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  • Universidade de vora

    Os impactos da qualificao (via Processo RVCC) na

    participao cvica dos adultos certificados no concelho de

    Beja, em 2006 e 2007

    (Projeto de Investigao)

    Maria Virgnia Sebastio

    Orientao Cientfica: Prof. Doutor Jos Bravo Nico

    outubro de 2012

  • 1

    NDICE

    Pg.

    1. INTRODUO

    1.1 Pertinncia do estudo a realizar . 2

    2. CAMPO DE ESTUDO

    2.1 Identificao da poltica pblica que ser objeto de estudo . 4

    2.2 Contexto do estudo .... 8

    3. REVISO DE LITERATURA

    3.1 As polticas educativas na Europa: final do Sculo XX,

    princpio do sculo XXI . 9

    3.2 Aprendizagem ao Longo da Vida e Educao permanente. 13

    3.3 Qualificao e Participao cvica que relao? 17

    4. METODOLOGIA

    4.1 Problema de investigao e objetivos de pesquisa 25

    4.2 Tipo de estudo e estratgia de investigao .... 27

    4.3 Mtodos e tcnicas de recolha/produo de dados .. 28

    4.4 Estratgias no trabalho de campo ... 29

    4.5 Anlise de dados e relatrio 30

    4.6 Calendarizao . 32

    BIBLIOGRAFIA .. 33

  • 2

    1. INTRODUO

    1.1 Pertinncia do estudo a realizar

    O projeto ora apresentado pretende ir de encontro a algumas inquietaes

    pessoais, cujo surgimento se deve ao percurso profissional da doutoranda, no

    perodo compreendido entre setembro de 2008 e julho de 2011, quando a

    mesma desempenhou a funo de coordenadora de um Centro Novas

    Oportunidades. O contacto direto com a dinmica associada ao quotidiano

    daquela instituio, bem como os momentos de formao e monitorizao da

    atividade subjacente funo em causa, despoletaram uma srie de questes

    (ainda hoje existentes) para as quais no havia uma resposta imediata, isto ,

    uma fundamentao terica cientificamente comprovada.

    Por outro lado, com base nos resultados da avaliao externa (2009-2010) da

    Iniciativa Novas oportunidades (eixo adultos) realizada pelo Centro de Estudos

    (CEPCEP) da Universidade Catlica Portuguesa, constata-se que, para alm

    do aumento dos nveis de educao dos adultos, existe uma melhoria efetiva

    das suas competncias-chave, fundamentalmente competncias pessoais e

    sociais, cvicas e culturais as designadas soft-skills (Carneiro (Coord.), 2012).

    Assim, interessa-nos neste projeto estudar os impactos da qualificao na

    participao dos adultos certificados ao abrigo daquela Iniciativa, uma vez

    que, segundo os resultados supra mencionados, se registam melhorias nas

    competncias pessoais e sociais, cvicas e culturais, dimenso que, a nosso

    ver, engloba a participao. Assim, e considerando a importncia do tema:

    impacto da qualificao (via Processos de Reconhecimento, Validao e

    Certificao de Competncias) na participao cvica dos adultos envolvidos, a

    investigao que se pretende desenvolver est ancorada no projeto de

    investigao cientfica Novas Npcias da Qualificao no Alentejo, promovido

    pelo Centro de Investigao em Educao e Psicologia da Universidade de

    vora, o qual apoiado pela Direo Regional de Educao do Alentejo e

    financiado pelo Estado Portugus, atravs da Fundao para a Cincia e

    Tecnologia de Portugal, o qual tem por finalidade conhecer os impactos do

  • 3

    reconhecimento e validao dos adquiridos experienciais, na regio Alentejo,

    no perodo 2001-2005, e qual a sua relao da frequncia deste processo

    formal com o princpio da Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV) (Nico, Nico &

    Ferreira, As Novas Npcias da Qualificao no Alentejo, 2011).

    Finalmente, o presente projeto assume a finalidade de culminar com a

    apresentao de uma tese de doutoramento, em Portugus, cujo objetivo

    principal consiste em avaliar o impacto da qualificao dos cidados (resultante

    da realizao de Processos de Reconhecimento, Validao e Certificao de

    Competncias) na participao cvica dos mesmos.

  • 4

    2. CAMPO DE ESTUDO

    2.1 IdentifIcao da poltica pblica que ser objeto de estudo

    A investigao que se pretende desenvolver integra-se no campo da

    Educao e Formao de Adultos. Conforme refere Carneiro (2009), educao

    de adultos em Portugal tradicionalmente uma poltica pblica1. Assim, a

    poltica pblica que se pretende estudar a Iniciativa Novas Oportunidades -

    eixo adultos, um programa de educao de adultos que se distingue de outros

    programas anteriores em outras componentes inovadoras, nomeadamente, a

    prpria designao e que pressupe uma conjugao de vontades e uma

    unio de estratgias que articulam os objetivos, as metas, os recursos.

    (Carneiro (Coord.), 2009). De acordo com o Decreto-Lei n. 396/2007, de 31 de

    dezembro, a Iniciativa Novas Oportunidades um programa de qualificao e

    promoo humana da populao portuguesa que visa

    promover a generalizao do nvel secundrio como qualificao mnima da

    populao, elevar a formao de base da populao ativa, gerar competncias

    necessrias ao desenvolvimento pessoal e modernizao das empresas e da

    economia, bem como possibilitar a progresso escolar e profissional dos cidados.

    Ainda de acordo com o mesmo Decreto-Lei, os objetivos atrs citados

    aplicam -se tanto a jovens como a adultos, de forma a promover, por razes

    de justia social e por imperativos de desenvolvimento, novas oportunidades de

    qualificao das pessoas inseridas no mercado de trabalho, muitas das quais

    sofreram os efeitos do abandono e da sada escolar precoce. Todas as

    estratgias e esforos em torno desta Iniciativa devem assegurar a

    1 Segundo Duran (1996, p. 108), uma poltica pblica consiste no produto de um

    processo social que se desenrola num tempo determinado, no interior de um quadro que

    delimita o tipo e o nvel dos recursos atravs de esquemas interpretativos e escolha de valores

    que definem a natureza dos problemas polticos colocados e a orientao da ao.

  • 5

    relevncia da formao e das aprendizagens, com vista ao desenvolvimento

    pessoal e modernizao das empresas e da economia, assegurando ao

    mesmo tempo que todo o esforo nacional em formao efetivamente

    valorizado para efeitos de progresso escolar e profissional dos cidados, quer

    de forma direta, atravs da formao de dupla certificao inserida no Catlogo

    Nacional de Qualificaes2, quer de forma indireta, atravs dos Centros Novas

    Oportunidades e do Processo de Reconhecimento, Validao e Certificao de

    Competncias. Aquela poltica, inserida no mbito do Plano Nacional de

    Emprego e do Plano Tecnolgico3, foi apresentada publicamente no dia 14 de

    dezembro de 2005, e tinha, na altura, como objetivo principal alargar o

    referencial mnimo de formao at ao 12 ano de escolaridade para jovens e

    adultos. (ANQ4, 2010).5 Apesar de aquela poltica surgir com o XVII governo

    constitucional, no apareceu logo no incio do mandato uma vez que a

    referncia explcita mesma no consta do Programa e nos Eixos Prioritrios

    da Atuao do Governo para 2006, que fazem parte integrante das Grandes

    Opes do Plano (GOP) de 2005-2009 (Lei n.52/2005, de 31 de agosto6). A

    poltica em questo surge, posteriormente, nos Eixos Prioritrios da Atuao do

    2 De acordo com D.L n. 396/2007 de 31 de dezembro, o Catlogo Nacional de Qualificaes,

    um instrumento de gesto estratgica das qualificaes de nvel no superior, contendo o

    conjunto de referenciais essenciais para a competitividade e modernizao das empresas e da

    economia, bem como para o desenvolvimento pessoal e social dos cidados.

