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Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2005 / pp. 31-53 ISSN 1677-1222 Os últimos dias: os pentecostais e o imaginário do fim dos tempos * Robson Franco Guimarães ** [robson04 uol.com.br] Resumo O pentecostalismo brasileiro, em suas diferentes expressões, vem sendo investigado, por diferentes pesquisadores, devido ao seu expressivo crescimento no número de adeptos e à sua visibilidade. Porém, sobre a relação entre pentecostalismo e escatologia somente tem sido apontada, indiretamente, sua importância nas origens do movimento pentecostal. Este estudo busca compreender a mentalidade dos pentecostais da Assembléia de Deus de Belo Horizonte (MG) relacionada ao imaginário do fim dos tempos, nas três últimas décadas do século passado, interligando uma análise da hermenêutica bíblica desse grupo relacionada à emergência dos últimos dias, com sua interpretação dos acontecimentos históricos à luz da perspectiva do fim da história e com a construção de uma identidade própria e diferenciadora de outros grupos cristãos, na qual a escatologia é um dos elementos centrais. Foram pesquisados depoimentos orais e fontes escritas. Palavras-chave: Pentecostalismo, escatologia, identidade, imaginário Abstract A number of researchers have investigated aspects of Brazilian Pentecostalism motivated in part by its significant growth and visibility. However, when it comes to eschatology, researchers limit themselves to mentioning its importance in the origins of the Pentecostal movement. Little has been said about the ongoing relations between eschatology and Pentecostalism. This study investigates Pentecostal attitudes toward the End Times, exploring interrelations between (1) biblical hermeneutics concerning the emergence of the "last days"; (2) interpretations of historical events from the perspective of the "end of history"; and (3) the central role of eschatology in constructing an identity distinct from that of other * Este texto é uma versão modificada do capítulo 2 da dissertação de mestrado intitulada Os últimos dias: crenças, sentimentos e representações dos pentecostais da Igreja Assembléia de Deus em Belo Horizonte relativos ao imaginário do fim dos tempos, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), sob a orientação do Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth. ** Mestre em Ciências da Religião (UMESP). www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_guimaraes.pdf 31

Os últimos dias: os pentecostais e o imaginário do fim dos tempos*

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Os últimos dias: os pentecostais e o imaginário do fim

dos tempos*

Robson Franco Guimarães** [robson04 uol.com.br]

Resumo

O pentecostalismo brasileiro, em suas diferentes expressões, vem sendo investigado, por

diferentes pesquisadores, devido ao seu expressivo crescimento no número de adeptos e à

sua visibilidade. Porém, sobre a relação entre pentecostalismo e escatologia somente tem

sido apontada, indiretamente, sua importância nas origens do movimento pentecostal. Este

estudo busca compreender a mentalidade dos pentecostais da Assembléia de Deus de Belo

Horizonte (MG) relacionada ao imaginário do fim dos tempos, nas três últimas décadas do

século passado, interligando uma análise da hermenêutica bíblica desse grupo relacionada à

emergência dos últimos dias, com sua interpretação dos acontecimentos históricos à luz da

perspectiva do fim da história e com a construção de uma identidade própria e

diferenciadora de outros grupos cristãos, na qual a escatologia é um dos elementos centrais.

Foram pesquisados depoimentos orais e fontes escritas.

Palavras-chave: Pentecostalismo, escatologia, identidade, imaginário

Abstract

A number of researchers have investigated aspects of Brazilian Pentecostalism motivated in

part by its significant growth and visibility. However, when it comes to eschatology,

researchers limit themselves to mentioning its importance in the origins of the Pentecostal

movement. Little has been said about the ongoing relations between eschatology and

Pentecostalism. This study investigates Pentecostal attitudes toward the End Times,

exploring interrelations between (1) biblical hermeneutics concerning the emergence of the

"last days"; (2) interpretations of historical events from the perspective of the "end of history";

and (3) the central role of eschatology in constructing an identity distinct from that of other

* Este texto é uma versão modificada do capítulo 2 da dissertação de mestrado intitulada Os últimos dias:crenças, sentimentos e representações dos pentecostais da Igreja Assembléia de Deus em Belo Horizonterelativos ao imaginário do fim dos tempos, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências daReligião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), sob a orientação do Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth.

** Mestre em Ciências da Religião (UMESP).

www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_guimaraes.pdf 31

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Christian communities. The study focuses on beliefs within a specific church (the Assembly of

God in Belo Horizonte, Minas Gerais) over the last three decades. It analyzes both oral

interviews with members and doctrinal texts.

Keywords: Pentecostalism, escatology, identity, imaginary

Introdução

Domingo à noite. Culto no Templo Central da Assembléia de Deus em Belo Horizonte, MG.

Depois de decorrido um longo período sem que participasse de uma reunião formal na igreja

em que passei parte da minha infância e adolescência, retorno, agora, com o objetivo de

iniciar minha pesquisa de campo e, também, rememorar alguns fatos e acontecimentos de

anos anteriores que se perderam na minha memória.

Primeira surpresa: a manifestação cúltica da congregação é bastante semelhante àquela das

décadas passadas. Segunda surpresa: é cantado pela congregação um hino que possuía

uma estreita relação com meu objeto de pesquisa:

Quando lá do céu descendo para os Seus Jesus voltar,

E o clarim de Deus a todos proclamar,

Que chegou o grande dia do triunfar do meu Rei,

Eu, por Sua imensa graça lá estarei.

Coro

Quando enfim, chegar o dia

Do triunfar do meu Rei,

Quando enfim, chegar o dia,

Pela graça de Jesus eu lá estarei!

Nesse dia, quando os mortos hão de a voz de Cristo ouvir,

E dos seus sepulcros hão de ressurgir,

Os remidos reunidos, logo aclamarão seu Rei,

E, por Sua imensa graça lá estarei.

Pelo mundo, rejeitado foi, Jesus, meu Salvador.

Desprezaram, insultaram meu Senhor,

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Mas, faustoso, vem o dia do triunfar do meu Rei,

E, por Sua imensa graça lá estarei.

Em mim mesmo, nada tenho em que possa confiar,

Mas Jesus morreu na cruz prá me salvar;

Tão somente nEle espero, sim e sempre esperarei,

Pois, por Sua imensa graça lá estarei.1

O fato de que este cântico ainda estivesse sendo cantado com vigor pela comunidade

apontava para certa perplexidade que viria das entrevistas que seriam posteriormente

realizadas.

