Os Jagas de Angola

  • Upload
    vunge1

  • View
    109

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Os Jagas de angola

Jagas foi o nome que os Portugueses deram, no final do Sec. XVI e durante o sec. XVII, a grupos de nativos africanos, predominantemente nmadas, que se caracterizavam por no trabalhar, dedicando-se rapina e violncia sobre as populaes. Nos anos 70, uma acirrada polmica, de que falaremos a seguir, quis identificar o povo que teria (ou no) invadido o Reino do Congo em 1568, quando o Rei lvaro II pediu ajuda a Portugal na luta contra os invasores, a quem as fontes chamam "Jagas". Depois de acesas discusses, Jan Vansina resumiu assim a situao em Le royaume du Kongo et ses voisins, Histoire gnrale de lAfrique, 1999, pp. 651-653: A morte consecutiva de dois reis no decurso de uma guerra contra os Tio em 1566 e 1567 deu origem a uma confuso que degenerou em catstrofe, com a irrupo de guerreiros, chamados Jaga, provenientes do leste. Os Jagas desafiaram as foras reais e a Corte teve de se refugiar numa ilha do final do Zaire. Numerosos refugiados foram vendidos como escravos para So Tom. O Rei teve de pedir ajuda a Portugal que enviou um corpo expedicionrio, que reconquistou o reino de 1571 a 1573. A hegemonia do Congo na regio ficou destruda, pois, em 1575, foi fundada a colnia de Angola e os Portugueses vieram comerciar em grande nmero ao Loango, a partir do mesmo ano. A identidade dos invasores do Congo nunca pde ser determinada. O nome Jaga (em kikongo: Yaka) utilizado nas fontes como sinnimo de brbaro e aplicado a toda uma srie de guerreiros mais ou menos nmadas. Os primeiros Jagas apareceram a leste de Mbata, ao sul do Pool e de l passaram para as margens do Coango.Parece que no era preciso ter discutido tanto e durante tanto tempo. Afinal, j em 1942, Manuel Alves da Cunha, anotando o 3. volume de Cadornega, cita Alfredo de Albuquerque Felner que afirmara em 1933: Os Jagas no constituem verdadeiramente uma famlia distinta, pois no eram mais que o conjunto de indivduos de diversas tribos, educados desde pequenos para a guerra e s para esse fim. (Antnio de Oliveira Cadornega, Histria Geral das Guerras Angolanas, 3. vol., 1942 Pag. 222, nota 13).Isto : a questo a decifrar a de saber onde que os Portugueses foram buscar o nome de Jagas e no propriamente as origens dos grupos de Jagas, que eram as mais variadas. possvel que o nome venha dos povos a que pertenciam os guerreiros que invadiram o Congo em 1568, mas no h certezas para afirmar isso. O nome Jagas foi depois aplicado a grupos de variadas origens, mas podem dividir-se facilmente entre os do Norte e, mais tarde, os do Centro e Sul de Angola (da Conquista, no do Reino), pois tiveram caractersticas e durao diferentes. Em termos de etnias, nada tinham de comum uns e outros. OS JAGAS DO NORTEO relato mais fivel da invaso do Congo em 1568, o de Filippo Pigafetta, que redigiu em italiano o que lhe foi narrado por Duarte ou Eduardo Lopes, um comerciante portugus que estivera no Congo, de 1578 a 1582, e fora enviado a Roma como Embaixador pelo Rei D. lvaro I. Imperoch sopravennero a depredare il Regno di Congo alcune nazioni che vivono al modo deglArabi, e degli antichi Nomadi chiamati Giacas, e habitano dintornal primo lago del fiume Nilo, nella provincia dellImperio del Monemugi, gente crudele, e micidiale di statura grande, e di sembiante orribile, nutrendosi di carne umana, feroce nel combattere, e danimo valoroso; le arme sue sono palvesi, dardi e pugnali, e nel rimanente va ignuda, ed selvatica ne costumi e nel vivere di ciascun giorno. Non hanno Re questi popoli, e menano la vita loro in capanne alla foresta guisa de Pastori.Acossado pelos invasores, o Rei fugiu de S. Salvador do Congo e refugiou-se com parte da populao na Ilha dos Cavalos no Rio Zaire. Pediu ento ajuda ao Rei de Portugal e D. Sebastio enviou-lhe uma fora de seiscentos homens comandados por D. Francisco Gouveia Sotomaior, que derrotou e ps em fuga os rebeldes. O Prof. Paulo Jorge de Sousa Pinto encontrou um documento indito sobre o assunto, uma carta escrita por D. Joo Ribeiro Gaio ao rei Filipe II. Malaca, 31-12-1588 (Archivo Geral de Simancas, Secretarias Provinciales, Liv. 1551, fls. 413-413 v.), quando se encontrava em trnsito para o Oriente: E mandando-se Francisco de Gouveia por governador dos reinos do Congo contra os Iaga Iagas que eram homens que comiam carne humana, quase de sessenta mil alevantados nos ditos reinos do Congo que os destruam, o passei com o dito Francisco de Gouveia aos ditos reinos do Congo onde fiz muitos gastos e o ajudei, e foi Deus servido dar vitria e