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Número 16, Año 4, Noviembre 1999- Enero 2000 | Número del mes | Anteriores | Contribuciones | Sobre la Revista | Sitios de Interés | Directorio | Ediciones Especiales | OS GÊNEROS TELEVISUAIS E O DIÁLOGO Por: Arlindo Machado * (Brasil) Nas últimas décadas, a idéia de gênero têm sofrido um questionamento esmagador, de parte inicialmente da crítica estruturalista e posteriormente do pensamento dito pós-moderno, para os quais esse tipo de discussão se tornou alguma coisa anacrônica, quando não irrelevante. Maurice Blanchot (1959), por exemplo, defendia, em seu tempo, que as únicas coisas realmente importantes são as obras na sua individualidade, independentemente de como as possamos classificar (" tudo se passa como se os gêneros tivessem desaparecido e só a literatura fosse afirmada..."). No mesmo contexto, Roland Barthes (1988) defendia o texto em si como uma força subversiva capaz de dissolver todas as espécies de classificação (" Como classificar Georges Bataille?... É tão desconfortável responder a essa pergunta que, em geral, se prefere esquecer Bataille nos manuais de literatura."). De forma um pouco mais flexível, Jacques Derrida (1980) problematizava a identificação de uma obra literária com um gênero, considerando que, ao penetrar no interior de um gênero, a obra o transformava em outra coisa. Para complicar, sabemos que as obras realmente fundantes produzidas em nosso século não se encaixam facilmente nas rubricas velhas e canônicas e quanto mais avançamos na direção do futuro, mais o hibridismo se mostra como a própria condição estrutural dos produtos culturais. No entanto, por mais que Blanchot, Barthes e Derrida queiram destronar as categoriais, eles não deixam de operar dentro de uma categoria, que é a literatura. E se lhes parece possível dizer que não existem mais romances, nem poemas, nem tragédias ou comédias, resta todavia uma categoria que os abrange todos, o livro, pólo de permanência e de resistência de uma cultura, quiçá de uma civilização, de uma Weltanschauung que se recusa a integrar-se passivamente no terreno de outros meios de expressão, como o disco, o cinema, a televisão, tudo isso que parece exprimir uma outra cultura, uma outra economia e uma outra visão de mundo. Para Marjorie Perloff, o livro pode ser tomado ele próprio como um gênero (recordemo-nos do projeto do Livre de Mallarmé, tentativa de ampliação ao extremo das possibilidades últimas desse meio). Enquanto gênero, o livro " se contraporia a todos esses meios não livrescos (e cada vez mais não impressos), que estão prestes inclusive a ocupar o seu espaço como o lugar da literatura" (Perloff, 1995: 4).

OS GÊNEROS TELEVISUAIS E O DIÁLOGO

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  • Nmero 16, Ao 4, Noviembre 1999- Enero 2000

    | Nmero del mes | Anteriores | Contribuciones | Sobre la Revista | Sitios de Inters | Directorio | Ediciones Especiales |

    OS GNEROS TELEVISUAIS E O DILOGO

    Por: Arlindo Machado*

    (Brasil)

    Nas ltimas dcadas, a idia de gnero tm sofrido um questionamento esmagador, de parte

    inicialmente da crtica estruturalista e posteriormente do pensamento dito ps-moderno, para os quais

    esse tipo de discusso se tornou alguma coisa anacrnica, quando no irrelevante. Maurice Blanchot(1959), por exemplo, defendia, em seu tempo, que as nicas coisas realmente importantes so as

    obras na sua individualidade, independentemente de como as possamos classificar ("tudo se passa

    como se os gneros tivessem desaparecido e s a literatura fosse afirmada..."). No mesmo

    contexto, Roland Barthes (1988) defendia o texto em si como uma fora subversiva capaz de

    dissolver todas as espcies de classificao ("Como classificar Georges Bataille?... todesconfortvel responder a essa pergunta que, em geral, se prefere esquecer Bataille nos

    manuais de literatura."). De forma um pouco mais flexvel, Jacques Derrida (1980) problematizava a

    identificao de uma obra literria com um gnero, considerando que, ao penetrar no interior de um

    gnero, a obra o transformava em outra coisa. Para complicar, sabemos que as obras realmente

    fundantes produzidas em nosso sculo no se encaixam facilmente nas rubricas velhas e cannicas e

    quanto mais avanamos na direo do futuro, mais o hibridismo se mostra como a prpria condio

    estrutural dos produtos culturais.