    3 A Resoluo do Conselho de Ministros n 190, de 16 de dezembro de 2005, aprova o Plano

    Tecnolgico com definio dos objetivos da Iniciativa Novas Oportunidades: reconquistar os

    jovens e os adultos que saram precocemente do sistema educativo.

    4 Atualmente denominada de Agncia Nacional para a Qualificao e o Ensino Profissional

    (ANQEP, I.P.).

    5 Documento da Ex Agncia Nacional para a Qualificao (ANQ). Disponvel em:

    http://www.anq.gov.pt. Acesso em (7/01/10).

    6 A Lei n. 52/2005, de 31 de agosto, aprova as Grandes Opes do Plano 2005-2009, diploma

    que aponta o Plano Tecnolgico como meio para motivar os portugueses para a sua

    qualificao e, no que respeita a educao de adultos, pretende alargar as oportunidades dos

    ativos para a aprendizagem ao longo da vida (Carneiro (Coord), 2009).

    http://www.anq.gov.pt/

  • 6

    Governo para 2007 (Lei n.52/2006, de 1 de setembro). Uma das Grandes

    Opes do Plano para 2005/2009 foi alargar as oportunidades de

    aprendizagem ao longo da vida. Conforme pode ler-se a seguir,

    uma das prioridades enunciadas no programa do Governo dar um novo impulso

    educao de adultos, de forma a atrair escola os ativos que necessitam de prosseguir

    ou terminar o seu percurso escolar ou de qualificao e a superar os dfices de

    qualificao da populao ativa portuguesa. Pretende-se nesta rea: diversificar a

    oferta de cursos de pendor mais profissional ou vocacional, rentabilizando os recursos

    humanos e tecnolgicos existentes na rede de escolas pblicas; prolongar os cursos de

    educao e formao de adultos para o nvel do ensino secundrio, constituindo uma

    oportunidade de aprendizagem integrada na rede de escolas secundrias e

    profissionais.

    Ainda no documento das GOP (2005-2009), Cap. I 2 OPO, pode-

    se constatar a relevncia/prioridade atribuda a esta Iniciativa.

    melhorar o sistema de reconhecimento, validao e certificao de competncias, por

    trs vias complementares: ampliao da rede de centros de reconhecimento, validao

    e certificao de competncias com base nos centros de formao profissional e nas

    sedes dos agrupamentos de escolas; prolongamento do sistema para nvel equivalente

    ao do secundrio, para que possa constituir uma segunda oportunidade de certificao

    para os cerca de 400 mil ativos que, na ltima dcada, passaram por este nvel de

    ensino e no o completaram; incremento da eficincia do sistema de forma a

    quadruplicar no final da legislatura o nmero de diplomas atribudos.

    Por outro lado, na Lei n.52/2006, de 1 de setembro, p. 6439, o XVII

    governo props alargar as oportunidades de aprendizagem ao longo da vida.

    no quadro da Iniciativa Novas Oportunidades, sero implementadas em 2006-2007 as

    seguintes medidas de promoo da qualificao de adultos: alargamento da oferta de

    Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA) s escolas secundrias e sedes de

    agrupamentos de escolas, prevendo-se abranger cerca de 88.500 adultos at 2007, e

    350.000 at 2010; reorganizao do ensino recorrente, de forma a assegurar uma

    resposta formativa baseada no formato dos cursos de Educao e Formao de

    Adultos, prevendo-se, todavia, a manuteno de respostas de nvel secundrio

    ajustadas ao prosseguimento de estudos continuao do alargamento da rede de

    Centros de RVCC, designadamente atravs da abertura de novos Centros nas escolas

  • 7

    secundrias pblicas, nos centros de formao, em empresas e em estruturas

    ministeriais. Prev-se atingir 250 Centros no final de 2007 e 500 Centros em 2010.

    No que diz respeito aos adultos, a Iniciativa desenvolvia-se, nos anos

    em estudo (2006 e 2007), atravs das seguintes aes: alargamento da oferta

    de Cursos de Educao e Formao de Adultos (Cursos EFA) s escolas

    secundrias e sedes de agrupamentos de escolas, tendo-se previsto abranger

    cerca de 88.500 adultos at 2007, e 350.000 at 2010; reorganizao do

    ensino recorrente, de forma a assegurar uma resposta formativa baseada no

    formato dos cursos de Educao e Formao de Adultos, prevendo-se, todavia,

    a manuteno de respostas de nvel secundrio ajustadas ao prosseguimento

    de estudos; continuao do alargamento da rede de Centros de RVCC,

    designadamente atravs da abertura de novos Centros nas escolas

    secundrias pblicas, nos centros de formao, em empresas e em estruturas

    ministeriais. Previa-se, ainda, de acordo com a Lei n. 52/2006 de 1 de

    setembro, 2opo, p. 6439, atingir 250 Centros no final de 2007 e 500

    Centros em 2010.

    Atualmente, a Iniciativa Novas Oportunidades continua em vigor sendo

    tutelada pela Agncia Nacional para a Qualificao e o Ensino Profissional, I.P.

    (ANQEP,I.P.)7 . Os processos de reconhecimento, validao e certificao de

    competncias (Processos RVCC profissional e/ou escolar) continuam em vigor

    e enquadram-se num programa pblico de dimenses considerveis. Refira-se

    que at meados de 2011, foram certificadas com o processo RVCC mais de

    400 mil pessoas (Lima (Coord.), 2012).

    7 A ANQEP, I.P. um instituto pblico integrado na administrao indireta do Estado, sob a

    tutela dos Ministrios da Economia e do Emprego e da Educao e Cincia, em articulao

    com o Ministrio da Solidariedade Social, com autonomia administrativa, financeira e

    pedaggica no prosseguimento das suas atribuies. (Misso da ANQEP. Disponvel em:

    http://www.anqep.gov.pt/default.aspx Acesso em outubro de 2012.

    http://www.anqep.gov.pt/default.aspx

  • 8

    2.2 Contexto do estudo

    A Iniciativa Novas Oportunidades contemplava, em 2006 e 2007, dois

    eixos distintos: eixo jovens e eixo adultos. O primeiro pretendia dar aos jovens

    uma Oportunidade Nova de qualificao atravs de uma diversificada oferta

    formativa (formao de dupla certificao escolar e profissional), atravs da

    mobilizao de um conjunto alargado de agentes educativos fortemente

    ampliado pela expanso desta oferta na rede de escolas pblicas (ANQ, 2010).

    Relativamente ao eixo adultos, dirigido populao ativa (empregada e

    desempregada) constitua uma Nova Oportunidade para quem no tinha a

    qualificao desejada e/ou exigida e para quem tinha interrompido um percurso

    de qualificao. Esta hiptese concretizava-se atravs de duas alternativas:

    - cursos EFA (cursos de Educao e Formao de Adultos);

    - processos RVCC (Processos de Reconhecimento, Validao e

    Certificao de Competncias - nvel bsico, secundrio ou profissional)

    desenvolvidos na Rede Nacional de Centros Novas Oportunidades

    (ANQ, 2010).

    O estudo que se pretende desenvolver centra-se na temtica da

    Educao/Formao de Adultos (E/FA): Iniciativa Novas Oportunidades, eixo

    adultos Processos RVCC (Processos de Reconhecimento, Validao e

    Certificao de Competncias - nvel bsico, B2 e B38), uma vez que o

    horizonte temporal que se pretende abranger na futura investigao apenas

    contempla os anos 2006 e 2007. Refira-se que o Processo de

    Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias - nvel secundrio

    s teve incio no final do ano de 2007, pelo que os primeiros adultos

    certificados neste nvel surgem apenas em 2008.

    8 B2 e B3 correspondem, respetivamente, ao 2 e 3 ciclos do Ensino Bsico.

  • 9

    3. REVISO DE LITERATURA

    3.1 As polticas educativas na Europa: final do sculo XX, princpio do

    sculo XXI

    Nas ltimas dcadas tem-se assistido a grandes mudanas no domnio

    das polticas pblicas. Consequentemente, as polticas educativas no

    constituram exceo a essas alteraes, em que o Estado assume novo papel

    face dinmica imposta pela globalizao9. A Unio Europeia representa uma

    das formas institucionais mais avanadas nesta rea, incrementando um vasto

    campo de interveno e assumindo, progressivamente, um papel mais ativo,

    nomeadamente no domnio das polticas sociais (Antunes, 2005).