aquietar os ditos reinos, e passando Paulo Dias por governador dos reinos de Angola para as minas de prata tambm o ajudei em tudo []Em 1973, Joseph Miller escreveu um artigo considerando esta invaso um mito inventado pelos Portugueses (Requiem for the Jaga). No teria havido invaso mas apenas a sublevao de uma parte da populao contra o Rei que pediu ento a ajuda dos Portugueses.John Thornton contestou esta concluso (A resurrection for the Jaga, 1978), por no encontrar nenhuma base slida para rejeitar o testemunho de Lopes-Pigafetta. Miller respondeu reafirmando os seus pontos de vista (Thanatopsis).Bontinck escreveu no sentido de Miller (Un mausole pour les Jaga, 1979), atribuindo a perturbao da poca rebelio do Mani Bata.Em 1981, Anne Hilton retomou a discusso com um artigo intitulado The Jaga reconsidered, com concluses prximas das de Thornton. O importante artigo do Prof. Paulo Jorge de Sousa Pinto reforou este ponto de vista. Jan Vassina fez depois a sntese com o texto que antes citei.Na minha opinio pessoal, o importante seria saber se o relato Lopes-Pigafetta dos acontecimentos de 1568, foi ou no a primeira vez que foi utilizada a designao de Jagas, depois repetida para outros grupos nmadas guerreiros de outras origens.OS JAGAS DO CENTRO E SULNa histria de Angola, volta a falar-se muito nos Jagas, na viragem para o sculo XVII, sendo o primeiro documento coevo, as Aventuras de Andrew Battell, um marinheiro ingls preso pelos Portugueses no Brasil e desterrado para Angola, onde fugiu da priso, juntando-se depois, nos primeiros anos do Sec. XVII, a um grupo de Jagas durante cerca de 16 meses, como refm e que conta:Pag. 19 - In our second voyage, turning up along the coast, we came to the Morro, or cliff of Benguele, which standeth in twelve degrees of southerly latitude. Here we saw a mighty camp on the south side of the river Cova. And being desirous to know what they were, we went on shore with our boat ; and presently there came a troop of five hundred men to the waterside. We asked them who they were. Then they told us that they were the Gagas, or Gindes, that came from Sierra de lion [Serra Leoa], and passed through the city of Congo, and so travelled to the eastward of the great city of Angola, which is called Dongo.Pag. 33 - In all this camp there were but twelve natural Gagas that were their captains, and fourteen or fifteen women. For it is more than fifty years since they came from Serra de Lion, which was their native country. But their camp is sixteen thousand strong, and sometimes more.Pensa-se que Andrew Battel deveria ser pouco mais que analfabeto, sabendo-se que a sua narrativa foi passada oralmente a Samuel Purchas e depois a uma outra pessoa que a transcreveram. Assim, do primeiro trecho, existe esta outra redaco: He saith they are called Iagges by the Portugals, by themselves Imbangolas (which name argues them to be of the Imbij and Galae before mentioned) and came from Sierra Liona.Daqui surgiu concluso de chamar Imbangalas a estes Jagas do centro e sul de Angola, no que eu tenho alguma reserva pelas razes que apontarei a seguir. Sobre estes Jagas do sul e centro de Angola, sabemos muito mais do que acerca dos do Norte, havendo fontes coetneas que nos falam deles. No cultivavam a terra e viviam permanentemente roubando as populaes, que assaltavam e aterrorizavam com ferocidade. Os seus chefes, que eram conhecidos como o jaga Fulano (no singular), no eram hereditrios mas sim escolhidos entre os guerreiros mais valentes e mais ferozes.As suas mulheres no eram autorizadas a criar os filhos que tivessem, nem podiam mesmo dar luz no permetro do quilombo (acampamento). As fontes sugerem que poderiam tentar entregar a outras os recm-nascidos para serem criados. Possivelmente, poderiam tambm fugir dos quilombos quando soubessem que estavam grvidas. Mas as que tentassem conservar os filhos consigo no quilombo eram sujeitas pena de morte. Os grupos eram depois reforados com os adolescentes de ambos os sexos, mas sobretudo rapazes, que eram capturados nos assaltos s populaes. Tinham depois de provar a sua valentia, designadamente, matando algum nas lutas em que continuamente participavam. Os adultos, velhos e crianas capturados nesses assaltos, eram vendidos como escravos ou assassinados. Assim sendo, a ascendncia dos grupos de Jagas depressa se modificava. Vimos como Andrew Battel diz que, dos 16 000 Jagas do grupo, apenas 12 eram Jagas originrios dos que, cerca de cinquenta anos atrs, tinham vindo de fora de Angola, ou seja, Imbangalas. (Ele diz que teriam vindo da Serra Leoa, o que se pe em dvida). No me parece assim fazer