    No entanto, por mais que Blanchot, Barthes e Derrida queiram destronar as categoriais, eles no

    deixam de operar dentro de uma categoria, que a literatura. E se lhes parece possvel dizer que noexistem mais romances, nem poemas, nem tragdias ou comdias, resta todavia uma categoria que os

    abrange todos, o livro, plo de permanncia e de resistncia de uma cultura, qui de uma civilizao,

    de uma Weltanschauung que se recusa a integrar-se passivamente no terreno de outros meios de

    expresso, como o disco, o cinema, a televiso, tudo isso que parece exprimir uma outra cultura, uma

    outra economia e uma outra viso de mundo. Para Marjorie Perloff, o livro pode ser tomado ele

    prprio como um gnero (recordemo-nos do projeto do Livre de Mallarm, tentativa de ampliao

    ao extremo das possibilidades ltimas desse meio). Enquanto gnero, o livro "se contraporia a todos

    esses meios no livrescos (e cada vez mais no impressos), que esto prestes inclusive a ocupar

    o seu espao como o lugar da literatura" (Perloff, 1995: 4).

  • Poderamos perguntar ento: acabaram-se realmente os gneros (e, por extenso, todas asclassificaes que nos permitiam vislumbrar um pouco de ordem na selva da cultura) ou os nossos

    conceitos de gnero j no so mais suficientes para dar conta da complexidade dos fenmenos que

    agora enfrentamos? Talvez fosse o caso de recorrer a um conceito mais flexvel ou melhor adaptvel a

    um mundo em expanso e em rpida mutao. De todas as teorias do gnero em circulao, a de

    Mikhail Bakhtin nos parece a mais aberta e a mais adequada s obras de nosso tempo, mesmo que

    tambm Bakhtin nunca tenha dirigido a sua anlise para o audiovisual contemporneo, ficando restrito,

    como os demais, ao exame dos fenmenos lingsticos e literrios em suas formas impressas ou orais.

    Para o pensador russo, gnero uma fora aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada

    linguagem, um certo modo de organizar idias, meios e recursos expressivos, suficientemente

    estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa

    forma junto s comunidades futuras. Num certo sentido, o gnero que orienta todo o uso dalinguagem no mbito de um determinado meio, pois nele que se manifestam as tendncias

    expressivas mais estveis e mais organizadas da evoluo de um meio, acumuladas ao longo de vrias

    geraes de enunciadores. Mas no se deve extrair da a concluso de que o gnero

    necessariamente conservador. Por estarem inseridas na dinmica de uma cultura, as tendncias quepreferencialmente se manifestam num gnero no se conservam ad infinitum, mas esto em contnuatransformao no mesmo instante em que buscam garantir uma certa estabilizao. "O gnero sempre

    e no o mesmo, sempre novo e velho ao mesmo tempo. O gnero renasce e se renova emcada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de um dado

    gnero. Nisto consiste a sua vida" (Bakhtin, 1981: 91).

    A palavra gnero deriva do latim genus/generis (famlia, espcie) e no se vincula etimologicamente,malgrado a aparente homofonia, com as palavras gene e gentica (do grego gnesis: gerao,

    criao). Apesar disso, h uma inequvoca relao entre o que faz o gnero no meio semitico (ouseja, no interior de uma linguagem) e o que faz o gene no meio biolgico. Os geneticistas definem o

    gene como uma entidade replicante, presente nas molculas de DNA, cuja funo principal transmitirs novas clulas que esto sendo formadas as informaes bsicas que vo garantir a preservao de

    uma determinada espcie. O paradoxal com relao aos genes que, embora eles sejam entidadesconservadoras por misso biolgica, eles so tambm os responsveis pela evoluo da vida desde asformas mais simples s mais complexas, atravs de um longo processo de seleo natural. Como se

    sabe, o zologo e geneticista Richard Dawkins, em seu livro The Selfish Gene, defendeu a idia deque os genes no so os nicos responsveis pela evoluo: quando a questo a cultura humana,

    temos de pensar num equivalente "cultural" do gene segundo ele, o meme que se encarregaria damesma funo replicante das entidades genticas. A palavra meme foi criada a partir de uma

    corruptela da palavra grega mmesis (imitao) e se justifica pelo fato de, segundo Dawkins (1979:211-222), a imitao ser a forma bsica de replicao dos memes. O problema da argumentao de

    Dawkins a impreciso ou falta de critrios na caracterizao dos memes ("Exemplos de memes somelodias, idias, slogans, modas do vesturio, maneiras de fazer potes ou de construir arcos."),

    sobretudo porque sabemos que, no terreno da cultura, o que se "imita" ou se assimila no so osenunciados diretamente (uma melodia, uma idia, um slogan), mas estruturas abstratas, arranjossintticos, modos de selecionar e combinar. Na minha opinio, os gneros discursivos, tais como

    Bakhtin os imaginou, se estendidos para toda a produo semitica do homem, dariam muito maiorpreciso e coerncia idia de qualquer maneira fertilssima do replicante cultural, o meme.