    No princpio do sculo XX, com a construo do Estado liberal deu-se

    incio ao plano estratgico de uma Europa unida mas foi, sobretudo, a partir de

    1949, com a criao do Conselho da Europa, com o objetivo de superar as

    dificuldades provocadas pelo confronto blico e de aproximar as naes

    europeias, que se deu uma aproximao entre os Estados. Na opinio de

    Marques, Anbal, Graa, e Teodoro (2008, p.95),

    os Estados, com a aprovao das suas diversas constituies, adotaram a forma de

    Estados democrticos e de direito, baseados em princpios de planificao econmica

    keynesiana. O Estado adquiriu um carter intervencionista, contrrio inrcia do

    9 H, efetivamente, um processo de globalizao e mudanas no campo da educao. O

    processo de internacionalizao das polticas educativas desenvolve-se, na opinio de Barroso

    (citado por Neves, 2009) atravs de trs efeitos: efeito de contaminao feita uma

    transferncia e importao de conceitos, medidas e modelos escala mundial para justificar e

    legitimar opes nacionais; efeito de hibridismo onde existe uma sobreposio e uma

    mestiagem de diferentes lgicas, discursos e prticas resultando numa ambiguidade e

    pluralidade de polticas educativas; efeito mosaico so adotadas medidas avulsas que se

    destinam a fenmenos e situaes especficas.

  • 10

    Estado liberal e assumiu o compromisso de assegurar os direitos fundamentais aos

    cidados, entre eles, o da educao.

    No final dos anos 50, a Europa entrou numa fase de desenvolvimento

    econmico, representado por um grande crescimento industrial e comercial e

    por amplos movimentos migratrios. Essa situao favoreceu o alargamento da

    cooperao a outros setores, tais como a poltica, a educao e a cultura.

    Iniciou-se uma crescente conscincia da importncia de se criar uma

    identidade europeia bem como conceder alguns direitos polticos aos

    cidados no plano europeu. A criao de um espao transnacional de

    educao resultado de uma dinmica onde se confundem todos estes efeitos.

    Segundo Dale (2008, p.28), a criao de um Espao Europeu de Educao

    (EEE) alicera-se no paradigma Aprendizagem ao Longo da Vida.

    Embora, como refere Neves (2009, p.106), a globalizao possa estar a

    ter influncia na reorientao das polticas educativas dos estados, ela no se

    sobrepe deciso dos estados. Isto , as caractersticas nacionais nas

    prprias polticas de educao, embora estejamos perante uma governao

    global, ainda persistem. Emergiu, conforme Neves (2009, p.106), um espao

    transnacional de educao, sustentado por vrias organizaes internacionais,

    mas o seu efeito nas polticas educativas nacionais ainda mediado pela ao

    dos estados. Isto , os efeitos so indiretos e as regras podem ser

    interpretadas de maneiras diferentes por cada estado, tendo em conta as suas

    particularidades (Neves, 2009, p.106). Efetivamente, os efeitos da

    globalizao so visveis com a fixao de uma agenda global para a

    educao.

    A partir da segunda metade do sc. XX foram criadas uma srie de

    organizaes internacionais (UNESCO, OCDE, FMI, e BM)10 que abriram uma

    10

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    OCDE Organizao das Naes Unidas para a Cultura e Desenvolvimento Econmico.

    FMI Fundo Monetrio Internacional.

    BM Banco Mundial.

  • 11

    nova era para a circulao de conhecimentos sobre educao. Desde a dcada

    de 70 que a OCDE, nomeadamente, desenvolve um sistema de indicadores da

    Educao que medem os efeitos da educao no indivduo e na sociedade.

    Estes indicadores constituem um passo muito importante no desenvolvimento

    das polticas educativas nacionais e na avaliao dos sistemas educativos.

    Aquilo a que Barroso (2006) chama de regulao regulao da educao,

    processo que resulta de vrias regulaes e da interao de vrios dispositivos

    reguladores. Este autor aponta como necessria a funo do estado como

    regulador das regulaes, numa metarregulao para equilibrar a ao das

    diversas foras mantendo uma orientao global.

    Com o tratado de Maastrich, em 1992, surge a distino entre educao

    e formao profissional e cria-se um novo quadro jurdico para a educao e

    para a formao profissional. Na fase ps-Maastricht surgem dois novos

    conceitos: Sociedade do Conhecimento e Aprendizagem ao Longo da Vida

    (Marques, Anbal, Graa, e Teodoro, 2008).

    Em 2000, a Estratgia de Lisboa11 d origem a uma nova fase. As

    questes da educao e da formao adquirem centralidade nas polticas da

    Unio, estabelecem-se reas prioritrias comuns de interveno, define-se um

    programa articulado e uma estratgia de atuao que possibilita aprofundar o

    processo de integrao educacional, para alm do expressamente previsto no

    Tratado. nesse perodo compreendido entre 2000 e 2004 que se inicia o

    programa Educao e Formao 2010 e se implementa o mtodo aberto de

    coordenao (MAC) (Marques, Anbal, Graa, e Teodoro, 2008).

    11

    No Conselho Europeu de Lisboa (maro de 2000), os Chefes de Estado e de Governo

    lanaram uma estratgia estratgia de Lisboa - com o objetivo de tornar a Unio Europeia

    (UE) a economia mais competitiva do mundo e alcanar o objetivo de pleno emprego at 2010.

    Esta estratgia assenta-se em trs pilares: um pilar econmico que deve preparar a transio

    para uma economia competitiva, dinmica e baseada no conhecimento; um pilar social que

    dever permitir modernizar o modelo social europeu graas ao investimento nos recursos

    humanos e luta contra a excluso social e um pilar ambiental, acrescentado no Conselho

    Europeu de Gteborg, em junho de 2001 (Marques, Anbal, Graa, e Teodoro, 2008).

  • 12

    Em maro de 2002, o Conselho Europeu de Barcelona subscreveu o

    programa Educao e Formao 2010 que, luz da Estratgia de Lisboa,

    instituiu um verdadeiro modelo de cooperao entre os estados membros, com

    o objetivo de promover a aprendizagem mtua e o intercmbio de boas

    prticas, atravs do MAC, promovendo, simultaneamente, a melhoria dos

    sistemas educativos nacionais. Assim o preconizavam as concluses do

    Conselho Europeu em 2009,

    investir eficazmente em capital humano atravs dos sistemas de educao e formao

    constitui uma componente essencial da estratgia adotada pela Europa para atingir os

    elevados nveis de crescimento e emprego sustentveis e baseados no conhecimento

    em que assenta a Estratgia de Lisboa, promovendo simultaneamente a realizao

    pessoal, a coeso social e a cidadania ativa (Jornal Oficial da Unio Europeia, 28 de

    maio de 2009).

    Tendo em ateno que a educao e a formao tm dado um grande

    contributo para atingir os objetivos a longo prazo da Estratgia de Lisboa para

    o crescimento econmico e o emprego, o Conselho Europeu acordou que:

    a cooperao europeia a desenvolver at 2020 no domnio da educao e da formao

    dever ser estabelecida no mbito de um quadro estratgico que englobe os sistemas

    de educao e de formao no seu todo numa perspetiva de aprendizagem ao longo

    da vida. (Jornal Oficial da Unio Europeia, 28 de maio de 2009).

    A tendncia da UE acentuar a responsabilizao dos governos pelo

    acesso e pela promoo da ALV no sentido de responder s necessidades de

    quem quer aprender (Neves, 2009). Em Portugal a principal finalidade da ALV

    consiste no aumento das qualificaes dos portugueses, de modo a

    responderem eficazmente s necessidades do mercado de trabalho,

    contribuindo, assim, para objetivos de competitividade e crescimento

    econmico. Em Portugal a agenda poltica para a ALV est relacionada com a

    qualificao dos recursos humanos, considerada a finalidade principal das

    polticas de educao e formao, orientada para a superao do dfice de

    formao e qualificao da populao (Neves, 2009).