muito sentido, cham-los Imbangalas, j que a composio dos grupos ia variando em termos de raas. Isto apesar de, segundo a tradio, ainda no sec XIX, os jagas do Cassanje se designarem a si mesmos bngalas (singular: kimbangala), conforme diz Henrique Dias de Carvalho, na sua Etnografia.Mas o nome Jaga assenta-lhes perfeitamente, tal como refere E.G. Ravenstein, ao anotar a narrao de Andrew Battell: Jaga or Jaka is a military title, and by no means the name of a people. The predatory man-eating bands at whose head they invaded the agricultural districts towards the sea coast, included elements of all kinds, not unlike the bands of the "Zulu" of our own time; and hence, one of the names by which they became known in Angola was Bangala.Os portugueses (e tambm Battell) acusavam os Jagas de serem antropfagos e de comerem todos os inimigos. Parece mais sensato considerar que havia rituais canibalsticos. Veja-se o texto do militar Francisco de Salles Ferreira (Anexo 1), onde se referem apenas cerimoniais desse tipo e no um consumo de carne humana como alimento habitual. Quando os Jagas deixavam de ser nmadas e se estabeleciam em determinado territrio com continuidade, abandonavam as prticas mais anormais, nomeadamente a de eliminarem os recm-nascidos. Foi o caso de Jinga quando tomou Matamba e se converteu pela segunda vez ao Cristianismo. Alis, na altura das pazes com os Portugueses, estes exigiram a Jinga que entregasse o jaga Calandula, que se tinha refugiado junto dela. Vejamos o que dizem algumas da fontes coevas sobre os Jaga: Cadornega, ao bom gosto portugus, justifica com uma lenda o facto de os Jagas no criarem os filhos: 3. vol.- Pag. 222 - Lenda adiantada por Cadornega: os ritos que seguem e observam, de matarem os filhos que nascem em seus quilombos e arraiais, procedeu de uma senhora que tiveram ficar sem filhos, por ser estril, a qual, sendo j velha, irritada de no ter quem lhe sucedesse em o senhorio, ou por o demnio assim lhe infundir para dano de tantas almas, mandou a um recm nascido pisar em um pilo ou quino, que assim lhe chamam, onde pisam o milho para sua farinha, e feito em moada ou p, o deu a todos os seus principais vassalos a beber, fazendo com eles pacto e juramento de no consentirem mais parisse ou criasse em seus quilombos e arraiais nenhuma criana que neles nascesse, nem houvesse fmea que neles a parisse, com pena de morte: barbaridade e pragmtica notvel e tirana! E de ento para c seguiram esse diablico abuso, observando-o como se fora preceito divino." evidente que a lenda no tem qualquer razo de ser. A razo por que os Jagas no criavam os filhos era para se movimentarem mais rapidamente de um lado para outro e poderem fugir se necessrio fosse. Depois de explorada uma regio, e tendo saqueado tudo o que havia para roubar, tinham de mudar o quilombo para outro lado. sintomtico que, para fazerem o marufo (vinho de palma), no subiam s rvores para colher a seiva, mas arrancavam-nas pela raiz e deixavam-nas secar depois de extrada a mesma seiva. Eram essencialmente parasitas. Quanto ao recrutamento de novos elementos, diz Cadornega:3. vol. - Pag. 223 - E os que nascem nas fazendas e arimos fora do quilombo, sendo j rapagotes, os trazem para o seu arraial e os recebem nele em som de guerra, com grande algazarra e matinada de instrumentos blicos, como se fora entrado o seu arraial de alguma gente inimiga; e dos que fazem mais conta e tm por seus filhos, so os que apanham nas guerras e conquistas, e o que sai melhor soldado lhe procede no senhorio, assim em o senhor do quilombo por votos e eleio, como nas casas dos principais macotas e capites Os portugueses lidaram tambm com os Jagas, umas vezes como inimigos, outras como aliados. O Governador Luis Mendes de Vasconcelos (1617 1621) teve a ideia de os usar como aliados na guerra contra as populaes revoltadas, o que nem sempre deu bons resultados. Era de facto, aliar-se com o diabo. Em Angola um exrcito em campanha compreendia alguns soldados brancos, que quase nunca excediam as centenas, uma ou outra pea de artilharia (muito eficaz), nenhuma cavalaria e tambm a guerra preta: por um lado, os empacaceiros, armados de arcabuzes (o nome vem de matar pacaas, grandes antlopes); depois, nativos armados de catanas, arco e flechas e azagaias. Estes ltimos eram conhecidos pelo nome de quimbares. A eficincia da guerra preta era muito reduzida, como natural, ao estarem a lutar contra irmos de raa. Em Ambuila, em 29 de Outubro de 1665, calcula-se que tenham fugido antes da batalha mais de 4 000 quimbares, o que foi muito lamentado pelos Portugueses, porque teriam permitido a captura