    Mas vamos ao tema que nos interessa. A televiso abrange um conjunto bastante amplo de eventos

    audiovisuais que tm em comum apenas o fato da imagem e do som serem constitudoseletronicamente e transmitidos de um local (emissor) a outro (receptor) tambm por via eletrnica.

    Cada um desses eventos singulares, cada programa, cada captulo de programa, cada bloco de um

  • captulo de programa, cada entrada de reportagem ao vivo, cada vinheta, cada spot publicitrio,constituem aquilo que os semioticistas chamam de um enunciado. Os enunciados televisuais so

    apresentados aos espectadores numa variabilidade praticamente infinita. A rigor, poder-se-ia dizer quecada enunciado concreto uma singularidade que se apresenta de forma nica, mas foi produzido

    dentro de uma certa esfera de intencionalidades, sob a gide de uma certa economia, com vistas aabarcar um certo campo de acontecimentos, atingir um certo segmento de telespectadores e assim por

    diante. Dessa maneira, malgrado nico em sua ocorrncia singular, ele ilustra ou espelha umadeterminada possibilidade de utilizao dos recursos expressivos da televiso, um certo conceito de

    televiso, e isso se expressa no apenas nos seus contedos verbais, figurativos, narrativos etemticos, como tambm no modo de manejar os elementos dos cdigos televisuais. Existem algumas

    modalidades relativamente estveis de organizar esses elementos, ou dito de outra maneira, existemesferas de inteno mais ou menos bem definidas, no interior das quais os enunciados podem sercodificados e decodificados de forma relativamente estvel por uma comunidade de produtores e

    espectadores at certo ponto definida. Esses campos de acontecimentos audiovisuais so herdados datradio, mas no apenas da tradio televisual (muitos derivam da literatura, outros do cinema, ou do

    teatro popular, do jornalismo e assim por diante), nem tampouco esses "replicantes" so assimiladostais e quais, havendo sempre um processo inevitvel de metamorfose que os faz evoluir na direo de

    novas e distintas possiblidades.

    Para Mikhail Bakhtin, essas esferas de acontecimentos ou diramos ns mais tecnicamente: essesmodos de trabalhar a matria televisual podem ser chamados de gneros. Eles existem em grande

    quantidade, chegam a ser mesmo inumerveis, aparecem e desaparecem ao sabor dos tempos, algunsdeles predominam mais num perodo do que em outro, ou mais numa regio geogrfica do que em

    outra, muitos deles subdividem-se em outros gneros menores. Os gneros existem numa diversidadeto grande que muitas vezes se torna complicado estud-los enquanto categorias. De fato, comocolocar no mesmo p de igualdade eventos audiovisuais to distintos entre si, como uma narrativa de

    fico seriada, a transmisso ao vivo de uma partida esportiva, o pronunciamento oficial de umpresidente, um videoclipe, um debate poltico, uma aula de culinria, uma vinheta com motivos

    abstratos, uma missa ou um documentrio sobre o fundo do mar? Os gneros so categoriasfundamentalmente mutveis e heterogneas (no apenas no sentido de que so diferentes entre si, mastambm no sentido de que cada enunciado por estar "replicando" muitos gneros ao mesmo tempo).

    "A riqueza e a diversidade dos gneros discursivos so ilimitadas, porque as possibilidades de

    atividade humana so tambm inesgotveis e porque cada esfera de atividade contm um

    repertrio inteiro de gneros discursivos que se diferenciam e se ampliam na mesma proporoque cada esfera particular se desenvolve e se torna cada vez mais complexa" (Bakhtin, 1986: p.

    60). No compreender essa vertiginosa variedade pode implicar numa concepo de gnero

    esclerosada, esta sim desprovida de sentido, anacrnica e irrelevante numa civilizao como a nossa.