Esta pesquisa se iniciou com uma suspeita: a mentalidade escatológica dos pentecostais da

Assembléia de Deus2 e particularmente da Assembléia de Deus em Belo Horizonte teria

conhecido seu ápice entre os anos 80 e início dos 90. Por quê? Politicamente, o Brasil

superava o apogeu da ditadura militar lentamente em direção à distensão do regime

autoritário e à democratização, passando da perseguição aos comunistas e aos opositores

do regime para o retorno dos perseguidos através da anistia e à abertura política. Por outro,

o debate em torno do perigo da destruição do mundo através de uma hecatombe nuclear

tornava-se mais acessível ao homem comum, principalmente através da popularização da

mídia.3 A televisão começava seu ritmo espantoso de crescimento em direção a todas as

classes sociais brasileiras, a partir de fins dos anos 60 e início dos 70, tornando mais fácil o

acesso à informação da população, apesar da tentativa de controle dos meios de

comunicação através da censura.4 Dentro do ambiente pentecostal, os livros e as matérias

jornalísticas de conteúdo apocalíptico reproduziam, com certas peculiaridades, o imaginário

da sociedade brasileira. Depois deste período, esta mentalidade conheceu uma fase de

1 H. M. Wrigth, O dia do triunfo de Jesus. In: Harpa Cristã.

2 A classificação das igrejas pentecostais tem gerado um intenso debate entre os pesquisadores. Como nossotrabalho visa estudar um grupo pertencente a uma igreja considerada pentecostal clássica, sobre a qual hámenos disputa, não nos deteremos nessa questão. Há excelentes trabalhos publicados que retomam essadiscussão (P. FRESTON, 1993; R. MARIANO, 1999; L.S. CAMPOS, 1997; B. M. SOUZA, 1998).

3 E. HOBSBAWN, Era dos extremos, p. 241.

4 T. SKIDMORE, Brasil: de Castelo a Tancredo, p. 222.

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latência entre aqueles pentecostais que viveram estes anos, se estendendo até os dias

atuais, conforme será verificado mais adiante.

Primeira definição necessária. O que entendemos por mentalidade? Segundo Le Goff, o

substantivo mentalidades agrupa as noções de grupo de crenças, de práticas, de sistemas

de valores, de comportamento, de atitudes, de idéias, de costumes, de pensares, de

sentimentos.5

Segunda definição necessária. O que entendemos por escatologia? Para Moltmann:

Na realidade escatologia é idêntica a doutrina da esperança cristã, que abrange

tanto aquilo que se espera, como o ato de esperar, suscitado por esse objeto. O

Cristianismo é total e visceralmente escatologia, e não só a moda de apêndice

(...) De fato, a fé cristã vive da Ressurreição do Cristo crucificado e se estende

em direção às promessas do retorno universal e glorioso de Cristo.6

A definição proposta por Moltmann se insurge contra uma noção puramente dogmática da

escatologia cristã e se aproxima da noção de espera, da esperança de algo novo em

oposição a uma realidade presente. É espera por Cristo, pelo Cristo ressuscitado, situada no

porvir, mas que opera mudança no cotidiano dos cristãos e na sua missão e ação salvífica e

transformadora do status quo. Portanto, mentalidade escatológica pode ser definida como

uma preocupação com o porvir vivenciada pelo fiel no presente, que envolve suas crenças,

sentimentos e anseios e que se traduz numa linguagem através da qual espera-se pelo

retorno iminente de Cristo.

O pentecostalismo no Brasil é um fenômeno religioso que tem seu nascimento nos primeiros

anos do século XX. Em seu início, o movimento pentecostal brasileiro possuía uma forte

ligação com seu similar norte-americano, devido ao fato que os primeiros missionários que

aqui aportaram, apesar da nacionalidade européia, eram imigrantes naquele país. Ambos

pentecostalismos se tornaram independentes um do outro, guardando suas próprias

especificidades. Porém, é claro que houve influências provenientes dos primeiros

missionários suecos que chegaram ao Brasil e que possuíam uma cosmovisão forjada no

meio pentecostal de Chicago, EUA.

5 J. LE GOFF, As mentalidades: uma história ambígua. In: História: novos objetos, pp. 68-83.

6 J. MOLTMANN, Teologia da esperança, p. 22.

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Dayton7, ao estudar a pré-história do movimento pentecostal nos EUA, localizando-o no

século XIX, efetua uma busca pelas suas raízes teológicas. Ele sintetiza em quatro

afirmações cristológicas a essência de uma igreja que se diz pentecostal: Cristo como

Salvador, Cristo como batizador com o Espírito Santo, Cristo como aquele que cura

enfermidades e Cristo como Rei que virá outra vez.

Do ponto de vista da história nascente do pentecostalismo norte-americano, a escatologia

seria um dos traços essenciais? Consideraremos dois protagonistas históricos a fim de

iluminar esta questão. Charles Parham é considerado o pioneiro do pentecostalismo nos

EUA. Através de sua direção, estudantes da Escola Bíblica de Betel, em Topeka, Kansas,

foram ensinados a buscarem pela verdadeira evidência do recebimento do Espírito Santo

através do estudo do capítulo segundo do livro de Atos dos Apóstolos. Uma das alunas,

Agnes Ozman, em 01 de janeiro de 1901, se tornou a primeira a falar em línguas estranhas,

experimentando, segundo ele, a evidência inicial do derramamento do Espírito Santo da

mesma forma que os apóstolos no dia de Pentecostes. Nos dias posteriores a esse

acontecimento, o próprio Parham e outros estudantes passaram pela mesma experiência.

Posteriormente, ele iniciou a publicação de um periódico quinzenal, denominado Apostolic

Faith, que se tornou o principal veículo de difusão de seus ensinamentos. "Ele contribuiu

para a definição das doutrinas básicas que posteriormente definiram o movimento

pentecostal: conversão pessoal, santificação, cura divina, pré-milenismo e retorno

escatológico do poder do Espírito Santo evidenciado pela glossolalia" (tradução nossa).8

O afro-americano William Seymour também é considerado um dos mais importantes líderes

da primeira geração pentecostal. Após ouvir Charles Parham em Houston, Texas, ele

recebeu um convite para pastorear uma pequena comunidade em Los Angeles. Teve um

papel destacado no movimento conhecido como Azusa Street Mission. Ele e seus discípulos

contribuiram para dar um caráter mundial ao nascente pentecostalismo, visto que este

movimento se tornou um grande centro de difusão da mensagem pentecostal.