de muito mais prisioneiros para serem vendidos como escravos.Pareceu a Luis Mendes de Vasconcelos que, se em vez de quimbares medrosos, tivesse ao seu lado os ferozes Jagas, teria muito mais sucesso. E assim aconteceu, mas com a consequncia que no se limitavam a ganhar as batalhas, mas arrasavam tambm tudo o que lhes aparecia na frente. Outro Governador, Ferno de Sousa (1624 1630) fala-nos dos Jagas, com mais realismo e sensatez: As guerras de Angola no so todas justas e, quando o so, nem por isso so justamente cativas as peas de escravos que se tomam nelas, por no concorrerem os requisitos necessrios para serem bem cativas.As que fazem aos Jagas so justssimas porque gente mpia, inimiga comum, feroz e diablica: Porque no lavram, nem semeiam, nem procuram posteridade, porque somente tratam dos que so soldados e todos os mais comem e tm aougues pblicos de carne humana, e os que no comem os vendem. Andam sempre vagando, e tudo assolam e queimam, sem deixar coisa viva; so grandes traidores, toda a sua guerra por manha, porque no tm palavra.Os Jagas mais poderosos so dois, Casa Cangola, que foi baptizado e serviu Sua Majestade connosco, fugiu ao governador Luis Mendes de Vasconcelos, andou sempre fazendo guerra aos Songos, Canguelas, e Malembas. Chama-se [o outro] Dom Joo Cassanze que andou fazendo guerra a Matamba e da fugiu de nosso quilombo para o Congo, levava 80 mil arcos e da foi para o Rio Coango.ZENZA ANGUMBE - Este jaga menos poderoso, anda na Tunda, e j serviu Sua Majestade por ordem minha na Quiama mas com pouca f.COANZA Coanza outro jaga de pouca fama.GUNZA Gunza tambm pequenoCUMBY RYANGUMBO Cumby Ryangumbo jaga que vive da banda da Quiama na Demba onde esto as minas do sal com favor de Enguele.QUINDA - Quinda anda na provncia da Tunda, quis amizade comigo, mas no lha aceitei por no ser fiel e recebermos dano dele por traio.CALUNGA CAQUICOANZA Este jaga me parece o mesmo Coanza [referido] acima, anda na Tunda.(Fontes para histria de Angola, 1. vol., pag. 210)Um aliado dos portugueses nas campanhas contra Jinga foi o jaga Cabuco Candonga, a quem Cadornega chama o nosso jaga Cabuco, muito respeitado pelo seu valor militar; mais tarde, traiu os Portugueses e juntou-se a Jinga, sendo ento capturado e exilado para o Brasil. No refiro aqui o que diz o Capuchinho Giovanni Cavazzi de Montecuccolo, porque este autor tem uma ntida tendncia para o exagero e para a inveno. J merece muito mais ateno o bigrafo da Rainha Jinga, Fr. Antnio de Gaeta (ou Fr. Antnio Romano, como lhe chamaram os confrades Capuchinhos para esconder que ele era de Gaeta e, portanto, sbdito espanhol, pois Gaeta pertencia ao Reino de Npoles Portugal proibira a ida de missionrios espanhis para Angola):Pag. 212 - Os exrcitos dos Jagas so compostos de diversas naes de pretos gentios, homens cruis e rebeldes que, fugindo da ptria e dos seus senhores naturais, ou de patres de quem eram escravos, se do a fazer uma vida brbara e desumana.Pag. 392 e ss- Cap. XXXI Quem so os povos Jagas e por que so assim chamados; os seus brbaros costumes, e ritos; o bestial orgulho e desumana crueldade. Tal como os Ciganos, tambm os Jagas vagueiam pelo mundo e no tm casa prpria. Casam-se com as escravas que aprisionam na guerra.O matar os prprios filhos a coisa mais terrvel que fazem os Jaga. As mulheres grvidas, que esto parto do parto, so mandadas para os bosques para dar luz e ali abandonam os recm nascidos. ..Os Jagas gastam o tempo a fumar, tocar, cantar e bailar; a beber; na luxria; e finalmente em ir guerra, e exercitar a milcia, para roubar, saquear, destruir e empanturrar-se de carne humana. .Vo guerra para fazer dos prisioneiros escravos que vendem aos portugueses..Foram 5 os exrcitos de Jaga desbaratados por Jinga: Quisumbe, Cahete, Catubia, Cabuco e Calanda. .Os Jagas foram muito importantes na vida de Jinga, que se aliou a eles, primeiro para combater os Portugueses e depois para conquistar o Reino de Matamba. Amancebou-se com chefes Jaga por duas vezes, para ter a cooperao destes: primeiro com o jaga Casa Cangola e depois com o jaga Cassanje.Ela mesma o confessou na carta de 13 de Dezembro de 1655, dirigida ao Governador Luis Martins de Sousa Chichorro (1654 1658): ...porque estou to queixosa dos governadores passados, que me prometeram entregar minha Irm, pela qual tenho dado infinitas peas e feito milhares de banzos e nunca ma entregaro, mais, antes moviam logo guerras, com que me inquietaram e fizeram sempre andar feita jaga, usando tiranias, como no deixar criar crianas, por ser estilo de quilombo, e outras cerimniasTambm se refere aos Jagas o Jesuita Pierre du Jarric, mas este nunca esteve em Angola; para se documentar recebeu informaes dos seus confrades: Page 11 2. vol.