotaes na escrivaninha. O homem parecia irritado com a intromisso. Pedro pensou que abiblioteca no tinha muitos usurios.

    Ento? O que voc quer? Estou muito ocupado no momento. Seja breve. Sou Pedro, disse de maneira simples. De... De Albion. Ele percebeu que estava

    gaguejando e tentou parecer mais seguro. Eu gostaria de saber se poderia dar uma olhada noslivros. Prometo ser breve.

    O bibliotecrio observou-o atentamente sobre seus culos, avaliando-o. Voc muito bem-vindo, disse ele com cuidado. Ser que eu ham-ham! Ser que posso

    ajud-lo de alguma maneira? Bem, eu queria aprender um pouco sobre a histria desta ilha. Talvez me ajude a entend-la

    melhor.Pedro endireitou os ombros e tentou parecer mais alto. Com finalidades diplomticas, claro. Sim, claro. O bibliotecrio, ento se levantou. Ele realmente no era muito mais alto em p

    do que sentado, e saiu detrs da escrivaninha. Temos uma mesa de leitura com uma linda vistada ilha. Ali ningum o perturbar. Voc gostaria que eu lhe trouxesse algum livro? Ou prefereprocurar voc mesmo?

    Eu ficaria muito feliz se voc me trouxesse algo til.Pedro colocou as mos para trs tentando parecer importante enquanto esperava. Depois de

    um momento o bibliotecrio reapareceu, com um volume de couro gasto em suas mos. Ele oentregou para Pedro com um sorriso que ele no pde interpretar exatamente, e voltou para as

  • suas anotaes.Pedro foi at a escrivaninha e sentou-se para ler.O livro contava uma histria simples. Aedy n tinha sido primitivamente uma ilha selvagem,

    indomada, governada por um rei opressivo e retrgrado. E ento aconteceu a revoluo.Foi chamada de Iluminao. A ilha foi tomada por um grupo pequeno de pessoas, decididas,

    determinadas e altamente inteligentes. Sua rebelio contra o feudalismo e maneiras atrasadas degeraes anteriores foi liderada por trs lordes o Chacal, o Leopardo e o Lobo que seestabeleceram como os governantes eruditos da ilha. O velho rei fora deposto, e mais tardemorreu no exlio. Parte da populao permaneceu leal s velhas maneiras e obteve permisso depermanecer na ilha s que com a condio de servir os novos governantes. Mas a ilha governadapelos mesmos lordes durante quinhentos anos quinhentos anos! Isso era possvel? tinhasuperado seu comeo incivilizado e agora era prspera e moderna.

    Pedro, que sorria enquanto ia lendo, no ouviu os passos que se aproximavam e s percebeuque havia algum ao seu lado, quando uma mo fria agarrou seu ombro.

    Uma leitura leve! disse a voz. Pedro virou-se rapidamente e viu Anaximander em p logoatrs dele.

    Oh, sim, disse Pedro. Eu estava querendo saber a respeito de Aedyn, e... De repente elelembrou-se de parecer importante. Sua histria, cultura, produtos de exportao e comrcio...Esse tipo de coisa.

    Uma boa escolha, replicou Anaximander, tirando o livro de Pedro e virando-o em suasmos. Folheou algumas pginas amareladas, parecendo contemplativo. Um livro importante,uma importante histria para os cidados de Aedy n terem sempre em mente.

    Ele andou lentamente e depois olhou para trs, para Pedro. Afinal de contas, isso que educao! Protege-nos de desiluses, evitando que mentes

    inocentes se tornem corruptas. Eu estava lendo a respeito da Iluminao disse Pedro. As pessoas no, quero dizer, as

    pessoas ainda tm essas desiluses em Aedyn? Eu lastimo que sim, disse Anaximander devagar. Os escravos, voc os viu, so muito

    retrgrados. Eles acreditam em todos os tipos de absurdos supersticiosos. Tais como? Magia Anaximander disse. Magia divina. E velhas histrias, muito velhas, somente conto

    de fadas, na verdade. Histrias para explicar coisas que eles no conseguem entender.Isso tudo fez muito sentido para Pedro. Era como Jlia, contando histrias a ela mesma e

    buscando ajuda em seus livros, quando estava confusa ou perturbada. Ele acenou com a cabea. Vocs so um povo de cincias ele disse. Anaximander lhe deu um sorriso. Ns somos. E por essa razo que vim falar com voc. Anaximander puxou uma cadeira

    e sentou-se de frente para Pedro. Os lordes ficaram muito impressionados com a inveno quevoc mostrou a eles ontem. Eles disseram que voc tinha um diabo nas mo, algo a que chamoude plvora. Foi voc que inventou? Seus olhos estavam curiosos.