O significado de Azusa foi centrifugal - aqueles que eram tocados por ele

levavam suas experiências para outros lugares e tocavam a vida de outras

7 D. DAYTON, Raíces teológicas del pentecostalismo, p. 123.

8 S. BURGESS; E. VAN DER MASS (Ed.), The new international dictionary of pentecostal and charismaticmovements, p. 955.

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pessoas. Reunidos pela crença e pelos conceitos teológicos de salvação

pessoal, de santidade, de cura divina, do batismo com o Espírito Santo como

autoridade para o ministério, e pela expectativa do iminente retorno de Jesus

Cristo, eram amplamente providos de uma grande motivação para dar ao

despertamento verificado entre eles um impacto de longo alcance (tradução

nossa).9

Estes movimentos relacionavam escatologia e pneumatologia. A crença na atualidade da

experiência do derramamento do Espírito Santo, à semelhança dos tempos apostólicos,

sinalizava que os últimos dias haviam chegado. E esta dupla percepção contribuiu para que

um sentido de urgência se acercasse dos primeiros pentecostais, razão porque um intenso

movimento missionário se alastrou pelo próprio EUA e pelo mundo, nas duas primeiras

décadas do século XX.

A escatologia também poderia ser considerada um tema importante para o pentecostalismo

brasileiro? Alencar, ao estudar em sua dissertação de mestrado a origem e a implantação da

Assembléia de Deus no Brasil, de 1911 até 1946, anota que "A AD [Assembléia de Deus]

tem em seu ethos uma natureza de ‘aversão ao mundo’ que se justifica por razões internas:

sua escatologia iminente não lhe dá tempo para pensar no presente"(grifo do autor).10 Em

outra passagem, após analisar as edições do jornal Boa Semente - primeira publicação

oficial da igreja -, entre os anos de 1919 a 1929, diz: "Há uma forte convicção da verdade

(no caso, doutrina pentecostal) aliada a um senso de urgência (escatologia) de que se

precisa fazer o máximo no menor tempo possível".11 Freston faz uma referência indireta ao

discurso apocalíptico ao afirmar que

O auge da presença sueca foi nos anos 30, com cerca de 20 famílias

missionárias. Depois de 1950, o fluxo praticamente cessou [...] Suecos

ocuparam a presidência da Convenção Geral até 1951. Quando a último leva de

missionários chegava ao Brasil, a sociedade sueca se transformava numa

próspera social-democracia e, depois, na vitrine da sociedade permissiva. O

9 S. BURGESS; E. VAN DER MASS (Ed.), The new international dictionary of pentecostal and charismaticmovements, p. 349.

10 G.F. ALENCAR, Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo e todo louvor a Deus, p. 47.

11 Ibid., p. 74.

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pentecostalismo sueco, por sua vez, adquiria maior respeitabilidade, moderando

seu discurso apocalíptico e estabelecendo uma série de instituições próprias.

Mas essa nova fase do pentecostalismo sueco não deixou marcas na AD do

Brasil.12

Souza, no primeiro livro publicado no Brasil sobre os pentecostais, afirma que "Mencionada

pelos líderes e na literatura doutrinária, a crença a respeito da segunda vinda de Cristo não

constitui para os fiéis, como pudemos observar, motivo de interesse comparável ao

encerrado nas principais doutrinas do Pentecostalismo [batismo do Espírito Santo e dons

espirituais, citadas anteriormente]."13 Estes três exemplos ilustram a dificuldade de se

trabalhar com esta temática da escatologia dentro do pentecostalismo brasileiro, visto que

não houve, até o presente, um aprofundamento por parte dos pesquisadores neste tema

específico.

Nossa investigação transcorreu em duas frentes de trabalho: a primeira analisou as fontes

escritas produzidas pela teologia oficial da igreja, privilegiando as matérias publicadas pelo

jornal Mensageiro da Paz.14 A segunda constou das entrevistas efetuadas com alguns

membros da Assembléia de Deus em Belo Horizonte.15 Por que fazer uma relação entre a

documentação oficial e as entrevistas efetuadas diretamente com os pentecostais? Em

primeiro lugar, no início dos anos 80, o Mensageiro da Paz começou a ter uma penetração

muito grande em algumas igrejas locais, resultado de uma política de expansão da

distribuição, por parte da direção do jornal, realizando uma parceria com os líderes das

igrejas e incentivando a aquisição, com preços reduzidos. Lançou-se, então, uma campanha

nacional de ampliação do público leitor e da base de assinantes. A igreja de Belo Horizonte

engajou-se prontamente. Foram adquiridos por mês, inicialmente, 1.000 exemplares de

maio/1981 a fevereiro/1982; 2.000 exemplares de março a junho/1982; 4.000 exemplares de

julho/1982 a maio/1983; 5.000 exemplares de junho a setembro/1983; 6.000 exemplares de

12 P. FRESTON, Evangélicos na política brasileira, p. 82.

13 B. M. SOUZA, A experiência da salvação, p. 60.

14 Órgão oficial da Assembléia de Deus no Brasil.

15 Foram escolhidos dez interlocutores, segundo os seguintes critérios: distribuição igualitária por sexomasculino e feminino; faixa etária de 40-60 e acima de 61 anos; de raça branca, parda e negra; solteiros(as),casados(as) e viúvos(as); com grau de escolaridade do ensino fundamental, médio e superior, tanto incompletoquanto completo; que fossem membros desta comunidade desde a década de 1980.

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outubro/1983 a setembro/1984; 4.000 exemplares de outubro/1984 a março/1989.16 Os

jornais eram vendidos em uma livraria localizada na entrada do templo, por ocasião dos

cultos regulares - reuniões de obreiros, de oração, de doutrina, de professores da Escola

Bíblica Dominical, Ceia do Senhor - , por intermédio de oficiais da igreja. Conclui-se,

portanto, que, nestes anos, as matérias jornalísticas tiveram algum tipo de penetração entre

os membros da comunidade, alcançando, pelo menos, seus membros letrados. Por isto

nossa opção por estes dois tipos de fontes, com a expectativa de que, através da

conjugação de ambas, seria possível aproximarmos melhor de uma mentalidade

escatológica pentecostal, nem puramente clerical, nem plenamente laica.