- il y a certains peuples du cot dOrient. que les Congians appellent Giachas, combien quils se nomment Agag, lesquels ne vivent que de voleries, et larcins, molestant fort les habitants de cette Province. Lesquels pour cette cause doivent tre toujours en armes, pour se dfendre contre ces gensl et on besoin darquebuziers; car ces barbares craignent sur tout les arquebuzades. Lon peut amasser en cette seule Province, jusques septante ou quatre vingt mille combatants. Mas nisto, ele baseia-se sobretudo na obra de Lopes-Pigafetta, como ele mesmo diz:2. vol. Pag. 66 - Il (o Rei) choisit donc (como Embaixador) cet effet un Portugais nomm Edouard Lopes, des mmoires duquel Pigafetta Italien a tir tout ceci, et nous de lui. Os grupos Jaga extinguiram-se quase todos no sec. XVII, acabando por se incorporar na populao. Foi excepo o grupo do jaga Cassanje que ocupou a Baixa do Cassanje, junto do Rio Coango e constituiu o Jagado do Cassanje, que durou at quase ao fim do sec. XIX, quando foi atacado diversas vezes pelas tropas portuguesas.TEXTOS CONSULTADOS Birmingham David, The Date and Significance of the Imbangala Invasion of Angola,in The Journal of African History, Vol. 6, No. 2 (1965), pp. 143-152Vansina, Jan, More on the Invasion of Kongo and Angola by the Jaga and the Lunda, in The Journal of African History, Vol. 7, N. 3 (1966), pag. 421-429Miller Joseph C., The Imbangala and the Chronology of Early Central African History, The Journal of African History, Vol. 13, No. 4 (1972), pp. 549-574Miller, Joseph C., Requiem for the Jaga, in Cahier dtudes africaines, Anne 1973, Volume 13, Numro 49, pag. 121-149 Online: http://www.persee.frThornton, John K., A Resurrection for the Jaga, in Cahier dtudes africaines, Anne 1978, Volume 18, Numro 69, pag. 223-227 Online: http://www.persee.frMiller, Joseph C., Thanatopsis in Cahier dtudes africaines, Anne 1978, Volume 18, Numro 69, pag. 229-231 Online: http://www.persee.frBontinck, Franois, Un mausole pour les Jaga, in Cahier dtudes africaines, Anne 1980, Volume 20, Numro 79, pag. 387-389; Online: http://www.persee.frHilton, Anne, The Jaga reconsidered, The Journal of African History, Vol. 22, No. 2 (1981), pp. 191-202Vansina, J., e T. Obenga, Le Royaume de Kongo et ses voisins, in LAfrique du XVIe au XVIIIe sicle directeur Professeur B.A. Ogot. Edition abrge. Paris. UNESCO. 1998 605 p. ISBN 92-3-201711-3Pinto, Paulo Jorge de Sousa, Em torno de um problema de identidade: os Jaga na Histria do Congo e de Angola, in Mare Liberum, n. 18/19, 1999/2000, pags. 193-243, ISSN 0871-7788Heintze, Beatrix, The Extraordinary Journey of the Jaga through the Centuries: Critical Approaches to Precolonial Angolan Historical Sources, in History in Africa, Vol. 34, 2007, pp. 67-101Vansina, Jan, On Ravensteins edition of Battells adventures in Angola and Loango, in History in Africa, n. 34 (2007) pag. 321-347Jan Vansina, "Foundation of the Kingdom of Kasanje, The Journal of African History, vol. 4, n. 3 (1963), pp. 255 - 374The strange adventures of Andrew Battell of Leigh in Angola and the adjoining regions, ed. with notes E. G. Ravenstein, London, Hakluyt Society, 1901, 210 p.Online: www.archive.org

Purchas, Samuel, "The strange adventures of Andrew Battell of Leigh in Essex,sent by the Portuguese prisoner to Angola, who lived there,and in the adjoining regions, near eighteen years" from Hakluytus Posthumus or Purchas his PilgrimesOnline: http://www.erbzine.com/mag18/battell.htm Cadornega, Antnio de Oliveira de, Histria geral das guerras angolanas - 1680, anot. e corrigido por Jos Matias Delgado, Lisboa, Agncia-Geral do Ultramar, 1972, 3 vols., Reproduo fac-similada da ed. de 1940Catlogo dos Governadores do Reino de Angola, no Tomo III, parte I da Coleco de notcias para a histria e geografia das naes ultramarinas que vivem nos domnios portugueses ou lhes so vizinhas, Lisboa, na tip. da Acad. Real das Sciencias, 1825. Obra em 7 volumes, publicados de 1812 a 1856 Online: http://books.google.com

Filippo Pigafetta (1533-1604) e Eduardo ou Duarte Lopes, (1550?-16..?), Relatione del reame di Congo et delle circonvicine contrade; tratta dalli scritti e ragionamenti di Odoardo Lopez portoghese per Filippo Pigafetta, Roma : B. Grassi, 1591, [VI]-82 p. ; in-8 Online: http://gallica.bnf.fr/document?O=N105751