    Sim fui eu. Pedro fez cara de quem tinha a inteno de parecer humilde, mas que Jliateria reconhecido como convencimento. Claro que a frmula exata um segredo conhecido spor mim e pelas outras grandes mentes de Albion, claro.

    Anaximander sorriu.

  • claro, lorde Pedro. O Chacal, o Leopardo, e o Lobo esto muito bem impressionados comsuas habilidades. Voc no somente um homem de grande inteligncia, mas demonstrougrande sabedoria e distino acenou a cabea, com profundo respeito.

    Lisonjeio-me, senhor, disse Pedro, que na verdade estava totalmente satisfeito.Anaximander sorriu novamente.

    Eu no tenho a inteno de lhe bajular, Lorde Pedro. Eu s lhe digo o que observo e o queme foi contado. Lady Jlia falou a respeito de compartilhar conhecimento, e confesso que nossosgrandes lordes esto vidos para aprender mais de seus segredos.

    Os segredos no so meus para que eu possa d-los. Comeou Pedro, mas Anaximander seinclinou mais para perto e respirou de leve em seu ouvido.

    Os lordes fariam de voc um prncipe desta terra.Ele destacou a palavra prncipe deixando-a rolar, brilhante por sobre sua lngua. O som dela

    encheu Pedro de imagens resplandecentes imagens estranhas para a vida solitria de ummenino em idade escolar, deixada para trs na Inglaterra. Imagens de glria, de riquezas, dedomnio sobre todos que j o tivessem atiado e o tratado brutalmente na escola. Seus olhosestavam arregalados e seu olhar fixo estava muito longe. Anaximander o trouxe de volta aomomento repetindo a palavra.

    Um prncipe, Pedro.Os olhos de Pedro voltaram bruscamente para o vulto diante dele vestindo tnica vermelha. A plvora simples, na verdade ele disse, pegando uma pena que estava na mesa para

    escrever, e esboou uma rpida formula numa folha de papel. Ele a passou para Anaximander,que sorriu ao peg-la em sua mo.

    Aedy n afortunada, de fato, por ter um lder to sbio para gui-la para o futuro! Ele ento,levantou, curvou-se e virando-se deixou a biblioteca.

    Pedro retornou para os seus aposentos se sentindo o mximo. Ele estava pisando nas nuvens,feliz por ser parte de uma civilizao to sbia e avanada. E ele, prncipe dessa civilizao!

    Jlia ainda estava trmula quando voltou ao seu quarto. Ao andar, ponderou a respeito daconversa que tinha ouvido por acaso um bando de escravos rebeldes, uma nova arma paraderrot-los... E depois havia dois Escolhidos, chamados de outro mundo. Isto estava ficandoexcepcionalmente difcil.

    Ela caiu pesadamente sobre a cama, imaginando se um bom choro ajudaria e percebendo emseguida que lgrimas no seriam derramadas por um emissrio de Albion. Oh, estava tudoerrado, ela havia atrapalhado tudo! Ela nunca deveria ter fingido, nunca deveria ter vindo para cem primeiro lugar, nunca deveria ter prestado ateno naquele desprezvel monge no jardim!

    E ento, apesar de toda sua determinao, as lgrimas finalmente chegaram. Ela arfougrandes, e barulhentos soluos em seu travesseiro, respirando com dificuldade enquanto lgrimasquentes caam de seus olhos. E foi nesse momento que os escravos entraram para arrumar arefeio da tarde.