1. Hermenêutica bíblica

Uma das primeiras perguntas que propusemos aos entrevistados versava sobre a

contemporaneidade dos últimos dias: O/A senhor/a considera que estamos vivendo os

últimos dias? O objetivo era avaliar até que ponto esta expressão últimos dias era comum à

compreensão dos mesmos, independentemente da necessidade de definição de conceitos.

Abaixo seguem as respostas:

Considero. Eu abro o jornal e vejo essa guerra que todos os dias você vê no

jornal, falando de mortes, de Israel, de Jerusalém... Realmente você vê que está

se cumprindo a palavra de Deus. Estamos nos últimos dias (FB, 49 anos,

casada, bancária).

Sim, eu creio. Porque, como nos mostra a Palavra de Deus, os sinais ... Tudo

nos mostra que [Cristo] realmente está voltando dado os acontecimentos,

pestes, fomes, guerras e tantas outras coisas. Até mesmo os sinais, vamos dizer

assim, da própria natureza, nos mostram que a natureza está muito alterada (JS,

52 anos, casado, comerciário).

Todo indício da Palavra de Deus fala que nós estamos nos últimos dias porque

que vem acontecendo apostasias, rumores de guerras, terremotos, o adversário

trabalhando com muita fúria na vida dos casais, nos lares, nos jovens. Tudo que

acontece de ruim prediz a vinda do Senhor (MM, 56 anos, solteira, vendedora).

16 Estas informações eram publicadas nas próprias edições do jornal. Relacionavam-se todas as igrejas quecompravam acima de 1.000 exemplares.

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Pelo cumprimento das profecias de Jesus, capítulo 24 e 25 de Mateus, nós

estamos passando por fases que ele mesmo citou, como guerras, rumores de

guerra, terremotos, doenças que surgiram e estão surgindo, angústia das

nações, pois todas as nações estão angustiadas com esse terrorismo que está

surgindo ultimamente (CG, 83 anos, casado, funcionário público aposentado).

É importante verificar que, dos dez entrevistados, nove afirmaram que estaríamos vivendo os

últimos dias. E qual seria a explicação disto? São duas, basicamente: primeira, de que a

palavra de Deus estaria tendo seu cumprimento; segunda, alguns sinais que estão

ocorrendo na atualidade apontariam para o final dos tempos. Existe, entre eles, uma comum

interpretação da Bíblia que acredita que seu teor é contemporâneo. Quando é dito que estão

se cumprindo as Escrituras, uma compreensão singular de um texto histórico emerge.

Considera-se a Bíblia uma série de textos escritos para uma determinada época, ou na

interpretação dos pentecostais, um único texto escrito. Este possui uma espécie de

transcendência que o faz superar as limitações geográficas, históricas, sociológicas, culturais

e políticas de sua produção, e o transpõe diretamente para a realidade atual. Esta escritura

possui aplicação no hoje e agora. Pressupõe-se que ao ser escrita, ela visava e visualizava o

tempo atual em que todos estão vivendo, antevendo uma realidade basicamente por ser

sempre contemporânea à mesma.

Uma segunda pergunta procurava identificar, indiretamente, o conceito de últimos dias,

relacionando a experiência do derramamento do Espírito Santo, considerada o grande

diferencial dos pentecostais em relação a outros movimentos cristãos, e a crença no retorno

de Cristo: O/A senhor/a percebe alguma relação entre o derramamento do Espírito e o

retorno de Cristo?

Esta é a promessa de Joel: "Naqueles dias derramarei do meu Espírito sobre

toda a carne". É desejo de Deus que todos cheguem ao pleno conhecimento da

verdade e que todos busquem com ansiedade e com vontade o derramamento

do Espírito Santo [...] O derramamento do Espírito na igreja é primordial e isto

está intimamente ligado a vontade de Deus de enviar Jesus para buscar a sua

igreja (LS, 57 anos, viúva, enfermeira).

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Claro que sim. A Bíblia diz, o profeta Joel diz que nos últimos dias, Deus

derramaria do Espírito dele sobre toda a carne. Eu vejo uma intimidade muito

grande entre o derramamento do Espírito Santo e o retorno de Cristo (MS, 40

anos, casado, comerciante).

Os últimos dias não seriam somente tempos catastróficos. Seriam caracterizados, também,

pelo derramamento do Espírito Santo. A lembrança que muitos têm da narrativa do profeta

Joel se refere à versão do discurso descrita pelo apóstolo Pedro no livro de Atos dos

Apóstolos (2:17-21), por ocasião do derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos de

Jesus. Este texto é caro aos pentecostais:

E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito

sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens

terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as

minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra; sangue, fogo e

vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que

venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que

invocar o nome do Senhor será salvo.

Novamente se percebe uma hermenêutica do texto bíblico no qual se conjuga passado e

presente. E o mais importante para nós, neste momento, é a identificação dos últimos dias

com o evento de Pentecostes e com o retorno de Cristo. Por quê? Em primeiro lugar, o

derramamento do Espírito Santo ou o batismo com o Espírito Santo é, como dissemos

anteriormente, uma das claras marcas que identificam o pentecostal. Em segundo lugar,

este importante signo está intimamente ligado à volta de Cristo e aos últimos dias.