  • 13

    Hoje em dia, e tal como refere Neves (2009), a ALV assumida como

    uma prioridade poltica a partir da qual se definem estratgias, instrumentos e

    medidas de monitorizao (p. 19), tendo um forte impacte nas polticas

    educativas e de formao. Pode mesmo afirmar-se que a ALV o novo

    paradigma das polticas educativas (Neves, 2009). A ALV passou a constar

    dos discursos polticos da Comisso Europeia denotando-se, como diz Alves

    (2010, p.7), a crena de que se trata de uma nova orientao estratgica que

    permitir solucionar muitos dos velhos problemas que se vm colocando aos

    sistemas de educao e formao.

    Para implementao da estratgia de ALV, o XVII governo constitucional

    da Repblica Portuguesa criou em 2005 a Iniciativa Novas Oportunidades.

    Num momento crucial da criao de um Espao Europeu de Educao (EEE),

    a Iniciativa Novas Oportunidades, no caso de Portugal, surge como exemplo de

    poltica transnacional que visa o desenvolvimento de uma sociedade do

    conhecimento. Atendendo aos dados/concluses de Neves (2009), em

    Portugal a Estratgia de ALV visa, fundamentalmente, o crescimento

    econmico como processo de mudana global. Em contrapartida, nalguns

    estados-membros, nomeadamente na Eslovnia, o objetivo da ALV centra-se

    na coeso social, valorizando neste caso a dimenso pessoal da educao e

    formao. Esta , alis, a perspetiva da Comisso das Comunidades

    Europeias, conforme referido por Silvestre (2003).

    3.2 - Aprendizagem ao Longo da Vida e Educao Permanente

    O conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV) para muitos o de

    educao/formao permanente (E/FP), assim refere Silvestre (2003). Todavia,

    as perspetivas de educao permanente e aprendizagem ao longo da vida so

    muito distintas, nos pressupostos e valores, embora os defensores desta ltima

    tentem difundir uma ideia de continuidade entre ambas as perspetivas

    (Cavaco, 2009, p. 52). Enquanto a educao permanente perspetivada

  • 14

    como um processo de aprender a ser (e por isso ligada a elementos

    filosficos e polticos), a aprendizagem ao longo da vida baseia-se em

    pressupostos orientados para a subordinao funcional das polticas de

    educao e de formao economia dominante. A ALV pressupe uma

    lgica de gesto por si, isto , a responsabilizao individual, enquanto a

    educao permanente se inspirava em trs pressupostos sobre a educao:

    diversidade, continuidade e globalidade (Cavaco, 2009).

    De acordo com Osorio (2005, p. 16), os conceitos de educao ao

    longo da vida e aprendizagem permanente no so recentes12. Pelo

    contrrio, remontam ambos aos primeiros anos da promoo da educao

    universal, mas s a partir da dcada de 60 do sculo XX, as tendncias

    polticas, culturais, sociais e econmicas os favoreceram (Osorio, 2005, p.16).

    Segundo aquele autor, o conceito de educao permanente (Lifelong

    education) surge, pela primeira vez, nos finais do sc. XVIII (Osorio, 2005,

    p.16). Mais tarde (1976), e no contexto da educao permanente, surge a

    educao de adultos (Osorio, 2005, p.17). A educao permanente decorre

    de especialistas e animadores de educao de adultos, em meios externos ao

    sistema escolar e que esto mais em consonncia com a realidade social e

    econmica (Osorio, 2005, p.17). A educao permanente pressupe uma

    educao integral, na medida em que deve englobar todas as dimenses da

    vida, todos os ramos do saber e todos os conhecimentos prticos que se

    consigam adquirir por todos os meios. Podemos dizer que a educao

    permanente tem um carter mais holstico e humanista (Osorio, 2005, p.22).

    A forma de pensar a Educao/Formao (E/F) traduz-se numa

    educao/formao espcio-ilimitada dado que pode ser levada a cabo em

    12

    J na antiguidade Plato dedicou-se a refletir sobre o dia viou paedeia, que era algo como a

    obrigao que todo o cidado tinha de aprender a empenhar-se at ao fim da sua vida em

    benefcio da cidade. () Scrates, na Grcia, no ensinava, propriamente, as crianas a

    escrever, mas sim os adultos a pensar. Quintiliano em Roma ensinou pessoas adultas. ()

    (Frnandez, 2006, p.7).

  • 15

    muitas e diferentes instituies da sociedade (ONGs13, associaes,

    empresas, etc.) para alm da instituio escolar; e temporal-infinita (tendo em

    ateno o conceito de educao/formao permanente e educao/formao

    ao longo da vida) uma vez que este processo de educao/formao permite

    ao homem educar-se/formar-se em qualquer idade, em qualquer lugar e em

    todas as situaes (Silvestre (2003).

    Efetivamente, os conceitos de educao e formao, so conceitos

    diferentes. A formao diz respeito a toda a vida, enquanto a educao

    apenas relativa a certos perodos da vida (Josso, 2008, p.116). Segundo a

    mesma autora, a educao a ao das vrias instituies de uma sociedade

    que, atravs das instncias polticas, asseguram a transmisso de

    conhecimentos, comportamentos e saberes-fazer, ou seja, a educao

    essencialmente dependente das polticas (nacionais, europeias e at

    internacionais) que do orientaes em matria de educao. A educao

    essencialmente conservadora porque deve assegurar a continuidade da vida

    em sociedade (Josso, 2008, p.116). Mas a educao tambm inovadora

    porque facilita a integrao das pessoas evoluo das sociedades. Assim,

    por definio, a educao no constitui um espao de liberdade para as

    pessoas pois tal no faz parte da sua misso. (Josso, 2008, p.116). Em

    Portugal utiliza-se o termo formar-se pois este exige uma atitude reflexiva, isto

    , estamos centrados na pessoa que vai a uma formao e que tm

    necessidade de estar acompanhada por profissionais que compreendam a

    problemtica da sua formao. Na formao, estamos centrados na pessoa do

    aprendente, isto , na sua histria pessoal e familiar e nas suas

    caractersticas psicolgicas, culturais e sociais (Josso, 2008).

    Na realidade, e como refere Nico (2011, p. 16), a aprendizagem uma

    dimenso intrnseca do dia a dia das pessoas independentemente dos

    diferentes contextos em que estas se movimentam: da famlia, da escola, da

    profisso, do associativismo, da poltica, do desporto, do lazer, da amizade,

    etc.. Constata-se, assim, que o processo de formao de qualquer pessoa

    13

    Abreviatura de Organizaes No Governamentais.

  • 16

    acontece ao longo de toda a sua vida e concretiza-se nos mais diversos

    contextos e envolvendo ambientes de aprendizagens com caractersticas

    distintas: formais, no-formais e informais (Nico, 2011).

    A educao e a formao so vertentes fortemente imbricadas, ou seja,

    inter-relacionadas14, interaccionadas, inter e entreligadas conforme refere

    Silvestre (2003).

    Em Portugal, a ideia de necessidade de formao/educao no nova

    no sistema educativo/formativo. A ideia de uma educao/formao

    permanente e comunitria integradora dos vrios saberes imps-se no perodo

    ps-segunda guerra mundial.

    Desde a publicao da Lei n 46/86, de 14 de outubro (Lei de Bases do

    Sistema Educativo), at atualidade, a educao e a formao tm sido

    utilizadas como fatores determinantes para a modernizao e o

    desenvolvimento das sociedades. Em Portugal estas duas dimenses foram

    condies importantes que nos permitiram aderir moeda nica e fazer parte

    do chamado peloto da frente da Unio Europeia (Silvestre, 2003).

    Para vencer os desafios da globalizao, a educao/formao dever

    incidir na vertente do saber-ser, isto , incidir num conjunto de valores que

    tornam as sociedades mais competitivas e, deste modo dotadas de recursos

    humanos capazes de participar de forma ativa nas questes sociais. esta

    perspetiva que a Iniciativa Novas Oportunidades contempla na medida em que

    valoriza as aprendizagens formais, no formais e informais (Silvestre, 2003).