    Como no possvel tratar de todos os gneros televisuais, visto que nem sabemos quantos e quais

    so em sua totalidade, vamos, a partir deste ponto, tratar de apenas um deles, aquele que nos pareceu

    mais exemplar e melhor testemunha da diversidade esfuziante dos gneros. Trata-se das formasfundadas no dilogo (no h, em portugus, um nome suficientemente extensivo para dar conta desse

    universo conceitual). A idia aqui fazer uma pequena demonstrao da variabilidade da televiso, do

    amplo leque de possibilidades que ela oferece aos realizadores e das diferentes modalidades de

    recepo que ela demanda, com seus distintos graus de participao, credibilidade, legibilidade esuspenso de descrena.

    Bakhtin (1981: 94-96) localiza o surgimento do dilogo como gnero na Grcia antiga, a partir

    principalmente do mtodo socrtico, que serviu de modelo a praticamente todos os grande dialogistas

  • do primeiro perodo (Xenofonte, squilo, Fdon, Alexameno, Glauco, Crato, Simmios, Euclide,

    Anthisteno etc.). Scrates colocava as pessoas umas diante das outras e as fustigava ao debate.

    Atento sobretudo s oposies e contradies, ele conduzia os debatedores a encarar as questessobre todos os ngulos, mas sem jamais propor um caminho ou induzir uma concluso final.

    Naturalmente, como apenas conhecemos toda essa fortuna filosfica atravs do filtro de Plato, o

    mtodo socrtico nos parece hoje apenas um recurso pedaggico do "mestre" para conduzir os seusdiscpulos a uma verdade j descoberta, acabada e indiscutvel, como de resto acabou acontecendo

    com o dilogo filosfico nos perodos posteriores a Scrates, reduzido que foi a uma mera tcnica de

    exposio de conceitos dogmticos de mundo. Mas para Scrates, o dilogo no era apenas uma

    "forma", no sentido puramente tcnico do termo: ele era o prprio alicerce de toda uma cosmovisofilosfica que acredita na natureza dialgica (plurvoca, contraditria) da verdade.

    "O gnero se baseia na concepo socrtica da natureza dialgica da verdade e

    do pensamento humano sobre ela. O mtodo dialgico de busca da verdade seope ao monologismo oficial que se pretende dono de uma verdade acabada,

    opondo-se igualmente ingnua pretenso daqueles que pensam saber alguma

    coisa. A verdade no nasce, nem se encontra na cabea de um nico homem; ela

    nasce entre os homens, que juntos a procuram no processo de sua comunicaodialgica." (Bakhtin, 1981: 94).

    dilogo socrtico utilizava vrios procedimentos, dois quais os mais importantes eram a sncrisee a ancrise. Entendia-se por sncrise a confrontao de dois ou mais pontos de vista sobre um

    mesmo assunto. Era muito importante, portanto, que um debate tivesse debatedores com

    pontos de vista diferentes, uma vez que no h dilogo possvel quando todos pensam

    exatamente da mesma maneira. Ancrise, por sua vez, era o nome que se dava aos mtodos deprovocar a palavra do interlocutor, forando-o a colocar-se e externar claramente a sua

    opinio. Segundo Bakhtin, Scrates, como bom debatedor, foi um astuto manejador da

    ancrise. Ele tinha uma habilidade incomum para fazer as pessoas se expressarem, mesmo

    quando as idias no estavam ainda bem formuladas: a clareza vinha do dilogo e daconsiderao das ponderaes do(s) outro(s). Assim, os protagonistas dos dilogos socrticos

    eram homens de idias ("idelogos", na terminologia de Bakhtin), mesmo quando se tratavam

    de pessoas simples, incorporadas ao dilogo como debatedores involuntrios. No espao dagora, eles encenavam aquele que talvez seja o drama maior da humanidade: "a procura e a

    experimentao da verdade" (Bakhtin).

    Talvez possa parecer um exagero dizer que temos dilogos socrticos hoje na televiso. De fato, osdebates que se v e se ouve nos talk shows convencionais esto longe de configurarem uma

    maiutica da procura da verdade. Mas no estamos tratando aqui de banalidades. O retorno

    oralidade ou, mais exatamente, o advento de uma segunda fase da oralidade, mediada por

    tecnologias de gravao e transmisso (cfe. Walter Ong, 1987: 133-136) proporcionado pelo rdioe pela televiso, abriu um espao novo para o ressurgimento do dilogo em condies muito prximas

    do modelo socrtico. Mas essa possibilidade terica s rendeu resultados reais em algumas propostas

    mais ousadas de programas, em geral praticadas por televises que fogem do esquema das grandes

    redes nacionais ou internacionais. Os mais belos exemplos so, certamente, as sries televisuaisrealizadas por Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miville, entre 1976 e 1978, para o Institut National

    de lAudiovisuel (Frana). Numa entrevista concedida a Colin MacCabe (1980: 160), Godard refere-

    se nominalmente ao mtodo socrtico como modelo inspirador dessas sries. Numa outra entrevista,concedida a Claude-Jean Philippe (compilada em Godard, 1985: 412), o cineasta lamenta que o

    pensamento ocidental, a partir de Plato, tenha estado historicamente vinculado cultura escrita,