Lopes, Duarte et Filippo Pigafetta, Le Royaume du Congo & les contres environnantes (1591), traduction, annote et prsente par Willy Bal, Paris, Chandeigne, UNESCO, cop. 2002, 383 pag., ISBN 2-906462-82-9Cavazzi de Montecuccolo, Pe. Joo Antnio (1622-1692), Descrio histrica dos trs reinos do Congo, Matamba e Angola, trad., notas e ndices pelo Pe. Graciano Maria de Leguzzano, introd. bibliogrfica por F. Leite de Faria, Lisboa, Junta de Invest. do Ultramar, 1965, 2 vols. Antonio da Gaeta, La maravigliosa conversione alla santa fede di Cristo della Regina Singa e del suo regno di Matamba nellAfrica Meridionale, Napoli, per Giacinto Passaro, 1669, 463 pag.Histoire des choses les plus mmorables advenues tant ez Indes orientales que autres pas de la descouverte des Portugais, en l'establissement & progrez de la foy chrestienne & catholique : et principalement de ce que les Religieux de la Compagnie de Jesus y ont faict, & endur pour la mesme fin. Depuis qu'ils y sont entrez jusqu' l'an 1600, Ddie au Roy trs Chrtien de France et de Navarre Louis XIII. Par le P. Pierre du Jarric, Tolosain, de la mme Compagnie. Bordeaus, par Simon Millanges, Imprimeur ordinaire du Roy, 1610.Heintze, Beatrix, Fontes para a histria de Angola do sculo XVII, I colab. Maria Adlia de Carvalho Mendes. Stuttgart : Franz Steiner Verlag Wiesbaden, 1985. - 419 p. : mapas, quadros. - Studien zur Kulturkunde. 75). - Memrias, relaes e outros manuscritos da colectnea documental de Ferno de SousaHeintze, Beatrix, Fontes para a histria de Angola do sculo XVII, II / colab. Maria Adlia de Carvalho Mendes. Stuttgart : Franz Steiner Verlag Wiesbaden, 1988. - 430 p. : fotos, quadros. - Studien zur Kulturkunde. 88). - Cartas e documentos oficiais da colectnea documental de Ferno de SousaHenrique Dias de Carvalho (1843-1909), O jagado de Cassange na Provincia de Angola, Lisboa, Typ. de Cristovo Augusto Rodrigues,1898, 442 p.Online: www.archive.orgHenrique Augusto Dias de Carvalho, Expedio portuguesa ao Muatinvua (1884-1888): Ethnographia e historia tradicional dos povos da Lunda, Lisboa, Imprensa Nacional, 1890, 731 p. Online: www.archive.orgAntonio Rodrigues Neves, Memria da expedio a Cassange comandada pelo Major graduado Francisco de Salles Ferreira em 1850, Lisboa, Imprensa Silviana, 1854, 129 p.Online: www.archive.org

Anexo 1MEMRIASOBRE O SERTO DE CASSANJEDuas coisas me convidam a fazer esta memria sobre Cassanje e so: 1. A importncia deste serto, porta dos sertes da Lunda, por onde vem o grosso do comrcio de Angola; e 2. os acontecimentos que ali ultimamente tiveram lugar.Tendo ido em 1850 a Cassanje testa da Diviso Portuguesa, que acabava de submeter o serto do Bondo, onde depus o Soba Andula Quissua, e fiz colocar no estado o leal e prudente Quissua Camoaxe, que hoje bem governa aquele importante serto, e havendo sido eu obrigado por dignidade do Governo Portugus a invadir a Capital do Estado do Jaga Cassanje, D. Pascoal Machado, por circunstncias hoje bem conhecidas, para que de novo as relate, e mesmo porque acabo de o fazer no Dirio que escrevi daquela expedio, e tendo ouvido a alguns velhos a histria de Cassanje, desde o tempo em que aquele pas foi ocupado pelos ditos Cassanjes, no achei destituda de interesse a narrao que me fizeram, para deixar de tomar alguns apontamentos sobre ela, certo de que ser de bastante curiosidade para muita gente o conhecimento desta Memria.CAPTULO 1.Cassanje, propriamente dito, fica nas terras entre o Bondo Songo, e Rio Quango, que o Zaire.Avanar um passo sobre a histria deste pas antes da ocupao dele pelos Cassanjes coisa por certo impossvel, sem talvez cair em equivocaes. Sabe-se contudo que este pas de achava ocupado pelos povos Quilambas, divididos em diferentes pequenos Estados, ou Sobados, tais eram Quilamba Muauzumbe Quizinga Quicungo Quiaupenge Cunga Muxinda Lubolo Bango Aquissua Dambe Aquissua- Indua Quissua. Cassanje uma extensa plancie cercada por uma cordilheira de montanhas, que comeando nas margens do Quango, na extrema do Quembo, vem descrevendo uma curva em volta da plancie, servindo de fronteira ao Songo Bondo, e passando o Iliongo, vem terminar outra vez no Quango. Contudo as terras na proximidade do Quango, ou Zaire, no so todas planas, porque h algumas montanhas, ainda que no de grande altura.O Potentado Colaxingo era dos rgulos sujeitos ao Matiamo da Lunda, e sendo expulso daquele Estado, veio habitar o pas que fica entre o Distrito de Ambaca e o Golungo-Alto, mas sendo muito turbulento, foi lanado fora daquelas terras e com seu povo foi formar suas senzalas nas terras em que hoje se acham estabelecidos, e mudaram o nome terra, dando-lhe o ttulo do seu Jaga. Nada se pode referir a pocas certas, porque a fonte donde tirei estes apontamentos foram, como j disse, os velhos Maquitas, que recebendo de seus pais e avs por tradio estas