    Estas dimenses esto consignadas nos normativos e programas para a

    educao dado o carter imperativo das diretivas europeias e das

    orientaes/recomendaes de outras instituies mundiais (OCDE15,

    14

    Educao e formao so processos inter-relacionados. A educao tem uma viso holstica

    dado que tem como finalidade o desenvolvimento integral da pessoa humana, enquanto a

    formao, como refere Osorio (2005, p. 197), um processo mais pontual e funcional, dirigida

    aquisio das destrezas especficas normalmente vinculadas ao mundo do trabalho.

    15 OCDE Organizao das Naes Unidas para a Cultura e Desenvolvimento Econmico.

  • 17

    UNESCO, OIT, etc.) que consubstanciam aqueles documentos. No entanto,

    quando se d a apropriao destas polticas transnacionais, o seu referencial

    reinterpretado de acordo com o contexto poltico, social econmico e cultural

    do pas-membro da Unio Europeia.

    Em Portugal a grande maioria das preocupaes que legitimam as

    opes polticas relacionam-se com a falta de qualificao da populao ativa,

    paralelamente aos nveis de insucesso e ao abandono escolar. Segundo Neves

    (2009), as medidas nas polticas educativas esto direcionadas para a

    qualificao da populao, quer atravs da educao e formao profissional,

    quer atravs do reconhecimento e validao de competncias, as quais j

    esto a ser implementadas.

    H, portanto, uma nova conceo de modelos de poltica de educao e

    formao de adultos. Esta nova perspetiva valoriza os conhecimentos e as

    competncias adquiridos em contextos formais, no formais e informais, e ao

    longo da vida, fundamentais participao num mundo global. A

    Aprendizagem ao Longo da Vida constitui-se, assim, como o novo paradigma

    das polticas de educao e formao, s quais a Iniciativa Novas

    Oportunidades d continuidade em Portugal.

    3.3 Qualificao e Participao cvica que relao?

    Tendo em ateno o objetivo principal deste trabalho, a questo supra

    mencionada remete-nos, desde logo, para a temtica da educao e da

    cidadania.

    Atualmente, sobretudo nas sociedades ditas democrticas, a

    participao (cvica, cultural e poltica) passou a ser considerada uma

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    OIT Organizao Internacional do trabalho.

  • 18

    dimenso inerente cidadania e promoo de uma cultura de

    responsabilidade individual e social (Mogarro, 2010). O conceito de cidadania

    engloba o conjunto de direitos e deveres do indivduo que pertence a uma

    determinada comunidade, que passa a designar-se como cidado (Mogarro,

    2010, p.187). A prpria Constituio da Repblica Portuguesa garante esse

    direito no n 1 do artigo 26 ao referir que a todos so reconhecidos os direitos

    (), capacidade civil, cidadania, (). Por outro lado, aquela dimenso tem

    levado alguns autores a salientar a importncia da educao na cidadania em

    vez de educao para a cidadania e a diferenciar cidadania passiva

    (exercida por exemplo no direito de voto, no direito educao, etc,) de

    cidadania ativa, entendida em simultneo como direito e dever de participar

    na vida social e poltica da comunidade (Mogarro, 2010, p.187). Tambm o

    Comit das Regies, no parecer sobre o Relatrio de 2010 sobre a cidadania

    da Unio, considera que os rgos do poder local e regional esto na melhor

    posio para promover um melhor entendimento da cidadania europeia e a dar

    a conhecer os seus benefcios concretos para os indivduos (Jornal Oficial da

    Unio Europeia, junho de 2011, p. 166/3).

    No contexto educativo portugus, este assunto tem sido alvo de

    mltiplas designaes e configuraes ao longo dos tempos. Assim, desde a

    Revoluo Liberal de 1820 reforma Pombalina, do Estado Novo Revoluo

    de abril (1974-1976), que o conceito de cidadania, educao para a

    civilidade, educao poltica, formao do cidado, entre outros, so

    conceitos subjacentes ao processo educativo (Mogarro, 2010). No perodo ps-

    revoluo de 74, a cidadania fez parte integrante de um projeto de sociedade

    mais justa, () (Mogarro, 2010, p.190). Mais tarde, a partir da ano 2001 (com

    a reorganizao curricular estipulada no Decreto-Lei n6/2001), a educao

    para a cidadania, como vertente de carter transversal, passa a fazer parte

    integrante de todas as reas curriculares (Mogarro, 2010). Hoje, em pleno

    sculo XXI, o conceito parece-nos muito mais abrangente/globalizante e visa,

    fundamentalmente, desenvolver nos cidados as competncias e os

    conhecimentos necessrios convivncia e vida em sociedade.

  • 19

    Mas porqu ensinar para (ou na) cidadania? E o que ensinar? Estas e

    outras questes levar-nos-iam para outros campos, outras problemticas. Por

    ora importa salientar que muitos autores consideram que a cidadania tem de

    ser vivida, embora outros considerem que pode ser ensinada, j que ensinar

    e educar no algo separado da vida e da experincia (Mogarro, 2010, p.

    190).

    No que concerne ao conceito de participao, optou-se por considerar

    a definio de Antnio Barreto (citado por Pedro-Rgo & Simplcio, 2010, pg.2),

    segundo a qual a participao a ao tendente a envolver um cidado ou um

    grupo de cidados nos processos comunitrios, cvicos e polticos que lhes

    dizem respeito. Neste mbito, refira-se que os dados referentes

    participao da populao portuguesa nas vrias dimenses da vida em

    sociedade (dimenso social, cultural, poltica, etc.), que apresentam valores

    bastante baixos, quando comparados com os dados referentes a outros pases

    da Europa (Pedro-Rgo & Simplcio, 2010). Esta constatao, julga-se, foi

    resultado de um fraco investimento, durante vrias dcadas, nas polticas de

    educao e formao, nomeadamente na educao e formao de adultos, e

    cujos objetivos incidissem no aumento das competncias e dos conhecimentos

    necessrios vida em sociedade.

    Relativamente ao conceito de qualificao, o termo remete-nos,

    fundamentalmente, para o incio do sculo XXI, altura em que a palavra

    qualificao passa a constar do lxico de todos os cidados. nessa altura

    que as questes da educao e da formao adquirem centralidade nas

    polticas da Unio Europeia. A partir desse momento, com a Estratgia de

    Lisboa16, inicia-se nova era no campo da educao e formao. Estabelecem-

    se reas prioritrias comuns de interveno, define-se um programa articulado

    e uma estratgia de atuao que possibilita aprofundar o processo de

    integrao educacional, para alm do expressamente previsto no Tratado.

    16

    A Estratgia de Lisboa, lanada em maro de 2000, durante a presidncia portuguesa do

    Conselho da UE, pretende ser a resposta da Unio Europeia aos desafios da competitividade

    econmica global no sculo XXI.

  • 20

    nesse perodo, compreendido entre 2000 e 2004, que se inicia o programa

    Educao e Formao 2010 e se implementa o mtodo aberto de

    coordenao, o designado MAC. Foi tambm em 2000 que a Comisso

    Europeia publicou o Memorando sobre a aprendizagem ao longo da vida17

    (Memorando sobre a ALV) que reala as inter-relaes entre as mudanas

    sociais e econmicas e que define que as finalidades da ALV so

    essencialmente duas: promoo da cidadania ativa e promoo da

    empregabilidade (Marques, Anbal, Graa, e Teodoro, 2008). Hoje, inegvel

    que a ALV tem um forte impacto nas polticas educativas e de formao,

    podendo mesmo afirmar-se que o novo paradigma das polticas educativas

    (Neves, 2009).