Para o Mensageiro da Paz, o tempo atual também aponta para o fim:

Nunca esqueçamos que, pela primeira vez na história, o Apocalipse está ao

alcance do homem. A insânia da violência coletiva pode levar à extinção do

escrúpulo final diante das guerras. Que a família, as escolas, as igrejas, todas as

instituições ajam com urgência. Começamos a viver a undécima hora, como diz

o Evangelho.17

17 Mensageiro da Paz, Ano LI, nº 1131, julho/1981, p. 1.

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O profeta Daniel fala de ‘tempos de angústia, qual nunca houve, desde que

houve nação’, e Jesus afirma: ‘E se aqueles dias não fossem abreviados,

nenhuma carne se salvaria.’ Dn 12-1, Mt 24-22. Por mais pavorosas que tenham

sido as guerras da história, nenhuma logrou sequer ameaçar de extermínio a

população da Terra. Nem mesmo as duas guerras mundiais. Por isto muitos

escarneciam das citadas palavras bíblicas, considerando-as uma prova da

impossibilidade da inspiração da Escritura Sagrada. Mas a ciência da guerra

desenvolveu-se a tal ponto que hoje poucas pessoas duvidam de que possa

ocorrer um suicídio mundial.18

2. Interpretação histórica

Diversos acontecimentos contemporâneos indicados pelos colaboradores e listados a seguir

indicam que os últimos dias chegaram. Estes eventos são considerados sinais, pistas, que

demonstrariam que o fim dos tempos estaria muito próximo. Busca-se uma inteligibilidade

nos fatos, uma causalidade maior, o descobrimento da finalidade dos mesmos. Quais seriam

estes sinais? Guerras, rumores de guerras, angústia das nações, terrorismo, nação contra

nação, reino contra reino; acontecimentos ligados a Israel e a Jerusalém. Em segundo lugar,

doenças, pestes, fome. Em terceiro lugar, problemas ecológicos, tremores de terra, furacões,

terremotos. Quarto sinal: o despertamento religioso (evangélico) e a evangelização mundial.

Quinto: a propagação do misticismo. Sexto: o ataque às famílias por Satanás, os

casamentos e descasamentos, Satanás trabalhando com fúria na vida dos casais, dos lares

e dos jovens e a idolatria sexual, a depravação, o adultério e a promiscuidade de pastores.

Sétimo: a teologia da prosperidade, a idolatria, os falsos profetas e falsos ensinamentos, as

novas seitas, os falsos cristos, o movimento carismático, o engano religioso, as apostasias, o

G-1219, heresias. Oitavo: a descrença na existência de Satanás, e a ação deste com "o

sapatinho de algodão".20 Nono: o aumento no número de mortes e de assassinatos, a

18 Id., Ano LII, nº 1140, abril/1982, p. 3.

19 Uma das diversas espécies de movimentos de crescimento de igreja que valorizam "as células" ou gruposfamiliares, considerando que as mesmas são um retorno às práticas dos cristãos da época apostólica.

20 Esse colaborador lembrou de um cântico popular em Belo Horizonte, de autor desconhecido, que diz oseguinte:"Cuidado, irmão, muito cuidado/Muito cuidado com essa falta de união/Se o inimigo entrar, você não vê/Por queele usa sapatinho de algodão."

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violência, a iniquidade. Décimo: a corrupção, a inversão dos valores morais. Décimo-

primeiro: o aumento no uso de drogas e de bebidas. Décimo-segundo: relações sociais

deterioradas: pai contra filho, filho contra pai, irmão contra irmão e o esfriamento do amor

fraternal. Décimo-terceiro: a cobiça pelo dinheiro. Décimo-quarto: a política dentro da igreja,

a igreja se conformando ao mundo (relativismo moral), a igreja sendo aceita pela

sociedade.21

Os sinais apontados pelos entrevistados fazem uma conjugação de citações literais de

passagens de textos bíblicos, associando-as aos acontecimentos contemporâneos,

"confundindo" os dois momentos. Há uma apreensão dos eventos que circundam a

sociedade moderna, facilitada, com certeza, pela multiplicação dos meios de comunicação.

Esses acontecimentos são lidos a partir da ótica da interpretação bíblica.

E qual é a hermenêutica bíblica e a interpretação da história que provém do Mensageiro da

Paz?

Na era apostólica, teve lugar o início do derramamento do Espírito Santo. Foi,

portanto, o cumprimento da promessa mas não o fim [...]A promessa do batismo

com o Espírito Santo é para a Igreja dos nossos dias [...] Estamos vivendo à

plena época dos últimos dias, portanto, à época do derramamento e do batismo

com o Espírito Santo (grifo do autor).22

Haverá uma tremenda mudança na presente ordem das coisas. Jesus também

indicou que os sinais de sua vinda seriam guerras, fomes, pestes e terremotos

em vários lugares. Em nossos dias esses terremotos estão ocorrendo com muita

violência e muita freqüência, prenunciando a vinda iminente de Jesus, única

conclusão lógica que podemos tirar desses acontecimentos tão trágicos.23

A interpretação das Escrituras que o Mensageiro da Paz realiza acerca dos últimos dias é

bastante semelhante àquela majoritária entre os entrevistados.

Uma terceira pergunta tentaria identificar, no nível do desejo, a espera pelo retorno de

Cristo. As anteriores haviam se firmado sobre conceitos. Esta adentraria o universo pessoal

21 Mantivemos as expressões conforme apareceram nas entrevistas.

22 Mensageiro da Paz, Ano XLVI, nº 6, 1976, p. 7.

23 Id., Ano LII, nº 1141, maio/1982, p. 4.

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do entrevistado, ou seja, seu sentimento íntimo e individual, sua intenção em aceitar uma

ruptura com sua história cotidiana e sua inserção em uma nova ordem de coisas: O/A

senhor/a deseja que Cristo volte rapidamente?

Eu desejo que Cristo volte rapidamente porque o mundo está muito difícil de se

viver nele. É um desejo meu como humano mas eu tenho que entender que

aqueles que não conhecem também precisam de Jesus. Eu gostaria muito de

ser arrebatado sem experimentar a morte física, mas se isto não for possível, eu

quero estar com Cristo de qualquer jeito (JS).

Eu desejo que Cristo volte rapidamente porque eu quero ver meu irmão de volta.

Eu quero vê-lo de volta porque isso é a coroação da minha esperança. Eu tenho

esperança. O que eu digo pra os meus filhos, o que eu digo para todas as

pessoas, o que eu vivo sonhando, o que eu vivo cantando, eu quero sentir isso

[...] No dia em que eu sentir isso, eu vou explodir. Para mim vai ser uma

verdadeira explosão no dia em que isso acontecer para mim (SS, 57 anos,

casado, funcionário público municipal).

Quando eu estou muito magoada, ou muito triste, ou quando vejo essas coisas

terríveis que estão acontecendo: Oh! Jesus podia voltar! Está tão ruim viver

neste mundo! Depois eu penso: E os que não são salvos? Aí eu desejo com um

egoísmo meu. Eu falo: Eu sou egoísta. Eu querendo me safar. E os outros? E

meus parentes e muitos que não são crentes, que não conhecem a Cristo? Tem

hora que eu desejo que ele volte (IM, 74 anos, casada, dona de casa).