notcias, j se v que nada podiam dizer das datas de sua histria. O primeiro Jaga estabelecido em terras Portuguesas chamava-se Colaxingo, e pelas sua morte, sua famlia tomou por apelido o nome de seu Chefe, e foi desta famlia que, por no sei quanto tempo, se tiravam os Jagas que governavam o Estado, at que de Libolo veio o rgulo por nome Gonga, poderoso, e assentou com seu povo a sua residncia em terras de Cassanje, e por ser temido, foi convidado pelos Cassanjes, para com os de sua famlia entrarem no Estado, sucedendo aos de Colaxingo, no que convieram; mas os de Colaxingo, mais por medo que por simpatia, propuseram este pacto, pois temiam muito os da famlia Gonga, e assim ficaram sendo estas duas famlias as nicas que tinham direito ao estado de Jaga; algum tempo depois veio dos Estados do Rei Ginga outro rgulo chamado Calunga, e pelas mesmas circunstncias que concorreram em Gonga foi convidado a ter entrada no Estado, e esta a origem de estar hoje o Estado de Cassanje nas trs famlias de Colixingo Gonga e Calunga. Comearam os Songos a transitar o caminho da Lunda para Cassanje, caminho muito mais curto que o do Songo Grande, e da vem a origem da Feira do Cassanje, porque alguns portugueses comearam a ir ali comerciar pela abundncia de marfim que os Cassanjes traziam da Lunda: os Jagas consentiram no estabelecimento da feira, mas conservando o caminho oculto, e no consentindo que Portugus algum passasse alm do Rio Zaire ou Quango. CAPTULO 2.Eleio do Jaga, e cerimnias que se seguiam a este acto.Tratei no Captulo antecedente do estabelecimento dos Cassanjes nas terras em que actualmente se acham, e da forma por que se estabelecem para a sucesso: - trato agora da forma da eleio, que se seguia a este acto. Morto o Jaga, o Tendala quem convoca o colgio eleitoral, que composto dos Macotas, Cazas, Catondo, e Tendala, que reunidos comeam por descortinar e examinar a qual das famlias pertence o Estado: decidida esta questo, trata-se de ver qual a pessoa que deve ser eleita; e aqui h sempre grandes questes, e s vezes chegam a vias de facto, quero dizer, a pegar em armas, para por elas decidir a contenda; mas ordinariamente no se chega a tanto, porque os Macotas tm o cuidado de guardar grande segredo sobre quais so os que tm votos, ou so indicados por cada um dos membros do Colgio eleitoral. Terminadas estas questes, e decidido definitivamente quem deve ser o eleito, passa o Catando a formar uma casa e quintal que deve receber o novo Jaga, assim como os outros Macotas a fazerem suas casas prximas quela, e a esta senzala se chama Quilombo do Catando; marcada a hora para a cerimnia, vai o Tendala ao lugar em que est o eleito, entre na casa, e, maneira de que agarra um assassino, o conduz fora da casa, e a, reunido o povo, comea a grita, e toques de marimbas, e tambores, e o novo Jaga levado s costas de seus filhos at ao lugar do Quilombo: metido na casa que lhe est preparada, e por espao de muitos dias ningum mais o v, a no ser dois parentes, e o Tendala. Passados dois meses, vai o Jaga habitar por 20 ou 30 dias uma casa de antemo preparada na margem do Rio Undua, (rio clebre por dar o nome ao terrvel e mortal juramento) e nesta casa o Jaga presente a depor todos os Maquitas do Estado, e aqui nomeia os Macotas da segunda ordem, e mais dignidades de Quilambo, que so vitalcios, excepo dos trs eleitores que so hereditrios nos sobrinhos, e aqui escolhe a sua Bansacuco, principal mulher do Jaga. No fim do tempo marcado, vem o Jaga acompanhado de todo o Estado para o lugar em que deve formar o seu Quilombo, e depois de concorrerem todos, o Jaga arma o arco, dispara uma frecha, e aonde ela for cair nesse lugar que se edifica a sua casa, a que se chama Semba e em volta dela se formam as casas da Bansacuco, e das outras concubinas, que s vezes chegam a 50, que tantas teve o Jaga Bumba: depois seguem as pequenas senzalas das casas dos Macotas, suas concubinas, e mais povo, que pertencia ao antecessor do eleito Jaga, isto , o povo que ele trouxe da senzala, aonde era Maquita. Resta o sambamento, ltima das cerimnias para o Jaga ficar no pleno gozo da sua soberania. No tem marcada a poca do Sambamento depois da eleio, pelo menos, se se acha, os Jagas no o tm cumprido, porque at alguns no o tm feito, e tm morrido, sem esse brbaro estilo. (O cerimonial do Sambamento foi abolido, quando se celebrou o baptismo do Jaga D. Fernando, permitindo-se contudo o banquete, mas sem derramamento de sangue humano). Quando o Jaga resolve fazer o Sambamento, manda ao Songo a algum dos Sobas buscar o nicango, que um preto que no tenha relao de parentesco algum com ele Jaga nem