    At aquela data, as polticas educativas, e a educao de adultos em

    particular, estavam confinadas a uma camada da populao muito especfica:

    jovens adultos resultantes do insucesso escolar e adultos que procuravam,

    essencialmente, na educao formal e na formao profissional uma forma de

    colmatar lacunas de qualificao (escolar e profissional). Ou seja, a educao e

    formao decorria quase sempre em contextos formais e informais,

    subvalorizando-se a aprendizagem em contextos no-formais. Desde a

    publicao da Lei n 46/86 de 14 de outubro (Lei de Bases do Sistema

    Educativo) at atualidade, a educao e a formao tm sido utilizados como

    fatores determinantes para a modernizao e o desenvolvimento das

    sociedades (Silvestre, 2003). Todavia, a partir de 2000, a educao e formao

    passa a incindir num conjunto de valores que tornam as sociedades mais

    competitivas, isto , passa a incidir nas aprendizagens no-formais. Julga-se

    que dessa forma ser possvel formar cidados mais ativos e mais

    participativos nas questes sociais. Na verdade, como refere Osorio (2005, p.

    185),

    a educao no-formal a que melhor tenta responder s necessidades quotidianas e

    concretas da populao, e a que est em melhores condies para integrar a dimenso

    do desenvolvimento local, a autoformao e a incorporao dos acontecimentos

    adquiridos na prtica social.

    17

    Por uma questo prtica, doravante a expresso aprendizagem ao longo da vida ser

    traduzida pela sigla ALV.

  • 21

    Nesse sentido, e para implementao da estratgia de ALV, o XVII

    governo constitucional da Repblica Portuguesa criou em 2005 a Iniciativa

    Novas Oportunidades que visava, acima de tudo, elevar as qualificaes dos

    portugueses atravs das seguintes aes: criao de condies para a

    transparncia e reconhecimento de competncias; promoo da eficincia dos

    sistemas de educao e formao; diversificao de oportunidades de

    educao e formao e de aprendizagem; mudanas das prticas das

    instituies e dos profissionais de educao e formao; promoo das TIC

    nos contextos de aprendizagem (Costa, 2009). De facto, a Iniciativa Novas

    Oportunidades, fundamentalmente atravs do processo de Reconhecimento e

    Validao de Competncias (Processo RVCC), surge como uma poltica de

    educao e formao, cuja principal preocupao era elevar o nvel de

    qualificao dos portugueses (conforme j anteriormente referido), o que no

    deixa de ser pertinente pois, de acordo com concluses de Neves (2009), em

    Portugal a grande maioria das preocupaes que legitimam as opes

    polticas relacionam-se com a falta de qualificao da populao ativa.

    Hoje, ningum duvida que a qualificao das pessoas a principal

    infraestrutura bsica do territrio onde residem e desenvolvem todas as suas

    atividades (Nico, 2011, p.12). Como tambm refere Nico (2011, p.12), cada vez

    mais a disponibilidade de ambientes de aprendizagem, numa perspetiva de

    contnua e sustentvel formao dos indivduos () comea a estar na base

    das polticas de desenvolvimento. De facto, julga-se que quer a nvel local,

    regional e at nacional, as decises polticas no domnio da educao e

    formao devero contemplar esta filosofia de autoformao. Aquele autor

    (2011, p.12) considera ainda que,

    um dos maiores desafios dos sistemas educativos consiste em reorganizarem-se, no

    sentido de contemplarem esta nova liberdade de os indivduos construrem os seus

    percursos de aprendizagem, utilizando os espaos e os tempos de aprendizagem que

    mais concorrero para a adequada concretizao dos respetivos projetos de vida.

    Esta lgica de autoformao, baseada no paradigma de aprendizagem

    ao longo da vida, pressupe uma lgica de gesto por si, isto , uma

    responsabilizao individual no processo de educao e formao, conforme

  • 22

    defende Cavaco (2009). Por outro lado, o conhecimento efetivo da realidade a

    nvel local, sobretudo no que concerne ao seu potencial educativo dever

    constituir uma das preocupaes na conceo e implementao das polticas

    de desenvolvimento local baseado na sustentabilidade e na gesto adequada

    dos recursos endgenos (Nico, 2011).

    Se a qualificao da populao constitui um fator condicionante do

    desenvolvimento de um pas, a participao poltica e social dos cidados deve

    constituir a ferramenta fundamental construo da cidadania. Na opinio dos

    membros da Cmara dos Eleitos Locais do Conselho dos Eleitos Locais e

    Regionais18 da UE, uma efetiva cidadania essencial para a construo de

    uma efetiva democracia a nvel local, regional, nacional e internacional (p.2),

    cujo processo de construo dever envolver as entidades locais, dado serem

    elas que tm um papel ativo na conduo das populaes para o acesso

    educao para a cidadania democrtica (Education for democratic

    citizenship19). Ou seja, dotando os cidados de conhecimentos e competncias

    para compreenso dos processos democrticos, ajudando-os, nomeadamente,

    a desenvolver atitudes e comportamentos para que os mesmos possam

    exercer os seus direitos e cumprir as suas obrigaes em sociedade, dotando-

    os de competncias promotoras do exerccio da cidadania ativa, isto ,

    promover as suas posies cvicas.

    Atualmente, a educao no-formal (e, naturalmente, a ALV) est a

    tornar-se um importante setor na educao e formao dos cidados, pois

    permite o aumento das competncias e dos conhecimentos necessrios vida

    em sociedade. Outro aspeto importante da educao para a cidadania a

    promoo da coeso social, do dilogo intercultural e da participao cvica.

    Neste processo, cabe s autoridades pblicas locais, dada a sua proximidade

    s populaes, em parcerias com outras entidades pblicas e privadas,

    nacionais e regionais, em particular as organizaes da juventude, as

    18

    Estrutura pertencente Unio Europeia.

    19 A designada EDC, conforme pode ler-se no documento relativo 21 sesso, do Congresso

    dos Eleitos Locais e Regionais da Unio Europeia, realizada em 22 de setembro de 2011.

  • 23

    associaes de pais, as ONGs e os media locais, desenvolver as estratgias

    necessrias sua implementao. A nvel local, os elementos da Cmara

    acima referenciada consideram, ainda, que deveriam ser concebidas e

    implementadas polticas de educao para a cidadania democrtica (EDC)

    apropriadas, bem como conceber as ferramentas necessrias sua

    implementao, particularmente atravs da integrao da educao para a

    cidadania democrtica nos currculos de ensino formal e de orientao

    vocacional, alm do desenvolvimento de programas de educao no-fomal de

    modo a promover a participao efetiva dos cidados. As consultas pblicas, a

    criao de estruturas representativas dos cidados e o oramento participativo,

    so algumas das estratgias sugeridas para a implementao de uma

    verdadeira participao poltica e cvica. este o sentido que Canrio (2008)

    tambm defende quando afirma: a transformao social concomitante com a

    mudana de representaes (viso do mundo) e de comportamentos (modo de

    agir no mundo) quer a nvel individual, quer a nvel coletivo (p.64). Ser,

    sobretudo, a nvel local, junto das populaes, a massa crtica endgena, que

    as finalidades e os instrumentos das polticas educativas devero basear-se,

    aproveitando a sua capacidade para identificao e resoluo dos problemas.

    Esta ser, julga-se, uma forma de promover a participao poltica e cvica dos

    cidados e consequentemente contribuir para o desenvolvimento da

    comunidade.

    Na opinio de Canrio (2008, p.65)

    a participao dos atores locais (a nvel da tomada de decises, concretizao

    das decises e avaliao dos resultados) que permite transformar o processo de

    desenvolvimento num trabalho que uma comunidade realize sobre si prpria

    aprendendo a conhecer-se, a conhecer a realidade e a transform-la.

    Considera-se, portanto, que a participao tem um valor formativo

    intrnseco para os participantes pois favorece a responsabilizao coletiva, a

    inovao e a autonomia em todas as iniciativas, contribuindo, desse modo,

    para o desenvolvimento local (Canrio, 2008). nesta perspetiva da

  • 24

    participao (e tambm da endogeneidade20) que deve assentar o

    desenvolvimento local. Como na opinio de Canrio (2008, p. 66), os recursos

    locais mais importantes e decisivos so sempre as pessoas, a

    endogeneidade aparece como indissocivel da participao.