  • cultura do livro, perdendo os seus vnculos com o dilogo socrtico, de natureza fundamentalmenteoral: no dizer de Godard, Plato transformou o mtodo socrtico num best seller!

    Mas certamente, no foi Godard quem inventou o debate filosfico na televiso. Diramos que esse

    "gnero" tem uma longa, slida e impressionante histria e, algum dia, algum ter de reconstitu-la. Ateleviso, tantas vezes acusada de massificao e banalidade, tem sido tambm o lugar onde o

    pensamento ganhou um impulso novo, liberado que foi dos constrangimentos retricos da sua forma

    escrita. Entre os melhores exemplos de debate intelectual na televiso, poderamos citar as vrias

    sries conduzidas por Bill Moyers, nos EUA, desde os anos 70, tais como World of Ideas, Healingand the Mind e The Power of the Word, passando por alguns dos debates mais luminosos da

    televiso, como os que Moyers travou com o antroplogo Joseph Campbell The Power of Myth

    (1988) e com o poeta Robert Bly A Gathering of Men (1989). O equivalente francs de Moyerspoderia ser Bernard Pivot, o apresentador de Apostrophes, mas h tambm a proposta alternativa de

    Ocaniques, dirigido por Pierre-Andr Boutang, que consiste em colocar face a face dois

    debatedores de peso. Na Amrica Latina, tivemos trs exemplos bastante maduros de programas

    dedicados ao debate intelectual, eventualmente tambm filosfico. O primeiro foi Teleanlisis (Chile,1984/89), dirigido por Augusto Gongorra, inicialmente exibido clandestinamente em circuito fechado,

    por causa da ditadura militar. O segundo foi Incidentes (Argentina, 1996), dirigido por Jorge la Ferla

    e dedicado discusso de temas relacionados com a contemporaneidade. O debate sobre o papel

    dos intelectuais, travado por Beatriz Sarlo, editora da revista Punto de Vista, e Jorge Lanata,jornalista do peridico Pgina/12, foi de longe o melhor, particularmente porque os dois antagonistas

    tinham opinies contrrias sobre os vrios tpicos discutidos. O terceiro exemplo a srie brasileira

    Dilogos Impertinentes (desde 1995), dirigida por Gabriel Prioli, onde se colocam em confrontoduas personalidades proeminentes em suas respectivas reas de atuao para discutir um tema

    geralmente de carter abstrato e transdisciplinar (como a dor, o desejo, o acaso, a utopia, o belo, o

    obsceno, a razo, o feminino, a liberdade, a morte etc.).

    REFERNCIAS:

    Bakhtin, Mikhail (1981). Problemas da Potica de Dostoivski. Rio de Janeiro:

    Forense.

    __________ (1986). Speech Genres & Other Late Essays. Austin: Univ. of

    Texas.

    Barthes, Roland (1988). O Rumor da Lngua. So Paulo: Brasiliense.

    Blanchot, Maurice (1959). Le Livre venir. Paris: Gallimard.

    Dawkins, Richard (1979). O Gene Egosta. Belo Horizonte: Itatiaia.

    Derrida, Jacques (1980). "The Law of Genre". Critical Inquiry, vol. 7, n . 1,

    Autum.

    Godard, Jean-Luc (1985). Jean-Luc Godard par Jean-Luc Godard. Alain

  • Bergala, d. Paris: toile/Cahiers du Cinma.

    MacCabe, Colin (1980). Godard: Images, Sounds, Politics. Bloomington: Indiana

    Univ. Press.

    Ong, Walter (1987). Oralidad y Escritura: Tecnologas de la Palabra. Mxico:

    Fondo de Cultura Econmica

    Perloff, Marjorie (1995). "Introduction". Postmodern Genres. M. Perloff, ed.

    Norman: Univ. of Oklahoma Press.

    *Arlindo Machado: Profesor de la Universidad de So Paulo/ Universidad Catlica de So

    Paulo. Investigador en Comunicacin y Semitica en Brasil.

    Regreso al ndice de esta edicin