O fim dos tempos desperta sentimentos que, do ponto de vista dos próprios pentecostais,

reafirmam suas crenças e seus valores. A emoção está alinhada com a esperança.

A documentação escrita aborda estes mesmos temas. Relacionamos, a seguir, algumas

manchetes do jornal Mensageiro da Paz, de periodicidade mensal a partir da edição de abril

de 1981 até agosto de 1984: Um aviso de Jesus: Eis que venho sem demora; Nave

Colúmbia: sinal dos tempos; Violência amedontra a sociedade; Ameaça ecumênica; MCE:

plataforma do Anticristo; No rastro do 666; Armagedom: última batalha da história; Satanás

será amarrado por mil anos; A um passo da Grande Tribulação; Israel, sinal do retorno de

Cristo; A marca do Anticristo; Bomba atômica: precursora do Armagedom; Precursores do

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Anticristo; Grande terremoto abalará a Terra; Anticristo ameaça o mundo; Chuvas,

enchentes e vendavais: efeitos do alinhamento dos planetas?; Num minuto tudo pode

explodir; Mil anos de paz sobre a Terra?; Confirmado: catástrofes climáticas assolarão a

humanidade; Guerra nuclear: pesadelo ou realidade?; Podemos identificar o Anticristo?;

Drogas: a Peste Negra está de volta. De um total de quarenta edições do jornal, em cerca de

três anos, vinte e três manchetes versavam sobre temas apocalípticos. Nas edições

posteriores, verificamos que algumas manchetes com temática apocalíptica surgem de modo

descontínuo: A maldição chamada AIDS24; A sangrenta paz do Natal25; Sinal na testa é o

mais novo sistema de identificação26; Por trás do Muro de Berlim27; Golfo Pérsico: palco do

Armagedom?28. Em síntese, os conteúdos das reportagens apontam uma expectação pelo

fim dos tempos. Alguns signos que confirmariam a chegada da época derradeira da história

da humanidade seriam o avanço científico, o aumento da violência, o ecumenismo religioso,

a fundação do moderno Estado de Israel, a previsível guerra atômica, as catástrofes

naturais, a formação de blocos econômicos entre as nações e, enfim, a convicção da

presença atual da ação do Anticristo na sociedade.

Quais as conclusões que podem ser tiradas dessa pesquisa do jornal oficial das

Assembléias de Deus? Primeira, que os artigos sobre escatologia conheceram um boom no

período referente ao início de 1981 até fins de 1985. Segunda, que antes e posteriormente a

esse período, ou seja, nas edições desde o início de 1975 até o final de 1980 e de 1986 até

o fim de 1991, o assunto foi tratado, de forma regular, em artigos internos do próprio jornal.

Portanto, o jornal possuiu, por certo período, uma linha editorial própria que cria e tentava

fazer crer que a iminência de Cristo era chegada, fato este que coincide com um período de

grande penetração do mesmo na comunidade local de Belo Horizonte.

24 Mensageiro da Paz, Ano LVI, nº 1183, nov./1985.

25 Mensageiro da Paz, Ano LVI, nº 1184, dez./1985.

26 Id., Ano LVI, nº 1186, fev./1986.

27 Id., Ano LX, nº 1236, jan./1990.

28 Id., Ano LXI, nº 1249, mar./1991.

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3. Identidade pentecostal

O que dizem os próprios pentecostais acerca de si mesmos? À questão O que significa para

o/a senhor/a ser pentecostal?, obtivemos as seguintes respostas:

Ser pentecostal para mim é crer e ser batizado com o Espírito Santo, viver a vida

sob a direção do Espírito Santo (ES, 70 anos, casado, encarregado de

eletricista).

É o cumprimento da promessa do avivamento que nasceu em Jerusalém em

cumprimento do profeta Joel, capítulo 2, quando eles foram batizados com o

Espírito Santo. Todos os evangelhos falavam e ensinavam que é necessário ser

batizado com o Espírito Santo (CG).

Seria ser realmente revestido de poder, começando com a experiência de Atos

2. No dia de Pentecostes, eles foram revestidos no Espírito Santo. Ser

pentecostal é ser revestida do poder de Deus e que inclui falar em línguas e

outras coisas (EB, 57 anos, viúva, enfermeira).

Ser pentecostal, pra mim, sem milagre, sem novidade, é ser um sujeito com S

maiúsculo, que acredita no poder do Espírito Santo, na renovação espiritual

diária e constante, em uma experiência muito forte com o Espírito Santo. Ser

pentecostal é isso. Não tem segredo, não (MS).

É uma experiência muito boa porque, conforme a Palavra de Deus, eu creio

naquele Pentecostes que foi inaugurado em Jerusalém. Eu creio nessa doutrina

do Pentecostes, do batismo com o Espírito Santo, em que a gente é cheio do

Espírito Santo (JS).

Ser pentecostal significa crer em todos os dons espirituais que a Bíblia relata - o

batismo com o Espírito Santo, o falar em línguas, a profecia, a revelação, os

dons de curar - todos os noves dons que estão dentro da palavra de Deus que

se cumpre, porque tem se cumprido na minha vida. No ano passado, eu recebi

três curas maravilhosas [...] Tudo isso foram promessas confirmadas na minha

vida. O Deus que eu sirvo, que nós servimos e que as outras denominações

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também servem, é esse Deus que promete, que fala, que revela, que impulsiona

e que faz maravilhas. Isso, para mim, é ser pentecostal (MM).

Ser pentecostal pra mim é ser a melhor coisa que eu poderia ser sendo um ser

humano e sendo um cristão. É estar realmente bem equipado para fazer toda e

qualquer obra na casa de Deus, estar bem capacitado para viver, para fazer tudo

no trabalho e ter a orientação de Deus em todos os sentidos da vida (SS).