    Por ltimo, saliente-se que Portugal , de acordo com concluses de

    Neves (2009), o pas onde as medidas orientadas para o desenvolvimento

    pessoal e social so menos comuns. Logo, considera-se que a aposta das

    autoridades (pblicas e privadas) locais, regionais e nacionais dever centrar-

    se na problemtica da educao e formao de adultos numa tica do

    desenvolvimento de competncias e comportamentos promotores da

    cidadania ativa pois, como referem Carvalho e Meireles-Coelho (2009, p. 9),

    a necessidade de uma cidadania ativa e interventiva em reas to importantes como o

    ambiente, sade, valores democrticos, diversidade cultural ou a globalizao, entre

    outras, faro da educao e formao de adultos mais um elemento indispensvel na

    decifrao dos mltiplos desafios do Portugal do sculo XXI.

    Considera-se que, se as opes em termos de polticas educativas

    foram no sentido de aumentar o nvel de qualificao da populao na

    perspetiva da sua participao na vida pblica, ento Portugal estar a

    caminhar para aquilo a que poderemos chamar de um efetivo desenvolvimento

    sustentvel (e sustentado), sobretudo a nvel local onde estas sinergias so

    mais evidentes.

    Em suma, a qualificao e a participao parecem, nesta perspetiva,

    ser indissociveis. Mas poder no ser assim. Muitas vezes os indivduos

    menos qualificados esto mais motivados para participar na vida da sua

    comunidade do que outros mais qualificados. Tudo depende das motivaes e

    interesses de cada indivduo, entre outros fatores naturalmente.

    Considerando-se, desde logo, a participao um importante vetor para

    o desenvolvimento global das sociedades e pressupondo que aquele

    20

    Conceito que na opinio de Canrio (2008, p. 64) diz respeito ao "modo como so

    identificados e mobilizados, no quadro dos processos de desenvolvimento, os recursos locais.

  • 25

    desenvolvimento passou a ser encarado como o resultado da implicao na

    ao por parte dos interessados e no como o produto do acrscimo de

    qualificao conforme defende Canrio (2008), o presente trabalho intenta,

    entre outros objetivos, avaliar essa relao.

    4. METODOLOGIA

    4.1 Problema de investigao e objetivos de pesquisa

    Considerando que a Iniciativa Novas Oportunidades constitui uma ao

    levada a efeito por uma autoridade pblica com o objetivo de solucionar uma

    situao percecionada como problema21, no caso a ausncia de qualificao

    escolar e/ou profissional de uma parte significativa da populao portuguesa, a

    mesma constitui, assim, uma nova conceo de modelos de poltica de

    Educao e Formao de Adultos que valoriza os conhecimentos e as

    competncias, adquiridos em contextos formais, no formais e informais, e ao

    longo da vida, imprescindveis participao num mundo global.

    Assim, neste projeto, opta-se por considerar o domnio da Educao e

    Formao de Adultos como fator determinante na construo de uma efetiva

    cidadania. Pelo facto houve a inteno de abordar, ainda que de forma breve e

    genrica, alguns conceitos (cidadania, participao, qualificao) de modo a

    clarificar o contexto da referida abordagem.

    Considerando-se a participao um importante vetor para o

    desenvolvimento global das sociedades e pressupondo que aquele

    desenvolvimento passou a ser encarado como o resultado da implicao na

    ao por parte dos interessados e no como o produto do acrscimo de

    21

    Podemos dizer que constitui, no essencial, um programa de ao governamental, isto ,

    uma poltica pblica (Lascoumes & Le Gals (2007).

  • 26

    qualificao conforme defende Canrio (2008), o presente trabalho intenta,

    tambm, aflorar essa relao.

    O campo de estudo que se pretende levar a efeito tem por base aquela

    poltica educativa. Concretamente, o eixo adultos Processo RVCC (Processo

    de Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias), Nvel Bsico

    (B2 e B3), uma vez que o horizonte temporal que se pretende abranger na

    futura investigao apenas comtempla os anos 2006 e 200722. Refira-se,

    novamente, que o projeto em causa se insere no mbito do Projeto As Novas

    Npcias da Qualificao no Alentejo, promovido pelo Centro de Investigao

    em Educao e Psicologia (CIEP) da Universidade de vora.

    A investigao que se pretende levar a efeito centra-se, assim, na

    questo:

    A qualificao via processos de educao e formao de adultos

    (Processo de Reconhecimento, Validao e Certificao de

    Competncias) promove a participao cvica dos mesmos?

    O pblico-alvo envolvido sero os beneficirios daquela poltica

    educativa, no caso os adultos certificados em 2006 e 2007, com nvel B2 e B3,

    no concelho de Beja (freguesias23 X e Y). Assim, avaliar a importncia da

    qualificao, via Processo RVCC, na participao cvica dos cidados (do

    territrio de amostragem em anlise) um dos objetivos deste projeto.

    Em suma, so objetivos deste projeto:

    1 - Identificar os adultos certificados, atravs da Iniciativa Novas Oportunidades

    (Processo RVCC), nas freguesias X e Y, do concelho de Beja, no perodo

    2006/2007;

    2 - Caracterizar o perfil dos adultos identificados anteriormente;

    22

    O Processo de Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias - nvel

    secundrio s teve incio no final do ano de 2007, pelo que os primeiros adultos certificados

    neste nvel surgem apenas em 2008.

    23 A definir.

  • 27

    3 - Avaliar da importncia da qualificao na participao cvica dos cidados

    supra mencionados;

    4 - Caracterizar o binmio: qualificao/participao cvica dos adultos em

    causa.

    4.2 Tipo de estudo e estratgia de investigao

    Tendo em ateno, por um lado, o problema apresentado e o quadro

    terico referido e, por outro lado, os objetivos da investigao e o facto da

    mesma estar ancorada no Projeto As Novas Npcias da Qualificao no

    Alentejo24, opta-se por um estudo descritivo com recurso complementaridade

    entre a abordagem quantitativa e qualitativa com a finalidade de avaliar da

    importncia da qualificao na participao cvica dos adultos certificados (via

    Processo RVCC), atravs da identificao e caracterizao de material

    emprico relevante (Afonso, 2005).

    24

    Este projeto tem como objetivos fundamentais:

    1. Avaliar os impactos, pessoais, profissionais e sociais, do processo de Reconhecimento,

    Validao e Certificao de Competncias (RVCC) no universo de indivduos (2969 sujeitos)

    que, em toda a regio Alentejo, no perodo 2000-2005, nele tendo participado, viram

    certificadas as suas competncias e, em consequncia, alterados os respetivos nveis de

    escolaridade;

    2. Proceder anlise dos eventuais percursos subsequentes que tenham sido concretizados

    por estes sujeitos, nos sistemas formais de educao e formao e a mobilidade profissional e

    social da resultante, na expectativa de verificar se o princpio da Aprendizagem ao Longo da

    Vida (que esteve na gnese do prprio sistema de RVCC) uma realidade concretizada pela

    populao em estudo e, em caso afirmativo, se o mesmo encontra alguma consequncia nos

    planos individual, profissional e social.

  • 28

    Antes da investigao propriamente dita, e numa fase de investigao

    exploratria25, de carter livre, isto , sem obedecer a um plano rigoroso,

    proceder-se- ao levantamento de informaes preliminares (nmero de

    adultos certificados, em 2006 e 2007, Nvel Bsico (B2 e B3), nas vrias

    freguesias do concelho de Beja. Essas informaes ajudaro, julga-se, a traar

    um perfil dos adultos certificados e a elaborar as questes para o questionrio

    e a delimitar, consequentemente, a amostra e o territrio (local) da futura

    investigao. Ou seja, a fase exploratria ajudar, como referem Ketele e

    Roegiers (1993), a compreender bem a problemtica do objeto de estudo e a

    preparar o inqurito por questionrio.