Macota algum: chegao o nicango, tratado no Quilombo da mesma maneira que o Jaga, nada lhe falta, e at se cumprem as suas ordens como emanadas do Jaga. Designado o dia do Sambamento, so avisados todos os Maquitas, e o maior nmero de pessoas dele que possa vir ao Quilombo, e no dia marcado, na frente da casa do Jaga se colocam todos os Maquitas e Macotas no crculo, e reunido em volta o povo, senta-se no centro o Jaga no banco de ferro, que tem um palmo de alto com o assento em forma circular, cncavo, e furado no centro, e coloca-se ao lado a Bansacuco, e mais concubinas, e comea o Cassanje Cagongue a tocar no Gongue, que so duas campas de ferro, com um varo de palmo de comprido, tangendo o Cassanje Cagongue as campas durante o cerimonial; trazido o nicango, e voltado de costas na frente do Jaga, este com um cutelo de meia lua abre o nicango pelas costas at lhe arrancar o corao, que trinca e lana fora, para depois ser queimado. Feito isto, os Macotas pegam no corpo do nicango, e voltam sobre o ventre do Jaga todo o sangue que sai pelo furo da cavidade aonde estava o corao; tendo cado no banco, sai pelo furo que tem, e imediatamente os Maquitas, esfregando as mos no lugar onde cai o sangue, esfregam o peito e barba, fazendo grande grita, exclamando que o Jaga grande: e esto cumpridos os ritos do Estado. O nicango levado para distncia, aonde esfolado, dividido em pequenos bocados, e cozinhado com carne de boi, co, galinha e outros animais e, pronta a comida, servido o Jaga, depois os Macotas, Maquitas, e todos os do povo reunidos, e desgraado do que lhe repugnar tal comida, porque vendido como escravo, e toda a famlia; e depois de muitas danas, e cantorias, termina o Sambamento. Era costume mandar ao Director da feira de Cassanje uma perna do nicango, mas o Director voltava a oferta com o tributo de uma ancoreta de aguardente, e fazendas, sem o que o Jaga no consentia que lhe voltasse o que havia mandado, e houve um Jaga, que por o Director repugnar a oferta, e no mandar o tributo, quis obrig-lo como seu sbdito a comer da carne do nicango, o que se comps, satisfazendo o Director ao costume. O Jaga que tivesse sambado ordinariamente no vivia mais que dois anos depois desta cerimnia porque o matavam, no s porque os interessados queriam ir ao Estado, mas porque os Macotas recebem nas eleies muitos presentes. Alm deste assassinato, quando o Jaga sonhava com algum dos seus antecessores, no dia imediato mandava-lhe dois escravos de presente, e estes desgraados eram esquartejados sobre a sepultura do presenteamento: isto era muito ordinrio como se pode supor em gente to supersticiosa.CAPTULO 3.Morte e funeral do JagaQuando os Macotas viam que a doena que acometia o Jaga era grave, tratava-se de despedir todos da casa, e este entregava ao sobrinho herdeiro (Bumba Ata) todos os escravos, e mais haveres do Jaga, deixando s seis escravos para o caso de morte, como abaixo se v, e o enfermo era ordinariamente sufocado, e esta era a maior parte das vezes a morte do Jaga de Cassanje. Morto o Jaga, conservado no lugar em que morre trs dias, no fim dos quais o Tendala lhe arranca um dente, que entregue ao herdeiro, que o deve apresentar ao novo Jaga para ser colocado com os dos outros Jagas na caixa das malungas (atributos do Estado, sem os quais Jaga algum pode exercer o estado); depois vestido com os melhores panos, e na prpria casa em que morre se forma uma espcie de carneiro, aonde colocado com os seis escravos vivos e, depois de chio de terra o carneiro, por todo o espao do Quilambo, se plantam rvores, e abandonado por todo o povo; os que pertenciam ao defunto vo habitar outra senzala com o herdeiro, que fica sendo Maquita, com o nome do Jaga, e os que pertencem aos Macotas vo com seus senhores formar senzalas at nova eleio. CONCLUSOEm consequncia da conquista feita das terras do Cassanje e Hiongo, pela rebelio do ex-Jaga Bumba, e dos assassinatos dos dois Feirantes, ficou Cassanje sujeito Coroa como domnio Portugus, e por essa ocasio foram abolidos todos os usos gentlicos, que fossem contra a Religio Catlica, e Leis Portuguesas. de esperar que o Governo, tomando em considerao to til aquisio, como a vassalagem de Cassanje (donde nos vem todo o marfim, e grande parte da cera que se exporta de Angola), d todas as providncias para a conservao do que com tanto trabalho se alcanou, porque dali depende o pouco comrcio que tem a Provncia de Angola.Luanda, 20 de Abril de 1853Francisco de Salles Ferreira, Major de Infantaria.[Annaes do Conselho Ultramarino (Parte no oficial),Srie 1 (Fev. de 1854 a Dez. de 1858), Lisboa, Imprensa Nacional, 1867, p. 26-28.]