Para os pentecostais, sua identidade - pessoal e coletiva - é tanto afirmativa quanto

negativa. Enquanto positiva, ela está relacionada ao relacionamento místico com o Espírito

Santo, aos benefícios que esta experiência com o Espírito traz para a vida diária: os dons

miraculosos, as curas, a direção de Deus nas escolhas pessoais e profissionais, o estímulo

ao melhor desempenho da sua vocação. Ser pentecostal equivale a ser um escolhido e a ser

plenamente cristão, de forma semelhante aos apóstolos, visto que a experiência pentecostal

teria a capacidade de construir uma ponte entre essas duas épocas. A busca pela

legitimação da identidade pentecostal no passado aponta também para o presente, ao

atualizar uma experiência considerada paradigmática.

Paradoxalmente, existe uma identidade de negação, que se pretende diferenciadora em

relação ao outro. Ao serem perguntados Por que o/a senhor/a resolveu fazer parte das

Assembléias de Deus?, os entrevistados disseram:

Eu e minha esposa nos casamos na Igreja Presbiteriana. Naquela época as

outras igrejas não aceitavam muito a doutrina pentecostal. Sendo a minha sogra

convertida ao pentecostalismo, ela me convenceu que a doutrina mais certa era

a doutrina pentecostal, por causa do batismo com o Espírito Santo. A igreja

Presbiteriana, onde eu casei, não ensinava essa doutrina, então eu decidi ir para

a Assembléia de Deus (CG).

Eu sempre fui criada na Assembléia e achava que era a única igreja que era

uma igreja certa, que era aquela igreja que eu deveria estar. Depois eu fui

conhecendo outras igrejas, mas, apesar de saber que em toda igreja há pessoas

salvas e sinceras que servem a Deus, eu optei por ela. Eu acho que a gente

deve ser um crente fiel, sincero, independentemente da igreja que a gente

pertença. Tem muita coisa na Assembléia que eu gosto, que eu concordo, que

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são bíblicas. A forma como nós ensinamos e aceitamos o batismo com o Espírito

Santo, embora eu saiba que hoje outras igrejas também fazem isso e ensinam

da mesma maneira. Alguns princípios, que seriam princípios e não doutrinas. Eu

ainda sou um pouco conservadora, então eu prefiro ficar com eles (EB).

Mamãe já era crente há muitos anos e a gente freqüentava a igreja

presbiteriana. O papai era presbítero da igreja presbiteriana. Depois de casada,

quando eu tive o primeiro filho, é que eu e meu marido fomos para a Assembléia

de Deus. Eu já sabia sobre o batismo com o Espírito Santo. Na presbiteriana não

se falava nisso. Eu já acreditava e achava que se não cresse no batismo com o

Espírito Santo não era crente. Eu e o meu marido aceitamos juntos. Ele primeiro

do que eu (IM).

Desde que eu nasci, meu pai já era pastor da Assembléia de Deus. Eu me

identifiquei muito com a Assembléia de Deus primeiramente por causa dos

procedimentos do meu pai, um homem dedicado, um homem que seguia o

modo, os princípios, os preceitos e a doutrina da Assembléia de Deus. Foi muito

admirada a doutrina da Assembléia de Deus. Muitos costumam até dizer: "Ah! A

doutrina da Assembléia de Deus é pesada demais. Para andar na Assembléia

de Deus tem que ser realmente um crente muito fervoroso, muito correto, senão

não anda." Eu acho que Deus não tem meio termo. Para ser realmente um

cristão para Deus, tem que ser totalmente, ou ser ou não ser (SS).

Concomitante às explicações sociológicas e antropológicas29 que os localizam nas

categorias de pobres, ingênuos, heréticos, agentes duplos, místicos, pobres com dignidade,

"filhos do Rei", fundamentalistas modernos, e da maior ou menor importância das mesmas

para eles, os pentecostais se consideram batizados com o Espírito Santo, novas criaturas,

pessoas renovadas que, em sua relação com os outros, possuem traços diferenciados que

os singularizam e produzem uma auto-imagem particular. Se consideram cristãos à

semelhança de outros evangélicos, porém são crentes quentes em contraposição aos frios.

Foram contemplados com o dom de falar em outras línguas, expressão de sua proximidade

29 Vários pesquisadores do pentecostalismo e do neopentecostalismo vêm realizando uma análise bastanteprofícua das diversas caracterizações que os pentecostais têm recebido desde sua inserção na América Latinae Brasil (C. L. MARIZ, 1996, 1997; B. CAMPOS, 2002; R. R. NOVAES, 1998; M. D. C. MACHADO, 1996).

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e conhecimento de um deus que os escolheu em meio a um universo de pessoas que se

vangloria de sua posição social ou de seu conhecimento intelectual, mas que não receberam

o mesmo carisma. O derramamento do Espírito Santo iniciado entre os apóstolos de Cristo e

que, segundo eles, desapareceu da história da igreja cristã devido ao desvio do catolicismo

romano na era pós-constantiniana, é agora retomado na experiência pentecostal.

Considerações finais

De início, demonstramos como a escatologia foi importante nos primórdios do movimento

pentecostal, nos Estados Unidos e no Brasil. Depois, mostramos como a apropriação, pelos

pentecostais, da experiência religiosa do batismo com o Espírito Santo esteve intimamente

ligada à convicção da realidade da emergência dos últimos dias. Em seguida, evidenciamos

a permanência dessa mesma concepção tanto no jornal oficial das Assembléias de Des

quanto entre os nossos entrevistados, no período referente às três últimas décadas do

século passado, ao articularmos sua hermenêutica de determinadas passagens bíblicas

referentes ao fim dos tempos com uma peculiar interpretação dos acontecimentos históricos

contemporâneos mediada pelas Escrituras. Por fim, verificamos que os próprios pentecostais

consideravam, a si mesmos, pessoas escolhidas por Deus, que experimentaram o

cumprimento da promessa do batismo com o Espírito Santo, destinada a todos os crentes

nos últimos dias, ao manifestarem a glossolalia, sendo, portanto, participantes da ação de

Deus na história;

Estamos convictos de que a amostragem dos entrevistados não foi quantitativa ou

estatisticamente significativa para que sejam feitas generalizações. Todavia, acreditamos

que podem ser oferecidos algumas pistas importantes que até hoje não foram consideradas

pela bibliografia sobre o pentecostalismo no Brasil e que deverão ser mais bem testadas em

novas pesquisas que contemplem um universo maior de entrevistados.