    Ser, tambm, efetuado um estudo de documentos (publicados e

    oficiais, cientficos), de carter longitudinal26 a par de uma pesquisa

    documental, cujo objeto ser a reviso de literatura cientfica relativa ao

    objeto de estudo e cuja finalidade a explorao de literatura para construo

    da problemtica terica (Ketele & Roegiers, 1993).

    Na fase final do procedimento, considera-se a possibilidade de recurso a

    uma abordagem qualitativa, tendo em vista complementar e clarificar

    informao anteriormente recolhida.

    4.3 Mtodos e tcnicas de recolha/produo de dados

    O mtodo principal a utilizar para recolha de informao estruturada ser

    o inqurito por questionrio, o qual permitir obter os chamados dados

    primrios. Relativamente modalidade de inqurito opta-se pelo inqurito

    por correio ou inqurito postal (como variante de inqurito autoadministrado)

    25

    A chamada fase heurstica da investigao, conforme referem (Ketele & Roegiers, 1993, p.

    116) e que definem como sendo a fase feita de observao e de reflexo, a fim de gerar

    hipteses.

    26 Um estudo de documentos diz-se longitudinal se considerar a evoluo de um fenmeno

    ou de um comportamento no tempo () (Ketele & Roegiers, 1993, p. 200).

  • 29

    atendendo ao tempo previsto para a sua realizao, a populao do estudo

    e os recursos (econmicos e humanos disponveis) (Moreira, 2007).

    Ainda no respeitante aos mtodos de recolha/produo de dados utilizar-

    se-, tambm, a pesquisa arquivstica ou documental que consiste na

    utilizao de informao existente em documentos anteriormente elaborados,

    entre os quais documentos oficiais27. Nesta categoria incluem-se, tambm, as

    publicaes oficiais do Estado tais como, por exemplo, o Dirio da Repblica,

    as recomendaes/orientaes da Agncia Nacional para a Qualificao e o

    Ensino Profissional (ANQEP, I.P.), bem como toda a documentao (relatrios,

    pareceres, decises) emanada das instituies europeias e cuja matria se

    considere relevante pra o estudo em causa, assim como outros documentos,

    aquilo a que Afonso (2005) denomina de documentos pblicos. Encontrando-

    se nesta categoria, a documentao publicada no stio do Ministrio da

    Educao.

    Os dados (secundrios28) obtidos a partir da anlise dos documentos

    escritos estar na base da reviso de literatura. Por outro lado, alguns dados a

    recolher na anlise documental serviro, tambm, de apoio construo do

    questionrio a aplicar ao pblico-alvo.

    Finalmente, na dimenso qualitativa, recorrer-se- utilizao de

    entrevista semidiretiva e consequente anlise de contedo para recolha de

    informao que eventualmente no tenha sido obtida e/ou clarificada atravs

    do inquriro por questionrio.

    4.4 Estratgias no trabalho de campo

    27

    De acordo com Afonso (2005) designam-se por documentos oficiais, todos aqueles que se

    encontram nos arquivos dos diversos departamentos da administrao pblica,

    nomeadamente do Ministrio da Educao.

    28 Moreira (2007, p. 154) considera que existem dois tipos de dados: os dados primrios

    (elementos da observao, entrevista ou inquritos realizados pelo investigador na busca de

    uma hiptese de trabalho) e os dados secundrios (que incluem os documentos escritos e os

    documentos audiovisuais).

  • 30

    A seleo do local de investigao (concelho de Beja) baseou-se no

    facto de ser essa a rea geogrfica onde a doutoranda reside e,

    concomitantemente, possui uma maior rede de contactos, o que pressupe

    alguma facilidade no futuro trabalho de campo e, portanto, como refere

    (Burgess, 1997, p.64), onde a situao conveniente para o investigador e

    onde ele tenha alguns contactos j estabelecidos. Atendendo a que o referido

    concelho engloba um total de 18 freguesias29 (rurais e urbanas), optou-se pela

    subdiviso do territrio de investigao. Assim, e tendo em ateno as

    informaes recolhidas na fase exploratria (em curso neste momento), sero

    selecionadas duas freguesias: uma rural e outra urbana (adiante designadas de

    freguesias X e Y respetivamente). O nmero de adultos certificados atravs do

    Processo RVCC (nvel B2 e B3) ser o critrio a adotar para a seleo

    daquelas duas freguesias.

    Tambm a dimenso temporal, no caso a seleo do tempo:

    amostragem temporal outro aspeto a ter em ateno no trabalho de campo

    (Burgess, 1997). Face ao objetivo principal da investigao que se pretende

    levar a efeito, julga-se que, para avaliar os efeitos do Processo de

    qualificao na participao cvica dos adultos (pblico-alvo da

    investigao), dever-se- considerar no intervalo temporal um limite mnimo de

    cinco anos aps a certificao. Assim, o intervalo temporal da investigao que

    se pretende levar a efeito incluir os anos de 2006 e 2007. Neste caso, a

    dimenso temporal da recolha de informaes, atravs do inqurito por

    questionrio, apresenta um carter transversal pois visa recolher dados

    relativos a um perodo de tempo concreto (Ketele & Roegiers, 1993).

    Relativamente estratgia de amostragem, os informantes sero os

    adultos certificados atravs do Processo RVCC (nvel B2 e B3) nas freguesias

    X e Y do concelho de Beja, durante os anos de 2006 e 2007.

    29

    O Concelho de Beja constitudo por 18 freguesias, das quais 4 so predominantemente

    urbanas (APU), 1 mediamente urbana (AMU) e as restantes 13 so predominantemente

    rurais (APR). Disponvel em:

    http://www.bejadigital.biz/pt/conteudos/territorial/caracterizacao+do+distrito/Concelho+de+Beja/

    . Acesso em julho de 2012.

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  • 31

    4.5 Anlise de dados e relatrio

    O tratamento da informao e a sua justificao em termos de

    pertinncia, de validade e de fiabilidade sero realizados a seu tempo. Na

    anlise dos dados da investigao, recorrer-se- a uma tcnica padronizada de

    anlise estatstica, com recurso ao SPSS Statistics. Ser utilizada a tcnica de

    anlise estatstica (descritiva e inferencial) e, tambm, a anlise de contedo,

    uma vez que se pretende construir um instrumento que inclua questes

    fechadas e questes de natureza aberta (Nico, Nico, & Ferreira, 2011).

    Como j referido anteriormente, na dimenso qualitativa, recorrer-se-

    tcnica de anlise de contedo.

    Finalmente, proceder-se- redao do relatrio o qual far parte da

    tese de doutoramento.

  • 32

    4.6 Calendarizao

    Ano 2011/2012

    Fase 1 do projeto (setembro 2011 dezembro de 2012):

    - fundamentao terica (setembro de 2011 a julho de 2012);

    - preparao do projeto (setembro a dezembro de 2012):

    ajustamento dos objetivos, metodologia e calendarizao;

    - definio e planificao do trabalho de investigao;

    - levantamento de dados preliminares junto dos Centros Novas Oportunidades

    que operaram no concelho de Beja nos anos de 2006 e 2007.

    Ano 2012/2013

    Fase 2 do projeto (janeiro a julho de 2013):

    - incio da implementao do projeto (elaborao e aplicao do questionrio

    ao pblico-alvo);

    - avaliao peridica do projeto, com eventuais alteraes ao nvel da

    conceo, estrutura e atividades.

    - planificao do ltimo ano do projeto (setembro de 2013);

    - incio da anlise dos dados (outubro de 2013).

    Ano 2013/2014

  • 33

    Fase 3 do projeto (janeiro julho de 2014)

    - concluso da anlise dos dados;

    - escrita da dissertao;

    - entrega do projeto (setembro de 2014).

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    30

    Inclui as referncias bibliogrficas propriamente ditas, correspondentes deste modo s fontes

    referenciadas no texto, mais algumas obras consideradas relevantes que, no tendo sido expressamente

    referenciadas, foram no entanto fundamentais para a construo deste projeto.

    http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-91872010000100002&lng=pt&nrm=isohttp://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-91872010000100002&lng=pt&nrm=isohttp://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n47/n47a07.pdf

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