  • Algumas pessoas tm a grande ddiva de ficarem bonitas quando choram. Elas se tornammais encantadoras quando as lgrimas caem gentilmente por suas bochechas. Jlia no era umadessas afortunadas. Seu cabelo loiro estava grudado em um lado do seu rosto e o outro estavamarcado pelas dobras do cobertor. Suas bochechas estavam brilhantes, manchadas de cor-de-rosa e seus olhos profundamente vermelhos.

    Os escravos do castelo tinham sido terminantemente proibidos, com castigo de morte, de falarcom os honrados estranhos. Mas quando confrontados com uma cena to infeliz com umamocinha que de repente se transformara numa menina muito nova e muito infeliz, as ordens quereceberam deixaram de ter significado. Ambos se aproximaram, e o mais alto pegou Jlia e aabraou fortemente.

    A escrava, uma mulher, tinha o cheiro daquela fruta que Jlia encontrou no campo alm dapassagem da montanha, e inexplicavelmente lembrava sua me. Ela enterrou a cabea noombro da escrava e deu algumas respiradas estremecidas enquanto tentava parar de chorar eficar apresentvel.

    Per-perdoe-me, ela comeou, e ento olhou para cima. A escrava que a estava abraandodeixou seu capuz cair para trs e seu rosto pde ser visto claramente.

    Seu rosto estava marcado com linhas profundas e seu cabelo escuro riscado por cabelosbrancos. Mas ela no uma mulher velha, Jlia pensou. Seus olhos eram fundos, masbrilhantes, e havia um toque de juventude neles.

    A mulher sorriu, e Jlia notou que pelo menos algumas das linhas em seu rosto no vinham dadureza do trabalho, mas, de risadas.

    Eu sou Helena, disse de maneira simples. Agora, ento, por que voc no nos conta o queest lhe afligindo? Jlia, ento, percebeu tratar-se de duas mulheres.

    A outra escrava segurou o flego fortemente, e houve um olhar entre elas que Jlia malpercebeu. A segunda escrava soltou o ar e acenou quase imperceptivelmente.

    Eu no sei o que fazer, disse Jlia, limpando o rosto e o nariz na manga. O monge disseque existia uma profecia, disse que eu, que ns, somos os Escolhidos e que devemos libertarvocs mas, eu no sei por onde comear!

    Outra olhada entre as escravas esta mais alta e mais marcante. Helena finalmente quebrou osilncio.

    Um monge lhe contou a respeito de uma profecia? ela perguntou devagar. Jlia acenoucom a cabea.

    E eu no posso contar para Pedro, mas acho que ele j estragou tudo com aquela plvoraboba e no sei como derrotar os lordes e as minhas ideias se esgotaram!

    A segunda escrava tirou o capuz e deu um passo frente. Ela era bem jovem no muitomais velha que Jlia, mas com um olhar determinado que s poderia ter vindo com os anos detrabalho rduo e com o sofrimento.

    Se voc a que foi prometida a ns, ela disse, voc no ter que derrot-los sozinha.Ela fez uma pausa, e ento abriu um sorriso. Eu sou Alice. Nosso povo est esperando por voc faz muito, muito tempo, minha lady !Foi o sorriso dela que, finalmente, fez com que Jlia parasse de chorar e a levou para dentro

    daquele momento. Ela, fosse ou no a Escolhida, era a nica que estava ali. E precisava fazeralguma coisa.

  • Vocs... Ela fez uma pausa, sem ter certeza exatamente de como formular a pergunta... Vocs me contariam suas histrias? A histria do pas. Contem-me a respeito de Marcus e detodos os outros.

    Helena acenou com a cabea. Claro, minha lady, mas agora no hora. Vou combinar para que voc se encontre com o

    meu irmo, ele lhe contar a histria verdadeira. Mas primeiro quero que voc saiba o que estarriscando.

    Ela parou e olhou para Alice, que acenou com a cabea, estimulando-a a continuar. Voc precisa saber que estando ao nosso lado sua vida est ameaada. Os lordes... Mais

    uma vez ela hesitou... O Lobo no conhecido por sua misericrdia.Jlia acenou com a cabea, no sabendo exatamente como responder. E ento Alice sorriu

    mais uma vez. E