Primeira questão: estaríamos assistindo a um ressurgimento da escatologia na sociedade

ocidental? Artigo publicado em uma grande revista de circulação nacional parece confirmar

esta indagação:

À primeira vista, trata-se de um romance de suspense como outro qualquer. A

contracapa resume o começo da história: enquanto pilota o seu 747 lotado, o

comandante Rayford Steele enfrenta o dilema de ceder ou não aos encantos da

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chefe das aeromoças. Mas uma notícia espantosa o arranca de seus devaneios:

diversos passageiros do avião simplesmente evaporaram! Basta ler alguns

capítulos de Deixados para Trás, no entanto, para perceber que esse não é um

thriller normal. Nele, há muitas citações da Bíblia. A principal arma contra os

vilões é a oração. Ninguém faz sexo. Ninguém usa palavrões. E quem toma

bebidas alcoólicas é moralmente repreendido. Em outras palavras, estamos

diante de um "thriller evangélico". Nos Estados Unidos essa modalidade literária

já se tornou um negócio graúdo. Aos poucos, conquista leitores no Brasil.

Para os curiosos, eis o que explica os sumiços no 747: aqueles passageiros, e

outros milhões de pessoas ao redor do mundo, foram levados para o Paraíso.

Na terminologia crente, passaram pelo Arrebatamento. Já quem ficou na Terra,

lutando por uma segunda chance, terá de enfrentar sete anos de provações

apocalípticas, incluindo o ataque de cavaleiros demoníacos e a fúria do

Anticristo. A história vai longe. Deixados para Trás é apenas o primeiro de uma

série de doze livros. Seus autores são um romancista profissional, Jerry B.

Jenkins, e um pastor aposentado, Tim LaHaye, que dá bases teológicas à trama.

No Brasil, o segundo e o terceiro volumes da série, Comando Tribulação e

Nicolae, também estão disponíveis. Lá fora, seis títulos já foram lançados,

atingindo uma vendagem impressionante: quase 10 milhões de exemplares.30

Dados mais recentes evidenciam o sucesso deste tipo de literatura entre parcelas

significativas de nossa sociedade. Até o presente, foram publicados, no Brasil, onze volumes

da coleção de livros intitulada Deixados para trás: Deixados para trás (vol. 1); Comando

tribulação (vol. 2); Nicolae: o Anticristo chegou ao poder (vol. 3); A colheita: a escolha está

feita (vol. 4); Apoliom: o destruidor está solto (vol. 5); Assassinos, missão, Jerusalém, alvo:

Anticristo (vol. 6); O possuído: a Besta toma posse (vol. 7); A marca: a Besta controla o

mundo (vol. 8); Profanação: o Anticristo apodera-se do trono (vol. 9); O remanescente: no

limiar do Armagedom (vol. 10); Armagedom: a batalha cósmica das eras (vol. 11). Há uma

série especial voltada para o público adolescente, atualmente em dez volumes: Os

desaparecidos (vol. 1); Segunda chance (vol. 2); Através das chamas (vol. 3); Encarando o

30 Veja, ano 33, edição 1645, nº 16, 19 abr./2000, p. 150.

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futuro (vol. 4); A volta à escola (vol. 5); O clandestino (vol. 6); Atrás das grades (vol. 7); A

tragédia (vol. 8); A busca (vol. 9); A fuga (vol. 10). Este sucesso, por outro lado, deve-se a

uma estratégia comercial que inclui sua venda em livrarias comerciais e grandes empresas

da Internet. Trata-se de uma literatura escatológica, com apelo também fora do ambiente

evangélico. A uma escatologia de fundo religioso corresponderia uma escatologia secular,

presente hoje, por exemplo, entre pessoas comuns e ecologistas e seus temores da

destruição do planeta? Perguntado se o temor do fim do mundo, que estaria presente na

Idade Média, atravessou os séculos, Duby respondeu:

É algo que perdura. Minha mãe, por exemplo, não estava convencida de que o

fim do mundo não chegaria em breve. Vivemos ainda marcados por tudo o que

nossos ancestrais muito longínquos fizeram e pensaram. Se vasculhássemos as

consciências de nossos contemporâneos, seriam encontradas muitas pessoas

que sempre alimentam a idéia de que a história humana pode interromper-se

bruscamente. Lembro-me dos primeiros testes atômicos, as pessoas indagavam-

se se isso não ia provocar reações em cadeia e fazer explodir o universo.

Quando ouvimos dizer, atualmente, que o crescimento demográfico é tão grande

que, em algumas décadas, a terra não poderá mais alimentar os homens, muitos

perguntam-se o que será da espécie humana.31

Segunda questão: este renascer estaria ocorrendo entre os pentecostais? Ao invés de

ressurgimento, considero mais pertinente o conceito de permanência da mentalidade

escatológica entre os pentecostais. Essa permanência possuiria duas facetas: escatologia

latente e fervor escatológico. O estudo clássico de Anderson32 acerca da volta de Cristo

como principal convicção do pentecostalismo inicial norte-americano, demonstrou que esta

característica marcante, com o decorrer do tempo, teria perdido seu impacto devido à

demora da concretização do retorno de Cristo. O que observamos, no caso brasileiro em

estudo, é que, pelo contrário, o componente escatológico teve uma continuidade desde as

suas origens até os dias atuais. A partir das entrevistas realizadas, percebemos que a

mentalidade escatológica dos pentecostais é permanente: em determinados períodos, ela

continua existindo em um estado de latência e, de repente, sobrevem com um forte ímpeto à

31 G. DUBY, Ano 1000, Ano 2000, p. 140.

32 R. M. ANDERSON, Vision of the disinherited.

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superfície. A dificuldade em percebê-la deve-se ao fato de que ela parece moribunda. Mas,

uma conjugação de uma leitura dos acontecimentos atuais a partir da interpretação bíblica,

pode rapidamente conduzi-la ao fervor. Que tipos de acontecimentos? Catástrofes naturais,

guerras, pestes e outros fatos tidos como sinais precursores da volta de Cristo. Na vida

cotidiana, o estado de latência parecer ser o normal. O fervor, todavia, é imprevisível porque

alguns fatores externos têm a capacidade de desencadear uma mentalidade preexistente.

Estas duas considerações precisariam ser mais bem analisadas, tanto na sua dimensão

diacrônica interna à Assembléia de Deus quanto em relação a outros grupos pentecostais e

à sociedade em geral.

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